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O pioneiro da fotografia no Brasil

Erivam M. Oliveira∗

Índice tulos de farmácia em papel fotossensível, já


com a utilização dos princípios da câmera
1 Introdução 1 obscura. Isso significa que Hercules che-
2 Hércules Florence: Pioneiro da Foto- gou à fotografia, em 1833, seis anos antes do
grafia no Brasil 2 anúncio oficial na Europa.
3 Conclusão 15 Florence faleceu no dia 27 de março de
4 Referências Bibliográficas 16 1879 em Campinas-SP, seu corpo foi sepul-
tado na quadra 14, jazigo 247 do cemitério
Resumo da Saudade2 .

Antoine Hercule Romuald Florence1 chegou


ao Brasil em 1824. Em 1830, publicou as ob- 1 Introdução
servações, resultado de sua participação na Hércules Florence, ao chegar ao Rio de Ja-
Expedição Langsdorff, sobre os sons emiti- neiro em 1824, sem conhecer o idioma local,
dos pelos animais a que batizou de Zoofonia. foi trabalhar na livraria e tipografia de Pierre
Devido à falta de oficinas impressoras no Plancher3 , quando, por meio de um anún-
Brasil, resolveu pesquisar uma forma al- cio, ficou sabendo que uma expedição cien-
ternativa de impressão, criando um sistema tífica estava recrutando desenhistas para fa-
chamado de Poligrafia, que permitia impri- zer a documentação da viagem. Essa expedi-
mir exemplares de diplomas maçônicos e ró- ção ficou conhecida como Expedição Langs-

Pesquisador do CIP – Centro Interdisciplinar de dorff4 . Na volta dessa expedição publicou
Pesquisa e Professor Adjunto da Faculdade Cásper no Rio de Janeiro um estudo sobre os sons
Líbero. Mestre em Ciências da Comunicação pela Es- 2
cola de Comunicação e Artes da Universidade de São Em seu túmulo há os dizeres: “A Hércules Flo-
Paulo, onde apresentou em 2003, dissertação acom- rence, um dos pioneiros na descoberta da fotografia,
panhada de documentário em vídeo, com o título 1832. Homenagem da Câmara Municipal de Campi-
“Hercules Florence: Pioneiro da fotografia no Bra- nas” (l977).
3
sil”, sob orientação do Prof. Dr. Mário Arturo Al- Pierre Plancher foi fundador do Jornal do Com-
berto Guidi. Contacto: erivam.oliveira@gmail.com; mércio do Rio de Janeiro.
4
erivam@globo.com Expedição científica que percorreu o interior do
1
Antoine Hercule Romuald Florence nasceu no Brasil de 1825 a 1829, chefiada pelo cônsul da Rús-
dia 29 de fevereiro de 1804, na cidade de Nice, sul sia no Brasil, o médico alemão Georg Heinrich von
da França. Ficou conhecido no Brasil como Hércules Langsdorff.
Florence.
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emitidos pelos animais, os quais chamou de Para compreendermos o fenômeno provo-


“Zoophonie” ou “Zoophonologie”5 . cado pela câmera obscura, é preciso consi-
As dificuldades, encontradas por Hércu- derar as propriedades físicas da luz - uma
les, para publicação de seus estudos, fize- forma de energia eletromagnética, que se
ram com que, entre 1832 e 1836, pesquisasse propaga em linha reta a partir de uma fonte
uma forma alternativa de impressão. Esse luminosa. Quando um desses raios lumino-
estudo foi chamado Poligraphye6 , e seu ob- sos incide sobre um objeto de superfície ir-
jetivo inicial fora a impressão das partituras regular ou opaca, é refletido de um modo di-
sobre a Zoofonia. Hércules Florence che- fuso, isto é, em todas as direções. Portanto,
gou, com essa pesquisa, a obter uma série de o orifício da câmera obscura, quando diante
exemplares, de diplomas maçônicos e rótu- de um objeto, deixará passar para o interior
los de farmácia em papel fotossensível, sen- dela alguns desses raios, que irão se projetar
sibilizado por sais de prata. Utilizou, para na parede branca. E, como cada ponto ilumi-
isso, o princípio da câmera obscura, apli- nado do objeto reflete os raios de luz, temos,
cado a um processo que chamou de “pho- então, uma projeção de imagem em negativo,
tographie”7 . invertida e de cabeça para baixo.
A seriedade das pesquisas e a docu- No Renascimento, século XVI, Leonardo
mentação deixada pelo pesquisador franco- da Vinci e Giovanni Batista Della Porta, des-
brasileiro colocam-no como um dos grandes creveram a câmera obscura como objeto au-
inventores do século XIX, ao lado de Bar- xiliar para o desenho. Em 1558, Della Porta
tolomeu Lourenço Gusmão, o “Padre Voa- (1541-1615) publicou uma descrição deta-
dor”, (Aerostação), Alberto Santos Dumont lhada sobre a câmera e seu uso no livro Ma-
(Aviação) e Padre Roberto Landell de Moura gia Naturalis sive de Miraculis Rerum Natu-
(transmissão radiofônica), que antecederam ralium. Esta câmera era um quarto estanque
outros pesquisadores, cujos inventos tam- à luz, possuía um orifício de um lado e a pa-
bém não foram reconhecidos pelos meios ci- rede à sua frente pintada de branco.
entíficos e culturais. A câmera obscura inicialmente possuía
grandes dimensões, e os artistas se posicio-
navam em seu interior para calcar a imagem
2 Hércules Florence: Pioneiro da
projetada através do orifício em telas, papéis
Fotografia no Brasil e pergaminhos. Com o passar dos séculos,
A primeira descoberta importante para os estudiosos da câmera obscura perceberam
chegar-se à gravação da imagem foi a câmera que poderiam utilizar o fenômeno de outra
obscura, princípio básico da máquina foto- maneira, isto é, tornando-a menor e obtendo
gráfica. o mesmo efeito.
Em 1777, o químico Karl Wilhelm Sche-
5
Zoofonia, som emitido pelos animais, hoje co- ele descobriu que o amoníaco atua satisfa-
nhecido como Bioacústica.
6
Poligrafia, sistema alternativo de impressão.
toriamente como fixador. Os desenhos tra-
7
Fotografia, obtenção da imagem através da câ- çados por Scheele num vidro, exposto sobre
mera obscura. um pedaço de papel sensibilizado com sais
de prata, à luz do sol, resultavam numa ima-

