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PROJETO FORMAR NA FUNASA:

PERCEPÇÃO DE BENEFÍCIOS PELOS FUNCIONÁRIOS

Ana Lúcia Magalhães Mariani


Programa Formação de Formadores em EJA (SESI/UNB/UNESCO)*
Universidade Corporativa do SESI - UniSESI

Resumo
Empresas do setor público investem na alfabetização de funcionários para elevar a escolaridade e
melhorar a qualidade dos serviços prestados à população. O Projeto FORMAR, implantado em 1999
pelo Ministério do Planejamento, permite que os servidores públicos tenham acesso à educação no
próprio local de trabalho e concluam os 1º e 2º graus.
O presente estudo consistiu na identificação dos benefícios percebidos pelos funcionários da Fundação
Nacional de Saúde (FUNASA) em Brasília-DF, matriculados em 2003 no Projeto FORMAR –
Educação de Jovens e Adultos.

Palavras-chaves: Trabalho; Educação; Inclusão

PROJECT TO FORM IN THE FUNASA:


PERCEPTION OF BENEFITS BY EMPLOYEES

Abstract
Companies of the public sector invest in the alfabetization of employees to raise the study and to
improve the quality of the services given to the population. The Project to form, implanted in 1999 for
the Ministry of the Planning, allows that the public services have access to the education in the proper
workstation and conclude the first one and according to degrees.
The present study it consisted of the identification of the benefits perceived for the employees of the
National Health Foundation - Funasa, in Brasília – DF, registered in 2003 in the Project to Form -
Young and Adult Education.

Keywords: Work; Education; Inclusion

* Curso de Especialização em Educação de Jovens e Adultos do Programa Formação de Formadores em EJA da


Universidade Corporativa do SESI em parceria com a Universidade de Brasília e a Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
Introdução
Em suas estatísticas, o IBGE (2002) considera alfabetizada aquela pessoa que lê e
escreve pelo menos um bilhete simples no idioma conhecido.

De acordo com o "Mapa do Analfabetismo no Brasil" (INEP/MEC, 2003), a distribuição


das pessoas que não sabem ler e escrever pelas diversas regiões do País mostra que existe uma
elevada concentração dessa população nas grandes cidades brasileiras. Em 125 municípios, de
um total de 5.507, estão 25% dos analfabetos do País, e 586 cidades respondem pela metade
dos analfabetos da população com 15 anos ou mais, segundo dados de 2000.

O Distrito Federal, mesmo não sendo dividido em prefeituras como os demais Estados da
Federação, é analisado como um município que concentra 83 mil analfabetos com idade
superior a 15 anos que não sabem ler nem escrever e ocupa o oitavo lugar entre os municípios
com o maior número de analfabetos.

Diante a realidade econômica e tecnológica do mundo atual, é cada vez mais adotado o
conceito de analfabeto funcional, que inclui todas as pessoas com menos de quatro séries de
estudos concluídas. O estudo do INEP revela que 35% dos analfabetos do Brasil já
freqüentaram a escola. Eles abandonaram os livros por causa da baixa qualidade do ensino ou
pela necessidade de trabalhar. (MEC/INEP, 2003).

O Censo Escolar de 2000 revela a existência de 33.221.192 analfabetos funcionais no


Brasil, ou seja, a taxa de analfabetismo funcional é de 27,8%. (IBGE, 2002).

Diante do levantamento feito pelo Ministério do Planejamento em 1999, que apresentou


um quadro de baixa escolaridade no serviço público, onde mais de 111 mil servidores não
tinham concluído o ensino básico, é necessário conhecer as políticas aplicadas para a área de
educação do trabalhador e saber o que está sendo feito pelo Estado para minimizar o
problema.

Entre as políticas para a área da educação do trabalhador, destaca-se o Projeto FORMAR,


criado pelo Governo Federal em fevereiro de 1999, com a metodologia do ensino a distância.
O FORMAR é um Programa de Formação Educacional da Coordenação da Secretaria de
Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, criado pelo Decreto
nº 2.794, de 1º de outubro de 1998.

