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Os Chistes e Sua Relação com o Inconsciente

Alunas: Daniela Bernardo e Salomé de Aquino.


Introdução Pág. 17
• Os chistes não vêm recebendo tanta atenção filosófica quanto merecem, em
vista do papel que desempenham em nossa vida mental.

• Pequeno número de pensadores que de fato se aprofundaram nos problemas


dos chistes: o novelista Jean Paul [Richter] e os filósofos Theodor Vischer,
Kuno Fischer e Theodor Lipps.

• A primeira impressão derivada da literatura é que é bem impraticável tratar os


chistes, a não ser em conexão com o cômico.
O que é o chiste? Pág. 17
• Um chiste é algo cômico de um ponto de vista inteiramente subjetivo, isto é,
algo que nós produzimos, que se liga a nossa atitude como tal, e diante de
que mantemos sempre uma relação de sujeito, nunca de objeto, nem mesmo
objeto voluntário. É qualquer evocação consciente e bem-sucedida do que
seja cômico, seja a comicidade devida à observação ou à situação. [Lipps,
1898]
• Fischer [1889] ilustra a relação dos chistes com o cômico lançando mão da
caricatura, que, em sua abordagem, ele situa entre ambos.A comicidade
interessa-se pelo feio, em qualquer uma de suas manifestações. Se o que é
feio for ocultado, deve ser descoberto à luz da maneira cômic de olhar as
coisas; se é pouco notado, escassamente notado deve ser apresentado e
tornado óbvio, de modo que permaneça claro, aberto à luz do dia. Um chiste é
um juízo que produz contraste cômico.
Características distintivas do Chiste Pág. 18
• Segundo Lipps,a característica distintiva do chiste na classe do
cômico é a ação, o comportamento ativo do sujeito.

• Segundo Fischer, a característica distintiva do chiste consiste na sua


relação com o seu objeto, ou seja, a ocultada fealdade dos
pensamentos.
Características essenciais dos chistes
[sem considerar conexão com o cômico] Pág. 18 e 19
• Um chiste é um juízo lúdico - classificação que mais parece satisfazer ao
próprio Fischer.
• Uma apreciada definição do chiste considera-o a habilidade de encontrar
similaridades entre coisas dessemelhantes, isto é,descobrir similaridades
escondidas. O chiste é o padre disfarçado que casa a todo casal, caracterizou
Jean Paul. Fischer avança esta definição: Ele dá preferência ao matrimônio de
casais cuja união os parentes abominam.
• Fischer objeta, no entanto, que há chistes em que não se cogita de comparar,
em que, portanto, não se cogita de encontrar similaridades. Divergindo
ligeiramente de Jean Paul, define o chiste como a habilidade de fundir, com
surpreendente rapidez, várias ideias, de fato diversas umas das outras tanto
em seu conteúdo interno, como na conexão com aquilo a que pertencem.
Ainda acentua o fato de que, em largo número de juízos chistosos encontram-
se diferenças, antes que similaridades. Lipps indica que estas definições se
relacionam à habilidade própria do piadista e não aos chistes que ele faz.
Outras definições ou descrições de
chistes: um constraste de ideias. Pág. 19
• Segundo Kraepelin, um chiste é a conexão ou a ligação arbitrária,
através de uma associação verbal, de duas ideias, que de algum
modo contrastam entre si. Lipps, embora não exclua o fator de
contraste, demonstra a total impropriedade desta fórmula: O contraste
persiste, mas não o contraste entre as ideias relacionadas às
palavras, mas um contraste ou contradição entre o sentido e a falta
de sentido das palavras. [Lipps, 1898, 87]
Sentido no nonsense Pág. 19 e 20
• O contraste entre sentido e nonsense é significante. Aquilo que, em
certo momento, pareceu-nos ter um significado, é completamente
destituído de sentido. Atribuímos sentido a um comentário e sabemos
que logicamente ele não pode ter nenhum. Descobrimos nele uma
verdade, fato impossível de acordo com as leis da experiência ou com
os nossos hábitos gerais de pensamento. Em todos os casos, o
processo psicológico que o comentário chistoso nos provoca, e sobre
o qual repousa o processo cômico consiste na imediata transição
dessa atribuição de sentido, dessa descoberta da verdade, dessa
concessão de consequências, à consciência ou impressão relativa de
nulidade.
Desconcerto e esclarecimento Pág. 20
• O fator de desconcerto e esclarecimento leva-nos também a
aprofundar o problema da relação entre o chiste e o cômico.

