Você está na página 1de 17

EXÍLIOS E IDÍLIOS NO

JOGO DA AMARELINHA DE
JULIO CORTÁZAR
Amanda Pérez Montañez (UEL)
OBJETIVO
 Analisar algumas manifestações da
experiência de exílio em: O jogo da
amarelinha (1963), obra do escritor
argentino Julio Cortázar.
O JOGO DA AMARELINHA
 Estudo exploratório, bibliográfico, centrado na primeira parte do
romance (“Do lado de lá” – capítulo 1 a 56), em torno das vivências
de Oliveira, a Maga, e outros membros do chamado ‘Clube da
Serpente’,

 Grupo de intelectuais de diversas nacionalidades que


experimentam, na Paris de pós-guerra, a crise existencial dos anos
50, época de rupturas e construção de novos paradigmas na política,
nas artes e nos costumes.
IDÍLIOS
 Encontraría a Maga?
 “Tantas vezes, bastara-me chegar, vindo pela rue de Seine, ao arco que dá para o
Quai de Conti, e mal a luz cinza e esverdeada que flutua sobre o rio deixava-me
entrever as formas, já sua delgada silhueta se inscrevia no Pont de Arts, por vezes
andando de um lado para outro da ponte, outras vezes imóvel, debruçada sobre o
parapeito de ferro, olhando a água . E, então, era muito natural atravessar a rua,
subir as escadas da ponte, dar mais alguns passos e aproximar-me da Maga, que
sorria sempre, sem surpresa, convencida, como eu também o estava, de que um
encontro casual era o menos casual em nossas vidas e de que as pessoas que
marcam encontros exatos são as mesmas que precisam de papel com linhas para
escrever [...]” (CORTÁZAR, 2011, p. 11]
O encontro com o azar

 A Criação como metáfora da busca de um


absoluto
 Luta entre dois princípios fundadores: Eros e
Thanos
 Fusão da escrita; erotismo e absoluto
 “E repare que acabávamos de travar conhecimento, e a vida já
tramava o necessário para que nos desencontrássemos
minuciosamente. Como você não sabia dissimular, descobri quase
imediatamente que, para vê-la como eu queria, era necessário
começar por fechar os olhos e, então, surgiam coisas, primeiro como
estrelas amarelas (movendo-se como geleia de pêssego), depois
como cachoeiras vermelhas de jovialidade e das horas, ingresso
paulatino no mundo-Maga que era a falta de jeito e a confusão [...]”
(CORTÁZAR, 2011, p. 12)
Cerimônias de Amor
 “Amor, cerimônia ontologizante, doadora de ser. E por isso lhe ocorria
agora aquilo que, na verdade, deveria ter lhe ocorrido logo no início:
se alguém não tem domínio sobre si, jamais poderia ter alcançado a
singularidade. E, afinal, quem é que se dominava de verdade? Quem é
que tinha perfeita consciência de si, da solidão absoluta que significa
nem sequer contar com a própria companhia, que significa ter de
entrar num cinema ou num bordel, ou em casa de amigos ou numa
profissão absorvente ou, ainda, no matrimônio para estar, pelo menos,
só entre os demais [...]” (CORTÁZAR, 2011, p. 121)
EXÍLIOS
 Autobiografias em trânsito
 O território como cenário de debate e reflexão – monólogo
interior, conversas metafísicas o literárias; jogos, encontros “por
acaso”
 Ruas, parques, pontes – espaços de passagem
 Paris - (“Do lado de lá”), lugar da inclusão do eu
 Exílio – vivência itinerante em constante trânsito pela cidade,
submergido numa sensação de irrealidade, sem nexos cronológicos
 A atitude de Horacio Oliveira em O jogo da amarelinha, fundamenta-se numa busca metafísica
da existência, do autêntico valor das coisas e de sua relação com o mundo exterior. Mas em sua
desesperada tentativa de se aferrar à autenticidade da vida, seus mecanismos racionais o mantêm
na beira da existência, de seu horror e de sua beleza: “la nostalgia vehemente de un territorio
donde la vida pudiera balbucearse desde otras brújulas y otros nombres” (CORTÁZAR, 2000, p.
355).

 A necessidade de encontrar centros, de cruzar pontes, leva Oliveira a viver situações limites,
como a que experimenta no final da primeira parte de O Jogo da Amarelinha , em sua aventura
com a clocharde, denunciando a vontade de afogar-se no lamaçal (inferno) como via de
purificação, deixando-se cair até o fundo da situação limite – produto de seu exílio – para logo
tentar levantar-se e atingir o Céu, meta da existência. Em Rayuela o céu é o espaço ideal,
território da utopia, impermanente, intersticial, efêmero.
[...] “ olhar o mundo através do cu [...], a pedrinha tinha de passar pelo do cu, metida a
pontapés pela ponta do sapato, e as casinhas estariam abertas da Terra até o Céu, o
labirinto se estenderia como uma corda quebrada de relógio, fazendo saltar em mil pedaços
o tempo dos empregados, e pelo catarro, e pelo sêmen e pelo cheiro de Emmanuelle e pela
merda do Obscuro se entraria no caminho que conduzia ao Kibbutz do desejo, no mais
subir ao Céu” [CORTÁZAR, 2011, cap. 36,p. 253]
 Oliveira e a Maga são símbolo do desencontro afetivo e do
deslocamento físico e existencial, em permanente exílio,

 tentam sobreviver para além das contingências, numa existência onde


a vida “torna-se algo mais forte que a própria vida”.

 Nesse jogo de contingências e acasos algo sucede para além do


tempo, porém, sucede na superfície, sem profundidade, sem outro
lugar, na precipitação do ser.
REFERÊNCIAS

 CORTÁZAR, Julio. O jogo da amarelinha. Trad. Fernando de Castro Ferro. 16ª ed. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.

Você também pode gostar