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CATTLEYA MESQUITAE – HABITAT NATURAL

O cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul e o primeiro em diversidade do


mundo, apesar disso está condenado, sobretudo pelo avanço desordenado da agricultura de
exportação. No mundo globalizado cada vez mais se constata que a diferença entre os
empreendedores de sucesso e os fracassados é extremamente simples: situa-se no campo da
percepção; precisamos ser rápidos em perceber as mudanças e flexíveis ao empreendê-las, trocando
o “fazejamento” pelo planejamento.
FOTO Nºs 01, 02 e 04 – CATTLEYA MESQUITAE

FONTE: VERA LÚCIA GUIMARÃES – PESQUISADORA “SOS ORQUIDEAS”


Assistimos diuturnamente ecocídios nas mais diversas formas; essa prática invadiu nosso
consciente coletivo e se sedimentou de tal forma que nos tornamos invisíveis diante da barbárie que
o Homo sapiens está provocando ao meio ambiente. Ainda é possível transformar uma pequena flor
num espetáculo aos nossos olhos, é possível tratar feridas da alma com a orquideoterapia.
Estudos climáticos recentes indicam crescente aumento da temperatura global destacando
que o ano de 2005 foi o mais quente em todo o período que se processa a medição; existem fortes
indícios que as conseqüências do aumento da poluição, das queimadas e dos desmatamentos serão
extremamente danosas para todos os seres vivos incluindo o homem. A comunidade científica sabe
que as plantas funcionam como indicadores de qualidade de vida e é também sabedora que muitos
processos fenológicos, como a queda de folhas e a floração, estão claramente associadas ao clima.
O clima predominante da região Sul mato-grossense é o tropical com temperatura média na
casa dos 24º, sendo que as máximas absolutas mensais não variam muito ao longo dos meses do
ano, podendo chegar a mais de 40ºC. nos dias mais quentes de verão e as mínimas absolutas
mensais variam bastante, atingindo valores em torno de oito a dez graus, nos meses de maio, junho
e julho, na cidade de Guiratinga-MT. Ao longo de dezoito anos de residência nessa região nunca
presenciei temperatura próxima ou abaixo de zero grau.
O que se constata é que apesar de aparentemente não estarmos sendo afetados pelo efeito
das mudanças climáticas, em conversas informais com orquidófilos da região foi constatado uma
certa estranheza com relação a antecipação da floração de diversas espécies nativas da família das
orquidáceas, em particular as cattleyas nos anos de 2006, 2007 e 2008.
O relevo da região varia de plano a suavemente ondulado, estendendo-se por imensos
planaltos ou chapadões e a ocorrência das Cattleyas Mesquitaes ocorre via de regras em altitudes
superiores a 600m acima do nível do mar.
A precipitação média mensal
apresenta uma grande
estacionalidade, concentrando-se nos
meses de primavera e verão (outubro
a março), que é a estação chuvosa.
Curtos períodos de seca, chamados
de veranicos, podem ocorrer em meio
a esta estação. No período de maio a
setembro os índices pluviométricos
mensais reduzem-se bastante,
podendo chegar a zero. Disto resulta
uma estação seca de 3 a 5 meses de
duração, ao final desse intenso
período de stress inicia-se o período
de floração da Cattleya Mesquitae
que se inicia no mês de setembro e se
estende até meados de novembro.
Como que desafiando a sina de morte
quase certa, após cinco meses de seca
em que as plantas são praticamente obrigadas a fingirem de mortas, para suportarem o risco
constante do fogo que se revela uma eterna ameaça, o cerrado explode em frutos e flores.
Iniciam-se os acasalamentos dos animais, o perfume adocicado dos frutos se misturam ao
perfume das flores, num verdadeiro convite a saborear o puçá, o cajuzinho do cerrado, a castanha
do baru, as gabirobas, o xixá, entre outros
FOTO Nº 03 – EXEMPLARES DE CATTLEYA MESQUITAE NO HABITAT NATURAL

