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CARINA DE O.

FE RREI RA
JHONATAS VIE IRA
JONATAN SI LVA

PEDAGOGIA-EM-
PARTICIPAÇÃO:
a documentação pedagógica no
âmago da instituição dos direitos
da criança no cotidiano
Júlia Oliveira-Formosinho
João Formosinho
CONTEXTUALIZAÇÃO
Os autores nos introduzem em uma pedagogia onde se almeja a construção de autonomia e
conhecimento sustentada pela documentação pedagógica, cujo o qual será capaz de registrar o
que as crianças produzem, falam e pensam para concretizar uma autorregulação que permita
uma ação educativa coerente com seus direitos e aprendizagens.

Sendo assim, a proposta abraçada por Oliveira-Formosinho e Formosinho é a da


desconstrução da pedagogia tradicional em prol da reconstrução de uma outra pedagogia,
esta que em sua prática trará a criança como criança, um ser com identidade socio-
histórico-cultural e não como uma concha vazia esperando ser preenchida.
ANTES DE TUDO...
É estabelecido pelos autores dois conceitos de pedagogia:

“(...) há dois modos essenciais de fazer pedagogia – o modo da transmissão e o modo da


participação (Oliveira-Formosinho, 1998, 2004, 2007). A pedagogia da transmissão
centra-se no conhecimento que quer veicular, a pedagogia da participação centra-se nos
atores que coconstroem o conhecimento participando nos processos de aprendizagem”.
OU SEJA...
A PEDAGOGIA TRANSMISSIVA

traz como saberes um seleto e imutável conjunto de


informações considerados essenciais e indispensáveis para
considerar alguém culto e educado.

UMA PEDAGOGIA ONDE...


• o professor é um mero transmissor;
• a criança é uma tábua rasa que memoriza e reproduz;
• os objetivos da educação são baseados em escolarizar, acelerar e compensar;
• a motivação da criança é baseada em reforços seletivos do exterior;
• a atividade educativa pautada em memorização e cópia fiel dos conteúdos.
OU SEJA... A PEDAGOGIA PARTICIPATIVA

traz a ruptura com a pedagogia tradicional, onde, em um


ambiente de interação e relação, os saberes são construídos
em conjunto entre a criança, grupo e adulto.
UMA PEDAGOGIA ONDE...

• o professor é organiza o ambiente e observa e escuta a criança para a compreender e lhe responder;
• a criança é um ser com competência e atividade;
• os objetivos da educação são são os do envolvimento na experiência e a construção da aprendizagem
na experiência contínua e interativa;
• a motivação da criança sustenta -se no interesse intrínseco da tarefa e nas motivações intrínsecas das
crianças.;
• a atividade da criança é entendida como colaboração no âmbito do quotidiano educativo
DESCONSTRUÇÃO DA PEDAGOGIA CONVENCIONAL E
RECONSTRUÇÃO DE uma pedagogia participativa

A desconstrução trata-se da criação de ambientes pedagógicos em que as interações e as relações sustentam


atividades e projetos conjuntos, que permitem à criança e ao grupo coconstruir a sua própria aprendizagem e
celebrar as suas realizações.

Para isso é necessário desconstruir a cultura pedagógica da passividade (Formosinho, 1987) vivenciada e
naturalizada pela maioria. Isto requer que a prática da Pedagogia-em-Participação seja trabalhada em vários
níveis simultaneamente:

– a visão do mundo (uma visão progressista, democrática e participativa),


– o paradigma epistemológico (um paradigma da complexidade),
– a teoria da educação (uma teoria socioconstrutivista e sociocultural),
– a pedagogia participativa (uma nova imagem de criança e de professor;
nova conceção de ambiente educativo, método e avaliação).
A PRÁTICA TESTEMUNHAL COMO PRAXIS DE DESCOBERTA DA
CRIANÇA

Construir uma pedagogia com a criança implica começar por descobrir essa criança na sua vivência
fenomenológica.

A práxis é o locus da pedagogia e o cotidiano, o seu território vivencial.

Esta práxis de descoberta busca transformar o ano cotidiano de aprendizagem e as experiências que
a criança vivência.

O aprender da criança não é um fenômeno meramente interior, é uma realidade que depende quer da
sua natureza quer da experiência ambiental, no contexto de uma cultura.
RECONCEPTUALIZAR A IMAGEM DE CRIANÇA

No âmbito de uma pedagogia da infância transformativa, preconiza-se uma planificação pedagógica que
conceptualiza a criança como uma pessoa com agência, um ser com direito à coconstrução da sua jornada
de aprendizagem.

Os “ofícios” de aluno e professor são reconstruídos com base na reconceptualização da pessoa como
detentora de agência: a pessoa do aluno e a pessoa do professor.

O papel do adulto é criar espaço para que a criança se escute a si própria e comunique a escuta de si.

Este é um processo de negociação do currículo com as crianças.


