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EDUCAÇÃO PSICOMOTORA, NECESSIDADES ESPECIAIS

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Sumário
NOSSA HISTÓRIA ..................................................................................................... 2

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3

DISTÚRBIOS E ALTERAÇÕES PSICOMOTORAS ................................................... 5

EDUCAÇÃO PSICOMOTORA.................................................................................. 11

INCLUSÃO E PSICOMOTRICIDADE ....................................................................... 14

PORTADORES DE DEFICIÊNCIA INTELECTUAL ................................................. 16

APLICAÇÃO DA BPM AO JOVEM ADULTO PORTADOR DE NECESSIDADES


ESPECIAIS ............................................................................................................... 21

TRABALHO PSICOMOTOR COM PORTADORES DE PARALISIA CEREBRAL .. 25

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 29

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários,


em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo
serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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Introdução

Enquanto ciência, a Psicomotricidade está relacionada ao processo de


maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas,
sendo, deste modo, sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o
intelecto e o afeto.

Nunca é demais frisarmos tais entendimentos, uma vez que nosso olhar se dá
em torno dos benefícios oferecidos pelo trabalho psicomotor, certo?

Serão dois cadernos para trabalharmos a educação e reeducação psicomotora


e reflexões sobre sua aplicação em portadores de necessidades especiais. Nesse
primeiro momento veremos alterações e distúrbios psicomotores que levam à
educação/reeducação psicomotora. No próximo caderno veremos uma bateria de
exames e atividades para a educação/reeducação psicomotora e aplicação em outros
portadores de necessidades especiais.

A educação psicomotora surge com Pierre Vayer e Le Boulch. Para eles, a


educação psicomotora é uma ação pedagógica e psicológica que utiliza os meios da
educação física com o fim de normalizar ou melhorar o comportamento da criança, ou
seja, a educação física era um meio de se trabalhar a psicomotricidade no contexto
educacional com o intuito, a priori, de promover na criança inadaptada uma educação
motriz (coordenação, equilíbrio etc.) e psicomotriz (memória e consciência).

Le Boulch (1983) propõe uma educação baseada no desenvolvimento de


qualidades dos indivíduos, proporcionando uma relação melhor com seu meio, a
psicocinética. Atualmente, a educação psicomotora vem sendo enfatizada em
instituições escolares e pré-escolares, clubes, espaços de recreação etc. Através de
variadas estratégias, os trabalhos multiplicam-se promovendo uma revisão da noção
de infância e da práxis educativa.

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Figura 1 - Possibilidades da educação psicomotora

A Educação Psicomotora pode ser entendida como uma metodologia de


ensino que instrumentaliza o movimento humano enquanto meio pedagógico para
favorecer o desenvolvimento da criança.

É através da Educação Psicomotora que a criança descobre suas


possibilidades cinestésicas, expressando-se com seu corpo e em seu corpo, com os
movimentos iguais aos que fazem com a escrita e a leitura.

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Distúrbios e alterações psicomotoras

É acertado dizermos que nas relações psicomotoras podemos observar um


estado de vontade do ser humano, o que é correspondido pela execução dos
movimentos, os quais podem ser voluntários ou involuntários, ainda subdivididos em
inatos e adquiridos, chamados de automatismos elementares.

Os inatos são aqueles que nascem conosco e são representados pelos reflexos,
que são respostas caracterizadas pela invariabilidade qualitativa de sua produção e
execução. Estes reflexos podem ser agonistas, antagonistas ou deflexos (alternantes)
que são mais hierarquizados que os reflexos puros, permitindo certo grau de
variabilidade, conforme a adaptabilidade individual. Refere-se a necessidades
orgânicas. Influindo nestas respostas temos os instintos, responsável pela auto
conservação individual. No homem ele é misturado com o afeto produzindo tendências
ou inclinações (LOUREIRO FILHO, 2002).

Os automatismos adquiridos são os reflexos condicionados, que ocorrem


devido a aprendizagem e nos forma hábitos, que, quando bons, nos poupam tempo e
esforço, porém se exagerados, eliminam nossa criatividade e nos deixam embotados.
Os hábitos podem ser passivos (adaptação biológica ao seu ecossistema) ou ativos
(comer, andar, tocar instrumentos, etc..). Os reflexos condicionados são produzidos
desde as primeiras semanas de vida. Esses reflexos condicionados geralmente
começam como uma atividade voluntária e depois, por já estarem aprendidos, são
mecanizados (LOUREIRO FILHO, 2002).

Antes de vermos os quadros nos quais podemos encontrar alterações de


psicomotricidade, é importante sabermos que qualquer distúrbio psicomotor tem
ligação com problemas que envolvem o indivíduo em sua totalidade.

Distúrbios psicomotores
Distúrbios psicomotores e afetivos estão intimamente associados, razão
porque o diagnóstico não é fácil de ser feito. Os sintomas mais comuns desses

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distúrbios estão associados à área do ritmo, da atenção, do comportamento, esquema
corporal, orientação espacial e temporal, lateralidade e retardos.

Esses distúrbios podem ser classificados em quatro grupos, segundo Grünspun


(1999 apud JOSÉ; COELHO, 2002):

 Instabilidade psicomotora
É o tipo mais complexo e causa uma série de transtornos pelas reações que o
portador apresenta, com o predomínio de uma atividade muscular contínua e
incessante. Essas crianças revelam:

a) Instabilidade emocional e intelectual;

b) Falta de atenção e concentração;

c) Atividade muscular contínua (não terminam tarefas iniciadas);

d) Falta de coordenação geral e coordenação motora fina;

e) Hiperatividade e equilíbrio prejudicado;

f) Deficiência na formulação de conceitos e no processo de percepção


(discriminação de tamanho, figura-fundo, orientação espaço-temporal);

g) Alteração da palavra e da comunicação (atraso na linguagem e distúrbios da


palavra);

h) Alterações emocionais (são impulsivas, explosivas, sensíveis, frustram-se com


facilidade, destruidoras);

i) Alterações do sono (terror noturno, movimentos enquanto dormem);

j) Alterações no processo do pensamento abstrato;

k) Dificuldades de escolaridade (leitura, escrita, aritmética, lentidão nas tarefas,


dificuldade de copiar da lousa, entre outras manifestações.

