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O Sofrimento negado

DEJOURS, Christophe. A banalização


da injustiça social. 7. ed. Rio de
Janeiro: Getúlio Vargas, 2007.
O Sofrimento negado
• Se hoje (2007) a principal fonte de injustiça e
de sofrimento na sociedade francesa é o
desemprego, o grande palco do sofrimento é
certamente o do trabalho, tanto para os que
dele se acham excluídos quanto para os que
nele permanecem.
• A situação é mais grave, de acordo com
analistas, devido à fragilidade e desconfiança
crescente nas organizações sindicais.
A negação pelas organizações políticas e
sindicais
• A hipótese de Dejours (2007, p. 37), “consiste
em que a fragilidade sindical e
dessindicalização, cujo avanço foi tão rápido
quanto o da tolerância à injustiça e à
adversidade alheia, não são apenas causas da
tolerância, mas consequência dessa
tolerância”.
A questão do sofrimento no trabalho
• A questão das relações entre subjetividade e
trabalho foi negligenciada pelas organizações
sociais muito antes de eclodir a crise do
emprego, por volta de 1970.
• O silêncio sobre a injustiça social e a
adversidade que possibilitou o triunfo do
mecanicismo e o descompasso das
organizações sindicais com a questão da
subjetividade e do sofrimento.
Vergonha e inibição da ação coletiva
• A indiferença pelo sofrimento psíquico dos
trabalham abriu caminho à tolerância social
para com o sofrimento dos desempregados.
O erro de análise das organizações político-
sindicais no tocante à evolução das
mentalidades e das preocupações com relação
ao sofrimento no trabalho deixou o campo livre
para as inovações gerenciais e econômicas.
Inovações gerenciais e econômicas
• O lucro continua o objetivo principal de uma
organização, mas “o que caracteriza uma
empresa não é mais sua produção, não é mais
o trabalho. O que caracteriza é sua
organização, sua gestão, seu gerenciamento”
(DEJOURS, 2007, p. 41)
Reviravolta
• “Trata-se de uma verdadeira reviravolta cuja
carácterística principal não é promover a
direção e a gestão…e sim desqualificar as
preocupações com o trabalho, cuja
centralidade agora é contestada tanto no
plano econômico quanto nos planos social e
psicológico” (DEJOURS, 2007, p. 41).
Surgimento do medo e submissão
• Negar o sofrimento alheio e calando o seu
sofrimento;
• Medo do desemprego, e ameaças de demissão;
• Precarização com a intensificação do trabalho;
• Neutralização da mobilização coletiva contra o
sofrimento, contra a dominação e alienação;
• Estratégia defensiva do silêncio, da cegueira e
da surdez.
Da submissão à mentira
• Como explicar:
• A discrepância existente entre a descrição
gerencial do trabalho e a descrição subjetiva
do trabalho?
• Os gerentes não conseguem ser coerentes
quanto às discrepâncias e buscam
justificativas de negação.
A manipulação da ameaça
• Os gerentes buscam a eficácia sendo zelosos
de seu desempenho e dos trabalhadores.
• Dessa forma, a mobilização da inteligência no
trabalho atua com influenciando pelo medo,
pelas ameaças de demissão pairando sobre
todos os agentes de um serviço.
• O medo como motor da inteligência.
A perplexidade dos gerentes
• O sistema para funcionar nessas condições de
tensão e de contradições internas, não pode
nutrir-se apenas do consentimento e da
resignação ou mesmo da submissão.

• Os gerentes em sua maioria, não se


apresentam como seres submissos, mas como
colaboradores zelosos da sua gestão.
• A discrepância entre a experiência prática da
gestão e do trabalho real, de um lado, e o
discurso satisfeito ou mesmo triunfalista e
confiante na descrição gerencial, não se
manifesta às claras, pois há um falseamento
de informações em todas as esferas,
notadamente da cúpula da organização.
• A informação destinada aos empregados
(gerentes e operários) é falsificada, mas que é
realmente graças a ela que perdura a
mobilização subjetiva dos gerentes.
• A produção dessa informação falsificada
depende de uma estratégia específica, à qual
daremos o nome de ‘estratégia da distorção
comunicacional’.
• A maioria dos empregados contribui para essa
distorção, mas ninguém se julga responsável
por ela.
Bibliografia
• DEJOURS, Crhistophe. A banalização da
injustiça social. 7. ed. Rio de Janeiro: Getúlio
Vargas, 2007.

• Capítulo 3 – O sofrimento negado, p. 37-59

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