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Do Éden à Arca de Noé

Alberto Vieira

COMO REFERENCIAR ESTE TEXTO:

Vieira, Alberto (1996), Do Éden à Arca de Noé, Funchal, CEHA-Biblioteca Digital, disponível em:
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ALBERTO VIEIRA

,
Do EDEN
À ÁRCA DE NoÉ
EO
ALBERTO VIEIRA

TÍTULO
Do Éden à Arca de Noé. O Madeirense e o Quadro Natural

lU Edição

Colecção Documentos 8

AUTOR
Alberto Vieira

EDIÇÃO
CENTRO DE ESTUDOS DE HISTÓRIA DO ATLÂNTICO
SECRETARIA REGIONAL DO TURISMO E CULTURA
Rua dos Ferreiros, 165 9000-FullchaI- MADEIRA

Telef.: (35191)229635 Fax.: (35191)230341

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TIRAGEM:
1000 exemplares

CAPA:
W. Combe, 1821, Colecção Museu Frederico de Freitas

IMPRESSÃO:
O LIBERAL, Empresas de Artes Gráficas, Lda.

Deposito Legal: 136068/99

ISBN: 972-8263-12-0

4
EO

1
pÀmNA r~ BI!ANCO
Do À ARCA DE NoÉ

INDICE GERAL

11 A EA DA MADEIRA

23 ECONOMIA DA MADEIRA E A DO NATURAL


37 Cientistas na Madeira séculos XVI- XX

47 O MADEIRENSE E A DEFESA DO MEIO NATURAL


55
56

OLHARES CRUZADOS

73 I ESTAMPAS E DESENHOS DA MADEIRA


XVIII-XIX

2.DOCUMENTOS E ESTUDOS

83

2.1. TESTEMUNHOS

87 Francisco
90 Novo das Madeiras para Ilha da
98 522-1591J
116 Alvará Sua Manda dar os Meios Modos de Estabelecer
o Povo e Conservar o Domínio da Ilha do Porto 1
119 da
122 nrr'> "",nrw Antonio Raiz Velozo de 1792
ALBERTO VIEIRA

125 Bernardino José Pera da Camara [1816]


129 Paulo Dias de Almeida [1817]
133 Projecto sobre o Restabelecimento dos Arvoredos e sua Competente Economia
na Madeira( 1822)
137 Correio da Madeira (1849)
139 lsabella de França [1853-1854]
149 Manuel Braz Sequeira [1913]
160 J. Henriques Camacho [1919]
172 Regime Pastoril Ilha da Madeira
175 Fernando Augusto da Silva: O Revestimento Florestal do Arquipélago da
Madeira[ 1946]
216 Eduardo de Campos Andrada [19541
230 Eduardo de Campos Andrada: memorandum [1955]

2.2. A LITERATURA E O MEIO NATURAL: PROSA

235 Introdução
237 Bibliografia

COLECTÂNEA DE TEXTOS LITERÁRIOS

241 Francisco Travassos Valdez [1825-1892]


242 Raimundo António Bulhão Pato [1829-1912]
243 António da Costa de Sousa Macedo [1824-1892J
243 Acúrcio Garcia Ramos [1834-7]
245 Joaquim Guilherme Gomes Coelho (Júlio Dinis)[1839-1871]
246 Manuel Teixeira Gomes (1860-1941]
247 Raul Germano Brandão [1867- 1931]
251 Virginia Castro e Almeida [1874-1946J
253 Marquez de Jacome Correia [1882/1937]
258 José Maria Ferreira de Castro [1898-1974]
262 António Assis Esperança [1892-1975]
264 Fernando Augusto da Silva [1863-1949]
271 Hugo Rocha [1906-?]
273 Luis Teixeira [1904-1978]
274 Henrique GaIvão [1895-1970]
275 Edmundo Tavares [1892-1983]
280 1. Vieira Natividade [1899-1968]
284 Eduardo Nunes [1910-1957]
291 Maria Lamas [1893-1983]
298 Horácio Bento de Gouveia [1901-1983]

6
Do ARCA DE NOÉ:

2.3. A LiTERATURA E O MEIO NATURAL: POESIA

305

DE POEMAS

309 Manuel Thomas [I


311 Troito de Vasconcelos da
311 Francisco Manuel
312 Manuel Gomes
313 João Fortunato de Oliveira [1
314 João da Câmara Leme Homem de Vasconcelos Câmara [1829-
1
315 Carlos Olavo
316
318 ele Freitas [1858
318 Nunes. [1860-1
319 Maria Pereira [1875-1
319 António Pimenta de
320 Correia de Gouveia Correia de [1
320 Pe Eduardo Clemente Nunes Pereira [1
321 João Vieira da Luz 1
321 Julia ele e Sousa [I
322 Carlos Maria ele Oliveira [ 898-]
322 Edmundo Albelio de BeHencourt
323 Armando Santos
323 Fernando Acácio de Gouveia
324 Leandro de Sousa
324 Gertrudes Marceliana [19 O]
325 Alberto
326 Secundino Teixeira
327 Manuel
327 dos Santos
329 Ana Bela A. Pita da Silva

330 DAS
A LBERTO V IEIR A

8
Do ÉDEN À ARCA DE NOÉ

9
ALBERTO VIEIRA

10
Do ÉDEN À ARCA DE NOÉ

A ECO-HISTÓRIA E A HISTÓRIA DA MADEIRA

A H istoriogra fia tem propiciado nos últimos anos uma gra nde abertura na temáti-
ca e na forma de abordagem dos diversos aspectos da História. A História do
Ambiente ou Eco História ganhou um grande destaque, nomeadamente na
H istoriogra fia norte-americana. Na verdade, foi aí que o novo domínio encontrou
maior nÚmero de adeptos e especialistas. Na Europa, depois de alguns pioneiros
estudos de F. Braude l e Emanuel Le Roy Ladurie, só nos últimos anos parece ter
retornado o interesse pelo estudo da evolução do quadro natural e da inter-acção com
o Homem. Aqui. para além da Inglaterra assinalamos a Finlândia, Itália e Espanha '.
A leitura de alguns dos títulos mais destacados desta bibliografia, como sejam os
textos de A. Crosby' , Donald Worster', R. Nash', J. Donald Hughes' e R. A. Grove' ,
despertou em nós o entusiasmo pelo estudo da temática, ao mesmo tempo que nos
incutiram a curiosidade pela melhor elucidação das informações avulsas que encon-
tramos em quase todos sobre o papel específico da Madeira. Foi na verdade a úLtima
situação que nos levo u a definir um projecto de investigação em que se pretende
aclarar e fundamentar as referências com uma abordagem exaustiva da inter-acçãô
do l11~d eircnse com o quad;o natur.a l. _ ". ~,!~ .. ~
A ii ha ficou como um marco da IIltervençao do homem no quadro f\I, " ,;\ ~a
norestal desapareceu num áp ice por força da necessidade das culturas ' U-menta-
ram a dependência do mercado madeirense à Europa. A cana de~ na
t.tt-I'IO Pt t ~'111J10'!> :>t
NII~D'"~ Da ... n .....-.fhCO

II
ALBERTO VIEIRA

Madeira a primeira experiência em larga escala e rapidamente são visíveis os efeitos


do impacto ecológico. Por outro lado, a permanente vinculação da ilha ao mundo
colonial britânico desde a segunda metade do século XVII fez com que a Madeira se
tornasse numa das peças chaves da História da Ciência. Em pouco tempo a ilha trans-
fonTIou-se num laboratório vivo que atraiu cientistas ingleses, franceses e alemães.
Eis os motivos que dão suporte a um considerável número de questões sobre o
devir histórico madeirense e que permitem usar as diversas fontes documentais na
construção de uma diferente visão da História da ilha. Em certa medida é a oportu-
nidade de dar voz ao quadro natural e através das suas múltiplas manifestações com
evidências e testemunhos históricos tomá-lo inteligível. Mas isto não se resume ape-
nas a uma História do Ambiente que se preocupe com a relação do Homem com o
quadro natural que o envolve, nem tão pouco uma História da Ciência que se dedique
liminarmente aos nomes dos cientistas e às suas descobertas. A envolvência da ilha
leva-nos a atender aos dois aspectos em simultâneo e a procurar entender, não ape-
nas o papel da ilha, mas fundamentalmente o que derivou deste protagonismo para o
próprio arquipélago.
A História do ambiente é sem dúvida uma criação do mundo científico e univer-
sitário americano e por isso teve aí desde a origem uma valorização inexcedível. A
década de sessenta foi o momento ideal para o nascimento, contribuindo para isso
alguns trabalhos então publicados que hoje são um marco do alerta para a situação
em que o Homem estava intervindo e destruindo o meio natural. São dois os livros
que se assumem como o despertar das consciências dos cidadãos e políticos para esta
cruzada. Em 1962 Rachel Cm'son publicou "Silent Spring", considerado o verdadeiro
alerta para os efeitos do "DDT" sobre a Natureza e ficou como o aviso às autoridades
e motivo de reflexo de jovens de gerações de académicos. Seis anos depois se juntou
o texto de Paul Ehrlich: The Population Bomb 7• Não obstante a Eco História ser
simultânea com a afirmação do movimento ambientalista não pode nem deve ser
confundida com a História do ambientalismd.
O ambiente não foi apenas motivo de denuncia pública, mas também de reflexão
filosófica e historiográfica. E é precisamente neste campo que ganhou forma o novo
domínio historiográfico. Na década de setenta para além de se assistir às reedições
de clássicos do século XIX, como Henry David Thoreau e Ralph Aldo Emerson 9 , é
de salientar a publicação de novas reflexões. O ciclo inicia-se em 1935 com Paul
Sears em Deserts on the Mm'ch e prossegue na década de cinquenta. Primeiro em
1957 com "Nature and the American" de Hans Hunt, que foi secundado com
"Conservalion and the Gospel of Efficiency" de Samuel P. Hays(1959). Nos anos
imediatos assiste-se a uma maior precisão temática: 1963: Man anel Nature in
America de Arthur A. Ekirch Jr.; 1967: Wilelerness anel the American Minel de R.
Nash; ln the House of Stone ou Light: A Human History oh the Granel Canyol1 de J.
Donald Hughes; 1970: The Greening of America de Charles A. Reich; 1972.
Columbian Exchange de A. Crosby; 1973: American Environmentalisl17 de Danai
Worster lll •
O movimento ganhou fortes raízes nos meios académicos II e, por iniciativa de R.
Nash, na Universidade de Califórnia, Donald Worster na de Yale e Brandeis no
Hawaii, a disciplina entrou nos currículos de ensino. Foi neste contexto que a

12
Do À ARCA DE NOf:

História do ambiente a
em 1976 da "American
"Environmental Revicw"" como os mecanismos mais
uma da [-I O reconhecimento derin vo de
"Environmental cm 1990 por "Thc
Journal Df American a semente que iria Ii"uti-
licar, na América crescia a consciência flltto dos alertas para
da na a que a Escola dos Annales era a
desembocava 110 mesmo rumo e na clara a valoriza-
Assim. um número dos AII/lalcs de 1974 dedica cspe-
um dos
no continente europeu.
mais evidentes do novo movimento
da sociedade. Em 1970 tivemos
da EPA Environmenta/ PI'OIeclion
de ouro dos movimentos , Foi também a duvida levantada sobre
historicidade do movimento que levou ao novo olhar o
humano e a com o meio natural';, Os estudos históricos acabaram por
provar que do meio ambiente não a segun-
da Guerra Mundial ",, Também ficou claro que a ideia de é anterior ao
da 17 Descobriu-se o movimento ambientalista de
finais do século ambientalista
radical na IH, OS trinta anos que SI;: suct:dt:l'am fi

década de setenta foram cruciais para a da Eco deste modo ()


ambientalismo deixou de ser LIma para se assumir como uma actividade
orientada de acordo com os ditames da
De acordo eom J. Donald

our been
their natural environemtal !lave
that enviroment and witll that results"", que a
deals with the variolls oveI' time between
. Poderá referenciar-se ainda
onelt: enCO!1-
tht: past
que é a História
ser humano
l11ismo innuido en estas condiciones cómo reaccionó ante las alteraciones,
A História Ambiente tem demonstrado nos últimos anos ullla tendência para a
áreas lemáticas da História passaram fazer do seu
faceta Assim aos temas
Arte e Literatura

O clima é considerado uma das evidências elo das

3
ALBERTO VIEIRA

ecológicas. A História do clima é o meio de averiguar a forma de intervenção do


homem no quadro natural e dos efeitos secundários. Depois do celebrado estudo de
E. le Roy Ladurie'; sucederam-se trabalhos de grande impacto: Raymond Bradley e
Philip D. Jones (l992), F. M. Chambers (1993), Richard H. Grove (1997), H. Lamb
(1982, 1995) e T. M. L. Wigley (1981).
O ramo da Arqueologia do meio ambiente começou após a II Guerra Mundial e
ganhou notoriedade na década de setenta. De acordo com Jo11a11 Evans
"Environmental Archaelogy is the study ofthe past environment ofman"26. Por outro
lado E. J. Reitz27 destaca que "Environmental Archaeology is an ecletic field lhat
encompasses the earth sciences, zoology and botany". Na verdade, são vários os fac-
tores determinantes do quadro natural que perduram nas várias camadas de sedi-
mentação. Através da recolha de infonnações sobre animais, plantas e solo é possí-
vel reconstruir o ambiente do passado. É esta a função primordial da Arqueologia do
Ambiente e que faz com que à mesma se liguem as Ciências da Terra, Arqueo-bota-
nica, Zoo-arqueologia e a Geo-arqueologia" H• Os estudos sobre Zoo-arqueologia
tiveram em Elizabeth Wing a líder nos EUA e América Latina]'}.
A floresta é indissociável da História do Homem. Não obstante o Cristianismo
assumir uma atitude hostil ela esteve sempre presente nos grandes momentos da
História da Cristandade. É a nossa principal reserva de riqueza. Foi até meados do
século XIX um meio indispensável à sobrevivência e comodidades humanas com o
fornecimento de lenhas e madeiras. Em todos os tempos a riqueza de uma região
dependeu da reserva que delimitava a fronteira do espaço agrícola e humanizado.
A partir do século XVIII Rousseau transformou a ideia e a relação do Homem com
o quadro natural, que passou a estar envolvido no quotidiano. Perante isto ao homem
do século XIX a ideia de floresta era outra. Perdeu-se o medo, o instinto dominador
e agora procurava-se nela a harmonia. É esta a lição de David Thoreau em "Waden".lll.
Foi também então que o homem tomou consciência da acção devastadora sobre a
floresta. O primeiro grito é de Marsh em "Man and nature" (1874). E reacções
sucederam-se através de medidas de protecção da floresta. A primeira atitude neste
sentido surgiu em 1669 com a ordenança francesa das i10restas de Colbert, depois
tivemos o.fi'ee timbel' act (1873), a criação dos parques e reservas; Yosemite National
Park em 1890 e, as associações privadas - Sierra Club (1892) - e publicas - Divisão
de Florestas (1886)31.
A devastação da floresta não se resumia apenas à perda irremediável do coberto
arbóreo, pois provocava efeitos secundários destrutivos considerados catastróficos. A
situação tornava-se mais evidente nas ilhas onde o hinterland era reduzido. A
primeira imagem disto foi a ilha de Chipre, onde a construção naval e a exportação
levaram a que perdesse o epíteto de ilha verde, dado pelos antigosJ~. A situação
repete-se na Madeira, Canárias e na maioria das Antilhas.
Um dos aspectos significativos da valorização da floresta como recurso foi a con-
strução naval. A expansão europeia desde o século XV implicou uma revolução no
sector. Os séculos XVII e XVIII de competência das potências europeias no domínio
do mar e do Novo Mundo conduziram ao seu incremento. Até 1862, altma em que
se atingiu a idade do ferro, a madeira era a matéria prima da construção navaP'. Os
pOltugueses desde D. Dinis que avançaram com o célebre pinhal de Leiria. Todavia

14
Do À DE NOE.

as surgem no século XVII, O caso


conhecido a floresta socorre das
este continente
e o Canadá para
franceses'"
Madeira assumiu um de
mas a presença do homem dcsdc o século XV conduziu ao desa-
na vertente sul. As da ilha íhma na revolu-
de sobradados cm Lisboa e alimentaram a florescente
se sentiram os efeitos deste abatc Deste
modo a Madeira é considerada um da destrutiva do
machado e serras de Tal como alirma S,
uma caricatura do processo de
Da leitura dos clássicos e da recente releva-se uma situ-
que toca ele novo ao da Madeira, A Madeira nào se
cionoll apenas nos anais da História universal como a área de ULU"""LdLU

na cultura do no Novo Mundo, Também a


não se resumiu apenas ao cneontro e desencontro de
que marcou o início de UIll processo de ou do ambi-
ente'" O europeu carregou a fauna e nora eom valor que acabou
por provocar nos novos eco-sistemas, Com isto o espaço
do e natureza universalizaram-se,
de da chamada hiota

americana que se dedica


da História sendo o alento para a nossa incursão
lemática inovadora, Outro facto insistentemente referido é da ilha da
O nome foi atributo para referenciar a abundância aspecto luxuriante do
referida por Camões1':

Passamos a ilha da ,vfcu/eira


do mui/o arvoredo assirn se
Das que povoamos
mais célebre por

para abrir clareiras de cultura


para fizeram-na desmerecer tal
Madeira quase refere que
atearam um incêndio entrar na Foram sete anos de
acesa, diz a acredita versão por
Franeisco Alcoforado cm Cadamosto e outros autores da A ser ver-
dade teria reduzido a ilha a carvão, É apenas entendido em sentido
ALBERTO VIEIRA

orizar as proporções que o fogo assumiu no solo virgem.


A situação expressa a realidade que pautou a expansão europeia mas que só nos
últimos anos tem cativado a atenção do historiador. Tudo isto tem origem num pro-
duto devorador que conquistou o mercado e que pautou a evolução da economia
atlântica a partir do século xv. O carrasco é o açúcar. A disponibilidade no mercado
só foi possível com este processo de degradação do meio que viu nascer os canavi-
ais. Isto conduziu-nos imediatamente a uma reflexão sobre a Agricultura e as
relações com o ambiente.
Tendo em conta as múltiplas funções da floresta os estudos realizados repartem-
se na História da Floresta em geraP", os múltiplos usos que vão desde o combustível 40
à construção naval 41 • A incessante procura conduziu o homem à busca de medidas de
defesa que surgem em circunstâncias e conjunturas de crise deste inestimável recur-
50 42 •
O desenvolvimento da agricultura é considerado um dos factores fundamentais de
intervenção do Homem no quadro natural. O processo de sedentarização humana e a
consequente domesticação de animais e plantas implicaram a mais evidente
expressão da mudança43 • Foi o conde de Buffon quem primeiro se deu conta deste
impacto, sendo secundado por George Perkins Marsh em 1864 com "Man and
Nature".
O impacto da agricultura no quadro natural é um dos temas mais valorizados na
Historiografia do Ambiente. Aqui, para além dos estudos que tratam de História da
Agricultura, temos que evidenciar os que estabelecem uma relação do sector com a
Ecologia44 e definem uma intervenção harmónica através de uma agricultura susten-
tada4S • Neste contexto é evidente o papel assumido pela cana de açúcar, cujos efeitos
devastadores foram notórios nas áreas onde a cultura chegou46 •
Josué de Castr041 traça-nos o retrato violento da expansão da cana de açúcar: "Ja
afirmou alguém, com muita razão, que o cultivo da cana de açúcar se processa em
regime de autofagia: a cana devorando tudo em torno de si, engolindo terras e mais
terras, dissolvendo o húmus do solo, aniquilando as pequenas culturas indefesas e o
próprio capital humano, do qual a sua cultura tira toda a vida. E é a pura verdade ...
Donde a caracterização inconfundível das diferentes áreas geográficas açucareiras,
com seu ciclo económico, com as fases de rápida ascensão, de esplendor transitório
e de irremediável decadência. " Esta ideia é corroborada por Mário Lacerda de
Melo"s: "Dificilmente se encontrarão formas de utilização dos recursos dos solos que
se possam rivalizar com a agro industria canaveira quanto à capacidade de condi-
cionar um tipo de sociedade e de economia, de modelar um tipo de paisagem e de
estruturar um tipo de arranjo económico do espaço".
A cana de açúcar poderá ser considerada a cultura agrícola mais importante da
História da Humanidade, porque provocou o maior fenómeno de mobilidade
humana, económica, comercial e ecológica. A sua afirmação agrícola é milenar e
abrange vários quadrantes do planeta. A cana é de todas as plantas domesticadas pelo
Homem a que acarretou maiores exigências. Ela quase que escraviza o homem, esgo-
ta o solo, devora a floresta e dessedenta os cursos de água. A exploração intensiva
desde o século XV gerou grandes exigências em termos de mão-de-obra, sendo
responsável pela maior fenómeno migratório à escala mundial que teve por palco o

16
Do A ARCA DE NOÉ

Atlântico: a escravatura de milhões de africanos. isto está também um COI1-


variado de culturais que vão desde literatura à musica e

Foi o Oriente que descobriu tendo a


árabes fizeram-no ao ocidcnte e foram os arautos ela
Mas foi nas ilhas
U'""",,,au no Ocidentc:
Cabo Verde e S. Tomé

carócter
no o eteito dominador na economia c sociedade/associ-
escravo, que começou 110 Mediterrâneo e se no Atlântico.
cana, tal como afirmou Josué de CastroN , é realidade histórica dos
últimos cinco em que assumiu um estatuto de
assim o confirma. O que aconteceu na Madeira dos séculos XV c
Caraíbas nào u idênticas
atlântica era extensa. Mesmo assim os
tiveram Gilberto Freires" afirma que "o canavial
grosso de modo mais cru A cultura da cana .. , valorizou o canavial e
tornou a mata".
O processo é a cana derruba-se ou a l1oresta.
para o (l\z para manter acesa chama dos
ou construir as infra-estruturas. A cana tcm na lloresta o maior e
Um apenas evidencia dimensão que assumiu o processo. Para
Brasil cio século XVIII cada 15 de lenha

toneladas'l.
A continuada devastadora assim descrita por Warrcn DClln: "Durante
lucros fáceis:

cada vez

de sucedàneos para centenas ele


floresta. Nenhuma se observou durante esse meio
muito quase desde o entoadas intermitcntes
que, nos dias são contínuas e n·enéticas .. Em J 660 o
de Salvador da Baía definiu um de medidas, que não foram sull-
cientes uma vez que em 1804 no Rccôncavo era evidente a t~llta de lenhas e
madeirasse. O da l10rcsta dos tllzia aumentar os
custos de fabrico cio

17
ALBERTO VIEIRA

o processo é similar nas regiões que antecederam o boom do açúcar americano.


Senão vejamos. Em Motril a primeira metade do século XVI é definida por uma que-
bra da produção açucareira, atribuída à falta de lenhas que forçaram a tomada de
medidas desde 1540 53 • A situação repete-se na Madeira e Canárias5\ o que provocou
uma reacção dos proprietários de engenho, materializada nas medidas exaradas em
ordens régias e posturas Municipais;;.
As ilhas, pela limitação do espaço, foram as primeiras a ressentir-se da realidade.
Sucedeu assim em ambos os lados do Atlântico. A única excepção está nas ilhas de
S. Tomé e Príncipe. Nas Caraíbas a situação é igual à Madeira. A ilha de Santo
Domingo, hoje Haiti e República Dominicana, a cultura da cana teve um apogeu
curto de pouco mais de cinquenta anos, pois que em 1550 a notória escassez de lenha
conduziu ao abandono de muitos engenhos desde 1570. Já na Jamaica, a promoção
pelos ingleses da cultura, levou à busca de soluções. O trem jamaicano foi a solução
mais eficaz. Com este sistema de fornalha o aproveitamento de lenha era evidente,
pois apenas com uma só fogueira se conseguia manter as três fornalhas.
Concomitantemente tivemos o recurso ao bagaço como combustível. Ambas as situ-
ações difundiram-se primeiro nas Antilhas inglesas a partir da década de oitenta do
século XVII e só depois atingiram as demais áreas açucareiras 56 •
A generalização do sistema aconteceu primeiro nas ilhas carentes de lenha e só
depois chegou ao Brasil. A entrada definitiva da solução na industria açucareira do
Brasil é em 1806, altura em que Manuel Ferreira da Câmara, na Baía, adaptou o
engenho à nova situação. Mas na época a grande inovação era já a máquina a vapor,
que começou a ser usada no Brasil a parlir de 1815. Entretanto a caldeira de vacuum,
inventada em 1830 por Norbert Rillius de New Orleans, foi a técnica que revolucio-
nou o fàbrico do açúcar e que mais contribuiu para a economia de combustível e por
consequência a preservação da floresta.
Não ficam por aqui os efeitos negativos da actividade agrícola no quadro natural.
São vários os estudos que nos elucidam sobre o impacto resultante da domesticação
de animais e plantas, processo que ocorre a partir de 800 A.C .. Daniel E. Vasey
[1992] traça-nos o retrato e evidencia as transformações ocorridas a partir da segun-
da metade do século XIX com o recurso a adubos químicos, pesticidas e herbicidas.
Foi, aliás, de acordo com este quadro que após II Grande Guerra surgiu o grito de
Rachel Carson [1962] que face a uma Primavera de silêncio, sem o chilrrear dos pás-
saros, clama para que todos a entendam: "The history of !ife on earth has been a his-
tory of interaction between living hings and their surroundings.( ... ) The most alarm-
ing of ali man's assaults upon the environment is the contamination of air, earth,
rivers, and sea with dangerous and even lethal materials"sl. Foi este grito ecológico
contra os efeitos nefastos dos pesticidas que fez despertar a consciência de políticos,
cientistas e despoletar a afirmação do movimento e das publicações científicas e his-
toriográficas.
Definidos os temas mais comuns da História do ambiente poderá questionar-se
quais as fontes fundamentais para a sua concretização. Uma das fontes privilegiadas
para estudo do impacto humano no quadro natural encontra-se na expressão plástica.
A gravura e a pintura, como mera impressão de viagem ou forma de ilustração cien-
tífica, assumem a função de fonte histórica. Foi nos EUA que esta fonte mereceu nos

18
Do ARCA DE NOÉ

últimos anos a a americana do século XIX


revela um desusado apego ao natural do continente numa onda de funda-
do sentimento nacionaJ5". É o de Hudson River School.
dominado e selva. A

dos a ter
a I RRO é considerado o momento do

está são outra forma de do relacionamento


do homem com o meio natural. AI Paul (1991) afirma que através deles
o homem comunica com a natureza. Duck Clifford I is man's
idealized view of the warlel ... Gardens cannot be considered in detachment from the
who made them""'.
no mundo cristão está inevitavelmente à ideia de Paraíso e expres-
sa-se formalmente através das Ilores e fontes "l. Esta comunhão do homem com a
natureza não é apenas do mundo cristão. ideia de com o espaço de
reflexão e de comunhão com a natureza (;stá
mundo oriental desde a China ao Os
influenciaram de forma decisiva os do mundo cristão"",
na China no do 140-86
Na os estão documentados em Itália -
-mas foi o de Versailles (1 o mais famoso e alvo de
XVII anuncia um novo de que tem como referência os de Oxford (1621),
Chelsea (I (I Kew ( . Estamos o início dos ac-
tuais botânicos que se afirmam como de exóticas de todo
o mundo.
Os séculos XVI/XVIII foram momentos da
nagem. Os tornam-se de livros
sobre Oores e Dos vários
dental tcmos o italiano e francês. O
central. Já o francês é um espaço a
até ao século XX altura em a inlluência do
a . Em desde fins do século XVII
chamado "Tudor Garden" em que a natural"'. Os
contactos com o mundo oriental pesaram nesta forma do quc também
influenciou madeirenses.
Os elementos fundamentais dos são as e elementos
cascatas, que se articulam de forma harmónica dc
acordo com a sensibilidade cultural de cada e .O não é apenas
e estilo mas também da e literatura. O culto elas árvores
é evidente no século XVII. São elas que orientam a
e lhe dão em avenidas em frentes elas casas J2 , O
tal' lima que se celebra com pompa no dia dedicado
já documentado desde o século XVllfl1 •

19
ALBERTO VIEIRA

A Europa partiu no século XV à procura do Éden, bíblico ou descrito na literatu-


ra clássica greco-romana14 • Foi este um dos motivos do empenho de Colombo e dos
navegadores portugueses. O reencontro era encarado como uma conciliação com
Deus, o apagar do pecado original de Adão e Eva. A imagem perseguiu quase todos
os navegadores quinhentistas e não fogem à regra os que apartaram à Madeira.
Tenha-se em conta que as duas primeiras crianças gémeas nascidas na ilha, filhas de
Gonçalo Aires Ferreira tiveram nomes bíblicos de Adão e Eva?;. O encontro da ilha
cra o retorno ao Éden que aos poucos se perdeu, tal como sucedera aos primogénitos
Adão e Eva. A recuperação desta imagem acontecerá no século XVIII com a ilha a
afirmar-se de novo como o paraíso agora redescoberto pelo viajante ou tísico ingle-
ses, e recuperado e revelado ao cientista, seja ele inglês, alemão ou francês, através
das recolhas ou da recriação com os jardins botânicos.
A literatura anuncia uma nova expressão da relação do Homem com o quadro
natural. A vaga romântica que, cedo se expandiu desde França, colocou o escritor e
poeta próximos da Natureza. O romantismo é sinónimo de pastorialismo nos Estados
Unidos que começou a partir do século XVII. O pastorialismo é a revolta pacifica
contra a revolução industrial. Aqui a escrita surge na primeira pessoa numa descrição
real, como se pode provar da leitura dos textos de 1. White, Th. Cole e George
Marsh 16 • Dois livros demarcam o romantismo americano: Walden. Dr Life in the
Woods(l854) de Henry David Thoreau e Moby-Dick (1851) de H. Melville. O últi-
mo é, segundo Annie Dillard, "the best book ever written about nature"77.
Thoreau é uma referência no panorama de "nature writing". A sua obra abriu uma
nova era na valorização do mundo natural. Thoreau afirmava que "a writer is the
scribe of ali nature"?" e tem como função fazer compreender a natureza. Ele foi, na
verdade, o escritor mais popular da literatura romântica nos EUA e a sua obra influ-
enciou os estudos de História NaturaF". É, por isso mesmo, considerado o santo
patrono dos escritores sobre o ambiente americano"'. Se Thoreau merece o epíteto de
patrono dos escritores da Natureza já John Muir (1813-1914) e John Burroughs
(1837-1921) estão nas origens do movimento ecológico SI , que tem a plena afirmação
após a segunda guerra mundial. Os reflexos da nova corrente estão também patentes
no discurso literário H2 • Nos últimos anos editaram-se diversas colectâneas de textos
recuperados numa perspectiva de História do Ambientesl,
A Natureza é motivo de constante inspiração dos poetas. Mesmo Fernando
Pessoa[ 1888-193 5] num dos heterónimos não perdeu a oportunidade de afirmar:
"Além disso, fui o único poeta da natureza"H4. Na poesia americana a expressão mais
evidente do romantismo é Wodsworth H5 • Em Portugal o romantismo legou-nos algu-
mas paginas de ouro da literatura do século XIX. A produção literária e os estudos
teóricos·" envolvem alguns dos nomes sonantes: que vão desde Júlio Dinis aAlmeida
Garrett. É, aliás o primeiro que inaugura a escola naturalista com os Serões da
Província( 1870y1.
A relação do Homem com o quadro natural parte também da reflexão filosófica e
dos rumos definidos pela História da Ciência a partir do século XVIII. O século
XVIII é na verdade o de afirmação da ciência. Tudo isto é fruto de um triunvirato de
cientistas que estão na origem de academias em Paris, Gottingen e Uppsala: George
Louis Leclerc, Comte de Buffon (1701-88), Albrecht von Haller (1708-77), Carl von

20
Do À ARCA DE NoÊ

Linné (1
A curiosidade do homem acerca da Natureza é do
Ptolomeu em Alexandrina''', mas os rumos da actual
descoberta delinearam-se a do século XVI. Os
museus de História Natural c os

Francisco (I

Botanic Gardens at Kew ... served as a contrai centre which


botanical information from of the to the colonial
nated information
ao rcferir-se ao Bristish Muscum (1881), o espaço é um
Jardins botânicos e museus ele História Natural tiveram um
da ciência e aos porque foram o
contactos que a das descobertas tornava necessária a
museus e as sociedades científicas desde o século XVI[ contribuíram para
isolamento dos cientistas em Londres ( embrião
colónias e difundiram-se em

1760 - American
1768 American
1805 - Charleston BOlanical
1846 Smithsonian Institution
1848 American Association for the Advancement of Science
1854 Société d' Accl imatation
"",C'IP"\! of America 'l1

associadas a uma
a edita desde 1665 "lhe
do outro lado do Atlântico tivemos desde 1818 o "American JOllrna1 af Scíence""".

2
ALBERTO VIEIRA

22
Do ÉDEN À ARCA DE NOE

A ECONOMIA DA MADEIRA
E A EVOLUÇÃO DO QUADRO NA~@Ã.
t.tt-IIIO 1111 t."lIlJ1U!> IH
Ntl~OItI'" Da .Io.I'1..l..... 'o(O

23
ALBERTO VIEIRA

24
Do ÉDEN À ARCA DE NOE

Nos primeiros momentos de ocupação do solo madeirense. o vinho, O tri go. e.


depois. O açucaro surgem como culturas aglutinadoras da peculiar vivência com
ine\'itáve is implicações políticas e urbanísti cas. Os primeiros mate rializaram a
necessária garantia das condições de subsistência e do ritual cri stão. enquanto o últi-
mo encerrou a ambição e vo rac idade mercantil da nova burguesia europeia que fez
da Madeira o principal pilar para afirmação na economia atlântica e mundial. O
processo é irreversível s ucedendo-se uma Ca!adllpa de prodwos. com valor utilitário
para a sociedade insu lar. ou C0111 capacidade adequada para activar as trocas com o
mercado ex tern o. Se na primeira fase o domínio pertenceu à economia agrícola. no
segundo. que se aprox ima da nossa vivência. reparte-se em serviços. indu strias arte-
sanais (vimes e bordado) e produtos agrícolas.
O cnquadrame rHo e afi rmação econó rnica nào é pacifico. sendo feito de embates
permanentes entre a necessá ri a manutenção de subsistência e a animação comercial
externa. Deste afrontamento resultou a afirmação dum produto que adquiriu maior
pujança e numero de defensores nesta dinâmi ca. Foi nesta luta permanente de pro-
dutos de subsistência 1~1miliar. local e insular com os impostos de fora pela perma-
nente so lici[açãu externa que. se alicerçolJ a economia da ilha até ao limiar do século
XIX. Deste modo os produtos foram os pilares mai s destacados para a co ml'J-~n são

0
' 1
da rc~lid~d,e s?cio-econom,ica madeirel,l se, ao longo dos quinhentos an~~f1~
~os l11 C\ Ha v ei S na actualidade, Por ISSO proponho uma breve reflexl
lmpon <i ncia no de vir e quotidi ano madeirense. CEHA
... t"'I"~ IIIt t~·l1l11(."" ~t
"11"0'"4 Da ... 'I..L",>(O
25
ALBERTO VIEIRA

UMA ECONOMIA DE EQUILIBRIO ENTRE A SUBSISTÊNCIA E O MERCA-


DO. A tradição mediterrânio-atlântica, que define a realidade peninsular, repercute-se,
inevitavelmente na estrutura agrária do Novo Mundo e por consequência no impacto
ecológico que acompanha a expansão atlântica. Da Europa saíram as sementes, uten-
sílios e homens que lançaram as bases da nova vivência insular e atlântico, e aí se situ-
avam as principais solicitações e orientações. A par disso o confronto com as novas
realidades civilizacionais americanas e índicas contribuíram para o paulatino desen-
cravamento planetário da ecologia e cardápio dos séculos XVI e XVII, com
inevitáveis repercussões na economia e hábitos alimentares do europeu.
A Europa contribuÍu com os cereais (centeio, cevada e trigo), as videiras e as socas
de cana, enquanto da América e Índia apartaram ao velho continente o milho, a bata-
°
ta, o inhame, arroz e uma variada gama de árvores de flUtO. Neste contexto as ilhas
atlânticas, pela posição charneira no relacionamento entre estes mundos, surgem
como viveiros da aclimatação dos produtos às novas condições ecosistémicas dos
espaços que os acolhem. A Madeira assumiu uma posição importante, afirmando-se
no século XV como o viveiro experimental das culturas que a Europa pretendia
implantar no Novo Mundo - os cereais, o pastel, a vinha e a cana de açúcar.
A expansão europeia, que desde o século XV revolucionou o cardápio europeu,
enriqueceu-se e aumentando a gama de produtos e condimentos. A tradição culinária
europeia foi destronada pelo exotismo das novas sensações gustativas que acabaram
por afeiçoar o paladar. Mas até que isso se generalizasse tornava-se necessário con-
duzir aos locais mais recônditos o cereal e o vinho. Assim, as embarcações que sul-
cavam o oceano levavam nos porões, para alem das manufacturas e bugigangas alici-
adoras das populações autóctones, inúmeras pipas de vinho, peixe salgado e barris de
farinha ou biscoito.
Se o cereal poderá encontrar similar, como o milho e a mandioca, o mesmo não
acontecia com o vinho que era desconhecido e incapaz de se adaptar às novas
condições mesológicas oferecidas pela colónias europeias. Desta fonna o vinho foi
conduzido da Europa ou das ilhas, onde se afirmou com esta finalidade aos mais
recônditos espaços em que o europeu se fixou. Ele foi o inseparável companheiro cios
mareantes, expedicionários, bandeirantes e colonizadores. Aos primeiros servia de
antídoto ao escorbuto, aos segundos saciava a sede, enquanto aos últimos era a recor-
dação ou devaneio hilariante da ten·a-mãe. O vinho era assim um dos principais traços
de união das gentes europeias na gesta de expansão além-Atlântico.
No imaginário e devir histórico madeirense paira sempre a visão tripartida da faina
agrícola: o vinho e o cereal que a tradição impõe como necessários ao quotidiano
espiritual e alimentar, o açúcar que se afirmou como provento excedentário capaz de
atrair a atenção dos mercados europeus e de trazer a ilha as manufacturas que neces-
sitava. Esta harmónica trifuncionalidade produtiva, porque definida pela extrema
dependência as dinâmicas e directrizes europeias, esteve sujeita a diversos sobres-
saltos que contribuíram para a desmesurada desarticulação cio quotidiano e economia
madeirenses. Assim, a concorrência do açúcar americano lançou o pânico na ilha e
obrigou à necessária afirmação da cultura da vinha, levando o vinho a assumir a situ-
ação de moeda de troca em substituição cio açúcar.
A precariedade da economia madeirense não deriva apenas da posição de

26
Do DE NoÉ

mas também radica-se nas diminutas


da ilha. O
sempre das
que são os molores da
espa<;o insular. Toelos os autores coevos foram unânimes cm alirmar a
ilha para satisfazer as
diz-nos quc "a terra foi mostrando seus filttos e dando a fama deles no regno, e eno-
brecendo-se com moraelores ricos'"'' Esta inaudita foi o motor de sucesso elo
povoamento da ilha: "crescendo e seus m;sim iam crescendo as
e moradores com a fama de sua fertilidade.
O processo de labuta insular expressa-se mais como humana e téc-
elo que Se as eco-sistémicas favoreceram a
sementes, ao homem ficou reservada a mais e hábil tarefllo
Primeiro ergucu soca Icos as técnicas e as alfaias
às condicionantes do novo espaço cultivado. O testemunho de tudo isto está os
ladeados de considerados entre as do homem na
do espaço. Os também um monumento ao
colono que recebeu das ilha () encargo valorizar economica-
mente as O investimento da de trabalho tem
qlle

mca e
agem rural que se
cidade fllzcnelo com que a ctaptrlss,em à medida do
volume cios reditos acumulados com o e vinho e estava-lhes
reservado o usufruto das comodidades e nas lides administrativas ou
canas.
Uma das das ilhas resulta do facto de estarmos espaços
que condicionam c foram influenciados de
humana. O processo económico
no mercado mundial provoca
intensiva que acaba inevitavelmente
o natural e que
económica fez-se de forma intensiva e de acordo com as do mercado exte-
com o natural c arrastando-o para a total
testemunhos dos "éculos XV
a revelar a cios solos devido ao
surge em meados do século Xv. Cadamosto atirmava: "As suas
terras costumavam dar a scss(;!nla por um, o quc 1",·"",,,1,, estú reduzi-
do a trinta e porque se vão deteriorando dia a dia resullou ela
do cereal para abastecer as ciclades do reino e praças aÜ·icanas.
o cereal cedeu pouco dominaram
do
desl1o-

27
ALBERTO VIEIRA

quase total exaustão. Em 1689 John Ovington testemunha-o de fonna lapidar: "A fer-
tilidade da ilha decaiu muito relativamente ao período das primeiras culturas. A cul-
tura sem descanso dos terrenos tornou os fracos espaços em muitos lugares e de tal
modo que os abandonam periodicamente, tendo de ficar de pousio três ou quatro anos.
Depois desse tempo, se não crescer nenhuma giesta como sinal de fertilidade futura,
abandonam-nos, como estéreis. A actual aridez de muitas das suas terras atribuem-na
simploriamente ao aumento dos seus pecados"~<.
A vinha e o vinho assumiram particular destaque na caracterização do processo
histórico madeirense ao longo dos quase seiscentos anos de labuta. Desde os primór-
dios da ocupação da ilha até a actualidade o produto manteve a mesma vivacidade na
vida agrícola e comercio da ilha. Dos mais produtos não houve capacidade suficiente
para resistir à concorrência desenfreada de novos e potenciais mercados fornecedores
de aquém e além-mar. Os cereais tiveram saque fácil nos Açores, Canárias, Europa e,
depois na América, sofrendo, mais tarde, a concorrência do abundante fornecedor
americano. Apenas, o vinho resistiu a concorrência do dos Açores, Canárías, Europa
e Cabo da Boa Esperança, mantendo o tradicional grupo de apreciadores no velho e
novo Mundo. Esta foi uma situação vantajosa para o quadro natural, uma vez que as
exigências da cultura da vinha quanto à floresta era diminutas.

AS DOMINANTES DA ECONOMIA AGRÍCOLA. No principio da ocupação da


ilha as necessidades alimentares e ritual cristão comandaram a selecção das sementes
que acompanharam os primeiros povoadores. O precioso cereal partilhou com os
primeiros cavalos de cepas peninsulares o processo de transmigração vegetativa. A
fertilidade do solo, resultante do estado virgem e das cinzas fertilizadoras das
queimadas, fizeram elevar a produção a níveis inatingíveis, criando excedentes que
supriram as necessidades de mercados carentes, como foi o caso de Lisboa e praças
do norte de África.
Até a década de setenta a Madeira finnou-se como o celeiro atlântico, perdendo-a,
depois em favor dos Açores que emergem com uma posição dominante na política e
economia fmmentária do Atlântico. Na Madeira inverteu-se a situação. A ilha passou
de área excedentária a dependente em relação ao celeiro açoriano, canário e europeu.
O estabelecimento de uma rota obrigatória de fornecimento de cereal açoriano à
Madeira, criou as condições necessárias à afinnação da cultura da cana sacarina, pro-
duto tão insistentemente solicitado no mercado europeu. O empenho de todos no cul-
tivo do novo produto conduziu à afinnação preferencial de uma nova vertente da
economia atlântico-insular. A partir de então os interesses mercantis dominaram a
dinâmiCa agrária madeirense. Na ilha as searas deram lugar aos canaviais, enquanto
as vinhas se mantiveram de modo insistente uma posição de destaque.
Se o cereal pouco contribuía para aumentar os reditos dos intervenientes o mesmo
não se poderá dizer em relação ao açúcar e vinho que contribuíram para o enriqueci-
mento das gentes da ilha. A própria coroa e senhorio fizeram depender grande parte
das despesas ordinárias desta fonte de receita. A par disso o enobrecimento da vila,
mais tarde, cidade do Funchal fez-se à custa destes dinheiros. O Funchal avançou para
poente e adquiriu fama de novos e potenciais mercados, mas foi de vida efémera.
Desde a terceira década do século XVI o açúcar madeirense foi destronado da posição

28
Do ARCA DE NOÉ

cimeira europeu, canário ou

e a solici-
madeirenses contribuiu para que a cultura canaVIaIS
em momentos de crise 110S mercados amer-
irremediavelmente condenada a
a canalizar todas as nas fazendo-as assumir o espaço
abandonado socas de cana. Os canaviais deram às latadas e os
para se erguerem os e armazéns. Esta na estrutura
tpr"""",Q na dinâmica económica da ilha. O definia apc-
nas um o onde decorria a O vinho
necessita de dois espaços distintos. O onde as uvas davam saboroso
e os armazéns da cidade ondc f'eI1l1enta e é
aroma e Deste modo o
da
mais de dois séculos a vinha e vinho das
actividadcs económicas da ilha dando ao meio O
Funchal cresceu cm monumentalidade e as famílias
económica.
A demarcada conflitos
das colónias e associada aos factores de
conduziu ao
do processo, sucederam-se as
nos anos eu nas décadas de 50 e continente
onde o madeirense fui substituir o escravo nas
anos
domínio social e alimentar.
Novo Mundo que de relevo na culinária
e a batata. par disso definiram-se
reconversão c ensaios de novos com valor comercial
oitocentista e no Guerra Mundial foi respon-
sável por um acentuado processo dc do interior da ilha e arrastou muitas
terras para o abandono. Foi o início de um necessário para as terras já de si
intensiva das culturas de subsistência As
o fácil aumento da man-

apogeu da indústria vinhateira tivemos a de Ul11110VO


Na metade do século XVIII a ilha assumiu um outro
gregos,

ainda que muito mais a desfrutar da ambiência par-


reservad8 aos deuses c escolhendo-as como rincão de

29
ALBERTO VIEIRA

breve ou prolongada. Diz-se até que a primeira viagem de núpcias, embora ocasional,
foi protagonizada por um casal inglês. Mais uma vez estamos perante a lenda que
ficou conhecida como de Machim. Na verdade, foi esta visão mítica, perpetuada nos
relatos antigos ou reavivada nos testemunhos coevos, que motivou o desusado inter-
esse do inglês pelas belezas aprazíveis da Madeira. A Europa oferecia ao aristocrata
britânico demasiados motivos que concorriam coma o "grand tour" europeu.
O ilhéu, autêntico cabouquelro e jardineiro do rincão, estava por demais embren-
hado na árdua tarefa de erguer paredes e arrotear os paios, e por isso manteve-se
alheio às delícias. Para ele a beleza agreste dos declives não passava de mais um
entrave na luta contra a natureza. Enquanto o madeirense cavava e traçava os paios o
inglês entretinha-se nos passeios a cavalo ou em rede pelos mais recônditos locais da
ilha. A verdadeira descobetia da Madeira toi obra dos ingleses, mas ao português deve
ser atribuído o mérito do descobrimento do caminho para cá chegar.

AS ROTAS DE MIGRAÇÃO DE HOMENS, PLANTAS E MERCADORIAS. A


valorização do Atlântico nos séculos XV e XVI conduziu a um intrincado traçado de
rotas de navegação e comércio que ligavam o velho continente ao litoral atlântico.
Esta multiplicidade de rotas resultou das complementaridades económicas e das for-
mas de exploração adoptadas. Se é cedo que estes vectores geraram as referidas rotas,
não é menos certo que as condições mesa lógicas do oceano, dominadas pelas cor-
rentes, ventos e tempestades, delinearam o rumo. As mais importantes e duradouras
de todas as traçadas neste mar foram sem dúvida as da Índia e Índias que galvanizaram
as atenções dos monarcas, da população europeia e insular, dos piratas e corsários. A
par disso a Madeira surge, nos alvores do século XV, como a primeira experiência de
ocupação em que se ensaiaram produtos, técnicas e estruturas institucionais. Tudo isto
foi, depois, utilizado, em larga escala, noutras ilhas e no litoral africano e americano.
O arquipélago foi, assim, o cenlro de divergência dos sustentáculos da nova sociedade
e economia do mundo atlântico: primeiro os Açores, depois os demais arquipélagos e
regiões costeiras onde os portugueses aportaram.
A posição demarcada do Mediterrâneo Atlântico no comércio e navegação atlânti-
ca fez com que as coroas peninsulares investissem todas as tarefas de apoio, defesa e
controle do trato comercial. As ilhas eram os bastiões avançados, suportes e símbolos
da hegemonia peninsular no Atlântico. A disputa da riqueza em movimento no oceano
sucede na área definida por elas, pois para aí incidiam piratas e corsários ingleses,
franceses e holandeses, ávidos das riquezas em circulação nas rotas americanas e índi-
caso Uma das maiores preocupações das coroas peninsulares foi a defesa das embar-
cações que sulcavam o Atlântico, evitando o contacto com os corsários europeus e
argelinos. A área definida pela Península Ibérica, Canárias e Açores era o foco princi-
pal de intervenção do corso europeu sobre os navios que transportavam açúcar ali pas-
teI ao velho continente.
A afirmação da Madeira resulta em muito do facto de ter sido o início da presença
pOltuguesa no Atlântico, e o primeiro e mais proveitoso resultado. Gaspar Frutuoso gg
testemunha este papel de âncora atlântico quando afirma " ... que Deus põs no mar
oceano ocidental para escala, refúgio, colheita e remédio dos navegantes ... ". Vários
são os factores que se conjugaram para esta sihmção. A inexistência de população, em

30
Do ARCA DE NOI~

consonância com a extrema necessidade de para das ao


da costa e crescimento económico da
Madeira. Por anos dos

no Atlântico!O".
elas ilhas não se fica só séculos XV e as naveg-
oceânicas nos séculos XVIII e levam-nas a assumir ulTIa
para os De terras descobertas passaram a campos de
e escalas da na rota de ida e regresso.
no século XVIII desvendou-se uma nova as ilhas como campo
de ensaio das técnicas de que comandam a ciên-
eXIJeCllC()eS científicas dos europeus. O enci-
têm nas ilhas um bom campo de

O homem do século XVIll o medo ao mundo circundante c passou a olhá-


lo com deste modo como dono da estava-lhe atribuída a
os todo o afã científico que
na centúria, A insaciável procura e descoberta da natureza circundante cativou
mas foram os quem entre marcaram presença, sendo
menor a de franceses e alemães!II!. as Canárias e a Macieira.
Tudo isto é resultado da

a este a noutras paragens.


ilhas foram ainda um meio revelador da incessante busca do conhecimento da
como o British Linean e
fazer recolhas. Os estudos

passaram destacados
.lohn Forster.
quase uma centena de cientista. Estámos uma
historial que ainda não foi devidamente e que por um eslu-
James Cook escalou a Madeira por duas vezes ( e 1 numa
de mas apenas com interesse científico. Os cien-
listas que o '"'/,I11,n" intrometeram-se no interior cla ilha à busca das raridades
botânicas para à comunidade cientí fica.
A tudo isto é de referenciar a UV'0I-""" para a cura da tísica ou

3\
ALBERTO VIEIRA

de quarentena na passagem do calor tórrido das colónias para os dias frios e nebulosos
da vetusta cidade de Londres. Esta função catapultou a ilha para uma evidente afir-
mação. O debate sobre as potencialidades terapêuticas da climatologia propiciou um
numeroso gmpo de estudos e criou uma escala de estudiosos, dentro e fora da ilha. As
filas intermináveis de aristocratas, escritores, cientistas desembarcaram no calhau e
foram encosta fora à procura do ar benfazejo da ilha. Vem daqui muito do espólio que
hoje está disponível na Casa Museu Frederico de Freitas. Casa Museu Barbeíto de
Vasconcelos e Biblioteca Municipal.
A Madeira recriou os mitos antigos e reservou-lhe um ambiente paradisíaco e
calmo para o descanso, ou, como sucedeu no século dezoito, o laboratório ideal para
os estudos científicos. De acordo com isso as ilhas tomaram-se no principal alvo de
atenção de botânicos, ictiólogos, geólogos, o que levou Alfredo Herrera Piqué a con-
sidera-las "a escala científica do Atlântico". Foram os ingleses os primeiros a desco-
brir as infindáveis qualidades de clima e paisagem, e a divulga-Ias junto dos compa-
triotas.
É esta quase esquecida dimensão da ilha como motivo despertador da ciência e cul-
tura europeia desde o século XVIII que importa realçar. A Madeira partiu ele campo
experimental dos descobrimentos para a afirmação, com a filosofia das luzes, como
novo campo experimental de nova ciência que desabrocha, mercê da nova fuóção de
escala das expedições científicas. Mais uma vez ficou demonstrado o activo protago-
nismo da Madeira no devir histórico ocidental..
Para os navegadores do século XV aquilo que mais os emocionou foi o denso
arvoredo, já para os cientistas, escritores e demais visitantes da ilha a partir do século
XVIll o que mais chamou à atenção é, sem duvida, o aspecto exótico dos jardins e
quintas que povoaram a cidade. O Funchal transformou-se num verdadeiro jardim
botânico. Na Europa os jardins botânicos começaram a surgir desde o século XVI. Em
1545 temos o de Pádua, seguindo-se o de Oxford em 1621. Em 1635 o de Paris pre-
ludia a arte de Versailles em J662. Em todos foi patente a intenção de fazer recuar o
paraíso l "'. As ilhas não tinham necessidade disso pois já o eram naturalmente.
Desde a segunda metade do século XVII que a atitude do homem perante aS plan-
tas mudou. Em 1669 Robert Morison publicou Pra eludia Botanica, considerada como
o principio do sistema de classificação das plantas, que tem em Carl Von Lil1né
(Linnaeus) (1707-1778) o principal protagonista. Contemporâneo dele é o Comte de
Buffoll que publica entre 1749 e 1804 a "}-Iistoire Naturelle, générale et pal'ticuliére"
em 44 volumes. Os jardins botânicos do século XVIII deixaram de ser uma recriação
do paraíso e passaram a espaços de investigação botânica. O Kew Gardens em 1759
é a expressão disso. Note-se que Hans Sloane (1660-1753), presidente do Royal
College 01' Physicians, da Royal Society of London e fundador do British Museu111,
esteve na Madeira no decurso das expedições que o levaram às Antilhas inglesasllll,
A aclimatação das plantas com valor económico, medicinal ou ornamental assum-
iu cada vez mais impOltância. Aliás, o interesse medicinal prOVOCOll desde o século
XVII o desusado empenho lll4 • Em 1757 o inglês Ricardo Carlos Smith funda no
Funchal um destes jardins onde reuniu várias espécies com valor comercial. Já em
1797 Domingos Vandelli (1735-1816) e João Francisco ele Oliveira no estudo sobre a
flora apresentaram no ano imediato um projecto para um viveiro de plantas, que foi

32
Do ARCA NOÉ

Sociedade
no estudo
""'''«'"nv em 1792 do seu

Botânica tornou-se muito do "botanizers", isto é aque-


les que n1'f,~p'nl'l('"i" das

como Smíthsonian e American


Em Londres havia tivemos cm
por iniciativa de G. 805-
86 ), foi criada em 1854 a Societé Nationale de Protection de la Nature el
J) 'acc/imatation. Os franceses a da obra de Buffol1 Lumarckian toram os
difusores da Tudo isto se directamente
assinalando-se no caso fi'ancês o processo em
curso na na "it may be said
the whole Df colonization is vast deed of acclimatization"'IJ'J, Esta
e mereceu o comentário de Michael Osborne 1"':
01' acclimatization societies anel its at indicates
lhat acclimatization studics were ticd to the of scttlcr
colonies".
O ambiente científico europeu loi acolhido com cntusiasmo na Madeira, Em 1850
José Silvestre civil da de
da Abril
em 1852

passou cm J853 Funchal


o Padre Ernesto João
em 1882 um Museu

CCI' a
refere-se uma tentativa íhlstracla
Pavão e que contava com o
1946 António c/e Sousa c/a Cámara recomendava a
de .1, de da ela
natureza" teve nas autoridades locais. Em 1952 do
Bom Sucesso anele ficaram os da mas o
do Jardim Botânico que aconteceu em 30 de Abril de 1960 por da
Junta do Distrito Autónomo do Funchal. Isto é o corolário defesa secular das

33
ALBERTO VIEIRA

condições da ilha para a criação e a demonstração da importância científica revelada


por destacados investigadores botânicos que aqui procederam a estudos lls •
Em qualquer dos momentos assinalados as ilhas cumpriram o papel de ponte e
meio de adaptação da flora colonial. Os jardins de aclimatação foram a moda do
momento e entre nós tiveram por palco as amplas e quintas paradisíacas. O Marquez
de Jácome Correia ll6 identifica as do Palheiro Ferreiro e Magnólia como jardins
botânicos. Estas foram viveiros de plantas, hospital para acolher os doentes da tísica
pulmonar e outros visitantes. O deslumbramento acompanhou o interesse científico c
conviveu lado a lado com as inúmeras publicações do século XIX que o testemunham.
Os jardins, através da harmonia do arvoredo frondoso e das garridas cores das Do-
res tiveram nos séculos XVll e XVIII um avanço evidente. Os bosques deixaram de
ser espaços de maldição e as árvores entraram no quotidiano das classes altas, alin-
hando-se em filas para dar acesso à casa de moradia. Os jardins adquiriram a dimen-
são de paraíso bíblico. de espaço espiritual e a expressão do domínio do Homem sobre
a Natureza l17 • Note-se que na Inglaterra do século XIX os jardins e as flores se tornam
muito populares ll ". Esta ambiência chegou à ilha através dos mesmos súbditos de Sua
Majestade.
As ilhas exerceram um fascínio especial sobre todos os visitantes e parece que
nunca perderam a imortal característica de jardins à beira do oceano. Deste modo
poderemos afirmar, com propriedade, que foram as ilhas jardins e que os jardins con-
tinuam a ser o encanto dos que as procuram, sejam eles turistas ou cientistas.
A História do Meio Ambiente e Ecológica veio fazer apelo de novo ao pioneirismo
da Madeira, naquilo que o devir mostra a gesta europeia destruidora do meio envol-
vente. O processo de expansão europeia não se allrJ110u apenas pela novidade de
descoberta de novos mundos, mas também pelos efeitos destrutivos da presença do
europeu sobre a fauna e flora dos novos espaços. Tudo isto foi conseguido por exigên-
cias das leis do mercado de então que definiram uma estrutura ele mOllocultivo e
exploração intensiva do solo, através ele culturas com elevado rendimento económico,
como foi o caso da cana ele açúcar. Da leitura dos clássicos e da produção bibliográ-
fica recente releva-se a situação particular que toca de novo ao arquipélago ela
Madeira. A Madeira não se posiciona apenas nos anais da História Universal como a
primeira área de ocupação atlântica, pioneira na cultura e divulgação do açúcar ao
Novo Mundo, mas também como o primeiro exemplo dos efeitos nefastos de uma
exploração intensiva ll ').
A expansão europeia não se resume apenas ao encontro e desencontro de Culturas,
mas também marca o início de um processo de transformação ou degradação do meio.
O europeu carrega consigo a fauna e 110ra do seu convívio e com valor económico,
que irão provocar profundas mudanças nos novos ecossistemas. Com isto aconteceu
que o espaço vivido e natural se universalizou. Nos séculos XV e XVI foram as via-
gens de descobrimento, enquanto no século XVlII tivemos as de exploração e
descoberta da natureza comandadas por ingleses e franceses.
A consciência ecológica do homem hodierno serve de apelo a esta viragem regres-
siva à História da Humanidade. O presente actua assim com expressão mediática para
a descobcrta desse passado que pode ter algum efeito pragmático nas actuais políticas
de defesa do ambiente, para que se alcance o limiar do século XIX com mais e mel-

34
Do A DE NOÉ

hor ambiente, que os nossos nos

o TURISMO E DESCOBERTA DA NATUREZA. A


do século dezoito foi da Madeira como estância para o turismo
co, mercê das então consideradas clima na cura da tubercu-
o que cativou a de novos forasteiros. A tísica ao do sécu-
lo dezanove o convívio com e aristocratas. Não obstante a
causada cm torno das do sistema de cura a ilha permaneceu
por muito como local de acolhimento de doentes, sendo considerada a
e estância de cura e do velho continente.
A presença, cada vez mais
de infra-estruturas de e agentes, que serviram
de intermediários tais espaços de acolhimen-
to. Este último O tal como o
dava os passos. Como corolário disso estabeleceram-se as
infra-estruturas hoteleiras e o turismo passou a ser lima actividade
zada com uma relevante na economia ilha. Mais uma vez o foi

A forte afluência de coincidiu com a de euforia da Ciência nas


Desde tinais do século XVII as
científicas eram comuns e o Funchal foi um fundamental de
ses, franceses e alemãs. A do Funchal como
oceânicas e estância de turismo contribuiu para valorizar o
os inúmeros estudos científicos ou de
O Turismo caminhou lado novas activi-
dades. A vinha nas latadas
Esta harmonia marchou a favor da ilha e tornou a existência vúrias formas
aetividade que a sobrevivência. A variedade foi a receita cerla para
manter de por economia insular. Na década de
define-se a o os do desenvolvi-
mento insular". As actividades em torno da obra de vimes e bordados tiveram nos
os
metade da centúria foi marcada por na
economia madeirense. Primeiro as guerras mundiais (1914-19 e 1 os
e económicos marcaram este momento negro da vida madeirense.
A guerra evidenciou a da economia da ilha e evidenciou a extrema
do mercado externo. Os económicos arrastaram convulsões
sociais que se misturaram com as tivemos em Fevereiro de 193
Revolta das a que se 1936 a Revolta do Leite.
Para muitos madeirenses a para o USA,
O Brasil continuava a ser () nosso EI Dourado. A funeionava cm
todos os com válvula de escape para a miséria da sociedade. As medidas elo
governo, com a Comissão de Hidraulicos c as iniciativas que pro-
moveu atenuaram para famílias os efeitos ela crise. um de
Comento de infra estruturas consideradas para o progresso da ilha. A reor-

35
ALBERTO VIEIRA

ganização do sistema de regadio, que através de novas levadas iria permitir um maior
aproveitamento agrícola, o delinear de um plano viário, que possibilitou a aproxi-
mação das diversas localidades da ilha e um progresso harmonioso.
No passado foram as condições do meio que fizeram da ilha um dos motivos prin-
cipais de atracção turística. Hoje o turista é outro e por isso também as exigências são
diferentes. Assim aos motivos ambientais aliam-se os culturais, passando os dois a
andar de braço dado. É a simbiose do "grand tour" europeu com o turismo terapêuti-
co insular. A ilha continua a fascinar cientistas e visitantes. O clima, o endemismo, as
particularidades do processo histórico, a evidência na História do Atlântico fazem
dela, ontem como hoje, um pólo chave para o conhecimento científico. Hoje a ilha é
tema de debate nos diversos areópagos científicos e cada vez mais se sente o apelo da
comunidade cientifica para o conhecimento e divulgação. Esta realidade vai ao encon-
tro do que foi a História do arquipélago. Na verdade, o processo histórico da ilha, rel-
evado quase sempre pelos aspectos económicos e sociais, esquece uma componente
fundamental do nosso contributo: a inovação e divulgação tecnológica que transfor-
mou a rotina das tarefas económicas e revolucionou o quotidiano dos nossos avoen-
gos. Mais do que isso, o madeirense, além de exímio inventor - na inevitável tarefa de
encontrar solução para as questões e diticuldades do dia a dia -, foi também um efi-
caz divulgador da tecnologia.
A Madeira foi a primeira terra revelada do novo mundo, escala para a navegação e
expansão dos produtos europeus no mundo atlântico. Com o século XVIII a ilha trans-
f0ll11a-Se em escala obrigatória das expedições cientiticas que fizeram saciar a
curiosidade inata do Homem das Luzes. Este protagonismo evidente da Madeira
condicionou a evolução do quadro natural e a relação do madeirense. No primeiro
momento a ganância do lucro atirou os colonos para uma exploração intensiva do
solo, procurando exaurir o máximo das suas riquezas. O desequilíbrio entre a perma-
nente solicitação de um cada vez mais vasto mercado externo e as limitadas capaci-
dades dos recursos naturais da ilha eram evidentes e atTastaram-na rapidamente para
uma situação de rotura. Primeiro foi a crise da produção cerealífera aque se seguiu a
da cana sacarina, todas elas em ultima estância resultado do esgotamento dos solos.
Perante isto, num ápice a floresta deu lugar aos poios e as culturas que depois fizer-
am surgir o espectáculo desolador dos tenenos inférteis abandonados.
A viragem ocorre a partir do século XVIII, servindo-se mais uma vez da íntima
aliança da ilha aos ingleses. As embarcações deste reino trouxeram-nos as plantas
exóticas para recobrir o solo e os visitantes ávidos de conhecê-Ias. Assim se avançou
rapidamente para uma política de reflorestação que embelezou a cidade e arredores de
espécies exóticas e povoou as escarpas escalvadas de pinheiros, eucaliptos e castan~
heiros. Também a curiosidade e espírito científico que marcou o mundo britânico
desde o século XVIII teve os seus reflexos na ilha, provocando uma procura,
descoberta e estudo do mundo vegetal e animal da ilha. Este espírito científico cativou
também os madeirenses e levou-os a considerarem o quadro natural de forma difer-
ente, fazendo frutiticar o actual espírito ecológico, que rapidamente se transformou
numa moda do mundo actual.

36
Do ÉDEN À ARCA DE NOE.

C IENTISTAS ESTRANGEIROS NA MADEIRA


SÉCS. XVI-XX " "

1601: Jean Mocqul!tI1575-'!]. viajante frances. que 1768: Ch. Gn.."cn. astrônomo brit.1.nico
deixou impressões da sua \ iagcm cm Sçtr.:ll1bro.13. Ancorou ao Funchal James
ruyllge~ ('II A[i"ique. Asie. IlIdes Orienral/!s el Cookl I728-79]. CIll \ iagr.:1ll dr.: ci rcum-nave-
Occidema/('s{ 16 17) gaçào a bordo do na\ io Endc.n our
16M7: Dr. Hans Sloanc] 1660 1753], médico c natu- JOSl:ph l3anks. bot.lnico illglê~
ral ista britânico Dr. Danid Solander. natural ista succo
1696: Rc\'. John Ovington. cape lão Real c escri tor 1772: Segunda pasSilgclll de James Cookll728 79J
britünico pela Made ira. sendo a descriç.l0 da Viagcll1
J 720: John Atkins. médico na\al e escritor britâni- da Autoria de Gcorge Forster em Voyage
co rowule fhe IVor/d ( 1797)
1740: George Anson( 1697- 1762J, co rsúrio. naveg- Johann Rci nhold For~ t er e George Adam
ador britânico. Autor do livro: VO.l'age ROlll1d Forstr.:r. cientistas alemães, S"o pai e filho e
lhe fl'o r/d (174M) iniciar.1Il1 as exploraçõcs botânicas na ilha .
175 1: Dr. Thom. Ilcbcrdcn. cientista britânico John Gr.:orgc. naturnil~ta bril1inico
1755: J. de Bory. cien tista. c:\plorador c \!scri tor 1776: Fr.lI1cis ~·I ason. bot.lnico inglês
1764: COlTIodoro John Byron. navegador c ex plo- Prof: Downc. botân ico inglês
rador britânico [785: J. F. Ga laup de la Ilerousc. ml\ cg:ldor c cien-
1766: Samue l Watlis[ 1728 9S I. oficial de marinha. tista francês
cLen tista . Entre 1766 c 1768 fel viagem de Eng. Maneron. cicnti~ ta francês
circun-mi\r.:gaçào no I-IMS Dolphin Lcpallte Dagete. a:..tronomo fran cês
Capita in Philip Cartcrctl?- 1796]. célebrr.: Pror. Lamanon. lisico fi aneE...:\(. ·' ~
na\ r.:gador r.: cientista britânico que aeomp.1n- Prof. Collignon. bot,illlCC : ;'" :.-..~ ..-'-
hou a \ iagelp de John Byron em (1764----6) Prof. Monge. cientista [fa ne :-, ~

CEHA
'" t~ l 'n) IIt B'V D O':> ~~
HII~tMlll. MI ...n.l.",r-co
37
ALBERTO VIEIRA

1789: Dr. 1. J. de Orquigny, médico c naturalista britânico


francês W. P. Canning, oficial marinha britânica
1792: John l3arrow[ 1764 1848], administrador 1834: M. Raymond Brucker, escritor francês
naval e aventureiro britânico Dr. 1. Manson, médico e escritor britânico
Dr. Willian GOllrlay, médico, meteorologista, 1835: Conle de Bedmar, geólogo dinamarquês
escritor britânico 1836: Sir W. Jardin, aristocrata e ornitogista
1799: Pascoal de Avezac Mucaya, geógrafo francês britânico
Gabriel de Gorat, cientista 1837: Dr. Charles Lemann, botânico britânico
Oscar Mure Carthy, cientista [838: J. D. Dane, geólogo britânico
1800: Turnbull, navegador britânico John Driver, escritor britânico
1802: Robert Brow, botânico britânico Dr. Jú[io F. Lippold [1788-1852], botânico
LiclIt. Coloncl Roberts, oficial, escritor alemão, fez recolha de plantas para herbário
britânico Tenente Charlcs Wilkes [1798-[877], oJi-
.J. Adams, médico, escritor britânico cial de Marinha norte americana e cientista
1805: Dr. F. Spilsbury, médico naval, escritor 1839: Sir James Clarck Ross[1800 62], cientista e
britânico oficial da Marinha britânica
1809: Robert Brown[I773 1858], bot'lnico britâni- Dr. James Macaulay, cientista e escritor
co britânico
1815: Cristiano Leopoldo de Buch[1 774-1 853], 1840: James Smith, geólogo britânico
geólogo, botânico, escritor alemão W. White Cooper, escritor britânico
Chetien Smith, botânico norueguês Zwinko Joksimowilsch, paleontologista
1816: Cap. J. K. Tuckey, cientista britânico polaco
1817: Karl Friederich Philip von Martius[1794- 1841: Dr. Carlos Guilherme Emílio Kampfer
1868], botânico germânico. Na obra Rcise in [1803-1848], cientista e escritor alemão
Bmsilien (1823) retere algumas espécies Dr. George Carl Friederioch Tams [1813-
botânicas. 1863], médico e escritor alemão
João Baptista Emanuel Pohl[ 1782- [834], Júlio Rodolfo Teodoro Voge! [1812-184[],
botânico e explorador austríaco publicou botânico alemão, recolheu plantas para her-
livro com referências à Madeira: Reise im b!írio em expedição ao Rio Níger.
Inncm von Brasilicn(l832) 1842: Cap. Vida[, oficial da Marinha e escritor
1820: João Conrado de Hasselt[1797-1823], britânico
alemão, fez estudos de Ciencias naturais no Andrew Pickell, artista britânico
arquipélago, deixando desenhos das 1844: Duncan Maclarcll, escritor britânico
Desertas, P. Santo c costa da Madeira. Charles de Tryon Montalembertc, político c
Henrique Kuhl[1797-1821], ornitólogo escritor
alemão, recolheu plantas na ilha como se vê 1845: Jeane Wallas Penfold, botânica bril!lnica
do seu trabalho: Flora ode,. BOlanische Dr. Schmellel; escritor alemão
Zeillll1g ( 1821 ) Rev. John Mason Nea[e[1818-1866], i111u-
[821: Giuscppc Radcli, botânico italiano lIo!ogista c pastor britânico
1822: Dr. Tíarks, cientista britânico Guilherme Frederico JOI"ge BEHN, médico c
1823: Prol: Karl Mayer, geólogo gernlUnico naturalista alcmão
T. E. Bodwich, naturalista britânico 1846: Tito Omboni, escritor italiano
1824: Dr. Ch. Heinekcn, especialista pulmonar John Osborne, escritor britânico
britânico 1847: T. Vermon Wallaston, naturalista britânico
1825: Kirvan, naturalista, meteorologista Rev. W. Harcourt, meteorologista britânico
H. Nelson Co[eridge, escritor britânico Eduardo Hildebrandt[ 1817-1868], pintor
1826: Dr. Renton, Médico, escritor britânico alemão. Registou alguns motivos da
Rev. Thomas Lowe, sábio naturalista britâni- Madeira.
CO 1848: Charles Mac Euen, meteorologista ameri-
[827: Christian Frederic Holl [1794-1821], botâ- cano
nico germânico. Com vários estudos osbre a Frank Dillon, escritor e artista britânico
botânica da Madeira A. Pew, escritor britânico
Rev. Jumes Bu[wer, desenhista britânico F. Kcnworthy Brown, escritor britânico
1828: Philip Bakcr Webb [1793-1853], botânico Dr George Peacock [1791-1858], teólogo e

38
Do A ARCA DE

fiou
Guilhé!'me ReisL li K31l-ILJOii], geólugo
Madeira ii de lnarm-
Du~ de Leuchtcnherg, I'rincípe oficial da h05 de que publicou cm
Marinha alemã Augusto David Krohn( I fl03-1 il911,
Sebastião Fischer [1801Í- I il7 medico natu- ale[l1i1o
ntlisla alemão. Fez algul1s eSludos sobre os 1/;56. J. Zieglcr,geólugo británicn
crllstúceos da Madeira. D. Archibald Colqulwl1l médico
Prol'. Joall1 Cris!. Albcrs, alemão bl'ÍlunÍco
White, N. I-Iaslop Mansnn,
EUlIard Vcmol1 d'!-larcourl, ornitologista COl11od. Wdlcratorf Urhair,cicntista auslría-
escritor britdll ico co
Dr. Hecr II H09-1 X/O I, botânico Dr. Ferdinand Rill!!r Hochstdtcr, geólo-
paleontologu slli~o, lá estlldos sobre go austríaco, publicou cm I I o livro
ii 1~IU!la e geologia ua i lha Madeira Vortrag.
James Yale JOh115011, naturalista brilánko Richard C Smith, hotnniw britânico
Eugcne E. G. Jones, escritor britânico George Bus", naturalista brílâni-
.Iohn Dix. escritor
Dr. escritor Ihll1cês Jo~o Jacob Nocggcrnthl17XX- H77], cngcn-
D. Ramon MasJ"rrer y Arquinbnu, médko hcim de minas alemão
HCl'll1<1ll1l Sclwcht, escritor alemão
Joam ChrislOph [1795-1857 j, l11t!di<:o de Mmkns[1 1-' ')04] zoólogo
c naturalista alemão. Publicou Mafaco- alemão
graphia MOI/crensi.\' ( Ernesto Wichura[1 li 7-1 Rfi6]. boti\IlÍço
Carlos Jorge Frederico Hnrtung, alemllo
investigações cicntbta
qlle publicaç<1o de três I-Iagçm, escritor alemão
I' João António Sdunid! 823-1 bolfinico 1862. Dr. Lkbctl'llth, botúnico austríaco, rccúlIm
alemão marinhas
I X52: Dr. Karl Millcrlllaicr, médico c I11ctcnmlo- LlIClwig Stol'eh, escritor alemão
alemão Carlos Ciuilherme Jorge de Fritsch[IlDH-
Dr. J'ricdrich Martin Joseph. 1906J, geólogo e paleontólogo li Iclllilo
Wclwitsch[ I f{06-1872]. médico botlll1ieo lVIuurído Stubcl[ I K35-1 lJ041, geólo-
austríaco. Pertence-lhe de criação go c explorador alcmão
de umujardim aclimatação de plantas para I X64: Dr. Robert l300g Watson. cienlÍsta britúnko
FundJaI .Ioscphillc de NCllville, csnitonl francesa
Charles Lyell, geólogo británÍ\;o Icn1l<1II0 Cnchiusll il3'?-1 geólogo
Dr. George I-Iartung, geólogo alemiio alem1io
Maekt!nzic l.lIllxam, ..:;;critor britiínico E. Cosson, naturalisla Ihll1c~s
Charles Bunbury, botânico c paleontologista DI'. Carlos Inácio Lcopold - 9161,
britünico botftnico all!I11UO
I X54: Robert Antlrcw, cicntisla escritor J. Juratzka, dentista polaco
brilÜnico Erncsl Hacckcl[ 1H34-1 ') !LJ], zoólogo c liló-
T. S. Dyslcr. escritor britünico soro alcl1l~!l
William Hadlit.:ld, escritor bl'itlll1ico N. Quintlls, escritor hritünico
C,hnrks I'crrcymond, lhmcês Cllp. NOrl1111l1, hotânico britllnieu
Jacob Me \chio!' Ziegler[ I /lO I-I HH31, earló- Augusto Júlio Mildc[IIQ4- H71j,
graltl suíço. Publicou em I K56 dois bOltlnko especialista ":111 felOs
sobre Madeira. Ri~lll'do I ii29-1 H921,
DI'. S. médico nlemfio alel1lão
Dr. S. Lund, I11dcorologistu britúnicn Jorge Mlltias Martcns
Hcrl11ann Schacht [I 14-1864], botünicll hotnn ico :demiío
alemfío, publicou em 1859 um es!l1clo botdni- IS61i: H. MnjO!; geólogo e briulni-
co: 1/1/íler Tene!'i/é //Iii ili!'i'/' l'ege/a- co

39
ALBERTO VIEIRA

Dr. Richard Green; Doutor cm Medicina e Alice Baker, artista británica


Filosofia. alemão Helcne Taulor, escritora e pintora britânica
E. Cosson. cientista Bertoldo Stcin[ 1847-1899]. botânico alemão
C. PII. Kerhallet. cientista li'ancês Frederico Carlos João Scmitz[ 1850-1895],
Augusto Krcmpelhuber[ 1813-1882]. botâ- botânico alemão
nico alemão 1883: Alphonse Milne Edwards, cientista britânico
1870: Fred. du Cane Godlllann, botânico britânico 1!l84: José Schroter[l837-1894], bolftnico alemão
Conte de Goimpy,escritor e cientista francês 1885: Dr. Karl Líndmunn. botânico sueco
Dr. Michael Grabham, médico, escritor Henrique Óscnr Lenz[ 1848-1925], geógrafo
britânico. fixou-se e explorador austríaco
1871: Júlio Fernando de Hann[I839-1921].físico c 1886: Prof. Robert Collet, cientista Ihlllcês
metereólogo alemão Valdemar Hartwig[1851-19011. ornitólogo
1872. Jacob Ricardo Senl1er[ 1841- I 887]. físico alemão com vários estudos sobre a Madeira
alemão Adalberto Geheeb[ 1842-1909]. briólogo
Aloísio Pokorny[ 1826-1886], botânico alemão
alemão I H87: José Ernesto Stizenbcrgcr[ 1827-1895],
1873: Filipe Guilherme Adolfo Bastian[l826- bol!1nico alemão especializado em líquenes
1905]. expedicionista alemão I. Tompson, escritor britânico
Hermano HeIlrique Augusto Luís SOyHuX L. Manchon, escritor francês
[1&52-]. botânico alemão 1888: A. Samler Erown, escritor britânico
1874: Sir William TOI11[lson-Lord Kelvin. cientista Dr. Charles Omnes, médico espccialista
britânico tj'ancês
Pc. Ernest João Schmitz[ 1845 - 1922], Dr. Eugénio Fernando Christmunn [1863-
ornitólogo alemão. Fundou em 1!lR2 o 1894], médico alemuo. Publicou em 1889:
museu de História Natural no Seminário Funchal w!lMadeiJ'llulldsein Clima
Diocesano do Funchal Alexandre Fernundo Kocnig [I R58-1940],
Carlos António Werner l-Iuesker[1849- ornitólogo alemão
1928], medico e ornitólogo alemão I R90: Robert Collet, ictiologo Director do Museu
1875: Paulo Langerhans [1847-188RJ, médico e de Cristiania
zoólogo alemão. Publicou Hal1dbucllfil/' Baron van Bencden, escritor belga
lv/a c/eira (I 885) 1891: Mm"quis dcgli Albizi, diplomata, escritor ital-
1877: Green, astrónomo britânico iuno
187S: D. Ventura Callejon, escritor e diplomata 1892: Albert Girard, naturalista. occanogl'llfil,
espanhol francês
1879: H. Grey. escritor britânico 1893: Lotha!' Roedige!', estudioso dos miriápodcs
Ricardo Fritze[ 1841-1900], botânico alemão, da Madeiro
recolha plantas pam herlnírio 1894: C. A. Gordon, escritor britânico
Gaston Lemay, escritor Ji'uncês Lorde Walsinghclll. cientista ingês
Dr. Paul Lagerhuns, cientista 1'. Murruy, botânico inglês
Príncipe. Alberto do Monaco, escritor e cien- Emilio Kraepelin[ I 856-1926]. botilnico e
tista oceanógrafo zoólogo alemão
18S0: Julius Goldschmidt,lllédico e escritor alemão 1895: Fricdrich Wilhcllll Bosenberg [1841-1902].
Dcnnis Embleton, escritor britânico zoólogo alemiio
Dr. Spencer Wclls. médico e escritor britâni- Oro Roberto Latzel [J &45-19\9], zoólogo
co uustdaco
Gilhennc Jorge Ritter[ I 850-1926]. paisa- Augusto Henrique ForcJ[ 1848-1931] ento-
gista e litógralb alemão. Visitou a Madeira mólogo suíço
cm 1880-82, 1908 c 1909 1896: W. Hartwing, ornitologista austríaco
1881: Dr. Jacoud. módico francês especialista pul- l-ledor Leveillé, botânico n'ancl!s
monar Ernesto João Otãll Hnrterl [1859-1933J,
J. M. Rendell, escritor britânico ornitólogo ulemilo
1882: Cap. Enrico Albcrtis, naturalista italiUllo Paulo Gerhllrd Teodoro Grosser [1864- 'I],
E. Gardner, zoólogo e escritor minendogista alemão
C. Piazzi Sl1Iyth. meteorologista 1897: Dr. AIf1-cd Mede NOl'lnon, zoólogo briltinico

40
Do À ARCA DE NOÉ

L. Cardol, escritor brilánico Gustav MOllZ, escritor alemão


Albert Fauvel, elltomologista 1907: Prof. Pe. Alphonsc Luisir S . .1., hotânico
Edmond Fulgairolle, escritor lhmcês suíço
W. Grant, ornitologista britânico João Jacob Ocyr de Schweppcllburg[ H1:i4-
Cap. Adricn Gerlllchc, comandante, da expe- ItJ63], ornitólogo alemilo
diçi10 belga à reg. Artica 190H: Th. Bccher, naturalista
Danco, cientista belga Potlsan By, cientista hritânico
Dr, Arto:;ki, meteorologista oceanógrafo Ellgelle Simun, cientista francês
Dr, Racsvitzc, zoólogo e botânico Mamício Leo Daniel ue Komorowicz [IRRl-
Dr, Joannes Allgust Bohm [1857-2938], '?}~ geóiogo alemão
palcorllólogo alemão 1'109: W. 1-1, Koebel, escritor britânico
Dr, Relam.! médico britânico H. N. DixUfl, bottlnico britânico
V. Kulezynski. polaco Florcnçc do artista, aguarelista
A. W. 'Nalcr" dentista hri1Ünico Anatale franee, escritor fhmcês
18." Rev. Thomas Hinks, nl1turalisln britnnico Pc. Camil fllrrend S. cientista fhll1cês
Dr. Douglas, médico c escritor britünico Carlos Zimmerl1lanll [1871-"",], botânico
William Ilooker, cit:ntista britflllico alemão
Dr. rorcl, cientista lhll1cês 1910: Robclt Scott, explorador das regiões llntÍlrti-
R, Fowler, cientista c escrita britânico cas
M. cientista c escritor Cap. Amundscll, explorador regiões
prures, Ouillin,geólogo l1'ancês Hntárticas
Albert GlInther, ictiólogo britânico Pc. Longinos Novas S. J.; Liquenúlllgo
Il)()(): l'riedrich. Nicolaus Joseph l30rnmllllcr espanhol
[1862-1941\], botânico alemão. Procedeu li Eugcnc Ackcnnulltl, desenhador britânico
recolha de plantas para hcrbàrio Gustavo Henrique Engler[ I
Lorenzt:n X6::!-1942], naturalista I tJ30], bot{inico alemão
Drcxel Biddle, escritor americano Adol1o Bcrgt[ I H64-1941 j, geólogo
Tschusi de SCll1idhoflen 1847- alemão
1'124], ornitólogo 1911 R. Kirkpatrik, naturalista do Museu de
Il)O I: Robert navegador britânico Londres
Viklor FerdinamL Schi IlÍler, botânico ale- Dr. Louis Gain, Naturalista tI'aneês
que dedicou ao estudo musgos Palllo Luis Finckh[ I H71-19301, geólogo
Samuel Bmw, escritor alemão
lk v. Drygalski, cientista alemão 1912: Dr, Hcrmllm Winter, cientista
explorador do Antúrtico
Dr. Martim Vahl, dinlllllllrqllês
Calbcck, comandante do britilni-
Antártico cu alemão
britânico, explorador do F. Nal1scl1, dentista nomeguês
Antártico 'Norslcy, oficial da Marinha britfmica,
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192H], diptcrólogo alemii() 1937: EI'IICSIO [loesser [-19R6"[, pintor e
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AL8ERTO VIEIRA

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73. K. Thomas, ibidem, pp. 210·221.
74. Cf. Jean DELUMEAU, Une Hisloire dll paradis- le jardin des défices, Paris, 1992; John PREST,
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76. Donald Scheese, Nature II'riting: lhe pasloral implllse in Al11erica, New York: Twayne Publishers;
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ALBERTO VIEIRA

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46
Do ÉDEN À ARCA DE NOI'.

47
ALBERTO VIEIRA

48
Do ÉDEN À ARCA DE NOÉ

Quereis água de rega para fertilizardes vossos campos, para cultivardes terrenos
áridos, até hoje incultos?
Quereis conservar e aumentar as fontes que existem e fazer aparecer outras novas?
Quereis chuvas mais frequentes , mais igualmenie distribuidas?
Quereis melhor. o clima?
Quereis mais igualdade nas estações?
Conserva i como objectos sagrados os arvoredos que existem; plantai, semeai, criai
novos arvoredos."
[CORREIO DA MADEIRA, N I. 32 , sabbado 8 de Setembro de 1849, p.l]

No inicio o denso arvoredo que deu nome à ilha. Mas a acção do homem con-
tribuiu para a total transformação. Foi um esforço hercúleo por parte do colono tal
como nos descreve de forma poética Vieira Natividade( 1947). Esta mudança é inter-
pretada por Ferreira de Castro: "A ilha deixara de ser apenas bosq ue, para ser bosque,
horta e jardim'"
No século XIX o manto florestal da vertente sul da Madeira havi
te. As encostas estavam totalmente escalvadas. A politica de protecç~~....,.""
que se havia incrementado desde o século XV não teve efeito ou incapaz
ponder à cada vez mais incessante procura de lenhas e madeiras. Er~
- -
.......
~os
l.tt-I.O IIIt t~'l1IJ1O'!>:>t
"11~DltI'" DO .ltn..l.",0(0

49
ALBERTO VIEIRA

devastadores das aluviões de 1803 e 1815 no Funchal que fizeram com que as autori-
dades despertassem para um conjunto de medidas mais eficazes de reposição flore-
stal. De acordo com o relator da aluvião de 1815 a "natureza [estava] cansada de ser
libera!"2. Este quadro é percebido e testemunhado desde muito cedo pelos
estrangeiros. Eles não se cansaram em considerar a ilha, fundamentalmente a área da
cidade e o norte, como um jardim, um paraíso'. Mas esta opinião, habitualmente
consignada nos guias de turismo, contraste com o testemunho atento dos botânicos
que no decurso dos séculos XVIII e XIX a frequentaram.
A primeira e abalizada opinião é de John Barrow em finais do século XVIII. Foi
ele o primeiro a dar conta do desaparecimento de algumas espécies como é o caso do
cedro 4 • Um dos tàctos que chama à atenção prende-se com a permanente azáfama de
mulheres, jovens e idosas na colheita de lenhas para a venda na cidade5• Estes
lenhadores sem escrúpulos, segundo lsabella de França, cortavam o seu e alheio sem
qualquer critério: "encontram-se com frequência, naquelas imediações, homens e
mulheres com carregamentos de troncos de pinho à cabeça; vêm vendê-los ao
Funchal.. ."6. Já em finais do século XIX John A. Dix 7 descreve o processo de
aquisição das lenhas e dificuldade da colheita: "Vivem nas montanhas, onde cortam
a sua lenha, começando o seu trabalho logo ao amanhecer. Preparam a lenha, e
trazem-nas à cabeça para a cidade, às vezes duma distância de 3, 5, 7 e 8 milhas e
vendem-nos a 14 e 18 centimos (7 e 9 vinténs) quando acham quem lhos comprem"B.
A visita à feira semanal da cidade leva-o a concluir que "a qualidade mostra a pouca
abundância de lenha na Madeira "9,
O Visconde do Porto da Cruz num estudo de 1950 dá conta do consumo de carvão
como combustível no Funchal, apontando a necessidade anual de 720 toneladas. Se
tivermos em conta que para cem toneladas são precisas 1000 toneladas de lenha é
fácil de adivinhar o volume do desbaste necessário para abastecer a cidade. Ainda de
acordo com o mesmo a destruição das matas madeirenses foi resultado:" I o fabrico
Q

clandestino de carvão; 2°. Os abastecimentos fora da lei, de material para as cons-


truções; 3°. A escassez de pastagens para gado."!O
A par do usufruto da floresta como fonte de combustível é de assinalar o
aproveitamento elas madeiras, consideradas a primeira riqueza dos povoadores, a
fazer fé naquilo que referem Zurara, Valentim Fernandes e Gaspar Frutuoso. As
madeiras de til, vinhático, aderno, barbuzano, cativaram a atenção de colonos e
forasteiros. As serras de água que proliferaram por toda a ilha, com maior incidência
da encosta norte, podem ser vistas como o símbolo da busca desenfreada de árvores
para abate.
É certo que a necessidade de lenhas como combustível para o dia à dia caseiro,
para a indústria de panificação, fOljas e engenhos de açúcar levaram paulatinamente
à diminuição das reservas florestais. Mas foi sem dúvida o desbaste para a agricl.ll~
tura que conduziu inevitavelmente ao processo destrutivo. A sentença estava dada: "<
ln ali new countries covered with forests the setlers are apt to consider trees as their
enemy. They wage an implacable warfare agians them, until the whole face the land
becomes naked, the streams driedun, the summers made hotter, and the winters cold~
er, by opening the earth to the 8U11 anel winds. The succeedi11 generation labors as as
industriously to produce shade as its predecessors did to destroyed it"!!' Perante esta

50
Do A ARCA DE NOÉ

passagem da ilha que é insistente-


mente evidenciada por todos os visitantes. O Sul escalvado contrasta com
onde ainda a floresta . É evidente o de
da flora Em 1792 J. Barrow refere a o
Mason folhado e vin-

é claro para todos os locais ou


reparos. Em 817 Paulo Dias de Almeida acusa car-
em que encontra a ilha: ... as montanhas que não há muitos anos
os reduzidas a um O Centro da ilha se
isto em

lo que se nas
encosta norte. Em 1812 o madeirense N. C. Pitta chamava a para a abundân-
cia de ou oriundas das Orientais e Ocidentais em tão
variedade que o levaram a al1rmar que a Madeira é o Jardim cio Mundo l 'l •
Os do Funchal são os locais de forasteiros e cientistas.
1888 o
C. Stanforcl não
hesita em comparar o Funchal "are remark-
able for thea collectiol1s af trees anel shrubs ITom many cOllntries and
many climes." de onde
Bulhão Pato "os ramos de nora

que também foram


diz-nos quc () clima e solo
releva o do

",·r""'.CI·~ a

Francisco. Tudo isto leva M. d'Avezac


de todo o munc\o"IH. Este
da Madeira como uma estància dc
fazer à dIscordante tem C "Dizem
auctores quc na Madeira viver e fhltilicar ao ar livre na mais familiar
"""1nm1'I'''1 e illuminaclas mcsmo as de todas as do
mas isto não é exacto""".

