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Uso 

e Mau uso dos arquivos


Carlos Bacellar
Arquivos do Poder executivo  

• Arquivos Públicos municipais e estaduais, e Arquivo Nacional. 


• Correspondências, ofícios e requerimentos 
•                 Organização cronológica, difícil indexação 
•                 Cartas ao presidente da província 
• Listas nominativas de habitantes (maços de população) 
• Desde o século XVIII até o início do Império 
• Iniciaram-se por objetivos de recrutamento militar 
• Permitem análises bem diversificadas pois informam a composição de
cada domicilio com relação a nome, idade, estado civil, cor, condição,
naturalidade e ocupação econômica. 
• Permite que se acompanhe domicílios ao longo dos anos. 
• permitem análises especialmente ricas sobre a estrutura da família e
do domicílio. 
• Matrículas de classificação de escravos 
•                 Tiveram origem a partir de 1871 com a lei do ventre livre. 
•                 Documento utilizado apenas no final do império, quando o tráfico
internacional não existia há décadas. 

• Listas de qualificação de votantes 


•                 Eram considerados a votar todos os homens livres com renda de
200 mil réis. 
• Podem ser cruzadas com atas eleitorais e as atas de juntas de apuração, o
que permitiria  analisar-se os jogos políticos em níveis locais. 
• Documentos sobre imigração e núcleos coloniais 
• Listas de bordo dos navios, listagens de controle de desembarque nos portos,
registros de hospedarias. 
• Banco de dados no Memorial do Imigrante em São Paulo. 
• Matrículas e frequência de alunos 
• Existem, em geral, a partir de finais do Segundo Império. 
• Seria possível, a princípio, acompanhar, por esses livros, a possibilidade de
acesso das crianças negras e imigrantes ao ensino, bem como a permanência
das crianças no ensino, ao longo dos anos.  
• Documentos de polícia  
• Vários documentos referentes a ação repressora do Estado durante o império
e a república. 
• Livros de ocorrência 
• Os livros de registro de entradas de presos em cadeias e penitenciárias
permitem que se trace um perfil social do prisioneiro, relacionando a
qualidade da contravenção com cor, idade e outros dados de identificação.  
• Ditadura – documentos Dops – Arqueologia Forense 
• Documentos de obras públicas 
• Documentam a construção de benfeitorias durante o império. Plantas,
projetos de construção de edificios públicos como, cadeias, escolas, além de
estradas, pontes, e calçamento de ruas. 
• Documentação sobre a implantação da infra-estrutura urbana. 
• Acompanhar o desenvolvimento e o esforço realizado pelo Estado desde
o império para modernizar a economia. 
• Documentos sobre terras 
• Dos mais procurados. 
• Questões agrárias ou habitacionais. 
• Arquivos municipais – pequenos lotes para habitação ou comércio 
• Arquivos estaduais e Arquivo Nacional – Sesmarias concedidas pela coroa. 
• Avisos Régios (1817) recenseamento. Apenas em SP. 
• Registro de terras (1850) realizado em nível nacional. 
Arquivos do Poder Legislativo 
• Atas das sessões - discussões sobre os mais diversos projetos 
• Registros das câmaras municipais- cópias de correspondências
recebidas e enviadas, legislação e muitos outros. 
Arquivos do Poder Judiciário 
• Estes acervos tem sido tratados com grande descaso. 
• De forma geral, estão disponíveis grandes séries de inventários e testamentos,
autos cíveis e autos crimes. 
• No final da década de 1990, uma iniciativa extremamente polémica foi tomada
pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, autorizando os juízes das comarcas, após
apreciação pessoal deles, a procederem à eliminação de documentação "sem
valor histórico", após publicação de relação sumária dos papéis em questão. 

• Os testamentos, preciosos registros das últimas vontades de um indivíduo,


permitem que se penetre no mundo das crenças e das visões de mundo do
homem do passado. 
• Inventários - A grande quantidade de declarações de dívidas e as longas listas de
credores dos livros de razão dos comerciantes permitem entrever o funcionamento dos
sistemas de relações comerciais internas à Colónia e ao Brasil independente. 

• Inventários também podem ser usados para se estudar a escravidão sob os mais variados
aspectos. As listagens de cativos podem servir para a observação da família escrava. 