• Kant fala-nos que o cômico em geral tem a notável característica de


ser capaz de enganar-nos apenas por um instante

• Heymans [1896] explica como é que o efeito de um chiste se


manifesta, o desconcerto sendo sucedido pelo esclarecimento.
A brevidade dos chistes – Pág. 21
• A brevidade dos chistes é uma característica reconhecida pelas autoridades
sobre o assunto.

• A brevidade é o corpo e a alma do chiste, sua própria essência. Jean Paul


[1804, parte II, parágrafo 42].

• Um chiste diz o que tem a dizer, nem sempre em poucas palavras, mas
sempre em palavras poucas demais, isto é, em palavras que são insuficientes
do ponto de vista da estrita lógica ou dos modos usuais de pensamento e
expressão. Pode-se mesmo dizer tudo o que se tem a dizer, nada dizendo.
[Lipps, 1898, 90]
A técnica dos chistes: conteúdo e forma.
Pág. 25 e 26
• Heymans e Lipps utilizam o seguinte chiste [E tão certo como Deus há de me
prover todas as coisas boas, doutor, sentei-me ao lado de Salomon Rothschild
e ele me tratou como um seu igual – bastante familionariamente!] para ilustrar
sua concepção de que o efeito cômico dos chistes deriva de desconcerto e
esclarecimento.
• O que converte, na realidade, este comentário em um chiste? Ou o
pensamento expresso na sentença possui em si mesmo o caráter de um
chiste, ou o chiste reside na expressão que o pensamento encontrou na
sentença. [conteúdo ou forma?]
• Um pensamento pode, em geral, ser expresso por várias formas linguísticas
que podem representá-lo com igual aptidão. O comentário supracitado
apresenta seu próprio pensamento numa forma particular de expressão e,
conforme nos parece, numa forma especialmente estranha, não aquela que
seria mais facilmente inteligível.
• No exemplo acima, o caráter do chiste não reside no pensamento, mas na
forma em que o pensamento é expresso.
A técnica dos chistes: forma. – Pág. 26
• Se o que faz de nosso exemplo um chiste não é nada que resida no
pensamento, devemos procurá-lo na forma, na verbalização que o
exprime.
• É, em primeiro lugar, a simples forma que transforma em chiste um
juízo; recordamos um dito de Jean Paul que, em único aforismo,
explica e exemplifica essa precisa característica dos chistes: Tal é
simplesmente o poder da posição, seja entre guerreiros seja entre
palavras.
A técnica dos chistes: a forma. Pág. 26
• Em que consiste, pois, a técnica desse chiste? O que acontece ao
pensamento de modo a torná-lo um chiste que nos faz rir
entusiasticamente?

• Ocorre uma considerável abreviação.


• A compressão impulsiona a formação de palavra composta [processo
de condensação com formação de um substituto].
• Questão proposta: O processo de condensação com formação de
substituto há de ser encontrado em todo chiste?
Condensação com formação de
substituto: outros exemplos. Pág. 27, 28 e 29.
• Um típico título de esportes construído a partir de um chiste de condensação
está na edição do Jornal da Bahia, do dia 28 de junho de 1990. A matéria
informa sobre o desembarque de integrantes da Seleção Brasileira eliminada
pela Argentina, na Copa do Mundo de 1990, na Itália. Na manchete "Lazarão
dribla a torcida", o nome do treinador Lazaroni forma uma palavra nova ao ser
fundido com a expressão 'azarão', que tanto pode significar 'exageradamente
desafortunado', como também, em um jargão típico do esporte, alguém
considerado 'zebra' ou com poucas possibilidades de vencer.

Freud e o chiste no jornalismo esportivo impresso baiano


Análise de títulos bem-humorados nas páginas do Jornal da Bahia 1989/1990
A técnica dos chistes
O mesmo encontramos neste exemplo:

IDIOLETICE. HOJE E SEMPRE .

