Você está na página 1de 39

Mediação de conflitos e Direito Sistêmico.

Me. Alber Rosa de Figueiredo


Delegado de Polícia Civil

1
Mediação de conflito e Direito
Sistêmico

Alber Rosa de Figueiredo


Delegado de Polícia Civil de Entrância Especial
Delegado Titular da 7ª. Delegacia de Polícia da Capital
Polícia Civil desde de 06/06/1990
Ex Corregedor da Polícia Civil
Ex Corregedor Geral da SSP
Formando em Direito pela UFSC
Mestre em Relações Internacionais pela Unisul
Formação em Direito Sistêmico Instituo Ipê Roxo
Formação em Constelações Sistêmicas pelo Instituto Ipê Roxo
Coordenador do Projeto Direito Sistêmico e Constelações Sistêmicas
na 7ª. Delegacia de Polícia
Professor da Acadepol de Mediação e Direito Sistêmico
Email: alber.rosa@gmail.com
Instagram @alberfigueiredo
Whatsapp 48 98843 4445

2
Mediação de conflito e Direito
Sistêmico

Objetivos:
Apresentar as diretrizes da Politica Criminal na resposta aos conflitos na esfera
penal.
Limites para aplicação da mediação de conflitos nas unidades policiais.
Capacitar os policias a utilizar a técnica do Direito Sistêmico na mediação de
conflitos.
Contextualizar a realidade da resposta estatal para os conflitos que chegam as
unidades policiais e sua efetividade.

3
Mediação de conflito e Direito
Sistêmico

Por onde começar?  

Resposta Estatal:
Pela nossa realidade! Dos seus fins: prevenção e
repressão.
Qual é a forma de resposta
estatal frente ao fenômeno . Dos meios que utiliza: penas
criminal quando há um ou medidas de segurança.
conflito?

4
Mediação de conflito e Direito
Sistêmico

As formas de

Não.
resposta estatal
utilizadas conseguem
ser eficiente em todos
os casos ?

5
Mediação de conflito e Direito
Sistêmico

Por onde começar? Acesso a justiça na CF 88.

Pela nossa realidade! O inciso XXXV do artigo 5ª da Constituição


Federal de 1988 assegura que:
“a lei não excluirá da apreciação do Poder
O problema brasileiro: O tão Judiciário lesão ou ameaça a direito”
sonhado acesso a justiça de
Mauro Cappelletti (1978) e a Reforma do Direito
incapacidade do sistema de
Processual Brasileiro até a lei
justiça brasileiro.
9.099/95.

6
Mediação de conflito e Direito
Sistêmico

Vocação em
razão da origem. Livro de acordos ou do Bom Viver das
Delegacias.
Termo de Bom Viver.
Até a lei 9.099/95.

História. Com a CF 88 as Polícias Judiciárias, em


razão do período da ditadura, perdeu
muitas de suas atribuições.

7
Mediação de conflito e Direito
Sistêmico

CF de 88 e o A nova realidade para os crimes de menor


enfraquecimento da potencial ofensivos junto ao Judiciário, e a
incapacidade deste frente as novas
Polícia Civil. demandas.

Ministério Público
ganha destaque na
Percepção da incapacidade do judiciário
Lei 9.099/95. brasileiro de prestar um tutela jurisdicional célere
para os crimes de menor potencial ofensivo.

8
Mediação de conflito e Direito Sistêmico.

No final da década de 90, por meio da Resolução no


Mudança de 26/1999, o Conselho Econômico e Social das Nações
paradigma na Unidas recomendou fortemente que os Estados
desenvolvessem, ao lado dos respectivos sistemas
esfera penal. judiciais, a promoção das chamadas Resoluções
Alternativas de Disputas (ADRs).

Necessidade de
uma mudança na Resolução 2002/12 da ONU - PRINCÍPIOS
juridicialização dos BÁSICOS PARA UTILIZAÇÃO DE PROGRAMAS
DE JUSTIÇA RESTAURATIVA EM MATÉRIA
conflitos na esfera CRIMINAL.
penal. Impacto nas políticas criminais do Brasil.

9
Mediação de conflito e Direito
Sistêmico

Resolução 1) Resolução 125/2010 do CNJ, Dispõe sobre a Política


2002/12 da ONU. Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos
de interesses no âmbito do Poder Judiciário e dá outras
providências.
2) Resolução 225/2016 do CNJ que dispõem sobre a Política
Nacional de Justiça Restaurativa no âmbito do Poder
Judiciário;
3) O novo Código de Processo Civil que introduziu a
conciliação e a mediação definitivamente no processo civil
A mediação começa brasileiro;
4) a Lei n.o 13.140/2015, que dispôs sobre a mediação como
a ganhar força. meio de solução de controvérsias entre particulares e a
autocomposição de conflitos no âmbito da administração
pública.