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Uma das metas estabelecidas pelo Projeto FORMAR é a melhoria da escolarização dos
servidores públicos federais, proporcionando a todos a conclusão do 1º e 2º graus, por meio
do ensino em regime de suplência, utilizando as instalações do órgão onde o servidor trabalha.

A Fundação Nacional de Saúde implantou o Projeto FORMAR a partir de 1999,


oferecendo aos servidores a oportunidade de concluírem seus estudos do Nível Fundamental e
Médio da Educação Básica.

Este artigo destaca a conceituação da educação de jovens e adultos, a educação


continuada no contexto das organizações, os programas sociais na área de EJA e a
implantação do Projeto FORMAR na FUNASA.

Educação de Jovens e Adultos


O artigo 37 da Lei nº 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Bases (LDB) diz que “a Educação
de Jovens e Adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de
Estudos no ensino fundamental e médio na idade própria”.

No geral, os jovens e adultos que retornam à sala de aula são pessoas que não tiveram a
oportunidade de estudar na infância e adolescência, ou que por algum motivo suspenderam os
estudos antes de concluir o Ensino Fundamental e Médio da Educação Básica. Mesmo
aqueles que já detêm habilidades de ler e de escrever desejam adquirir novos conhecimentos e
certificação para concorrer no mercado de trabalho.

O Plano Nacional de Educação, aprovado pela Lei no 10.172, de 09 de janeiro de 2001,


ressalta que a educação de jovens e adultos deve compreender no mínimo, a oferta de uma
formação equivalente às oito séries iniciais do ensino fundamental. O repasse de recursos
financeiros pelo Governo Federal aos governos estaduais, Distrito Federal, prefeituras
municipais e às organizações não-governamentais, é feito por intermédio do MEC/FNDE 1,
objetivando o desenvolvimento de ações que promovam a inclusão dos adolescentes e adultos
não-escolarizados no processo de ensino com qualidade social e com vistas a uma Escola
Ideal. O apoio financeiro do MEC/FNDE se direciona ao desenvolvimento de projetos com
ações como: a formação continuada de docentes e o material didático.

1
Ministério da Educação. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.

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A novidade inserida nesta política em relação à educação de jovens e adultos é que ela
passa a ser entendida como uma modalidade inscrita no campo do direito à educação,
superando a concepção compensatória da EJA como recuperação de um tempo de
escolaridade perdido no passado e a idéia que o tempo apropriado para o aprendizado é a
infância e a adolescência.

O artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional fundamenta essa


concepção enfatizando a educação como direito que se afirma independente do limite de
idade: “A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na
convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos
sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”. (MEC/LDB, 2003)

Educação Continuada no Contexto das organizações


A inclusão de adultos na educação formal é vista como uma necessidade para atender
demandas do mundo do trabalho. Segundo Pinto (1987), ao adulto que é membro da
sociedade cabe a produção social, a direção da sociedade e a reprodução da espécie. Para ele,
o adulto é um trabalhador, pois só subsiste se trabalhar e só pode executar tarefas segundo as
condições oferecidas pela sociedade que determina as possibilidades e circunstâncias
materiais, econômicas, culturais de seu trabalho.

A participação de mais indivíduos na direção da sociedade só traz benefícios ao ambiente


social, pois surgem várias lideranças e novas idéias de solução para os problemas e possíveis
mudanças. Pinto (1987, p.13) afirma que: “a participação cada vez mais ativa das massas -
incluindo grande número de analfabetos - no processo político de uma sociedade, expande a
consciência do trabalhador e lhe ensina por que e como – ainda que analfabeto – deve caber a
ele uma participação mais ativa na vontade geral”.

O autor ainda ressalta as vantagens colhidas pelas sociedades que investe em educação de
adultos. Pinto (1987) afirma que durante o processo de desenvolvimento de uma sociedade,
aumenta cada vez mais a necessidade de educar adultos para complementar a sua participação
na sociedade e esta atinja níveis culturais mais altos e mais identificados com as políticas
defendidas pelos dirigentes.

