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• Um chiste diz o que tem a dizer, nem sempre em poucas palavras, mas
sempre em palavras poucas demais, isto é, em palavras que são insuficientes
do ponto de vista da estrita lógica ou dos modos usuais de pensamento e
expressão. Pode-se mesmo dizer tudo o que se tem a dizer, nada dizendo.
[Lipps, 1898, 90]
A técnica dos chistes: conteúdo e forma.
Pág. 25 e 26
• Heymans e Lipps utilizam o seguinte chiste [E tão certo como Deus há de me
prover todas as coisas boas, doutor, sentei-me ao lado de Salomon Rothschild
e ele me tratou como um seu igual – bastante familionariamente!] para ilustrar
sua concepção de que o efeito cômico dos chistes deriva de desconcerto e
esclarecimento.
• O que converte, na realidade, este comentário em um chiste? Ou o
pensamento expresso na sentença possui em si mesmo o caráter de um
chiste, ou o chiste reside na expressão que o pensamento encontrou na
sentença. [conteúdo ou forma?]
• Um pensamento pode, em geral, ser expresso por várias formas linguísticas
que podem representá-lo com igual aptidão. O comentário supracitado
apresenta seu próprio pensamento numa forma particular de expressão e,
conforme nos parece, numa forma especialmente estranha, não aquela que
seria mais facilmente inteligível.
• No exemplo acima, o caráter do chiste não reside no pensamento, mas na
forma em que o pensamento é expresso.
A técnica dos chistes: forma. – Pág. 26
• Se o que faz de nosso exemplo um chiste não é nada que resida no
pensamento, devemos procurá-lo na forma, na verbalização que o
exprime.
• É, em primeiro lugar, a simples forma que transforma em chiste um
juízo; recordamos um dito de Jean Paul que, em único aforismo,
explica e exemplifica essa precisa característica dos chistes: Tal é
simplesmente o poder da posição, seja entre guerreiros seja entre
palavras.
A técnica dos chistes: a forma. Pág. 26
• Em que consiste, pois, a técnica desse chiste? O que acontece ao
pensamento de modo a torná-lo um chiste que nos faz rir
entusiasticamente?
MITO + MINTO
Técnicas similares – Condensação com modificação -
Processos psíquicos idênticos.
• Acréscimo ou alteração derivada de alguma outra fonte.
• A vaidade é um dos seus quatro calcanhares de Aquiles.
• O Ministério da Saúde se diverte: sexo faz bem à saúde.
• Freud descobriu que, no processo de condensação, o substituto do material
suprimido pode não ser uma estrutura composta, mas uma alteração da forma
de expressão em que uma leve modificação gera a seqüência de desconcerto
e deleite típicos do chiste. Quanto mais leve a modificação, maior será o
prazer, como na edição do dia 10 de maio de 1990, do Jornal da Bahia. O
título “Jones e o sapo expiatório” chama para uma matéria em que o
massagista do Bahia, Jones, atribui a má fase do time a um sapo enterrado no
campo, uma espécie de maldição ou feitiço. “Sapo expiatório” modifica a
expressão “bode expiatório”, como se denomina um suposto culpado para
explicar uma derrota.
Chiste de judeu
• ´Dois judeus se encontram nas vizinhanças de um balneário. “Você
tomou um banho?”, pergunta um deles. “o quê?”, retruca o outro, “há
um faltando?”.
• Se alguém ri de um chiste com toda sinceridade, não está
precisamente na melhor condição de investigar sua técnica. Daí que
algumas dificuldades assomam quanto ao progresso dessas análises.
‘Eis um equívoco cômico`, inclinamos-nos a dizer. Sim, mas qual será
a técnica do chiste?
• Nitidamente, consiste no uso da palavra ´tomar` em dois sentidos.
Para um dos interlocutores, ´tomar´ é o neutro auxiliar; para o outro,
trata-se do verbo com seu sentido esvaziado. Lidamos portanto com o
caso do uso ´pleno` e ´esvaziado` da mesma palavra (Grupo II (f) [p.
42]. Se substituímos a expressão ´tomou um banho` pela equivalente,
mais ‘banhou-se’, o chiste uma vez mais conecta-se à forma da
expressão ´tomou um banho`.
• Tudo isso é verdade. Entretanto parece que também nesse caso a
redução aplicou-se ao ponto errado. O chiste não assenta na
pergunta mas na resposta – ou seja, na segunda pergunta: ´o quê?
Há um faltando?. Não se pode negar a esta resposta caráter chistoso,
seja por alguma extensão ou modificação, sem interferência com o
sentido. Temos também impressão que na réplica do segundo judeu
o fato de quem lhe ocorre a idéia de ter-se banhado é mais
importante que a compreensão errônea da palavra ´tomar´.
Chiste de judeu
• ´Um indivíduo empobrecido tomou empretado 25 florins de um
próspero conhecido seu, após muitas declarações sobre suas
necessidades circunstanciais. Exatamente neste mesmo dia seu
benfeitor reencontrou-o em um restaurante, com um prato de
maionese de salmão à frente. O benfeitor repreendeu-o: “Como?