 Debilidade psicomotora
A debilidade psicomotora é caracterizada por PARATONIA, ou seja, limitação
nas quatro extremidades do corpo (ou apenas em duas) – “deselegância” ao correr –

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limitações e rigidez nas mãos e nas pernas; e SINCINESIA – Participação de
músculos em movimentos aos quais eles não são necessários – descontinuidade de
gestos; imprecisão nos movimentos dos braços e das pernas; dificuldade de realizar
os movimentos finos dos dedos, etc.

 Inibição psicomotora
Além das características da DEBILIDADE PSICOMOTORA, neste caso a
ansiedade é presença constante – a criança apresenta sobrancelha franzida; cabeça
baixa; problemas de coordenação motora; distúrbios de conduta, dentre outros.

 Lateralidade cruzada
A maioria dos autores acredita que existe no cérebro um hemisfério
predominante responsável pela lateralidade do indivíduo – desta maneira, de acordo
com a ordem enviada pelo cérebro dominante, teremos o destro ou o canhoto. No
entanto, segundo José e Coelho (2002), além da dominância da mão, existe também
a do pé, do olho, do ouvido.

Quando essas dominâncias não se apresentam do mesmo lado diz-se que o


indivíduo tem lateralidade cruzada – os distúrbios psicomotores são evidentes e
resultam em deformação do esquema corporal. São algumas das formas mais comuns
desse distúrbio: mão direita dominante X olho esquerdo dominante; mão direita
dominante X pé esquerdo dominante e o inverso. Geralmente essas crianças
apresentam alto índice de fadiga; quedas frequentes; coordenação pobre; atenção
instável; problemas de linguagem (dislalias, língua enrolada…).

 Imperícias
É um distúrbio de menor gravidade no qual a criança apresenta inteligência
normal, apesar de uma certa frustração pela dificuldade de realizar certas tarefas que
exijam apurada habilidade manual. Apresentam dificuldades na coordenação motora

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fina; quebra constante de objetos; letra irregular; movimentos rígidos; alto índice de
fadiga (GRÜNSPUN, 1999 apud JOSÉ; COELHO, 2002).

Quadros nos quais podem surgir alterações psicomotoras

Pois bem, quando há alterações de psicomotricidade, podemos encontrar os


quadros abaixo:

 Estupor (ou acinesia)


É a perda da atividade espontânea englobando simultaneamente, a fala, a
mímica, os gestos, a marcha etc... Vem e vai bruscamente em crises de agitação
psicomotora. É o caso do estupor catatônico (nos esquizofrênicos) e o depressivo (na
depressão).

 Agitação e Inibição Psicomotora


São graus de determinado estado psicomotor. Quando há pequeno aumento
ou diminuição dos movimentos são designados como inquietação e lentificação
psicomotoras, respectivamente. Quando são alterações mais acentuadas,
representam a agitação e inibição motora, propriamente ditos. Podem ocorrer
alterações da psicomotricidade em indivíduos normais, como por exemplo, após
experimentar forte tensão emocional ou preocupações que levam a vontade de andar
ou levam a imobilidade. A agitação patológica pode ocorrer com caráter uniforme e
estruturado como na mania, ou desordenadamente e de forma improdutiva como na
catatonia esquizofrênica, epilepsia e psicoses infecciosas e tóxicas (como no delirium
tremens). A inibição ocorre, por exemplo, na depressão, estupor, estados confusionais
e amenciais. Um grau ainda mais elevado de agitação é o furor, que se caracteriza
por uma extrema agitação necessitando intervenção imediata para impedir danos aos
outros ou ao próprio paciente.

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 Maneirismos
Os maneirismos correm em esquizofrênicos, oligofrênicos e histéricos, e são
caracterizados por gestos artificiais, ou linguagem e escrita rebuscada, com uso de
preciosismo verbal, floreados estilísticos e caligráficos, etc.

 Ecopraxia
A Ecopraxia também ocorre em esquizofrênicos, oligofrênicos e histéricos
(principalmente nos primeiros), onde há imitação de um comportamento, sem
propósito (gestos, atitudes etc.). Pode haver ecolalia (sons), ecomimia (mímica) e
ecografia (escrita).

 Estereotipias
As estereotipias são as características do catatonismo onde há repetição
automática de movimentos, frases e palavras (verbigeração), ou busca de posições e
atitudes, sem nenhum propósito. As estereotipias cinéticas são confundidas com os
tiques nervosos, porém esses são elementares, de fundo neurótico. É mais difícil de
distingui-las dos cerimoniais compulsivos, porém estes são atos complicados que
servem para aliviar a tensão nervosa da pessoa que a realiza. Alguns acham que as
estereotipias cinéticas são atos que eram compreensíveis e motivados, que perderam
sua causa.

 Negativismo
Negativismo é a oposição ativa ou passiva às solicitações externas. Na passiva
a pessoa simplesmente deixa de fazer o que se pede sendo característico o mutismo
e a sitiofobia (medo de se comprometer, de ser internado, de ser envenenado). Na
ativa, a pessoa faz tudo ao contrário do que se pediu, e às vezes quando desistimos,
eles o fazem sendo isso a “reação de último momento”. O negativismo verbal pode se
apresentar na forma das pararespostas (ou seja, o paciente entende a pergunta do
entrevistador, porém não responde algo compatível com a pergunta, e sim algo “ao

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lado”, ou próximo). O negativismo faz parte da série catatônica e representa ação
imotivada e não deliberada.

 Obediência automática
Obediência Automática que é o oposto ao negativismo, onde o paciente tem
extrema sugestionabilidade e faz tudo o que é mandado. Ocorre na esquizofrenia e
quadros demenciais.

