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O universo ficcional

Universo ficcional é o lugar em


que irá transcorrer a ficção, mas
pensando lugar de forma mais
ampla, como um conjunto de
possibilidades regidos pelas
mesmas regras, daí o uso do
termo universo.
ELEMENTOS DO UNIVERSO FICCIONAL

Tempo Espaço

Linguagem

Personagens Conflito
TEMPO
1. Seja um mundo de fantasia ou um
cenário futurista no mundo real, é
importante saber onde você está e se
você está trabalhando no passado,
presente, ou futuro.
2. Quais eventos passados o moldaram?
O que é fundamental na história?
O que é interessante?

LINHA DO TEMPO!
A primeira escrita pode ser um vômito!
ESPAÇO
3. Quais regras estão em vigor? Isto cobre
tudo, desde leis da gravidade (ou não), às
regras sociais e as punições para os
indivíduos que as quebram.
4. Que tipo de governo esse mundo tem?
5. Quem tem poder e quem não tem?
6. Como é o clima nesse mundo?
7. Que tipo de tecnologia existe? Transporte?
Comunicação? Acesso à informação?
ESPAÇO FECHADO
ESPAÇO ABERTO
VEROSSIMILHANÇA

Não precisa ser REAL, mas precisa ser


VEROSSÍMIL; verossímil é diferente de
REALISTA ou VERDADEIRO
Ambientação
pela descrição
Ambientação
pela cena
Umberto Eco tem um trecho
interessante sobre ambientação
Para contar é necessário primeiramente
construir um mundo, o mais mobiliado
possível, até os últimos pormenores.
Constrói-se um rio, duas margens, e na
margem esquerda coloca-se um pescador, e
se esse pescador possui um temperamento
agressivo e uma folha penal pouco limpa,
pronto: pode-se começar a escrever,
traduzindo em palavras o que não pode
deixar de acontecer.
Que faz um pescador? Pesca. E depois
o que acontece? Ou há peixes que
mordem a isca ou não há. Se há, o
pescador os fisga e vai pra casa todo
contente. Fim da história. Se não há,
como ele é temperamental, talvez se
irrite, talvez quebre a vara de pescar.
Não é muita coisa, mas já é um esboço.
Mas existe um provérbio indiano que
diz “senta-se à beira do rio e espera, o
cadáver de teu inimigo não tardará a
passar”. E se, levado pela correnteza,
passasse um cadáver?
Não se pode esquecer que o meu
pescador tem uma folha penal suja.
Quererá correr o risco de meter-se na
enrascada? Que fará? Fugirá, fingindo
não ver o cadáver? Sentir-se-á com
rabo-de-palha, já que o cadáver é do
homem que odiava? Temperamental
como é, ficará furioso por não ter
realizado ele próprio a sonhada
vingança?
O ESPAÇO COMO PROTAGONISTA
O ESPAÇO COMO FUNDO
CONFLITO
Que tipo de conflito é
provável que surja nesse
mundo e com seus
personagens?
“E SE...”
LINGUAGEM
É importantíssimo pensar duas
questões:
 Como as pessoas desse lugar
falam?
 Como elas se entendem com
outras de outros universos?
PERSONAGENS
“Ao criar um personagem, o
escritor não está representando
expressamente a realidade, e sim,
uma visão fragmentada daquilo que
é real, já que o texto lida com um
mundo bem mais fragmentário do
que a nossa visão já fragmentária
da realidade.” Antonio Cândido
Hamlet Harry Potter

Dom Casmurro Gabriela

Romeu e Julieta A turma da Mônica

Dom Quixote Chaves


Personagens tipos (planos)

Personagens complexos (esféricos)


TIPOS – previsíveis, óbvios, cumprem funções
ex: a mocinha ou a vilã da história (novela, melodrama)

COMPLEXOS – não óbvios, surpreendentes


ex: anti-herói

Ninguém é totalmente bom ou totalmente ruim. O


assaltante de banco pode ser um excelente pai. A prostituta
pode ser apaixonada pelo marido.

Tipos x complexos: certo ou errado?


Maniqueísmo

Há um termo muito utilizado em


resenhas literárias e, portanto, em
oficinas literárias: o
maniqueísmo. Originalmente, o
termo remonta a uma filosofia
religiosa sincrética e dualística que
divide o mundo entre bem e mal
OS ANIMAIS
LINGUAGEM CORPORAL
O FÍSICO PELO EMOCIONAL
O corpo traz a história do personagem!
MEMÓRIA EMOTIVA

(Criação de um papel e A
preparação do Ator –
Constantin Stanislavski)
O “SE” MÁGICO
“ ‘O que você está fazendo?’, pergunta-me. ‘Bebendo
chá’, respondo. ‘E se fosse óleo de rícino, como o
beberia?’. Começo a recordar o gosto do remédio e,
quando consigo, faço gestos de desagrado; (...) ‘Onde
você está sentado?’. ‘Em uma cadeira’, respondo. ‘E se
você estivesse sentado sobre uma estufa quente, o que
faria?’. Obrigo-me a pensar em uma estufa ardendo e
faço esforços desesperados para salvar-me das
queimaduras”’.

Constantin Stanislavski
MÉTODO DAS AÇÕES
FÍSICAS
“Somente quem pode dominar o que faz em cena será
capaz de criar uma vida em cena. Como um artista pode
fazer claramente alguma coisa em cena se ele não vê o
seu próprio comportamento na vida? Para dominar sua
profissão, ele deve investigar os outros e ele mesmo, a fim
de poder, em cena, revelar algum segredo de valor,
segredo que ele notou nele e nos outros. Essas
investigações operam como um dedo colocado na ferida
do espectador, que se verá refletido no espelho das
ações”.

