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Arquitetura Gótica

 O Gótico não é um verdadeiro estilo novo, pois nasce da evolução da


produção artística românica. Todavia, harmoniza no mesmo edifício
inovações técnicas e estéticas.

 É a primeira arte do Ocidente que é definida fora da influência oriental.

 Foi influenciada pela tendência da sociedade para a laicização, que se


revela, por exemplo, na representação do Divino – o Cristo – Rei e
pantocrator é substituído pelo Cristo-Salvador do homem numa nova
conceção do homem, do mundo e de Deus.

 As catedrais tinham como objetivo louvar Deus e ainda aos homens. Seu
simbolismo consiste numa anagogia, ou seja, o arrebatamento da alma
pela contemplação de algo deífico: o arrebatamento da alma pela
contemplação de algo deífico: eram a representação do divíno no espaço
pois constituíam a máxima realização do Homem dirigia a Deus.
Características do Gótico
 As principais características do
gótico são:

O arco ogival

O arcobotante

A abóbada nervurada
Características do Gótico
 Outro ponto fundamental do gótico: “este desejo
de substituir a parede por vitrais.” (R. Jordan)
Gótico: Vantagens Estruturais
 Uma das maiores vantagens
estruturais do arco ogival é a
expressiva redução no empuxo
lateral a ser absorvido pelas
paredes (e contrafortes).
 Em comparação ao arco
semicircular (arco pleno) dos
romanos, por exemplo, essa
redução chega a quase 50%!
Gótico: Vantagens Estruturais
Gótico: Vantagens Estruturais
 O peso (empuxo) das arcobotantes
abóbadas da nave principal,
por sua vez, era agora
transmitido através dos
arcobotantes por cima das
naves laterais, e destes para
os contrafortes (na parte
externa) até o chão.
Gótico: Vantagens Estruturais
 Do século XII ao século
XVI, de fato, esse sistema
(arcobotantes e contrafortes)
foi possibilitando “desbastar
a parede”, de modo que, por
fim, não restou praticamente
parede alguma; nada a não
ser janelas enormes entre os
contrafortes, vedadas com o
uso de impressionantes
vitrais.
Gótico Primitivo (Fase Inicial)
 Essas primeiras edificações tinham, portanto, três
andares: arcada, galeria e clerestório (lembrete:
as abóbadas, a esta altura - a partir do exemplo de
Durham - já eram nervuradas).
Gótico Primitivo (Fase Inicial)
 Em Noyon, cerca de 15 anos
após St. Denis, surgiu um
elemento novo : as paredes
ganharam um trifório, isto é,
uma passagem baixa aberta na
parede, entre a galeria e o
clerestório.
 A divisão da parede em quatro
andares, em vez de três,
“elimina muito da inércia
anterior.” (N. Pevsner)
Gótico Primitivo (Fase Inicial)

trifório

Vista interna da catedral de Noyon (França)


Gótico Primitivo (Fase Inicial)
 Em harmonia com esse ritmo, temos ainda, por
algum tempo, a abóbada sexpartida (solução típica
das igrejas românicas da Normandia);
 E mais: na fase inicial do gótico, o tramo quadrado
ainda é dominante.

Abóbadas sexpartidas de
Notre Dame de Paris
Gótico Primitivo (Fase Inicial)
 Todavia, em Notre Dame de Paris,
testemunhamos um passo adiante da
concepção da nave principal: o fim
da alternância românica dos pilares
(ou seja, nem os pilares cilíndricos e
nem as colunas engastadas que se
apoiam neles são mais
diferenciados).

Corte da versão original de Notre


Dame de Paris, com a parede
dividida em quatro seções, tendo
uma fileira de janelas circulares
substituído o trifório.
Gótico Primitivo (Fase Inicial)
 A planta baixa de Notre Dame, porém, é
ainda mais “audaciosa” que sua
elevação: o arquiteto colocou o transepto
quase exatamente a meio caminho entre
as duas extremidades;
 Disso tudo resulta um ritmo espacial
muito mais suave do que o das catedrais
românicas: o espaço não mais se divide
em numerosas unidades “que é preciso
como que somar mentalmente para ter a
ideia do conjunto”, mas concentra-se
agora em três áreas: oeste, centro e leste.
c.1150-c.1250
GÓTICO CLÁSSICO
Gótico Clássico
Principais características:
 Abóbadas da nave principal voltam a ter apenas
nervuras diagonais (ou seja, não são mais
sexpartidas);
 Tramos retangulares (ao invés de quadrados);
 Colunas cilíndricas que prolongam-se,
normalmente, até o início das abóbadas;
 As altas e amplas galerias desaparecem (ou seja, as
naves voltam a ter apenas três andares). Com isso,
apenas um trifório baixo separa as altas arcadas das
janelas do clerestório.
Gótico Clássico