51
ALBERTO VIEIRA

A riqueza e particularidades da flora madeirense fizeram com que a ilha se trans-


forma-se num local de permanente investigação para os cientistas europeus. A ilha
era um local ideal para herborizar e um verdadeiro laboratório: "La botanique l'en-
tomologie la météorologie sont les occupations favorites des savants pendant leur
séjour dans l'i1e; mais cette étude atant d'attrait et de charme qu'elle entraine souvent
au . de lã du but."~' A ideia é corroborada por E. Taylor(1882) e A. Drexel
Biddle( 1900). O último considerava a ilha "um paraíso para os naturalistas". E, na
verdade foi isso que aconteceu, uma vez que desde muito cedo a atenção dos natu-
ralistas fizeram da Madeira um dos recintos predilectos para herborizaI,22. Os Jardins
Botânicos da Europa encheram-se de plantas e herbários da ilha. Tudo isto começou
em 1687 com Hans Sloane e manteve-se até a actualidade.
Se a atenção e preocupação do cientistas estava na descoberta e classificação das
novas espécies, o empenho das autoridades incidia na preservação do parco manto
florestal, tão necessário à sobrevivência humana e ao equilíbrio da economia. Deste
modo, logo desde o século XV até ao presente, é interminável o conjunto de regula-
mentos, ordenações e posturas sobre o assunto. A legislação florestal madeirense é
prolixa, sendo de destacar o regimento das Madeiras de ] 562, o mais antigo que se
conhece pois faltam notícias sobre o de 1515, o regimento das matas e arvoredos de
J 839, o plano de organização dos Serviços Florestais de 1886 e o Regimento do
Serviço de Polícia Rural e Florestal de 1913. Estas regulamentações genéricas tiver-
am réplica nas posturas Municipais 2) e recomendações dos corregedores lavradas nas
correições 24 completam o quadro das medidas protectoras do manto florestal. Daqui
se conclui que não houve esquecimento e falta de regulamentação. As contingências
de cada época ditaram, sem dúvida, a sua ineficácia.
As medidas poderão resumir-se à preservação daquilo que existe através de medi-
das limitativas do abate de árvores e recuperação do coberto florestal com uma políti-
ca de reflorestação das zonas ermas ou em abate. A salvaguarda da floresta passava
não só pelo estabelecimento de medidas rigorosas que controlassem o seu abate, que
deveria estar sujeito a licenças camarárias, mas também ao ataque em todas as frentes
aos agentes devastadores, onde se inclutam o fogo e o gado solto. As queimadas, tão
comuns desde o povoamento, foram um dos principais agentes devastadores e por
isso insistentemente proibidas. O gado era obrigatoriamente acantonado a espaços
circundados por um bardo. A floresta não era para os nossos avoengos um espaço de
diversão mas sim algo fundamental para a economia da ilha, Vedar-lhe o acesso era
impossível. Daí as medidas disciplinadoras do \.ISO de acordo com um processo
económico harmonioso.
Foi com um violento incêndio que os povoadores, segundo Cadamosto, "vaneram
grande parte da dita madeira, fazendo terra de lavoura". As queimadas sucederam-se
inlinitamente e levaram a coroa a estabelecer um travão, Outros incêndios violentos
se sucederam. Os que ficaram para a História, fruto da acção humana, são de os
1807'·' e depois em 1910 e 1919 21'. Em 1593 documenta-se o fogo do céu que causou
elevados danos na cidade e manto florestal. Muitos dos incêndios na floresta foram
resultado da incúria ou malévola iniciativa dos carvoeiros. Eles são considerados em
finais do século passado como os principais inimigos da floresta'?, Sobre eles recaia
todas as culpas dos diversos incêndios que se ateavam com insistência nas serras da

52
Do ARCA DE NOÉ

ilha. Paulo Perestrelo da Câmara é incisivo nas bárbaros carvoeiros


as árvores mais robustas e úteis e todos
que por dias e mezes consomem às vezes de

gurar a
reflorestamento da ilha só assumiu uma dimensão na
século XIX. A é de 1 flltura em que se recomendava o
UC<'c.IHvU, Santa Cruz e Porto Santo~". O ela
Francisco Moreira Matos. Em 1769 ele dava conta dos
infractores de Santa Cruz das medidas que determinavam a
de o que prova estar já em exc-
. Na Ponta de Sol em 1789 que este deveria ser de
tornou-se extensiva toda a ilha através carta cir-
770]~. cm Santa Cruz sabemos que a medida
nomeando a dois homens
as escarpas montanhosas e as áreas de cultivo.
Assim em 1791 recomendava-se aos lavradores das meias terras aeima são
da extensão das terras, de
menos duas e um
limoeiro. Por outro lado as terras escalvadas e do interior cleveriam ser semcadas no
decurso do mês de Setembro de era a que
"alimenta bicho da seda e distraem não comum uvas")'. Note-se que só nos
dois unos que antecederam a visita do em 7LJ5 a Ponta ele
se 35.000 árvoresJ.J. Esta salutar medida diversas formas de
I que cortasse uma árvore era outra no seu
aliás testemunhada por W. Combe em 82'''. Estas medidas
passaram no imediato para o articulado . Assim cm 1 e
reclamava-se que que viviam da serra com a lenha c carvão
deveriam em Janeiro seis úrvores na terra.
José Silvestre como ( \846-185\) teve lima exem-
na defesa das florestas c de do coberto". Em 1849 na dis-
de

aos que mais


(1849-1 aderiu a esta
de

1771 com o
110
das áreas de
razão disso eslava em que elas faziam "sombra à terra e attrahião a umidade da
de que a mesma terra hé sumamente estéril">". Os resultados da são visíveis

53
ALBERTO VIEIRA

e testemunhados pelos estrangeiros. Em 1851 Robert White4<l destaca a expansão do


pinheiro face à floresta indígena. Dois anos depois a lsabella de França41 se depara
uma floresta de castanheiros, loureiros e pinheiros: "no cimo dos montes plantaram
uma infinidade de pinheiros, a mais parte nas duas últimas décadas.". Já em 1854 E.
Wateley destaca este trabalho e a presença de espécies da China, Austrália e Japão,
nomeadamente no Jardim da Serra42 • Já no nosso século o Marquês de Jácome
Correia destaca o esforço de plantio de árvores, de iniciativa pública e privada. Neste
último caso tivemos o Visconde Cacongo e Luiz de Omelas e Vasconcelos. De acor-
do com o mesmo em 1823 foram distribuídas por toda a ilha vinte mil árvores de
eucaliptos, acácias, carvalhos e pinheiros4).
As décadas de quarenta e cinquenta foram tempos de reflorestação' 4 • Tal como
referia a Junta Geral no relatório de 1864 " a necessidade da arborização nas serras
da Madeira, não se demonstra, sente-se"45. Daqui resultou a necessidade da aposta
seguindo-se o exemplo dos franceses (1860) e espanhóis(1863). Sucederam-se várias
medidas para fazer desta política uma realidade na Madeira como foi o caso do alvará
de 31 de Agosto de 1863 e o decreto de 21 de Setembro de 186746 • A aposta contin-
uou no nosso século, tornando-se mais evidente a aposta com o avanço das encostas
escalvadas fruto de desbastes ou dos incêndios que ocorreram. A aposta estava na
arborização como testemunham os estudos de Manuel Braz Sequeira(1913) e João
Henriques Camacho( 1920). A própria câmara do Funchal apostou forte nesta acção
com o montado do Barreiro47 •

54
Do ÉDEN À ARCA DE NOÉ

CRONOLOGIA

1419-1420. Reconhecimento do arquipé lago e iní- licença.


c io da ocupação 1770. DCl.embro.25. Carta circular detCnll;nando
1461. O inrante D. Fernando cm respostas as o plantio de arvon:s nas terras ba ld ias.
reclamaçõcs dos madeirenses reve la pre- 1771. MaioA. Portaria do Governador e Capitão
oc upação pelo despovoamento noreslal. General autorila o comércio de madeiras e
não obstante concede liberdade para o seu lenhas da capi tania de Machico com o Porto
corte. Santo
1485. Primeira referencia ã falta de lenhas no 1760. Dezembro. I ). Ordem do Corregedor Pedro
Funchal. proibindo-se a doação de novas António Faria. em observância ao alvará de
terras a on e 29 de Maio de 16JJ. para se plantarem
1489. Medidas no sentido de proibir as queimadas amoreiras.
para abrir frl!lltc s de arroteamento 1783. Agosto.S. Carta ao juil. e o ficiai s da câmara
1514. D. Manuel autoriza o transpone de tabuado de S. Vicente para se proccder ao lançamen-
c madei ra da jurisdição de Machico para o to de bardos na s serras.
Funchal. 1789. Novembro. 16. Correiç:lo cm Ponta de Sol:
15\ S. Primeiro regimen to das madeiras ordem para plantio de árvores si lvestres e de
1562. Agoslo.27. Reeil11cnto das madeiras. con- rruto nos terrenos baldios
siderado por Alvaro Rodrigues de Azevedo 1791. Maio 31. O Desembargado r D. António
com o primeiro cód igo norcslal da Madeira. Rodrigues de Oliveira em Correição no
1593. OUlubro.28. alvará Régio sobre o aproveita- Porto Santo. recomenda o plantio de pin-
mento das madeiras hõcs.
1596. Janeiro.26. alvará Régio sobre o aproveita- 1791. Novembro.22. Correiçâ em.: ~~~.
menlO das madeiras Determina-se que os la\ . cVtrdas meias
1737. Junho.l. Postllra da câmara de Ponta de Sol terras acima de"em plantar n i1~u
cm que proíbe o corte dc madeiras sem um, quana de castanheC'EHA

( t .. uo •• t.·U.L....
""~"'I" 00 ,vlA,u <o
55
ALBERTO VIEIRA

1792. Outubro.18. Instruções respeitantes ao bem Silvestre Ribeiro, à Junta Geral recomen-
geral da Agricultura do Desembargador D. dando a criação de um viveiro geral de plan-
António Rodrigues de Oliveira à Câmara da tas para toda a ilha
Calheta. 1850.Agosto.20. Proposta do Governador civil,
1804. Outubro. IS. Circular do Governador José Silvestre Ribeiro, às câmaras
Ascenso de Oliveira Freire recomendando Municipais, para atribuição de prémios aos
às câmara dc Ponta de Sol, Calheta e S. proprietários que mais se distingam na
Vicente a arborização e limpeza das arborização.
ribeiras. 185 I.Março. 15. Postma da câmara de Machico:
1834. Introdução da cultura da tamargucira no proibição de uso de lenha 110 fabrico de
Porto Santo aguardente e fornos de cal.
1835. Janeiro.2. Edital da Câmara do Funchal 1855. Doença dos Castanheiros
ordenando a retirado dos porcos da serra, 1886.Novembro.25. Decreto que aprova o Plano de
devido aos danos que causavam às raízes da Organização dos Serviços Florestais
rciteira 1891.0utubro.29. Decreto de organização dos
1836. Julho.12. Postura da Câmara do Funchal Serviços Agrícolas
proibindo II venda ele lenha verde colhiela 1911. Março.11. Criação da Junta Agrícola da
junto às fontes e nascentes. Madeira, que tinha como objectivo pro-
1839. Projecto de Regimento elas Matas e mover ao povoamento florestal das serras
Arvoredos da ilha da Madeira. 19\3. Março.8. Decreto que aprova o regulamento
1841. Novembro 12. Lei que torna extensível às para o serviço de policia rural e florestal da
ilhas o alvará de 11 de Abril de 1815 Madeira.
1845. Agosto.25. Postura da câmara do Funchal: 1913. Julho.23. Lei que regulamenta o serviço de
proibiçüo da entrada na cidade de lenha concessão de licenças para pastagem de
verde ou seca de vinhálico e loureiro gado suíno e caprino na serra
1849. Setembro.5. Cnrta do Governador civil, 1919. Junho.12. Extinção da Junta Agrfcola da
José Silvestre Ribeiro, para o Ministério do Madeira
Reino pam que fosse criado no Funchal um 1958. A Câmara Municipal do Funchal compra o
jmdilll botânico. montado do Barreiro,
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ALBERTO VIEIRA

NOTAS

I Cr. Colectânea de TêxtoS: prosa


2 Cf. Colectânea de textos
3 Cf. H. Coleridge(1826), D. Embleton(1880), C. Thol1las(1910), J. l-lutcheon(l92R), M.
Grahum( 1942).
4 A V<Jyage /0 Cochinchina il1 lhe years 1792 am/ 1793, London, 1806, p.IR.
S 1bidem. pp.II-12
6 .foZ/mal q/a Visit /0 Madeira .... Funchal, 1970, p.139
7 Um Inverno na Madeira, Calirornia, 1896,
8 1bidem,p.191.
9 1bidem, p.60
lO O Problema Flores/ai no Arquipélago da Madeira, 1950, ppo4-6
II A Win/er in Madeira .... N. York, I !JSD, p.125
12 Ramhles il1 Madeira .... 1827, p.147; R. White, Madeira, 1859, p.69; W. Cooper, 71w Invalid:\' GlIide
/0 Madeira, 1840, p.13
13 COH fj'ontc-sc texto nu selecçiio de prosa
14 Accoun/ o/lhe island o/Madeira, 1812, p.59.
15 Leavesji'OlJl a Madeira Gardel1, 1909, pp.27, 270
16 Cf. Colectânea de textos
17 Madeira .... 1885, p.225
18 Y:I. Wilde, Narra/ive (!/ a Voyage /0 Madeira, I MO, p.1 04
1<) Iles de I 'Aji-ique, I R48, p. 107
20 A propaga e o ananaz na Madeira, Sep. Brotéria, XXIII, fasc. II, 1927, pp.7li-80
21 P. Jaunier, I/il1éraire de Paris à Ma&re, 185'!
22 M Oraham, Madeira.... 1942, ppo4-6.
23 ARM, C. M. Santa Cruz, n" 291, novo caderno de posturas; Posturas do Concelho de Sal/ta A/IJ/lI,
Funchal, 1837; ARM, Governo Civil, n".155, Pusturas( I 840); Po.I'lU/"aS da Câll1am Municipal da
Cidade do Funchal, IS49 e I g95; Posturas da Câmara Municipal da Vil/a de Machico, 1856; ARM,
e. M. Funchal, n".239, Registo de posturas( 18(,9- I885); Código de Po.I·/uras da Câmara Municipal
c/o Concelho do Por/o Moniz, 1890.
24 ARM, C. M Machico, 11".5-6, livro de eorreições I76S-1 HO!!; ARM, e. M FUl1chal, n" 16H( 176K);
ARM, c. M. Por/o Sal1/o, n".54( I780-1829); ARM, C. M. San/a Cruz, n".17 I(1808-1 H32).
25 Paulo Dias Alnwidu, ob.cil.
26 M. B. Sequeira( 19 IO); Visconde do Porto da Cruz (I l)6()).Cr. testemunho de Assis Esperança, in
lll/.I'/ra~·ao, 1929, publ. Cabral do Nascimento, Lugares Selectos dos ou/ores Portugueses l/1Il'
Escreveram sohre o Arquipélago da Madeira, Funchal, 1949, p.1 RS.
27 .I. Freitas Branco, Campol/eses da Madeira, Lisboa, 1987, pp.133-137; A. Marques da Silva, ..
Preocupações Ecológicas do Estrela do Norte", in A/lân/iCIJ, I9( 1(89), 203-206.
28 Breve Noticia sohre (J !lha da Madeira, Lisboa, 184 I, 34-35.
29 ExclIrsllo na Madeira, 1891, p.H3.
3D ARM, C. M Iv!achico, n°.6, n. 5v", 7 de Abril de 1769.
31 ARM, C. M Ponta Sol, 11".220, 11. 6Hv"-69, 19 Novembro I?X9.
32 ARM, C. M. Machico, n".5, n. 16v", II de Muio de 177 J.
33 ARM, C. M. Machico, n".5, n.72, 22 de Novcmbro dc 179 I.
34 ARM. C. M Fa11la Sol, n".220, fl.80v", 29 de Agosto 1795.
35 ARM, C. M Machico, n".5, n.H3v", II de Dezembro 1792.
36 A /lis/O/:)/ o/Madeira, (1.23
37 Veja-se a compilação da doculllentação (! textos mais importantes de Fernando Augusto da Silva,
MaI1lH~1 \3raz Sequeira, João Henriques Cumacho e Visconde do Porto da Cruz.
38 Uma Epoca Admillislraliva da Madeira e Por/o San/o, 3 vols, Funehal, 1850-1 H56.
39 cC Textos cm anexo
40 Madeira .... p.69.
41 .fo/lmal ola Visi//o Madeira .... ppo48-49, 63, 76, 13H-139.
42 A Visil/o Por/ligai and Madeira, 1864, p.30.
43 A ilha da Mm/eira ... , Coimbra, 1927, pp.155, 173
44 Manuel 13mz Sequeira, I'! 13, p.15
45 Rela/ário .... Funchal, I R64, p.30.
46 A. C. Hermlia, Observaçiies sohre a .I'it/lClçüo económica da ilha da Madeil'll, Lisbon, I RXR, p.2(,.
47 Abílio Barros e Sousa, Plano de Arhorizaçc7o do Mon/ado do Barreiro, Funchal, 1946.

70
Do ÉDEN À ARCA DE NOE

OLHARES CRUZADOS

71
ALBERTO VIEIRA

72
Do ÉDEN À ARCA DE NOÉ

AGUARELAS, ESTAMPAS E DESENHOS DA MADEIRA


SÉCS. XVIII-XIX

A fotografia é a memória estática do momento do "c1ick". enquanto a gravura reg-


ista tudo isso pelo olhar do desenhador ou pintor. No primeiro caso tudo depende da
qualidade da objectiva. da pelicula e câmara fotográfica enquanto no segundo é o crivo
do olhar do autor, os interesses, objectivos, formação e cultura que fazem saltar para a
tela ou papel os ponnenores do quadro, a disposição e tamanho. É comum questionar-
se uma imagem - quem, quando e o quê - mas poucos se perguntam sobre o porquê
destes ou daqueles motivos e quais os objectivos que os regeram. Tais interrogaçôes
condu zem-nos a rumos muito seguros na investigação do tema.
As diversas leituras ecológicas da pintura e gravura valorizam a luz e a paisagem.
Na última a atenção é votada à presença do arvoredo, dos lagos, montanhas e quedas
de água. A presença da figura do homem nào é constante e varia da Europa para a
América. Enquanto no velho continente esta presença é assídua e de escala bastante
notória. já do outro lado do Atlântico é evidente a ausência e quando aparece é quase
sempre em pose contemplativa'. Na década de sessenta do século XIX foi evidente o
gosto pelas árvores milenares. que fizeram a fama de algumas localidades, correndo
mundo em descrições e ilustrações' . Já no fim do século foi a atenção dada aos aspec-
tos geológicos. Aqui, as rochas sào as protagonistas. Assim John Barrow [1792-1793]
é atraído pela "Loo Rock of Funchar" . A última situação adequa-se às preocupaçôes
da ciência.
A Madeira apresenta lima rica informação. As gravuras madeirel1~"'Sã ~ri'aion, ~ ri­
amenle do seculo do século XIX e de mão inglesa. Note-se que de cenlítnaSlu1j.eriores
sào apenas registadas seis. A maioria situa-se no período curto de Poc~~~nta

1.-, .. uo Dt t.·UPL.... ;>~


Wlno.u" DO ...n .... r<o
73
ALBERTO VIEIRA

anos (1821-1858). As gravuras fazem parte de registos de viagem ou de tratados cien-


tíficos. Tudo isto porque a Madeira apresenta-se neste momento como um eixo funda-
mental para a navegação e contactos entre a Inglaterra e as suas colónias na América e
no Índico. Também a ilha se tranSf0l1110U rapidamente numa estância de turismo ter-
apêutico que acolhe doentes de tísica de diversas proveniências. Aristocratas, cientistas
e aventureiros acudiram à ilha à procura do seu clima ameno para alívio e cura das
doenças. Neste intervalo procuram descobri-la nas suas paisagens, na riqueza e var-
iedade da flora. A posição da Madeira justiJica esta desmesurada valorização inglesa
que excede muitas vezes a das colónias das Caraíbas.
A Madeira entrou rapidamente no universo da ciência europeia dos séculos XVIII e
XIX. Ambas as centúrias foram momentos assinaláveis de descoberta do mundo
através de um estudo sistemático da fauna e flora'. Daqui resultou dois tipos de liter-
atura com públicos e iricidências temáticas distintas. Os textos turísticos, guias e
memórias de viagem, apelam ao leitor para a viagem de sonho à redescoberta deste
recanto do paraíso que se demarca dos demais pela beleza incomparável da paisagem,
variedade de flores e plantas. Tenha-se em conta que algumas colecções foram feitas
para deleite de alguns dos seus apreciadores, que f1guram em lista que as antecede.
Assim sucede com os desenhos de James Bulwer (1827), Andrew Picken (1842), W. S.
Pitt Springett (1843), Frank Dillon (1850), .r. Eckersberg (1853-1855)'.
Já os tratados científicos apostaram na divulgação deste recanlo alravés daquilo que
o identifica. As técnicas de classificação das espécies da HUlIla e nora têm aqui um
espaço ideal de trabalho. Hoje a riqueza pictórica da ilha é devedora desta situação,
existindo valiosas colecções separadas ou em livro. No primeiro grupo enquadra-se a
maioria e riqueza da colecção de gravuras inglesas. De entre estas podemos destacar as
de Andrew Picken (1840), Rev. James Bulwcr (1927), P. H. Springett( 1R43), J. Selleny,
Susan V. Harcourt (1851), Frank Dillon (1856), R. Innes, Joahn F. Eckersberg. Os
temas são comuns a todos os intervenientes. O Funchal apresenta-se através da baía e
o deslumbramento do casario da encosta tudo em várias perspectivas ou nos por-
menores mais característicos da arquitectura - A Sé, os conventos de Sta. Clara e S.
Francisco
O interior da ilha mantém a mesma insistência em algumas localidades que mais
chamaram à atenção do visitante c se encontram no traçado nas rotas ele visita: Cabo
Girão, Curral das Freiras, Encumeada, Boaventura, Rabaçal. O quadro natural tem em
Rev. W. V. Harcourt (1851), John F. Eckersberg e Rev. James Bulwer (I R27) os seus
mais fieis e atentos observadores.
A visão é atente e em alguns casos parece-se com um registo fotogrú/ico. As per-
spectivas aproximam-se da realidade e o quadro enche-se com dados de observação
directa. A vegetação é rainha logo seguida das quedas de água. Em quase todos o
homem é uma presença obrigatória a sua pose é de eontemplação, de êxtasc face as
belezas que o rodeiam, e raramente de total integração no conjunto. Mesmo assim esta
presença, a pé ou cavalo, é secundária e anicha-se quase sempre no canto esquecido".
Através de algumas estampas e gravuras é possível descortinar n presença de algu-
mas espécies arbórcas. Aquclas que assumem valor alimentar, como a vinha e n
bananeira, assumem algum destaque, seguindo-se o dragoeiro. Todavia toda a tenção
está desviada para a natureza selvagem que se afirma como o cumulo da beleza).

74
Do ÉDEN À ARCA DE NOE

Os retratos do quadro natural madeirense não são tào vari ados nos temas, mas sim
nos motivos e ponnenores que enquadram e dào harmonia ao conjunto. A grande
atenção está nas encostas onde o casario se entrelaça ou nào com o arvoredo. O céu, a
luz\ nào pertencem ao un iverso dos artistas, pois aquilo que mais clama pela atenção
sào as encostas e o litoral abruptos. onde se anicham as quedas de água, o homem, o
casari o e o variado arvoredo. este último quase que parece ausente das encostas e vis-
tas próximas à cidade do Funchal. Aqui as encostas apresentam-se esca lvadas. Os
efeitos da acção do homem sào notóri os. Só quando se penetra no interior, em
Encumeada, Curral das Freiras, Boaventura e S. Vicente se redescobre a exuberância
da floresta. Aliás, é este o motivo fundamenta l que domina o pincel do anista. O sul
esta cheio de mot ivos e dominado sempre pela presença do homem e dos registos da
sua acção como O casario , pontes, etc.
No grupo de textos cientificas a atenção repane-se enlre a flora, destacando-se a var-
iedade de flores, e as fonnações geológicas. As últimas surgem com grande evidencia
cm Edward Bowdich ( 1825).

BIBLIOGRAFIA

Gnt"uras e eSlampas

Estampas, Aguarelas e Desenhos da Mad~ira Româmica. JlIlho~Deze l1l ~ro. ~)-:2 .~. ~asa
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Clode), Funchal. 1988. , ~ c

NASC IM ENTO. João Cabral do. Estampas Antigas da Madeira: Paisagem-coswmei!1raje-

CEHA13
(t"UO Dt t~·UOO!lo
NII~oel .. CICI IIrt.l-4r
M
ALBERTO VI EIRA

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Madeira[AHMj. Vol. II 1933. IV, 1934-1935.
MACEDO. Diogo de. Notas sobre Pintores Portugueses que Estiveram na Madei ra. in AI-IM.
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LISTAGEM AGUARELAS. ESTAMPAS E nESEN I-IOS nA MAnEIRA

LIVROS I LlJSTRAnos

ASTLEY. Gelleral Collee/iall oJ Va)'ages aliei Traveis. London. 1745-1747, Xilogra fi a a prelO:
lhe dragon lree.
BOWDI CH. T. Edward. Excu/'siol1s in Madeira I1d Porto Somo Durillg lhe Alllllll/11 o/ /813.
Wh ite (}I I his Third Voyage 10 /1{riccl . .London. 1925.
Estampas sobre a Madeira : Franci scano, Vilões. Vi loas. Garapas, Canarios-Ruivo-Torrinhas-
Sidrào. Cabo Girào c Jardim da Serra. Curral das Freiras. Serras da Madeira. segmen-
tos geológicos.
BOWLES. Wm Li sle. lhe Spiril of Discovery. A Descriplil'e UIU/ IIislor;c(.l/ Poem. London.
1804. Gravura de I. Neagle: the tomb of Anna d'Arfet in the island of Madeira.

76
Do DE NOÉ

London, 1885.23 ilustrações alu-

;esr.\· 1+éstace,
Nature, London, 1827.
de 26 estampas a prelo: The Loo Rock; Funchal li"OlIl lhe
01' Santa Catharina; The Peak Fort; View among lhe Moinhos; The District of Funchal,
fram the above the The Waterfal1; Ribeiro dos Socorridos;
Descent the Curral; The Church ofNossa Senhora do Livramento
Ribeira Brava; Calheta; Pico Ruivo, lhe Ton"inhas from the Paul da Serra;
Encommiade 01' SI. 1'he Church of Ponta Pico Ruivo I'rom lhe
ofSI. Jorge; Ribeiro de Ribeiro Santa Cruz; Machico,
Cliffs 1111 lhe Norlh Enst Side of Poin! Lorenzo; 1'he of Porto-Cruz, fram lhe
POl'lolla; Tlle town of Porto Santo; Interior 01' Parlo Santo,
COMBE, William London, 1821. Gravuras
to the
Peasnnts ln usual
Inhabitants af the lsland;
Winc to 1'own when elear; Manner
An accident upon the Road; Prior 01'
Franciscun Donations for
his COllvenl; A Franciscun FalheI' Pricst ln different Attlre; Lay Sisters
lhe Grder 01' lhe Mounl Cm"mel; A NUl1 and heI' Attendant; A & her
Scrvanl Church; Usual of Hal11l11ocks; Manner of
among lhe Ladies aI ['linchai; Membcrs 01' the Scnate; Official Dress lhe
Mcmbers th\: ('amem Senate on lhe Death 01' lhe anel Aecossion his
Successm; An Omeer & Privale 01' lhe Garnison 01' Funchal; of
Loo Fort.
DILLON, Frank, Sckelche.\' iII IlIe Is/aI/L! Madeira, Londoll, 1850-1856.
Robert Machim's
FUllchal; View up lhe Santa Luzia River; lown ofFul1chal (froll1thc East); The
Pontinha lhlln the West; Granel Curral; da fi"om the
Ponte Novo - View !leal' Cama de
For! Sr. Funchal Beach; Franciscane Convento,
Funchal; Convento de Santa Clara,
DIX, John . ('1), A Willler i/1 lv/adeira am{ LI SlIIIJI11(!/, il1 alUI Flo/,(!/Ice,
de H. Vanostrancl: Ravine 0[' Funchal; Funchal from St,
(lI' Colombus.
ECKERSBERG, Johan E. A.I'sichten 1'0/1 derli/1sel Madeira, DusseldorC 1840. L.1'U~:I"'lil~
de Penha Funchal von OstCI11, Funchal von
Wcslcrn, WasserJàll bci S. Vicente, Curral, das Thal von S. tlmI von S.
Vicente, lhal von Bcm Ventura, Kabo Girão,
Isabclln de, JOl'llal lili/a Visita à Madeira e (/ 1853-1854, Funchal, 1970
tam bém el11 de 24 gravuras.
GRA BIIAM, Michael c" lhe Climale aml Re.l'oll/'ce.l' London, I R70. de
T.A.K.: Funehal from lhe I'nlheiro Road, lhe Hammock, the bullock-car, fromlhc foun-
tain.
lIA RCOURT, Susan VCrtllon. Sckelches il1 Madeira Drawl7 & 011 8/01113,
Londol1, 1R51 de 14 desenhos li cores e preto e branco: Funchal from the
West-Funehul n'om lhe Easl; The Penha fmm the vista Faial, Port St

77
ALBERTO VIEIRA

Thiago, funchal- Ribeira Brava; Near Santa-Cruz-On lhe Palhei~o ~{()ad; View (ln lhe
road from Funchal to St. Annc's; View offunchal j)'om lhe Sea; hUII Mnrkct-Waslw/"-
women- Street in Funchal-Ribeiro de Santa Luzia; Quinta nt Santa Cruz; Vicw íll
Funchal' View from Pico Arriero; View behind lhe Jesuits'College; View Ihllll IIH.'
Deaner;; On the Ribeira St. João-View from St. Martinho; Machic~), ()llin.lll at Santa
Cruz, View from Pico Arieiro. Gravuras: Group of peasants, englIsh bunal gnl\l1HI.
Funchal fl'om lhe sea, oxen car, view of Funchal from Hollways cnltage
HOCHSTETTER, Dr. Ferdinand von, Madeira ein Vórtag, Wit!J1, 1Hó L IX71. Lítogrnl1u til' ,""
Hotzel: Ausicht des Pico do Gato (as Tows) vom Encumiada alIa llUS gegu111 glld, Vila
Davies.
MICNER, Rev. Thomas, The Gal/el)1 of Nature, London, 18 ... Li logra lias n preto de.l. Dryton:
Eslroza, Pass Madeira, descent ofthe Curral. Madeira.
PENFOLO , Jane Wallas, Madeira, Fruits and Fer/1.I', London, 1845 Desenhado e (,;ollll'ido plll'
Jane Wallas Penfold. The belladona lily, the custard apple, the banllnt1 {i'uil, lhe septrt.:
isoplexis, Omiltrofalum arabicum, the castor oil plant, tbe gllllVll IhlÍt tmnnlll or lovl.'
aple, the Eltriopian sichardia.
PICKEN, Andrew, Madeira Ilu.I'trated, London, 1840-1842. Oito eslumpas: FUIlehalli'o1ll lhe
East, Ravine ofSt. SJorge, Penha d'Ágllia, C~lmarn de Lobos, -História da lllm pelo sr,
James Macaulay e general il1formation, Litografías a cor: Ruvina or CUll1nrn de Lobns.
CUITal, the Curral Madeira, Quinta do Monte Funchal thl111 lhe huy, FUlll:lwl 11'<1111 Sllu
Lázaro, Rabaçal. Aguarelas: Fajã do Mar, Nem the me, Ribeiro SO(';Ol'ridos, on lhe ll1ad
to the Courals the Ribeiro Frio, on the Ravina 01' the cold river, Penha d' Águia, Belt!l
vista, um vilão nas montanhas, Achada-Campanário
PITTA, N. C., Accolln! ofthe is/and (i/Madeira, Lonclon, 1802. Litogrn lia de E, M it(,;hell: I)r~·~!o.
of the country people in Madeira.

ROUNDELL, Mrs Charles, A Visit to the Azore.l' 11'it" li ChaptL'1' 01/ MadL'iI'll, LOlldon, IKIN, .1
ilustrações de Madeira: Porto Santo: aproach to Madeirn, Cape Sln\ll1~r lcaving
Madeira, View from Quinla Sarmento.
S., W. S. P., Reco/leclions of !v[adeira, London, 1843. Gravuras: feriado na serra, llIoinho lia
serra
SCHACHT, Dr, Hermann, Madeira und Tel1er(j'e mit ihrer I't'ge/atio/l, Berlim, I !i5~1.
Litografias: Funchal, gesehen von clen wage nach den Angustias, llaide, l<1'l\111~1' au!'
Madeira,
SMITH, Richard, Madeira alld ils A.I'.I'ocialiol1.1', Londllll, 18ú l)('?), Cinco x illlgravlIl'lls d\.'
Swain: entrance to the island, ccntre 01' Funchal, Penha d' Águia, the Ellgle'S Rlld,. TI!l'
Rabaçal, Blasting for A Levada 01' Watercoursc.
SPRINGETT, W. S. Pitt, Recolfectiol1s of Madeira Dediea/ed lo At/r,l' Cit'o S/otldi1l'l, I.Ollllllll.
J 843 Colecção de 15 estampas a cores e preto e branco: The Pro111essa or Wmv; Waitillg
for Oaybreak 011 the Sena; Belfry attached to lhe chapei orNo S. do Iilia!. "Tlle Sigllnl";
Stranger's Grave; Mil! at the Serra; English ChapeI, Funchal; Interior ui' a "Vcndu" in
the Sen'a o1'st. Antonio; The Lagar or Wine Press; Girl grinding com; Tlle PlIlul1l]l1ill-
The I-Iammock; The Xerola; A Portrait-Shepherds rccolling eaule hy lhe BllZio; R0111 li II
Catholic Priest- A Nun 01' the Convent 01' Santa Clara; Madeira Peasal11 (; i1'1; Mndcira
Peasant Boy., the xerola.
VALDEZ, Francisco Travassos, Six yem:l' q/ li traveller,l' /!/'e in 1'1'/.',1'1<.'1'11 'UNca, 2 volumes,
London, 1861. Gravura: Ponlal da Cruz. Isle ofMadeira. -Alhcu Ocidental. Notícias c
considerações, Lisboa, 1864. Estampas de Mndeiru: Vista du Cidade do 1'Llllcllal,
Palheiro (vista da casa tirada da Horta) na ilha de Macieira,

78
Do ÉDEN À ARCA DE NOE

V IZETE LLY. Henry. Pacls Aholll POrl anel Madeira , Wi/h Nolices of lhe Wil1es Villtaged
AlVlIl1d USbOlllllld ihe wil1es ofTel1erife. London , 1880. 22 estampas sobre a Madeira.
Tema domi nalllc a vi nha c o vin ho.
WI-IIT E. Robe rt. Madeira. ils Climare OIU/ Scenel)' COllloining Medical (md Gel/eral
Injórmariol1 !o/"/illm!i(l\" anel Visitor.'!: a To"r of Ihelisland. elc.: and an Appel1dix.
London. 1851. G ravuras a parti r de desenhos de John Botcherby: Penha d 'Aguia
(cag lcs roc k) fr0111 lh e Lamacei ras. Pontinha and Bay af Funcha l from lhe west. village
of Cama de Lobos and Cape Gi ram, Coasi vicw, From Heights above lhe foss il-bed.
Rocks and Clifls near lhe rossi l-bed. Fun chal from above São Gonça lves.
WOLLASTON. T. Vemon. /Il.\e('/(I Madeirem' ia. Beillg mI Accolll1l o/lhe InseCIS o/lhe Is/ancl~'
of ,\fim /eira Grollp. London. 1894. Litografia .

COLECÇÕES DISPONí VE I S
NO MUSEU FREDER ICO DE FRE ITAS (FUNCHAL)'

BIGGE. F. E.. 1855 Aguarelas: Loo rock. Desen as orMade ira, liul e lourai
GELLATLY. J. Cinco litografias: Costumes of Madeira - Melada Boy. Villão or Peasant.
Villoa or Country-girl, Burroqueiro or Male teer, Woman spi nnin g.
INNES.1. R. Cinco lit ografias: Madeira sledge. Madeira ha mmoc k. Palácio de S. Lourenço.
Palanquim e vista do Funchal. Mach ico. Cliffs on lhe north east si de of poi nt
Lourcnzo. the va ll ey of Porto da Cru z from Portell a, interior of Porto Sa nto.
MAY ,W.. séc. XIX Aguarela s: sun sh in e on the rock (form be low the new road), sa lto do
Cava lo, Curral dos Rome iros. A Cou nt ry men-bananas
ROBLEY. Cap. J. H .. 1845 Desenho: Cheias de lima ribeira
SELLENY. séc. XIX Litografia: Bucke ri ber den Ri beiro Secco, Curral dos fra ~d~d'!f'

CEHA
..D:at
~~:':~~ ~'r~r~]JJ
ALBERTO VIEIRA

em Viena por L. T. Neuman. Lilogratlas: Catedralc in Funchal, Bucklibcr elen


Ribeiro Secco (Ponte do Torreão na Ribeira de Santa Luzia) Curral elos Frnics,
Funchal.
THORMAN, C., séc. XIX Litografia: Prospect l11ellen Rio Frio 01' St. Annu, Rio Frio,
Portrait of en Flores,
WESTALL, R. Gravuras a cores e preto e brnnco - lhe Paúl da Serra, mOllnlnins nbove lhe
river St. Vicente, view in the l110llntains betwcen Funchal anel Fllynl.

NOTAS

Barbara Novak, Nall/I'e (lml CIIIIIIl'e. Al/lel'lám LIII/dl'('l/I'" (///(ll'uil/lil/g', /825-/875. N. York, I ()lW,
pp.35, 1H4-1 X9
2 HUTH. Hans, Nalll/'e and lhe AII/(,l'i('(/l1: Ih/'ee Cenlll/'ies {!/ ChulIgil/g !ll/iludcs, Ilerkeley, I ()57.
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3 Barbara Stafford, Vóyag(' inlo SlIh.I·ll1Ilce: .11'1, Seiel/"e. Nall/re, aml lhe IfIl1slmlet! ]j'III'L'! ACC,'lIulU.
1760-1840. Cambridge, Mass.: MIT Press. el9H4, 68-72
4 Mary L. Pratt, Imperial Eyes. Tr(md Wriling al/(I 7hl/l,\'C/!/llIl'IIliol/, LOlldon, 1992.1')()5;
STAFFORD, Barbara Maria, vÍJyage il110 SI/hslill/ce: AI'I. Sciel/ce, Nall/re, (///(1 lhe IfIl1sll'llled 7hll'('1
11"('011111, /760-1840, Cambridge, Mass.: MIT Press, c 19H4, pp. 5(,5-(;34.
5 Estampas, Aguarelas e descnhos da Madeira Rom<intiell, FUllchal. Il!XX.
(] Esta ideia vai ao encontro do que sucede na Europa. C'onlhll1lc-se llarhlll'll Novak. Nall/re IIml
CI/IIIIl'e: Al11el'ico/1 Landl'cal'e !'ail1ling. lH25-/875, NelV Ylll'k: Oxlbrd lInivcrsily l'rcss, Il)lW-
1995. pp. 184-189.
7 Conlhmtc-sc K. Thomas (19l\O), pp. 260.
g Conlhllllc-se B. Novak, ihidem, pp. 23 e 233. Angellll Miller, Th" HI/llli/'<, 1!f'lhe h)'l'. 1./Il1cll·mpt'
Repre.ve/1/a/;ol1 anel AIIIl'rican Culll/ral Po/i/ic.\'. 1825-/875. Washington, I()l>3.
9 Consich:l'Ulll-sc apenas as estampas soltas

RO
Do ÉDEN À ARCA DE NOÉ

8\
ALBERTO VIEIRA

H2
I '\TROULÇ,\O

I· e\idcmc o intl'rl'ssc pelo :lmbu:ntc nos te)(tos namui\os históril"Os e na docu·


nlCntaç:lo que fa7 fl: a CStl' pnncipio. O primeiro tc~ 1O conhecido sohre os prmlordios
da flr,tún:1 da \ladeira c a Rclaçi\o de Fmncisco I\kofomdo. Nele apresenta·se o
relato da chegada dos 01\\ cgadOf"es ii ilha alm\ es das primell':ls impressões face ao
que sc lhes depam diante dos olhos. Ao descmbarqul' em Machico l' sagração do
e\pa~o succdcu a busca dos lesti1110S da realidade. Assim, logo após a missa Joi\o
(jon~ilh es L.areo "mandou \ cr se ilparecem animal~ nu bicho~.l.;},\ iam aI e~" c cSlas
eTIlm"lam m:msas por n~o lerem liSIO omes que a~ I 11~.~~' n\ fOTam
"'descobrir a tcrrJ" e depilmm-se com água límpida c r.: 1~1WMeçhclo de fuo-
dm. uma colónia de lobos marinhos e uma densa f intra r cl jl~f lil('r-
am de nlear fogo paro abm darClms, Esta \ ISi\O fomplcta-~ com ~\O d~ Gaspar
Frutuo,o (1522·1591) que nos d:i l'onla d3 pnmeimêla.~.m da Ilha que
d("u micio ao transplante de animais c plantas [lI (l l' . ' "lIIlararn estes
c;lplli\c\. gado e :ileS, anllnalS domes"e(\', c coelho\ . , ~
Aquilo que mais tarde continuam a irnpressionar!Af4Nnr'§b'~f\f~ldade de
ALBERTO VIEIRA

floresta existente na ilha. Aliás, foi este o motivo que esteve na origem do seu nome.
Pois como comenta o historiador das ilhas foi assim designada "por causa do muito,
espesso e grande arvoredo que era coberta ... ". Mas também poderia ter sido nomea-
da de ilha das pedras: " é alta, com montes e rochedos mui fragosos, que por ser
muito fragosa, dizem que seu nome próprio era, ou deverá ser, ilha das Pedras."
Na descrição da ilha o cronista açoriano interessa-se pela acção humanizadora do
homem, dando principal destaque às serranias que considera "muito ásperas", sendo
o interior muito fragoso mas que mesmo assim dão l11uito proveito das suas madeiras
de til, vinhático, ademo, folhado, barbuzano. À tlora indígena junta-se a transplanta-
da do continente europeu e que apresenta interesse económico. É o caso das árvores
de fruta, dos castanheiros e nogueiras. Da visão inicial dá-se o salto para a con-
statação da realidade no século XIX. Haviam passado quatro séculos e a fruição por'
parte dos homem dos recursos do rincão levaram a uma total transformação do espec-
tro da ilha.
A verdadeira consciência da mudança só sucedeu quando se atingiu a situação
[imite e sucederam-se as catástrofes. Neste caso é de salientar a aluvião de 1803, que
pelos efeitos devastadores nas culturas e espaços U1'banos gerou ou tornou premente
essa consciência pré-ecológica. Na época, para além da prolixa documentação ofi-
ciai, podemos assinalar o texto de Paulo Dias de Ahneida, um engenheiro militar que
veio em comissão de serviço com o objectivo de atacar os males da aluvião. Na
memória descritiva que fez em 1817 traça-nos de forma clarividente o panorama des-
olador da ilha. O dedo acusador é apontado à acção devastadora dos carvoeiros, prin-
cipais responsáveis pela destruição geral dos arvoredos. A visão é a vários níveis dcs-
oladora. Primeiro, constata que "as montanhas que não há muitos anos vi cobertas de
arvoredos, hoje as vejo reduzidas a um esqueleto". Até mesmo o "Centro da ilha se
acha todo descobcrto de arvoredo, com apenas algumas árvores dispersas e isto em
lugares onde os carvoeiros não têm chegado".
Outro testemunho atento do meio natural surge em meados do século XIX pela
pena de Isabella de França, uma jovem donzela inglesa casada Com UIll madeirense
em viagem pela ilha. O seu olhar atento debruça-se sobre as diversas cspécies botâni-
cas como ao variado mundo animal terrestre e marinho. Oferece-lhe particular inte-
resse a Hora do Palheiro Ferreiro e Cam acha, locais onde a mão do homem con-
tribuiu para recuperar a paisagem através elo plantio de pinheiros e espécies exóticas.
Aqui o principal depredador não é o carvoeiro, mas o vendedor de lenha na cidade.
Estes "saqueiam-nas sem rcmorsos" de modo que todas tiS árvores crescem apenas
para que as roubem, quando lhes chega a vez".
O ataque aos carvoeiros não ficou impunc pois em opúsculo de Manuel 8mz
Sequeira (1913) resultante do panorama vivido no Verão de 1910 com um incêndio
de grandes proporções nas serras, volta ele novo o dedo acusador. Os principais
responsáveis pelo espectáculo desolador das florestas da i lha são os pastores de gado,
os lenhadores e os carvoeiros. Confrontado com este se[vútico "vandalismo que se
está cometendo nas serras desta i[ha" o autor clamava por medidas e uma campanha
em pro[ da arborização.
Na verdade, a grande preocupação nos inícios cio nosso século prendiam-se com
11 necessidade de preservar o pouco manto florestal existente e pugnar pela a recu-

84
Do À ARCA DE NOÉ

dos espaços ermos. A necessidade de do conduziu


à lei das de 23 de Julho de 1913. foram as vozes que clamando
um reordenamento dos é o caso de José Maria Carvalho em 1942 ou de
defendida por 1. Camacho (1919) e em por
Eduardo Andrade na década de
O texto de Fernando da Silva I é revelador da forma como evoluiu
o panorama florestal ao dos séculos e das insistentes medidas ordenadas
autoridades. se prova quc uma valiosa natural se não for devidamente
acautelada prontamente deixando efeitos nefastos sobre o meio.
A lenda do incêndio de Alfredo Vieira de Freitas remete-nos às da ilha e
coloca-nos perante o seu efeito
a do está sempre assocíada
de medidas reclamadas e relevam-se os
tos que vão no sentido de estabelecer um natural e penar o
devastador do homem. Em 562 o chamado novo das madeiras"
procurou estabelecer um travão ao uso desmesurado da floresta. Todavia a situ-
ocorrcu no Porto onde para travar a marcha irreversível da
se tomou medidas com o de de 1771 recomenda o
nos montados de zimbreiros e tis e nas telTas de cultura as amoreiras e

Na Madeira a maior das autoridades ocorreu em 1804 da


aluvião. Na carta de 14 de Maio de 1804 estão bem expressas as razões do suce-
dido e a pouca dada à carta de 7 de Junho de 1800 que recomendava o
de sementes nos cumes da ílha. Neste contexto é de a actividade
da Junta de Melhoramentos de criada em 18 de Setembro de 182 . Tal
como dizia em 1815 a natureza estava "cansada de ser liberal" e clamaria por
outra atitude do ilhéu.

115
ALBERTU VIEIRA

86
DO ÉDEN À ARCA DE NOE

FRANCISCO ALCOFORADO ISÉC. XVI

A Rela{'llo de Francisco Alcoforado. embora seja considerada por muitos apócri-


fá. é o mais amigo (exlO que relata a primeira imervençâo dos Po\'olulores europeus
110 arquipélago.

ao outro dia pia !nenham mamdou o capitão hum batel de que deu o carreguo a
0.0

Ru) pael ljuc fosem a terra a \ela e lhe trQuxese lagua Recado do que vyem por nào
í:I\'[cr] outro lIuguar fo rão desembarcar na Rocha omde desembarcarão osjmgreses e
fmão entre o ar\'oredo e o mar acharão lenha cortada e outro Rasto de jete farão asy
ter ao toco do paso gral11de omde acharão a mesa e crusyfixo que os jmgreses
del\arào c as sepulturas cõ as CrlIlCS. ha cabcçeyra de que Ficarão espamtados aimda
que tudo linhào olluydo hao pilloto tornarão se lIoguo aos naujos com este Recado
ao capll;;o Sabydo jSlo delremynou sair é lerra e levar com sygo dous padres que
tra/la. saimdo cm terra deu graças a deos. mamdou bemzer aguoa e esparge lia pello
ar. lei ao loco omde csta\"ào as sepu llturas mamdou dizer mysa na mesa com
Rcspomso sobre SlIas scpullturas C esta Foy a prymeyra mysa que se dise que foyem
dia da \ ysytação de samta Ysabcl acabada a mysa mamdou v[ er] amlre o mar e o
an oredo"oe paresyào allgums anymaes ou bichos e não vyrào cou s~~\~~~lIY­
tas 3\CS dI.! mu~tas maneyras e tam mamsas por nào lerem \ ys .
~~uc
. iQi I as
lomauào ha mào tomou lenha c aguoa e tornou se aos naujos no I11CSI
cõsclho plerla descobrvr a lerra prer]a baixo se hyrya nos naujo, r" n~ dlse
. \....EtiA
u"", .. o
p~ U ' UU C>!I'"
UII~O<tI" oe .... f1 ....4r I( O
87
ALBERTO VIEIRA

lhe o pilloto que vya terra de ll1uyta penedia que asy a poderya aver no maar e av[ er]
baixos e corremtes que lhe pareçya mylhor hirem v[ er] a costa nos bateys e deixar os
nauyos aly pareseo este cõselho bem ao capitão ao outro dia pIa menham mamdou
cõcertar os bateys de mamtymento e jete que lhe pareçeo ele meteo se no batel cio
naujo e do outro cleu carreguo ha allvaro afolllso! e fomos corremdo pasada hUl11a
pomta p[ er]a ha bal11da do poente vyl110S que ao pe de huma Rocha se fazia hUl11a
pedra que emtra no maar e ao pe daquella Rocha sahiao della quoatro canos daguoa
muyto fermosa ou ue o capitão de seio cle saber o tal hera aguoa tam fermosa ma111-
dou por ella e vyo que hera estremada de boã Frya e leue Emcomemdou lhe ho jfamte
que lhe leuase certas vasylhas daguoa tomou claquy hU111a p[ er]a lhe leuar corremos
maes abaixo sempre peguaclos com arvoredo achamos num vale hum Ribeyro que
vem dar no mar aly mamdou sajr em terra os que la forão acharão outra fomte a par
do mar estremada tomou aly outra vasylha p[ er]a levar ao Jfamte e chamou a esta a
fomte do seyxo fomos mais abaixo demos num vale de fermoso arvoredo achamos
ally hums cedros velhos derrybados elo tempo mamdou fazer deles huma cruz e
chamou ally sal11ta cruz pasamos mais abaixo a huma pomta grosa em que achamos
tamtos guarajaaos que nos cobryão os bateys c punham se sobre nosas cabeças e nos
Remos porque nutnca vyrão jemte ou uem os com .isto muyto prazer e chamamos aly
a pomta dos guarajaaos dally descobrymos outra pomta abaixo que seryão dally duas
leguoas. e faziase amtre estas pomtas. huma fermosa escada de terra mais bramda e
toda vynha beber na aguoa toda cuberla de muyto fcrmoso arvoredo e todo por cyma
tam yguoall que parecya fcyto a mão sem av[er] arvores mais alllas humas que as
outras senão os cedros que ja tinhamos exprememtado que omde estão sempre são
mais ali tos que as outras arvores derredor fomos corremdo a costa p[crJa este vale
demos é huam Rybeyra que botaua pedra ao mar é que podem desembarcar como é
caez aly mamdou seu cryado g I ayres que sayse é terra e com çertos companheyros
que emtrasem hum espaso pia terra a v[er] se auja allgumas alymaryas. ou bichos e
não se afàstasem na corremte da aguoa p[er]a sab[er] tornar ao mar e aos bateys forão
c tardarão la Ires oras. tornarão erramados rolyamdo cõ l11uyto prazer que não
acharão cousa vyua senão aves! Fomos mais avamte achamos hum vale ll1uyto fer-
1110S0 todo de seyxos não avya nele arvoredo ncnhum e hera todo clIbcrto dellll11cho
l11uyto fel'moso a que chamamos o 11ll11chal sahião deste vale ao mar tres Rybeyras
l11uyto fel'mosas no cabo deste vale estão dous jlhem; fomo 110S nbryguar a eles por
s[er] ja tarde tomamos em terra aguoa e lenha fizemos de cear cm hum dos j lheos de
muytas aves que tomamos e tornamos a dormyr aos bateys no outro dia pasamos mais
abaixo e chegllamdo ha pOlllta que vyramos o din damtes pos nel1a huma cruz e
chamou ally a pôta da cruz. dobramdo esta põta demos é huma praya a quoall
chamou a praya fermosa pasamdo abaixo amlre duns pomtas vymos emtrar no mar
huma Rybeyra lllUyto poderosa pedirão lhe nllglll11s 1icemea p[er]n sajr em terra v[er]
aquel1a Rybeyra e ele estaua no mal' nos bateys fhrão hUl11s dOlls mamçebos de llagll-
os p[er]a pasar a Rybcyra a vaao c a aguoa corrya tam poderosa que os lelloll ambos.
bradou o eapytão do mar que ncorresem aqueles moços que ele trazia nos olhos
acodirão lhe os de terra c tyrarão nos ambos vyuos e chamou aquelln Rybcyra dos
acorridos pasamos maes abaixo elemos e hum!l Rocha dcllguada que emtra muyto no
ma ar e el11tre aquel1a Rocha e outra fica hUIl1 braço de mar é Rel11amço metemonos
Do ARCA DE NOÉ

achamos tamtos lobos

mamdar chamou da por o fer-


na emtrada de mayo mamdou
que com sua molher
molher samta e cõ seus q herão e
quysesem tosem pau ar da e as que ouuese derredor 111a111-
dar os omeziados e comdenados que ouuese
levar nenhuns dos por de ou de aLI
leuou todos os que ouue e farão dele bem tratados
e os mais do da

e aos nau-
por a terra sete anos em que destrohio
cada verão mamdaua c ferro e aço e se memtcs e
que tudo forteficaua muito de cada que semeauão menos colhião
se seta e as Reses e tudo se claun asy nvya
de e

89
ALBERTO VIEIRA

jlha por que o foguo tynha ja despejado luguar perajso e a Repartyr a terra com quem
ha aproveytase mamdou fazer prestes certos bateys. que avyão de jr por maar e ele
com allgums de cauallo e gemte de pe por terra hirem sempre ha vysta hUl1ls dos out-
ros e por nao av[ erJ caminhos e fazer detemça em partyr as terms llmdavão pouco
cada dia e cada dia hiamos dormir a cabo do mar e dos bateys. eheguamdo em hum
alIto sobre camara de 1I0bos traçou ally omde se fizese hUl1la jgreja do espryto samto
pasamos abaixo a humas serras muyto alltas. ally traçou outm jgreyjll ela vera cruz e
estes alltos tomou pera seus Erdeyros. pasou abaixo ate ehegulll' a huma Rybeira
muyto tllriosa a que chamou a Rybeira brauua aquy se l1leteo nos bateys p[crla v[er]
ha terra do maar e cheguou ate hutna ponHa que se I'aaz abaixo que emtra no maar
e na Rocha que esta sobre a pomta esta huma vea Redomda na Rocha com huns
Rayos. poslhe nome pomta do so!. dahi tornou a desebarear omde altas deixara os
bateys./ pasamdo huma Rybeyra que esta alem desta ponHa traçou huma Jgreyja em
huma ladram/ do apostollo sal1ltyaguo e alem achamos ho U1'uOI'edo njmda muyto
cerrado porque o FOgllO amdaua aimda em parte dele elecemos a humo Rybeira scm-
pre ao som daguoa viemos elar no mar omde achamos os bateys deyxnmos ally as
bestas. e quem as leuase como pudese. e metel110110S nos bateys e fomos desembar-
car a hum bom desembareadouro umtre huns penedos a que ele chamou o calheta.
sobre esta calheta tomou huma lomba da gramele que lIoguo nomeou pem seu Iilho
João gllz e ao 1I0mguo ela Rybeira p[er]a o poemte. tomou oulrn pi erl" sua Jilhn bl'y-
atiz glls E nesta outra Ilombada da mesma lilha é hum lugullr allto de bofí vysta do
mar e da terra traçou por sua mão huma Jgreyja de nosa senhora da es(relln e dise que
esta jgreyja avya de deyxar l11uyto emcol11emdada fi todos seus rylhos porque avya
muyto tempo que desejava fUllldar hU11la jgl'eyja desta lluoeaçiio dahi pmwl110s abaixo
ate a derradeira pomta sobre o mar de onde pareçe que não !la mais (erl'l'lI estamdo
aquy lhe trouxerão os elous bateys hum peyxe que pareçyn parguo de mal'llvylhosa
gramdcza c por amor deste peyxc ficou nome aquella pOl1lln do pargllo desta pomta
vyra a terra p[erJa o norte ate outra pomta que ele dally pera lms tnl~~OU ha eapilnnyll
de machico e pos nome a esta pomta de tl'ystão asi chal1laua e/c sempre trystfio e hem
lhe muyto afeyçoado daqlly nos tornamos p[er]a () fUl11chal o mais do eaminho por
maar por a terra ajmda s[er] muyto trabalhosa e começou tl por c obra a Edelicllçiio
das jgreyjas e lIavl'Hmça da terra/

[Jean Fontvieille, "A lenda de Maehim- une déeouverte hihliographiqlle ii la


Bibliotheque-Musée du Palais de Bmgance ti Vila Viçosa( Portugal )... ", in !leIas do
Congresso Internacional de Hisl<Íria dos j)e,\'(,o/JI'ill/L'/Ilos, III, Lishoa, 19ú I,
pp.197-23X]

REGIMENTO NOVO DAS MADEIRAS


PARA A ILHA DA MADEIRAI15621

Eu EI-rei faço saber a Vós Ouvidores Juízes Vereadores Procuradores c homens


bons das Câmaras da Cidade do Funehal e Villa de Machico e das Oll(rtlS Vil/as das
ditas Jurisdições na ilha ela Macieira, que el-rei D. Manuel meu Bisavl\ que Santa

90
Do ARCA DE NOÉ

sendo informado do que aos povos da dita ilha


se por falta das e que não olhando os moradores
d'ella antes por seus contra o bem commum e seu
tavam as ditas madeiras e lenhas em muito mais da que
e muitos levavam para fora da dita
pessoas, que as cortavam;
proveu sobre as ditas cousas por seu
madeiras se não cortassem, senão em esta que para isso
Eu sou ora que no cortar das ditas madeiras ha
temendo as pessoas, que as cortam as penas do dito
somente, e por não haver quem as acclIse e que por esse se cortam devas-
samente, muito em do bem commum, dos moradores da dita
e contra Meu l1'isso prover, conformando-me com o
e com o. que mais pareceu necessário variedade dos ordenei que
em deante se tenha a maneira e na
defeza e d'ellas:
Primeiramente Mando e a todas as pessoas de
que em toda a dita ilha não cortem madeira
para seus assucaraes, e nem para outra cousa
aos Procuradores da ou
cortar, aos quaes OtTíciaes que olhem muito
as pessoas, que lhe as ditas e as necessidades que del-
las teem, e que lhe é necessário para seus assucares, e bem feitorias e
de suas casas, lhes darão as taes uma só vez no anl10, sem lhes
mais dentro d'UI11 anno da tal ser dada outra, e Ih'a assim
derem lhe darão dos Santos que não cortem
madeira mais da que lhe for necessária para seus assucares, e e
uç,,,v,,,,,,, de sua casa conforme a que lhes for dada. E no Alvará da dita
porque lhe foi que hade ser o dito anno, e de como
por todos os ditos

os quaes serão com os ditos

2" E pessoa, que for achada cortando ou trazendo a dita ou


se se provar que a cortou ou trouxe sem a dita ou que cortou ou trouxe
mais da que lhe era necessária conforme as ditas se for
mente e condemnado cm dois al1J10S de
e sendo de em que não caiba pena de
annos para a e condemnado em cincoenta e nas mesmas penas
incorrerão as pessoas que as mandarem cortar, ou trazer por seus ou outras
pessoas, ou seus escravos, alem das ditas pessoas, creados e escravos, haverem as
ditas penas de e como dito é.
310 E sob as mesmas penas Defendo e Mando que nenhuma pessoa corte os pallS-
sou que estes paus servir para os dos
ALBERTO VIEIRA

assucares, e Defendo os ditos Officiaes, que não dêem licença alguma para se
cmiarem os taes paus, antes logo nas licenças, que derem declarem porque os não
hão-de cortar; sendo porem os taes paus necessários a algumas pessoas para seus
engenhos, os poderão cortar com licença dos ditos Ofticiaes, que para tal necessidade
lhes darão a tal licença informando-se primeiro se lhe são necessários e dando-lhes
sobre isso juramento, e de outra maneira não.
4" Outrosim Mando aos ditos Officiaes, que não dêem as ditas licenças para se
cortarem as ditas madeiras em parte que faça prejuízo ás aguas da dita ilha, nem as
poderão dar para se cortarem a menos de cento e cincoenta passos em redor das
Ribeiras e agllas, pelo muito prejuÍzo que d'isso lhes vem, e as pessoas que cortarem
as ditas madeiras dentro dos ditos cento e cincoenta passos incorrerão nas mesmas
penas, dos que as cortam sem licença, e para melhor guarda do sobredito: Mando aos
ditos Officiaes, que logo nas licenças que derem, declarem Como não hão-de cortar
as [aes madeiras, se não arredados cento e cincoenta passos das ditas aguas.
5" Outrosim Defendo e Mando, que pessoa alguma não ponha fogo na serra onde
as ditas madeiras e lenhas estão, nem em parte d'onde se lhe possa atear, nem
descasque as arvores que estiverem na dita ilha; porquanto pelas ditas maneiras se
secca e destroe muita parte das ditas madeiras, e sendo pessoa alguma achada, ou
sendo lhe provado que põz alguém fogo, que fez damno, e prejuÍzo nas ditas
madeiras, ou que descascou algumas arvores, incorrem em pena de vinte cruzados, e
um [\nl1O de degredo fora da dita ilha, e os que pozerem fogo, alem da dita pena
haverão a que por minhas Ordenações é determinado, aos que põem fogos.
6" E querendo alguma pessoa cortar rama para mantimento de gados, ou para outra
alguma coisa, cortará da rama de cima das arvores, e não cortará arvore alguma pelo
pé, sob pena de incorrer nas mesmas penas, em que incorrem os que cortam as
madeiras e lenhas, sem licença da Câmara, e querendo esmoutar alguma terra na dita
ilha, será avisado que não a esmoute senão com machado, e não com outra alguma
ferramenta, ou outro ferro, e será obrigado a aproveitar toda a lenha que tirar sem lhe
p6r todo, e sendo-lhe provado, que não eSl11outou com machado, ou que não
aproveitou toda a lenha que tirou, pagará vinte cruzados da cadea
7° E porque Eu sou informado, que na dita ilha ha muitas pessoas, que tratam em
tabuados e madeiras, e por não serem arreigados cortam mais da que devem e deix-
am perder muita d'ella, sem a aproveitarem: I-lei por bem e Mando que as pessoas
que assim cortarem, 110 fazer dos ditos tabuados, e madeiras, sejam casados e
moradores na dita ilha, e abonados n'ella, e nenhuma outra pessoa que não for das
ditas qualidades poderá tratar em tal negociação, e aos que forem taes, darão os ditos
OfJ1ciacs licença para cortarem as madeiras que virem que lhes são necessárias,
segundo o trato, e maneio que tem, os quaes fiança darão segura aos ditos Officiaes
;porque se obriguem a aproveitar toda a madeira, que costarem, pelas licenças que
lhes forem dadas que aproveitarão o pau todo até ao cabo, sem deixarem cousa algu-
ma c!'elle, posto que o tabuado fique curto, sob pena de cincoenta cruzados de cadea;
a qual nança outrosim darão e que os tabuados e madeiras que assim fizerem, se gas-
tarão toclos na dita ilha, sem se levarem, nem mandarem fora d'ella, sob pena de cin-
coenta cruzados, as quaes penas se haverão pelas ditas fianças que se registarão nos
Livros das Câmaras, quanClo as taes pessoas as derem. E alem da dita pena de cin-

92
Do À ARCA DE NOÉ

coenta em que assim


incorrerão nas mais penas em que por este meu l""i~lUl"U incorrem as pessoas,
que levam ou mandam levar ou lenhas fora da como adeante será
declarado,
8°_ E assim os ditos tratantes, como dos
ditos para serra ou para ou para
a todo o dito pau, como dito é, e
'''l';<LL1UllI,U nos onde os navios vão calTegar as madeiras e
assim o toco do pau, como as ramas, sob a pena atraz declarada
E porque muitas Vezes acontece irem à serra os e outras pessoas a
cortar arvores para fazerem madeiras e e de as terem
a cortar acharem ocas e não servirem para o que as haviam
e não Hei por bem e que estes taes abri-
a as ditas arvores, que assim cortam, ou começam a cortar, assim o
toco como a rama dentro do anno em que assim cortarem, ou começarem a cortar, e
as levarão a do mar, onde os navios e barcos as vão carregar,
para se não na serra, e as pessoas que as ditas arvores
cortarem, ou comesarem a cortar, e as não como acima 6
incorrerão na pena de vinte cruzados da cadêa
10° E alem sobreditos haverem a dita pena cle vinte Hei por
o anno em que assim cortaram, ali começaram a cortar os paus, e lenhas
os ditos paus e e madeiras devolutas para as e
onde oficiaes dos ditos terão cuida-
emanclar ver, nos que mais conveniente lhes parecer se na
serra e outras terras, das ditas madeiras e as mandarão e além d'isso se
informarão das pessoas, que as cortaram para contra penas
em que por este assim cortarem, ou começarem a cor-
tar, sem as e Mando aos ditos
Officiaes das que lhes
",,,,h,,,,,,,,,,t,, e com muito

escreverei todas as achadas das


dos ditos ou
saber á Câmara das Cidades e
ir á serra com
Officiaes não fizerem a tal
e um anno de
os ditos Ouvidores a
os trondas arvores que
se cortam se cortam delles outras, e a pouco se tornam a reformar ao menos
para lenhas Hei por bem e que nenhuma pessoa nos ditos t1'Ol1-

93
ALBERTO VIEIRA

cos, nem os acabe de cortar pelo pé sem ter licença para o poder fazer sob pena de
incorrer nas penas e; que incorrem os que põem fogo, ou cortam madeiras e lenhas,
sem licença dos Officiaes como atraz declarado
)20_ E porquanto sou informado que muitas das madeiras, se cortam e levam para
fora da dita ilha, Hei por bem e Mando que nenhuma pessoa de qualquer estado e
condição que seja, leve, nem mande levar as ditas madeiras, e lenhas fora da dita ilha
para parte alguma, nem os Mestres dos Navios as carreguem n'elles para levar para
fora, como dito é, sob pena de qualquer pessoa, que as levar, ou mandar levar para
fora da dita ilha, incorrer nas penas sobreditas, em que incorrem por esta minha
Pr09;s'0, os que as cortam sem licença dos Officiaes das Câmaras, como dito é; e
alem das penas incorrerão os Mestres dos taes Navios, em que assim forem levadas
para fora, ou se embarcarem para isso, em perdimento dos ditos Navios, a metade
para quem os accusar, e a outra metade para a Câmara das Capitanias em que car-
regarem
13"- E para melhor guarda do sobredito, Mando, que nenhum Navio parta dos
Portos da dita ilha, sem primeiro o Mestre d'elle o fazer Saber aos Officiaes das
Câmaras dos logares d'onde partirem, e haverem delles licença para fàzerem sua
viagem; e Mando aos ditos Officiaes, que quando Ih'o assim fazerem saber; antes de
lhe darem a tal licença, os mandes ser por um Offieial da Câmara, que para isso terem
juramento, para ser se levam algumas das ditas madeiras, e lenhas para tora da ilha,
e achando que as não. levam lhe passarão Alvará de licença para partirem, e partin-
do os ditos Navios sem as das licenças incorrerão nas sobreditas penas em que incor-
reriam se levassem as das madeiras, e lenhas para fora da dita ilha, e isto sc não
entenderá em alguma lenha que os taes Navios levassem para gasto, e despeza dos
mesmos Navios, e terso além d'isto os ditos Officiaes muito bom cuidado de vigia-
rem, e proverem de maneira que nos ditos Navios não se alguma das madeiras e
lenhas.
14°-Outro sim, He; por bem e Mando que nenhuma pessoa faça Náos, ou Navios
alguns na dita ilha, nem nella se renovem nem concertem na maneira seguintc Não
se poderão as ditas Náos, e Navios renovar na dita ilha tirando lhes a liação velha, c
pondo lhes outra peca e peca nem tirando-lhe o tabuado tirando tabua e pondo outra
nem se lhes farão as cobertas, ou castellos, posto que o mais seja feito em outra
parte, sómente vindo ter á dita ilha alguns Navios desbaratados ela viagem de maneira
que não possam seguir a viagem para onde forem sem algum concerto, que seja
necessário fazer-se-Ihe, pedirão licença aos Ofticiaes elas ditas Câmaras, os guues
com o Loco-Tenente de Capitão das ditas Capitanias verão por si a necessidade que
os ditos Navios te em de se repararem para a dita viagem, e lhes darão liccnça para se
poderem reparar das cousas necessárias, os quaes terão n' isso muita considcração em
como dão as taes licenças, não sendo porem para refazer os ditos Navios como dito
é, nem para fazer as cabertas, ou castellos dos taes Navios; porque para as ditns
cousas, não lhes poderão dar taes licenças, posto que lhes pedidas sejam, nem as pes-
soas a quem forem dadas poderão usar d'ellas, antes incorrerão nas mesmas penas
d'este Capitulo como se sem licença o fizessem, o que assim Defendo e Mando sob
pena do perdimento dos ditos Navios, que se na dita ilha fizerem ou reformarem ou
a que fizerem cobertas, ou castellos. e de duzentos cruzados, e quatro annos cle degre-

94
Do A ARCA DE NOÉ

será e dois anll08 para alem


e nas mesmas penas incorrerão as Officiaes das obras dos
ditos Navios e e todas as outras pessoas, que nelles e os
Officiaes que derem as taes contra fôrma d'este meu
15°- E somente na dita ilha fazer bateis de pescar, e de can'eto para ser-
ventia da dita os quaes não seus donos vender para fóra sob pena
de pessoa que os assim vender para fora da pagar cincoenta
e ser dois annos para Africa,
16°_ Outro sim Defendo e que nenhuma pessoa compre lenha na dita ilha
para tornar a sob pena de paçar da cada vinte e um anno de
do para f6ra da ilha,
7° - E porque sou que na dita ilha ha muita terra em que se bem
e e que até ora se não o que era man-
das ditas arvores, havendo á muita necessidade que
d'ellas ha na dita e á falta que haver madeiras ao diante, Hei bem e
Mando aos Omciacs das Camaras da dita que mandem vir á Camara os Hereos
das ditas terras, que teem testadas nas Ribeiras da dita e lhes mandem
que cada anno certo número das dilas arvores, taxando-lhes o numero
conforme a terra que cada um tiver e e de cada uma pessoa,
que cada um anno o numero das ditas árvores. que lhes assim for até
as ditas terras serem de todo e das ditas arvores, c de como
lhes assim fôr e do numero das ditas arvores, que cada mmo hão-de se
fará assento no Livro das ditos Ofticias e ditas pes-
soas, E Mamdo aos Ouvidores e Officiaes dos ditas que cada anilo tomem
ditos assentos as pessoas a quem foi mandado as ditas arvores sc
as as que eram o tal anno a E não em tudo o que
lhes sssim fôr mandado
vez trínta cruzados e terceira vêz que cm ludo não
de pena serão dois annos fora e não
o que lhes assim for mandado por cada arvore que
menos das que lhes foi dos ditos trinta
cruzados somente e os Officiaes das ditas lerão cuidado e muita
em mandar as ditas arvores que assim forem c para a dita
lhes as penas que lhes parecerem convenientes para que
moradores da dita as não comam, nem se percam por outra
antes se e para ao deante.
8° E para melhor das couzas conlidas n'estc Hei por bem e
Mando que os Ouvidores das ditas devassem em cada um al1110 no mez
de Janeiro de todos os casos acima declarados fazendo toda a que lhes

e agravo nos casos em que couber para Minha u


dos Meus Peitos e nos casos em que alem pena de dinheiro ha pena de
por este meu por da
e nos casos em que não houver mais que pena de

95
ALBERTO VIEIRA

partes condemnadas quizerem appelIar receber-l hes hão sua appellação para a dita
Fazenda, e sendo absolutas não appellarão por parte da Justiça, antes darão livra-
mento as partes para escusar longas prisões, e gastos das partes, e os Officiaes das
Camaras terão muito cuidado de requerer aos ditos Ouvidores, que tirem as ditas
devassas, como dito e, e não as tirando os ditos Ouvidores posto que lhes não seja
requerido no tempo atraz declarado, incorrerrão na pena de cincoenta cruzados, a
metade para as obras e despesas dos Concelhos, e a outra metade para os Captivos,
e dois annos de degredo para Africa.
19° E alem das ditas devassas geraes que assim Mando tirar cada anno, poderão
os Meirinhos da serra, ou quaesquer outras pessoas do povo denunciar os casos
d'este Regimento às Justiças da dita ilha, as quaes lhes receberão as taes denunci-
ações dando-lhes juramento dos Santos Evangelhos se denunciam bem e verdadeira-
mente, e nomearão testemunhas, e as ditas Justiças tirar devassa pelos Autos das ditas
denunciações e procederão contra os culpados conforme a este Regimento, e nos taes
casos serão os ditos Meirinhos e denunciadores obrigados, a accusar as pessoas de
que assim denunciaram e haverão a metade das penas em que forem condemnadas,
que Hei por applicados para os ditos accusadores, e não accusando os taes denunci-
adores, como dito é, pagarão vinte cruzados para os Captivos, tanto que da accusação
desistirem, e proceder-se-ha no caso por parte da Justiça, e sendo as taes accusações
e denunciações feitas perante os Juizes das ditas Cidade e Villas, darão os ditos Juizes
sentenças no caso como lhes parecer justiça e appellarão para os Ouvidores das ditas
Jurisdições, e os Ouvidores para a minha Fazenda, 110 modo acima declarado; e
Mando aos Meirinhos da serra, que sejam muito diligentes, na guarda das ditas
madeiras e lenhas, porquanto o Hei assim por muito Meu Serviço, e proveito da dita
ilha, os quaes Meirinhos correrão a dita serra, e achando pessoa alguma que corte as
ditas madeiras, e lenhas contra forma d'este Regimento ou que commetta alguma das
ditas cousas defezas, acérca de cortar, esmoutar, ou cortar a rama d'ellas; acoimala-
ha, e alem das ditas penas atraz declaradas, pagarão as taes pessoas quinhentos réis
de coima pela primeira vez, e mil réis pela segunda e mais vezes, pela qual pena de
coima serão os ditos Meirinhos cridos por seu Juramento sómente, e por elle se fará
execução da dita coima nas pessoas que elle jurar que achou, e serão obrigados a vir
assentar as ditas coimas dentro de dois dias depois de tal achado, e d'ahi por deante
as não poderão mais assentar, nem se fará obra por ellas, pela condemnação da dita
coima não serão escusas as taes pessoas das mais penas d'este Regimento sendo cul-
pados em alguns dos casos n'elle contidos, sendo legitimamente provado que foram
contra elles.
20° - E porque a guarda e conservação das ditas madeiras cumpre muito ao bem
COmml1111 e Meu Serviço, e pode acontecer que Eu algumas vezes a instancia de algu-
mas pessoas conceda provisões para na dita ílha se fazerem algumas Náos, ou
Navios, e para se tirarem as ditas madeiras, e lenhas para fora d'ella, sem embargo
d'este Regimento, Hei por bem e Mando, que sendo-vos apresentadas algumas
Provisões minhas, para na dita ilha se tàzerem Náos, ou Navios, ou para se d'ella
tirarem algumas madeiras, ou lenhas, as não cumpraes. nem façaes por ellas obra
alguma sem embargo de de rogarem expressa e particularmente este Regimento ou de
quaesquer outras clausulas que tenham; e posto que n 'ellas se de clare, que as con-

96
Do ARCA DE NOÉ

cedi de meu moto porque assim o Hei por Meu não se


até M' o fazerdes e Me enviardes as ditas
com o vosso parecer acerca do bem commllm da dita ilha e Meu
que fazem as taes e tornardes sobre isso a haver
do que Eu houver por que se n'isso
21 0 E por este vos Mando a todos em e a cada um que
bem este Alvará e e o mandeis notificar a cada um em vossa
e trasladar nos Livros das Camaras de ellas para ser a todos e se saber que
ácêrca d'isso tenho a se fará este Meu Alvará
e nas Camaras da dita e de
do
e
e para d 'ahi por diante
inteiramente como por Mim é Mandado. E por este Mando todos os
e da dita de Meus Reinos c

mente

que
por
expressas e em todo e por todo ás
ditas Camaras na maneira acima declarada: e Mando aos Otliciaes d'ellas que em
todo o sobredito tenham como d'elles ditos
Ouvidores e Juizes que deem a '''''~'-''''v<'U
declaradas n'este que nos
eadas a pessoa Hei por bem que a metade para quem accusar os
e a outra metade para as das Cam aras e Concelhos onde as
e lenhas forem e sendo por serem accusa-
dos por da será a metade das ditas penas para as ditas ea
outra metade para os
Antonio d'Abreu o fez em aos vinte e sete dias do mez de mil
e sessenta c dois.-Eu Duarte Dias o Jlz eserever.-Rainha.-O Conde.

menta do curso de PJYI,:YP/'l!1pwn

Florestal no nnnn/JI>I'{J(l'()

97
ALBERTO VIEIRA

GASPAR FRUTUOSO[1522-1591)

As Saudades da Terra podem ser consideradas o testemunho da situação da


Madeira em./inais do século XVI, altura em que o padre açoriano as escreveu.

CAPÍTULO SÉTIMO

COMO O CAPITÃO JOÃO GONÇALVES ZARCO DEIXANDO


OS NAVIOS NO DESEMBARCADOURO FOI DESCOBRIR
A COSTA DA ILHA ATÉ CÂMARA E LOBOS DONDE TOMOU
SUAS ARMAS E VENDO A SAlDA O CABO DO GIRAO
SE TORNOU A DORMIR AOS NAVIOS

Recolhidos aos navios, teve conselho o capitão para descobrir a terra dali para
baixo; e assentou-se per parecer do piloto, que deviam de deixar ali os navios e com
os barcos descobrir a ilha, por lhe ver muita penedia, dizendo que assim podia ser ao
longo da costa; o que parecendo bem ao capitão, logo ao outro dia se meteu nos
batéis com os principais da frota, levando mantimentos e todo o necessário.
O capitão ia no batel do navio com o piloto, e do outro deu cargo a Alvaro Afonso;
e foram, assim, correndo a costa com brando mar, galherno (sic) tempo e manso
vento, em calma a costa toda à beira da terra, e, passada uma ponta que fazia a terra
para baixo, ao Ponente, viram ao pé de uma rocha que entrava no mar, sair dela qua-
tro canos de água que a natureza ali fizera tão formosa, como se fora chafariz feito ú
mão, onde, tendo o capitão desejo de saber que tal era aquela água, que tão clara
parecia, mandou buscar dela e achou-a que era estremada, boa e fria e leve, e daqu i
levou uma vasilha para o Infante, antre outras coisas que lhe encomendou.
Correndo mais abaixo, sempre apegados com terra, acharam em um fresco vale e
ameno prado um ribeiro de agua, que vinha sair ao mar com llluita frescura; ali fez
sair alguns em terra, onde os que saíram acharam outra fonte, que saia debaixo de um
grande e antigo e liso seixo, e era tão preciosa e fria, que mandou clela encher outra
vasilha para levar ao Infante; e põs este porto nome (por causa do que nele achou), o
porto do Seixo, como hoje se chama.
Indo assim costeando a ilha ao longo do arvoredo, que, em partes, chegava ao mar,
passando uma volta que faz a terra,. entraram em uma formosa angra, na praia da
qual acharam um 10rl11oso e deleitoso vale, coberto de arvoredo por sua ordem com-
posto, onde acharam em terra uns cepos velhos derribados do tempo, dos quais man-
dou o capitão fazer uma cruz, que logo fez arvorar em um alto de uma arvore, dando
nome ao lugar Santa Cruz, anele se depois fundou uma nobre vila, a maior, mais rica
e melhor povoação de toda a parte de Machico- e é tão nobre em seus moraclores,
que, a não ser Machico cabeça daquela jurdição, por ser primeiro achada, ela fora
cabeceira e a principal de toda aquela capitania, que tão bem assentada esta, onde
tinha almndega e oficiais dela.
Passados mais abaixo, em uma parte da terra saíram, por estar tudo cercado de
altas rochas e arvoredo, é não viam mais que correntes, ribeiras, fontes e regatos, que,

98
Do ARCA DE NOÉ

que a terra fazia grossa e alcantilada no mar,


aves do mar, que sem nenhum medo se sobre
suas e sobre os remos, que eles tomavam com a mão com que houveram
muito prazer enzeram festa e, por esta causa, ficou o nome à do
que está de Machico para o ou três
desta descobriram outra que seria dali duas e fazia-se
antre estas duas uma formosa e enseada de terra mais branda e ares
toda coberta de formoso tão por que feita à
sem haver arvore mais alta que outra, e, além de ser muito à
beber toda na que a Natureza meter todo seu cabedal em
obra tão acabada. Antre arvoredo espaçoso iam entremetidos
tão altos que se divisavam por cima das outras que eles mui bem
conheciam que deles atrás onde acharam muitos.
Antes que este deleitoso foram correndo a costa, que de altas
rochas era, sem acharem onde senão em uma ribeira que bota uma
desembarcar como em

eis que assomavam com


vinham falando com muito prazer que não achavam coisa
ficou nome à ribeira de Aires.
que ele lisos e seixos era sem haver
senão muito funcho que cobria vale até o mar por bom
espaço, saíam deste deleitoso vale ao mar três e frescas ainda que
não tão na C01110 de eram, muito formosas por
todas virem acabar no mar, saídas deste vale. muito fUl1cho que nele
fundou uma vila ele seu nome, que neste
é uma nobre e no cabo do estão dois onde se
foram por ser já e tomou em tena e C0111 que fizeram de
de muitas aves quc tomaram; disto foram dormir aos bar-
passaram mais abaixo. a uma que no dia
mandou o nela uma cruz, donele ficou o nome
Ponta foram dar em uma formosa fo1'-

modo acima
viram entrar no mar uma e
uns mancebos de para saírem em terra
e ver a que espaçosa e ficando com os outros 110
os mandou fora barco de Alvaro
teram passar a ribeira a vau e, como ela era soberba em suas
e fúria ao mar, que na veia da agua caíram e a ribeira os

99
ALBERTO VIEIRA

reram sem falta perigo, se o capitão do mar não bradara ao batel de Alvaro Afonso,
que em terra estava com a gente, onde eles foram, que corressem depressa aqueles
mancebos, que a corrente da ribeira levava, às vozes do qual foram os mancebos
acorridos e livres do perigo da agua, com que o capitão ficou contente, porque os
trazia nos olhos; e daqui ficou o nome ã ribeira, que hoje, este dia, se chama Ribeira
dos Acorridos, que peor pareceu àqueles mancebos de perto, do que lhe pareceu
primeiro de longe.
Daqui passaram mais abaixo até dar em uma rocha delgada, a maneira de ponta
baixa, que entra muito no mar, e, entre esta rocha e outra, fica um braço de mar em
remanso, onde a Natureza fez uma grande lapa, a modo de câmara de pedra e rocha
viva; aqui se mcteram com os bateis, onde acharam tantos lobos marinhos, que era
espanto, e não foi pequeno refresco e passatempo para a gente, porque mataram
muitos cleles e tiveram na matança muito prazer e festa, pelo que deu nome a este
remanso Câmara de Lobos, donde este capitão João Gonçalves tomou o apelido, por
ser a derradeira parte que descobriu deste giro e caminho, que fez; e deste lugar
tomou suas-armas, que el-rei lhe deu, tornando ao Regno, como adiante contarei.
Deste lugar de Câmara de Lobos não passaram mais para baixo, assim porque lhc
ficavam os navios longe, como porque daqui não puderam ver bem para baixo a costa
com o muito arvoredo. Contudo, quando se saiam desta câmara e remanso, da ponta
do mar viram uma rocha muito alta, logo ai apegado e arrebentar no mar em uma
ponta que ela abaixo fazia, a qual lhe ficou por meta e tlm do seu descobrimento, e
lhe deram nome o Cabo de Girão por ser daquela vez a derradeira parte e cabo do
giro de seu caminho. Daqui tornaram outra vez dormir aquele dia ao ilhéu da noite
passada, onde dormiram nos batéis a ele abrigados, e, ao outro dia seguinte, foram
dormir aos navios e, chegando com muito prazer, acharam com muito maior os que
neles ficaram, pe los verem tão contentes e satisfeitos da fertilidade, frescura e bOIl-
clndc, que lhe contavam do sitio da ilha e portos que deixavam descobertos, fazendo
todos, juntamente, muita festa e dando muitas graças ao Senhor, pela grande mercê
que lhes tinha feita.
Partidos, pois, estes capitães de Lisboa, trouxe João Gonçalves sua mulher,
Constància Rodrigues de Almeida (pessoa tão católíca, como virtuosa), e três filhos
que dela tinha, João Gonçalves, Helena e Breatiz, meninos ele pouea idade. E deu
licença el-rei a toda a pessoa que quisesse vir com ele para povoação elas ditas ilhas,
assim a cio Porto Santo como da Madeira; mandou dar os homiziados e condenados,
que houvesse pelas cadeias e Regno, dos quais João Gonçalves não quis levar nen-
hum dos culpados por causa da fé, ou treição, ou por ladrão; das outras culpas e
homizios levou todos os que houve e foram clele bem tratados; e, da outra gente, que
por sua vontade queriam buscar vicia e ventura, foram muitos, os mais deles do
Algarve.
Levaram estes capitães gado e aves, animais domésticos e coelhos para lançar na
terra. Chegados ao Porto Santo, foram dar em um porto da banda de Leste, onde
acharam uns frades da ordem de São Francisco, que escaparam de U111 naull"{lgío, de
que todos pereceram, senão eles, que acharam quase mortos, por não terem que
comer; donde deram nome a este porto, que se ora chama o porto dos Frades.
Saídos todos em terra, pareceu bem a BartoloIllCU Palestrelo a disposição dela, por

100
Do ARCA DE NOÉ

tirando cm terra a que


nesta ilha do
e em tanta que foi a maior praga que houve
na terra, porque não deixavam criar erva verde na ilha que a não comessem, e com
paus e às mãos os matavam sem os , e ainda em dia ha tantos,
com a ilha que, dos muitos
tem nome dos e é o melhor refresco da terra, onde vai
e dia se faz que se matam sem os acabarem de destru-
ir.
( ... )

CAPITULO NONO

DA DA ILHA DO PORTO SANTO


E DA ABUNDANCIA E MORADORES DELA

ainda que não


eo os dra-
vão de Lisboa para a ilha da
quero do da Víla ao
Está em trinta e três graus de
de três de e

que da meio é da
q ue está da banda do até a Fonte da que cai da banda do e
quase toda é da mesma E demora esta ilha Nordeste Sudoeste com os
e está de Lisboa cento e
assim chamado por haver ali na rocha muita
ao Nordeste da vem ter ao mar de
banda do
ainda que vcm

indo para o Ocidente mesma


afastado da terra, Norte e
que tem em cima campo, C01110 de dois
moios de terra, onde ha muitos paus de e isso lhe chamam o ilhéu dos
tem também e criam-se nele muitas cagarras e coel-
hos de diversas cores.
Deste ilhéu dos
se

na terra, porque de maré vazia fica em seco, e do


são tudo rochas altas e ao do mar

101
ALBERTO VIEIRA

Do Penedo do S0l10 até ao ilhéu do Boqueirão, que será espaço pouco mais de
légua e meia, que é a ponta derradeira do Poente da ilha, é tudo areia branca, sem ter
nenhuma pedra, e é baia não muito curva, nem com grandes pontas ao mar, porque
com qualquer tempo podem sair os navios do porto da Vila, que esta no meio desta
baia e praia, que, pela razão do porto já dita, se chama a Vila do Porto Santo, a qual
tem a freguesia do Salvador, sem haver outra em toda a ilha, e a ela vêm ouvir missa
todos os moradores, ainda que tenham sua habitação em diversas partes dela. E, antes
de chegar à Vila, todas aquelas terras até a mesma Vila eram povoadas de dragoeiros
quando se achou a ilha; chama-se ali o Vale do Touro, por se criarem nela touros e
muito gado desde o principio, quando o deitaram na terra:
Nesta Vila do Porto Santo, quc esta, da parte do Sul, no l11eio da praia já dita, não
estão as casas perto do mar por causa da areia, que as atupira logo, mas havení do
mar às primeiras um tiro de besta. Terá a vila, pouco mais ou menos, quatrocentos
fogos, afora outnls pessoas que 1110ram pelos montes. e, além ela igreja, que é n'egue-
sia da invocação do Salvador, que é boa, tem uma ermida de São Sebastião e outra
de Santa Caterina. Esta situada em terra chã e, pelo meio da Vila, corre ao Nortc ao
Sul uma ribeira, todo ano, de agua salgada, quase como a do mar, e, ainda que tal,
regam com ela muitas hortas de couves e ela mais hortaliça, que é estremada 110 gosto,
posto que seja regada com água que o não tem. E ao longo desta costa, ainda que seja
de areia, ha muitas vinhas, que dão boas uvas; criam-se nclas muitos caraeóis bran-
cos, em tanta maneira, que, em partes, cobrem tanto o cacho das uvas, que lhe não
aparece bago. Têm estas vinhas, da banda do mar, por tapumes muilo baslos e altos
espinheiros alvares, que se criam na arda, e, ainda que com o vento se atupalll dela,
crescem muito, por onde é bom tapume, e nelcs se cmbarram muitos cocll1o's, de que
toda a terra é l11uito povonda, e com I1sgotes e dardos os fisgam e matam nos espin-
heiros, onde também se criam muitas mélroas que fazem muito dano nas uvas e nus
amoras, porque há ali muitas amoreiras e ligueiras, de diversas castas, eujo rruto, por
a qualidnde da terra e por o deixarem bem madurccer, tcm bom gosto.
Finalmente esta ilha do Porto Santo é mui sacJia, de bons e lh.!scos ares, ainda que
é pequena, de três léguas c meia cIe comprido e uma e l110ia de largo, pouco mais ou
menos (como já disse); e não tem águas, por ser seca e de pouco arvoredo, e o prin-
cípal (tirando os dragoeiros) é zimbro e urze. E el11 muitas partes destu ilha produz-
iu a Natureza Illuitos dragoeiros, do tronco dos quais sc 1hz muitu louça, e muitos são
tão grossos, quc se fabricam de um só pau barcos que hojll cm dia hú, que silo capazes
de seis, sete homens, que vão pesem neles, e gamelas qllll levam um l11oio de trigo.
Tira-se desta louça bom proveito, de que se paga dízima II el-rei, c se aprovcitlll1l
muito do sangue do dragão, muito prezndo llas boticas; crinm estes dragociros lima
fruta redonda que, madura, se Ü1Z muito amarela, e é mui doce, c no tempo que havia
muitos dragoeiros engordavam os porcos com este fi'uto (que são como avelãs c,
assim, se chamavam maçainhas); já agora hú poucos e vão HJllundo, pelo l1luito
proveito que se fazia nas gamelas dcles, que são muito IllveH, como suo secas, e tam-
bém nas rodelas.
E, como já disse, pela maior parte ela ilha, espeeialmente para a banda das serras
e terras de massapez, há muitos cardos pum comer, e soia a valer um saCll deles um
vintém, alporcados e muito doces, e111 alguns postos da lerrn. 'l'em também esta ilha,

102
Do À ARCA DE NoÉ

dOlné:,tlc:as, muitas e e poupas, e


e ratos pequenos, dos que cá chamamos sem haver
que quase em todas as terras vemos.