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gem nítida, porém em negativo, claros e es- apresentar os trabalhos por ele batiza-
curos invertidos. dos de heliografias. O evento não se re-
Em 1802, Sir Humphrey Davy publicou alizou por ter Niépce deixado claro, de
no Journal of the Royal Institution uma des- antemão, que não pretendia revelar seu
crição do êxito de Thomas Wedgwood, na segredo.”
impressão de silhuetas de folhas e vegetais
sobre couro. Mas Wedgwood não conseguiu Na viagem a Kew, perto de Londres, onde
fixar as imagens, isto é, eliminar o nitrato residia Claude, Joseph Niépce levou várias
de prata que não havia sido transformado em heliografias e as mostrou a Francis Bauer,
prata metálica, pois apesar de bem lavadas e pintor botânico a quem acabara de ser apre-
envernizadas, elas se escureciam totalmente sentado. Bauer reconheceu a importância do
quando expostas à luz. invento e o aconselhou a informar ao Rei
Em 1816, relatam alguns historiadores Jorge IV e a Royal Society sobre seu traba-
que Joseph Nicéphore Niépce (1765-1833) lho.
recobriu um papel com sais de prata e expôs, Com relação a esse episódio envolvendo
durante oito horas, uma dessas matrizes na Niépce e a Royal Society, os historiadores
câmera obscura, obtendo uma fraca imagem, da fotografia relatam fatos, senão contradi-
parcialmente fixada com ácido nítrico. Exis- tórios, pelo menos paradoxais:
tem, porém, dúvidas de que Niépce tivesse
realmente se utilizado do nitrato ou cloreto “Niépce teria deixado na Inglaterra, com
de prata, uma vez que, de acordo com Mário Francis Bauer, vários trabalhos seus, in-
Guidi8 , não foram localizados documentos cluindo a Vista da Janela e, pasme-se, um
que comprovem essa afirmação: manuscrito com o relato de todo o seu
procedimento de trabalho! É no mínimo
“A falta de maiores e mais precisas in- curioso que Niépce tenha perdido a opor-
formações sobre os trabalhos e pesqui- tunidade de oficializar suas descobertas
sas de Joseph Nicéphore Niépce se deve perante uma das mais reputadas socie-
a uma característica, até certo ponto pa- dades científicas da época, por não que-
ranóica, de sua personalidade. Vivia sus- rer revelar os segredos de seu trabalho e,
peitando que todos quisessem lhe roubar alguns dias depois, tivesse deixado esses
o segredo de sua técnica de trabalho. Isto mesmos segredos nas mãos de um quase
ficará claramente evidenciado na sua desconhecido!"9 .
tardia sociedade com Daguerre. Também
em 1828, quando vai à Inglaterra visi- Francis Bauer, no verso da heliografia da
tar o irmão Claude, fracassa uma pos- Vista da Janela, escreveu: “esta é a pri-
sível apresentação perante a Royal So- meira experiência, bem sucedida, do senhor
ciety. Neste encontro, intermediado por Niépce para fixar permanentemente a ima-
um certo Francis Bauer, Niépce deveria gem da natureza, 1827”. A melhor defini-
ção para a dúvida em torno da autenticação,
8
GUIDI. M. De Altamira a Palo Alto. Dissertação
9
de livre docência, ECA/USP, São Paulo, 1991. p.22. GUIDI, M. De Altamira a Palo Alto. Dissertação
de livre docência, ECA/USP, São Paulo, 1991. p. 23.

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feita por Bauer, é do pesquisador e escritor consistiam em expor, na câmera escura, pla-
italiano, Ando Giliardi: “A escrita garante a cas de cobre, recobertas com prata polida
chapa, mas quem garante a escrita?”10 . e sensibilizadas sobre o vapor de iodo, for-
Os únicos trabalhos documentados de mando uma capa de iodeto de prata sensível
Niépce,obtidos por meio da câmara obscura, à luz.
são a Vista da Janela, que mostra os telha- Conta-se que, em uma noite de 1835, Da-
dos da vila vistos de sua casa de campo de guerre guardou uma placa subexposta dentro
Le Gras, na vila de Saint Loup de Varenne, de um armário, onde havia um termômetro
perto de Chálon-sur-Saóne, sua cidade na- que se quebrou. Ao amanhecer, abrindo o
tal. A heliografia Vista da Janela, espelhada armário, ele constatou que a placa havia ad-
com uma imagem latente, somente é visível quirido uma imagem de densidade bastante
com angulação e luz. A obra encontra-se na satisfatória, tornando visível a imagem das
Gernshein Collection da Universidade do Te- placas subexpostas, em todas as áreas atingi-
xas, sendo impossível pensar em sua utiliza- das pela luz. O mercúrio criara um amál-
ção como matriz para cópias. Uma reprodu- gama de grande brilho, formando as áreas
ção foi realizada pela Kodak Research Labo- claras da imagem. Após a revelação, agora
ratory, na década de 50. O outro trabalho é a controlada, Daguerre submetia a placa com
Mesa Posta, cujo original desapareceu mis- a imagem a um banho fixador, para dissol-
teriosamente pouco tempo depois da exposi- ver os halogênios de prata não revelados, for-
ção, ocorrida em 1890 e dele só se conhece mando as áreas escuras da imagem. Inicial-
uma reprodução, feita a partir de um origi- mente foi usado o sal de cozinha (cloreto de
nal sobre vidro, apresentada, naquele ano, à sódio) como elemento fixador, sendo subs-
Sociéte Française de Photographie. tituído, posteriormente, por tiossulfato e hi-
Vários historiadores questionam não só possulfito de sódio. Substituição feita a par-
a data -1826/27, em que Niépce teria con- tir da descoberta de John Herschel, o que ga-
cluído suas experiências de gravação e fixa- rantia maior durabilidade à imagem.
ção da imagem, mas também se teria real- Daguerre garantiu assim a reputação de in-
mente usado sais de prata. ventor da imagem fixa – o daguerreotype.
Por intermédio dos irmãos Chevalier, fa- Foi ajudado mais tarde pelo amigo Jean
mosos óticos de Paris, Niépce entrou em François Dominique Aragô, nas negociações
contato com outro pesquisador, que também para a transferência dos direitos autorais da
buscava obter imagens impressionadas qui- invenção ao Estado francês, por uma pensão
micamente: Louis Jacques Mandé Daguerre vitalícia. No entanto, Hippolyte Bayard tam-
(1787-1851). bém reivindicava ser reconhecido como um
Daguerre, ao perceber as grandes limita- dos pioneiros da nova arte. Trata-se de uma
ções do betume da Judéia, método utilizado reivindicação legítima que provocou, tem-
por Niépce, prosseguiu sozinho nas pesqui- pos depois, o primeiro protesto fotográfico
sas com a prata alógena. Suas experiências da história, pois Bayard simulou suicídio,
10
por não ter sido reconhecido como um dos
GILIARDI, Ando. Storia Sociale della Fotogra-
fia. Feltrinelle, Milano. 1981.- 2a edição – p.24. pioneiros da nova arte que aflorava para o
mundo.