A educação de jovens e adultos envolve tanto a alfabetização e a educação básica, como


também, as atividades relacionadas à profissionalização, mas a sua origem e seu caminho, no

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Brasil, foram marcados por duas características: uma educação destinada à classe trabalhadora
ou classes mais subalternas e implementada na história paralelamente ao sistema regular de
ensino.

Programas Sociais na área de Educação de Jovens e Adultos


Grandes campanhas nacionais relacionadas à educação foram realizadas pelo Estado
brasileiro. Pinto, Brant, Sampaio e Pascom (2000, p.523), ao descrever o histórico da
educação de jovens e adultos observam que antes do golpe militar de 1964, alguns programas
já eram experimentados para a erradicação do analfabetismo, tais como: Campanha de
Educação de Adolescentes e Adultos (1947, Governo Eurico Gaspar Dutra), Campanha
Nacional de Erradicação do Analfabetismo (1958, Governo Juscelino Kubitschek). Destaca-
se, também, como um dos projetos envolvendo a participação popular, o método de Paulo
Freire, iniciado em 1962, em Angicos, no Rio Grande do Norte, que consistiu na alfabetização
de 300 trabalhadores rurais em 45 dias.

Outras experiências foram organizadas por organizações religiosas como o Movimento


de Educação de Base, criado em 1961 pela Conferência dos Bispos do Brasil-CNBB e o
Programa Nacional de Alfabetização, segundo o método Paulo Freire, em 1964, no Governo
João Goulart. Os Movimentos de Cultura Popular (MCP) do Recife, a Campanha “De pé no
chão também se aprende ler”, visavam à promoção da cultura, da conscientização política e da
educação popular.

Gadotti e Romão (2001, p.36) lembram que durante os governos militares (1968 a 1978),
as experiências de educação libertadora de Freire foram substituídas por outros movimentos
implementados oficialmente, como a Cruzada Ação Básica Cristã (Cruzada ABC), o
Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral) e o Programa de Preparação de Mão-de-
Obra.

No governo José Sarney, a partir de 1985, foi implementada a Fundação Nacional de


Educação de Jovens e Adultos – Educar, substituída em 1990, pelo Programa Nacional de
Alfabetização e Cidadania – PNAC, do Governo Fernando Collor de Mello. Durante o
período de Itamar Franco, o Brasil assinou em 1993 a Declaração Mundial de Educação para
Todos e implantou o Plano Decenal de Educação para Todos.

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Em 1997, com o Presidente Fernando Henrique Cardoso foi implementada o Programa
de Alfabetização Solidária, que teve continuidade no governo de Luís Inácio Lula da Silva a
partir de 2002. O Programa é coordenado pela Secretaria Nacional Extraordinária de
Erradicação do Analfabetismo, vinculado ao Ministério da Educação. Porém, estas iniciativas
em relação a EJA permanecem tímidas.

Destacam-se, ainda, as iniciativas promovidas pela sociedade civil para combater o


analfabetismo, dentre elas as ações desenvolvidas pelas representações empresariais (SESC,
SENAI, SENAC, SESI, Telecurso 2000 da Fundação Roberto Marinho e Fundações
vinculadas ao setor bancário); iniciativas do Movimento Sindical (CUT, CGT, Força Sindical,
confederações e sindicatos filiados); experiências desenvolvidas por Movimentos Populares
(MST, Associações de Moradores); projetos criados por universidades, instituições de ensino
privado, organizações não governamentais e instituições religiosas.