RECONCEPTUALIZAR A IMAGEM DE CRIANÇA

A observação e a escuta desempenham aqui um papel central.

A observação é um processo contínuo, pois requer o conhecimento de cada criança individual.

Este é um processo de negociação do currículo com as crianças.

Isto implica a necessidade de uma simbiose entre teoria e prática, pois


requer a observação da “criança-em-ação”
RECONCEPTUALIZAR A IMAGEM DE CRIANÇA
No âmbito de uma pedagogia da infância transformativa, preconiza -se uma
planificação pedagógica que conceptualiza a criança como uma pessoa com
agência, não à espera de ser pessoa, que lê o mundo e o interpreta, que
constrói saberes e cultura, que participa como pessoa e como cidadão na vida
da família, da escola, da sociedade.
A observação é contextual, pois não se avalia a criança mas as aprendizagens da criança no contexto
educativo que se criou, o que requer que, antes de observar a criança, se observe o contexto.

A escuta é um processo de ouvir a criança sobre a colaboração no processo de coconstrução do


conhecimento, assim, tanto a escuta quanto a observação devem ser porto seguro para contextualizar e
projetar a ação educativa.
A negociação é um processo de debater e consensualizar com a classe os processos e os conteúdos
curriculares, bem como o ritmo e os modos da aprendizagem.
A INTENCIONALIDADE EDUCATIVA DA PEDAGOGIA-EM-
PARTICIPAÇÃO

A praxis da descoberta da criança é o cerne dessa pedagogia.

Visa-se que os processos pedagógicos apoiem o desenvolvimento de identidades socio-histórico-


culturais, para isso se apoia em quatro eixos pedagógicos.

Olhamos o processo educativo como mediação pedagógica que abre às crianças as portas plurais
da cultura, contribuindo assim para o seu processo de humanização.
Nesta pedagogia há quatro eixos que sustentam o
saber-fazer pedagogico e são âncoras que
intencionalizam o processo educativo para o
desenvolvimento da criança.

A interatividade dentro de cada polo dos eixos de


intencionalidade educativa e a interconectividade
entre os eixos permite apontar quatro áreas centrais
de aprendizagem experiencial: as identidades, as
relações, as linguagens e os significados.

Os eixos de intencionalidade educativa da Pedagogia-


em-Participação
Os quatro eixos são:
O terceiro eixo pedagógico (explorar
e comunicar)
aponta para a aprendizagem experiencial que permite à
O primeiro eixo (ser e estar) criança a exploração do mundo e do conhecimento
define como foco do ato educativo as identidades usando as inteligências sensíveis e os sentidos
plurais que partilham semelhanças com as outra inteligentes (Formosinho; Oliveira-Formosinho, 2008),
identidades em presença e que são respeitadas no seu acedendo aos instrumentos culturais, às cem linguagens
direito à diferença, nas suas características (Malaguzzi, 1998), em processos comunicativos.
idiossincráticas.

O segundo eixo pedagógico O quarto eixo pedagógico (narrar e


(participar e pertencer) significar)
Orienta a intencionalidade educativa para dar suporte ao
refere-se à narração das aprendizagens como suporte à
desenvolvimento do pertencimento que incentiva a
criação do significado e sentido
participação (Formosinho, 1987).
As duas primeiras áreas de aprendizagem –
identidades e relações – nascem do cruzamento de
dois eixos pedagógicos: o ser-estar e o pertencer-
participar.

As duas outras áreas de aprendizagem – linguagens


e significados – nascem do cruzamento de dois
outros eixos pedagógicos (o explorar e comunicar e o
criar e narrar as jornadas de aprendizagem).

Áreas de aprendizagem da Pedagogia-em-Participação


O DIÁLOGO DA INTENCIONALIDADE EDUCATIVA DA PEDAGOGIA-EM-
PARTICIPAÇÃO COM OS PROPÓSITOS DAS CRIANÇAS

A Pedagogia-em-Participação vê a criança como portadora de impulsos, interesses e motivações que criam


intencionalidade e propósitos, com os quais ela se orienta para o mundo e para ser no mundo com os outros.

O respeito pela identidade da criança conduz inevitavelmente à conceção de uma pessoa na escola como
partícipe respeitado, ouvido, respondido e, por isso, incluído.

A intencionalidade educativa da Pedagogia-em-Participação é desafiada permanentemente a dialogar com


os propósitos das crianças para criar as situações educativas.

Pede-se imaginação profissional para criar um cotidiano partilhado em que não se faz uma troca de lugares
entre o educador e a criança, colocando esta criança exclusivamente no centro do processo educativo
O respeito pela criança competente e participativa inicia -se na negociação do que aprender, como
aprender, como avaliar.

O DIÁLOGO DOS PROPÓSITOS DAS CRIANÇAS COM A


INTENCIONALIDADE educativa da Pedagogia-em-Participação exige a
reconstrução da mediação pedagógica

Nesta pedagogia a mediação pedagógica desenvolve-se no âmbito de todas as dimensões da pedagogia e


sua interatividade.

