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"EXCLUSÃO

SOCIAL"
OU
"INCLUSÃO

PERVERSA"?

UMA ANÁLISE HISTÓRICA
A OPÇÃO PELA AFETIVIDADE E, EM
ESPECIAL, PELO SOFRIMENTO, PARA
ESTUDAR A EXCLUSÃO;
CONTEÚDO

QUALIFICAÇÃO DE SOFRIMENTO ÉTICO-


POLÍTICO;
DIALÉTICA INCLUSÃO/EXCLUSÃO
A PESQUISA E A PRÁTICA DA PSICOLOGIA
FRENTE À EXCLUSÃO
Dialética exclusão/inclusão
BADER SAWAIA

As diferentes qualidades e dimensões da exclusão:


Dimensão objetiva da desigualdade social
Dimensão ética da injustiça
Dimensão subjetiva do sofrimento 

"A exclusão é processo complexo e multifacetado, uma configuração de dimensões

materiais, politicas, relacionais e subjetivas. é um processo dialético, pois so existe

em relação à inclusão como parte constitutiva dela. Não é uma coisa ou um estado, é

processo que envolve o homem por inteiro e suas relações com os outros. Não tem

uma forma unica e não é uma falha no sistema, devendo ser combatida como algo que
perturba a ordem social, ao contrario, ela é produto do funcionamento do sistema". 

ATLAS DA
VIOLÊNCIA
Alma Ata : "Saúde para todos no ano 2000"

2000, ocorreu a "Cúpula do Milênio das Nações Unidas", que reuniu lideres mundiais de 189

países e foi estabelecido um conjunto de objetivos e metas quantificáveis e bem delimitadas

quanto ao tempo, visando a combater a pobreza, a fome, as doenças, o analfabetismo, a

degradação do meio ambiente, a discriminação contra a mulher e o compromisso com os

princípios dos direitos humanos, com governos responsáveis e com a democracia.


Declaração de Brasília - uma chamada à ação e à execução do que está expresso nos Objetivos

da Declaração do Milênio. São oito objetivos, cada um deles com uma ou mais metas, que

totalizam 18. Os objetivos são, respectivamente:


1- erradicar a extrema pobreza e a fome;
2- atingir o ensino primário para todos;
3- promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres;
4- reduzir a mortalidade na infância;
5 – melhorar a saúde materna;
6- combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças;
7- garantir a sustentabilidade ambiental e
8- estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.
Um fenômeno global, de ordem não

individual, mas social


- No mundo, apenas oito bilionários

acumulam a mesma quantidade de dinheiro

que a metade mais pobre da população do

planeta, ou seja, 3,6 bilhões de pessoas

juntas.

- Os seis homens mais ricos do Brasil

concentram a mesma riqueza que toda a

metade mais pobre da população do país

(mais de 100 milhões de brasileiros),

segundo o relatório da ONG Oxfam.


- De acordo com dados divulgados pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE) no ano passado, entre 2005 e 2015, o

porcentual de negro e negras universitários

saltou de 5,5% para 12,8%.


-  Há 29 países no mundo que superam os 80

anos de expectativa média de vida. Ao

contrário, ainda há 22 países nos quais seus

habitantes não superam a média dos 60

anos. No Brasil, a expectativa de vida é de 75

anos, segundo a OMS.


Um fenômeno global, de ordem não

individual, mas social


- 82% de toda a riqueza mundial gerada

entre setembro de 2016 e setembro de 2017

ficou nas mãos do 1% mais rico da

população, enquanto a metade mais pobre

do globo, que equivale a 3,7 bilhões de

pessoas, não foi beneficiada com nenhum

aumento.

- Hoje temos cinco bilionários com

patrimônio equivalente ao da metade mais

pobre do país, chegando a R$ 549 bilhões

em 2017 – 13% maior em relação ao ano

anterior. Ao mesmo tempo, os 50% mais

pobres do Brasil tiveram sua riqueza

reduzida no mesmo período, de 2,7% para

2%.

- Sumario Executivo Oxfam - DAVOS


Refletindo sobre a noção de exclusão
MARIÂNGELA WANDERLEY (2001)

A exclusão pode ser tomada em nossas sociedade contemporâneas como uma


nova manifestação da questão social.

Mundialização, transformações produtivas e neoliberalismo: novo precariado

(desempregados de longa duração que vão sendo expulsos do mercado

produtivo e jovens que não conseguem entrar nele... camadas "aptas" ao

trabalho,  mas sem acesso ao mercado). 