CAPITULO DECIMO

VH',"-,,'-''''A DA ILHA DA lVLn'..jj.JJU,,",

PELA BANDA DO DA PONTA DE


À ENTRADA DA CIDADE DO FUNCHAL

A ilha da Madeira que, como tenho lhe nome assim o felicíssimo


João por causa do arvore-
do de que era coberta e toda cheia de infinidade de é C0111 montes e
rochedos mui que, por ser muito dizem que seu nome era,
ou devera ser, ilha das tão afamada e com seus ilustres e cav-
aleirosos e tão e com generosos e
celebrada com seu que Deus
colheita e remédio dos

e frescas ribeiras de doces e claras enobrecida


de soberbos e
VU(I,vV'"''

ricas e formosas ornada de ricos e custosos pomares de


enfeitada com artificiosos e deleitosos de varias e curiosas crvas e
um que, com seu cor e da graça a toda
a redondeza do anel do Universo em como com
as a Oriental aromática e a Ocidental doura-
de extremo a extremo, quase o mundo todo.
A ainda que os da ilha de que esta na boca do mar lhe chamam
do esta com muita mais na
boca de todalas não somente desse anel homem é
um mundo pequeno, se com verdade chamar que, por ser tal
e parecer nele um único horto terreal tão em tão bom clima situada ou cri-
disse um que que, Deus descendera do a
terra em que pusera seus santos ela.
Está esta tão célebre ilha em altura de trinta e dois graus e dois
do Polo Setentrional. Tem da de Leste o cabo de
do cabo de que esta com o cabo de São
tância de oitenta e C0111 esta ilha da Leste
Tem de uma rica
com que também fica toda feita
do Oriente é a de São

103
ALBERTO VIEIRA

a qual ilha com o Porto Santo está Nordeste Sudoeste, da mesma maneira que está o
Porto Santo com a Barra de Lisboa, ou com os Cachopos, e são doze léguas de teITa
a telTa; e tem três ilhas, de que adiante direi, que se chamam as Desertas e estão Norte
e Sul com a mesma ponta de São Lourenço três léguas de uma terra a outra.
A Gran Canaria está com esta ilha da Madeira ao Sul e à quarta do Sueste e, ordi-
nariamente, quase todas as ilhas de Canaria (como já disse acima) demoram desta
ilha do Sul até o Sueste, pouco mais ou menos, e quem for por vinte e oito graus
atravessará as ilhas Canárias todas; a Palma, que é uma delas e dista da cidade do
Funchal setenta léguas, demora da mesma cidade ao Sul e quarta do Sudoeste, e, res-
guardando-se de irem ao Sudoeste, porque é derrota falsa, e errando a ilha, não a
poderão tornar a tomar por causa dos ventos e aguagens que ventam naquelas partes.
Tenerife esta Norte e Sul com o porto da ilha da Madeira outras setenta léguas.
Da parte do Norte não tem a ilha da Madeira carregações, para que navios possam
carregar, senão no verão, porque a terra não é para isso, nem tem portos, mas tem
bons abrigos para navios, quando há tempo contrário da parte do Sul, por ser alta.
Terá de comprido dezasseis léguas e meia e de largo quatro, pouco mais ou menos,
ou, como outros querem, dezoito de comprido e perto de seis de largo; e principal-
mente dizem que tem esta largura, tomando a ilha pelo meio dela, para a parte de
Loeste, que é a do Ponente, onde tem o basis rombo, mas para a parte de Leste vai
aguçando até a ponta de São Lourenço e é mais estreita e delgada.
Sua compridão é de Leste a Oeste, da parte de São Lourenço, que esta a Leste, até
à ponta do largo, que está a Oeste, onde se acaba sua compridão. Tem uma grande
baia da parte do Sul, que começa da Ponta de São Lourenço até à ponta do Pargo, que
está uma légua antes de chegar à cidade, e terá de ponta a ponta cinco léguas; em toda
esta costa se pode surgir, porque e bom surgidouro, de até vinte braças, a que se
podem chegar os navios bem, sem temor dela.
Alguns dizem que a ponta de São Lourenço está a Lés-nordeste, e que demora o
Porto Santo dela doze léguas ao Nordeste. Partindo da ponta de São LOlJl'enço (que
se chamou assim por ali o primeiro capitão, João Gonçalves Zargo, chamar por ele,
acalmando-lhe o vento) pela banda do Sul para o Ocidente, uma légua da ponta está
uma povoação de perto de quinze moradores, que se chama o Caniçal; são terras
rasas e de pão. Do Caniçal até a vila de Machico há duas léguas, que são da terra
muito alta, de rochas e picos e mato, e onde se emparelham com a vila, que é à boca
de lima formosa e mui crescida ribeira, ao longo da qual a mesma vila esta situada;
faz a terra uma grande enseada com has pontas, cuja boca terá um quarto de légua de
largo, e da barra para dentro estão uns baixos no meio da enseada, sobre um dos quais
(que de maré vazia descobre parte dele) está arvorada uma cruz por marca, com que
se desviam os navios, para que, entrando no porto, não vão dar neles.
Este porto de Machico, além da grande majestade que tem (como já tenho dito). é
muito bom com todos os ventos por ser a terra de uma c outra parle muito alta. e,
como começam os navios a entrar da barra para dentro, ficam como em um manso
rio, salvo quando aboca por ela o Lés-sueste que, então, se é muito rijo, não podem
sair para fora e convém amarrar-se bem, porque, se se desamarram, não têm remédio
senão enxorar pela ribeira acima e enfiar-se com ela, como já aconteceu muitas
vezes.

104
Do À ARCA DE NOÉ

tenho dito acima. Terá de


tos até seiscentos muito bem ornada com ricos orna-
há uma rica mais fresca de mais obra que a da
ainda que mais pequena, em que levam o Santíssimo
na que se faz dia de de Deus.
Ainda que tem esta que é maior
que esta foi a ainda agora tem o nome
tronco e
e ainda têm eles antre
si que Machico é a gema da
Tem esta vila acima
e bom , mas o vinho dizem ser o que, por ser
para poucas se carrega. Há também nesta vila muitas e muito bem
tratadas e de ricas vozes, que é sinal da nobreza de seus porque em
todas as casas e ricas ha esta dos que as servem.
Para se regarem canas de nesta vila. e para o se tirou uma levada
de agua de tão que do onde nasce, até à vila serão
ou de na se mais de cem mil
serras e e dizem que na obra dela se furaram dois
não haver outro remédio. Rafael
quase todos os "o\"""<H>;""Q
começou a tirar esta agua, e
que já não se usa.
Saindo desta vila de Machico meia para a
do está uma ribeira que se chama o POlio de com que moinho
dos herdeiros de de ou de como outros
genoes de que muito boa do caminho que vai ao
costa desta banda do de que vou falando. Também há neste Porto do
ribeira muitos vinhos de malvasias e vidonhos melhores que os de
e muita outra fruta.
Do Porto do Seixo a meia está outro de que é dos
""CLUUUll'U. e abaixo dele um moesteiro de fi'ades onde estão até
com boas oficinas e U"'~HLU". de que
homem rico e mui generoso é
com quem esmolas de sua ""c",, .... u além das que
deixaram seus para casa, que fizeram.
Do mosteiro um ele besta está a nobre e vila de Santa a melhor
de toda a situada em uma terra chã ao do mar, em que tem bom a
sua baía ele um tiro de besta de onde varam os batéis. Tem esta
vila como oitocentos e rica e uma ribeira de agua por meio ao
redor da 11a muitas de malvasias e de vinhos melhores que os de
e uvas e das mais frutas de peras e
e amexeas, para a terra em muita abundância.
Desta vila para o Ocidente um de
chamada de Boaventura

105
ALBERTO VIEIRA

car, e há por ela acima muitos canaviais dele e também muitos vinhos.
Andando mais adiante desta ribeira quase uma légua, está uma povoação de trin-
ta vizinhos do mesmo termo de Santa Cruz, que se chama Gaula, que tem muitas vin-
has de malvasias e muitos outros vidonhos.
De Gaula um tiro de besta, indo para a cidade, está uma grande ribeira, muito
funda, que se chama do Porto Novo, por o ter muito bom para carregar os vinhos, que
há nela, de boas malvasias, que são as melhores da ilha, e de outros vidonhos, que
em aquela ribeira se colhem cada ano mais de trezentas pipas de vinho; e tem casais
por ela acima, e muita fruta e muita agua boa.
Meia légua mais adiante está a fazenda de João Dornelas, do Caniço, homem
fidalgo, casado com Dona Mécia, irmã de Dom Luís de Moura, estribciro-mor do
Infante Dom Duarte e pai de Dom Cristóvão de Moura, muito privado do grande Rei
Filipe e casado com uma filha de Vasqueanes Corte-Real, com a qual lhe fez el-rei
mercê da capitania da ilha Terceira, por falecimento do capitão Manuel Corte-Real,
de que não ficou herdeiro; a fazenda de João Dornelas é uma quintã com scu engen-
ho de açúcar e vinhas, e foi casa muito abastada.
Desta casa para o Ocidente um quinto de légua, pegado com o caminho, está a
fazenda das Moças, filhas de um João de Teives (que assim se chamaram estas nobres
fêmeas, ainda que velhas morreram, por permanecerem semprc, sem casar, na
primeira limpeza, com muita honra e virtude e santo exemplo de vida), que é um
engenho de açúcar, e boas e chãs terras de canas, e tem dentro, apegado eom umas
grandes casarias, uma rica igreja.
Daqui, adiante, quase meia légua estú uma aldeiH de duzentos fogm; com uma
igreja da invocação do Espirita Santo, que se chama o Caniço, cm lima ribeira que
corre do Norte para o Sul, acompanhada de muitas vinhas cle muitos vidonhos e de
boas malvasias; ao mar deste lugar esta a ponta da Oliveira, onde se pruntou uma, por
balisa da repartição das duas capitanias, que por esta ribeira se partem, ficando a de
Machico ao Nascente e a do Funchal ao Ponente, e por ela dizem quc vai a demar-
cação da borda do mar do Sul até ã outra banda do Norte; porque deste ClIniço até ()
longo do mar haverá um quarto de légua, onde está o porto onde se carrega tudo o
que há nesta parte, e chama-se Caniço de Baixo, a respeito do outro, que Caniço dc
Cima é chamado.
Do Caniço a um tiro de besta esta lima azenha, a par do caminho, que mói e0111
pouca agua, que traz para os moradores do mesmo ('aniço. E mais adiante uma légua.
Uma egreja de Nossa Senhora das Neves, à vista do Funchal, sore umll ponta que se
chama o Garajau, uma légua antes chegar ã cidade, na qual, ao longo do mar, estão
alguns dragoeiros, que a fazem mais formosa.
Primeiro que cheguem a esta igreja um tiro de besta, estão no cominho umas
árvores altas, chamadas barbuzanos, em cuja sombra costumum descunsar os cumin-
hantes, onde se conta que, vindo, de noite, um clérigo de missa do Caniço sara ()
Funchal, debaixo das árvores achou um companheiro que lhe falou e, começando a
caminhar ambos, emparelham com uma igreja que estú à borda do cuminho e tem
uma cerca de muro derredor, cometeu () clérigo ao companheiro que JllHsem fazer
oração, o qual lhe respondeu que já lá fora. Foi, contudo, () cl6rigo a lhzer a sua e,
saindo da cerca, achou companheiro, que lhe pediu a loba e lha levou tis I;os(as, e,

106
Do À ARCA DE NOÉ

a caminhar por uma ladeira abaixo antre as vinhas até uma ribeira
seca, que está no fim da onde faz um remanso como ali o cometeu
que lutasse com sendo alta noite. Vendo o tal cometimento em tal
e tais que vinha caindo do caminho e que não fazia a caso
tendo ruim e tornaram a andar indo ainda ladeira abaixo até
à rocha do mar, que é muito da
o tornou a meter que lhe
benzer e arrenegar do e ali lhe r!a"",,o.ann"
vindo o
por ser lutador este o
porque este é seu costume, e que se deixou lutando ambos à
veio , por o o achar muito vendo-se levar a a
disse "Jesus me valha", e que a esta ira o demónio. Mas o que nr,mp·u·"
disse se tem por mais verdadeiro.
Meia de Nossa Senhora das Neves esta uma ribeira seca, que não
corre senão no que se chama a Ribeira do onde dizem que
aparece lima fantasma em de um vezes com formas as
costas. Ha por esta ribeira acima muitas vinhas. E um de adiante dela está
de um tiro de besta de outra, do que esta
casas da cidade do chama-se ali o cabo do Calhau.

CAPITULO DECIMO

EM SE VAI CONTINUANDO A
DA MADEIRA PELA BANDA DA COSTA DO DESDE
A PRAIA UMA DA CIDADE DO
A PONTA DO É O FIM DA ILHA DA PARTE NORTE

Indo da Praia Formosa para o Ocidente um


que se chama dos
altos e bravas serranias e é muito
e toda esta que parece um
dois de
canas de muito nobre fidal-

e de muita que toda a lenha


,,,,vU'''vCque estão nela e em outros que tem Câmara de
que está trazem por ela que ser oitenta mil CaJTegas de
!:,L';;;UIUl<' cada ano, antes mais que menos. E tem esta ordem para trazer esta lenha:

tendo-a cortada nos montes, a em das rochas da e cada


senhorio da que a mandou cortar, tem sua marca em cada que,
maior é toda lenha grossa, uma mossa, outros outros três ou qua-
tro, e tanto que chove se como cem homens das indo-se aos

107
ALBERTO VIEIRA

montes e serranias, onde têm suas rumas de lenha posta, e lançam-na à ribeira pelas
rochas abaixo, que são muito altas; a agua, como é muita, traz aquela multidão de
lenha e muitos daqueles homens trazem uns ganchos de ferro metidos em umas
hastes de pau compridas, com os quais desembarcam e desembaraçam a lenha, que
vem toda pela ribeira abaixo, e, se (como acontece muitas vezes) acerta de cair algum
deles na ribeira, com aqueles ganchos apegam dele por onde se acerta, ainda que o
firam, com que, ou morto ou vivo, o tiram fora da agua, e acontece algumas vezes
morrerem alguns homens neste grande trabalho. Vindo com esta lenha pela ribeira
abaixo com grande arruído e pressa, e comidas e bebidas, que para este efeito ajun-
tam e o trabalho requer, quando chegam junto dos engenhos, onde a ribeira espraia e
faz maior largura, espalha-se a água, por ser a ribeira muito chã, e, ficando quase em
seco, dali a tiram com os mesmos ganchos, e cada um dos senhorios, por sua marca,
aparta a sua, pondo-a em rumas muito grandes para o tempo da açarrn do açúcar. Mas
acontece algumas vezes, chovendo em demasia na serra, que enche a ribeira muito e
leva muita cópia desta lenha ao mar, em que se perde grande parte do cuslo que têm
feito.
Perto da Jonte, onde nasce a agua desta ribeira dos Acorridos, se tirou a levada
dela para moer o engenho de Luís de Noronha, e dizem que do lugar donde ã
começaram de tirm' até onde vai ao engenho e regar os canaviais, ha bem quatro
léguas, por se tirar de tão grande fundura da ribeira em voltas, quc, para chegar arri-
ba, ã superficie da terra, para começar a caminhar, atravessando lombas, Ü1Zl.mdo
grandes rodeios per cima, pela serra, por onde vai esta levada, tem de alto mais de
seiscentas braças, da qual altura, que é muito íngreme, se tira fi agua em cales de pau,
em voltas, até se pôr na terra feita; e scm f111ta custou chegar. O mcsmo que calhas.
pô-la em tal lugar passante de vinte mil cruzados, afora o muito mais que fez de custo
levada dali quatro léguas, alem, de muitas mortes de homcns, que trabalhavam nela
em cestos amarrados com cordas, dependurados pela rocha, como qucm apanhu
urze la, porque é tão alcantilada e íngreme a rocha em muitas pnrtcs, quc não se fazi-
am, nem se podiam fazer de outra maneira estâncias parn assentar as cales sem pas-
sar por este perigo. Tem duzentos e oitenta lanços delas, por onde vai esta agua, que,
postos enfiados um diante do outro, terão um quarto de légua dc eomprido. São de
tavoado de madcira de til, que, pela maior parte, tem cada taVOl\ vinte palmos de
comprido e dois e meio de largo; e, depois de assentadas cstas cales na rocha, rnzem
o caminho por dentro delas os levadeiros, que continuamente têm cuidado de as
remendar e consertar, alimpando-as também da sujidade c pedras que acontece cair
nelas, e fazer outras coisas necessárias à levada, pelo que têm grossos soldos, por
terem oficio de tão grande trabalho e tanto perigo.
Nesta rocha está uma /llrna muito grande, que serve de casa para os levudeil'Os e
para guardar nela munições necessárias de enxadas, alviões, barras, picõcs e marrões
e outras ferramentas; e nela se metem cada ano dez, doze pipas de vinho para os que
trabalham na levada e outras pessoas que a vão ajudar n rcformur, quando qucbrnm
alguns lanços de cales. E é coisa monstruosa a quem vê isto com seus olhos a estran-
ha e aventureira invenção, que se teve para se tirar dali esta água.
Tem o senhor desta levada alvará clc el-rei para que os seus lcvadeiros e homens,
que trabalham nela, possam tomar paru comer cabras e porcos, que hú muitos nuque-

108
Do ARCA DE NOÉ

las serras, ainda que seus não sem por isso serem mas
que os donos dos tais serão pagos do seu, sem crime
Da mesma mais abaixo para o tirou António Correia outra levada para
regar as terras da que estão sobre Câmara de também de muito
custo,
Indo da ribeira dos Acorridos para o Ocidente um esta uma
que chamam Câmara de do mar, que tem uma calheta pequena e uma
onde ou dormem ainda de que tomou nome o
""IJH'"'''' da achar nela ° João
tenho contado, Tem esta
aldeia como duzentos

e outro Duarte e
muitas frutas de toda sorte, e muita
Dois tiros de besta de Câmara de Lobos para o está um
moesteiro da de São de frades em que estão con-
tinuamente ou oito muito abastado de ia a fruta e vinhos.
Acima dele estão os pomares do que têm muita castanha e noz, e de
toda sorte muito e vinhas e c uma que se ama o
de até trinta é de Nossa Senhora do Rosairo.
De Câmara de Lobos para o Ocidente ladeira acima tá uma lombada assim
se chamam as lombas de terra que com a rocha do mar e é a mais
alta toda a terra, chamada e, por outro nome, a Caldeira lima cova,
que tem ali a terra, que é agora dos herdeiros de António homens mui
e que dá muitas e boas canas de E parece que
tomaram o nome os Caldeiras da se o não trouxeram do que nela há
e muito honrada.
De maneira que Câmara de
senhor da levada da ribeira dos
casarias de seus e sua com
para que ouçam missa os que trabalham para que cumpram com o
os e e o mesmo se ha-de entender de todas ou as
mais das fazendas da que estão fora da cidade e ou porque todas
para este efeito.
boas terras de canas e de e mas vinhas poucas, por
ser a terra ainda que ao do mar tem o mesmo Luís de Noronha uma
pomar e vinhas de muito preço, e que dá cada ano
de malvasias, E esta ribeira dos que parece que os há naque-
vlLl"UU", que dá também muitas canas e, em

Noronha para o mesmo Ocidente meia


"'''I,I''iuauu», a que chamam o tem a
Santo, São terras de
11L<"HJl,"~", dados mais a criar que a cultivar
,"vu",,"C), isto se há-de entender que neste e em todos

109
ALBERTO VIEIRA

houve sempre, e há hoje em dia, gente honrada e fidalga e de altos pensamentos.


Ao Ocidente, uma légua do Campanário, está a Ribeira Brava que por extremo
tem este nome; é uma aldeia que terá como trezentos fogos, com uma igreja de São
Bento e bom porto de calhau miúdo, que, pela chã da ribeira acima, tcm as casas, e
muitas canas de açúcar, e dois engenhos, e pomares 111uito ricos de muitos pêras e
peras, nozes e muita castanha, com que é a mais ü'esca aldeia que há na ilha, pelo
que, e pelo merecer, por ter b0111 porto e ser 111uito viçosa, já muitas vezes tentaram
os moradores de a fàzerem vila Tem também muitas vinhas, ainda que o vinho não é
tão bom como é o do Funchal. A ribeira é tão furiosa, quando enche, que algumas
vezes leva muitas casas e faz muito dano, por vir de grandes montcs c altas serras, e
por ser desta maneira lhe vieram a chamar Brava.
Neste lugar nasceram os Coelhos, cónegos da Sé do Funchal, estremados homens
de ricas vozes; um deles, chamado Gaspar Coelho, 1'0 i mestrc da capela da Sé muitos
anos sendo cónego, e Francisco Coelho, seu irmão mais moço, sendo cóncgo, foi
também mestre da capela de el-rei na corte.
Da Ribeira Brava meia légua está a ribeira da Tabua, com lima Ii'cgucsia dc quase
trinta fogos; teve já dois engenhos e tem muitas vinhas e canas e frutas, mas o vinho
é semelhante ao da Ribeira Brava, sua vizinha Desta ribeira ela Tabua são os
Medeiros, gente nobre e honrada.
Da Tabua pouco mais de meia légua esta a Lombada de João Esmcraldo, de nação
genoês, que chega do mar à serra, de muitas canas de açúcar c tão grossa fazcnda,
que já se aconteceu fazer João Esmeraldo vinte mil arrobas de sua lavl'U cada ano, e
tinha como oitenta almas suas cativas antre mouros, mulatos c mulatas, ncgros,
negras e canários. Foi esta a maior casa da ilha c tem grandcs casarias de aposento,
e engenho, e casas de purgar, e igreja. E depois do falecimcnto dc João Esmcraldo,
ficou tudo a seu filho Cristóvão Esmeraldo, que o mais do tcmpo andava na cidade
do Funchal sobre uma mula muito formosa, com oito homcns dctrús de si, quatro de
capa e quatro mancebos em corpo, /ilhos de homens honrados, muito bcm tratados,
e trazia grande contenda com o Capitão do Funchal sobre quem seria provedor da
Alfândega de el-rei, que é uma rica coisa cle renda de Sua Altcza e rieas casarias.
Casou João Esmeralda na ilha com Ágada dc Abrcu, filha de João Fcrnandcs, senhor
da Lombada cio Arco.
Da Lombada de João Esmeraldo um quarto de légua estú a vila da Ponta do Sol,
que se chama assim por ter uma ponta ao Ocidente da vila, quc tem () parcecr que já
disse, aonde dá também o Sol primeiro que na vilu, quando nasce. 'rem csta vila
como quinhentos fogos e boa igreja; é povoada dc gcnte nobre, por s!.!!' das mais anti-
gas da ilha, mas os vinhos não são tão bons como são os do Funchal.
Acima da Ponta cio Sol para o Norte da vila csta um I ugar, que se ehama os
Calcanhos, que tem um engenho, e muitas H'utas, e ricas aglllls, c vinhas, e terra de
lavoura de trigo e centeio, onde há uma honrada geração ele homens nobres, que se
chamam os Escovares.
Meia légua da vila da Ponta do Sol, ao longo do mar, está II j)'cgucsia da Madalena,
de até trinta fogos; tem um engenho, que foi de um Manuel Dias, e bou Hlzencln cle
boas terras de canas e muita água e fresca. !-la nesta J)·egll!.!sia lImu ermida de Nossa
Senhora dos Anjos que, tirando ser pequena, é uma rica casa com um retábulo

110
Do À ARCA DE NOÉ

pequeno e fresco e bem da está uma fresca debaixo de uns


autre uns canaviais de de mui formosas canas.
Da Madalena um de está a Lombada que foi de
marido de Dona Joana de camareira-mor da Rainha. É muito grossa HU.• '-'u'ua,
,",");IvAJ,UV de e muitas terras de canas, e de casas e
com seu
Um desta Lombada de Fernandes está outra, que se
ou Lombada do que foi de João irmão de
fazenda também muito grossa, que tem e muitas terras de canas,
"->J'J"'"'llCl.l" de casas e E adiante direi o que em estas duas
Lombas aconteceu a um Antonio filho de Fernandes
e de sua a camareira-mar da Rainha.
Da Lombada do indo para o Ocidente até da de que foi conde
o ilustre da haverá uma Está esta vila por
ma ribeira que tem as rochas tão que acontece as vezes cairem
da rocha e derrubar as casas dela. era ea da
eo vindo da vila para o Nascente um e que é uma
onde varam os arcos. Acima da terra dentro um de
está o dos Cabrais e, está outro do doutor da vaw""",
co, chamado mestre Gabriel.
E de uma da Calheta está a fazenda e João
se chamou assim por falar sendo ele de que é grossa
ta:iéen{la de canas com seu este João casou duas i1lhas
no Funchal muito são melhores fazendas da ilha. Teve muitos
escravos, cinco dos e foram
"LU.V"~""'"'' na vila da
Castelhano obra de leia está outro engen-
nobres e boa fazenda de canas e

e, abaixo do Jardim para o mar, está uma que se


chama o com um que é e Pero do homem muito rico e pos-
sante, e boa fazenda de mas tem caminho por terra, por ser a rocha
muito alta para descer abaixo.
Do Jardim para o Ocidente até que é o fim da ilha da
do Sul e também é de duzentos haverá duas
de São Pedro. São terras lavradias de e centeio e
e porcos; tem muitas frutas e E por acabo de dar conta da
desta ilha o melhor que saber na verdade.
ALBERTO VrElRA

CAPITULO DÉCIMO OITAVO

DA DESCRIÇÃO DA ILHA DA MADEIRA PELA COSTA


DA BANDA DO NORTE, TORNANDO A COMEÇAR
DA PONTA DE SÃO LOURENÇO E ACABAR NA PONTA DO PARGO

Tornando à ponta de São Lourenço, que está da parte do Oriente, e começando


andar dela para o Ocidente da ilha pela costa da banda do Norte (que, como tenho
dito, toda tem bom e seguro surgidouro e bom abrígo para os navios, quando os ven-
tos ventam da outra parte, por ser a terra muito alta), da mesma ponta de São
Lourenço para o Ocidente perto de duas léguas está. uma aldeia, que se chama o
Porto da Cruz (pela razão que já tenho dito), que tem junto do mar um engenho que
foi de Gaspar Dias; é grossa fazenda, com boas terras de canas e muitas águas.
Haverá neste lugar trinta fogos espalhados, afora a gente da fazenda, c são os
moradores todos criadores, porque os matos são em toda a ilha gerais a todos para
criarem neles.
Do Porto da Cruz a Nossa Senhora do Faial (por ali o haver grande) haverá lima
légua. Terá esta freguesia como cem fogos; a igreja está. antre duas ribeiras muito
altas das rochas; tem lTIuita fruta de espinho, de cidras e limões, pems c pêros e
maçãs, e castanha e noz. Sendo a igreja de bom grandor, dizem que toda se armou de
um grandíssimo pau de cedro, que se achou perto dela; pelo seu dia, que vem a oito
de Setembro, se ajuntam de romagem de toda a ilha passante de oito mil almas, onde
se vê uma rica feira de mantimentos de muita carne de porco e vaca, e chibarro, a
qual é uma extremada carne de gostosa naquela ilha, ainda que em outras muitas ter-
ras e ilhas seja a pior de todas. Ali se ajuntam muitos cabritos e frutas, e outras Coisas
de comer, para, comprarem os romeiros, que muitas vezes se deixam estar dois, três
e mais dias em Nossa Senhora, descansando do trabalho do caminho, porque vêm de
dez e doze léguas por terra mui fragosa; e juntos fazem muitas festas de comédias,
danças e músicas de muitos instrumentos de violas, guitarras, fmutas, rabis e gaitas
de fole; e pelas faldras das ribeiras, que têm grandes campos, no dia de Nossa
Senhora e em seu oitavairo, se alojam os romeiros em diversos magotes, lhzcnelo
grandes fogueiras antre aquelas serranias. Dizem que ali apareceu Nossa Senhora,
onde tem a igreja.
Tem esta freguesia dois engenhos ele açúcar, um de António Fernandes das Covas,
que esta perto ele Nossa Senhora, e outro de Luis Daria. No fim das ribeiras (que
ambas se vão ajuntar em uma), perto do mar, tem bom porto. Está nesta fi'cgucsia
uma serra de água, que foi um grande e proveitoso engenho, em que dois ou três
homens chegam por engenho um pau de vinte palmos de comprido e dois o três cle
largo ã serra, e, por arte, um só homem, que é o serrador, com um só pé (como fáz o
oleiro, quando faz a louça) leva o pau avante e a serra sempre vai cortando c, como
chega ao cabo COI11 o fio, com o mesmo pé dá para trás, fazendo tornar o pau todo, c
torna a serra a tomar outro fio; de maneira que quem vir esta obra julgarú por Jllui
grande e necessária invenção a serra de água naquela ilha, onde não era possível ser-
rarem-se tão grandes paus, como nela á, com serra de braços, nom tanta soma dc
tavoado, como se faz para caixas de açúcar, que se fazem muitas, e para outras do

112
Do À ARCA DE Nor:

mais soma. Tem esta


montados de

e muita fruta de toda


com muHas aguas.
Adiante de São uma e meia está a da Ponta
chamada por ser ali um passo muito que se passa por riba de dois paus, que
se atravessam de uma rocha a outra, e cm tanta altura fica o mar por que se
a vista dos onde esta um porto, cm que desembarcam e embarcam com
a modo de da de de até sessen-
e bom e e frutas de toda sorte, e
muitas aguas, onde tem duas serras de agua.
Neste reside António de homem tão cavaleiro como ""lU1I,''''"U
por sua pessoa, nobre e e
sua tem
dos que por isso lhe e, se tor necessário dar um
mh,pnt"", homens da banda do Norte a seu para feito de guerra,
lhe aconteceu, ou para e não sem razão, porque sua casa
é e acolheita de todo '-'''C'''"'-''''' de caminhantes e final-
mente, de necessitados. Assim sua fazenda toda desta
nestas que em sua casa se
outros muitos que e com ele socorre a quem tem
recolhe de sua lavoura. É filho de Duarte Ribeiro e casado com Dona Ana
filha de Cristóvão que foi da Fazenda de Sua Alteza nesta ilha
da Madeira e na do Porto Santo. É tão que anda serras da ilha da
sem corta com dlim porque as pernas lhe
seco, das e bem em
que tem tanta que, indo um dia por antre um mato a
por baixo de uma arvore, as mãos um ramo grosso e,
cavalo com as pernas alevantou do chão mais de um

de duzentos e
com e muitas frutas
noz e de outra sorte, muitas

está que é
São Braz. Tem muitas terras de e
e tl'uta de toda sorte.
que é de trinta que tem

13
ALBERTO VIEIRA

muitas criações e lavoura de pão, e muitas águas. Está esta ü'eguesia, pela terra den-
tro, perto de meia légua na ponta de Tristão, que se chama assim por ele a descobrir
primeiro, onde se partem as capitanias pela banda do Norte, porque por esta parte se
estende mais a capitania de Machico que pela banda do Sul, onde começa na ponta
da Oliveira, pela que ali mandou prantar o capitão João Gonçalves, como tenho dito,
que está ao mar do lugar do Caniço ao Sueste, vindo dela a demarcação pelo meio da
terra, que são grandes serranias do Nascente para o Poente, pela banda do Norte, até
chegar a esta ponta de Tristão, que está ao Noroeste; sendo estas duas pontas, a da
Oliveira, da banda do Sul, e a de Tristão, da parte do Norte, as balisas e extremos da
repartição destas duas capitanias do Funchal e Machico,licando a ilha partida de
Noroeste a Sueste, como estão estas pontas, e, tirando catorze léguas, da banda do
Sul, que é o melhor de toda a ilha, e três da banda do Norte, dajurdição da capitania
do Funchal, todo o mais da ilha fica da jurdição da capitania de Machico,
Desta ponta de Tristão, que está ao Noroeste, da parte do Norte, vim a costa para
o Sul, fàzendo a terra, ou a figura de pirâmide dela, sua basis, ou pé, e assento por
espaço de três léguas, que, segundo alguns, ha dela c desta freguesia da Madalena,
pela banda do Ocidente, até a ponta do Pargo, onele acabei a banda do Sul e acabo
agora a descrição de toda a ilha pela costa dela, com que fica com ti ligura de
pir3mide, que já disse, um lado da qual é da ponta de S. Lourenço, que está ao
Oriente, até à ponta do Pargo, que está ao Ocidente, pela banda do Sul, e o outro laelo
é da mesma ponta de S. Lourenço, do Nascente, até à ponta dc Tristão, que está ao
Ocidente, pela banda do Norte; e a basis é desta ponta de Tristão nté n ponta do Pnrgo,
que outros dizem ser duas léguas, com que fica com figura de pirâmide, mas, por
nesta basis não ir a terra cortando direita, senão com algum rodeio curva c no meio
larga e na ponta aguda, fica toda esta ilha da Madeira parecendo mais I<.llha de plá-
tano que pirâmide. E, ainda que, como pirâmide se acha pintada em algumas cartas
de marear, em outras tem figura de folha de álamo, porque, eOl11o esta úrvore, está
prantada e alevantada no meio das aguas do grande mar Oceano Oeidentu I, em bOI11
clima, e regada com muitas e ü'escas ribeiras e, abundantemente, dó seus frutos mui
perfeitos a seu tempo.

CAPITULO DÉCIMO NONO

DA DESCRIÇÃO DA ILHA DA MADEIRA PELO MEIO DA TERRA

( ... )
Tomando a terra desta ilha pelo meio, da ponta de S. Lourenço, que esta ao
Nascente, à, ponta do Pargo, que jaz ao Ocidente, toda é terra de grundes serranias e
altos montes, alta em tanta maneira, que faz abrigo nos navios, que se ehegum a elu
da banda do Norte, ventando muito do Sul, até dez léguas da terra.
Toda esta ilha é fragosissima e povoada de alto e fresco arvoredo, que, por HeI' tal,
se perdem alguns caminhantes nos caminhos, e aconteceujú alguns, perdidos, neles
morrerem, E não, tão somente, há pelo meio c lombo da terra grnndes c alevalltndns
serranias, mas também gl'Otas e altas funduras, cobcrtas de matos c gros:ws paus c

114
Do À ARCA DE NOÉ

de que, o serram, no cerne, é muito preto e cheira


deste pau se faz muito taboado para caixas de e solhado de casas e e
dele é a maior da lenha que se nos Também há outro pau ver-
que se chama de que se fazem as caixas para o de casa, que
são mas as feitas dele para o mar são muito mais m'p'7~"<l"
Outros paus há de de que se faz muita madeira para para vinho e
mas para o mel são melhores que para o não porque a da
madeira o mas porque é muito e seco e não revê tanto o mel
como o que o faz c vezes o dcita meio do pau, o
pau aderno é tão que se fende ã cunha.
Ha também muitos que crescem muito direitos e grossos, de que se faz
a para as casas, e muitas vezes de um pau fazem três e quatro pernas de
asnas, mas não é tão como o desta ilha de Sã.o é brando de cOItar, quase
como o e dele se fazem os temões para servirem na lavoura.
Há outro pau, muito de que se fazem os cabos de mas
não é branco como é o desta ilha. Também há paus de e faldras da serra,
da banda do muita que é mato como urzes, que dá flor de
que nos fornos e dele se colhe a verga, que como de que se
fazem os cestos I11UI e para de mesa e afeIta de
tismos e outras por serem muito alvos e e se vendem para muitas
fora da ilha e do reino de porque se fazem muitas
e custosos, às vezes, sobre um dez e doze
em uma peça e para se fazerem mais alvos do que a verga é
de sua natureza, ainda que é muito os defumam com enxofre.
Há também muita madeira de de que, maior fazem os
tanchões para as por ser pau muito e durar muito no chão. E não faltam
urzes, de que se faz o carvão para
Tem finalmente esta ilha tantos matos e tantos montes e que afir-
da porque a maior dela
rochas e e e não ha terra
que valem mais que outro tamanho ouro; c,
não tem preço a quc tem todas as que esta ilha de si
quer por natureza, quer com arte.
É terra massapez mais que terra
chama toda se rega com a abundância das
HLI""'U"J. a estão humedecendo e
formosa e
esta de S. faz em
a terra farta de agua, levarão um rego dela sem se sumir
Tem muita de muitas couves mas não
sempre vem a semente delas de cria muitas alfaces e
maneiras de toda afora os muitos
pomares que tem de fruta de e ricos de ervas em tanto que
dizem os mareantes que, mais de dez ao mar, deita esta ilha de si uma fra-
e um confortativo e suave que parece cheirar a flor de Em

115
ALBERTO VIEIRA

muitas partes desta ilha há muitas nogueiras e castanheiros, que dão muita noz e cas-
tanha, em tanta maneira, que vale o alqueire a três e quatro vinténs e se afirma que
se colhe em toda ela de ambas estas fi:utas de noz e castanha, juntamente cada ano,
passante de cem moios; também dá amêndoas, e de tudo carregam bem as árvores .
. Há nesta ilha da Madeira muito sumagre, que serve para curtir couro, principal-
mente o cordavão, porque o faz muito brando e alvo; este sumagre se pranta em
covas pequenas, como quem pranta rosas e vinha; tem a haste, como feito, e a rama
semelhante ao mesmo feito; dá-se em terras altas e fracas; colhe-se cada ano, cor-
tando-se rente com a terra para não secar a soca dele e poder tornar a arrebentar, por
ser planta que dura muitos anos na terra. É novidade de muito proveito, porque mul-
tiplica tanto, que se enchem os campos dele como enchem as roseiras, e lavra a raiz
por baixo da terra, e o que se dá na ilha é muito fino e, apanhada a rama, que é o dito
sumagre. se deita ao Sol, seca, se mói em engenho de água, assim como se mói o pas-
tel nesta ilha, e se faz cm pó, e, moído, o carregam para diversas partes em sacas e
pipas.
Criam-se também na ilha da Madeira alguns gaviães e açores, que parece que vêm
ali com tormentas de alguma terra perto, que está por descobrir, bilhafres, francelhos,
corujas, e há nela muitas perdizes, pavões, galipavos, galinhas de Guiné, e as outras
domésticas, pombos trocazes, pretos e brancos, patas e adens, pombas bravas e
mansas, muitos melros, canarios, pintassilgos (sic), toutinegras, lavandeiras, tentil-
hões, codornizes, rolas, poupas e coelhos, cagarras, afora gaivotas, estapagados e
outras aves do mar.
( ... )

[Gaspar Frutuoso, Livro segundo das Saudades da Terra, Ponta Delgada, 1979,
pp,45-49, 54-55. 56-58,632-63,99-107, 119-140.]

ALVARÁ PELO QUAL SUA MAGESTADE MANDA DAR OS MEIOS


E MODOS DE ESTABELECER O POVO E CONSERVAR
O DOMINIO DA ILHA DO PORTO SANTO[1770]

Eu EIRey faço saber .aos que este Alvará virem, que em Representações da
Camara da ilha do Porto Santo, justificadas por exactas informações do Governador
e Capitão General da ilha da Madeira, João António de Sá Pereira; e qualificadas por
Consulta, que em treze de Julho proximo precedente subio do Conselho da Minha
Real Fazenda, se verificou na Minha Presença que sendo a mesma ilha, e ilheos a ela
adjacentes, administrados por hum Donatario, sem meio para conservar em paz,
justiça e abundancia.
E havendo-se os povos della precipitado na maior ociosidade, e inercia, por falta
de quem nelles fomentasse e progredisse o trabalho, e a industria para se sustentarem,
virem por cOllsequencia de tudo a serem expellidos pelos poderosos, e usurarios;
seguindo-se de tudo o referido precipitar-se a mesma ilha em tal decadencia, e tão

116
Do A ARCA DE NOÉ

que para o povo della não o da tem sido


que Provedoria da ilha da Madeira ocorresse
a Reis Meus Predecessores e a Minha ao sustento aft1ictos
Vassallos.
E porque este que soccorre as extremas necessidades presentes, não só
não he bastante para precaver as mas antes as accrescenta, animando os
vadios e com a esperança de serem como até o o
a que se tem visto reduzidos:
obviar em eommum beneficio que se
tem feito tão da Minha Real de haver mandado
compensar por um effeito
do referidas causas:
Hei por bem e mando que aos ditos
Attendendo aos que tem feito nas terras a
moradores na Cidade do
<Olll"aLI\A.. ,al as mesmas com a de
mesmas Famílias com o encargo de pagarem as melhores os
e as de os sem que estas se possam alterar; e
e alhiaveis entre os moradores da sobredita sem
que se possam ou voluntaria ou a pessoa de fóra.
Os moradores que sahirem da referida nella os referidos
mas serão a vcndellos ou em naturaes ela que nella
tenham o seu domicílio. E por hum effeito da Minha Real Piedade: Hei
por bem todos os Dízimos e Direitos aos referidos moradores por de
dez annos:
Concedendo-lhe outro o
seus e bestas contra suas nem flU""ClIH\J"
moradores da sobredita tendo estes os llheos para
dos ditos dez annos possam ser

Ir
E porque me foi que na mesma ilha do Porto Santo tem a mal
de sorte que todos os sobreditos moradores deli a cuidam em alle-
F,v"vu'v,",mu para do e obviando os que tem causado
estes vadios: Sou servido declarallos por inhabeis para ao de
Procuradores do Conselho e mais e honoríficos
inbabilitando os que não fizerem lavouras para os ditos cargos, c
outros de Fazenda.

II[
outro sim que Governador e General da ilha da
mandando escolher entre os filhos dos referidos que não fizeram
que parecerem mais no numero de seis para o Oficio de
lYapatewo; outros tantos para o de dous para o de para o ele
outros para o de dous para o de os fará entrc-

17
ALBERTO VIEIRA

gar a Mestres dos respectivos Omcios para que os ensinem, remettendo-os, depois
aos parrentes nos mesmos officios á dita ilha para nella exercitarem as suas Artes.

IV
Prohibo que Mercador, Vendilhão, ou outro algum traficante possam fazer penho.
ra em gados vacuns, cavallares ou l11iuelos, e em quaisquer instrumentos de lavouras,
e serventia della por quaesquer dividas de fazendas fiadas ou dinheiros adeantados
em interesse; nem tão pouco nos frutos da mesma lavoura, que necessários forem
para as sementes das Terras e comedorias proporcionados aos que nellas trabalharem.

V
E attendcndo á necessidade de madeiras que ha naqllclla ilha: Sou servido con-
ceder aos moradores dclla o Privilegio de que possam cxtrair da ilha da Madeira
todas as que necessarias lhcs forem para as suas abegllarias, e concertos elas Suas
casas pelos preços ordinarios, estabelecendo-se para elles humajusta tarifa que fique
sempre enalteravel.

VI
Ordeno, que todos os sobreditos Lavradores, sejam obrigados a plantar arvores
nos testaclos das suas Terras jj'onteiras ao Mar, e ribeiros; COI11 tal declaração, que
aquclles, que assim o não houverem executaclo no termo de trez annos, não poderão
gozar dos reH:ridos Privilegios.
VII
E ultimamente hei outro sim por bem ordenar, que o Capitão General da referida
ilha da Madeira mancle logo separar e dividir pelo Corregedor da Comarca, eom
assistencia & Sargento Mór de Infantaria com exercicio de Engenheiro Francisco de
A leneoll1', as Terras, que hão dc pagar quinto, e oitavo, para /icarem sempre con·
hecidas por taes, indo cllc Governador e Capitão General authorizar com a sua pre·
sença 11 execuçi'ío de tudo o rcferido até deixar os moradores na paci lica posse de
todas as sobreditas propriedades, e Privilegios; deixando-os na eerteza de que os
restituirá eontra qualquer violencia, Oll infracção, que contra clles seja intentada por
quaesquer pessoas cle qualquer estado, e condição quc sejam.
E este sc eUl11pril'l1 tão inteiramente como nelle se contém, scm duvida ou embar·
go algum. Pelo que:
Mando ú Meza do Desembargo do Paço; ao Inspector do Meu El'úrio; ao Cardeal
Regedor da Casa da Supplicação; Consclho de Minha Fazenda; Governador e
Capitão General da ilha da Madeira; Ministros, Olliciais dc Justiça e mais pessoas
dclla, a quem o conhecimcnto deste Alvarú pertencer, o cumpram, c guardem c l'hçam
cumprir, e guardar tão inteiramente como nelle se eontém; e não ohstante quacsquer
Regimentos, Leis, Fomes, Ordens, ou cstillos <.:ontrarios, que todas, e todos hci por
derrogados para cste elfeito sómente,licanc!o aliús sempre cm SQU vigor; c valerá
eomo Carta passada pela Chaneelaria, posto quc por ella não ha de p~,ssar, e o seu
effeito haja de durar mais de hum e muitos annos, sem embargo das Ordenações em
contrario; c se registará nos Livros ti que pcrtenQer, mandando-se () original para a
Torrc do Tombo.

11 H
Do ARCA DE NOÉ

Dado no de Nossa Senhora da aos treze de de mil setecentos


e setenta.

Martinho de Mello e Castro

REGIMENTO DA AGRICU LTURA

TITULO I
DA DAS TERRAS

Todo o lavrador que tiver hum arado será ,",,,,,nu,,,,",",UU


de teITa
ou mais

TITULO VI
PASTORES E EM TEMPO. OUE TRAGAM AGUIL-
I-fADAS

Todos os Lavradores tenhão seus "Q"'",,.,," os quaes


lhes houver de passar e não lhes os
á custa do mesmos e os Pastores que não
os seus salerios e o danmo que
tiverem \.OdLJ"'dUU, outro sim deverão trazer para divisa sua, do
Gado.
Titulo XIV
DAS TERRAS SEMEAR HUM ANNO POR OUTRO

As terras de inferior ficarão hum anuo por outro em para que


se semeie de semente que lhe fôr mais
"");CIIlL""" e melhor deverão pas-
nos taes annos de e em semelhante cazo não "" ... o,~""
ser communs os taes aos Lavradores e senhorios das
mesmas terras.

TITULO XIX
DA DAS ARVORES

o sobreditto ao mesmo das examinará se todos os


Lavradores têm assim nas testadas fronteiras ao mar, como nas Ribeiras ou
nos as arvores a que são no de três anuas, e assim

19
ALBERTO VIEIRA

o não tenhão feito. incorrerão na pena do tU 6. do Alvará Régio.

TITULO XX
DAS PLANTADAS NOS MONTADOS

Nos montados das serras se deverão plantar Pinheiros, Zimbreiros, Castanheiros,


Tis e toda mais arvores que se poderem produzir, para que tàçam sombra á ten'a e
attrahião a umidade da gião de que a mesma teITa he sumamente esteril, como
tambem para dellas tirarem madeiras e lhe de que os moradores tanto carecem e se
imbaginarão de jiestas dos Nortes da Ilha da Madeira, a para a sua propria utilidade,
como de seus gados, e todos os Lavradores á proporção das suas so serão obrigados
no referido tempo de três annos, a povoar os dittos montados, das mencionadas forem
conduzidas da ditta Ilha da Madeira e todo o que se eximir de tão providente utili-
dade. á delle o Inspector Gerah as fará conduzir e transplantar.

TITULO XXI
DO MODO DE VEDAREM AS ARÉAS PARA QUE ESTAS NÃO PREJ-
UDIQUEM AS TERRAS CIRCUMVISINHAS

E sendo huma grande parte e a melhor das terras que desde muitos annos até o pre-
sente se coberto d'areias com tão notavel damno que annualmente se experimenta e
vai crescendo, cada mais a sobredita ruina e estrago: todos os lavradores da circun-
ferencia das faldas do areal da terra sejam desde logo, e sem perda de tempo obriga-
dos. para obstar hum mal tão publico e tão notaria plantar em cêrca do monte donde
nascem as dittas arêas, trez, quatro, e mais ordens de espinhe o mais condensado que
se possa, confonne o Inspector julgar bastante para vedarem a ocorrencia mesmas
arêas;
Outro sim, são obrigados a plantar nas ditas faldas outra ordem dos ditos espin-
heiros para que não acabem de sobrecahir as mesmas areias nas terras que lhe con-
frontào, no entanto que todos os Lavradores geralmente em beneficio do publico não
podem cobrir como devem todo o areal de espinheiros;
Todo aquelIe que se eximir de concorrer para o seu proprio beneficio incorrerá na
pena do & 81 do Alvará Régio; como tambem incorrerão nas mesmas penas todos os
Lavradores que geralmente devem plantar os Espinheiros, se se eximirem do que
neste Titulo ordeno;
E aquelle que cOliar aLI arminar qualquer dos dittos Espinheiros ou Pinheiros,
como também sempre-noivas, troviscos, ou outras ervas que nascem nas arêas e
impedem a dar correnteza; se fõr Lavrador não entrará mais em lavoura dalgum
Senhorio. e quando o nào seja, pagará mil reis por cada vez de cadêa, e conforme o
prejuizo que do ditto danno resultar.
E igualmente quero que se entenda a mesma ordem e disposição a respeito de
areal da Praia por ser tambem muita e quasi egual a qualidade de terras que se tem
perdido; tudo debaixo das referidas penas e da eleição que o Inspector fizer do sitio
da parte da Praia, em que se devem fazer as plantações das ditas arvores.

120
Do À ARCA DE NOÉ

Defendo a todos os Lavradores o trazer seus 1110nta-


arêaes da terra e Praia em as arvores e
em não estiverem em termos de que os as não
de outro modo ficará sendo o trabalho que nos dittos mon-
tados e arêaes empregarem.
E todo que nestes incorrerá na pena estabeLecida no T. 6. deste
outro sim que nas terras nem agora, nem em
anelem por ser maior a utilidade que os moradores
da sua e todo o que de modo o neste 1: incor-
rerá nas dittas penas, sem que lhe

TrTULO XXV
DAS PLANTADAS DAS AMOREIRAS E ESPINHEIROS
EM CERCA DAS FAZENDAS

Nos testados ao mar, ribeiras ou ribeiros e do ditto sitio das Fontes se


amoreiras por serem assim as terras para similhantes arvores,
utilidade aos moradores desta e
por meio da sua
Fazendas os Lavradores serão
doT
ordeno que todas as penas e coimas conteúdas neste
",,,, . . n,,,,,, metade para as do Concelho e metade para o acusador.
se tão inteiramente como nelle se ('",U?11"

terras de

ao Commandante das
e mais officiais dellas e da

cultura elle ditto


na Comarca desta Villa e mais
conste.
Dado no Porto e sello das minhas armas, aos 13 dias do
mês de Junho de mil settencentos e seltenta e huma.
a) João Antonio de Sá Pereira do José Anastacio da Costa

Eduardo de

121
ALBERTO VIEIRA

INSTRUÇÕES DE AGRICULTURA DO CORREGEDOR


ANTONIO ROIZ VELOZO DE OLIVEIRA, 1792

Copia das instrucçoens de Agricultura, que o corregedor Antonio Roiz Velozo de


Oliveira deo a Camara da Villa da Calheta para fàzerem parte dos provimentos da
Correição que fez naquella villa no a11110 de 1792

Como seja da minha particular obrigação o promover a industria pública e procu-


rar aos povos desta comarca todas as comodidades que elles com direito devem
esperar de hum magistrado zeloso da observância das leys e amigo da humanidade;
determinei fazer estas instrucçoens relativamente a agricultura para tàzerem parte
dos provimentos da minha prezente correição nesta villa da Calheta; e para que os
officiaes da cam ara (a cujo officio ordinario incumbe os mesmo deveres pelo que
respeita aos povos sogeitos a sua particular jurisdicção) observem, e fação observar
as dittas instrucções tão enteiramente como nellas se contem. E porque seria inutil
estabelecer regras e formar planos, não havendo ao mesmo tempo quem tàça guardar
e por em pratica huma e outra couza; já desde o anno passado fiz eleição do capitão
António João Homem dei Rey, que com tanto acerto occupa neste concelho o cargo
de juiz de orfaons, e o habilitei para que de commllm acordo com os officiaes da
camara chegassem os competentcs jurados e inspectores particulares da Agricultura
em todos os bairos, citios e lombos de cada huma das freguezias de que se compoem
a mesma jurisdição e concelho; para que estes, cada hum na sua repartição obser-
vassem, e fizessem executar as ordens que lhe forem cometidas; dando II [44v ] de
tudo parte ao referido juiz dos orfaons; o qual, na qualidade de directos geral, teria
sobre elles a necessaria inspecção, sendo ao mesmo tempo obrigado a participar aos
mencionados otllciaes da cam ara tudo o que fosse digno de rellexão e de providen-
cia a respeito das operaçoens agrarias, da criação dos gados, dos damnos e
formigueiros; para que interpondo a mesma camara toda a sua authoridade, zelo, e
jurisdição, a acautelassem os males, punissem os crimes, e promovessem a industria
e fortuna publica.
Mostrou com efeito a experiencia que os meus c1ezejos se realisarão em grande
parte; porque na prezente correição foi cabalmente informado que no inverno passa-
do se plantarão mais arvores que em vinte annos atras; sendo proporcional a plan-
tação das vinhas, assim como a cultura das searas e das scmiIhas; e por fim achei
quasi acabada a guerra que os gados (por andarem a montão, e sem pastor) faz ião de
continuo aos lavradores; e a estes conhecendo as grandes utilidades que para o futuro
lhes ha de rezultar do seu proprio trabalho, e dos cuidados que tomei.
Animado pois por tantas lizongeiras esperanças, passo a estabelecer as regras
seguintes, que servirão de regimento ao director geral e seus subalternos debaixo da
imediata inspecção da cam ara, aviso cuidado e vegilaneia fica pertencendo vigiar
muito particularmente sobre a concervação da paz publica, sobre os abuzos que se
podem introduzir nesta importante ll1ateria; assim como sobre a condenação dos
lavradores omissos e negligentes, e finalmente sobre a arrecadação das penas em que
forem multados.
Primeiramente

122
Do A ARCA DE NOÊ

Das beiras dos assim como deve pouco a pouco


desterrar-se todo o porque não tendo o sem fruto lIZ0 serve de
mesmo silvado saem a infestar e devo-
dos bardos de devem-se formar outros de
ou macieiras de toda a
e nas umidas as
cidreiras.
Estas arvores, não mais terra do que
del11 as fazendas dos ventos; abundante
e anl10almente sustentão os homens e os os
porcos; e ultimamente fazem que os contentando-se com os fmetos que
encontrão não entrem nas fazendas a furtar o que nellas faz
a industria do lavrador honrado.
E todo que o contrario sendo as terras das suas tes-
tadas e para a 1l",ue''r<1U das sobredittas arvores, será multado na pena
de dois mil reis para as obras do e para a pessoa que o accuzar, na forma
decretada do reino 1] 26
Em2
baldios
ou se devem enxertar: estas arvores
porem não serão muito contrario he bom que de tal
que o sol tenha livre entrada entre huma e outra; afim de que as ter-
para a e ainda o sendo pos-

Estas sementeiras sem duvida hão de frutificar melhor do que '''I''''''''''''


fazem debaixo de arvoredos densos e que não servirião de couza se o
excelente clima desta ilha não admittisse huma couza tão admiravel e tão rara. Ainda
nos estios que forem ,,,'r)n,'u,c
aonde o ar hé menos
as quaes hão de para o futuro uvas
que menos servião para ,rn~,·{j"'·lt,,· e sera este hum novo ramo de comercio
muito util aos lavradores.
O melhor modo de se em pattes secas, hé
fazendo covas nos mezes de oitubro e Novembro das quaes se
deve tirar a terra de sorte que não fácil entulharem-se: Em cada huma dellas se
deve huma de mato de Estas covas ficando abertas
ate o mez de Janeiro recebe1l11l1uita agoa; e esta não se o interior da terra para
alimentar a árvore no do mas tambem faz o mato, o
estrumando a mesma terra, faz que as arvores cressão de pressa c com maior
a recompençar o trabalho do comtudo hé de muita
impOI"tâlllcla que no I e anno de se deitem abaixo os fructos
novos enxertos, pera que estes não tenhão o neces-
sado para melhor e com mais abundância.
Se os lavradores pençassem com a devida refexão nas muitas utilidades que lhes
rezultar destas arvores, elles sem duvida tratarião da e cultura dellas

123
ALBERTO VIEIRA

com maior cuidado. São pois as ditas utilidades c de que os //[46] mas lavradores
devem ser informados, as seguintes:
lIas castanheiros produzem frutos que servem para a sustentação dos homens, ou
da forma que vulgarmente se uza das castanhas, ou reduzidas a pão da maneira qque
se pratica a respeito das semilhas.
2 com as castanhas se engordão os porcos, e são estes os que tem a carne mais
saboroza e melhor e da mesma se crião aves de toda a qualidade.
3 os cavallos e os bois, tendo castanhas escuzão a ração de milho e cevada que
ordinariamente se lhes costuma dar.
4 Depois dos contemplados benefícios que rezultão dos frutos destas arvores,
sempre dignas de estimação, seguem-se as conveniências que dellas mesmas proce-
dem. As folhas emquanto verdes, servem de excelJente pasto aos gados de toda a
qualidade, e depois de seccas estl'l\l11ão as terras e estas se fazem todos os anos mais
fecundas: além disto no tempo da primavera e do estio, 1110dificão o calor do sol, e
exaurindo os vapores da terra e do ar, fazem as chuvas mais frequentes; augmentan-
do por esta forma as agoas nas fontes e as orvagem aos gados; concorrem para que
as vinhas c todas as outras plantas que lhes Reão inferiores, não tenhão precizão de
repetidas e continuadas regas.
5 Finalmente as ditas arvores COl1cervão as plantas c as searns, defendendo-as dos
ventos e das tempestades; seguirão as terras empinadas, e com as suas raizes as con-
eervão e sustentão de iUl1na que estas jamais se precipitão e fazem qucbradas, o que
se deve nesta ilha evitar por todas as lut'mas para a concervação do paiz. A estes
benefícios tão importantes ainda acressem os outros que l'ezultão das lenhas para o
uzo diário das cozinhas das estacas para as vinhas, e finalmente das madeiras da con-
strução para as igrejas, para as cazas e quaesquel' outros cdifícios. E para que os
lavradores que cultivão terras alheias se animem com maior facilidade a Jhzerem a
plantação dos ditos castanheiros; serão estes aqui em diante avaluados, c pagos
//[46v] aos mesmos lavradores a razão de cem reis cada hum, sendo bravio; e ele
duzentos reis sendo enxertados.
Pclo contrario; todo aquelle lavrador que tendo terras próprias para tl cultura ele
que se trata; ou sejão do seu particular dominio; ou de senhorios, e não plantar ao
menos cincoenta castanheiros cm cada hum anno, será multado na sobreditta penna
de dois mil reis, com a applicação da já citada ordem do LO I título 6ô, 26.
Em 3 lugar
Nos cítios e lugares em que os ventos não fazem grancle imprcssão, e não furem
muito secos, hé importante que se plantem laranjeiras e limoeiros de toda a quali-
dade; e da mesma forma limeiras e cidreiras. Nesses l11eSI11OS lugares abrigados
importa muito que estas árvores sejão plantadas e dispostas entre arvoredo que con-
cerve a tblha de inverno como o loureiro e vinhatigo: também as canas vieiras são
muito úteis. Forma-se pois hum quadrado com as árvores rústicas, c com as compe-
tentes divizoens ele canas, e pelo meio se plantão e111 boa ordem aqucilas árvores que
por mais delicadas não registem tanto aos ventos, c ii marezia ou salitre levantados
pelos tempos do mar, ate quem recebem muita perda; sendo para advertir que as
árvores de espinho, com especialidade as laranjeiras, produzem a sua nor 110 tempo
do inverno; e por isso não pode esta concerval'se bem não mediando as cnutcllas que

124
Do DE NOÉ

facilmente na Madeira fazer se hum comércio


muito conciderável sendo assim como do reino e das ilhas dos
Bretanha e outras do nOIte e da
O methodo mais fácil e mais
estacas de
a ""C''''''''A
a que os rusticos chamão de o que facilmente se fará tirando da estaca da
cidreira hum sem molestar o nem a casca, e em delle outro de
desta forma hé muito fácil acressentar se em pouco número das
ao infinito.
Outra fOllna há também quc cortar em de huma a
e por lhe terra à ou em cestos, ou pano vel-
outra couza que a não deixe porque feita esta no
as dittas no mesmo inverno muitas raízes no
em que lhes falta a casca e formão excellentes árvores os mesmos ramos.
Hé da mesma entre árvores rústicas não são
que se fOllnão os melhores
de fruto como maceeiras e
Todas as árvores de fruto devem ser tratadas com muito cuidado para que não se
tornem todas se devem antes que na Primavera a pro-
duzir que não são enchatadas nunca b0111 o lavrador
ainda muito a sabor e dos ditos se industri-
ozamente tirar das árvores elos méritos que ellas costmuão annoaJmente
e além disto as mesmas árvores se concervarão por annos.

Governo n" tls.

BERNARDINO JOZE PERO DA CAMARA

A DE 1815

Senhor. e consternada vai aos Pés do Throno de V.A.R. a Camara ela


Cidade do Funchal da ilha da Pai dos seus

ella se

5","y",",Upara este Paiz do que a do ''''C'7Pll1t"


ser liberal para com os seus habitantes

125
ALBERTO VIEIRA

goza vão deste dom preciozo com que ella os felicitava, prodigalizando-lhes abun-
dantes, e preciozas colheitas, quer agora reparar os excessos que fez em benefício
delles à custa das lagrimas que tem feito verter aos dezamparados Lavradores, e a
todos em geral, pelas escaças novidades que constantemente tem alcançado em paga
de seus peniveis trabalhos. A memoravel catastrofe de 9 de Outubro de mil oito cen-
tos e tres foi hum infausto presagio de tudo quanto estava para nos acontecer. Foi
então que a Liberal Mão de VA.R. acodio promptamente ás ruinas desta Cidade,
fazendo que dos seus Reaes Cofres sahisse todo aquelle cabedal que fosse precizo
para as reparar; e por outro qualquer motivo, q' VA.R. julgasse acertado exhallrir os
mesmos Reaes Cofres, seria o seu maior prazer socorrer a disgraça, e a mizeria
daquelles Vassallos, que VA.R. visse marcados com o Sêlo da mais cruel infelici-
dade. Desde aquelle terrivel anilo tem sempre corrido assás calamitozo para hum
Povo que a maior parte delle he por extremo pobre, e que só o excessivo trabalho a
que se sujeita, he que o faz ainda poder subsistir em huma Terra onde elle não pode
cultivar se não pequenas porções della, por ser incompativel com a aspereza do local
cultivar grandes terrenos. Cada lavrador apenas pode aqui cultivar 11 'um anno aque-
le espaço de terra, que noutro qualquer lavrador em differente paiz cultivaria em
menos de hu anno; e ainda assim mesmo arrisca demaziadamente a sua vida luctan-
do em huma parte com enormes rochedos, para delles sacar aquella pedra q' em out-
ras partes vai suster as pequenas porções de terra que ainda nelle existem. Desde
aquelle mesmo tempo até o prezente as il1ll11cnsas agoas o tem sempre delapidado,
reduzindo-o a tão exteril situação, que só os braços de homcns costumados a hu
penozo digo a hum tão penozo fabrico tem sido capazes de lhc dar algum remedia.
Por outra parte as i111l110deradas estações, que irrcgulamente tem agitado huma
atmosphera costumada ate então a influir suavemente sobre as ll1clindrozas pro-
duções deste mesmo Paiz, tem tirado ao pobre, e ao rico todas as esperanças ele
poderem viver sem aquellas afl1ições que nascem da indigencia. tolhendo a todos o
meio de poderem reparar com novas plantações o estrago que tcm havido em todas
as vinhas, já occazionado pelas mesmas agoas, e já expessas, e estragadoras nevoas,
e anebatados ventos, que em tempo não esperado sempre tem queimado, e destruido
as suas tenras varas quando todos geralmente se congratulavão de tirar dellas com
abundancia aquelle préciozo vinho que faz a baze fundamental de todo o COl11mercio
desta ilha, e da subsistencia dos seus infelices habitantes. A carestia dos viveres
ocazionada pelas tristes revoluções do Mundo, e muito principalmente pela guerra da
America, tem sido nesta ilha tão excessivas. que muitas pessoas ela ultima classe
perecerao victimas de hum a pura necessidade, e as outras de todas as classes tem
arrostado hum montão de incommodos para se salvarem do naufragio que lhes
preparava tâo hOlToroza tempestade, e ela insaciavel cubiça da corporação do
Commercio desta ilha que a cada passo se está valendo dos meios que lhe orrerece a
falta de generos nacionaes para as immolar a os seus sordidos interesses. As doenças
epidemicas desde que as Tropas Bretanicas dezembarcarão neste terreno tcm mor-
tiferamente graçaelo por toda a ilha acumulando a os seus habitantes malles sobre
malles que talvez se não possão extinguir se não para as gerações futuras. Tudo isto,
e a inda muito mais que deixamos em silencio para não parecer-nos importunos tcm
appresentado aos olhos do Publico hum lastimozo quadro de que VA.R. talvez não

126
Do À ARCA DE NOÉ

tenha a menor por termos sempre afastar das vistas de tão


clemente Soberano mizerias de hum Povo que necessanamente hav-
ião de consternar a mas o mal se tem a de já não lhe
po.uenrlOS dar remedia se não debaixo das sabias e Benevolo influxo
de v.A.R.
O maior he da Ponte do Torriào para sima de
nas este anno se tinha huma pequena

Cidade:

cabedal se na sua
huma chamada a Ponte de Páo do
dos Ferreiros no mesmo momento em que as agoas cor-
rerão com mais abundancia: ficou porem hum pouco mas em soffrivel
de se tranzitar por outra Ponte de que nesta mesma Ribeira existe
chamada a Ponte da e devemos atribuir este sucesso a hum indulto da
que não mais hum COl11l11ercio tão he
difficultando-lhe os meios de se conduzir todos os generos, que se
irnnnrt"",.., e, por serem esta e a da Rua dos Ferreiros
mente construídas no meio desta mesma e em pouca distancia da Marinha,
A llltima que he a de Nossa Senhora do por estarem inteiramente
concluídas as suas muralhas não os dois
IJ""~"'''''-'''' Ribeiros de que fizemos centro da
e o outro quaze nos confins della na Nossa
Senhora do Calháo: tanto hum como outro, por falta de muralhas que contivessem
suas ago8s, fizerão O rompeo na Rua da
alem da do Carmo para a inllundou toda e levou
de sí immenso rochedo com que aterrada toda a Rua do Ribeirinho ate ao
Beco da e por mesmo Beco se comonicoll ao do
e por isso apezar de hum cano por onde dezembocarão as agoas
para o calháo neste que he hum consideravel a sete
tendo estas ruínas de desde a referida RlIa da até
para sima de cento e oitenta Esta corrente por meio de huma
Cidade q' em todas as de suas Cazas tem generos de muito por si
mesma suscitar huma idéa do que soffi'erão os seus habitantes. Não foi
a occazionada agoas do pequeno Ribeiro chamado
ainda que a Cidade neste he por extremo por compre-
hendcr só trez ruas, e ordens de cazas, elle as innundou de tal que
arrombando as das e entrando que estavão nada deixou
em bom estado do que ellas continhão. A Rua de Santa que hc lemita-
da a Leste por huma elevada mas pequena Ponte de por onde costumão pas-
sar as agoas deste mesmo estas a dita e ent:an-
mesma rua ficou inundada de tal que tão bem SUblO o

127
ALOERTO VIEIRA

depósito das agoas a mais de cinco pés de altura, fazendo a todos hum prejuizo incal-
culavel, e muito principalmente aos Tendeiros que disgraçadamente perderão todos
os generos, que tinhão nas suas Tendas. Tal foi o rezultado da Alluvião de vinte e seis
de Outubro proximo, relativamente a esta Cidade. Os Lavradores, Senhor, ainda se
lamentão mais da sua sorte do que os próprios Cidadãos: elles virão copiozas, e dis-
conhecidas agoas arrancar-lhes pelas raizes os idozos troncos, e precipitar das altas
montanhas as eximias penedias, que envolvidas com as mesmas agoas arrazavão os
valles, e fazião perder a maior parte da sua cultura: os gados que se acha vão disper-
sos em lugares mais eminentees, forão arrojados debaixo destas ruinas, e apezar da
cautella q' todos tomárão na salvação de suas vidas, ficarão algumas pessoas
perigozamente feridas, alem de dois rapazes que perecerão em hum cazal da
Freguezia do Estreito de Câmara de Lobos, por ser incompativel com a violencia das
quebradas poder-se-Ihes dar o menor socorro. Cada hum destes Lavradores julgan-
do-se absolutamente disgraçado parece querer proferir imprecações contra a sua pro-
pria existencia, e abandonar hum Paiz que tão ingrato se tem mostrado ao industrio-
zo, e penivel meio com que e\les tem procurado beneficia\lo, consagrando-lhe tantas
fadigas, e exgotando com elle os ultimos restos das suas forças. E será possível,
Senhor, que a malIes tão estrodozos que este Povo tem som'ido, se lhe ajunte tantos
impostos, quaes são a Decima Urbana, a Decima Funeraria e Ciza, o Finto, e outro a
mais impostos desta natureza, quando os Augustos Predecessores de VA.R. em ocaz-
iões de menor estrago por calamidades publicas, e circunstancias menos urgentes,
perdorão aquelles mesmos impostos que então havião como se mostra dos
Documentos numero primeiro, e segundo? Ah! que se VA.R. prezenciasse a mizeria
em que todos gemem neste Paiz; se visse o dezamparo em que se acha um Povo, q'
tanto tem concorrido para prosperar as suas Finanças; se V.A.R. tivesse prezente os
clamores do Publico que não cessa de lastimar a sua disgraça; então commovcndo-
se dlle VA.R. pela sua lnacta e Paternal Beneficencia, não só o alliviaria deste peza-
do jugo, mas inda mesmo mandaria repartir avultadas somas dos seus Reaes Cofres
em favor e soccorro de tantos infelices.
Senhor: se VA.R. não quer ver inteiramente perdida, e abandonada hUl1la cultura,
que tanto intreressa os seus Reaes Cofies, e que perdida ella está perdida a ramefi-
cação do Bem Publico, decahido inteiramente hum Commercio, que ainda a muito
custo se conserva, e por consequencia quaze exticntas as Rendas da Admenistração,
e Arrecadação da Real Fazenda deste Estado; se V.A.R. Quer ter toda a gloria de con-
servar huma Colonia, que tem fama em toda a parte do Mundo pela singularidade das
suas produções; se não Quer ver finalmente esta tão importante porção dos seus fieis
Vassalos luctar entre os horrores de uma horroroza fome, pela falta de meios de com-
prar os viveres, sirva-se VA.R. derrogar aquellas Leis que lhe impoem tão pezadas
contribuições, para ao menos nesta parte suavizar tão enormes desgraças, e os
grandes trabalhos que tem em dezentulhar taes rui nas, para reparo das quaes não tem
feito prezentemente o menor dezembolço os abundantes Cofres de V.A.R., pois tendo
disso chamado todas as Ordenanças a este diario trablaho, os mais pobres ajuclão com
seus braços a salvar a Cidade de tão grande perigo, e os outros pagão o donativo de
quinhentos reis todas as vezes que por seu turno são obrigados a esta defeza, digo
obrigados á defeza deIla. Este Povo, Senhor, que a pezar de todos os sacriticios sem-

128
Do À ARCA DE NOÉ

pre tem feito com incansável trabal-


ho huma tão e auxiliando por meio delta o Commercio
e que para conservar sem mancha a do Nome he que
tem succumbido inteiramente aos da este Povo atenua-
do por este

sombra de seu
soladora esperança humildemente hum n1'fwnntn
hando o progresso de sua
devendo
de V.A.R. que os e tanto seculares
como Eccleziasticos todos conferidos a os filhos e não que
nunca a nem tem concorrido para a salvar de suas ruinas. Deos Goarde
a V.A.R. muitos anos. Funchal em Camara seis de Dezembro de mil oitocentos e
Jozé Nabucho Jaze Esmeraldo Antonio Jozê
de Carvalho Pedro Teixeira de Vasconcellos
Francisco Perestrello e Camara "" Antonio João da Silva Costa Francisco Xavier
Amorim == Francisco da He se contém na referida "Pl'Il'p"pnt'Q
que fiz Funchal 5 de Ju1ho de 1816. Bernardino
Joze Pero da

Bernardino Jaze Pero da Camaru


111 n"

PAULO DIAS DE ALMEIDA 1817

",,,,'~n."'YrlI,V DA ILHA DA MADEIRA

Toda a ilha da Madeira é cortada de imensas ribeiras e delas


só caudalosas no
rochedos descobertos. Todas as
grosso e só se acabam as aparecem pequenas
que com as enchentes e vazantes das se tomando a
fonna de calhau.

'1"''''''''<4,'''' de que
enche uma levada dois
do por lhes terem a maior
A cios arvoredos é

esses restos das se conservam ainda nesses mais escabrosos


este mal remediável. As cheias que sucessiva-

129
ALBERTO VIEIRA

mente tem havido, têm a sua origem na destruição dos arvoredos e as montanhas que
não há muitos anos vi cobeltas de arvoredos, hoje as vejo reduzidas a um esqueleto.
O Paúl da Serra, único terreno reservado para os prados do público, se acha hoje
sem matas. Tem chegado a tal ponto a negligência das Câmaras que, consentem não
só que se cortem as giestas em t1or, mas até que se lhes larguem fogo. O Paúl é o
receptáculo da maior parte das fontes, e das mais abundantes, bastante motivo para
merecer a atenção das câmaras.
Nos meses de Maio a Julho todos os anos os nevoeiros consomem uma grande
parte das novidades, principalmente as uvas quando estão em t1or, formando um
cordão em torno da ilha e ficando o centro descoberto.
O centro da ilha se acha todo descoberto de arvoredo, com apenas algumas árvores
dispersas, e isto em lugares onde os carvoeiros não têm chegado. Se tivessem posto
em execução as Ordens e Cartas Régias relativas à conservação dos arvoredos, não
teriam a cidade e as vilas sofrido os estragos do memorável aluvião de 1803. A
experiência tem mostrado que a falta de arvoredos pelas margens das ribeiras e
declives dos montes que sobre elas desaguam, é a causa da imensidade de rocha e
terra que com as chuvas vem atulhando as mesmas ribeiras, cujo alveo, hoje está
superior às ruas da cidade. A praia do Funchal, se tem alongado ao mar, desde 1803
até 1817, 150 palmos e em partes 250 e mais, com os entulhos que as ribeiras deposi-
tam.
Em 30 de Outubro de 1815 pelas 5 horas da tarde, houve uma aluvião que levou
quarenta casas e arruinou outras, inundando ruas, e se fosse à noite muita gente mor-
reria afogada. A ribeira de S. Paulo chegou a trazer uma coluna de água e rochedos,
que ocuparam a largura de 60 palmos e 30 de alto. Entre as pedras que ficaram no
leito da ribeira, junto ao mar, havia uma de 20 palmos quadrados, e de 10 palmos
muitas. Esta enchente durou uma hora.
A maior parte dos caminhos são pelos altos dos lombos, atravessando ribeiras e
ribeiros, muito mal delineados, e muitos em roehas precipitadas, outros em salões,
onde as chuvas têm feito escavações de mais de 30 palmos de alto.
( ... )

Povoaçüu da Ribeira da Janela

( ... )
No Inverno com a ribeira cheia ficam sem comunicação com o Porto do Moniz,
por não terem ponte. A serra desta povoação é linda e ainda conserva muito arvore-
do antigo, apesar ela destruição que todos os dias fllzem os habitantes. É nesta serra
onde há muitas e abundantes fontes, que se perdem, podendo ser aproveitadas em
benefício da cultura.
Na origem desta ribeira é onde estão as copiosas fontes do Rabaçal, que igual-
mente se podem aproveitar. Da paróquia do Porto do Moniz ii igreja da Ribeira da
Janela, são três qmutos de légua e gasta-se uma hora.

130
Do À ARCA [)E NOÉ

e vila de Machico

É fundada em um pequeno cortado ao centro ribeira de


Machico e dominada por altos montes.
Pelo aluvião de 1803 foi a maior da vila
maneira que os altares ficaram cobertos de casas se a
de três arcos demolida e e deitou por terra a muralha que
va a As casas que se não abateram ficaram e que estão ao
Poente da são muito húmidas por causa dos inhames que conservam nos
esta que só se com muita
Tem uma boa onde por vezes têm fundeado corsários. O Forte do
Desembarcadouro ou de São João a artilharia que tem está toda no e
a do Forte do que está no centro da acha-se no mesmo estado. As
peças são as balas que têm são de calibre de outras peças, e as
tas em muito má
As serras desta vila estão das
Porém isto deve-se a Manuel Tela entusiasmo
cultura o a comprar para assim escapar aos carvoeiros que
destroiem as matas com os
É nesta que o Veloso fez introduzir a batata e que
se tem muito em toda a assim como introduziu a dos
que se não tem continuado por falta de da Câmara da mesma
o que deu causa a em bem pouco até as sementes. Os
terrenos que foram cobertos de estão reduzidos a bar-
indo a terra sucessivamente para o mar e em poucos

distrifo da Ribeira Brava

As entre si são muito e por entre a


com a Serra de é e só se passa bem no Vcrão
a ribeira trás pouca Os caminhos em são muito mal
estreitos e com Em muitas os cavaleiros só passam a e
fica 110 Inverno incomunicável por muitos dias por
onde se conservam matas de soberbos
arvoredos e estas se tem destruído muito nova que se anda fazendo do
alto da serra do Estreito de Câmara de Lobos para São Vicente.
Se não derem boas a dos cortes de madeiras e em
pouco consumirão estes restos de e secar-se-ão as muitas fontes que
rochedos e estas se a benefício da cultura das
..."",,,,,,,", vizinhas.

3
ALBERTO VIEIRA

Sétimo distrito da Calheta

( ... )
A cultura das vinhas na Calheta é toda em precipícios formando sucalcos de pedra
pelas encostas das lombadas e têm muitas partes abandonadas, por que a terra tcm
ido com as cheias para o mar. O alto da serra se acha inculto, com os caminhos pés-
simos e perigosos. Os terrenos dos Prazeres, Maloeira e Raposeira são lindos, com
muito pouco vinho, pois a grande parte da cultura ali é de verduras, legumes e
batatas.
É nestas freguesias que as mulheres trabalham mais que os homens. São elas que
°
levam os gados ao pasto, que conduzem gado à serra, que fazem o corte das lenhas,
e por isso são mais robustas e os homens muito acanhados
( ... )
A freguesia da Ponta do Pargo tem magníficos terrenos incultos pela falta de água
que nem para os moinhos têm e são obrigados a levar o grão a moer ao Porto do
Moniz. Têm planos extensos entre as povoações sem cultura. Abaixo da igreja paro-
quial de S. Pedro há uma grande porção de terra que podiam semear de pinheiros,
para sustentar as terras que continuadamente vão para o mar, pois há partes em que
já não.
( ... )
As Câmaras nesta parte têm sido muito descuidadas e não obrigam a cultivar às
pessoas que o podem tàzer, concedem licenças a troco de 400 reis que esta custa, para
cortarem o arvoredo que quizerem, com a condição a que seja distante da água, e isto
não se observa porque os meirinhos da serra são sempre campónios pobres e depen-
dentes dos cortadores. O mais que sucede é proceder-se à devassa, e nela geralmente
ninguém é compreendido. Assim também fecham os olhos à proibição dos carvoeiros
que continuadamente deitam fogo debandado na sen·a. Isto tem sucedido muitas
vezes e são estes que tem destruído a maior parte dos arvoredos das serras. Fazem o
carvão em covas feitas na terra, e como não há água nos sítios onde o fabricam, com
muita íàcilidade se comunica o fogo pelas raízes das árvores, e com muita dificul-
dade se apaga, por serem enOlmes os rochedos, onde se não podem fazer as alertas.
Tem sucedido arderem lombadas inteiras e chegado o fogo às casas, como sucedeu
no Curral das Freiras no ano 1807, fogo que durou quinze dias. E a não ser os altos
rochedos que dividiam as outras freguesias seria um continuado fogo e sem remédio.
Também tal tem sucedido em consequência das roçadas que fazem na giesta para
queimar e depois semear o trigo.
É uma mania introduzida na ilha, que semeada a giesta e ocupada a terra por 5 ou
6 anos, largando-lhe fogo produz melhor pão.
Em primeiro lugar não posso conceber que se ocupe celta porção de terra 6 anos,
tirando a pouca substancia dela; em segundo lugar largando-lhe fogo e ressecando-a
para semearem, de cuja sementeira apenas recolhem a semente.
Enfraquecem a terra com o fogo e depois a abandonam. Eis aqui de onde proce-
dem as quebradas, porque a ilha é toda cortada de ribeiras e ribeiros, muito próximos
uns dos outros, fonnando altos lombos, e nas encostas deles é onde fazem as roçadas,
que depois despresam tirada a primeira colheita.

132
Do Á ARCA DE NOÉ

As lombadas quase todas são formadas de uma mistura de solta e e


na uma tona que apenas tem I e 1/2 de que estas chuvas
ficando a solta e ao que o sol resseca
cai.
é a que menos sofre o dano dos poucos
arvoredos.

Dias de da Ilha da Madeira", in Rui


Dias de Almeida e JP~.(,I·"'VU' da Ilha da

PROJECTO SOBRE O RIsSTABELECIMENTO DOS ARVOREDOS


E SUA COMPETENTE ECONOMIA NA MADEIRA

1.- A ruína das matas, que nestes últimos tem nossas mon-
he facto notorio. Eu não me demorarei em causas: todos altamente as
""".,., ___ , Forão as indiscretas rotêas de e o incrivel desleixo de não remediar
ao crescente consumo de
As inda que

encostas sohre as margens das


nua rocha Oll relva. Devem
á cidade e por

~v,""'''~. nas ditas todo o terreno


ou embardada uma del1as: se cuidará
em nenhuma como os
larices. Nos intervallos e em todo o resto, hade-se entreter bastante a
por hum anno o Funchal e suburbios. O mesmo he
5 annos, ás outras areas e em todas.
effectuar as cercas no anno, não se faltará a sementeira e
4.- As encostas das ribeiras e
do

authoridade. Eis em SUlllma todo meu


modar-se a todos os '-'UI l'-"U I
aPl'eS(mtaI seus
devezas da Serra vão offerecer ao
de dia em dia mais raros e

133
ALBERTO VIEIRA

postadas, nos preparão, não só madeiras de todo porte, mas abrigo, avultadas balisas
e fiel guia ao viandante, quando o graniso e caliginosa neblina lhe escondem todos
os vestigios. Quantos miseraveis terião escapado á morte, se encontrassem semel-
hante auxilio.
6.- As devezas das ribeiras, com suas dependencias, além de bellas arvores frue-
tiferas, vão fornecer, quasi á porta do paisano rustico, os aprestos indispensaveis que
elle hoje procura a grandes distancias, sobre seus hombros, entre precipicios. O
entrelaçamento de tantas raizes, serve igualmente a sustentar terrenos declives, pre-
venindo quebradas, repreza de aguas, horriveis explosões. Por falta deste regimen, os
dispendiosissimos encanamentos das ribeiras, como logo protestou seu habil
Director o Brigadeiro Oudinot, serão por fim malogrados, e até nocivos.
Que poyos ahi se encontrão para viveiros vegetaes de maior economia e desem-
penho!
7.- Tantos arvoredos, tantas tlorestas de toda a parte verdejando, se prestão
amplamente aos adubos d'agricultura. Poderião então arranjar-se, em grande, as
estrumeiras vegetaes, pratica da mais preciosa economia; mesquinha ate agora ou
desusada por falta de materia. A facilidade de ajuntar herva e rama para os gados
domesticos, poupar os braços da vinha, que hoje desatinadamente despimos; huma
das evidentes causas de seu conhecido atrazamento.
8.- Os gados errantes e a mesma caça não lucrão menos: acharão a cada passo
asilo e sustento. Mais os não veremos acoçados do inverno e da fome, descer aos
cazaes, invadir nossas bemfeitorias. Só então será dado dispôr de huma boa legoa
quadrada, em maninhos no termo da cidade; cessando de si mesmo a rapina geral,
que nas presentes apertadas circunstancias he forçoso disfarçar para haver pão e
vivenllos.
9.- O annual reziduo matas accumula as annuaes camadas de terra vegetal, que
se irá progressivamente dilatando. Sem aggregado esponjoso é maiss hum embaraço
á perigosa contlllencia das agllas tluviaes. Terao estas tempo de saturar as terras e
calar por seus intersticios.
Hão de mais abundar as levadas, hão de pullular fontes e regalias ao industrioso
cultivador.
10.- Que direi de nossos gados merinos, já tão felizmcnte naturalisados em
Palheiro de FelTeiro ? De suas lans, tão notaveis nas fabricas de Inglaterra? Quantas
vantagens nos não promette esta abencoada raça oriunda de nossas visinhancas, tão
accomodada á nossa topografia, e graduada variedade de climas! Para largamente a
ffillltiplicannos e com ella os cazaes pela maior parte das serras, só resta converter
mirradas chamecas, em agazalhadas hortas e viçosos prados espontaneos, effeito
necessario do novo systema.
11.- Outro resultado inda mais ponderoso he que em nossa hypothese as
marcesciveis massas vegetaes bastecendo as encostas das ribeiras, picos e lombadas,
até aos altos da ilha, aprezentão mais força aetractiva á humiilade athmospherica ou
a seus elementos. Os pesados nevoeiros occidentaes, que ha treze annos nos
perseguem; ahi batidos, condensados, desfeitos em copiosos orvalhos, tem de perder
sua qualidade corrosiva, antes de darem nas vinhas e pouco a pouco mais leves, vel-
as-hemos ou dissipar-se ou coner á sen"a. Verdade he hoje de triste experiencia; ror-

134
Do ARCA DE NOÉ

fião as barras maritimus ? eH-as sobre as '-"""''''"', abi


se estacionão e tudo consomem. a '-'O'''"Cl1i'', D.
lsabel Barreiro erão vestidos de arvores e H",<ta,,,,"l nunca foi nem tão

das aguas nativas.


12,- O calor dos arvoredos os climas. Viremos talvez a fazer
todos os altos ilha como ja fmão n'outros os Ferreiros do
Juncal. Ainda ali nol-o attestão bem claros taes são os basaltos em
cunhaes e differentes peças de
dos seculos. Huma família existe na

17- , affirmava não serem


mais a causa de taes variedades
mesmo espaço e de tanta em tão differentes latitudes Sem duvida a falta
dos nenhuma outra se
13,-He de nossa rural economia
vão ri"",,,,,,.,.,,,·,,,,.. nos pos-
venerandas florestas.

reservatorio commum e manancial de Hum bom Governo as saherá poupar,


as saberá destramente accommodar a todos a todos os terrenos, a todos
os ramos de e o mais he que desembolso para tantas nem por
isso nos assusta. Só as devezas da serra demandaríão em suas cercas
que ainda muito se attendendo aos naturaes ,~""·,,,,I,,,,..,o
HUJIl .... 1"01 , que melhor

14.-- com tudo a verdade em tão essencial


A esse fim cuidei em orçar com a maior cautella as sobreditas cercas, assim
como suas suas e indistinctamcnte todos os trabalhos respec-
que terao de ser pagos Fazenda tudo em seis mil cruza-
mil reis por al1no. Passados os
para seu novo amanho.
",,";U"'U-",". como ha muito está resolvi-
dos mencionados povos incultos de pro-
e desde 50 mil reis ahi pagos annualmente ao dono
da terra. Vendidas suas bemfeitorias valor de não menos de hum conto, vem a apu-
mil reis. Abatidas do andará o dis-
de 150 mil reis em cada hum dos dois annos.
não ha dífticuldade em
em cohibír o bando alfario
que não deixarião

seLls
esperançosas mattas.

