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Contos da

tradição oral
Contos da tradição oral

O conto popular: definição

“Conto popular: é o relato produzido pelo povo


e transmitido por linguagem oral. É o conto folclórico,
a estória, o causo como diz o caipira, e que ocorre
no contexto do maravilhoso e até do sobrenatural.
O conto documenta a sobrevivência, o registro de usos,
costumes, fórmulas jurídicas, esquecidas, mortas.”

CÂMARA CASCUDO, Luís da. Dicionário do folclore brasileiro.


São Paulo: Global, 2002. p. 156.

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Contos da tradição oral
“Causo” ou conto popular

• são sempre antigos;


• desconhece-se sua autoria;
• são contados em diferentes regiões e modificados no tempo
e no espaço;
• duram por um período muito grande.

Essas características ocorrem porque há o que chamamos de


“tradição viva”: um processo dinâmico de transmissão
e adaptação dessas variadas histórias, revelando
costumes, crenças e valores
dos povos em diferentes lugares

NIK NEVES/ARQUIVO DA EDITORA


no tempo e no espaço.

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Contos da tradição oral
Características do “causo”/conto “O bisavô e a dentadura”

1. antiguidade:
… velha fazenda antiga; a fartura, ali, em Montes Claros, naquele tempo…

2. anonimato:
… que disse que isso aconteceu, de verdade, em Montes Claros, Minas Gerais.

3. divulgação:
Eu ouvi esta história de uma amiga…

4. persistência:
neste caso, o narrador ouviu de uma amiga a história e a escreveu.

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Contos da tradição oral
Compreensão

Expressões da língua falada:

• (socorro, que palavrão);

• E eu nem posso descrever mais…;

• E uma tal de sobremesa…

Esses recursos prendem a atenção do leitor, aumentando sua expectativa.

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Contos da tradição oral
O narrador

Observe que o narrador, ao iniciar o texto, esclarece ao leitor que ouviu


a história de uma amiga.
Isto é, ele não estava presente quando ocorreram os fatos que conta.

Nesse caso, o narrador procura esclarecer ao leitor que não está “inventando” a
história. Ele procura tornar o fato o mais curioso possível:

… isso aconteceu de verdade

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Contos da tradição oral
O narrador e as personagens
Embora diga que tenha ouvido a história, o narrador utiliza recursos demonstrando
“intimidade” em relação às personagens, como se participasse de fato da reunião em
torno da mesa. Observe o grau de intimidade no terceiro parágrafo, quando ele
descreve as personagens:

… a comadre que ficou viúva, a solteirona que era irmã da vó da Mariquinha…

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Contos da tradição oral
Construção do conto

Conto

Narrativas de fatos imaginados, fictícios.

Elementos da narrativa Momentos da narrativa/Enredo

Espaço Enredo/Ação Situação inicial Conflito

Narrador Personagens Tempo Clímax Desfecho

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Contos da tradição oral
Linguagem do texto

No “causo”/conto que você leu:

• a linguagem formal é usada em geral pelo narrador.

• a linguagem informal é usada tanto nas falas das


personagens para caracterizar a situação quanto pelo
narrador para adequar-se ao gênero textual.

Fala do avô reescrita com


Fala do avô transcrita do conto
alterações de linguagem

“— Tá desculpado, num tem importância. Eu — Está desculpado, não tem importância. Eu


já tava me aborrecendo com a história, mas já estava me aborrecendo com a história, mas
tão desculpados. Mas até que tô achando bom estão desculpados!
ficar banguela: vou comer tutu e sopa... e Eu já estou achando bom ficar banguela:
doce de leite mole, ora!” comerei tutu e sopa... e doce de leite mole!

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Contos da tradição oral
Marcas da oralidade

• São características da língua falada que ocorrem na língua escrita.

• Quando o narrador apresenta o diálogo das personagens, procura escrever tal


como elas falariam. Esse recurso dá ao texto mais expressividade, e a história
fica mais real, parecendo verdadeira.