BRASIL: "estão sendo forjados personagens que são incômodos politicamente

(a eles são atribuídos os males de nossa politica); ameaçadores socialmente

(a representação da pobreza esta cada vez mais relacionada à do "bandido

marginal"); e desnecessários economicamente (massa crescente de reserva)." 


Exclusão social: um problema de 500

anos
MAURA VÉRAS

MILTON SANTOS

O autor chama atenção para o peso do lugar, do território

(intra-urbano, sobretudo):

"cada homem vale pelo lugar onde está. A possibilidade de

ser mais ou menos cidadão depende, em larga proporção,

do ponto do território onde se esta.  (...) As condições

existentes nesta ou naquela região determinam essa

desigualdade no valor de cada pessoa, tais condições

contribuindo para que o homem passe literalmente a valer

em função do lugar onde vive"

O capitalismo predatório, politicas urbanas para atender interesses privados. (Recife, Cidade Roubada)
Refletindo sobre a noção de exclusão
DIREITO A CIDADE

A qualidade da vida urbana virou uma

mercadoria. Há uma aura de liberdade de

escolha de serviços, lazer e cultura – desde

que se tenha dinheiro para pagar...

"Saber que tipo de cidade queremos é uma

questão que não pode ser dissociada de saber

que tipo de vínculos sociais, relacionamentos

com a natureza, estilos de vida, tecnologias e

valores estéticos nós desejamos. O direito à

cidade é muito mais que a liberdade individual

de ter acesso aos recursos urbanos: é um

direito de mudar a nós mesmos, mudando a

cidade. Além disso, é um direito coletivo e não

individual, já que essa transformação depende

do exercício de um poder coletivo para

remodelar os processos de urbanização. A


liberdade de fazer e refazer as nossas

cidades, e a nós mesmos é, a meu ver, um dos

nossos direitos humanos mais preciosos e ao

mesmo tempo mais negligenciados."


Exclusão social: um problema de 500

anos
MAURA VÉRAS
JOSE DE SOUZA MARTINS
O esvaziamento do termo exclusão (explicativo de "tudo") - fetichização conceitual: o

rotulo acaba se sobrepondo ao movimento de produção de desigualdades e

subalternidades.

Aponta que no Brasil as politicas econômicas neoliberais acabam por provocar, não

politicas de exclusão, mas politicas de inclusão precária, instável e marginal, ou seja,

incluem pessoas nos "processos econômicos, na produção e circulação de bens e

serviços estritamente em termos daquilo que é racionalmente conveniente e

necessário à mais eficiente (e barata) reprodução do capital" - e, dessa forma, atenuam


o caráter perigoso das classes subalternizadas (menos inclinadas ao conflito) 

"A máxima das sociedades capitalistas é respeitar ao mercado, para depois incluir,

segundo sua própria lógica." 

A TV e a unificação ideológica / LIVRO: A exclusão social e a nova desigualdade


Exclusão social: um problema de 500

anos
Exclusão social: um problema de 500

anos
Exclusão social: um problema de 500

anos

Perfil de vitimas de

homicídios
Analise psicossocial e ética
da exclusão 
PARTE II
O SOFRIMENTO ÉTICO-POLÍTICO COMO

CATEGORIA DE ANÁLISE DA DIALÉTICA

EXCLUSÃO/INCLUSÃO
BADER SAWAIA

O sofrimento ético-político foi escolhido como guia analítico da  dialética


 exclusão/inclusão,  seguindo  a  recomendação  feita  por Souza  Santos  (1997)
 às  ciências  humanas  para  usarem  categorias desestabilizadoras  na  análise
 das  questões  sociais. 

As perguntas que fazem avançar o conhecimento, as quais Souza Santos


 denomina de "interrogações poderosas”, são as contra-hegemônicas, com
capacidade de penetrar nos pressupostos epistemológicos e ontológicos do saber
constituído (ética científica). 
AFETIVIDADE

A exclusão, vista como sofrimento de diferentes qualidades recupera o individuo

sem perder o coletivo. Da força ao sujeito, sem retirar responsabilidade do Estado...

é no sujeito que se objetivam as varias formas de exclusão, porém esse sofrimento

não tem gênese nele. Considerar este âmbito possibilita a analise da vivência

particular das questões sociais dominantes em cada época histórica. 