 Catalepsia, Pseudo-Flexibilidade Cérea


Catalepsia, Pseudo-Flexibilidade Cérea ocorre devido a hipertonia do tônus
postural. Ocorre na histeria, esquizofrenia e parkinsonismo. A flexibilidade cérea é a
conservação de uma posição, ocorrendo no parkinsonismo, enquanto que nos
esquizofrênicos e histéricos há pseudo-flexibilidade cérea, devido a influência de
fatores psicogênicos.

 Extravagâncias cinéticas
As extravagâncias cinéticas são comuns da conduta esquizofrênica. Pode ser
descrito como a perda da gracilidade, ou seja, da naturalidade, espontaneidade,
proporcionalidade dos gestos e atitudes; como a rigidez facial (o pregueamento da
testa em “M” é característico da catatonia); paratimias (a mímica não está em
concordância com o pensamento verbalizado); focinho catatônico (protusão
permanente dos lábios); interceptações cinéticas (interrupção brusca de um gesto
apenas esboçado), etc. (LOUREIRO FILHO, 2002).

Por fim, sobre os atos voluntários, também chamados de volitivos, relacionados


e dependentes da inteligência e do afeto, eles acontecem em quatro etapas, sendo as
seguintes:

1. Intenção ou propósito – inclinações e tendência que fazem com que surja


interesse em determinado objeto;

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2. Deliberação – onde ponderamos os motivos (razões intelectuais) e os móveis
(atração ou repulsão, vindas do plano afetivo);

3. Decisão – demarca o começo da ação, inibindo os móveis e motivos vencidos;

4. Execução – há os movimentos físicos (LOUREIRO FILHO, 2002).

Educação Psicomotora

Geralmente a educação psicomotora é dirigida às crianças consideradas


“normais”, atuando como parte integrante da educação básica durante a fase pré-
escolar e escolar.

Inúmeros autores interessam-se pela corrente educativa da Psicomotricidade.


Destacam-se entre eles o professor Jean Le Boulch, que na segunda metade da
década de 1960, buscando o reconhecimento dos valores da educação psicomotora
influenciou na decisão ministerial de incluí-Ia nos cursos primários da França.

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Figura 2 - Educação psicomotora

A Educação Psicomotora vem sendo enfatizada em várias instituições


escolares e em outras que fazem trabalhos relacionados à recreação infantil. Através
de uma série de atividades, principalmente exercícios e jogos, procura promover o
completo desenvolvimento físico, mental, afetivo e social, evitando, segundo Lapierre
e Aucouturier (1988), as desviações, demasiado neuróticas da personalidade.

De acordo com Piaget (1977), a ação psicomotora é considerada como


precursora do pensamento representativo e do desenvolvimento cognitivo. Ele ainda
afirma que a interação da criança em ações motoras, visuais, táteis e auditivas sobre
os objetivos do seu meio é essencial para o desenvolvimento integral. A atividade
sensório-motora é importante para o desenvolvimento de conceitos espaciais e na
habilidade de utilizar termos linguísticos. Contudo o jogo tem papel fundamental para

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o desenvolvimento fisio-motor, devendo ser aproveitado num trabalho integrado com
outras áreas do desenvolvimento. Assim pode-se dizer que o desenvolvimento motor
não acontece pela padronização das ações, mas sim: pela complexidade, diversidade,
variabilidade, constância e consistência dos jogos a serem trabalhados.

Os argumentos usados para justificar a educação psicomotora na educação


colocam em evidência seu papel na prevenção das dificuldades escolares. Mas antes
de tudo deve ser uma experiência ativa de confrontamento com o meio. Portanto os
exercícios corporais e as atividades despertadoras visam especialmente assegurar o
desenvolvimento harmonioso dos componentes corporais, afetivo e intelectual,
objetivando a conquista de uma relativa autonomia. A conscientização e domínio do
corpo, a apropriação do esquema corporal, a coordenação psicomotora, as noções de
tempo-espaço são objetivos importantes que precisam ser trabalhados antes do
aprendizado da escrita e leitura (BORGES; RUBIO, 2013).

Ao profissional que atua no campo da Educação Psicomotora cabe, a partir de


uma busca constante do conhecimento das necessidades e interesses das crianças,
propor experiências que produzam a adequada estimulação e que venham ampliar o
vivido corporal, que é o responsável pelos inúmeros esquemas que serão transferidos
às situações vivenciadas no futuro. Deve-se acrescentar que a falta de adequada
estimulação no decorrer da infância pode produzir inúmeras perturbações
psicomotoras.

Qualquer que seja a experiência proposta e o método adotado, o educador


deverá levar em consideração as funções psicomotoras (coordenações globais, lateral
idade, equilíbrio etc.) que pretende reforçar nas crianças com as quais está
trabalhando.

Mesmo levando em conta que, em qualquer exercício ou atividade proposta,


uma função psicomotora sempre se encontra associada a outras, ele deverá estar
consciente do que, exatamente, está almejando.

O trabalho da educação psicomotora com as crianças deve prever a formação


de base indispensável em seu desenvolvimento motor, afetivo e psicológico, dando
oportunidade para que por meio de jogos, de atividades lúdicas, se conscientize sobre
seu corpo. Através dessas atividades lúdicas a criança desenvolve suas aptidões
perceptivas como meio de ajustamento do comportamento psicomotor (ROSSI, 2011).

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Inclusão e Psicomotricidade

Enquanto a educação socializa e permite conhecer cada etapa do mundo com


finalidade de reunir conhecimento e potenciais de cada um de nós para se tornar um
ser, a inclusão, acesso de pessoas com deficiência à educação e demais espaços
sociais é um direito de todos, portanto, nada mais pertinente do que lançarmos
algumas reflexões acerca dessa relação inclusão/psicomotricidade.