10
Mediação de conflito e Direito
Sistêmico

Qual o
Com mudanças surgem as grandes
movimento?
O empoderamento
oportunidades.
das partes do E para Polícia Civil catarinense este é
conflito e
afastamento do um grande momento de retornar a
estado juiz.
ser protagonista e voltar a sua
vocação de trazer a paz.

11
Mediação de conflito e Direito
Sistêmico

Práticas que
deram certo.
Em vários NECRIM da Polícia Civil de São Paulo tem 12 anos.
Medcrim Minas Gerais.
estados Programa Mediar Rio. Grande do Sul.
Núcleo de Polícia Judiciária Restaurativa Distrito Federal.
brasileiros as
Polícias Civis
atuam na
mediação de
conflitos.

12
Mediação de conflito e Direito
Sistêmico Restaurativa,

?
COMO
COLOCAR
EM PRÁTICA
NA PC?

13
Mediação de conflito e Direito Sistêmico

O que é um conflito?

• As relações humanas são necessariamente constituídas de elementos conflitivos.

- Atribuição de significado individual às vivências. 

•  O conflito é judicializado: transferência de sentimentos de frustração , de raiva, descontentamento.


• O processo tem a função de exteriorizar sentimentos mal resolvidos, alimentando condutas cada vez mais
litigiosas

14
Mediação de conflito e Direito Sistêmico

• O que é Justiça Restaurativa?

• A Justiça Restaurativa, segundo o Conselho Nacional de Justiça, se configura como um “conjunto ordenado e sistêmico de
princípios, métodos, técnicas e atividades próprias, que visa à conscientização sobre os fatores relacionais, institucionais e
sociais motivadores de conflitos e violência” (CNJ, 2020, s/p). Ela se baseia na noção de consenso, em que o prejudicado e
o autor (e outras pessoas ou membros da comunidade afetados pela conduta) atuam como sujeitos centrais, participam
coletiva e ativamente na construção de soluções para a restauração dos conflitos (QUINTANA, 2014).

15
Mediação de conflito e Direito Sistêmico

Comunicação Não Violenta

- A humanidade foi ensinada a valorizar a violência, a se divertir com ela e saboreá-la.

- As pessoas não se veem como violentas.

- Todo comportamento é uma forma de comunicação. O silêncio ou as palavras, a atividade ou inatividade.

- As palavras “tocam” o outro. Metáforas “palavras suaves, duras, seu discurso me tocou, doeu.”

16
Mediação de conflito e Direito Sistêmico

• Mediação:

• Coloca a palavra em circulação, buscando mais perguntas que levem a pensar criticamente que
propriamente as respostas. 

• O principal valor da mediação reside em oferecer aos envolvidos a possibilidade de enfrentar os seus
problemas pessoais em conjunto e de compreenderem-se mutuamente, reconhecendo as necessidades e
culpas recíprocas.

• O conflito penal passa a existir como passado e a preocupação se volta para o futuro- o que fazer a partir
daquele momento.

17
Mediação de conflito e Direito Sistêmico

• Base teórica do Direito Sistêmico

• O Direito Sistêmico tem como base teórica os princípios das Constelação Familiar criada pelo
filósofo alemão Bert Hellinger, que postulou que as relações humanas são lideradas por três Leis
Sistêmicas: da Ordem, Pertencimento e Equilíbrio

18
Mediação de conflito e Direito Sistêmico

• Base teórica do Direito Sistêmico

• O Direito Sistêmico tem como base teórica os princípios das Constelação Familiar criada pelo
filósofo alemão Bert Hellinger, que postulou que as relações humanas são lideradas por três Leis
Sistêmicas: da Ordem, Pertencimento e Equilíbrio

19
Mediação de conflito e Direito Sistêmico

• Direito Sismêmico
• É um olhar para a atuação no direito através das leis sistêmicas e
postura fenomenológica que Bert Hellinger nos mostrou com seu
trabalho chamado Constelações Familiares. Além disso, o Direito
Sistêmico promove que as partes em conflito descubram o que de
fato determina aquela ação jurídica.
• O Juiz brasileiro Sami Storch, foi quem teve a iniciativa de
desenvolver e aplicar ação conciliatória entre as partes, ao usar o
Direito Sistêmico no judiciário brasileiro. Enxergando a validade das
Constelações Sistêmicas para desfazer emaranhamentos pessoais
de fundo familiar, decidiu introduzir o conhecimento e a dinâmica
dessa filosofia, com as partes de processos de conflitos familiares

20
Mediação de conflito e Direito Sistêmico

• Lei da Ordem ou Hierarquia


• Diz respeito à precedência no tempo e o lugar de cada um no seu sistema. Os sucessores não devem interferir nas
questões daqueles que vieram antes, assim como devem aceitar a autoridade destes sobre eles;

