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alberto.vieira@madeira-edu.pt
Fax (+351291)223002 http://www.madeira-edu.pt/ceha/
Alberto Vieira
Vieira, Alberto (1996), Do Éden à Arca de Noé, Funchal, CEHA-Biblioteca Digital, disponível em:
http://www.madeira-edu.pt/Portals/31/CEHA/bdigital/avieira/1999-AVIEIRA-eden.pdf, data da visita:
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ALBERTO VIEIRA
,
Do EDEN
À ÁRCA DE NoÉ
EO
ALBERTO VIEIRA
TÍTULO
Do Éden à Arca de Noé. O Madeirense e o Quadro Natural
lU Edição
Colecção Documentos 8
AUTOR
Alberto Vieira
EDIÇÃO
CENTRO DE ESTUDOS DE HISTÓRIA DO ATLÂNTICO
SECRETARIA REGIONAL DO TURISMO E CULTURA
Rua dos Ferreiros, 165 9000-FullchaI- MADEIRA
TIRAGEM:
1000 exemplares
CAPA:
W. Combe, 1821, Colecção Museu Frederico de Freitas
IMPRESSÃO:
O LIBERAL, Empresas de Artes Gráficas, Lda.
ISBN: 972-8263-12-0
4
EO
1
pÀmNA r~ BI!ANCO
Do À ARCA DE NoÉ
INDICE GERAL
11 A EA DA MADEIRA
OLHARES CRUZADOS
2.DOCUMENTOS E ESTUDOS
83
2.1. TESTEMUNHOS
87 Francisco
90 Novo das Madeiras para Ilha da
98 522-1591J
116 Alvará Sua Manda dar os Meios Modos de Estabelecer
o Povo e Conservar o Domínio da Ilha do Porto 1
119 da
122 nrr'> "",nrw Antonio Raiz Velozo de 1792
ALBERTO VIEIRA
235 Introdução
237 Bibliografia
6
Do ARCA DE NOÉ:
305
DE POEMAS
330 DAS
A LBERTO V IEIR A
8
Do ÉDEN À ARCA DE NOÉ
9
ALBERTO VIEIRA
10
Do ÉDEN À ARCA DE NOÉ
A H istoriogra fia tem propiciado nos últimos anos uma gra nde abertura na temáti-
ca e na forma de abordagem dos diversos aspectos da História. A História do
Ambiente ou Eco História ganhou um grande destaque, nomeadamente na
H istoriogra fia norte-americana. Na verdade, foi aí que o novo domínio encontrou
maior nÚmero de adeptos e especialistas. Na Europa, depois de alguns pioneiros
estudos de F. Braude l e Emanuel Le Roy Ladurie, só nos últimos anos parece ter
retornado o interesse pelo estudo da evolução do quadro natural e da inter-acção com
o Homem. Aqui. para além da Inglaterra assinalamos a Finlândia, Itália e Espanha '.
A leitura de alguns dos títulos mais destacados desta bibliografia, como sejam os
textos de A. Crosby' , Donald Worster', R. Nash', J. Donald Hughes' e R. A. Grove' ,
despertou em nós o entusiasmo pelo estudo da temática, ao mesmo tempo que nos
incutiram a curiosidade pela melhor elucidação das informações avulsas que encon-
tramos em quase todos sobre o papel específico da Madeira. Foi na verdade a úLtima
situação que nos levo u a definir um projecto de investigação em que se pretende
aclarar e fundamentar as referências com uma abordagem exaustiva da inter-acçãô
do l11~d eircnse com o quad;o natur.a l. _ ". ~,!~ .. ~
A ii ha ficou como um marco da IIltervençao do homem no quadro f\I, " ,;\ ~a
norestal desapareceu num áp ice por força da necessidade das culturas ' U-menta-
ram a dependência do mercado madeirense à Europa. A cana de~ na
t.tt-I'IO Pt t ~'111J10'!> :>t
NII~D'"~ Da ... n .....-.fhCO
II
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12
Do À ARCA DE NOf:
História do ambiente a
em 1976 da "American
"Environmental Revicw"" como os mecanismos mais
uma da [-I O reconhecimento derin vo de
"Environmental cm 1990 por "Thc
Journal Df American a semente que iria Ii"uti-
licar, na América crescia a consciência flltto dos alertas para
da na a que a Escola dos Annales era a
desembocava 110 mesmo rumo e na clara a valoriza-
Assim. um número dos AII/lalcs de 1974 dedica cspe-
um dos
no continente europeu.
mais evidentes do novo movimento
da sociedade. Em 1970 tivemos
da EPA Environmenta/ PI'OIeclion
de ouro dos movimentos , Foi também a duvida levantada sobre
historicidade do movimento que levou ao novo olhar o
humano e a com o meio natural';, Os estudos históricos acabaram por
provar que do meio ambiente não a segun-
da Guerra Mundial ",, Também ficou claro que a ideia de é anterior ao
da 17 Descobriu-se o movimento ambientalista de
finais do século ambientalista
radical na IH, OS trinta anos que SI;: suct:dt:l'am fi
our been
their natural environemtal !lave
that enviroment and witll that results"", que a
deals with the variolls oveI' time between
. Poderá referenciar-se ainda
onelt: enCO!1-
tht: past
que é a História
ser humano
l11ismo innuido en estas condiciones cómo reaccionó ante las alteraciones,
A História Ambiente tem demonstrado nos últimos anos ullla tendência para a
áreas lemáticas da História passaram fazer do seu
faceta Assim aos temas
Arte e Literatura
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Do À DE NOE.
16
Do A ARCA DE NOÉ
carócter
no o eteito dominador na economia c sociedade/associ-
escravo, que começou 110 Mediterrâneo e se no Atlântico.
cana, tal como afirmou Josué de CastroN , é realidade histórica dos
últimos cinco em que assumiu um estatuto de
assim o confirma. O que aconteceu na Madeira dos séculos XV c
Caraíbas nào u idênticas
atlântica era extensa. Mesmo assim os
tiveram Gilberto Freires" afirma que "o canavial
grosso de modo mais cru A cultura da cana .. , valorizou o canavial e
tornou a mata".
O processo é a cana derruba-se ou a l1oresta.
para o (l\z para manter acesa chama dos
ou construir as infra-estruturas. A cana tcm na lloresta o maior e
Um apenas evidencia dimensão que assumiu o processo. Para
Brasil cio século XVIII cada 15 de lenha
toneladas'l.
A continuada devastadora assim descrita por Warrcn DClln: "Durante
lucros fáceis:
cada vez
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18
Do ARCA DE NOÉ
dos a ter
a I RRO é considerado o momento do
19
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20
Do À ARCA DE NoÊ
Linné (1
A curiosidade do homem acerca da Natureza é do
Ptolomeu em Alexandrina''', mas os rumos da actual
descoberta delinearam-se a do século XVI. Os
museus de História Natural c os
Francisco (I
1760 - American
1768 American
1805 - Charleston BOlanical
1846 Smithsonian Institution
1848 American Association for the Advancement of Science
1854 Société d' Accl imatation
"",C'IP"\! of America 'l1
associadas a uma
a edita desde 1665 "lhe
do outro lado do Atlântico tivemos desde 1818 o "American JOllrna1 af Scíence""".
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Do ÉDEN À ARCA DE NOE
A ECONOMIA DA MADEIRA
E A EVOLUÇÃO DO QUADRO NA~@Ã.
t.tt-IIIO 1111 t."lIlJ1U!> IH
Ntl~OItI'" Da .Io.I'1..l..... 'o(O
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Do ÉDEN À ARCA DE NOE
0
' 1
da rc~lid~d,e s?cio-econom,ica madeirel,l se, ao longo dos quinhentos an~~f1~
~os l11 C\ Ha v ei S na actualidade, Por ISSO proponho uma breve reflexl
lmpon <i ncia no de vir e quotidi ano madeirense. CEHA
... t"'I"~ IIIt t~·l1l11(."" ~t
"11"0'"4 Da ... 'I..L",>(O
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Do DE NoÉ
mca e
agem rural que se
cidade fllzcnelo com que a ctaptrlss,em à medida do
volume cios reditos acumulados com o e vinho e estava-lhes
reservado o usufruto das comodidades e nas lides administrativas ou
canas.
Uma das das ilhas resulta do facto de estarmos espaços
que condicionam c foram influenciados de
humana. O processo económico
no mercado mundial provoca
intensiva que acaba inevitavelmente
o natural e que
económica fez-se de forma intensiva e de acordo com as do mercado exte-
com o natural c arrastando-o para a total
testemunhos dos "éculos XV
a revelar a cios solos devido ao
surge em meados do século Xv. Cadamosto atirmava: "As suas
terras costumavam dar a scss(;!nla por um, o quc 1",·"",,,1,, estú reduzi-
do a trinta e porque se vão deteriorando dia a dia resullou ela
do cereal para abastecer as ciclades do reino e praças aÜ·icanas.
o cereal cedeu pouco dominaram
do
desl1o-
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ALBERTO VIEIRA
quase total exaustão. Em 1689 John Ovington testemunha-o de fonna lapidar: "A fer-
tilidade da ilha decaiu muito relativamente ao período das primeiras culturas. A cul-
tura sem descanso dos terrenos tornou os fracos espaços em muitos lugares e de tal
modo que os abandonam periodicamente, tendo de ficar de pousio três ou quatro anos.
Depois desse tempo, se não crescer nenhuma giesta como sinal de fertilidade futura,
abandonam-nos, como estéreis. A actual aridez de muitas das suas terras atribuem-na
simploriamente ao aumento dos seus pecados"~<.
A vinha e o vinho assumiram particular destaque na caracterização do processo
histórico madeirense ao longo dos quase seiscentos anos de labuta. Desde os primór-
dios da ocupação da ilha até a actualidade o produto manteve a mesma vivacidade na
vida agrícola e comercio da ilha. Dos mais produtos não houve capacidade suficiente
para resistir à concorrência desenfreada de novos e potenciais mercados fornecedores
de aquém e além-mar. Os cereais tiveram saque fácil nos Açores, Canárias, Europa e,
depois na América, sofrendo, mais tarde, a concorrência do abundante fornecedor
americano. Apenas, o vinho resistiu a concorrência do dos Açores, Canárías, Europa
e Cabo da Boa Esperança, mantendo o tradicional grupo de apreciadores no velho e
novo Mundo. Esta foi uma situação vantajosa para o quadro natural, uma vez que as
exigências da cultura da vinha quanto à floresta era diminutas.
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Do ARCA DE NOÉ
e a solici-
madeirenses contribuiu para que a cultura canaVIaIS
em momentos de crise 110S mercados amer-
irremediavelmente condenada a
a canalizar todas as nas fazendo-as assumir o espaço
abandonado socas de cana. Os canaviais deram às latadas e os
para se erguerem os e armazéns. Esta na estrutura
tpr"""",Q na dinâmica económica da ilha. O definia apc-
nas um o onde decorria a O vinho
necessita de dois espaços distintos. O onde as uvas davam saboroso
e os armazéns da cidade ondc f'eI1l1enta e é
aroma e Deste modo o
da
mais de dois séculos a vinha e vinho das
actividadcs económicas da ilha dando ao meio O
Funchal cresceu cm monumentalidade e as famílias
económica.
A demarcada conflitos
das colónias e associada aos factores de
conduziu ao
do processo, sucederam-se as
nos anos eu nas décadas de 50 e continente
onde o madeirense fui substituir o escravo nas
anos
domínio social e alimentar.
Novo Mundo que de relevo na culinária
e a batata. par disso definiram-se
reconversão c ensaios de novos com valor comercial
oitocentista e no Guerra Mundial foi respon-
sável por um acentuado processo dc do interior da ilha e arrastou muitas
terras para o abandono. Foi o início de um necessário para as terras já de si
intensiva das culturas de subsistência As
o fácil aumento da man-
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ALBERTO VIEIRA
breve ou prolongada. Diz-se até que a primeira viagem de núpcias, embora ocasional,
foi protagonizada por um casal inglês. Mais uma vez estamos perante a lenda que
ficou conhecida como de Machim. Na verdade, foi esta visão mítica, perpetuada nos
relatos antigos ou reavivada nos testemunhos coevos, que motivou o desusado inter-
esse do inglês pelas belezas aprazíveis da Madeira. A Europa oferecia ao aristocrata
britânico demasiados motivos que concorriam coma o "grand tour" europeu.
O ilhéu, autêntico cabouquelro e jardineiro do rincão, estava por demais embren-
hado na árdua tarefa de erguer paredes e arrotear os paios, e por isso manteve-se
alheio às delícias. Para ele a beleza agreste dos declives não passava de mais um
entrave na luta contra a natureza. Enquanto o madeirense cavava e traçava os paios o
inglês entretinha-se nos passeios a cavalo ou em rede pelos mais recônditos locais da
ilha. A verdadeira descobetia da Madeira toi obra dos ingleses, mas ao português deve
ser atribuído o mérito do descobrimento do caminho para cá chegar.