Vale ressaltar, as iniciativas por parte do Estado em parceria com organizações da


sociedade civil que tratam da formação de alfabetizadores e à alfabetização de jovens e
adultos, como o Programa Brasil Alfabetizado. Segundo o Ministério da Educação (2003),
este Programa será executado de forma descentralizada, com as transferências de recursos
feitas automaticamente, sem necessidade de convênio, ajuste, acordo ou contrato com o
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

Os repasses ficarão limitados apenas ao montante especificado na Lei Orçamentária


Anual para esse fim. As transferências se destinam especificamente à formação de
alfabetizadores e à alfabetização de jovens e adultos nos estados, municípios e no Distrito
Federal. (MEC/FNDE, 2004)

O Plano Nacional de Educação determina que a universalização da alfabetização ocorra


em dez anos. Os recursos serão destinados às unidades da Federação que desenvolvam ações
voltadas à Educação de jovens e adultos em municípios com taxa de analfabetismo igual ou
maior que 20% da população com 15 anos ou mais; regiões metropolitanas em que o número
absoluto da população analfabeta seja igual ou superior a 30 mil habitantes ou que promovam
ações que incluam segmentos sociais específicos, como indígenas, rurais, remanescentes de
quilombos ou com necessidades especiais. (MEC/PNE, 2004)

Segundo Arbache (2003, p.25) “as novas políticas sociais procuram criar oportunidades
que permitam a saída da condição da pobreza de forma sustentável agindo no âmbito do

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indivíduo, mas, também, do contexto em que ele vive”. Isto porque, as diferenças sociais
existentes em nosso país geram a violência crescente e induzem a marginalização de classes
em relação a outras mais privilegiadas. Por outro lado, há o consenso generalizado de que a
educação para a cidadania é uma de suas principais armas, reconhecendo que a família e a
escola são os pilares da educação.

O Projeto FORMAR na FUNASA


No serviço público federal há um número elevado de servidores que ainda não possuem
nível médio de escolaridade, estimado em 111.437. (MP/SRH, 2003). A Secretaria de
Recursos Humanos, do Ministério do Planejamento, prioriza em seu plano de metas, a
valorização do servidor e a melhoria dos serviços públicos prestados à sociedade, em
consonância com as propostas do Governo Federal, no desenvolvimento de Projetos,
incluindo o FORMAR.

Desde o ano de 1992, a Administração Pública Federal procurou oferecer cursos de


alfabetização e de nível fundamental para os servidores em Brasília, através do Programa de
Formação Educacional Básica. Este Programa foi intensificado em 1998, com a adoção do
Telecurso 2000. A partir de 1999, foi criado o Projeto FORMAR para unir os dois programas
e dar continuidade à escolarização de servidores públicos até o nível médio.

O Projeto FORMAR objetiva a revitalização dos recursos humanos no serviço público,


com a elevação do nível de escolaridade dos servidores. Acredita-se que a partir da inclusão
dos trabalhadores menos escolarizados no Projeto de Alfabetização FORMAR, as
organizações públicas poderão melhorar a qualidade do serviço a partir das atividades
operacionais desenvolvidas por esses profissionais. (SRH/MP, 2003).

O histórico do Projeto encontra-se na política desenvolvida pela Fundação Nacional de


Saúde (FUNASA), órgão executivo do Ministério da Saúde, responsável em promover a
inclusão social por meio de ações de saneamento e pela promoção e proteção à saúde dos
povos indígenas.

No dia 02 de agosto de 1999, a Presidência da FUNASA implantou o Programa de


Formação Educacional Básica para atender a 38 servidores em nível de 1º grau, sob a
responsabilidade da Coordenação de Seleção e Desenvolvimento de Recursos Humanos –

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CODER, responsável pela execução das atividades de desenvolvimento de recursos humanos,
pela coordenação e elaboração do Plano Anual de Capacitação.

A Portaria MARE nº 3454 de 15 de dezembro de 1998, Artigo 3º, previa que o público
alvo para capacitação no Projeto FORMAR é “todo servidor que não possui o segundo grau
completo”.

Após levantamento do nível de escolaridade dos servidores da FUNASA em todas as


coordenações regionais nos Estados e no Distrito Federal, verificou-se que vários servidores
não tinham concluído o ensino médio ou o ensino fundamental. Em 1999, a educação de
jovens e adultos foi incluída nos programas de capacitação dos recursos humanos constantes
no planejamento estratégico da organização.

