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Pirandello

 O italiano Luigi Pirandello  (1867-1936) é um emblema do século XX:


depois de publicar novelas e romances recebidos discretamente, cria peças
idênticas e vira o dramaturgo mais famoso do século. Nestas, declarou que
aos mortais não é concedida qualquer identidade além da verdade resultante
da convenção burocrática de certos documentos. Se estes faltam, a
realidade é incognoscível, todos podem reduzi-la ao que se quiser.

 Pequena parte de sua extensa obra teatral foi traduzida no Brasil – há o


clichê de que teria inaugurado o teatro apolítico que cita a si próprio. Ou o
clichê internacional de que sua obra trata preponderantemente do que pode
ser verdade ou mentira. Na Itália, foi muito pior: os clichês floresceram no
pântano de décadas de montagens controladas por seus herdeiros.
Sobre o
 Pirandello incendiou o teatro por decênios além de sua morte, ocorrida em
1936. Desarmou a ideologia estética do drama burguês ao evidenciar que
nenhuma identidade pessoal nasce da própria personalidade, seja real, seja
autor
fictícia; para tal, depende da aparência que tem frente ao próximo. Pior:
frente a si mesmo. Tudo, então, é fictício. Qualquer material fictício tem a
vantagem de poder ser reinventado, mas as conseqüências disso no mundo
real são trágicas: o esvaziamento das relações humanas. Não é isso o que
vivemos exacerbadamente em nossos dias? Ou: o que pode ser mais
eminentemente político, hoje?

 Ri-se da seriedade dos seus temas.


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 Pirandello tornou-se famoso graças ao teatro que chama de “teatro do espelho”, porque nele retrata a vida real, aquela nua, amarga, sem a máscara da
hipocrisia e das conveniências sociais, de modo que o espectador possa se ver como em um espelho, da forma como é realmente, e torna-se melhor. A
crítica o define como um dos grandes dramaturgos do século XX. Ele escreveu muitas obras, algumas das quais reelaborações dos seus próprios contos,
que se dividem de acordo com o estágio de maturidade do autor:

 Primeira fase - O teatro siciliano: Na fase do Teatro Siciliano, Pirandello é iniciante e ainda tem muito o que aprender. Assim como as outras, apresenta
várias características relevantes; alguns textos foram escritos inteiramente em siciliano porque o autor o considerava mais vivo do que o italiano e capaz de
expressar maior aderência à realidade.

 Segunda fase - O teatro humorístico / grotesco: À medida que o autor distancia-se do verismo e do naturalismo, e aproxima-se do decadentismo, tem-se
início a segunda fase com o teatro humorístico. Pirandello apresenta personagens que comprometem as certezas do mundo burguês: ao introduzir a versão
relativista da realidade, invertendo os modelos habituais de comportamento, pretende expressar a dimensão autêntica da vida para além da máscara.

 Terceira fase - O teatro no teatro (metateatro):Na fase do “teatro no teatro”, as coisas mudam radicalmente. Para Pirandello, o teatro deve falar também aos
olhos e não somente aos ouvidos, e para isso ele resgatará uma técnica teatral de Shakespeare, o cenário múltiplo, onde se pode ter, por exemplo, uma casa
dividida em que é possível visualizar várias cenas feitas em várias salas contemporaneamente; além disso, o “teatro no teatro” permite assistir ao mundo
que se transforma no palco cênico. Pirandello também abole o conceito de quarta parede, que é a parede transparente que se encontra entre os atores e o
público: nessa fase, de fato, Pirandello tende a envolver o público que não é mais passivo, mas que reflete a própria vida naquela representada pelos atores
em cena. .Nesse período, Pirandello teve um encontro decisivo com um grande autor teatral italiano do século XX: Eduardo De Filippo. Como
consequência, além do nascimento de uma amizade que durou três anos, foi o que o autor napolitano sentiu, como aconteceu no passado com o siciliano, a
necessidade de se afastar do "regionalismo" da arte verista, ainda que conservando, no entanto, suas tradições e influências.

 Quarta fase - O teatro dos mitos: Apenas três obras da produção de Pirandello são associadas a essa fase:
La nuova colonia;
Lazzaro;
I giganti della montagna.
 Escrita em 1921, Seis personagens à Procura de Autor relata um ensaio de teatro.
 O ensaio é invadido por seis personagens que, rejeitadas por seu criador, tentam
convencer o diretor da companhia a encenar suas vidas.

 No início, o diretor fica perturbado por ter seu ensaio interrompido, mas aos
poucos começa a interessar-se pela situação inusitada que se apresenta diante de
seus olhos. As personagens o convidam a encenar suas vidas, mostrando que
mereciam ter uma chance. Com isso, acabam convencendo-o a tornar-se autor.

 As discussões entre as personagens e o diretor compõem uma análise filosófica

Seis personagens do teatro. Assim, o peso da peça divide-se entre a narrativa em si, e os aspectos
paratextuais, que ganham a cena.

a procura de um
autor
 Diretor e personagens discutindo constroem também uma querela de formas de
fazer teatro. As personagens, tentando mostrar ao diretor que suas vidas são reais,
em relação ao palco, e ele defendendo a relatividade do que está sobre o palco,
toma como parâmetro a vida "real". A peça entra, assim, em um outro aspecto:
torna-se um estudo metalinguístico do teatro, a arte discutindo a si mesma. A
forma de representação proposta pelo diretor não é aceita pelas personagens. Não
querem ser representadas pelos atores da companhia. Afinal, como alguém
poderia representar melhor a vida de uma personagem do que ela própria?

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