30
Do ARCA DE NOI~
no Atlântico!O".
elas ilhas não se fica só séculos XV e as naveg-
oceânicas nos séculos XVIII e levam-nas a assumir ulTIa
para os De terras descobertas passaram a campos de
e escalas da na rota de ida e regresso.
no século XVIII desvendou-se uma nova as ilhas como campo
de ensaio das técnicas de que comandam a ciên-
eXIJeCllC()eS científicas dos europeus. O enci-
têm nas ilhas um bom campo de
passaram destacados
.lohn Forster.
quase uma centena de cientista. Estámos uma
historial que ainda não foi devidamente e que por um eslu-
James Cook escalou a Madeira por duas vezes ( e 1 numa
de mas apenas com interesse científico. Os cien-
listas que o '"'/,I11,n" intrometeram-se no interior cla ilha à busca das raridades
botânicas para à comunidade cientí fica.
A tudo isto é de referenciar a UV'0I-""" para a cura da tísica ou
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ALBERTO VIEIRA
de quarentena na passagem do calor tórrido das colónias para os dias frios e nebulosos
da vetusta cidade de Londres. Esta função catapultou a ilha para uma evidente afir-
mação. O debate sobre as potencialidades terapêuticas da climatologia propiciou um
numeroso gmpo de estudos e criou uma escala de estudiosos, dentro e fora da ilha. As
filas intermináveis de aristocratas, escritores, cientistas desembarcaram no calhau e
foram encosta fora à procura do ar benfazejo da ilha. Vem daqui muito do espólio que
hoje está disponível na Casa Museu Frederico de Freitas. Casa Museu Barbeíto de
Vasconcelos e Biblioteca Municipal.
A Madeira recriou os mitos antigos e reservou-lhe um ambiente paradisíaco e
calmo para o descanso, ou, como sucedeu no século dezoito, o laboratório ideal para
os estudos científicos. De acordo com isso as ilhas tomaram-se no principal alvo de
atenção de botânicos, ictiólogos, geólogos, o que levou Alfredo Herrera Piqué a con-
sidera-las "a escala científica do Atlântico". Foram os ingleses os primeiros a desco-
brir as infindáveis qualidades de clima e paisagem, e a divulga-Ias junto dos compa-
triotas.
É esta quase esquecida dimensão da ilha como motivo despertador da ciência e cul-
tura europeia desde o século XVIII que importa realçar. A Madeira partiu ele campo
experimental dos descobrimentos para a afirmação, com a filosofia das luzes, como
novo campo experimental de nova ciência que desabrocha, mercê da nova fuóção de
escala das expedições científicas. Mais uma vez ficou demonstrado o activo protago-
nismo da Madeira no devir histórico ocidental..
Para os navegadores do século XV aquilo que mais os emocionou foi o denso
arvoredo, já para os cientistas, escritores e demais visitantes da ilha a partir do século
XVIll o que mais chamou à atenção é, sem duvida, o aspecto exótico dos jardins e
quintas que povoaram a cidade. O Funchal transformou-se num verdadeiro jardim
botânico. Na Europa os jardins botânicos começaram a surgir desde o século XVI. Em
1545 temos o de Pádua, seguindo-se o de Oxford em 1621. Em 1635 o de Paris pre-
ludia a arte de Versailles em J662. Em todos foi patente a intenção de fazer recuar o
paraíso l "'. As ilhas não tinham necessidade disso pois já o eram naturalmente.
Desde a segunda metade do século XVII que a atitude do homem perante aS plan-
tas mudou. Em 1669 Robert Morison publicou Pra eludia Botanica, considerada como
o principio do sistema de classificação das plantas, que tem em Carl Von Lil1né
(Linnaeus) (1707-1778) o principal protagonista. Contemporâneo dele é o Comte de
Buffoll que publica entre 1749 e 1804 a "}-Iistoire Naturelle, générale et pal'ticuliére"
em 44 volumes. Os jardins botânicos do século XVIII deixaram de ser uma recriação
do paraíso e passaram a espaços de investigação botânica. O Kew Gardens em 1759
é a expressão disso. Note-se que Hans Sloane (1660-1753), presidente do Royal
College 01' Physicians, da Royal Society of London e fundador do British Museu111,
esteve na Madeira no decurso das expedições que o levaram às Antilhas inglesasllll,
A aclimatação das plantas com valor económico, medicinal ou ornamental assum-
iu cada vez mais impOltância. Aliás, o interesse medicinal prOVOCOll desde o século
XVII o desusado empenho lll4 • Em 1757 o inglês Ricardo Carlos Smith funda no
Funchal um destes jardins onde reuniu várias espécies com valor comercial. Já em
1797 Domingos Vandelli (1735-1816) e João Francisco ele Oliveira no estudo sobre a
flora apresentaram no ano imediato um projecto para um viveiro de plantas, que foi
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Do ARCA NOÉ
Sociedade
no estudo
""'''«'"nv em 1792 do seu
CCI' a
refere-se uma tentativa íhlstracla
Pavão e que contava com o
1946 António c/e Sousa c/a Cámara recomendava a
de .1, de da ela
natureza" teve nas autoridades locais. Em 1952 do
Bom Sucesso anele ficaram os da mas o
do Jardim Botânico que aconteceu em 30 de Abril de 1960 por da
Junta do Distrito Autónomo do Funchal. Isto é o corolário defesa secular das
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Do A DE NOÉ
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ALBERTO VIEIRA
ganização do sistema de regadio, que através de novas levadas iria permitir um maior
aproveitamento agrícola, o delinear de um plano viário, que possibilitou a aproxi-
mação das diversas localidades da ilha e um progresso harmonioso.
No passado foram as condições do meio que fizeram da ilha um dos motivos prin-
cipais de atracção turística. Hoje o turista é outro e por isso também as exigências são
diferentes. Assim aos motivos ambientais aliam-se os culturais, passando os dois a
andar de braço dado. É a simbiose do "grand tour" europeu com o turismo terapêuti-
co insular. A ilha continua a fascinar cientistas e visitantes. O clima, o endemismo, as
particularidades do processo histórico, a evidência na História do Atlântico fazem
dela, ontem como hoje, um pólo chave para o conhecimento científico. Hoje a ilha é
tema de debate nos diversos areópagos científicos e cada vez mais se sente o apelo da
comunidade cientifica para o conhecimento e divulgação. Esta realidade vai ao encon-
tro do que foi a História do arquipélago. Na verdade, o processo histórico da ilha, rel-
evado quase sempre pelos aspectos económicos e sociais, esquece uma componente
fundamental do nosso contributo: a inovação e divulgação tecnológica que transfor-
mou a rotina das tarefas económicas e revolucionou o quotidiano dos nossos avoen-
gos. Mais do que isso, o madeirense, além de exímio inventor - na inevitável tarefa de
encontrar solução para as questões e diticuldades do dia a dia -, foi também um efi-
caz divulgador da tecnologia.
A Madeira foi a primeira terra revelada do novo mundo, escala para a navegação e
expansão dos produtos europeus no mundo atlântico. Com o século XVIII a ilha trans-
f0ll11a-Se em escala obrigatória das expedições cientiticas que fizeram saciar a
curiosidade inata do Homem das Luzes. Este protagonismo evidente da Madeira
condicionou a evolução do quadro natural e a relação do madeirense. No primeiro
momento a ganância do lucro atirou os colonos para uma exploração intensiva do
solo, procurando exaurir o máximo das suas riquezas. O desequilíbrio entre a perma-
nente solicitação de um cada vez mais vasto mercado externo e as limitadas capaci-
dades dos recursos naturais da ilha eram evidentes e atTastaram-na rapidamente para
uma situação de rotura. Primeiro foi a crise da produção cerealífera aque se seguiu a
da cana sacarina, todas elas em ultima estância resultado do esgotamento dos solos.
Perante isto, num ápice a floresta deu lugar aos poios e as culturas que depois fizer-
am surgir o espectáculo desolador dos tenenos inférteis abandonados.
A viragem ocorre a partir do século XVIII, servindo-se mais uma vez da íntima
aliança da ilha aos ingleses. As embarcações deste reino trouxeram-nos as plantas
exóticas para recobrir o solo e os visitantes ávidos de conhecê-Ias. Assim se avançou
rapidamente para uma política de reflorestação que embelezou a cidade e arredores de
espécies exóticas e povoou as escarpas escalvadas de pinheiros, eucaliptos e castan~
heiros. Também a curiosidade e espírito científico que marcou o mundo britânico
desde o século XVIII teve os seus reflexos na ilha, provocando uma procura,
descoberta e estudo do mundo vegetal e animal da ilha. Este espírito científico cativou
também os madeirenses e levou-os a considerarem o quadro natural de forma difer-
ente, fazendo frutiticar o actual espírito ecológico, que rapidamente se transformou
numa moda do mundo actual.
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Do ÉDEN À ARCA DE NOE.
1601: Jean Mocqul!tI1575-'!]. viajante frances. que 1768: Ch. Gn.."cn. astrônomo brit.1.nico
deixou impressões da sua \ iagcm cm Sçtr.:ll1bro.13. Ancorou ao Funchal James
ruyllge~ ('II A[i"ique. Asie. IlIdes Orienral/!s el Cookl I728-79]. CIll \ iagr.:1ll dr.: ci rcum-nave-
Occidema/('s{ 16 17) gaçào a bordo do na\ io Endc.n our
16M7: Dr. Hans Sloanc] 1660 1753], médico c natu- JOSl:ph l3anks. bot.lnico illglê~
ral ista britânico Dr. Danid Solander. natural ista succo
1696: Rc\'. John Ovington. cape lão Real c escri tor 1772: Segunda pasSilgclll de James Cookll728 79J
britünico pela Made ira. sendo a descriç.l0 da Viagcll1
J 720: John Atkins. médico na\al e escritor britâni- da Autoria de Gcorge Forster em Voyage
co rowule fhe IVor/d ( 1797)
1740: George Anson( 1697- 1762J, co rsúrio. naveg- Johann Rci nhold For~ t er e George Adam
ador britânico. Autor do livro: VO.l'age ROlll1d Forstr.:r. cientistas alemães, S"o pai e filho e
lhe fl'o r/d (174M) iniciar.1Il1 as exploraçõcs botânicas na ilha .
175 1: Dr. Thom. Ilcbcrdcn. cientista britânico John Gr.:orgc. naturnil~ta bril1inico
1755: J. de Bory. cien tista. c:\plorador c \!scri tor 1776: Fr.lI1cis ~·I ason. bot.lnico inglês
1764: COlTIodoro John Byron. navegador c ex plo- Prof: Downc. botân ico inglês
rador britânico [785: J. F. Ga laup de la Ilerousc. ml\ cg:ldor c cien-
1766: Samue l Watlis[ 1728 9S I. oficial de marinha. tista francês
cLen tista . Entre 1766 c 1768 fel viagem de Eng. Maneron. cicnti~ ta francês
circun-mi\r.:gaçào no I-IMS Dolphin Lcpallte Dagete. a:..tronomo fran cês
Capita in Philip Cartcrctl?- 1796]. célebrr.: Pror. Lamanon. lisico fi aneE...:\(. ·' ~
na\ r.:gador r.: cientista britânico que aeomp.1n- Prof. Collignon. bot,illlCC : ;'" :.-..~ ..-'-
hou a \ iagelp de John Byron em (1764----6) Prof. Monge. cientista [fa ne :-, ~
CEHA
'" t~ l 'n) IIt B'V D O':> ~~
HII~tMlll. MI ...n.l.",r-co
37
ALBERTO VIEIRA
38
Do A ARCA DE
fiou
Guilhé!'me ReisL li K31l-ILJOii], geólugo
Madeira ii de lnarm-
Du~ de Leuchtcnherg, I'rincípe oficial da h05 de que publicou cm
Marinha alemã Augusto David Krohn( I fl03-1 il911,
Sebastião Fischer [1801Í- I il7 medico natu- ale[l1i1o
ntlisla alemão. Fez algul1s eSludos sobre os 1/;56. J. Zieglcr,geólugo británicn
crllstúceos da Madeira. D. Archibald Colqulwl1l médico
Prol'. Joall1 Cris!. Albcrs, alemão bl'ÍlunÍco
White, N. I-Iaslop Mansnn,
EUlIard Vcmol1 d'!-larcourl, ornitologista COl11od. Wdlcratorf Urhair,cicntista auslría-
escritor britdll ico co
Dr. Hecr II H09-1 X/O I, botânico Dr. Ferdinand Rill!!r Hochstdtcr, geólo-
paleontologu slli~o, lá estlldos sobre go austríaco, publicou cm I I o livro
ii 1~IU!la e geologia ua i lha Madeira Vortrag.