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Aragô, membro da Câmara de Deputa- e sua incapacidade de registrar detalhes não


dos da França, divulgou, em 7 de janeiro de causavam interesse ao público, quando com-
1839, o processo descoberto por Daguerre, parados aos daguerreótipos.
na Academia de Ciências e Belas Artes, Em 1839, quando chegam à Inglaterra os
descrevendo-o minuciosamente. Em 19 de rumores do invento de Daguerre, Talbot apri-
agosto do mesmo ano, a Academia de Ci- mora suas pesquisas e precipitadamente pu-
ências de Paris tornou o daguerreótipo aces- blica seu trabalho e o apresenta à Royal Ins-
sível ao público. Graças a essa descoberta, titution e à Royal Society.
já era possível obter-se daguerreótipos com John Herschel, amigo de Talbot,logo con-
apenas trinta minutos de exposição. cluiu que o tiossulfato de sódio seria um fi-
Willian Henry Fox Talbot (1800 - 1877), xador eficaz e sugeriu o termo: fotografia em
também pesquisava uma forma de gravar 1839.
quimicamente a imagem no papel. Suas pes- Um ano após, o material sensível foi subs-
quisas fotográficas consistiam em obter có- tituído por iodeto de prata, sendo submetido,
pias por contato de silhuetas de folhas, plu- após a exposição, a uma revelação com ácido
mas, rendas e outros objetos. gálico. Para as cópias, porém, o papel de
O papel era mergulhado em nitrato e clo- cloreto de prata continuou a ser usado. O
reto de prata e, depois de seco, fazia seu con- processo, inicialmente batizado de Talboti-
tato com os objetos, obtendo-se uma silhueta pia, ficou conhecido como Calotipia e foi pa-
escura. Finalmente, o papel era fixado sem tenteado na Inglaterra, em 1841.
perfeição, com amoníaco ou com uma solu- Em 1844, Talbot publicou The pencil of
ção concentrada de sal. Às vezes, também Nature, o primeiro livro do mundo ilustrado
era usado o iodeto de potássio. com fotografias. O livro foi editado em seis
No ano de 1835, Talbot construiu uma grandes volumes com um total de 24 talboti-
pequena câmera de madeira, que foi carre- pos originais. Continha as explicações deta-
gada com papel de cloreto de prata, e de lhadas de seus trabalhos, estabelecendo cer-
acordo com a objetiva utilizada eram neces- tos padrões de qualidade para a imagem.
sários trinta minutos a uma hora de exposi- Durante o século XIX, a Europa passou
ção. A imagem negativa era fixada em sal por profundas revoluções no universo artís-
de cozinha e submetida a um contato com tico, intelectual e mesmo humanístico. Ra-
outro papel sensível. Desse modo a cópia pidamente, os grandes centros urbanos da
apresentava-se positiva sem a inversão late- época ficaram repletos de daguerreótipos, a
ral. A mais conhecida dessas imagens é a ponto de vários pintores figurativos exclama-
janela da biblioteca da abadia de Locock Ab- rem em desespero, que a pintura havia mor-
bey, considerada a primeira fotografia obtida rido. No entanto, outros artistas, também
pelo processo negativo/positivo. preocupados em retratar a influência da luz
As imagens de Talbot eram bastante pre- solar, criaram o movimento artístico conhe-
cárias, devido ao seu reduzido tamanho de cido como impressionismo.
2,5 cm2 , se comparadas com a heliografia Em 16 de janeiro de 1840, o daguerreótipo
de Niépce, com cerca de 25X55 cm, obtida chega ao Rio de Janeiro, trazido pelo Abade
nove anos antes. Sua lentidão, seu tamanho Compte, com todo o material necessário para

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a tomada de vários daguerreótipos, conforme trabalhar com seus compatriotas, a princípio


noticiou o Jornal do Commércio naquele pe- em uma loja de tecidos de Theodore Dillon,
ríodo: em seguida em uma livraria que pertenceu a
Pierre Plancher14 .
“É preciso ter visto a cousa com os seus Na livraria de Plancher, por meio de um
próprios olhos para se fazer idéia da ra- anúncio de jornal, Florence ficou sabendo de
pidez e do resultado da operação. Em uma expedição científica e resolveu procurar
menos de nove minutos, o chafariz do o Barão de Langsdorff, responsável pela ex-
Largo do Paço, a Praça do Peixe e to- pedição e foi aceito como integrante da co-
dos os objetos circunstantes se achavam mitiva, no cargo de segundo desenhista.
reproduzidos com tal fidelidade, precisão No retorno da expedição, Hércules Flo-
e minuciosidade, que bem se via que a rence casou-se com Maria Angélica15 , filha
cousa tinha sido feita pela mão da natu- de Francisco Álvares Machado e Vasconcel-
reza, e quase sem a intervenção do ar- los16 , que havia conhecido nos preparativos
tista”11 . da expedição na cidade de Porto Feliz, in-
Enquanto na Europa vivia-se a efervescên- terior do estado de São Paulo. O aventu-
cia cultural, originada grandemente pela re- reiro francês fixou residência na Vila de São
volução industrial e pelo avanço de pesqui- Carlos, hoje cidade de Campinas, um dos
sas e descobertas em todas as áreas, residia principais centros culturais do estado de São
no Brasil, desde 1824, o francês Hércules Paulo17 .
Florence12 . Publicou no Rio de Janeiro, depois de seu
Florence, sugestionado pela leitura de Ro- casamento, observações feitas durante a ex-
binson Crusoé, vê despertada sua paixão pedição Langsdorff, que chamou de “Zo-
pela aventura e pelas viagens marítimas e, ophonie” ou “Zoophonologie”18 .
aos dezesseis anos, obteve autorização de Hércules Florence, durante toda sua vida
sua mãe para seguir de navio para Antuérpia, no Brasil conviveu com intelectuais e estran-
em uma desastrosa viagem, em que Florence geiros ilustres, que enriqueceram seu conhe-
foi roubado e teve que refazer o caminho de cimento e ajudaram-no a desenvolver várias
volta a Mônaco, praticamente a pé, obrigado 14
Pierre Plancher, fundador do Jornal do Commér-
a trabalhar como desenhista para conseguir o cio do Rio de Janeiro em 1827.
15
seu sustento. Maria Angélica Álvares Machado Vasconcellos,
A aventura vivida por Hércules Florence, primeira esposa de Hércules Florence.
16
Francisco Álvares Machado e Vasconcellos, im-
na Antuérpia, não o desanimou e, após reno-
portante político de São Paulo, presidiu a província do
var seu passaporte, embarcou para o Brasil, Rio Grande do Sul em 1840.
chegando ao Rio de Janeiro, em 1o de maio 17
MONTEIRO, Rosana Hório, Brasil: A desco-
de 182413 . Sem conhecer o idioma local, foi berta revisada da Fotografia. Tese de Mestrado Insti-
tuto de Geociências da Unicamp, Campinas, 1988.
11
Jornal do Commércio, 17.01.1840, p.2. 18
A publicação sobre as observações obtidas dos
12
Hércules Florence, viveu no Brasil 55 anos. sons emitidos pelos animais, principalmente pelos os
13
KOSSOY, Boris. Hércules Florence 1833: A pássaros, encontra-se na Biblioteca Nacional do Rio
descoberta Isolada da Fotografia no Brasil. Duas Ci- de Janeiro.
dades, São Paulo, 1975. p.06.