135
ALBERTO VIEIRA

Cumpre por tanto, em vez de requintar penas na forma costumata, congraçar pre-
liminarmente com os direitos da natureza, nossa ordinaria policia. Tudo está em
soltar-nos da cruel alternativa de ou perecer á mingoa de combustiveis ou invadir os
dominios alheios. Acabem para sempre tão barbaras collisões: he quanto pre-
tendemos e quanto basta.
16.- Hum dos meios efficazes de tal conseguirmos seria vulgarisar o carvão min-
eral desde já, coisa facilima, se o soubermos conservar a baixo preço. Quanto a mim
o grande passo decisivo, seria alivial-o dos 15 por cento que paga de entrada, direito
hoje insignificante ao Erario, que huns annos por outros monta a... Eis o que eu pro-
poria tão sómente por 6 annos. Entretanto ganhão-se milhares de braços: crescem
nossas devezas de ordinario serviço e restaurão-se os arvoredos. O carvão de pedra
vindo-nos a troco de vinho traria mais essa vantagem ao nosso commercio e indus-
tria.
17.- Huma providencia chama outra; diminuida assim a necessidade da lenha, he
indispensavel acudir a tantos infelizes que vivem daquelle tracto. Cumpre dar-lhes
outros meios honestos de subsistencia; estão tambem achados, em se facilitando a
cultura da batata inglesa (sem ilha) inda mal propagada apezar de se dar bem em toda
a ilha, porque nos vem mui barata de tora e não faz grande conta cultivaI-a. He hum
dever de primeira ordem representar quanto merece ser protegido tão importante e
tão desattendido ramo. Ao mesmo tempo que liberalmente se nos franqueasse a
entrada ao carvão, deveria fechar-se de todo ás semilhas. Este alimentos grato aos
ricos e pão quotidiano do pobre, reclama os mesmos auxilias em Portugal, tão sabi-
amente acordados aos cereaes. Os argumentos são obvios e identicos; he escuzado
repeti l-os. Os nossos CaJTetoens passarião de boa vontade a cultura da semilha em tal
caso mui lucrativa. A visinhança das estradas centraes sobre tudo, lhe deve ser inde-
fectivelmente franqueada.
18.- Tenho em fim concluido, e só me resta desejar que não percamos tempo. Se
todavia agrada a presente indicação, he bem desde já principiannos. Reduz-se a
em preza toda a cinco pontos capitaes. 1°. Delinear, fechar, povoar cada anno huma
das áreas designadas, conforme o artigo 3. 2° Reservar para arvores, arbustos e per-
petuo balsume, as encostas das ribeiras e lombadas, nos tennos do art. 4.3. 0 Requerer
se tirem os 15 por cento ao carvão mineral. 4° Fechar o porto a todas as semilhas de
fóra.
Approvado que seja: energica e effectivamente apoiado o nosso projecto, entendo
que deve logo passar e quanto antes, a Camara ou a quem direito fôr, para seu devi-
do cumprimento, dada todos os annos conta ao publico da respectiva despeza e pro-
gressos. Funchal, 22 de abril de 1822. (a.) José Maria da Fonseca, Inspector Geral
d' Agricultura.

[Arquivo Histórico Ultramarino, Madeira e Porto Santo, 111.6963, publ. Eduardo


Castro e Almeida, Archivo da Marinha e Ultramar. Inventario. Madeira e Porto
Santo II. 1820-1833, Coimbra, 1909, pp. 61-63]

136
Do À DE NoÉ

COIUtEIO DA

tum::; se pensa no
convencemos da
esta

pum fertel izarcles vossos campos, para cullivanles terrenos


quc

mais
arvoredos que
machado e a foice.
que tcem dedicado o seu
excitai os outros, com van-

dos ventos, a nalurezo


prosperar n'um c e com estes
J1xar um malhodico a

mas também Intel'-

das scrrus '? Parece-nos quc nno.


não é um que se c!'uma vez, ncm n'ul11 só mmo. l~ 1'1'0-
espel'm' que as UI'VOt'cs scmeadas ao estado de ser trans-
abril' as telTas, e na maior não entra o arado, mas
a cultlll'U se torna é l'azuJ'
não hn meios e ainda que os houvesse lillta de

Por tanto que li

COI1-

subsistir sem que


sacril1car estes inutil-
mente.
Dando-se tl este que cllc rcquer,
parece que haver uma concentrando-

137
ALBERTO VJEIRA

se n 'um só ponto as attribuições que se achão espalhadas entre as diversas authori-


dades. Só assim póde haver unifomlidade de plano, pernmnencia de execução, e
coherencia de sistema. Os administradores devem ter ordenado e responsabilidade.
As Camaras Municipaes já muito sobrecanegadas de trabalhos e despezas, com-
postas geralmente de pessoas occupadas com os seus negocios, e que pouca attenção
pódem prestar ás cousas publicas, servindo além disso gratuitamente, não podem
fazer proveitosamente parte d'umabem montada administração florestal.
Mas por se não poder executar este systema em grande escala, como nós o con-
cebemos, nem por isso se deve deixar de fazer tudo quanto é possível executar cm os
alimentos de que se póde fazer uso.
A cultura t10restal a que se tem prestado mais alguma attenção é a de pinheiros,
porque é pouco despendiosa, e dentro em breves annos, começa a dar lucro ao culti-
vador. Com dous mil reis compra-se a semente, lavra-se, e semeia-se um alqueire de
terra.
Parece que sendo pequena a despeza, certos os lucros, e não muito demorada a
expectativa de rendimento, devia estar aproveitada nesta cultura uma muito maior
extensão de terra inutil, do que a que se tem cultivado.
A regra d 'alguns economistas -Iaissez faire, laissez passer- é muitas vezes falsa.
Muitas vezes é preciso constranger e obrigar a fazer cousas uteis. Quem tem terras
aptas para cultura florestal, e que estão desaproveitadas e perdidas, deve cultivaI-as
por si ou por colonos, arrendaI-as, at1oral-as, ou vendeI-as para esse fim. As terras
devem ser cultivadas em proveito dos vivos, e não pernlanecer incultas para esteril
ostentação.
O corregedor Velloso para animar a cultura dos castanheiros fixou os preços pelos
quaes elles devião ser pagos aos colonos, no caso de despejo; preços que ainda hoje
regulão.
Para animart mais esta cultura e a dos carvalhos, e outras arvores uteis seria con-
veniente estabelecer-se um preço vantajoso, que estimulasse os lavradores a plantal-
as.
Os carvalhos, como se observa, prosperão perfeitamente nesta ilha, ainda a
grandes alturas. No Palheiro Ferreiro, no Monte, ha arvores lindissimas.
O carvalhoé uma arvore muito util. É abundante de folha, de que o gado come com
avidez, ainda que se lhe deve dar com parcimonia. A casca serve para curtir coiros;
a bolota é o melhor alimento para engordar porcos, e torna a carne muito saborosa.
Mas ao mesmo tempo que se estabelecesse um preço vantajoso para animar o
lavrador diligente, devia tomar-se uma precaução necessaria para evitar que os mali-
ciosos tirassem dahi injusto proveito.
Uma cousa é um pomar e outra cousa é um viveiro. Ha colonos que para aug-
mentar o preço de suas bemfeitorias plantão os castanheiros a tão curta distancia uns
dos outros, que nunca chegão a formar boas arvores, e ficão sempre acanhadissimos.
Não se deveria pois pagar ao colono senão tantos pés quantos rasoavelmente
podessem prosperar, considerando-se aos outros como inuteis, porque se devem
arrancar.
Ha muitas variedades de carvalhos desconhecidas nesta ilha, cuja introdução
muito convinha promover. Admira que n'um paiz, em que ha centos d'annos se está

138
Do ARCA DE NOÉ

ainda se não tenha tractado de cultivar as arvores que dão a


madeira par o officio de havendo tanto terreno inutil que se
occupar com esta cultura
Temos sido e somos desleixados e É accordar deste lethar-
go, nossas terras, e melhorando todas as culturas uteis ,
fazendo por todos os meios ao nosso alcance que as nossas calvas serras se revistão
outra vez da sua verde e cama.
Véde essas ribeiras que atravessão a não tazem durante o verão urna
Arborisai as serras, fareis correr agua com abundancia nas e ainda
sufficiente para desta infectada na do verãode mias mas
que se não forão as brisas e salutiferas do mar, que os diss-
mais a saude dos habitantes.
d'utilidade leva annos, ha um
curta
D'ordil1ario homem tem pressa de gozar; e se a esperança cio gozo se não
se apparece n 'um futuro remoto ou não começa a empreza, ou affrouxa
na !
IJU\'vl1,lU~
gozar, nossos filhos e mor-
reremos com a de ter deixado um bem sobre a terra, em virtude do
será a nossa memória.
A authoridade tem de não só para o pre-
o."r,1(':"(\ actual e preparar trabalhos para a ger-

memoria será sempre não tivesse


não existiria em o extenso donde tem
e que dá lenha para o consummo de todos os
moradores dos arredores.
sinceramente que se assente n'um e de trabal-
incessante e resulte repovoarem-se as nossas serras.
Oxalá que o não em como por mau fado
acontece a todas as emprezas uteis.
faz-s um eminente ao o maior que

DA lVlfllJL;'l1LrL. N 1. 32 , sabbado 8 de Setembro de 1 p.

ISABELLADE

O Sol subia entre nuvens de Ollro que tornavam as ondas num lllal' de
e por todos os cômoros e de uma claridade
ténue e ainda na sombra tomavam a pouco e pouco
cor-de-rosa e branco. Esta gama varia-

139
ALBERTO VIEIRA

da parecia reflectir-se nas pedras como a luz através de um prisma, dotando-as de


suavidade e brilho indiscritíveis; lentamente, enquanto o Sol avançava, os picos mais
eminentes faziam-se doirados, e a luz amarela dispersava-se devagar sobre as serras.
Surgiam agora os pinhais verde-negros, os soutos, os canaviais verde-claros. Ao
mesmo tempo a claridade crescente revelava as fendas profundas dos barrancos
espalhados por toda a ilha. Uma a uma as quintas, brancas vivendas de campo, emer-
giam dos seus esconderijos vegetais, tal se quisessem saudar o astro nascente. As
vezes a névoa pardacenta ocultava parte dos milhares de montículos de que a ilha se
compõe, mas depois dissipava-se, deixando-os exibirem-se na beleza da serrania,
precipício atrás de precipício, espinhaço após espinhaço, ora coberta de florestas de
castanheiros, loureiros, pinheiros e muitas outras árvores, ora com ermos e áridos
cumes que ultrapassam as nuvens.
Dentro da baía jaz a cidade do Funchal, de aspecto límpido vista do mar, com o
seu casario alvo, jardins verdes repletos de loendros, heliotrópios, novelos azuis,
cafeeiros de flor branca, e milhares de outras espécies, novas para um espectador
inglês e de colorido tão brilhante que nem se pode descrever.
Eis-nos aqui, finalmente! Nunca esquecerei as sensações desse dia. Voltei à cama
por umas horas e depois levantei-me a fim de me vestir para o importante momento
do desembarque no Funchal. Ia enfrentar estranhos, gente que eu jamais vira na
minha vida; ia entrar noutra família, representar novo papel. Nada conhecia da lín-
gua, usos e preconceitos elas pessoas a quem só desejava agradar. Estava ansiosa de
ser bem recebida, mas inteiramente ignorante de como devia apresentar-me numa
terra em que tudo era novidade para mim, tal como se casasse novamente. Devo
dizer, no entanto, que o mesmo bondoso sorriso que me tornara feliz desde 3 de
Agosto de 1852 me fez arrostar com tudo isto, me dissuadiu dos receios e me colo-
cou a salvo no meu país de adopção, tão contente como quando deixara a pátria.
(... ) Também me admirei de que algumas nores, que me habituara a ver criadas cm
estufa, com mil cuidados, aparecessem aqui; em estado selvagem, à beira da estrada
ou pendentes dos muros de pedra. Havia gerânios, murtas, mimos, búlsamos, acúdas,
e roseiras bravas, dobradas, mais intensas na COI' do quc as rosas silvestres de
Inglaterra. A maior altura, surgiram madressilvas, e, depois de passarmos por
enormes piteiras, vimos grande número de açucenas cor-de-rosa e raiadas de branco.
Também os jarros crescem I ivrcmente e com abundância. Os tabaíbos crescem como
erva. Por toda a parte, abaixo de certa altitude, espalham-se pelas rochas e terrenos
não ocupados; a planta é feia, mas dá uma nor de belo tom alaranjado, e o f1'l1to npre-
ciam-no bastante: não deixa de lembrar a groselha. Até hú pouco consentiam que se
desenvolvessem onde a terra não prestava para mais nada, porém agora começam li
cultivá-los para a criação da cochinilha. No Monte, e na mesma altitude ou próximo,
em toda a ilha, há extensas plantações de castanheiros, cujo fruto, sendo abundante,
constitui importante artigo de subsistência dos aldeãos, além de que li madeiru li
valioso elemento da construção. No Norte da Ilha elll'Olélll1 11 vinha nos castanheiros,
o que dá bonito aspecto, porque trepa de ramo em ramo. Infelizmente a doença ata-
cou estas árvores e muitas delas morreram. No cimo dos montes plantaram lima
infinidade de pinheiros, a maior parte nas duas últimas décadas, mns as espécies indi-
genas, que cobriam a ilha toda quando foi descoberta, são hojc escassas e limitam-se

140
Do À ARCA DE NoÉ

quase ao norte. Há variedades à desconhecidas na


eXCelJto nas botânicas.

Atravessámos a a subir por um caminho


quase todo bem embora e aberto entre
e vinhedos. Se bem que muito não o é tanto como o do porque tem
bocados menos declivosos do que o outro e
que entre os muros,
descobrem-se fundos de em ao mar, noulros
todo o vale do Funchal com a sua "'Á',""""'" moldura marítima e as montanhas e a
cidade a meio. Conforme
Palheiro do
defunto Conde de Carvalhal onde outrora existia uma encosta nua, excep-
castanheiros Talvez em idos tivesse a sua
agora é um extenso parque, cortado em todas as por
..,,,,a.,'a,,. entre alamedas e muitas de em que se salientam
desconhecidos nesta ilha até à sua falecido conde. A
com o parque, mas tem à fi"ente
curiosas e com cascatas
montes mais altos em resultado de obras que custaram muito dinheiro. Tive pena de
mas como está ausente o moço conde e
UUJo",vV",l. não há ordem de consentir visitas. Acima do

o do campo muda inteiramente: a vinha por e é substi-


tuída por e soutos; a terra é com rochas cinzentas a
ali. Cobrem as encostas-onde não medram árvores-ervas e musgo muito
de flores fere-nos a vista brilha o Sol.
chã por um pequeno percurso, e, ao cabo de mais dois
torna-se numa dislância considerável. As

se não fosse a
adiante desce

mais
de uma viven-

na
no entanto houve intervalo sufi-
de

14l
ALBERTO VIEIRA

roda da habitação, e também para visitar uma quinta vizinha, cujo proprietário con-
seguiu obter água para fins decorativos, fazendo represas da que corre da serra. Aí
colocou uns barquinhos de meia jarda de comprimento, e até me constou que ocupa
um antigo marinheiro na sua conservação. Numa parte da propriedade há uma azen-
ha, e noutra uma cascata pequena; nesta há uns bonecos, com pesos nos pés, que se
mantêm verticais na água, e é engraçado vê-los, uns pretos outros brancos, a subir e
a descer no tanque, debaixo da cascata. Esta quinta foi construída muitos anos antes
daquela a que viemos de visita e por isso as árvores são maiores. A abundância de
água e de sombra torna-a numa deliciosa residência estival. Passámos um dia agrad-
abilíssimo na casa do nosso tão hospitaleiro amigo, e voltámos à noite. bastante sat-
isfeitos com a excursão.
( ... )
Prosseguimos. Os gerânios, mimos, balsaminas e murtas continuavam floridos à
nossa volta. Por fim deixámos essas veredas sombreadas e emergimos numa exten-
são de terra ern1a, com meia dúzia de pinheiros. Parte dela pertence ao meu marido,
mas nada produz, embora outros proprietários tenham vastos pinhais nos terrenos
contíguos.
O caminho degenerava agora num simples trilho através da serra, e nós fomo-lo
galgando até chegar à Encumeada, donde se avista o mar de um lado e outro da Ilha.
Saímos da rede e seguimos a pé ao longo da crista, entre ervas, fetos e urze, admi-
rando a braveza e majestade do panorama. Em volta de nós erguiam-se montes sobre
montes, sem nos tirar no entanto a vista do mar, que era, como disse, dos dois lados.
Para o sul a parte habitada do país terminava no baldio a que viéramos ter, ao passo
que para o norte se descobria o vale da ribeira da Janela, de imensa profundidade,
com as encostas cobertas de árvores que formavam uma contínua massa de fol-
hagem, excepto nos pontos em que afloravam enormes rochas nuas. Na nascente
desta ribeira ficam as tàmosas quedas de água que nós íamos ver. Aqui há cabras
montesas, vacas e cavalos, que vivem em liberdade na serra, longe dos homens, em
lugares que pareciam inatingíveis por qualquer animal desprovido de asas; contudo,
andavam cabriolando ou pastando sossegadamente, como se o terreno fosse per-
feitamente plano. Estes animais são propriedade de diversos donos, de quem osten-
tam a marca; quando é necessário, caçam-nos com cães ou abatem-nos a tiro. Como
não possuímos o dom de nos equilibrarmos no ar, vimo-nos forçados a reocupar as
redes e ir por outros desfiladeiros e sobre o tunel pelo qual deveríamos voltar. Ao
a1cançam1os as proximidades do Paul da Serra, larga extensão de tena ondulada
entre os picos das montanhas, desfrutámos o panorama do vale do Rabaçal e vimos
a grande distância a casa que nos serviria de hotel para repousarmos e almoçarmos.
Começámos a descer para o Rabaçal, numa sucessão de ziguezagues a formar o
que chamam caminho, cortado entre uma floresta de loureiros e murtas e outras espé-
cies sempre verdes, as quais crescem tão unidas que tudo aquilo parece um emaran-
hado de folhas. A descida é o mais assustadora possível: a rocha em que foi talhado
o caminho é tão Íngreme, tanto em cima como em baixo, e esse caminho tão estre-
ito, que ao passar a rede nas muitas voltas se diria que pende sobre o precipício, sem
se ver uma nesga do chão: fica literalmente suspensa no abismo! Surpreende notar
com que domínio e firmeza os homens a conduzem por estas alturas vertiginosas. O

142
Do ARCA DE NOÉ

em falso sem remédio a dos da


rochas até à ribeira que fica lá em baixo a umas centenas de
por fim ao termo destas "voltas" terríveis e
''''f'U.'U''J~ de alívio. O caminho tornou-se
sobre a nossa e outra quase
última descia para a e enfeitava-se de variedade de
musgo e l10res que nasciam das fendas abertas
velozes e De vez em musgo cor de no meio de
outros de vários e belos matizes: e todos os tons de
e cinzento. Os fetos tinham também uma infinidade feitios e
enormes, outros tão pequenos que mal se lhes a uns de tbl-
espessas, outros leves como E o verde brilhante de todas estas
contrastava com os fios da
rocha. Em à beira do

Da outra banda da ribeira levantavam-se também


de todo o de fetos e musgos.
de aI tearem-se t10res por toda a
tões de verdura exuberante. Várias que aumentavam de tamanho e de
dor com a manavam entre as cm estando
estes lindos caudais de e

sus-
"'"u".V"'~
que
e mais de
uma centena de do cimo do rochedo e caindo
sobre o leito ribeira. A rocha é tão alta que, vista de
ta no azul do céu como se fizesse

por um
desse cedeu ao peso ele um rapaz que se aventurou
ele escapou de ser devorado ao resto da c
morreu poucos anos de febre nas lndias Ocidentais. É claro que não

143
ALBERTO VIEIRA

desejei repetir essa perigosa experiência e senti-me satisfeita por ficar seca deste lado
da arcaria; meu marido é que foi por lá com um guarda-chuva, embora não achasse
muito necessário arriscar aquele avanço. Tomámos água dessas fontes que, já se sabe,
era fresquÍssima.
( ... )
Pelos animais que vi na serra, posso dizer alguma coisa sobre a fauna da ilha. De
quadrúpedes, não existem mais nenhuns realmente selvagens além de coelhos e
ratos; tàla-se de gatos bravos, mas suponho que descendem dos domésticos que
foram abandonados no mato. Os cavalos, vacas, ovelhas, cabras e porcos, que andam
por lá livremente, têm todos dono. como já observei. Os cavalos criados na ilha, quer
nas montanhas quer em estrebarias, são na sua maioria pequenos e, em geral, fracos
especímenes, embora alguns sejam bonitos e úteis; não maiores do que os Shetlands,
mas com toda a simetria de um puro-sangue, muito fortes, de pernas rijas, e mansos.
Muitos dos cavalos do Funchal vieram do estrangeiro. Há poucas mulas e burros:
quase sempre insignificantes e utilizados somente para transporte de carga; não exis-
tem mais do que dois ou três exemplares de cada espécie capazes de serem monta-
dos.
As vacas e bois são bonitos, pouco maiores do que os burros, todos da mesma cor,
amarelo claro armivado, variando, mas de leve, no tom. Meigos, inteligentes, quase
todos criados em telheiras e alimentados à mão, e pacíficos como parecem; mas os
que andam à solta pelos montes são bastante ariscas; únicos animais de tiro na ilha,
porque os cavalos se usam para sela, excepto quando algum cavalheiro estouvado -
estrangeiro, em regra decide exibir um cabriolé ou faetonte, na Estrada Nova, ou cá
e lá nas poucas ruas planas, com todos os garotos da cidade a gritarem atrás. Já men-
cionei os trenós do Funchal, e as carroças, ambos puxados por bois ou vacas, que
trazem feiteira das serras. Também puxam o arado, onde o terreno for suficiente-
mente chão para o consentir. Para leite, têm aqui algumas vacas exóticas.
As ovelhas parecem-me pequeníssimas, de cauda comprida e muitas delas mal-
hadas. A lã é grosseira e a carne escura e rija. As que se guardam em barracões apre-
sentam melhor aspecto, sendo às vezes cmzadas com raças estrangeiras. É hábito no
Funchal pôr uma ovelha num estábulo, onde pode engordar com os desperdícios da
comida dos cavalos. São sempre bons amigos e podem ver-se comendo ao mesmo
tempo, um e outro com o focinho na manjedoira, a ovelha de pé nas patas traseiras.
Se a deixarem, seguirá o cavalo para toda a parte. As cabras não são grandes, mas
existem em larga escala; embora o povo prefira o leite de vaca, o daquelas não deixa
de ser bastante utilizado. Os vilões têm o mau sestro de as ordenhar à beira do cam-
inho, onde se embaraçam nas pernas dos cavalos, com risco de serem precipitadas.
A pele de cabra usava-se no tempo do vinho para o transportar até às pipas, fre-
quentemente a algumas milhas de distância, quando a estas não era fácil trazê-las ao
local da vindima. A pele é voltada do avesso, cortam-lhe a cabeça e os pés, e as aber-
turas assim fon11adas ligam-nas com cordel. Ao distender-se, dá a impressão de
estranho animal acéfalo. E que espectáculo singular o de uma fila de homens a descer
pelos montes, com essas peles cheias aos ombros!
Nem todos os cavalos serão capazes de conduzir um borracho, ou pele de cabra.
Não é raro os camponeses venderem aos ignorantes carne de cabra por carneiro,

144
Do ARCA DE NOÉ

mostrando um tufo de lã para o provar, o que conseguem com o exame da amostra.


Os são bom e não se dos do mesmo taman-
ho.
Os porcos são quase sempre Parece que ±àzem muito dano
nos escavando as raízes das feteiras e às vezes destruindo as
isso a Câmara que os não tem sido
senão pOllCO a sua
Deles se faz excelente carne ~'''b''--'
Já me referi aos horríveis cães dos camponeses. São mas de
pequenos e quase todos amarelos ou malhados. Constituem um
nas correndo da porta das vivendas para ladrar e morder as pernas
dos cavalos os transeuntes decentemente ou ao dos muros para
ladrar também aos ouvidos dos que passam. Há ainda cães temíveis no de
se diz: não têm ea é de uma feia cor
de terem sido escaldados. Existem também cães
uns animais !';Lua,,,,",,,, a que chamam
ao <1H::ll,'lIUU-"<;; a mim e costuma-

va vir ter aos estendendo-me a


sempre que me encontrava.
Os aos de toda a
como parece. Há lima raça
''''''''-l'.I''L malhas.
De aves existem muitas da
Temos a pequena chamacla manta, ave capaz de arrebatar um
cordeiro ou um cabrito. adulta mede cerca de três de a cor
'-''''Ca._IlHU-''''''lIU'', mas nunca vi nenhuma de para a clescrever melhor. Vive cm
entre os altos e raras vezes aparece nos habitados.
Abunda em toda a Ilha um de falcões pequenos, a que chamam
muito bonitos mas daninhos para as aves domésticas.
Embora pouco numerosos, encontram-se mochos nas montanhas.
Há em pequena codornizes. Em número
razoável existem
As vezes caçam-se e só arribam quan-
do o está muito mau na
Da costa de por vezes aves bastante que todavia nâo
fazem Em bandos tem-se visto bravos e, de a tem-
pos, um grou, com outras aves menos conhecidas. O melro o tordo
rareia.
Abundam os tentilhões e muitos mais bonitos do que na LUr,"'I.'-"
ea da temea tem as mesmas cores da do
ença de serem menos vistosas. Os são quase
bandos. Os também andam em bandos. Os
onde se e há canários que lembram
verdelhões.
A é mas não em excesso. Tenho visto o seu canto descrito como

145
ALBERTO VIEIRA

algo de sublime, nos relatos da ilha fcitos por londrinos quc não perceberam tratar-
se de um pássaro frequente na Inglaterra.
Como noutra parte qualquer, vimos aqui andorinhas e gaivões, durante o Verão.
As alvéloas, a que chamam cá lavadeiras, são abundantes e de mais de uma espé-
cie. Há duas ou três cspécies de gaivotas. A plumagem é mais escura do que as do
canal da Mancha.
Quanto ás aves domésticas, temos as mesmas que em Inglaterra. Os perus, que
cxistem em profusão, são grandes, e a t'i'eguesia da Cam acha é afamada na sua cri-
ação. No Palheiro do Ferreiro, em tempo do defunto Conde de Carvalhal, enxam-
eavam pavões c pintadas; agora quase não se vêem em parte alguma. As pombas não
são muito abundantes. Escasseiam os gansos, ao contrário dos patos. Existem imen-
sas galinhas, toda 11 gente as tem, o que explica 11 porção de ovos em todas as mesas,
a cada refcição, c de qualqucr mancira por quc possam scr comidos. A casta con'ente
das gal inhas é de pcqueno porte, de cor preta e paladar não muito agradável; porém
as de Xangai estão a substituí-Ias ràpidamente. Uma vez tivemos ao jantar uma gal-
inha assada com sabor tão pronunciado a peixc que a recambiámos logo.
Investigando o caso, apurámos que ela viera de Câmara de Lobos, onde as alimen-
tam com os sobejos da praça. O povo tem um modo singular de impedir que as aves
se extraviem: atam-lhes a perna a um sapato velho, quc elas arrastam atrás de si. Não
é este o único uso que dão aos sapatos velhos, porque com eles também batem nas
crianças. Também vi uma galinha amarrada ti um ferro de engomar e muitas vezes a
um taco metido no chão. Nalguns lugares põem às galinhas lima espécie de calçado,
para evitar que esgaravatem.
De insectos não há muita variedade. Vêem-se borboletas, sem nada de notável;
contudo as traças são mais numerosas, e aparecem semprc que se põe de parte um
vestido de lã, durantc um mês ou dois.
Escaravelhos poucos há, e muito pequenos, no campo; mas infestam as casas os
de uma espécie preta, assim como os que os rapazes designam por Cavalos do Carro
do Diabo, e baratas enormes, de três e quatro polegadas de comprimento. Há também
centopeias, de cerca ele polcgada e meia: fcias, mas inofensivas.
Criam abelhas no campo. As colmeias Ü1Zel1l-nas de um tronco ele árvore escava-
do cm forma cilíndrica, com um bocado de túbUH ao alto. O mel é muito forte e
desagradávcl. São numerosas e incómodas as vcspas. Quanto a formigas, um ver-
dadeiro Ilagelo. Nada lhcs escapa, a não scr rodeando de água. Outra praga consti-
tui-a as moscas; tcmos de ornamentar -ou desligurar - todos os quartos com estranhas
engenhocas dc papel cortado ele vúrios fcitios c pendmado, para as atrair, afastando-
as das pessoas; mas mesmo assim continuam a importunar. Com frequência me inco-
modam passeando sobre as lentes dos óculos, quando estou a cscrever ou a ler. Os
cavalos e bois li cam muitas vezes cobertos cicias e son'cm bastante com o seu ferrão.
Na serra há uma espécie ele mosca pnrecicla com a dos bosques ingleses, a qual pica
os cavalos c qU!lse os enlouquecc.
Os mosquitos são poucos, mas consta-me que estão a tornar-se mais numerosos
no Funchal desde que se cultivam os quintais elas casas. Há muitas aranhas e de
vúrias formas; algumas cnormes c Iindamcnte marcadas. Considera-se venenosa só
certa espécic, mas como isto não estú provado, o povo receia todas elas. Dizem que

146
Do À ARCA DE

a tarantula existe cá e que os vilões afirmam que ela escreve o seu nome na teia!
Talvez o porque nenhum deles sabe ler. Acrescentam ainda que as aranhas
embora o ruído em me pareça dos Também
têm uma crença curiosa acerca de certa que extrair o veneno da mord-
edura de não existem mais do que duas ou três dessas que são
cotadas como tesouros inestimáveis.
Em todos os campos abundam A noite o chilro é lfic:eSSal.lte
e combinado com o coaxar das rãs de música mais barulhento do
leste

tanta
como os verdes amarelos ou
castanhos. O corpo é quase transrlan~nte.
não existiam na
ainda novo, rãs e as
tanto que são aos milhares onde quer que se encontre uma
são muito destroem de
outro lado permanecem inofensivas. O ninho fazem-no entre as dos muros,
mais soalheira as ver ao solou correndo em
quase sempre se lhes descobre fi e os olhos bril-
dos buracos. Variam em de três a seis de CO!1l-

que semelham mãos. A cauda é extrema-


torna crescer, e muitas vezes,
renasce
não posso dizer porque não sei os nomes de várias
inteiramente novas para mim. Há poucos
tainhas e bastante
pequena,
e o congro. Dos não COIl-
e excelentes. O atum é feio
carne avermelhada e grossa. É um espee-
regressar a casa com a do atum na
bordão. A pesca do atum nã.o cou'e sem já se tem visto
puxar um homem borda fora.
O cheme é um belo do tamanho de um bacalhau e de sabor delica-
do, A abrótea a e é mais volumosa do que o bacalhau
pequeno.
O pargo é outro de de dezoito a vinte u,,,,,,,,,,.,a~ de

bonito chamado garoupa, em cima vermelho


com círculos como as
navio.
nome não é de um cor-ele-rosa forte no elesmaiando

147
ALBERTO VIEIRA

depois para branco.


Esqueci-me de muitos dos que vi e outros haverá que não cheguei a ver.
Certo peixinho designado por chicharro, parecidíssimo com o nosso arenque,
pesca-se em grande quantidade. assim como um asqueroso a que chamam gaiado.
semelhante ao atum. mas não maior do que uma cavala grande. Estas duas espécies
são raramente comidas por pessoas que não sejam pobres.
Há um ser de aspecto extraordinário, o peixe-espada. mais ou menos como um
congro achatado ou uma serpente de lata feita para um catavento. Dizem que é bom
de comer.
Existem algumas enguias de água doce, mas em lugares tão imundos que ninguém
as aproveita.
Quanto a mariscos encontram-se vários. As lagostas são pequenas. e do género
chamado da rocha. sem garras. São copiosos os caranguejos, mas pequeninos. Há
uma espécie, denominada cracas: lembram um molho de avelãs; apreciam-nas dev-
eras. Vemos também lapas e caramujos. Dos que não são comestíveis. poucos há. se
alguns. não falando do ouriço, que abunda nas rochas de oeste.
( ... )
Em poucos minutos alcançámos o ponto em que nos devíamos desviar para ir. por
uma vereda estreita, ao pinhal do nosso destino. Essa vereda segue pelo cimo de um
espinhaço, com precipicios de cada lado; a chuva tem-na corroído em muitos lugares
e do solo saem grandes pedregulhos, com giestas infezadas aqui e ali. a crescer entre
eles. Pois sobre essas pedras é que era necessário passar! O feitor não o da Calheta,
mas o que mora no Monte havia ido connosco, à frente, de bordão ferrado, e espera-
va que o seguisse. O José vinha atrás, para me segurar se eu escorregasse. Nessa
altura vertiginosa, com o calor do sol abrasante, e um despenhadeiro perpendicular a
cada banda. perdi toda a faculdade de me conservar erecta e. vendo que não podia
avançar nem recuar, pus as mãos e os joelhos no chão e rastejei pelas rochas, às vezes
agarrando-me a um ramo de giesta salvadora, outras guiada pela mão do feitor, quan-
do tinha a sorte de lhe tocar; de vez em quando olhava para trás -quando me atrevia
- para ver onde estava o José e como é que ele se comportava. Por fim transpusemos
esta perigosa passagem e chegámos ao pinhal, plantado num precipício que desce
para a ribeira de João Gomes. Era dificil manter-me de pé, porque as árvores estão
em terreno inclinadíssimo, e só agarrando-me ora a uma ora a outra consegui atrav-
essar entre elas. Meu marido arranjou-me uma pinha, para trazer como troféu. e eu
apanhei também rama espalhada dos pinheiros, que em português se chama
"França". O chão está tão coberto desta folhagem que se tomava escorregadio, con-
correndo para a escabrosidade do local. Não era possível evitar-se uma queda.
Esta plantação de pinheiros ocupa grande extensão. Mas de que serve possui-la, a
três mil pés acima do nível do mar, sem melhor caminho do que esse que descrevi?
As árvores são abatidas e cortadas sem dó pelos vilões que residem perto e que
podem manter-se e andar onde outros pés humanos o não conseguem. Saqueiam-
nas sem remorsos. Belas árvores em meio crescimento são escandalosamente cor-
tadas para lenha, enquanto as enfezadas ou inferiores, que seria vantajoso remover,
se conservam intactas; e embora haja milhares delas. todas crescem apenas para que
as roubem, quando lhes chegar a vez. Encontram-se com frequência, naquelas Íme-

148
Do ARCA DE NOl~

homens e mulheres com carregamentos de troncos de vêm


vendê-los ao e nós sabemos muito bem que hú toda a de
serem as nossas árvores que eles conduzt:m ao mercado.

de Jornal de ulIla Visita à lvladeira e a r'n;"lIl,am

1 pp: 104-1

MANUEL 1913

V H . •• L >\J DO MEU ARGUMENTO

Ahi por dias do mez de ou do corrente anilO, rebentou


um incendio nas serras d'esta lados do Norte Oeste e do
SuL
Tal hOlTOrisou a todos CIC''''',LU'' d'elJe tiveram conheci·
d'esta nossa terra, sahiram
quaes se razões e alvitres
dellcias as auctoridades constituídas contra os auctores da
Com o titulo Vandalismo e com que vinha
go que vinha no Brado d'Oeste" folha bisemanal quc se da
e o 5111'. Clemente de Freitas da secretario d'admin-
concelho.
Com a devida asim de que se possa avaliar o estim-
ulo que em mim tal doutrina.
E, considerando que, em todos os mezes do mais ou menos, ha sempre incen-
dias nas serras d'esta ilha, e isto muitos a11110S, sei Ille se possa
mente os auctores de tão condemnaveis proesas, resolvi me escrever
odieo lima série ao deante o que Director
do "Brado d'Oeste", inseriu no seu e que abre este meu modesto mas
co UI-"""'-'UlU
26 de Dezembro de 1910.

VANDALISMO

na realidade selvatico o vandalismo que se está commettendo nas Serras d'esta


ilha!
outr'ora conheceu os arvoredos da nossa fonnosissil11a do oceano e
agora a pereorre vendo-a outro remendo para lhe
occultar a medonha negra de não
deixar de exclamar:
Pobre e triste ilha! ! tu que com tanto
todos visitavam as tuas mattas e, com tanta

149
ALBERTO V1EIRA

convidavas os forasteiros, maravilhados, a permanecerem durante dias sob os copadas


arvoredos que te serviam de guarda-sol, tu que no meio de tanto assombro mereceste
um chefe c varios guardas para te deJTenderem de inimigos Jlgadaes-os carvoeiros-o
que fizeste para tão vil e traiçoeiramente te despojarern, lançando fogo as tuas queri-
das e ricas vestes?
Acaso mereces o rancor ela vibora lendaria que acalentada no seio humano devorou
as entranhas cI'aquelle que lhe restituiu a viela'?!
Assim pnrecc, mas não deve ser. Onele estão pois os teus admiradores, amigos e
estremos defl'ensores' '?
Estarão entregues a vida airada e andarão a cantar o fado'?! Não! Estão, na verdade,
no seu posto, mas inertes e impotentes.
Ora isto não pôde nem deve continuar. Ha semanas que anda fogo, posto proposi-
tadamente, segundo dizem, para devastar as unicas reliquias de arvoredo, nas Serras
dos Concelhos da Calheta, Porto do Moniz e S. Vicente, sem haver uma alma caridosa
que concorra para a sua cxtincçuo.
Este fogo foi lançado pela mão damninha do pastor.
E' clle que querendo apoderar-se das Serras para pastorear livremente (1 seu gado,
devasta tudo quanto ó util e aproveitnvel, e tudo sacrifica u beneficio do seu rebanho,
tornando-se, por isso, um ineendiario temivel e perigoso.
Um homem (i'estes nilo dcve ele existir 110 meio da sociedade. Fóra, portanto. com
os algozes das nossas Ilorestas !
.Tá que sobre o pastor reeahe toda a suspeita e sobre elle pesam as mais gl'1lves
aecusaçõcs, pedimos ao digno Regente Silvieola que volvendo, para esta repugnante
c mesquinha selvageria, os seus olhos e attenção, se digne dur ordens rigorosas a todos
os seus subordinados, ali11l de que estes, vigiando cautelosamente os incendiarios das
llorestas, lhl!s possllm applicar com todo o rigor, dôn a quem doer e chegue a quem
chegar, as penas da lei.
Providencias !"
Tal foi o nssul11pto que me fez sugerir ao espírito os artigos que seguem, dirigidos
e publicados no citado jornal sob o titulo As nossas serras.
Eil-os, pois:
Presando-me de scr um dos seus numerosos assignantes, permilta-me a honra dc
qUI!, com a minha obscurn pennll e H'lIca intelligencia, possa incorporar me no numero
dos seus collaboradores, conlessandol11e desde jú o mais humilde de todos.
Li com attcnçilo o artigo que V .. lb, publicar no scu periodieo sob o número 134,
de sabbado 1() do corrente, com o titulo "Vandalismo".
Tal artigo deve, a meu vêr, merecer II ullenção do digno chele d'este Districto, o
Exmo Sr. Conselheiro Josó Ribeiro da Cunha e não menos II do sr. Regentl! Silvieola.
A doutrina que V.. expandiu é lÜo aeeeitavel, que a importante ll)lhu d 'esta cillmle
Diúrio de Noticias,.iú se mani lestou no meiill10 sentido.
Eu, como mho amante d'estn nossa querida ilha dtl Madcira, dl.!l1tro das fracas
forças que posso dispôr, e baseado na pratica de muitos anl10S, ouso levantar a minha
voz publicamente u [lI VO!' do torrão quI.! nos viu naSCl.!r, apresentllndo lIrnllS consider-
ações relativas aos terrenos incullos, isto é, dns nossas serras.
No seu artigo a que mc reliro, queixa-se V... dos pastorcs e carvoeiros, c, realmcnte,

ISO
Do A ARCA DE NOÉ

que maior dos incendios que desde muitíssimos


e pequenas mattas, de taes
não encontram herva debaixo dos arvoredos para
maior numero de tocos ou madeira acharem
o carvão c, este cuidarão mais d'elle do que
faisca que facilmente possa ficar sem que
o carvoeiro dê por acontecer, que antes d'este
incendio no local onde foi feito o
hadas mattas das nossas
Como acabar com estes males?
se entidades a que me e as diversas camaras
se unirem para acabarem com o tão rude isto é,
solta e fabricar-se o carvão nas serras d' esta ilha.
Um decreto que baixasse dos Poderes
traria não pequena felicidade aos povos d'esta
muitisshno mais aos futuros.
Eu o d'um modo claro e desde o momento que o Govemo Central
se amereíe de ilha a que tenho a felicidade de
Felicidade! ",,,, "''''''" cI ima!
Sr, Redactor:

o que

fazer carvão e a venda o


povo em não viverá?
Provarei que viverá com maior abundancia em toda a extensão da
14 de setembro de 19 O.

É sem um por isso que os não adeantam


nem trabalho para sustentarem o seu e os seu
balho teem certo o dinheiro a que
Sr. Redactor: Não desconhece V... que todos os d'esla cidade se mani-
festam contra o vandalismo de nossas serras, I-H';:;I".'"!lICIU
a dizerem que as nossas se acham semilhantes aos escalvados da
Guine!
É um facto. se as entidades qlle me referi no supra citado numero, isto é, Sua
EX,a o sr. Conselheiro José.Ribeiro da actual e
I'U:;",C'.HI;; Florestal e as diversas Camaras

antes ao Governo de S. para que votada uma lei


a liberdade de crear-se ã solta e fabricar-se o carvão nas nossas ser-
ra8,- não serão muitos annos para que os restos das mattas que
ainda e então teremos todas as nossas serras não só como os escalvados da
mas como as rochas da Ponta de S.
E' fora de duvida que a local reclama assim como todos os

151
ALBERTO VIEIRA

habitantes d'esta ilha,-excepto os pastores e carvoeiros.


Estes e aquelles, sem duvida alguma, vão gritar agarrando-se a alguns politicos
para que não seja votada uma tal medida para o bem geral d'esta ilha.
Creio que haverá politicas e mesmo auctoridades sem escrupulo que se unirão
áquelles, e isto porque desgraçadamente a politica na nossa terra, pende mais para o
mal do que para o bem d'ella.
Creio ser um facto.
Não tenho a vaidade de que os meus alvitres sejam respeitados por ninguem,-
sendo ceri0 que muito estimaria que qualquer assignando o seu nome, em fónna de
critica ou discussão, os refutasse no todo ou em parte, -mas por uma forma leal e cav-
alheirosa a bem da nossa ilha.
Passo potianto a demonstrar o que digo: Ninguem desconhece que os arvoredos
concorrem para proteger as fontes e as aguas que correm no leito das ribeiras, ribeiros
e levadas,-combatem os vendavaes, purificam o ar, trazendo-nos além d'essas vanta-
gens as ilhas madeiras de til, vinhatico e outras, a lenha, a qual cortada no devido
tempo e com regra, abundará em todas as freguezias d'esta ilha.
Ninguem desconhece que em diversos e adequados lagares das nossas seITas se
pódem fazer culturas de trigo e centeio e muitissimo mais de arvores de fructo de
todas as qualidades, as quaes produziriam fructa em abundancia que chegaria para o
consumo local e ainda para exportar.
Ninguem desconhece que no centro da sen'a ou montanha, existe uma parochia, a
qual é a do Curral das Freiras, onde abunda a vinha e todas as plantas talvez não a
canna dôce) de que se cultiva. toda a ilha.
Ninguem desconhece que na freguezia do Seixal, um montado chamado "Montado
dos Pecegueiros", existem as mais saborosas fructas.
Ninguém desconhece que se fosse prohibido andar o gado á solta e fazer-se o
carvão, as nossas serras produziam herva em grandissima abundancia para todos
aquelles que tratam de gado, a irem buscar para o sustento d'elle.
Ninguem desconhece que tudo o que apontado fica, posto em pratica, redundará em
abundancia para a agricultura, commercio e industria, principaes fontes da riqueza
publica, e ainda para ir reparando as grandes devastações do fogo, até aqui.
AIguem dirá:
Mas, se effectivamente fosse prohibido crear-se gado na serra, não haveria abun-
dancia de carne e pelles para o consumo publico,-assim como, em que iam empre-
gar-se os homens habituados a fabricarem o carvão? !
É o que pretendo esclarecer.
Prohibido que seja andar o gado á solta e fabricarse o carvão nas nossas Sen'as, não
faltarão a carne e as pelles para o consumo publico, nem os homens que fabricam o
carvão ficarão sem trabalho.
Na primeira hypothese, é fóra de duvida que se creat'á muilo mais gado nos cUITaes
e em pastos, sendo n'este caso vigia :10 por pastores, os quaes irão de manhã com elle,
voltando á tarde para os numerosíssimos curraes que serão feitos, para o guardar em
adequados pontos das respectivas freguezias.
Como já disse 110 alludido artigo sob o numero 141, havera herva em abundancia
para, tanto verde como sêcca, irem buscar afim de cada um sustentar o seu gado.

152
Do DE NOÉ

Por esta fórnna creio que não haverá dificuldade em crear-se em toda a ilha aprox-
imadamente o dobro do que actualmente se esta creando nos cunaes, parecen-
do-me que nunca faltará a carne para o consumo
as para o se achar que ha falta sem
govemo civil e camaras
tral para que reduzido o sobre as
que o Governo altenderá imediatamente de
escassear para o
Parece-me que isto não admittirá """tP'ot",~""
to na lei que fosse votada.
Aos carvoeiros não faltará trabalho para ",,,,11<11"""" UlllllC1UJ.
de arvores de taes como cm;taJ,1hf:írc)s
o cultivo do
das nossas
devendo ainda notar-se que
ou bemfeitorias suas.
Sobre este não ha porque desde o momento em que dos con-
stituídos baixasse tal o trabalho consideravelmente em toda a ilha.

Sr. Redactor:

seu
de vista do seu
peço licenca ao illustre cidadão o sr. dr. Manuel
Governador Civil d'este para
declarar que, tanto eu, como muitissimos ou melhor todos os seus conterrane-
em S. Ex.O de que, não se em do Governo
e bom não só para a arborisacão das nossas serras, mas
ainda para o en!~raUCleClllnem:o da commercio e industría d'este
go.
No momento actual em que todas as forcas da se concentram
para a boa da nossa
e isto em todos os e
vias levarmos ao
afim de que votada uma lei
para á solta e fabricar-se o carvão nas nossas
Serras.
Unir-nos todos!? É sem duvida
Não são iJ"''''''U;' "~taU<'"i;1u. O que
é que a lm,prlemm d'esta terra, assim como, no verã.o os incen-
por meio do destruir o resto das mattas da nossa se
levantou em coro unisono a e para os CUl'lIU'V;:'. comece

153
ALBERTO VIEIRA

desde já uma intensa propaganda a favor da arborisação obrigatoria elas nossas serras.
O que é preciso e indispensavel, é que as camaras municipaes dos concelhos se
reunam, afirn de estudarem qualquer cousa sobre este importante assumpto e dos seus
estudos, fazerem um relataria afim de que seja apresentado ao digno chefe d'este dis-
tricto.
As diversas opiniões das cam aras uma vez no governo civil, e sob a presidencia do
seu illustre e digno chefe, o sr. dr. Manuel Augusto Martins, deverão ser discutidas por
um conselho de homens imparciaes e de reconhecido zelo material a bem da nossa
ilha. Discutido tão importante assumpto, aproveitar-se-Im o que fOr melhor e então se
deverá fazer a representação ao governo central, sendo assignado pelas camaras é ref-
erendada pelo chefe superior do districto, afim d'esta auctoridade a enviar ao seu des-
tino para os devidos efeitos.
Nos numeros 136, 141 e 144 deste periodico, tenho apresentado algumas razões
demonstrando que será uma medida de grande alcance para a agricultura, commercio
e industria d'este archipelago, se for votada a lei a que eu, como todo, ou a maior parte
do povo madeirense, tanto aspiram
Concidadãos: As nossas Serras não são as regiões incultas da nossa provincia de
Moçambique onde se possa crear gado á solta!
As nossas Serras, são proprias para tudo quanto tenho demonstrado nos numeras
d'este periodico a que acima me retiro.
Inergica e patrioticamente unidas as entidades que menciono, não prescindindo do
cidadão regente florestal, e se os guardas campestres cumprirem rigorosamente o seu
dever, não será preciso duas dezenas d'annos para que floresçam as nossas Serras não
só com as actuaes arvores e arbustos que rapidamente cresceriam mas ainda com os
nossos arvoredos.
Haveriamos de presenciar e gosar esse panorama tão lindo para encanto e proveito
de nacionaes e estrangeiros, o qual será o de arvores de toda a qualidade com os seus
luxuriantes ramos com fructos.
A feiteira, a giesta cresceriam e, tudo bem organisado, constituiria um grande aug-
menta de riquesa já em aguas como em tudo quanto tenho mencionado.
Senas, sendo certo que sobre este ponto se tem trilhado uma vida sedenlaria.
Como porém, as cousas recentemente mudaram, eu e muitissimos dos meus con-
terraneos, contamos que o govemo da Republica Portugueza fará repôr as cousas no
seu antigo lagar, para o que as auctoridades constituidas n'este Districto não se des-
cuidarão, se briosa e patrioticamente attender ao que fica exposto e ainda exporei.
Os incendiarias das nossas serras, creio que não serão sómente o pastor e o car-
voeiro.
Terão havido ainda outros dos quaes vou occupar me e, para o poder dizer, citarei
factos a meu vêr inefutaveis.
Toda a gente sabe que ha o estilo em todas ou em quasi todas as freguezias d'esta
ilha, de os proprietarios fazerem queimadas nas Serras ou em montados, e n'estes, a
distancia de poucos kilometros da povoação.
Tal uso é permittido, por isso que, as queimadas são sempre dentro das pro-
priedades de cada individuo, e com o fim manifesto de n'ellas se fazerem sementeiras
de trigo, centeio, cevada e legumes, o que realmente produz em grande abundancia,

154
Do À ARCA DE NOÉ

mas ainda o mercado.


está muito porque com as sementes de e de
que fica o telTeno em' poucos annos arborisaclo para dar novo
sendo certo que se se faz a n 'um anno num tClTeno, passam
ias para outros Sitios a tàzer novas culturas e é para os que possuem diver-
de terra para tal fim.
de toda a duvida que todo o tem o direito de fazer no que lhe
tudo comtanto que não os nem affenda as
leis constituídas.
Eis que me estou Vvl""l~"'"
que fazer devia-
perante a auctoridade administrativa
seu concelho para, houvesse desleixo ou fosse mal acautelado o terreno a
C;W;lUlal, se por ventura passase para outros terrenos, por todas
as e dannos a que désse causa.
Por esta fôrma haveria todo o cuidado para serem feitas as por isso que,
não só feririam a terra nas extreimas dos seus terrenos, deixariam tambem arbustos
por teriam e ainda escolheriam os dias tanto som-
brios e sem de vento.
Parece-me isto uma medida para o fim alludido.
por ventura, tel'-se-lla até d' esta forma'?
Creio absolutamente que não e como assim tem tenho como certo que as
terão concOlTido tambem para os incendios nas nossas serras,
taes ou quaes indemnes de !
que tambem haverá fumadores menos que, já em
de recreio ou de necessidade nossas serras, e isto no
estio e outomno, não terão o cuidado para fumarem-o que deveria ser nas
occasiões de repouso, devendo apagar muito bem toda e não Só
do ou mas ainda de quaesquer generos que íossem cos-
nas serras.
E quem sabe se uns e outros, terão tambem concorrido para
das mattas d'esta ilha?
ser estudado por homens entendidos e de reconhecida
e bem d'esta um Decreto do
muito amada
Pretendo n'este momento occupar-me do
das nossas ao
mas tão com li
e rasoavelmente acceitaveis.
TTII"fll1""",OP_ITlP que a do Governo que creou um tal cargo
nr"rPI:Tp,' as florestas d'esta mas quem sabe se devido a influencias
para anicharem afilhados?
pouco me sabor. O que é certo e sabido é que os
(>'H",,,~,,tr"',, são mal pagos. crendo não ser assim o seu
Não ha duvida que taes vieram ~"I",p"'"'r",r"

!55
ALBERTO VIEIRA

ipaes com novas despezas,-e embora sejam ordenados pequenos, os serviços a meu
vêr tambem não serão grandes, por isso que as auctoridades superintendentes e
nomeadamente as do regimen monarchico, ha pouco sepultado, pouco se importavam
com esses trabalhos-devendo ainda notar-se que os guardas mal pagos pouco ou nen-
hum amor teriam pelo cumprimento de suas obrigacões !
Mas na hypothese de serem bem pagos, isto é, o duplo ou o triplo do que actual-
mente ganham das cam aras, não hesito em affínnar que o resultado seria sempre o
mesmo, ou pouca diferença haveria do que presentemente se ve, isto é, as nossas mat-
tas todos os annos a desapparecerem por meio do logo, machado, carvoeiro, etc.
E porque?
Porque desde o momento que haja liberdade de crear-se o gado à solta, fabricar-se
o carvão e fazeremse queimadas, sem responsabilidade, nas serras d'esta ilha,-serão
sempre os guardas campestres impotentes para conter a vontade dos nossos escrupul-
hosos agentes ou proprietarios do que acima menciono. Jà me dirigi as diversas cama-
ras municipaes e ao digno chefe d' este Districto o EX.m cidadão Dr. Manuel Augusto
Martins para que, depois de prévio e prudente estudo representassem ao Govemo da
nossa nascente republica para que seja votado um decreto sobre a importante
arborisação das senas d'esta ilha, sem o qual, em vez do actual número de guardas,
poderá haver o duplo e triplo,-sendo o resultado sempre o mesmo, isto é, a continu-
ação da devastação, de anno para anno das nossas florestas.
E' um facto.
Concidadãos:
Não são só os elementos de que me tenho occupado que devastam as nossas mat-
tas, é tambem o gado que constantemente comem os pequenos arbustos que vem
nascendo e até a altura de 2 metros a roem para se alimentar, por isso que epochas ha
no anno em que as seITas não criam herva para o mesmo se sustentar.
E por esta fonDa, os guardas são impotentes para o desempenho das suas obri-
gaçoes quer o dizer, as arvores pouco ou nada auguentam d'anno para anno,já por este
inconveniente, como por outras razões apresentadas
A minha propaganda sobre a arborisacão obrigratoria das nossas serras, não obe-
dece a encommenda de alguem e muito menos é feita com vistas de qualquer inter-
esse particular, mas tão somente porque, no meu espirita alimento a chamma viva do
amor pela terra que nos foi berço, isto é, o patriotismo.
É fóra de duvida que pouco mais de meiado do seculo XIX até a liquidacão da
monarchia em cinco de outubro ultimo, foram uns tempos d'uma politica rotativa em
que os partidos 1110narchicos se batiam constantemente, protegendo cada um os seus
serventuarios e ainda perseguindo os adversarios politicas.
Ora como a fragilidade da nossa especie, é inseparavel do homem, este fica cego
quando as paixôes politicas partielarias n'elle predominam, de modo que o seu ideal
já não é o engrandecimento da sua Patria ou terra natal, mas sim satisfazer a sua
ambição no mando e mesquinhas vinganças,-embora alguma cousa de util para o bem
geral se presenceie.
Foi justamente o itenerario dos nossos homens publicas.
A minha propaganda sobre este assumpto, começou em 17 de setembro ultimo, isto
e, nos ultimas dias da monarchia, e, com franqueza, eu já teria desistido dos meus

156
Do À ARCA DE NOÉ

arrasoados se não visse muita gente é, os homens f.1'-"L'W.V"


os quaes, creio firmemente que hão
pcrn.,,,p,rn que retomará o seu
nr"nr;pI'"-n""l'·,, da nossa e muito amada Patria !
ser, é claro que não hei-de o
a ""'>N'''''' pl"(108:!WnÓ,u.
f.1H.""Jl1V" occasião a nossa ilha vendo-se a

chefe do Districto tem presas as suas arr"","n,'c


mas de todas as auctoridades suas
lidos os meus humildes ou que lhe

Como
tenebrosa eu,,,,,,,,,,,.,
tenho fé que cousa será em
homens investidos da auctoridade da nossa n.'-'f.1uuu",,,.
Concidadãos e meus conten'aneos: Entre os diversos melhoramentos para o
gramdleclm1cnt:o da nossa avultam tres, os quaes são: O
saneamento da nossa estrada em tomo da ilha e enn de n 'ella
passar um vehiculo com ou carga,-e a das nossas
serras: sendo evidente que este melhoramento é o que menos
cofres Publicas e o que indubitavelmente ha de trazer mais
d'esta ilha e ao Estado.
tenho dito. cumpre-me ainda dizer que se o Estado ainda
baldios nas serras (I'esta ilha não que sei é que
tv>lI,nll'",gpQ os possuem achando conveniente que as mesmas os

o que deverao ser como


Toda a sabe que as nossas serras são c011adas em diversas com
\T""r'>fl"''' para n'ellas passarem peoes com ou sem cargas sendo certo que taes veredas
são tortuosas acanhadas e muito mal feitas.
Parece de toda a que as camaras dentro da arca do seu concel-
llgan'JO-·as, a expensas suas, ou chamadas "rodas de caminho", mandem
fazer em boas estradas, mesmo que de 2 metros de para
cereaes ou fructas etc. que no futuro
as serras venham a
Devemos observar que as não se harmonisam
sobre o da a favor
d'um Decreto que tudo
Ouso chamar a n,...,.,PI,'{'\Q d'esta terra afim de auxiliar a
minha humilde mas a meu IJ«/;",.IU" a favor da das
seu'as d'esta ilha.
Desnecessario seria chamar neste a attencão do chefe do Districto e
câmaras sõbre este assumpo por isso que já entidades me tenho

A....""·-O .... -,.,....que se não tenho razão em tudo tenho ",,(·,·;'·,tr.


e se os meus mais em evidencia se em

157
ALBERTO VIEIRA

quaesquer horas vagas, apreciar o tim que tive e tenho em vista, estou certo de que
pugnarão pelo ideal que defendo.
Por minha parte confesso que nada posso, já por int1uencia como por talento,
devendo quem me lêr avaliar unicamente a minha intenção a favor do bem geral d'es-
ta ilha.
Se, com effc~ito, as auctoridades dirigentes do Districto e Concelhos accordarem em
trabalhar para estudarem a fÓlma de ser, pelo Governo da nossa Republica, votado um
Decreto para o fim que tenho demonstrado, tenho como celio que hão de ser
abençoadas não só pelos nossos contemporaneos, mas muito mais pelos da geração
futura.

RESUMINDO

10 Os guardas florestaes, nas nossas serras, são impotentes perante os lenheiros,


carvoeiros e pastores.
2°Estes vandalos das t10restas não teem e nunca terão medo ou respeito aos guardas
por isso que, considerando-se os senhores das serras, com as armas do seu offieio
poderiam matar ou ferir quem se lhe oposesse aos seus damnos.
3° Taes guardas poderão ser aparentados, ou amigos com alguns dos ditos destru-
idores, sendo celio que aquelles fazem vista grossa sobre estes, afim de não criarem
inimisades, traiçoes etc.
4° Todos os guardas não terão amor ás suas obrigações, porque, além de serem mal
remunerados, e ainda que o fossem é massador e perigoso o seu offieio como se vem
demonstrado.
50 Além dos damnadores apontados existen outros os quaes são os irracionaes que
andam á solta nas seITas comendo os arbustos já ao nascer como depois de grandes.
6° A pratica demonstra cabalmente que de nada absolutamente teem servido os
guardas tlorestaes por isso que os arvoredos em vez de aumentar tem diminui do.
7° Com quanto não se reconheça a utilidade dos supra ditos zeladores como se
aponta no numero antecedente(6°) poderá conservar-se os actuaes guardas mas não
augmentar o quadro com outros.
8" E clara e positivamente comprovada a carestia da lenha em toda a ilha e em espe-
cial na parte Sul da mesma não hesitando em dizer que é semilhante aos artigos de
luxo.
9° Mesmo dentro da eidade do Funchal e em todas as villas do Districto encontra-
se pessoas das freguezias lUraes a vender carvão vassouras e queima de urze e princi-
palmente estas são de arbustos novos que a felTamenta de gume afiado destro e por
meio de taes vendedores.
100 Deverá acabar-se com o gado grosso e miudo das senas desta ilha e prohibir
fazer carvão e a sua venda assim como prohibir a venda da queima e vassouras de
urze; com tudo poderà pennittir-se a venda da queima e vassouras a quem provar ter
cumprido o que se aponta no n. 13.0.
11 U Bom seria que o govemo fomecesse, as Camaras municipaes do Districto,
arvores fructiferas afim de serem distribuidas pelos municipes e estes as plantarem nas
serras, em logares adequados.

158
Do ARCA DE NOÉ

á
VU'''5'''U'JO> de arvores de ü'ucta ou outras, á
em todas as margens e denornínadamente
nas serras, até 00 metros lineares de das mesmas aguas, se
ahi poucas ou nenhumas existirem.
13° cortar arbustos ou arvore, de que
1J<'JI-"1'-'.'"'''' ou mesmo sem ser, e denominadamente nas serras d'esta
menos um terço das que mas nas terras onde oliver se
necessario for para o da mesma, ir até um
pre as melhores e maiores arvores; e n'este caso. se se reconhecer que o é
espesso, devendo o corte ser alternativamente e n 'um praso nunca inferior a cinco
annos
14° Duas vezes por anno o de cada
visitará minuciosamente as r""n".~h,,,,
do estado em que encontrou as
crescimento e se as faias tem sera enviado um
upJllmldo ao Governo Central.
15. Para o cabal do numero antecedente ( o
da auctoridade administrativa cabos de ou outras pessoas, afim de
infonnar do dono dos
16" As

para outrem.
17° Tal tem10 sera sem
onus para o
18° Deveriam estabelecer-se que apre-
sentarem melhores arvores fhictiferos ou outras, nas suas pn}pl'W(ladleS, nas serras
d 'esta ilha.
19° As multas aos intractores do que for ",,,,''''VI,,,t,,
do deverão ser desde
, ficando esta ao arbitrio do
multas serem para o denunciante e a outra metade para o cofre do ou para
a entidade que o Governo determinar.
200 Deverá o Oorestal ser local e
em folhas soltas e estas distribuidas por todos os chefes de fmnilia do
de que scientes do mesmo, recomendando lhes a auctoridade local

159
ALBERTO VCElRA

J. HENRIQUES CAMACHO, 1919

( ... )
Ahi por 1420, dividida a ilha pelos sesmeiros, começaram estes a delTUbar o
arvoredo para cultivarem as plantas que tinham levado do continente.
A principio residiam os sesmeiros com suas famílias nas teITas que lhes tinham
sido distribuídas, agricultando-as os colonos livres e depois os escravos negros e
moiros. A fertilidade do terreno e a riqueza das culturas, proporcionaram-lhes uma
vida luxuosa e descuidada na cidade ou nas villas; fazendo-os abandonar as suas ter-
ras, cuja cultura entregaram aos colonos livres, dando-lhes estes metade dos produ c-
tos d' eHas.
No tempo de D. Manuel principiaram a ser Vinculadas as terras, que constituíam
as sesmarias. O empobrecimento dos colonos e dos morgados, fez com que estes,
recorrendo aos negociantes estrangeiros para empréstimos sobre as futuras colheitas,
proporcionassem aos mesmos o fazerem rápidas fortunas.
Havendo na Madeira um denso arvorado que impedia a agricultura, um dos
primeiros trabalhos dos seus habitantes foi naturalmente a derruba: Zargo mandou
lançar fogo ao arvoredo e ao funcho que havia em grande quantidade no sitio onde
depois foi o Funchal, para que desnudado assim o teITeno, o podesse mandar culti-
var. Destruiu este fogo muita madeira, que veio mais tarde a fazer falta para os
engenhos d'assucar. Dizem alguns chronistas, como Manuel Thomaz na Insulana,
que o incêndio durou sete annos, tendo sido attingida toda a ilha; porem outros sus-
tentam, que só o foi a parte Sul d'esta: este incêndio é-nos relatado, primeiro por João
de Barros e depois por Fructuoso, como sendo parcial, o que parece mais verosímil:
o Papa Paulo II no seu breve apostólico de 1459, em que confirma a redizima a João
Gonçalves Zargo, refere-se também á existência do incêndio.
D. Francisco Manuel de Mello foi o primeiro que contestou a existência d'elle,
fazendo notar que se tivesse existido não haveria madeira para sustentar os 150
engenhos d'assucar que havia na ilha, poucos annos depois; e o próprio Frl.lctuoso
diz ser grande o commercio de madeiras e matas as serras d'agua ali existentes.
Tudo isto nos leva a crer que o incêndio se limitou a parte Sul da ilha que foi a
primeira cultivada, e teria provavelmente este o processo porque os cultivadores se
libertaram das florestas virgens, para poderem depois arrotear a ten·a. Durante os sete
primeiros annos depois da descoberta seguiram este processo de arroteamento, e
d'ahi veio provavelmente o dizer Manuel Thomaz que o Incêndio durou sete annas.
Os immediatos trabalhos de lavoura fizeram desapparecer completamente os
vestígios d'este incêndio, que nunca foram encontrados.
O Regimento das Madeiras de 27 d'agosto de 1562, não é como muitos pensam
uma confirmação do incêndio, mas apenas uma lei benéfica para a silvicultura da
ilha, que nada tem com aquelle, segundo parece; pois só alude aos desbastes feitos
nas serras para alimentar os engenhos d'assucar e para outros fins.
A exploração das madeiras foi lima das primeiras industrias madeirenses: ser-
ravam-se as arvores em toros, e estes em taboas e outras pecas que se destinavam á
construcção de casas, lagares, barcos, vasilhas, etc.; exportavam-se também para o
Reino com destino a construcções navaes, para o que eram muito apreciadas; e espe-

160
Do

cialmente em caixas com assucar que então se na Madeira em quan-


tidade.

CAPITULO II
FLORESTAL

transcreverei na em
stal que tem tido a Madeira e a
Da e fastidiosa leitura d'este

,~,.p"r",""~ a

nas montanhas e terrenos fracos que não capazes d'outra cul-


tura; mandou vir do Continente e da América mais de maios de
semente, que distribuiu por todos lembrando-lhes o § 26.
tit. 66. do L. I das do os que não e não
cuidassem das suas eram condemnados na pena mínima de 2$00 réis de
e eram mandados semear as terras pessoas do povo, ficando
para todos os dos que lhes era cor-
tar arvore sem a por dos Officiaes da Câmara.
A que se deu em 9 de outubro de 1
das ribeiras que atravessam a cídade do Funchal troncos d'arvores e
arrastados no seu que causou sérios
tantes da cidade"deu ao aceliado "Plano de obras e necessanas
para o reparo das ruínas causadas na ii ha alluvião de 9 de outubro de 1803"; obras
sabiamente esclarecido aulhor
que, attribu indo as torrentes ,","JUbIL.""",,,
aconselhou que sem se
as ribeiras e se cobrissem de arvoredo todos os altos e vertentes da
todo e trabalho seria absolutamente estériL Sem
com que este ilIustre demonstrou a necessidade que
havia de fazeHe a das serras, nada se não obstante tercm as medidas
que propoz sido e ordenadas por Carta de 14 de maio de 1 COI1-
tin1uarldo a sem que a auctoridade ao caso a mais
pequena
Em 24 de outubro de 1824 nova enchente se deu foi então que se fizeram os

161
ALBERTO VIEIRA

muros que hoje marginam as ribeiras dentro do Funchal. Depois não tomou a cidade
a ser inundada, porque as aguas vão, assim canalisadas, desembocar directamente no
mar; mas as enxurradas continuam a fazer sentir os seus effeitos nos campos, onde, de
vez em quando, ha casaes que desapparecem levados pela tOITente, e quebradas que
desabando sepultam nos seus escombros, tàzendas e gados. Desgraças estas que, além
de outras, bem facilmente se poderiam evitar, se se fizesse a arborisacão das serras; a
qual tão benéfica seria além d'isso para a agricultura, diminuindo os nevoeiros, a que
chamam"barras", e que em certos pontos da ilha são bastante prejudiciaes ás Vinhas,
aos cereaes e aos pomares; augmentando as chuvas e portanto a abundância d'agua
cuja posse tão cubiçada é sempre! Mas nada se fez; e tudo continuou na costumada
inércia, que tanto caracterisa a administração publica na Madeira desde sempre.
Appareceram em 1820 as primeiras determinações municipaes, iniciadas sob o
nome "prevenções" pelo Dr. Corregedor de S. Vicente, que em correição mandou
plantar arvores na serra de S. Jorge cuja arborisação estava muito decadente; recom-
mendando se fizessem as visitas á serra como estava determinado. Em 1822 determi-
nou mais que se não creassem porcos na serra, e fosse a Câmara com as pessoas boas
da teITa demarcar o bardo do Concelho, acima do qual ninguém podia esmoitar nem
cortar arvoredo. Em 1825, afim de se determinarem os telTenos destinados a pasto,
insistiu na demarcação do bardo, determinando que ninguém cortasse arvores ou plan-
tas arbustivas a menos de cento e cincoenta passos das levadas e miradouros, e que
ninguém deitasse fogo na serra sob pena de incorrer nas penas do regimento. Em 1838
uma postura, já impressa, confirmava as detel111inações das anteriores, multando as
pessoas que sendo avisadas para demarcarem o bardo não comparecessem: prohibia
que se utilisassem as arvores que apparecessem na seITa cortadas sem licença da
Câmara; que os cães passassem para além do bardo, excepto os das pessoas com
licença para caçar; que alguém apanhasse piteira para cima d'esta linha antes de IS de
setembro; a destruição do bardo; a creação de porcos na sen'a, podendo a Câmara dis-
por dos que ahi fossem encontrados; a colheita de baga de louro antes do dia 30 de
setembro; e detenninava que fosse marcado todo o gado que estivesse na serra, regi-
stando-se os differentes signaes e sendo a verba proveniente d'estes registos destina-
da ao pagamento dos guardas campestres.
Em 1839 fez-se o Projecto do Regimento de Mattas e Arvoredos da ilha da
Madeira, baseado no Regimento de 1562 e na Carta Regia de 1804; nas suas dis-
posições, prohibe que se faça na seiTa a queima das lenhas para carvão, determinando
que esta se pratique no povoado. Seguem-se-lhe as posturas da Câmara Municipal de
Ponta do Sol de 1839, em que se prohibe o corte das ramas de vinhatico; a de 1840,
multando os que cortassem lenhas verdes da borda do Paul da Sena para baixo; e a da
do Funchal, em que se dá protecção aos arvoredos e prohibe a pastoreação de cabras
e porcos na seITa.
Devem ser d' esta época (1840) as posturas das Câmaras de Machico e Santa Cruz;
que não teem data, mandadas compilar em 1853 pelo Governador Civil do Funchal
João Si1verio de Amorim da Guerra Quaresma; referem-se à construcção do bardo do
Concelho e consideram livres as mattas onde o povo costumava abastecer-se de lenha
e matto, prohibindo o corte das arvores silvestres e arbustos existentes nas cristas dos
montes ou sobranceiras ás estradas; das que estejam a menos de 150 passos de qual-

162
Do ARCA DE NOÉ

quer nascente; dos "U'_"IV", paus brancos e


vinhaticos.
ll'esta altura a lei de 12 de novembro de 1841, que torna extensão às
no que lhe Ibr o alvará de 11 de abril de 1815. Pela da
Câmara de Câmara de Lobos de 1841, multava-se e aPlJrell1el'ld
lenheiros e carvoeiros que não inscrevessem na sua
de ou bolota de quaesquer
ILI"~H","U da arborisacão das serras.
1841 as determi-
nando a d'um
as terras cultivadas de semilha na
Câmara dos que andam a monte; e mandando
arborisar as margens das levadas e a cultura nos leitos ribeiras sem pre-
via auctorisacão da Câmara. a da Ponta do Sol em que se determi-
na que se não corte matto no Paul da Serra até ao fim 1 para que se não destrua
r",f1pl1,t"r'ijll do arvoredo devorado por um incêndio em e a da
as arvores dos
Em a da Câmara de S. Vicente a rama dc vinhatieo para
em I uma da de Sant' Anna rel-
atíva ao e e outra da do Funchal em que se mandava em
praça o encontrado nos caminhos ou em e que não fosse
reclamado no praso de 3 dias. No anno da Câmara do
v",_,,,,~,,,v no Concelho de toda e

fosse para o cultivo da


tura da Câmara da Calheta os lavradores que
réis por cada de terra e nomeava uns indivíduos com o nome de
mo",,,,,'ti'l"PQ de para os a cargo de quem esta-
va a nas serras; n'uma da do a entrada de madeiras no
Concelho sem que o corte tivesse sido Conselho de embo-
ra auctorisado Câmara do Concelho onde se effectuasse o corte, isto para que a
madeira não ser em 1847 a mesma Câmara reformava bardo do
,"-,V""\.111'U, dando-lhe uma nova UH""I,"V

Em 1848 a entrada nos pa\'-


florestaes sem o c\ocumen-
qlle
Câmara d'este concelho detel'-

de ferramenta para
d'oncle sahiu. N'este mesmo anno,
acerca da existência do na serra e determi-
nava as em que os cercados deviam ser em Câmara de uma
intitulada para os dmnnos nas serras e considerava caca commul11
que se encontrasse solto de 1 de dava as suas HlQII'''I"'I'I''''Q
acerca das a que deviam satisfazer os cercados na serra,

163
ALBERTO VIEIRA

samente O corte, venda ou uso de madeiras denominadas de contas, (vinhatico,


loureiro, til, pau-branco, aderno, teixo, cedro, folhado, barbusano, faia, urze). Na
Ponta do Sol, em 1832 obrigam-se os donos ou colonos das terras não amuradas e não
cultivadas de vinha, que confinem com os caminhos do Concelho, a plantarem arvores
ao longo d'estes de 30 em 30 palmos. Estas posturas que se fizeram em todos os
Concelhos da ilha e das quaes apenas mencionei um ou outro artigo que me pareceu
mais interessante, visavam a impedir que continuasse a devastação dos arvoredos nas
serras que estavam dentro dos limites dos mesmos Concelhos. Pena é que o seu
cumprimento tenha sido tão ephemero como o das leis anteriores.
Vem confirmar esta triste verdade a acta da sessão do Conselho Districtal de 26 de
junho de 1849, que julgo interessante transcrever, para que se avalie a pouca compre-
hensão que tinham, não só o poso mas até as pessoas mais importantes da ilha, do
beneficio enorme que lhes adviria da arborização das seITas, que elles contrariavam
como se vê pelo seguinte: "Estando quasi cxtinctas as mattas d'esta ilha e não sendo
possível pôr termo a esta calamidade, nem por meio das leis, nem pelos esforços
empregados pelas auctoridades superiores, porque pessoas das principaes dos
Concelhos são os infractores de todas as providencias protectoras das matas ensinan-
do e generalisando os meios de se commetterem essas infracções; e sendo necessário
pôr termo a tão grande mal, que tem já devastado quasi todas as serras d'esta ilha,
seccando fontes, despindo as montanhas, com prejuízo da cultura, das vias de com-
municação e das povoações apenas por utilidade dos infractores que pouco lucram
em comparação dos prejuízos que acarretam; acordaram e deliberaram os do
Concelho o seguinte (fundados no Regimento de 1562): 1. Enquanto se não restab-
elecerem as mattas da ilha não se concederão licenças para corte nas serras. 2. É pro-
hibido passar madeira d'um Concelho para outro. Exceptua-se a que estiver já corta-
da com licença, mas que deve passar só dentro d'um mez, depois da publicação d'este
acordam pela imprensa".
A devastação continuou, dando este facto origem a uma circular de 12 de setem-
bro de 1862 em que o Secretario Geral António Lopes Barbosa d'Albuquerque fez
saber ás Câmaras Municipaes da ilha, que o Conselho Districtal resolvera pôr nova-
mente em vigor as disposições tomadas em 26 de junho de 1849.
N'uma circular de 27 de março de 1865, o Governador Civil Jacintho A. Perdigão,
determina que antes de se effectuarem as vistorias que precedem a concessão de
licenças para corte d'arvores, as Câmaras Municipaes tornem publicas por editaes
com antecedência de 20 dias estas pretenções e o dia em que se effectuara a vistoria;
convidando os interessados a reclamarem no prazo de 8 dias. Estas reclamações seri-
am julgadas pelo Concelho do Districto.
Pelo Decreto de 25 de novembro de 1886, foí approvado o Plano da Organização
dos Serviços Florestaes, pelo qual as mattas e os terrenos arborisaveis que deviam ser
reduzidos à cultura florestal no Districto do Funchal, ficaram comprehendídos na cir-
CUl1scripção florestal do Sul; não tendo, não obstante, a Direcção das Mattas effectu-
ado ali quaesquer trabalhos, nem tido interferência alguma.
A Organização dos Serviços Agrícolas, approvada por Decreto de 29 de outubro
de 1891, divide os Serviços Florestaes em dois grupos: 1. Ordenamento e exploração
das mattas do Estado. 2. Revestimento das montanhas, terrenos incultos e fixação das

164
Do À ARCA NOÉ

dunas A ilha da Madeira como terreno montanhoso ficou compre-


hendida n' este ultimo grupo.
Por Portaria de 3 de de 1897

existentes e a
onde confinam com a serra, a fim de

"'1'1'"'''''''' da Portaria de 23 de marco de esteve na Madeira cm mis-


são de estudo o Ex..mo Sr. Júlio Mário que estabeleceu
o que de ainda lá existe: foram estabelecidos dois um no Poiso e
outro nos Prazeres, destinados a abastecer os differentes Concelhos da
dadas semear e de estaca arvores e arbustos nos mais
falta de recursos das Câmaras e ainda por out-
ras causas, não se deu a estas benéficas '-U"II'U~''''U
Pela dos
de 24 de dezembro de 1901
das serras do Continente c í1has

o da
quc dividiu u ilha em dois cantões
e creou um corpo de da Madeira.
Pela dos de de
1913 foi a Madeira
com sede no Funchal e tendo sob todas as mattas existentes no Districlo.
A lei de 23 de de 1 o de concessão de para
U~',"",,'01'" de suíno c considera caça commum todo
encontrado na serra sem
Por Decreto de 28 de maio 1914 foi "",.",,,,,,,,,,
de rural e florestal do arc111flel!lgo modificando o anterior com o
fim de o hannonisar com a nova (Wllr""1~~i~"''' Geral da

1918 dissolveu a Junta


por uma c0l11111issão e a
cargo para a Junta Geral do Districto do Funchal.
Em vista do estado em que se encontra o arvoredo na reconhece-se que
só os Florestacs dos meios necessários para levar a ert!::ito o reves-
timento florestal da que é tanto para

165
ALBERTO VIEIRA

CAPITULO JJ[
REVESTIMENTO FLORESTAL

A região montanhosa está comprehendida nas 3." e 4." zonas culturaes; sendo aque-
lla a-que mais nos interessa sob o ponto de vista tlorestal, visto n'ella se encontrarem
as especies indigenas que podem ser exploradas como prodl1ctoras de madeira; assim
como em grande parte as aclimadas, apezar de Richard Lowe as incluir exclusiva-
mente nas 1.0 e 2 O zonas da sua classificação. D'aquellas zonas, apenas uma peque-
na parte esta povoada de especies tlorestaes, predominando o pinheiro bravo.
As essencias indigenas prodl1ctoras de preciosas madeiras: o vinhatico, o til, e
ainda o aderno, o I'olhado, o loureiro e outras, que outr'ora cobriam a ilha quasi por
completo, como relerem os velhos chronistas, e cuja conservação foi cuidadosamente
attelldida por uma extensa legislação que nunca foi devidamente cumprida, estão hoje
reduzidas a proporções minimas. D'ellas existem apenas actualmente alguns
pequenos povoamentos dispersos, dos quaes os mais importantes são os da Serra de
Boa Ventura, da Ponta Delgada, do Alto da Ribeira de S. Vicente, da Serra do Pôrto
do Moniz, da parte norte da Ribeira de Machico, e o existente na margem direita da
Ribeira da .Ianella nas proximidades do caminho do FanaI.
A devastacão a que teem estado ha muitos allllOS expostas as mattas da Madeira tem
reduzido a este c1eploravel estado s soberbas t10restas primitivas. Quem atravessou
alguma vez os pcssimos caminhos do interior da ilha, teve occasião de ver estos de
arvores seculares reduzidas a carvão e outras cortadas para d'ellas se fazerem gros-
seiros utensílios domésticos e madeira, como alguidares, elC. !
(-louve em tempo grande COnsumo d 'estas macieiras, não para obras de marcenaria,
mas lambem em construcções; assim: o til era emprcgado em tabuado. cm caixas para
assucar, soalhos, madres e combustive! para engenhos; do vinhatico faziam-se caixas
para roupa e mais mobilia; () mlerno usava-se no fi:lbrico de pipas para o melaço e para
o vinho; o folhaclo Il1ziam-se armações para casas; do azevinho, cabos para l11achados;
do barbusuno, tallchôes pam <JS latadas; das urzes J'abrienva-se carvão para os ferreiros
e para os LISOS dOlllestieos. Hoje, apezar de quasi nulla a exploracão 'estas essencias,
ainda se Jhzel11 d'e1las algumas obras de marcenaria no Funchal.
O vinhatico e o til são as especies indigenas verdadeirnente importantes; comquan-
to haja outras pequenas arvores, C0l110 o moeano, o azevinho, etc., que tambem são
empregadas na ll1ercenaria, para li mnnurnetura dos embutidos tão caracteristicos da
industria madeirense.
Das especies aclimadas que se encontram nas 20 e 30 zonas, é o prinheiro bravo
(Pinus pillllster, Sol), a essencia que constitue principalmente os povoamentos que
cobrem a região 11 oresta I da ill1n; havendo ainda a considerar o carvalho (Quercus
Robur, L.), () castanheiro (Castanea sativa, Mil!.), a robinia (Robinia pseuclo-acacia,
L.), as ncncias (Aeaiu Melanoxylon, R. Br., A. retinoides, Schlecht, A lophan'a, MilI,
A. dealbata, Lk.), o cucalypto (EuealypLus globulus, abill) e () pinheiro das Canarias
(Pinus canariensls, Ch. Smith).
O pinheiro, que vive na racha cOI11]1rehenclida entre 550 e I :(JOO l11etros d'altitude,
é cultivado na Macieira da formll seguinte: depois de queimado o ll1atto, semeia-se o
pcnisco e o centeio, lendo H terrn sido ou não cavada anteriormente; no anno seguinte

lC16
Do À ARCA DE

cultiva-se ainda o seguem-se os desbastes e as e finalmente


o corte que é razo, aos 5 ali 20 annos.
O é que ordinariamente semeia o novo sendo o fomeci-
do com o direito de cultivar centeio durante um ou dois
abatido. Os desbastes e do são pagos
da varas para tutores e latadas,
Pl1'II11',p<Yf.lfln na Madeira como combustivel nas Dos
de

America para o mesmD


todavia em muitos casos attendendo á V<UH"~""'lll
O castanheiro segue-se em
soutos em toda a

ctm"".,,,,,,,,,.pm os castan-
heiros de muitas sendo para notar que nos ultimas annos teem rebentado as
e troncos considerados sêccos que tinham ficado de
Esta madeira é muito para estacas de "corredores vinha" ali
chamam as etc.; e ainda mais o era antes da
que a teem substituido em
usos.
O frueto d'esta arvore tem umá por isso que constitue o ali-
mento exclusivo dos habitantes de varias do interior da durante
muitos mezes.
por toda a ilha de mistura com as outras pre-
onde tem sotft'jdo nos ultimos annos dev-
Thusen. em obras de marce-

uvc>c,.<..mu", teem-se feito ensaios com bom resultado:


daA. da A. da
Este ultimo tem-se descll-
altitudes consider-
aveis
Tendo o actual revestimento florestal da é dizer
tambem o pouco que ha sobre as na mesma, que como é
com
Na Madeira não existem n","I''''orP''~ naturaes, mas apenas

as estão "'' '1)<1.1.,,,,,",,,,


turadas com outras, e assim são

167
ALBERTO VIEIRA

Encontram-se em maior quantidade na Ponta de S. Lourenço, nas bciras do Paúl da


SeITa, em algumas escarpas maritimas e nas alturas da Camacha. Os creadores vêem-
se em difficuldades para sustentar os seus gados em consequencia d'esta dispersão das
plantas forraginosas, vendo-se obrigados a lançar mão de outras plantas menos ali-
menticias, em prejuizo manifesto da nutrição e desenvolvimento do gado.

CAPITULO IV
MEDIDAS A ADOPTAR PARA O PROGRESSO FLORESTAL DA ILHA

Pelo exposto se vê o estado a que se acham rcduzidas as mattas da Madeira e quan-


to se torna indispensavel cuidar d'ellas; visto que o seu desenvolvimento constituirá
certamente uma grande riqueza nacional. Para isso ha primeiro que tudo a desenvolver
a policia florestal, que é sempre a base de todo e qualquer trabalho util de arborisacão,
porque é o obstaculo mais efficaz a oppõr á devastação das plantações novas e dos
povoamentos, praticada, muitas vezes até por mero espirito de destruição filho da sua
immensa ignorancia e maldade, pelos habitantes das nossas povoações serranas.
A policia furai e florestal n'aquela ilha, regulamentada por Decreto de 8 de marco
de 1913, é constituida, sob a direccão do regente tlorestal da 16." zona, por 3 chefes de
guardas, 5 guardas a cavallo e 25 a pé; alêm d'estes, fazem parte do mesmo corpo de
policia os guardas florestaes e campestres ao serviço da Junta Geral do Districto e das
Camaras Municipais. Para os effeitos de policia, está a ilha dividida em 2 cantões,
cujos limites terrestres são: as ribeiras dos Soccorridos e do Porco; o prímeiro é con-
stituido pelos terrenos de Leste e o segundo pelos de Oeste. Existem 20 casas de guar-
da, assim distribuidas pela ilha: no Concelho do Funchal, a da Ribeira das CalIes e a
da Barreira; no de Camara de Lobos, a da Eira do Sen'ado e a do Jardim da Serra; no
da Ribeira Brava, a da Rocha Negra (SeITa d'Agua); no da Ponta do Sol, a do
Arrebentão, no da Calheta, a do Pinheiro de Fóra e a da Fonte do Bispo; no do Porto
do Moniz, a do Cabeço da Pedra, a do Pico da Fuma e a do Pico da Pedreira; no de S.
Vicente, a do Curral dos Burros, a do Lombo do Cinzeiro e a do Pico do Meio Dia;
no de San1' Anna, a do Ribeiro Frio, a do Assumadouro e a das Queimadas; no de
Machico, a do Ribeiro da Ponte e a dos Lamaceiros; e 110 de Santa Cruz, a da Meia
Sell·a. Cada um dos guardas tem em media uns 30 Kilómetros quadrados de tel1'eno
sujeitos à sua vígilancia: area evidentemente demasiado grande para poder ser devi-
damente tiscalizada; tanto mais que, sendo o terreno muito accídentado e coberto,
torna-se mais difficil essa fiscalização. Pelo regulamento devem estar distribuídos
cavallos aos chefes e a cinco guardas; estas montadas concorrem para melhorar o
serviço de fiscalização, mas haveria toda a conveniencia na sua substituição por gar-
ranos oriundos da Madeira, eminentemente proprios para percorrerem os invios cam-
inhos da ilha.
Está actualmente a cargo do mesmo pessoal, além da policia florestal, a rural; o que
ainda augmenta mais a difficuldade de desempenhar bem o serviço e está em deshar-
mania com a maneira como se procede no continente. Convem pois que o serviço de
policia rural seja desempenhado pela Guarda Nacional Republicana, que já existe na
Madeira.
A policia florestal deve passar a estar unicamente subordinada á Direcção Geral dos

168
Do ARCA DE NOÉ

porque a Junta Geral do Districto do


det)ende, sendo fonnada por elementos eleitos e por não tem as
para exercer uma administrativa conveniente.
Estabelecida que a devem começar os trabalhos de
o fim de se assegurar a estabilidade dos terrenos das serras das encostas da
ea das bacias de bem como as obras necessarias para que se reg-
ularisem as ribeiras da todas modificando-se as climater-
eomo subterraneo.
e íàzendo
e sementeiras nas partes na área
bardos do Concelho. N'esta área devem ser submettidas ao florestal nos
termos dos Decretos de 24 de dezembro de 1901 e de 24 de dezembro de

a quaesquer outras
mesmo todas as
deva ser conservada com o fim de eví-
ou que sirvam de e a e
nascentes.
Em nr(''''''''",,''_0<> ao arrolamento dos terrenos a que acima me refiro

e ao levantamento das ,·pc,,, .. ,,tl1,fQ cartas flOl'estaes.