James Yale JOh115011, naturalista brilánko Richard C Smith, hotnniw britânico
Eugcne E. G. Jones, escritor britânico George Bus", naturalista brílâni-
.Iohn Dix. escritor
Dr. escritor Ihll1cês Jo~o Jacob Nocggcrnthl17XX- H77], cngcn-
D. Ramon MasJ"rrer y Arquinbnu, médko hcim de minas alemão
HCl'll1<1ll1l Sclwcht, escritor alemão
Joam ChrislOph [1795-1857 j, l11t!di<:o de Mmkns[1 1-' ')04] zoólogo
c naturalista alemão. Publicou Mafaco- alemão
graphia MOI/crensi.\' ( Ernesto Wichura[1 li 7-1 Rfi6]. boti\IlÍço
Carlos Jorge Frederico Hnrtung, alemllo
investigações cicntbta
qlle publicaç<1o de três I-Iagçm, escritor alemão
I' João António Sdunid! 823-1 bolfinico 1862. Dr. Lkbctl'llth, botúnico austríaco, rccúlIm
alemão marinhas
I X52: Dr. Karl Millcrlllaicr, médico c I11ctcnmlo- LlIClwig Stol'eh, escritor alemão
alemão Carlos Ciuilherme Jorge de Fritsch[IlDH-
Dr. J'ricdrich Martin Joseph. 1906J, geólogo e paleontólogo li Iclllilo
Wclwitsch[ I f{06-1872]. médico botlll1ieo lVIuurído Stubcl[ I K35-1 lJ041, geólo-
austríaco. Pertence-lhe de criação go c explorador alcmão
de umujardim aclimatação de plantas para I X64: Dr. Robert l300g Watson. cienlÍsta britúnko
FundJaI .Ioscphillc de NCllville, csnitonl francesa
Charles Lyell, geólogo británÍ\;o Icn1l<1II0 Cnchiusll il3'?-1 geólogo
Dr. George I-Iartung, geólogo alemiio alem1io
Maekt!nzic l.lIllxam, ..:;;critor britiínico E. Cosson, naturalisla Ihll1c~s
Charles Bunbury, botânico c paleontologista DI'. Carlos Inácio Lcopold - 9161,
britünico botftnico all!I11UO
I X54: Robert Antlrcw, cicntisla escritor J. Juratzka, dentista polaco
brilÜnico Erncsl Hacckcl[ 1H34-1 ') !LJ], zoólogo c liló-
T. S. Dyslcr. escritor britünico soro alcl1l~!l
William Hadlit.:ld, escritor bl'itlll1ico N. Quintlls, escritor hritünico
C,hnrks I'crrcymond, lhmcês Cllp. NOrl1111l1, hotânico britllnieu
Jacob Me \chio!' Ziegler[ I /lO I-I HH31, earló- Augusto Júlio Mildc[IIQ4- H71j,
graltl suíço. Publicou em I K56 dois bOltlnko especialista ":111 felOs
sobre Madeira. Ri~lll'do I ii29-1 H921,
DI'. S. médico nlemfio alel1lão
Dr. S. Lund, I11dcorologistu britúnicn Jorge Mlltias Martcns
Hcrl11ann Schacht [I 14-1864], botünicll hotnn ico :demiío
alemfío, publicou em 1859 um es!l1clo botdni- IS61i: H. MnjO!; geólogo e briulni-
co: 1/1/íler Tene!'i/é //Iii ili!'i'/' l'ege/a- co
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ALBERTO VIEIRA
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Do À ARCA DE NOÉ
NOTAS
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66. Uma das visúes mais completas disso é-nos dada por Thacker, Christopher, Tlle hislo/y ofgardens,
Loudon: Croom Helm, I985.e Marie Luise Golhein, A His/ol)' ofGarden A 1'1, NY, 1966,2 vols[Com
a primeira edição em Alemão de 1913).
67. I. G. Simmons, ihidem, p.166,
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69. P. Shepard, Alcm in lhe Landçcape: a Hislorie J'lelV of lhe Eslhelic.\' o/Nalure, College Station, Texas
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71. Terry Comi to, The !dea oflhe Garden in lhe Renaissance, N. Brunswick, 1971
72. K. Thomas, ihidel11, pp. 297-209)
73. K. Thomas, ibidem, pp. 210·221.
74. Cf. Jean DELUMEAU, Une Hisloire dll paradis- le jardin des défices, Paris, 1992; John PREST,
TITe Garden otl Eden: lhe bo/anic garden and lhe re-crealion ofparodise, New Haven, 1988, ppJO-
33.
75 Ernesto GONÇALVES, Porlllgal e a ilha, Funchal, 1992, pp.13-!7
76. Donald Scheese, Nature II'riting: lhe pasloral implllse in Al11erica, New York: Twayne Publishers;
London: Prentice Hall International, c 1996, pp. 11-38.
77. Robert Finch,The Norlon Book ofNall/rol Wriling, N.Y., 1990, p. 26
78. F. Setwart. A natuml History ofNalure rtÍ'iling, Covelo(Calilornia), 1994-1995,p. 233.
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82. P. Schmitt, Back lo Nalure: lhe Arcadial1 M)'lh iII Urban America, N.Y,: Oxford Univ. Press, 1969
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8ó. Eis alguns estudos: em 1 Naturalista de Eça de c Es/é/ica Nalllralista.
RS/lldo,l' Críticos de JlIlio Lourenço Pinto; em 1894 Filoso/la da Nall//eza dos Naturalistas de
Antero de Quental e Ar/e e Nalureza de Latino Coelho.
87. Sobre o Romantismo Português veja-se: Teótilo Braga, llislôl'ia
Lisboa, \ 9&4(lEH.:-símile dI! I ggO); Augusto O Por/ugal, Lisboa.,
1093; Maria Ribeiro, ! li.l'trl/'ia Crítica U/erafll/'a Portuguesa. Vb/, VI, Realis/J1o e
1<.o/llollli.l'1I10, 1994,
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lhidem, p.20 1,
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iddn ficou expressa no nosso estudo sobre "1\ Mlldeinl lia I'Ola cios descobrimenlos
atlântica", iII da Unil'l.'J:\'idade d<.' vol. 19KK, pp, 571-S!W.
101. "AlglllllaS das Figuras !luslres Estrangeiras q\le n Madeira", ln [?el'iSla J'1i1'll1'lf/lCS':/.
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102, Riclmnl Cil'ovc, clill/a/c uml Stlldh's in c%nial CIIvil'OlIIr!lIfal, 1Ii.l'10/:1' I 4(}()-1 'NO,
Cambridge, 1 .I, Prest, Tile 1?IEdr.JI1: The lJolunic GO/dell Iile Rc-crea/iol1 q/'
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do II L.r.mJ,[il/,flJ li'II""":"//III< FUllclH1l, pJl.23 I -245
106, }ir,I!1Ill""/'\'-"JlIrJ}l'lIl'scicn/il,l' in nineleelllh CCI//II/T Amerim, Chape! Hill, I
107.
IOí\. Na/lII'e, lhe e.m/ie, al/d lhe Sciel/ce I!ll'l'l.'/1cil Colol/ialí,I'III, Bloominglol1, 994
L 'A/gerie Agricole, CIIII/fllercia/e, /lIdllsl/'idle, Paris, I K60, p,7
45
ALBERTO VIEIRA
46
Do ÉDEN À ARCA DE NOI'.
47
ALBERTO VIEIRA
48
Do ÉDEN À ARCA DE NOÉ
Quereis água de rega para fertilizardes vossos campos, para cultivardes terrenos
áridos, até hoje incultos?
Quereis conservar e aumentar as fontes que existem e fazer aparecer outras novas?
Quereis chuvas mais frequentes , mais igualmenie distribuidas?
Quereis melhor. o clima?
Quereis mais igualdade nas estações?
Conserva i como objectos sagrados os arvoredos que existem; plantai, semeai, criai
novos arvoredos."
[CORREIO DA MADEIRA, N I. 32 , sabbado 8 de Setembro de 1849, p.l]
No inicio o denso arvoredo que deu nome à ilha. Mas a acção do homem con-
tribuiu para a total transformação. Foi um esforço hercúleo por parte do colono tal
como nos descreve de forma poética Vieira Natividade( 1947). Esta mudança é inter-
pretada por Ferreira de Castro: "A ilha deixara de ser apenas bosq ue, para ser bosque,
horta e jardim'"
No século XIX o manto florestal da vertente sul da Madeira havi
te. As encostas estavam totalmente escalvadas. A politica de protecç~~....,.""
que se havia incrementado desde o século XV não teve efeito ou incapaz
ponder à cada vez mais incessante procura de lenhas e madeiras. Er~
- -
.......
~os
l.tt-I.O IIIt t~'l1IJ1O'!>:>t
"11~DltI'" DO .ltn..l.",0(0
49
ALBERTO VIEIRA
devastadores das aluviões de 1803 e 1815 no Funchal que fizeram com que as autori-
dades despertassem para um conjunto de medidas mais eficazes de reposição flore-
stal. De acordo com o relator da aluvião de 1815 a "natureza [estava] cansada de ser
libera!"2. Este quadro é percebido e testemunhado desde muito cedo pelos
estrangeiros. Eles não se cansaram em considerar a ilha, fundamentalmente a área da
cidade e o norte, como um jardim, um paraíso'. Mas esta opinião, habitualmente
consignada nos guias de turismo, contraste com o testemunho atento dos botânicos
que no decurso dos séculos XVIII e XIX a frequentaram.
A primeira e abalizada opinião é de John Barrow em finais do século XVIII. Foi
ele o primeiro a dar conta do desaparecimento de algumas espécies como é o caso do
cedro 4 • Um dos tàctos que chama à atenção prende-se com a permanente azáfama de
mulheres, jovens e idosas na colheita de lenhas para a venda na cidade5• Estes
lenhadores sem escrúpulos, segundo lsabella de França, cortavam o seu e alheio sem
qualquer critério: "encontram-se com frequência, naquelas imediações, homens e
mulheres com carregamentos de troncos de pinho à cabeça; vêm vendê-los ao
Funchal.. ."6. Já em finais do século XIX John A. Dix 7 descreve o processo de
aquisição das lenhas e dificuldade da colheita: "Vivem nas montanhas, onde cortam
a sua lenha, começando o seu trabalho logo ao amanhecer. Preparam a lenha, e
trazem-nas à cabeça para a cidade, às vezes duma distância de 3, 5, 7 e 8 milhas e
vendem-nos a 14 e 18 centimos (7 e 9 vinténs) quando acham quem lhos comprem"B.
A visita à feira semanal da cidade leva-o a concluir que "a qualidade mostra a pouca
abundância de lenha na Madeira "9,
O Visconde do Porto da Cruz num estudo de 1950 dá conta do consumo de carvão
como combustível no Funchal, apontando a necessidade anual de 720 toneladas. Se
tivermos em conta que para cem toneladas são precisas 1000 toneladas de lenha é
fácil de adivinhar o volume do desbaste necessário para abastecer a cidade. Ainda de
acordo com o mesmo a destruição das matas madeirenses foi resultado:" I o fabrico
Q
50
Do A ARCA DE NOÉ
lo que se nas
encosta norte. Em 1812 o madeirense N. C. Pitta chamava a para a abundân-
cia de ou oriundas das Orientais e Ocidentais em tão
variedade que o levaram a al1rmar que a Madeira é o Jardim cio Mundo l 'l •
Os do Funchal são os locais de forasteiros e cientistas.
1888 o
C. Stanforcl não
hesita em comparar o Funchal "are remark-
able for thea collectiol1s af trees anel shrubs ITom many cOllntries and
many climes." de onde
Bulhão Pato "os ramos de nora
",·r""'.CI·~ a
51
ALBERTO VIEIRA
52
Do ARCA DE NOÉ
gurar a
reflorestamento da ilha só assumiu uma dimensão na
século XIX. A é de 1 flltura em que se recomendava o
UC<'c.IHvU, Santa Cruz e Porto Santo~". O ela
Francisco Moreira Matos. Em 1769 ele dava conta dos
infractores de Santa Cruz das medidas que determinavam a
de o que prova estar já em exc-
. Na Ponta de Sol em 1789 que este deveria ser de
tornou-se extensiva toda a ilha através carta cir-
770]~. cm Santa Cruz sabemos que a medida
nomeando a dois homens
as escarpas montanhosas e as áreas de cultivo.
