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Mordeduras de

animais e Humana

Raiva
Cuidados gerais
 Lavar imediatamente o ferimento com água corrente , sabão ou outro detergente ;

 Não se recomenda a sutura dos ferimentos;

 Proceder com a profilaxia do tétano segundo esquema preconizado;

 Avaliar indicação de antibioticoterapia ;

 Proceder com protocolo de profilaxia anti-rábica ;


- O período de observação de 10 dias é aplicável somente para cães e gatos ;
- A história vacinal do animal agressor não constitui elemento suficiente para dispensa da
indicação da profilaxia antirrábica .
Tétano – profilaxia
Antibioticoprofilaxia - indicações

 Ferimentos profundos , especialmente por mordeduras por gatos , mesmo que


puntiformes ;
 Ferimentos moderados a graves principalmente associados a esmagamento;
 Ferimentos em áreas com comprometimento venoso e linfático ;
 Ferimentos em mãos ou próximos a ossos e articulações ;
 Ferimentos próximo a próteses ;
 Ferimentos em face e genitália ;
 Ferimentos em imunocomprometidos ;
 Ferimentos por mordedura humana ( qualquer tipo de ferida ).
Antibioticoprofilaxia - microbiologia

Agentes mais comuns :

Cães e gatos = Pasteurella multocida , S.aureus , Streptococos ,


Peptostreptococos , bacteróides , fusobacteria , Prevotella , ...

Humanas = S.aureus , Streptococos , Eikenella corrodens , peptostreptococos ,


fusobacteria , Prevotella , ...

Outrasem mordeduras humanas : hepatites B e C , HIV , herpes simplex e


Treponema pallidum.
Antibioticoprofilaxia - esquema

 A profilaxia deve ser realizada por 3 a 5 dias .

 Cefalexina e eritromicina não oferecem proteção ( não cobrem E. corrodens e P. multocida )

 Primeira escolha : amoxicilina/clavulanato 500/125 mg de 8/8h;

 Segunda escolha : doxiclina 100mg 12/12h ou


sulfametoxazol/trimetoprima 800/160mg 12/12h ou
ciprofloxacino 500mg 12/12h ou
cefuroxima 500mg 12/12h
associados a: clindamicina 300-450mg 8/8h ou
metronidazol 400-500mg 8/8h
Raiva - Transmissores

 Cão ;
 Gato ;
 Morcego ;
 Animais silvestres : macaco , canídeos silvestres , guaxinins , ... ;
 Animais de produção : bovinos , equinos , suínos , ovinos , ...

No Brasil temos aproximadamente 180 espécies de morcegos . Apenas 03


espécies são vampiros/hematófagos .
Raiva - Agressor sem recomendação de vacinação

 Coelho ;
 Cobaia , porquinho da Índia ;
 Hamster
 Rato de telhado;
 Ratazana de esgoto;
 Camundongo
 Aves
Raiva – formas animal

 Furiosa

 Paralítica
Raiva - Transmissão

Pela inoculação do vírus presentes na saliva e secreções do animal infectado :

Mordedura ( principal );
Arranhadura ;
Lambedura de mucosas ;
Lambedura de pele lesada.
Raiva - etiopatogenia
Raiva - Transmissibilidade

 No cão e gato é de 3 a 5 dias antes do aparecimento dos sintomas e durante a


evolução da doença . A morte desses animais acontece entre 5 a 7 dias após a
apresentação dos sintomas.

 Morcegos e outros animais silvestres , podem disseminar o vírus por muito


tempo sem apresentar sinais de doença.
Raiva - Incubação

 Variável ;
 Depende da gravidade do ferimento e da localização ;
 No homem , em média 45 dias , variando de dias a 1 ano ou mais ;
 Em animais depende da espécie , variando de 15 dias a 4 meses , exceto
morcegos , cujo período pode ser maior.
Raiva – incidência

No Brasil de 2010 a 2021 = 40 casos de raiva humana :


Cão = 9 ; morcegos = 20 ; macacos = 4 ; gatos = 4 ; raposa = 2 ; não identificável = 1

2022 = 5 casos de raiva humana no Brasil : 4 em MG e 1 no DF.