Volta à ordem do dia o deputado Aldo Rebelo. No passado próximo


abriu contra mim um processo pra me tomar R$ 32.200,00. Por quê?
Ah, quando ele, do alto de sua ignorância, perdão, do seu saber
lingüístico, propôs LEI proibindo o uso de palavras estrangeiras em
nossos escritos, comentei: "Quanta idioletice!".
A técnica dos chistes
• Desconcerto e esclarecimento
no título do livro de memórias
do velho Aga: condensação
com formação de substituto.

MITO + MINTO
Técnicas similares – Condensação com modificação -
Processos psíquicos idênticos.
• Acréscimo ou alteração derivada de alguma outra fonte.
• A vaidade é um dos seus quatro calcanhares de Aquiles.
• O Ministério da Saúde se diverte: sexo faz bem à saúde.
• Freud descobriu que, no processo de condensação, o substituto do material
suprimido pode não ser uma estrutura composta, mas uma alteração da forma
de expressão em que uma leve modificação gera a seqüência de desconcerto
e deleite típicos do chiste. Quanto mais leve a modificação, maior será o
prazer, como na edição do dia 10 de maio de 1990, do Jornal da Bahia. O
título “Jones e o sapo expiatório” chama para uma matéria em que o
massagista do Bahia, Jones, atribui a má fase do time a um sapo enterrado no
campo, uma espécie de maldição ou feitiço. “Sapo expiatório” modifica a
expressão “bode expiatório”, como se denomina um suposto culpado para
explicar uma derrota.

Freud e o chiste no jornalismo esportivo impresso baiano


Análise de títulos bem-humorados nas páginas do Jornal da Bahia 1989/1990
Múltiplo uso do mesmo material –
Técnica diferente de condensação Pág. 38 e 39

• Freud observou também que, em outras técnicas de chiste, uma


mesma palavra aparece de duas maneiras, uma vez como um todo, e
outra segmentada em sílabas separadas, como se fosse uma
charada. Nos seus estudos de chiste, o múltiplo uso de mesmo
material foi o primeiro tipo identificado como diferente da técnica de
condensação.
• O criador da psicanálise citou como um dos principais exemplos do
chiste de múltiplo uso, o caso de um jovem parente do pensador
francês Jean-Jacques Rousseau. A expectativa em torno da suposta
inteligência do rapaz, no entanto, se desvanece logo que o sujeito
começa a falar e o comentário crítico de seus interlocutores faz
alusão ao cabelo ruivo (roux) e jeito tolo (sot), configurando um chiste
fônico: roux-sot tem o mesmo som de Rousseau.
Múltiplo uso do mesmo material –
Técnica diferente de condensação Pág. 38 e 39

Enquanto isso, na Chatuba, o imperador Adriano, ao saber que não


foi convocado, entrou em profunda depressão e chamou os amigos
para um churrasco com pagode e Marias Chuteiras. Inconsolável,
chorando um pranto convulsivo e fungando muito, Adriano disse a
todos que sua carreira tinha chegado ao fim. Mas na mesma hora um
parceiro do crack esticou uma para ele.

Agamenon Mendes Pedreira. Segundo Caderno, jornal O Globo. Domingo, 16 de maio de


2010.
http://www.prosaepolitica.com.br/wp-content/uploads/2009/11/00rs1105a.JPG
Acesso em 24 de maio de 2010.
http://2.bp.blogspot.com/_SjBUFj3jDSY/SD1FpZ_lWXI/AAAAAAAAHKY/84Ji4A6Z6vY/s400/28qua_charge_kayser.jpg Acesso em 24 de maio de 2010.
Preservar a Arte é Fogo!

Acordei, liguei a tela e fiquei triste


Amar a arte pode ser uma titica
Com perdas que são calamidades
Primeiro pensei que era um chiste
Mas, não, infelizmente era verdade
Ardeu em chamas o acervo do Oiticica
http://blog0news.blogspot.com/2009_10_11_archive.html
Múltiplo uso do mesmo material – Pág. 41
• As palavras são um material plástico, que se presta a todo tipo de
coisas. Há palavras que, usadas em certas conexões, perdem todo o
seu sentido original, mas o recuperam em outras conexões.

