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Teatro e psiquiatria: da

psicopatologia à cena
Hospital Ulysses Pernambucano
Programa de Residência
Carolina Rolim (R1)
Objetivo
• Buscar conexões e intercessões entre
conceitos psicopatológicos e teatrais

Othon Bastos

Karl Jaspers

Constantin Stanislavski Bertolt Brecht Carolina Rolim


Quando a mais humana das artes
encontra a mais humana das
especialidades médicas...
• “... reconhecendo que o artista percebe antes
e mais profundamente do que o cientista; este
último organiza melhor, cria sistemas,
hierarquias, enfim, “arma” uma lógica para a
natureza. Mas é do grande artista o privilégio
da percepção mais fina, mais profunda e
contundente, daquilo que se passa no interior
do homem, suas misérias e grandezas.”
Paulo Dalgalarrondo

DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. 2ª . Ed. Porto Alegre : Artmed, 2008.
“Por causa dos elementos singulares que o
compõem, a sensibilidade cênica geral é a condição
humana mais simples e natural.”
C. Stanislavski

“Como uma vela, o teatro consome a si mesmo


no próprio ato de criar a luz.”
Margot Berthold
BERTHOLD, Margot. História Mundial do Teatro. São Paulo: Perspectiva, 2000.
STANISLAVSKI, Konstantin. A preparação do ator. 5ª.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982.
Psicopatologia
Disciplina científica que se incube do estudo
sistemático das alterações mórbidas que afetam
o comportamento (entendido como síntese da
atividade mental e da conduta).

• Polêmica entre biologicistas e fenomenistas


• Deve ser considerada uma ciência de interface
múltipla
• Neurociências, ciências sociais e humanas
como suas ciências de apoio

SALVADOR, L. Compêndio de Psicopatologia e Semiologia Psiquiátrica. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001. 


Ciências humanas
• Ciência fenomenológica: estudam as
manifestações de seu objeto tal como se
apresentam à consciência imediata, usando a
intuição como recurso para conhecer.
• Bertold Brecht (1967): “a era científica”
» “os sentimentos são privados e limitados.
Diante deles, a razão é inteiramente
compreensível e tem credibilidade”

SALVADOR, L. Compêndio de Psicopatologia e Semiologia Psiquiátrica. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001.


CARLSON, M. Teorias do teatro. São Paulo: UNESP, 1995.
Estados pré delirantes
• Estados pré delirantes: Klaus Conrad (1992)
– Surgimento e desenvolvimento dos delírios
– Humor delirante (Jaspers, 1979)

DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. 2ª . Ed. Porto Alegre : Artmed, 2008.
Personalidade
• Personalidade- origem etimológica
» persona (máscara dos personagens do teatro)-
GREGO
» personare (ressoar por meio de algo)- LATIM
• Lópes Ibor (1970): o autor/ator faz ressoar a
sua voz, a sua versão da história, por meio das
diferentes máscaras, das diversas personagens
que cria
» Máscaras denunciam dialeticamente meandros do que se
busca esconder

DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. 2ª . Ed. Porto Alegre : Artmed, 2008.
Máscaras
• Religião grega impessoal
• O ato religioso fundamental não é a prece
individual: festivais (grandes cerimônias coletivas)-
executantes do rito
Do povo, para o
povo

• Função do estado (festividades públicas)


• Dionísio (deus da natureza elementar, universal, da
vida)

BERTHOLD, Margot. História Mundial do Teatro. São Paulo: Perspectiva, 2000.


GASSET, José. A ideia do teatro. 2ªed. São Paulo: Perspectiva, 2010
Máscaras
• Mediador do divino, transforma a
personalidade de quem a usa (mística da
máscara)
• Instrumento de metamorfose
• Margaret Mead (1946):
“artefato criado pelo homem para ilustrar a
unidade psicológica básica da mente humana”
• Sistema sígnico: estrutura de significantes
(posturas físicas e gestos), criação do ator
BELTRAME, V.N. & ANDRADE, M. Teatro de máscaras. Florianópolis: UDESC, 2011.
Alteração da consciência, consciência
do EU
• “Não podemos esquecer de que a tragédia
antiga em Atenas era uma ação ritual e, por
essa razão, acontecia não tanto no palco como
na mente das pessoas. O teatro e o público
eram circundados por uma atmosfera
extrapoética, a religião.”
Margot Berthold

BERTHOLD, Margot. História Mundial do Teatro. São Paulo: Perspectiva, 2000.