• Os processos crime e cíveis são fontes igualmente abundantes e dão voz a todos os
segmentos sociais, do escravo ao senhor. A convocação de testemunhas, sobretudo nos
casos dos crimes de morte, de agressões físicas e de devassas, permite recuperar
as relações de vizinhança, as redes de sociabilidade e de solidariedade, as rixas, enfim, os
pequenos atos cotidianos das populações do passado. 
Arquivos Cartoriais 
• As séries documentais dos arquivos cartoriais constituem-se de
registros os mais variados, tal como os de notas e escrituras, registros
civis e procurações. 
• Arquivo Nacional desenvolveu o projeto de mapeamento
da documentação referente à escravidão, ao negro e à Africa, em
1988,27 
• Os livros de notas dos tabeliães são preciosos para a análise da sociedade e
da economia do passado. Ali se encontram registros de negócios os
mais diversos: escrituras de compra de terras, imóveis urbanos e cativos;
escrituras de criação de sociedades e de estabelecimento de negócios
comerciais; registro de procurações, de cartas de alforrias de escravos, de
emancipação de filhos, de contratos de casamento, de nascimento, de
casamento e de óbito. 
• A localização dos documentos necessários a uma pesquisa histórica
deve partir do conhecimento dos tipos documentais que podem ser
localizados em cada cartório, além de se levar em conta a data de criação
daquele, considerando ainda sua origem em termos de desmembramento
territorial. 
Arquivos Eclesiásticos 
• Difícil acesso. 
• compõe-se em especial de registros paroquiais de batismo,
casamento e óbito, processos diversos, livros-tombo das paróquias e
correspondência, organizados pelo nome das paróquias e em ordem
cronológica. 
• De maneira geral, os arquivos católicos preservaram
escassa documentação para os séculos XVI e XVII, começando a ser
mais expressivos a partir do século XVIII. 
• As ordens religiosas regulares também produziram, ao longo de
cinco séculos, documentação bastante rica, mas, novamente, de
acesso nem sempre fácil. 
• Mórmons - acervo microfilmado 
• Parte do acervo católico foi microfilmado pelos mórmons. 
Arquivos privados  