Catedral de Chartres (França) – 1194 a 1220


Gótico Clássico

Chartres Reims Amiens


Gótico Clássico

Chartres Reims Amiens


Gótico Clássico: O Espaço
 Além disso, “o arquiteto gótico, muito mais audacioso
em suas construções, com sua alma ocidental de eterno
pesquisador e inventor, sempre em busca do inédito,
procura criar um contraste entre um interior
espiritual e um exterior racional e assim apelar tanto
para a nossa capacidade emocional quanto a intelectual;
 De fato, quando estamos no interior da catedral, “não
podemos compreender, e não se espera que
compreendamos, as leis que a governam em seu
conjunto”. Nós apenas “nos descobrimos perdidos na
resplandecência mística, púrpura e azulada dos seus
vitrais”. (N. Pevsner)
Gótico Clássico: Ornamentos
 A introdução do rendilhado, uma invenção do
estilo gótico, é particularmente significativa;
 É possível seguir o desenvolvimento dessa técnica
de Chartres a Reims e de Reims a Amiens.
Chartres (rosácea) Amiens
Gótico Clássico: Ornamentos

Catedral de Reims
Gótico Clássico: Ornamentos

Catedral de Amiens (rosácea)


Gótico Clássico: Ornamentos
 Os tímpanos, ornamentados desde o românico,
evoluíram de uma maneira incrível, compondo
algumas das superfícies mais trabalhadas das igrejas
góticas.

Catedral de
Amiens
Gótico Clássico: Ornamentos
 O intenso verticalismo dos
exteriores, portanto, vai ser outra
inovação do gótico francês;
 A flecha (“criação do espírito
gótico”) é a expressão máxima
desse “ímpeto em direção ao céu” e
representa um importante avanço
quando a comparamos com as
“flechas” românicas, que
apresentam-se como simples
coberturas de formas cônicas ou
piramidais.
Gótico Clássico: Ornamentos
 Outro elemento ornamental característico das
edificações góticas (a partir do início do século
XIII) é a gárgula (provavelmente do francês
“gargouille”, que significa garganta);
 Esses elementos eram
originalmente destinados a escoar
as águas pluviais dos grandes
telhados, conduzindo-as o mais
longe possível de paredes e
fundações.
Gótico Clássico: Ornamentos

Gárgulas
Gótico Clássico: Ornamentos

Algumas gárgulas, contudo,


possuem apenas uma função
ornamental. Determinados autores
fazem essa distinção,
denominando esses elementos
Notre-Dame de Paris
“quimeras” ou “grotescos”.
Gótico Clássico: As Catedrais
As edificações religiosas desse período, especialmente
as francesas, têm vários pontos em comum:

 Todas têm plantas muito largas, mas


ainda são cruciformes – isto é, os
transeptos representam pequenas
projeções. A Catedral de Notre Dame
de Paris (1163-1267), por exemplo,
com as suas naves laterais duplas e
perfeita unidade em todo o seu
comprimento, pode ser considerada
“a materialização de um ideal”.
Gótico Clássico: As Catedrais
 Essas catedrais têm, quase todas, portais profundos. Os
de Laon, Reims e Amiens, por exemplo, contam-se
entre as grandes obras da arquitetura.

Laon Chartres
Gótico Clássico: As Catedrais
Facebook/Medieval ImagoDiesIdadeMedia

Amiens
Gótico Clássico: As Catedrais
 A maior parte das catedrais francesas inclui ainda
torres ocidentais (ou infraestrutura preparada para as
receber). Lembrete: poucas catedrais chegaram a ser
acabadas exteriormente! Chartres
Amiens