Alteração da consciência, consciência
do EU
• Transe:
» estado de dissociação da consciência
» “sonhar acordado”
» presença de atividade motora automática e
estereotipada acompanhada de suspensão
parcial dos movimentos voluntários
• Estados de possessão: perda temporária da
identidade pessoal que é substituída por
entidade que “toma conta” do sujeito

DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. 2ª . Ed. Porto Alegre : Artmed, 2008.
O mito do ator possuído
• Antigas sociedades: os espectadores eram eles próprios
atores
• Ator feiticeiro
• Fixa aquilo que a sociedade dos expectadores não quer,
não ou ser, “exorciza” riscos (exclusão)
• Nem sociedade civil, nem comunidade religiosa
• Sacerdócio de despersonalização, “vocação”
• Ator acuado entre os sinais da possessão e da naturalidade
• Colocar-se abertamente no palco: nem totalmente ele
próprio nem a personagem
• “Gorjeta de sublimação”, mito que vangloria e explora
BARTHES, R. Théâtre d’aujourd’hui, 1958.
Consciência do EU corporal
• Relação do indivíduo com seu corpo
• Duas dimensões básicas:
» intimidade e privacidade (distinção EU/mundo)
» sexualidade (corpo sexuado do EU com o corpo sexuado dos
outros)

• Diferentes grupos sociais percebem e


representam o corpo de forma distinta
• “O corpo é um dos principais palcos de nossas
vidas. Lugar de dor, de prazer, de preocupação,
de medo e desejo.”

DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. 2ª . Ed. Porto Alegre : Artmed, 2008.
Concepções do corpo do ator no teatro

• “A fim de exprimir uma vida delicadíssima e em grande


parte subconsciente, é preciso ter controle sobre uma
aparelhagem física e vocal extraordinariamente
sensível, otimamente preparada”
C.Stanislavski
• Um ator deve dar conta da capacidade expressiva de
seu corpo
• Consciência de si mesmo e o discernimento em relação
ao papel interpretado
• Forte interrelação corpo mente

STANISLAVSKI, Konstantin. A preparação do ator. 5ª.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982.
Afetividade
• Mira y López (1974):
– Quanto mais os estímulos e fatos ambientais afetam o
indivíduo, mais nele aumenta a alteração e diminui a
objetividade
– Quanto menor a distância entre quem percebe e o que é
percebido, mais o objeto da percepção se confunde com
quem o percebe
• C. Stanislavski (1936):
– "Por isso é preciso estudarmos as outras pessoas e
aproximar-nos delas emocionalmente o máximo que nos
for possível, até que a nossa simpatia por elas se
transforme em sentimentos propriamente nossos. ”
DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. 2ª . Ed. Porto Alegre : Artmed, 2008.
STANISLAVSKI, Konstantin. A preparação do ator. 5ª.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982.
“Há método na
loucura.”
W. Shakespeare
(Hamlet)
Hospital Ulysses Pernambucano, 2016.
Referências Bibliográficas
1-  DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais.
2ª . Ed. Porto Alegre : Artmed, 2008.
2- SALVADOR, Luiz. Compêndio de Psicopatologia e Semiologia Psiquiátrica. Porto
Alegre: Artes Médicas, 2001. 
3- BERTHOLD, Margot. História Mundial do Teatro. São Paulo: Perspectiva, 2000.
4-  BARBA, Eugênio e SAVARESE, Nicola. A Arte Secreta do Ator. São Paulo: Hucitec,
Unicamp, 1995.
5- STANISLAVSKI, Konstantin. A preparação do ator. 5ª.ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1982.
6- GASSET, José. A ideia do teatro. 2ªed. São Paulo: Perspectiva, 2010
7-AZEVEDO, Sônia. O papel do corpo no corpo do ator. 2ª ed. São Paulo:
Perspectiva, 2008.
8-BARTHES, Roland. Escritos sobre o teatro. 1ªEd. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
9-GUINSBURG, J. Stanislávski, Meierhold & Cia. São Paulo: Persperctiva, 2001.
10- BELTRAME, V.N. & ANDRADE, M. Teatro de máscaras. Florianópolis: UDESC,
2011.
11- CARLSON, M. Teorias do teatro. São Paulo: UNESP, 1995

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