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Reunião do PAC

Bianca Moreira
Graduanda do curso de Fonoaudiologia – UNIFESP/EPM

Docente: Profª. Drª. Liliane Desgualdo Pereira


Roteiro
• Resumo do capítulo 1 – Ciência e Comportamento
• Duas visões alternativas descrevem as relações entre o cérebro e o comportamento.
• O Sistema Nervoso Central (SNC)
• As regiões do cérebro são especializadas para diferentes funções.
• A linguagem e outras funções cognitivas ficam localizadas no córtex cerebral.
• Os processos mentais são representados, no cérebro, por suas operações elementares.

• ASPAC
• Localização Sonora
• Teste de Memória para Sons Verbais e não-Verbais
• Teste do Reflexo Cócleo Palpebral
• Focando na Localização Sonora

• Caso Clínico
Capítulo 1
Ciência e Comportamento
Ciência e Comportamento

• Buscar estudar a fusão entre o estudo do comportamento – a ciência da


mente – e a ciência neural – a ciência do cérebro.

• É imprescindível ver como o cérebro opera e organiza-se em grandes grupos


de neurônios e como eles se ligam a comportamentos altamente complexos
a regiões cerebrais específicas.
Duas Visões Alternativas Descrevem as
Relações Entre o Cérebro e o Comportamento

A partir da invenção do microscópio,


revelou-se, a estrutura do neurônio
(Camilo Golgi).

Em seguida, descobriu-se que os neurônios


individuais são os elementos sinalizadores
primários do sistema nervoso (Ramón y Cajal).

E, assim por diante, evidenciou-se que os


dendritos e os axônios eram contínuos ao corpo
celular, crescendo a partir dele (Ross Harrison).
Duas Visões Alternativas Descrevem as
Relações Entre o Cérebro e o Comportamento

• A investigação fisiológica do Sistema Nervoso começou com Luigi Galvani.

• Durante o séc. XIX, foram construídos os alicerces da fisiologia  atividade


elétrica de uma célula neural influencia a atividade de outra de forma
previsível.

• No fim deste mesmo século, farmacologistas demonstraram que


substâncias químicas interagem com receptores específicos nas células.
Duas Visões Alternativas Descrevem as
Relações Entre o Cérebro e o Comportamento

• Franz Joseph Gall propôs que regiões distintas do córtex cerebral


controlariam funções específicas, agindo a partir de 35 órgãos, cada um
deles correspondendo a uma faculdade mental específica;
• Cada função mental aumentaria de tamanho como resultado do uso.

• Essas ideias foram submetidas a análise por Pierre Flourens.


• Concluiu que regiões cerebrais específicas não são as únicas responsáveis por
comportamentos especificas.
• Afirmou que ao lesar uma área especifica do hemisfério cerebral, atingiria igualmente
todas as funções superiores.
Duas Visões Alternativas Descrevem as
Relações Entre o Cérebro e o Comportamento
Flourens, então, em 1823, relatou “todas as percepções, todas as volições ocupam o mesmo
local nesses órgãos [cerebrais]; as faculdades de perceber, conceber, querer, constituem,
simplesmente, uma faculdade que é, em essência, uma só”  hipótese do campo agregado.

J. Huhglings Jackon mostrou que processos sensoriais e motores distintos ficavam localizados
em diferentes regiões do córtex cerebral.

Esses estudos foram desenvolvidos por outros pesquisadores (Karl Wernick, Charles
Sherrington e Ramón y Cajal) em que os neurônios individuais são as unidades sinalizadoras
do cérebro  hipótese da conexidade celular.
O Sistema Nervoso Central (SNC)
• Parte mais caudal do SNC, recebe e processa a informação sensorial oriunda da pele, das articulações e dos músculos dos membros e do tronco,
e controla os movimentos dos membros e do tronco. É subdividida nas regiões cervical, torácica, lombar e sacra.
• A medula continua como tronco cerebral (ou encefálico) que transmite informação, nos dois sentidos, entre a medula e o cérebro.
Med
ula • O tronco contém diversos grupos distintos de corpos celulares, os núcleos dos nervos cranianos, alguns recebem informações da pele, dos
Espi
nhal músculos da cabeça e da face, pescoço e olhos, além dos sentidos especiais – audição, equilíbrio e paladar. O tronco, também, regula os níveis
de ativação e da atenção, por meio da formação reticular