Linguagem informal predominante na língua falada

Linguagem formal predominante na língua escrita

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Contos da tradição oral
Variedades regionais

Emprego da língua de diferentes maneiras, de acordo com a


região do país.
abóbora jerimum (Norte e Nordeste)

amalucado zuruó (Nordeste)

baile fandango (Sul)

mandioca macaxeira (Norte e Nordeste)


guri (Rio de Janeiro), piá (Sul), curumim (Amazônia),
menino
miúdo (Rio Grande do Sul)
morrer bater a caçoleta (Minas Gerais e Nordeste)

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semáforo sinaleira (RS), farol (SP)

NOVO Dicionário Eletrônico Aurélio, versão 6.1. 4. ed. Curitiba: Positivo, 2008.

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Contos da tradição oral
Variedade sociocultural

Observe a tira abaixo e perceba como a linguagem pode


variar conforme
o grupo social que a usa:

Charles Schulz/Peanuts Worldwide LLC./Dist. by Universal Uclick


SCHULZ, Charles M. Minduim. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 24 maio 2011. Caderno 2, p. D4.

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Variedades linguísticas

Variedades linguísticas

Diferentes usos de uma mesma língua.

Região Grupo social


Situação comunicativa Lugar a que o falante Pessoas que utilizam a
• circunstância: em que o pertence ou em que a língua: jovem, família,
usuário está envolvido; língua é empregada. profissionais de uma
• interlocutor: a quem se área, condição social,
dirige; grau de escolaridade.
• intenção: fazer rir,
emocionar, informar,
convencer...

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Sinais de pontuação

• Ponto-final (.) frases declarativas (afirmativas ou


negativas).

• Ponto de interrogação (?) perguntas.

• Ponto de exclamação (!) indicam surpresa, espanto,


admiração; medo; ordem, etc.

• Reticências (…) indicam interrupção de pensamento,


hesitação ou dúvida.

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Frase e pontuação
Nos textos poéticos os sinais de pontuação, muitas vezes, podem não ocorrer. O
objetivo do autor, nesses casos, é com a expressividade dos versos quanto à
musicalidade. Além disso, ele propõe ao leitor uma leitura mais sugestiva, mais
afetiva.

O casamento da Rosa
Luiz Gonzaga

Se amonta Joana, Coroné Zeca matou três zebu,


monta Mariquinha, muita galinha e muito peru
monta Siá Zefinha, Se vai ter dança isso nem se indaga
monta Juvená Que o Seti e Gonzaga já foram pra lá
Por esses burro vamos chegá cedo, Vamos simbora que a viagem é dura
que hoje o forguedo vai ser de matá Que a noite é d’água e nessa estrada escura
Coroné Zeca com muita alegria Ou nós sai cedo e dá nas espora
hoje casa a fia e pra festejá Ou nós perde a hora de Rosa casá
Tá cunvindando toda a vizinhança GONZAGA, Luiz. Do jeito que o povo gosta: forró do
pra encher a pança, beber e dançar Gonzagão. [S.l.]: Sony e BMG, 2007. 1 CD. Faixa 8.

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Tipos de frases
Frase

Palavra ou conjunto de palavras que formam um enunciado


com objetivo de comunicar algo.

Tipos de frase

Quanto à pontuação e
Quanto à organização
entonação/expressividade

Interrogativa Exclamativa Imperativa Optativa Declarativa Verbal Nominal


Faz uma Expressa Indica Expressa Afirma ou Com verbo. Sem verbo.
pergunta espanto, ordem, desejo. nega.
direta ou medo, pedido,
indireta. admiração. conselho,
súplica.

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Conto popular em verso e conto popular em prosa

Verso

• Rimas
• Estrofes

Era uma vez uma velhinha


Que o de comer não tinha,
Só pão, arroz, carne, farinha,
ovos, frutas e sardinha.

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Contos da tradição oral
Conto popular em verso e conto popular em prosa

Prosa

• Linha contínua
• Parágrafos

Um homem casara com excelente mulher, dona de casa


arranjadeira e honrada, mas muito gulosa. Para disfarçar seu
apetite fingia-se sem vontade de alimentar-se sempre que o
marido a convidava nas refeições.
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Contos da tradição oral
Os contadores desenvolveram técnicas (uso de frases curtas, ritmo, combinações de
sons, etc.) para poder guardar as histórias na memória, transmiti-las oralmente e
prender a atenção dos ouvintes.

