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Grandezas e Medidas

Ronaldo Campelo
Manoel Oriosvaldo de Moura
Você mediu hoje?
MEDIR

 Por quê? necessidade

 O quê? grandeza

 Como? processo
“[…] toda a gente, nas mais variadas circunstâncias, qualquer que
seja a sua profissão, tem necessidade de medir”
(Bento de Jesus Caraça)
I) A operação da medida
 O que é medir?
É a comparação de duas grandezas da mesma espécie: dois
comprimentos, dois pesos, dois volumes, etc.
 Exemplo: Para compararmos os comprimentos dos segmentos

de reta AB e CD, faremos o seguinte:

A B
C D

Assim, como resultado da comparação dizemos que o


comprimento de AB é maior que CD, ou o comprimento de
CD é menor que o de AB. Porém, este simples resultado –
comprimento maior que ou menor que, não é suficiente na
maioria dos casos.
O que buscamos em geral é uma resposta a pergunta:

Quantas vezes cabe um comprimento no outro?


“Se não houver um termo de comparação único para todas as grandezas de
uma mesma espécie, tornam-se, se não impossíveis, pelo menos
extremamente complicadas as operações de troca que a vida social de hoje
exige”
Assim, é preciso:
i) Estabelecer um padrão de comparação para todas as grandezas
de mesma espécie, tal padrão é a unidade de medida;
ii) Responder à pergunta – quantas vezes? – acima posta, o que se
faz dando um número que exprima o resultado da comparação
com a unidade.
Assim, esse número chama-se a medida da grandeza em relação
a essa unidade.
Exemplo: Vamos considerar dois segmentos de reta AB e CD, onde
o resultado da comparação nos diz que no segmento CD cabe três
vezes o segmento AB.
C D
A B

Há no problema da media três fases e três aspectos


distintos:
1 - Escolha da unidade;
2 - Comparação com a unidade;
3 - Expressão do resultado dessa comparação por um
número.
II) Interdependência dos aspectos
 A escolha da unidade e a expressão do resultado por um número
estão interligados e cada um condiciona o outro.

ESCOLHA DA UNIDADE

Caráter prático Economia


Comodidade

1. Em princípio a unidade pode escolher-se como quiser, mas, na


prática o número que há de vir a obter-se como resultado da
medição condiciona a escolha da unidade. Isso depende da
natureza das medições a serem feitas;
2. uma mesma grandeza tem, portanto, tantas medidas quantas
unidade com que a medição se faça.
III) A operação da medida e o contexto
social - construção social da medida.

 A necessidade em medir surge pelas relações:

* de base econômica: calcular a quantidade de


sementes a semear, tempo que a terra leva a lavrar;

* de indivíduo para indivíduo com base na terra


possuída:determinação aproximada da área.

* indivíduo e Estado: o imposto depende da área da


propriedade.
IV) Como nasceu a medida
Heródoto ao fazer a história dos egípcios no livro II
(Euterpe) das suas histórias, refere-se deste modo às
origens da geometria:
Disseram-me que este rei (Sesóstris) tinha repartido
todo o Egito entre os egípcios, e que tinha dado a cada
um uma porção igual e retangular de terra, com a
obrigação de pagar por ano um certo tributo. Que se a
porção de algum fosse diminuída pelo rio (Nilo), ele
fosse procurar o rei e lhe expusesse o que tinha
acontecido à sua terra. Que ao mesmo tempo o rei
enviava medidores ao local e fazia medir a terra, a fim
de saber de quanto ela estava diminuída e de só fazer
pagar o tributo conforme o que tivesse ficado de terra.
V) Subdivisão da unidade
Considere o segmento AB medindo com a unidade CD=, mede 4. Se
dividirmos CD em três partes iguais e tomarmos para a nova unidade o
segmento ’ = CE,

A B
C D
E
Temos que considerar dois aspectos do problema:
1 - A medida de AB tomando como unidade ’=CE é 12,
2- Quanto à medida AB com a unidade  =CD, tanto vale dizer que AB vale
quatro unidades , como dizer que AB vale 12 das terças partes ’=CE de 

Portanto, o resultado da medição com a unidade u tanto pode ser


expresso pelo número 4 como pela razão dos dois números 12 e 3, isto é, pelo
quociente 12:3, ou 12/3 .
VI) Um caso, frequente, em que é necessário a subdivisão
 Como fazer para exprimir ainda numericamente a medição de AB com a
mesma unidade CD? (OBS: aplicada a unidade sobre AB, sobra uma
porção PB inferior a unidade)
A B
P
C
d D
Assim, dividimos CD num número de partes iguais suficientes para que cada
uma delas caiba um número inteiro de vezes em AB, no caso da figura,
dividimos CD em três partes iguais e a nova unidade coube onze vezes em AB.
Então:
1) A medida de AB em relação à nova unidade é 11. (11d)
2) Que pode dizer-se da medida AB em relação à antiga unidade CD?
Se quisermos seguir o caminho anterior - princípio de economia - dizemos que
essa medida é dada pela razão dos dois números 11 e 3. Mas essa razão não
existe em números inteiros, visto que 11 não é divisível por 3.
VII) O dilema

 Uma das duas:

1) Ou renunciamos a exprimir numericamente a medição de AB com a


unidade CD, o que, além de incomodo, levanta novas questões - se
podemos exprimir a medida em relação à nova unidade e não em relação a
antiga, será porque aquela terá algum privilégio especial? Qual? Porque?