• O bulbo, localizado acima da medula, contém diversos centros responsáveis por funções autonômicas vitais, como digestão, respiração.
Tron
co • A ponte, acima do bulbo, transmite informação sobre o movimento do cérebro para o cerebelo.
Cere
bral
• Atrás da ponte, fica o cerebelo que é ligado ao tronco encefálico por diversos tratos e fibras – chamados de pedúnculos – é responsável por
modular a força e alcance do movimento e participa do aprendizado de habilidades motoras .

Mese • Controla muitas funções sensoriais e motoras, incluindo os movimentos oculares e a coordenação dos reflexos visuais e auditivos .
ncéfal
o

• Contém duas estruturas, o tálamo que processa a maior parte da informação que chega ao córtex cerebral, vinda do resto do SNC e o
Dien
céfal
hipotálamo que regula as funções autonômicas, endócrinas e viscerais.
o
• Consistem no córtex cerebral e três estruturas situadas em sua profundidade:
Hemi
sféri • Os gânglios da base (participa da regulação do desempenho motor).
os
Cere • O hipocampo (participa em diversos aspectos do armazenamento das memórias).
brais • O núcleo amigdaloide (coordena as respostas autonômicas e endócrinas, em conjunto com os estados emocionais).
O Sistema Nervoso Central (SNC)
As Regiões do Cérebro são Especializadas
para Diferentes Funções
As técnicas de imageamento desenvolvidas nos últimos anos tornaram
possível a visualização das estruturas cerebrais que formam o SNC.

A ideia de que as diferentes regiões são especializadas para diferentes


funções é aceita como um dos pilares da ciência do cérebro.

Cada função importante, seja ela sensorial, motora ou qualquer outra


função integrativa é, em geral, desempenhada por mais de uma via neural.
A Linguagem e Outras Funções Cognitivas
Ficam Localizadas no Córtex Cerebral
As funções cerebrais relacionadas à linguagem ficam localizadas principalmente no
córtex cerebral.
• Lobo frontal  planejamento das ações futuras e com o controle do movimento;
• Lobo parietal  sensação tátil e imagem corporal;
• Lobo occipital  visão;
• Lobo temporal  audição, além de aspectos de aprendizado, memória e emoção.

O córtex cerebral tem duas características organizacionais importantes:


 A primeira, cada hemisfério está relacionado aos processos sensoriais e motores no
lado oposto.
 A segunda, embora os hemisférios pareçam ser semelhantes, eles não são
inteiramente simétricos em sua estrutura nem equivalentes em função.
A Linguagem e Outras Funções Cognitivas
Ficam Localizadas no Córtex Cerebral

Em seguida, em 1876, Carl


Wernicke descreveu um novo
tipo de afasia, localizada na
Muito do que se sabe sobre a parte posterior do lobo
localização da linguagem temporal (hoje conhecido
advém do estudo da afasia. como área de Wernicke).

O primeiro desses avanços se


deu ao Pierre Paul Broca que,
em 1861, revelou uma lesão
na região posterior do lobo
frontal (hoje conhecido como
área de Broca).
A Linguagem e Outras Funções Cognitivas
Ficam Localizadas no Córtex Cerebral

• Dessa forma, Wernicke formulou um modelo coerente para a organização


da linguagem.

• A partir de outro raciocínio, Wernick previu um novo tipo de afasia, a afasia


de condução.

• Consequentemente, inspirada, em parte, por Wernick, surge uma escola de


localização cortical, liderada por Korbinian Brodman, no séc. XX, que
distinguiu 52 áreas funcionalmente distintas, no córtex cerebral humano.
A Linguagem e Outras Funções Cognitivas
Ficam Localizadas no Córtex Cerebral

• Ainda assim, a hipótese do campo agregado era estudada e houve a


reformulação desta em uma teoria do funcionamento cerebral, chamada de
ação de massa.