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pesquisas e inventos, entre os quais está a cri- Ele escrevia ou desenhava no vidro para
ação do Papel Inimitável, cuja importância poder imprimir na prancha, utilizando-se da
maior era evitar falsificações em quaisquer luz do Sol, do cloreto de prata ou ouro,
títulos de valor. como se fossem tinta de impressão, che-
gando naturalmente a um processo que se
“O súbdito francez Hercule Florence, aproxima muito ao da fotografia, principal-
que era um scientista notável. Deve- mente quando fez uso da câmera obscura. A
lhe a sciencia as descobertas que fez da matriz era colocada sobre um papel sensibi-
polygraphia, aperfeiçoada depois sob a lizado por cloreto de prata ou ouro, o qual
denominação de pulvographia, do pa- era prensado à luz do Sol, obtendo-se como
pel inimitável, cuja importância maior resultado uma imagem.
era evitar falsificações em quaesquer tí- Na página quarenta e dois, do manuscrito,
tulos de valor, firmados naquelle papel Florence faz referências às suas experiências
muito propriamente denominado inimitá- com a impressão através da luz solar, pro-
vel...”19 cesso que originou a Photographie:“Dei a
essa arte o nome de Photographie, porque
Florence preparou uma chapa de vidro nela a luz desempenha o principal papel.”20
como matriz, escurecida com a fumaça de Personagem importante para o aperfeiço-
um lampião, e aplicou uma camada de goma- amento da fotografia foi o boticário Joaquim
arábica. Após o endurecimento da cola, com Corrêa de Mello, que trabalhava na farmácia
uma agulha, desenhava ou escrevia nessa de Francisco Álvares Machado e Vasconcel-
superfície, retirando a cola endurecida do los, sogro de Florence, e o auxiliava em suas
fundo do vidro. experiências.
Hércules Florence fez anotações sobre
seus inventos e descobertas nos documentos “Nestas pesquisas, com elle collabo-
manuscritos entre 1830 e 1862, em francês, rava Intelligentemente o grande botânico
num volume de 423 páginas, intitulado de e chimico paulista Joaquim Corrêa de
“L’Ami Des Arts Livré à Lui Même ou Re- Mello [...] (p.149)21 .
cherches Et Découvertes Sur Différents Su-
jets Nouveaux”. Em um conjunto de três Florence também reconhece a importância
cadernos pequenos de informações, intitula- de Corrêa de Mello, quando registra, na pá-
dos “Correspondance”, copiou diversas car- gina 103 do caderno Correspondance, a ori-
tas por ele expedidas, em que há referências gem da composição do nome fotografia:“Em
aos inventos. 1832, assaltou-me a idéia de imprimir pela
Com a Poligrafia, tornou-se possível im- 20
FLORENCE, H. L’Ami Des Arts Livré à Lui
primir numa mistura de litografia e gravura Même ou Recherches Et Découvertes Sur Différents
em diversas cores. Foi então que Florence Sujets Nouveaux. Manuscrito, Vila de São Carlos
teve a idéia de utilizar a câmera obscura. (Campinas) – Província de São Paulo, 1830 a 1862.
p.42.
19
CAMPOS, J. Maniçoba Araritaguaba Porto Fe- 21
DUARTE, Raphael. Campinas de Outr’ora
liz. Ottoni Editora, Itu-SP, 2000. 3a edição. (Coisas de meu tempo, por Agricio). São Paulo, Ty-
pographia Andrade & Mello, 1905 (FFLCH-HIS).

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ação da luz sobre o nitrato de prata. O Sr. Hércules Florence afirmou que o cloreto
Correia de Mello (muito notável botânico de ouro produzia melhor efeito no pergami-
brasileiro) e eu demos ao processo o nome nho Holanda, para carta, e em todos os pa-
fotografia.”22 péis de qualidade superior. Como o cloreto
Florence havia manifestado ao botânico escurece em contato com a luz do dia, con-
Joaquim Corrêa de Mello o desejo de encon- vém molhar o papel à noite, ou em câmara
trar uma forma alternativa de impressão por escura. O processo de Florence consistia em
meio da luz do Sol, que não precisasse das emulsionar uma das faces do papel com um
pesadas máquinas de tipografia, e um meio pincel, estender as folhas, para que secas-
simples em que as pessoas pudessem impri- sem durante a noite. Uma vez que os sais
mir. Corrêa de Mello informou a Florence de prata e o ouro são sensíveis à luz, após a
que as substâncias que poderiam atender às secagem eram guardados em pastas bem fe-
suas necessidades seriam os sais de prata, chadas, protegidas.
pois esses sais escureciam em função da luz. Na página quarenta e oito, do manuscrito
Hércules Florence descreveu suas experi- “L’Ami Des Arts Livre a Lui Meme ou Re-
ências com sais de ouro, na página 46, como cherches Et Decouvertes Sur Differents Su-
uma substância sensível à luz. Certamente jets Nouveaux”, Florence fez anotações so-
foi o primeiro na história da fotografia a uti- bre suas pesquisas com urina, sais de prata e
lizar esse método. ouro.
O cloreto de ouro é um material fotossen- Leitor ávido, Florence teve acesso a uma
sível, não tão sensível quanto o sal de prata, publicação de Berzelius sobre uma experi-
mas possibilita um maior controle sobre o ência desenvolvida em 1777, pelo químico
processo de impressão em papéis sensibili- Karl Wilhelm Scheele (cit. p. 3), em que o
zados com cloretos de ouro, apesar do alto amoníaco reduzia os sais de prata não atingi-
custo. dos pela luz. A partir desse momento, ele e
Corrêa de Mello começam a fazer experiên-
[...] “Esse sal deverá servir de tinta cias com a urina, pois eles não dispunham de
para a impressão das provas. É externa- amoníaco na Vila de São Carlos.
mente caro, mas suas propriedades são
tais, que me sinto obrigado a preferi-lo [...] exposta ao sol, uma estante simplifi-
ao nitrato ou cloreto de prata, que é qua- cada, sujeita à inclinação tal que os raios
tro ou seis vezes mais barato. Se não se solares fiquem perpendiculares à super-
tratasse de pôr cloreto de ouro nos tra- fície que se pinta de preto. Nela se aloja
ços, a despesa não seria excessiva, mas a prancha de vidro, com o desenho vi-
é indispensável molhar toda a superfície rado para dentro; coloca-se entre a pran-
do papel sobre o qual se imprime.23 [... :] cha e a estante uma folha de papel sobre
22
o qual há uma camada de cloreto, que
FLORENCE, H. Correspondance.. Manuscrito,
Vila de São Carlos (Campinas) – Província de São
aí se deixa cerca de um quarto de hora.
Paulo, 1830 a 1862. p.103. Sujets Nouveaux. Manuscrito, Vila de São Carlos
23
FLORENCE, H. L’Ami Des Arts Livré à Lui (Campinas) – Província de São Paulo, 1830 a 1862.
Même ou Recherches Et Découvertes Sur Différents p.46.

