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Análise às actuais perspectivas sobre a avaliação

das aprendizagens em contexto online

Hugo Domingos

Concepção e Avaliação em eLearning


Mestrado Pedagogia do eLearning
Universidade Aberta

Analisar e desenvolver estratégias de avaliação em ambientes de aprendizagem online no século XXI é um


processo que força os educadores a reflectirem sobre a metodologia de ensino que pretendam implementar.
Um processo não está separado do outro. Para se avaliar é necessário ter esclarecida a abordagem
pedagógica se quer implementar num curso online.

Esta é uma das principais a conclusões a retirar dos artigos estudados sobre a temática “Perspectivas sobre
avaliação pedagógica das aprendizagens em contexto online”.

A educação a Distância tem vindo a evoluir nas últimas décadas, nomeadamente com os grandes avanços
tecnológicos, obrigando instituições de ensino e professores a reflectirem sobre o assunto. “Num cenário de
clara expansão das práticas de educação a distância em modalidade online (eLearning) importa ter presente
a necessidade de um acompanhamento e avaliação das iniciativas em curso, de modo a que a consolidação
das práticas neste domínio ocorra de forma fundamentada e consistente” (Gomes; 1676).

De forma a se poder ter uma consolidação de boas práticas educativas em ambientes educativos online é
necessária uma reflexão das práticas dominantes. Mas quais são as práticas dominantes? E em que
perceptiva pedagógica se baseiam?

Nos artigos em estudo é evidente a crítica às abordagens mais behavioristas no ensino online, na qual se
destaca a seguinte afirmação de Alex Primo:

“Para os behavioristas de plantão, os processos em que o aluno estuda sozinho e é avaliado


de forma anónima são considerados como uma contribuição à autonomia do aprendiz. No
entanto, um verdadeiro agir autónomo é barrado nesse processo, pois ao aluno cabe
memorizar o que se impõe e repetir nas provas o que se espera e se considera como
resposta correcta e inquestionável.”

A abordagem behaviorista aplicada às TIC é por mais evidente num vídeo que não resisto de incluir neste
trabalho: “Skinner fala sobre a Maquina de Ensinar” -http://www.youtube.com/watch?v=vmRmBgKQq20).
São vários os aspectos a realçar neste vídeo: a automatização do ensino, a pré-formatação de questões, o
isolamento do aluno com a máquina e a ausência de uma referência ao processo de aprendizagem do aluno.
Embora seja discutível a abordagem utilizada, não é de todo censurável a iniciativa implementada. De facto,
existem mais-valias neste processo. A avaliação é mais rápida e quantitativa e os alunos são sujeitos a um
ritmo de questionamento mais frequente, por comparação à mera exposição do professor.

Mas estando nós no século XXI, onde as redes de informação são tão densas e o desenvolvimento de
competências tornou-se o aspecto central no desenvolvimento cognitivo e comportamental dos indivíduos,
como é que esta abordagem baseada no estímulo-resposta pode promover uma aprendizagem baseada nos
pressupostos cognitivos dos alunos e no desenvolvimento de suas competências?

A crítica a este modelo é expressa de forma contundente por Alex Primo:

“A influência behaviorista veio restaurar (…) postulados arcaicos da pedagogia tradicional: o


conhecimento cópia, a unidirecionalidade do processo de ensino-aprendizagem (educador-
educando), o poder absoluto do exercício e do treino por repetição e a infalibilidade do
reforço. (…) Se o behaviorismo busca o automatismo, calcado em actividades de reforço, as
práticas de educação a distância nele inspiradas encontram na automação informática o
berço perfeito. O ditar do professor presencial actualiza-se em apostilas digitais, cuja
“interactividade” resume-se aos botões “avançar” e “voltar”. As avaliações reconfiguram-se
em testes de múltipla escolha corrigidos em tempo real pela máquina.”

Se o modelo behaviorista ainda é dominante na concepção de cursos online, como mudar este paradigma? E
como deve ser concebida a avaliação fora deste modelo quantitativo e automatizado?

Em ambos artigos analisados, existe uma convergência na adopção de abordagens pedagógicas baseadas no
construtivismo, que por sua vez influenciam a avaliação. As linhas orientadoras desta teoria, por contraste
com o behaviorismo, são (segundo M.J.Gomes):

 A construção do conhecimento do aluno resulta no desequilíbrio das suas certezas e a necessidade


de formular novas soluções.
 Não existe separação entre o ensinar e aprender. O processo ensino-aprendizagem é integrado no
processo de avaliação.
 O aluno tem um papel activo na construção do conhecimento, rejeitando-se a passividade do aluno
no método mais expositivo de transmissão de conhecimento.
 Promove-se a capacidade autoral e inventiva do aluno.