Atualmente ( 2022 ) existem registros de 5 pessoas que sobreviveram no mundo:


- Apenas 2 pessoas no Brasil : 1º em 2008 no PE ; 2º em 2017 no AM.
Raiva - Vacinas

 Fuenzalida e Palacios: É constituída por vírus


inativados produzidos em cérebro de
camundongos recém-nascidos. Pode causar
reações neurológicas graves, principalmente
a Síndrome de Guillain-Barré.

 Vacinas de cultivo celular: são constituídas


por vírus inativados produzidos em meios de
cultura isentos de tecido nervoso; os mais
comuns são: células diplóides humanas,
células Vero, embrião de galinha e embrião
de pato. São mais seguras e potentes que a
Fuenzalida e Palacios.
Raiva – profilaxia pré-exposição

 Recomendadas para indivíduos com maior risco de exposição como exemplo


veterinários , biólogos , profissionais de laboratórios que manipulam o vírus ,
ecoturismo em cavernas , ...
 Esquemas : duas doses ( vacina de cultivo celular ) , nos dias 0 e 7 . Via de
administração IM ou ID ( locais com equipe treinada e habilitada ).
 Controle sorológico – a partir do 14° dia após a última dose. Para garantir
proteção adequada , espera titulação maior ou igual a 0,5UI/ml . Caso não
tenha alcançado titulação recomendada , deve-se administrar um reforço e
repetir a sorologia a partir do 14° dia do reforço.
 Periodicidade do controle sorológico – aqueles com exposição continua e alto
risco de exposição – repetir sorologia a cada 6 meses. Dose de reforço
vacinal , sempre que título estiver abaixo de 0,5UI/ml.
Raiva

profila
xia
pós-
exposi
ção
Cão e gato sem Cão e gato Cão e gato morto , Morcegos e
suspeita suspeito desparecido e animais
animais de produção silvestres

Contato indireto Lavar com água e sabão

Observar 10 dias Iniciar dose 0 e 3


Se evoluir = 4 doses Esquema de 4
Observar 10 dias
Acidentes leves doses
Se evoluir = 4 doses

Esquema
de 4 doses
Iniciar 4 doses + + soro
Iniciar dose 0 e 3 soro
Observar 10 dias Esquema de 4
Acidentes graves Observar 10 dias
Se evoluir = 4 doses doses + soro
Se ñ evoluir =
suspender dose
restante
Raiva

profila
xia
pós-
exposi
ção
(nota
técnica
08/2022 )
Cão e gato
Mamiferos Mamíferos
Passível de Não passível morcegos
de produção silvestres
observação de observação

Contato indireto Lavar com água e sabão Lavar com água e sabão

Iniciar
Observar 10 Iniciar 4 04 doses
Ferimento leve Iniciar 4
dias doses + soro
doses Iniciar
Se evoluir = 4
doses 04 doses
+ soro
Iniciar Iniciar
Ferimento grave Observar 10
4 doses 4 doses
dias
+ soro + soro
Se evoluir = 4
doses + soro
Raiva - vacinação Dose : IM = 0,5 ou 1 ml ( dependendo do fabricante )
ID = 0,2 ml / 02 locais
Não aplicar no glúteo .

IM = 0, 3 ,7 e 14
ID = 0, 3 ,7 e 28

IM e ID = 0, 3, 7 e 14
Raiva - soro
 A dose da IGHAR é de 20 UI/Kg de peso e a do SAR é de 40 UI/Kg de peso.
 Conforme indicação, tanto a IGHAR quanto o SAR devem ser administrados o
mais rápido possível. Caso não tenha disponível, administrar no máximo em até
7 dias após a 1° dose de vacina raiva (inativada). Após esse prazo, a
administração da IGHAR ou do SAR é contraindicada.
 Havendo possibilidade de identificação da localização da(s) lesão(ões), recentes
ou cicatrizadas, deve-se infiltrar o volume total indicado, ou o máximo possível,
dentro ou ao redor da(s) lesão(ões). Se a infiltração não for possível, aplicar o
restante por via intramuscular (IM), respeitando o volume máximo de cada
grupo muscular mais próximo da lesão.
 Não é recomendada a administração da IGHAR ou SAR no mesmo grupo muscular
de aplicação da vacina.
 PARTICULARIDADE: Em situações excepcionais de escassez de IGHAR ou SAR
fazer somente infiltração no local da ferida.
Raiva – profilaxia exposição pós PrEP
reexposição pós PEP

Exposição pós PrEP ( profilaxia pré-exposição ) :


- O SAR ou IGHAR não estão indicados ;
- Esquema PrEP completo = indicar dose nos dias 0 e 3 .