A metodologia utilizada nas aulas do Projeto segue o método aplicado pelo educador
Paulo Freire na Alfabetização de Jovens e Adultos, enfatizando o “Tema Gerador” que é um
conteúdo escolhido de comum acordo entre professores e alunos. Este tema é trabalhado por
um mês, tendo como resultado uma apresentação de alunos e professores denominada
“Culminância”.

Vale rememorar as idéias do educador Paulo Freire (1921-1997) que na década de 60


desenvolveu um método para alfabetização de adultos, através do qual conseguia ótimos
resultados não apenas em termos de aprendizagem da escrita, mas também de conscientização
de camponeses e operários. O método desenvolvido por Paulo Freire baseia-se no dialogismo,
termo usado pelos pedagogos para indicar que ele pauta-se na escuta e no respeito ao aprendiz
como pessoa capaz de produzir significado. (Glossário Pedagógico, 2005).

Parafraseando, o seu método consiste na seleção de uma palavra que faz parte do
universo vivencial do alfabetizando, isto porque para Freire (1975, p.150): a educação é
conscientização. É reflexão rigorosa e conjunta sobre a realidade em que se vive. (Bello,
1993).

Esta palavra, denominada geradora era retirada do cotidiano dos alunos, para uma
comunidade de pedreiros poderia ser o tijolo, para um agricultor, a terra, para um mecânico,
motor. (Bello, 1993).

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No método Paulo Freire, a escolha das palavras geradoras era feita após o levantamento
do universo vocabular dos grupos. Segundo Freire (1979, p.74), a fase de seleção de palavras
geradoras é feita com os seguintes critérios:

“de riqueza fonética, de dificuldades fonéticas (as palavras selecionadas


devem responder às dificuldades fonéticas da língua, colocadas numa
seqüência que vai gradativamente de dificuldades menores para dificuldades
maiores); do aspecto pragmático da palavra, que implica um maior
entrosamento da palavra numa determinada realidade, social, cultural e
política”.

No método freiriano, as palavras chamadas geradoras são aquelas que, decompostas em


seus elementos silábicos, proporcionam pela combinação desses elementos o nascimento de
novas palavras. Para Freire, quinze ou dezoito palavras pareciam suficientes para o processo
de alfabetização pela conscientização. Como o exemplo (Freire, 1979), a palavra TIJOLO
gera três famílias fonéticas: TI – JO – LO. Combinando as consoantes com as demais vogais:
Ta – te – ti – to – tu; Ja – je – ji – jo – ju e La – le – li – lo – lu. Desta forma, o grupo de
alunos pode formar várias palavras (“Tatu”, “luta”, “lajota”, “Tito”, “loja”, “jato”, “lote”,
“tela”).

Nesta pedagogia exigem-se algumas técnicas de preparação do “material de


alfabetização”, termo utilizado para indicar: codificações, palavras geradoras, cartazes com as
famílias fonêmicas, quadros ou fichas de descoberta e material complementar. (Freire, 1979,
pp.75-76). Além do método do educador Paulo Freire, nas aulas do Projeto FORMAR são
utilizados livros e vídeos do Telecurso 2000 da Fundação Roberto Marinho, auxiliando os
alunos nos conteúdos abordados nas disciplinas estudadas.

No 1º segmento, os alunos têm aulas de Português, Matemática e Conhecimentos Gerais


(Estudos Sociais e Ciências). O aluno vai eliminando as matérias de acordo com suas
habilidades e aprendizagem no decorrer do curso. No 2º e 3º segmentos, o aluno pode cursar
duas disciplinas por semestre. Ele será certificado ao concluir na primeira etapa sete
disciplinas e onze na segunda etapa.

Nos 2º e 3º segmentos, os alunos assistem às aulas somente das disciplinas que ainda não
foram aprovados. Os coordenadores e professores avaliam os alunos continuamente e
diariamente, verificando o desenvolvimento da aprendizagem e selecionam aqueles alunos

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que terão condições de realizar ou não os exames, segundo o calendário de exames oferecidos
pela Secretaria de Educação do Distrito Federal.