Notre-Dame
Gótico Clássico: As Catedrais
 No interior, como já dissemos,
essas grandes catedrais do
apogeu do estilo gótico
apresentam uma estrutura em
três andares: primeiro, há a
arcada da nave central (que
abre para as naves laterais),
acima fica o trifório e
finalmente temos o clerestório,
que “inunda de luz” a nave
central.
Gótico Clássico: As Catedrais
 O arco que separa os tramos,
porém, deixa de se diferenciar
das outras nervuras – como
acontecia no românico – e, por
isso mesmo, o que vemos no
teto não é tanto uma série de
tramos em sequência, mas sim
um padrão de nervuras iguais,
“crescendo organicamente a
partir dos fustes”.
Gótico Clássico: As Catedrais
 Uma vez que os painéis de vidro
tinham que ser sustentados, e dado
que tais janelas tinham
necessariamente de ser resistentes
ao vento, eram então dividas por
colunelas e rendilhados;
 Por seu turno, essa circunstância
deu uma tal projeção ao artífice de
vitrais, que esta arte se tornou um
acessório do estilo gótico, tal como
o mosaico o fora do bizantino.
Gótico Clássico: As Catedrais
 Em resumo: foi sobretudo alterando as proporções
relativas da arcada, trifório e clerestório que os
construtores góticos clássicos franceses edificaram
catedrais diferentes umas das outras.
O Gótico na Inglaterra
A partir do século XIX, os pesquisadores dividiram o
gótico inglês em três períodos:
 Early English (c.1175 a c.1275), que corresponde ao
gótico clássico no resto da Europa;
 O decorated style (c.1280 a c.1380) foi o estilo dos
relevos decorativos e dos rendilhados mais
imaginativos, além de incluir novas experiências de
espaço;
 O perpendicular style (c.1360 até o século XVI)
despontou depois de 1330, quando desapareceram as
características curvilíneas do decorated style e que
perdurou com poucas variantes até o século XVI.
O Gótico na Inglaterra

Catedral de Lincoln
(sem o claustro e a
Lady Chapel)

Catedral de
Wells
O Gótico na Inglaterra
 Na França, como vimos, o estilo gótico tendia para
uma concentração espacial. O Early English, por
outro lado, não tem essa característica! Uma
catedral como a de Salisbury, com sua extremidade
leste quadrada e seu transepto duplo quadrado,
ainda se compõe de uma soma de unidades (ou
seja, uma série de “compartimentos reunidos)”.

Catedral de Salisbury
O Gótico na Inglaterra
 Early English e a Catedral de Salisbury: “A
horizontalidade do interior é (...) característica do
gótico inglês. Não há qualquer acentuação vertical,
como por exemplo um fuste que ligue os três
andares.” (R. Jordan)

Catedral de Salisbury
O Gótico na Inglaterra
 Quando as fachadas, como as de Lincoln (c.1192) e Wells
(c.1191) - representantes fiéis do Early English -, se
desenvolvem plenamente, sua existência não tem relação
com o interior que está por trás delas; “são como telas
colocadas diante da igreja propriamente dita, e não o
exterior logicamente concebido, como projeção do
sistema interior – como as fachadas francesas.” (Pevsner)
Catedral
de Lincoln

Catedral
de Wells
O Gótico na Inglaterra
 As naves de Lincoln e Amiens
evidenciam outro contraste
evidente entre os dois países: às
nervuras principais da clássica
abóbada quadripartida, os
ingleses acrescentam outras
nervuras, chamadas terciarões,
que, irradiando do mesmo ponto,
sobem até a mesma altura. Em
Lincoln, por exemplo, de cada
mísula irradiam sete nervuras,
ficando a abóbada subdividida
O Gótico na Inglaterra
 Além dos terciarões, o arquiteto de Lincoln
acrescentou também uma nervura contínua na aresta
culminante;
 A nervura da aresta culminante, que se tornou
modelo na Inglaterra, sublinha uma vez mais o
comprimento (a horizontalidade), minimizando a
altura das edificações.
Gótico Clássico: Século XIII
 “O clássico é apenas um momento na história de uma
civilização. Nas mais avançadas, França e Inglaterra,
ele foi atingido ao final do século XII.” (Pevsner)
 Por volta de 1275, contudo, os franceses “perderam o
vigor”. As novas catedrais construídas a partir deste
momento não trouxeram qualquer elemento novo,
permanecendo fiéis às regras estabelecidas em Saint
Denis e Beauvais décadas antes;
 A Inglaterra, pelo contrário, manteria sua energia
criadora por mais um século. De fato, a arquitetura
inglesa entre 1250 e 1350 foi a mais avançada, a
mais importante e a mais inspirada da Europa.
c.1250-c.1500
GÓTICO TARDIO
O Gótico Tardio na Inglaterra
 O decorated style (estilo que se seguiu ao Early
English) é caracterizado sobretudo pela evolução
dos rendilhados: a introdução de um grande
número de colunelas e um tratamento mais
refinado das janelas. Catedral de York
(1220-1472)

Catedral de
Carlisle (c.1290)
O Gótico Tardio na Inglaterra

 A mais perfeita expressão


“desse deleite com o
decorativo mais do que com
o estritamente arquitetural”,
é o tipo de rendilhado
chamado flowing, em
contraposição ao rendilhado
geométrico utilizado entre
os anos 1230 e 1300.
O Gótico Tardio na Inglaterra
O melhor exemplo do decorated style inglês é
representado pela Catedral de Exeter (c.1280):