Estudar  exclusão  pelas  emoções  dos  que  a  vivem é  refletir sobre  o  "cuidado”

 que  o  Estado  tem  com  seus  cidadãos.  Elas  são indicadoras do

(des)compromisso com o sofrimento do homem, tanto por  parte  do  aparelho

 estatal  quanto  da  sociedade  civil  e  do  próprio indivíduo.

Sem o questionamento do sofrimento que mutila o cotidiano, a capacidade  de

autonomia  e  a  subjetividade dos  homens, a  política torna-se  mera abstração e

instrumentalização. 
AFETIVIDADE
... Quando  não  é  desconsiderada,  é  olhada  negativamente  como
 obscurecedora,  fonte  de  desordem,  empecilho  para  a aprendizagem, fenômeno
incontrolável e depreciado do ponto de vista moral. Esses atributos, que se
cristalizaram em tomo da afetividade ao longo   da   história   das   Ciências  
Humanas, recomendam-na como conceito desestabilizador da análise psicossocial
da exclusão. Uma vez olhada  positivamente,  a afetividade nega  a  neutralidade
 da  reflexões científicas sobre desigualdade social, permitindo que, sem que se
perca o  rigor teórico-metodológico, mantenha-se  viva  a  capacidade  de  se
indignar diante da pobreza. 

Perguntar por sofrimento e por felicidade no estudo da exclusão é superar a


concepção de que a preocupação do pobre é unicamente a sobrevivência e que não
tem justificativa trabalhar a emoção quando se passa fome. Epistemologicamente,
significa colocar no centro das reflexões sobre exclusão a ideia de humanidade e
como tematica o sujeito e a maneira como se relaciona com o social (familia,
trabalho, lazer e sociedade), de forma que, ao falar de exclusão, fala-se de desejo,
temporalidade e afetividade, ao mesmo tempo que se fala de poder, de economia e
de direitos sociais. 
Conhecer os Sofrimentos a que estamos sujeitos...
AFETIVIDADE

Psicanálise do vínculo social:

entre o desejo de
reconhecimento (visibilidade)
e o reconhecimento do desejo.

É o indivíduo que sofre, porém


esse sofrimento não tem
gênese nele, e sim em
intersubjetividades
socialmente delineadas.
SOFRIMENTO ÉTICO-POLITICO

Cabe   ao campo da Saúde  colaborar   com   o   avanço   desse conhecimento, pois
afinal de contas esta é sua área de competência, o que  não  significa
 simplesmente  introduzir  a  emoção  como  tema  de pesquisa  e  de  reflexão.
 Dado  o  papel  que  tem  sido  atribuído  a  esse conceito,  que  é  o  de
personagem  coadjuvante  e  má,  é preciso  mudar  sua  perspectiva analítica. Daí
a opção em refletir a exclusão a partir da afetividade, e  de  qualificá-la de  “ético-
política”  para  marcar  um enfoque epistemológico e ontológico.

Heller, Espinosa e Vigotsky : concebem a emoção positivamente, como constitutiva


do pensamento e da ação, coletivos ou individuais, bons ou ruins, e como processo
imanente que se constitui e se atualiza com os ingredientes fornecidos pelas
diferentes manifestações histo ricas. Portanto, um fenômeno objetivo e subjetivo,
que constitui a matéria prima básica da condição humana. Ao  introduzir  as
emoções  como  questão ético-política, obrigam-se  as  ciências  humanas  em
 geral  e  a  Psicologia  Social  em especial,  a  incorporar  o  corpo  do  sujeito,  até
 então  desencarnado  e abstrato, nas análises econômicas e políticas.
SOFRIMENTO ÉTICO-POLITICO

Espinosa  apresenta  um  sistema  de  idéias  onde  o psicológico, o social e o


político se entrelaçam e se revertem uns nos outros, sendo todos eles fenômenos
éticos e da ordem do valor:

"Por afetos, entendo as afecções do corpo pelas quais a potência de agir desse
Corpo é aumentada ou diminuída" (Espinosa,1957:144) Corpo é matéria biológica,
emocional e social, tanto que sua morte não é só biológica, falência dos órgãos,
mas social e ética. Morre-se de vergonha, o que significa morrer por decreto da
comunidade.