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Sabe-se que o cloreto de ouro escurece França, em 1838, um ano antes do anúncio
quando exposto aos raios solares. Ora, oficial da descoberta de Daguerre:
estes atravessam o desenho e só escure-
cem o papel sobre que incidem e, dessa [...] “Não passarei em silêncio, um in-
forma, fica impresso o desenho. cidente que começou em 1833. Veio-
Retirada a prova, o desenho mal apa- me à idéia um dia, era 15 de agosto
rece. Levando-o para a escuridão põe-se (1832), que se poderiam fixar as imagens
em bacia em que se junta água e urina. na câmara escura. Realizando a pri-
O desenho torna-se imediatamente preto meira experiência, verifiquei que raios
pela ação da urina; aí se deixa bastante solares passaram diretamente, do tudo
tempo e, ao ser retirado, é posto a secar mal ajustado ao instrumento, e sensi-
na sombra.24 [...] bilizaram o papel embebido de nitrato
de prata. Patenteou-se-me, então, que
Há descrições de outras pesquisas em que
se poderiam imprimir escrita e desenhos
o amoníaco, ou o hidróxido de amônia, fun-
gravados (a jour sur) em vidro coberto de
cionou perfeitamente como agente fixador
negro e goma. Imprimi um anúncio com
para obtenção da imagem por meio da câ-
uma fama a fazer às vezes de cabeçalho,
mera obscura, embora a solução forte clare-
que espalhei pela cidade e que me fez
asse demais os desenhos.
vender muitas mercadorias, porque fazer
Florence tinha plena consciência de que
propaganda desse tipo era novidade para
suas pesquisas poderiam levá-lo ao reconhe-
Campinas. Dei ao processo o nome de
cimento como inventor. Começou a temer o
“Fotografia”. Entre outros desenhos e
sucesso e a fama que a divulgação de suas
autógrafos fotografados, imprimi ao sol
pesquisas poderiam acarretar. Deixou regis-
o retrato de um índio Bororó, que enviei
trado na página três, do caderno “Correspon-
ao Sr. Felix Taunay, que me respondeu
dance”, trecho de carta dirigida a Charles
com a notícia de o ter colocado no ál-
Auguste Taunay. Nela lamenta o rumo que
bum do príncipe de Joinville, por ocasião
a história tomou.
de sua primeira viagem ao Rio de Ja-
Como são revelações importantes para o
neiro. Certo ano em que estive nessa ci-
entendimento das pesquisas e da história
dade, se não me engano, em 1836, falei-
da fotografia, transcreverei um longo trecho
lhe a respeito de tais experiências, mas,
dessa carta, que relata suas invenções e os
quando em 1839 ocorreu a invenção de
contatos para a divulgação de seus estudos.
Daguerre, monologuei: - Se eu tivesse
Temos, além disso, citações ao retrato do ín-
permanecido na Europa, teriam reconhe-
dio Bororó, que teria sido colocado na baga-
cido meu descobrimento. Não mais pen-
gem do Príncipe de Joinville, filho do rei da
semos nisso. Não necessito dizer-lhe que
24
FLORENCE, H. L’Ami Des Arts Livré à Lui o objeto desta carta e falar-lhe de meus
Même ou Recherches Et Découvertes Sur Différents descobrimentos artísticos. Preciso, po-
Sujets Nouveaux. Manuscrito, Vila de São Carlos
rém, pedir-lhe que tenha a paciência de
(Campinas) – Província de São Paulo, 1830 a 1862.
p.48. ler-lhe o conteúdo.
No meio do pequeníssimo número de pes-

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10 Erivam Oliveira

soas capazes de conhecer a Poligrafia, o guma disso. Campinas era o único ponto
Sr. é a primeira a quem dela falei em do mundo em que se imprimiam todas as
1831, sucedendo que a acolheu otima- cores simultaneamente, porquanto o des-
mente. Tanto quanto o Sr. tomou parte cobrimento de Lipmann, em Berlim, que
ativa no desenvolvimento dela. E dela assombrou a Europa, só foi anunciado
o Sr. falou ao Sr Eduardo Pontois, En- em 1848, mas a sombra devia cercar as
carregado de Negócios da França, o qual minhas invenções “25
testemunhou muito interesse por meu in-
vento tendo-lhe eu remetido, por sua so- Insistentemente Hércules Florence regis-
licitação, nesse mesmo ano de 1831, um trou, em seus manuscritos, seu lamento e pe-
memorial em que revelava o inteiro se- sar por não ver seus inventos reconhecidos
gredo da Poligrafia, acompanhado de pelo mundo. Embora tenha pesquisado e tra-
duas provas: uma, de um escrito auto- balhado em vários inventos, ele jamais con-
grafo; outra, de um índio Apiacá. O Sr. seguiu sequer reconhecimento por um único,
Pontois escreveu-me que ia encaminhar mesmo sendo genro do influente Álvares
tais peças ao Ministério do Interior, em Machado, um dos principais políticos bra-
Paris, mas jamais recebi algo que me ci- sileiros e ter travado conhecimento com ou-
entificasse de que elas tiveram esse des- tros personagens importantes do período: Dr.
tino. Carlos Engler26 , o botânico Joaquim Corrêa
Contra minha expectativa, dificuldades de Mello, o Barão de Langsdorff, cônsul da
locais, porque eu trabalhava na provín- Rússia no Brasil; Pierre Plancher, fundador
cia de São Paulo, interromperam o aper- do Jornal do Commércio do Rio de Janeiro e
feiçoamento dessa nova arte. Mal grado o próprio Imperador D. Pedro II. Lamentava
houvesse eu já concretizado os princí- estar vivendo longe da Europa, onde, tinha
pios da escrita e desenhos no papel celu- certeza, veria seus esforços reconhecidos.
lar, da prancha abastecida de tinta para Hércules Florence construiu, de maneira
toda a tiragem, e da impressão simultâ- muito rudimentar, uma câmera obscura, uti-
nea de todas as cores, de 1831 a 1848, lizando a paleta de pintor e a lente de um mo-
durante um período de 17 anos, (a lito- nóculo, e conseguiu uma imagem precária da
grafia inventada em Monique foi conhe- vista da janela de sua casa num papel sensi-
cida em Paris somente 17 anos depois), bilizado com sais de prata, depois de quatro
tive que contentar-me de imprimir para horas de exposição. Essa imagem acabou se
Campinas e cercanias, porque, do ponto perdendo, deteriorando-se como tantas ou-
de vista da nitidez, a Poligrafia não teria tras que ele descreveu:
podido suportar paralelo com a litogra- [...] “Fabriquei muito imperfeitamente
fia, no Rio de Janeiro e na Europa. uma câmara escura, utilizando uma cai-
Durante esse período, procedi a impres-
25
sões policromáticas para o Teatro de Itu, FLORENCE, H. Correspondance. Manuscrito,
Vila de São Carlos (Campinas) – Província de São
para um farmacêutico em São Paulo, Paulo, 1830 a 1862. p.03.
para minha fábrica de chapéus, etc.. 26
Karl von Engler, médico austríaco, ficou conhe-
O público, porém, não entendia coisa al- cido no Brasil como Dr. Carlos Engler.

