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UNIFENAS - Faculdade de Psicologia - Campus de Varginha

Disciplina: Psicomotricidade
Docente: Flaviana Néias Bueno
TRANSTORNOS
PSICOMOTORES
“O desenvolvimento do ato envolve um
funcionamento fisiológico, porém o ato não é
somente uma soma de contrações musculares,
também o desejo e
encontro.”
Ajuriaguerra e Bonvalot-Soubiran
É muito importante diferenciar o
desenvolvimento psicomotor e a
psicomotricidade.
Ao falar de Psicomotricidade falamos de uma
disciplina que toma como objeto de estudo o corpo e
suas manifestações.

Ao falar de Desenvolvimento Psicomotor


falamos de um processo em que cada indivíduo é
marcado por um estilo motor próprio de cada sujeito
e que muda em situações diferentes.
Como disse Sara Paín, “ o Corpo é testado,
equivoca-se, se corrige, aprende.”

A psicomotricidade trata da construção do


corpo nas suas três dimensões: motora,
emocional e cognitiva.
DIMENSÃO MOTORA:

O movimento torna-se instrumental e


possibilita a integração das diferentes partes do
corpo em um todo que denominamos esquema
corporal. Esta construção motora está
submetida a maturação neurológica.
Nesta dimensão estão:
• A evolução da tonicidade muscular.
• O desenvolvimento das possibilidades de
equilíbrio.
• O desenvolvimento do controle e dissociação
de movimentos.
• O desenvolvimento da eficiência motora
(velocidade e precisão)
• A definição e afirmação da lateralidade.
DIMENSÃO EMOCIONAL:

A emoção possui uma conexão com o


organismo, com as respostas primárias do
organismo frente ao meio.
Como disse Wallon: “Todos os efeitos que
estão contidos na emoção têm um ponto de
partida periférica ou visceral.”
DIMENSÃO COGNITIVA:

Para realizar um movimento é necessário


dominar as relações espaciais, conhecer o corpo
por meio das experiências sensório-motoras e
perceptivo-motoras.
Uma alteração no desenvolvimento que
pertença a uma destas dimensões não é recuperada
somente por meio de exercícios dirigidos para
compensar funções não desenvolvidas, mas também
deve oferecer um espaço e tempo para que a criança
coloque em jogo suas capacidades de elaboração e
resolução de dificuldades, recuperando o prazer e o
poder do movimento por meio de brincadeiras e
ações diferentes.
Segundo o CID 10, no indicador F 82, são
definidos os transtornos específicos do
desenvolvimento psicomotor.

“Trata-se de um transtorno cuja característica


principal é um atraso no movimento da coordenação
dos movimentos, que não pode ser explicada por um
atraso intelectual geral ou por um transtorno
neurológico específico, congênito ou adquirido.”
Características Gerais
dos Transtornos Psicomotores

 Os transtornos psicomotores não correspondem


a uma lesão do sistema nervoso central como as
síndromes neurológicas.

 São mais ou menos automáticos . Não intervêm


movimentos voluntários.
 Unem o somático com o afetivo para originar um
comportamento final comum e por isso não têm as
características das patologias orgânicas concretas.

 São variáveis na sua


expressão, já que num
mesmo indivíduo estarão relacionados com a
situação na qual se
encontre, tanto pessoal
como socialmente.
Em todo transtorno
psicomotor existe uma
perturbação do esquema
corporal, do tônus muscular
e da imagem corporal, o
que determina por sua vez
confusões espaciais (por exemplo, lateralidade) e
rítmicas (em relação aos movimentos e as às
coordenações da criança).
Os transtornos psicomotores são visíveis, o
que faz com que a criança sinta-se diferente de
outras crianças. Geralmente são escolhidos por
último nas brincadeiras
em equipes, não são
incluídos nos jogos
corporais.
Transtornos psicomotores que podem ser
observados:

-Torpor motriz
-Dispraxia
-Transtornos de lateralização
-Disgrafia
-Instabilidade motora
-Inibição psicomotora
TORPOR MOTRIZ:

É a imperfeição habitual e contínua dos


movimentos da vida cotidiana. Dupré o chamou
de debilidade motora.
O torpor motriz inclui:
a. Torpor dos movimentos voluntários é
caracterizada por gestos grosseiros, travados e
caminhar pouco harmonioso. A criança mostra
uma atividade postural discordante

b. Sincinesias são movimentos de caráter


involuntário que são difusos e associativos.
Envolvem grupos musculares que não estão
envolvidos em determinado movimento.
c. Paratonia é o termo utilizado para falar da
impossibilidade extrema de relaxar-se
voluntariamente, ou seja, que não permite deixar
os músculos em repouso.