FONTE: ARQUIVO PESSOAL


As gotículas de orvalho e a combinação climática realizam o milagre da manutenção e
multiplicação da vida silvestre, enchendo de poesia este que é um dos mais ricos ecossistemas do
planeta. Na região de Guiratinga, porção Sul do estado de Mato Grosso, essa planta raramente é
encontrada na forma epífita; é mais comum encontrá-la incrustada nas rochas (rupícula).
Quando a Mesquitae é encontrada em regiões bem sombreadas seu bulbos se desenvolvem
de forma mais acentuada, estão melhores hidratados e chegam a ter semelhança em proporção com
os da Cattleya Nobilior no tocante ao tamanho e forma dos bulbos, no entanto o mais comum é
encontrá-las fixadas nas rochas que podem ser do tipo bloco de arenitos siltiticos (popularmente
conhecidas na região como piçarra) ou em rochas de origem vulcânicas as famosas pedras de fogo
do interior paulista.
No Brasil existem registros da ocorrência dessa planta nos estado de Goiás (21 municípios)
e em MT (05) municípios, no exterior há registros de sua ocorrência na Bolívia ma região de
Encarnacion.
Cada frente da planta produz em média duas flores que emergem do ápice dos
pseudobulbos entre as folhas como ocorrem na Cattleya Nobilior ou do rizoma como ocorre na
Cattleya Walkeriana. As flores possuem de 8 a dez centímetros e a coloração das mesmas sofre
variação intensa (alba, albescens, suave, pérola, semialba, amoena, caerulea, caerulense, lilás tipo,
rosada, rubra, concolor, lilacina e vinicolor).
Sou Sócio fundador de uma
instituição que durante seis anos
consecutivos a partir do ano 2000
produziu belas experiências na área
de orquidofilia, a ONG SOS
Orquídeas. Nesse período com a
ajuda de abnegados orquidófilos e
parcerias realizadas com instituições
privadas e órgãos governamentais
promovemos Exposições, Encontros
Regionais, Baile de Gala visando a
Eleição de Mis Orquídea, Jornadas
de Estudo, Pesquisas de Campo,
diversos Cursos, trouxemos
especialistas nas mais diversas áreas
da orquidofilia entre eles Os
Doutores Darli Machado e a Drª.
Lou Menezes, em uma das tantas
conversas que tivemos Drª Lou
Menezes demonstrava uma certa inquietação no tocante a Cattleya Mesquitae quanto a sua origem,
sobretudo porque na região de Piracanjuba (GO) as supostas matrizes estavam muito distantes uma
da outra e os agentes polinizadores não conseguiriam realizar o trabalho que possivelmente teria
gerado essa nova espécie.
“A Cattleya walkeriana var. princeps, que poderia ser uma das plantas
envolvidas no híbrido, está a uma distância de 320 km, na cidade de
Piracanjuba. A Cattleya nobilior também está a pelo menos 50 km de
distância. Ela nunca está nos habitats misturada com a Cattleya
walkeriana, que sempre é encontrada em pequena quantidade”.

Pois bem, em uma visita de campo em que estavam presentes aproximadamente seis
membros da SOS fizemos uma descoberta que se contituiu num verdadeiro achado. Numa região
pouco visitada até então descobrimos a Cattleya Nobilior, a Cattleya Walkeriana e a Cattleya
Mesquitae no mesmo espaço físico.
A região possui uma mata frondosa com enormes árvores, no entanto é bem ventilada e
possui enormes blocos de rochas agrupadas sob a cobertura vegetal. Na forma rupícula encontramos
a Cattleya Mesquitae e na epífita encontramos a Cattleya Walkeriana e a Cattleya Nobilior. Convêm
destacar que foi encontrado uma orquidáceas da família das Cattleyas no mesmo ambiente das
demais que empiricamente parece ser derivada de um novo cruzamento natural, mas isso ainda
carece estudos e análises mais profundas, mas vale o registro da ocorrência dessas plantas num
mesmo habitat, espero com isso contribuir para futuras discussões acerca dessa espécie tão pouco
conhecida dos pesquisadores, a Cattleya Mesquitae.
FOTO Nº 05 – EXEMPLAR DE CATTLEYA NOBILIOR NO HABITAT NATURAL