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O pioneiro da fotografia no Brasil 11

xinha, que cobri com minha paleta em negativo e positivo. Com Florence não foi
cujo orifício introduzi uma lente que per- diferente:
tencera a um óculo. Coloquei o espe-
lho e, a conveniente altura, dentro pus [...] “Tomei um pedaço de caixilho,
um pedaço de papel embebido de fraca escureci-o à fumaça de uma candeia e
dissolução de nitrato de prata. Depositei nele escrevi, com um buril muito fino,
esse aparelho numa cadeira, em sala na- esta palavras: “Empresta-me teus raios,
turalmente escura. O objeto que se repre- ó divino Sol”. Ajeitei, em baixo, um frag-
sentava na câmara escura era uma das mento de papel, preparado como já tive
janelas, com a vidraça fechada: viam- o ensejo de dizer, e o expus ao Sol. Den-
se os caixilhos,o teto duma casa fron- tro de um minuto, as palavras aí se fize-
teira e parte do céu. Aí deixei isso du- ram visibilíssima e com o maior primor
rante quatro horas; em seguida, fui ve- possível. Lavei imediatamente, e durante
rificar e (palavra ilegível por dilacera- muito tempo o papel, para evitar que seu
ção da página nesse ponto), retirado o fundo também escurecesse. Deixei-o ao
papel, nele encontrei a janela fixamente Sol, por uma hora, e o fundo do papel
representada, mas, o que devia mostrar- adquiriu leve cor. Contudo, o que nele
se escuro, estava claro, e o que devia ser estava escrito continuou sempre inteligí-
claro, apresentava-se escuro. Não im- vel, conservando-se assim o papel, por
porta, porém; achar-se-á logo remédio vários dias, até que simples curiosidade
para isso..”27 [...] de saber qual seria a ação do calor numa
débil porção de nitrato de prata, me in-
Hércules passou pelo mesmo problema duzisse a queimá-lo.”28 [...]
outras vezes e, em pouco tempo, teve a idéia
Florence mencionou também uma foto-
de colocar a imagem, obtida em negativo, em
grafia que teria feito da cadeia pública de
contato com outro papel sensibilizado e vol-
Campinas. Havia ali uma sentinela que, na
tar a expor, sob a ação da luz, obtendo uma
fotografia, teria saído negro, quando ele era
imagem na posição correta, ou seja, imagem
branco. Na realidade, Hércules Florence ha-
em positivo. E foi essa mesma idéia que, o
via feito uma imagem em negativo da vista
inglês, Willian Fox-Talbot, teve.
da cadeia pública de Campinas.
Na história da fotografia, outros pesqui-
A intenção de Hércules Florence era en-
sadores encontraram dificuldades enormes
contrar uma forma alternativa de fazer im-
com a questão da inversão de imagens em
pressões por meio de a luz solar; já a dos pes-
27
FLORENCE, H. Correspondance.. Manuscrito, quisadores europeus, era a gravação de ima-
Vila de São Carlos (Campinas) – Província de São gens da natureza por meio da câmera obs-
Paulo, 1830 a 1862. p. 131, verso do caderno no
cura.
1, subordinou ao título “Fixation des images dans la
28
chambre obscure”, na parte final dessa página, bem FLORENCE, H. Correspondance.. Manuscrito,
assim em toda página 132 e no começo do verso desta, Vila de São Carlos (Campinas) – Província de São
com a data do dia 20 (domingo), referindo-se a um ar- Paulo, 1830 a 1862 -“Photographie”, p 132 verso,
tigo escrito em 15 de janeiro de 1833. 133 e 133 verso do caderno no 1.