Vamos fazer um recorte no tempo e nos situarmos no período pós Segunda


Guerra Mundial (1945) quando, de fato, aconteceram algumas atitudes positivas em
relação às Pessoas com Deficiências, onde iniciaram-se primeiramente seus
atendimentos em hospitais, programas de reabilitação dirigidos aos lesionados das
guerras como possibilidade para reintegrá-los ao mundo. (RECHINELI; PORTO;
MOREIRA,2008). A importância desses fatos é para que hoje possamos olhar essas
pessoas com outros olhares, dar oportunidades e acreditar no seu desempenho,
potencialidades e habilidades que vai além de suas limitações, seu desenvolvimento
e crescimento na sociedade.

Mas focando na criança, o ato mental se desenvolve a partir do ato motor na


medida em que o ato motor é responsável por propiciar as interações do sujeito com
o meio. A psicomotricidade, com suas contribuições no estudo do homem em
movimento e sua relação consigo, nos proporciona resultados satisfatórios nas
dificuldades apresentadas no processo de ensino aprendizagem, possibilitando a
criança o desenvolvimento motor, afetivo e de relacionamento, além de preparar as
crianças para aprendizagem futuras, favorecendo consideravelmente a alfabetização
e prevenindo distúrbio de aprendizagem. (WALLON apud BESSA, 2011, p.123).

A educação psicomotora deve abarcar todos os alunos, promover a inclusão


de maneira efetiva e sendo a Psicomotricidade uma ciência da saúde e da educação
que independente das diversas escolas, psicológica, condutista, evolutista, genética
etc., ela visa à representação e a expressão motora, através da utilização psíquica e
mental do indivíduo. E é a partir daí que a Psicomotricidade adquire sua especificidade
e autonomia, ao se diferenciar de outras disciplinas trazendo alternativas para as

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pessoas com deficiências, utilizando atividades lúdicas através do corpo de maneira
eficiente e prazerosa, apesar das possíveis limitações e dificuldades.

Sendo educação infantil a primeira experiência de educação escolar vivenciada


pela criança, é de fundamental importância que esse processo educativo esteja
voltado para seu desenvolvimento integral, evidenciando suas características
cognitivas, sócio afetiva e psicomotora.

Figura 3 - Inclusão escolar

O ponto de partida e de chegada de uma prática está na ação e estas se


traduzem na intenção educativa de ampliar a capacidade do aluno em relação a:
expressar-se através de múltiplas linguagens posicionar-se diante da informação,
interagir de forma crítica e ativa com meio físico social.

Busca-se alcançar com a educação psicomotora: a criança brincar com o objeto


e entre si, expressar-se com o corpo, construir-se no tempo e no espaço.

Nas atividades lúdicas extraclasse experiências corporais são vivenciadas


brincadeiras, jogos, danças que exploram lateralidade, agilidade, atenção, memória,
coordenação motora global, equilíbrio e percepção espaço-temporal.

Os resultados obtidos relacionam se as descobertas que as crianças fazem


com seu próprio corpo, do corpo dos outros e do meio que estão inseridos, a

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capacidade de execução de movimento, a construção de novos conceitos prevenindo
assim dificuldades de aprendizagem e preparando os educandos para as etapas
seguintes.

Seja um aluno com deficiência mental, motora, auditiva, visual ou outras, eles
também têm direito à educação motora, devendo ser estimulado de forma adequada
e partindo sempre do princípio básico: a consciência corporal. Para que assim possa
ter todas as oportunidades necessárias que um indivíduo precisa para construir o
conhecimento.

Assim o trabalho da psicomotricidade vai além da motricidade, existindo uma


preocupação maior com os sentimentos da criança, na criação do vínculo afetivo entre
professor e aluno, como também na formação geral (emocional, psicológica, moral e
intelectual) do aluno (SILVA, 2011).

Portadores de deficiência intelectual

Populações com necessidades especiais, neste caso a deficiência intelectual,


são compostas de indivíduos cujas características físicas, mentais e/ou emocionais
interferem no seu desenvolvimento e/ou desempenho ótimos (TRITSCHLER, 2003).

No geral, uma pessoa portadora de uma deficiência, isto é, de uma diminuição


de adaptabilidade provocada por uma perda, de caráter permanente, de certa(s)
capacidade(s), apresenta diferentes características quanto ao desenvolvimento do
seu esquema corporal, da organização espacial, do equilíbrio, da agilidade e da força,
entre outras, que podem ser consideradas, em certos casos, patológicas, isto é,
desenvolvendo-se com particularidades e sequências distintas do desenvolvimento
considerado “normal”, e noutros simplesmente atrasadas, isto é, quando se verifica
uma evolução em tudo semelhante ao desenvolvimento normal, mas defasada em
relação à idade cronológica (GORLA; ARAÚJO; CARMINATO, 2004).

No Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais (DSM-5), a deficiência


intelectual (DI) está inserida no que denominam de transtornos do

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neurodesenvolvimento. Esta condição se caracteriza por déficits em capacidades
mentais genéricas e resulta em prejuízo no funcionamento adaptativo. Como
consequência, há comprometimento na independência pessoal, participação social e
funcionamento acadêmico e profissional.

Do ponto de vista legal, indivíduos com DI devem estar incluídos no ensino


regular e, paralelamente, têm o direito assegurado de participar de atividades
complementares em Salas de Recursos Multifuncionais (SRM). Como regra, estas
devem ter profissionais especializados que saibam lidar não só com as necessidades
dos alunos, mas também que sejam capazes de utilizar procedimentos, equipamentos
e materiais específicos, de modo a complementar ou suplementar as atividades
desenvolvidas na sala regular (BRASIL, 2006).

Nós sabemos há muito tempo que a motricidade é imprescindível para o acesso


aos processos superiores de pensamento. Mediante a ação, o indivíduo se relaciona
com seu ambiente (físico e social) e nesta relação desenvolve, entre outras coisas,
capacidades perceptivas, estruturação espaço temporal, capacidade de simbolização
e regulação da própria ação. Psicomotricidade, então, é essencial no contexto escolar
(RODRIGUES et al, 2018).