• “Eifersuch [o ciúme] é uma Leidenschaft [paixão] que mit Eifer sucht


[com avidez procura] o que Leiden shafft [causa dor].”

• Embora este exemplo se caracterize como um chiste, estão ausentes


muitos fatores que o caracterizam}: pouco importa o pensamento
verbalmente expresso, não há vestígio do sentido do nonsense,
do significado escondido ou de desconcerto e esclarecimento.
Outros casos de uso múltiplo do mesmo
material – Pág. 43 e 44.
• Casos de duplo sentido de um nome de uma coisa por ele denotada.

• Duplo sentido procedendo dos significados literal e metafórico de uma


palavra. [Uma das mais férteis fontes da técnica dos chistes]

• Duplo sentido propriamente dito ou jogo de palavras. [Caso ideal do


múltiplo uso].
O jogo de palavras
O jogo de palavras nada mais é que uma condensação sem
formação de substitutivo; portanto, a condensação permanece sendo
a categoria mais ampla. Todas essa técnicas são denominadas por
um a tendência à compressão, ou antes à economia. Tudo parece ser
uma questão de economia.
Exemplo de princípio de ecomomia:
´C` est le premier vol de l` aigle [p.44]. É o primeiro vôo da àguia, mas
é um vôo assaltante. Afortunadamente para a existência deste chiste,
vol` significa não apenas vôo como roubo. Não se fez alguma
condensação e economia. Muito certamente. Ressalva-se todo o
segundo pensamento, descartado sem deixar substituto do
pensamento suprimido sem que se faça qualquer acréscimo ou
mudança no primeiro.Essa é a vantagem do duplo sentido.
Trocadilhos
• Um grupo de chistes constituem uma espécie geralmente conhecida
como “Kalauer” (calembourgs) [“trocadilhos”], que passa por ser a
forma mais baixa de chiste verbal, possivelmente por ser a ´mais
barata` – isto é, elaborada com menor dificuldade.

Trocadilho x Jogo de palavra


• Fischer (1889, 78) tem devotado muito atenção a essas formas de
chiste e tenta distingui-las agudamente do “jogo de palavras”. Um
trocadilho é um mau jogo de palavras, já que não joga com a palavra
mas com o seu som. O jogo de palavras, entretanto, “passa do som
da palavra à própria palavra”.
• Entre a profusão de trocadilhos de que dispomos, valerá a pena
considerá um exemplo realmente ruim, cometido por Heine.
Apresentando-se muito tempo como um “príncipe indiano” a sua
dama, descarta finalmente o disfarce e confessa: “madame, eu vou
enganei...Não estive Kalkutta(Calcutá) mais que o kallkuttenbraten
[frango assado à Calcutá] que comi no almoço de ontem”.
• Conta-se a estória de que, em certo fim de tarde de que em certo fim
de tarde, Heine conversava em um salon de Paris com o dramaturgo
Soulié, quando adentrou à sala um dos reis da finanças de Paris,
comparados popularmente a Midas- e não apenas por sua riqueza.
Logo foi cercado por uma multidão que o tratava com a maior
deferência. “Veja!” observou Soulié a Heine, “veja como o século XIX
cultua o Bezerro de Ouro!” Com uma rápida mirada ao objeto de tanta
admiração, Heine replicou, com que a bem da correção: “Oh, sim,
mas ele já deve ser mais velho agora!” ` (Fischer ,1889, 82-3.)
• Onde pesquisaremos a técnica deste excelente chiste? Em um jogo
de palavras, pensa Fischer: ´Assim, por exemplo, as palavras
“Bezerro de Ouro” significam tanto Mammon como idolatria. Em um
caso, o ouro é a principal coisa do universo e, em outro, a estátua do
animal pode servir também para caracterizar, em termos não
precisamente lisonjeiros, alguém que tenha muito dinheiro e bem
pouco senso`.
• Se experimentarmos remover a expressão ´Bezerro de Ouro`,
decerto nos livraremos ao mesmo tempo do chiste. Façamos Soulié
dizer: ´Veja! Olhe como o povo se amontoa em torno daquele sujeito
estúpido simplesmente porque ele é rico!`. Não existe mais chiste
algum e a resposta de Heine é tornada impossível.
• Mas devemos lembrar-nos que o que nos interessa não é o símile de
Soulié -um possível chiste- mas a réplica de Heine, um chiste
certamente muito superior. Assim, sendo não temos o direito de tocar
a expressão sobre o Bezerro de Ouro: permanece como pré-condição
do mot de Heine e a nossa redução deve dirigir-se apenas à última.
Se desdobrarmos as palavras ´Oh, mas ele já deve ser mais velho` só
podemos substitui-las por algo que seja aproximadamente ´Oh, ele
não é mais um bezerro e sim um boi adulto! `.