Ultimados estes ~M"l('('" deverão os mesmos terrenos imediatamente ser submet-
tidos ao florestal ou de sendo devidamente ver-
ífieados na occasião os titulas e outros
Os trabalhos o

actualmente da Ameriea
do Norte.
Para effectuar convirá empregarem-se de
as essencias abaixo o Vinhatico e A estas essencias con-
veem os terrenos frescos e humidos dos fundos valles da onde encontram o abri-
go dos ventos dominantes.

e que me parecem as para o revestimento da


terrenos que lhes forem mais
essencias valor das suas
ainda muito consideravel valor dos seus

menta das e fomentado este para que se forme uma espessa

169
ALBERTO VIEIRA

manta viva que retenha as aguas das chuvas; construidas sebes vivas e pequenas bar-
ragens para a regularisacão dos cursos d'agua, impedindo-se assim que se fonuem as
enchurradas, cuja acção devastadora se tem feito já bem duramente sentir na Madeira;
restar-nos-ha empregar os meios necessarios para se evitarem os estragos produzidos
nas plantações novas, especialmente pelo gado caprino, promovendo a substituição
d'este pelo vaccum.
Para sustentar este gado é necessario crear pastagens para as quaes são muito con-
venientes as palies altas da ilha, como o extenso planalto do Paul da Serra, locaes emi-
nentemente proprios para esse Fim pela altitude elevada e exposição aos ventos humi-
dos do Oceano.
Como é sabido, pastagem não é como se diz vulgarmente toda a superficie que se
cobre de hervas que o gado approveita; é preciso que este revestimento se conserve
durante todo o anno para que constitua uma pastagem natural. As que seccam de verão
por não terem condições proprias para se manterem n'essa quadra do anno, chamam-
se hervagens; embora o alimento que estas fornecem seja de inferior qualidades teem
elIas impoliancia pelas suas grandes extensões e pOlianto pela grande quantidade de
forragens que produzem.
Toda a região da ilha comprehendida entre as altitudes de 700 a 1.500 metros deve
possuir agua em quantidade sufficiente para permittir a existencia de boas pastagens;
visto que, segundo a opinião do EX.m Sr. engenheiro-silvicultor A. Mendes
d' Almeida, são para isso bastantes pouco mais de 1.000 milli1l1etros no continente de
Portugal, e a Madeira, se é certo estar mais a Sul, tambem ha todas as razões para sup-
pôr que pode contar com 1.200 a 2.000 1l1illi1l1etros de chuva, senão com mais. Pena
é que não haja observatorio meteorologico n'aquella zona para que sobre observações
rigorosas se podessem assentar estas conclusões.
O Planalto do Paul da Serra está em excellentes condições para n'elle se fazerem
explendidas pastagens capazes de sustentar milhares de cabeças de gado; visto que
tem uma superficie de 3.000 a 4.000 hectares, hoje quasi completamente escalvada
onde apenas existem grandes moitas de feiteira aproveitada para fazer camas aos ani-
maes; esta n'uma altitude elevada, com nevoeiros constantes; e é cortada em todas as
direcções por numerosos pequenos cursos d'agua.
A seguir vem o Santo da Serra, o segundo planalto da ilha, onde existem além das
partes que estão cultivadas e arborisadas, extensas planicies nas melhores condições
parauma próspera producção pascigosa. Existem ainda muitos tractos de terreno dis-
persos pelas encostas que poderiam ser vantajosamente aproveitados para a cultura
das plantas forraginosas, expontaneas ou aclimadas. Entre estas ha um grande numero
que tendo muito valor pascigoso como: o Anthoxanthum odoratum, a Festuca ovina,
a Poa pratensis, etc., que crescem em abundancia n'um ou n'outro ponto da ilha.
Pelas excellentes condições climatericas da Madeira torna-se extremamente facil a
propagação e disseminação das especies forraginosas que hoje ali vivem limitada-
mente; desde que a sua cultura seja methodicamente feita e bem dirigida.
Para que se melhorem as pastagens l1aturaes é necessario o estabelecimento do reg-
imen pastoril, pois só o Estado pode, analogamente ao que faz no florestal, levar a
effeito essa grande obra de protecção ás pastagens; pela arborisação cios declives rapi-
dos e do solo que não se presta ao enrelvamento; pelos indispensaveís trabalhos de

170
Do ARCA DE NOÉ

a cultura
cisas tam bem
as mesmas
tivar e a diffundir a de ensaio se con-
transferindo-as successivamente
servirão lambem para a e mel-
que se modificam de para

mais um habito do que uma


H""Ui",U'U, pouco interesse dão

cabra não succede o mesmo, lucros que, com uma


resultantes da venda da carne, das crias e das
porem vacca que causa muito menos e é de muito maior
sobretudo do não deixar de ser um beneficio para o
lavrador. A industria da madeira e outras derivadas do como a dos estão
bastante desenvolvidas na não sendo por isso difficil convencer os
serranos das enormes que d'ellas lhes e que de certo
bem a falta
As cabras com todas as
dos que lhes são 1l"'vW'v~, com tanto quc passem ao

10 Convém que passem todos


da Madeira a ficar. para
,",p,,,,,,'"'' Florestaes.
2° É necessário o estabelecimento de observatórios
ficlente e convenientemente distribuídos em differentes
3° É de necessidade o promover-se o revestimento florestal das altas
e das encostas da dentro ela 30 e 40 zonas, as essências indí-
genas e as acclimadas de maior utilidade.
4° É muito dar-se desde já exacto de
DI'()tel~c1iio dos arvoredos e á

conveniência da ilha para


naturaes.
919.
Camacho.

Notas para o estudo da I'PrWl1m·J'7n."nn


""""'nnn ao concelho
I

171
ALBERTO VIEIRA

REGIME PASTORIL - ILHA DA MADElRAr19421

Na ilha da Madeira, tirando as espécies pecuárias consideradas sedentárias da


zona agrícola e umas centenas de cabeças da espécie bovina apascentadas nos planal-
tos durante os meses mais quente, o gado restante ou seja o que vive permanente-
mente à solta nas seITas não tem nenhuma ligação aceitável com a agricultura. E as
excepções que existem não são de monta, pois são pouco numerosos os casos de
recriação.
Este gado solto vai vivendo numa situação de facto, perseguido por todos os que
têm terrenos cultivados e os seus proprietários, designados na ilha como pastores, são
os primeiros a declarar que a importância do rendimento das suas rezes é diminuta,
incerta, nula ou mesmo em muitos casos negativa, reinando nessa exploração uma
verdadeira desordem, cuja expressão psicológica e causa primária é o facto de o pas-
tor não acompanhar constantemente o gado, como sucede no milenário regime pas-
toriJ do Continente.
Os "vigias" ou "espias" que ali o guardam, e só durante o dia a tal se dedicam, são
nomeados entre todos os componentes de cada comunidade de pastores. Todos os
dias se revezam e o encargo vai assim correndo do primeiro ao último dos interessa-
dos no compascuo.
Acontece porém que nenhum desses pastores pode encarar a tarefa da vigilância
como ofício, resultando daí esquecerem ou não cumprirem à risca a missão de que a
comunidade os encarrega temporariamente. De resto esse trabalho limita-se quase só
à contagem do gado e suas crias, bem difícil de ser feita com rigor uma vez que o
aumento se encontra disperso e só é "arrumado" pela altura da tosquia, isto é, uma
ou duas vezes no ano.
E se o vigia tem quatro ou cinco miseráveis ovelhas, que essa deve ser a média
por proprietário, que estímulo poderá ter na execução de um trabalho, na manhã
seguinte transmitido a outrém, e pelo qual não recebe directamente paga alguma.
Para muitos dos pastores a posse do gado da serra não passa mesmo de um capri-
cho ou regalo, revestindo muitas vezes o aspecto desportivo. E esse gosto tão natu-
ral como antigo no homem ilude a todos por completo a noção da economia da
pequena empresa, à qual se não dedicam nem podem dedicar individualmente por
falta de capital e sobretudo por falta de recursos pascigosos suficientes. Na verdade,
o valor das pastagens da Madeira diminui a olhos vistos e o gado chega a atingir por
vezes um estado de magreza e desalinho que o torna repelente.
E quantos desmandos e prejuízos se podem apontar neste sistema de exploração!
Desleixo, viciação de sinais, massacres feitos pelos cães, enfim, o roubo é também
frequente e as muitas questões que vão surgindo são resolvidas pela violência, ou ni.l
"venda"-designação local da pequena loja de comércio misto ou no "arrume" anual
por ocasião da tosquia. As desordens entre pastores são muito frequentes nessas
reuniões.
Segundo o arrolamento feito em Março de 1940 pela Junta Nacional dos
Lactícinios, o número de cabeças de gado bovino em pasto livre nas serras era de
485. Mas esta contagem foi feita na primavera e por consequência a quantidade de

172
Do À ARCA DE NOÉ

bovino durante o verão continua a ser desconhecida.


O que se passa no Paúl da Serra é frizante da falta de ordenamento neste
ramo de do numa
ovina que andará por 6500
Os feitos porco bravo também concorrem para estes
zos mesmo nos onde é mais eficaz a
da sena aparece por toda a dentro ou fora do terreno arborizado. ape-
sar de ser muito considerado caça é nos baldios de Santa
na Serra das do Poiso e também no Homem em
Achada do Paúl da Serra.
As ervagens são por ele destruídas e muitas das crias de ovelha são por ele devo-
radas sem defesa Outro tanto não sucede com a que dele se
defende com
O porco da serra tudo o que
e também a feiteíra-Pteridium não deixa viver porque a arranca e lhe
come o rizoma e a raiz.
Em conclusão: entre o a que mais sofre é a
que mais valor tem e mais assistência merece
Reduzir o suíno a um mínimo de reserva a ri"t","".,;"
vedadas de terreno, estabulado em o
do aumento ovino. Este trabalho será aCOl11-
bovino.
ficará a cargo de cada um dos """Clnl,',p-t~",
erá estar concluída no prazo I ano a contar do começo da
De futuro o "",.,!!> '" P 111 1-" de
O suíno caJJtLllraa o núcleo
restante ficará sendo eomo foi dito a trabalhos
de melhoramento.
A do do ovino e bovino nas serras da
ficará a cargo dos Florestais com a assistência sanitária da Intendência de
Pecuária do distrito e de acordo com a Junta Nacional dos Lacticínios da Madeira.
De um modo usar-se-à o sistema de por
auxiliados por cães ensinados da raça da Serra da Estrela.
será feito no futuro em arborizadas.
do reunir-se-ão em Sindieatos. Os Sindicatos serão
zados tendo como base os de assistência mútua. Os seus estatutos só
ser mediante parecer favorável dos Florestais.
Como o de rebanhos de futuro constituirá uma novidade na ilha
e para que o trabalho bem orientado de serão
enviados do continente e nomeados
Os serão pagos Sindicatos de As suas
"U'H\~<l\,V'," futuras serão feitas mediante o parecer favorável dos Florestais.
manadío será inventariado e numerado com brincos ou com marca a

As crias serão numeradas e re~nsltaa à nascença.

173
ALBERTO VIEIRA

Os extravios tornar-se-ão assim impossíveis. Com o auxílio dos cães dos reban-
hos, os célebres massacres de ovelhas registados até agora e feitos por animais
daquela espécie, deixarão de ser possíveis.
Os locais de apascentamento serão indicados pelos Serviços Florestais.
Só mediante autorização expressa dos proprietários dos terrenos, poderão neles
ser apascentados os rebanhos.
Construir-se-ão os abrigos suficientes para que o gado ovino aí passe o tempo
invernoso. Anexa ao abrigo ficará a habitação do pastor.
Os abrigos situados em terrenos particulares serão propriedade do dono do ter-
reno, que terá faculdade de os alTendar ao sindicato de pastores interessado. Os que
se construirem nos terrenos das Corporações administrativas pertencerão ao Estado.
Quando ao proprietário do terreno fôr impossível construir o abrigo necessário, o
Estado construi-lo-à no telTeno público mais próximo ou no que fôr para esse fim
expropriado.

Ilha do Porto Santo

A reorganização do regime pastoril no Porto Santo tem como base a resolução do


difícil problema da produção de fonagens num clima quente e seco.
Prevê-se neste plano a criação de pastagens arborizadas e a construção de abrigos,
bebedouros e silos.
Os trabalhos de reorganização do regime pastoril serão feitos de acôrdo com a
Intendência de Pecuária e Junta Nacional dos Lacticínios.
Nos terrenos florestais só será permitido o apascentamento do gado bovino e
ovino.
O apascentamento de gado caprino nesta ilha e ilhéus será proibido.
Todo o gado que for apascentado nos telTenos florestais será guardado permanen-
temente pelos pastores nomeados mediante parecer favorável dos Serviços
Florestais.
Tal como na Madeira, os locais de apascentamento serão indicados pelos Serviços
Florestais

[José Maria Carvalho, Plano Complementar do Plano de POvoamento Florestal


1942, pp.66-69, 73-76, in Eduardo de Campos Andrada, Repovoamento Florestal
no Arquipélago da Madeira(1952-1975), Lisboa, 1990, pp.125-129]

174
Do À ARCA DE NOÉ

FERNANDO AUGUSTO DA 1946

I-ARVOREDOS E PLUVIAIS

A notável feracidade do

essencialmente

humana.
Bastará recordar que cerca de setenta e cinco por cento dos seus habitantes vivem
aos labores incessante cultivo das que é por vezes muito árduo
e de devido ao inverosímil acidentado
dos terrenos, como todos sabem.
Era mhp"l,r\"" das necessidades ocorrentes assim o que
se e merecessem o mais desvelado cuidado todos os cle-
ment08 que contribuíssem para o desenvolvimento dessa 1111,"-"1,'" industria e entre
os se destacavam em imediata das levadas e a
cuidadosa dos densos arvoredos
mas com um certo
"as arvores são as mães das mados "caminhos vizinhais" Oll de
entre os diversos sítios encontram neles elementos de
defezas os leitos e os muros

realizado por um distinto tlore-


que uma síntese das medidas u
para o revestimento tlorestal da Madeira:
"O estabelecimento de um cuidadosamente tendo como base o
de toda a a escolha de essências do meio e
cuidadosa por todos os de viveiros e de zonas de
nr"tp('p"" das essências de hidráulica florestal c
o são elementos que os
técnicos deverão ter em vista ao elaborar o da ilha da Madeira"
No decurso deste embora
a todos estes

II-W,IfA FLORESTAL

Uma constante """''''y"v local e as seguras que a nos


da sua tão acidentada c COI11 vários
mostram que a alem de ser uma ele
a~I.Jl.A)I", como fica dito no
de um telTitório de

175
ALBERTO VIEIRA

embora sem prejuízo da vantajosa cultura de outras espécies vegetais ou plantações


agrícolas que as particulares condições climatéricas notavelmente favorecem.
Não será descabido recordar que também nas zonas confinantes do litoral se
encontrava uma basta vegetação arbórea, o que ao presente não seria permitido fazer
se, em virtude da indispensável aplicação desses terrenos ao cultivo de outros
géneros agrícolas, mais proveitosos e mais necessários aos interesses dos habitantes.
Na limitada área de 500 quilómetros quadrados tem esta ilha grandes elevações
montanhosas, atingindo algumas delas altitudes de 1750 a 1860 metros, que a par de
outras condições mesologicas consentem a formação de densos arvoredos, como já
existiram e de que ainda restam alguns raros mas autênticos vestígios. Os terrenos
aráveis não excedem a altitude de 700 a 800 metros e não ocupam uma superficie
muito superior a 300 quilómetros quadrados, havendo uma extensão relativamente
grande para a conservação das espécies florestais. Em altitudes superiores ás que
ficam indicadas não é compensadora a cultura das terras, o que aconselha o seu
aproveitamento para o plantio dessas espécies arbóreas e para o exercício da indus-
tria pecuária.
Essas e outras valiosas características abonam justifkadamente o juízo que fica
exposto e que, alias, se acha de todo confirmado pelas observações realizadas por
alguns técnicos da mais autorizada competência.
Dessas tão favoráveis e apreciadas condições, da posição geográfica da ilha e
ainda de outros requisitos naturais privativos deste meio resultam a justificada fama
de clima privilegiado de que universalmente gosa, não somente para a quadra fria e
chuvosa do Inverno, mas também para as estações quentes e temperadas do estio e
da primavera, segundo a situação e a altitude dos lugares escolhidos para esse fim.
Os capítulos subsequentes justificam também o conceito que deixamos esboçado
acerca dos particulares aspectos, que a superficie madeirense apresenta como região
própria para a formação e conservação de uma larga e intensa vegetação florestal.

III ORIGEM DO NOME "MADEIRA"

O nome de Madeira, que os descobridores ou os mais antigos povoadores deram


a esta ilha, anda indissoluvelmente ligado á existência do opulento arvoredo, que em
toda a extensão a cobria desde a orla do Oceano até os píncaros das mais elevadas
eminências. Foi uma bem apropriada e característica designação, que sempre per~
durou através do tempo e que natural e espontaneamente teria. acudido aos que pela
primeira vez defrontaram com essa tão vasta, intensa e rica vegetação florestal.
Factos subsequentes e ponderosas circunstancias de feição local, vieram robustecer
e confil1l1ar a escolha desse nome. como abaixo se verá, havendo os velhos cronistas
e escritores, os navegadores e viajantes e ainda os documentos oficiais conferido um
cunho de verdadeira autcnticidade a essa feliz quali ficação, por meio dos seus
numerosos escritos e narrativas, alguns dos quais são contemporâneas da primitiva
época da colonização madeirense.
Entre todos, vem de molde recordar o assaz conhecido verso de Camões-Que do
muito arvoredo assi se chame-(V-5), que, seguindo a esteira dos outros escritores,

176
Do A ARCA DE NOÉ

dar uma mais este tão nome.


No entretanto, a frase do nosso maior começa a ter um for-
mal desmentido. Estamos a transitar da mais concreta realidade para os
domínios duma pura lenda ... O nome de que os séculos
aram e que a fama tornou do seu
belecendo-se um
na verdade deveria
Não se tomem à conta duma descabida e as quc ai
ficam. As nossas florestas estão sendo vítimas do mais desentl'eado vandalismo.
Parece que do mal armado de todos Os elementos de
transformar as encostas das nossas montanhas na aridez calcinante do
deserto. E' certo que a exuberante ferLilidade do solo e as mais favoráveis
clímatéricas te em obstado a uma mas essa imi-
nente calamidade vai tomando tão assustadoras que, dentro dum futuro
muito o mal causado se tornará absolutamente irremediável
E' por isso que um clamor uníssono sc levanta e se faz intensamente
"VIJn,,,,,,v de todos os um vento de mal contida
O doutor Frutuoso com os valiosos elementos que lhe forneceram as antí-
gas crónicas e os documentos coevos do informa-nos: " ... a
chamaram da Madeira por causa do c espesso arvoredo de que era cobetia ... ".
Infere-se desta narrativa que foram os que à ilha descon-
hecida a que deram o nome de Madeira. Em outro diz o mesmo
Frutuoso: "O infante vendo as mostras e ouvindo a que da ilha eles lhe
lhe paz nome, que agora tem, de ilha da Madeira... . por certo, enten-
der-se que o infante D. se limitou confirmar o nome com que os
tivos denominaram a terra que tinham descoberto.
E ainda em outra passagem das Saudades se allrma que foi o
descobridor João que a esta ilha chamou Madeira: "a que o dito
nome da Madeira". E ainda mais terminantemente o diz em outro
" .. lhc paz o nome assi o felicíssimo dela João
por causa do muito cspesso e arvoredo de que era cober-
ta, e ser toda chcia de intínidade dc madeira".
Em um livro manuscrito da Câmara Eclesiástica do
com a que não resistimos ao
bis", como ali se encontra.
"Havia muita madeira na ilha que se serrava com de agua,
es, mastros, traveLas, que se levavam para muitas
banda do Sul não era tanta, porque se muita e a outra se
!los de assucar, que todos estavam desta banda: mas havia da
numero de de agua sempre a serrar, e erão as arvores tão grossas e tão
crescidas. Como se inferir do "til que se achou no Funchal o era tão grosso,
que dez homens com os lhe não a o tronco: e fazia
tanta copa que cobria onde é a Caclea Vclha de uma ribeira á outra ás quacs
ambas se ião e entrar por uma só boca 110 mar. Desta havia
e mui altos que se e

177
ALBERTO VIEIRA

Ao contrario do que sucedeu com outras ilhas e terras descobertas, nunca foram
esta ilha e arquipélago conhecidos por outro nome além daquele que primitivamente
tiveram. E' certo que o Dr. Gaspar Frutuoso afirma a que por ser assim mui fragosa
dizem que seu nome era a devia ser ilha das Pedra", mas desta maneira enfática de
dizer do historiador das ilhas se concluiu que ele não quisera asseverar ter tido esta
ilha aquele nome. E além desta passageira referencia de Frutuoso, que não chega a
ser uma afirmação, não se conhece em quaisquer outros escritos antigos ou moder-
nos aquela denominação para designar a ilha ou arquipélago da Madeira.
O ilustre escritor Pinheiro Chagas, em uma das suas ü'equentes digressões á
"margem da histórias escreveu estas curiosas palavras:
"Era esse nome que mais natl\l'almente lhe ocorreria? Quando o termo madeira
designa especialmente os troncos de arvores já derrubados e preparados para usos
próprios, não era estranho que fosse esse nome que servisse imediatamente a
Gonçalves Zarco para designar a ilha, em vez de ilha do Arvoredo, ilha das Flores,
ilha das Matas'?"
Como acima ficou dito,o testemunho até agora irrecusável cios cronistas, dos doc-
umentos da época e da tradição corroboram plenamente o uso do antigo nome, sem-
pre mantido no decorrer dos séculos e sempre adoptado por todos, embora possa, por
uma caprichosa excepção, ser posto em duvida pela fantasia de um distinto literato
Em corroboração do que fica exposto. não deixam de despertar especial interesse
os depoimentos de alguns navegadores e escritores do século XV, que vamos rapida-
mente citar, embora já o tenhamos feito com maior largueza em outro lugar dos nos-
sos trabalhos de historia madeirense.
O celebre navegador veneziano Luís Cadamosto visitou duas vezes a Madeira por
meados do século XV, sendo a narração das suas viagens impressa no ano de J507,
a qual oferece a notável particularidade de ter sido a obra mais antiga publicada em
língua estrangeira acerca desta ilha dc que ha conhecimento. Diz esse ilustre naveg-
ante que por ocasião da "descoberta não tinha palmo de terra que não fosse cheia de
arvores grandíssimas, sendo necessário aos primeiros que a quiscl'Ul11 habitar por-lhe
fogo, o qual lavrou grande espaço de tempo ... e assim desapareceu em grande parte
o dito bosque ... ".
O conhecido navegador português Diogo Gomes, nas "Relações do
Descobrimento da Guiné e das ilhas cios Açores, Macieira e Cabo Verde", por ele
transmitidas a Martinho da Bohemia e traduzida em língua portuguesa 1'01' Gabriel
Pereira ("Bolet. da Soe. Geogr. de Lisboa" n. 5, ano de 1898) làz idênticas afir-
mações, que aproximadamente se referem ao terceiro quartel do século XV.
Uma informação sobremaneira curiosa é a dt! outro navegador italiano Romeu
Aditti de' Peraso, que deixou na narrativa escrita em 1567 estas palavras: .... a ilha
não é habitada senão à beira-mal', pois que na montanha por causa da espessura das
arvo['t!s que ali ha el11111ui grande abundância e altlssimas de maneira que, dizem, por
causa delas sc anda duas ou três léguas sem jamais ver () sol. "
Os nossos ilustres cronistas Gomes Eanes de Azurura, contemporâneo da
descoberta, na sua obra "Descobrimento e Conquista da Guiné", .João cle BaL'I'OS e
Damião de Gois, pouco posteriores á época desse sucesso, na "As ia" (Decada f) e na
"Crónica cio Príncipe Dom João", ratificam esses depoimentos eom a autoridade dos

ln
Du ARCA DI. NII!'

seus nomes c muitos outros escritores teem sem as in/ilr-


das crónicas.
Se a natureza foi de uma notável na abundância de tão vastos e dt:n-
nào se tornou também avara na variedade das florestais com
cobria todo o solo madeirense. Pode com verdade afírmar-se qUI:
da a da
Bastará recordar que é um facto a existência de bastas e extensas matas
de vinhaticos, freixos, urzes. barbusanos e ainda outras
cies arbóreas de que só resta ... uma saudosa memória, como
mente diremos.
Em vista do que tantas vezes se tem dito e que de no\'o deixamos sumariamente
ou surpresa que a estia ilha se houvesse dado o
que os séculos vão e que a tàma tornou universal. Com
o inaudito vandalismo dos homens vai-se tomando menos e menos '''''CIOr''''L
ado o LISO desse nome. estabelecendo-se um contraste entre o seu \cr-
dadeiro que ele deveria na realidade
",,,a""J"~ que aí ficam, mas nào é
para ensinamento de muitos e bem assim para as
IOrm,lço'es, que estamos acerca deste assunto.

Iv: O DOS ARVOREDOS

o incêndio dos bastos que onimadamente cobriam a ~m'f'rf;r.ip


desta é um conhecido e velho tema, que inúmeras vezes tem sido versado por
diversos escritores nacionais e Desde os que pura e
negam a veracidade do sucesso até que lhe fixam uma
não faltam narrativas e comentários de sabor vário. d"':n,,rt.~lif'l"
estranheza de um facto tão

e ainda outros de menor que


cm muitos livros e Jornais.
nrl,m"lrr,,, colonizadores tentaram o inicio do povoamento. rccon-
do clima e a exuberante fertilidade do solo, mas
se das penosas dificuldades que, vencer
para o fim do seu audacioso Com dois obstácu-
talvez então se defrontaram em vacilante
inverosímil acidentado dos terrenos e a vastíssima c luxuriante Vell!:etaç~lO
A dos arvoredos e a das aguas de
a par do antanho directo das constituíram os
"l';lll"".Jl"~, dando-se assim começo a uma activa a que sempre andava
adstrito o correlativo de diversos núcleos de habitantes.
Nas e "';;~,uu,uu as cróni-

179
ALBERTO VIEIRA

cas, deixamos uma noticia acerca deste notável acontecimento da primitiva colo-
nização, da qual vamos transcrever alguns trechos, que teem a mais próxima
afinidade com o assunto de que nos vimos ocupando e que importa arquivar nestas
paginas.
. O incêndio das matas no tempo de Zargo, o primeiro donatário do Funchal, é um
acontecimento a que particularmente se referem João de Barros, Frutuoso, António
Cordeiro. Manuel Tomás e outros autores, e que também foi perpetuado pela
tradição. Refere Ferdinand Denis que um antigo viajante francês conheceu um velho
marinheiro a quem uma testemunha ocular contara o incêndio da ilha da Madeira, e
segundo o erudito anotador das Saudades da Terra, no Arquivo da Torre do Tombo,
Livro das Ilhas. folhas 84, está a publica forma de um breve apostólico do Pontífice
Paulo II, com data de 1469, em que manifestamente se alude ao mesmo incêndio.
Gaspar Frutuoso, o historiador das ilhas; dá conta, nos termos seguintes, do incên-
dio no sertão da Madeira: "Daqui acordou o capitam (João Gonçalves Zarco), vendo
que se não podia com o trabalho dos homens desfazer tanto, arvoredo que estava
nesta ilha desde o principio do mundo ou da feitura della, e para o consumir, e se
lavrarem as terras, e aproveitar-se dellas era necessário pôr-lhe o fogo; e como quer
que, com o muito arvoredo e pela muita antiguidade, estava delle derribado pelo
chão, e delle seco em pee, apegou o fogo de maneira neste valle do Funchal, que era
tão bravo que, quando ventava de sobre a terra, não se podia sofrer a chama e quen-
tura delle, e muitas vezes se acolhia a gente aos ilhéus e aos navios até o tempo se
mudar; e, por ser o valle muito espesso assi de muito fLlncho, como de arvoredo,
atiou-se de maneira o fogo, que andou sete annos apegado pelas arvores, e troncos,
e raízes debaixo do chão, que se não podia apagar, e fez grande destruição na madeira
assí no Funchal, como em o mais da ilha ao longo do mar na costa da banda do sul,
onde se determinou roçar e aproveitar."
D. Francisco Manuel de Melo, referindo-se ao incêndio da Madeira, diz na
Epanaphora III o seguinte: "He força que duvide do incêndio que (Barros) afirma
durou sete anos por toda a ilha. Ao que, parece, implicão os bosques, que sempre
nella pennanecerão, dos quaes ha tantos annos, se cortão madeiras, para fabrica de
assucares: de que dizem chegou a haver na lha, cento e cinquenta ingenhos; que mal
poderião continuamente sustentarse, depois de hum incêndio tão universal, & menos
produzirse depois delle: mas fique sempre salvo o credito de tal Autor."
Os argumentos de Melo teem um certo valor para mostrar que o incêndio da
Madeira nem durou sete anos. nem se estendeu a todos os pontos da ilha, havendo
ainda a acrescentar que se ele tivesse sido geral, como pretendem alguns escritores,
não poderia Cadamosto, que também se refere ao sinistro, dizer em 1450 que o nosso
país produzia madeiras muito apreciadas, entre as quais sobressaíam o cedro e o
teixo. E' ainda de advertir que para o fogo durar sete anos consecutivos em matas
constituídas especialmente por essências folhosas, seria preciso que durante esse
longo espaço de tempo não caíssem na ilha nenhuns desses violentos aguaceiros que,
ainda hoje, apesar das chuvas serem muitos menos abundantes do que outrora, inun-
dam os vales do interior e dão origem a torrentes que se despenham em catadupas do
alto das serranias".
Não padece duvida que muitas matas do vale do Funchal e de outros pontos da

180
Do ARCA DE NOÉ

costa sul da ilha foram destruídas mandado por


João ate-

Funchal", o
que sete anos andou vivo no bravio
criado avia tantas centenas de anos."
Diz o Dr. Alvaro de Azevedo que tendo sido a sul da ilha
cisamente a cultivada c habitada do não só
que ahi fossem pouco a pouco rateados os terrenos por meio de incêndio das matas
sistema que ainda por falta de por outras rasões
e por necessidade momento, se emprcga nas sertões
também que a estes se fosse recorrendo nos septe ""'''''>l1''~C
anos, sem que disso poucos se achassem O sul da ilha da
Madeira foi e e é a zona
do fora para que o trabalho do homem ahi da devas-
E limitado o incêndio a uma da ilha somente, os em contrario
a Mel10 mesmo duvida não tanto do quanto de que este fosse
tão universal".
Reduzido o sinistro ás que lhe atribui o Dr. não ha motivo
para que deixemos de aceitá-lo como verdade tanto mais que, como diz o
p",~nt(w ele se acha autenticado clara alusão do Breve que é
foi um erro, não resta mandar aos arvore-
a mas desse erro não resultou felizmente o com-
das matas. como já atrás se viu.
duvidar-se que narrativas da (ii: incêndio
de acentuada que a estranheza e a anormalidade do
e até certo inteiramente se É, indubitável e
constitui uma verdade histórica a existência desse
não deixou de como uma necessi-
dade que as circunstancias ocorrentes aconselhavam. O incêndio aumentou a feraci-
dade do clareiras para o amanho das melhor escolha dos
a dos pequenos a mais esper-
ançosa os trabalhos da que iam ser iniciados.
No decorrer do e todos muitos incêndios tcem ocorrido nas nossas

tão avultados
como o que se deu no mês de
nos fornece uma desenvolvida noticia.

181
ALBERTO V1E1RA

v. EXPLORAÇÃO DE MADEIRAS
Não tendo o célebre e primitivo incêndio revestido a intensidade e atingido a
extensão que alguns escritores lhe pretenceram assinalar, sabe-se que uma parte con-
siderável da ilha ficou ainda coberta com uma densa vegetação florestal. cuja con-
servação se deveria. ter cuidadosamente mantido através do tempo ou cujo imperioso
desbaste se procuraria fazer de modo a evitar a sua grande devastação.
A construção das primeiras habitações e ainda a das mais antigas capelas era feita
com a matéria prima fomecida pelas matas, o que perdurou por largo tempo sendo
também estas que fomeciam o indispensável combustível para os usos domésticos
dos incipientes colonizadores.
Não se fez esperar muito tempo que um largo e pouco criterioso emprego das
madeiras supervenientes desse incêndio se iniciasse activamente e sem demora
tomasse as proporções do mais condenável vandalismo.
Da superabundância das madeiras, da sua quantidade, da sua procura no conti-
nente português e ainda no estrangeiro surgiu a ideia de uma larga exportação e do
seu correlativo tráfego comercial, criando-se desde logo uma importante Fonte de
receita, em um meio tão acanhado, como ainda era então a Madeira.
Uma nova indústria, embora de feição bastante elementar, teve de criar-se: a da
preparação das madeiras para o embarque. Era preciso abater as arvores, selTalas e
apropria-Ias ao fim a que particularmente se destinavam.
Vieram então as chamadas "serras de agua", que se multiplicaram por diversos
pontos da nossa ilha. A paroquia da Serra de Agua e os sítios que ainda hoje conser-
vam esse nome nas freguesias de Machico, Calheta, Santana, Faia], Boaventura,
Seixal e ainda, porventura, em outros lugares, lembram sem esforço esses rudi-
mentares "engenhos" destinados á serração das madeiras pela acção da força
hidráulica e que eram montados nas margens das caudalosas correntes.
E sobremaneira curioso este trecho do doutor Gaspar Frutuoso: " ... havia tanta -
quantidade de madeira, tão formosa e rija, que levavam para muitas partes copia de
tábuas, traves, mastros, que tudo se serrava com engenhos ou serras de agua que
neste tempo ... começara a fazer com ela navios de gávea e castelo de avante, porque
dantes não os havia no reino".
Para este assunto, oferecem particular interesse os seguintes períodos, que tex-
tualmente transcrevemos da 3a edição da Historia de Portugal de Pinheiro Chagas
(11-252):
"Azurara, tratando das vantagens que resultaram dos descobrimentos devidos á
iniciativa do infante D. Henrique menciona "as grandes alturas das casas que se, vão
ao céo e fazem com a madeira daquelas partes. Ao que, o visconde de Santarém
acrescenta esta nota: Esta interessante particularidade indica a madeira transpoliada
a POliugal das ilhas novamente descobertas pelo infante D. Henrique, principalmente
da ilha da Madeira, fora em tanta quantidade, que a sua abundância fizera mudar o
sistema de construção dos prédios urbanos, augmentando os andares, elevando assim
as casas, substituindo-o por esta sorte ao romano e árabe, que até então provavel-
mente se usara".
Várias referências temos encontrado à exportação de madeiras que desta ilha se

182
Do ARCA DE NoÉ

fazia destinadas a

extraída

em que se encontram estas "Item m apraz que


serras de agoa que fezerem de cada huma hum marca de em cada hum. ano
ou seu certo valor de duas taboas cada semana.. "
Não deixa de oferecer interesse ao nosso assunto a narrativa do naveg-
ador veneziano Luiz acima que visitou a Madeira no ano de 1450
ou pouco dizendo que nesta ilha havia" de serrar, onde continu-
amente se trabalham obras de e bofetes de muitas de que se
prove todo o e outros Desses bofetes os mais estimados são duas
castas: os

matéria
de agosto do referido ano: " .. somente
na dita ilha fazer bateis de pescar e de carreto para serventia da dita os
seus donos vender para fora dela sob pena de pagarem cincoenta
dois anos para a
de que nos vimos UvU,J,""'",V,
' .... 0'1-' ...,""""." a este assunto no interessante "Serras de nas
ilhas da Madeira e POlio Santo", da autoria do di~tinto madeirense Dr. Jordão de
e entre elas se cita a carta de 30 de Ju I '''; em que se faz
a Nuno de Sousa de uma "serra de na ribeira de ::.ào Bartolomeu tinha de agua
que delimita as da Calheta e Estreito da Calheta.
da voracidade do a Madeira se repovoou
não levou anos a cobrir-se de uma extensa. e abundante
das madeiras de que se usou e
dos

Embora não se de 15 de Janeiro


de 15 sabe-se no entretanto que ele foi com o tím de acudir ao
em vista dos excessos e abusos que ao tempo já se cometi-
am. E foram então muito e eficazes as regras e tal
citado das Madeiras", de 27 de de 1 que
verdadeiramente notável no seu transcrito a 463-47
das "Saudades da Terra", e que apesar de contar
de existência contém que ainda na actualidade

183
ALBERTO VIEIRA

VI-OS INIMIGOS DOS AR VOREDOS

COJ11ofícou acima sumariamente exposto, teria o prIl11ltlVO incêndio obedecido


aos mais imperiosos motivos que as circunstancias da ocasião aconselhavam. afim de
iniciar-se um rápido e eficaz povoamento, que não permitia delongas e deveria
amoldar-se ás ardentes aspirações dos primitivos colonizadores. Após esse incêndio,
vieram a falta de previsão dos males futuros, as convenientes comodidades do
momento, a ausência de uma acertada orientação e porventura o desejo imoderado do
lucro, como teria sido o do comercio das madeiras, causas essas que foram sempre e
sempre alargando a área da acção devastadora, que esse temeroso fogo havia inicia-
do.
Embora de menor vulto e de efeitos menos prejudiciais, vieram subsequentes e
não raros incêndios, sucederam outros audaciosos destruidores das matas virgens e
surgiram ainda os novos assoladores dos maciços arbóreos em plena formação, que
sob o pretexto do exercício das industrias pecuária, do fabrico do carvão, corte de
madeiras para construção, colheita de material para adubos e torragens etc, teem
sido inimigos ferozes e por vezes inconscientes das ricas e abundantes t1orcstas,
que emolduravam as nossas elevações montanhosas.
Os pastores-E' um erro grave supor que a criação do gado bovino, caprino e por-
cino fomenta uma apreciável industria e de cuja supressão poderia de qualquer modo
ressentir-se a economia do distrito, como adiante teremos ocasião de mostrar.
Ninguém ignora que o gado causa uma grande destruição nas plantas ainda novas
e em pleno desenvolvimento, embora a pujança luxuriante da nossa vegetação vença
em boa parte o ataque das fortes mandíbulas desses ruminantes. O que, porém não
pode vencer a opulência nativa dos nossos arvoredos é a acção daninha e criminosa
do pastor.
Os rebanhos não encontram meio favorável para as suas pastugens em terrenos
cobertos de densa arborização, tendo necessidade dum solo em que predominem as
lorragens e plantas de pequeno porte, indispensáveis á alimentação que lhes é mais
apropriada.
O pastor prepara logo esse desejado pascilgo numa clareira mais ou menos vasta,
que as chamas lhe oferecem sem dificuldade. Os grandes incêndios nas nossas matas
teem ordinariamente essa origem. Os zagais não trepidam um momento em convert-
er uma t10resta de belas e corpulentas arvores, que levaram séculos a formar-se,
numa superl1cie deserta e calcinada pelo fogo devorador, aJim de que em breve se
transforme em campo de tàrta pastagem, destinada a fornecer alimento a limas par-
cas dezenas de cabras e ovelhas.
Como é sabido e vem a propósito dizer-se, os gados, na sua generalidade, pastam
livremente sem guardas OLl pastores e acham-se expostos a todas as intempéries, não
existindo currais ou abrigos adequados que os resguardem elas rigorosas invernias,
sendo sempre muito considerável o numero ele animais, que por esse motivo
sucumbe todos os anos. Esta ponderosa circunstancia seria suficiente para justifícar-
se, em quaisquer país, uma absoluta proibição ela livre pastagem do gado em serras
desarborizadas.
Os Carvoeiros- Tem surgido a ideia da conveniente preparação elo carvão mineral

184
Do DE NOÉ

como combustível destinado aos usos mas se é facilmente


viável essa e do seu emprego, classes menos favore-
em virtude do seu elevado custo. O que se sabe com inteira certcza é que o
carvão tàbricado na Madeira também não é de módico preço e constitui um
factor altamente arbórea das nossas serras.
São tão manifestos os resultantes do fabrico do
inúmeras e belas arvores que para obter-se esse
ainda sempre iminente de atiar-se um violento
vezes tem que desnecessário se torna aduzir um
mentos para eondenar de semelhante
cláusulas de segurança, que porventura para esse

evitar inteiramente os
resultar do seu fabrico.
O decreto de 23 de Julho 1913. que se ocupa da
estabelece uma valiosa acerca do fabrico do transcr-
ever:
Art 8-A da data da pc"u ll'~"~~"U da o fabrico do
carvão de lenha na ilha Madeira. a não ser dos arvoredos ou
por indivíduos eles devidamente autorizados e dentro das suas "r{Wl1·,p/i
A este tem sido. dada uma latitudinária e à sombra dele não
faltou a
colonizadores não se eon-
os benefícios que a abundância 110-
C01110 excelente

cios graves abusos que então se cometiam.


Tomando iludindo-se habilmente a

até se
ás leis que esse
O mal continuou e ainda se constróem
pequenas para não existem as conhecidas "Serras de
machado não deixa de trabalhar activamente e com dos
de que nos últimos anos teem CL<J,;" ........ " ,

Por ocasião da ultima guerra, em vista da falta de carvão para a de


esses abastecimentos de lenhas c
Tn:mf'H"'L~ colhidas nas nossas serras, não sendo raro entrc esses rorneci·
mentos com "traves" e de florestais de valor e que
com dificuldade ser encontradas. Havia então e ainda existem den·
sas matas de que deveriam ser a esse fim.

185
ALI3ERTO VIEIRA

Foi talvez ainda maior a destruição, causada nas nossas reduzidas matas no perío-
do decorrido de 1914 a 1916, especialmente pelos "agentes" de vapores costeiros,
que nos diversos pOlias e destinados a alimentar as caldeiras dessas embarcações,
foram milhares de arvores arrancadas às serras e em que algumas espécies florestais,
já muito raras, desapareceram inteiramente.
De todos os inimigos das florestas madeirenses não é o "negociante de madeiras"
o menos prejudicial ao bem comum, contando muitas vezes com a especial protecção
de qualificadas entidades, que gravitam em torno das estações oficiais.
Um jornal do Funchal, no seu número de IOde Maio de 1945 fornece-nos esta
curiosa informação:
No Montado do Pereiro os guardas florestais teem surpreendido, nestes últimos
tempos, centenas de indivíduos que se embrenham nas nossas serras. a rolar e a
abater tudo quanto se encontra a vegetar, e o descasque de arvores para as oficinas
de curtimentos de peles é o maior negócio a que se podem entregar os ladrões" das
senas, deixando nuas as arvores de renome florestal, só com a mira no interesse".

V1IJ-OS "REGIMENTOS" DAS MADEIRAS

A opulenta riqueza florestal da Madeira não foi de todo destruída, mas apenas bas-
tante atenuada pelo celebre e primitivo incêndio, sendo principalmente a acção
imprevidente e vandálica dos seus habitantes, que através do tempo a vem reduzido
a bem lamentáveis, e quasi mesquinhas proporções.
Muitas razões persuadem que sem demora se tivessem adoptado medidas repres-
sivas para impedir e castigar os abusos cometidos, mas não se conhecem a natureza
dessas primeiras providencias, a época precisa da sua promulgação e as penalidades
impostas aos delinquentes.
O mais antigo diploma legislativo de que há seguro conhecimento é o alvará régio
de 7 de Maio de l493, que embora se ocupe particularmellte de várias concessões
acerca de fontes e nascentes, encerra estas curiosas palavras referentes ao nosso
assunto, que impOlia transcrever: ... os freixos e cedros, que para nós reservamos a
não lIsarão nem cOliarão ... a não ser para algumas igreja ou casa de câmara ou a quem
dermos ... licença por carta nossa".
E a propósito diremos que ha meio século ou pouco mais existiam ainda em vários
pontos da ilha muitos maciços dos nosso cedro indígena, a tão apreciada e odorífera
madeira bastante empregada na marcenaria madeirense, Não sabemos se hoje, ao
menos como simples e saudosa amostra do passado, se encontram ainda alguns
exemplares em qualquer afastado recanto das matas do interior.
O ilustre comentador das Saudades da Terra faz menção de um antigo diploma,
datado de 14 de Janeiro de 1515 e destinado a proteger as florestas da ilha, declaran-
do que não conseguiu obter copia desse documento. Transcreve, porém, integral-
mente o conhecido "Regimento das Madeiras" de 27 de Agosto de 1562 que informa
achar-se registado a foI. 128-133 do Tomo Segundo do Arquivo da Câmara
Municipal do Funchal. (Vid. Saud, 463-471).
Faz preceder essa transcrição das seguintes palavras: "E diploma importante á his-

186
Do À ARCA DE NOÉ

de não se conhecerem todas as


Janeiro de 15 5, a que acima se sabe-se que nele se ordenava a
e castanheiros nas terras mais
o corte de arvores sem das cam aras, não Do"aerlOO
nos em que houvesse fontes
das

não se possam aceitar em toda a sua


contidas Ilesse somos no entretanto
reconhecer a sua; alta o seu incontestável valor
do critério com que foi versada a ""U"'U", rerJOrtallldo-il()S
que dele fomlava o escritor e distinto
ficou dito.
desse
mas não deixar de aludir a um OLl outro
passagem. E assim indicaremos:
a) não se fazer cortes de madeiras sem elas cmnaras, devendo essas
ser referendadas
quem excedesse os limites das concessões feitas seria multado e
u,",.<,,,'c,,,,,v para a sendo também os que pusessem na serra;
,-nv>un,uv de cortar ramos de arvores para do
a de navios e ainda de pequenas arcac()es para
serem pv,vlf-tnrin
e) que os cortes de madeiras se a menos de "cincoenta de
distancia das nascentes e
t) os de certas arvores e espe-
cialmente de
Parece que eram ainda mais draconianos os estabelecidos por este
do que as anterior de 151
dando-nos assim a conhecer o crescimento dos abusos cometidos e de os
coibir por
Os

são dois documentos notáveis sob


"'"'I'" ,"'''.1, que
LO sua extensão não UUlICI"'"

187
ALBERTO VIEIRA

integralmente transcrever, neste lugar, mas do qual deveria tàzer-se uma publicação
especial, acompanhando cada uma das suas disposições legais dos indispensáveis
comentários acomodados ás circunstancias actuais da vigente legislação florestal.
Os alvarás régios de 28 de Outubro de 1593 e 26 de Janeiro de 1596 ratificam e
em alguns pontos ampliam as disposições contidas nos "Regimentos das Madeiras",
devendo supor-se, com bom fundamento, que a frequente promulgação destas leis
coercitivas seria determinada pelos também frequentes abusos que então se cometi-
am.
No "Índice Geral do Registo da Antiga Provedoria da Real Fazenda (a) encon-
tram-se mencionadas outras detenninações legais referentes a esta matéria, sendo a
mais antiga a de 2 de Janeiro de 1610, que é o alvará régio de Filipe Il, que estab-
elecendo acertadas providencias com o fim de coibir os actos de vandalismo pratica-
dos nos arvoredos e comina penas severa aos transgressores das respectivas leis
vigentes.
No citado "Índice" acha-se exarado esta interessante informação: "O Conselho da
Fazenda (do Funchal) não só mand remeter as devassas que se tiraram na força da
Provisão do Senhor Rei Dom João IV de 12 de Janeiro de 1641 para se acautelarem
os inconvenientes resultantes dos cortes das madeiras, mas também determina que se
povoe a serra de arvores, guardando-se o Regulamento e a lei do Senhor Rei Dom
Manuel e executando-se as penas decretadas contra os transgressores e finalmente
que se pergunte nas residências do juiz de Fora e do COlTegedor por este descuido.
Este alvará régio de D. João V visava especialmente a lima mais, rigorosa observân-
cia de muitas determinações legais que tinham decaído em quase inteiro desuso.
Em 1790 exerceu o Dr. António Rodrigues de Oliveira o cargo de corregedor, que
acumulou com o lugar de inspector da agricultura, tendo deixado na secretaria da
Câmara da Calheta umas instruções sobre diversos serviços agrícolas, considerados
de grande proveito e redigida com o mais atinado critério, em que se estabeleceu
algumas regras acerca do repovoamento florestal, merecendo ainda hoje serem lidas
e consultadas.
Entre os relevantes serviços prestaçlos pelo engenheiro Reinaldo Oudinot, ao diri-
gir os trabalhos de reparação dos estragos causados pela grande aluvião de 1803,
importa destacar a redacção de umas Instruções... dirigidas aos proprietários e
agricultores, que aconselham a adopção de importantes medidas referentes á conser-
vação dos arvoredos e que o alvará régio de [J de Maio de 1804 e ainda outros
tornaram obrigatório o seu cumprimento.
No antigo arquivo da Câmara Municipal do Funchal acham-se registados muitos
diplomas dos séculos XVII e XVIII, referentes a este importante assunto, acaute-
lando eficazmente a conservação dos atvoredos, adoptando acertadas providencias
para o seu desenvolvimento e impondo severos castigos aos transgressores. A estas
determinações legais nos homens ainda de referir, quando particularmente nos ocu-
parmos de algumas das medidas de caracter pratico, que então se adoptaram para
esse fim.
Além dos documentos mencionados, é curioso verificar-se que em varias deter-
minações legais, estranhas a esta matéria, se encontram algumas interessantes e
proveitosas referencias aos assuntos florestais.

188
Do À ARCA DE NOÉ

Tem afinidade com assunto deste o que adiante diremos rela"


tivamente aos diversos e de modo par titular ás
medidas na

IX-DIPLOMA LEGISLATIVO E POSTURAS MUN1CIPAIS

As diversas que ficam sumariamente mencionadas e ainda as


que teremos de citar no decurso deste a pro-
dum que e todos os
e desenvolvimento dos nossos arvoredos de uma
mais eficaz e mais cobro ás arbi-
que tão
Essas decretadas em muito distanciadas entre nunca tiveram um
caracter de relativa estabilidade e antes acomodavam às circunstancias
a que se
tàlta de
das medidas a
Obedeceram certamente, na maioria
e zelosa mas talvez
se empregavam.
"~'JlCl'yv'", camarárias dos difer-
~ ...".,., •• _,_"v nas suas "Posturas , de que
ha vagas noticias por vezes, entre elas as mais COIl-
LlaI.HI,.u,,"', que não raro colidiam com as que
das Camaras não se acham
e interesse fizeram ae:>at:)an~c
Através do

que

deveriam
dos terrenos

á sua
"prh""",,.,,, ao estado e aos
as suas "Posturas" em conformidade

189
ALBERTO VIEIRA

com as disposições do novo decreto; 6. criar uma repartição central com largas
atribuições para a direcção de todos os serviços, como já foi deliberado pela Junta
Geral, na sua sessão de 29 de Setembro de 1930.

X-TERRENOS "BALDIOS"

Teem conservado esta designação os terrenos, não sujeitos a exploração agrícola


e que em geral ficam situados em uma altitude superior a oitocentos ou novecentos
metros. pertencem a particulares, ás Camaras Municipais e ao Estado, não se achan-
do bem delimitadas as fronteiras dos diversos proprietários. Os "baldios" eram em
outros tempos e ainda o são em boa palie, separados das terras cultivadas por meio
de sebes ou tapumes, feitos de estacas e ramos de arvores, que teem o nome de bar-
dos, principalmente destinados a impedir que os gados assaltem as culturas agríco-
las.
Não estando demarcados com precisão os limites desses terrenos, fácil é de con-
jecturar os abusos que se tenham dado, as audaciosas pretensões que de quando em
quando apareçam e as fi'audes empregadas para a sua ilícita e definitiva posse, por
palie de indivíduos destituídos das mais escrupulosas e rectas intenções
Uma grande pmie desses "baldios" eram considerados como "logradouros
comuns", em que os cultivadores das terras, mediante certas condições e sob a fis-
calização da repmiição competente, procediam á colheita de fOlTagens, de matéria
para adubos e para combustível, constituindo para eles uma apreciável regalia de que
não podiam dispensar na labuta da sua activa e modesta existência. Se admitirmos o
progressivo cerceamento destes antigos e tradicionais privilégios com a alienação a
particulares desses terrenos "baldios", que eram pertença do estado ou dos municí-
pios, veremos seriamente ameaçada a legítima prosperidade, a apreciada economia
doméstica e o relativo bem-estar de milhares de indivíduos de uma simples mediania
de haveres, em favor de um número restrito de pessoas abonadas mas pouco escrupu-
losas ...
Não ha muito que numa repartição do estado de um concelho rural foram vendi-
dos em hasta pública, por uns módicos centos de escudos, com o fundamento em uns
hipotéticos direitos de propriedade, uns terrenos "baldios", de que o público usufruía,
por direito consuetudinario, tendo a Câmara Municipal infOlmado de que esses ter-
renos não eram "logradouros comuns" e havendo a referida repartição realizado essa
venda e arrecadado a respectiva contribuição pertencente á fazenda pública.
Desnecessário se torna encarecer a imperiosa e inadiável necessidade de proced-
er-se, com a mais rigorosa exactidão que possível for, á delimitação desses terrenos,
quer sejam do estado, quer das camaras ou de particulares, conforme estão exigindo
a conservação dos restantes arvoredos, a rigorosa fiscalização a exercer pelo corpo
de guardas florestais, a orientação a adoptar pela repmiição central e ainda a
manutenção tradicional de inúmeros cultivadores de terras, como acima fica referi-
do.
De longe em longe e em diversas épocas tem surgido a ideia do aproveitamento
desse "baldios" com destino especial ao cultivo das produções agrícolas, que pre-

190
Do ARCA DE NOÉ

sentem ente encontraria defensores na assustadora que se verifi-


ca na Madeira. tornar-se ou mesmo aconselhável uma semelhante medi-
da. que em caso a inteira das terras, que
deveriam continuar na posse seeular e tradicional do estado ou das eamaras municí-
estabelecendo-se as cláusulas de que fossem mais convenientes ao
bem comum e sem notável dos actuais usufrutuários.
No entretanto, bom é recordar a que como notamos, que
esses em virtude da altitude em que sc encontram, do clima que ali
se faz sentir numa do ano e da excessiva ITc:quencl dos fenómenos

e também á permanente
moradia dos cultivadores. Em mais acentuadas se observam
os mesmos fenómenos no conhecido "Paul da Serra", do

E' certo que os alvarás de 3 de Julho de 1766 20 de Julho de 1810 e 18 de


Setembro de 1811 facultavam a de vários ter-
renos
desses guar-
nn'''''IP1'''''1(\Q e a pouca dili-

mostram que essas


e vieram tornar mais caóti-

de 18 de Setembro de 1811,

o mais
que conhecia
madeirense:
onde a existência das floristas é

e IlCOI1-

necessária debaixo do
Ollde para o terreno, porque os
das interessam á sociedade e não unicamente
de um indivíduo no interesse fi
se ele entende de conveniência
tum.
"A florestal não encontra além disso de nas

191
ALBERTO VIEIRA

mãos dos particulares cuja necessidade imediata de gozo não se concilia de forma
alguma com o tempo que exigem os produtos lenhosos, para adquirirem qualidades
vendáveis.
"Na Madeira é urgente submeter a um regimen especial a zona arborisavel, e a
ideia que apresentamos é tanto mais plausível, quando que, sendo certo ser esta faxa
propriedade de municípios que não tiram dela rendimento algum, ou de particulares
pouco firmes na sua posse, e colocados nas mesmas condições das Camaras, a sua
execução se torna muito mais fácil."
O recente decreto de 27 de Maio de 1946 veio facultar a cessão, mediante certas
clausulas, de telTenos "baldios", em favor de "casais" menos providos de haveres e
também em favor de uma mais útil e apropriada expansão populacional
Cumpre que se mantenha a doutrina exposta nos anteriores capítulos deste estudo
com respeito à conservação, aplicação e propriedade desses terrenos harmonizando-
a com as disposições agora decretadas
A nova lei acerca de Baldios (26-Maio-46) na sua Base XXX estatui o seguinte:
"Nos terrenos baldios, cuja divisão não seja de aconselhar, a Junta de Colonização
interna estabelecerá o regime de logradouro comum, destinando-se à cultma ou apas-
centação de gado no interesse dos moradores mais necessitados"
As duvidas que possam surgir na conciliação dos preceitos estabelecidos na cita-
da lei com as paIticulares necessidades do arquipélago, seriam suficientemente
esclarecidas na promulgação dos indispensáveis decretos a que varias vezes nos
temos referido. Embora se deva dar inteiro cumprimento as leis gerais do país, é no
entretanto sabido que em todos os tempos e para diversas localidades se tem atendi-
do a imperiosas circunstancias de caracter regional, tendo os legisladores olhado com
solicitude para a satisfação dessas impreteríveis necessidades.

XI-"O PAUL DA SERRA"

As suas condições oro gráficas, a natureza do solo, a sua relativa extensão, a alti-
tude em que se acha situada e as tão apreciadas vantagens que oferece aos povos dos
concelhos da Ponta do Sol, Calheta, Porto do Moniz e S. Vicente exigem uma par-
ticular referencia ao conhecido lugar do "Paul da Serra". embora nos limitemos a
repetir o que está dito em outras publicações e que também já deixamos exposto com
algum desenvolvimento nos trabalhos da nossa autoria Elucidário Madeirense e
Dicionário Corografico do Arquipélago da Madeira.
E a única área de território que na acidentadissima superficie da Madeira pode
merecer o nome de "planalto", apesar do acentuado relevo que apresenta em quase
toda a sua extensão.
Demora a uma altura média de 1500 metros acima do nível do mar e tem aproxi~
madamente seis quilómetros de comprimentos e três na sua maior largura, com-
putando-se a sua supert1cie em cerca de 16 quilómetros quadrados. E' logradouro
comum e muito aproveitado pelos habitantes das freguesias circunvizinhas para a
apanha de lenhas destinadas a combustível e especialmente de ervas e matos, para a
engorda dos gados e como matéria prima para os adubos de curral. Serve de pasta-

192
Do ARCA DE NOE

gens a muitos rebanhos de


em com este
mas delas transitam carros de

e 4 da Casa

que ali se estabeleceu esteve durante


Junta Geral do por intel111édio da sua """'~"I''''';n

a altitude em que se acha


desencadeiam e o
suficientemente o
ali realizadas. Somente com às for-
o que levaria muitos anos a

duma estrada que atraves-


tendo como extremos a
do Porto do Moniz e medindo
desta estrada seriam: o da
Ellcumeada ao sítio do Lombo do numa extensão de 4200 metros, outro,
deste ao Pico da num percurso de 8300 metros, um terceiro do Pico
da Urze até aos Lamaceiras do com o de 23
ros, e o último dos Lamaceiras ao de mar, medindo 3000 metros. Esta estrada
foi iniciada no ano de 19 extremos, mas poucos dela
ficaram construídos.
Obedecia ao que então se discutiu no seio da Junta
de um artificial na pequena enseada do Porto
para esse fim 3 estudos de caracter técnico. Dar-se-ia a
do Funchal e do Porto facilitando o dos
ventos do sul não fazer nu baía do Funchal. Esse
como outros, não pussou de umu pura fantasia dessa não saudosa nem
adm inistrativa.
O que fica talvez desmesuradamente destina-se de modo muito ,,'''"'''.1«1
demonstrar que o do "Paul da Serra" e em
não ter um para a
al'.""'UlC'~ e menos ainda para a de pequenos
ser única e exclusivamente destinados aos fins que ficam varias vezes indicados nes-
tas a moderada colheita de materiais para adubos e

193
ALBERTO VIEIRA

a fiscalizada permissão para uma limitada industria pe<.:uária; e sobretudo a activa


plantação de espécies florestais e a cuidada conservação das existentes, tudo em con-
formidade com as instruções emanadas da repartição competente, que para isso deve
formular os indispensáveis regulamentos e subordina-los à aprovação das estacões
superiores.
Tem particular afinidade com o nosso assunto algumas disposições do alvará régio
de 18 de Setembro de 181 J, que penuitiu à concessão de terrenos baldios e onde se
encontra o seguinte:
"Exceptuo somente por agora o sitio chamado Paul da Serra que compreende 7
léguas de comprido e 3 de largo, porque posto seja insusceptível de fácil cultura não
convém que se reparta enquanto houver baldios a dividir nas outras partes, por ser o
dito Paulo logradouro comum da maior pare dos concelhos e de muitas freguesias
da ilha ... "
O assunto deste capitulo obriga a uma referencia ao importante relatório do
regente florestal da Madeira António Schiapa de Azevedo, que também encarece a
reconhecida importância desse planalto e sustenta a opinião de que ele deve ser
exclusivamente aplicado a unia larga arborização, a prados e forragens, e à industria
pecuária, não se aludindo à exploração de culturas agrícolas e menos ainda à for-
mação ou permanência de núcleos de população,
Como "logradouro comum", a que acima aludimos, encontram-se nesse relatório
os períodos que em seguida transcrevemos que exprimem a verdadeira doutrina acer-
ca do assunto:
Ao Paul da Serra apesar de algumas das camaras municipais dos concelhos cita-
dos (Ponta do Sol, Calheta, Porto do Moniz e S. Vicente) quererem considera-lo ter-
reno concelhio ou municipal, é na verdade peliença da Nação. não só porque aque-
las corporações não possuem nos seus tombos o mais insignificante documento sobre
o assunto ou o mais leve indicio que lhes dê direito àquela vastíssima propriedade,
más e principalmente porque já em 1803,1804 ou 1805 a Coroa fanuara bem os seus
direitos na calia regia que El-rei D. João VI, então Príncipe Regente do Reino, pub-
licado no Boletim Oficial daquela época, e na qual o referido monarca concedia aos
povos da ilha da Madeira que em logradouro comum ali pastassem seus gados mas
sem abdicar seus direitos e bem ao contrario reservando a referida planície para °
domínio da Coroa, Alem do Paul da Sen'a, é minha convicção que o FanaI pertence
também a Fazenda Nacional e assim o afinna o ilustre sivicultor Júlio Maria Viana
no seu relatório sobre serviços florestais desta ilha, publicado no ano de 1897,
serviços que superiormente dirigiu até o ano de 1902."
Ocupando-nos, embora sucintamente, deste planalto, é natural que se faça uma
ligeira referencia a alguns dos seus principais sítios e de modo especial daqueles que
são mais frequentados e onde se encontram casas de abrigo, as quais prestam rele-
vantes serviços aos viandantes e aos que teem necessidade de percorrer àquela
inóspita e desabrigada região.
Na extremidade norte da elevada planície fica o sitio dos Estanquinhos, a uma alti-
tude de 1500 metros, que tem uma casa de abrigo e nas suas imediações uma
nascente de boa água potável. O lugar da Bica da Cana, situada nessa vasta planura
e distanciado cerca de 10 quilómetros da estancia Rabaçal, tornou-se muito conheci-

194
Do ARCA DE 1',101:

do que a Junta ali a varias melhoramentos com a


de um campo . o ini-
cio de revestimento florestal e o de varias culturas
também conhecido nome de Meio Paul é sitio muito
que em outro tempo teve uma pcquena "casa de . ficando situado no
"chão" central do No alto da serra da Ribeira Brava c li cntestar com o PauL
com uma pequena "casa de a que se chama o Lombo do
Mouro e por ali deve passar a estrada destina a Encumiada de S. Vicente com o
Porto do Moniz. através de toda a extensão do Paul da Serra. O
sitio do encontra-se a pequena distancia
das suas margens, e é bastante transitado
Destes e ainda doutros sítios
Serra se ocupa com mais o "Dicionário da
Madeira" da autoria do Padre Fernando da Silva.

XIl "O MONTA.DO DO BARREIRO"

Fica situado nas serras da vizinha do ;vfonte e estende a sua vasta área
desde o ribeiro do Pisão até o que é muito abun-
dante em e nele nascem caudais que alimentam as levadas do
Santa Luzia e Hortas. Teem ali sua as conhecidas nascentes dos
Tomos destinadas ao abastecimento da cidade. Era em parte da
Câmara do tendo-se suscitado varias e
entre dos que foram dirimidas em
ais e que terminaram no ano de 193 L ficando na posse das abundantes
aguas dos Tornos. Sobre esta matéria os '"A
do Montado do Barreiro" por Pedro de Gois Pita e da
Montado do Barreiro Câmara do FunchaL:' por Juvenal

No ano de 1917 começou a Câmara do Funchal a melhorar consideravelmente as


desse "montado" com a de novos terrenos para o da
sua eficaz aos mananciais ali existentes, de muitas arvores,
aumento do e uma mais activa O Dr. Fernando Tolentino da Costa
eo Silvestre a
esse assunto o mais n""~""lrr,c"
afirmar-se que os madeirenses e ainda os
valor e os que presta o chama-
esse valor e esses fornecem
nrprln~~ linfa de que se
desconhecem a

realizando
do montado e a sua con-
veniente utilidade Destina-se o

195
ALBERTO VIEIRA

primeiro, além dos aprecIaveis benefícios que sempre prestam os arvoredos, a


aumentar o volume dos mananciais existentes, e o segundo a proporcionar ao públi-
co um sitio de distracção e de passatempo. longe dos infectos centros citadinos, em
que a pureza do ambiente, a amenidade do lugar e o livre contacto com a natureza
sejam apreciados por aqueles que de outra fonna o não possam fazer, como em diver-
sas terras se encontra e cuja falta se nota entre nós.
E' de inteira justiça pôr em relevo que esses notáveis melhoramentos obedecem
ao Plano elaborado pelo engenheiro-agronomo Abilio de Barros e Sousa, que tem
sido considerado como um valioso estudo e que muito abona os créditos de profis-
sional distinto, de que merecidamente gosa o seu autor.
A ilustre vereação, que tão zelosa e deligentemente tem dado execução a esse
grande empreendimento e prossegue na sua inteira conclusão, é merecedora do maior
aplauso por parte de todos os munícipes e particularmente pelos moradores da cidade
do Funchal.

XIIl-A ARBORIZAÇÃO DO PORTO SANTO

Diz-nos o doutor Gaspar Frutuoso, referindo-se á época do encontro do Porto


Santo, que esta ilha era "entam coberta de dragoeiros e de zimbros e outras arvores
até ao mar". Essas duas especies arboreas desapareceram ha muito da superfície da
ilha vizinha, apesar das almas do município conservaram no seu escudo um "dra-
goeiro", como autentico testemunho da superabundante existência dessa arvore. Da
natureza das outras espécies florestais, que ali seriam encontradas e que o vandalis-
mo dos habitantes teria feito desaparecer, não ha noticia seglll'a, sabendo se no entre-
tanto que não é exagerada a informação de Frutuoso, possuindo primitivamente uma
apreciada vegetação, que com inteira certeza não logrou uma dilatada duração.
Não temos conhecimento das medidas, que através do tempo se houvesse adopta-
do para uma tentativa de proveitosa rearborização, a não ser os apreciados trabalhos
realizados pelo regente-silvícola António Schiapa de Azevedo pelos anos de 1900,
encontrando-se no Pico do Castelo uma vegetação florestal relativamente importante
que ainda do mar e a grande distancia causa a admiração do observador, em contraste
com a aridez das outras eminências.
Ao tratar-se da plantação do "vidoeiro" na ilha do Porto Santo, escreveu o ilustre
botânico Carlos Azevedo de Menezes um notável artigo, que foi bastante apreciado
e que encena elementos muito interessantes acerca do revestimento florestal daque-
la ilha.
Vamos transcrever os períodos que teem mais intima afinidade com o nosso assun-
to.
"O Porto Santo, no entender dos técnicos, deve ser arborizado com essências da
região mediterrânea e nunca Com espécies da Europa média ou boreal, as quais teem
exigências climatéricas a que o pais não pode satisfazer, já pela SUA posição geográ-
fica, á pela pequena altitude dos seus montes,
"Mesmo no tocante ás essências madeirenses, parece-nos que ha selecções a fazer,
pois não é crível que se adaptem aos terrenos extremamente secos e pouco elevados
do POlia Santo celias espécies que só prospera entre nós nos vales e ravinas do inte-

196
Do ARCA DE NOÉ

011 então nos pontos elevados húmidos das encostas meridionais e setentrion-
ais da nossa ilha.
para o revestimento do Porto
lI1"1I,wr'r\,"<l

que ali foram


a que teem estado virá em que hão
e morrer por não encontrarem nos telTenos e na atmosfera as
necessárias á sua existência.
A falta de chuvas e o calor intenso com médias hibernais pouco dão o
cunho climatérico da vizinha em monte e só cultivar-se com van-
que se encontram na zona inferior da como o
e não o que só começa aparecer com uma
acima de 400 ou 500 metros e que carece de humidade para desen-
volver-se.
"Ora se o do P0I1o
ainda o é mais o
ional no alto

por ISSO que as


.v.u"''''....,,,. caduca não são muito dos de
climas
Do que se carece na vizinha ilha é de arvores sempre como são em regra
as da afim de tanto o solo contra a e
das fontes. Com seu revestimento constituído por
pouco melhoraria a das terras, visto
deixar de ser muito restrita a inl1ucncia desse revestimento num de médias
pouco de que estamos falando".

FLORESTAIS

o direito de em
todos os Cpy·""·',",,, era
exercído por intermédio dos seus rerlre,:;erltal
e outros se encontram referencias nas
ores. Com a dos nos nr·Il1('Il,.n~
e não raro se suscitaram graves conflitos de
entre essas ciosas dos seus c os tradicionais
que se achavam discricionariamente investidos os chefes das
lemos uma prova em mas das mais
, das ainda restam LImas vagas e noticias
Temos a ele que os "Baldios" das Camaras foram uma con-
cessão tácita favorecida circunstancias de v,-"""""u, não existindo um
que a tivesse autorizado. O decrescimento do dos

197
ALBERTO VIEIRA

as faculdades e privilegies que os "forais" e outras leis outorgaram aos municípios


conduziram estes á posse incontestada de vastos tenenos, cujas delimitações ainda
hoje não são bem conhecidas.
Ignora-se a época Precisa em que as vereações municipais entraram na posse dess-
es terrenos e na activa e directa administração deles e bem assim se desconhecem os
anos e os termos em que foram organizadas as primeiras disposições camarárias ou
"posturas" municipais reguladoras deste assunto.
E' sabido que os capitães-donatarios, as vereações municipais e os governadores
e capitaes-generais, durante o predomínio do poder absoluto, e os governadores civis.
administradores do concelho, camaras e juntas gerais no período do constitucional-
ismo tiveram todos uma acção administrativa mais ou menos latitudinaria nos diver-
sos serviços respeitantes á conservação e desenvolvimento das florestas nas serras da
Madeira, mas as diversas determinações legais não assinalavam os limites e as fac-
uldades da interferência dessas entidades, resultando vários conflitos de jurisdição,
como acima ficou dito, e uma irreal e por vezes caótica orientação na execução e na
pratica de muitas prescrições contidas nessas mesmas leis. Não foram importantes ou
não ha delas conhecimento, as medidas adoptadas para favorecer a conservação das
matas no período a que nos vemos referindo, a não ser a promulgação de algumas
leis de caracter mais especulativo do que pratico, sem se obterem os resultados dese-
jados.
Faremos agora rápida menção cle alguns serviços florestais realizados desde o
primeiro quartel do século XIX, que merecem registo especial neste lugar.
Em circular de 15 de Outubro de J 804 recomendou o governador Ascenso de
Oliveira Freire ás camaras da Ponta do Sol, Calheta e S. Vicente que cuidassem da
arborização concelhia e da limpeza das ribeiras. Este governador cuidou também da
arborização do concelho do Funchal e da maneira de se criarem os gados sem pre-
juízo das plantações.
Em 3 de Maio de 1812, leu-se em sessão da Câmara Municipal do Funchal uma
comunicação do inspector da agricultura na Ribeira Brava de haverem sido plantadas
no seu distrito 9:233 arvores, incluindo 4:795 amoreiras.
Em 9 de Novembro de 1814 mandou o governo interino da Macieira realizar
sementeiras de pinheiros e o mesmo fez a Câmara Municipal do Funchal em 14 do
mesmo mês e ano, utilizando para esse fim uns terrenos nas freguesias de Santo
António e S. Martinho.
Por 1821 criaram-se novos maciços de pinheiros, sendo o pinheiro manso a espé-
cie que nessa época era mais procurada para as plantações, e em J 840 mandou o gov-
erno satisfazer uma requisição de vinte moios ele penisco, feita no ano anterior pela
Câmara Municipal do Funchal.
Foi durante o período em que o benemérito Conselheiro José Silvestre Ribeiro
governou a Madeira (t846-1852), que a cultura do pinheiro bravo tomou aqui grande
incremento. A correspondência relativa á rearborização das serras, trocada entre José
Silvestre e as Camaras Municipais e administradores do concelho de toda a ilha,
merece ser lida por todos aqueles que quiserem formar uma ideia exacta e clara do
zelo e superior competência com que esse funcionário soube tratar um assunto, que
tanto se prenclia com a prosperidade do país confiado á sua aclministração, corno

198
Do AARCA DE NOÉ

se ver nos volumes da obra Uma


De I í:l52 em diante só há a assinalar em matéria de ~ .. r\n1·i'7",';;n
numero de arvores mandado executar não há muitos anos
do nas margens levadas
matas de para dentro do
c a remessa que fez a dos I1m"estais para a ilha do POlto Santo de
essências exóticas e das estão ali muito
1921
Pelos anos de 1900 e por iniciativa do civil e distinto madeirense Dr.
.José António de foi a Junta Geral do distrito autorizada a estabelecer um
corpo de inteiramente ao fim da sua
nomeado

de 1901 que estabeleceu a "Autonomia do


a cargo da Junta C0111-
"1"',","''<'''' das florestas.
de Maio de 1912 foi criada a Junta
entre
ao
ruraL.". Os decretos de 8 de
a doutrina dos decretos de 1911 e 1912, em
necessidade de acudir se ao revestimento arbóreo

decreto de 12 de Junho ele

199
ALBERTO VIEIRA

Em deliberações subsequentes e especialmente nos anos de 1913 e 1944 voltou a


Junta Geral a ocupar-se com o maior interesse do revestimento florestal de que resul-
taram apreciáveis benefícios para esse importante serviço. Merece especial referen-
cia o valioso relatório elaborado pelo engenheiro silvicultor José Maria de Carvalho.
No "Plano Quadrienal da Administração do Distrito" a realizar pela Junta Geral
do Funchal, no período próximo futuro de 1946 a 1949 vem indicados estes serviços:
Fazer a regulamentação dos cortes de arvores, desbastes e fabrico de carvão" e "11-
Fazer o povoamento florestal dos terrenos da Junta e de alguns terrenos baldios"
Nos artigos "Região Agrícola (Nona) e "Regimen Florestais da 2.0 edição do
Elucid Mad., encontram-se varias informações respeitantes a esta matéria.
Nos capítulos precedentes, ficaram sumariamente indicadas as importes e fre-
quentes medidas legislativas que se adoptaram através de quatro séculos, destinadas
a proteger e a propagar as espécies florestais das nossas elevadas serranias: Vimos
que as providencias promulgadas e os diligentes esforços empregados não corre-
sponderam ás intenções dos legisladores e dos Governantes, em virtude da falta de
uma rigorosa observância dos privilégios estabelecidos e da impunidade havida para
com os audaciosos infractores.
Em breve resenha deixamos também esboçados os motivos que justificam a pro-
mulgação de novas leis com as salutares prescrições que acerca do assunto as devem
caracterizar, impondo-se para esse fim a absoluta e insofismável necessidade da cri-
ação de uma repartição central, que saiba, queira e possa dar o mais inteiro cumpri-
mento e a mais, completa execução a todas essas determinações legais. sem excluir
os necessários meios coercitivos e as severas penalidades que a eles andam sempre
estreitamente ligados.
Embora já esteja dito e repetido, de novo convém insistir na afirmativa de que não
hasta a promulgação de novas leis, com o seu aparatoso cortejo de "instruções" e
"regulamentos", tornando-se também imperiosa a necessidade de confiar a direcção
dos serviços florestais a urna repartição especial, que, além dos indispensáveis req-
uisitos de zelo e de probidade, que devem distinguir o exercício das funções públi-
cas, possua o conjunto de todos os conhecimentos de caracter teórico e mais ainda de
feição essencialmente pratica para o cabal desempenho desses importantes e espe-
cializados serviços.
Não vá julgar-se que este alvitre, ha muito sustentado por nós nas colunas da
imprensa diária, carece de autorizado e solido fundamento, pois que ele se acha
defendido e preconizado por distintos engenheiros-silvicultores em vários relatórios
e documentos oficiais
Como muitas vezes tem acontecido na execução de certos melhoramentos, é de
conjecturar que se levantem entre outros, estes argumentos de fraca e apenas
aparente persuasão, mas que para muitos serão alegações de cerrada e indestrutível
dialéctica:
l.-A avultada despesa que importa a criação de uma nova repartição publica, a sua
instalação e os encargos resultantes do seu grande movimento burocrático;
2.0-Não se tornar a benéfica acção de efeitos muito imediatos, tendo de aguardar-
se U111 ti.!turo mais ou menos largo para se reconhecer todos os proveitosos resultados
dos serviços prestados;

200
Do DE NuÉ

dos que te em directa ou indirectamente interesses


dos á inteira dos chamados "inimi-
gos dos arvoredos", e ainda outros não men-
cionar agora.
estas linhas escreve, tendo-se
assuntos, sempre momentosos para a Madeira,
ha muito a crença inabalável de que
Florestal é um mais assinalados da nossa terra
e a todas as industrias e fontes de nr("""iPrl"i constituindo um grato
dever a mais rendida nU"'''''''I''>'''' a todos que tenham con-
desse melhoramento.
Madeira Dr. Alvaro Favila Vieira abriu
__.... ,.._...... em defesa da e do desenvolvimento das florestas da
com um brilhante discurso no seio da l'Pl'l1'p"",nt"
nacional e com as mais aturadas "",,,,,,. . ,,,,,, das Dela resul-
taram estados ordenados governo central e varias mcdidas
Geral do Distrito. tToBse·glll esses estados e foram

do continuou no fervoroso
e novamente se ocupou com o costumado brilho e reconhecida
momentoso assunto. em uma das da assembleia nacional no mês de
ver em breve coroados os seus

XVI- VIVEIROS

Nos ou em

arbóreas destinadas ao revestimento florestal das nossas


ás essências de caracter e como mais
se dirá no deste estudo. Em varias tentativas se fiz-
bem e que
no entretanto, uma medi-
alcance para o tim tão a que se destinava e o seu run-
danamento constituiria um brado favor dos nossos
arvoredos.
Por o ilustre e do Pereira
Coutinho estabeleceu no Funchal um pequeno , que á morte.
'Ocorrida em não dar um desenvolvimento. Em um documen-
to oficial de 9 de de 1799 diz-se que os terrenos destinados á das
v~l''''''''''' setentrionais estavam situadas na do Monte e que as
""I,'''''''''' meridionais seriam cultivadas nos sítios que parecessem mais

201
ALBERTO V1E1RA

enquanto não se lhes destinasse terreno próprio". No ano de 1823, a dar se credito a
uma informação oficial, distribuiu esse viveiro "para cima de vinte mil arvores" para
diversas pontos da Madeira e Porto Santo, o que julgamos destituído de fundamen-
to, havendo esse campo experimental sido extinto em 1828. Deste "viveiro" se
encontra uma desenvolvida noticia no terceiro volume do Elucidário Madeirense.
Oferece particular interesse ao que fica tratado neste capitulo a informação colhi-
da em um jornal do Funchal e que temos por fidedigna.
Já no capitulo Montado do Barreiro, nos referimos ao importante serviço de rear-
borisação que a Câmara do Funchal está ali realizando mas não queremos deixar de
aludir ao "Viveiro" que a mesma Câmara mantém no sitio dos Saltos freguesia de
Santa Luzia, destinado a fornecer as espécies arbóreas para aquele revestimento flo-
restal. São muitos milhares de plantas e de variadas espécies, cujas sementeiras,
tratamento, conservação e transplantação obedecem ao mais atilado critério.
Tem a mais próxima afinidade com este assunto os textos, que em seguida tran-
screvemos, publicados em o "Eco do Funchal" de 29 ele Novembro ele 1945 e a que
já acima fizemos referencia.
"A distribuição das essências florestais está feita segundo as necessidades emer-
gentes. Há o pinheiro, a criptoméria, o eucalipto. o carvalho para aduela, o azevinho,
a nogueira americana, e o castanheiro, plantados aos milhares em extensas áreas. Há
os tis, os vinhaticos, o pau branco, o barbusano, a faia, o seiceiro, as acácias e estão
a seguir para esses montados, mais de 70.000 plantas de várias espécies, devidamente
acondicionaclas no Viveiro do Reservatório da Câmara, ao caminho dos Saltos, onde
se fazem as sementeiras.
A industria de tanoaria com os massiços de carvalhos que se hão-de formar no
Barreiro e no Pisão, lucrará com essas plantações; a indústria de marcenaria. com as
madeiras de castanho e outras que já começam a faltar e a encarecer o seu valor, terá
garantido o exercício do trabalho; os construtores encontrarão toda a espécie ele
madeira para uso na edificação das habitações, desde o pinho da terra, até às mais
raras madeiras para soalhos, molduras, "parques", e a exportação vai descobrir ness-
es montados matéria prima para a confecção das caixas de embalagens. A indústria
resineira terá nessas florestas urna fonte de produtos exploráveis, e com as cascas de
certas arvores encontraremos solução para as faltas que já se vão notando no aman-
ho elas curtimentas, sem falarmos nas lenhas, cuja deficiência se vai tornanclo um
pesadelo paras as elonas de Casas"

XVIl SELECÇÃO DAS ESPÉCIES FLORESTAIS

Tem sielo objecto ele estuelo e de discussão a escolha das espécies tlorestais preferi-
da na rearborisação das nossas elevações montanhosas. Escasseiam-nos os conheci-
mentos de caracter técnico para emitir um autorizado parecer acerca desta matéria,
mas as varias leituras que fizemos e as consultas a que procedemos, levam-nos u
aceitar, sem talvez cometer um erro da maior gravidade, a opinião cio abalizado
botânico madeirense Carlos Azevedo de Menezes, expressa em muitos dos seus
escritos e corroborada por alguns distintos engenheiros silvicultores.

202
Do À ARCA DE NOÉ

HIl1U"'UV estudo e apenas com uma atenta reflexão ocorre sem


deveriam ser

que ainda se encontram nos montados do interior.


• "H',"".U,"IIHU~, diz o citado que é a f10ra que deve fornecer as
""~I""""'"'' 1-'''_'-'1,''''' para o das serras, Preferir para o referido povoa-
mento as exóticas ás como infelizmente tem sido é não só
de florestais com que natureza dotou
dum melhoramento utilidade não
lenhosos estranhos a esta que
tanto no seu desenvolvimenlo como na
Há nada
menos que trinta e tantas arvores e arbustos ao revestimento dos mais
terrenos e altitudes da ilha. mesmo não fosse para nós um dever
conservar as essências que nos restam, bastaria a circun-
stancia de todas elas ofereceram um maior grau dc ao solo e clima desta
ilha para lhes dar o nos revestimentos a executar".
"Não pomos em duvida que florestais de outras paragens suscep-
tíveis de aclimar-se na montanhosa da Madeira e em nos vales do
o que não vemos é a necessidade de recorrer tão somente a essas P~"'P(,lP~
para reconstituir as nossas razões de
para a e desenvolvimento da vegetaç:ao
"O é uma essência que con-
nas vertentes da meridional e sctentri-
devemos ficar ao menos por
lenhosas na "1"1',,.,,.,'7.,.-"' ....
que não dar bom resultado.
nos trabalhos cio revestimento flore-
convenientemente não concorrerá somente para restituir ás
nossas montanhas a verdura e o frescor doutras será também o meio eficaz
de obstar ao
das tem a sua área ele
Atlântico" .

XVIII-AS PRINCIPAIS

uma breve notícia acerca de das


que cobriram as nossas serras, e para isso
N,·"'r,.,,",o os estudos do já tantas vezes citado botânico Carlos de
do Elucidário no Arvores e Arbustos da
lV«IU""U" e ainda em outros trabalhos da sua autoria.

O Cedro-afamado e odorífero cedro da ilha é o


pequena arvore de 4-7 metros com as flores

203
ALBERTO VIEIRA

has lineares ou linear-lanceoladas, terçadas, com 2 riscas brancas na pagina superior,


e as gálbulas subglabosas e de ordinário amarelas. Este cedro cultivado nas quintas
do Monte, Camacha e Santo da Serra, mas quasi extinto nas serras da Madeira, pro-
duz uma madeira aromática e leve muito apreciada pelos marceneiros. O tecto da Sé
Catedral tài construído com essa madeira, e a ser certo o que diz Manuel Tomás na
Insulana, serviu ela também para edificar a primeira casa sobradada que houve no
Funchal. Esta espécie produz madeira clara, aromática e muito resistente. bastante
apreciada na marcenaria, afirmando-se que tem qualidades insecticidas.
Til-É uma laureacea de seis a vinte metros com as folhas coriáceas. ovadas.
lanceoladas ou oblongas, peludas nas axilas dos nertros, com as folhas coriáceas.
ovadas, lanceoladas ou oblongas, peludas nas axilas das nervuras da pagina inferior;
flores pequenas, de ordinário hermafroditas, reunidas em paniculas; baga cingida
parcialmente por uma cúpula formada pela base acrescente do perianto. Encontra-se
nas florestas do interior e do norte da Madeira, e produz madeira com cerne e borne
bem delimitados, este branco, aquele negro. Recentemente cortada, esta madeira tem
um cheiro fOlie e bastante desagradúvel, que só desaparece completamente passados
anos. A Madeira do til é de excelente qualidade e muito usada para moveis e difer-
entes outras obras. O "til branco", dos marceneiros, provem das arvores novas ou do
albumo das arvores antigas.
Vinhatico-Apreciada arvore de 19 a 25 metros sempre verde; folhas coriáceas,
oblongas, ou oblongo-lanceoladas, adelgaçadas em ambas as extremidades, quasi
agudas na ponta, publescente-sedosas em quanto novas; glabras depois de adultas,
dum verde claro ou avermelhadas; paniculas axilares mais curtas do que as Jàlhas;
pedúnculos comprimidos; flores dum branco esverdinhado; bagas ovóides, negras.
Florestas e margens das ribeiras; frequente. Cultivado nas quintas. Agosto-novem-
bro.
Madeira duma linda cor avermelhada e uma das melhores da ilha.
É muito usada para moveis e diferentes outras obrns, oferecendo semelhanças sen-
síveis com a do mogno (Sovictenia), se bem que lhe seja um pouco inferior, em qual-
idade. Como é muito procurada e a pagam por bom preço, é avultadissimo () número
dos vinhaticos que todos os anos são abatidos nas serras, o que pode trazer a rápida
extinção desta espécie, por tantos motivos preciosa e já hoje rara em pontos onele out-
rora era abundante. A casca do vinhatico é usada para curtumes.
Urze molar-Esta espécie, embora quasi sempre arbustiva, pode atingir R a 10 met-
ros de alto, e conhecemos outrora alguns indivíduos cujos troncos mediam I a 9 met-
ros de circunferência. A madeira desta espécie é rija, compacta e dum castanho
escuro mas fende com facilidade, sendo por isso pouco usada na marcenaria. Nos
campos empregam-na às vezes para gamelas, colheres, etc. Os caules não muitos
grossos, dão excelentes bordões e paus de rede. A urze dml1sia é quasi sempre arbus-
tiva, e só nalguns casos chega a atingir 4 e 5 metros de alto, apresentando então um
pequeno tronco com 20 a 30 centímetros de diametro. Os seus ramos, além dos usos
indicados, servem para o preparo de vassouras.
Loureiro-Vem assim descrita esta espécie 110 "Elucid. Mad.": Arvores da 111l11ília
das Lauraceas, de 6 a 20 metros, com as folhas persistentes e aromáticas, as umbelas
reunidas em fascículos axilares, de ordinário mais curtas que os pecíolos. e as bagas

204
Do À ARCA DE NOÉ

raras vezes amarelas. Produz madeira inferior à das outras


,aC''-l'''l,~v'',
e suas folhas são usadas como adubo nas cozinhas.
extraía-se outrora um óleo que servia na
dos campos e que preparava cozendo as e dentro dum
saco de pano, em pequenos de madeira. Como o óleo é mais leve de que o
resto sendo tirado facilmente do em que se fazia
a
O loureiro encontra-se na e terceira zonas da
nesta ultima é uma arvore de pequenas dimensões. Existiu outrora no
Porto onde se sendo porem cultivado agora
Barbuzano-Está descrita no referido Arvores e Arbustos Madeirenses
termos:- Pertence família, "laureacea" e encontrA-se
onde descc até às do mar, Pode
vinte metros de alto e tem folhas coriáceas e às vezes
pequenas, cm mais cm1as que as falhas. As que se
observam a miolo na das tolhas desta arvore, constituem uma cecidea
do Ereneum. madeira do barbuzano é muito pouco utilizado
em razão de ser extremamente Na ilha do Porto Santo dão o nome
de barbuzano ao Marmulano conhecida na Madeira
de mam1ulano, As suas folhas a miúdo uma ceci dia por um
quc foi descrito distinto da Silva Tavares no vo!. II da"Broteria".
hu oom
folhas reunidas em raGimos
e frutos
nas serras de S. da
etc., mas está extinta na ilha. Produz madeira
um pouco a cor de rosa, muito de bom
é usado para de
a Madeira de 5 a 7 metros e " , O " ' O ' M •.,

da ilha. Tem folhas


h"''''P'l1tI'~ nos e nas nervuras da
res brancas em cachos formando Os troncos novos e
os rebentões desta arvore dão excelentes "bordões" ou "hastes" muito usados e da
madeira fazem-se etc.
'ra.goielrO~jl'eltel1ce à família das extinto na Madeira e de que
Porto Santo não existe um tendo sido ali muito comum. Tem caules a

Câmara IV!'''''''''',"""
no seu brazão de armas.
Faia-A
do
flores dioicas c ü'utos
vermelhos e l1egros, reunidos em pequenos grupos em
virtude da aderência das flores femininas. A faia boa c os seus caulcs

205
ALBERTO VIEIRA

são utilizados para estacas em muitos pontos da costa norte. A sua casca é taninosa,
a sua madeira é de cor baça, puxando ás vezes a rosado, e os seus frutos, aparente-
mente polispermicos e granulosos, teem sabor agradável quando bem maduros.
Sanguínho-E uma arvore madeirense de quatro a oito metros de altura, perten-
cente á família das "Rhaminaceas", com folhas curvadas ou ovado-oblongas, ser-
radas, providas ordinariamente de 2 a 4 pequenas glândulas ou saliências na parte
inferior da pagina superior. Tem flores pequenas, dum amarelo esverdinhado, dis-
postas em cachos curtos, axilares, e encontra-se na serra do Seixal e entre os
Lamaceiras e o Ribeiro Frio. Produz madeira clara e homogénea, empregada outro-
ra em embutidos, mas hoje desconhecida da grande maioria dos marceneiros, por ser
muito rara.
Seixo-Abundou em outro tempo, mas acha-se hoje quasi extinta esta arvore das
florestas da Madeira, sendo hoje quasi desconhecido. Atinge 2 a 12 metros, sendo de
madeira amarelada e é susceptível de bom polido, com largo uso na marcenaria em
outro tempo".