• Entretanto, estudos recentes sugerem que a especialização regional é o


princípio básico da organização cortical e que o cérebro é dividido em
número maior de regiões funcionais que as identificadas por Brodman.
A Linguagem e Outras Funções Cognitivas
Ficam Localizadas no Córtex Cerebral

• Pela combinação de estudos sobre a localização cerebral com observações


mais sofisticadas do comportamento, tornou-se possível aprender muito
mais sobre a localização cerebral das funções mentais.
• Por exemplo, Penfield que estava testando o córtex, confirmou diretamente do cérebro
vivo, as áreas da linguagem descritas por Broca e Wernicke.
A Linguagem e Outras Funções Cognitivas
Ficam Localizadas no Córtex Cerebral

Informações auditivas e visuais  representações auditivas partilhadas da


linguagem  área de Wernicke  associada a um significado  Área de Broca
 efetividade da ação falada ou escrita.

• Quando as palavras eram ouvidas  a área de Wernicke ficava ativa.


• Quando as palavras são vistas, mas não ouvidas, ou faladas não ocorre
ativação da área de Wernicke.
• A informação do córtex occipital parece passar diretamente para a área de Broca, sem
ser, primeiro, transformada em uma representação auditiva no córtex temporal
posterior.
A Linguagem e Outras Funções Cognitivas
Ficam Localizadas no Córtex Cerebral

Esses estudos sugerem que o processamento da informação


exige que áreas corticais individuais sejam adequadamente interconectadas e
que respondam e codifiquem apenas certos aspectos de estímulos sensoriais
específicos ou a movimentos motores e não a outros.
Os Processos Mentais são Representados, no
Cérebro, por suas Operações Elementares

• Então, primeiramente, pensavam que cada região do córtex cerebral era


um órgão mental independente, dedicado a uma só função mental
complexa.

• A oposição proposta por Flourens e a dialética que se surgiu a hipótese do


campo agregado (contra a localização) e os conexionistas celulares (a favor
da localização).
Os Processos Mentais são Representados, no
Cérebro, por suas Operações Elementares

• Regiões distintas e localizadas do cérebro não são as responsáveis pelas


faculdades mentais complexas, mas, sim, realizam operações elementares.

• As faculdades mais elaboradas são tornadas possíveis pelas conexões em


série e em paralelo de diversas regiões cerebrais.
• Como resultados, a lesão de uma só área pode não causar o desaparecimento de toda
uma faculdade, ela poderá retornar parcialmente.

• Portanto, os processos mentais são compostos por diversos componentes,


representados por várias vias neurais.
Os Processos Mentais são Representados, no
Cérebro, por suas Operações Elementares
• Para analisar como uma atividade mental específica é representada,
precisamos discernir quais aspectos são representados em quais regiões
cerebrais e como são representados.

• Atualmente, a aplicação das técnicas de imageamento cerebral está


fornecendo informações importantes e com esses instrumentos, vêm a
convicção de que os princípios subjacentes à biologia da função mental
serão compreendidos dentro de algum tempo.
Referência

• Kandel ER, Schwartz JM, Jessell MT. – Fundamentos da Neurociência e do


Comportamento. Editora Guanabara-Koogan, RJ. 2000. Cap. 1 pags. 5-15.
Avaliação Simplificada do
Processamento Auditivo Central
(ASPAC)
Avaliação Simplificada do Processamento
Auditivo Central - ASPAC

•O Processamento Auditivo Central (PAC) consiste nos mecanismos e


processos das vias cognitivas responsáveis pelos comportamentos de
localização e lateralizarão sonora:
• Discriminação auditiva, reconhecimento dos padrões auditivos; aspectos temporais da
audição, como resolução, mascaramento, integração e ordenação temporal; e
desempenho auditivo na presença de sinais acústicos degradados ou competitivos.
Avaliação Simplificada do Processamento
Auditivo Central - ASPAC