Você me toma dinheiro emprestado e vem comer maionese de
salmão em um restaurante? É nisso que você usou o dinheiro?”. “Não
lhe compreendo”, retrucou o objeto deste ataque; “se não tenho
dinheiro , não posso comer maionese de Salmão. Bem, quando vou
então comer maionese de salmão?” `
• Não se pode encontrar aqui qualquer vestígio de duplo sentido. Nem
é na repetição de ´maionese de salmão`, que consiste a técnica do
chiste, pois não se trata de ´uso múltiplo` do mesmo material,mas de
uma repetição real de material idêntico, requerida pelo conteúdo da
anedota. Podemos ficar algum tempo bastante desconcertados por
essa análise;podemos pensar mesmo em buscar refúgio no recurso
de negar que a anedota-embora nos faça rir –possua o caráter de
chiste.
• Itzig fora declarado apto para prestar serviço na artilharia. Ele era
nitidamente um rapaz inteligente, embora intratável e desinteressado
no serviço. Um dos oficiais seus superiores, que lhe voltava simpatia,
tomou-o de parte e disse-lhe: ´Itzig, você não nos serve para nada.
Vou lhe dar um conselho: compre um canhão e faça sua
independência!”`
Como se converte um nonsense em um
chiste?
• Podemos inferir dos comentários das autoridades que há sentido por
trás dessa chistosa falta de sentido, e tal sentido é responsável pela
conversão do nonsense em chiste. É fácil descobrir o sentido em
nosso exemplo. O oficial que dá este absurdo ao artilheiro Itzig está
se fazendo de estúpido apenas para demonstrar a Itzig a estupidez
de seu próprio comportamento.
Chiste absurdo
• ´Não nascer seria a melhor coisa para os mortais.` ´Entretanto`,
acrescenta um comentário filosófico em Fliengende Blatter, isto é
coisa que apenas acontece a uma em cada cem mil pessoas.`
• Este acréscimo moderno à antiga consideração é um evidente
nonsense tornado ainda mais imbecil pelo ostensivamente cauteloso
´apenas`. Quem não tenha nascido não é, em absoluto, um mortal,
não havendo para este nada de bom nem de melhor. Assim, o
nonsense no chiste serve para revelar e demonstrar um outro
nonsense.
• ‘Um cavalheiro entrou em uma confeitaria e pediu um bolo; logo o
devolveu, solicitando em seu lugar um cálice de licor. Bebeu e
preparou-se para sair sem tê-los pago. O proprietário o deteve. “O
que você quer?”, perguntou o freguês. – “você não pagou o licor. ” –
“Mas lhe dei o bolo em troca.” – “Também não pagou por este.” –
“Mas eu não o comi.” `
• Essa anedota apresenta também uma lógica aparente que, já o
sabemos, é uma fachada adequada para semelhante raciocínio
falho.O erro evidente consiste na conexão inexistente, construída pelo
astucioso freguês, entre a devolução do bolo e a tomada de licor em
seu lugar.
• ´Um Schadchen devendo propor a alguém uma noiva levou consigo
um auxiliar, que confirmasse tudo o que ele tinha a dizer . “Ela é
esbelta como um pinheiro”, disse o Schadchen . – “Como um
pinheiro”, repetia o eco. – “Melhor educada do que qualquer outra!” –
“ Que educação! ” – “Bem, é verdade que há uma coisa”, admitiu o
agente, “ela tem uma pequena corcunda.” – “E que corcunda.`
• A ação automática triunfa sobre a conveniente mudança de pensamento e de
expressão.
Isto é fácil de ver, mas há de ter um efeito pertubador quando notarmos que a
história tem tanto direito de ser chamada cômica quanto nós de apresentá-las
como chiste.O desvelamento psíquico é uma das técnicas do cômico,
exatamente como qualquer tipo de revelação ou autotraição.
• O rei condescendeu em visitar uma clínica cirúrgica, lá deparando
com um professor que executava a amputação de uma perna.
Acompanhou todos os estágios com altas expressões de sua real
satisfação: “Bravo! bravo! Meu caro professor!” Quando a operação
terminou, o professor aproximou-se dele e perguntou-lhe com uma
profunda reverência: “Vossa majestade ordena que eu ampute
também a outra?”
• Novos balneários tratam bem` que evoca-nos imediatamente o
provérbio: ´Novas vassouras varrem limpo`. As duas expressões
partilham a palavra inicial e algumas mediais tanto quanto a estrutura
inteira da sentença. Não há dúvida de que a sentença tenha se
introduzido na cabeça do espirituoso filósofo como imitação do
provérbio familiar. Assim o dito de Lichtenberg torna-se uma alusão
ao provérbio.
• ´É quase impossível atravessar uma multidão portando a tocha da
verdade sem chamuscar a barba de alguém.`
Bibliografia
• Freud, Sigmund. Os chistes e Sua Relação com o
Inconsciente.
• Agamenon Mendes Pedreira. Segundo Caderno, Jornal O
Globo.
• Referências internet.