IMPORTANTE: A debilidade motora não pode ser


considerada patológica nos primeiros anos de vida da
criança, já que faz parte da evolução.
DISPRAXIA:

Caracterizam-se por perturbações na


organização do esquema corporal e na
representação temporo-espacial. No plano
clínico trata-se de crianças que são incapazes de
executar determinadas sequencias gestuais, ou
que as executam com extrema lentidão.
Ao executar certos movimentos
especializados como vestir-se, abotoar a roupa,
amarrar os cadarços dos sapatos, ao utilizar os
talheres à mesa ou utilizar o lápis
adequadamente para escrever, etc., têm muita
dificuldade de executar com sucesso estas
praxias e isto causa uma dependência da criança
com seus maiores.
Na aprendizagem escolar as dispraxias
afetam a escrita, a organização do trabalho
gráfico.
A criança com dispraxia que apresenta
dificuldades motoras apresentam atitudes
infantis, inibição nos contatos, em alguns casos é
alvo de zombarias e motivo de riso dos amigos.
TRANSTORNOS DE LATERALIZAÇÃO:

Trata-se de um
transtorno que
compromete a
construção do corpo,
e assim como
também do esquema
e imagem corporal.
No princípio, a
criança diferencia
esquerda e direita sobre
seu próprio corpo. Mais
adiante projeta esta
referência sobre o
mundo e sobre os
demais e, portanto,
organizando no espaço.
Outro aspecto fundamental é a
aprendizagem do traço gráfico que exige o
domínio específico
de uma só mão e
não das duas ao
mesmo tempo.
Quando a criança encontra-se na etapa de
garatuja, ainda está tentando definir sua
lateralidade, mas quando escreve, está
afirmando-a.
O traço gráfico,
lateraliza,
define e afirma.
As crianças com dificuldades no seu processo
de lateralização podem apresentar:

- Têm dificuldades para captar as diferentes


variações na direção, confundindo:

b-d p-q
m-w-3
n–u t–f–j
- Com frequência leem da direita para a esquerda
confundindo, por exemplo:
Leem: SALE ao invés de ELAS

- Em crianças maiores
encontramos trocas de
lugar entre consoantes.
- Uma vez estabelecida a leitura das esquerda para
direita podem apresentar confusões nas somas.

- Apesar de haver superado a confusão das letras a


criança pode continuar apresentando dificuldades
na leitura oral e em operações matemáticas.
DISGRAFIA:

Como disse Camels, o ato de escrever une


literalmente o corpo à palavra.
Segundo Ajuriaguerra: “Será considerada
disgráfica toda criança cuja a escrita seja defeituosa,
quando ela não tiver um importante déficit
neurológico ou intelectual que justifique. Crianças
intelectualmente normais escrevem devagar e de
forma ilegível o que atrasa seu progresso escolar.”
A disgrafia, segundo Camels, vem a ser uma
dispraxia especializada e funciona com um sensor
das perturbações nas construções do corpo.

Insistir em corrigir a letra, esquecendo-se da


problemática corporal que ela expressa não faz
mais que fixar o sintoma.
INSTABILIDADE PSICOMOTORA:

São crianças que manifestam excessiva


necessidade de movimentação, não param quietas,
têm dificuldade para
relaxar, mostram uma
imagem de inquietação e
de instabilidade do corpo.
Por seu alto grau de atividade, a criança tem
dificuldades para focalizar a atenção e também
com o sono.

Muitas destas
crianças são medicadas
com remédios como
anfetaminas e
psicotônicos.
INIBIÇÃO:

A inibição psicomotora é um termo criado para


designar a falta ou inibição do movimento, o que não
é esperado na criança, já que ela utiliza a atividade
motora como via de exploração e aprendizagem do
meio e como forma de construção do seu próprio
corpo.
Esteban Levin disse que “nas crianças que
possuem uma inibição psicomotora, o corpo e os
movimentos estão comprometidos e limitados pela
relação do Outro, de tal forma que o corpo não lhes
serve para explorar o mundo, nem para relacionar-se
com os outros.”
Consideração Final

O corpo e os gestos são fundamentais para a


formação geral do ser humano. Desde que nasce, a
criança usa a linguagem corporal para conhecer a si
mesma, para relacionar-se com seus pais, para
movimentar-se e descobrir o mundo. Essas descobertas
feitas com o corpo deixam marcas, são aprendizados
efetivos, incorporados. Esteban Levin

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