 Realmente não existe qualquer


ornamento esculpido em sua
nave e, no entanto, dos feixes de
nervuras à aglomeração dos
pilares, raros são os trechos de
parede lisa;
 As nervuras das abóbadas foram
multiplicadas até a nave central
parecer uma “floresta de pedra”.
O Gótico Tardio na Inglaterra
O desenvolvimento do perpendicular style, por
sua vez, pode ser evidenciado na Catedral de
Bristol (c.1298):
 O clerestório e o trifório desaparecem e com isso
as naves laterais são da mesma altura da principal;
 Na abóbada central, vemos um novo tipo de
nervura: os liernes;
 Tal como a nave central de Exeter, a de Bristol
também se encontra mais dependente do jogo de
luz e sombra do conjunto de molduras do que
propriamente dos ornamentos em si.
O Gótico Tardio na Inglaterra

Catedral de Bristol – os LIERNES são pequenas nervuras na abóbada, que


ligam uma nervura principal a outra, formando desenhos de estrelas, um
motivo que atingiu a máxima complexidade nas abóbadas perpendiculares,
na Inglaterra, e nas abóbodas do gótico tardio, na Alemanha.
O Gótico Tardio na Inglaterra
Na evolução das abóbadas do perpendicular
style, observa-se ainda a existência de uma nova
fase, iniciada pouco depois do ano 1315:
 Ao que tudo indica, um mestre de obras, durante a
construção da catedral de Gloucester, percebeu que se
aumentasse indefinidamente o número de nervuras, a
abóbada ficaria toda de pedra maciça. Nos claustros
de Gloucester, portanto, a abóbada consiste apenas de
uma série de cones de pedra invertidos, com imitações
de nervuras esculpidas no intradorso. Esta viria a ser
chamada “abóbada em leque”, tornando-se o teto
típico do gótico tardio inglês.
O Gótico Tardio na Inglaterra

Claustro da catedral de Gloucester


O Gótico Tardio na Inglaterra
Em termos da disposição dos espaços no gótico
tardio, os aspectos relevantes são:
1. A criação de um espaço
unificado, com a forma de uma
“igreja-salão” (ou seja, com
naves laterais da mesma altura
da nave central e sem o
clerestório). Esta tendência, ao
que tudo indica, teve sua origem
nos dormitórios e refeitórios da
arquitetura monástica.
Corte da catedral de Ely
O Gótico Tardio na Inglaterra
Em termos da disposição dos espaços no gótico
tardio, os aspectos relevantes são:

1. Pilares compósitos
(apresentam capitéis
apenas em fustes de menor
importância; os outros
lançam-se para o alto e se
inserem nas abóbadas, sem
nenhuma interrupção).

Catedral de Bristol
O Gótico Tardio na Inglaterra
Em termos da disposição dos espaços no gótico
tardio, os aspectos relevantes são:

1. As abóbadas se assentam
inteiramente sobre uma rede em
forma de estrela, constituída de
nervuras primárias (ogivais),
secundárias (terciarões) e
terciárias (liernes).

Catedral de Ely
O Gótico Tardio na Inglaterra
Em termos da disposição dos espaços no gótico
tardio, os aspectos relevantes são:
 As naves laterais comportam,
ao nível do ponto de origem
de suas abóbadas, estruturas
semelhantes a “pontes”
lançadas de uma parede a
outra sobre arcos transversais.

Catedral de Bristol
O Gótico Tardio na Inglaterra
 Dessa forma, em catedrais como Bristol, Ely e
Wells, “nossos olhos são constantemente atraídos
para perspectivas fugidias e oblíquas, para cima e
para os lados”(ao contrário do que ocorria no
gótico clássico, com a predominância de apenas
duas direções).

Catedral de Bristol
Referências:
BRANDÃO, Carlos Antônio Leite. A formação do homem moderno vista
através da arquitetura. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2006.

CRAVEN, Jackie. 1100-1450: Gothic. Architecture reaches new heights.


Disponível em: <http://architecture.about.com/od/periodsstyles/ig/Historic-
Styles/Gothic.htm>. Acesso em: 21 abr. 2014.

FRANKL, Paul. Gothic Architecture. London: Yale University Press, 2001.

JORDAN, Robert Furneaux. História da Arquitetura no Ocidente. São


Paulo: Editorial Verbo, 1985.

MACDONALD, Fiona. JAMES, John. Fique por dentro da história: uma


catedral medieval. São Paulo: Editora Manole Ltda., s.d.

PEVSNER, Nikolaus. Panorama da Arquitetura Ocidental. São Paulo:


Martins Fontes, 2002.

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