É com base na leitura das recomendações apresentadas pelos autores dos artigos, que apresento a seguinte
tabela que propõe um conjunto de práticas pedagógicas, instrumentos e recomendações para avaliação em
ambientes de aprendizagem online.

Abordagem Construtivista Instrumentos Como avaliar?


- Projecto de Aprendizagem: - Analisar a capacidade dos alunos em
Aprendizagem baseada na Actividade que estabelece um formular problemas e soluções aos
resolução de Problemas. conjunto de questões a serem mesmos.
resolvidas pelo alunos.
A teoria é apresentada ao - Levantamento das certezas e dúvidas,
longo do percurso de - Estudo de casos: em avaliação contínua.
aprendizagem, em vez de Investigação e caracterização de
ser assimilada logo de casos reais por parte dos alunos. - Desenvolvimento de Competências:
início. Análise crítica, reflexão e trabalho em
- Intervenções grupo.
Problematizadoras:
O professor orienta (não - Análise à pesquisa e às referências
restringindo) o percurso de bibliográficas utilizadas na construção do
aprendizagem dos alunos através conhecimento.
de questões que promovam o
questionamento dos alunos sobre
o seu trabalho.
- Quantificação do número de
Construção de - Discussões em Fóruns mensagens por alunos (participação
Comunidades de electrónicos (comunicação activa).
aprendizagem, evitando assíncrona). - Apreciação qualitativa do conteúdo das
o isolamento do aluno: mensagens.
- Avaliação por pares: promover a
- Espaços de discussão - Conversações em Chats reflexão e análise da participação dos
acessíveis a todos os (comunicação síncrona). alunos entre si.
alunos. - Avaliação de conceitos através de
apresentação oral ou escrita.
- Promover a construção - Desenvolvimento de Competências:
colectiva e colaborativa Comunicação, Reflexão crítica e
do conhecimento, através Expressividade.
do contributo activos dos
alunos.
- Avaliação dos produtos produzidos
Promover a reflexão - Portfolios digitais: pelos alunos e sua exploração do
contínua do aluno ao Ambiente online agregador de potencial multimédia da tecnologia de
longo do seu processo de trabalhos, relatos e perfil do suporte.
aprendizagem. aluno. - Análise à capacidade reflexiva dos
alunos sobre o seu percurso de
Desenvolvimento de - Diários dos alunos: aprendizagem.
espaços pessoais para a Relato do percurso de - Quantificação do número de artefactos
apresentação de trabalhos aprendizagem e experiências e da diversidade de temas abordados.
e partilha de experiências como aluno. - Acompanhamento contínuo ao aluno.
pessoais. - Capacidade de comunicação e partilha
- Blogues pessoais: com outros alunos e pessoas fora da
Realizar o Apresentação de trabalhos e comunidade do curso.
acompanhamento das reflexões para um ambiente - Desenvolvimento de competências:
aprendizagens dos alunos online aberto a acessível a actores Comunicação, utilização das TIC,
e construção do seu perfil educativos fora da comunidade de reflexão crítica e criatividade.
como aluno. aprendizagem do curso.

Embora as recomendações apresentadas na tabela permitam reflectir sobre uma nova abordagem
pedagógica para a aprendizagem em ambientes online, existem outros factores que influenciam a avaliação
dos mesmos. Os formatos e a tecnologia que suportam os cursos, o grau de interacção que o professor
promove entre si e os alunos e entre os alunos, a diversidade de instrumentos utilizados para a avaliação e a
experiência do próprio professor na gestão do seu trabalho docente. Falarmos em novas abordagens
pedagógicas sem ter em conta todos estes factores, pode resultar em más práticas educativas desarticuladas
com as necessidades dos alunos e com a capacidade do docente na gestão de todos os processos que
ocorrem durante um curso.

Mas uma coisa é certa, a mudança de paradigma educativo permite claramente uma análise para
aprofundada da construção do saber pela comunidade de aprendizagem em modo colaborativo, dos
percursos de aprendizagem e das competências desenvolvidas pelos alunos. Estes três elementos são as
principais referências que um professor pode analisar de forma a poder realizar uma avaliação qualitativa,
contínua e participativa. Uma nova abordagem à avaliação no séc XXI.

Referências Bibliográficas:

PRIMO, Alex (2006) "Avaliação em processos de educação problematizadora online". In: Marco Silva; Edméa
Santos. (Org.). Avaliação da aprendizagem em educação online. São Paulo: Loyola, v. , p. 38-
49. http://www6.ufrgs.br/limc/PDFs/EAD5.pdf

Gomes M. J. (2009) "Problemáticas da avaliação online" Actas da VI Conferência Internacional das TIC na
Educação - Challenges 2009.

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