Como indivíduos com DI apresentam déficit concomitante em funções motoras


e intelectuais, há necessidade primeiramente de se identificar o perfil psicomotor
destes indivíduos, de modo que se possa elaborar programa interventivo adequado
às suas necessidades.

Algumas crianças encontram dificuldades em habilidades motoras tais como


escrever, desenhar, manipular e construir, ao passo que outras têm dificuldades em
recreação, jogos de correr, saltar, saltitar, arremessar, no equilíbrio, nas orientações
espaciais e temporais, na lateralidade, nos esportes e até dificuldades na locomoção
e nas atividades da vida diária Influências genéticas e ambientais têm sido
consideradas por autores como Krebs (1997), Pereira, Sobral e Silva (1997), Gallahue
e Ozmun (2001), entre outros, cuja preocupação se centra no atual estilo de vida das
pessoas, sejam elas normais ou deficientes, e nas consequências que a falta de
oportunidades de exploração dos movimentos naturais pode causar.

Uma vez que a coordenação corporal é um dos componentes importantes no


desenvolvimento da criança, Gorla, Araújo e Carminato (2004) desenvolveram um

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estudo objetivando analisar esta coordenação à luz do teste chamado teste salto
monopedal (SM) que faz parte da bateria de testes de coordenação motora para
crianças KTK, de Kiphard e Schilling (1974), em pessoas portadoras de deficiência
intelectual.

O referido estudo veio reforçar as preocupações, que sempre estiveram


presentes ao longo de vários anos trabalhando com população especial, mais
precisamente com a deficiência mental, quanto às dúvidas por parte de alguns
profissionais sobre a importância de avaliar a referida população.

Outro fator importante que analisaram, também pela pouca informação, foi o
desconhecimento dos instrumentos avaliativos por parte de alguns profissionais,
levando-os a indagar se efetivamente as baterias de testes usuais estão disponíveis
para a população com deficiência mental.

Ao mesmo tempo em que as informações são relativamente escassas, nota-se


um grande problema quando se observa na literatura a compilação ou utilização de
testes padronizados aplicados com populações que não apresentam características
de deficiência mental, o que pode levar a uma preocupação de caráter metodológico
para algumas variáveis apresentadas pelas pessoas portadoras de deficiência mental.

As análises e as ponderações feitas pelos pesquisadores acima levaram à


conclusão de que o assunto avaliação e intervenção é relevante, devendo ser
estimulado na educação especial, pois certamente haveria benefícios às pessoas com
deficiência mental e ao próprio profissional no desenvolvimento de seus
planejamentos.

Dada a diversidade de suas dificuldades, ponderam que não foi fácil identificar
com precisão as medidas dentro do Programa de Educação Física Orientado para
melhorar as habilidades motoras das pessoas com deficiência mental, bem como que
tipos de testes deveriam ser aplicados.

Observaram que os resultados das avaliações no pós-teste foram significativos


para ambas as pernas – esquerda e direita –, o que demonstra uma interferência das
atividades desenvolvidas durante o Programa de Educação Física Orientado.

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Entretanto, alguns sujeitos não tiveram rendimento satisfatório no pós-teste,
indicando uma necessidade de mais tempo para as intervenções e análises mais
profundas sobre outros comportamentos.

Levando-se em conta estas limitações, e para que haja aquisição ou melhora


da coordenação corporal no teste salto monopedal entre pessoas portadoras de
deficiência mental, torna-se necessário observar alguns princípios gerais, tais como:

 Estímulo tanto quantitativo como qualitativo das atividades motoras;

 Elaboração de atividades adaptadas às dificuldades específicas dos sujeitos;

 Redução da influência dos problemas de comportamento (ansiedade, por


exemplo) nas habilidades motoras;

 Redução da influência das dificuldades no tocante às habilidades motoras


sobre outras funções tais como a motivação;

 Estimulação do desenvolvimento perceptivo-motor.

Os autores ainda ponderaram ser necessário também estimular e desenvolver


estudos dentro desse tópico geral, como, por exemplo: a verificação de quais os tipos
de tarefas motoras planificadas, e de quais testes correspondam a tipos específicos
de tarefas de habilidades da vida cotidiana; estudos sobre populações de crianças
com problemas específicos, uma vez que são diferentes em níveis e graus de
deficiência, tentando associar estes aos comportamentos adaptativos e não apenas e
simplesmente à deficiência mental.

Recomendaram ao final da pesquisa, também para futuros estudos


semelhantes, que haja avaliações antropométricas em conjunto com a testagem, pois
o peso corporal pode ter sido um fator de interferência nos resultados, não tendo sido,
contudo, controlada esta variável.

Em trabalho mais recente, Rodrigues et al (2018) avaliaram o perfil psicomotor


de 15 escolares do ensino fundamental, em uma escola pública, com diagnóstico de
DI, usando as seguintes variáveis: a) frequência (ou não) em sala de recursos
multifuncional (SRM); b) classificação da DI; c) idade; c) raça/cor; d) série escolar.

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Para avaliação do perfil psicomotor foram utilizados os seguintes instrumentos:
Teste de Proficiência Motora de Bruininks-Oseretsky (BOT-2), versão breve;
Avaliação Psicomotora

Os dados obtidos mostraram que a maioria dos sujeitos apresentou


desempenho “muito abaixo do esperado” em todos os subtestes que compõem o
BOT-2. Do mesmo modo, desempenho inferior à idade cronológica foi identificado na
Avaliação Psicomotora. Não foram encontradas diferenças estatisticamente
significativas nos subtestes do BOT-2 quando se analisou frequência (ou não) em
SRM, gênero e raça/cor. Contrariamente, melhor desempenho em algumas
habilidades psicomotoras foi encontrado em função da idade, série escolar e
classificação da DI.