Thomas Richards
Análise Actancial

* Inventário das características físicas,


sociais e psicológicas
* O que fala de si, o que falam dele
* O que quer, o que faz, como faz (o
que impede)
* Figura metafórica
DIÁLOGOS
“Do meu ponto de vista, histórias e romances se
dividem em três partes: narração, que leva a
história do ponto A para o ponto B e, por fim, até
o ponto Z; descrição, que cria uma realidade
sensorial para o leitor; e diálogo, que dá vida
aos personagens através do discurso.”

Stephen King – Sobre a escrita


Discurso direto
Discurso indireto
Discurso indireto livre
Discurso direto

— Sara, meu Deus, Sara!


— Beto, nem acredito!
— Uma eternidade.
— Você está bonito com esse bigode.
— E você? Casada?
Discurso indireto

“Rafaela disse que ele estava


atrasado, ao que o marido retrucou
lembrando da noite anterior, quando a
esposa voltou para casa depois das duas
da manhã. Ela respondeu com um
palavrão.”
Discurso indireto livre

“D. Aurora sacudiu a cabeça e


afastou o juízo temerário. Por que estou
catando defeitos no próximo? Somos
todos irmãos. Irmãos.”
DÍÁLOGO FALADO
x
DIÁLOGO ESCRITO
Duas funções simultâneas: dar voz à
personagem e fazer com que o leitor intua o
que ele pensa através de como se expressa.

Personagens jamais devem falar sobre


aquilo que já sabem só para que o leitor fique
sabendo.

“Heitor, nos conhecemos há dez anos e desde


os tempos da faculdade você é casado com a
Silvia mesmo amando a Carla”.
Importância da fala e poder da
narração:

Visão de um personagem sobre outro


pode acabar abafando um deles, pode
perder a voz.
Ponto de vista
Desafio
O diálogo deve completar, impulsionar a
história, não repetir.

“Olhei para o relógio da parede. Seis


horas, finalmente. Não pude conter o
sorriso.
— São seis horas, tô indo! — gritei
enquanto sorria.”
• Personagem deve se mostrar, não o narrador
• Subtexto – o principal não é dito
• Nem didático, nem enigma
• O banal não entra, o diálogo é intencional
• O essencial é subtendido
• Cuidar piegas e clichê
• Colocar a história para frente
• Caracterização pela linguagem
• Despertar no leitor a sensação de ouvinte oculto
Variação linguística

• Diatópica – geográfica
• Diacrônica – faixa etária
• Diastrática – grupos sociais
José Carlos Laitano:

“O diálogo deve pertencer à narrativa, incorporar-


se à ação, nunca a interromper. Deve ter razão
de existir, marcar uma ideia, impulsionar a ação”.
Assis Brasil:

“O diálogo ficcional possui, sempre,


intencionalidade; tudo o que é supérfluo
deve ser evitado para que essa
intencionalidade não se perca”.
García Márquez:

“Não ponha respostas dúbias e nem pense em reticências.


Quando os roteiristas não sabem o que dizer, sempre colocam
três pontinhos. Tampouco faça diálogos sem recheio”.
Diego Grando:

“O tempo é uma das ferramentas da criação”.

DEIXE O TEXTO DORMIR!


Mostrar e não dizer = o leitor conclui!

AÇÃO

A ação pode ser silenciar

Personagens se revelam pela ação


O amor impossível – assunto, tema

O motivo de ser impossível – cenas,


personagens
A personagem deve dar a impressão de
que vive, de que é como um ser vivo.
Choramos a morte de uma personagem na
ficção e muitas vezes somos indiferentes
a tragédias informadas no noticiário.
“Para ir de A a Z, o autor vai passar por inúmeras etapas,
cobrindo todo o alfabeto. Cada uma dessas será uma ação
menor, parte do arco geral da obra. Essas serão as cenas, nas
quais a posição A contrapõe-se a posição B, resultando em C,
que será afetada por D, tornando-se E, e assim por diante.
Quando um autor é realmente bom, as ações físicas, os
agrupamentos cênicos, as confrontações de dois ou mais
personagens, suas marcas, seus gestos devem ser capazes,
em si, de narrar a história”.

Barbara Heliodora
SÍMBOLOS, ÍCONES E
ÍNDICES
ELEMENTOS DA CENA
Exposição
Revelação
Ponto de ataque
Antecipação
Complicação
Clímax
Crise
Desfecho
“Nenhum movimento, nenhum passo
em cena deve ser realizado
mecanicamente, sem um fundamento.”

Constantin Stanislavski

Toda cena tem uma razão para


existir!
TV/cinema/teatro

Literatura
Preconceito do personagem
(diálogo ou narração)

Preconceito do autor
“É a emissão de todo o meu corpo, de toda a minha
alma. É algo extremamente doloroso e pleno. No
momento em que eu consigo me colocar absoluta,
inteira, integrada, de tal forma que se me perguntarem
“onde você está?” eu levarei um segundo para
responder, eu sei que consegui. É algo incorporado,
realizado. O que se faz diariamente é a batalha para se
chegar a isso”.

Fernanda Montenegro
(em O exercício da Paixão – Lucia Rito)

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