Os processos gnósicos:
• Decodificação: prejuízo na
Os distúrbios de PAC habilidade de integrar eventos
consistem numa inabilidade sonoros
de atentar, discriminar, • Codificação: prejuízo na habilidade
Segundo Bellis (1996) de integrar informações sensoriais
reconhecer, recordar ou
nos distúrbios de PAC auditivas com não auditivas
compreender informações
se encontram • Organização: prejuízo nas
auditivas, e de reconhecer a habilidades de ordenação temporal
comprometidos:
ordem e a sequência dos de sons e na memória para sons em
estímulos acústicos no sequência.
• Não verbal: prejuízo na habilidade
tempo. de análise e síntese dos aspectos
supra-segmentais da fala
Avaliação Simplificada do Processamento
Auditivo Central - ASPAC

A Avaliação Simplificada do Processamento Auditivo Central (ASPAC) é


formada por três testes:
• Localização da fonte sonora em cinco direções;
• Memória Sequencial de Sons Verbais (TMSV) e não-Verbais (TMSnV);
• Pesquisa do reflexo cócleo-palpebral.

A ASPAC é usada como triagem do processamento auditivo por ser de


fácil aplicação, não usar equipamentos difíceis de transportar e adquirir.
Avaliação Simplificada do Processamento
Auditivo Central - ASPAC
Teste de Localização Sonora
• A tarefa da criança é mostrar de onde provém o som.
• Som dado em cinco posições: à frente, atrás, direita, esquerda e a cima da
cabeça.
• Na posição a cima da cabeça é importante reposicionar a fonte sonora
levemente desviada deste eixo, mais ou menos, 10º.

• O critério-referência como normal consiste no acerto de 4 de 5 direções,


desde que a direita e a esquerda sejam identificadas corretamente.
• A habilidade de localizar sons pode ser considerada normal mesmo que ocorra um erro
Avaliação Simplificada do Processamento
Auditivo Central - ASPAC
• Fornece informações sobre a interação binaural.
• Mecanismo fisiológico de discriminação da direção da direção da fonte
sonora.
• Habilidade auditiva de localização sonora.
• Quando essa habilidade estiver alterada, diz que há um prejuízo no processo
gnósico auditivo de decodificação.
Avaliação Simplificada do Processamento
Auditivo Central - ASPAC

Teste de Memória de Sons Verbais (TMSV) e Teste de Memória de Sons não-Verbais


(TMSnV)
• O TMSV usa sons instrumentais musicais de espectro muito diferentes entre si para
facilitar a discriminação entre eles (sino, guizo 5, agogô e coco).
• Os sons são apresentados numa determinada sequência temporal.
• A criança tem que apontar para os instrumentos na ordem em que os ouviu soar.

• O TMSnV apresenta sílabas que menos se alteram em distúrbios articulatórios tais como
pa, ta, ca, fa.
• As sílabas são apresentadas sem apoio visual (para que o estímulo seja exclusivamente auditivo) e numa
determinada sequência temporal.
Avaliação Simplificada do Processamento
Auditivo Central - ASPAC

Teste de Memória de Sons Verbais (TMSV) e Teste de Memória de Sons não-


Verbais (TMSnV)

• O teste avalia a ordenação temporal de sons.


• Mecanismos fisiológicos de discriminação de sons em sequência e de memória.
• Habilidade auditiva de memória para sons em sequência ou ordenação temporal.
• A alteração nessa habilidade auditiva é classificada como prejuízo no processo
gnósico auditivo de organização.
Avaliação Simplificada do Processamento
Auditivo Central - ASPAC
• Um marco da neuromaturação é quando a criança consegue repetir quatro sílabas
em sequência, e não apenas três. Portanto, a repetição da quarta sílaba (fa) indica
desenvolvimento dos processos neurofuncionais da audição, ao contrário do que
ocorre em circunstâncias como a privação sensorial.

• O critério de referência para considerar a habilidade de ordenar sons como normal:


• TMSV é acertar 2/3 para 3 sons  a partir de 3 anos de idade.
• TMSnV é compreender a solicitação e acertar:
• 1/3 acertos, para 3 sons  3 anos de idade;
• 2/3 acertos, para 3 sons  4 aos 6 anos de idade;
2/3 acertos, para 4 sons  a partir dos 6 anos de idade até adultos.
Avaliação Simplificada do Processamento
Auditivo Central - ASPAC
Teste de Reflexo Cócleo-Palpebral
• Consiste na percussão de um agogô na altura de cada uma das orelhas da criança
a cerca de 20 cm a um braço de distância.
• A reação normal consiste em piscar ao ouvir o som.