Reexposição em pós PEP ( profilaxia pós-exposição ):


- O SAR ou IGHAR não estão indicados ;
- PEP até 90 dias – se recebeu esquema completa = não indicar nada ,
- se recebeu 2 ou 3 doses = indicar doses faltantes ;
- PEP mais de 90 dias – se recebeu pelo menos 02 doses = indicar dose nos dias 0 e 3 .

Atenção : se foi aplicado apenas 01 dose de PrEP ou PEP , essa deve ser desconsiderada e o esquema de
profilaxia , indicado para o caso , deve ser iniciado.
Raiva – sintomatologia

Os pródromos duram de 2 a 4 dias e são inespecíficos. O paciente apresenta mal-estar, pequeno aumento de temperatura,
anorexia, cefaleia, náuseas, dor de garganta, entorpecimento, irritabilidade, inquietude e sensação de angústia.

Podem ocorrer hiperestesia e parestesia no trajeto de nervos periféricos, próximos ao local da mordedura, e alterações de
comportamento.

A infecção progride, surgindo manifestações de ansiedade e hiperexcitabilidade crescentes, febre, delírios, espasmos
musculares involuntários, generalizados e/ou convulsões. Espasmos dos músculos da laringe, faringe e língua ocorrem
quando o paciente vê ou tenta ingerir líquido, apresentando salivação intensa.

Os espasmos musculares evoluem para paralisia, levando a alterações cardiorrespiratórias, retenção urinária e obstipação
intestinal.

O paciente se mantém consciente, com período de alucinações, até a instalação de quadro comatoso e evolução para óbito.
Observa-se presença de disfagia, aerofobia, hiperacusia e fotofobia. O período de evolução, após instalados os sinais e
sintomas até o óbito, é, em geral, de 5 a 7 dias.
Raiva - diagnóstico
 O diagnóstico laboratorial da raiva ante-mortem pode ser realizado através da identificação do antígeno
rábico pela técnica de imunofluorescência direta (IFD) em decalques de células de córnea (Cornea Test),
na biópsia da pele da região da nuca (folículo piloso) ou da saliva.

 As técnicas de biologia molecular, como o RT-PCR e a semi-nested RT-PCR representam, na atualidade,


importantes instrumentos para o diagnóstico ante-mortem a partir da saliva, do folículo piloso e do
líquido cefalorraquidiano (LCR).

 Nenhuma das técnicas, isoladamente, apresenta 100% de sensibilidade, mas o conjunto delas aumenta a
probabilidade da confirmação laboratorial. Ressalta-se que o diagnóstico positivo é conclusivo, porém o
negativo não exclui a possibilidade de raiva.

 Em casos nos quais não há histórico de vacinação do paciente, a pesquisa de anticorpos no soro, através
da soroneutralização (RIFFT), oferece uma importante contribuição para o diagnóstico in vivo. A
presença de anticorpos no LCR, mesmo após vacinação, também é diagnóstica da infecção pelo vírus da
raiva.
Raiva - tratamento

 Em 2004, nos Estados Unidos ( em Milwaukee – Wisconsin/USA ), registrou-se o


primeiro relato, na literatura internacional, de cura da raiva em paciente que
não recebeu vacina. Nesse caso, foi realizado um tratamento com base na
utilização de antivirais e sedação profunda, denominado de Protocolo de
Milwaukee (WILLOUGHBY et al., 2005).

 Baseado na indução de coma profundo, uso de antivirais (amantadina) e


outros medicamentos específicos (biopterina).

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