• Documentação imagética 
• Os arquivos públicos estaduais tem recolhido parte das
documentações de outros arquivos. 
• Conhecer a história da administração pública para reconhecer os
cargos que foram criados ao longo dos séculos, e mais
especificamente do período em que está pesquisando. As mudanças
na administração se fazem sentir na documentação resultante da
atuação de cada órgão 
Escarafunchar arquivos brasileiros 
•  Ao longo do século XIX, surge o Arquivo Público do Império (1838) e
os primeiros arquivos provinciais, recolhendo, de maneira pouco
sistemática, acervos documentais que recuavam aos tempos
coloniais. 
• Os primeiros arquivos reais ou senhoriais surgem, portanto, como fruto
da ação cotidiana, em um acúmulo nem sempre organizado. tais
depósitos ou arquivos atendiam tão-somente às consultas do próprio
corpo administrativo, que recorria aos documentos comprobatórios de
suas atividades: concessões de títulos e terras, registros fiscais,
correspondência. Não havia o caráter de arquivos públicos, mas apenas
de arquivos de serviço, internos à crescente burocracia estatal.  
• Aos poucos, e apenas a partir do século XIX, tais acervos foram em
parte reunidos em instituições especialmente estabelecidas para o fim
de atender à crescente demande de acesso.  
Expectativas, achados e surpresas; o que se
encontra nos arquivos  
• No mundo moderno e contemporâneo, o crescimento da máquina do
Estado e da burocracia resultaram na gigantesca multiplicação dos
volumes de papéis públicos acumulados nas repartições públicas.
Tal situação também se verifica na iniciativa privada 
•  Após a proliferação da informática, arautos da modernidade vendiam
a ideia de que as novas máquinas pensantes iriam dar fim à produção
de papéis, principalmente quando do advento da internet e das redes
de computadores. A documentação se tornaria virtual, sem suporte
em papel. xerox 
• Uma das grandes preocupações da arquivística contemporânea reside
justamente na eliminação desse excesso de papéis, característica da
produção documental desde a segunda metade do século xx.   
•  Comissões especialmente reunidas para este fim, compostas por
administradores, juristas, historiadores e arquivistas teriam, assim, a
obrigação de relacionar quais documentos são de guarda
permanente, com a preservação de séries completas, e quais
merecem preservação por amostragem, ou mesmo eventual
eliminação integral. 
• Descarte de documentos, em especial duplicatas. 
• Preservação da totalidade (discursos politicos, leis) x amostragem
(cartões de ponto). 
• Idade dos documentos disponibilizados para o pesquisador – regulada
por legislações recentes. Geralmente documentos do século
XX podem não estar disponíveis para consulta. 
• Dificuldade dos arquivos se manterem e continuirem a recolha de
documentos no século XX. Indisponibilidade de espaço físico. 
• Condições de Trabalho – precariedade, falta de investimento do poder público, arquivo morto 
• No Brasil, os arquivos públicos mais bem organizados pertencem aos poderes Executivo e
Legislativo, sobretudo em âmbito nacional e estadual, com grandes carências nos municípios. Já
no que diz respeito ao Poder Judiciário, as ausências de políticas arquivísticas mais sérias é uma
triste norma que ameaça a integridade de um acervo de grandes proporções e importância.   
•  o acervo documental por recolher é de dimensões muito maiores do que o já aberto à
pesquisa. 
• Além da documentação pública existente nos arquivos, outros conjuntos documentais de
grande importância podem ser encontrados ainda nas instituições produtoras e acumuladoras
originais, como Ministérios, Secretarias de Estado e Municipais, Assembleias Legislativas,
Prefeituras, Câmaras Municipais, Tribunais de Justiça, fóruns, cartórios, cúrias, além de
indústrias, empresas e pessoas físicas 
• Documentos mal acomodados em instalações que chegam a ser
precárias sofrem rápida deterioração e podem se perder em
definitivo. Infestados por brocas, cupins e traças, sofrendo incêndios
ou alagamentos, expostos a condições ambientais desfavoráveis,
dificilmente sobrevivem 
Os instrumentos de pesquisa 
• Bases de Dados disponibilizadas na internet 
• Guias de acervo 
• Catálogos 
• Listagens imprecisas 
• Hoje, o ideal, em termos de instrumentos de pesquisa, é oferecer ao
consulente informações sobre os órgãos produtores de
documentação, caracterizando, também, a tipologia documental
produzida e acumulada, com a informação genérica das competências
administrativas previstas e realizadas que lhe diziam respeito. 
Primeiros cuidados   
• O trabalho com documentos de arquivo exige precauções. Acumulados
há décadas ou séculos, juntaram poeira, fungos e esporos que facilmente
podem provocar alergias e, mais excepcionalmente, infecções. Todo
cuidado, portanto, é pouco. O uso de luvas, máscaras e aventais. 
• Dedetização das caixas na década de 1940 no Arquivo Público de São
Paulo. 
• Acima de tudo, o manuseio dos papéis de arquivo requer boa dose de
cuidado. São frágeis - embora muitas vezes não o aparentem. As fibras de
papel envelhecem, tornam-se quebradiças e podem se romper
facilmente, sobretudo jornais. 
• Retirados da caixa ou pasta onde estavam acondicionados, ou
desamarrados os maços, os documentos devem ser mantidos na
ordem em que se encontram, em particular se já passaram por
arranjo. Tirá-los de ordem significa destruir trabalho de anos, e
dificultar enormemente sua posterior recuperação. 