• O teste avalia a presença desse ato reflexo, que aparece desde o nascimento e
dura por toda a vida.
• Se a criança não piscar em presença do som do agogô, então o avaliador percute um par de
pratos, que usualmente produzem um som de intensidade ainda maior.
Avaliação Simplificada do Processamento
Auditivo Central - ASPAC

Mecanismo Habilidade Déficit


Nome do Teste Estímulo Resposta Tarefa Critério de referência
Fisiológico Auditiva Gnósico

Apontar a direção da
Discriminação Acertar pelo menos 4 das cinco
Localização sonora em Objeto sonoro/sons agudos (guizo, imagem da fonte
Localização da direção da Localização Decodificação posições do objeto sonoro
cinco direções (TL5D) sino) sonora em relação à
fonte sonora (esquerda e direita inclusos)
própria cabeça

Discriminação de sons
Teste de Memória para
Repetição oral da verbais em sequência Processamento Ordenação 2/3 (3 sílabas) a partir de 3
Sons Verbais em Fala – sílabas /pa/, /ta/, /ca/, /fa/ Organização
sequência (sequencialização de temporal temporal anos de idade
Sequência (TMSV)
sons)

1/3 (3 sons) – 3 anos


Discriminação de sons 2/3 (3 sons) – 4 a 6 anos
Apontar o objeto que
Teste de Memória para não-verbais em 2/3 (4 anos) – a partir de 6
Instrumentos musicais (agogô, produziu o som Processamento Ordenação
Sons Não-Verbais em sequência Organização anos
coco, guizo, sino) mantendo a ordem temporal temporal
Sequência (TMSnV) (sequencialização de
ouvida
sons)
Avaliação Simplificada do Processamento
Auditivo Central - ASPAC
• Protocolo de Avaliação
• Relatório de Avaliação

Avaliação da habilidade auditiva de localização sonora:


1.1.TESTE DE LOCALIZAÇÃO SONORA: acertos Normal  Alterado

Avaliação da habilidade auditiva de ordenação temporal:


2.1. TESTE DE MEMÓRIA SEQÜENCIAL DE SONS VERBAIS:
4 sons verbais: acertos Normal  Alterado
3 sons verbais: acertos Normal  Alterado
2.2.TESTE DE MEMÓRIA SEQÜENCIAL DE SONS NÃO VERBAIS:
4 sons não - verbais: acertos Normal  Alterado
3 sons não - verbais: acertos Normal  Alterado
Avaliação Simplificada do Processamento
Auditivo Central - ASPAC
Alguns estudos que usaram a ASPAC:
• Pereira (2005)  ASPAC apresentam sensibilidade de identificação de distúrbio de PAC
da ordem de 80% em crianças de 4 a 6 anos. Em crianças com mais de 6 anos, a
sensibilidade desses procedimentos dicóticos cai para 50%.

• Meneguello, Leonhardt e Pereira (2006)  estruturas responsáveis pela localização


sonora são o complexo olivar superior e o colículo inferior, localizados no tronco
encefálico, bem como o córtex auditivo. Prejuízo na discriminação da direção da fonte
sonora, avaliado em campo livre, sugere a existência de comprometimento em nível de
tronco encefálico.
Avaliação Simplificada do Processamento
Auditivo Central - ASPAC
• Befi-Lopes e Carvalho (1998)  relação entre alteração de desenvolvimento de
linguagem e alteração de processamento auditivo a partir do uso da ASPAC
comparando com desempenho em articulação e vocabulário, em crianças.

• Estudo realizado por Capovilla e Salido  dois dos três testes da ASPAC (Localização
sonora e TMSnV) são sensíveis ao efeito da série da inteligência não verbal, sendo os
escores tão maiores quanto maior a serie escolar e a inteligência não verbal. Além
disso, mostrou que as crianças que fracassam na ASPAC tendem a ter menor
vocabulário, compreensão auditiva, consciência fonológica, competência de leitura, e
compreensão de texto que as demais.
Focando na Localização Sonora...