Assim em 1791 recomendava-se aos lavradores das meias terras aeima são
da extensão das terras, de
menos duas e um
limoeiro. Por outro lado as terras escalvadas e do interior cleveriam ser semcadas no
decurso do mês de Setembro de era a que
"alimenta bicho da seda e distraem não comum uvas")'. Note-se que só nos
dois unos que antecederam a visita do em 7LJ5 a Ponta ele
se 35.000 árvoresJ.J. Esta salutar medida diversas formas de
I que cortasse uma árvore era outra no seu
aliás testemunhada por W. Combe em 82'''. Estas medidas
passaram no imediato para o articulado . Assim cm 1 e
reclamava-se que que viviam da serra com a lenha c carvão
deveriam em Janeiro seis úrvores na terra.
José Silvestre como ( \846-185\) teve lima exem-
na defesa das florestas c de do coberto". Em 1849 na dis-
de
1771 com o
110
das áreas de
razão disso eslava em que elas faziam "sombra à terra e attrahião a umidade da
de que a mesma terra hé sumamente estéril">". Os resultados da são visíveis
53
ALBERTO VIEIRA
54
Do ÉDEN À ARCA DE NOÉ
CRONOLOGIA
( t .. uo •• t.·U.L....
""~"'I" 00 ,vlA,u <o
55
ALBERTO VIEIRA
1792. Outubro.18. Instruções respeitantes ao bem Silvestre Ribeiro, à Junta Geral recomen-
geral da Agricultura do Desembargador D. dando a criação de um viveiro geral de plan-
António Rodrigues de Oliveira à Câmara da tas para toda a ilha
Calheta. 1850.Agosto.20. Proposta do Governador civil,
1804. Outubro. IS. Circular do Governador José Silvestre Ribeiro, às câmaras
Ascenso de Oliveira Freire recomendando Municipais, para atribuição de prémios aos
às câmara dc Ponta de Sol, Calheta e S. proprietários que mais se distingam na
Vicente a arborização e limpeza das arborização.
ribeiras. 185 I.Março. 15. Postma da câmara de Machico:
1834. Introdução da cultura da tamargucira no proibição de uso de lenha 110 fabrico de
Porto Santo aguardente e fornos de cal.
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Do DE NOÉ
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NOTAS
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Do ÉDEN À ARCA DE NOE
OLHARES CRUZADOS
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ALBERTO VIEIRA
72
Do ÉDEN À ARCA DE NOÉ
74
Do ÉDEN À ARCA DE NOE
Os retratos do quadro natural madeirense não são tào vari ados nos temas, mas sim
nos motivos e ponnenores que enquadram e dào harmonia ao conjunto. A grande
atenção está nas encostas onde o casario se entrelaça ou nào com o arvoredo. O céu, a
luz\ nào pertencem ao un iverso dos artistas, pois aquilo que mais clama pela atenção
sào as encostas e o litoral abruptos. onde se anicham as quedas de água, o homem, o
casari o e o variado arvoredo. este último quase que parece ausente das encostas e vis-
tas próximas à cidade do Funchal. Aqui as encostas apresentam-se esca lvadas. Os
efeitos da acção do homem sào notóri os. Só quando se penetra no interior, em
Encumeada, Curral das Freiras, Boaventura e S. Vicente se redescobre a exuberância
da floresta. Aliás, é este o motivo fundamenta l que domina o pincel do anista. O sul
esta cheio de mot ivos e dominado sempre pela presença do homem e dos registos da
sua acção como O casario , pontes, etc.
No grupo de textos cientificas a atenção repane-se enlre a flora, destacando-se a var-
iedade de flores, e as fonnações geológicas. As últimas surgem com grande evidencia
cm Edward Bowdich ( 1825).
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Do DE NOÉ
;esr.\· 1+éstace,
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de 26 estampas a prelo: The Loo Rock; Funchal li"OlIl lhe
01' Santa Catharina; The Peak Fort; View among lhe Moinhos; The District of Funchal,
fram the above the The Waterfal1; Ribeiro dos Socorridos;
Descent the Curral; The Church ofNossa Senhora do Livramento
Ribeira Brava; Calheta; Pico Ruivo, lhe Ton"inhas from the Paul da Serra;
Encommiade 01' SI. 1'he Church of Ponta Pico Ruivo I'rom lhe
ofSI. Jorge; Ribeiro de Ribeiro Santa Cruz; Machico,
Cliffs 1111 lhe Norlh Enst Side of Poin! Lorenzo; 1'he of Porto-Cruz, fram lhe
POl'lolla; Tlle town of Porto Santo; Interior 01' Parlo Santo,
COMBE, William London, 1821. Gravuras
to the
Peasnnts ln usual
Inhabitants af the lsland;
Winc to 1'own when elear; Manner
An accident upon the Road; Prior 01'
Franciscun Donations for
his COllvenl; A Franciscun FalheI' Pricst ln different Attlre; Lay Sisters
lhe Grder 01' lhe Mounl Cm"mel; A NUl1 and heI' Attendant; A & her
Scrvanl Church; Usual of Hal11l11ocks; Manner of
among lhe Ladies aI ['linchai; Membcrs 01' the Scnate; Official Dress lhe
Mcmbers th\: ('amem Senate on lhe Death 01' lhe anel Aecossion his
Successm; An Omeer & Privale 01' lhe Garnison 01' Funchal; of
Loo Fort.
DILLON, Frank, Sckelche.\' iII IlIe Is/aI/L! Madeira, Londoll, 1850-1856.
Robert Machim's
FUllchal; View up lhe Santa Luzia River; lown ofFul1chal (froll1thc East); The
Pontinha lhlln the West; Granel Curral; da fi"om the
Ponte Novo - View !leal' Cama de
For! Sr. Funchal Beach; Franciscane Convento,
Funchal; Convento de Santa Clara,
DIX, John . ('1), A Willler i/1 lv/adeira am{ LI SlIIIJI11(!/, il1 alUI Flo/,(!/Ice,
de H. Vanostrancl: Ravine 0[' Funchal; Funchal from St,
(lI' Colombus.
ECKERSBERG, Johan E. A.I'sichten 1'0/1 derli/1sel Madeira, DusseldorC 1840. L.1'U~:I"'lil~
de Penha Funchal von OstCI11, Funchal von
Wcslcrn, WasserJàll bci S. Vicente, Curral, das Thal von S. tlmI von S.
Vicente, lhal von Bcm Ventura, Kabo Girão,
Isabclln de, JOl'llal lili/a Visita à Madeira e (/ 1853-1854, Funchal, 1970
tam bém el11 de 24 gravuras.
GRA BIIAM, Michael c" lhe Climale aml Re.l'oll/'ce.l' London, I R70. de
T.A.K.: Funehal from lhe I'nlheiro Road, lhe Hammock, the bullock-car, fromlhc foun-
tain.
lIA RCOURT, Susan VCrtllon. Sckelches il1 Madeira Drawl7 & 011 8/01113,
Londol1, 1R51 de 14 desenhos li cores e preto e branco: Funchal from the
West-Funehul n'om lhe Easl; The Penha fmm the vista Faial, Port St
77
ALBERTO VIEIRA
Thiago, funchal- Ribeira Brava; Near Santa-Cruz-On lhe Palhei~o ~{()ad; View (ln lhe
road from Funchal to St. Annc's; View offunchal j)'om lhe Sea; hUII Mnrkct-Waslw/"-
women- Street in Funchal-Ribeiro de Santa Luzia; Quinta nt Santa Cruz; Vicw íll
Funchal' View from Pico Arriero; View behind lhe Jesuits'College; View Ihllll IIH.'
Deaner;; On the Ribeira St. João-View from St. Martinho; Machic~), ()llin.lll at Santa
Cruz, View from Pico Arieiro. Gravuras: Group of peasants, englIsh bunal gnl\l1HI.
Funchal fl'om lhe sea, oxen car, view of Funchal from Hollways cnltage
HOCHSTETTER, Dr. Ferdinand von, Madeira ein Vórtag, Wit!J1, 1Hó L IX71. Lítogrnl1u til' ,""
Hotzel: Ausicht des Pico do Gato (as Tows) vom Encumiada alIa llUS gegu111 glld, Vila
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isoplexis, Omiltrofalum arabicum, the castor oil plant, tbe gllllVll IhlÍt tmnnlll or lovl.'
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James Macaulay e general il1formation, Litografías a cor: Ruvina or CUll1nrn de Lobns.
CUITal, the Curral Madeira, Quinta do Monte Funchal thl111 lhe huy, FUlll:lwl 11'<1111 Sllu
Lázaro, Rabaçal. Aguarelas: Fajã do Mar, Nem the me, Ribeiro SO(';Ol'ridos, on lhe ll1ad
to the Courals the Ribeiro Frio, on the Ravina 01' the cold river, Penha d' Águia, Belt!l
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J 843 Colecção de 15 estampas a cores e preto e branco: The Pro111essa or Wmv; Waitillg
for Oaybreak 011 the Sena; Belfry attached to lhe chapei orNo S. do Iilia!. "Tlle Sigllnl";
Stranger's Grave; Mil! at the Serra; English ChapeI, Funchal; Interior ui' a "Vcndu" in
the Sen'a o1'st. Antonio; The Lagar or Wine Press; Girl grinding com; Tlle PlIlul1l]l1ill-
The I-Iammock; The Xerola; A Portrait-Shepherds rccolling eaule hy lhe BllZio; R0111 li II
Catholic Priest- A Nun 01' the Convent 01' Santa Clara; Madeira Peasal11 (; i1'1; Mndcira
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78
Do ÉDEN À ARCA DE NOE
V IZETE LLY. Henry. Pacls Aholll POrl anel Madeira , Wi/h Nolices of lhe Wil1es Villtaged
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Tema domi nalllc a vi nha c o vin ho.
WI-IIT E. Robe rt. Madeira. ils Climare OIU/ Scenel)' COllloining Medical (md Gel/eral
Injórmariol1 !o/"/illm!i(l\" anel Visitor.'!: a To"r of Ihelisland. elc.: and an Appel1dix.
London. 1851. G ravuras a parti r de desenhos de John Botcherby: Penha d 'Aguia
(cag lcs roc k) fr0111 lh e Lamacei ras. Pontinha and Bay af Funcha l from lhe west. village
of Cama de Lobos and Cape Gi ram, Coasi vicw, From Heights above lhe foss il-bed.
Rocks and Clifls near lhe rossi l-bed. Fun chal from above São Gonça lves.
WOLLASTON. T. Vemon. /Il.\e('/(I Madeirem' ia. Beillg mI Accolll1l o/lhe InseCIS o/lhe Is/ancl~'
of ,\fim /eira Grollp. London. 1894. Litografia .
COLECÇÕES DISPONí VE I S
NO MUSEU FREDER ICO DE FRE ITAS (FUNCHAL)'
BIGGE. F. E.. 1855 Aguarelas: Loo rock. Desen as orMade ira, liul e lourai
GELLATLY. J. Cinco litografias: Costumes of Madeira - Melada Boy. Villão or Peasant.
Villoa or Country-girl, Burroqueiro or Male teer, Woman spi nnin g.
INNES.1. R. Cinco lit ografias: Madeira sledge. Madeira ha mmoc k. Palácio de S. Lourenço.
Palanquim e vista do Funchal. Mach ico. Cliffs on lhe north east si de of poi nt
Lourcnzo. the va ll ey of Porto da Cru z from Portell a, interior of Porto Sa nto.
MAY ,W.. séc. XIX Aguarela s: sun sh in e on the rock (form be low the new road), sa lto do
Cava lo, Curral dos Rome iros. A Cou nt ry men-bananas
ROBLEY. Cap. J. H .. 1845 Desenho: Cheias de lima ribeira
SELLENY. séc. XIX Litografia: Bucke ri ber den Ri beiro Secco, Curral dos fra ~d~d'!f'
CEHA
..D:at
~~:':~~ ~'r~r~]JJ
ALBERTO VIEIRA
NOTAS
Barbara Novak, Nall/I'e (lml CIIIIIIl'e. Al/lel'lám LIII/dl'('l/I'" (///(ll'uil/lil/g', /825-/875. N. York, I ()lW,
pp.35, 1H4-1 X9
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3 Barbara Stafford, Vóyag(' inlo SlIh.I·ll1Ilce: .11'1, Seiel/"e. Nall/re, aml lhe IfIl1slmlet! ]j'III'L'! ACC,'lIulU.
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STAFFORD, Barbara Maria, vÍJyage il110 SI/hslill/ce: AI'I. Sciel/ce, Nall/re, (///(1 lhe IfIl1sll'llled 7hll'('1
11"('011111, /760-1840, Cambridge, Mass.: MIT Press, c 19H4, pp. 5(,5-(;34.
