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TESTE DE APERCEPÇÃO

TEMÁTICA (TAT)

Professora: Renata Massalai


Psicóloga e mestre em neurociências pela PUC-Rio.
CRP: 16/ 3866
T.A.T

Técnica projetiva para avaliar características marcantes da


personalidade. Pode revelar tendências, emoções e conflitos, que
são inibidas pelo sujeito, que não quer ou não pode admitir como
próprias por serem inconscientes.
Características do Teste
 Para criar o TAT, Murray partiu do princípio de que diferentes
indivíduos, frente a uma mesma situação vital, a experimentam de
acordo com sua perspectiva pessoal;
 A forma pessoal de elaborar uma experiência revela a atitude e a
estrutura do indivíduo frente à realidade experimentada;
 Expõe-se o sujeito a uma série de situações sociais típicas,
possibilitando a expressão de sentimentos, imagens, ideias e
lembranças vividas em cada uma dessas confrontações, sendo possível
ter acesso à personalidade subjacente do sujeito;
 Esse procedimento favorece a projeção do mundo interno do sujeito;
 Público-alvo: 14 a 40 anos;
 Privativo;
 Aplicação e correção manual;
 Sessões de 1 hora, a média é de 50 minutos;
Validade e Fidedignidade
Foram analisados:
1. Estímulos de características de época distantes;
2. Estímulos com características de época indefinidas;
3. Foi elaborado um terceiro grupo de estímulos, reproduzindo o mais
fielmente possível as figuras do grupo "antigo", alterando porém as
características que denunciam o tempo passado.

 Roupas, penteados e outros elementos foram modernizados.


 Os desenhos foram elaborados com barra de grafite em cartolina e
reproduzidos por técnica fotográfica em papel fosco para preservar ao
máximo as características de impressão dos originais.
 Os três grupos de estímulos foram aplicados a 30 alunas do curso de
Psicologia com idades entre 19 e 32 anos de idade (média=22 anos)
em ordem contrabalançada, em duas sessões, segundo as instruções
de Murray.
 A conclusão decorrente dos vários aspectos analisados neste trabalho
é que a variável característica de época não influencia
significantemente o grau de ambiguidade, projeção e tônus emocional
das pranchas.
Concluiu-se que não há vantagem em alterar os estímulos originais do
TAT para atualizar sua aparência pois, além de continuarem mantendo
as características desejáveis como estímulos projetivos, existe extensa
literatura favorável a respeito. Substituí-los por outros não
acrescentaria em termos de eficiência na investigação da personalidade
e exigiria amplas pesquisas.
Personologia de Murray

Teoria basicamente motivacional em que são centrais os conceitos


necessidade e pressão.
Procura considerar o indivíduo naquilo que ele tem de mais próprio na
sua relação consigo e com o mundo. A condução da interpretação deve
ser feita a partir da identificação das necessidades e pressões
percebidas pelo sujeito.
Necessidade
É um construto que representa uma força na região cerebral, que organiza
a apercepção, intelecção, conação e a ação, a transforma-la em uma
situação insatisfatória existente.

 Gera um estado de tensão que conduzirá a ação para chegar à satisfação,


que por sua vez reduzirá a tensão inicial, reestabelecendo o equilíbrio.
 Pode ser produzida por forças internas ou externas e é sempre
acompanhada por um sentimento ou emoção.
 A presença de uma necessidade pode ser identificada pelo efeito colateral
ou resultado final do comportamento, satisfação ou desapontamento
frente a esse resultado, expressões de afeto ou emoção, ou ainda, atenção
ou respostas seletivas frente a uma determinada classe de objetos.
Pressão
 Pressões são os determinantes do meio externo que podem facilitar ou
impedir a satisfação da necessidade, representando a forma como o
sujeito vê ou interpreta seu meio.
 Para Murray, a personalidade é o agente organizador do indivíduo, e
tem como função integrar conflitos e pressões para satisfazer as
necessidades.
Material do Teste
 31 pranchas que abrangem situações humanas clássicas, sendo uma
delas em branco;
 A cada sujeito devem ser aplicados 20 estímulos;
 Cada prancha apresenta no verso um número ou um número seguido
de mais letras, o que indica a ordem que o estímulo deve ser
apresentado, e o gênero ou idade aos quais o estimulo se destina.
TIPO DE ESTÍMULO CONVENÇÃO
Universal Apenas o número
Para mulheres Número seguido de F
Para Homens Número seguido de H
Crianças do sexo feminino (menina) Número seguido de M
Crianças do sexo masculino (rapaz) Número seguido de R

Exemplos:
1- universal;
13 FH – adultos de ambos os sexos;
18 RH – sujeito do sexo masculino de
qualquer idade;
18 MF- sujeito do sexo feminino de
qualquer idade;
Aplicação
PRIMEIRA SESSÃO:
O sujeito deve sentar-se numa cadeira confortável, e receber as
seguintes instruções:

“ Este é um teste de imaginação que é uma das formas de inteligência.