O corpo é imaginante e memorioso (Espinosa, 1957, livro II), de forma que sua
afecções atuais são originadas na interação de nosso corpo com outros corpos,
no passado e no presente e estão presentes na mente na forma de imagens,
emoções e idéias.
SOFRIMENTO ÉTICO-POLITICO

Heller:  reflexões  sobre  o  psicológico  como  ético  e  sobre  a emoção   e   as  


necessidades   como   fenômenos   ideológicos   e orientativos   da   vida   em  
sociedade. 

Na defesa dessas teses, Heller distingue dor de sofrimento (1979:  313-315).  Dor
 é  próprio  da  vida  humana,  um  aspecto inevitável.  É  algo  que  emana  do
 indivíduo,  das  afecções  do  seu corpo  nos  encontros  com  outros  corpos  e
 diz  respeito  à  sua capacidade de sentir, que para ela equivale a estar implicado
em algo ou, como analisa Espinosa, de ser afetado. O sofrimento é a dor mediada
pelas injustiças sociais. É o sofrimento  de  estar  submetida  à  fome  e  à
 opressão,  e  pode  não ser  sentido  como  dor  por  todos.  É  experimentado
 como  dor,  na opinião de Heller, apenas por quem vive a situação de exclusão...
A cada dia que vivo, mais me
convenço de que o
desperdício da vida está no
amor que não damos, nas
forças que não usamos, na
prudência egoísta que nada
arrisca, e que, esquivando-se
do sofrimento, perdemos
também a felicidade. 
A dor é inevitável. O
sofrimento é opcional.
SOFRIMENTO ÉTICO-POLITICO

Seu texto sobre o poder da


vergonha (1985) é um
exemplo de análise política
da exclusão através do
conceito de afetividade. A
vergonha e a culpa são
apresentadas como
sentimentos morais
generativos e
ideologizados com a
função de manter a ordem
social.
SOFRIMENTO ÉTICO-POLITICO
SOFRIMENTO ÉTICO-POLITICO

Por  serem  sociais,  as emoções  são  fenômenos  históricos, cujo conteúdo  e

qualidade  estão  sempre em  constituição.  Cada momento   histórico   prioriza  

uma ou   mais   emoções   como estratégia  de  controle  e coerção social. Os

sentimentos tb retratam a vivência cotidiana das questões macrossociais

dominantes.

  No século  passado, predominou a vergonha do olhar do outro, que exigia a

expiação pública.  E Hoje? 


SOFRIMENTO ÉTICO-POLITICO

No seu livro Pensamento e Linguagem (1993), Vigotsky enfatiza que o cérebro reage às


ligações semânticas e não apenas às neurológicas. Pode-se inferir desta afirmação que
as substâncias responsáveis pela funções do cérebro que promovem a emoção e
harmonia dos movimentos, as quais, hoje, são denominadas de neurotransmissores,
como a serotonina e a dopamina, são da ordem do simbólico. O significado penetra na
comunicação neurobiologica levando o homem a agir, não em resposta a uma estrutura
e organização biológica, mas a uma idéia.

É preciso destacar que na concepção de Vigotsky, o significado é fenômeno


intersubjetivo, portanto, social e histórico, que se reverte em ideologia e funções
psicológicas distintas.
SOFRIMENTO ÉTICO-POLITICO

Cada emoção contém uma multiplicidade de sentidos (positivos e negativos), os


quais para serem compreendidos, precisam ser inseridos na totalidade psicos-
social de cada indivíduo.

ex.: o MEDO.

A perda da confiança em si como sujeito potente. Um motivo essencialmente


ético, que diz respeito à cidadania, o que o qualifica como um sofrimentoético-
político.
SOFRIMENTO ÉTICO-POLITICO

Além  desses  autores, inúmeros  fatos  históricos  podem  ser  citados  para

 justificar  a escolha   do   conceito   de   sofrimento   ético-político,   como   o

“banzo”,  doença  misteriosa  que  matava  o  negro  escravo brasileiro.

Ela  é  emblemática  deste  conceito,  por  indicar  que  um sofrimento  psicossocial
 pode  redundar  em  morte  biológica.  O banzo é gerado pela tristeza advinda do

sentimento de estar só e humilhado,  por  causa  de  ações  legitimadas  pela

 política  deexploração   e   dominação econômica internacional   daquele momento


 histórico  (Sawaia,  1994).  Este  mesmo  sofrimento, mais recentemente,  é

 responsável  pela  elevação  do  número  de suicídio  entre  jovens  índios  de

 diferentes  tribos  brasileiras.  