5 Estampas, Aguarelas e descnhos da Madeira Rom<intiell, FUllchal. Il!XX.
(] Esta ideia vai ao encontro do que sucede na Europa. C'onlhll1lc-se llarhlll'll Novak. Nall/re IIml
CI/IIIIl'e: Al11el'ico/1 Landl'cal'e !'ail1ling. lH25-/875, NelV Ylll'k: Oxlbrd lInivcrsily l'rcss, Il)lW-
1995. pp. 184-189.
7 Conlhmtc-sc K. Thomas (19l\O), pp. 260.
g Conlhllllc-se B. Novak, ihidem, pp. 23 e 233. Angellll Miller, Th" HI/llli/'<, 1!f'lhe h)'l'. 1./Il1cll·mpt'
Repre.ve/1/a/;ol1 anel AIIIl'rican Culll/ral Po/i/ic.\'. 1825-/875. Washington, I()l>3.
9 Consich:l'Ulll-sc apenas as estampas soltas
RO
Do ÉDEN À ARCA DE NOÉ
8\
ALBERTO VIEIRA
H2
I '\TROULÇ,\O
floresta existente na ilha. Aliás, foi este o motivo que esteve na origem do seu nome.
Pois como comenta o historiador das ilhas foi assim designada "por causa do muito,
espesso e grande arvoredo que era coberta ... ". Mas também poderia ter sido nomea-
da de ilha das pedras: " é alta, com montes e rochedos mui fragosos, que por ser
muito fragosa, dizem que seu nome próprio era, ou deverá ser, ilha das Pedras."
Na descrição da ilha o cronista açoriano interessa-se pela acção humanizadora do
homem, dando principal destaque às serranias que considera "muito ásperas", sendo
o interior muito fragoso mas que mesmo assim dão l11uito proveito das suas madeiras
de til, vinhático, ademo, folhado, barbuzano. À tlora indígena junta-se a transplanta-
da do continente europeu e que apresenta interesse económico. É o caso das árvores
de fruta, dos castanheiros e nogueiras. Da visão inicial dá-se o salto para a con-
statação da realidade no século XIX. Haviam passado quatro séculos e a fruição por'
parte dos homem dos recursos do rincão levaram a uma total transformação do espec-
tro da ilha.
A verdadeira consciência da mudança só sucedeu quando se atingiu a situação
[imite e sucederam-se as catástrofes. Neste caso é de salientar a aluvião de 1803, que
pelos efeitos devastadores nas culturas e espaços U1'banos gerou ou tornou premente
essa consciência pré-ecológica. Na época, para além da prolixa documentação ofi-
ciai, podemos assinalar o texto de Paulo Dias de Ahneida, um engenheiro militar que
veio em comissão de serviço com o objectivo de atacar os males da aluvião. Na
memória descritiva que fez em 1817 traça-nos de forma clarividente o panorama des-
olador da ilha. O dedo acusador é apontado à acção devastadora dos carvoeiros, prin-
cipais responsáveis pela destruição geral dos arvoredos. A visão é a vários níveis dcs-
oladora. Primeiro, constata que "as montanhas que não há muitos anos vi cobertas de
arvoredos, hoje as vejo reduzidas a um esqueleto". Até mesmo o "Centro da ilha se
acha todo descobcrto de arvoredo, com apenas algumas árvores dispersas e isto em
lugares onde os carvoeiros não têm chegado".
Outro testemunho atento do meio natural surge em meados do século XIX pela
pena de Isabella de França, uma jovem donzela inglesa casada Com UIll madeirense
em viagem pela ilha. O seu olhar atento debruça-se sobre as diversas cspécies botâni-
cas como ao variado mundo animal terrestre e marinho. Oferece-lhe particular inte-
resse a Hora do Palheiro Ferreiro e Cam acha, locais onde a mão do homem con-
tribuiu para recuperar a paisagem através elo plantio de pinheiros e espécies exóticas.
Aqui o principal depredador não é o carvoeiro, mas o vendedor de lenha na cidade.
Estes "saqueiam-nas sem rcmorsos" de modo que todas tiS árvores crescem apenas
para que as roubem, quando lhes chega a vez".
O ataque aos carvoeiros não ficou impunc pois em opúsculo de Manuel 8mz
Sequeira (1913) resultante do panorama vivido no Verão de 1910 com um incêndio
de grandes proporções nas serras, volta ele novo o dedo acusador. Os principais
responsáveis pelo espectáculo desolador das florestas da i lha são os pastores de gado,
os lenhadores e os carvoeiros. Confrontado com este se[vútico "vandalismo que se
está cometendo nas serras desta i[ha" o autor clamava por medidas e uma campanha
em pro[ da arborização.
Na verdade, a grande preocupação nos inícios cio nosso século prendiam-se com
11 necessidade de preservar o pouco manto florestal existente e pugnar pela a recu-
84
Do À ARCA DE NOÉ
115
ALBERTU VIEIRA
86
DO ÉDEN À ARCA DE NOE
ao outro dia pia !nenham mamdou o capitão hum batel de que deu o carreguo a
0.0
Ru) pael ljuc fosem a terra a \ela e lhe trQuxese lagua Recado do que vyem por nào
í:I\'[cr] outro lIuguar fo rão desembarcar na Rocha omde desembarcarão osjmgreses e
fmão entre o ar\'oredo e o mar acharão lenha cortada e outro Rasto de jete farão asy
ter ao toco do paso gral11de omde acharão a mesa e crusyfixo que os jmgreses
del\arào c as sepulturas cõ as CrlIlCS. ha cabcçeyra de que Ficarão espamtados aimda
que tudo linhào olluydo hao pilloto tornarão se lIoguo aos naujos com este Recado
ao capll;;o Sabydo jSlo delremynou sair é lerra e levar com sygo dous padres que
tra/la. saimdo cm terra deu graças a deos. mamdou bemzer aguoa e esparge lia pello
ar. lei ao loco omde csta\"ào as sepu llturas mamdou dizer mysa na mesa com
Rcspomso sobre SlIas scpullturas C esta Foy a prymeyra mysa que se dise que foyem
dia da \ ysytação de samta Ysabcl acabada a mysa mamdou v[ er] amlre o mar e o
an oredo"oe paresyào allgums anymaes ou bichos e não vyrào cou s~~\~~~lIY
tas 3\CS dI.! mu~tas maneyras e tam mamsas por nào lerem \ ys .
~~uc
. iQi I as
lomauào ha mào tomou lenha c aguoa e tornou se aos naujos no I11CSI
cõsclho plerla descobrvr a lerra prer]a baixo se hyrya nos naujo, r" n~ dlse
. \....EtiA
u"", .. o
p~ U ' UU C>!I'"
UII~O<tI" oe .... f1 ....4r I( O
87
ALBERTO VIEIRA
lhe o pilloto que vya terra de ll1uyta penedia que asy a poderya aver no maar e av[ er]
baixos e corremtes que lhe pareçya mylhor hirem v[ er] a costa nos bateys e deixar os
nauyos aly pareseo este cõselho bem ao capitão ao outro dia pIa menham mamdou
cõcertar os bateys de mamtymento e jete que lhe pareçeo ele meteo se no batel cio
naujo e do outro cleu carreguo ha allvaro afolllso! e fomos corremdo pasada hUl11a
pomta p[ er]a ha bal11da do poente vyl110S que ao pe de huma Rocha se fazia hUl11a
pedra que emtra no maar e ao pe daquella Rocha sahiao della quoatro canos daguoa
muyto fermosa ou ue o capitão de seio cle saber o tal hera aguoa tam fermosa ma111-
dou por ella e vyo que hera estremada de boã Frya e leue Emcomemdou lhe ho jfamte
que lhe leuase certas vasylhas daguoa tomou claquy hU111a p[ er]a lhe leuar corremos
maes abaixo sempre peguaclos com arvoredo achamos num vale hum Ribeyro que
vem dar no mar aly mamdou sajr em terra os que la forão acharão outra fomte a par
do mar estremada tomou aly outra vasylha p[ er]a levar ao Jfamte e chamou a esta a
fomte do seyxo fomos mais abaixo demos num vale de fermoso arvoredo achamos
ally hums cedros velhos derrybados elo tempo mamdou fazer deles huma cruz e
chamou ally sal11ta cruz pasamos mais abaixo a huma pomta grosa em que achamos
tamtos guarajaaos que nos cobryão os bateys c punham se sobre nosas cabeças e nos
Remos porque nutnca vyrão jemte ou uem os com .isto muyto prazer e chamamos aly
a pomta dos guarajaaos dally descobrymos outra pomta abaixo que seryão dally duas
leguoas. e faziase amtre estas pomtas. huma fermosa escada de terra mais bramda e
toda vynha beber na aguoa toda cuberla de muyto fcrmoso arvoredo e todo por cyma
tam yguoall que parecya fcyto a mão sem av[er] arvores mais alllas humas que as
outras senão os cedros que ja tinhamos exprememtado que omde estão sempre são
mais ali tos que as outras arvores derredor fomos corremdo a costa p[crJa este vale
demos é huam Rybeyra que botaua pedra ao mar é que podem desembarcar como é
caez aly mamdou seu cryado g I ayres que sayse é terra e com çertos companheyros
que emtrasem hum espaso pia terra a v[er] se auja allgumas alymaryas. ou bichos e
não se afàstasem na corremte da aguoa p[er]a sab[er] tornar ao mar e aos bateys forão
c tardarão la Ires oras. tornarão erramados rolyamdo cõ l11uyto prazer que não
acharão cousa vyua senão aves! Fomos mais avamte achamos hum vale ll1uyto fer-
1110S0 todo de seyxos não avya nele arvoredo ncnhum e hera todo clIbcrto dellll11cho
l11uyto fel'moso a que chamamos o 11ll11chal sahião deste vale ao mar tres Rybeyras
l11uyto fel'mosas no cabo deste vale estão dous jlhem; fomo 110S nbryguar a eles por
s[er] ja tarde tomamos em terra aguoa e lenha fizemos de cear cm hum dos j lheos de
muytas aves que tomamos e tornamos a dormyr aos bateys no outro dia pasamos mais
abaixo e chegllamdo ha pOlllta que vyramos o din damtes pos nel1a huma cruz e
chamou ally a pôta da cruz. dobramdo esta põta demos é huma praya a quoall
chamou a praya fermosa pasamdo abaixo amlre duns pomtas vymos emtrar no mar
huma Rybeyra lllUyto poderosa pedirão lhe nllglll11s 1icemea p[er]n sajr em terra v[er]
aquel1a Rybeyra e ele estaua no mal' nos bateys fhrão hUl11s dOlls mamçebos de llagll-
os p[er]a pasar a Rybcyra a vaao c a aguoa corrya tam poderosa que os lelloll ambos.
bradou o eapytão do mar que ncorresem aqueles moços que ele trazia nos olhos
acodirão lhe os de terra c tyrarão nos ambos vyuos e chamou aquelln Rybcyra dos
acorridos pasamos maes abaixo elemos e hum!l Rocha dcllguada que emtra muyto no
ma ar e el11tre aquel1a Rocha e outra fica hUIl1 braço de mar é Rel11amço metemonos
Do ARCA DE NOÉ
e aos nau-
por a terra sete anos em que destrohio
cada verão mamdaua c ferro e aço e se memtcs e
que tudo forteficaua muito de cada que semeauão menos colhião
se seta e as Reses e tudo se claun asy nvya
de e
89
ALBERTO VIEIRA
jlha por que o foguo tynha ja despejado luguar perajso e a Repartyr a terra com quem
ha aproveytase mamdou fazer prestes certos bateys. que avyão de jr por maar e ele
com allgums de cauallo e gemte de pe por terra hirem sempre ha vysta hUl1ls dos out-
ros e por nao av[ erJ caminhos e fazer detemça em partyr as terms llmdavão pouco
cada dia e cada dia hiamos dormir a cabo do mar e dos bateys. eheguamdo em hum
alIto sobre camara de 1I0bos traçou ally omde se fizese hUl1la jgreja do espryto samto
pasamos abaixo a humas serras muyto alltas. ally traçou outm jgreyjll ela vera cruz e
estes alltos tomou pera seus Erdeyros. pasou abaixo ate ehegulll' a huma Rybeira
muyto tllriosa a que chamou a Rybeira brauua aquy se l1leteo nos bateys p[crla v[er]
ha terra do maar e cheguou ate hutna ponHa que se I'aaz abaixo que emtra no maar
e na Rocha que esta sobre a pomta esta huma vea Redomda na Rocha com huns
Rayos. poslhe nome pomta do so!. dahi tornou a desebarear omde altas deixara os
bateys./ pasamdo huma Rybeyra que esta alem desta ponHa traçou huma Jgreyja em
huma ladram/ do apostollo sal1ltyaguo e alem achamos ho U1'uOI'edo njmda muyto
cerrado porque o FOgllO amdaua aimda em parte dele elecemos a humo Rybeira scm-
pre ao som daguoa viemos elar no mar omde achamos os bateys deyxnmos ally as
bestas. e quem as leuase como pudese. e metel110110S nos bateys e fomos desembar-
car a hum bom desembareadouro umtre huns penedos a que ele chamou o calheta.