Com referência a avaliação, os exames do 1º segmento são elaborados pelo professor,


baseando-se nos conteúdos abordados durante o ano letivo. Estes exames são avaliados por
profissionais da Secretaria de Estado da Educação do GDF, que disponibiliza um fiscal para
aplicar as provas.

Os exames do 2º e 3º segmentos são encaminhados ao Centro de Ensino Supletivo da


Asa Sul – CESAS, para que os alunos façam as provas juntamente com os demais alunos
matriculados no ensino supletivo da rede pública de ensino do Distrito Federal. As provas são
aplicadas semestralmente no CESAS, os alunos aprovados recebem o certificado de conclusão
do Ensino Fundamental ou do Ensino Médio.

No Distrito Federal a FUNASA mantém convênio com a Secretaria de Educação do DF.


Com um investimento inicial de R$. 15.341,80 no primeiro ano e uma redução do valor no
segundo ano. Nos anos 2002 e 2003 era previsto um acréscimo no investimento para a
educação continuada de seus funcionários. (Quadro 1).

Quadro 1 – Demonstrativo de Custo anual do Projeto FORMAR, 1999 - 2003

ANO ENTIDADE CONVENIADA CUSTOS


1999 Secretaria de Educação do Distrito Federal R$. 15.341,80
2000 Secretaria de Educação do Distrito Federal R$. 6.006,00
2001 Secretaria de Educação do Distrito Federal R$. 15.496,67
2002 Secretaria de Educação do Distrito Federal R$. 23.205,00
2003 Secretaria de Educação do Distrito Federal R$. 24.720,00
Fonte: Projeto FORMAR. FUNASA.2002

Observou-se que o número de ingressos de alunos no Programa variou muito no decorrer


dos anos. Em 1999, o Programa iniciou com vinte e oito participantes no nível fundamental.
No ano seguinte, ingressaram mais sete alunos, totalizando trinta e cinco participantes. Em
2001, ingressou mais um aluno no ensino fundamental. No ensino médio, o total de alunos era
de trinta e seis. (Quadro 2)

No ano de 2002, o número de alunos matriculados no ensino fundamental caiu para vinte
e dois e o número dos matriculados no ensino médio caiu para seis. Os dados eram indicativos

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de uma forte evasão escolar. Já em 2003, permaneceram matriculados vinte e quatro alunos:
dezoito no nível fundamental e seis no nível médio.

Quanto à aprovação dos alunos matriculados desde a implantação do Projeto em 1999,


até o ano de 2003, no 1º segmento (alfabetização a 4ª série do Ensino Fundamental), oito
alunos formaram no período de 1999 a 2001. No 2º segmento (5ª a 8ª série do Ensino
fundamental), quatro alunos concluíram no período de 2002 a 2003. Em relação ao ensino
médio, observou-se que nenhum aluno conseguiu concluir. (Quadro 2)

Quadro 2 – Demonstrativo Anual de alunos matriculados e formados pelo Projeto


FORMAR, 1999 - 2003
Nº de Participantes Formados
Ensino Médio Ensino Médio
ANO Fundamental Total Fundamental Total de
1º Seg. 2ª Seg. 3ª Seg. Participante 1º Seg. 2º Seg. 3º Seg. Formandos
Alfab. 5ª a 8ª Ensino Alfab. 5ª a 8ª Ensino
A 4ª série Médio A 4ª séries Médio
série série
1999 22 06 - 28 02 - - 02
2000 24 11 - 35 05 - - 05
2001 19 06 11 36 01 - - 01
2002 18 04 06 28 - 02 - 02
2003 16 02 06 24 - 02 - 02
Fonte: Projeto FORMAR. FUNASA.2003

Conclusão
A implantação de um Programa de alfabetização de jovens e adultos na organização
pública permitiu que os alunos participassem das aulas sem prejuízos ao trabalho. Cinco
alunos são liberados pelas chefias no horário das 10 h as 12 h e outros cinco são liberados no
horário das 14:00h as 16:00h.