• Coelho (1996) define localização como a regra pela qual a posição de um


evento auditivo é relacionada com atributos específicos de um evento
sonoro ou de um outro evento que também esteja, de certo modo,
condicionado ao evento auditivo.

• O evento sonoro é um som gerado por uma fonte sonora em um espaço físico e
o evento auditivo é a percepção deste som para um ouvinte.
Focando na Localização Sonora...

• Para Blauert (1999), uma das propriedades da localização é denominada


“mancha” de localização, que é compreendida como a menor variação de
atributos específicos de um evento sonoro capaz de provocar alterações na
posição do evento auditivo

• É a menor variação no espaço físico capaz de alterar a posição da fonte sonora


no espaço auditivo.
Focando na Localização Sonora...

• O que permite ao homem localizar a posição do som relação à sua cabeça é:


• a presença dos dois ouvidos (audição binaural),
• somada às difrações e reflexões na cabeça, nos ombros e nas orelhas externas que, quando
geradas por uma fonte sonora,
• resultam em mudança de fase e intensidade nas características do estimulo acústico.

• Entretanto, deve-se pensar que esta acuidade na localização está condicionada


aos planos espaciais de onde se origina o som.

(Middlebrooks & Green, 1991).


Diferença de Intensidade Interaural (DII) e
Diferença de Tempo Interaural (DTI)
Hartmann (1999) foi quem consolidou os conceitos de Diferença de Intensidade
Interaural (DII) e Diferença de Tempo Interaural (DTI).
• DII: é quando há a comparação entre as intensidades da orelha direita e da orelha esquerda.
• a localização por DII é melhor quando a onda possui um comprimento menor que o diâmetro da cabeça
cujas frequências são superiores a 2kHz, pois quando há o efeito sombra, a DII entre a orelhas irá aumentar
à medida que tal comprimento da cabeça for se tornando menor que objeto.

• DTI: é caracterizada pela diferença de fase (DTI) de um tom puro que equivale à diferença de
tempo de chegada dos componentes da onda em cada orelha.
• quando o comprimento da onda sonora aproxima-se ou é inferior ao diâmetro da cabeça, as ondas chegam
ao mesmo tempo, em fase, nas duas orelhas.

Os adultos podem discriminar mudanças de DII tão pequenas quanto 0,5dB e para os
bebês, no entanto, os limiares de DII são significamente maiores, próximos a 7 dB.
Diferença de Intensidade Interaural (DII) e
Diferença de Tempo Interaural (DTI)

• Blauert (1982) assume que a localização sonora humana é dada para sons com
frequências acima de 3kHz pela DII e para sons com frequência abaixo de
1,5kHz pela DTI.

• Desta forma, existe uma banda de frequência, principalmente na faixa de


2kHz, onde a localização sonora é pobre porque o comprimento de onda
destas frequências aproxima-se do diâmetro da cabeça, o que permite ao som
chegar em fase e com a mesma intensidade nas duas orelhas.
Outros Fatores...

A propagação tridimensional da onda sonora faz com que a mesma seja refletida de
forma diferente em estruturas anatômicas do corpo.

As variações espectrais transferidas relacionadas com a cabeça modificam a pressão


sonora entre as orelhas e atinge melhores efeitos para as frequências acima de 4kHz.

Para alguns pesquisadores, as mudanças espectrais são realizadas, principalmente, pelos


acidentes do pavilhão auditivo, onde destaca-se a concha, que difratam de forma diferente as
ondas sonoras para dentro do conduto e pela presença da cabeça entre as duas orelhas.
• Essas modificações acontecem principalmente em altas frequências e facilitam a localização no plano
sagital-mediano.
Movimentos da Cabeça
Autores afirmam que três classes de movimentos de cabeça ajudam na
identificação da origem do som:
• O primeiro, movimento rotacional, onde a cabeça gira no plano vertical.
• O segundo, rotação no plano sagital.
• O terceiro, uma rotação no plano transversa, girando para a esquerda e para direita.

Outros estudos afirmaram que o sistema auditivo pode usar aspectos


dinâmicos que surgem de mudanças específicas na entrada acústica, quando ocorrem
movimentos de cabeça em relação ao som, ou vice-versa.