Vou lhe mostrar algumas pranchas, uma de cada vez, e sua tarefa será
inventar para cada uma delas, uma história com o máximo de ação
possível. Conte-me o que levou ao fato mostrado na prancha, descreva
o que está acontecendo no momento, o que os personagens estão
sentindo e pensando. Conte depois como termina a história. Procure
expressar seus pensamentos conforme eles forem ocorrendo em sua
mente. Você compreendeu? Como você tem cerca de 50 minutos para
as 10 pranchas, você pode utilizar cerca de 5 minutos para cada
história. Aqui está a primeira prancha.”
 Terminada a primeira história o sujeito deve ser discretamente
elogiado;
 É preferível que o psicólogo não diga mais nada o restante do tempo,
exceto para informar caso o sujeito esteja muito atrasado ou
adiantado em relação ao tempo previsto;
 Estimula-lo com um discreto elogio de vez em quando pode ser a
melhor maneira de estimular a imaginação;
 Se o sujeito omitir algum detalhe fundamental, pode ser lembrado
com uma breve observação como: “o que levou a essa situação?”
SEGUNDA SESSÃO:
É desejável que haja um intervalo de, pelo menos, um dia entre a
primeira e a segunda sessão. O procedimento é semelhante ao anterior,
mas da ênfase nas instruções sobre a completa liberdade da
imaginação;

“Hoje vou lhe mostrar mais algumas pranchas. Será mais fácil porque as
pranchas agora são bem melhores, mais interessantes. Você me contou
ótimas histórias outro dia. Agora quero ver você fazer algumas outras.
Se puder, faça as mais emocionantes do que as outras, como sucede
num sonho ou num conto de fadas. Aqui está a primeira prancha.”
PRANCHA EM BRANCO:
A prancha nº 16 é dada com uma instrução especial:
“Veja o que você pode ver nessa prancha em branco. Imagine uma cena
aí e descreva-a em detalhe.”
Se o sujeito não conseguir, o examinador deve dizer: “Feche os olhos e
imagine alguma coisa”.
Depois que o sujeito der uma descrição completa daquilo que imaginou,
o psicólogo deve dizer: “Agora me conte uma história sobre isso”.
ENTREVISTA SEGUINTE:
Para interpretar as vezes é útil conhecer as fontes que deram origem às
várias histórias. O sujeito é instigado a tentar lembrar das fontes de
suas ideias, provenham elas de sua experiência pessoal, de amigos,
parentes, livros ou filmes.
Correção e Interpretação
DADOS BÁSICOS EXIGIDOS:
Idade e sexo do sujeito; se seus pais estão vivos ou separados; idade e
sexo dos irmãos; profissão e estados civil do sujeito.

TIPOS DE ANÁLISE DE CONTEÚDO:


Analisa-se cada evento sucessivo em relação à força proveniente do
herói e a força proveniente do meio. A força daí originária é designada
pressão.
O Herói
 O primeiro passo para analisar uma história é reconhecer o
personagem com o qual o contador da história se identificou;
 É a pessoa que desempenha o papel principal no drama, aparecendo
no começo e estando fortemente presente no desfecho;
 Personagem por quem o contador das histórias parece mais
interessado, cujo o ponto de vista adotou, sentimentos e motivos
foram retratados com mais profundidade;
 Em geral, é aquele que mais se parece com o sujeito (mesmo sexo,
idade, status ou papel; compartilha alguns dos sentimentos e
objetivos com o sujeito);
Embora a maior parte das histórias tenha apenas um herói, o psicólogo
deve estar preparado para adversidades como:

 A identificação do sujeito com o personagem muda no curso da


história (sequencia de heróis);
 Duas forças da personalidade do sujeito podem estar representadas
por dois personagens diferentes;
 O sujeito pode contar uma história contendo outra história;
 O sujeito pode se identificar com um personagem do sexo oposto e
expressar uma parte de sua personalidade exatamente dessa maneira;
 Pode acontecer que não haja um único herói identificável, o heroísmo
está espalhado por um número igualmente significante e diversificado
de pessoas (heróis parciais);
 O personagem principal (herói) não é um componente da
personalidade de quem conta a história, mas um elemento de seu
ambiente. Ou seja, o sujeito não se identificou minimamente com o
personagem principal, mas observou-o como faria com um estranho ou
uma pessoa de que não gostasse e com quem teria de lidar. O sujeito
propriamente dito não estaria representado, ou estaria por intermédio
de um personagem secundário.
O psicólogo deve caracterizar o herói de acordo com os seguintes
traços:
 Superioridade (poder, capacidade);
 Inferioridade;
 Criminalidade;
 Anormalidade psíquica;
 Solidão;
 Sentimento de pertinência;
 Liderança;
 Inclinação para discussões (grau em que se envolve em conflitos
interpessoais);
Motivos, inclinações e
sentimentos dos heróis
 O psicólogo deve observar em todos os detalhes tudo o que cada um
dos vinte ou mais heróis sentem, pensam ou fazem, notando
evidências do tipo de personalidade ou doença mental, bem como
tudo o que for incomum: diferente ou único; ou incomumente elevado
ou baixo.
 O psicólogo pode usar um conjunto de variáveis para analisar o
comportamento, tudo depende do que ele deseja saber. Pode estar
interessado em evidências de extroversão-introversão, masculinidade-
feminilidade, ascendência-submissão, ansiedade, culpa, inferioridade,
ou ainda seguir um sentimento enraizado até sua origem.
Exemplos de variáveis:
1. Agressão;
2. Ajuda;
3. Autoagressão;
4. Dominância;
5. Passividade;
6. Realização;
7. Sexo;
8. Autonomia;
9. Conflito;
 A força de cada tipo de emoção manifestada pelo herói é computada
numa escala que vai de 1 a 5 pontos
 Os critérios de força de uma variável são intensidade, duração,
frequência e importância no enredo.
 À mais leve presença à de uma variável (por exemplo, um lampejo de
irritabilidade) é dado 1 ponto, enquanto para uma forma intensa (por
exemplo, uma raiva violenta) ou para a ocorrência contínua ou
repetição de uma forma mais branda (por exemplo, discussões
constantes) são dados 5 pontos.
 A pontuação de 2 a 4 é dada para intensidades intermediárias de
expressão.

Depois das 20 histórias serem computadas dessa forma, o total dado a


cada variável é comparado com uma pontuação padronizada (quando
existir alguma).
Forças do ambiente do herói
 O psicólogo deve observar os detalhes tanto quanto a natureza geral
das situações, especialmente as situações humanas com que se
defrontam os heróis.
 Ele deve dar destaque aos aspetos de singularidade, intensidade e
frequência, bem como registrar a ausência significante de certos
elementos correntes.
 Atenção especial deve ser dada a objetos materiais e objetos humanos
(outros personagens) que não constam dos quadros, tendo, portanto,
sido inventados pelo examinando.
 Devem-se marcar os traços recorrentes das pessoas com quem o herói
se relaciona:
1. São elas em sua maioria amistosas ou inamistosas?
2. As mulheres são menos ou mais amistosas que os homens?
3. Quais são os traços característicos das mulheres mais velhas (figuras
maternas) nas histórias? E os dos homens mais velhos (figuras
paternas)?

 Utiliza-se uma lista abrangente de pressões, classificadas de acordo


com o efeito que possuem sobre o herói. Mais da metade das pressões
dirigidas contra o herói são necessidades das pessoas com quem o
herói lida.
 O conceito de pressão pode ser ampliado para incluir a ausência de
uma pressão benéfica (falta, privação, perda) e também para incluir
distúrbios corporais aos quais a personalidade deve ajustar-se (dor
fisica, machucados, desfiguramento, doenças).
 A força de cada pressão presente na história é computada numa
escala de 1 a 5 pontos, sendo 5 o número de pontos mais alto para
qualquer pressão em uma história.
 Depois de classificar as 20 histórias, o cômputo total de cada pressão
é comparado com a pontuação-padrão de sujeitos de determinada
idade e sexo, e as pressões significantemente altas ou baixas são
anotadas e examinadas uma em relação à outra.
Exemplos de pressões:
1. Afiliação
2. Agressão;
3. Ajuda;
4. Dano físico;
5. Falta, perda;
6. Perigo físico;
Desfecho
É a comparação do poder das forças que emanam do herói com as forças
originárias do ambiente:
 Quanta força (energia, determinação, esforço sustentado, competência)
manifesta o herói?
 Qual é o poder das forças favoráveis ou benéficas do ambiente se
comparadas às forças oponentes ou danosas?
 Seu caminho em direção às suas realizações é fácil ou difícil?
 O herói faz com que as coisas aconteçam ou as coisas lhe acontecem?
 Até que ponto ele manipula ou subjuga as forças contrárias e até que
ponto é ele manipulado ou subjugado por elas?
 É ele coagido ou coage?
 É predominantemente ativo ou passivo?