21
Mediação de conflito e Direito Sistêmico

• Lei do Pertencimento
• Significa fazer parte. Quando se exclui alguém de um sistema, essa
eliminação será sentida por meio de outro membro que irá representar de
forma conflituosa, aquele que foi afastado;

22
Mediação de conflito e Direito Sistêmico

• Lei do Equilíbrio
• É ter correspondência entre as partes e garantir que a relação de doar e
de receber seja proporcional e, assim, assegurar que haja estabilização
do sistema. Onde há o que mais doa diante de um que só recebe cria-se
uma relação de débito e produz reações de afastamento. Assim
também aquele que causa um dano a outro, tem o dever de reparar.

23
Mediação de conflito e Direito Sistêmico

• Como os policiais podem aplicar?


• Principalmente em fase pré-processual, os policiais podem auxiliar as partes a
perceber as dinâmicas ocultas ao conflito e assim ajudar as partes a se colocar na
direção de resolver por si mesmas as questões mais profundas que motivam a
disputa. Recuperando a percepção que alcança as dinâmicas que atuam de forma
oculta na consciência familiar. A Constelação Familiar favorece que as demandas
relacionais sejam percebidas e isso promove alívio e leveza ao sistema familiar, bem
como a resolução de conflitos, uma vez que as partes envolvidas se olham e
assumem suas responsabilidades diante do confronto estabelecido.

24
Mediação de conflito e Direito Sistêmico

• Na mediação de conflitos
• O profissional que assume a postura sistêmica atua como um facilitador,
verificando o lugar de cada um na mesa de negociação à disposição de
cada parte para assumir sua parcela na promoção de um acordo que
contemple a paz para todos os envolvidos. O mediador sistêmico
enxerga a todos, inclusive os que não estão fisicamente presentes.

25
Mediação de conflito e Direito Sistêmico

• Para um olhar livre de julgamento


• O olhar sistêmico contempla além das partes, ele olha para os seus
sistemas de origem, percebendo então que cada um carrega
comportamentos e atitudes que fazem sentido com suas origens, assim
nos desfazemos de toda intenção de estabelecer quem é culpado e
quem é a vítima, atraindo resultados mais humanos e justos para todos.

26
Mediação de conflito e Direito Sistêmico

• Para encontrar os limites nas relações


• É o movimento pela busca do lugar deste mediador. Enquanto
prestador de serviço, ele respeita os limites do que pertence as partes e
do que é seu. Desta forma, ele se torna muito mais eficiente sem se
envolver nas dinâmicas familiares dos mediados.

27
Mediação de conflito e Direito Sistêmico

• As Ordens da Ajuda
• Os operadores do direitos, diretos e indiretos, são profissionais que ajudam os
outros, e as vezes nem sempre compreendemos, com clareza, como até mesmo
este ato, por melhor intenção que tenha, possui os seus próprios limites também. 
Para que esta linha tão tênue não seja ultrapassada, vamos conhecer quais são as
cinco ordens que devem ser sempre respeitadas na relação entre quem ajuda e
quem é ajudado.

28
Mediação de conflito e Direito Sistêmico

• Ordem da Ajuda 1
• Tomar para si apenas o necessário e dar apenas aquilo que se tem. O equilíbrio é a
chave tanto para quem doa quanto para quem recebe. Por isso, o caminho do meio
nesta relação de assistência, não é ter nem demais e nem de menos. Quando isso é
ignorado surgem os seguintes desarranjos:
• Desejar doar aquilo que não possui.
• Desejar mais do que aquilo que necessita.
• Ter expectativas e fazer exigências que o outro não pode atender.
• Desatribuir a pessoa de responsabilidades que são apenas dela.

29
Mediação de conflito e Direito Sistêmico

• Ordem da Ajuda 1
Estamos falando de humildade para compreender os próprios limites e,
inclusive, para recuar em determinados momentos quando o auxílio pode
se configurar em algo danoso a si e ao outro. Esta ajuda humilde traz uma
consciência maior sobre até onde podemos ir e nos empele a tomarmos
decisões que mais adiante podem evitar conflitos entre ajudador e
ajudado.

30
Mediação de conflito e Direito Sistêmico

• Ordem da Ajuda 2
• Saber compreender o contexto da situação é a chave para reconhecer seus próprios
limites e também para ter a humildade de não avançá-los ainda que seu ego deseje
isso. Ao reconhecer as circunstâncias e analisar com clareza suas possibilidades de
ação, o ajudador, mesmo que discretamente, pode fazer o seu melhor apenas com
os recursos que dispõe e nada mais. Quando isso é ignorado surgem os seguintes
desarranjos:
• Ignorar ou mesmo ocultar a natureza real das circunstâncias.
• Insistir em ajudar e acabar prejudicado tanto o auxiliado como a si.