Observe o trecho abaixo do autor Expedito Sebastião da Silva, do Ceará:


Das histórias de proezas O Pedro enquanto criança
lidas em todas as partes foi cheio de diabruras
talvez não haja nenhuma devido a isso tornou-se
jocosa e cheia de artes campeão das travessuras
que chegue a se comparar foi um ente absoluto
à de Pedro Malasartes entre todas criaturas.
SILVA, Expedito Sebastião da. 100 cordéis históricos da Academia
Brasileira de Literatura de Cordel. Rio de Janeiro: ABLC, 1998. p. 506.
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Variedades linguísticas

Existem diversas variedades linguísticas. Entre elas, regional, de grupos sociais, de


idade, de gênero, etc. No entanto, duas formas estão sempre presentes:

• formal, chamada de variedade-padrão, utilizada de acordo com


as regras da gramática normativa;

• informal, utilizada em roda de amigos, entre familiares e


em situações em que a linguagem não precisa seguir
regras rígidas da linguagem considerada padrão.

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Contos da tradição oral
Exemplos de uso da linguagem informal:

1. Uso de diminutivos:
• ideia de carinho, afeto, valorização: paizinho
• ideia de pouco-caso, desprezo, ironia: gentinha

2. Uso de palavras, expressões e ditados da linguagem popular:


• a gente; assim não vai dá pé; filho de peixe peixinho é

3. Redução de palavras:
• pra (para); tb (também); ñ (não); cê ou vc (você); tá (está)

4. Gírias:
• Menino guri ou piá (Rio Grande do Sul); curumim (Amazônia)

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Contos da tradição oral
Observe o uso de diminutivos nas tirinhas abaixo:

ZIRALDO / ACERVO DO ARTISTA


ZIRALDO. As melhores tiradas do Menino Maluquinho. São Paulo: Melhoramentos, 2000. p.19-21.

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Contos da tradição oral
Intenção
Contos da Contar histórias registradas a partir de
tradição oral causos transmitidos oralmente de
geração em geração

Narrativas de tradição oral Linguagem


criadas pelo imaginário do • Informal
povo • Com marcas da oralidade

Contrução
Momentos e elementos da narrativa:
Prosa Versos
• Linha contínua • Rimas e estrofes
• Parágrafos

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Leitura expressiva
ritmo próximo da música
Narrativas populares em verso
e apoiado em rimas

Exemplo brasileiro literatura de cordel

Zé Matraca, o valentão de Palmares


João José da Silva

Eu já contei muitos casos Esse cabra não temia Zé Matraca era vigia
vindos de vários lugares, ser alvo para um trabuco à noite ninguém entrava
já falei de valentões ele fazia arruaças o cabra era tão ruim
talvez até aos milhares, do povo ficar maluco que quando um vulto avistava
porém não falei ainda e tudo isso em Palmares dizia: lá vai bisouro,
no valentão de Palmares aqui mesmo em Pernambuco. e no que via atirava.
[...]
SILVA, João José da. Zé Matraca, o valentão de Palmares.
100 cordéis históricos segundo a ABLC. Rio de Janeiro: ABLC, 2008. p. 477.

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Contos da tradição oral
Xilogravuras de cordel

JOÃO JOSÉ DA SILVA / ARQUIVO DA EDITORA


Assim como há histórias contadas
em versos e contadas em prosa,
há imagens que nos fazem pensar
em uma história.

Observe a capa do cordel Zé Matraca, o


valentão dos Palmares:

• É possível imaginar o que aconteceu


entre o homem e Zé Matraca pela imagem
e pelo título?

• O que você imaginou?

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Contos da tradição oral
A ordem das palavras nas frases
A ordem das palavras pode variar ou enriquecer o sentido de uma frase.
Veja um exemplo:

FAIFI / ARQUIVO DA EDITORA


Agora explique a diferença de sentido se a frase da placa fosse:
HOMENS TRABALHANDO DEVAGAR
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