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INTERSECCIONALIDADE

E
CONSUBSTANCIALIDADE

Mulher preta
Mestra em Ciências Sociais
Especialista em Gestão Pública
Aqueles homens ali dizem que as mulheres precisam de
ajuda para subir em carruagens, e devem ser carregadas
para atravessar valas, e que merecem o melhor lugar
onde quer que estejam. Ninguém jamais me ajudou a
subir em carruagens, ou a saltar sobre poças de lama, e
nunca me ofereceram melhor lugar algum! E não sou
uma mulher?
Olhem para mim? Olhem para meus braços! Eu arei e plantei, e
juntei a colheita nos celeiros, e homem algum poderia estar à
minha frente. E não sou uma mulher?
Eu pari treze filhos e vi a maioria deles ser vendida para a
escravidão, e quando eu clamei com a minha dor de mãe,
ninguém a não ser Jesus me ouviu! E não sou uma mulher?
“... Daí aquele homenzinho de preto ali disse que a mulher não
pode ter os mesmos direitos que o homem porque Cristo não era
mulher! De onde o seu Cristo veio? De onde o seu Cristo veio? De
Deus e de uma mulher! O homem não teve nada a ver com isso.

Se a primeira mulher que Deus fez foi forte o bastante para virar o
mundo de cabeça para baixo por sua própria conta, todas estas
mulheres juntas aqui devem ser capazes de conserta-lo, colocando-
o do jeito certo novamente. E agora que elas estão exigindo fazer
isso, é melhor que os homens as deixem fazer o que elas querem...”

E não sou uma mulher?


Sojourner Truth, Ohio, Estados Unidos, 1851. Tradução - Osmundo Pinho
Interseccionalidade e Consubstancialidade: Articulação entre múltiplas
diferenças e desigualdades

Noções/conceitos vinculados a diferentes tradições feministas :


Interseccionalidade = contexto anglófono (língua inglesa) de produção de
conhecimento - Kimberlé W. Crenshaw 1989
Consubstancialidade = contexto francês - Danièle Kergoat 1970

- De modo geral as duas respondem a questões históricas sociais de forma diferenciada e são
formuladas a partir de abordagens teóricas com diferentes modos de pensar os processos de
diferenciação e subordinação ( Racismo –Patriarcado- Capitalismo)
- Os dois conceitos foram formulados fora do Brasil
- A perspectiva da interseccionalidade foi cunhada pelo feminismo negro,
sendo teoricamente incorporada nos estudos dos feminismos decoloniais.

Crenshaw - a interseccionalidade busca capturar as consequências estruturais e


dinâmicas da interação entre dois ou mais eixos da subordinação. Ela trata
especificamente da forma pela qual o racismo, o patriarcalismo, a opressão de classe e
outros sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas que estruturam as
posições relativas de mulheres, raças, etnias, classes e outras.

Ex. Caso Miguel


Kergoat : As relações sociais são consubstanciais (têm a mesma essência):
elas formam um nó que não pode ser sequenciado ao nível das práticas
sociais; e elas são co-extensivas: implantando as relações sociais de classe,
de gênero e de "raça", se reproduzem e se co-produzem mutuamente.

Principal crítica a interseccionalidade - a multiplicidade de categorias mascara as relações sociais (uma


espécie de naturalização das categorias analíticas)
Patrícia Hill Collins – vincula a interseccionalidade a um
ensaio crítico, onde raça, classe, gênero, etnicidade, idade
e capacidade (de agir) se constroem reciprocamente
modelando desigualdades sociais que são complexas.
Não há isenção teórica

Como minha posição se relaciona com as


leituras que faço?

Nossa posição de gênero, classe raça e sexualidade se


relacionam com a nossa percepção do social e das teorias.
O que nos atravessa?
“Ser negra e mulher no
Brasil, é ser objeto de tripla
discriminação, uma vez que
os estereótipos gerados pelo
racismo e pelo sexismo a
colocam no mais alto nível de
opressão”
Lélia Gonzalez
INTERSECCIONALID
ADE

Não partimos todos do mesmo ponto

Questões de gênero, raça, território,


corpo, afeto e muitas outras questões de
classe, cultura, religião vão atravessar
cada um de nós de formas muito
diferentes.
Teoria

• A interseccionalidade é uma categoria analítica crítica para


pensar os sistemas de opressão articulando em particular, mas
não exclusivamente, raça, gênero e classe. Cunhado por Kimberlé
Crenshaw em um documento político e jurídico, há cerca de 25
anos, o termo foi utilizado para descrever as opressões cruzadas
que incidiam sobre as mulheres afro-americanas.

• Segundo Akotirene (2018, p.14), a interseccionalidade


demarca o paradigma teórico e metodológico da tradição feminista
negra, se constituindo enquanto ferramenta que “visa dar
instrumentalidade teórica-metodológica à inseparabilidade
estrutural do racismo, capitalismo e cis-hétero-patriarcado”.
Método
Por meio do método de análise da interseccionalidade, é
possível identificar que as desigualdades de gênero são
potencializadas e aprofundadas pela raça, classe e outros
marcadores sociais que transversalizam a categoria mulheres.

Na prática o método da interseccionalidade consiste em


sensibilizar o olhar para perceber o conjunto de marcadores
sociais que atravessa a mulher e a partir desse olhar
construir/propor formas de incidir na sua realidade, de modo a
alcançar a equiade.
Algumas informações

54% da população brasileira é negra;


51% da população brasileira mulher;
24% da população é de pessoas com deficiência;
10% LGBTQI+, e;
0,4% Indígena.

(Fonte – Coletivo Ponte)


Igualdade

Igualdade sugere tratar toda pessoa igual

Mas como aplicar igualdade se não somos todos


iguais? Se algumas pessoas tem privilégios e partem
sempre na frente - com vantagens das mais variadas?
É a possibilidade de dar para cada pessoa o que

Equidade precisa para que o caminho seja justo. Um processo


que se baseia na igualdade, sugere que uma pessoa
cadeirante suba uma escada como uma pessoa não
cadeirante. Por base na equidade, cria-se formas
para que ambos possam chegar ao mesmo lugar.
Sugestões de documentários e filmes

[Documentário] Emicida: AmarElo - É Tudo Pra Ontem (link aqui)


[Filme] Olhos que condenam (link aqui)
[Filme] Felicidade por um fio (link aqui)
[Documentário] Crip Camp: Revolução pela Inclusão (link aqui)
[Documentário] Longe da Árvore (link aqui)
[Vídeo] Masculinidade Tóxica (link aqui)
[Documentário] O silêncio dos homens (link aqui)
[Vídeo] A mulher na cultura (link aqui)
[Filme] Mine Vaganti (O primeiro que disse) (link aqui)
[Filme] O Jogo da Imitação (link aqui)
[Filme] A Garota Dinamarquesa (link aqui)
[Filme] Moonlight: Sob a Luz do Luar (link aqui)
[Filme] Hoje eu quero voltar sozinho (link aqui)
GRATIDÃO,

AXÉ!

Mulher preta
Mestra em Ciências Sociais
Especialista em Gestão Pública

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