A literatura  é  fonte  de  dramáticos  exemplos  de  sofrimento  ético-político,  e  de

 como  ele  varia  historicamente,  de  acordo  com  a mediação   príorizada   no  

processo   de   exclusão   social:   raça, gênero, idade e classe


SOFRIMENTO ÉTICO-POLITICO
SOFRIMENTO ÉTICO-POLITICO

Os principais fatores de risco para o suicídio foram pobreza, fatores históricos e culturais
( o processo de confinamento compulsório ao qual o grupo vem sendo submetido, com
superpopulação das aldeias, imposição de crenças, valores e lideranças estranhos a sua
cultura), baixos indicadores de bem estar, desintegração das famílias, vulnerabilidade
social e falta de sentido de vida e futuro.
SOFRIMENTO ÉTICO-POLITICO

Conhecer o sofrimento ético- político é analisar as formas sutis de espoliação


humana por trás da aparência de integração social, e, portanto, entender a
exclusão e a inclusão como as duas faces modernas de velhos e dramáticos
problemas, como desdobramentos da questão social.
SOFRIMENTO ÉTICO-POLITICO

Dororidade
Termo criado por Vilma Piedade
para descrever a união e a
aliança entre mulheres negras,
baseada na empatia gerada pelo
reconhecimento das suas dores
comuns.
SOFRIMENTO ÉTICO-POLITICO

Em   síntese,   o sofrimento   ético-político   abrange   as múltiplas  afecções do  corpo

 e  da alma  que  mutilam  a  vida  de diferentes formas. Qualifica-se pela maneira

como sou tratada e trato  o  outro  na  intersubjetividade,  face  a  face  ou anônima,

cuja  dinâmica,  conteúdo  e  qualidade  são  determinados  pela organização social.

Portanto, o sofrimento ético-político retrata a vivência cotidiana das  questões  sociais

 dominantes  em  cada época histórica, especialmente a dor que surge da situação

social de  ser  tratado  como  inferior,  subalterno,  sem  valor,  apêndice inútil  da

 sociedade.  Ele  revela  a  tonalidade  ética  da  vivência cotidiana da    desigualdade  

 social,    da    negação    imposta socialmente às possibilidades   da   maioria  

apropriar-se   da   produção   material, cultural e social de sua época, de se movimentar


no espaço público e de expressar desejo e afeto (Sawaia,1995).
MINEIRINHO - CLARICE LISPECTOR

O CONTRAPONTO: FELICIDADE PÚBLICA

Todos sentem alegria e prazer com a conquista das reivindicações,


mas nem todos sentem a felicidade pública. Esta é experienciada
apenas pelos que sentem a vitória como conquista da cidadania e da
emancipação de si e do outro, e não apenas de bens materiais
circunscritos. A felicidade ético-política é sentida quando se
ultrapassa a prática do individualismo e do corporativismo para abrir-
se à humanidade!
A POTÊNCIA DE AÇÃO COMO OBJETIVO DA PRÁXIS DA
PSICOLOGIA SOCIAL FRENTE À DIALÉTICA
EXCLUSÃO/INCLUSÃO

Potencializar significa atuar, ao mesmo tempo, na configuração da ação,


significado e emoção, coletivas e individuais. Ele realça o papel positivo das
emoções na educação e na conscientização, que deixa de ser fonte de
desordem e passa a ser vista como fator constitutivo do pensar e agir racionais.

Potencializar pressupõe o desenvolvimento de valores éticos na forma de


sentimentos, desejos e necessidades, para superar o sofrimento ético-político.

Associar duas estratégias de enfrentamento da exclusão: uma de ordem


material e jurídica e outra de ordem afetiva e intersubjetiva.
INTERSECCIONALIDADE

Interseccionalidade (ou teoria interseccional) é o estudo da sobreposição ou

intersecção de identidades sociais e sistemas relacionados de opressão, dominação

ou discriminação. A teoria sugere e procura examinar como diferentes categorias

biológicas, sociais e culturais, tais como gênero, raça, classe, capacidade, orientação

sexual, religião, casta, idade e outros eixos de identidade interagem em níveis

múltiplos e muitas vezes simultâneos. Este quadro pode ser usado para entender

como a injustiça e a desigualdade social sistêmica ocorrem em uma base

multidimensional.

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