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MELANIE KLEIN

MELANIE KLEIN (1882-1960)


Melanie Klein, nasceu em Viena em 30/03/1882.
filha de Moritz Reizes e Libussa Deutch. Seu pai
era um judeu polonês, muito estudioso, fluente em
várias línguas, formou-se em medicina, porém não
conseguiu exercê-la por ser judeu e polonês (era
visto como de classe desfavorecida).

Seu pai casou-se duas vezes, sendo Libussa sua


segunda esposa.

A família mudou-se para Viena para melhorar as


condições financeiras, e o pai trabalhava como
consultor médico num teatro e era assistente de
dentista.
O casal teve quatro filhos: Emilie (1876), Emanuel (1877), Sidonie (1878) e Melanie
Reizes (1882). Dentro da família, Emilie era a predileta do pai; Sidonie a mais bonita e
preferida pela mãe e Emanuel uma espécie de gênio e preferido por Melanie. Melanie
não era preterida, mas sua mãe lhe confessou que não fora desejada.

Libussa amamentou os três primeiros filhos, mas Melanie teve uma ama-de-leite que a
amamentava a qualquer hora.

Com relação ao pai, Melanie não se lembra de terem brincado juntos e remete tristeza
ao pensar que seu pai preferia sua irmã mais velha.

Desde cedo já demostrou se autoconfiante.


O avô materno era rabino e tanto ele como seu bisavô materno eram muito respeitados
por seu saber. Por isso considera-se que herdou da família essa curiosidade e desejo em
aprender. Sonhava em estudar medicina e especializar-se em psiquiatria, porém as
condições da família nunca foram boas, principalmente após a morte do pai (1900).

Entrou para o curso de arte e história na universidade de Viena, mas não conclui. Seu
irmão Emmanuel, considerado seu grande mentor intelectual, iniciou os estudos em
Medicina, mas por ser muito doente (cardiopatia, tuberculose e depressão) não concluiu
os estudos.

Emmanuel era muito ligado às irmãs, e de certa forma tinha um poder até dominador.

No entanto, logo cedo, Melanie teve grandes perdas: em 1887 morre sua irmã Sidonie
(aos 7 anos) de tuberculose; em 1900 o pai de pneumonia e em 1902 o irmão Emmanuel
de cardiopatia. Parece ter sentido mais a morte de seu irmão.
Em 1903, aos 21 anos, casou-se com Arthur Steven Klein, engenheiro químico de caráter
sombrio e tirânico de quem estava noiva desde 1899.

Seu noivo era primo em segundo grau por parte de mãe e amigo de Emmanuel. O casal
passou a lua de mel em Zurique e se estabeleceram na cidade do noivo (Rosemberg –
parte eslováquia da Hungria).

Após dois meses estava grávida e em 19/01/1904 nasceu sua filha Melitta. Alguns
biógrafos apontam que no texto “Chamado de vida” seria uma referência autobiográfica,
quando descreve o choque de Anna, na noite de núpicas: “E, portanto, tem de ser assim, a
maternidade tem que começar com repugnância?”

Melanie teria dito que estava gostando da maternidade, porém em sua autobiografia,
confessa não estar feliz. Em 02/03/1907 nasceu Hans, o segundo filho. Esta gravidez foi
marcada por um estado de profunda depressão de Melanie. Em 1908 e 1907 se mudaram,
estabelecendo-se em Budapeste, estando mais próxima da família do marido.
Na infância dos filhos, Melanie Klein teve vários episódios depressivos e por diversas
vezes afastou-se da família por longos períodos para tratar-se (repouso, internação). Nesses
períodos quem cuidava de sua família era sua mãe (Libussa). Esta se colocava de forma
intrusiva e autoritária e, ressaltava a doença da filha e a colocava como incapaz.

O relacionamento entre mãe e filha era bastante ambivalente: amor e ódio, apoio e
intrusão, liberdade e controle, dependência e autonomia.
• Em 1914, nasce seu terceiro e último filho em 01/07: Erich Klein, com o
casamento de mal a pior. Em 6 de novembro morreu sua mãe, Libussa. Aos 32
anos de idade, leu o texto “Sobre os Sonhos” de Sigmund Freud, e
provavelmente iniciou sua análise com Sándor Ferenczi, para tratar-se da
depressão. Esses acontecimentos marcam seu encontro com a Psicanálise, porém
antes de ser uma profissão, foi uma experiência pessoal de desenvolvimento – foi
salva pela psicanálise.
O ano de 1918 foi marcado como o início da carreira de psicanalista. Em Budapeste, realizou-

se o 5º Congresso Internacional de Psicanálise e Sándor Ferenczi foi escolhido para a

presidência. Durante o Congresso, Klein ouviu Freud ler “Linhas de Avanço em Terapia

Psicanalítica”. Em 1919 apresentou à Sociedade Húngara de Psicanálise seu primeiro artigo,

“Der Familienroman in statu nascendi”, relato da análise de uma criança, depois do qual foi

admitida como membro.