XIX- PASTAGENS

Em muitos lugares do "Elucidário Madeirense" e nomeadamente nos artigos


"Arborisação", "Gados", "Industria Pecuária", "Pecuaria", "Prados" e "Pastagens"
nos ocupámos com alguma largues a das diversas espécies de gados existentes nas
serras e baldios desta ilha, e de modo partÍCular no capitulo VI ("Inimigos dos
Arvoredos") deste ligeiro estudo nos referimos aos consideraveis estragos que esses
gados causam aos nossos arvoredos, tornando-se indispensável unia mais activa e
eficaz vigilância por parte da guarda florestal e sobretudo uma severa aplicação das
penalidades que a lei estabelece contra os transgressores. Em rápidas palavras,
salientamos a inaudita devastação que os incêndios provocados para a "criação" de
pascigos apropriados, originam em vários pontos com gravissimos prejuizos nas
arvores e nos matos, nas forragens e nas nascentes e ainda em algumas culturas de
propriedade particular.
E conveniente reproduzir os seguintes trechos, publicados ha vinte anos, que con-
servam a mais flagrante e opOltuna actualidade.
O gado suino, não menos prejudicial que o caprino, somente se encontrava até à
altitude de 1400 a 1500 metros, causando sempre os maiores estragos, mas hoje
(1926) estende-se até aos cumes dos mais altos montes. A conhecida Lapa da Cadela,
pitoresco abrigo dos turistas e dos pastores, acha-se transformada em um imundo
curral, com grande repulsão dos que por ali tramitam, devendo ser apenas reservado
para os visitantes que procuram aquelas paragens. Em frente deste abrigo existia um
denso e majestoso maciço de urzes secula-res, muito admirado por nacionais e
estrangeiros, que o machado fez ha muito desaparecer (1921)
As leis promulgadas para a "repressão desses abusos, tanto as mais antigas como
as da época relativamente recente, tem sido impotentes para uma completa exter-
minação do mal, o que determinou a publicação do decreto de 23 de Julho de 1913,
que ficou conhecido pelo nome de das pastagens.

206
Do À ARCA DE NOÉ

Nela se
a)
centes aos donos desses
c) dos mesmos rf''''i·p._',n~ lm!)eOtnclo que o possa sair
dessas áreas;
os baldios do estado ou das câmaras que forem destinados a
serão também inteiram en-te
sómente ser exercido por meio de

a á caça e á
Reconhece-se que esses embo-ra encerrando
!-,U''''"IJ''"" e satisfazendo as necessidades do momento em que foram
atlng1em inteiramente o fim a necessidade de os modificar
e
actualidade os trechos que tran-
ha poucos mêses em um do Funchal:
que ha lavradores nos campos que de utilizar os
seus telTenos em ZO-l1a8 altas com receio de verem totalmente destruídas as suas cul-
turas.
está ainda para matar!
m0l111cnte o estão sendo desses animais
lrc:qllel11:erriente se haverem dado batidas ao desde
da autoridade administrativa da mesma forma as serras do
enfim todas as serras da Madeira.
com um
foram
matando a tiro o nocivo à ve:get:aç:áo,
de culturas. E esse

"O numero de ovelhas aumenta ou influindo muito nisto as inl"i>''l1onr-ri


os cães danados e os ladrões.
"Os rebanhos vivem ali por falta de
para os homens. Se o verão decorrer seco, as ovelhas e muitas morrem
no inverno se este
Os cães são autênticos ha que em uma só

207
Al.Ill·Xro VIEIRA

noite consegue matar 50 lanígeros. Quando apareeem, os pastores organizam batidas


até que os exterminam. Todos os unos apareeem eães eom esta doença, e felizmente
dão-lhes para matar só ovelhas.
"Os amigos do alheio, exercem a sua actividade no Paul da Serra de duas formas:
uma é subtraindo fraudulentamente o gado, principalmelltç durante a noite e a outra
é abrindo as cancelas para que o gado saia, apanham-no logo, alegando que estava a
fazer-lhe prcjuÍzo nas clIltunls".
"Não se torna nunca excessiva a insistência do que neste eapitulo se diz acerca dos
grandes e frequentes estragos causados pelos gados, el11 virtude da falta da indispen-
sável vedação nos terrenos em que eles pasciam livrellwnte, Apesar do que li tal
respeito tão expressa e energicamente se dispõe nos decretos de 23 de Julho de 1913
e 22 ele Outubro de 1916, apesar das "batidas", 11 tiro de espillgllnla, feitas em legit-
ima perseguição desses gados errantes e sem li lH!cessúria vigilüncia, apesar das mui-
tas impostas aos donos desscs animais e aos seus respectivos guias ou pastores c
ainda apesar da eriação de novos postos florestais e acrescentlllllento do scu pessoal,
não é raro que lIS glebas laboriosamente agricultadus, que as incipientes culturas de
vegetação arbórea, que algulls pequenos prados e lugares com proveitosas 'forrngens
sejam invadidos, por vezes em multidão pelos vorazes lanígeros, caprideos e suínos
das nossas serras".
Interessantes e valiosas seriam umas notas pormenorizadas acerca do número das
diferentes espécies cios gados existentes, que abrungessem diversas époeas e que par-
ti<.:ulnrmenlc se rcJerissem II eadu um dos onze cOllcelhos do nosso distrito. Estú
ainda por organizar Ul11ll estatísticll dessa natll\'eza e por isso nos limitaremos á
inserção de alguns dados avulsos, colhidos principalmente nos rellltórim; do antigo
agrónomo Edunrdo Dias Grande e veterinúrio Jouo '!'ierno l.! cuja inldra veracidade
já roi contestada. Foram dois distintos e zelosos fUllcionúrios, qUl.! talvez não pos-
suíssem então os elellll,)n[os indispensúveis pal'l\ a cxeeução de li\)] trabalho baseado
nos mais Sl.!gul'Os meios de investigação.
Ecluardo Grande, COlHO agrónomo do distrito e no Sl.!lI importunte relatllrio I'efer-
ente ao uno de I ~63. dú-nos esta inlhrmução do gado então existente: bovino 2533H
eabeças, ovino 44186, e eupril10 HI ~4(), sem fazcr lllel1çuo da espécil.! porcina.
No relatório do veterinúrio João Tierno publicado em 1897, elleontram-se, com l\
designação ele gado recenseado, l.!stl.!S dndos l.!statíslicm;;
No ano de 1852 exislium l)()894 cabeças de gtldo ov ino. H173<) de gado caprino c
18 de gado porcino; em IBM respectivaml.!llte 4418(1, X1840 l.! IlJ535: el11 1873 esse
número era ele IHMO, IH040 c 22430; e em I H93 foi computado em I H3604, 16517 c
34530.
Respeitante ao uno dl.! 1803, segundo o relatórioucil11u citado, fixa-se em 44186 o
numero ele lanígeros enUlo existente em todo o arquipélago, entrando nesse quuntita-
tivo 32000 no cOllcelho do Funchal, o que nuo julgul110s proporcional aos dos Ou[ros
concelhos.
No notllvel Rdutório do engenheiro-silvicultor José Augusto Fragoso, apresentn-
do Ú 3u\1ta GemI no uno de 1929, lê-se que "são cerca dl: 80()()() eubeças de gado
suíno, ovino c caprino l.!m ]1l.!rl'cilo estado selvagem." que SI.! acham disseminadas nas
diversas pastagens da ilha.

20X
Do ARCA DE NOÉ

"Os donos dos no Paul da são em número de


dessiminados a maioria modestos
aos costumes dos seus não sair cheios de
receando mau ano, no facto de se aumentar a área do e incorrendo em casti-
go da divina se esse aumenlo da área for para o lado do sol

Em I as Camaras administradoras do Paul da Serra ao do


n. 1 do art.o 45 do Cad. Administ. fIzeram um
comum, no
istrar todo o a
com se entendem os e 1 tesoureiro.
"A tem o dividido em três zonas, a de Centro e tendo
cada uma, um grupo de 16 que destacando cada b,'TUpO 2 homens para
do comum, havendo assim todos os 6 homens a os reban-
do Paul da Serra.
e salário aos e recon-
taxas camarárias e outras diversas que no fim do ano
'-'""u,",,,,,, de contadas na ocasião do aITumo para a
donos a sua conforme o número de

a tem encontrado escolhos por toda a já


em 1942 havia 5447

1. e 7125 de lã

Com a carestia. dos todos os fabricaram no campo cobertores para


as suas camas, com lã dos seus ovinos e todos eles e famílias usam camisolas tam-
bém de e de idêntico fabrico.
grassou a os cordeiros substituíram o porco em
todas as casas nas localidades onde houve
As que 'ficam textualmente transcrítas que muitas consideram
baseadas cm dados de caracter oficial dizem ao Paul da SeITa e referem-se
somente ao
Passados poucos dias o "Eco do Funchal" fomecia os
que e existentes em todas as serras da
Madeira:
"Nós de fonte certa, que todo o que em todas as serras da
o número de 95000 assim classificadas: 55000
25000 cabras e 15000
Embora referentes a diversas oferecem entre si uma
os dados que ficam exarados acerca do numero das C::it}CC;lCl>
existentes no nosso estando indicada a iniciativa de ullla
nVt'Stlgaç:ao, que para a orll;an:iza\;ão

209
ALBERTO VIErRA

seguro, pormenorizado e proveitoso trabalho de estatística.


Relaciona-se proximamente com as considerações expostas acerca das
"Pastagens" o que deixamos dito no "Elucidário Madeirense" acerca dos gados que
pastam nas seITanias, quando motivos poderosos aconselharem o exercício de uma
moderada industria pecuária.
Somente ha poucos anos é que a industria pecuária e os cuidados a dispensar aos
gados que pastam livremente nas serras começaram a estimular as atenções das
estações oficiais e a despertar no publico um certo interesse por este assunto.
Deve-se esse movimento inicial aos valiosos estudos realizados pela Intendência
de Pecuária deste distrito, que acerca de tão momentoso assunto, elaborou um vasto
e substancioso relatório, indicando os meios mais adequados a adoptar no nosso
meio, atlm de se alcançarem os resultados mais proveitosos para a indústria agríco-
la da nossa terra.
A selecção e aperfeiçoamento das raças, a criação e tratamento dos gados, a sua
instalação higiénica. e assistência veterinária, as forragens, a produção do leite, a pro-
tecção mutuária e ainda muitos outros interessantes aspectos desta utilíssima matéria
são tratados nesse relatório com grande clareza, com o indispensável desenvolvi-
mento e com a mais notável proficiência, que sobremaneira honra o distinto fil11-
cionário que o concebeu e redigiu.
Muito seria para desejar que se tlzesse uma edição popular desse valioso docu-
mento, destinada a ser espalhada pelos nossos campos e aldeias.
Ao referir-nos, embora rapidamente a este assunto, seria cometer uma flagrante e
imperdoável injustiça não fazer menção dos excelentes trabalhos insertos em alguns
nÍlmeros do "Boletim de Informação e Publicidade", publicado pela junta Nacional
dos Lacticínios da Madeira e dirigido pelo distinto engenheiro Luís Pedro Baptista,
trabalhos que particularmente interessam ás relações da agricultura com a pecuária
através da importante industria dos lacticínios.

XX-PRADOS FORRAGENS

Têm próxima afinidade com o serviço pecuário das Pastagens, versado no capítu-
lo anterior, as considerações que acerca dos "Prados e Forragens" vamos resumida e
parcialmente extratar dum estudo do ilustre botânico Carlos Azevedo de Menezes.
Embora não Pertilemos a opinião dos que sustentam que a indústria pecuária dos
gados lanígero, caprino e suíno constitui um apreciável elemento de prosperidade na
vida económica da Madeira, não queremos deixar de referir-nos a este assunto, .que
poderão oferecer qualquer interesse ou simples curiosidade a alguns dos raros
leitores destc opúsculo.
Os terrenos ervosos da Madeira entram quasi totalmente na categoria de prados
naturais, existindo apenas alguns de caracter artificial na Quinta cio Palheiro e em
mais duas ou três localidades.
Nos prados naturais, relativamente ao nosso meio, ha a considerar os da região
inferior, média e do interior da ilha. O grande aproveitamento dos terrenos para as
culturas faz com que os prados da zona inferior ocupe somente certas encostas a\can-

210
Do ARCA DE NoÉ

tiladas litoral e vários outros pontos, que embora menos sua


natureza, distancia dos falta de agua outras
mam ser utilizados na de ervas.
Na sul da dominante em toda a orla marítima é a "trevina".
as conhecidas nomes de
"",'au,"v, grama,
e ainda outras.
"Os da inferior estendem-se até a altitude de 200 metros na costa do
sul e de 150 metros na do norte, sem muito sensíveis na sua
Nesta ultima certas escarpas do
inclinados acharem-se cultivados
todos de cana etc. Muitas das
que aparecem na na
do apenas a adicionar à lista das que são mais comuns nos
desta ultima
Os da média ocupam as margens das ravinas que sua
não se prestam a e varias e outros terrenos não invadidos
ainda culturas. Estendem-se até 750 aLi 800 metros, e sâo muitas vezes limita-
dos ou cortados matas de formam mas-
consideráveis que sobem até altitudes a 1.000 met-
ros. O mais conhecido na Madeira
muito e os seus ramos novos dão uma boa
convenientemente por causa dos que os revestem.
de 700 ou 800 metros, começam os e do os
o alto das serras, as ravinas centrais não arl30rizadas e ainda uma
das vertentes meridional e setentrional da ilha. secos das montan-
a Aira praecox, a
estas que nos terrenos menos altos das
vertentes aparecem associadas a muitas outras indicadas nos da
e nas ravinas do interior barba de carga, e diferentes mais
ou destes e que só vivem tiOS sítios húmidos ou
assombreados.
Nas ravinas da Ribeira da Metade e da Boa existe uma de fol-
infelizmente muito rara, que é c011siderada como das melhores
da Madeira. Esta que é a Festuca albide e é da
foi cultivada com bom resultado n'um terreno dos suburbios do Funchal. Na
da

as
aguas de Na e na zona can-
stantemente visitada as ervas conservam-se verdes por mais
até meados ou tlns de o que é de ainda mesmo para os Crl-
adores de ''''"11''',"'''''0 do litoral que lá sobem fi às

211
ALBERTO VIEIRA

cia. Em geral, o chamado pastor é um pequeno agricultor ou trabalhador rural. E é


curioso notar-se que em algumas freguesias, ao termo "pastor" anda ligado o signifi-
cado de mandrião e pouco amigo do trabalho
Como já ficou exposto no Cap. VI, o pastor é um inimigo dos arvoredos na
preparação dos pascigos apropriados para a alimentação do gado, recorrendo algu-
mas vezes ao incêndio, que não raramente toma proporções assustadoras. Este moti-
vo por si só bastaria para a completa eliminação da industria pecuária.
Não deixaremos de notar a responsabilidade que a essa devastação se acham lig-
ados alguns proprietários e até funcionários públicos que, por intermédio de uns
pobres pastores, manteem também em livre pastagem as suas dezenas de porcos,
cabras e ovelhas, em diversos montados da ilha.
Uma das mais imperiosas razões que aconselham a extinção da industria pecuária,
como tantas vezes se tem dito e vem consignado em relatórios oficiais, é a absoluta
fEdta de abrigos ou currais adequados para a recolha dos animais especialmente na
época das grandes invernias, que com frequência se desencadeiam nas serranias do
interior. Disse um distinto engenheiro-silvicultor que os gados na Madeira pastam
"em estado selvagem", devido á pouca assistência dos pastores e á ausência comple-
ta de redis convenientes, não sendo para estranhar que seja tão considerável o
número de animais, que por essas causas morrem todos os anos. E sobrevindo, como
de longe em longe acontece, uma dessas invernias com aspectos de aluvião, alguns
milhares de animais terão de desaparecer das nossas terras de pastagem.
No Plano Quadrienal dos trabalhos a cmpreender pela junta Geral do Distrito no
período de 1946 a 1949 vem apontada a construção de redis, o que representa um
beneficio prestado á indústria pecuária do arquipélago.
Pelos motivos que ficam sumariamente expostos, compartilhamos da opinião elc
muitos proprietários de terras e especialmente de alguns distintos silvicultores que
não acarretaria graves prejuízos e seria até vantajosa a extinção da industria pecuária
da nossa ilha. Deveria para isso proceder-se a um conveniente estuda do assunto,
restringindo-se gradualmente o exercício dessa industria e estabelecendo o prazo
máximo de duas dezenas de anos para sua completa extinção.

XXIJ A FLORA MADEIRENSE

Abrimos este ligeiro estudo, mostrando que a Madeira era uma região de natureza
essencialmente florestal, embora o vandalismo dos homens procure desmentir esse
tão acertado juízo, que a história atesta e a cxperiência plenamente confirma.
Queremos terminar, aduzindo alguns elementos de caracter cientifico, que a botâni-
ca oferece, para provar que, além dessa acentuada feição arborescente, guarda tam-
bém todas as condições próprias de 110ra de aspecto universal, com uma rica e larga
representação das mais variadas espécies do reino vegetal, espalhadas por muitas
partes do nosso planeta.
Vamos para isso recorrer aos homens de ciência, que se ocuparam deste assunto e
de modo especial a Richard Lowe, Eduardo Dias Grande e Carlos Azevedo de
Menezes.

212
Do À ARCA DE NOÉ

vezes distancias consideráveis,


As dos de
S. que são
para o sustento dos
os estão

que nascem
turas, nos
"Nos tenenos das serras. situados acima dos bardos
ou minadas quc ficaram no solo e a 1V""'!;""
senão o único alimento do

causam indivíduos novos das varias


arbóreas e arbustivas que crescem nas ,"r,""'''" e muito conveniente seria
antes no sentido evita-los tanto

"O Paul da Serra é ""'''''''"'''''''' desabitado e inculto em razão da sua altitude e


da ano coberto de nevoeiros densos. Mesmo no
muito pouco salvo nas das
Seixal e Ribeira da no norte, e da Ponta do
,"",,,,",,,,,,Arco da Calheta e Sena cle setentrional e ainda do FanaI
e da levada do Pico da A feiteira uma labi-
ada conhecida nome de alecrim da serra, silo as únicas
verdadeiramente abundantes em toda
"Dos 30000 hectares de terrenos incultos que existem na Madeira
que 10000 ervas de boa ou má para sustento
animais. Se esta vasta fosse devidamente isto é se procurasse
melhorar as suas muito lucraria com isso a industria
que carece para desenvolver-se de recursos dos que os que a ilha agora
oferece.

XXI-A INDUSTRIA

sob a do exercício da industria


nas nossas serras, mas não reconhecendo a sua já
defeitos de que ela enferma e alJlml<Ul os alvitres que convinha
no caso de ser como o tem sido até à
um erro supor-se que essa industria tenha reflexo favorável na econo-
mia do quer esta considerada de modo individual. O
seu não afectada a nem diminuiria os parcos inter-
esses dos que a ela se ,,,,,,,,,,"',,,,,,
O "oficio" de não constitui uma e são poucos os que a ela se
dedicam e fazem do seu uso um meio seguro de manter a existên-

213
ALBERTO VIEIRA

Aos forasteiros de uma mediana cultura intelectual que nos visitam, fere logo a
sua atenção os belos trechos da antiga e opulenta vegetação t10restal que ainda
restam e de modo particular a variedade e abundância das espécies botânicas, sobre-
tudo dispersas em varias quintas e jardins desta ilha.
Encontram-se em familiar e agradável companhia, respirando o mesmo ar e ilu-
minadas pelo mesmo sol, diz-nos um desses homens de ciência, plantas de quasi
todos os países do mundo, sem serem precisos abrigadouros ou estufas para a grande
maioria delas-circunstancias que dá logo a ideia da excelência do clima e da bondade
do céo, que a cobre e protege. Representa um trecho, reunido da 110ra de latitudes
muito diversas, deparando-se ao lado das espécies arbóreas de porte altivo e
majestoso dos países intertropicais com as plantas humildes e rasteiras das regiões
setentrionais.
Nesta ilha, como nos países montanhosos e em que se observam variadas
condições do clima, são bastante diferentes as zonas de vegetações, que Lowve pro-
fundamente estudou e que em geral teem sido adoptadas por todos. Apesar dessas
características diferenças, mantém o cultivo de outras plantas em zonas, que se dis-
tanciam entre si, pelas desigualdade das altitudes em que se encontram.
"A Flora norestal da Madeira, diz Dias Grande, é muito rica e variada. A situação
privilegiada desta ilha e a conformação das suas montanhas permitem que se encon-
trem aqui todas as Traduções de temperatura, e sem gozar daqueles extremos de calor
e humidade, que produzem as luxuosas ostentações dos trópicos, é todavia rápido o
desenvolvimento da vegetação e grande a diversidade das arvores sempre verdes.
Por vezes mandou o Senhor D. João VI para esta ilha sementes de varias arvores
tanto da Índia como do Brasil. Em 30 de Dezembro de 180 I vieram com grande
recomendação sementes de teca e de diversas plantas. Mais tarde, em 29 de Outubro
de 1800, vieram sementes das plantas da América constantes da seguinte curiosa
relação ... (cerca de duas dezenas de espécies) ... A solicitude com que se repetiam
estas remessas introduzia rapidamente na ilha as riquezas norestais de quasi todos os
pontos do globo, e a ter a sua propagação e cultura merccido mais cuidado, seria ela
hoje (1865) uma das suas mais importantes produções e de muita singularidade o ver
cm tão limitada superf1cie a numerosa colecção de quasi todos os vegetais arbóreos
do globo".
São de um distinto regente 110restal e agrícola estas palavras: "".A primeira
impressão ocorre-nos logo dominadora. A paisagem madeirense traduz-se nas mas-
sas vegetais que serpenteiam nas suas encostas e vales, que emolduram aqueles pon-
tos brancos que são as casitas espalhadas nas t11ldas dos montes. A ilha dos Amores
guarda ainda no seu seio as frondes arbóreas que serviram de ccnário à \lpoteose do
nosso Épico e esse aspecto é sobre todos os outros aquele que no nosso espirito mais
se arreiga, mais vulto adquire e mais domina a nossa sensibilidade."
Em duas dezenas de páginas do "Dicionário Corográfíco do Arquipélago da
Madeira", da nossa autoria, deixamos textualmente transcritas as palavras com que
muitos homens notáveis em vários sectores da actividade humana traduziram as suas
impressões ao deüontar-se com o maravilhoso cenário da nossa paradisíaca pais-
agem e em que de modo especial se referem à rica e variada vegetação Madeirense,
tendo expressões de especial apreço e de enternecida admiração pela diversidade,

214
Do À ARCA DE NOE

e
Madeira" e da pena de Carlos

da Madeira
265 muscincas e 916
"",C"UI<''', fica o grupo ou divisão das
e o das vasculares com 45. No grupo das
que consideramos endémicas e 55 que são comuns ao
Ulí.";;l<t"U da Madeira e a outros de ilhas do o quc a dizer que
641 159 se não encon-
"~" .. ,,,,~~ rep-

entre arvores,
grupos, que são os mais
são 1 da Madeira e
11 da Madeira e Canárias e 9 ou
"',)<-1-,'-', por 22 4 das se não encon-
uma delas no vizinho de
Marrocos"

.XXIII "SOBRE OS FLORESTAiS"

em
na "Sociedade de
José Mateus

ao
,.",j·", ..,'nhe-Q

dos tendo Sua Ex.a o Ministro da "''''JHUlL por seu ",.. 'pUVHU

Dezembro do concordado com as directrizes fixadas


deve ser
o

florestais

21
ALBERTO VIEIRA

mentares indiquem como fim dominante a obter, a função de protecção do solo ou do


regime hidrológico:
b)-a máxima produção lenhosa, por intermédio duma silvicultura intensiva, em
toda a restante supert1cie a arborizar:
c)-a reserva dos valores ameaçados de destruição, de natureza geológica, botâni-
ca, zoológica, ou antropológica que existem no Arquipélago, incluindo as Desertas e
Selvagens;
d)-a correcção de lorrentes e a consolidaçã.o dos solos desagregáveis e ainda a cri-
ação de um serviço de socorros contra quebradas e desmoronamentos"
Os trechos que ficam transcritos fornecem o plano cios trabalhos mais importantes
a realizar acerca do revestimento florestal da Madeira. elaborado pela Direcção Geral
dos Serviços Florestais, em virtude do despacho do Ministro da Economia de 4 de
Dezembro de 1944, sendo de presumir que em breve se inicie a execução desse
grande melhoramento, que é sem contestação um dos mais notáveis C0111 que (1
arquipélago madeirense tem sido contemplado nos últimos anos.

[Fernando Augusto da Silva, O Revestimento Florestal do Arquipélago da


Madeira, Funchal, 1946, parcialmente publicado in Eduardo de Campos Andrada,
Repovoamento/lorestalno arquipélago da Madeira(l952-1975), Lisboa, 1990,
pp.133-152]

EDUARDO DE CAMPOS ANDRADA [1954)

INTRODUCÃO

No prosseguimento da vasta obra de Povoamento Florestal que o Estado vem real-


izando no Continente foi publicado em 22 de Fevereiro de 1951 o Decreto-Lei n.
38: 178 mandando pôr em execução o Plano de arborização dos Baldios da ilha ela
Madeira, a par da protecção dos arvoredos existentes, autóctones ou exóticos, e
criando para esse efeito a Circunscrição Florestal do Funchal.
Não obstante o interesse posto pela Direcção-Geral elos Serviços Florestais c
Aquícolas na execução desta nova e delicada tarefa que assim lhe era cometida, só
em fins de Abril de 1952 foi possível destacar o pessoal técnico necessário à con-
cretização da referida lei.
Desde então por várias vezes temos sido solicitados a proferir quaisquer palavras
que visem o esclarecimento da opinião pública sobre o plano de trabalhos que os
Serviços Florestais projectam executar no Arquipélago da Madeira, suas directrizes,
objectividade, meios de execução e dificuldades a vencer.
A esse incitamento temo-nos furtado até agora por reconhecermos quanto é melin-
droso abordar-se assuntos desta natureza antes que o conhecimento do meio, estudos
criteriosos e os resultados das primeiras experiências permitam estabelecer com por-
menor a orientação a seguir.

216
Do ARCA DE 1'\0[,

ESPECIAL DO REVESTIlvfENTO FLORESTAL DA ILHA DA


MADEIRA SOB O ASPECTO DO INTERESSE
AGRO-CLIAiATICO E

É bem conhecida a utilidade da como meio dc defesa con-


tra a do clima e como factor
económico essencial à vida de
Desta mesma utilidade se têm Qrl<f>rf'ph"rl" há muito os
na Ilha da como prova, transcrevem-se as
sagens de uma que a do Funchal
Rainha D. Maria II:
"Senhora:
Os rrr"nm'"

chuvas para o oceano; e os UCll:ClI\):>


e das raízes que os sustentavao, inverno
<UH",a\~aU ésta Cidade e todas as dos extensos males
c que ellas ocasionão.
u",,"''''''Uu.u'~, que todos os annos cresce, constitue a Câmara
de sempre ao Ilustrado Governo de Vossa
que tendão a os effeitos da
dos elevados montes da Ilha da Madeira.
O remédio mais efficaz e mais útil é o restabelecimento do ~T'\lnrF'rln
"""'1-''''0 vertentes".
"Nenhuma Terra carece mais d'este socorro do que a Ilha da Madeira.
Em nenhuma outra será elle mais ao Estado"
"Deus a Vossa Funchal em aos 3 de Janeiro de 1852.
Presidente: António Vereadores: João José d'Ornellas
João de Freitas Corrêa da João da Silva João Lido
de António João da Silva Bettencourt Favilla."
na Madeira o t10restal assume dizer-
por variadas razões.
por o arvoredo natural desta ilha constituir um
quase UnlCO no só nas Canárias existem uns arremedos desta
laurisilva madeirense em que o o Pau a Faia
'."'''''''''''''. o Teixo e o Perado são as mais nobres Pois tendo como certo

217
ALBERTO VIEIRA

que um dos mais graves erros que o homem pode cometer é provocar a extinção de
uma qualquer espécie dos seres vivos com que a Natureza o dotou, compreende-se
imediatamente que se tomem todos os cuidados para evitar que isso aconteça com
este raro tipo de vegetação de que a Providência nos fez fiéis depositários. Não
temos, de facto, o direito de deixar desbaratar essa dádiva da Natureza que constitui,
aliás, um dos principais valores e encantos desta Ilha de tão reconhecida e rara
beleza.
Se reflectill1l0S depois sobre as condições topográficas, agrológicas e climáticas
que caracterizam a ilha da Madeira, somos forçosamente levados a concluir que o
revestimento florestal é também sob este aspecto elemento que muito importa con-
siderar.
Com efeito, o extraordinário relevo do terreno, profundamente retalhado por essas
ribeiras colossais, de tão esmagadora imponência, como são principalmente a de
Machico, a do Faial, a de S. Jorge, a do Porco, a de S. Vicente, a do Seixal, a da
Janela, a da Madalena, a da Ponta do Sol, a Ribeira Brava, a dos Socorridos, a de St.a
Luzia e a de João Gomes, logo nos indica a formidável erosão a que está sujeita esta
Ilha. Para fazer-se uma ideia do que é esse fenómeno erosivo basta fixar a atenção no
volume dos materiais catTejados por essas torrentes ou reparar na extensa orla acas-
tanhada que o mar apresenta na sua foz, durante a época das chuvas: que milhares de
toneladas de terras e calhaus não serão assim levados, ano a ano, para o marl ...
É, pois, necessário, para defesa do solo, que se mantenha arborizada a parte
cimeira das serras e que se estabeleçam nos terrenos das encostas susceptíveis de
agricultar-se cuidados especiais contra a erosão, mormente armando o terreno em
sucalcos-"poios" e "mantas", segundo a terminologia madeirense-, constituindo
valas de captação das águas-as célebres levadas com que o vilão põe à prova uma
rara intuição a que a necessidade o obrigou-e estabelecendo sebes vivas ou faixas de
vegetação natural que, orientadas segundo as curvas de nível, se oponham ao arras-
tamento da terra pela água das chuvas.
Do mesmo passo assim se promoverá a conveniente utilização dessas águas que,
uma vez disciplinadas, serão a maior riqueza da terra, o seu próprio sanguel Sem
elas, em muitos casos, o agricultor madeirense ver-se-ia a braços com a miséria e
seria impossível o progresso que nesta ilha se vai acentuando desde que as grandiosas
obras dos Aproveitamentos Hidráulicos começaram a produzir os seus magníficos
efeitos.
Impõe-se por conseguinte não deixar enfraquecer as nascentes de água, essas
fontes de que resultam tantos beneficias, e toda a gente conhece a notável influência
que a arborização exerce nesse sentido: não tanto como elemento de atracção das
chuvas, mas sobretudo como meio de intercepção dos nevoeiros promove a conden-
sação da humanidade atmosférica, ao mesmo tempo que reduz as perdas por evapo-
ração superficial, aumenta o poder de embebição do terreno e regulariza os manan-
ciais de água no subsolo.
Também sob o ponto de vista económico, propriamente dito, a floresta desem-
penha ainda e desempenhará por largos séculos importantíssima função nesta terra
abençoada. Com tão densa população, a maior parte dos seus habitantes vê-se obri-
gada a autênticos prodígios de vontade e sacrifício para conseguir uma pequena

218
Do À ARCA DE NOÉ

de terreno que lhe dê o de cada dia: nessa árdua o vilão achar-se-ia


a maior parte das vezes em deveras cdtica se não tivesse onde ir buscar
lenha para o esteios ou tutores para as vinhas e rama e "feheira" para
sustento e cama do etc. não deixar diminuir a
de abastecimento de todos esses essenciais à vida deste laborioso povo,
embora ele tenha também de e moderacão na forma

E se se de estarmos numa ilha onde de


um momento para outro ver-nos reduzidos exclusivamente aos recursos
Impelrat'lva se toma a necessidade de evitar-se o do
para que numa tal possa ela bastar-se a si
em vista de que valeram e o que sofr-
mundiais os arvoredos da Madeira!
llU'JM'""U e afonnosea-

vida
suas
que esse mesmo
arvoredo ainda mais virá e suavizar. Ter-se-á assim uma ideia da
que, sob os mais variados assume o revestimento florestal
e melhor se a razão determinante da que o Govemo da
vai estabelecendo e que a deli-
concretizar.

E MELHORAMENTO
DO FLORESTAL DA ILHA DA MADEIRA

Relacionada com a referência atrás feita sobre o interesse científico das >Vi"""'<-"""
florestais da a medida que se é a
Reservas florestais que assegurem a para a dos núcleos mais
deste único da flora lenhosa.
civilizados se preocupam em dia com estabelecer um con-
de Reservas naturais e de Reservas florestais que a sobre-
vivência dos de VCIi!;ClaçalO

Reservas rPI",rPl:pnbt,v"
da Terra.
"UIJ"'JLU'vlv

Precisamente o ano foi-nos a U"",-,'",<-u.v das Reservas t10restais


estabelecidas na ilha da Madeira com vista à SlJa num mapa de todD o
mundo. Infelizmente não temos esse estudo ainda resto é fácil
concluí-lo se nos preocuparmos com fazer
baseado em reconhecimentos florísticos e outras

ç~IJ'<;;\"'U'"
a tomar para cada caso.
em propor a de cinco Reservas florestais:

219
ALBERTO VIEIRA

a primeira nas alturas do Fanai; a segunda abrangendo a área baldia entre o Ribeiro
de João Delgado ou Cova do Charrão e a Ribeira do Inverno, incluindo presumivel-
mente o Montado dos Pessegueiros se o Estado se interessar pela sua aquisição,
como reduto interessantíssimo que é da vegetação autóctone da ilha; a terceira, na
parte cimeira dos baldios do Concelho de São Vicente, desde a Bica da Cana à
Encumeada e Pico do FelTeiro; a quarta, nos baldios do concelho de Machico,
englobando o Lombo Matiinho e o Lombo Comprido, na parte que fica acima da
Levada da Serra do Faial; a quinta, nos baldios do mesmo Concelho, na Serra das
Funduras, incluindo parte do Larano, para reconstituição da sua vegetação primitiva
pois ainda aí se encontram representadas algumas espécies que são já raras.
Outras áreas poderão igualmente vir a ser consideradas para o mesmo efeito, à
medida que vá podendo fazer-se um reconhecimento mais completo de toda a ilha.
Estarão também nesse caso parte dos Montados da Junta Geral, designadamente os
do Galhano, Rabaçal e da ilha, mas ai o caso tem menos acuidade pois esses estão de
sua natureza acautelados e será então preferível aguardar a oportunidade de poder-
mos, com a sua submissão ao regime florestal, estudar o plano de trabalhos a que
deverão ficar sujeitos, de acordo com a Junta Geral do Distrito.
Desta forma se constituirá um grupo de Reservas florestais e de Matas submetidas
ao regime florestal que será garantia da conservação de alguns dos principais e mais
representativos núcleos da vegetação lenhosa da ilha da Madeira. .
Mas, se do ponto de vista científico e até turístico ou paisagístico, isto seria já
muito interessante, do ponto de vista de defesa do solo contra a erosão e do melhor
aproveitamento dos recursos hídricos e até do ponto de vista económico, há que ir
muito mais além, defendendo a arborização ainda existente, quer nos terrenos baldios
ou 110S particulares e promovendo a arborização das serras que se encontram desar-
borizadas sempre que isso seja tecnicamente possível e se imponha para bem da grei.
Com esse objectivo, graças à feliz iniciativa de ilustres deputados pela Madeira,
foi publicado o já referido Decreto-Lei n. 38: 178, de 22 de Fevereiro de 1951, que
condiciona e regulamenta o corte das árvores nas propriedades privadas e manda pôr
em execução o Plano complementar para repovoamento florestal dos baldios do
Arquipélago da Madeira, trabalho este da autoria do Engenheiro Silvicultor José
Maria de Carvalho e em que mais tarde interveio também o Engenheiro Silvicultor
José Alves.
Quanto ao povoamento dos baldios, há que proceder primeiramente à respectiva
submissão ao regime florestal e fazer depois os projectos de arborização para serem
submetidos à aprovação do Conselho Técnico Florestal e Aquícola e por 11m à
aprovação em Conselho de Ministros.
Está-se já tratando da submissão ao regime florestal dos baldios de Santa Cruz e
Machico que virão a constituir o Perímetro Florestal do Poiso. Seguir-se-ão a seu
tempo outros baldios igualmente desarborizados e onde se impõe também consti-
tuírem-se arvoredos que defendam o terreno, beneficiem as nascentes e se trans-
formem por fim em utilidade e riqueza.
Não obstante a importância destes objectivos, serão também tomadas em consid-
eração algumas das utilizações que os povos vêm fazendo desses baldios, como seja
a colheita de lenhas secas e varas, a apanha de matos e feiteira e até, embora isso seja

220
Do ARCA DE NOÊ

1·""""1-:"'11 de e vacum, reduzi-

os baldios de Santa

para conveniente
Do mesmo
modo serão "''',U'''Ud;:', outras servidões dos povos, tais como
lenhas secas, etc,
Esses trabalhos de '''11''-111'''' tendo por base o que se
conhece da aUU}./lld\- as conclusões a que o reconhecimento do terreno
Deste modo há-de haver zonas em

e marcenaria, outras ainda


em que se atenderá apenas à nr{)tpl~{'~'" de ou embeleza-
menta da f.I"'''''')'';'''

lJaIU"'-'~. casas para a assim !lPf)mn""",,r melhor os


trabalhos e exercer
à da
ora a Lei apresente

com que o caso se anlt'eSlente.


a decisão de ser ou não autorizado o corte.
Florestal do Funchal está subdividida em duas a
Florestal do Funchal e a Florestal da Ribeira Brava
a metade leste da Madeira com a Ilha do Porto Santo,
e a metade oeste da Madeira. Em cada uma destas Florestais super-
intende um por um regente florestaL
dos Arvoredos e
Florestais por sua vez zonas
ficar cargo de um mestre florestal que oriente e
a UI.- cua.\rau florestais colocados nos Postos que se incluem no
seu âmbito.
Além de seis mestres do auxiliar da
C'nlm-r,nrt" 28 que este-número é manifeslamente insuti-
ciente para manter com o aturado de e de fiscaliza-
que há que manter outros tantos florestais", de
e que com estes cooperem nesse e noutros
Estes esclarecimentos não têm interesse de nem sequer constituem ino-
toda esta é a mesma que estabelecida
1'\.'-')'."U""',," da Junta Geral do Lfl,'UJ.tU, com o aumento de

22
ALBERTO VIEIRA

pessoal técnico e de quatro mestres florestais de 20 classe. Aliás, vem a propósito


mencionar, como justo preito de homenagem que só agora se torna oportuna, que
também noutras pmticularidades da organização do Serviço a Circunscrição Florestal
do Funchal se baseou na orientação que estava sendo seguida criteriosamente pela
Estação Agrária da Madeira.
Interessará referir agora, para dar uma ideia do volume da exploração florestal nas
propriedades privadas, alguns dados extraídos do mapa estatístico do movimento de
cortes de arvoredo em propriedades particulares, no ano transacto.
Assim, quanto aos pedidos de corte expressos em números de árvores, deram
entrada na Circunscrição, em 1953, nada menos que 1.115, correspondendo-lhe um
total de 15.616 árvores, tendo sido autorizados, total ou parcialmente 919, afectando
13.686 árvores (87,6%), e recusados 196, abrangendo 1.930 árvores (12,4%). Mas os
pedidos de corte podem ser também expressos em superfície, e assim foram apre-
sentados no mesmo ano 512 pedidos de corte abrangendo 1.780 ha, dos quais foram
atendidos 451, referentes a uma área total de 1.665 ha (93,5%), e recusados 61, cor-
respondendo-lhe a área total de 115 ha (6,5%).
Estes números provam de qualquer modo não ter justo fundamento alguns comen-
tários por vezes feitos ao exagerado rigor com que os Serviços Florestais vêm obstan-
do ao corte de arvoredos em propriedades pmticulares.
Não se tem compreendido, ou não se tem querido compreender, por exemplo,
porque razões contrariamos geralmente um corte de louros, faias e urzes, quando o
proprietário se propõe cultivar, em substituição desse arvoredo que pouco interesse
lhe dá, pinheiros, eucaliptos ou acácias. E a razão é clara: já atrás se focou o papel
que o arvoredo exerce na captação da humidade atmosférica, pela intercepção dos
nevoeiros, dando origem às chamadas precipitações ocultas ou horizontais; pois essa
influência, aqui posta tanto à prova, é sobretudo importante quando o arvoredo
exerce coberto permanente, com toda a exuberância das suas condições naturais. De
facto reconhece-se, modemamente, ser muito mais vantajoso, sob o ponto de vista de
defesa dos recursos hídricos, manter intactos, no seu lugar de eleição, esses maciços
florestais espontâneos, do que deixá-los desbaratar e, como compensação, pretender
levar a arborização, quase sempre com base em espécies exóticas, a zonas mais
pobres e desprotegidas onde algum arvoredo que se vá constituindo, onerosamente,
nunca poderá exercer influência que se compare à da nOl'esta natural.
O maior entrave tem sido feito, portanto, ao corte das espécies indígenas, sobre-
tudo quando as árvores não apresentam ainda sinais de decrepitude sendo ainda de
notar que as autorizações de corte correspondem muitas vezes a parte dos rebentos
de touças cuja vitalidade fica assegurada pela conservação de outros rebentos. Assim,
por exemplo, dos 45 pedidos feitos para cOIte de tis, englobando 332 árvores, foram
atendidos 26, ou sejam mais de metade, mas abrangendo apenas 54 tis, isto é, 14,9%
do total que fora solicitado para corte. E, quanto às outras espécies: de 16 pedidos
englobando 50 vinháticos foram atendidos 11, abrangendo 24 (47,8%); um pedido
para corte de 2 Paus brancos, foi autorizado (100%); de 15 pedidos englobando 60
louros, foram atendidos 8 abrangendo 28 (46,6%); de 11 pedidos englobando 51 faias
(das Ilhas), foram atendidos 9, abrangendo 19 (37,3%); um pedido para corte de 50
folhadeiros foi autorizado (100%); de 7 pedidos englobando 15 seixos, foram aten-

222
Do À ARCA DE NoÊ

11,

Também foram feitos para de lenhas secas num total


de 151 lendo sido autorizados 8, num tolal de 127 toneladas (81
Foram além disso recebidos 808 de corte de
acácias com menos de 20 anos de uma área avaliada em 282
e para corte a Lei a apenas à do ter-
reno no prazo de dois anos. E por último concederam-se 28 para fabri-
co de carvão de lIveira e e para
de chuvas que decorre tendo sido recusados 3

e
esclarecimentos

atender às necessidades de cada sabido como é que


não tem onde ir buscar madeira ou lenha de que necessita para os seus
caseiros se lhe não for facultado utilizar-se das árvores que na sua pro-
mas, o valor dessas o que 110 terreno e
o seu estado de é que influem fundamentalmente para que o seu cOJie
ou não autorizado.
Desta forma se vai e moderando a
tendo em vista evitar que por
da florestal na posse dos

JII-ASSlSTENCIA AOS PAR TlCULARES

ser meramente

iJH.. "l~m"""l"''''' em estu-


para orientar a
que assegurem o êxito dos
investidos.
que sirvam de base a uma ori-

223
ALBERTO VIEIRA

entação segura da actividade particular, exercida esta em circunstâncias as mais COIll-


plexas e incipientes, não se fazem do pé para a mão, pois no campo da silvicultura
os elementos em experimentação têm quase sempre maior longevidade que o próprio
homem.
O trabalho basilar a fazer será o levantamento do cadastro florestal do
Arquipélago da Madeira, isto é, o reconhecimento das condições em que se encon-
tram as diversas essências florestais indígenas ou exóticas, seja quanto ao seu
âmbito, estado de vegetação e desenvolvimento, ou quanto ao interesse e valor
económico que produzem.
Sabendo-se, por exemplo, que algumas espécies exóticas, como o castanheiro, o
carvalho e a nogueira, devem ser os elementos com que melhor poderemos contar
para garantir o abastecimento das madeiras necessárias ao consumo intemo, é pre-
ciso tratar de reconhecer quais as regiões mais favoráveis à cultura dessas espécies
florestais, para que se cuide de aí a intensificar, banindo a cultura de outras essências
que, embora de mais rápido crescimento, estejam menos aconselhadas até por serem
esgotantes da fertilidade dos solos, e passarem a ter um carácter de praga invasora,
como principalmente acontece com eucaliptos e acácias. E de igual modo se
impedirá o cultivo daquelas mesmas espécies produtoras de boas madeiras nas
regiões que não ofereçam condições de meio f~1Voráveis, de modo a evitar que por
ignorância ou capricho se constituam arvoredos sem futuro, mais susceptíveis ao
ataque de doenças e parasitas que aí encontrarão campo fértil para a sua expansão
com grande prejuízo para a sanidade dos arvoredos em geral.
Em última análise consistirá esse trabalho em elaborar uma carta I10restal da ilha
da Madeira, na qual se indicarão as manchas mais favoráveis à cultura das diversas
essências, tendo em consideração o clima, a natureza do terreno, a altitude, a
exposição e outros mais factores que sejam ele atender.
A seu tempo passarão a ser fornecidas aos proprietários, a preço módico, as
sementes e plantas de que necessitarem para a arborização de terrenos, de acordo
com as indicações da carta florestal, para o que já vem despontando no viveiro flo-
restal do Santo da Serra apreciável quantidade de árvores, designadamente castan-
heiros.
Depois há que orientar os particulares na melhor forma de conduzir a exploração
Horestal, quer no que respeita aos cortes finais, quer quanto às práticas culturais-
desramas e desbastes.
É flagrante o caso dos pinhais que na ilha da Madeira, com excepção ela região do
Porto Moniz e Ponta do Pargo, são geralmente explorados entre os dez e vinte anos
de idade, para produção de lenhas de inferior qualidade. Se ao contrário, como a téc-
nica aconselha, se fossem fazendo desbastes sucessivos nesses pinhais, acompan-
hados das convenientes limpezas das ramiticações inferiores, poder-se-ia obter
alguns anos mais tarde material lenhoso de muito maior valia, essencialmente
madeira para embalagem de que há tão grandc necessidade: basta dizer que S a 6 mil
toneladas de madeira de pinho verde têm sido utilizadas nestes últimos anos para
embalagem de frutas e produtos hortícolas, e já daqui se infere o granele interesse
económico que o problema reveste.
A questão estará em ver qual a maneira de conciliar o maior interesse económico

224
Do ARCA NOI~

dos casos pequenos


que se vêcm assim tão cedo para _r---------
suas marcas economias,
Há 11 comliderur que se rosse aumentado o termo da
para os vinte e cinco ou trinta anos obter dess-
UIll rendimento acessório a que, conduzida os
que a Lei não afecta a da madeira e consubstan-
cia nova fonte de receita com na economia nacional.
Uma dus razões que nos tGm sido referidas por
de não
cios
ao
esta razão
feitos para a

a dos castanheiros é na Madeira e


no entanto com ela muito benellciar a com mercado

dos Florestais neste de

vem também
desenvolvendo no
do
essa assislên-
que e~pel'l\lnos possa ser
obter a

ao corte das melhores essências da


dos a que tem estado

COMA

li cultura ou a
dos arvoredos que é
do e dos

225
ALBERTO VIEIRA

o fOl!o é a maior calamidade que pode atingir a vegetação: desde as árvores mais
frondos;s até à humilde erva que cresce à sua sombra, desde o humus à fauna micro-
biana que é li vida do solo. tudo se perde ou aniquila na voragem das chamas! E aqui-
lo que a malvadez, a ignorância ou a imprevidência assim fez destruir em poucas
horas. levará depois anos. muitos anos. a refazer-se. Grande calamidade é, de facto,
esta dos incêndios!
No entanto. todos os anos, em dias de lestada sobretudo, irrompem os fogos em
V~lriOS pontos da ilha, destruindo as alterosas labaredas núcleos importantes de veg-
etação.
Quer esses fogos sejam ateados no intuito de preparar novos pastos ou com mira
em colher-se depois as lenhas queimadas, ou ainda para limpeza de terreno ou por
simples descuido, é preciso acabar de vez com eles. Os Serviços Florestais hão-de
naturalmente tomar para isso todas as possíveis providências, principalmente fazen-
do redobrar a vigilância nos períodos e locais de maior perigo, dotando os Postos flo-
restais com rede telefónica privativa para imediato alamle e melhor conjugação de
esforços. promovendo enfim a aplicação de severíssimas penas aos infractores.
Todavia o problema só poderá ter cabal solução quando toda a gente, principal-
mente a que vive nos campos, se dispuser a tomar as indispensáveis precauções para
evitar os incêndios nas serras.
De contrário está-se sempre mais ali menos sujeito a que surja aqui ou além um
fogo e então, com o espantoso acidentado da ilha, por muito que se esforcem os
guardas tlorestais, por mais decidida que seja a colaboração do povo que eles con-
sigam apenar ou a das próprias corporações de bombeiros e militares, é sempre difí-
cil evitar que cheguem a haver avantajados prejuÍzos. Trabalho insano e inglório que
esse é. impõe-se divulgar entre o povo um verdadeiro temor do fogo, elemento
destmidor dos mais terríveis.
A questão do gado posto a pastar livremente nas sen·as é outro problema gravíssi-
mo para a arborização e o principal responsável pelo desnudamento progressivo das
serras da ilha da Madeira.
Felizmente este problema vai a caminho de resolver-se com a retirada do gado
suíno e caprino, conforme disposições tomadas pelos Serviços Florestais de acordo
com todas as entidades oficiais do Distrito, e em cumprimento da Lei da Pastagem,
de 1913.
De facto, se há gado ruim é a cabra: de uma voracidade extraordinária, alcançan-
do os pontos mais inverosímeis das serranias, ela destroça toda e qualquer espécie de
vegetação que encontra; o til ou o pinheiro, a urze ou a uveira, a giesta ou o tojo, a
silva ou a feiteira ... tudo lhe serve! No entanto, extremamente gulosa, tem especial
predilecção pelas folhagens mais tenras e, mal descobre a pequena árvore que vem a
despontar entre as urzes, logo a traça num ápice.
O povo por sua vez completa a acção destruidora da cabra, pela grande quantidade
de sementes que ingere e também pelo que lavra no terreno em procura de raízes,
principalmente a da feiteira.
Não vamos ao ponto de afirmar que uma vez retirado este gado das serras fique
desde logo assegurado por processo natural o seu conveniente revestimento florestal.
Muito haverá ainda a fazer-se para que possa concretizar-se de forma mais conve-

226
Do ARCA DE NOÉ

niente e em de satisfatório essa


mas é fora de dúvida que, sem se acabar com a livre aPllsc'entaç~io nas ser-
ras, nunca se
ao e vacum, serão delimitadas as zonas dos
baldios que ficarão reservadas para condicionando-se apenas o número de
que ser admitido em cada de acordo com as suas pos-
sibilidades de e o conveniente ordenamento das
Todavia u,"",,,,',-,,al-::;t:-i:l compensar a
melhoria da para o que se pensa em introduzir mais con-
para os fazer o melhoramento das pa:stal~enls,
em bases racionais.
este triunvirato dos da floresta o vilão que se dedi-
ca, sem lei nem roque, ao fabrico de colheres c vassouras.
Os que essa das serras é também muito con-
às vezes não tanto mas sobretudo
falta de consciência com que
os incêndios que provocam, irreflectida da
onde ela é mais acessível e onde por vezes mais necessária seria a sua
para defesa do terreno,
\.,UIILUUU, que, uma vez submetidos os baldios ao

nnnF','g" também ser por um lado com a concessão de


condicionem o fabrico de colheres e de vassouras sob a

estimulando o revestimento de vastas


tram absolutamente e que
revestidas ao menos de assegurar o fabrico de
carvão necessário ao consumo da assim o arvoredo de maior
valia que por vezes é sacrificado a esses fins secundários.
Numa os Florestais sempre, com a melhor boa von-
encontrar uma aceitável para com a
e às mais comuns necessidades dos povos. Já assim o fizemos conceden-
do deliberadamente ao povo das do Seixal e Ribeira da Janela áreas para
esmoitadas onde lhes é agora obter a feiteira necessária para a sua
tura e em locais muito mais acessíveis do que os da serra onde iam furtiva-
mente cortar ou incendiar as urzes para tornar viável o desenvolvimento da feiteira.
Claro está que o vilão em o pastor, estará ainda um tanto
desconfiado e incrédulo das que lhe apregoamos com esta Mas
à medida que possamos ir tendo mais contacto com o povo e que este vá sentindo que
se lhe não nega a da de mato ou de erva, desde qtle isso feito com
o método e ele observar que lhe dá mais ter
umas poucas ovelhas nos melhorados do Estado do que trazer
à mistura com cabras e porcos, a livremente ser-
ras; notar brota mais das nascentes e que há já árvores
onde só havia que a vida se lhe mais risonha e
então ele há-de reconhecer a razão e a

227
ALBERTO VIEIRA

Serviços do Estado nos seus usos e costumes.


Noutra ordem de ideias focaremos agora rapidamente o interesse que, sob o ponto
dI.! vista turístico e recreativo, poderão desempenhar os trabalhos a realizar pelos
Sen iças Florestais.
De tacto basta supor. por exemplo, o que poderá vir a ser um dia o Perímetro
Florestal da Serra do Posio. quando já revestido de arvoredo de folhagem variegada
e far-se-á ideia de como poderào realçar-se os quadros de surpreendente beleza que
desfruta o transeunte que. descendo do Poiso para o Santo da Serra, possa com como-
didade seuuir esse triànuulo turístico de primeira plana, a dois passos do Funchal,
apreciaml~ as vistas sob-erbas que vào desde os estranhos recortes cimeiros da ilha
até li Ponta de S. Lourenço.
Ou imagine-se que. à semelhança do que têm feito no Continente, vão também
aqui os Serviços Florestais e Aquicolas promover o povoamento piscicola das prin-
cipais Ribeiras e logo se adivinha o interesse que despertará ao turista a ideia de dar
um passeio até ao Ribeiro Frio e aí passar umas horas entretido na pesca desportiva
da tmta ou da carpa.
Enfim, estes são aspectos sem dúvida secundários da actuação dos Serviços
Florestais. mas que não deixarão no entanto de despertar algum interesse à população
da Madeira.

1':0 CISO PARTICULAR DO PORTO SANTO

Deixámos para o tim algumas referências à ilha do Porto Santo, mas isto não sig-
nitica que lhe dediquemos menos interesse. Poder-se-á até dizer que a última será a
primeira, pois é no Porto Santo que os Serviços Florestais vão iniciar os seus trabal-
hos de arborização.
Com efeito. não podendo ficar indiferentes em tàce de tão impressionante
escassez do revestimento do solo e da intensidade dos fenómenos erosivos que se
constatam no Porto Santo. juntámos o nosso grito de alarme ao de tantos outros que
se têm esforçado por minorar esses graves inconvenientes.
E de tàcto, em nenhuma outra parte deste Arquipélago será tão urgentemente
necessária a intervenção dos Serviços Florestais, no sentido de se constituírem
arvoredos que defendam o solo da erosão e venham a melhorar as condições de vida
dos habitantes da ilha.
Disto mesmo logo se apercebeu a Direcção-Geral dos Serviços Florestais e
Aquicolas que mandou executar o projecto de correcção torrencial e de defesa do
solo nas encostas do Pico do Castelo. Este projecto, concluído em Junho de 1953, foi
posteriormente aprovado pelo Conselho Técnico Florestal e Aquícola e depois ainda
em Conselho de Ministros, devendo entrar em execução logo que seja ultimada a
aquisição dos telTenos particulares em que se realizarão os trabalhos.
Outra qualquer solução não se tornava exequível, pois era impraticável levar a um
regime de comparticipação com o Estado os proprietários dessas pequenas parcelas
de terreno, muitos deles ausentes da ilha e com as propriedades entregues nas mãos
de caseiros. Além disso, na maior parte, não dispõem de meios ou não têm interesse
Do À ARCA DE NOÉ

em realizar essa obra assaz que só ao cabo de muitos anos de nnl'tl'otif'~


representar valor materiaL
ter presente que se torna do ten'eno
em pequenos com muros de para dar à terra maior de embe-
das assim da erosão. E seria o que se
em trabalhos desta natureza se ainda por cima os
dissessem que do arvoredo que se fosse constituindo só ao fim de
vários anos e C0111 muita lhe seria colher
Só com a tomada de
mente de harmonia com o seu fraco
os trabalhos de defesa e revestimento do
conta dessa obra de do terreno e de de arvore-
de que resultarão para os habitantes de Porto Santo beneficias tanto maiores
mais vasta for a sua extensão.
por no ora estar verba de 1.650 contos
para a dita dos trabalhos a emb-
ora por um O a 20 anos, não deixará de ter cetio interesse de ordem
económico-social. Mas não se trata apenas de uma maneira de dar trabalho: trata-se
de modificar as e as de vida do Porto
Santo.
coisa para reduzir as dificuldades por que passa essa
que muitas vezes tem de recorrer à "rasteira", aos cardos e à bosta de vaca para
acender o lume: queremos que se vão cavando cada vez mais fundo esses
sulcos que as têm aberto no solo arraslando para o mar o melhor
da terra; queremos ainda contribuir para o maior desenvolvimento e embelezamento
desta ilha que só sua e sol um orga-
convenientemente o hoteleiras

Com este rumo eaminho. A


é e não será para os nossos dias ver o seu termo. Mas o
é começar; com e a boa vonlade de coisa há-
de resultar a bem da Madeira.
de Andrada
7 de de 1954.

229
ALBERTO VIEIRA

ulação, Principalmente no Porto Santo, onde chegava a ser necessário o Govell1o


conceder subsídios para alimentação em anos de maior crise, vai-se já notando no
comércio o bcnefício resultante do emprego, quer pelos Serviços Florestais, quer
pela Junta Geral do Distrito Autónomo, de toda a mão de obra disponível; mas tam-
bém para a ilha da Madeira, caracterizada por uma elevadíssima densidade popula-
cional, de mais de 300 habitantes por km2, são de grande interesse todas as realiza-
ções que concorram para a fixação das gentes que se veem forçadas a emigrar numa
proporção de 5000 pessoas por anos segundo os dados obtidos dos últimos annos
Daqui se infere que os referidos trabalhos, até pela sua complexidade, devem ser
realizados com vagar e grande ponderação, Nada que se compare a "empinheirar" as
serras de lés a lés, para a rápida produção de um material lenhoso que seria fácil de
criar, mas cujo interesse económico-social seria duvidoso, de tão generalizada que já
está na Madeira a cultura do pinheiro bravo, A isso se opõe, de resto, a própria
natureza da nora espontânea,
Não há na Madeira um palmo de terreno, por mais Ü"agoso, que possa desperdiçar-
se, Tudo terá que ser aproveitado da melhor forma, objectivamente, O problema
estará em constituir, sob o ponto de vista técnico, económico e turístico, os arvore-
dos que melhor se individualizem com as condições ecológicas locais e de modo a
assegurar, quanto possível, a coexistência da pastorícia, a colheita de matos e
ervagens e a produção de madeiras de qualidade com que possam satisfazer-se as
indústrias da marcenaria, dos embutidos, da tanoaria e da própria construção civil,
defendendo-se assim ao mesmo tempo os mais raros e belos arvoredos naturais,
Uma série de medidas havia previamente a tomar e esse tem sido o principal tra-
balho da Circunscrição Florestal do Funchal, desde há três anos:
A regularização do aproveitamento de lenhas e matos, agora limitado a dois dias
na semana; a proibição de cabras e porcos em livre apascentação nas serras; a delim-
itação das zonas de pastagem com bardos, para que o gado ovino e vacum não inva-
da as úreas a arborizar inicialmente; a discussão dos próprios limites dos baldios-
tare/'a esta que nos tolheu o passo por mais de um ano, de confusa que era a situação;
a construção de casas de guarda e de ovis com casa anexa para abrigo de pastol"eS por
forma a permitir ordenar e fiscalizar a apascentação de gados e outras mais
usufruições que o povo faz das serras; o melhoramento de caminhos, de modo a facil-
itar o acesso aos locais das construções e para benefício também das populações cir-
cunvizinhas; a instalação de viveiros nm'estais donde se espera poder retirar-se para
os locais de plantação, na próxima época das chuvas, algumas centenas de milhar de
árvores das mais variadas espécies; o estudo da rede divisional dos perímetros flo-
restais, por forma a assegurar desde já as vias de comunicação consideradas mais
necessárias aos trabalhos de arborização, como também à defesa contra fogos e à
futura exploração dos arvoredos; a organização do sistema de vigilância e ataque aos
I'ogos nos perímetros florestais e na propriedade particular; e alguns pequenos
:nsaios efectuados quanto à adaptação de diversas essências florestais e ao melhora-
nento das pastagens, tudo isto representa, a par dos trabalhos de hidráulica florestal
e ele arborização realizados na ilha do Porto Santo, alguma coisa já feita pelos
Serviços Florestais no Arquipélago da Madeira, nos três allOS decorridos após a insta-
lação da Circunscrição Florestal do Funchal.

230
Do À ARCA DE NOE

EDUARDO DE CAMPOS ANDRADA

arqIUl]:)él,lgO da Madeira constitui sem dúvida uma das do País onde a


"h<;:'\"UI.av do "Plano de Povoamento Florestal", lei n. 1971, de 15 de
Junho de se torna mais transcendente.
Na Ilha o revestimento florestal assume
é o fulcro em que, no futuro como no ;J''',~a'"v,
a"\' .... ",a1'-"" os factores da economia do Distrito.
baseia-se na floresta o do solo e da
lime a que o madeirense se devotou até aos limites do com o
de quem luta socorre-se da floresta a densíssima
para obter não só as madeiras e o combustível
os tutores ou varas para fins e ramagens para para
'''-I-'a;.:,';,u" ou para vassouras; o fabrico de colheres de pau, a indústria de embutidos e
o fabrico de carvão são outras tantas actividades que buscam na floresta a matéria
que lhes é é ainda a floresta necessária para das zonas de
,"''''''''!;,''"'"' que, sem se vão exaurindo devido ao acidentado
do teneno e ao deficiente constitui também a floresta um
sob o
recorte das de sombras
senas, de tão fortes tonalidades e bmscos npl1f1('.,.,,~
Por este enunciado se avalia o
dos baldios da ilha da a dentro do
n. 1971 que estabeleceu o Plano de Povoamento Florestal.
que entre todos os referidos havemos que nos
de ordem social. A mral

vezes até severamente sobretudo


às serras; mas ela luta também com necessidades fundamentais que não
ser
Todo o trabalho dos Florestais ter em
a,,~f,,"".U educacional e coordenador das necessidades do povo, do que o
IJu.JlalJll<OlUI,j material: não interessa tanto, na a económica da
onza!;âO de uns milhares de hectares de mas sim levar o povo a cuidar da
sua subsistência sem arruinar os bens incalculáveis que a Natureza à sua dis-
DOIHC210 de forma tão Cal)m~llCisa.
florestal a resolver nestas ilhas é,
de UIO..... ' ,J Ul"",,",<tV do
'"''''!lI''''' rloTes:tals, não ",,,,riP,..,,,,,.,
terras e
Por outro não deve esquecer-se o alcance social que re[)re:seI1lta, a
"'h''''''"I'DCU dos trabalhos a cargo destes como fixador da

231
ALBERTO VIEIRA

Mas, para que os trabalhos possam prosseguir com o devido incremento e oportu-
nidade, de forma a alcançar-se o ambicionado êxito, torna-sc indispensável, por um
lado, a aprovação do Governo às justificadas providências que lhe vão sendo solici-
tadas e, por outro lado, a continuidade do decidido apoio que nos tem sido dado pelo
Governo do Distrito c demais autoridades locais. Assim como se impõe também, da
parte de todos, a devida compreensão das medidas que se vão tomando para proveito
futuro da população deste Arquipélago.

Funchal, Maio de 1955

[Memorandum do eng" Eduardo Campos Andrada, chefe da Circunscrição


Florestal do Funchal., in Eduardo de Campos Anc\rada, Repo\'oamento Florestal I/(}
Arquipélago da Madei/'{/(l1J52-1975), Lisboa, (lJlJO, pp. 167-16~J

232
Do EDEN À ARCA DE NOÉ

A LITERATURA E O ME IO NATl t\'J; "..,.. .


'~
PROSA
CEHA
tt"'fiI'O Dt U'U[l~,~
"" "oe." Da ,Iofl-'-",roeo
~33
ALBERTO VIEIRA

234
Do ÉDEN À ARCA DE NOÉ

INTRODUÇÃO

A literatura é um testemunho confidencial da relação do homem com o meio


cm olvcnte. que se revela no dia a dia ou numa primeira descoberta do visitante.
Compilados alguns dos últimos testemunhos conclui-se que a visão que o visitante
tem da Madeira obedece a estereótipos, dando a ideia de estar-se perante um produ-
to que se vende aos visitantes. Os locais de referência e deslumbramento são quase
sempre os mesmos, isto é. Pico Ruivo. Rabaçal. Caldeirão Verde ( ... ) O êxtase e estu-
pefacção perante a realidade que se depara assume expressões e descrições repetiti-
\ as. quase que decalcadas umas das outras.
Para muitos a ilha é uma lenda que aqui se reforça com novos testemunhos. É a
lenda com título de FIO!' do Oceano. que tem expressão tanto em Francisco Travassos
Valdez como Júlio Dinis. Outros há, no entanto. que se detém com o deslumbramento
daquilo que se revela diante dos olhos. É o quadro que se segue nos testemunhos de
Julião Quintinha. Hugo Rocha e Henrique Gaivão. Para quase todos a prolixa pre-
sença de flores nos espaços ajardinados da cidade e das quintas ou na hannonia de
paisagem são testemunhos da beleza incomparável da ilha. Deste modo António da
Costa Macedo definia com um Jardim da Flores. A presença s..tlO!)::!w ao
deslumbramento de João Ameai com os jardins. enquanto M. . . . v. lOOTiC?: se
detém no da Quinta Vigia. É na verdade no espaço definido pelas qui, < ~~ns­
cs que mais se expressa essa exaltação da ilha. São de visitacbEHÃ do
I..U.'.O tJt B'U"~ -
1I 11~0It1 .. I)Q /llfI..l",r>(o

235
ALBERTO VIEIRA

Palheiro Ferreiro e Jardim da Serra. A quinta madeirense, segundo Luís Teixeira


define-se pela exoticidade do espaço.
A imagem bíblica do Éden está presente na maioria dos escritos numa manifes-
tação explítita ou implícita. Beltrão Pato define aquilo que vê como um espectáculo
paradisíaco e compara os vales da ilha que o acolhe aos do paraíso. E, Edmundo
Tavares atrever-se mesmo a definir a ilha como um "rincão de magia e sonho, ver-
dadeiro Éden o paraíso Terrestre", destacando o contraste entre o quadro natural e os
jardins da cidade, definidos por uma variedade de flores. Esta é a ideia dominante em
todos ou quase todos os testemunhos que compilamos. Mas a primeira visão poderá
ser complementada com outras reveladoras de outras preocupações, nomeadamente
a de entender como aqui se delineou a relação do homem com o meio. A fOlte pre-
sença do homem neste cenário é assim motivo de atenção para a maioria dos que
escrevem sobre a ilha. Ao deslumbramento da paisagem, agreste, florida, segue-se a
exaltação da presença humana.
Quem melhor entendeu a realidade foi 1. Vieira Natividade. Para ele aquilo que
conta na ilha que veio encontrar em pleno século XX foi a acção do homem. Aliás,
a "A Madeira é obra de ciclopes", sendo o próprio vilão na sua fisionomia a "per-
sonificação da paisagem". Ele "não venceu a rocha apenas com a picareta e a força
dos seus músculos, senão com a férrea têmpera e a sua indómita coragem". Para ele
a ilha não é o Éden, mas sim "a epopeia do trabalho, a glorificação da sua labuta
heróica", por isso, estamos perante um "campo de luta do homem contra as forças
hostis da natureza". Esta opção foi definida desde o início da ocupação pois Zarco e
Tristão lançaram um olhar cobiçoso "para os troncos dos arvoredos preciosos e para
o solo fecundo em que a floresta vicijava".
O trabalho secular expresso nos paios, nas produções agrícolas e no casnrio que
emoldura as ravinas da ilha, é aquilo que se fica ela primeira impressão da retína que
se sobrepõe à visão do paraíso. Este labor do ilhéu para humanizar o meio adverso é
também testemunhado por Raul Brandão, Edmundo Tavares e Maria Lamas.
Para além desta repetitiva viagem da ilha pode-se constatar o interesse por outras
realidades, por vezes reveladoras de preocupações ambientalistas.
Bulhão Pato, após o deslumbramento da Quinta do Palheiro Ferreiro, detém-nos
nos "bosques, em que os ramos de flora europeia abraçam e beijam as árvores dos
trópicos ... " Aqui a bondosa floresta não é uma realidade anónima.
Ferreira de Castro vai mais longe nas suas observações. Primeiro tendo em conta
a imagem do empenho que devastou a ilha 110S inícios de ocupação conclui feliz que
o mesmo não chegou ao recôndito Rabaçal. No Poiso fica preso da imagem do "seu
despovoado, animal e vegetal" que contrasta com o vale de loureiros da encosta de
S. Vicente. Mesmo assim a acção do homem não é condenada pois ela foi capaz de
transformá-la: "A ilha deixara de ser bosque para ser bosque, horta e jardim".
Já no volume que o Marquês de Jácome Correia dedicou à madeira as preocu-
pações são distintas dos demais que acabamos de referir. Não é o espectáculo visual
de natureza que o atrai mas a forma como tudo isto aconteceu. Primeiro é a forma de
formação da ilha e a descrição do seu solo, a que se juntam as espécies autóctones da
flora local. Em contraste com a realidade evidência a acção do homem no repovoa-
mento florestal da ilha com eucaliptos, pinheiros, acácias, carvalhos e pinheiros, que

236
Do À ARCA DE NOÉ

invadiram a nomeadamente vertente sul a do século XIX.


Do testemunho de escrita madeirense retivemos apenas Eduardo Nunes e Horácio
Bento de Gouveia. o olhar da natureza se através da
e escrita dos para o éa vivência rural que o leva
do ruralismo da ancestral do homem ao meio que envolve e

BIBLIOGRAFIA GERAL

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j'.</r",:,ap"l"IJ<

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e Textos", in na Jvfadeira,

VIEIRA, Gilda e FREITAS, de, lvfadeira-


3 Funchal,1981-1984

237
ALBERTO VIEIRA

238
Do ÉDEN À ARCA DE NOÉ

239
ALI3ERTO VIEIRA

240
Do ÉOEN À ARCA DE Noé

FRANCISCO TRAVASSOS VALDEZ 1\825-\8921

SÃO tantas as maravilhas que encerra em si a Made ira que cm verdade quem a vê
acrl!dilará por momentos que os jardi ns de Armida e os Campos Elisios da fábula
de\ criam ser como esta formosa ilha. chamada por excelência a Flor do Oceano.
Julgar-se-ia mesmo que aque las maravilhas não são uma realidade. mas sim um
sonho Oll ficção de poetas!
( ... )
- Do Jardim da Serra seg uimos para diante e fomos admirar o maravilhoso quadro
do Curral das Freiras, na proximidade da propriedade do referido cônsul.
É um síti o tào interessante da ilha que qu ase se mpre é o primeiro que os viajantes
costumam visita r c aonde têm luga r repelidos e agradáveis piqueniques, um dos
recreios mu ito cm voga na Madeira, como quase tudo o que são usos e costumes
ingleses, por ca usa do grande número de pessoas desta nação que frequentam a ilha
e nela residem, principalmente os que procuram remédio contra a tísica naquele belo
c saudável clima.
ào há pena ou pincel que descreva a impressão que o vi ·aJti~;,· nta
quando ao chegar ao cimo dum caminho construido a 800 met ros ~tit~ co
mais ou menos, - se lhe apresenta de repente o vale do C urral das ~esen-
ro lando-se- Ihe aos pés como um quadro fantásti co. CEHA
t~'Ul>O'lo
l t ... "'O l>t _
HII~OCI-' Da ./In ......r<o

24 \
ALBERTO VIEIRA

Suspende-lhe os passos um estremecimento involuntário, e, cheio de surpresa e


terror, vê-se à borda de um medonho precipício de extraordinária profundidade;
parece que as rochas basálticas se abriram, se fenderam por meio dalguma Cormidáv-
el explosão vulcânica, que provavelmente teve lugar em remotíssimas eras, e que
despedaçando as camadas fundamentais originaram aquele vaso pasmoso, que a
acção poderosa das torrentes, que desde séculos e séculos se despenham por aqueles
serras abaixo, tem ido alargando cada vez mais !

[Francisco Travassos VaI dez, 4Mca Ocidental, cap. r. (1864 )in Cabral do
Nascimento, Lugares Selectos de Autores Portugueses que Escreveram sobre o
Arquipélago da Madeira, Funchal, 1959, pp 25,28-30]

RAIMUNDO ANTÓNIO BULI-IÃO PATO 11829-19121

Eram duas da tarde. Não havia uma nuvem no céu.


Espectáculo paradisíaco! País privilegiado, não tem no mundo torrão, que lhe dê
de rosto!
As grandes eminências - o cabo Girão, promontório mais alto da Europa; o
Campanário. nu montanha; a Senhora do Monte, sobre a cidade; e as fi'echas dos
pieos, cravando-se no azul denso de um céu, que é já africano! Levadas e saltos de
água, precipitando-se em catadupa; brocados pelas aluviões e rotos, os montes!
BosCjues, em que os ramos ela /lora europeia abraçam e beijam as úrvores dos trópi-
cos, embaladas pelas brisas do mar! Rosas agrestes, festonando os valados; lírios nos
íl11pérvios; violetas bravas, mais aromáticas que as de Parma, nos brejos viçosos!
Auras mansas e rescendentes, suspirando com a morbidez dos amantes ... Terra para
os idílios ele Mosca, e para as trágicas fantasias ele l~squilo e Shakespeare.
( ... )
N os recessos daquelas serras, entre brenhas de verdura, as fontes frias fervem, e
derivam por veias, a eujas margens noritas modestas abrem na força do clia e, noite
cerrada, fecham, para esconder o aroma com que hão-de saudar 11 madrugada,
entreabrindo os imaculados turíbulos! Ali não revoul11 as aves; mas das alturas, can-
tando, lá lhes anunciam, como em paga às primícias cio seu perfume, os primeiros
lampejas cio Sol! Lábios de mulher, que nestes memorosos vales trocarem um beijo,
devem sentir os primeiros el1úvios do Paraíso terreal!
Com as flores rivalizam os frutos. O ananás, a anona, creme finíssimo, fabricado
ao ar livre, por mãos ignotas; a bananeira reserva, rojando os cachos, c até o tabaibo,
na sebe viva, eriçado de espinhos, abrindo o seio hostil e bravio, é ti'uto delicioso!
Pâmpanos nas encostas, e sobre fraguedos alcantilados, dão o rucimo, eujo sumo, nos
sumptuosos banquetes, atila a inteligência e alegra o coração!

[Bulhão Pato, Memórias, ed. 19Xó, vol. II. pp.126-127]

242
Do DE NOÉ

DA COSTA DE SOUSA

não conhece a ilha da ainda que ali não nunca !


Cemitério de onde tuclo fala de amor e tudo é formoso. Já um talento definiu
a ilha: "Uma do trazida mã.os dos para o meio

para além

Se
las flores delatassem os
eladas Se se
fizessem 11<";'''''''' das
tristezas humanas !
( ... )

Castilho o
Autores l~n'··1"rm.'>""

CARCIA RAMOS

Em volta desta baia. é que está edificada tilda de montanhas e, cm a


do allll11::tda do seu risonha sua casaria
brilhante entremeada elas árvores sempre verdes das suas praças c
Mas o que além da imerecida em que é
são os encantos dos seus arredores. Do inte-
aos montes que demoram por detrás dela c
se goza formosura dos panoramas que
os olhos relanceiam para lado que se voltem. Um desses panoramas é
o que se desfruta do da da Senhora do Monte.
A encosta dum monte que se eleva 11 649 metros acima do nível do mar, encosta
por árvores e ele diversas e climas e

243
ALBERTO VIEIRA

águas dalguns riachos que correm em plácido curso, está povoada de pequenas casas
a alvejar por entre os claros daquelas abóbadas e arcarias de vegetais" e em uma
clareira, dominando a paisagem variadamente pitoresca, eleva-se a igreja da Senhora
do Monte a mostrar de longe aos navegantes as brancas cúpulas das suas torres,
depois, estendem-se diante do templo, em dilatado horizonte, vales amenos, bosques
frondosos, sen'anias alcantiladas, vários acidentes naturais do terreno, e, como com-
plemento do formosíssimo quadro que naturais e estrangeiros apreciam e contem-
plam, negras rochas de basalto defendendo a ilha das vagas do Atlântico, Espectáculo
sublime!
O Palheiro do Ferreiro, rica quinta no gosto inglês, com bela casa, tanques, lagoa,
montado de veados, e ferregiais, pertence ao Conde de Carvalhal; a Camacha, que é,
como o Monte, um continuado jardim somente interrompido por elegantes casas de·
campo; e Santo António da Serra, com os seus deliciosos pontos de vista e com a sua
lagoa no cimo da montanha, enchendo a cratera dum vulcão extinto, são bonitos
arredores da cidade que os visitantes percorrem com entusiasmo. A quinze quilómet-
ros para o noroeste do Funchal, à frente das duas mais importantes e produtivas
freguesias rurais, Câmara de Lobos e Estreito, fica o Jardim da Serra, círculo quase
completo de montes; arborizados, somente interrompido por uma abertura para o
mar, limitada mas graciosa, onde está fundada, em assento eminente e em meio dos
ondeados terrenos cultivados do vale, a abra para o lado do n011e o famigerado sítio
do Rabaçal, vasto semicírculo de montanhas vestidas de verdura, donde brotam
claras e sussurrantes águas que constituem uma solitária e encantadora cascata, cuja
descrição é superior à energia da palavra e ao vigor do pincel mais hábil. Essas águas,
que iam perder-se no mar ao nOJ1e da serra que do oriente ao ocidente divide toda a
ilha por uma alta encurneada, encanadas e reunidas em uma levada, foram
aproveitadas, fazendo-as atravessar ao sul da mesma serra por meio duma galeria
subterrânea de 430 metros de extensão, a fim de irem levar a fertilidade a longos
tratos de terrenos incultos e improdutivos. Em meio, porém, destes bosques fron-
dosos formados de árvores seculares que encobrem com as suas copas o sol e o hor-
izonte, em meio deste ambiente risonho onde rebentam fontes que serpeiam por entre
pedras e verduras e que nos dão em cada represa um espelho e em cada trago a saúde,
como é consolador ver o trabalho inteligente do homem realizar uma obra que não
só vivifica a agricultura mas que acredita o povo que a empreendeu e não menos o
governo que a custeou ! O espectador fica absorto em meio deste concerto da
natureza e da arte e, ao despedir-se desse quadro magnífico, lança sobre ele um
volver de olhos corno quem lamenta que. seja aquela a vez derradeira duma tão
arrebatadora contemplação!

[Acúrcio Garcia Ramos, Ilha da Madeira[l879J, in Cabral do Nascimento,


Lugares Selectos de Autores Portugueses que Escreveram sobre o Arquipélago da
Madeira, Funchal, 1959, pp.43-49]

244
Do À ARCA DE NOÉ

mostrar-lhe a Madeira através das


recebe só

a lbrmosa ilha da Madeira'? Levantando-se da espuma do mar como a


crescia para nós a abrindo o seu seio benéfico e
que nela só as suas derradeiras esperanças,
um desses suaves prazeres como o que nos
o encontro dum rosto e dum sorriso de

~ Formava um consolador contraste com a tremenda severidade do mar a amena


...",·"",.",,,'r.,,ra da ilha

Para que a Madeira nos para que nos


como lima verdadeira

a ao peso dos seus


110S mesmos pomares onde se enfeitam de l10res os !-'v,"uv,..,"v.
As rosas, as as madressilvas t10rescem
entretecendo os seus cachos roxos
tudo tem um ar de festa e A
f1 ores sorri cm dos ricos e dos

Mas não é só a natureza que tão afável e acariciadora se mostra aos


enlermos que se conso-

245
ALBERTO VIEIRA

lad9ras lhes vêm de origem diversa.


E geral a simpatia que os doentes inspiram à gente da Madeira. Se os doces afec-
tos de família, se os carinhos duma esposa, duma mãe ou duma filha se podem sub-
stituir no mundo, é aqui a tena para tentar a experiência.
Sentis que vos rodeia uma atmosfera de simpatia. Pessoas que nunca vos falaram,
que não conheceis, seguem passo a passo, com sincero interesse, os progressos das
nossas melhoras ou as alternativas do vosso padecimento.
Com o olhar que a experiência tem amestrado, estudam-vos no semblante as
probabilidades de bom ou mau êxito na luta pertinaz da natureza contra o influxo
fatal que vos subjuga. E esse prognóstico é quase sempre infalível.

[Joaquim Guilhennc Gomes Coelho(Júlio Dinis), Inéditos e Esparsos, 1910,1.


II, in Cabral do Nascimento, Lugares Selectos de Autores Portugueses que
Escreveram sobre o Arquipélago da Madeira, Funchal, 1959, pp. 55, 58-60]

MANUEL TEIXEIRA GOMES [1860-1941]

A primeira impressão da ilha da Madeira -tenebrosa e farta - é flagrante desacato


a esses modelos respeitáveis e vem tributar-nos, a despeito de tudo, a estesia que hon-
ramos.
Mas como chega depressa a reconciliação e como esmaece a aparente hostilidade
suavizada em trechos surpreendentes, infinitamente diversos e de engenhoso arran-
jo!
Pois haverá no mundo paisagem mais aliciadora do que esta que eu desfruto,
agora mesmo, do jardim embalsamado e silencioso- da Quinta Vigia?
Tudo é imobilidade e sossego no panorama em gris que a minha vista abrange:
mar de calmaria, adamascado, com a sua orla bordada de barcos em relevo - cascos
de seda tt'ouxa e mastreações de retrós - à luz igual, branca, branda, que o alto céu
leitoso coa do Sol que se não vê; as verduras maciças da serra aliviando-se da espes-
sura em verduras mais tenras, ao contraste dos casais caiados, e ao longe, sombre-
jando o horizonte, uns arremedos de Capri, ilhas perdidas cujas corcovas montam por
sobre a última linha do mar.
Os jardins aéreos da Quinta Vigia são refúgio inviolável a quem busca isolamen-
to durante o dia, e o predilecto lugar de reunião, durante a noite, para quem não pre-
scinde de diversões mundanas - com paradas à roleta. Paraíso com sol e Inferno com
lua, sentenciará talvez o moralista vivaz e importuno. Eu não moralizo, amigo bem
sabe; eu venho aqui de dia, quando fico no Funchal a descansar dos meus continua-
dos passeios pela serra.
Dentro da cidade não há sítio mais adequado a retiros intelectuais e, decerto,
merecem preferência a quaisquer outras as horas de calor, contanto que se aviste e
oiça o mar, para, sossegado o corpo, abrir ensanchas à imaginação e senti-la então
largar pano, pouco a pouco, buscando rumo e hesitar na den'ota até que, ao leve sopro
do mais fortuito indício, se faça de vela direito a remotas, desconhecidas, almejadas

246
Do À ARCA DE NOl~

( ..
observadas até não escapam à humil-
urge notar-lhe que divisei aspectos de
mIIJU<I,U'-' na minha recente ao Curral Grande ali Curral das Freiras,
encerra no círculo das suas muralhas de gran-
de muitas centenas de metros, um vastíssimo e
de tintas tlmdidas a em culturas variadas e Tal é a Sur-
à monstruosa de rochas bravias a
e colorido somente se
que não sopeamos a fantasia e,
para ali trasladamos
que ali mesmo se congregaram os exércitos de titãs para
antes de acometer o céu,
o Prestava-se a luz li visão exaltada na do ar que acendia
as cOres como cristal das alturus onele me assomei. Tudo ali era
nenhum relevo as úrvores de outra mais
das suas manchas e movimento
tlmclo matizado onde a do iso-
de natureza enclaustrada SOibrepUla a
outra.

CC/Nas SI.>f11 JVloral IVl"l?l?l!m


in Cabral do
que Escreveram sobre o
I 1

RAUL (am.MANO 11867- 19311

começa a erguer-se diante de mim lima coisa azulada e indistinta


com lima nuvem cinzenta cm cima. O sol que bate nos altos ilu-
mina o cone dum monte e de entre as névoas sobre a extremidade dum
as l1odoHidacles disformes ela terra e

C0111
os cortes
cheio de convulsões I.)
dilacerou e desmembrou o dl.)ixando
das que ainda sangram, E nos bocados dI.) que acaso caíram e alas-
traram à meia dúzin de cnsinlms que têm por pano de fundo
a massa espessa Indo de lr{\s, Seis horas: tudo avança e se
verdes de culturas ClIllles de para o norte
cle solenes qlle escondem a terra.
cada vez mais violenta e mais negra, Mete

247
ALBERTO VIEIRA

medo. ~al Se distinguem as florestas nos altos enevoados, e os vales profundos por
onde a agua no Inverno deve cair em torrentes. O navio segue encostado à falésia,
que deste lado da ilha não tem fundo, mostrando-nos a Madeira cortada por um
machado que a abriu de lés a lés, atirando com a outra parte para o fundo do mar. 12
um bronze severo e trágico, que contrasta com a entrada do Funchal e a outra costa
da ilha. Vali olhando para as povoações - Jardim do Mar, Paul do Mar, agarradas às
muralhas, onde só distingo escorrências de zinavre. Só o homem) só o homem é que
se atreve a cultivar socalcos abertos a fogo na perpendicularidade da falésia! (Vamos
tão perto de terra que ouço os galos cantar. Madalena do Mar, esmagada entre dois
morros, que se reflectem em negro no veludo da água, Ponta do Sol e Cabo Girão,
que a noite torna mais espesso e maior... Todo este panorama, na cinza do crepúscu-
lo, recortado em negro num céu cor de chumbo, transformado pelas nuvens que baix-
am ainda mais, e desdobrando-se em sucessivos recOltes sobre a tinta parada das
águas, assume proporções extraordinárias. Já mal distingo a terra até à ponta desme-
dida da Cruz, por trás da qual nos espera o porto de abrigo. A cada momento que
passa, mais alto e mais escuro se me afigura o paredão que nos intercepta o mundo.
Só há uma vaga claridade para o lado do mar; o resto é negrume alcantilado e mon-
struoso colaborando com a espessura da névoa e o indistinto da noite. Uma luzinha
se acende na imensa solidão e na mancha cada vez mais opaca. É o homem, subver-
tido, duas vezes isolado entre a montanha e o mar. É uma alma. E essa pequenina luz
humilde chega a ser para mim extraordinária de grandeza: é uma estrela que me faz
cismar.

14 de Agosto

De manhã acordo em terra. Abro a janela e entra-me pela janela dentro o cheiro a
trufa. Corro tudo no primeiro momento - as vielas animadas, as ruazinhas calçadas
de seixos ensebados, onde deslizam carros de bois sem rodas, pintados de amarelo,
com toldos frescos e cortinas de ramagem apartadas ao meio. Olho para as casas
brancas e amarelas, de beirais caiados de vermelho e gelosias pintadas de verde, que
dão ao Funchal um carácter familiar e íntimo. Tudo me surpreende: o calor, a luz
forte, o jardim com fetos e um grande jacarandá de flores roxas, arbustos penetrados
de satisfação, que na imobilidade e no silêncio vão desfolhando sobre a terra e
deixando um charco rubro em roda. Uma gota de água cai ali para o fundo sobre
outra água imobilizada. O ar é um perfume gordo. Sento-me sob os grandes plátanos
que nos recebem ao desembarcar do porto - mancha impenetrável e deliciosa. Subo:
um largo irregular e depois a igreja, grande cofre de sândalo com doirados e incrus-
tações em madre-pérola. Lá dentro cheira a incenso e a madeira preciosa; cá fora, por
cima dos telhados, descobre-se sempre a carcaça denegrida da serra. Vou ao merca-
do - o mercado atrai-me: pequenino, com duas ou três árvores e uma fonte, todo ele
transborda de fruta como um cesto cheio - cachos de bananas amarelas, alcofas de
vindima a deitar fora, com damascos, figos pretos sumarentos e entreabertos, a des-
tilar sumo. Toda ii thlta aqui é deliciosa e a banana deixa na boca um perfume per-
sistente para o resto da vida. Ao som da fonte de mármore que reluz em fios com uma
Leda no alto agarrada ao seu voluptuoso cisne, isto forma um quadrinho todo em

248
Do ARCA DE NOÉ

manchas com sol às mãos-cheias por cima. A


de colocar-se a as uvas
as o vermelho dos "",,,u."". as araras e as aves exóticas pell0llra(laS
nos troncos, e sob os de macacos de S. Tomé e o falatório can-
tado do povo da branco na e botas de cano alto
que preparam os homens tisnados e secos. as
de cabelo curto, vestidas de cortadas mesmo que a
agora fabrica e para todo o mundo. A vista falha e o
cheiro entontece. É meter [) fundos para dar as sombras
estonteante orvalhado

sombra é luminosa e Com ela


das amarelo dos o vennelhão intenso das ",qCLU;,U'-
rosário. E se um cesto sai da sombra para a ardem e
extraordinárias. E a refrescar o
misturada com sol que por entre as
árvores.
Mas para ver a cidade e os subúrbios em sobe-se ao Pico de Barcelos. À
medida que me afasto do centro, vão casinhas isoladas entre
folhas das ainda em botão roxo ou onde
amadurecido. Lá do alto descobre-se enfim o
que termina dum lado no Pico do e do outro na Ponta de Santa
com o fundo de serra ondulado. Os vales e as linhas dos
enxurros sobre um leito de em e azu-
porque o céu forra-se de nuvens que envolvem
montes.
é ou os dias puros
porque o céu da Madeira anda quase sempre correndo a fuma-
ceira barreira imensa que toma todo horizonte do lado da ten'a e desce até ao
mar em rampa retalhada de culturas e de casinhas que se vão
à cidade branca e sensual. Tudo que se avista. à
foi dividido em de cana muito
de rama, donde tufos de numa
tece e deslumbra. São de de campos e que nos
o recolhimento e o silêncio. À a serra estende-se até Câmara dos
Lobos. Só que me - os olhos em azul- é que
os riscos violetas das encostas, as vivendas lá no alto entre vinhas e pomares, os
na rocha e aberta ao meio por um
violento e romântico. O carácter desta bem o procuro ... Atrai-nos
por todos os sentidos e só tem um amoleeer-nos e ..
os dos onde tudo se conserva alinhado e correcto, e as casmhas rus-
que são o meu enlevo. Passo e um banco. vezes basta um mu~o
caíado com meia dúzia de vasos e flores - para ter uma de encanto que nao
encontro Falta uma de alma de certos recantos por-
.",... "'_~_'~ que, COI11 dois e um sopro de erva, nos

249
ALBERTO VIEIRA

comunicam uma impressão deliciosa de repouso e saudade. Faltam-me as manhãs


enevoadas e pálidas, os dias loiros e desconsolados com algumas sardas. Esta pais-
agem não se contenta com duas ou três árvores, o ar fino e pouco azul derretido: é
exigente e pesada. É materialista e devassa. Ao mesmo tempo é bela.
As palavras pouco exprimem nestes casos: o principal na Madeira é a luz que cria
e tanto amadurece o panorama como os frutos, porque a única imagem que encontro
para este conjunto é a dum fruto maduro que tomou pouco a pouco, com os vagares
de quem não tem mais que fazer, as cores do Sol, as da manhã e do poente, e que
chegou a um estado perfeito que delicia e perfuma ao mesmo tempo. A ten'a emerge
da tinta azul com os tons quentes do ananás, que é o morango dos trópicos - paraíso
sem frio nem calor, a que se ajunta ainda o sabor dos vinhos bebidos aos golos e cuja
transparência se avalia através do vidro erguendo-o para a luz. A luz! dar a luz, seria
tudo, mas só um pintor encontra este doirado- azul diluído que envolve toda a pais-
agem deitada a nossos pés como as mulheres que oferecem os seios duros com impu-
dor e inocência ao mesmo tempo. As próprias árvores que irrompem de todos os
lados - estranha vegetação tropical misturada com todas as outras: ciprestes, cactos,
plantas envemizadas, entre grupos de pinheiros mansos e grandes seres imóveis e
fortes, estendendo a ramaria sobre as ruas, são de carne. Aprendi na escola aquela
santa história dos três reinos da Natureza - mas aqui as árvores, vigorosas e duma
verdura gorda, peltencem sem dúvida nenhuma ao reino animal.