• Portanto, a pré-condição do chiste de Heine é não interpretar a


´Bezerro de Ouro` metaforicamente mas em um sentido pessoal,
devendo aplicar-se ao próprio homem rico. Pode ser mesmo que este
duplo sentido já estivesse presente no comentário de Soulié.
• Mas, um momento! Parece agora que redução efetuada não destrói
sua essência intocada. Na nova situação Soulié diz: ´Veja! Veja como
o século XIX reverencia o Bezerro de Ouro!`e Heine replica: ´Oh, ele
não é mais um bezerro; já é um boi!`. Esta versão reduzida é um
chiste. Entretanto, nenhuma outra redução do mot de Heine é
possível.

Chiste de judeu
• ´Dois judeus se encontram nas vizinhanças de um balneário. “Você
tomou um banho?”, pergunta um deles. “o quê?”, retruca o outro, “há
um faltando?”.
• Se alguém ri de um chiste com toda sinceridade, não está
precisamente na melhor condição de investigar sua técnica. Daí que
algumas dificuldades assomam quanto ao progresso dessas análises.
‘Eis um equívoco cômico`, inclinamos-nos a dizer. Sim, mas qual será
a técnica do chiste?
• Nitidamente, consiste no uso da palavra ´tomar` em dois sentidos.
Para um dos interlocutores, ´tomar´ é o neutro auxiliar; para o outro,
trata-se do verbo com seu sentido esvaziado. Lidamos portanto com o
caso do uso ´pleno` e ´esvaziado` da mesma palavra (Grupo II (f) [p.
42]. Se substituímos a expressão ´tomou um banho` pela equivalente,
mais ‘banhou-se’, o chiste uma vez mais conecta-se à forma da
expressão ´tomou um banho`.
• Tudo isso é verdade. Entretanto parece que também nesse caso a
redução aplicou-se ao ponto errado. O chiste não assenta na
pergunta mas na resposta – ou seja, na segunda pergunta: ´o quê?
Há um faltando?. Não se pode negar a esta resposta caráter chistoso,
seja por alguma extensão ou modificação, sem interferência com o
sentido. Temos também impressão que na réplica do segundo judeu
o fato de quem lhe ocorre a idéia de ter-se banhado é mais
importante que a compreensão errônea da palavra ´tomar´.
Chiste de judeu
• ´Um indivíduo empobrecido tomou empretado 25 florins de um
próspero conhecido seu, após muitas declarações sobre suas
necessidades circunstanciais. Exatamente neste mesmo dia seu
benfeitor reencontrou-o em um restaurante, com um prato de
maionese de salmão à frente. O benfeitor repreendeu-o: “Como?
Você me toma dinheiro emprestado e vem comer maionese de
salmão em um restaurante? É nisso que você usou o dinheiro?”. “Não
lhe compreendo”, retrucou o objeto deste ataque; “se não tenho
dinheiro , não posso comer maionese de Salmão. Bem, quando vou
então comer maionese de salmão?” `
• Não se pode encontrar aqui qualquer vestígio de duplo sentido. Nem
é na repetição de ´maionese de salmão`, que consiste a técnica do
chiste, pois não se trata de ´uso múltiplo` do mesmo material,mas de
uma repetição real de material idêntico, requerida pelo conteúdo da
anedota. Podemos ficar algum tempo bastante desconcertados por
essa análise;podemos pensar mesmo em buscar refúgio no recurso
de negar que a anedota-embora nos faça rir –possua o caráter de
chiste.
• Itzig fora declarado apto para prestar serviço na artilharia. Ele era
nitidamente um rapaz inteligente, embora intratável e desinteressado
no serviço. Um dos oficiais seus superiores, que lhe voltava simpatia,
tomou-o de parte e disse-lhe: ´Itzig, você não nos serve para nada.
Vou lhe dar um conselho: compre um canhão e faça sua
independência!”`