As autoras discutem a relação entre desenvolvimento psicomotor e


aprendizagem e chamam a atenção para a necessidade de se utilizar os pressupostos
da Psicomotricidade no contexto escolar, principalmente na SRM. Com isso, pode-se
auxiliar as crianças com deficiência intelectual a maximizar as suas potencialidades e,
como resultado, possibilitar melhora no seu desenvolvimento global (cognitivo, afetivo,
social).

Ambos os trabalhos apresentados deixam claro a importância de se conhecer


a criança, os déficits, as avaliações, a SEM e como o trabalho psicomotor contribui
para melhorar a aprendizagem e a interação social desses sujeitos.

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Aplicação da BPM ao jovem adulto portador de
necessidades especiais

Falar de avaliação é um assunto complexo por si só, por tratar-se de um


processo multifacetado, em que valores e perspectivas estão o tempo todo
confrontando-se. Contudo, é ainda mais complexo pensar, falar e avaliar pessoas com
necessidades educativas especiais.

Em parte, o aumento do grau de complexidade por nós atribuído à avaliação


de pessoas com necessidades educativas especiais deve-se às dificuldades inerentes
à própria condição de deficiência (FUMES; MARQUES, 2011).

Na deficiência intelectual comumente nos deparamos com sujeitos que


apresentam curta atenção, dificuldade de entender e seguir solicitações complicadas,
desmotivados intrinsecamente para a avaliação, com pobre capacidade de
memorização, e assim por diante, conforme nos aponta Lavay (1992 apud FUMES;
MARQUES, 2011).

Por outro lado, Lunt (1994) vislumbra também existir uma crise na avaliação
psico-educacional dos grupos minoritários, desencadeada, sobretudo, pelos
resultados discriminatórios e limitantes produzidos pelos modelos de avaliação
tradicionais disponíveis.

Quando nos voltamos para a avaliação na área da Atividade Física Adaptada,


em particular, de jovens adultos portadores de deficiência mental, constatamos que
ainda predominam os modelos de avaliação tradicional.

Neste universo, a Bateria Psicomotora (BPM) de Fonseca (1992) apresenta


aspectos diferenciadores que a coloca em um outro patamar, diferente daquele
destinado às escalas ou baterias de avaliação convencionais. Um dos aspectos
principais que a diferencia das demais é que ela não se restringe à mera aplicação de
situações-problemas para avaliar o perfil psicomotor de um sujeito, mas considera
também como alvo da avaliação as manifestações ocorridas ao longo do processo de

21
avaliação do sujeito, bem como procura complementar estes resultados com
informações mesológicas e biomédicas do sujeito.

Semelhantemente à avaliação dinâmica, a BPM orienta-se para o


estabelecimento de um “perfil intra-individual em termos de futuro, de propensibilidade
à modificabilidade psicomotora” (FONSECA, 1992) e não apenas em estabelecer um
rótulo calcado em aspectos quantitativos. Perspectivamos ser possível identificar
capacidades psicomotoras efetivas através da mesma.

A elaboração da BPM resultou da experiência do autor com crianças com


dificuldades de aprendizagem e é considerada, por este, como uma oportunidade de
estudar a psicomotricidade atípica e tendo sido aplicada em casos de deficiência
auditiva, visual, sócio-emocional e em gerontos.

Fonseca (1976), na obra “Um contributo para a gênese da psicomotricidade”,


onde a BPM é apresentada em uma versão anterior, que continha maior número de
tarefas e não tinha explicitamente as unidades funcionais de Luria permeando sua
organização, considera como indicado e aplicável a BPM a casos de debilidade e
deficiência motora, debilidade mental, crianças psicóticas, com instabilidade, inibição,
impulsividade, e, na reinserção profissional.

Ponderando sobre as possibilidades apresentadas por tal instrumento de


avaliação, Fumes e Marques (2011) propuseram uma pesquisa tendo como objetivos
levantar o perfil psicomotor de jovens adultos portadores de deficiência mental (pdm)
através da Bateria Psicomotora de Vítor da Fonseca (1992) e analisar a aplicabilidade
da referida bateria para esta clientela.

Vejam a metodologia aplicada e os resultados obtidos por eles:

A amostra foi composta por 10 jovens adultos considerados como portadores


de deficiência mental, matriculados em uma Instituição e também participantes de
atividades psicomotoras, de caráter extracurricular, na Faculdade de Ciências do
Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto durante o ano letivo de
1997/1998. A faixa etária compreendida foi dos 18 aos 31 anos de idade (cronológica)
e os níveis de deficiência mental variavam entre o leve e o moderado. As etiologias
da deficiência mental eram, em sua maioria, desconhecidas ou inespecíficas, sendo
02 sujeitos (20% do total da amostra) portadores da Trissomia 21. Na escola recebiam

22
aulas de escolaridade e outras atividades complementares, de cunho pedagógico,
profissionalizante ou terapêutico.

Os sujeitos foram avaliados individualmente através da BPM de Fonseca, no


próprio centro educacional onde estavam matriculados, após alguns contatos
informais com a avaliadora durante as atividades psicomotoras realizadas na
FCDEF/UP e no próprio Centro. O instrumento de coleta de dados utilizado, a BPM,
estruturava-se sobre as 03 unidades funcionais de Luria da organização do sistema
nervoso do homem, sendo composta ao todo por 07 subfatores psicomotores,
distribuídos por aquelas unidades funcionais. As unidades funcionais de Luria estão
assim categorizadas: 1ª unidade – regulação tônica de alerta e dos estados mentais;
2ª unidade – recepção, análise e armazenamento de informação; e, 3ª unidade –
programação, regulação e verificação de atividade. Os fatores psicomotores da BPM
ligados à 1ª unidade funcional são a tonicidade e a equilibração; os fatores
psicomotores lateralização, noção do corpo e estruturação espaço-temporal
correlacionam-se com a 2ª unidade funcional; e, os fatores praxia fina e praxia global
com a 3ª unidade funcional de Luria.