31
Mediação de conflito e Direito Sistêmico

• Ordem da Ajuda 2

• Portanto, é preciso compreender quando é hora de agir ou de se retirar


e aceitar com humildade e sabedoria que a vida possui seus próprios
desígnios. Ir contra isso é uma grande perda de tempo.

32
Mediação de conflito e Direito Sistêmico

• Ordem da Ajuda 3
• Posicione-se diante de seu ajudado sempre de pessoa adulta para pessoa adulta.
Empodere-o de modo que perceba que é o autor de sua história e responsável por
suas escolhas, erros, acertos e conquistas. Para isso, jamais tente ocupar papéis que
não são seus para que ele se sinta melhor. Ainda que queira muito ajudar,
posicione-se sempre de maneira adulta e madura. Quando isso é ignorado surgem
os seguintes desarranjos:
• Consentir pedidos infantis e fazer concessões neste sentido.
• Acabar tratando a parte como uma criança e não como o adulto que é.
• Evitar que a parte assuma deveres e responsabilidades por seus atos.

33
Mediação de conflito e Direito Sistêmico

• Ordem da Ajuda 3
• Para evitar estes problemas é essencial que aquele que está no papel de
ajudador trate a parte sempre como o adulto que é, de modo que este
reconheça seu potencial, perceba a necessidade de mudança e
trabalhe, de forma madura e consciente, no sentido de alcançá-la.

34
Mediação de conflito e Direito Sistêmico

• Ordem da Ajuda 4
• É preciso olhar para a parte de forma sistêmica e não isolada, ou seja, considerando suas
relações e todos aqueles que estão ao seu redor, em especial, a figura dos seus pais. Estes, por
sua vez, também devem ser acolhidos e amparados com o mesmo respeito, não julgamento e
compaixão que a parte. Quando isso é ignorado surgem os seguintes desarranjos:
• Desprezar e desconsiderar membros importantes do clã familiar.
• Ignorar um parente afastado da família que pode ser a solução para, enfim, resolver a queixa da
parte.
• Ignorar os comportamentos infantis da parte e, assim, limitar o desenvolvimento e
empoderamento necessário ao seu crescimento.
• Limitar sua visão, não perceber algo maior por traz da história da parte e simplesmente aceitar
isso sem questionar.

35
Mediação de conflito e Direito Sistêmico

• Ordem da Ajuda 4
• Portanto, é essencial envolver todos os familiares que estão
diretamente relacionados à parte, de modo que o ajudador/policial
consiga ter uma visão sistêmica e mais apurada sobre a questão e assim
possa ter mais ferramentas para ajudá-lo a resolver definitivamente seu
problema.

36
Mediação de conflito e Direito Sistêmico

• Ordem da Ajuda 5
• Honrar e respeitar a história de cada pessoa; entender sem reservas e como ela é
na essência e, buscar compreender e aceitar os desígnios da sua vida, o seu destino.
Assumir esta postura ajuda o ajudante a enxergar melhor a natureza da queixa da
parte sob o viés daqueles que convivem diretamente com ele. Também auxilia a
que tenha novas perspectivas do problema que ajudem a parte a enfrentar suas
dificuldades e solucioná-las de vez. Quando isso é ignorado surgem os seguintes
desarranjos:
• Julgamentos constantes.
• Crítica e reprovação.
• Desprezo moral.

37
Mediação de conflito e Direito Sistêmico

• Ordem da Ajuda 5

Ter este tipo de postura diante da parte faz com que o ajudador acabe
por minar o seu processo de desenvolvimento e, consequentemente, a
eliminação do seu problema. Isso porque os julgamentos e críticas
acabam sendo um impeditivo a que o mediador realmente possa ajudá-lo
a sanar seu problema e, enfim, encontrar a confiança e o
empoderamento que precisa. Quando isso acontece, a parte acaba por
remoer sua questão pendente e se vê sem forças para seguir em frente.

38
Mediação de conflito e Direito Sistêmico

REFERÊNCIAS
• file:///C:/Users/7DP/Documents/cms_files_119336_1583871496Ebook-Direito-Sistemico.pdf
• https://iperoxo.com/2019/11/13/os-campos-morficos-de-rupert-sheldrake-e-a-constelacao-familiar/
• https://d335luupugsy2.cloudfront.net/cms%2Ffiles%2F119336%2F1617979210V3_-
_Ebook_Constelacoes_Familiares.pdf
• https://www.jrmcoaching.com.br/blog/as-5-ordens-da-ajuda-de-bert-hellinger/
• https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2021/09/manual-sobre-programas-de-justica-restaurativa.pdf
• https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2015/06/f247f5ce60df2774c59d6e2dddbfec54.pdf

39

Você também pode gostar