sobre esta calheta tomou huma lomba da gramele que lIoguo nomeou pem seu Iilho
João gllz e ao 1I0mguo ela Rybeira p[er]a o poemte. tomou oulrn pi erl" sua Jilhn bl'y-
atiz glls E nesta outra Ilombada da mesma lilha é hum lugullr allto de bofí vysta do
mar e da terra traçou por sua mão huma Jgreyja de nosa senhora da es(relln e dise que
esta jgreyja avya de deyxar l11uyto emcol11emdada fi todos seus rylhos porque avya
muyto tempo que desejava fUllldar hU11la jgl'eyja desta lluoeaçiio dahi pmwl110s abaixo
ate a derradeira pomta sobre o mar de onde pareçe que não !la mais (erl'l'lI estamdo
aquy lhe trouxerão os elous bateys hum peyxe que pareçyn parguo de mal'llvylhosa
gramdcza c por amor deste peyxc ficou nome aquella pOl1lln do pargllo desta pomta
vyra a terra p[erJa o norte ate outra pomta que ele dally pera lms tnl~~OU ha eapilnnyll
de machico e pos nome a esta pomta de tl'ystão asi chal1laua e/c sempre trystfio e hem
lhe muyto afeyçoado daqlly nos tornamos p[er]a () fUl11chal o mais do eaminho por
maar por a terra ajmda s[er] muyto trabalhosa e começou tl por c obra a Edelicllçiio
das jgreyjas e lIavl'Hmça da terra/
90
Do ARCA DE NOÉ
assucares, e Defendo os ditos Officiaes, que não dêem licença alguma para se
cmiarem os taes paus, antes logo nas licenças, que derem declarem porque os não
hão-de cortar; sendo porem os taes paus necessários a algumas pessoas para seus
engenhos, os poderão cortar com licença dos ditos Ofticiaes, que para tal necessidade
lhes darão a tal licença informando-se primeiro se lhe são necessários e dando-lhes
sobre isso juramento, e de outra maneira não.
4" Outrosim Mando aos ditos Officiaes, que não dêem as ditas licenças para se
cortarem as ditas madeiras em parte que faça prejuízo ás aguas da dita ilha, nem as
poderão dar para se cortarem a menos de cento e cincoenta passos em redor das
Ribeiras e agllas, pelo muito prejuÍzo que d'isso lhes vem, e as pessoas que cortarem
as ditas madeiras dentro dos ditos cento e cincoenta passos incorrerão nas mesmas
penas, dos que as cortam sem licença, e para melhor guarda do sobredito: Mando aos
ditos Officiaes, que logo nas licenças que derem, declarem Como não hão-de cortar
as [aes madeiras, se não arredados cento e cincoenta passos das ditas aguas.
5" Outrosim Defendo e Mando, que pessoa alguma não ponha fogo na serra onde
as ditas madeiras e lenhas estão, nem em parte d'onde se lhe possa atear, nem
descasque as arvores que estiverem na dita ilha; porquanto pelas ditas maneiras se
secca e destroe muita parte das ditas madeiras, e sendo pessoa alguma achada, ou
sendo lhe provado que põz alguém fogo, que fez damno, e prejuÍzo nas ditas
madeiras, ou que descascou algumas arvores, incorrem em pena de vinte cruzados, e
um [\nl1O de degredo fora da dita ilha, e os que pozerem fogo, alem da dita pena
haverão a que por minhas Ordenações é determinado, aos que põem fogos.
6" E querendo alguma pessoa cortar rama para mantimento de gados, ou para outra
alguma coisa, cortará da rama de cima das arvores, e não cortará arvore alguma pelo
pé, sob pena de incorrer nas mesmas penas, em que incorrem os que cortam as
madeiras e lenhas, sem licença da Câmara, e querendo esmoutar alguma terra na dita
ilha, será avisado que não a esmoute senão com machado, e não com outra alguma
ferramenta, ou outro ferro, e será obrigado a aproveitar toda a lenha que tirar sem lhe
p6r todo, e sendo-lhe provado, que não eSl11outou com machado, ou que não
aproveitou toda a lenha que tirou, pagará vinte cruzados da cadea
7° E porque Eu sou informado, que na dita ilha ha muitas pessoas, que tratam em
tabuados e madeiras, e por não serem arreigados cortam mais da que devem e deix-
am perder muita d'ella, sem a aproveitarem: I-lei por bem e Mando que as pessoas
que assim cortarem, 110 fazer dos ditos tabuados, e madeiras, sejam casados e
moradores na dita ilha, e abonados n'ella, e nenhuma outra pessoa que não for das
ditas qualidades poderá tratar em tal negociação, e aos que forem taes, darão os ditos
OfJ1ciacs licença para cortarem as madeiras que virem que lhes são necessárias,
segundo o trato, e maneio que tem, os quaes fiança darão segura aos ditos Officiaes
;porque se obriguem a aproveitar toda a madeira, que costarem, pelas licenças que
lhes forem dadas que aproveitarão o pau todo até ao cabo, sem deixarem cousa algu-
ma c!'elle, posto que o tabuado fique curto, sob pena de cincoenta cruzados de cadea;
a qual nança outrosim darão e que os tabuados e madeiras que assim fizerem, se gas-
tarão toclos na dita ilha, sem se levarem, nem mandarem fora d'ella, sob pena de cin-
coenta cruzados, as quaes penas se haverão pelas ditas fianças que se registarão nos
Livros das Câmaras, quanClo as taes pessoas as derem. E alem da dita pena de cin-
92
Do À ARCA DE NOÉ
93
ALBERTO VIEIRA
cos, nem os acabe de cortar pelo pé sem ter licença para o poder fazer sob pena de
incorrer nas penas e; que incorrem os que põem fogo, ou cortam madeiras e lenhas,
sem licença dos Officiaes como atraz declarado
)20_ E porquanto sou informado que muitas das madeiras, se cortam e levam para
fora da dita ilha, Hei por bem e Mando que nenhuma pessoa de qualquer estado e
condição que seja, leve, nem mande levar as ditas madeiras, e lenhas fora da dita ilha
para parte alguma, nem os Mestres dos Navios as carreguem n'elles para levar para
fora, como dito é, sob pena de qualquer pessoa, que as levar, ou mandar levar para
fora da dita ilha, incorrer nas penas sobreditas, em que incorrem por esta minha
Pr09;s'0, os que as cortam sem licença dos Officiaes das Câmaras, como dito é; e
alem das penas incorrerão os Mestres dos taes Navios, em que assim forem levadas
para fora, ou se embarcarem para isso, em perdimento dos ditos Navios, a metade
para quem os accusar, e a outra metade para a Câmara das Capitanias em que car-
regarem
13"- E para melhor guarda do sobredito, Mando, que nenhum Navio parta dos
Portos da dita ilha, sem primeiro o Mestre d'elle o fazer Saber aos Officiaes das
Câmaras dos logares d'onde partirem, e haverem delles licença para fàzerem sua
viagem; e Mando aos ditos Officiaes, que quando Ih'o assim fazerem saber; antes de
lhe darem a tal licença, os mandes ser por um Offieial da Câmara, que para isso terem
juramento, para ser se levam algumas das ditas madeiras, e lenhas para tora da ilha,
e achando que as não. levam lhe passarão Alvará de licença para partirem, e partin-
do os ditos Navios sem as das licenças incorrerão nas sobreditas penas em que incor-
reriam se levassem as das madeiras, e lenhas para fora da dita ilha, e isto sc não
entenderá em alguma lenha que os taes Navios levassem para gasto, e despeza dos
mesmos Navios, e terso além d'isto os ditos Officiaes muito bom cuidado de vigia-
rem, e proverem de maneira que nos ditos Navios não se alguma das madeiras e
lenhas.
14°-Outro sim, He; por bem e Mando que nenhuma pessoa faça Náos, ou Navios
alguns na dita ilha, nem nella se renovem nem concertem na maneira seguintc Não
se poderão as ditas Náos, e Navios renovar na dita ilha tirando lhes a liação velha, c
pondo lhes outra peca e peca nem tirando-lhe o tabuado tirando tabua e pondo outra
nem se lhes farão as cobertas, ou castellos, posto que o mais seja feito em outra
parte, sómente vindo ter á dita ilha alguns Navios desbaratados ela viagem de maneira
que não possam seguir a viagem para onde forem sem algum concerto, que seja
necessário fazer-se-Ihe, pedirão licença aos Ofticiaes elas ditas Câmaras, os guues
com o Loco-Tenente de Capitão das ditas Capitanias verão por si a necessidade que
os ditos Navios te em de se repararem para a dita viagem, e lhes darão liccnça para se
poderem reparar das cousas necessárias, os quaes terão n' isso muita considcração em
como dão as taes licenças, não sendo porem para refazer os ditos Navios como dito
é, nem para fazer as cabertas, ou castellos dos taes Navios; porque para as ditns
cousas, não lhes poderão dar taes licenças, posto que lhes pedidas sejam, nem as pes-
soas a quem forem dadas poderão usar d'ellas, antes incorrerão nas mesmas penas
d'este Capitulo como se sem licença o fizessem, o que assim Defendo e Mando sob
pena do perdimento dos ditos Navios, que se na dita ilha fizerem ou reformarem ou
a que fizerem cobertas, ou castellos. e de duzentos cruzados, e quatro annos cle degre-
94
Do A ARCA DE NOÉ
95
ALBERTO VIEIRA
partes condemnadas quizerem appelIar receber-l hes hão sua appellação para a dita
Fazenda, e sendo absolutas não appellarão por parte da Justiça, antes darão livra-
mento as partes para escusar longas prisões, e gastos das partes, e os Officiaes das
Camaras terão muito cuidado de requerer aos ditos Ouvidores, que tirem as ditas
devassas, como dito e, e não as tirando os ditos Ouvidores posto que lhes não seja
requerido no tempo atraz declarado, incorrerrão na pena de cincoenta cruzados, a
metade para as obras e despesas dos Concelhos, e a outra metade para os Captivos,
e dois annos de degredo para Africa.
19° E alem das ditas devassas geraes que assim Mando tirar cada anno, poderão
os Meirinhos da serra, ou quaesquer outras pessoas do povo denunciar os casos
d'este Regimento às Justiças da dita ilha, as quaes lhes receberão as taes denunci-
ações dando-lhes juramento dos Santos Evangelhos se denunciam bem e verdadeira-
mente, e nomearão testemunhas, e as ditas Justiças tirar devassa pelos Autos das ditas
denunciações e procederão contra os culpados conforme a este Regimento, e nos taes
casos serão os ditos Meirinhos e denunciadores obrigados, a accusar as pessoas de
que assim denunciaram e haverão a metade das penas em que forem condemnadas,
que Hei por applicados para os ditos accusadores, e não accusando os taes denunci-
adores, como dito é, pagarão vinte cruzados para os Captivos, tanto que da accusação
desistirem, e proceder-se-ha no caso por parte da Justiça, e sendo as taes accusações
e denunciações feitas perante os Juizes das ditas Cidade e Villas, darão os ditos Juizes
sentenças no caso como lhes parecer justiça e appellarão para os Ouvidores das ditas
Jurisdições, e os Ouvidores para a minha Fazenda, 110 modo acima declarado; e
Mando aos Meirinhos da serra, que sejam muito diligentes, na guarda das ditas
madeiras e lenhas, porquanto o Hei assim por muito Meu Serviço, e proveito da dita
ilha, os quaes Meirinhos correrão a dita serra, e achando pessoa alguma que corte as
ditas madeiras, e lenhas contra forma d'este Regimento ou que commetta alguma das
ditas cousas defezas, acérca de cortar, esmoutar, ou cortar a rama d'ellas; acoimala-
ha, e alem das ditas penas atraz declaradas, pagarão as taes pessoas quinhentos réis
de coima pela primeira vez, e mil réis pela segunda e mais vezes, pela qual pena de
coima serão os ditos Meirinhos cridos por seu Juramento sómente, e por elle se fará
execução da dita coima nas pessoas que elle jurar que achou, e serão obrigados a vir
assentar as ditas coimas dentro de dois dias depois de tal achado, e d'ahi por deante
as não poderão mais assentar, nem se fará obra por ellas, pela condemnação da dita
coima não serão escusas as taes pessoas das mais penas d'este Regimento sendo cul-
pados em alguns dos casos n'elle contidos, sendo legitimamente provado que foram
contra elles.