Fonseca (1992) considera que o perfil, resultante da BPM, torna-se mais


preciso se juntamente aos dados obtidos pela BPM houver a complementação com
os dados biomédicos (condições de desenvolvimento pré, peri, pós-natais) e dados
mesológicos (características do ambiente familiar imediato). Neste caso, o perfil
psicomotor dos sujeitos foi resultante da aplicação da BPM, das observações dos
comportamentos e atitudes ocorridos durante a realização da mesma, nas atividades
de Educação Física ocorridas na FCDEF e das informações obtidas informalmente
junto ao professor sobre o desenvolvimento escolar do sujeito.

Os resultados da avaliação psicomotora de cada sujeito foram anotados em


ficha individual, proposta por Fonseca (1992) para este fim. O desempenho dos
sujeitos para cada tarefa podia receber cotações entre 1 e 4 pontos, conforme os
critérios de cada uma das tarefas. De forma geral, a cotação 1 foi atribuída para o
desempenho fraco ou a não realização da tarefa, 2 para o desempenho satisfatório, 3
para o bom e 4 para o desempenho excelente.

A partir dos resultados de cada tarefa foi encontrado o resultado médio e, assim,
atribuída a cotação final para o subfator que elas pertenciam. Do somatório da

23
pontuação conseguida nos 07 subfatores da BPM foi estabelecido o perfil psicomotor
do indivíduo, que apresentava a seguinte distribuição: para aqueles sujeitos que
obtivessem entre 27-28 pontos na BPM, seu perfil psicomotor era considerado como
sendo superior; de 22-26 pontos correspondia a um perfil psicomotor bom; 14-21
pontos a um perfil psicomotor normal; enquanto de 09-13 pontos representava o perfil
psicomotor dispráxico; e, 07-08 pontos a um perfil psicomotor deficitário.

Os escores encontrados em cada tarefa foram utilizados para a determinação


do índice de discriminação e de dificuldade da mesma, os quais foram calculados
empregando os resultados dos 30% superior da amostra e dos 30% inferior da
amostra, considerando o resultado final no subfator em que a tarefa em questão
pertencia. Foram determinados os índices de discriminação e de dificuldade de todas
as tarefas de todos os subfatores. O índice de discriminação refere-se a diferença de
proporção de respostas corretas entre os melhores e os piores resultados.

Safrit e Wood (1989 citados pelos pesquisadores) indicam que máxima


discriminação de um teste acontece quando um índice de dificuldade é de 50%. Já o
índice de dificuldade de um teste é a porcentagem de respostas corretas entre os
sujeitos que responderam corretamente à questão ou a tarefa.

Os comportamentos e atitudes apresentados durante a avaliação e que não


eram alvos dos critérios da bateria foram anotados e utilizados, de modo
complementar, na análise qualitativa da aplicabilidade da BPM para sujeitos
portadores de deficiência mental.

A BPM de Fonseca (1992) mostrou ser útil e aplicável para avaliar o nível real
dos subfatores psicomotores de jovens adultos portadores de deficiência mental,
sendo possível elaborar um perfil psicomotor destes e definir suas principais
capacidades psicomotoras.

O critério utilizado para analisar a aplicabilidade da BPM, que foi o índice de


discriminação e de dificuldade, bem como elementos de caráter qualitativos obtidos
durante a aplicação da bateria e das observações do sujeito, revelaram a necessidade
de exclusão de algumas tarefas que não atingiram o índice de discriminação e de
dificuldade pré-estabelecidos.

24
No caso dos subfatores estruturação espaço-temporal e praxia fina, estes
foram excluídos na íntegra, ao passo, que algumas tarefas de outros subfatores
demonstraram ser necessário adaptá-las quando estas forem utilizadas na avaliação
psicomotora de pessoas pdm. Todavia, a proposição de uma adaptação da BPM para
esta população não foi o objetivo nesse momento.

Um aspecto decisivo da BPM e que deveria ser alvo de estudos posteriores,


que pretendam sua adaptação, concerne ao seu tempo de aplicação. Como já
indicado, a bateria revelou ser demasiada longa e cansativa para utilização em
sujeitos pdm (FUMES; MARQUES, 2011).

Trabalho psicomotor com portadores de paralisia cerebral

Segundo Souza e Ferraretto (2001), a Paralisia Cerebral foi descrita pela


primeira vez em 1843 por um ortopedista inglês chamado William John Litle como uma
rigidez espástica. O termo “Paralisia Cerebral” foi introduzido por Freud para
diferenciá-la da Paralisia Infantil causado pelo vírus da Poliomielite.

A Paralisia Cerebral (PC), é um termo utilizado para descrever uma condição


de ser, ou um estado de Saúde, que podemos afirmar ser contínua, instável e
irreversível, uma deficiência física adquirida, um dano cerebral ou no sistema nervoso
central (SNC) que leva o sujeito a ter certa dificuldade ou descontrole muscular,
impedindo-o de executar certos movimentos com maior perfeição, afetando
diretamente a coordenação motora e a postura corporal de seus portadores, como se
fosse uma “confusão” de envio de mensagem entre o estímulo do cérebro e a resposta
do músculo (COLETTA et al, 2005).

Para Bobath e Bobath (1978), a PC, é uma sequela de uma agressão


encefálica, que se caracteriza por um transtorno persistente, do tono, da postura e do
movimento do sujeito, uma agressão não progressiva, mas geralmente mutável,
quando nos referimos as suas sequelas. Em muitos casos a inteligência do portador
é normal, a não ser que a lesão tenha afetado áreas responsáveis pelo pensamento
ou pela memória. Portanto, um portador de Paralisia Cerebral não pode ser
classificado, exclusivamente, como um portador de deficiência mental.