Considerando cada evento, cada interação de pressão e necessidade,


ponto de vista do herói, o psicólogo pode avaliar a quantidade de
dificuldades e frustrações experimentadas pelo protagonista, o grau
relativo de sucesso e fracasso. Que proporção há entre desfechos
felizes e infelizes?
Tema
A interação entre uma necessidade do herói e uma pressão ambiental
juntamente com o desfecho constitui um tema simples. Combinações
de temas simples interligados, ou que formam uma sequência, são
denominados temas complexos. Em sentido restrito, o termo designa a
estrutura abstrata dinâmica de um episódio. Em sentido amplo, indica o
enredo, motivação, tema, principal aspecto dramático da história.
 Considerar separadamente o herói e o ambiente esclarece nosso
conhecimento de como um determinado sujeito se manifesta, por
exemplo, com uma quantidade incomum de ansiedade, passividade e
degradação. Ou no caso de seu ambiente estar povoado de muitas
figuras dominantes e ameaçadoras.
 É necessário aproximar a realidade da interpretação. O psicólogo
consegue isso tomando cada necessidade e anotando a pressão com
que esta se combina mais frequentemente nas histórias.
 Observa-se com que necessidades e emoções a pressão
exageradamente alta interage. Assim, o psicólogo obterá uma lista dos
temas.
Interesses e Sentimentos
Esses aspectos são tratados separadamente pois o autor manifesta seus
próprios interesses e sentimentos não apenas atribuindo-os a seus
heróis, mas também na escolha dos tópicos e na maneira com que lida
com eles. De particular importância são as catexes positivas ou
negativas (valor, atração) de mulheres mais velhas (figura maternas),
homens mais velhos (figuras paternas), mulheres do mesmo sexo e
homens do mesmo sexo (algumas das quais podem ser figuras de
irmãos).
Correção e Interpretação
São feitas duas pressuposições experimentais, que poderão ser corrigidas
mais tarde, se necessário:

1. Os atributos dos heróis (necessidades, estados emocionais e


sentimentos) representam tendências da personalidade do sujeito. Elas
podem pertencer ao seu passado ou futuro antecipado, e, dessas
tendências, o sujeito pode estar mais ou menos inconsciente.
2. As variáveis de pressão representam forças percebidas no ambiente
presente, passado ou futuro do sujeito. Pode ser interpretada como
a visão que o sujeito tem de seu mundo, impressões que
provavelmente projeta em situações reais e antecipações futuras.

Algum conhecimento da história passada e da situação presente do


sujeito, bem como um pouco de intuição, são requisitos para decidir se
um dado elemento pertence ao passado, presente ou uma antecipação
do futuro.
Exemplos de Questões a Serem
Consideradas:
PRANCHA 1
Por ser o primeiro estímulo a ser apresentado, dá margem à
investigação da capacidade de adaptação do sujeito a uma nova
situação. É comum a introdução de outros personagens no relato.
 Distorções aperceptivas: vê-se o menino dormindo ou cego; o violino
com uma das cordas quebradas ou se percebe mal o violino. O violino
visto como quebrado pode ser índice de uma problemática mais séria,
a ser confirmada por outros dados.
 Omissões significativas: não se vê o arco, o violino ou ambos.
Exemplos de Questões a Serem
Consideradas:
PRANCHA 2 (UNIVERSAL)
Evoca a área das relações familiares e percepção do ambiente. Por
apresentar três personagens, pode evocar ainda as relações
heterossexuais. São frequentes também as associações referentes aos
papéis femininos (maternidade X realização profissional) e ao conflito
razão X emoção.
 Omissões: eventualmente ocorre a omissão da gravidez da figura
feminina em segundo plano. Esse estimulo favorece utilização de
afastamento temporal e espacial por representar uma situação bastante
diferente da realidade urbana. Segundo pesquisa realizada por Silva
(1983), essa prancha dá margem a respostas mais estereotipadas.
Referências Bibliográficas
MURRAY, HA. T.A.T: Teste de Apercepção Temática. Vol. 3. São Paulo: Casapsi
Livraria e Editora LTDA, 2019.

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