20° - E porque a guarda e conservação das ditas madeiras cumpre muito ao bem
COmml1111 e Meu Serviço, e pode acontecer que Eu algumas vezes a instancia de algu-
mas pessoas conceda provisões para na dita ílha se fazerem algumas Náos, ou
Navios, e para se tirarem as ditas madeiras, e lenhas para fora d'ella, sem embargo
d'este Regimento, Hei por bem e Mando, que sendo-vos apresentadas algumas
Provisões minhas, para na dita ilha se tàzerem Náos, ou Navios, ou para se d'ella
tirarem algumas madeiras, ou lenhas, as não cumpraes. nem façaes por ellas obra
alguma sem embargo de de rogarem expressa e particularmente este Regimento ou de
quaesquer outras clausulas que tenham; e posto que n 'ellas se de clare, que as con-
96
Do ARCA DE NOÉ
mente
que
por
expressas e em todo e por todo ás
ditas Camaras na maneira acima declarada: e Mando aos Otliciaes d'ellas que em
todo o sobredito tenham como d'elles ditos
Ouvidores e Juizes que deem a '''''~'-''''v<'U
declaradas n'este que nos
eadas a pessoa Hei por bem que a metade para quem accusar os
e a outra metade para as das Cam aras e Concelhos onde as
e lenhas forem e sendo por serem accusa-
dos por da será a metade das ditas penas para as ditas ea
outra metade para os
Antonio d'Abreu o fez em aos vinte e sete dias do mez de mil
e sessenta c dois.-Eu Duarte Dias o Jlz eserever.-Rainha.-O Conde.
Florestal no nnnn/JI>I'{J(l'()
97
ALBERTO VIEIRA
GASPAR FRUTUOSO[1522-1591)
CAPÍTULO SÉTIMO
Recolhidos aos navios, teve conselho o capitão para descobrir a terra dali para
baixo; e assentou-se per parecer do piloto, que deviam de deixar ali os navios e com
os barcos descobrir a ilha, por lhe ver muita penedia, dizendo que assim podia ser ao
longo da costa; o que parecendo bem ao capitão, logo ao outro dia se meteu nos
batéis com os principais da frota, levando mantimentos e todo o necessário.
O capitão ia no batel do navio com o piloto, e do outro deu cargo a Alvaro Afonso;
e foram, assim, correndo a costa com brando mar, galherno (sic) tempo e manso
vento, em calma a costa toda à beira da terra, e, passada uma ponta que fazia a terra
para baixo, ao Ponente, viram ao pé de uma rocha que entrava no mar, sair dela qua-
tro canos de água que a natureza ali fizera tão formosa, como se fora chafariz feito ú
mão, onde, tendo o capitão desejo de saber que tal era aquela água, que tão clara
parecia, mandou buscar dela e achou-a que era estremada, boa e fria e leve, e daqu i
levou uma vasilha para o Infante, antre outras coisas que lhe encomendou.
Correndo mais abaixo, sempre apegados com terra, acharam em um fresco vale e
ameno prado um ribeiro de agua, que vinha sair ao mar com llluita frescura; ali fez
sair alguns em terra, onde os que saíram acharam outra fonte, que saia debaixo de um
grande e antigo e liso seixo, e era tão preciosa e fria, que mandou clela encher outra
vasilha para levar ao Infante; e põs este porto nome (por causa do que nele achou), o
porto do Seixo, como hoje se chama.
Indo assim costeando a ilha ao longo do arvoredo, que, em partes, chegava ao mar,
passando uma volta que faz a terra,. entraram em uma formosa angra, na praia da
qual acharam um 10rl11oso e deleitoso vale, coberto de arvoredo por sua ordem com-
posto, onde acharam em terra uns cepos velhos derribados do tempo, dos quais man-
dou o capitão fazer uma cruz, que logo fez arvorar em um alto de uma arvore, dando
nome ao lugar Santa Cruz, anele se depois fundou uma nobre vila, a maior, mais rica
e melhor povoação de toda a parte de Machico- e é tão nobre em seus moraclores,
que, a não ser Machico cabeça daquela jurdição, por ser primeiro achada, ela fora
cabeceira e a principal de toda aquela capitania, que tão bem assentada esta, onde
tinha almndega e oficiais dela.
Passados mais abaixo, em uma parte da terra saíram, por estar tudo cercado de
altas rochas e arvoredo, é não viam mais que correntes, ribeiras, fontes e regatos, que,
98
Do ARCA DE NOÉ
modo acima
viram entrar no mar uma e
uns mancebos de para saírem em terra
e ver a que espaçosa e ficando com os outros 110
os mandou fora barco de Alvaro
teram passar a ribeira a vau e, como ela era soberba em suas
e fúria ao mar, que na veia da agua caíram e a ribeira os
99
ALBERTO VIEIRA
reram sem falta perigo, se o capitão do mar não bradara ao batel de Alvaro Afonso,
que em terra estava com a gente, onde eles foram, que corressem depressa aqueles
mancebos, que a corrente da ribeira levava, às vozes do qual foram os mancebos
acorridos e livres do perigo da agua, com que o capitão ficou contente, porque os
trazia nos olhos; e daqui ficou o nome ã ribeira, que hoje, este dia, se chama Ribeira
dos Acorridos, que peor pareceu àqueles mancebos de perto, do que lhe pareceu
primeiro de longe.
Daqui passaram mais abaixo até dar em uma rocha delgada, a maneira de ponta
baixa, que entra muito no mar, e, entre esta rocha e outra, fica um braço de mar em
remanso, onde a Natureza fez uma grande lapa, a modo de câmara de pedra e rocha
viva; aqui se mcteram com os bateis, onde acharam tantos lobos marinhos, que era
espanto, e não foi pequeno refresco e passatempo para a gente, porque mataram
muitos cleles e tiveram na matança muito prazer e festa, pelo que deu nome a este
remanso Câmara de Lobos, donde este capitão João Gonçalves tomou o apelido, por
ser a derradeira parte que descobriu deste giro e caminho, que fez; e deste lugar
tomou suas-armas, que el-rei lhe deu, tornando ao Regno, como adiante contarei.
Deste lugar de Câmara de Lobos não passaram mais para baixo, assim porque lhc
ficavam os navios longe, como porque daqui não puderam ver bem para baixo a costa
com o muito arvoredo. Contudo, quando se saiam desta câmara e remanso, da ponta
do mar viram uma rocha muito alta, logo ai apegado e arrebentar no mar em uma
ponta que ela abaixo fazia, a qual lhe ficou por meta e tlm do seu descobrimento, e
lhe deram nome o Cabo de Girão por ser daquela vez a derradeira parte e cabo do
giro de seu caminho. Daqui tornaram outra vez dormir aquele dia ao ilhéu da noite
passada, onde dormiram nos batéis a ele abrigados, e, ao outro dia seguinte, foram
dormir aos navios e, chegando com muito prazer, acharam com muito maior os que
neles ficaram, pe los verem tão contentes e satisfeitos da fertilidade, frescura e bOIl-
clndc, que lhe contavam do sitio da ilha e portos que deixavam descobertos, fazendo
todos, juntamente, muita festa e dando muitas graças ao Senhor, pela grande mercê
que lhes tinha feita.
Partidos, pois, estes capitães de Lisboa, trouxe João Gonçalves sua mulher,
Constància Rodrigues de Almeida (pessoa tão católíca, como virtuosa), e três filhos
que dela tinha, João Gonçalves, Helena e Breatiz, meninos ele pouea idade. E deu
licença el-rei a toda a pessoa que quisesse vir com ele para povoação elas ditas ilhas,
assim a cio Porto Santo como da Madeira; mandou dar os homiziados e condenados,
que houvesse pelas cadeias e Regno, dos quais João Gonçalves não quis levar nen-
hum dos culpados por causa da fé, ou treição, ou por ladrão; das outras culpas e
homizios levou todos os que houve e foram clele bem tratados; e, da outra gente, que
por sua vontade queriam buscar vicia e ventura, foram muitos, os mais deles do
Algarve.
Levaram estes capitães gado e aves, animais domésticos e coelhos para lançar na
terra. Chegados ao Porto Santo, foram dar em um porto da banda de Leste, onde
acharam uns frades da ordem de São Francisco, que escaparam de U111 naull"{lgío, de
que todos pereceram, senão eles, que acharam quase mortos, por não terem que
comer; donde deram nome a este porto, que se ora chama o porto dos Frades.
Saídos todos em terra, pareceu bem a BartoloIllCU Palestrelo a disposição dela, por
100
Do ARCA DE NOÉ
CAPITULO NONO
que da meio é da
q ue está da banda do até a Fonte da que cai da banda do e
quase toda é da mesma E demora esta ilha Nordeste Sudoeste com os
e está de Lisboa cento e
assim chamado por haver ali na rocha muita
ao Nordeste da vem ter ao mar de
banda do
ainda que vcm
101
ALBERTO VIEIRA
Do Penedo do S0l10 até ao ilhéu do Boqueirão, que será espaço pouco mais de
légua e meia, que é a ponta derradeira do Poente da ilha, é tudo areia branca, sem ter
nenhuma pedra, e é baia não muito curva, nem com grandes pontas ao mar, porque
com qualquer tempo podem sair os navios do porto da Vila, que esta no meio desta
baia e praia, que, pela razão do porto já dita, se chama a Vila do Porto Santo, a qual
tem a freguesia do Salvador, sem haver outra em toda a ilha, e a ela vêm ouvir missa
todos os moradores, ainda que tenham sua habitação em diversas partes dela. E, antes
de chegar à Vila, todas aquelas terras até a mesma Vila eram povoadas de dragoeiros
quando se achou a ilha; chama-se ali o Vale do Touro, por se criarem nela touros e
muito gado desde o principio, quando o deitaram na terra:
Nesta Vila do Porto Santo, quc esta, da parte do Sul, no l11eio da praia já dita, não
estão as casas perto do mar por causa da areia, que as atupira logo, mas havení do
mar às primeiras um tiro de besta. Terá a vila, pouco mais ou menos, quatrocentos
fogos, afora outnls pessoas que 1110ram pelos montes. e, além ela igreja, que é n'egue-
sia da invocação do Salvador, que é boa, tem uma ermida de São Sebastião e outra
de Santa Caterina. Esta situada em terra chã e, pelo meio da Vila, corre ao Nortc ao
Sul uma ribeira, todo ano, de agua salgada, quase como a do mar, e, ainda que tal,
regam com ela muitas hortas de couves e ela mais hortaliça, que é estremada 110 gosto,
posto que seja regada com água que o não tem. E ao longo desta costa, ainda que seja
de areia, ha muitas vinhas, que dão boas uvas; criam-se nclas muitos caraeóis bran-
cos, em tanta maneira, que, em partes, cobrem tanto o cacho das uvas, que lhe não
aparece bago. Têm estas vinhas, da banda do mar, por tapumes muilo baslos e altos
espinheiros alvares, que se criam na arda, e, ainda que com o vento se atupalll dela,
crescem muito, por onde é bom tapume, e nelcs se cmbarram muitos cocll1o's, de que
toda a terra é l11uito povonda, e com I1sgotes e dardos os fisgam e matam nos espin-
heiros, onde também se criam muitas mélroas que fazem muito dano nas uvas e nus
amoras, porque há ali muitas amoreiras e ligueiras, de diversas castas, eujo rruto, por
a qualidnde da terra e por o deixarem bem madurccer, tcm bom gosto.
Finalmente esta ilha do Porto Santo é mui sacJia, de bons e lh.!scos ares, ainda que
é pequena, de três léguas c meia cIe comprido e uma e l110ia de largo, pouco mais ou
menos (como já disse); e não tem águas, por ser seca e de pouco arvoredo, e o prin-
cípal (tirando os dragoeiros) é zimbro e urze. E el11 muitas partes destu ilha produz-
iu a Natureza Illuitos dragoeiros, do tronco dos quais sc 1hz muitu louça, e muitos são
tão grossos, quc se fabricam de um só pau barcos que hojll cm dia hú, que silo capazes
de seis, sete homens, que vão pesem neles, e gamelas qllll levam um l11oio de trigo.
Tira-se desta louça bom proveito, de que se paga dízima II el-rei, c se aprovcitlll1l
muito do sangue do dragão, muito prezndo llas boticas; crinm estes dragociros lima
fruta redonda que, madura, se Ü1Z muito amarela, e é mui doce, c no tempo que havia
muitos dragoeiros engordavam os porcos com este fi'uto (que são como avelãs c,
assim, se chamavam maçainhas); já agora hú poucos e vão HJllundo, pelo l1luito
proveito que se fazia nas gamelas dcles, que são muito IllveH, como suo secas, e tam-
bém nas rodelas.