Goossness & Van Opstal (1999) descobriram que a cabeça está relacionada
com a acuidade das respostas de localização espacial.
Efeito Precedente

É uma ilusão auditiva que acontece quando dois


sons idênticos são apresentados de diferentes Atribui ao efeito precedente  à relativa
posições no espaço com um atraso entre eles. habilidade dos ouvintes em localizar sons em
• O ouvinte percebe um único som, um evento auditivo que é o espaços reverberantes como dentro de casa, na
resultado da fusão dos sons cuja localização é denominada sala de aula e ambientes fechados.
pela posição da fonte sonora mais próxima.
Efeito Precedente

Medidas
psicofísicas
• Fusão;
relacionadas • Limiar de ecofusão ;
ao efeito • Supressão discriminativa.
precedente:
Reverberação

• Alguns pesquisadores têm utilizado este efeito para estudar como a


reverberação afeta a localização sonora.
• Hartmann (1999) descreveu:
• DTI há piora na detecção, pois há o aumento da possibilidade de as ondas chegarem em fase.
• DII é melhor, uma vez que as ondas sonoras vão direto da fonte sonora para as orelhas e não
sobrem a absorção que sofrem as refletidas.

• Quando o atraso entre a primeira onda e a segunda é grande, o efeito


precedente não é efetivo, e as duas fontes sonoras são percebidas como dois
sons.
• Por outro lado, na ausência de atrasos, um único som é ouvido em uma posição
fantasma entre as duas fontes sonoras.
Visão e Audição

• Estudando a relação entre visão e audição, Lundy-Erman (2000) afirmou


que sons muitos intensos ou inesperados são capazes de desencadear
movimentos reflexos dos olhos e da cabeça em direção às origens deste
som.

• Tristão (1997) complementa dizendo que a localização sonora parece estar


relacionada com o tamanho do campo visual dos animais.

• Em outro nível de relação com a audição, observou-se que a visão também


contribui para a compreensão da linguagem falada.
A localização sonora...

No plano
No plano No plano
sagital-
horizontal vertical
mediano
Localização Sonora e Outros Fatores

• Outro fator estudado é a localização sonora a distância que, segundo


Tristão (1997), a principal pista para esta é a degradação dos sons no meio
ambiente
• Dois fatores podem interferir neste tipo de localização, o primeiro é a reverberação,
dependente da frequência que pode fazer com que haja interferência entre as ondas
sonoras. O segundo é a interferência de ruídos do ambiente, que pode mascar o som.

• Para a localização de ruídos é importante ter em mente que os ruídos de


banda estreita geram trocas na localização entre sons originados na frente e
sons originados atrás, no plano horizontal, os chamados erros em espelho.
Referências
• Capovilla CF, Salido, LFM – Avaliando a ASPA (Avaliação Simplificada do Processamento Auditivo):
Normatização e efeito de inteligência não verbal sobre localização de fonte sonora e memória sequencial
de sons verbais e não verbais). In: Capovilla CF. Transtornos de aprendizagem, Ed. 2, 2011. Cap. 3, pag 67-83
• Pereira LD – Processamento auditivo central: abordagem passo a passo. In: Pereira LD, Schochat E.
Processamento auditivo central: manual de avaliação. São Paulo: Lovise; 1997. pag 49-60
• Menezes PL – Localização Sonora. In: Menezes PL, Neto SC, da Motta MA. Biofísica da Audição. Lovise;
2005. pag 151-163
• Menezes PL, da Motta MA, Litovky R – Desenvolvimento Binaural e Audição Espacial em Crianças:
Investigação do Efeito Precedente. In: In: Menezes PL, Neto SC, da Motta MA. Biofísica da Audição. Lovise;
2005. pag 167-171
Caso Clínico
Dados de Identificação

Nome:
Idade: 11 anos Sexo: feminino
A.C.S.N.

Data da
DN: Escolaridade:
avaliação:
09/05/2005 7º ano E.F.
15/12/2016

Encaminhado
Preferência
por:
manual: direita
fonoaudiologia
Dados da Anamnese

• Refere escutar bem em ambiente silencioso e ruidoso, sendo capaz de localizar e


compreender bem, respectivamente, o som e a conversação.