Neste artigo trazia a análise de seu filho Erich, cuja identidade foi encoberta nas versões

posteriores. O objetivo era mostrar os resultados obtidos quando uma mãe cria o filho de acordo

com conceitos psicanalíticos esclarecidos. Seu filho apresentava inibições intelectuais e

dificuldades com a criatividade.


A Sociedade de Psicanálise de Budapeste, considerada por Freud o principal centro de

psicanálise da época, seria dizimada por razões políticas, pouco tempo depois. A queda do

Império Austro-Húngaro foi seguida por um regime comunista de duração breve que, por sua

vez, deu lugar a um regime branco, francamente anti-semita, o que teve como consequência a

expulsão dos psicanalistas judeus da Sociedade e sua dissolução.

 Em 1919, Melanie Klein saiu de Budapeste com os filhos para estabelecer-se por um curto

período em Rosemberg com os sogros. Seu marido, do qual se divorciaria em 1923, mudou-

se por razões profissionais para a Suécia, onde permaneceu até 1937, novamente casado e

depois divorciado. Morreu na Suíça em 1939.


Em 1921, Melanie Klein mudou-se para Berlim (sem os filhos mais velhos), também
um ambiente profícuo de formação psicanalítica. É a primeira grande mudança
realizada por interesses próprios. Em 1922, aos 40 anos, tornou-se membro
associado da Sociedade Psicanalítica daquela cidade.

Em 1924, iniciou sua segunda análise, com Karl Abraham, como Ferenczi, um
destacado discípulo de Freud. Porém em decorrência da morte precoce de Abraham
(1925) Melanie perderia não só seu analista como também protetor, o que encorajou
seus detratores a se declararem abertamente, mostrando desprezo pela
ascendência polonesa, ênfase na falta de estudos universitários e ironia perante uma
mulher que se pretendia mestra e, além disso, analista de crianças, com ideias
originais e ousadas.
Tais ideias contrariavam o pensamento de Sigmund Freud e de sua filha Anna, a qual
também se dedicava à psicanálise infantil. Enquanto Anna via a psicanálise numa
perspectiva pedagógica, Melanie Klein mostrava-se determinada a explorar o
inconsciente infantil.

Para isso, MK, introduziu uma modificação técnica essencial, substituindo a palavra
pelo brincar, e aproximando a psicanálise de adultos e de crianças. Na época, o
assassinato de Hermine von Hug-Hellmuth, por um sobrinho que havia sido seu
paciente, também serviu para reforçar a oposição à psicanálise de crianças.

Os ingleses recebem as ideias de Melanie com entusiasmo e respeito, bem diferente
dos alemães.
• Ainda no ano de 1925, o célebre tradutor e editor de texto da Standard Edition das Obras de
Freud e um dos animadores do famoso grupo londrino de Bloomsbury, Ernest Jones, a convidou a
proferir palestras em Londres, para qual mudou-se no ano seguinte e viveu ali até o fim de sua
vida.

• A evolução não se dá apenas no plano intelectual, no pessoal, a partir da separação passa a se


vestir de forma atraente, abusa de decotes e de chapéus extravagantes, entra numa escola de dança
e passa a frequentar salões de beleza. Inicia um romance nunca plenamente realizado com um
homem casado e dez anos mais novo.

Seu desenvolvimento profissional foi destaque e fundou uma escola frutífera até os dias atuais.
Em 1927, tornou-se membro da Sociedade Psicanalítica Britânica.

Em 1932, Melanie Klein publicou seu primeiro livro, a coletânea “A Psicanálise de Crianças”.
Mas, no âmbito afetivo, a década de 1930 lhe traria duas experiências devastadoras: a
morte de seu segundo filho, Hans, ao escalar uma montanha, e a deterioração definitiva
de seu relacionamento com a primogênita Melitta, que se tornara analista e também
ingressara na Sociedade Britânica.

Na elaboração da perda de Hans, Melanie Klein escreveu “Uma contribuição para a
psicogênese dos Estados Maníaco-Depressivos” (1935).

Em 1940, publicou “O Luto e suas Relações com os Estados Maníaco-depressivos”.