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12 Erivam Oliveira

Florence faz uma observação na página suavizar-me a sorte e ser útil a socie-
158 de seu manuscrito, sobre as experiências dade. Lá, talvez não me faltassem pes-
da fotografia e fixação da imagem por meio soas que me ouviriam, me adivinhariam
da câmera obscura, sensibilizada com nitrato e me protegeriam. Estou certo de que o
e cloreto de prata e ouro. Em nenhuma des- público, o verdadeiro protetor dos talen-
sas anotações, refere-se às pesquisas realiza- tos, me compensaria de meus sacrifícios.
das, no mesmo período, na Europa, por Ne- Aqui, porém, ninguém vejo a quem possa
céphore Niépce, Louis Jacques Mande Da- comunicar minhas idéias. Os em condi-
guerre e Willian Fox Talbot, ou mesmo relata ções de as entenderem, seriam domina-
qualquer conhecimento de pesquisas anteri- dos por suas próprias idéias, por suas es-
ores com câmera obscura e sais de prata. peculações, pela política, etc.”29 .
Florence denominava-se “um inventor no
exílio” - sentia-se isolado no Brasil. Rela- Existem duas versões quanto ao local em
tou por diversas vezes, em seus manuscritos, que se encontrava Florence, quando desco-
as dificuldades para obter materiais para suas briu que Daguerre obtivera êxito na grava-
pesquisas, a falta de pessoas que pudessem ção da imagem. A primeira versão é do pró-
entender suas idéias. Seus lamentos e angús- prio Hércules Florence, registrada em seus
tias ficam evidentes no texto a seguir: manuscritos: estava no campo, à beira de um
rio, quando um visitante francês lhe deu a
...“Inventei a fotografia; fixei as imagens notícia.
na câmera obscura, inventei a poligrafia, Em longo e comovente texto, registrado
a impressão simultânea de todas as co- no caderno três, Florence narra suas desco-
res, a prancha definitivamente carregada bertas e inventos:
de tinta, os novos sinais estenográficos.
Concebi uma máquina que me parecia “Estávamos em 1839. Encontrava-me no
infalível cujo movimento seria indepen- campo, na morada de um amigo. Sentia-
dente de um agente qualquer e cuja força me alegre, conversando muito com um de
teria alguma importância. Comecei a fa- seus hóspedes, homem afável e instruído.
zer uma coleção de estudos de céus, com Falávamos de diversas coisas, à noite,
novas observações, muitas, aliás, e meus numa viga, sentados ao luar, à margem
descobrimentos estão comigo, sepulta- do rio30 . De repente ele me diz:
dos na sombra, meu talento, minhas vigí- -“Sabe do belo descobrimento que acaba
lias, meus pesares, minhas privações são de fazer-se?”
estéreis para os outros. Não me socor- -“Não” – respondo.
reram as artes peculiares às grandes ci- 29
FLORENCE, H. L’Ami Des Arts Livré à Lui
dades para desenvolver e aperfeiçoar al- Même ou Recherches Et Découvertes Sur Différents
guns de meus descobrimentos, para que Sujets Nouveaux. Manuscrito, Vila de São Carlos
eu me cientificasse da exatidão de al- (Campinas) – Província de São Paulo, 1830 a 1862.
gumas de minhas idéias. Estou certo (fim da p.160 e grande parte da p.160 verso).
30
Rio Burú, na cidade de Indaiatuba, divisa com o
de que, se estivesse em Paris, um único município de Salto.
de meus descobrimentos poderia, talvez

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O pioneiro da fotografia no Brasil 13

-“Óh! É admirável! Um pintor de Pa- montei a cavalo, com meu companheiro


ris achou um meio de fixar as imagens de Campinas. A viagem e os cuidados do
na câmara escura. Li isso no Jornal do negócio serviram para distrair-me. Mi-
Commércio. Ele focalizou uma chapa de nha dor voltava como que por acessos,
prata, empregnada de um sal que muda mas pouco a pouco me resignei.
de cor pela ação da luz, e chegou até a Passados dias, encaminhava-me a uma
obter duas ou três cores.” residência rural em que se encontrava a
Senti um choque no coração, no san- mais luzida companhia que já vi no Bra-
gue, na medula dos ossos, em todo o sil, que teria sido distinguida em todos
meu ser. Recalquei ao máximo o mais os países do mundo. No caminho, obser-
rude choque que já me foi dado expe- vava os feitos de luz das árvores e das
rimentar e, assim, não perdi a compos- folhas: veio ao espírito a daguerreoti-
tura. Formulei-lhe circunstanciadas in- pia e perturbou-me. Todavia, mais adi-
dagações, mas o jornal só se limitara ao ante, no campo, esqueci-me de meu sofri-
fato. Afirmou-me que não restava dúvida mento. Foi a última repercussão do abalo
quanto ao descobrimento, porquanto o que experimentara. Desde aí, dediquei-
Sr. Arago fizera a respectiva comunica- me (palavra ilegível) à prova da bomba.
ção à Academia e a Câmara dos Depu- Esperei e espero experimentar a mesma
tados concedera uma recompensa a seu sorte, no respeitante à Poligrafia. Soube
autor. Pus-me, então, a explicar-lhe a em 1848, com mais coragem, da inven-
teoria desse invento e recolhemo-nos a ção de Lipmann, que é Poligrafia, em
casa. Não era o mesmo de momentos an- que eu diversamente obtivera êxito, tanto
tes; tudo, em mim, era melancolia, esten- quanto com o daguerreótipo, porque eu a
dida ao que havia em derredor. Os obje- realizara na perfeição e imprimia simul-
tos e os sons faziam-se confusos. Apesar taneamente todas as cores, desde 1834,
disso, sustentava razoavelmente minha aqui, em meu exílio, defrontado por pes-
parte da conversação, nessa reuniãozi- soas que nela não enxergavam o mínimo
nha de amigos. Sofria. Ceei, é verdade e sem jornais, sem público que fosse ca-
que com bastante apetite, e fui deitar-me paz de compreender-me. E se alguém en-
crente que uma noite tormentosa me es- tende que esses temores, essas emoções
perava, porque meu mal estar moral era são pueris, lembre-se de que um inven-
intenso. Dormi, no entanto, passável- tor não pode ser impelido a trabalhos tão
mente bem, entretanto. pouco lucrativos, se não pelo desejo de
Não saberia dar suficientes graças a conquistar um diploma de imortalidade
Deus, por haver-me dotado de uma alma aos olhos dos pósteros. A glória é tudo
forte, o que, antes dessa prova, eu desco- para ele. Ainda que acompanhada da
nhecia. miséria, do desprezo e de todos os sen-
Vários meses depois, meu interlocutor timentos, ela lhe faz às vezes de fortuna,
assegurou-me que percebera minha per- honras e todos os gozos. Portanto, é pre-
turbação. ciso ter uma alma pouco comum, para
O dia que sucedeu a tão agitada noite, ver escapar vinte anos de sacrifícios de