• Os documentos manuscritos estão organizados, de maneira geral, em
séries, que nada mais são do que "sequências de unidades de um
mesmo tipo documental". 
A rotina da Leitura documental  
• Caligrafias diferentes, mesmo em documentos datilografados a leitura
pode ser difícil 
• Iluminação e condições de conforto precárias. 
• Escritas com tintas apagadas ou esmaecidas podem ser visualizadas
com uma lupa 
• Uma régua pode ser utilizada no acompanhamento das linhas 
• Condições físicas ruins dos documentos 
Manuseio 
•  Conservação e gestão dos documentos: a grande maioria dos acervos
não passa por procedimento s técnicos indispensáveis, ou os
têm aplicad o apena s parcialmente. Em geral, o custo material, o
tempo a ser despendido e a falta de mão-de-obra especializada nos
delicados trabalhos de preservação contribuem para sua não-
observação, colaborando para contínua deterioração dos papéis. 
• Apoiar os braços, colocar peso, inclusive as folhas de anotação, sobre
ele, anota r ou grifar o texto que se lê, recorta r - são numeroso s e
mesmo inacreditáveis os danos que um consulente descuidado ou
irresponsável pode fazer. 
• Quem consulta deve levar em conta, sempre, que documentos de
arquivo, ao contrário das bibliotecas, são únicos, insubstituíveis. 
• No que diz respeito aos órgãos públicos detentores de acervos, é
comum se propor a microfilmagem como maneira de descartar os
papéis originais, em uma concepção errónea e bastante perigosa, que
deve ser combatida. Nunca se destroem documentos de valor
histórico, permanente, mesmo que haja cópia em outro suporte. 
A Leitura Paleográfica 
• Variação da caligrafia, abreviaturas, vícios da escrita, erros de
ortografia 
A transcrição paleográfica e a edição de
fontes 
• E óbvio que se imagina que uma transcrição paleográfica deva ser fiel ao
original, sem lhe alterar o sentido. Nesse caso, tem-se sempre a opção de
transcrever fielmente o original, reproduzindo a grafia, as abreviaturas,
enfim, suas características de época. Ou, então, pode-se modernizar o
texto, de acordo com a gramática corrente, visando a facilitar a leitura.  
• "Normas técnicas para transcrição e edição de documentos manuscritos" 
• A manutenção da grafia original, transcrita para caracteres modernos, é
sempre mais interessante do que as tentativas de modernização. Esta
sempre traz embutido o risco de má interpretação, alterando-se o sentido
original do texto. 
A reprodução dos documentos 
• A solicitação de reprodução, escaneamento e microfilmagem pode
ser feita em alguns arquivos. Porém as cópias xerografadas tem sido
rejeitadas.
• Risco de virar o documento de cabeça pra baixo. 
• Fotografia digital 
• Direitos de uso de imagem 
A amostragem na pesquisa 
• Análises estatísticas 
• Análise qualitativa no caso de documentos isolados  - têm seu valor,
mas não se pode arriscar a generalizar suas informações para o
restante da sociedade. 
Os fichamentos 
• É fundamental, também, anotar a referência do documento transcrito,
copiando sua notação no acervo do arquivo. Com isso, o leitor pode ser
remetido, caso o deseje, à fonte manuscrita original. Além disso, não se
pode esquecer, jamais, de indicar todos os dados que permitam identificar o
documento, como remetente, destinatário, órgão produtor, local e data,
para que, posteriormente, se possa contextualizar seu conteúdo quando de
seu uso. 
• É preciso que se diferencie com rigor o texto não copiado do texto cuja
leitura foi impossível, estabelecendo uma lacuna. E, se o documento for
extenso, devem-se registrar as mudanças de página, indicando a numeração,
quando existente, ou indicando a folha (frente e verso) em questão. 
A análise dos documentos  
• Ao iniciar a pesquisa documental, já dissemos que é preciso conhecer
a fundo, ou pelo menos da melhor maneira possível, a história
daquela peça documental que se tem em mãos. Sob quais condições
aquele documento foi redigido? Com que propósito? Por quem? Essas
perguntas são básicas e primárias na pesquisa documental, mas
surpreende que muitos ainda deixem de lado tais preocupações.
Contextualizar o documento que se coleta é fundamental para o
ofício do historiador! 
As medidas 
• Os pesquisadores que têm a atenção voltada para temas económicos
costumam enfrentar alguns problemas com as medidas de
comprimento, volume e peso presentes nos documentos. 
• As medidas, em geral, variavam de região para região e ao longo do
tempo. Portanto, é preciso situar, antes de tudo, a fonte documental
para essas informações, para, então sim, buscar-se algum parâmetro
para conversão.   
A identificação de indivíduos 
• A análise nominativa de fontes documentais é tendência cada vez mais crescente.
Originalmente preocupação quase exclusiva de genealogistas e memorialistas, hoje
faz parte da rotina de quem trabalha com História da família, Demografia histórica
ou Micro-análise. Reconstituir histórias de vida, acompanhar as gerações de
famílias de livres e cativos, são possibilidades cada vez mais interessantes em
termos historiográficos.  
•  os atos de batismo religiosos até fins do Império não registravam o nome completo
das crianças, mas tão-somente o prenome simples ou composto, ficamos na
impossibilidade de saber qual composição o batizado adotaria ao longo de sua vida 
• Para os escravos, a situação é ainda mais complexa. Eventualmente podem ter seus
nomes acrescidos de uma espécie de identificação, tirada de sua origem africana
("Congo", "Angola"). 

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