FONTE: MARIA LUZIA A. DE SOUZA - UMA APAIXONADA PELA NATUREZA

A Mesquitae demonstra certa preferência por terrenos acidentados, em função dos


desmatamentos para formação de pastagens, teoricamente elas estariam protegidas uma vez que os
terrenos mais acidentados, sobretudo nas encostas das furnas, também são abrigos prediletos de
uma série de animais que compõe a fauna local, incluindo as onças (preta, parda suçuarana).
Em 2007 o biólogo Joaquim Vilela e a auto-didata Zelita Maria da Conceição, membros da
diretoria da SOS, realizaram uma nova visita exploratória na área em questão e após ouvirem um
barulho estranho no meio da mata ficaram apavorados; era uma Onça parda que havia acabado de
apanhar uma presa que certamente faria parte de sua refeição matinal.
O Susto maior de nossa amiga não foi quando enxergou a onça, mas sim ao ver o
“orquidoido” partir numa desabalada carreira na direção da onça; por sorte a mesma não era um
exemplar adulto e após abandonar a presa, acabou fugindo.
Passado o susto o biólogo exclamou: Pensei que fosse um cachorro vinagre! Eles estão em
extinção, nós tínhamos que salvá-lo. Depois desse episódio nenhum dos membros da ‘SOS
Orquídeas” voltou até o presente momento ao local.
FOTO Nº 06 – EXEMPLAR DE CATTLEYA WALKERIANA NO HABITAT NATURAL

FONTE: ARQUIVO PESSOAL


Porém nem mesmo as onças têm conseguido assegurar a proteção dessa espécie, temos
informações de fontes seguras que pessoas inescrupulosas vêm se deslocando para a região e pagam
para a população local a quantia de dez reais por saco de orquídea para mais tarde comercializá-las
nos grandes centros do país e do exterior, felizmente um dos grandes compradores de plantas
nativas de nossa região faleceu no início do ano passado de forma acidental ao cair de uma moto;
apesar de trágico, o meio ambiente agradece, pois em uma região onde a falta de emprego é muito
alta as pessoas se prestam a coletar plantas e vender por um preço ínfimo por questões de
sobrevivência. Prefiro celebrar a vida, mas nesse caso especificamente as orquidáceas certamente
agradeceram.
Se não bastassem as destruições ambientais provocadas pelo garimpo de diamantes ao
longo do século passado, as atividades agrícolas que despejam toneladas de agrotóxico com o
emprego de aviões, a pecuária que avança sucessivamente nas áreas que deveriam estar sendo
preservadas e o fogo no cerrado que é utilizado desde a preparação para limpeza das pastagens e
roças de subsistências, nossa flora se depara com o mais voraz de todos os predadores o “bicho
homem”, ele não tem escrúpulos, age impulsionado pela possibilidade do ganho aparentemente
fácil, sua consciência é facilmente manipulada pelo dinheiro e o ceticismo é seu fiel aliado.
Quem atirou fogo nas vestes dos buritis? Questiona Dan Alves, filho de um dos fundadores
da cidade. O som do vento se encarrega de propagar suas dúvidas...
“Amanhã quem sabe um tamanduá abraçando as flamas suicidará sobre o formigueiro
como um monge. O lobo guará olhando para uma lua de sangue, uivará sua dor.; a Suçuarana
acuada entre as zagaias flamejantes de uma coivara vulcânica, revelará a felina arte: Viver e morrer
tão de repente, como quem chega e parte..
Praticando uma geografia errante, o homem transformou o cerrado num imenso holocausto
de suas flores e seus frutos: a cagaita, o murici, o assa-peixe e o alecrim, mas os céus rejeitaram
essa oferta de Caim, e a Terra pariu seu renovo de novo... Brotos arrancados a fórceps de seu útero”
insistem em dizer SIM enquanto o Homo Sapiens teimosamente diz NÃO ao equilíbrio planetário.
Na era digital as informações circulam numa velocidade nunca dantes navegada, a aldeia
global tornou possível a troca de conhecimentos em tempo real, diante dessas transformações urge
pensarmos globalmente, mas agir localmente, produzindo ou mantendo espaços e informações de
biomas onde homens plantas e animais consigam conviver respeitando suas diferenças, pois sem
sonhos a vida não tem brilho, sem metas a vida não tem alicerces, sem prioridades os sonhos não se
tornam reais.
OUTRAS IMAGENS:

CATTLEYA NOBILIOR
CATTLEYA NOBILIOR

FONTE: ARQUIVOS DO PRÓPRIO AUTOR


CATTLEYA WALKERIANA

FONTE: ARQUIVOS DO PRÓPRIO AUTOR


Notas:
1. Estamos no final do mês de Maio e tanto as Cattleyas Walkerianas como as Nobiliors
estão floridas ou florindo;
2. A quantidade de Cattleya Walkeriana que é encontrada no município e região é
infinitamente inferior a quantidade de Cattleyas Mesquitaes e de Cattleyas Nobiliors.
3. A Cattleya Walkeriana pode ser encontrada nos Campos Serrados ou nas Matas de
Galerias, (pequenos arbustos a árvores com mais de trinta metros de altura),
geralmente com alttitudes que oscilam entre 600 e 800 metros de altitude.
4. Entre as Cattleyas a Nobilior incluindo a variedade Amalie, são as predominantes no
município e na região Sul do Estado de Mato Grosso.
5. No tocante a possibilidade de ter ocorrido cruzamento natural entre a Cattleya
Nobiliior e a Cattleya Mesquitae não está descartada, pois ambas estão floridas no
mesmo ambiente proporcionando a possibilidade dos agentes polinizadores realizarem
o trabalho necessário a fecundação.
6. As imagens nº 01,02 e 04 foram gentilmente cedidas pela orquidófila Vera Lucia
Guimarães, membro da “SOS ORQUÍDEAS”
7. A imagem Nº 05 foi gentilmente cedida pela amiga Maria Luzia A. de Souza – Uma amante
da natureza.

João Antonio Pereira


Especialista em Produção e Organização do Espaço Geográfico Mato-grossense
Orquidólogo-Sócio Fundador da SOS Orquídeas-Sociedade Guiratinguense de
Orquidofilia Foi Membro da Diretoria da CAOB e Consultor Técnico Milita na área desde
1991 Possui diversos artigos publicados em revistas do gênero.
Links das imagens:

Mesquitae no Habitat Natural Sem Flor


IM
http://img39.imageshack.us/my.php?image=mesquitaenohabitatnatur.jpg

Cattleya Mesquitae
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http://img39.imageshack.us/my.php?image=cattleyamesquitaevera2.jpg

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http://img39.imageshack.us/my.php?image=mesquitaevera.jpg
Mesquitae Botão abrindo
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http://img39.imageshack.us/my.php?image=cattleyamesquitaevera3g.jpg

Nobilior no Habitat
http://img40.imageshack.us/my.php?image=cattleyanobiliorhabitat.jpg

Walkeriana no Campo
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http://img291.imageshack.us/my.php?image=walkerianacampo.jpg

Nobilior Outras Imagens

Nobilior no Orquidário em Casa


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http://img291.imageshack.us/my.php?image=nobiliorcsa.jpg

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http://img291.imageshack.us/my.php?image=orqgem16.jpg

Walkerianas

Walkeriana na mata Mão Preta

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http://img291.imageshack.us/my.php?image=walkeriana21.jpg

Walkeriana nas Arvores de Grande Porte

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http://img291.imageshack.us/my.php?image=walkikinaarvore.jpg

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