Os alunos do Projeto FORMAR são adultos, com idade entre 28 e 55 anos, que
residiram no interior do país antes de virem para Brasília-DF e interromperam os estudos para
trabalhar, priorizando a educação dos filhos e o sustento da família. Todos ressaltaram a
importância da participação das professoras no Projeto, que segundo eles têm muita
disposição para ensinar, como também, a utilização do material didático como facilitador para

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o acompanhamento do programa, principalmente os livros da coleção Caderno do Futuro do
IBEP 2.

Os alunos assistem às aulas numa sala do 1º andar do prédio da FUNASA. A sala de aula
possui um ar condicionado, um quadro branco, uma televisão, um vídeo, vinte carteiras
escolares, um armário e material didático (livros didáticos, dicionários, canetas, lápis, pincéis
para quadro branco), bem como mesa e computador ligado à rede Internet.

A comunicação entre professor e aluno e entre os alunos ocorre de forma direta. Cada
turma é composta por cinco alunos, as carteiras escolares ficam em círculo para que todos
participem da aula e ninguém fique isolado. Os alunos fazem anotações no caderno e as aulas
ocorrem de forma dialógica.

As professoras do Projeto FORMAR são voluntárias, funcionárias da FUNASA e


formadas em Pedagogia com tempo de atuação em Educação de Jovens e Adultos entre três e
cinco anos. Para elas, a lentidão no aprendizado é uma das dificuldades encontradas na
prática de Educação de Jovens e Adultos. Porém, perceberam que a implantação do Projeto
FORMAR na FUNASA trouxe benefícios para os funcionários com o acesso gratuito à
educação no local de trabalho e o incentivo para continuação dos estudos.

Os funcionários da FUNASA em Brasília-DF que participam do Projeto FORMAR


perceberam benefícios e identificaram os mesmos a partir de sua participação no Programa
implantado na organização. Para eles o acesso à educação e a continuação dos estudos
melhorou a qualidade das tarefas no trabalho, pois alguns já conseguem identificar as siglas, o
número das salas e o nome dos setores da Instituição, outros lêem, escrevem, atendem melhor
ao telefone e já sabem manusear máquina copiadora.

Com o desenvolvimento de um Programa voltado para a Educação de Jovens e Adultos


na organização, os alunos-trabalhadores sentem-se motivados a desempenhar novas atividades
e continuar os estudos. Dentre as expectativas, após a conclusão do Curso, os alunos
apontaram as seguintes: fazer cursos na área de Informática; participar de concurso ou de
seleção para um emprego melhor; continuar os estudos para obter o certificado de conclusão
do ensino fundamental, do ensino médio ou, até mesmo, prestar vestibular para um curso
superior.

2
Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas. Companhia Editora Nacional.

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Sugestões
No Projeto FORMAR implantado na FUNASA, os alunos devem ser distribuídos em
turmas conforme o nível de escolaridade, os que estão em séries mais avançadas e os que
estão em séries iniciais, tendo em vista um melhor equilíbrio dos alunos no acompanhamento
das disciplinas para que nenhum deles se sinta constrangido por saber menos que o outro.

Qualquer programa voltado para o combate do analfabetismo deve priorizar a


qualificação dos alfabetizadores. Alfabetizar um jovem ou adulto, convivendo com suas
dificuldades na vida escolar é uma tarefa que deve ser executada por alguém devidamente
qualificado e preparado. Para isso, é necessário que os professores de jovens e adultos se
especializem na área para melhor orientar o seu público na construção do conhecimento.

A FUNASA deve contratar mais professores para o Programa, principalmente para as


disciplinas do nível médio, em virtude de haver somente duas professoras para atender os
alunos do nível fundamental. Como também, divulgar mais o Programa para incluir aqueles
funcionários que estão descentralizados à disposição de estados e municípios, que trabalham
no campo, nos programas de educação em saúde e controle de endemias em contato direto
com a população.

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