A mediação pedagógica é um modo de ser e estar com as crianças que exige, em muitos momentos, a
suspensão ética da educadora.
Exige a autorregulação profissional, isto é, a suspensão ética dos saberes, fazeres e poderes profissionais
para permitir à criança, através da participação, o exercício dos seus próprios saberes, fazeres e poderes.

Isto implica desenvolver uma mediação pedagógica como função profissional avançada, que sabe
silenciar-se, sabe suspender a própria voz para dar espaço à voz da criança.

Mediar a agência da criança exige a ética de reconhecer que a participação ativa da criança na
aprendizagem depende do contexto educativo e dos processos que nela se desenvolvem.
O PAPEL DA DOCUMENTAÇÃO PEDAGÓGICA NA PLANIFICAÇÃO
SOLIDÁRIA E na ação pedagógica

Planificar é dar à criança poder para se escutar e para comunicar a escuta que fez de si.

A documentação pedagógica é o processo para registar a aprendizagem – a aprendizagem das crianças,


mas também a aprendizagem dos profissionais e a dos pais.

Por meio dessas narrativas, a documentação pedagógica tem potencial para revelar um processo
dinâmico de crescer no aprender, integrado com o crescer no ser.

O fluir dos processos pedagógicos participativos não é previsível, não é um processo linear nem
totalmente programável.
O PAPEL DA DOCUMENTAÇÃO PEDAGÓGICA NA PLANIFICAÇÃO
SOLIDÁRIA E na ação pedagógica

A documentação pedagógica representa uma conquista a esse nível pois visibiliza cada criança na sua
competência, agência e desafia à criação de respostas (situações) educacionais respeitosas das
identidades plurais emergentes, com direitos de participação.

A documentação coloca o aprender no centro.

A documentação permite à comunidade profissional descrever, compreender, interpretar e ressignificar o


quotidiano pedagógico da experiência de vida e aprendizagem das crianças, da vida profissional das
educadoras e permite às crianças ver -se a aprender.

A documentação pedagógica retira as práticas pedagógicas do anonimato.


O PAPEL DA DOCUMENTAÇÃO NA DIFERENCIAÇÃO PEDAGÓGICA

Fazer diferenciação pedagógica significa ensinar de tal modo que a aprendizagem, que é direito de
todos, se concretize também num direito de cada um.

Fazer diferenciação pedagógica significa pensar em termos de equidade e não em termos de igualdade
burocrática.

Permite compreender e respeitar a identidade aprendente de cada criança e fazer com ela um caminho
cotidiano de aprendizagem solidária.
O PAPEL DA DOCUMENTAÇÃO PEDAGÓGICA NA MONITORIZAÇÃO
DA AÇÃO docente: garantindo os direitos da criança

A documentação pedagógica feita pela educadora, com as crianças e as


famílias, revisitada quando necessário, permite abraçar um caminho de
compreensão partilhada da identidade pessoal, familiar, social, relacional e
cultural da criança.

A documentação não revela unicamente a aprendizagem da criança; revela também a aprendizagem da


criança num contexto pedagógico específico, o que significa que revela também o ensino e os processos
de desenvolvimento profissional prático (Dunne, 2009).

A documentação pedagógica está no âmago da autorregulação profissional que se exerce com autonomia
profissional sustentada na pedagogia explícita que se prática.
O PAPEL DA DOCUMENTAÇÃO PEDAGÓGICA NA MONITORIZAÇÃO
DA AÇÃO docente: garantindo os direitos da criança

A documentação realizada neste espírito constitui informação próxima para fazer avaliação pedagógica
através de atos profissionais que interrogam a própria documentação, que a fazem falar sobre a
aprendizagem da criança, sobre o que está a fazer, a sentir e a aprender (Campos; Colasanto, 2016)

A documentação pedagógica é feita em torno das aprendizagens das


crianças e das aprendizagens dos adultos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com isso, a documentação pedagógica tem uma papel importante na realização da Pedagogia-em-
Participação, no sentido de autorregulamentar a própria documentação e práxis exercida no
cotidiano educativo, desconstruindo do ambiente escolar a pedagogia passiva, onde não há trocas.
Esta documentação "é a chave para instituir a participação das crianças, porque ajuda a ver,
compreender e responder a cada criança e ao grupo, colocando-se no âmago da instituição dos
direitos da criança no cotidiano educativo" (FORMOSINHO; OLIVEIRA-FORMOSINHO, 2013).
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

FORMOSINHO, J.; OLIVEIRA-FORMOSINHO, J. Pedagogia-em-Participação: a documentação


pedagógica no âmago da instituição dos direitos da criança no cotidiano. Em Aberto, Brasília, v. 30, n.
100, p. 115-130, set./dez. 2017

FORMOSINHO, J.; OLIVEIRA-FORMOSINHO, J. Pedagogia-em-Participação: A Perspectiva da


Associação Criança. Editora Porto. 2013

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