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14 Erivam Oliveira

toda natureza e não ter efetivamente mé- Essa descoberta lhe havia custado mui-
rito de sacrificar-se para qualquer coisa tas noites mal dormidas e dias de exaus-
que seja útil aos homens”31 . tivas experiências. Aconselhei-o a di-
vulgar a sua invenção, única no mundo,
A partir desse momento, Florence aban- pois até essa data a maneira de fixar
donou suas pesquisas com câmera obscura e uma imagem era deficiente e inadequada.
sais de prata e escreveu em uma cópia do di- Florence, modesto, deixava o tempo cor-
ploma maçônico, conseguido através do pro- rer, obrigando-me também a guardar seu
cesso da câmera obscura sensibilizada com segredo.”32
nitrato de prata, que outros tiveram mais
sorte. Fez a divulgação de suas pesquisas por Segundo a historiadora, o Dr. Carlos En-
meio do jornal O Pharol Paulistano e Jornal gler descreve o episódio em que Florence
do Commércio do Rio de Janeiro, sem obter toma conhecimento da descoberta de Da-
êxito e o reconhecimento esperado. guerre, quando estava em sua residência
A segunda versão é narrada pela histori- acompanhado de amigos.
adora Chloé Engler de Almeida (bisneta de
Carlos Engler), a qual afirma que Florence “Todas as tardes, como velho costume,
mantinha algumas amizades na cidade de Itu, nós nos sentávamos à porta de minha
e que se reuniam freqüentemente. O amigo casa – o Hércules, eu e mais uma meia
mais próximo era o médico austríaco Karl dúzia de amigos. A prosa era geral;
von Engler, que possuía uma clínica de saúde pouca maledicência. Quase sempre dis-
no sítio Emburu, na cidade de Indaiatuba, corríamos sobre política, pois as idéias
equipada com uma sala de cirurgia e labora- liberais dos brasileiros tomavam vulto.
tório de química, além de uma vasta e atuali- Numa das vezes, o Hércules trouxe con-
zada biblioteca. É conhecido no Brasil como sigo uns compatriotas, e a prosa discor-
Dr. Carlos Engler. reu toda em francês. Esses franceses es-
tavam de passagem por Itu, rumo a Mato
“Hércules Florence é dos meus mais ca- Grosso. O Certain33 , que era nosso com-
ros amigos. A amizade que nos é feita de panheiro de prosa, ainda não havia che-
confiança e compreensão mútuas. Flo- gado.
rence é gênio, mas muito modesto. Ho- De súbito, aparece ele, nervoso, quase a
mem de vasta cultura, está constante- gritar: “Boa tarde! Vocês já souberam
mente à procura de novos conhecimen- 32
ALMEIDA, Chloé Engler. Dos Bosques de Vi-
tos. De uma feita, veio me contar, muito ena às Matas Brasileiras. Mimeografado, São Paulo,
em segredo, que havia descoberto uma 1978. p.147.
33
maneira de fixar a imagem sobre chapa FILHO, Francisco Nardy. A Cidade de Ytu.. Ot-
de aço polido. toni&Cia, São Paulo, 2000. v.I, 2a edição, p.152. Au-
gusto Certain, Estimado e prestante cidadão francez,
31 que residiu por muitos annos em Ytu, onde constituiu
FLORENCE, H. Correspondance.. Manuscrito,
Vila de São Carlos (Campinas) – Província de São família, vindo ahi fallecer rodeado da estima e res-
Paulo, 830 a 1862 - páginas 62, 63 e 64 do caderno peito de todos.
de número 3.

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O pioneiro da fotografia no Brasil 15

da grande notícia?” Ansiosos, espera- tas mundialmente conhecidos, cultivava la-


mos. E ele: “Fiquem sabendo que Da- ços de amizades e parentesco com políticos,
guerre, na França, acaba de descobrir o comerciantes, e até mesmo com o Imperador
modo de fixar a imagem sobre chapa de D. Pedro II. Mesmo assim não quis ou não
aço polido! Não é formidável? pôde divulgar seus inventos, estudos e des-
Os franceses ali presentes não se mos- cobertas. Talvez, como afirma seu amigo Dr.
traram surpresos, pois já sabiam das ex- Carlos Engler, “a modéstia o tenha impedido
periências de Daguerre. Olhei para o de alcançar sua glória como um grande in-
Florence que, muito pálido, parecia pres- ventor.”35
tes a desfalecer. Certain, muito desa- Para o Prof. Dr. Etienne Samain; “Querer
pontado, não compreendia o que se pas- isolar Hércules Florence de todo movimento
sava. Hércules Florence, ao constatar de descobertas e curiosidades exasperadas,
que o seu silêncio fora a causa da perda emanadas no século XIX, com a Revolução
de uma glória que deveria ser sua, não Industrial, com a ascensão do Iluminismo, é
suportou o impacto. Teve uma síncope, algo que não se pode imaginar.” 36
e se eu não o amparasse, teria batido Hércules Florence permaneceu no Bra-
com a cabeça no chão. Transportado sil por 55 anos, quase toda sua vida,
para dentro de minha casa e deitado num ausentando-se pouquíssimas vezes da Vila
sofá, socorri-o às pressas. Felizmente, de São Carlos. Após 1830, realizou uma
recuperou logo os sentidos, conservando, única viagem à Europa, para visitar sua mãe.
porém, uma expressão abobalhada, per- Esse fato torna-se importante, segundo o
plexa. Prof. Dr. Boris Komissarov, da Universidade
Pela modéstia, o Brasil deixou de ser o de São Petersbugo, pois o ano desta viagem,
berço de uma das mais notáveis inven- 1835, coincide com o período em que Louis
ções deste século.”34 Jacques Mandé Daguerre estava envolvido
com as pesquisas referentes ao daguerreótipo
em Paris e Willian Fox-Talbot estava desen-
3 Conclusão
volvendo suas pesquisas em Londres:
A genialidade e a criatividade de Hércules
“Durante quase meio século, Florence
Florence são inegáveis, suas experiências e
pouco saiu de São Carlos ou da Provín-
seu interesse pelas artes são inquestionáveis.
cia de São Paulo. As raras visitas ao Rio
Mantinha vasta correspondência com emi-
de Janeiro depois de 1830, e a viagem à
nentes personalidades brasileiras e estrangei-
Europa em 1835, para encontrar-se com
ras, participou de uma das mais importan-
a mãe, foram todas as suas saídas. A ex-
tes expedições que percorreu o Brasil, tinha
pedição de Langsdorff ficou para ele não
amigos ligados à imprensa, relacionava-se
35
freqüentemente com pesquisadores e cientis- ALMEIDA, Chloé Engler. Dos Bosques de Vi-
ena às Matas Brasileiras. Mimeografado, São Paulo,
34
ALMEIDA, Chloé Engler. Dos Bosques de Vi- 1978. final da p.112 e início da p.148.
36
ena às Matas Brasileiras. Mimeografado, São Paulo, SAMAIN, Etienne. Doutor e professor, respon-
1978. Final da p.147 até metade da p.148. sável pelo laboratório de Multimeios da Unicamp, in
depoimento, em vídeo.

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16 Erivam Oliveira

apenas como lembrança, mas como ob- 4 Referências Bibliográficas


jeto de reflexão e tema de trabalhos lite-
ALMEIDA, Chloé Engler. Dos Bosques de
rários.”37 .
Viena às Matas Brasileiras. Mimeogra-
Essa afirmação não é confirmada, nem fado, São Paulo, 1978. 169 p.
aceita pela família, depositária dos manus- BARDI, P.M. It Firmatempo. RPR, Roma,
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afirmam que essa viagem ocorreu em 1855,
na companhia de sua segunda esposa Caro- BARDI, P.M. Itália-Brasil: Relações desde
lina Krüg. o século XVI. São Paulo, Museu de Arte
É curioso também o trecho da carta de de São Paulo/Fondazione Gíovanni Ag-
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ele afirma que já havia comunicado Taunay BARDI, P.M. Mestres, Artífices, Oficiais e
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estreito que os unia. Engler, elogia Hércules
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bretudo como amigo. Resta saber por que von Langsdorff, pesquisas de um cien-
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v.3.

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