2) Ou desejamos poder exprimir sempre a medida por um número - princípio


de extensão - e então temos que reconhecer que o instrumento
numérico até aqui conhecido - o conjunto dos números inteiros - é
insuficiente para tal e há que completá-lo aperfeiçoá-los nesse sentido.
Como? (p.34).
VIII) O aspecto aritmético da dificuldade

Onde reside a dificuldade do ponto de vista aritmético?

A dificuldade está apenas, em que no segundo exemplo o


número 11 não é divisível por 3 - existia a razão 12:3 e não
existe a razão 11:3. Em geral sempre que, feita a subdivisão
da unidade em n partes, iguais, uma dessas partes caiba m
vezes na grandeza a medir, a dificuldade surge sempre que, e
só quando, m não seja divisível por n, isto é, no caso da
impossibilidade da divisão.

Se queremos resolver a dificuldade, devemos criar um novo


campo numérico, de modo a reduzir essa impossibilidade.
IX) Os moldes da criação do novo campo numérico

1) O princípio de extensão: leva-nos a criar novos números por meio


dos quais se possa exprimir a medida dos segmentos nos casos
apresentados.

2) A dificuldade na impossibilidade da divisão (exata) em números inteiros,


quando o dividendo não é múltiplo do divisor.

3)Se queremos obedecer ao princípio de economia devemos fazer a


construção de modo tal que:
a) com os novos números sejam abrangidas todas as hipóteses de
medição.
b) os novos números se reduzam aos números inteiros sempre que o
caso da medição a fazer seja análogo ao da figura do ítem 5.
X) O novo campo numérico

 Definição:
Sejam os dois seguimentos de reta AB e CD, em que cada um dos quais
se contém um número inteiro de vezes o segmento u - AB contém m
vezes e CD contém n vezes o segmento u.
m
A ________B
C___u_D
n
Diz-se, por definição, que a medida do segmento AB, tomando CD como
unidade é o número m, e escreve-se 1) AB: m . CD
n n
X) O novo campo numérico

 Quaisquer que sejam os números inteiros m e n (n não nulo) se


m for divisível por n, o número m
n
coincide com o número inteiro que é quociente da divisão; se m
não for divisível por n , o número m/n diz-se fracionário.
O número m/n, diz-se em qualquer hipótese, racional -ao número
m chama-se numerador e ao número n denominador. E
particular, da igualdade resulta que:
1) n=n
1 visto que, se AB=n.CD, é também AB= n. CD e que,

2) n =1 porque as igualdades AB=AB e AB = n .AB são


n
equivalentes.
NECESSIDADE DE MEDIR
Cobrar impostos
proporcionais a
A terra
propriedade
privada

O que mais necessitamos medir?


Se vocês se encontrassem nas
condições dos egípcios,
como mediriam as terras?
NECESSIDADE DE MEDIR
 Para resolver um problema
 Para comunicar (negociar significados)
 Criação social da unidade artificial
 Criação de instrumentos (tecnologia)
O que medimos?
 Grandeza é uma qualidade capaz de
apresentar uma variação quantitativa.
 Quais dessas qualidades nós medimos?
alegria cor superfície
amor textura inteligência
altura som água
velocidade tempo luz
Qual a diferença da natureza
dos objetos que medimos em
relação aos que contamos?
Grandezas discretas/contínuas
Quais dos elementos se apresentam em
quantidades discretas e quais se
apresentam em quantidades contínuas?
água estrelas alegria
som vírus areia
açúcar feijão eletricidade
saudade idade chuva
Grandezas discretas/contínuas
e a medida
Apreensão do objeto/fenômeno e
a construção da medida
Senso de
numeralização
grandeza
MEDINDO COMPRIMENTO

unidade
Subdivisão da unidade

unidade

Como representar essa


medida?
A FRAÇÃO
O comprimento medido é 4 unidades mais 2
partes da unidade subdividida em 5 partes
(subunidade).
4 unidades = 20 subunidades
temos 22 subunidades
Como a unidade foi subdividida em 5 partes a
subunidade aqui é 1/5 da unidade
O comprimento medido é 22/5 da unidade
Medir
 Comparar duas grandezas de
mesma espécie
 Escolher uma unidade para
comparar
 Medida é o número que exprime
essa comparação
Todo comprimento pode ser
medido?
Referências
 LIMA, L. A fração: A repartição da terra – SP,
CIARTE/CEVEC, 1998.
 CATALANI, E. M. T. A inter-relação forma e
conteúdo no desenvolvimento conceitual de fração.
Campinas, 2002. Dissertação (Mestrado em
Educação) - Faculdade de Educação, Universidade
Estadual de Campinas.
 CARAÇA,B.J. Conceitos fundamentais da
Matemática. Lisboa: Tipografia Matemática
Ltda,1998.

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