Como se converte um nonsense em um
chiste?
• Podemos inferir dos comentários das autoridades que há sentido por
trás dessa chistosa falta de sentido, e tal sentido é responsável pela
conversão do nonsense em chiste. É fácil descobrir o sentido em
nosso exemplo. O oficial que dá este absurdo ao artilheiro Itzig está
se fazendo de estúpido apenas para demonstrar a Itzig a estupidez
de seu próprio comportamento.
Chiste absurdo
• ´Não nascer seria a melhor coisa para os mortais.` ´Entretanto`,
acrescenta um comentário filosófico em Fliengende Blatter, isto é
coisa que apenas acontece a uma em cada cem mil pessoas.`
• Este acréscimo moderno à antiga consideração é um evidente
nonsense tornado ainda mais imbecil pelo ostensivamente cauteloso
´apenas`. Quem não tenha nascido não é, em absoluto, um mortal,
não havendo para este nada de bom nem de melhor. Assim, o
nonsense no chiste serve para revelar e demonstrar um outro
nonsense.
• ‘Um cavalheiro entrou em uma confeitaria e pediu um bolo; logo o
devolveu, solicitando em seu lugar um cálice de licor. Bebeu e
preparou-se para sair sem tê-los pago. O proprietário o deteve. “O
que você quer?”, perguntou o freguês. – “você não pagou o licor. ” –
“Mas lhe dei o bolo em troca.” – “Também não pagou por este.” –
“Mas eu não o comi.” `
• Essa anedota apresenta também uma lógica aparente que, já o
sabemos, é uma fachada adequada para semelhante raciocínio
falho.O erro evidente consiste na conexão inexistente, construída pelo
astucioso freguês, entre a devolução do bolo e a tomada de licor em
seu lugar.
• ´Um Schadchen devendo propor a alguém uma noiva levou consigo
um auxiliar, que confirmasse tudo o que ele tinha a dizer . “Ela é
esbelta como um pinheiro”, disse o Schadchen . – “Como um
pinheiro”, repetia o eco. – “Melhor educada do que qualquer outra!” –
“ Que educação! ” – “Bem, é verdade que há uma coisa”, admitiu o
agente, “ela tem uma pequena corcunda.” – “E que corcunda.`
• A ação automática triunfa sobre a conveniente mudança de pensamento e de
expressão.
Isto é fácil de ver, mas há de ter um efeito pertubador quando notarmos que a
história tem tanto direito de ser chamada cômica quanto nós de apresentá-las
como chiste.O desvelamento psíquico é uma das técnicas do cômico,
exatamente como qualquer tipo de revelação ou autotraição.
• O rei condescendeu em visitar uma clínica cirúrgica, lá deparando
com um professor que executava a amputação de uma perna.
Acompanhou todos os estágios com altas expressões de sua real
satisfação: “Bravo! bravo! Meu caro professor!” Quando a operação
terminou, o professor aproximou-se dele e perguntou-lhe com uma
profunda reverência: “Vossa majestade ordena que eu ampute
também a outra?”
• Novos balneários tratam bem` que evoca-nos imediatamente o
provérbio: ´Novas vassouras varrem limpo`. As duas expressões
partilham a palavra inicial e algumas mediais tanto quanto a estrutura
inteira da sentença. Não há dúvida de que a sentença tenha se
introduzido na cabeça do espirituoso filósofo como imitação do
provérbio familiar. Assim o dito de Lichtenberg torna-se uma alusão
ao provérbio.
• ´É quase impossível atravessar uma multidão portando a tocha da
verdade sem chamuscar a barba de alguém.`
Bibliografia
• Freud, Sigmund. Os chistes e Sua Relação com o
Inconsciente.
• Agamenon Mendes Pedreira. Segundo Caderno, Jornal O
Globo.
• Referências internet.

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