15 de Agosto

Todas as noites não pude pregar olho. Duas, três horas sem dormir. Na rua passam
guitarras e rodam automóveis com mulheres. A noite é uma volúpia e o ar deste clima
tropical uma carícia logo que desaparece o Sol. De manhã bato para a sena.
O Funchal para o Sul a costa é quase sempre cortada a prumo: Santa Cruz, e lá no
alto o Senhor da Serra; uma fenda enorme por onde entra o mar - Machico, e logo o
Caniçal à beira de água e o relevo caprichoso da Ponta de S. Lourenço. Para lá cio
cabo começa a costa norte, a parte mais selvática, mais verde e talvez a mais bela
desta ilha tão variada e decorativa. Ao fim da tarde os 1110rros formidáveis, vistos de
bordo, sucedem-se num cenário espesso, que se desenrola em manchas escuras, com
um resto de fuligem de sol pegada àquela imensidade, que nessa hora ainda parece
mais vasta. A Madeira é um maciço de serras cortadas a pique na costa oeste, descen-
do até ao mar na costa norte e mais cultivado nos vales e gargantas inundados pelas
águas.
O interior da ilha é montanha em osso com excepção do Paul da Serra. A parte
onde só fazem as culturas ricas, a mais agasalhada e onde não cai neve, a que eles
chamam folheto, é o Sul, que produz a cana no litoral e a vinha nas encostas. No
Curral das Freiras - cordilheira central - curioso vale de erupção, ravina enorme aper-
tada entre vertentes alcanti Iadas, com profundidades que metem medo e que vão até
oitocentos metros, deparam-se povoaçõezinhas perdidas, o Livramento. a Fajã
Escura, o Curral, etc. Este sítio revolvido e dilacerado explica talvez a formação da
ilha, onde se encontram mais vestígios de crateras, com indícios de erupções relati-

250
Do À ARCA DE NOÉ

vamellte recentes, nos charcos do POlio


Desfilam ainda diante de mim as 6''''bU'''C'~ e uma encosta
}'''HC<W..''.'~ vertentes num rasgo a
a ribeira que escorre no dos
Canário - aldeiazinhas tão isoladas no alto de morros o Pico da
barrancos formando o leito de torrentes - terrenos
onde deve andar o diabo em dias de vento. outra vez a
se modifica: os montes castelos alTuinados e ferozes da Idade Média.
- loureiros e o til nos fundos onde encharca a humidade.
e surpresa, contrastes, cenários de seITa e mar, como no alto do
>J"""'Jv0 são pequenos para se encherem atmosfera
o sítio triste entre negra, c cheirando a da Câmara
dos à beira de retalhos com mol-
hos de lenha secando à das
donde eSCOlTe a c lá para o fundo o com um tremendo ao lado
que faz sombra e favor: há sítios destes no Curral onde o sol só entra durante cinco
ou seis horas por dia."

As Ilhas lO cd.

DE CASTRO E ,....,J... Jl.Jc• ..,,...

referindo-se às Desertas: "Um grupo de

Efectivamente sem
Não existem habitantes nas nem nem nem arvoredo.
A el2~etiacílo é rara e magra, o solo é quase todo constituído rocha não
se terra arável. E as cabras e os coelhos bravos que lá crescem
lutam com sérios para
Mas para mim as Desertas são um mundo.
Têm uma uma alma e variável tatnh"'m
como as almas humanas.
-Ao as maIs assombrosas '"' YU'""'y,"''''~'
",,.,,,,H,,,t,, os meus olhos admiram os seus

afiados das suas


das suas torres e das suas ameias de
de sonho que a luz transforma e onde o homem não tocou. .
_ As vezes são opacas; entristecem lá no meio do oceano como se tIVessem
UVi>"<U,,",HW e se tornasscm de Outras vezes desatam a
radiosas de luz e de

251
ALBERTO VIEIRA

Passam do azul escuro e turvo para o rosado macio da carne, como um barómetro
de cobalto.
Falam de todas as tristezas e de todas as alegrias; são expressivas como gestos de
tribunos, como rostos de actores; são impressionantes como vozes inspiradas de sibi-
las e de iluminados.
C... )
Ah, minhas lindas Desertas, que eu agora mesmo estou vendo, irisadas, poisadas
sobre o mar com a ligeireza de nuvens transparentes e efémeras! Que belas histórias
elas me contam e como povoam a minha solidão! - As vezes, à hora do poente, nos
dias em que o Sol mergulha no mar deixando no horizonte um brasido e o céu em
volta semeado de nuvens resplandecentes, afigura-se-me que a luz ao despedir-se
abraça e beija as Desertas e lhes confia, até à madrugada seguinte, o depósito sagra-
do das cores. - E então, enquanto o horizonte se vai a pouco e pouco apagando e que
as sombras da noite principiam já a surgir do lado do nascente, eu vejo as Desertas
imóveis e concentradas como três relicários. Tornam-se côncavas, translúcidas;
transformam em cristal as suas rochas opacas; irradiam uma claridade sobrenatural
como a taça milagrosa do Santo Oral. Contem no seio, fundidos, os amarelos páli-
dos, opulentos ou alaranjados dos topázios, o vermelho luminoso e rico dos rubis, o
carmesim das granadas, o intenso e divino azul das safiras, o verde das esmeraldas
límpido e profundo. Assemelham-se a três virgens cristãs ajoelhadas defronte do altar
onde tivessem comungado e onde se -conservassem extáticas, transfiguradas pela
intensa ilusão de possuírem em si um Deus de infinita bondade e de suprema beleza.
Mas o poente empalidece a mais e mais; a noite avança lá do nascente ... E nas
Desertas as cores amortecem lânguidas, descoradas, a morrer de saudades. Os rubis
perdem o seu fulgor, as esmeraldas transfonnam-se em opalas, as safiras em turque-
sas, os topázios em ametistas doloridas, magoa.
Depois, na ilhota maior, as rochas altas e agudas desenham recortes vagos de cat-
edrais goticas; e as cores prisioneiras, que momentos antes brilhavam como um
tesouro pagão, cintilam agora amortecidos e misticos vitrais iluminados interior-
mente por círios lacrimosos e lâmpadas de azeite brujuleantes em volta de sacrários.
E eu evoco as lendas cristãs glorificadas na Idade Média, lembro-me dos milagres,
dos mmtírios, dos prodígios; revejo as multidões de Belini em volta de Santa Úrsula,
a Santa Catarina de Luini levada ao Céu pelos - três anjos, o S. Jorge de Carpaccio
combatendo o dragão, todas essas coisas encantadoras e radiosas criadas pela fé e
enobrecidas pela arte.
Os últimos reflexos do Sol vão desaparecer no poente ... Em torno das Desertas, de
toda a orquestração das cores triunfàntes fica apenas o verde puro que não se funde,
que envolve as ilhas moribundas numa auréola suave antes de ser absorvido pela
sombra.
E a noite desce; e a lua surge no seu quarto crescente, como a lâmina duma foice,
polida e fria, mostrando-me as Desertas negras boiando lá ao longe no mar.;.
Então o rumo das minhas ideias muda mais uma vez: penso nas focas de olhos de
veludo que se abrigam nas misteriosas grutas daqueles blocos de basalto, gemendo e
lamentando-se como almas penadas.
As focas ... E aí vai a minha imaginação ...

252
Do ARCA DE NOÉ

É de e eu o Sultão que
escutou as sem fastio e sem cansaço, durante mil e uma

in Cabral do
que Escreveram sobre o
1 pp. 123-

DE JACOME CORREIA

o IWlllllnfJ,"JHI do solo do clima

em automóvel ou em carro costa sul da


ele que ilha é um immenso rochedo fendido por todos
a terra aravel apparece alli aonde o colono no socaI·
em leito assente sobre d' essas
que são de
de mineraes arrefecidos apoz uma combustão
vulcões que reduziram os 760 killometros
ilha da Madeira a massas incandescentes. N'esse arrefecimento constituíram-se os
C0111 o decOl'rer dos que se encontram em expessas camadas de
rochas e que servem aos habitantes de material industrial constructor, como:
d'escoreas mais ou menos e barreiras de que se aca-
mam stratificados aos veios.
de ravina ou n 'um corte de barranco e olhando-
LIlC:íUll'-'<I da

U<lIIUtlUC do solo a que

é o formado decom-

constihlem um solo

solo e que são fra-

253
ALBERTO VIEIRA

cos, se attendermos á extracção que tàzem n' elles as culturas continuadas e que não
deixam germens para uma transmutação, como nos bannanaes ou nas florestas que
vão guardando o producto da queda d'esses germens que assim engorduram o terreno
sob a protecção das proprias plantas; nem que tão pouco concorram para a fixação
do ten'ena solto como se dá egualmente com a arborisação que cobre e protege a
terra: excluindo esses elementos naturaes do terreno, só os estrumes ou adubos
organicos, misturados com as regas das aguas das levadas, trazem a fertilidade á agri-
cultura da Madeira.
E não será erro afirmar que os primeiros povoadores que assentaram na vastissi-
ma fajã do Funchal, estudaram n'ella os processos de fertilisar a terra e transformar
a ilha n'um paiz habitavel e prospero ás commodidades da vida civilisada.
A ilha, segundo os chronistas, foi encontrada coberta d'arvoredo, e esse arvoredo,
que no litoral era constituido por arvores de madeiras tenras e improprias para obra,
como as dracenas, foi incendiado. Essas cinzas do bosque queimado, que serviu de
clareira para o levantamenlo das primeiras habitações, foram os primeiros fertil-
isantes de que se serviram os colonos para os primeiros ensaios agricolas que fizer-
am na ilha; e as aguas das ribeiras de Santa Luzia e de João Gomes forneceram os
hydratos e a humidade ao solo secco e areiento.
Ainda em vida de D. João I, isto é, antes de 1431, onze annos apenas apoz a
descoberta, a agua das ribeiras, ás suas nascenças, era de tão reconhecida importan-
cia para a agricultura, que foi pelas auctoridades regulada por diplomas especiaes,
que tiveram por fim exclui l-a da propriedade particular, tornada um bem comIt1UIl1,
utilisavel pela collectividade com tanto mais direito quantos fossem os serviços por
ella prestados á sociedade, submettida a principios juridicos discernidos pela magis-
tratura, em caso de litígio.
( ... )
A Encumeada e a Costa Sul. Nas cercanias da Encumeada a Madeira offerece o
aspecto pouco mais ou menos do estado em que se achava quando os navegadores a
surprehenderam na sua virgindade e no seu isolamento.
Subindo a encosta que vae da Serra d'Agua á Encumeada na estrada da Ribeira
Brava para S. Vicente, desfralda-se aos pés do viajante um d'esses macissos densos
de verdura em que a f10ra é constituída por especies autocthonas, tão antigas como a
descobelia em 1418.
Por entre um tapete verde glauco de folhados, de loureiros, de paus brancos e de
tis, d'urzes arboreas que estendem os seus troncos contorcidos por cima da estrada,
de 7 e 8 metros d'altura, nascem as uveiras, cujos pedunculos e folhas tenras d'ul11
ruivo avinhado coloram a extensa encosta que desce ela serra ao mar, gretada inin-
terruptamente por grotas, desfiladeiros, gargantas, ravinas, lombos, riscando o solo
que, aonde é escalvado 110 corte abrupto d'alguma rocha ou no cabeço de qualquer
monte, mancha de preto elos basaltos ou do vermelho acobreado elo oxido de ferro
elos barros, o panorama triste e solitario d'aquellas regiões situadas a mil metros
el'altituele, batidas pelas nevoas em farrapos que de quando em quando cobrem-nas
por completo, juntando-se em massa conedia, açoitada pelo vento, esbranquiçando o
ambiente frio e cortante.
N'aquella magnificencia de linhas e profusão de contornos em que os caprichos

254
da natureza accentuaram a sua
mais o nada se avista de vida animal ou se de mais
do que a nova estrada para onde vae descer o automóveL e que é das poucas estradas
que na Madeira não são onduladas a calcetadas a seixos c usadas por car-
rinhos e corças a deslisantes para de gente ou de cargas.
Do cortado no terreno para a passagem estrada e que assenta no
cimo entre o dos Ferreiros a leste e Redondo 11 oeste,
avistam-se umas nesgas dos dois mares que banham a ilha a sul e a norte e por entre
as garganta da cavadissima ravina em que a comarca de S. Vicente se apega
vertentes, lá muito fhndo e muito invisível do alto da serra, mesmo na
foz da ribeira que atravessa a viII a, para da ci\"il-
e apenas e mal. no
extremo da fundo da a agua da ribeira de S. Vicente, uma
de
UV'''''Ull,Q. que parece um rochedo e que de tàcto é. no cimo do
foi collocada uma cruz da fé e aberta uma cavidade para o Jado da terra em que foí
armado o altar no do corpo do recinto. fechado por lima
"".'lo,,,,, de caiada em branco. simulando os dois tectos de

Já no caminho da Ribeira Brava por


durante a se toma conhecimento com essas
d'edades remotas e antediluvianas em que a rocha era para eamaras e
fundos utilisada para tabernas e mesmo casas de moradia nas mar-
gens da estrada. Para este lado a casaria das aldeias é
que se vão á vista os varios da estrada
tornando grotas, sempre o curso da Ribeira Brava. escavada na vertente
oeste do mais e estreito valle de toda esta encantadora ilha: e além da exis-
tencia humana que se manifesta nas casinholas cobertas de construídas de
e rebocadas e caiadas a côn:s vivas; não são raros os gmpos
de trabalhadores do campo que descem da serra com os seus molhos de tolhado para
os nos ou de camponezes que desviadas
roçam o matto para n'elle semearem cevada e trevo ou outras e comidas,
A Encumeada por Ioda a extensão da ilha na este-oeste
de:sca:nçam secularmente tantas d'essas bellezas naturaes
",uUUla~,<lV os touristes que a vizitam, no n.<-Il""I."I,
OU'"'''''''-, no Arieiro. nos em Santo António da
etc.
É mesmo d'essa
dorso da que descem como os lombos e os em
convexas e salientes que se intercalam com as reentrantes ou eoncavas, n'uma sinu-
osidade infinita e tão variada nas formas como constante e permanente
no movimento.
lado do norte das vertentes da cadeia montanhosa, lado do sul.
as rectas; o terreno é sempre em declive e corta-o urna
no fundo da corre ás vezes a ou barra-o um com-
Um um barranco. A terra é por tal fanua acci-

255
ALBERTO VIEIRA

dentada que mal cabe n'ella um espaço para concentrar uma povoação, e as aldeias,
com raras excepções, são edificadas ao longo de ruas, e joeiram-se, offerecendo
então essa curiosidade da dissymetria caprichosa que dispoz as conveniências dos
habitantes e dos proprietários da localidade, em collocação desataviada, ao redor de
um cabeço, pelo fundo de um valle, no calço de um comoro, nos degraus d'um d'es-
ses numerosos socalcos que amphitheatram, de vinhedos e pequenas culturas
caseiras, essa monumental escadaria rochosa que é a Madeira do calhau á serra.
( ... )
Duas habitações proprias á muda dos serviços de locomoção - duas bem providas
tabernas com um outro edificio desoccupado que serviu a moinho d'agua - cons-
tituem essa posta da Choupana, dividida pelo caminho do Meio, marginado a
nascente por mattas do Visconde de Cacongo e a poente pela Ravina que no inverno
engrossa com as suas aguas as da Ribeira de João Gomes.
Os retoques do pincel espontaneos da natureza que outr'ora matisaram este local,
foram substitui dos pelas decorações dos artistas da industria: a ravina reveste-se de
densas copas d'acacías floridas, acima das quaes sobem as ti li granas dos ramos de
frondosos carvalhos, que mancham do luzimento doirado das suas folhas, ainda lá
em baixo, o espesso guarnecimento da profunda cova. incensos guarnecem as partes
altas das suas bordas, onde dois chalezinhos de verão se encan'apitam em comoras
sobre o espigão que forma uma das grandes paredes do Curral.
O sitio é isolado mas o solo offerece qualquer coisa de acommodador, de con-
vidativo, sentindo-se a mão da Junta Agricola semeando e dispersando exemplares
escolhidos dos seus jardins experimentaes, que agora mostram ridentes e decorados
os outr'ora ermos e vetustos terrenos, entregues e abandonados ás transmutações da
sua limitada flora.
As mattas extensas e espessas d'eucalyptos e pinheiros do Visconde de Cacongo
marginam a leste a estrada do Meio e a levada da Serra, cujas aguas veem do sopé
do Pico da Sena na vertente norte, passam pelos Lamaceiros, ladeiam a encosta leste
da cordilheira do Santo da Serra e veem a 3 quartos d'altura na aba sul da cordilheira,
atravessando a Cam acha, quasi juntarem-se ás levadas que banham o Funchal.
São 40 killometros de calhas de boa alvenaria, das quaes se retira agua para exten-
sas culturas de trigo, de vinha e de canna d'assLlcar nos terrenos cultivados pela
encosta situados abaixo do aqueducto.
A matta é extensa e percorre-se bem meia hora de caminho sob as sombras do
arvoredo aramatisado a eft1uvios d'eucalypto e de pinho, pisando-se a terra hum ida,
até á encosta do Pico do Infante dominando as ravinas. D'ahi ve-se o Funchal lá
muito no fundo, como anichado n'uma enorme concavidade abobadada, aberta ao
alto, aguardando os seus cimos a archivolta recortada na Serra. A nevoa cobre-o,
pairando por cima, n'uma immobilidade protectora, propria da primavera, tão tenue
e diaphana como gazes tatues dos paramentos festivos proprios da estação; atravez,
a casaria em esmalte destaca-se em massa confusa, como mosaico bysantino, desen-
hando a cidade, e n'esse fundo de abside invertida, guarnecida de verde, uma myste-
riosa estrella ao acaso scintila as reverberaçoes dos raios solares, que incidem sobre
uma claraboia d'edificio ou galeria envidraçada d 'atelier, luminosos como chamas
de magnesio queimando de fogo branco a cidade em todas as direcções.

256
Do AARCA DI: No"

Atravessada a matta e contornado o Pico do Iníànte Cl1i~[!a-Se


de

dos viscondes d'esse título.


( ... )
A por Valle Paraizo á entre o caminho do
que desce da Camaeha para o
IJICl_U"lUa de abundantes tractos de matta. esta

e de terras que se estendiam para Santa Anna


começaram no do seculo as culturas dos
para assim como na Camacha e para os lados de Valle Paraizo e
'-lJlULllUaua, para onde se estendiam os tenenos que Luiz d'Ornellas e Vasconcellos

acabou de cobrir de arvoredo n 'uma extensão de cerca de 22 maios de


( ..
N'um relataria por eUe ao Ministerio Marinha em IOde de
1823 se diz que 20 mil arvores tinham sahido dos viveiros do Monte para varias pon-
tos da ilha da Madeira e do POlia o que dá uma ideia da influencia que tiver-
am os viveiros na 11m'estal e ílorida d'esta encantadora ilha; e que
mesmo em serra se verificam não só nos nos carval-
hos e nos que cobrcm os mattos e revestem as como nas fuchsias
que crescem sobre os muros e sobre as nos arroxados ou aver-
melhados que se vêem em nas violetas que se intermedeiam
com os e que nascem nos
campos,
As mattas estendidas n 'essa facha da aba do sul da cordilheira e que do monte cor-
rem até á Camacha e sohem até ao Santo da são bem um documento movi-
mento florestal dos do seculo tão como o Palheiro. situado
que acolheu uma variedade de
tas, entre as quaes que se desenvolvem mal nos do FunchaL como as
os rbododendros os as carochas ou as
os Iilazes.
dois lados e para detraz do
lUIIU(:'UIJ11, estáo

e correm ao de veredas cobertas de rosas


em bordadura fOlmando nos e nos
extremos modellos d'aves ou balaustres: para dentro os canteiros

257
ALBERTO VIEIRA

dos d'arvores, arbustos e plantas herbaceas cobrem-se de flores que desabrocham


exhalando subtis e delicados perfumes que aromatisam o ambiente; para traz dos ulti-
mos alegretes floridos e da arborisação, que é rala, começa a matta, por entre a qual
desce a grata do Inferno, onde os fetos arboreos e negros se ellevam a 12 e 15 met-
ros d'altura sob a copada de carvalhos, castanheiros e outras arvores a porte elevado
n'um ambiente humido e a ingreme declive; emfim, na parte mais alta da quinta
crescem as gramineas, e os carneiros aos bandos pastam á solta.
Sem ter entrado nos edificios nem nas dependencias, nem tampouco ter visto as
cavallariças ou a grania, que constituem as outras curiosidades da Quinta do
Palheiro, vi o sufficiente para avaliar da fecundidade da flora de jardim acima de 600
metros, que no Jardim da Serra, acima do Estreito de Camara de Lobos, hoje pouco
se avalia da influencia que teve na horticultura da Madeira. Situado a 750 metros, a
mais de 120 acima da altitude do Palheiro, o Jardim da Serra estende-se ao longo da
vertente leste do espigão que avança pela ravina do Vigario e divide a Ribeira d'este
nome da do Jardim, que é sua af'fluente e que lhe passa á cancella em corrente assaz
nutrida para conter a frescura no valle.

[Marquez de Jacome Correia, A !lha da Madeira- impressões e Notas


Archeologicas. Rumes, Artisticas e Sociaes, Escriptas de Janeiro a Maio de 1925,
Coimbra, 1927, pp.77, 119-122, 165-167, 172, 175-176]

JOSÉ MARIA FERREIRA DE CASTRO [1898-19741

Reunidos em grupo, indicou-lhes o mar, de um lado ate outro da ilha. Estavam no


ponto mais elevado que a estrada atingia. Dali se escortinava o oceano, ao norte e ao
sul, dali os olhos podiam medir a largura da Madeira. Para o sul, a vista baixava,
entre a sobel'bia deslumbrante das montanhas, até as costas da Ribeira Brava; para o
norte, ia, entre urzes e loureiros, salvando seITas e abismos, alcançar o Atlântico,
além da capelinha de San Vicente. E ali pelio, mesmo no flanco da estrada, nascia, a
querer prolongar a montanha, novo mamilo que as águias gostariam de ter para
ninho. Seguia-se-lhe logo outra proeminência, grave, pesada, estranha e tão capri-
chosa na forma que, mais do que obra natural, saída de primária convulsão, dir-se-ia
majestoso templo assírio. E a cordilheira continuava ainda, continuava sempre, a par-
tir-se, ao longe, em ciclópica fantasia.
Álvaro propôs:
- Se querem, podemos almoçar aqui.
Mr. Crawley consultou o relógio:
- São dez e meia. Para mim é cedo ...
- Bem; então, almoçaremos lá em baixo, antes, de chegarmos a San Vicente.
Na descida, as lombas e desfiladeiros já não ostentavam apenas árvores dispersas,
cómoda outra banda. Agora, urzes e louros formavam mata cerrada, cobriam as
encostas, vestiam as barreiras da estrada e murmuravam por toda a parte.
Centenárias, as urzes haviam adquirido corpulência Ide árvores, de grossos c retor-

258
Do ARCA DE NOÉ

cidos troncos, ramos vinham quase a face de quem


passava. E, por entre serra acima e serra os loureiros ao sol
rr"(><l'''~'1n
as suas folhas dum verde vivo e mui lustroso.
Mais M.me Lacretelle ao
cortada de sombras e elari-
que conduzia descesse mais
rectificando Juízos apenas
apesar da sua

Assim.
O carro que casal e Alvaro distanciara-se.
A mata era cada vez mais bela: a cada nova curva, a cada clareira
loureiros horas por outras
de à brisa que passara há mllitos séculos
a 11l,nnl1PIC

o corpo ele M.me Lacretelle deslizou novamente, até


encontrar resistência no de Juvenal. E esteve colada a
inclinou o busto para a frente e ordenou:
- Pare ai.
Juvenal os olhos. Mas ludibriando o sentido do momento,
acrescentava:
Vamos um bocadinho a Estou de tanto vir sentada",
E para o , com o mesmo tom autoritário de pouco antes:
- Vá andando espere-nos em baixo.
Desceram. Ele estava com da voz de M.me
Lacretelle. Uma solidariedade com "chauffeur" nascia de Ela ficara para-
ao seu e olhava em derredor.
lindo isto é! Não lhe
- Os gregos não teriam tantos louros ... - disse com um sorriso frio
(" .)
A cordilheira ia de um a outro extremo da ilha. Nascia na
S. ora em curvas ele lombo de ora em
"""VI,"""", até a Ponta do

aberta de passagem,
de obstáculos para os olhos. O seu deleite era
monstruosas, enfiando serra com serra, montes,
que quererem o céu e ravinas onele
regougavam torrentes, nas noites de

259
ALBERTO VIEIRA

irregular e variada, perspectiva além de perspectiva, ia esparramar-se na Ponta do


Pargo, na Madalena, no Porto Moniz, contornando do Sul para o Norte, sempre
abrupta e sempre grandiosa.
A Madeira era a cordilheira. Posta no centro da ilha e a todo o seu comprimento,
dir-se-ia que se derretera pelas bandas, escorregando lentamente, para um lado e
outro, a massa ainda informe. Hesitando no rolar de pesadelo, mais mole aqui do que
acolá, quedara-se, umas vezes, em proeminências, abrira-se, outras, em sulcos pro-
fundos; e, na preguiça da descida, deixara por toda a parte encostas de arbitrária
expressão e acidentes de singular fantasia.
Logo, para cobrir mazelas que lhe ficaram do nascimento, se vestira de tão denso
arvoredo que, mesmo com o sol a pino, não havia palmo de terra desprotegido de
sombra. Fora assim que a viram, sugerindo todos os mistérios, os descobridores; e
mais de um mareante que, tendo como roteiro bíblicas páginas, andava em busca do
paraíso termal, julgara tê-lo encontrado ali. Tanta opulência vegetal, murmurando, na
solidão atlântica, árias de estremecer e ocultando, nos seus abismos, quem sabia se
bichos temíveis ou homens mais ferozes ainda do que os bichos, levantou nos
primeiros trilhadores cautelas e perplexidades. Dizia mesmo a tradição oral, por
vários cronistas dada como segura, que, por essas ou outras razões, fora um dia
lançado fogo à ilha de verde fisionomia. Rabiando de ponta a ponta, as chamas teri-
am formado ígnea apoteose, bem digna, pela grandeza, da imensidade oceânica onde
sc ref1ectia. Mas tivesse tido o destruidor fácil propagação ou hOllvesse caminhado
devagarinho, revelando a sua marcha apenas com um risco de llU1l0 a elevar-se da
mata, a ilha ticara em tições, esbranquiçados, uns, pela cinza, e outros enegrecidos.
Adubaram, então, a terra, destruídos, para sempre, todos os réptcis e demais
alimárias que causam dano e susto nas outras partcs do Mundo. E posta assim ao léu,
sem regaços de mistério, sem recantos ensombrados, negra e nua, negra e nua, a
Madeira mostrava toda a sua grande carcaça, tão árida e desolada como se fosse de
novo um formidável vómito de lava, acabado de arrefecer.
Mas, com o tempo, raízes mergulhadas mais fundo ou sementes perdidas onele as
labaredas não chegaram, deram em pôr à superfície folhitas tenras, delicadas; e, se
havia humidade, fora só crescer e multiplicar, vestindo a toda a pressa o que o fogo
desnudara. Rocha ele onde brotava água teve logo em derredor, e onde quer que a viv-
ificadora passasse, bosques de encantamento e de frescura inigualável. Nunca mais,
porém, a cordilheira, nem quanto dela descia até o mar, se cobrira de todo. Neste c
naquele anfracto, nos cimos e na terra ribeirinha, ficaram largas cicatrizes; umas,
estéreis, outras, propicias a ser amanhadas pelos colonos recém-chegados. E cômoros
arriba ou nas achadas, longe ou perto do oceano, o homem fora disseminando a agri-
cultura e elevando o seu abrigo. A ilba dcixara de ser apenas bosque, para ser bosque,
horta e jardim. Já não era A só mancha verde, ancorada 110 Atlântico e tendo a coroar-
lhc os píncaros grande auréola de bruma. Era, agora, imenso painel de muitas e vari-
aelas cores.
No Poiso, porém, a terra continuava sáfara, como se tivessem passado há pouco
tempo ainda as labaredas já lendárias. Nem mata a substituir a que teria existido, nem
couve, roseira ou vinha metida a dentc de enxada. O seu despovoado, animal e veg-
ctal, só podia ser aprazível a quem necessitasse dessa forte solidão em que o homcm,

260
Do ARCA DE NoÉ

nos seus constantes ou se transforma a em centro do Mundo ou


finda por criar o vício das sem resposta.
...
( )
Fora uma cena muito Holdsworth não a notara sequer e, com um senti-
mento
- Para onde vai csta
- Para os campos - Juvenal. E
cortada por essas cordas
matas sussurrantes, furando as
cios uu"'.,~.u
boa
ros e para ir canaVIaIS e e pomares da terra
que nem por estar beira do occano tinha menos sede. Nas que se contavam
por centenas, residia toda economia da de fora os bordados.
cantavam há muitos séculos dia e
abismos.

em toda a
fortunas

de Câmara de

nificência e a
E não era das mais belas
superavam ainda toda a
os
tilados
beleza. A

escorregar; outras,
certa, tão constante se mostrava na
do que luzindo ao

261
ALBERTO VIEIRA

conduzindo para longe, pequenas cataratas de música vigorosa ou fontes de terno


cicio.
Ao mesmo tempo, a populaçào vegetal ostentava urna vida opulenta e fantástica.
Era como se o incêndio tradicional nào houvesse chegado até ali ou as cinzas das
árvores que morreram tivessem servido de húmus à vegetação futura. Exceptuando a
de Santa Luzia e uma ou outra vizinheira de povoados, as levadas alimentavam, no
seu trajecto, bosques de bíblicas sugestões. Ele próprio, na das Queimadas, sobre a
pontezita do Arrochete, tivera, um dia, a sensação de que ia ali surgir, nu, peludo,
amaçacado, o homem edénico. A sen'a recolhia-se, em aguda e alta vertente, ofere-
cendo de cada lado um tumetàclo quadril. De cima, ao longo duma rocha, a água
escorregava, luzidia e cantante. Acompanhava-a na descida, a um lado e outro, densa
multidão de arbustos, musgos, fetos, azevinhos, de frutos que lembravam contas ver-
melhas, urzes de todas as idades, loureiros esgrouviados, frondes por toda a parte.
Emaranhavam-se em ramos de extraordinárias expressões, folhitas que eram rendas
vegetais, conjunto que matava o indivíduo para dar uma visão de totalidade maravil-
hosa. E sempre, sempre, na frescura dominante, a catavina da água, musicando o
silêncio de t10resta virgem.
Menos recatados e mais teatrais eram o Caldeirão Verde e o Rabaçal, onde se sen-
tia, imperativamente, a necessidade de um ser inverosímil, de uma mulher enigmáti-
ca e de eterna juventude, para quem a água executasse, nas imensas solidões, a sua
inténnina melodia. As árvores, os recantos sombrios, as clareiras, discretas como
uma alcova, o que se via e o que se imaginava e a água, sempre a água em melopeia,
sugeriam um amor extra-humano, a vida feita só de amor - sem outra preocupação,
sem outro objectivo, sem outra realidade!

[Ferreira de Castro, Eternidade, Lisboa, 1977, 130 edição, pp. 65-66, 147-149,
196-197]

ANTÓNIO ASSIS ESPERANÇA [1892-1975)

Para o atravessarmos, acendemos archotes de urze ressequida, porque tudo aqui é


simples e primitivo. Iniciamos a marcha como penduradas na abóbada, ou cabeleira
verde das pedras, os fetos e avencas das humidades sombrias: aqui e além a cair :em
gotas, pingue-que-pingue, como se toda aquela terra fosse espremida por mãos
crispadas, as paredes ressumam água. Faço a primeira centena de passos, e o ponto
luminoso, que é a outra entrada do túnel, permanece minúscula, marcando a grande
distância a percorrer.
O círculo vermelho do clarão do archote mal chega para nos indicar por onde
corre a levada. Guardo silencio porque tudo me é conhecido Surge - o primeiro per-
calço.
A meio caminho, extingue-se a -luz que nos guiava. O vento, que assobia neste
corredor abobadado, fizera que a chama depressa consumisse a urze seca.
O caminho toma-se doloroso, inquietante. Gracejamos uns com os outros, mas a
escuridão é completa e separa-nos. Nós e o negmme da noite daquelas paragens; nós

262
Do À ARCA DE NOÉ

ea dc que vai abrir-se um abismo a nossos


que torna-se lama a
as arestas das
de monstros; tacteando o murozito da friorentos percorrem-nos o
corpo, como sc os nossos dedos tocassem em cadáveres. e ime-
diatamente receamos a nossa voz; tentamos soam
<;;"'_<U"UH""'.'''~, tlll1ebres.
Como farol em noite de trevas, a nossa esperança é o oritlcio branco do fundo do
o mais que os passos, mas ele nega-se a abrir-se
como em caminhada fim. Um minuto que passa é ali cntcrnidades.
É então que se apossa de nós o de COlTer, de e para bem
le Mas como nos sonhos de ansiamos voar e nos sentimos prcsos,
de molhado. As pas-
ru"""a-"c; a de que atravesso um
para me a certeza de habitar um mundo diametralmente
em que vivera. A meu tanto viver monstros, ou
como haver tesouros escondidos.
É estamos
encontrar o sabor inédito
arriscada. A que vem é sorrir e cantar.
Desembocamos num terreiro aberto na falda dum monte acima das nuvens, tão
imo do céu
como toalha muito alva de o nevoeiro espesso, que
!lU-tu""u. sonhámos brincar.
horas da
manhã as veremos,
oceano que muito lá ao
dos de a f.""~"i"''''''''
construíram-se castelos de rochas que o oceano embala com
das suas ondas.
A vereda que agora é tão estreita que não consente duas pessoas a par.
A terra por mãos dum São vales
As cabras da assustadas à
nossa passagem, escolhem os carreiros por onde descer. Há encostas
negras, e outras com o verde elas urzes centenárias. do contraste.
Meia dúzia de anos antes, os da serra às matas, e o
lavrara por todo o interior da ilha.
...
( )

. o incêndio ...
e tão infantis como entarameladas são
a mão uma curva e é sem-
esse mesmo aceno lhe servirá para

-Foi em e eu estava só. Vi o homem e o que saltava de árvore

263
ALBERTO VIEIRA

em árvore que nem gato bravo. Três dias durou: três dias. Eu preparei tudo! preparei
tudo. Eu só ! Havia água, e foi só encher os baldes; I
Um risinho seco, sarcástico, contra o fogo, como a castigar-lhe o ol1mipotencia, e
os mesmos gestos: um erguer do braço, e a mão ossuda, enorme, a esboçar uma curva
leve ...
- O fogo vinha daqui, e eu va de lhe deitar água; vinha dalém, e já eu lá estava de
plantão. Nunca me apanhou de mãos a abanaI: Olhe, meu senhor, que tudo isto eram
chamas à roda, e eu vá de deitar-lhes água para cima. Que eu cá, sou rijo!
A voz tem sempre o mesmo tom plangente. Recordação única, por espectáculo
único, sorri. Bebe para lllolhar os lábios.
-Que eu salvei isto. Eu só ! Ao segundo dia, já dum lado estava tudo apagado, veio
cá cima um cunhado meu para me dizer que a minha irmã morria com chorar. E que-
ria - levar-me de gancho! queria que eu abalasse pela levada fora e abandonasse esta
casal
- E foi'?
- Qual?1 Eu queria lá saber da minha irmã I Quando isto ... quando "a tasca"
ardesse, ficava menos um homem no mundo, foi o que respondi ao meu cunhado. E
cá fiquei I eu sól Eu a brincar com o fogo, e o fogo a ralhar comigo. Mas venci eu I
Que eu cá sou rijo. Eu podia lá abalar I E então isto'? Se cu abalasse, ardia tudo!
Não queriam mais nada, não?
Fito-o. A narração engrandece-o. Ganhou maior estatura; o dever emprestou-lhe
ao rosto um luaceiro de heroicidade. Desaparecem o falar e a timidez dos gestos.
Ante mim, está um Homem, e sem desmerecer daqueles que acreditam haver, para
eles, uma missão na terra, e não vacilam em sacrifícios, antes os procuram, con-
scientes, em proceder por forma diferente das maiorias.

[António Assis Esperança, "Um Homem", in Ilustraçeio. Lisboa 1929, in Cabral


do Nascimento, Lugares Selectos de autores portugueses que escreveram sobre o
arqlllJJélago da Madeira, Funchal, 1959, pp. 177-180, 184-186]

FERNANDO AUGUSTO DA SILVA 11934/

Madeira (Paisagem). São inumeráveis as composições em prosa e verso, tanto cm


vemáculo como cm línguas estrangeiras, que cantam e enaltecem as conhecidas e já
proverbiais belezas da Madeira, em que admiravelmente se salientam o maravilhoso
acidentado das suas altas montanhas, o aprumo inverosímil das suas ravinas e des-
filadeiros, a profundidade dos seus vales, o relevo caprichoso do seu solo, as difer-
entes tonalidades e matizes das suas ricas culturas agrícolas, a variedade e fragrân-
cia das suas flores, a eterna primavera do seu clima, os famosos vinhos, ü'utos e bor-
dados, os típicos e interessantes costumcs regionais, a patriarcal hospitalidade dos
habitantes, etc., etc. Nem palidamente tentaremos descrever, embora muito de
relance, todo esse conjunto de maravilhas com que a omnipotência divina dotou este
privilegiado torrão em que nascemos e vivemos, mas vamos transcrever alguns tre-
chos de autorizados escritores, que ponham em saliente e brilhante relevo a

264
Do À ARCA DE NOÉ

deste modo nossa manifesta insuficiência e


a nossa
Sem obediência a ou cat-
literária dos autores, faremos essas foram pas-
sando à a que 'VC'''Pr!P1rYl
O ilustre o seu livro Illes uma
da donde destacamos estas: Nada conhecemos de belo e
vista a distancia da coberta de um de toda a se elevam rochedos
0'<>11t"0,,,,0 escarpas formidáveis de nos o
fazem enormes que formam e as baias abertas à
as rochas basalticas revestem a forma e de velhos castelos em
as camadas de lava descem livremente até o mar em que marcam
com toda a a das torrentes que inundaram a e que parece
haverem sido detidas em seu curso para atestar homens de a violência dos
nomenos de que a ilha foi sede em remotas.
Uma eterna verdura cobre seus cumes, altitudes que os sábios só teem
constatado em muito poucas do da
de todas as desde o morango até à que
das até ás l11urtas, os feos e os loureiros que lhe revestem
os mais elevados. Assim como os navios de toda as nacionalidades e prove-
nientes de todas as do mundo tocam na escala da
assim a da de todos os
e o seu clima favorece todas as

mais clara dos nossos climas e os que


rochas ou ao das arvores, recahem tremulando ao sabor dos ventos
como cabeleiras verdes.
Uma cadeia de que não é outra coisa mais que o núcleo
corre-a em todo o seu e lhe determina a Elia
menos elevada nas duas extremidades que na
licito é usar esta para um cavado que
forma o centro do na norte desta alta que estão reunidos os
culminantes da Madeira: o o do Cidrão e o do
Areeiro",
O e ilustre numa das suas belas des-
fala deste modo: - Não conhecemos sitio no que tanto assombre e
"''''~'''''''''' como a ilha da Madeira. O tem talvez deixado a

mar azul e sem


tuários novos e dos e deleita os olhos exactamente
no 111omento em que mesmo que houvéssemos desembarcado n'uma ilha

265
ALBERTO VIEIRA

escalvada, já isso teria sido julgado uma inapreciável delicia."


O distinto comandante da gata austríaca Novara, Wuelstorf-Urbair, numa
descrição de viagem, que o nosso grande escritor e estilista Latino Coelho se dignou
traduzir em língua portuguesa, lêem-se estas palavras: - " É extraordinariamente deli-
ciosa e magnifica a primeira impressão que a vista do Funchal causa ao viajante com
a perspectiva dos seus jardins e das suas 110res e com a opulenta vegetação, que
engrinalda e coroa os montes, que se elevam desde a margem. Não ha ali, é verdade,
a selvática majestade, nem as formas colossais da vegetação, que é própria dos paizes
dos trópicos. Sentem-se ali antes as feições de uma ilha da Itália meridional do que
as magnificência de uma paisagem do equador. Desenrola-se, porém, ao aspecto do
observador, um tão grato painel, onde a vida da natureza aparece em tão rica var-
iedade e formosura, que a mais creadora phantasia nada pode conceber de mais
amorável e encantador. As mais formosas plantas das zonas temperadas e subtropi-
cais deleitam aqui os olhos em seu pleno desenvolvimento, ao passo que aparecem
também alguns dos mais bellos representantes da flora dos trópicos no esplendor lux-
uriante d' esta maravilhosa vegetação, que um naturalista da Allemanha comparou ha
pouco tempo aos fabulados hortos pensis de Semiramis. "
"Nenhum lagar nos pareceu mais apropriado, diz o celebre naturalista Humboldt,
para dissipar a melancholia, e para restaurar a paz ao espirita perturbado, do que
Teneriffe ou Madeira. Se a bella descrição da ilha Pheacia feita por Homero, em que
os frutos sucedem aos fructos. e as flores ás flores, numa variedade rica e sem fim,
pode ser aplicável a alguma ilha modema, é seguramente à Madeira."
O primeiro governador civil do Funchal Luiz Mousinho da Silva Albuquerque,
literato e ilustre homem de ciência, deixou exaradas estas palavras, numa memória
que escreveu acerca do arquipélago madeirense: -" ... se a mão devastadora e imprev-
idente do homem não tivesse despojado a quasi totalidade dos montes e das encostas
da sua antiga verdura sem a substituir por novas plantaçõe.s, a ilha da Madeira fora
sem dúvida um dos países mais formosos e mais agradáveis do Universo. Quando
deixadas as sinuosidades dos vales e as bordas das torrentes, se sobe aos cumes e ás
palies elevadas das montanhas, a ilha da Madeira apresenta a cada passo vistas exten-
sas e variadas cuja descrição excede as forças da eloquência e da poesia, e das quais
nem o lápis do paisagista nem o pincel do pintor podem da mais que uma mui
imperfeita ideia ... "
llustre escritor D. António da costa, no seu livro "O Herói do brigue Mondego"
escreveu:" ... um talento feminino definiu ai ilha: uma porção do paraíso trazida pelas
mãos dos anjos para o meio daquelas águas. É em verdade um paraíso ... Tudo ali res-
pira a imensidade. Os olhos descobrem horizontes sem termo; a verdura apresenta
variações novas que enfeitiçam a vista ... as flores ... transformam a povoação num
jardim, cuja atmosfera balsâmica se respira já do mar e que fez supor aos primeiros
descobridores um encanto das negras matas, ao mesmo tempo medonhas e feiti-
ceiras, para atrair os aventureiros, a temperatura dulcíssima converte as quatro
estações - num Abril permanente... "
O grande romancista Júlio Diniz, que passou alguns meses no Funchal, diz-nos
o seguinte:
Quando a formosa ilha da Madeira, levantando-se da espuma do mar como a

266
Do ARCA DE

crescia para nós a abrindo o seu seio benéfico e mater-


rp""",,,'rI""'C
nal aos desconfortados que nela só as suas esperanças, sen-
tíamos todos o desses suaves prazeres como o que nos
o encontro de um rosto e de um sorríso

Formava um consolador contraste com a tremenda severidade do mar a amena


da ilha
a marcha do vapor fez-nos dobrar o cabo de S.
que ele forma com o grupo das
de como se de repente se tivessem
vencido muitos graus de latitude. a face a brisa e da
com prazer o hálito acalentador e salutífero desta fada marítima;
achavamos-nos sob o seu encantamento, reconhecíamos enfim a
Madeira!
A costa do sul la em revista com as suas rochas
as suas fonnidáveis

as casas e as
iluminadas por um sol de outono, que doirava as extensas jJ'0I1""'rL1":>
cana, saudaram-nos por sua.
A do emudecera-nos. De um lado o mar, do outro as serras, e
>II,","""'" a cidade como a adornle-
cida entre os que a
Para que a Madeira nos para que nos apareça formosa como a descreva o
como uma verdadeira flor do Oceano, é necessário sair do
subír as ladeiras que
e então a vista formosíssimos vales que vão desco-
brindo o seio fecundissimo aos nossos olhos maravilhados.
e variedade de \l""~"t"f',,n
o verde doirado da cana entre as diferentes cambiantes da mesma cor de
de todos os climas. A de dos
carvalhos da a
de

dos entreteccndo os seus cachos


roixos com as flores tudo tem um ar de festa e A
mais humilde tem um dos ricos e

mais nos elevamos mais do


De um lado vemos aos nossos o mar liso como um
limitado ao gLUpO das Desertas
do outro as altas selTanias que rompem as nuvens e cimos tantas vezes
a ofuscante alvura das neves. E nos abertos em fundas sul-
cados em ribeiras torrentes do
vida encobrindo que

267
ALBERTO VIEIRA

se agrupa em torno de um campanário.


Então sim; então a atmosfera embriaga, o peito aspira com voluptuosidade esse ar
balsâmico, espirito libelia-se de todas as apreensões que nos gelavam os son'isos nos
lábios e goza-se despreocupado do mais surpreendente espectáculo que pode imagi-
nar-se."
São do grande escritor e psicólogo italiano Mantegaza as linhas que vão ler-se: -
" ... 0 primeiro aparecer do paraíso da Madeira melhor se diria ser uma cena do infer-
no dantesco. Massas gigantescas de basaltos negros, negros e rochas rugosas com
os pés no mar, laceradas, contorcidas em um arbusto, sem uma única casa, e com as
ondas espumantes a romperem-se fragorosas a seus pés. Aqui e ali, perto ela costa,
ilhotas, negras, também, sem arvores, sem 110res, corroídas pelas ondas despe-
daçadas e tresgastadas, quási ruínas dum mundo minado pelo fogo. Chegamos á
Ponta de São Lourenço; deixámos à esquerda as três ilhas que no próprio nome
encerram a sua triste história: Desertas; poucos momentos depois alcançámos um
promontório de basalto, maior que os outros o Cabo Garajão. Aquele cabo assinala
os limites do Paraíso.
Passado o Cabo Garajão um perfume de jardim tlorido veio ao nosso encontro
com as brisas da terra, e aquela terra era um encanto, um sorriso de jardins e casas
de campo, ele campos verdejantes e de bosques encantadores; era uma grinalda com-
posta de todas as 110res, um desses quadros de todas as cores que alegram o coração
do homem e lhe arrancam profundo mas sereno suspiro.
Pouco momentos depois estávamos diante do Funchal capital da ilha, que parece
estar branda e carinhosamente disposta entre campos de cana de açúcar e de inhames,
e entre hortos cheios das nossas arvores da Europa, e bosquesinhos fant<1stieos de
bananeiras de folhas gigantescas e aveludadas; em volta, abre-se um grande
anfiteatro de montes altíssimos, verdadeiras rochas de gigantes; por último, a com-
pletar o quadro, dois oceanos, talvez demasiado grandes para aquele ninho de
amores: o oceano do mar e o oceano do céu; e naquela ocasião não se saberia dizer
qual dos dois se vizinhava mais ao azul ultramarino ou ao da safira.
Passei três vezes diante da Madeira, e sempre a vi irromper do peito dos viajantes
mais vulgares um grito da alma que dizia: porque não tenho eu uma casita neste
paraíso ?"
Nos "Portos Marítimos de Portugal e ilhas Adjacentes", diz-nos o ilustre engen-
heiro e literato Adolfo Loureiro: - " ... é uma das regiões da terra da mais extra-
ordinária acidentação orografia, da mais rara e fascinante beleza, das mais benéficas
e salutares condições climatéricas, e da maior fama e celebridade. Nela se reúne a
mais agradável doçura das campinas ela Itália, a mais agreste e rústica majestade dos
despenhadeiros e das serras dos Alpes e Perineos e a mais luxuriante opulenta vege-
tação das regiões equatoriais. Sem rival na terra, jamais se apaga, ela mente de quem
uma vez pôde apreciar os seus encantos, a recordação daquele verdadeiro paraíso ter-
real."
O brilhante escritor Raul Brandão deixou um fórmoso livro intitulado As ilhas
Desconhecidas e dele vamos destacar estes trechos: - " ... Fundeamos a Madeira abre-
nos os braços, com a ponta cio Garajau num extremo e a ponta da Cruz no outro
extremo. Adivinho as casas, que por ora são fantasmas e clescem lá cio alto até à praia.

268
Do À ARCA DE NOÉ

o t0111 cinzento domina o azul e o e na minha frente o


anfiteatro verde dos montes ergue-se como um altar até ao céu. É uma serra
CJlLlPLLlU;'" e verde que se oferece c vereie. Ao meio um
monte por trás a montanha enorme e escalvada. colinas
vão terminar no farol e no forte sobre um destacado e corroído.
Fico todo o dia a a embeber-me no
da que passa do cinzento que
a todos os momentos, até ao 11m da em 4ue o mar se torna diáfano e os
montes Com lima nuvem em cinm.
sumir-se a terra, que no escuro cheira cada vez mais a ü'uta e me
está roxo, é uma mancha enorme e e
arfa C0l110 um ainda iluminado. A medida que o vapor se a
montanha que me atrai parece mais negra e maior:
M. Teixeira da deixou
à no seu conhecido livro de "Cartas sem
moral nenhuma", donde transcrevemos linhas: - " ... Poís haverá no mundo
mais aliciadora do que esta CJue eu deslhlto do embalsamado e
silencioso da Tudo é mobilidade e socego no panorama em que a
minha vista mar de eolU a sua orla bordada de bar-
cos em relevo Cascos de frouxa e de retrós- à luz
o alto céu leitoso coa do sol que se não as verduras da serra
<H"COV-"" da espessura em verduras mais tenras, ao contraste dos casais """'''''Vu,
e o horizonte uns arremedos de
covas montam por sobre a última linha cio mar.. ,"
Do distinto' médico e escritor Sr. João
seguem, extraídas elo excelente livro a sua
agem é vida toda ela por centenas de casas peque-
que pmeccm marinhar encostas e
teirnosos numa febre cle touriste.
que tllZC\11 lembrar. os decantados
panoramas da como síntese de tOI11 o que
quer que de vago c confortável das telas de exalar
de si com o das /lares que a revestem, um aroma tão saudável e tão inebriante
que sacodc o dos desanimas mais tendo vida e relevo aos relevos
da vida.. ,"
Olava um dos mais ilustres escritores e
linhas: - " ... a ilha encantada era toda lima
luminoso ela manhã ... está cheia de rumores e de
ressoam parece-me que abrirem-se as nuvens 11108tra11-
tesouros que vão chover sobre mim ... Ainda quem vez
atravessa o Atlântico cm busca da tem a de
baver não lima do
por uma convulsão telúriea ou levantada do fundo mar por uma.
mas um Oll melhor autentico e esse de deli-
cias que todos os fundadores de

269
ALBERTO VIEIRA

homens ainda na ingenuidade e na pureza do brotar da vida. A chegada à Madeira é


a revelação do Fardés hebraico e caldaico, do Pamir dos indús, do Hara Berezaiti dos
iranianos, do Beheschet dos persas, do Walhala dos escandinavos. Gonçalves Zarco
e Trintão Teixeira, por menos poetas que fossem teriam, em 1419, o mesmo deslum-
bramento que fere os viajantes de hoje, poetas ou não, quando o mar lhes depara
aquela verdura inesperada, aquele remanso de águas azuis, aquele casario branco,
aqueles recortes caprichosos de angras, aqueles vultos de montes altos, tudo sorrindo
e fulgindo à luz de um sol, que beija sem morder, dentro de um ar de veludo que entra
pelos pulmões em caricias e afagos ... A tantos lugares lembrados para sede do horto
sagrado, teatro do primeiro drama amoroso, berço do primeiro beijo, é justo acres-
centar a Madeira ... Tudo concon'e para dar à ilha um distintivo edénico. Nem calor
nem frio ... nunca ali se acendeu um fogareiro para aquecer corpo humano, nunca ali
uma garganta escaldada de sede deixou de contentar-se com a frescura natural das
aguas das levadas ...
Dizem os geólogos que a Madeira foi antigamente um foco de medonhas
erupções ... mas só existe uma recordação vulcânica: a excelência dos vinhos capi-
tosas, filhos da terra adubada de lava ... Não foi sem razão que os naturalistas deram
ao arquipélago da Madeira e ao das Canárias o doce nome de Macaronesia, que quer
dizer - arquipélago dos Bem-aventurados.
São do distinto poeta Bulhão Pato, que passou alguns meses na Madeira em com-
panhia do Conde do Carvalhal, os trechos que se seguem: - " ... Que privilegiado pais.
Tanta e tanta vez o tenho avistado e é sempre como imprevisto para mim o aspecto
dos seus vales, picos, montanhas, córregos, vertentes.
Os cedros já se não precipitam desde o viso dos montes como em outras eras, mas
pelos atalhos, caminhos de pé - posto, de entre massiços de verdura recaiem as
povoações rurais, as casalitas, as vivendas senhoris ... No Funchal... abria-se o mar-
avilhoso - o prodigioso - anfiteatro à luz do sol branda mente coada por nuvens
ténues e dos algares fundos daquelas sen'anias erguia-se, de onde em onde, a nebli-
na, desaparecendo aqui e surgindo além sobre os visas, o que parecia dar aos cimos
das montanhas a ondulação das grandes vagas ... Para descrever as escarpas em
escalões, as penedias medonhas, que se nos afiguram a desabar por momentos nos
abismos do oceano, ao fajãs verdejantes, a larguidês mórbida dos vales beijados pela
flor da onda... seria preciso reunir de Moscho a Eschilo e Shakespeare ... Espectáculo
paradisíaco ! Pais privilegiado, não tem no mundo totTão, que lhe dê de costa. As
grandes eminências - o Cabo Girão, promontório mais alto da Europa; o Campanário
na montanha; a Senhora do Monte sobre a cidade, e as frechas dos picos cravando-
se no azul denso dum céu, que já é africano. Levadas e saltos de água, precipitando-
se em catadupa, brocados pelas aluviões e rotos os montes! Bosque, em que os ramos
da flora europeia abraçam e beijam as arvores dos trópicos, embaladas pelas brisas
do mar! Rosas agrestes festivando os valados, láros nos impérvios, violetas bravas
mais aromáticas que as de Parma nos brejos viçosos! ...
Tem muito de beleza e de verdade estas palavras transcritas do livro "Meio-Dia"
da autoria de Manuel Carreiro: - " ... Transcorridos dias, com lentidão de clepsidra,
dois monótonos dias fechados entre mar e céu, duma só cor, ou então indigentes de
cores, quando lobrigamos a Madeira alcandorada no Atlântico, senhora linda de ricas

270
Do À ARCA DE NOÉ

roupagens, com sorriso que tem todo mistério dum sorriso


nos que caminhamos para um sonho feito de aromas do de oiro e com
a alma em festa e trazendo nos olhos de deslumbramento,
A característica da é a sua falta de calma Cuma
que tem um pouco de dantesca,
E por ser ela dá à minha sensibilidade forte
olhos dois escravos para a servirem em em
As calmas não são menos mas nem todas as sensibilidades estão
Correm o risco da monotonia para que não
U".'YU""" não a banharam de lirismo.
avassaladora da Madeira é toda ela voluntariosa, Tem que
invisíveis que se estendem e nos
nos a pasmar de e com um pouco de pavor,"
muitos outros autorizados testemunhos acerca das belezas da
em virtude da demasiada extensão já
trechos que ficam transcritos, E para encerrar este lem-
braremos referindo-se à diz que ela se a
escritor e filosofo lhe chamou oitava mar-
que o celebre sábio e naturalista afirma que se
descrita por Homero à realidade seria a
que lhe deu o nome, que universalmente se de flor do
Oceano 110 seu belo poema
Ocean Flower; que Bacon escreveu uma pequena intitulada Atlantis
nas belezas desta e que finalmente muitos a denominam Ramalhete
Paraíso terreal, Primavera Verdadeiro etc., etc.

[ Fernando da

HUGO JL.... U'"'---JLJL,C>.,

ELOGIO DA MADEIRA

Desta vez o itinerário não foi mais extenso o o


o Funchal eis o roteiro visita à ilha da
dos

fi Madeira deslumbrou-me
terceira vez. Na volta dos o deslumbramento intensificou-se, E então,
da vez, a de duas serranas deu-me azo a fartar os olhos da
agem da ilha, A não, Nunca os nunca os fartarei. mais

271
AWERfO VIEIRA

vejo a Madeira, mais desejo sinto de a ver. Na verdade, quem uma vez olhou a ilha
maravilhosa não pode resignar-se a não mais a olhar. Mágico filtro dá ela a beber, por
certo, a quem por ela passa, seja para lá parar, seja para seguir viagem ... Assim comi-
go.
Quando pude ver a ilha da Madeira, para além do Funchal, do Pico dos Barcelos,
do Terreiro da Luta, convenci-me de que ali e também nos Açores estavam as pais-
agens mais belas do mundo português. Pelo menos do mundo português, já vasto,
que eu conhecia. Vista do mar, a ilha esplende e encanta. Ninguém, a não ser que seja
cego, poderá alhear-se à contemplação embevecida. Desde a Ponta de S. Lourenço à
Ponta do Pargo, passando pela Ponta do Garajau, pelo Cabo Girão, por todo esse
admirável recorte da extensa costa meridional, abundam os motivos de beleza. A
beira mar assentam as povoações principais; o Funchal, cuja paisagem só é com-
parável, talvez, à paisagem da Cidade do Cabo; Camara de Lobos, Ribeira Brava,
Ponta do Sol, Calheta, tantas outras.; mais pequenas- mais escondidas nas anfractu-
osidades do litoral, nas enseadas que ornamentam a costa, pontos mais claros entre o
verde escuro das ribas e o azul escuro das águas. Pelas encostas, disseminados como
reses tresmalhadas dum grande rebanho, povoados sem conta mosqueando de gra-
ciosa claridade o sombrio verdor da orografia madeirense, tão acidentada e tão
impressionante.
No hinterland, porém, o termómetro do deslumbramento atinge o supremo grau.
Vá-se para a esquerda, vá-se para a direita, as maravilhas sucedem-se, amontoam-se,
assombrando quem procura, em vão, estabelecer confrontos, medir grandiosidades,
determinar a superioridade desta ou daquela. As estradas que saem do Funchal põem
à prova, aos primeiros quilómetros, a resistencia da sensibilidade cio contemplador.
Ora o mar, ora a serra, ora a riba arroteada, ora a ribeira vulcânica, de expressão dan-
tesca, - de tudo, com profusão, se patenteia aos olhos atónitos de quem vai.
Santa Cruz, Machico, a Camacha, mais junto ao mar; o Santo da Serra, a Portela,
S. Roque do Faial, Santana, mais junto da montanha. Não posso escolher, e não posso
dizer que esta paisagem emociona mais do que aquela, nada me permite proclamar a
soberania deste ou daquele aspecto. Evidentemente, posso sentir certa preferência
por um conjunto ou por um pormenor que se projecta com mais intensidade na tela
ampla das minhas recordações, sempre vivas e sempre saudosas.
Evocarei, por exemplo, com particular emoção, o deslumbramento da visita ao
Santo da Serra, ao belvedere dos Lamaceiros, com a Penha de Águia e o Porto da
Cruz a ilustrarem grande parte do Norte da ilha, a destacarem-se no fundo mm'avil-
hosamente azul cio oceano e da atmosfera. E lembrarei, convencido de que nào
poderei lembrar paisagens mais assombrosas - direi mesmo: mais fonnidaveis - esse
imenso quadro mágico de S. Roque do Faial e de Santana, a povoação mais pitoresca
e a vila mais extraordinária de aspecto que até hoje vi, para evocar, apenas de relance,
parte do Leste e do Norte dessa ilha que perfuma e embeleza o Atlantico e torna mais
suave a rota longínqua da Africa e da América do Sul.
A ilha da Madeira! Sempre que a evoco, é como se Deus fizesse passar ante os
meus olhos um filme maravilhoso que, para o ver bem, preciso de semicerrar as
pálpebras Eis porque não tento, sequer, esboçar uma descrição do que já vi. Eis
porque prefiro evocar, isto é: dar livre curso à emoção constante das recordações.

272
D(J A ARCA DE

Primavera nas 1936, in Cabral do Nascimento,


Selectos de AlIIores que E.\'cre\·eram sohre o
rf>rJuulI,""P da .\fadeira.
Funchal. 1959, pp.

TEIXEIRA

Não se com certeza, o que são as


sofrem um conceito errado por motivo de idêntica no continente
a de terreno de às com maior acerto. se deve antes.
chamar herdade ou fazenda, Poís as tàmosas da Madeira são parques,
e lindissimos deslumbrantes de cor e maravilhosos de variedade, No centro
UC!ll><atCl de tom claro com interiores confortáveis de luxo e de bom gosto c. por

flores cobrindo canteiros e acolhedoras arcadas ou


se na solubra dos ao canto dos extensos relvados. Canta melancolica-
mente entre os troncos das faias e os dos o melro triste e. dos
l"'lHl',U, vê-se o mar mordido nas de bareos que
para todos os destínos no mistério azul dos horizontes em volta.
da Boa Vista conheci Mrs, G. Nunca vi mais absoluto domínio de ter-
nura de mulher do que Mrs. G. se entrega aos cuidados e zelos das suas flo-
res. Ela não as apenas. Educa-as. Dir-se-ia que as domestica.
e a pureza das de cores tão vibrantes e
estranhas. Vai mais enlevada e enternecida, os seus PY'''ITl'''''rp~
U",~UIU'" manchadas de bronze e prata, como folhas de escudos de com-
e as suas avencas miudinhas e delicadas como os bordados da British
vivendo sem contacto com a terra, sensacionalmente alimentadas só
com ar e com
da visita as estufas no relvado a ouvir a música dos vilões ",'mp'nfln
, violas de arame e ferrinhos as melodias desconhecidas e belas que
PYnr,~,,<,iI{l sentimental deste povo, concentrado e ansioso de Vi
das meninas vestidas com o e decorativo da
la~IU.LUj" de clássica da bóina e as altas
botas de coiro o em estridências à frente do gmpo
dos tocadores. Em volta era tudo um sorriso de Deus, na timidez dum eco.
o sino da Sé e, de vez em cortando a os vapores. no de
<1"'''1''11'-'0 das sirenas. Um ambiente romântico puro, quase inverosímil de tonalidade

e de envolvia as coisas e as pessoas. As nuvens brincavam na


_~I""~""~:~~:?'''~_V'' em indolencia de
Viam-se enormes
verde de cenário
em louvor da a viver a hora triunfal do
Pensei então que neste clima da entre a terra e sensual e o céu azul
e nascer- no ar- as flores mais lindas e inéditas
para a nossa visão. Basta apenas que, de meses em meses, as cepas e as par-

273
ALBERTO VIEIRA

reiras em toldo empalidecem, perdendo harmonia neste conjunto quase irreal de ver-
dura fresca, o murmúrio embalador das levadas continue o prodígio de renovação
fazendo crescer, por baixo das folhas inúteis, desenvolvendo-se e trepando, os
arabescos dos feijoeiros, a rama baixinha das batatas doces, a cabeleira curta da relva
para aproveitamento. E dos altos montes e dos vales profundos do interior escorre
sempre. a seiva que é o humor nutritivo deste paraíso, canção maternal a modelar, em
ternura, a beleza e o encanto da "minha" ilha autêntico país de namorados.

[Luís Teixeira, "Minha Ilha da Madeira", Diário de Notícias de Lisboa, 1938, in


Cabral do Nascimento, Lugares Selectos de Autores Portugueses que Escreveram
sobre o Arquipélago da Madeira, Funchal, 1959, pp.228-23I ]

HENRIQUE CARLOS DA MATA GALVÃO (1941)

-Que maravilha!
O navio cortava então as aguas limpas, por vezes quase acetinadas. A ilha, de todo
esclarecida, mostrava-se já, desde a linha nítida das cumeadas, vigorosamente desen-
hada no céu, até às penumbras dos vales, como uma fotografia ainda húmida, acaba-
da de revelar.
Como se a terra estivesse coberta por um tapete fantástico, ressaltavam cores
duma variedade infinita? abertas para um sol puríssimo que escorria doidamente por
todas as quebradas, com alegria comunicativa.
Dir-se-ia que toda a ilha estava em festa.
Adivinhavam-se flores e as próprias casas muito brancas, com os seus telhados
vermelhos, pareciam pétalas dispersas a esmo sobre o tapete verde.
Não se define bem esta impressão instantânea de alegria que a Madeira nos dá. É
uma alegria, por assim dizer, feita de todas as alegrias: a alegria interior do êxtase e
a alegria movimentada da festa; a alegria do buli cio e certas alegrias que se gozam
em contemplação.
Assim, de longe, não se adivinha nela a terra dos trabalhos e canseiras, onde uma
população excessiva suga o sangue do corpo para colher no solo o pão de cada dia.
Antes parece uma estância prodigiosa de turismo, em que a natureza e o homem, de
mãos dadas, não deixaram lomba de monte ou carreiro de vale sem beleza e sem con-
forto.
Pela encosta, mal esta se liberta dos precipícios altaneiros que se erguem a prumo
sobre o mar, trepam centenas, milhares de casitas alegres, num milagre de povoa-
mento, de luz e de cor.
No alto, em regiões do céu, copas de árvores muito juntas, frisadas, vão descer.
Sente-se cá de longe, da amurada, o prodígio que deve ser esta paisagem vista de
cada curva do terreno, do alto de cada outeiro, do mirante de cada monte.
Depois, em águas mais transparentes, num ponto que todas as casas da ilha pare-
cem demandar, surge o Funchal, doce presépio desta romagem dos Oceanos, uma
grande cidade europeia em ar de jardim, um grande bordado multicor, garrido, movi-

274
Do À ARCA DE NoÉ

mentado e
Tantas vezes tenho 1"«'""""''''-' nestes caminhos e sempre me comovi como na vez

E ainda não "rI""',"",-",," que havendo em tanta


por prazer, tantos que vão à Madeira e tão poucos que a

voI. 1, 1941, ln

EDMUNDO TAVARES

E LAPINHAS

A Ilha da indiscutível maravilha ela natureza sua incrível


extraordinário da sua graça dos seus costumes, e
1,.."n'""lI''''' das suas flores e dos seus frutos é um imenso rincão
e de ou Paraíso Terrestre que encanta, e
entontece o visitante.
esta linda terra, fica-se tomado de e
inteiramente. Os horizontes SUl'-

e tornam-no numa
ImpOí~m·-se
por toda a Os
pormenores característicos e em uníssono um coro tri-
unfal de de carácter e pv"rpoci'i
De relevo muito de claro-escuro
a ilha da Madeira desdobra-se em infinitos em matizes
efeitos de número ilimitado.
a realidade da cota de nível em que nos
que se vislumbram em que nos causam
mas sim os contrastes que caracterizam
fi rudeza verificada na escala de
entre o cimo das
É o contraste teatral da
c a alvura azulada do mar, a
amarelas dos

e assombram.
para

275
ALBERTO VIEIRA

Aqui há desordem, acaso, paisagem de cataclismo. Um trecho idílico, um recanto


virgilíano desdobra-se ao lado de um colossal monstro de lava petrificada. O gérmen
da criação está ao pé da morte, a fina penugem verde de uma vegetação exuberante
cobre a CaI'cassa das serras desventradas, as plantas revestem as encostas, a vida fez
brotar a água, nascer as florinhas, criar as giestas e crescer os pinheiros. Mas o drama
lá está bem patente num cenário expressivo de luta de elementos, em que sobressaem
o belo, o gigantesco e horrível.
Nesta privilegiada terra, todos os motivos interessam, todos os recantos são típi-
cos, todos os aspectos são curiosos, todos os trechos são quadros, e todos os quadros
são maravilhas.
Feliz conjunto de terra e mar, a ilha da Madeira é uma terra de contrastes violen-
tos, pois reune em pouco espaço os mais assombrosos, e encantadores motivos nat-
urais que se podem imaginar. A serra e o mar acham-se juntos, metem-se um pelo
outro, colaboram na mesma obra de beleza trágica, dando consequentemente lugar a
uma variedade incrível de pontos de vista e de cenários naturais.
A serra é forte, brava, angulosa, maciça, cheia de mamelões, de precipícios, de
ravinas e de covões. As suas cores fundem-se em tonalidades e cambiantes irreais, e
parecem a distância um embutido de esmaltes, de madrepérolas, e de pedrarias pre-
ciosas.
O mar é ameno, tépido, transparente, ao pé; azul profundo, ao longe, e envolve
graciosamente esta paisagem alpestre e grandiosa, com vários colares de espuma
branca.
As povoações parecem presépios atulhados de casinhas brancas e de cores, recor-
tados de caminhos íngremes e ruas enladeiradas, ornados de ingénuas igrejas, de tor-
res altivas, de pontes ousadas, e de graciosos e singelos terreiros e miradouros; as
fazendas são frescas, fecundas e paradisíacas; os pomares, ricos e perfumados; os
hortedos, fartos viveiros de mimos e especialidades.
Em parte alguma há jardins tão interessantes como na Madeira. A fragrância das
flores mais variadas e raras, os maciços espessos e emaranhados dos arbustos e
arvoredos, as sombras frescas e arroxeadas, as chapadas de sol de oiro e alaranjado,
as ruelas calcetadas de seixo à moda local, os larguitos e pracetas de terra vermelha,
o colorido extraordinariamente intenso e variegado, e a exuberância pasmosa de
tudo, estonteiam e levam ao sonho e ao lazer.
Os parques e bosques frondosos ostentam as mais lindas e irreais tonalidades nas
suas folhagens, possuem retiros ensombreados, encantadores mirantes de poesia
sobre o mar, socalcos e esplanadas sobre os terrenos mais baixos, fresquidão, água,
nascentes abundantes, fontes naturais, e aromas embriagantes.
O clima, indiscutivelmente um dos melhores do mundo, completa o formidável
conjunto de encantos deste paraíso. O ar leve, muito puro, doseado dos mais finos
elementos para a saúde, enche amplamente os pulmões, espalha um bem estar
indefinível no corpo, e uma paz perfeita na alma.
Na serra há odores imponderáveis. Há malmequeres de várias cores, flores sil-
vestres perfumadas, ar vivificante de campo sadio, e um vago cheiro a cera e a mel.
No mar, o marulhar das ondas junto das rochas e dos calhaus, levanta a maresia,
torna o ar afrodisíaco, um tudo-nada espevitante, tempera-o com o iodo, e torna-o

276
Df) .\ !I\!Jl

de
, uma inestimável A
yerdadeiro retiro de encanto e
um sonho e uma
vista a distância e do mar, quer observada de perto. em pormenor.
aualouer ponto da í1ha. a Madeira aspectos de inex-
se sucedem e numa transmut.1 estonteante e ul1lca.
On)l2'lratla da ilha é tal que. cada ponto domina sempre parte dos ler-
ritórios que lhe ficam mais e é dominado por outros. que por seu turno lhe
ficam mais altos. De vêem-se sempre rochas, socalcos, fazendas.
matas ou casario aconche(!3do ao fundo dos \ales. ou dos ribeiros
como fortalezas prestes a eaírem. outras
outras casas, outros socalcos de outras muralhas, outras matas e
outras terras que lhes ficam em
Descortinam-se extensos panoramas for a em que se olhe.
Observam-se escarpas descamadas de encostas que ficam acima de nós. e que
ameaçam desabar sobre as nossas ou sobre os telhados das casas que habita-
mos. De lado se vê o mar, de se vêem as serras.
cada casa, cada cada telhado. torre. rua, caminho ou
eSU"d.ua, é sempre um miradouro voltado para a terra e para o mar, e sempre um
observatório debrucado sobre os domínios dos vizinhos. sobre os telhados das nutras
sobre outras ruas, outros caminhos e outras estradas.
é na Madeira. um mirante que tudo vê em redor, e que tambem
Cada casa é uma ao mesmo tempo úrada para
os horizontes marítimos e para os horizontes serranos. Cada é uma
da donde se vê a passagem. a ea dos barcos. Cada
"",..,.",,,,,,,. uma colunata que marca como adorno, nas vistas da paisagem. Cada tàzen-
um que nos chama de Cada um
menta os panoramas.
Para lado que se vêem-se sempre casas mais baixas do que o nível
em que nos encontramos. Vêem-se sempre casas mais
inacessíveis. Vêem-se sempre parques a nossos
lá no lá no estradas
montes, telhados sobre telhados, chaminés cr,.""ino"c
casas de prazer, tap1ass:óls
menorizados e _
vertentes matizadas e renques de
tabaibeiras campos de bananeiras e de cana de
e um mar de e um céu
a ilha da Madeira é tambem um dos recantos por-
é maior, e consequentemente um dos pon-
tos em que os terrenos são mais
mercê da .
ca, graças aos recortes bizarros do seu litoral, aos inúmeros e férteis vales. e às
ALBERTO VIEIRA

dades, em mil quadros de uma grandeza esmagadora e impressionante. E, em êxtase


e recolhimento, admirai a grandiosidade da natureza, a imensidade das senas, a
vastidão do mar, e a força e eternidade da matéria e do espírito divino do mundo.
Deitai pelas estradas fora em direcção às serranias interiores. Subi pelas ladeiras
Íngremes até ao Monte, ao Terreiro da Luta, ao Poiso, e descei em seguida à região
ravinosa do Ribeiro Frio, onde uma vegetação exuberante, fmias sombras, e uma
fresquidão de mistério vos esperam, para vos encantarem, seduzirem, e embalarem
em sonhos vergilianos.
Deixai depois a pousada local com os turistas abancados às mesas. Esquecei os
olores dos manjares regionais, o tilintar dos copos e talheres, o vozear alegre, e as
risadas femininas. E ide até aos Balcões. Trilhai o carreiro macio, fofo de relva,
ladeado de água, e guarnecido de hortênsias, que vos conduz a esse lugar famoso,
pois um espectáculo deslumbrante espera-vos, - um destes espectáculos que só a
natureza pode proporcionar, e em que os protagonistas são as serras, os rios, o céu, o
mar e as nuvens.
O panorama é de grandeza e proporções excepcionais. Diante de vós, sob o piso
do balcão proeminente em que tendes os pés, rasga-se uma ravina de profundidade
inconcebível, em cujo leito contorcido, pejado de pedras e cavado de socalcos e
cachoeiras, corre um ribeiro frio, bravo e caudaloso.
Grandes linhas angulosas, rochedos nus, portelas e desfiladeiros, tudo parece
instável, desaprumado, prestes a desabar no abismo e a perder-se no fundo vago e
distante da ravina.
Uns farrapos de nuvens ténues e soltas toldam parte das selTas fronteiras. o que
torna o espectáculo, ainda mais inesperado, estupendo e belo.
No fundo, as formas são imprecisas. Mal se lobrigam as rugosidades do terreno,
as largas superficies negras dos rochedos de basalto, e as chapadas de tufa vermelha
e vulcânica que f0I111am a base desgastada das enormes penhas que nos assombram
e esmagam.
Caminhos perigosos descem em zigue-zagues, em degraus e rampas vertiginosas
até ao plano inferior, para depois novamente se embrenharem em lrajectos idênticos,
esfalfantes, e escorregadios, e sumirem-se no labirinto serrano que se avista na
frente.
Divisam-se alguns pormenores isolados, tais como penedos fazendas, bosques
dispersos, e fundos cinzentos do zimbros e loureiros.
A alguns centenares de metros mais acima, estão as nuvens. movediças e lentas,
tal como se fossem cortinas de fumo branco, impelidas por brisa suave. Neste nível
tudo é nevoento, arrepiante de desconforto e frio. Mas mais alto ainda, em cota supe-
rior a esta facha de penumbra e humidade, a romper as nuvens, eis os píncaros
acúleos da cordilheira, as agulhas intangíveis dos rochedos, e as fragas espantosas
das cUl.Uiadas, a sobressaírem vitoriosamente, tal como torreões de castelos gigantes
ou muralhas de fortalezas imaginarias que palrassem nas regiões etéreas.
Então, perante um quadro de tais proporções, diante dos cumes das serranias a
espreitarem a alturas prodigiosas e por sobre as nuvens, em face da nitidez dura dos
contornos, da luminosidade extraordinária do céu límpido, e da irradiação do sol
quente, belo e glorioso que enche todo o espaço de reflexos de oiro, o espectador

278
Do A ARCA DE

infindáveis e criadoras encostas em que se desdobra o território vulcânico. rugoso e


acidentado da os sinais de vida vislumbram-se por toda a parte, numa extra-
ordinária variedade de de
Existem desta terra. Desde a
beira-mar até aos cumes que constituem a
cordilheira que se desenvolve no sentido Este- define em
duas vertentes, a fisionomia e estrutural da a vertente
Sul e a vertente as sucedem-se numa admirável, osten-
tando-se maiores ou menores, mais ou menos belas e
camponesas ou as suas

anicham-se em recôncavos
",,,,1"1'''.11', não sendo visíveis senão de muito perto. Outras
soalheiras das encostas, vendo-se
acterísticas a destacarem-se por entre os de casas e arvoredos.
"111"")o;,1.I1\,'U,II-"" à em vales ou encostas que descem até
recentes, situadas na base de ribas altíssimas.
o homem habita desde a orla extremamente
mais inacessíveis situados nas altas serra-
vista e de parecem

Como "',"mrolp",pnfn desta abundâncía extraordinária de


vive por toda a
vas que aparecem, para em
caminhos

são verdadeiros

PAISAGENS DE OS llftL'--V DO RIBEIRO FRIO

Conheceis o Ribeiro Frio e os seus balcões de maravilha? Conheceis este


admirável situado a meio da Ilha?
Vinde até ao FunchaL Vinde até às terras l5u,,,~,o,,,,,,,,aJ da onde há
mais sentido nacional e mais do que em número de terras do
Continente.
Vinde até à '"'I',H;''''''' terra onde há mil da Ç;A~";Ut:'a.v
racial e civilizadora dos Vinde até estas paragens admiráveis do
descendem directamente dos mareantes e do
Escola de Vinde até à terra onde
eXl;lressô,es, que vos lembrarão as nas tábuas de
e os decididos e bravos homens do Infante.
W-iS"'''''" terra que se desentranha em mil curiosi-

279
ALBERTO VIEIRA

esmagado, inquieto e confundido, sente-se frágil, tem a sensação de se achar deslo-


cado cm meio de uma paisagem de titãs, rende glória ao Criador, e confessa-se
pequeno, mísero e efémero.
[Edmundo Tavares, Terra Atlân/ica- Impresscies da Madeiru, Lisboa, 1949,
pp.21-28, 79-83]

J. VIEIRA NATlVIDADE[t954\

Que génese laboriosa, a desta ilha de llorestas e de bruma! Nada que lembre o
mitológico nascimento de Afrodite quando emergiu docemente do seio das águas,
coberta por alvo manto de espuma que lhe oculta a virginal nudez. A Madeira é obra
de ciclopes, do desencadear brutal ele forças enraivecidas e insubmissas, produto de
tremendas convulsões submarinas, do pavoroso conl1ito cio rógo com a água.
Remontam a longínquas idades geológicas as grandes convulsões geocinétieas que
fazem erguer das profundidades abissais uma enorme montanha, sobre cujos planal-
tos uma outra montanha se levantou, erguendo seus altos picos cinco mil metros acima
dos fundos submarinos.
E durante milhares de milénios esta pobre ilha perdida no mar é joguete dessas
forças brutais que a modelam e transformum. A custa de levantamentos e de erupções
vulcânicas cresce e consolida-se o dorso montanhoso: é o primeiro e informe esboço
do corpo da ilha, trabalho gigantesco depois do qual se acalma a fúria criadora. Mas
o fogo não se extinguiu no ventre da montanha e irrompe mais tarde em focos vul-
cânicos periféricos. De novo estremece e se agita a montanha múrtir, novas torrentes
de lava incandescente se despenham no oceano que referve raivoso em eachões, sob
colunas alterosas de vapor, C0l110 se o próprio Vulcano, na sua gigantesca fúria, te111-
pcrnsse o corpo candente da ilha na imensa celha do l11ar.
Misteriosamente findaram um dia, como misteriosamente haviam começado, as
convulsões submarinas e a actividade vulcânica; extingue-se, pouco a pouco, o fogo
interno, e a ilha transforma-se num corpo frio e incrte, enorme e torturado esqueleto
rochoso, manchado de escórias e de cinzas, eontra o qual as ondas raivosamente
embatem.
Triunfara a obra ciclópica do fogo; porém, esse rochedo é um corpo estranho na
imensa supel'ftcie líquida, uma mácula, um estorvo ao livre arlhl' das ondas. E chcgou
então a vez de a água tentar destruir o que o fógo construíra. Desabam com frngor as
falésias corroídas na base pela abrasão; chuvas diluviantls formam torrentes de brutal
violência e, como gigantesca garra, a erosão abre vales c desnladeiros, provoca
temerosos desabamentos, morde, dilacera, mutila a montanha e arrasta vitoriosamente
para o mar os despojos da luta titllnica.
Piedosamente, a vida vegetal surgiu um dia a revestir aquela nudez, a opor uma
barreira viva fi catastrófica destruição. De soréclios vindos de longe brota o líqucn que
fabrica as primeiras partículas de solo vegetal; colaboram com a planta os agentes
meleóricos na decomposição da rocha; trazem as aves e as correntes oceflnieas, C111
p)edosa romagem, as primeiras sementes. Pouco a pouco, um manto ténue de verdu-
ra esconde as chagas da ilha clesnuda. E durante milhões de anos a evolução

280
Dfl :\RI :\.I!

até que a floresta se c e durante milhan:,


de milénios
Um dia em que a barca da aventura acometeu
negrume que a e a acha incendiária ::.inistramente para destru-
ir em breve espaço de tempo a floresta que levara milénios sem tim ii c,m-
stituir-se. Em boa verdade, a ilha da ~ladeira deixou de ser a ilha tlorestas no dia
e Tristào o e olhar para os troncos
e para o solo fecundo em que a floresta
na fisionomia da l\ladeira. fícou sempre a sua dolorosa
e e talvez por isso a \Iadeira agreste e selvosa. a l\ladeira da bruma e dos
alcantilados cerros, austera e triste, a Madeira qUI! eu melhor sinto e comprel.!n-
do porque só aí entrever quanto trabalho e quanto quanto
houve que e quantas houve que suportar o homem, para
domar os elementos insubmissos. para tomar a ilha I.!
para que brotassem da rocha frutos e as flores. a
.)
Esta é a Madeira estática, sorridentemente a ilha mun-
dana que se ._" ..... __ . Não é para admirar. por isso. que
a da
o ambiente edénico apenas dêem ao turista uma nnnre·,:<'l"
mica da ilha.
Ora a Madeira é melhor do que tudo isto: é a do UaIJ,.u.tlU,
humano. Tão presente está por toda a
'U'~~.uu",u da sua labuta o rude das suas mãos calosas e que a
por assim se embebeu dessa presença e se humanizou. Por que não
admitir que a Madeira tenha uma alma e tenha um ? Um em que se
fundiram os de todos que durante cinco séculos por amor dela
uma alma em que se fundiram as almas e de
de escravos e de homens livres de todos
de meio ou com o a
sua coragem, a sua
escreveram a mais bela de que se um PO\'o.
A Madeira que nos comove e nos deslumbra é a Madeira heróica, campo de luta do
homem contra as hostis da Natureza: e para a seminuas,
não a Ilha do fim para o do sul para
tume, mas do para o fim. Antes do diamante a matéria
bruta que consentiu tal e debrucemo-nos sobre o titã que realizou tal
.)
tudo é negro, brumoso e triste. Contra as
""""'!L'''''''', como anete, teimosamente e raivosamente arremetem
as e a orla branca da sua espuma mais faz avultar o sinistro negrume da
mole rochosa. Nas cwneadas das a bruma se descerra. entre,'êem-
se as manchas sombrias da floresta arvoredos
folhas amarelecem ao desmaiar do Outono, ou tombam " .. ,,,n"f1"~
ventanias do Inverno. Dos <ln,?rc:,,,,,,,

281
ALBERTO VIEIRA

água em torrentes tumultuosas, como que fugida ao contacto grosseiro e agressivo dos
rochedos e ansiosa por regressar ao mar natal.
Rochas e água, o etemo conflito do estático com o dinâmico que tragicamente se
reflecte na orogratia da ilha, A água paciente, ágil, perversa, desgasta e cOlTói o
esqueleto rochoso, hirto, impassível, severo, Como há milhares de séculos atrás, a
água móvel parece empenhada em aniquilar a montanha inerte. É a abrasão a corroer
as falésias e a provocar os grandes desabamentos; é ainda a própria água do mar que,
sob a forma de nuvem, vai condensar-se nas cumeadas das serranias para correr,
depois, tumultuosa e devastadora pelas ribeiras. Na costa nOlie, dir-se-ia que se reno-
vam a nossos olhos todos os atormentados passos da longa história da ilha,
O milagre dos madeirenses foi harmonizar esses elementos hostis, tarefa ciclópica
que data de há quinhentos anos, e que hoje prossegue com a mesma coragem e o
mesmo ardor.
A orografia insular, até na própria vertente sul a mais favorável aos cultivos agrí-
colas, claramente mostra que, depois de destruída a nO!'esta natural, só era possível
conservar ou recuperar o solo pela construção de muros de suporte que prendessem as
terras, e de praticar o regadio dominando a água que corria torrencialmente pelas
ribeiras, ou brotava, inútil, nas cumeadas das serranias. Para tanto, havia que lutar com
a rocha e que vencer as torrentes.
E o homem, o pigmeu, atacou a montanha. Durante séculos não cessou o trabalho
rude da picareta e da alavanca, e à custa de vidas, de suor e de sangue talharam-se na
rocha as gigantescas escadarias, sem que o alcantilado das escarpas, a fundura dos
despenhadeiros ou a vertigem dos abismos detivessem os passos do titã. Monumento
este único no mundo, porque jamais em parte alguma, com tão grande amplitude,
tanto esforço humano foi empregado na conquista da terra.
E o madeirense venceu a água o que era tOlTente perigosa e rebelde, força agressi-
va e destruidora, sujeitou-se à vontade do homem. E a água corre agora docemente
pelas levadas; o estrépito das torrentes transformou-se em brando murmúrio, em terna
melopeia de inofensivo e remansoso regato; e a água impulsiva que desgastava a
rocha e sulcava a ilha de profundos vales fecundou a terra e permitiu o milagre da veg-
etação luxuriante e os prodígios da sua agricultura. Pouco a pouco, aqui e ali, as flo-
res surgiram neste cenário grandioso, timidamente se entreabriram, e por fim triunfal-
mente desabrocharam a coroar, como uma bênção, a obra portentosa dos obscuros
heróis.
( ... )
E o vilão ataca e tritura a rocha para a transformar em solo agrícola; geme sob o
peso de enormes pedras para construir um socalco; marinha pelas falésias para con-
quistar um palmo de terra, mesquinha gleba, pouco maior por vezes do que um ninho
de águias alcandorado no pendor de uma fl'aga, Antes de ser agricuI tor, é cabouqueiro
e arquitecto. Labuta de sol a sol e transforma o seu horto, a sua cOUl'ela, num jardim.
Onde a água corre, o agricultor heróico e operoso faz milagres; a levada empurra-o e
ele empurra a levada. Novos poios se sobrepõem a outros poios, e assim esse trabal-
hador humilde, além de transportar sobre os ombros o peso da sua cruz, constrói nos
degraus da montanha o seu próprio calvário. É a Madeira sobrepovoada que luta.
Este vilão madeirense, de torso hercúleo, máscara rude e austera, personificação da

282
Do À ARCA DE NOÉ

de o homem que cinzela


1110Se amansa torrentes, é uma estranha. Não se deixou vencer
do clima deita antessala dos que riP'1nPrl"Q",
sonhadores e o horror ao
o vilão é um que teve a coragem de que
todos nós trazemos na alma e no a
dos desencantos e dos fracassos da vida.
A luta com a Natureza rebelde fOlialeceu-lhe o ânimo suportou durante séculos
infortúnios e fomes e sem que se alterasse a sua bondade
Não venceu a rocha apenas com a ea dos seus senão
com a fénea a sua indómita coragem.
Dit'-se-ia que uma e ampara o amor da sua que
nele
em tem renúncias arrosta
e misérias para realizar o mais ardente sonho da sua vida: regressar à
a peso de oiro lima e e
fazê-lo frutificar amorosamente com os seus desvelos e o seu suor, os seus cuidados
e as suas canseiras. É a da Madeira que assim acrescenta a
esta

amorosamente com suas mãos nPlrpocr;r",


Primavera.
Para e para amar a não basta o
deslumbramento deste mundo de admirarmos a ilha al.,IJUl"U'Jl

Vieira Madeira- a DDOD,r::ta pp.14-17,28-

283
ALBERTO VIEIRA

EDUARDO NUNES [1956)

ORGULHO-ME DE SER MADEIRENSE- até pelas nossas flores, pêlos nossos


jardins, pelo colorido das nossas quintas.
Não sei quem teria dito que as flores eram sinfonias completas da natureza. E eu
tenho, sim! orgulho das flores da Madeira. Mais lindas? Mais raras? Outra variedade,
outros perfumes, outros matizes, outros fulgores ... Do clima? do sol? das brisas? do
húmus. ? Diferentes-apenas.
Abundam de tal modo e em tão ampla escala, e são tão variegadas, que comple-
tam a roda do ano, sempre com assombrosa profusão. Temos de tudo-penso- da mais
humilde violeta à mais preciosa orquídea. E temos rosas que começam em Janeiro,
fazem o percurso dos doze meses, assistem à passagem do ano - à famosíssima Noite
de S. Silvestre- e na primeira manhã do Ano Bom lá estão para nova rota ao cal-
endário. Se aquela irmã Susana de Júlio Dantas vivesse na minha ilha, não teria sido
vítima do seu próprio juramento, porque, aqui, ao contrário do seu jardim, encon-
traria Rosas de todo o ano.
Na minha ilha, as flores são um produto local: a orquídea oriunda do Brasil, sujei-
ta ou não à estufa, tem outras tonalidades, outros aveludados, outro colorido -é
menos impessoal e mais digna. Os processos técnicos-ou químicos de muitas regiões,
são aqui resultante natural do meio, sem as exigências constantes, ou permanentes,
dos mais afamados centros florícolas. Aqui, o meio faz o produto, sem adulterá-lo na
sua identidade de conjunto. E se os perfumes são outros é porque é outro o ambiente
da fecundidade e do desenvolvimento. A giesta (essa flor cor de mau gosto) de entre
os pinheirais, agrega a si um pouco da seiva dos pinheiros. O junquilho nascido nos
"camalhões" dos" regos" ou à beira das paredes, é de um odor muito mais intenso
do que os que nascem nos canteiros, entre roseirais. Por outro lado, as flores tran-
sitórias, ou estacionais, possuem outro" aplomb", outro "chiquismo", outro "it" ...
remotos vestígios da elegância fidalga da Descoberta, e a mesma inflexibilidade dc
pundonor...
A nossa situação climática, este nivelamento de frio e de calor, uma quase penna-
nente estabilidade de temperatura (um banho de mar em Dezembro ou Janeiro, mais
delicioso do que de Julho a Setembro), tudo concorre para uma ambiência de afagos
e de protecções, benéfica aos homens e às coisas. Malherbe, o grande lírico francês,
não conheceu as rosas da Madeira, porque na segunda metade do século XV só eram
conhecidos além fronteiras os nossos vinhos. Se assim não fora, elas não se dest1o-
rariam na manhã seguinte ... As nossas flores são eternas, porque estão em perma-
nente renovação. Aqui, na minha ilha, aquele embaixador britânico não teda neces-
sidade de conservar o cravo na água, ao regressar do "Baile dos Diplomatas" ....
porque teria muitos outros ao amanhecer.
Tudo, na Madeira, floresce com singular exuberância. Há riquíssimos e vastos
jardins, sujeitos a cuidados e trabalhos naturais, mas nada é infecundo, seja em que
local for: nos ten'enos agrícolas, num vaso, num vasilha, num alegrete, nos pontos
mais áridos ou entre as "mestras" das levadas, não lá uma só flor, de soca ou
semeadura, que não germine, que não cresça e que se não debruce na haste ou não se
espreguice ao sol. A terra é fértil e os ares anulam os elementos perniciosos.