• É uma criança desatenta, porém não é muito quieta e nem agitada. Em situação de
conversação é mais difícil ouvir tanto em ambiente silencioso quanto em ambiente ruidoso
e esta situação oscila independente do ambiente.
• Não tem boa memória e não está sendo medicada.

• Apresentou episódios recorrentes de Otite com purgação em ambas as orelhas aos 4 anos de idade e realizou
adenoidectomia há cerca de 2 anos e meio.

• Não apresenta dificuldade para leitura e escrita, entretanto apresentou dificuldade em fala
(distorção leve de algum fonema – não referido).
• Quanto ao desenvolvimento, não apresentou demora para falar, andar, ler e escrever. Não
Resultados da Avaliação

• Avaliação audiológica básica: Limiares auditivos dentro do padrão de


normalidade à esquerda, com perda auditiva discreta em 8000Hz (20dB) à
direita. Curvas timpanométricas do tipo Ad e Reflexos Acústicos
Contralaterais presentes bilateralmente.
• Obs.: é possível que esta perda discreta na frequência de 8K Hz e as curvas do tipo Ad
sejam referentes às otites de repetição e à cirurgia realizada. Ainda assim, a
audiometria foi considerada normal, sem grandes alterações.
Resultados da Avaliação

Teste de Memória
Sequencial para Sons Teste de Memória Sequencial para
ASPAC: Localização Sonora:
5/5 – normal (espera- Verbais (TMSV): 2/3 –
normal (erro na
Sons Não-Verbais (TMSnV): 2/3 –
normal (erro na sequência “sino-
normal se, no mínimo, 4/5
acertos)
sequência “PA TA CA
FA” – espera-se no
guizo-agogô-coco” – espera-se no
mínimo 2/3 acertos)
mínimo 2/3 acertos)
Resultados da Avaliação

• TPF e TPD : alterados • Teste dicótico não verbal: normal


• TPF (humming): 47% acertos - alterado • Atenção livre
• TPF (nomeação): 40% acertos - alterado • OD 13 acertos; OE 11 acertos

• TPD (humming): 70% acertos - alterado • Atenção direita


• TPD (nomeação): 70% acertos – alterado • OD 12 acertos; OE 0 acertos

• • Atenção esquerda
• OD 0 acertos; OE 12 acertos
• Teste de fala com ruído branco: normal
• OD – 76%; OE – 84%
• Teste dicótico de dígitos: normal
• OD 97,5% acertos; OE 95% acertos
Resultados da Avaliação

• Teste SSW: alterado


• OD 52,5% acertos; OE 47,5% acertos
• Efeitos auditivo baixo/alto e efeito de ordem alto/baixo: indicativo de alteração de
memória auditiva. Prejuízo no processo gnósico auditivo envolvido na linguagem
expressiva.
• Inversões: indicativo de dificuldades em memória para sons verbais em sequência,
podendo levar a dificuldades na compreensão de um discurso.

• Teste SSI: normal


• Etapa monótica (rel -15)
• OD 80% acertos; OE 80% acertos
Resultados da Avaliação
• Nenhum outro comportamento foi observado durante a realização desta avaliação.

• Concluiu-se que há alteração na avalição do processamento auditivo.


• O mecanismo fisiológico inadequado são os de Processamento Temporal (ordenação) e Reconhecimento de sons
verbais em escuta dicótica,
• Déficits gnósicos de decodificação (análise e síntese fonêmica), codificação (perda gradual de memória),
organização (memória para estímulos em sequência) e não verbal (análise e síntese dos aspectos supra-segmentais
de fala).
• Com alteração de grau severo.

• Recomendou-se o uso de treinamento auditivo acusticamente controlado que permite conhecer o


nível sonoro do estímulo acústico, controlar as variações de silêncio entre os estímulos e a variação
da frequência sonora e da duração do estímulo, além de controlar o nível de ruído do ambiente de
terapia e fornecer tarefas de escuta dicótica para trabalhar as habilidades alteradas.
Obrigada!

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