Uma espécie de continuidade do primeiro.
A mudança da família Freud de Viena para Londres, no final dos anos 1930, em virtude da
Segunda Grande Guerra, faria com que a Sociedade Britânica se dividisse ideologicamente em
dois grandes grupos: os adeptos de Melanie Klein, que tinha à frente Susan Isaacs, Paula
Heimann e Joan Rivière, e o os adeptos do freudismo clássico, entre os quais figurava Melitta.
Klein foi a mulher mais importante da psicanálise e, embora teve muitos homens que seguiram
suas ideias, seu grupo original tinham várias mulheres e também, entre seus opositores (Melitta
Schmindeberg e Anna Freud).
Um terceiro grupo, composto por analistas independentes, não alinhados com nenhum dos dois
anteriores, se formaria depois, num período marcado pela polêmica. Apesar da contundência dos
debates, Klein e seu grupo permaneceram na Sociedade Britânica e na Associação Internacional
de Psicanálise (IPA).
Não foram expulsos, como viria a acontecer com Lacan na década seguinte, nem abriram uma
dissidência contra Freud, como haviam feito Adler e Jung anteriormente.
A escola kleiniana expandiu conceitos freudianos e, em meio à turbulência da época,
definiu um período de produção teórica exuberante.

Melanie Klein formulou uma teoria que possibilitou a compreensão da vida mental

primitiva e abriu novos horizontes dentro do campo da psicanálise.

Para Julia Kristeva, que dedicou à psicanalista o segundo volume da coleção “O

Gênio Feminino”, a clínica da infância, da psicose e do autismo, em que

predominam nomes como Bion, Winnicott e Frances Tustin, seria inconcebível sem

a inovação kleiniana. Melanie Klein seria, em seu entender a refundadora mais

ousada da psicanálise moderna.


Segundo Luís Cláudio Figueiredo e Elisa Maria de Ulhôa Cintra, “se perguntássemos aos estudiosos

da área qual teria sido, depois de Freud (1856-1939) e ultrapassando-o, o autor que mais contribuiu

para que se compreenda o funcionamento psíquico inconsciente, não haveria dúvida: Melanie Klein,

seguida de seus discípulos Wilfred Bion (18971979) e Donald Winnicott (1896-1971).

Em 1960 ficou anêmica e operou de um câncer no cólon, e veio a falecer aos 78 anos.

As contribuições de MK para a teoria e técnica psicanalítica podem ser divididas em três fases:

Primeira fase: Estabeleceu os fundamentos da análise com crianças e delineou o Complexo de Édipo

e o superego até as raízes primitivas do seu desenvolvimento.

segunda fase: Formulação do conceito da posição depressiva e dos mecanismos de defesa de maníaca
Terceira fase: ocupou-se do estágio mais primitivo – posição esquizo-paranoide.

Mudança significativa em seu ponto de vista teórico a partir de sua formulação do conceito de

posições.

Inicialmente, tal como Freud, MK descreveu suas descobertas em termos de estágios libidinais e da

teoria estrutural, até formular seu conceito estrutural de posição.

Posição: não entra em conflito com o conceito da teoria estrutural, mas busca definir a estrutura real

do superego e do ego, bem como os seus relacionamentos nos termos das posições esquizo-

paranoide e depressiva.

Na análise com crianças, nova ferramenta: técnica do brincar (a partir do jogo do carretel)

Diferença da técnica com adultos – associação livre.


O brincar da criança representa suas ansiedades e fantasias – expressão simbólica de seus conteúdos

inconscientes (importância da transferência).

Suas observações confirmaram diretamente, a partir do material infantil, as teorias de Freud sobre

sexualidade infantil.

Diferença importante: pensava-se que o Complexo de Édipo tinha início em torno dos três ou quatro

anos de idade, mas ela observou as crianças de dois anos e meio que manifestavam fantasias e

ansiedades edipianas.

O superego apareceu muito mais cedo do que seria de esperar a partir da teoria clássica.

Importância da fantasia – quanto mais nova a criança, mais estava sob influência de fantasias

onipotentes.
REFERÊNCIAS

• NASIO, ,J-D. INTRODUÇÃO ÀS OBRAS DE FREUD, FERENCZI, GRODDECK, KLEIN,


WINNICOTT, DOLTO, LACAN. RIO DE JANEIRO: JORGE ZAHAR, 1995.
• SEGAL, HANNA. INTRODUÇÃO À OBRA DE MELANIE KLEIN. RIO DE JANEIRO:
IMAGO, 1975.

SUGESTÃO DE VÍDEO:
• HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=B-TKPQDFCVO
• HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=KFOWELFLZKC

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