25
Machado (1981) enfatiza que o sistema nervoso dá vida de relação a todas
as partes do corpo, relacionando o organismo com o meio, os quais são conduzidos
do cérebro por neurônios sensitivo através da medula ou tronco encefálico a todos os
receptores do corpo, portanto, a coordenação de todos os movimentos do corpo é
feita pelo cérebro, e no caso do portador de Paralisia Cerebral, esses estímulos foram
de alguma forma bloqueados, causando aos seus portadores sequelas, como
ausência de coordenação motora, dificuldades na fala, em alguns casos paraplegias,
tetraplégicas, e assim sucessivamente.

Acredita-se que estímulos ao SNC, aplicados de formas coerentes


apresentam resultados satisfatórios, onde as células nervosas (neurônios) vizinhas a
da lesão, acabam por se adaptar e assumirem, em partes, a função da célula afetada.

Marchean et al (1996, p. 171) cita que através de um estudo derivado de uma


lesão central do córtex, onde região afetada foi a da coordenação fina do sujeito, mais
precisamente nos dedos, e após estímulos sensoriais: “a função do tecido destruído
foi assimilado pelo tecido nervoso vizinho intacto à custa de uma assimilação da
sensibilidade...”. Dessa forma podemos dizer que através de estímulos adequados,
pode-se ao menos minimizar sequelas motoras em portadores de Paralisia Cerebral
(PC).

Coletta et al (2005) realizaram um estudo com pessoas portadoras de PC,


com idade cronológica entre 8 e 18 anos, matriculados em uma escola de Educação
Especial, pontuando que a relevância do estudo está em proporcionar uma
contribuição aos portadores de PC e especialmente, aos profissionais de Educação
Física que trabalham com essa população, ampliando o conhecimento sobre causas,
lesão e o comprometimento motor.

Mais uma vez, partiram da premissa que o desenvolvimento completo do


sujeito se dá por aspectos motores, cognitivos, psicológicos e neurológicos e tendo
como base, o BPM (Bateria Psicomotora) idealizada por Fonseca (1992), procurou-se
identificar a influência do equilíbrio, da tonicidade, da lateralização, da noção do corpo
e das praxias global e fina no resultado motor final, utilizando-se de uma abordagem
transversal para analisar as alterações psicomotoras em portadores de Paralisia
Cerebral utilizando como instrumento o teste BPM (Bateria Psicomotora) de Vitor da
Fonseca.

26
De acordo com os resultados, puderam verificar que as tarefas de execução
voluntária, tiveram respostas imperfeitas ou incompletas, sendo realizadas com
dificuldade. Conforme Fonseca (1992), a pessoa com síndrome cerebral pode falhar
em muitas tarefas da bateria. Encontraram maior dificuldade na realização das tarefas
de equilíbrio, de praxia fina e global, pois a própria lesão cerebral já é caracterizada
pelo encurtamento e atrofia dos flexores dificultando a noção de respostas motoras
dos sujeitos.

De acordo com o escore final, a média dos avaliados foi boa, mas com
dificuldades na realização e com falta de controle. O teste não pode ser utilizado como
identificação de um possível déficit da lesão cerebral, mas somente como um fator
que indica uma disfunção psicomotora da aprendizagem e na coordenação motora.

Os resultados mostraram a área onde o sujeito tem um maior


comprometimento ou atraso psicomotor, e reconhecendo a extensão do problema, o
profissional saberá onde trabalhar e como aplicar o estímulo ao portador de PC, bem
como fazer um desenvolvimento global de sua coordenação motora.

O sujeito com PC depende em grande parte de um estímulo externo para


conseguir desenvolver sua coordenação motora. A Educação Física desenvolve um
papel importante nessa estruturação motora oferecendo recursos para tais estímulos.

Os autores perceberam que a BPM pode ser utilizada como forma de


identificação das capacidades motoras e psicomotoras, desde que utilizada como uma
avaliação individual, pois a lesão cerebral determina a diferenciação dos afetados.
Inferem que deve-se considerar a importância de estudos nessa área, pois a
coordenação motora influencia diretamente no desenvolvimento global da criança,
como o falar, o caminhar, o físico, mental e o social, fatores importantes para um bom
relacionamento dentro da sociedade.

Anote aí:

 Os aspectos psicomotores interferem na aprendizagem escolar dos alunos,


embora poucos professores saibam realmente a verdadeira importância sobre

27
o desenvolvimento desses pressupostos psicomotores, principalmente na
Educação Infantil.

 Levar uma proposta de educação psicomotora para a Educação Infantil


contribui sobremaneira para o desenvolvimento de uma postura adequada para
a aprendizagem da criança com caráter preventivo em relação ao seu
desenvolvimento integral nas várias etapas de crescimento.

 Na pequena infância, o ato mental se desenvolve no ato motor, ou seja, a


criança pensa quando está realizando a ação e isso faz com que o movimento
do corpo ganhe um papel de destaque nas fases iniciais do desenvolvimento
infantil.

 A criança ao ingressar na escola, independentemente da idade em que se


encontra, traz consigo saberes sobre os movimentos que realiza com o seu
corpo, os quais são apropriados e construídos nos diferentes espaços e
relações em que vive (GARANHANI, 2008). Desse modo, a escola poderá
sistematizar e ampliar o conhecimento da criança sobre o seu movimentar
(SANTA CLARA; FINCK, 2012).

 Educação pelo movimento, educação física transformadora, educação


psicomotora! Não importa num primeiro momento qual das definições é a mais
correta. Importa compreendermos que os objetivos da proposta sejam claros,
levando em consideração o desenvolvimento pessoal e as questões sociais
que envolvem os sujeitos do trabalho.

 A escola é um ambiente onde a criança tem oportunidades de exteriorizar as


necessidades corporais, e se torna mais específico e importante quando
enfocamos as crianças com deficiência.

 Para as crianças com deficiência, a psicomotricidade é muito importante, pois


contribui para que as mesmas aprendam a fazer novas vivências, ajudando-as
a compreender e vivenciar o mundo que as cercas, organizando-se
internamente, o que envolve todos os movimentos corporais: imagem corporal,
esquema corporal, e consciência corporal (PEREIRA, 2014).

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