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CASA GRANDE &

SENZALA
GILBERTO FREYRE
Fernando Carlucci
CASA GRANDE
& SENZALA
Todo brasileiro, mesmo o alvo de cabelo louro, traz na alma,
quando não na alma e no corpo - há muita gente de jenipapo ou
mancha mongólica pelo Brasil - a sombra, ou pelo menos a pinta,
do indígena ou do negro. No litoral, do Maranhão ao Rio Grande
do Sul e em Minas Gerais sente-se - principalmente do negro - a
influência direta, ou vaga e remota, do africano.

Na ternura, na mímica excessiva, no catolicismo em que se deliciam


nossos sentidos, na música, no andar, na fala. no canto de ninar
menino pequeno, em tudo que é expressão sincera de vida.
Trazemos quase todos a marca da influência negra. Da escrava ou
sinhama que nos embalou. Que nos deu de mamar. Que nos deu de
comer, ela própria amolengando na mão o bolão de comida. Da
negra velha que nos contou as primeiras histórias de bicho e de mal-
assombrado. Da mulata que nos tirou o primeiro bicho-de-pé de uma
coceira tão boa. Da que nos iniciou no amor físico e nos transmitiu,
ao ranger da cama-de-vento, a primeira sensação completa de
homem. Do moleque que foi o nosso primeiro companheiro de
brinquedo.
QUAL A TESE
CENTRAL DE
CASA GRANDE &
SENZALA?
A IDENTIDADE
BRASILEIRA
O Brasil é um país miscigenado cultural e
biologicamente.
Anti-Racialismo – Oposição ao Evolucionismo Social de
Nina Rodrigues
QUAL A METODOLOGIA
EMPREGADA?
Objeto de Análise: Cotidiano da família patriarcal

Eixos:

Alimentação

Sexualidade

Arquitetura

Análise das contribuições culturais dos diferentes grupos étnicos.


QUEM FORAM OS
PORTUGUESES?
OS PORTUGUESES
“Formou-se na América tropical uma sociedade agrária
Histórico de ida às Índias na estrutura, escravocrata na técnica de exploração
A e conquista da costa
africana
econômica, híbrida de índio - e mais tarde de negro -
na composição. Sociedade que se desenvolveria
menos pela consciência de raça, quase nenhuma no
B Espírito Cruzadista português cosmopolita e plástico, do que pelo
exclusivismo religioso desdobrado em sistema de
profilaxia social e política.” Casa Grande & Senzala,
Capítulo 1

O QUE É Ausência de discursos racialistas – Ibéricos e

NOTÁVEL? Africanos do Norte se parecem


Cristianismo como aglutinador social
AINDA SOBRE OS
PORTUGUESES
A singular predisposição do português para a colonização híbrida e escravocrata dos
trópicos, explica-a em grande parte o seu passado étnico, ou antes, cultural, de povo
indefinido entre a Europa e a África. Nem intransigentemente de uma nem de outra,
mas das duas. A influência africana fervendo sob a européia e dando um acre
requeime à vida sexual, à alimentação, à religião; o sangue mouro ou negro
correndo por uma grande população brancarana quando não predominando em
regiões ainda hoje de gente escura; o ar da África, um ar quente, oleoso, amolecendo
nas instituições e nas formas de cultura as durezas germânicas; corrompendo a rigidez
moral e doutrinária da Igreja medieval; tirando os ossos ao cristianismo, ao feudalismo, à
arquitetura gótica, à disciplina canônica, ao direito visigótico, ao latim, ao próprio caráter
do povo. A Europa reinando, mas sem governar; governando antes a África

CONCLUSÃO: O PORTUGUES DIFERE DO EUROPEU – O PORTUGUÊS É BARROCO. CONSTRASTANTE E SEM


FORMA.
QUEM FORAM
OS INDÍGENAS?
OS INDÍGENAS
“De modo que não é o encontro de uma cultura exuberante de
maturidade com outra já adolescente, que aqui se verifica; a
colonização europeia vem surpreender nesta parte da América
quase que bandos de crianças grandes; uma cultura verde e
incipiente; ainda na primeira dentição; sem os ossos nem o
desenvolvimento nem a resistência das grandes semi-
civilizações americanas.” Casa Grande & Senzala, Cap.2

O caju A mandioca

O uso de fibras na
confecção de cestos A arte em cerâmica
A RELAÇÃO ENTRE
BRANCOS E NEGROS
O português era menos cruel, segundo Freire

Ausência de mulheres em quantidade suficiente nos trópicos

O menos cruel nas relações com os escravos. É verdade que, em grande parte,
pela impossibilidade de constituir-se em aristocracia européia nos trópicos:
escasseava-lhe para tanto o capital, senão em homens, em mulheres brancas.
Mas independente da falta ou escassez de mulher branca o português sempre
pendeu para o contato voluptuoso com mulher exótica. Para o cruzamento e
miscigenação. Tendência que parece resultar da plasticidade social, maior no
português que em qualquer outro colonizador europeu.
COMO ERA A
DINÂMICA
SOCIAL?
QUAIS ERAM OS PERSONAGENS
SOCIAIS?

Senhor Patriarca
Filhas
Senhora
Sinhama – Ama de leite
Mucama – Moça da intimidade
Mulata Fácil – Escrava Sexual
Moleques de Brincar
SOBRE A COMIDA
No caso dos negros, comparados com os indígenas do
Brasil, pode-se talvez atribuir parte de sua superioridade
de eficiência econômica e eugênica ao regime alimentar
mais equilibrado e rico que o dos outros, povos ainda
nômades, sem agricultura regular nem criação de gado.
Devendo-se acrescentar que vários dos mais
característicos valores nutritivos dos negros - pelo menos
os vegetais - acompanharam-nos à América, concorrendo
para o processo como que de africanização aqui sofrido
por brancos e indígenas; e amaciando para os africanos os
efeitos perturbadores da transplantação. Uma vez no
Brasil, os negros tornaram-se, em certo sentido,
verdadeiros donos da terra: dominaram a cozinha.
Conservaram em grande parte sua dieta.

PETER FRY – SOUL FOOD


COMIDA NACIONAL X COMIDA NEGRA
SOBRE A
SEXUALIDADE
É verdade que as condições sociais do desenvolvimento do
menino nos antigos engenhos de açúcar do Brasil, como nas
plantações ante-bellum da Virgínia e das Carolinas - do
menino sempre rodeado de negra ou mulata fácil - talvez
expliquem por si sós, aquela predileção. Conhecem-se casos
no Brasil não só de predileção, mas de exclusivismo: homens
brancos que só são felizes com negra. De rapaz de
importante família rural de Pernambuco conta a tradição que
foi impossível aos pais promoverem-lhe o casamento com
primas ou outras moças brancas de famílias igualmente
ilustres. Só queria saber de molecas. Casos de exclusivismo
ou fixação. Mórbidos, portanto, mas através dos quais se
sente a sombra do escravo negro sobre a vida sexual e de
família do brasileiro.
DEMOCRACIA
RACIAL?

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