284
Com as rosas da Madeira. bem dar-se o
os momentos mais ditosos da nossa vida ou dolorida~.
maÍs pungentes de tristeza c de saudade. Elas são oriundas de .lj paragC!h e
constituem a mais que vimos. com a maiur
mas. que eu ouso perguntar agora. numa
se não teria sido na ivladeira. nestes
amente anterior a -que Vénus

estufas pouco possuem de artiticial. l.jUê


"Jornada a um mundo de beleza eterna" ratificar a conclusão a ljue
as detestam-se mutuamente.
As nossas tlores têm encantado o mundo- e ficam já a quatro homs de
e a sete de Caíram sobre D. Carlos c D. Amélia: sobre a \cncrand;t
e do Presidente dI!
Senhora da Fátima. e ruas. e ;;alões.
e e de e de mirantes e [~ uma
vez foram tão abundantes que levaram um ministro a esta pergunta: !\Ias ha\erá
ainda mais flores na Madeira?
No momento em que escrevo, os nossos e os nossos campos são um
encanto sem duma soberba e A poucos metros dos meus
as ameixieiras têm coisa de irreaL sem o menor espaço de ramo nu,
UUl<..... <lU das t1ores-flocos de neve que parecem imateriais. E hí para dianh:,

!>all!>OIlUV serras, cortando encostas e ficam as em esmeradas ren-


,.n... r,~,.tl'l" de sumaúma a que o sol empresta mtilâncias de
sim. Coelho Neto trocaria o seu "Jardim das Oliveiras". por

nr"",,,,,,,<: de de cores, de sons ... com


TI"''''','''''' desabrida. Fialho. por esta altura, a
sua "Sinfonia da Primavera"-Eu bem na sinto! Eu bem na sinto!... E como ele. reparo
no que os melros dizem de e as borboletas viuem de contente. Vou a Axcl
Munthe o seu Livro de San para ínuos ouvir nos nos
o que diz a melrada em desatino. e ver o que são estas brisas odor-
esta música coral das e das t1ores. das aves e das borboletas-estas
aleluias que os cantam no bico dos
Vasco da Gama teria hesitado entre flores e frutas de conserva ao passar
levar que mostrasse ao novo da eram nas
"''IV,",,''''''' de
Durante todo o ano se verificam porque as nores são
a O turista encanta-se com elas: ontem. o de
Kent enlevado com um cravo maculado de branco e roxo; (ao abrir do Ano
Winston Churchill que. ao sair da Madeira. teve de c,,~m>'''\T
seus devaneios no melhor dos seus sorrisos,
l-das mãos duma senhora. ontem ou se Camões ver as
acreditaria terem sido elas que deram cor ii aurora...
das flores da minha ilha, que Rinder ensinou Bernard Shaw a
ALBERTO VIEIRA

dançar; que Anna Neagle-a magistral intérprete de "Rainha Victória"-depois de


reconhecer, contrariando-me, que "até no Paraíso havia jornalistas", me confiden-
ciou: Um encanto, a maravilha mais linda que tenho visto! E foi nos jardins do Paço
Episcopal que o Dr. Lopes de Melo-o grande orador sagrado companheiro do Padre
Cruz - teve esta frase formal: Conheço um pouco do mundo, mas nada conheço que
possa comparar-se a tudo isso; estou cheio de belezas e de perfumes !
E, agora mesmo, o Dr. António Florillo, meu camarada italiano no jornalismo,
vem de escrever: Não me recordo de ter visto noutro lugar a abundância de flores que
existe na Madeira. Depois de um hino aos nossos panoramas e aos nossos privilégios
naturais, acrescenta: Na Madeira, tudo parece saído de um mundo de outros tempos.
Há um sussurro brando, diáfano, cadenciado, a diluir-se, a extinguir-se ... São as
flores que conversam com as abelhas, com as borboletas, com as outras flores. São
as vozes delas, enigmáticas, dolentes, na perturbação tangida dos sinos de Carlos
Dickens Um borbulhar de sons imperceptíveis, que os últimos laivos do poente col-
orem e enfeitiçam. São as flores quese preparam para o repouso, para o silêncio bib-
Iico da noite-para a festa dos aromas, Há uma madressilva que já impregnou o ar com
um cheiro que abala as narinas, de tão inebriante-e já atraíu uma borboleta nocturna,
única confidente dos seus secretos anseios.
Vão entrar na volupia do escuro, na fantasmagoria do negro, na ausência da cor-
para, amanha logo ao romper da alva, acordarem, cheiinhas de sereno, com o chilreio
orquestral da passarada novamente em alarido. Que será o seu sonho no vácuo da
noite? Uma jarra de Sévres de senhor feudal? Um colo de Vénus? Um altar de Deus?
Não! Antes a haste, a prisão à vida, à Natureza-quiçá o melhor sonho das t10res e dos
homens. Nos canteiros da Madeira, há, sim, daquelas figurinhas de Tanagra, de que
nos fala Vieira Natividade. Aqui, não é preciso organizar -se um certame
Internacional, porque todas estão em permanente certame durante todo o ano. Aliás,
digam-no os passarinhos, que na Madeira abundam em volumosissímas vagas, sem
que viessem dos trigais da Argentina ou da América.
As t10res da "Pérola do Atlântico" são do seu cartaz histórico, do seu nome no
mundo. Raríssimo é o estrangeiro que as não leva para bordo, quando em trânsito;
que as não tem no seu "appartement" do hotel; aLi que as não pede para o navio ou
para o avião, quando embarca. De resto, as flores da Madeira são outras cores da
cidade e dos campos numa só Flor do Oceano.

ORGULHO-ME DE SER MADEIRENSE- por tudo que disseram de nós, antigos


e modemos ... -São torrentes de aleluias, que põem o meu orgulho a pular, a saltar
pelos páramos da nossa grandeza - esta árvore com cinco séculos e meio de existên-
cia, ridente ao sol e ao tempo, sempre verde e sempre tenra, que emerge do ventre do
Atlântico para maior glória da Pátria e melhor enlevo dos homens. Caudais de encan-
tamento de que são arautos os "estranhos" (os de fora); todos dirão o que eu - se o
soubesse ... -não diria por suspeição. Vou pôr, portanto, o meu orgulho naqueles que
se orgulharam de vir até nós. Mas, de todas as peças que rebusquei para formar este
coro de privilégios com que se dignifica e engrinalda a minha ilha, dispensarei largas
referências, e só de passagem - sem qualquer ordem cronológica, repita-se - citarei
nomes doutros séculos, que se dispersam na vasta bibliografia do arquipélago. Darei

286
Do ARCA DE NoÉ

das n08-

auge do seu UU~ULV.


quem melhor se
dador da filosofia

"
ciosa as nossas belezas
disse nada conhecer de mais belo e
romancista e "o homem mais
de tanto assombro e que Olavo
seus ultimas anos, chamou à Madeira o
toda a ilha era uma no banho luminoso
corria para dar-lhe um distintivo que Roberto e
também transformou a sua lira em doces melodias
que medico do
mais bonita que e
Para para o meu trabalho e para esta ilha de que me
dos Amores", a que se lhe Vénus ama; a terra
precursor que tem cantado e enaltecido as maravilhas da Pérola do
para que não posso tudo que se me vão valer afir-
que não trazem a naftalina dos nem as dos
historiadores.
na cimeira deste livro meu de ser
eu como os latinos:. "Sursum corda !" são cantar-se hosanas à minha ilha da
Madeira!
com um "santo da casa" -o que foi João
serve de 1110te aos que lhe seguem:-... temos que
quere que de vago e das telas de Wateau ... e dá vida e rete-
vo aos relevos da vida.Bulhão que por andou "a aos vinte e aos
sessenta e cinco anos, chama a ilha uma Senhora de ricas roupagens, e acres-
centa: ! País não tem no mundo torrão que the
dê de rosto.
Júlio Diniz esteve o mais surpreen-
dente que a vista formosissimos vales
que vão o seio fecundissimo aos olhos marauilhados. Emudecido com a
que o cercava, a tal que escreveu "Os da Casa
Mourisca".
Aumhomem como D. António da autor da "História do Marechal
Saldanha" e nosso ministro da InstrLlcão-na Madeira tudo faltou de amor e

287
ALBERTO VIEIRA

tudo era formoso!


Latino Coelho traduz de um navegante austríaco.: ... a vida da Natureza aparece em
tão rica variedade e formosura, que a mais creadora fantasia nada pode conceber de
mais amorável e encantador.
Teixeira Gomes, que foi nosso Presidente da República, e escritor de renome, teve
esta interrogação Pois haverá no mundo paisagem mais aliciadora do que esta que eu
disfruto? E Brito Cam acho (escrevendo talvez, com a pena ao contrário ... ), tem esta
frase: Sinto o deslumbramento dum panorama sem rival, o encanto duma bela que os
mais delicados, os mais impressionantes e amaráveis paisagistas em todos os tempos
houvessem feito em colaboração.
António José de Almeida-outro Chefe de Estado, declarou: A Madeira é um retal-
ho do Paraíso colocado neste ponto do globo; é obra da Natureza, obra de Deus!
O Presidente Carmona escreveu: Saio da Madeira maravilhado. Nunca poderei
esquecer a magnificencia da paisagem e as qualidades primorosas do seu povo. Logo
à chegada, no cais, ao atravessar o tapete de pétalas garridas, teve esta exclamação:
Isto não é uma terra; é um sonho!
Com a vista a "falhar-lhe e a perturbar-se, o cheiro a entontecê-lo", Raul Brandão,
enlevado, escreve: Tudo isto vai do cinzento ao doirado, do doirado ao azul indigo -
e a montanha a escorrer azul e verde ...
Agora, o romancista de "Miss Século XX", Sousa Costa: Os meus olhos fixam-se,
sem pestanejar, recolhidos na contemplação do inesperado espectáculo - tão formoso,
louvado Deus! que folheando os mil canhenhos da memoria não encontro outro a que
o compare. Percorre a ilha, magestosamente bela, e conclue: Enquanto os nossos
"parvenus" diluem a sua insignificância nas terras estrangeiras, as pessoas
estrangeiras de bom gosto vem alegrar os olhos e retemperar os nervos nesta mar-
avilhosa estância de Portugal.
Remonto um pouco a outras gerações e oiço o inegualável anotador da Guerra
Peninsular, Adolfo Loureiro: Sem rival na terra, jamais se apagou da mente de quem
uma vez poude apreciar os seus encantos, a recordaçdo daquele verdadeiro paraiso
terreal.
Travassos Valdez exige reivindicta para seu pai, o conde de Bonfim: foi quem
primeiro denominou a Madeira de Flor do Oceano, estas marauilhas que não são uma
realidade mas um sonho de ficção de poetas, arrebatador, como se contemplassemos
uma região fabulosa.
Paulo Mantegazza, que três vezes passou aqui, diz ter ouvido dos viajantes que
todos desejariam ter uma casinha neste paraiso. O notável romancista italiano
escreveu no Funchal. Uma pagina de Amor-Um dia na Madeira.
Von Blomberg, que aqui esteve a bordo do iate do chanceler do Reich, disse aos
jornalistas: Prefiro ver do que falar; quando os olhos se extasiam de beleza, a voz
sufoca-se, e tartamudeia ...
E ltalo Balbo, Marechal do Ar da Itália, confessa a sua surpresa: Nem sei bem
onde caí... No Paraíso? No Olimpo? Seja como for, estou numa ilha que me pertur-
ba, por demasiada singularidade de encantos.
Depois ... as " estrelas. da Cinelândia: Bety Balfour, ali, na Quinta dos Cedros,
zangada por haver-lhe desvendado o incógnito: Devo confessar que estou num lugar

288
Do À ARCA DE NOÉ

não define. Lindo? Belo? .. Um Ullíco! Dolores dei Rio


Cedric seu
resiste: Estou de encantamentos. E olho que muitas terras
Jean eom Wina Winfried e uma numerosa, desembarca de bordo do
onde Pierre Chena[ filmava "Les ammotinées de l'Elseneur".Vinham ape-
em terra", mas "amotinaram-se" a tal com os encantos que se lhe
que ficaram para o dia O francês nos
varandins do Reid's Hotel": isto de uma beleza acima do l1at-

a caminho da Marahon-sábio catedratico e fundador da


olhava o Funchal da do seu camarote e, sem
de ordem comentava: Soberbo! É um uma tela
única... por Deus! ele matas, de ondina encerrada numa
câmara de núvens- escreve Oliveira Martins.
Gaivão escalou a Madeira diversas vezes IUIIW\J"-;:' para o

Ao fim de uma
Tudo conservava um ar
a interior do ea movimentada da festa. Também Júlio
o notara: Tudo tem um ar de festa e de
maestro de "Os Cossacos do Don":esta beleza
ilha onde a é
um altar.
acrescentou: A Madeira encantou-
nos, para sempre, para para encanto dos posso dizer-lhe que
nada há melhor no mundo.
Sim! Tudo que se diz deve a uma verdade insofismável. con~
cardar que tanto louvor e tanta mística de encantamento não são mcras formas
meros arroubos de e de estilistas. agora Vieira Natividade: Na
a Natureza abusou em demasia do sublime e o homem excede o
homem. Não há nada que não deslumbrador. O autor de
tantíssimos trabalhos científicos também se enamora da também se extasia por
a de concluir que seria um contra-senso cantar-se o fado na onde
o ambiente só admite hinos triunfais e cânticos heroicos.
Ferreira de Castro-o mais famoso romancista da actualidaele- embren-
ha-se de tal modo na minha onde passou uma que nela coloca toda
do romance "Eternidade" e a ela torna cheia de encantos em. l11Ut1-
velhas
Camilo tem , o entrecho de "O Santo da Montanha"
e no
Arnaldo Gama desenvolve na Madeira "A Caldeira de Pero Botelho".
para ca deixa descendentes. E o
Teófilo
llUtlfl'.HU.lU'''Uv escreve ainda. noutro Julio Diniz, Se os doces afec-
J.<UHUU<, se os carinhos duma esposa, duma mãe ou duma filha sub-
é a terra para tentar a

289
ALBERTO VIEIRA

E Henrique GaIvão diz tambem. A hospitalidade dos madeirenses é a expressão


dum sentimento e a força dum hábito. São duma amabilidade fidalga, que não pre-
cisa dobrar a coluna vertebral para se nos meter no coração. Simpaticos e dignos, na
medida exacta em que se honram os que oferecem e os que recebem.
Vou rematar todo este coro de hosanas a minha ilha com dois poetas-um que por
ca andou em busca de saude; outro, que por aqui se perdeu doido de beleza.
António Nobre, depois de procurar alívio por terras de Espanha, da Suissa, da
França, da América ... e por recomendáveis regiões de Portugal, viveu dezoito meses
na Madeira. Porque só podia cantar os seus sofrimentos, não poude cantar a ilha nas
suas maravilhas. Mais fraterno, mais íntimo, mais aconchegado ao povo- a sua cria-
da Catarina, ao velho da rede, Aquela Riquinha que era a "flor mais bela do jardim
desta ilha" e que Fora outrora, talvez, filha de Cristo, Se Cristo houvesse tido algu-
ma filha, e aquelas outras raparigas de quem disse: Fica-se doido, vendo-se a
primeira, Doido se fíca se se vem as mais, o grande mártir do "Só" não meditou sobre
a paisagem, porque a sua meditação era angustiosamente subjectiva. Sede de imen-
sa luz como a dos pára-raios, segundo gravou no tronco duma nespereira hirta e anti-
ga. Encantado com a nossa hospitalidade, no meio da "fina flor" que então com ele
se reunia para ouvi-lo dizer versos de Antero, não esqueceu, depois, a sua gratidão,
que sintetisou nestas palavras: As senhoras do Funchal tem sido amabilissimas para
comigo: manda-me "beeftee ", " custard", vinho velho, geleia, etc .. Nós, por nossa
vez, não o esquecemos-e ali esta, no Largo que tem o seu nome, o seu busto de sor-
riso triste e sofredor.
Mas ... toda a medalha tem anverso e reverso. Veja-se agora este contraste. Outro
poeta, que por aqui andou pulando de contente, doido de alegria, no desvario da
beleza, como um fauno a incendiar o bosque com estrofes danlescas e mágicas -esse
irrequieto, esse traquina poeta dos intinitos que é Miguel Trigueiros.
Socorro! Que isto e belo demais!
Calcurreando ruas e montes por esta ilha do outro mundo, por este corpo de pais-
agens impossíveis, tem este frenesi.
Apre! Que ser feliz dói a valer!
E espemeia, e barafusta, porque a beleza entrou-lhe na medula e anda a comichar-
lhe o sangue, e vá de interrogar a própria ilha:
De que estranhas miragens nasces tu? Inconformado, nesta alucinação de encan-
tos sucessivos, tenta uma compreensão: Isto aqui não é a Natureza! É outro Espaço,
é outro mundo, é outro Sonho!
E a ideia tolda-se-Ihe no espirito, toma ascensões siderais:
Olá, bom Deus, não há que duvidar: Cristalizou aqui o Teu olhar!
Por fim, exausto de sublimidades, cansado do Belo, conclue: Não se comparam
formas com milagres! E ao pé deste milagre, é tudo pequenino!
Na feitura deste capítulo fui o primeiro a não saber urdir as il11agens e a não con-
seguir frases de concordancia que se ajustassem ao seu relevo com algum relevo,
também. Piquei-me diante delas atónito,
Fiquei-me diante delas atónito, sem discernir as de maior elevação, e acabei por
pensar que esta minha ilha da Madeira deixara de ser minha, por se me mostrar na
posse embevecida dos outros. Ao cabo, logrei encantar-me com os encantos estran-

290
Do À ARCA DE NOÉ

h05.

até a de perante as estrofes dos poetas,


direito de E vá de sentir
"'''<l'''''', essas mesmas que só se matam começam a nascer.
Stefan diria: tem lal tamanho esta Beleza que eu, diante
como um covarde!
E eu, se fosse poeta, ou pouco morrer; o que é
é que isso não suceda antes de conhecer-se a Madeira.

me de Ser IVICIW'lrt'I1.\'P

MARJALAMAS

floresta revestia densamente as montanhas e


suas raízes no calhau da beira-mar. Assim
ilha a que o dito
por causa do espesso e
coberta". a e confirmam-no os cronistas da o autor
das Saudades da Terra. não domar as alterosas ondas de verdura que se
lhe caminhos e ao cultivo do de ter vencido as
que, durante sete anos, ardeu em
vcge-

que, vinte anos


para o Reino. mandando construir com elas os n .. i',"II'iI',,"
e castelo de avante e introduzindo
assim como no sistema de urbanas usado até então.
estão os dessas matas exuberantes que o não a
visões nos oferecem as serranias para alem das mon-
tanhas que enfrentam o Como será a ilha que se não avista do mar

A fama do eo caminho preparam-nos para


Mas quem espera beleza de cartaz turístico. e
O ao comum dos panoramas afamados: llem vastidões
sitios românticos onde ficar, quem lá
paragens, Há uma estrada que vem da Calheta e
da Junta Geral. Mas tenta-me o que dizem
subindo lado de noutro flanco da ate
antes de se abrir a tanto vilões como
excursionistas - e não considerar-se aventura de somenos uma excursão ao

291
ALBERTO VIEIRA

Rabaçal, no tempo em que o meio de transporte em tais caminhos era a rede e se tor-
nava inevitável pernoitar num tosco abrigo em plena serrania. Actualmente, esse
primitivo itinerário é seguido apenas pelos camponeses, mas oferece maior interesse
a quem quiser tàzer ideia do que seja um furado" madeirense e, sobretudo, a quem
desejar conhecer todos os caminhos dos homens.
Lombo do Doutor, um pouco acima da Calheta Aqui vivem o Alhinho e a senho-
ra Maria, que me acompanharão no velho percurso, espantados de que optasse por
ele, tal como o conhecem, ermo e fatigante, mesmo para quem lhe está afeito, quan-
to mais para quem vem da cidade.
A habitação deste casal de vilões remediados, já com filhos casados e emigrados
na Venezuela, é das melhores do sítio: dois pisos, paredes caiadas e coberta de telha.
Interiormente, um característico desconforto, apesar do gosto da mulher, generaliza-
do em toda a ilha, em alindar com bordados e rendas o seu bragal, por modestíssimo
que seja. Não se trata duma excepção: para o camponês madeirense a preocupação
absorvente é que o milho não falte e a terra não descanse - tudo o mais será como for.
Os utensílios da lavoura, mais o pote da graxa" (assim chamam, na região, à banha
de porco com que temperam a sopa de verduras e o milho) mais um molho de cebo-
las, o lampião e o moinho caseiro, um banco desmantelado, cestos de feijão, pi lhas
de batata doce e de semilha, ainda muitos outros objectos, variadíssimos - tudo se
amontoa, em desordem, na casa de entrada, atravancando a pequena divisão, térrea e
escura. O reboco e a cal não passaram do lado de fora. A comunicação com o
primeiro andar tàz-se por uma abertura no tecto, até onde se sobe por uma escada
rudimentar, sem corrimão. Lá em cima, no quarto, a cama de ferro tem almofadões
brancos, bordados, e no pequeno lavatório há uma toalha cuidadosamente dobrada -
tudo assim hospitaleiramente preparado em minha honra. Também as janelas osten-
tam o luxo de cortinas de croché. Nas paredes, oleografias baratas, com assuntos reli-
giosos. Sobre a cómoda, um Menino Jesus e uma jarra com flores de papel.
Este é, mais ou menos, o interior típico duma moradia rural considerada média na
escala de categorias que os próprios camponeses estabelecem entre Si.
A família come na cozinha - uma construção à parte, acanhada, escurecida pelo
fumo, mal provida e sem alinho. Mas não foi lá que almoçamos. Para a nossa refeição
a mesa foi posta cá fora, sob a latada: toalha desencardida e manjares que a terra dá.
Como sobremesa saboreei as bêberas fresquinhas e apetitosas, colhidas de manhã
numa figueira da fazenda e servidas em gamelinha airosa. É mais de meio dia. O
tempo entrovisca-se ... Mas isso é corrente e não assusta ninguém. Voltamos costas ao
mar e partimos, finalmente, a caminho do Rabaçal.
A ladeira é íngreme. No alto, a vereda que seguimos deixa de ser caminho entre
pinhais, para flanquear penedias, sobranceiras a abismos, sem guarda nem qualquer
ponto de apoio. Só contamos com o bordão, no caso de vertigem ou de um pé
resvalar. Vou tentando regular o meu passo pelo dos meus companheiros, sem o con-
seguir. Têm eles que moderar o andamento, para que eu não fique, sàzinha, para trás.
O homem tàla ... Discorre sobre o seu viver arrastado, num tom insatisfeito mas
sem lamúria. Pelo contrário, tem na voz e 110 olhar uma expressão de argúcia e uma
vivacidade comunicativa que não condizem com a máscara vincada e o seu todo de
homem idoso e gasto.

292
Do ARCA DE NOÉ

Se teve a veleidade de macular o cenário l"'ll':C;~tlJ~U


sinal da sua passagem, não dei por
em mole de
nurna
No regresso, para encurtar o itinerário dos de
nos fora indicado Manuel: subir um monte, à
outra encosta. Lá confonne foi
que o terreno era e valeram-nos troncos e arbustos a que deitáva-
mos a mão. O nestas subidas e descidas acrobáti-
cas, não fez neste passo brilhante Ganhamos meia mas estivemos na
de descer. bom mau muito mais do que convinha ...
Manhã mais intensa na sua brevidade que semanas e até anos
de viver Há uma de avidez no meu
do pormenores de luz e até o que
A natureza, exuberante de e tem nesta hora calma
inviolado. Mas toda a sua e

com pena, E a ea
~l"'''I",rlp·''''_IY''~· descubro uma maior nos meus passos, no meu olhar e na minha
atfmç:aC), C01110 se um sopro de vida renovada ateasse a minha chama interior e des-
que, sem eu estavam em ainda intactas, a
E a certeza de que o destino do Homem se
consciência da ll1!;1I1'Ui:llJI;
faz circular mais ardentemente o sangue nas minhas
veias,

VERDE

O encantamento começa que a Santana, as veredas


com altas sebes de buxo e "novelosa fazem-nos pensar que esta-
mo,; num parque mara\ilhoso. F1uréS e mais tlorés por toda a parte! Ouve-se li voz
da água. ora l:'11l surdina. Cll1l10 UIll murmúrio. quanto da vai Sl:'rl:'na por entre mus-
gos é letos. ora mais barulh.::nta, quando \.::m descéndo íngr.::me ladeira ou cai de
alto, fazendu rodar urna azenha. E tem-se lima sensaçilo suave, rcpllusante.
As montanhas lá estão ao timdo, com o seu dorso caprichoso e dominador. São as
mesnws que durante li travessia da ilha, do Sul para o ;-";orte -duas horas de automóv-
el. pdo menos - me encheram de pasmo. ~!as Santana espraia-se com desafogo até
tI costa e. daqude lado. nenhum gigante se ergue a esconder o mar.
O mar... Quando. passada a Penha de ;\guia. a estrada recomeçou a suhir e ele
surgiu de nmo. os mells olhos deslumbraram-se com a visão longinqua da ilha de
Porto Santo - uma silhueta azulada. quase irreal. erguida na claridade do horizonte
sem timo Momento de euforia! Como é bom viver! Na luz do dia glorioso. o mar
refulgia. o recorte dos picos no céu purissimo deixou de ser agressivo. os verdes que
matizam a terra realça\'am em tonalidades que nenhuma paleta pode reproduzir.
Ao fazer o reconhecimento da terra. no litoral e no interior. o capitão Zarco "man-
dou entrar gente por entre o arvoredo e pda ribeira acima. o que eles fizeram sem
acharem coisa viva. senão aves de diversas maneiras. que tomavam às mãos porque
não eram acostumadas a ver genteaCassim diz a tradição oral e escreveu Gaspar
Frutuoso em Saudades da Terra. O mesmo testemunham, entre outros, Diogo Gomes
e Luís de Cadamosto. em crónicas e narrati\as de viagens datadas do século Xv. Cita
Cadamosto em especial "pavões selváticos e. entre eles. alguns brancos". assim
como grande quantidade de pombos.
Tantas eram as aves de vtírias espécies que os primeiros povoadores da Madeira.
à falta doutra carne. delas se alimentavam eom abundância. Aqui tindou a confiante
liberdade dos alados habitantes das matas da ilha; aqui principiaram eles a saber que
coisa era o homem e a temer toda a fonna estranha que se lhes aproximava. Os pom-
bos foram os mais perseguidos e sacrificados, pelo seu maior tamanho e pelo
saborosíssimo manjar que constituíam.
Era rudimentar o sistema de caçar os pombos, e foi infalível enquanto as vítimas
se não aperceberam dos seus efeitos: com um laço habilidosamente preparado e sus-
penso da extremidade duma \"ara iininha ou duma cana, prendia-se o animal pelo
pescoço. puxando-o depois ràpidamente para o chão; como ele se não assustava ao
ver o traiçoeiro engenho. tomava-se tàcílimo levar a bom termo o ardil. A devas-
tação foi enorme. quase total. enquanto não vieram do reino outras aves e animais
domésticos, além de diversas espécies de gado. para se reproduzirem aqui e abaste-
cerem o arquipélago.
Entre as aves que o Intànte enviou "para lançar na terra a vinha o faisão, que se
adaptou perfeitamente às florestas virgens da ilha, onde viveu em liberdade e se
reproduziu enquanto ali o deixaram tranquilo. Tão numerosos se tomaram que, no
princípio do século XVII. ainda a caça aos tàisões. bem como aos pavões, era livre
na Madeira Depois. uns e outros foram escasseando, em consequência das fre-
quentes montarias, que tanto apraziam à nobreza. Quanto aos faisões. eram também
dizimados por uma terrível caçadora - a manta. a maior ave da tàuna madeirense.
que continua a ser inimiga mortal dos coelhos, perdizes, codornizes e de todos os
pássaros que a sua voracidade cobice. Aves aristocratas, o pavão e o faisão evocam,

294
Do À ARCA DE NOÉ

e coutadas e arte de montear,


apesar de várias tentativas para repovoar de
não se ainda resultado
eL

em
directas dos que os encontraram.
confiantes: defendem-se astuciosamente de quem invade os seus
sítios habitados.
O negro da serras vive na solidão das montanhas e faz ninho nos reeôn-
cavos naturais de onde é tão difícil arriscado
Mas desce aos os frios mais Ali o persegue o
porque a sua carne continua a ser tão como outrora ... Não contente
negro da serra, denuncia o
se afastem
e não voltem lá menos.
A brava"Cassim chama o povo ao da rocha vive exclusiva-
mente nos quer do quer do interior. Por toda a ilha há
bravas". que deram nome a numerosos sítios. Por "A'~lUIJ'V os Pombais de Porto
do Moniz.
O bastante raro encontra-se nas mais montanhosas do
mas nidifica nas árvores. O seu voo é sempre alto e tão desconfiado se
mostra que se torna dificílimo
Os têm direito a esta por haverem muito antes dos
senhores da ilha - sem falar agora na chacina que ameaçou exterminar-
em benefício dos Mas tudo isto vem a do bis-
bis que não a saber se devia ou não confiar cm mim ...
O ilhéu que me contesta a minha
nas matas madeirenses. Pelo ele afirma que há muitos e que, se os não
tenho é talvez por me absorver na da
Como é, conhece a os campos e serranias da sua
até aos menos acessíveis recessos. E não se cansa de louvar a variedade e encanto das
aves que este pequeno mundo insular. Não é apenas o bisbis - na realidade
o único ilha que lhe é éo que a conviver sem
reservas com éa com o seu canto vibrante e variado: é o pap-
inha o rouxinol da Madeira - a cantar ao desafio COm outros innãos que lhe respon-
dem de em trinados maviosos que enchem de o alvorecer e
no entardecer todo
de cores é o melro
dia com os seus assobios
onde quer que uma árvore lhe
e continua ainda a cantar por detrás das
maís à duma barraca ou em balcão o
canário madeirense que tem tiuna em terras em

295
ALBERTO VIEIRA

grande quantidade; é a lavandeira, saltitante, airosa e utilíssima caçadora de insectos;


é o correcaminho, com a sua lenda bíblica, amante de terras áridas e acompanhante
fiel dos que por ali passam; é também o pardal, indesejável onde houver sementeiras
e searas, sempre glutão, mau camarada e granizador - e mais e mais ...
Não são unicamente as espécies e sub-espécies indígenas, são também outras,
trazidas pelos povoadores, e ainda as "visitantes regulares ou acidentais, pois que
passam aqui muitas aves de arribação, na sua viagem para outros continentes.

ENGENHOS E SERRAS DE ÁGUA - O aproveitamento da força motriz das


ribeiras para serrar a madeira de que a ilha era riquíssima, em quantidade, qualidade
e variedades, foi uma das primeiras iniciativas dos colonizadores. Só assim con-
seguiram desenvolver o aproveitamento e exportação de tão valiosa mercadoria que
o solo fertilíssimo lhes oferecia.
"Serras de água" se chamavam esses engenhos construídos nas margens das mais
caudalosas ribeiras, em vários pontos da ilha Eram dum grande primitivismo, mas
ainda assim utilissimos e de grande rendimento. O Infante D. Henrique, na carta de
doação da "minha ilha da Madeira" a João Gonçalves Zarco, datada de 1 de
Novembro de 1450, claramente especifica o direito que lhe concede de reservar para
si, não só "todos os moinhos de pão que houver na parte da dita ilha de que lhe dou
o encargo", de maneira que mais ninguém ali pudesse fazer moinho senão ele ou
quem lhe aprouvera, como acrescenta: Outrossim me apraz que haja (ele, João
Gonçalves) de todas as guerras de água que aí fizerem de cada uma um marco de
prata em cada ano ou o seu certo valor ou duas tábuas cada semana das que costu-
marem serrar nas serras, segundo pagam todas as outras coisas o que serrar a dita
serra e isto haja também o dito João de qualquer engenho que se aí fizer, tirando
viveiros de serrarias e outros metais".
Não tardaram a multiplicar-se as "serras de água", em todo o território da capita-
nia doada a Gonçalves Zarco. O mesmo sucedeu na capitania que coube a Tristão
Teixeira e que abrangia a parte oriental da ilha. Não se encontra na sua carta de
doação qualquer referência a serras de água, mas Gaspar Frutuoso diz, em Saudades
da Terra. que havia nas freguesias do Seixal, Boaventura, Santana, Faial e Machico,
todas pertencentes a essa capitania, sítios com aquele nome.
Grande vantagem traziam estes engenhos, pois o seu funcionamento era simples e
requeria pouco pessoal: o serrador, que o punha em movimento com um pé, e os seus
ajudantes, que lhe iam chegando os troncos para serrar. Dali saiam as tábuas para as
caixas onde se exportava o açúcar, em quantidade sempre crescente, além de todas
as outras, de diversas grossuras e tamanhos, destinadas ao fabrico de móveis e con-
strução de casas e embarcações, na ilha e fora dela.
A "serra de água" de maior fama e uma das mais antigas, poisjá existia em 1440C
antes da doação da capitania a Gonçalves Zarco ficava no interior da ilha, na fregue-
sia da Ribeira Brava. Tal importância assumiu, que deu o nome a uma nova fregue-
sia, criada em 1676. Outras são mencionadas em documentos antigos, sobretudo as
do Norte, que era onde mais havia.
Estes engenhos movidos a água não se destinavam exclusivamente a serração de
madeiras. Muitos eram utilizados para fabricar açúcar. Uma carta de mercê, clatada

296
Do À ARCA DE NOÉ

de menciona uma "serra de a "um cen'ado de canaviais", na


Ribeira de Santa cerca do Funchal.
O trabalho das "serras de por escravos. Ao falar da
destes em S. Frutuoso alude a um pro-
de Ponta que comprou umas "boas casas sobre a da
fazer um de "serra de , como os da ilha da
seu que era o mestre do dito
escravos.

AZENHAS Outros foram montados nas margens das desde


o Donatários da as azenhas. Nelas se
tar processo de duas
ia O sistema era o mesmo do Reino e ainda
rurais mais atrasadas.
Tal como as "serras de e os de as azenhas davam
,.",c",,,,'" aos que tinham o direito da sua exclusiva cobrando
determinada moenda. Muitos camponeses eximiam-se a esse encargo
moendo os cereais num pequeno moinho manuaL Esse trabalho estava e está a cargo
das ainda em várias da ilha.
"serras de e azenhas deram às margens das ribeiras um ambiente
de actividade humana que se ia medida que o progre-
dia das madeiras e da terra, se ia desenvolven-
sítios que essa activi-
dade existia. Então a vida animava-se de novas que só
conheciam a das montanhas e, a e os
da Muitas vezes os e as enxurradas destruíamCcol11o ainda
todo o trabalho do homem e o homem. Mas tudo recomeçava,
tentemente, mal a tormenta passava e o renovo nas seivas
e no humano.
Foi das margens das ribeiras que
embora limitadas aos
CP1'r,,,',,,, das
cereais.

297
ALBERTO VIEIRA

HORÁCIO BENTO DE GOUVEIA [1966 E 1970]

Ruralismo O Mundo começou assim

Na ausência do homem, o mundo não era mundo. Sem haver quem percepcionasse
esta criação de mar e terra, nem o espaço nem o tempo teriam existência. A vida em
plano inferior, sem atitude pensante, ignorava o mundo. E o vazio, o nada, seria uma
realidade que, afinal, não era. Não a observavam os olhos conscientes. E um mundo
inútil rodava no espaço, no silêncio da noite e do dia, à espera da aparição humana e
ela surge. O mundo começa.
Devia de ser assim. A imagem de tarde de Inverno nos confins da freguesia rev-
elava o cenário fisico do mundo quando principiou a ser E o tempo entra de marcar
no contingente e no perecível o determinismo de tudo que está a ele sujeito.
Mas o homem ergue, irresoluto, a face, em tomo. Devia de ser assim. Lutavam
com ele os elementos. Assombrado, esgazeava os olhos em volta, mas não meditava
porque a natureza era sobranceira à sua pequenez e o deprimia.
Quando começou de pensar no destino da vida, tinham volvido anos sobre anos.
Na riba penugenta de ervinhas maceradas do chicote do vento, amontoavam-se
pedras. E, lá em baixo, ao fundo, o mar rebramia acometendo as rochas. E a urrada
das ondas espedaçando-se era sensação pertinaz dentro do ouvido. O mato de bardo
resguardava as cercas das vinhas, e os tufões, ululantes, vergavam o tapume de urze.
Um cheiro adstringente a maresia penetrava em todo o corpo.
Agora, vindo do largo, da superficie aborregada e movediça das águas, uma corti-
na de névoa desfaz-se em chuva e, outra, compacta sobe a montanha
Nem vivalma Este carreiro que não chegou a ser aberto no alto da riba é Pouco
batido pelo caminhante. Mas conhece-se.
Fica entre a cabelugem da erva amarelida sinuoso, quase sumido, vestígio
remanescente de passadas humanas, que de longe em longe houvessem trilhado a
beiça escalavrada da penedia.
O ambiente esporeia a reflexão. Começou o mundo, que teve um principio ao
haver existência, talo do homem ao estalTecer-se com o espectáculo que deparou, da
montanha e da árvore, da chuva e do vento. Ali o vejo, naquela fazendo la os pés
descalços metidos na terra a enxada a levantar-se e a baixar-se, os regos a encherem-
se de água. Arregaçadas as mangas da.camisa, a chuva a escorrer pelo rosto encor-
reado, tisnado e curtido da intempérie das estações, retrata-se nele o tipo físico da
raça meditelTânea, produto de uma educação de carácter espartano, primitivesca; é
bem o homem que arremete com a natureza, sentindo-lhe o peso, com todo seu
gravame.
Cérebro com a centelha da razão, a ideia fixa do utilitário dorme com ele, mas de
um utilitário avesso a pretensões que não sejam as concernentes ao seu mundo famil-
iar.
Regresso à vida que coça. Deixo-me imergir na simpleza rústica de um tempo que
já foi. O espírito retrocede.
O mundo está ali figurativo, na imagem do homem a cavar a terra absorvido na
esperança da semente que há-de germinar e produzir colheita pingue.

298
Do À ARCA DE NoÉ

lhe outra ideia metafisica que não a de Deus!


Nunca ouvia com certeza, das obras de de Santo
para As de que vivem seus sentidos e
a vida não teria o do que se vai desdobrando em
sobre sào do alvorecer do mundo porque sem elas o mundo nunca
fora
E no semblante se reflecte o que Jeová assim falou ao
com o suor de teu rosto, até que tomes

o homem que ali

cadaverosos de lima que há-de


ressuscitar o vento norte for mais macio.
Para trás ficaram os confins da os confins do mundo.
o mar não se calou. Sente-se uma zoada que vem de um em que não havia

Este caminho do está metido entre muros de rocha arrumada


a esmo, o a dos colonos de Afonso de Sanha teria dado a forma que per-
manece ainda nas curvas as de altura de
metro numa e para além da em outro, quase se tocam, de convizinhas.
Enconchou-se a do sítio. Enferrolhou-se na feliz de que o
vai corroendo as vidas. Dentro de casa ouve-se, lá o redemoinho da ventania
tudo que tem caule e ramos.
Não se agora, que a noite é o céu a a
na forma e na cor.
constantes clarões facheiam o
noite a envolver o mar. O deus romano é apenas
dos homens de há dois mil anos. A da aldeola
encafurnada no seu de si de
Deus é

necessárias porque mas de causa miste-


riosa.
"fJ',,,.... uu'''", na revolta do

scrto, acha-se em vias de """'I",,"V novo. Sentado na


banca de til de três que nada permanece, que a
a razão do progresso que mata a pequena
indústria não a a tudo
- S6 a chuva é como a que caiu 110
mesma maneira. A é que envelhece.
Há um da Razão que é raciOCÍnio que se vai
O
da
ao que se
ALBERTO VIEIRA

Parou de chover. Continua a azinhaga deserta. Cerrou-se a noite. A zoeira inter-


mitente do mar no desespero inútil de tragar a telTa, funde-se o zunido do vento forte
desfrançando os pinheirais densos dos declives da montanha, a empinar-se em aba de
chapéu. Assim começou o mundo com a imagem provinda da emoção geográfica e
humana vivida nos confins da freguesia.

Funchal, Março de 1966

A árvore e o Homem. Os plátanos do açougue

Sempre teve o homem familiaridade com a árvore. Ser que produz alimento e
sombra; ser utilitário desde que foi simples percepção para defesa da própria vida, o
homem despojou-a dos ramos e esqualiejou o tronco para de ele fabricar tábuas e
com aquelas construir seu tugúrio pobretana. Mas seria em primeiro lugar o interesse
material que acorrentou o homem à árvore possível.. Porém, pode conjecturar-se out-
rossim, que não, se reflectirmos no factor religião. A qual nasceu quando os olhos se
abriram para o exterior. O mistério desvendado do aparente criou o espanto no inex-
plicável que envolvia esse mesmo aparente. e a árvore, na pujança de seu todo, na
fascinação do tronco, ramos, folhas, flores e frutos revelou-se o símbolo da força cri-
adora, o princípio donde provém toda a existência. E o culto da árvore veio, como
todo o conhecimento, de fora para dentro. A árvore é a vida, torna-se a árvore da vida.
Prova da noite dos tempos o culto da árvore sagrada. Já entre os habitantes de
Creta, as jovens e as mulheres idosas ofereciam à divindade flores e frutos. Essa
deusa encontrava-se em santuário campestre; no meio das árvores, adornada de flo-
res na cabeça e segurando flores nas mãos.
Este primitivismo pagão, cingido de mistério, continha sua essência poética.
Projectava o homem nos seres sem vida humana o seu psíquico, a sua vida interior.
e tudo se humanizava. Não existe o ser incomunicável, isolado, mas uma unidade no
contraste das formas e das substâncias.
Das árvores que eram homenageadas, o plátano ocupava uma situação de privilé-
gio. Prestava-se-lhe o tributo correspondente à sua espécie. Depois os J1éis con-
sagravam à deusa Réa. E as plantas jamais deixaram de associar-se às divindades
através do tempo. Isto no politeísmo e no monoteismo. e da arvore excedeu o peca-
do do homem.
O plátano foi uma árvore sagrada. Anda a ela associado o nome de Platão. Foi
quando o filósofo, no regresso da sua jornada à ilha ela Sicí 1ia, comprou uma casa
comjardim nas cercanias de Atenas. A curta distância da residência havia um campo,
que pertencera a Academos, herói da Ática. Ali se organizou um ginásio e se con-
struiu um santuário. O discípulo de Sócrates dava então as suas lições à sombra dos
plátanos que fechavam o recinto.
E esta árvore de tradição religiosa e impregnada da voz do filósofo, que profusa-
mente se esparrama por terras mediterrâneas. E até na ilha, que é nosso habitat, o plá-
tano viceja por toda a parte: na cidade, nas vilas e nas üeguesias.
O dia da árvore comemorou-se neste Dezembro. Não foi embalde que no meu

300
Do ARCA DE NoÉ

se retrataram os velhos do do da Ponta Na


sua vetustez, tais como aparece que uma cercadura deverá defender o tron-
co dos maus tratos da ausente de sentimento estético e de afecto
árvore que, enche de sombra o nos dias candentes de Verão. Partilham do
aldeia os velhos do açougue. Esta nota devia ficar exarada no
livro que ainda não existe mas que um dia será realidade na biblioteca do
"o livro de memórias das belezas naturais do Concelho"

por ano, para que se

Setembro de 1970

Bento de Crónicas do s. 16-19,28-

301
ALBERTO VIEIRA

302
Do ÉDEN À ARCA DE No!'

POESIA

303
ALBERTO VIEIRA

304
Do ÉDEN A ARCA DE NOE

INTRODUÇÃO

A poesia é um dos momentos de exaltação da ilha como espaço paradisiaco. Isto


acontece de diversas formas mas o poeta rende -se quase sempre a alguns estereóti-
pos. De entre os mai s comuns podemos referenciar as flores, silvestres ou dos
jardins. as montanhas e Os recantos paradisíacos da ilha que se transformam rapida-
mente em atracçào turística: o Pico Ruivo, o Rabaçal.
Em muitos dos poetas a identificação com a ilha acontece de forma espontânea ou
forçada. como é o caso de Leandro de Sousa. Para muitos a verdadeira imagem da
ilha é a da in fanc ia, onde a inocência da idade se confunde com a paisagem. Esta
deverá ser uma impressão de saudade dos que partiram e que regressam à ilha em
sonho. É assim em Edmundo Bettencourt. A sa udade, impregnada da total identifi-
cação com a ilha e exaltação extrema das belezas. domina os versos dos que partiram
e que cantam e exaltam a ilha para malar saudades. Comungam deste ideal Femando
A. Gouveia. Armando Santos, João Vieira de Luz. A partida e a mágoa de perder o
encanto. recanto do paraíso, é o mote de João da Câmara Leme.
As memórias e as vivências retêm-se por vezes em pequenos qua~r.5t~~eio nat-
ural: Um pinheiro envolto em lenda (Eduardo Pereira) a murtei d~iãl"(.Pe.
Jacinto da Co nceição Nunes), o eucalipto que desafia o céu (Baptist ' to~or
agr<:ste (A na Bela Pita de Silva). -:i'?-
A pre sença do homem é também notada. É o ilhéu que desa fia ~lf!n,~an-
t.tt-,.o IIIt t~·l1l11lb:>t
"II~GC!I" Da AfI.l"'-(O

305
ALBERTO VIEIRA

do as levadas (A. Figueira Gomes) ou humanizando-a (Manuel Thomas e Silvério


Pereira). O secular processo de humanização do quadro natural não é considerado
uma intromissão, antes pelo contrário define-se como uma forma harmoniosa de
inter- acção. A iniciativa humana parece enlevar este recanto do paraíso. Manuel
Thomas define o Funchal como uma criação do primeiro europeu, uma obra singu-
lar da natureza.
°
Para forasteiro, como Bulhão Pato, é também esta aliança do ilhéu com o quadro
°
natural que faz exaltar a beleza da ilha. O paraíso redescobre-se, não nas zonas
recônditas de floresta mas adentro das quintas, onde o verde do denso arvoredo se
confunde com o colorido das flores. É uma atitude dominadora do homem com pose
a condizer na varanda frontal da casa que domina todo o conjunto.
O que mais se evidencia nas trovas e rimas da poesia do nosso século é a vivên-
cia do quadro natural da ilha através de imagens de infância. O poeta raramente
evoca aquilo que vê e o envolve no momento da escrita e, quando o faz, refugia-se
em quadros particulares. Tão pouco a atenção presente e vivencial se enquadra
naquilo que desafia a harmonia e a beleza deste quadro.
A ilha continuará a ser a imagem do Éden, mesmo com as encostas despidas de
arvoredo, ou face ao desafio da visão infernal do fogo devorador. A imagem, ainda
que só em sonho, é isso, o Paraíso. Todo o mais pertence ao real mas destas vivên-
cias não se constrói° discurso poético da ilha.

306
Do ÉDEN À ARCA DE NOE

COLECTÂNEA DE POEMAS

307
ALBERTO VIEIRA

308
Do ARCA DE NOÉ

MANUEL THOMAS

A ribeira corrente, & espaçosa Brava será nas Rochas, altura


Illustrará de sorte este Terreno, Astros luminosos,
fará ser a a mais famoza, Brava nas Plantas, de alta fermozura,
E todo seu districto scmpre ameno, formaõ de\eitozos,
De Tristão vontade ColblCOZi:l, & pura,
Seu porto há de estimar por mais sereno, '''I!lCllllU~ curiosos,
& a ","enrl,f'7" Pois por ser esta, em huma, & outra fonte
Parnaso hé della, Monte
( .... )
Alem destas gr81l1dezas
Terá quanto à vida hé
De carnes, cassa, &
Melhor Pomana a ovante,
E vendo na enseada Com livre Baccho, cobrará ventura,
E esta, mayor que as outras enseadss, por da flava Ceres abundante
num sitio forte A sé!' do Funchal se
o hé de Italia Rica.

em huma Ponta que sc estende


Cõ'os Mares de mais inchados,
Darás; em rocha, & vista
Hum Sol com claros rayos retratados,
O Porto que dous montes altos fende,
E & assa sér chamados,
Pella Ponta em que Phrebo cstá cifrado
Será Ponta. do Sol chamado.

consultarás sobre o intento Onde huma nobre Villa edificada


Da terra, que ser deve cultivada, Se verá, tam segura em fortaleza,
dar seu augmento, de Marte será Caza chamada
Hé bem que com tenha entrada, Torre forte que Bellóna
Mandarús ao ornamento, sítio da Lombada,
Com que foi Deos Criada E, por sua abundancia na
medo Mais que por ser do Sol de se chama,
Ambas lerám no mundo nome, &

do esta lombada venturoza


Irás à huma Ribeira caudaloza,
na terra terá engaste,
Imla que hú na corrente furiosa,
Ver sua Grám plIl'cza a vista baste
Pem
Posto q ue por correr Se escolheres scus sitias
Brava Ribeira li ser chamada Pera honrar teus IlIustres lJesçe'l1dl,;nt es
1

309
ALBERTO VIEIRA

Tambem em esta, villa aquelle espanto Mas najurisdiçám entam famoza


De virtudes, altivas Perigrinas De Machico gloriosa por grandezas,
Liaõ Henriques, nasçera; que tanto Averà outra VilIa Populoza,
Com ser humanas, as sara divinas; Que exçederá de muitas, as riquczas,
Confiado Liaõ, Ministro sancto Em ediffiçios altos gloriosa,
Que ouro será do Céo nas riquas minas, E de valor tam claro nas nobreza~,
E de lesus na sancta Companhia Que nelIa o Troculento, & grám Mavorte
Militará pera mayor valia. Terá contra os de Agar ditosa sorte

Mas já cortando de Amphitrite os Máres Suas frescas Ribeiras, de agoas claras,


O Porto deixarás, do que a Phaetonte Farám fertis, séus Campos deleitosos,
Déu por honras a sy particulares Verdes séus valIes, suas vistas raras,
O calTO, que abrazou Pyrois, & JEthonte, PelIos montes, & prados espaçosos,
E pastando com glorias singulares, Responderlhe hám as terras nada advaras,
Hum Arco largo, de hum subido monte, Com os Ihlctos, oppimos, & fermozos,
Verás hum Porto, aonde por regalo No Campo acrescentando ValIe, & Serra
A maô farás calheta pera entralo. Salubridade o Ar á fresca Terra.

Este nome darás a huma fennoza Mas porque deIla vejas a exçellençia
Villa, fazendo ally que se edifique Em que com meu tàvor irá cresçando,
Que em gente nobre, rica, & generoza, Mostrarte quero a tua desçenclençia,
Com grandezas farei que multiplique; Que lhe esta mil grandezas prometendo,
De quém a esperança mais ditoza, De outros verás tambem a preminençia
Hé bem que a tuas glorias hoje applique, Que por Feitos a irám ennobresçcndo
Pois hám de dár com Nome de Exçellençia E de todos aquella imJ110rtal gloria
Nome mais alto á tua Descendencia. Que ás Musas pede lama, & doçe hi~toria.

Quando nos Ji'uctos tanto a Terra augmente, De séu trabalho a gloria meresçida
Serám novos lugares conhesçidos Alegra a'o Zargo em ser lhe assi mostrad[j,
Effeitos da riqueza, que em a gente Considerando a pena padesçicla
Altos Templos íàrá, sér erigidos; Sér com tam justo premio bem pagada,
O daquella Ditoza Penitente, Que por Palma da luta conhesçida,
Que deixando de Cl1l'isto os pés, ungidos, E por Louro da guerra atrás passada,
Teve na obra, Singular lustiça Bem hé que goze em séu descobrimento
Despertando de Judas a cobiça Gloria antevista, em Iam feliçe augmento.

Em o lugar da Magdalena digo Bem hé que goze novas alegrias


Que este com gloria se vera iIlustrado, Em o augmento da Terra de~cuberta,
E pello nome da que tem consigo E que trás do trabalho em tantos dias,
Com fáma em partes varias divulgado, Veja a gloria que tinha por inçerta,
Terá este Terreno por amigo Avantejaclo em estas propreçias
O Céo benigno em séu favor, & agràdo, A graça de seu premio terá certa,
E mostrarà nos fructos com riqueza, Que quém primeiro no trabalho há sido,
Quanto seu sitio. por tais glorias preza. No premio a'os mais hé bem, ser preferido.

(Y)
(Manuel Thomas, lnsulana, Antuérpia, 1(35)

310
Do À ARCA DE NOÉ

TROILO DE VASCONCELOS DA CUNHA

o Primeiro Homem
Na estátua imóvel vida, Como se o bruto instinto fora aviso,
A vital do soberano alento, Lhe tri butaram discreta.
Ao barro forma humana transferida A cada o nome
Teve o corpo insensível movimento; a brutal propensão nunca indiscreta
o racional, por luz nalma infuída Guiou aos pastos, às nativas fontes,
De quem lhe dera o ser conhecimento, Aos grutas, vales, selvas, montes.
Pois o eterno que ao Mundo Adão, como entendido. de enlevado
Claramente entendeu que o ser lhe dera. Na alta da eterna essência,
Saíu Adão formado sem defeito, Da e no movimento e estado
Da natureza assombro portentoso, Se tranportou, por alta
N as exteriores 1,,"'IV\r(\I'~ De suave Morfeu arrebatado,
Infuso por divina
Se rendeu ao
Gesto severo,
Tanta era fi que
a fereza cios brutos o temia.
Todos foram b\lscá-lo ao Paraíso,
Jardim que céu na terra se

FRANCISCO MANUEL DE

Machico Ilha da Madeira

n'alda de dois ;n",.PI1I1P' rochedos Madeira,


levantão fiOS ceus fronte de mm!a o cimo
Existe de Maxim a Vila idosa Sóbria a teu seio amamentando as
Povoada de escassos arvoredos. Co'o o vítreo suco da imortal Parreira

Pelo meio, alisando alvos que em ti viu a luz


Desce extensa Ribeira Se acaso é criveI que ainda apreço
Porém tão crespa estação chuvosa, Entre o prazer das brincadoras taças,
aos lncolas infunde espanto medos, Recolhe a minha rasteira.

As margens em hora atenuada M: donativo escasso, ell bem "'''" ,",P'f''''


luz do sol sereno Mas ° que
morada. Lhe avulta a estima, lhe preço.

Deixa que a roda o meu Destino


deixei da Palria Em cessando estes males, que
F: vim ser infeliz. noutros terrenos Talvez então mais altos dons te renda

3J I
ALBERTO VIEIRA

MANUEL GOMES PAIS(GOMES PAIS)?-1890

Flor do Oceano
(A. Joaquim Pestana)

Pérola encantada! Ilha formosa! Lá, nessas tristes e crueis paragens,


Raínha destes céus e destes mares! Ingrata e dura terra arroteando,
Ingrata para os teus!. .. mãe carinhosa Junto cotos escravos e selvagens,
Dos louros filhos das nações polares ... Vão os erros passados lamentando!
Se má estrela persegue e acompanha
Que, deixando um país nubloso ... escuro O miserando e pobre aventureiro,
Buscando veem paragens mais amenas, Não há p 'ra o desditoso terra estranha,
Até que em teu seio generoso e puro É sua pátria adoptiva o mundo inteiro! ...
Encontrem lenitivo às suas penas!
Hospitaleira mãe do viajante, Mas trocar pela campa a estância pura,
O qual, dum a outro polo o mar sulcando, Deixar, dos seus, afectos e carinhos ...
Aqui te encontra ... qual bondosa amante, E ir a uma plaga inóspita e dura
P'ra o desejado esposo caminhando! Chorar saudades do patemo ninho ...

Estância venturosa! pátria amada É excessa ambição! é desatino,


De ilustrados varões, cuja memória Expor-se da fortuna, aos vis azares! ...
Será eternamente respeitada Mas o argonauta após o velocino
Por quem ler, sem paixão a tua história. Morrer não teme ... vai sulcando os mares!
Tiveste outrora a glória que inebria... Ícaro na prisão co'a vida incerta
Eras pod'rosa e bela! eras contente! As asas exp'rimenta... e presunçoso
Hoje? uns longes, uns vivos dalegria Do negro labirinto se liberta,
Mostrando o teu sofrer intenuinente! E noutro vai cair, mais desastroso.
Como todas as mães, filhos ingratos Talo desventurado a quem a sorte
Abriga teu seio de mimosa fada! Por toda a parte perseguindo vai;
Que, sem pudor te olvidam, te dão tratos, Ancioso almeja a fortuna ... ou a morte
Como se foras mãe desnaturada! Até que descrido. no abismo cai!
Que em lutas pueris passando a vida Nobre Flor do Oceano! essa beleza ...
Ou na orgia, no jogo e lupanares Os teus atractivos ... teus encantos
Dissipam a fortuna já esvaida Ofcrceu-tos a sábia natureza
Privando de calor os próprios lares! Digna doutros louvores, doutros cantos.
Mas vendo-se a final do abismo à beira
E o horizonte da vida a escurecer,
Da sua desventura a história inteira [Luis Marino, Musa lnsular(poetas da
A estranhas regiões vão esconder! Madeira), 1959, pp.75-76)

312
Do À ARCA DE NOÉ

FORTUNATO DE OLIVEIRA

Salvé! Salvé! alteroso, o enfermo com teu ar alentas,


Sulvê! monte de núvens c'roado, E rhe acalentas uma
O'homcns incla os erros
Contam os cerras d'cscalvado
Mas teus e teus donosos
Dizem radiosos quanto o solo é rico!
Fresca rama te cerca Por onde outrora se ostentavam matas,
De urze adusta que all'onta o tufão,
Deste
Como apraz vistas
Ver os raios do sol deslumhrante, O'estranhos climas, distantes,
Ao as doirar! Contas bastantes no teu seio filhas,
Branca núvem, fraco de prata, ti florecem belas:
Ver libm'-se na do monte;
E Oceano, que um cil'clo retrata além dos mares,
Vir a terra no horizonte

Sobranceiro às selvas e
Sobranceiro às cristas
Aos os
vestidas,

Como alma se sente abrasada,


Como se ergue altivo pensar,
co' ti vista enlevada, Volvil-e agora neste aH!ll'
ribeiras, eolinas, e mar! Eis-me atrevido
Madeira! terra encanto! Aceita, ó as derradeiras flores,
lindo munto, que verdor, que aromas! Quantos amores o teu solo
De n'escas que saudosas fontes!
altivos montes! que
Madeira! ó terra de suave clima,
céu anima com

313
ALBERTO VIEIRA

JOÃO DA CÂMARA LEME HOMEM DE VASCONCELOS


(JOÃO DA CÂMARA LEME)[1829-1902]

Adeus à Pátria As tuas belas campinas.


... adeus!. .. Terrível Verdejantes, esmaltadas;
amargo adeus é este ... As aguas tão cristalinas
Eu palio. Força é deixar-te, De tuas fontes nevadas:
Pátria minha idolatrada. Tudo quanto a natureza
Eu vali por outra trocar-te, Te ofertou com mais beleza
TelTa doutras invejada; Do que as terras mais prendadas:
Mas, se partir resolvi,
Tornar-me digno de ti E, oh céus! como dizê-lo!
Só quero, mãe adorada. Um anjo arrebatador,
Que é o meu pensar, meu anelo,
Se deixo o clima saudoso Que me enlouquece de amor;
Que possues tão criador; Anjo que em tudo diviso,
O teu ar delicioso, O sol deste paraíso
Perfumado, animador; Que é do atlântico a flor;
O teu céu de azul escuro.
Tão lindo sempre, o mais puro Se tudo deixo e me ausento,
Que deu ao mundo o Senhor: Se estranhas terras procuro,
O sol vivo e radiante Não só buscar eu intento
Que te desperta e dá vida; Porvir mais certo e seguro;
A clara lua brilhante, Nutro no peito outra esp'rança;
Raro em núvens envolvida E' maior a confiança
Bem como as brancas estrelas, Que ora tenho no futuro.
Que lá fulguram tão belas
Em distância desmedida: A voz que pede riqueza
Os montes teus magestosos, Mal a ouve um coração,
Altivos, alevantados, Onde alto brada a pureza
Por frescos vales viçosos De filial gratidão;
Uns dos outros separados, Se à pátria ser proveitoso
Par'cendo medonhos mares Eu poder, serei ditoso;
Que a tormenta ergueu aos ares É essa a minha ambição.
E foram petrificados;

314
Do À ARCA DE NOÉ

Tão puro, ardente


Possa-o eu
Possa sem corar de
Aos lares volver!
Se for neles Mas antes que eu deixe
Como é sempre um filho Teu doce regaço,
É o meu prazer. não me recuses
Um estreito
Terra onde nasci E tu, que
E que me geraste; Ó meus cantos,
que na infância Recebe um adeus,
me embalaste: Meus e meus prantos
Formoso
Aonde cm lU')'.U·~U'}~ Eu parto. é "'''.''"'''.-'''.
Pátria minha idolatrada.
Eu VOlt por outra trocar-te,
Terra de outras
ora Mas se
Me mostraste encantos,
Só quero, mãe adorada.
E assim me
Em maga ilusão,
Escravo tornando
O meu coração:

CARLOS OLAVO CORREIA AZEVEDO

A Francisco Vieira

Cantas a natureza toda Ao a cena


Cantas o Em ti nasce mais uma
Se a núvem densa o Sol escurece
E a abóbada d'anil triste se toma,
Amas do mar, calmo e sereno, É novo estra que ti se tece
A onda mansinha de terno vagar, E mais um verso tua arena adorna.
Amas da o murmúrio ameno, Se a noite chorosa oculta as safiras
Nele ouves um canto mago E astro de prata resta escondido,
O de ninbus que alto miras,
Tu cantas da aurora fausto raiar, Tu o retratas em canto dorido.
Do s o l a d a selva o verdor poeta, a tua
E o canto das aves cedo trinar sentida, a melodia,
É ti, concerto d'amor. Do teu pensamento,
Se a lua em noite É ideal de tamanha fantasia.
No manto do céu a luz a
No teu intimo também ela brilha
E lá a se vai descobrir!

315
ALBERTO VIEIRA

BULHÃO PATO (1870)

Que amphiteatro, ó Deus! que paraizo! No pequeno cerrado, defendido,


Pomares entre as hortas regadias; Pelos cactos e silva lanceolada,
Chapadas, que saudam, num sorriso, De tempo immemorial tem conseguido
Os abismos dà mar! Mattas sombrias, O colono, agarrado sempre à enxada,
Valles, outeiros, picos ... Catadupas Tomar modelo o seu torrão nativo
Rebentando das broncas penedias! De fruta e de hortaliça aprimorada!

Uma vivenda além meio escondida, O tomateiro e a ervilha trepadeira


Nas sebes festonadas de roseiras! No coração do inverno! Sasonado
Os dentes d'uma escarpa denegrida O cacho na recurva bananeira;
Cravando-se nas nuvens sobranceiras; No alegrete o ananáz, e já corado,
O cercial a brotar dos vãos das rochas; Sorrindo à branca irmã, à flor das nupcias,
A cana pelas margens das ribeiras! O pomo na viçosa laranjeira!

Angras, baías, cabos, promontórios, Não se imagina o effeito produzido


Fajãs virentes, fumas pavorozas, Pela névoa naquellas paizagens!
Agulhas nos pllantásticos zimbórios, Como através, ás vezes, d'um tecido
Penedos nus de formas monstruosas; Tenuissimo, apparecem-nos imagens
No cimo da montanha a neve eterna, Indisíveis, translucidas, phantasticas,
E sempre, aos pés, as vagas rumorosas! E num momento apagam-se as miragens!

Saltos d'água, caindo em catarata; Aqui suspensa uma árvore nos ares,
Rotos por dcntro agigantados montes; O pico d'uma rocha! - Além um lago,
Sobre os abysmos das caudais de prata Que, súbito, no meio dos pomares,
Os arcos naturaes formando pontes; Se formou por encanto! Ora, no vago,
O sol rompendo a cupula das nuvens, Um casal, transformado numa villa,
E abrindo encantadores horisontes! E uns pinheiros em torres seculares!

Que mystérios, que paz, que liberdade, Ao cHmponez esbelto, alto e robusto-
Nos hortos e vergéis, nas fontes frias Camponês, que 'inda agora, em nossos dias,
Dos umbrosos subúrbios da cidade! Apelidam vi/cio - surge-lhe o busto
Que saudosas e gratas melodias Na eminência daquelas penedias,
Se alternam entre os pássaros das selvas Por entre o raro véu, como se fora
E as torrentes d'aquellas serranias! Inda mais colossal de que um GoHas!

Atalaias de Deus, as ermidinhas, Quando a névoa é mais densa, o alvo lençol


No viso dos outeiros! Nas quebradas Forma abaixo dos visos das montanhas
Os casais, resaindo dentre as vinhas; Como um mar; e, batido pelo sol,
Nos vales as ribeiras remansadas ... Reproduz as figuras mais extranhas-
Que vida a respirar-se no ar diaphallo! Monstros e arcanjos, templos e castellos,
Que pais para as almas namoradas! Vulcões e chama, e tintas elo arrebol!

316
Do À ARCA DE NOÉ

Voam cisnes co'as pennas innmadas, o convite do conde. O forasteiro


oceano aéreo, e a vista É velho nessa casa. Entremos.
Se vae finnar nas scenas encantadas, mais fino cavalheiro
Um sopro as varre, e clista do gesto atãvel
Das serras convertidas, Tem o conele no rosto pn~ze:nte:iro
Essas visões, em nuvens esmaltadas!
A condessa Matilde a graça viva;
São montes, onde flor rebenta! A a máxima ~'~5"'''~''''
Em tudo COITe a vida exuberante! O corpo airoso de
Tem lume a vaga ao estoirar violenta! Senhora, mas sem sombras
Tem sangue fi rosa; e espera, Raro de feminis encantos,
Por um do sol fi violeta!. .. Mimoso como a folha sensitiva!
se num coração amante!
É um dia
( .. ) Na lauta mesa, a secular
Ao parque Carvalhal, Graciosas tlores da maior H'escura
Como eu alvor da mocidade. Ornando a fruta, sazonada e
Referve o Da e Novo-Mundo. Em
Nas sombras e na grata amenidade Cereial e Tinta da mais pura.
fresco alta montanha
domina os subúrbios cidade.

ruas pn'",pr!J'"rlo,"
Onde as renques de hortenses m'1111(Wn"",
Resaem em cambiantes <lL'.H"""",
Das tblhas e
Que alta e li"ondifera,
De flores rescendentes e nevadas!

que no inverno Vi'S"''''''U'', eomo o sol na mirara.


aos milhares! di/funde brandamente
Inverno? Não direi outono eterno. declivio das cl1,lpaeJas,
Das vertentes, dos montes, dos Onde a cidade vae agora.
Em borbotões, a das levadas
'''''I-',all'''' sempre as hortas e os pomares, Prateia o mar,
Treme nas copas
Dá nítido o
Bate sobre os casaes do rlf"""!1n".,~
a cruz solitaria do convento,
E o cemiteríll, que lhe tlca ao Indo!

nnl~rf""lr\Q na paz da natureza!


Os homens, cegos de tiJrar,
Deixam 110 campo, cota vileza,
Os eram bontem seus irmãos no amo!",
E ó noite, triste os tUl1lulos,
Como o sol n'alvorada ti 110r!

[Bulhlín Paln, Pm/lli1a - poema XVI caI/lOs, Lisboa,


IH70, Canto VII; PI1.245-2S0, cnnlo VIlI, 264-26Hl

3[
ALBERTO VIEIRA

Luís ANTÓNIO GONÇALVES DE FREITAS [1858-19041

No Rabaçal (Ilha da Madeira) Junto a ti, nós sentimos germinar


Forças, que nos transportam
Deslumbras. como o brilho resplendente Ao fundo, onde, entre júbilo sem par,
Dum fantástico céu; Mágoas crueis abortam.
Da natureza altiva e imponente
levantas-nos o véu. A prata, que refulge em tuas águas.
Puras como cristal,
Jorra do coração dos teus rochedos, Irradia também nas nossas mágoas
A água, em mil borbotões; Uns brilhos sem igual.
Desenrolas uns mágicos segredos
De ignotas regiões. Ao ver tantas belezas, mergulhamos
Num êxtase profundo;
Ao ver-te, colhe a alma, em mudo anseio, Num sublime cismar tudo olvidamos,
Deliciosos pomos; Esquecemos o mundo.
Tu vens, como um gigante, sem receio,
Mostrar o que nós somos. [Luis Marina, Musa InslIlar(poelas da
Madeira), 1959, pp.2IO-2!!]

PE JACINTO DA CONCEIÇÃO NUNES. [1860-19541

A murteira do meu quintal Minha murteira c sevadilha linda,


Minha murteira verde, meu enlevo Deus vos conserve o viço e a frescura,
N as tardes sonolentas do verão, p'ra darem aos meus olhos já cançados
As tuas nores brancas são um mimo Uma réstea de cor e de ventlll'a!
Dos mais apreciáveis da Estação!
Tão alvas como a neve da montanha, Então eu bemdirei o Infinito
Tão puras como os anjos do Senhor. Que em cada flor nos deu uma delícia
E os males suavisa d'esta vida,
Essas 1l0rinhas simples, inocentes, Dando a cada amargura uma carícia!
Clamam p'ra vós enternecido amor!
Minha murteira, encanto dos meus olhos,
Que estás sempre a mirar a sevadilha
Que perfuma o quintal de Cunha Rosa, [Luis Marina, Musa InslIla/'(poetas da
De lodos o mais belo e que mais brilha. Madeira), 1959, p.263]

318
Do À ARCA DE NoÉ

MARIA REGO PEREIRA

Enamorada

cidade de

enamorada, cidade bendita!


Num varandim E que uma paz infinita
Ela olha o mar. Te possa sempre embalar,
E as ondas. uma por uma, enamorada
branca espuma
Ouvindo o canto do mar.

Num murmúrio sussurrante.


E ela, sempre anelante,
Cheia de mimo, adormece
À sombra do arvoredo,
em
murmura uma prece.

PIMENTA DE

A Cordilheira Central e Pico R1Iivo

das Da crista, formaram a coluna vertebral!


Montes e serras lutaram altura, De cada monte ou serrania:-uma costela,
Na ânsia de de formosura De cada espaçco costal:-um vale ou
p'ra de beleza-ser ela-a
Dos lombos:- da Serra e Faial!
Pícaros, serras, outeiros, E, erguera;n a formosa
Postados nas presos às Desele o Pico Ruivo à Ribeira da Janela!
Das lombas fizeram soberbas
Para elevar e cavar desi1Iadeiros! O Pico Ruivo forma-lhe ti alta
Cravada nos
seguram nos
Acalentando-o, .. - dos vales a melhor peça,
e ____,_._,. ____ ele canta.... místicas melodias
Ancho da vitória e da valentia! exaltanelo-lhto

serras tClI1naram uma cordilheira


p'ra sua defcsa de Levante ao Poente.
E, nessa luta de tal ,fremente,
Constituíram o da Madeira!

319
ALBERTO VIEIRA

AUGUSTO CORREIA DE GOUVEIA(A. CORREIA DE GOUVEIA)[1880]

Aniversário (Na aldeia)

Onde vais, oh rouxinol, Onde vais, oh leiteirinha


Manhãsinha, pressuroso? Prazenteira, jovial
Onde vais, oh triste rôla Onde vais, oh borboleta,
Com teu canto vagaroso? Correndo pelo trigal?

Onde vais, oh mariposa Onde vais oh noiva linda,


Saltitando p'los rosais? Bo chefioha de Sores
Onde vais, oh passarinho Oode ides, todas alegres,
Com teus temos madrizais ? Raparigas, meus amores, , ,?

Onde vais, oh pomba mansa, -hinos todos jubilosos


Com pressa cortando os ares? Saudar os anos da Estela:
Onde vais, melro saudoso, Dar-lhe os nossos parabens,
Que assim deixas os pomares? E pedir ao Céu por ela,

Onde vais, pastor alegre,


Que abandonas o rebanho? Fajã da Ovelha, 20 de Agosto de 1912,
Onde vais, oh cachopinha, [Luis Marina, Musa Insular(poetas da
Depressa, com tanto empenho? Madeira), 1959, pp, 319-320]

PE. EDUARDO CLEMENTE NUNES PEREIRA- [1887-J

Lenda de um Pinheiro

Eu bem me lembro. Vi-o .. , Ouvio cantar


Já velho, esguio, Esta canção:
A balançar-se na montanha!
Guardai, pastores, a lousa,
Caía a tarde, Desdobrava Guardai, pastores, a terra,
A noite num manto de estamanha ! Aonde o corpo repousa
De uma pastora da serra ! ...
E toda a gente que passava
Nos torcícolos do caminho,
Esse pinheiro-avô saudava,
Alto e magrinho!.,

... Ali,Coh ! santa devoção!


Em outros tempos, que lá-vão ...
Diz o bom povo do lugar: [Luis Marina, Musa Insular(poetas da
Lá reza ainda a tradição Madeira), 1959, p.373]

320
Do À ARCA DE NOÉ

VIEIRA DA LUZ 1896

Madeira ... *lardim de Flores"

Tantas saudades eu matei ao


Ao meu lonão natal por
Deus tomasse a ver e
de trinta anos ausência.

o meu solo outra vez com reverência.


Idólatra até me tornei,
Ver um cantinho do Céu Divinal,
Comovido com

Saudei a bela cidade do Funchal


o mar e a vêm embalando
Com amor terno, no seu litoral.

Marino, Musa IJIrJWITJfWTfI.' da .Madeira), 1959,

o Rouxinol
Não canta, o nosso rouxinol?
De um bando preguntava,
Numa doida que encantava,
Em hora em que dormia há muito o sol.

A eira da lisura dum


Do
Servia de à
descansando, esperava o arebol.

E o infeliz em tão muda


sangue o coração,
oculta com um véu,

levanta a voz,
Cantando brando a sua alroz,
O sacrifício belo oferece ao céu.

Marina, Musa da A1adeira), 1959,

321
ALBERTO VIEIRA

CARLOS MARIA DE OLIVEIRA 1898

Primavera

A Primavera é chegada, o firmamento azulado,


Com seu manto de verdura, Cobre a terra em seu verdor,
Anda alegre a passarada, E o coração namorado,
A chilrear na espessura. Fmhala RonhaR cI'amor

Mas vive em noite fechada, Mas quem anda angustiado,


Quem não gosa da ventura. Não tem no peito calor.

Passa um regato cantando, Florescem lindas, viçosas,


Pela formosa deveza, As rosas nos roseirais;
Docemente murmurando E as andorinhas formosas,
Um louvor à Natureza. Voltam ledas p'ra os beirais.

Mas pobre, de quem chorando, Mas muitas almas saudosas


Vive imerso na tristeza! Choram quem não volta mais!

[Luis Marina, Musa lnsular(poelas da


Madeira), 1959, pp. 454-455]

EDMUNDO ALBERTO DE BETTENCOURT[ 1899-]

Paisagem verdadeira

o verde tenro e vivo, de folhagem,


Presépio dos meus sonhos, em menino,
Pôs-me de luto a par com meu (lestino,
Cego-me a vê-lo imagem de miragem ...

Quando, iludido, o busco na ramagem,


Já com seus tons mais brandos não atino;
E nesta escuridão, só me ilumino
Vendo-o compor-me interior paisagem:

Paisagem de ouro verde, que de mim


Sai alongada em foco para a ten'a
A procurar vencer-lhe a cerração,

E aonde num crepúsculo sem fim


Tonta, a esperançã, esvoaçando, erra
Sobre torres de encanto e de traição.

[Luis Marino, Musa lnsular(poelas da Madeira), 1959, p.464]

322
Do À ARCA DE NOÉ

ARMANDO SANTOS

Oh! Madeira dos meus sonhosC Rosas rubras rosas,


Madeira terra de encantos, Lírios brancos, açucenas,
Onde vegetam as flores Vós curais as nossas dores,
Nascidas d'almas dos Santos. Aliviais nossas penas

Oh ! t10res da minha terraC Violetas tão humildes,


Oh! flores belas da Madeira, Cultivadas
Com odor das nossas flores, A esta terra trazidas
Não as há na terra inteira. Nas asas dos Seratlns!

também há flores Mas tais flores tão lindas


vegetam como Que eu estou a cantar,
Mas com o belo das suas cores Não se encontram nas
Nesta terra não as há. A terra não dar.

FERNANDO DE GOUVEIA

Oh Madeira, Funchal, cidade-encanto,


Teu encanto é Teus encantos não têm fim.
serras são um mimo, Na Madeira és um
O leu não tem par, E no mundo és um

Madeira, ilha de sonho, Os teus montes altaneiros


De beleza sem rival,
E's a terra mais bonita
Deus deu

São llores, urzes, verduras, Madeira, ilha de encantos,


pura, cristal ina, dos filhos teus,
Montanhas, encostas, vales, lermos nascido
['s LImEI obra divina, damos a Deus.

323
ALBERTO VIEIRA

LEANDRO DE SOUSA

* Pérola do Atlântico"
À belissima !lha que melai berço.

Baloiçando no Atlântico Ao constituí-la ao Criador


Que lhe murmura aos pés, num cântico, Fez dela um primor,
A nossa humildade; Dando-lhe beleza sem igual,
Adorada pelo mundo, Que são orgulho de Portugal!
Como uma divindade;
Amada pelo Sol que a disputa ao mar E como o Criador
E tira ao resto do universo o calor para dar. Se desvanece com o seu amor,
Sem rival, Eu, da minha maneira,
AEla, Sinto orgulho igual
Tão bela, CPorque nasci na Madeira!
Sob um céu tão azul, nobre e altaneira,
Ergue-se a linda Ilha da Madeira. [Luis Marino, Musa lnsular(poelas da
Mm/eira), 19S9, p.SSO]

GERTRUDES MARCELIANA RODRIGUES CÂMARA (GERMA)1910

FlOD'AGUA

Goteja um fio d'água cristalina A água chora e há terna magia


No soluçar suave de uma fonte ... Percorrendo valados, noite e dia,
Correndo, sem descanso, o verde monte No carpir triste de uma dor pungente!
E refrescando os lábios da p'regrina.
Quem sabe? .. Talvez seja a voz de alguém
Na paisagem sombria há solidão: Que chorando, baixinho, vem do Além,
Ao fundo, a luz, o mar. as brancas velas ... Perdida a vaguear por entre a gente!
E num silêncio enno de oração
Passam vultos de tímidas donzelas.
Passam vultos [Luis Marino, Musa fl1su/cu'ÚJoelas da
Mlldeira), 1959, p.561]

324
Do À ARCA DE NOÉ

ALBERTO FIGUEIRA ,-,,,-,,,,,.oe,,,,


BALADA DAS LEVADAS

em Santana Verão de I

mansas das levadas Levadas da minha aldeia


n1l0 sois como de monte em monte,
que em vindo o inverno inundam enchei de seiva esses vales.
casas vinhedos e leims cantai fonte.

Na santa paz da montanha, Solitário viandante


só se sente o seu cantar, que
scmpre semprc novo, esta levada cantante
num eterno caminhar. é uma fiel

voz suave encerra Tudo seria mais triste


doce e na da serra,
CCantais promessas do céu se a vossa voz não se ouvisse
ou chorais males do mundo como a voz da terra.

À vossa beira se
musgos e flores: cantar;
Cvelhos loureiros murmuram Candam ensinando às flores
loucas histórias de como deve falar.

As urzes esvaneCCl'a1ll A serra já se não lembra


e os carvalhos ja dobraram das gerações que passaram,
ao peso de fartos a vida vai e renova-se
as nllnca pararam. .. , e as nunca pararam .

325
ALBERTO VIEIRA

SECUNDINO TEIXEIRA (DINO)1926


MADEIRA

Minha Terra,
eu não te canto
pelas tuas belezas,
nem pelas tuas flores,
nem por esse verde impossível dos teus montes,
nem pelo canto cristalino das tuas fontes,
nem pelo azul puríssimo do céu e do mar
eu te respeito só.
Venero sim. os meus antepassados
que num sonho de há quinhentos anos,
lograram criar-te sem esforço sobrehumano
e desbravar o mato,
quebrar a pedra,
domar o mar,
os ventos e a adversidade.
Gastar o sangue, os anos e a vontade,
a construir poios,
a aproveitar a terra,
até onde os pisos altaneiros as nuvens apunhalam
e a desafiar as bocarras eiolópicas
e as gargantas da montanha;
dominar a torrente de fI'água em frágua,
para com as suas lágrimas,
o seu suor e essa água,
pudesse existir hoje
este rincão florido,
esta pérola verdadeira,
MADEIRA!
[Luis Marina, Musa lnsular(poeta.l' da Madeira), 1959, p.630]

326
Do À ARCA DE NOÉ

MANUEL

Talvez fosse por Deus, Mais tarde arr'ependt:raITI-s:e,


autor da Natureza, da terra uv.u,cç'ua.
esta Ilha da Madeira a madeira mais fina.
ser da nação portuguesa. até então encontrada,
estava toda em carvão ...
Por dois nobres portugueses uma imensa derrocadal
foi descoberta a Madeira:
um-João Goncalves Zarco Ficou-lhe o nome-Madeira
outro-Tristão Teixeira. cio seu florestal,
e também d'Oceano,
Tremendo os descobridores de
massa florestal
não houvesse animais bravos
causar mal,
na ilha
por sete anos
mas Versos, Funchal, 1994,
não consta ser encontrado

BAPTISTA DOS SANTOS

A MINHA CASA DA AZENHA


A minba casa da Azenha Contra o chão,
Rescende a resina c t10res Só por revelares que eu estava velho,
E sendo tâo Em tua franca e expressão!
Nela cabem meus amores ...
~"''''''"''r"'~V, tu, que em tantos anos,
Pobrinha, humilde, campestre, Todos os dias,
Não tem luxo nem brazão, Reflectiste os meus de!senlganos
Mas é rica de virtude E traduziste as minhas
E nobre dc

Tem em redor "A'~f""UC'\,UUU,


tu
E lindas amendoeiras: com lealdade,
loureiro Foste tu quem, unicamente,
Me falou verdade?!

Do o mar O' meu saudoso, meu fiel


-Esteira das Descobertas!- Vítima inocente
E a torre da ermida Da minha altivez,
E as nossas ilhas Desertas. Releva a diabrura deste velho
Perdoa a minha insensatez!

327
ALBERTO VIEIRA

MUSA RÚSTICA

Neste balcão de acácias onde estou


Sorvendo o ar agreste- o ar sadio
Oico uma voz que diz "avô-avô"
E duma ave o trilo "pio-pio".

São maviosos gorgeios,


Eco de brandos anseios
Que a minha alma gozou
E que ninguem mais ouviu:
"Avô-avô-avô"y
"Pio-pio", spio-pio" ...

Como feliz me sinto entre as acácias


Da minha pobre "herdade",
Nove mil metros longe dos "acácias"
Da buliçosa cidade!

ELOGIO DO EUCALIPTO

Tem esta humilde canção Árvore bendita, colossal,


Alevantado fito: Corre em suasgrossas veias,
Proclamar a virtude No alto da encosta
E a nobreza Abundantemente
Do Eucalipto. A seiva das terras de Portugal
Ornamental, oloroso, Que ela absorve, a toda a hor,
Que é orgulho da Natureza, Avidamente!
Pelo seu porte altivo, majestoso.
Proclamando sua virtude
Balsâmico real, excelente, A tua alegre e doce companhi
Antisséptico superior, E nobreza
Ele é a saúde da gente - Eu saúdo e venero o Eucali~
Que vive em seu redor Benfazejo, sádio, altaneiro,
E tem a sorte de respirar Que é sombra e saúde
E absorver E riqueza
O per fumado ar Da minha Casa campestre,
Desta árvore gigantesca. Durante o ano inteiro.
Que se ergue os braços para o Céu,
E não pára de crescer!

Do abençoado Eucalipto
Suas folhas medicinais
Curam as afecções pulmonares
Os estados catarrais Vivenda da Azenha, Caniço, ~
E tanto mal impertinente [Baptista dos Santos, Ml//'I1ní
De que sofre e morre muita gente ... Funchal, 1961,

328
Do À ARCA DE NOÉ

ANA BELAA. PITA DA SILVA

ILHA DA MADEIRA fLOR SILVESTRE

Olha
Com mãos fortes desbravaste
em rocha dura
com mãos tartes semeaste silvestre
videiras c bravura.
entre
ribeiras saltitnntes
que bailam daninha

rochedo
imortal agreste

és a Madeira. perto
olha-a
Madeira bem
sonho vê
realidade. a cor
linda
Madeira quc tcm
és
verdade. Bela Pita

329
ALBERTO VIEIRA

ILUSTRAÇÕES'

CAPA: W. Combe, 1821, Colecção Museu Frederico de Freitas

Página.
8: Andrew Picken, 1840, Colecção Museu Frederico de Freitas
9: A. Picken, 1842, Colecção Museu Frederico de Freitas
11: Mrs Benett, 1809, Colecção Museu Frederico de Freitas
23: James Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas
25: L H. Robley, 1845(?), Colecção Museu Frederico de Freitas
37: James Bulwer, 1827 , Colecção Museu Frederico de Freitas
47: Susan V. Harcourt, 1851, Colecção Museu Frederico de Freitas
49: W. S. Pitt Springett, Colecção Museu Frederico de Freitas
55: James Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas
71: W. Combe, 1821, Colecção Museu Frederico de Freitas
73: A. Picken, 1840, Colecção Museu Frederico de Freitas
76: James Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas
75: 4.256b James Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas
80: 4.257b James Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas
81 : W. Combe, 1821, Colecção Museu Frederico de Freitas
83: John Drayron, 1846, Colecção Museu Frederico de Freitas
87: A. Picken, 1840, Colecção Museu Frederico de Freitas
233: V. Tomam, Séc. XIX, Colecção Museu Frederico de Freitas
235: James Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas
239: Susan Vernon Harcourt, 1851, Colecção Museu Frederico de Freitas
241: James Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas
303: Richard Westall, 1812, Colecção Museu Frederico de Freitas
305: James Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas
307: James Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas

I. Para uma informação mais completa veja-se neste volume o capítulo: Aguarelas,
Estampas e Desenhos da Madeira. Sécs. XVIII- XIX. Aproveita-se o ensejo para
agradecer à Dr" Ana Magarida a disponibilidade elesta informação.

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