E, como já disse, pela maior parte ela ilha, espeeialmente para a banda das serras
e terras de massapez, há muitos cardos pum comer, e soia a valer um saCll deles um
vintém, alporcados e muito doces, e111 alguns postos da lerrn. 'l'em também esta ilha,
102
Do À ARCA DE NoÉ
CAPITULO DECIMO
103
ALBERTO VIEIRA
a qual ilha com o Porto Santo está Nordeste Sudoeste, da mesma maneira que está o
Porto Santo com a Barra de Lisboa, ou com os Cachopos, e são doze léguas de teITa
a telTa; e tem três ilhas, de que adiante direi, que se chamam as Desertas e estão Norte
e Sul com a mesma ponta de São Lourenço três léguas de uma terra a outra.
A Gran Canaria está com esta ilha da Madeira ao Sul e à quarta do Sueste e, ordi-
nariamente, quase todas as ilhas de Canaria (como já disse acima) demoram desta
ilha do Sul até o Sueste, pouco mais ou menos, e quem for por vinte e oito graus
atravessará as ilhas Canárias todas; a Palma, que é uma delas e dista da cidade do
Funchal setenta léguas, demora da mesma cidade ao Sul e quarta do Sudoeste, e, res-
guardando-se de irem ao Sudoeste, porque é derrota falsa, e errando a ilha, não a
poderão tornar a tomar por causa dos ventos e aguagens que ventam naquelas partes.
Tenerife esta Norte e Sul com o porto da ilha da Madeira outras setenta léguas.
Da parte do Norte não tem a ilha da Madeira carregações, para que navios possam
carregar, senão no verão, porque a terra não é para isso, nem tem portos, mas tem
bons abrigos para navios, quando há tempo contrário da parte do Sul, por ser alta.
Terá de comprido dezasseis léguas e meia e de largo quatro, pouco mais ou menos,
ou, como outros querem, dezoito de comprido e perto de seis de largo; e principal-
mente dizem que tem esta largura, tomando a ilha pelo meio dela, para a parte de
Loeste, que é a do Ponente, onde tem o basis rombo, mas para a parte de Leste vai
aguçando até a ponta de São Lourenço e é mais estreita e delgada.
Sua compridão é de Leste a Oeste, da parte de São Lourenço, que esta a Leste, até
à ponta do largo, que está a Oeste, onde se acaba sua compridão. Tem uma grande
baia da parte do Sul, que começa da Ponta de São Lourenço até à ponta do Pargo, que
está uma légua antes de chegar à cidade, e terá de ponta a ponta cinco léguas; em toda
esta costa se pode surgir, porque e bom surgidouro, de até vinte braças, a que se
podem chegar os navios bem, sem temor dela.
Alguns dizem que a ponta de São Lourenço está a Lés-nordeste, e que demora o
Porto Santo dela doze léguas ao Nordeste. Partindo da ponta de São LOlJl'enço (que
se chamou assim por ali o primeiro capitão, João Gonçalves Zargo, chamar por ele,
acalmando-lhe o vento) pela banda do Sul para o Ocidente, uma légua da ponta está
uma povoação de perto de quinze moradores, que se chama o Caniçal; são terras
rasas e de pão. Do Caniçal até a vila de Machico há duas léguas, que são da terra
muito alta, de rochas e picos e mato, e onde se emparelham com a vila, que é à boca
de lima formosa e mui crescida ribeira, ao longo da qual a mesma vila esta situada;
faz a terra uma grande enseada com has pontas, cuja boca terá um quarto de légua de
largo, e da barra para dentro estão uns baixos no meio da enseada, sobre um dos quais
(que de maré vazia descobre parte dele) está arvorada uma cruz por marca, com que
se desviam os navios, para que, entrando no porto, não vão dar neles.
Este porto de Machico, além da grande majestade que tem (como já tenho dito). é
muito bom com todos os ventos por ser a terra de uma c outra parle muito alta. e,
como começam os navios a entrar da barra para dentro, ficam como em um manso
rio, salvo quando aboca por ela o Lés-sueste que, então, se é muito rijo, não podem
sair para fora e convém amarrar-se bem, porque, se se desamarram, não têm remédio
senão enxorar pela ribeira acima e enfiar-se com ela, como já aconteceu muitas
vezes.
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Do À ARCA DE NOÉ
105
ALBERTO VIEIRA
car, e há por ela acima muitos canaviais dele e também muitos vinhos.
Andando mais adiante desta ribeira quase uma légua, está uma povoação de trin-
ta vizinhos do mesmo termo de Santa Cruz, que se chama Gaula, que tem muitas vin-
has de malvasias e muitos outros vidonhos.
De Gaula um tiro de besta, indo para a cidade, está uma grande ribeira, muito
funda, que se chama do Porto Novo, por o ter muito bom para carregar os vinhos, que
há nela, de boas malvasias, que são as melhores da ilha, e de outros vidonhos, que
em aquela ribeira se colhem cada ano mais de trezentas pipas de vinho; e tem casais
por ela acima, e muita fruta e muita agua boa.
Meia légua mais adiante está a fazenda de João Dornelas, do Caniço, homem
fidalgo, casado com Dona Mécia, irmã de Dom Luís de Moura, estribciro-mor do
Infante Dom Duarte e pai de Dom Cristóvão de Moura, muito privado do grande Rei
Filipe e casado com uma filha de Vasqueanes Corte-Real, com a qual lhe fez el-rei
mercê da capitania da ilha Terceira, por falecimento do capitão Manuel Corte-Real,
de que não ficou herdeiro; a fazenda de João Dornelas é uma quintã com scu engen-
ho de açúcar e vinhas, e foi casa muito abastada.
Desta casa para o Ocidente um quinto de légua, pegado com o caminho, está a
fazenda das Moças, filhas de um João de Teives (que assim se chamaram estas nobres
fêmeas, ainda que velhas morreram, por permanecerem semprc, sem casar, na
primeira limpeza, com muita honra e virtude e santo exemplo de vida), que é um
engenho de açúcar, e boas e chãs terras de canas, e tem dentro, apegado eom umas
grandes casarias, uma rica igreja.
Daqui, adiante, quase meia légua estú uma aldeiH de duzentos fogm; com uma
igreja da invocação do Espirita Santo, que se chama o Caniço, cm lima ribeira que
corre do Norte para o Sul, acompanhada de muitas vinhas cle muitos vidonhos e de
boas malvasias; ao mar deste lugar esta a ponta da Oliveira, onde se pruntou uma, por
balisa da repartição das duas capitanias, que por esta ribeira se partem, ficando a de
Machico ao Nascente e a do Funchal ao Ponente, e por ela dizem quc vai a demar-
cação da borda do mar do Sul até ã outra banda do Norte; porque deste ClIniço até ()
longo do mar haverá um quarto de légua, onde está o porto onde se carrega tudo o
que há nesta parte, e chama-se Caniço de Baixo, a respeito do outro, que Caniço dc
Cima é chamado.
Do Caniço a um tiro de besta esta lima azenha, a par do caminho, que mói e0111
pouca agua, que traz para os moradores do mesmo ('aniço. E mais adiante uma légua.
Uma egreja de Nossa Senhora das Neves, à vista do Funchal, sore umll ponta que se
chama o Garajau, uma légua antes chegar ã cidade, na qual, ao longo do mar, estão
alguns dragoeiros, que a fazem mais formosa.
Primeiro que cheguem a esta igreja um tiro de besta, estão no cominho umas
árvores altas, chamadas barbuzanos, em cuja sombra costumum descunsar os cumin-
hantes, onde se conta que, vindo, de noite, um clérigo de missa do Caniço sara ()
Funchal, debaixo das árvores achou um companheiro que lhe falou e, começando a
caminhar ambos, emparelham com uma igreja que estú à borda do cuminho e tem
uma cerca de muro derredor, cometeu () clérigo ao companheiro que JllHsem fazer
oração, o qual lhe respondeu que já lá fora. Foi, contudo, () cl6rigo a lhzer a sua e,
saindo da cerca, achou companheiro, que lhe pediu a loba e lha levou tis I;os(as, e,
106
Do À ARCA DE NOÉ
a caminhar por uma ladeira abaixo antre as vinhas até uma ribeira
seca, que está no fim da onde faz um remanso como ali o cometeu
que lutasse com sendo alta noite. Vendo o tal cometimento em tal
e tais que vinha caindo do caminho e que não fazia a caso
tendo ruim e tornaram a andar indo ainda ladeira abaixo até
à rocha do mar, que é muito da
o tornou a meter que lhe
benzer e arrenegar do e ali lhe r!a"",,o.ann"
vindo o
por ser lutador este o
porque este é seu costume, e que se deixou lutando ambos à
veio , por o o achar muito vendo-se levar a a
disse "Jesus me valha", e que a esta ira o demónio. Mas o que nr,mp·u·"
disse se tem por mais verdadeiro.
Meia de Nossa Senhora das Neves esta uma ribeira seca, que não
corre senão no que se chama a Ribeira do onde dizem que
aparece lima fantasma em de um vezes com formas as
costas. Ha por esta ribeira acima muitas vinhas. E um de adiante dela está
de um tiro de besta de outra, do que esta
casas da cidade do chama-se ali o cabo do Calhau.
CAPITULO DECIMO
EM SE VAI CONTINUANDO A
DA MADEIRA PELA BANDA DA COSTA DO DESDE
A PRAIA UMA DA CIDADE DO
A PONTA DO É O FIM DA ILHA DA PARTE NORTE
107
ALBERTO VIEIRA
montes e serranias, onde têm suas rumas de lenha posta, e lançam-na à ribeira pelas
rochas abaixo, que são muito altas; a agua, como é muita, traz aquela multidão de
lenha e muitos daqueles homens trazem uns ganchos de ferro metidos em umas
hastes de pau compridas, com os quais desembarcam e desembaraçam a lenha, que
vem toda pela ribeira abaixo, e, se (como acontece muitas vezes) acerta de cair algum
deles na ribeira, com aqueles ganchos apegam dele por onde se acerta, ainda que o
firam, com que, ou morto ou vivo, o tiram fora da agua, e acontece algumas vezes
morrerem alguns homens neste grande trabalho. Vindo com esta lenha pela ribeira
abaixo com grande arruído e pressa, e comidas e bebidas, que para este efeito ajun-
tam e o trabalho requer, quando chegam junto dos engenhos, onde a ribeira espraia e
faz maior largura, espalha-se a água, por ser a ribeira muito chã, e, ficando quase em
seco, dali a tiram com os mesmos ganchos, e cada um dos senhorios, por sua marca,
aparta a sua, pondo-a em rumas muito grandes para o tempo da açarrn do açúcar. Mas
acontece algumas vezes, chovendo em demasia na serra, que enche a ribeira muito e
leva muita cópia desta lenha ao mar, em que se perde grande parte do cuslo que têm
feito.
Perto da Jonte, onde nasce a agua desta ribeira dos Acorridos, se tirou a levada
dela para moer o engenho de Luís de Noronha, e dizem que do lugar donde ã
começaram de tirm' até onde vai ao engenho e regar os canaviais, ha bem quatro
léguas, por se tirar de tão grande fundura da ribeira em voltas, quc, para chegar arri-
ba, ã superficie da terra, para começar a caminhar, atravessando lombas, Ü1Zl.mdo
grandes rodeios per cima, pela serra, por onde vai esta levada, tem de alto mais de
seiscentas braças, da qual altura, que é muito íngreme, se tira fi agua em cales de pau,
em voltas, até se pôr na terra feita; e scm f111ta custou chegar. O mcsmo que calhas.
pô-la em tal lugar passante de vinte mil cruzados, afora o muito mais que fez de custo
levada dali quatro léguas, alem, de muitas mortes de homcns, que trabalhavam nela
em cestos amarrados com cordas, dependurados pela rocha, como qucm apanhu
urze la, porque é tão alcantilada e íngreme a rocha em muitas pnrtcs, quc não se fazi-
am, nem se podiam fazer de outra maneira estâncias parn assentar as cales sem pas-
sar por este perigo. Tem duzentos e oitenta lanços delas, por onde vai esta agua, que,
postos enfiados um diante do outro, terão um quarto de légua dc eomprido. São de
tavoado de madcira de til, que, pela maior parte, tem cada taVOl\ vinte palmos de
comprido e dois e meio de largo; e, depois de assentadas cstas cales na rocha, rnzem
o caminho por dentro delas os levadeiros, que continuamente têm cuidado de as
remendar e consertar, alimpando-as também da sujidade c pedras que acontece cair
nelas, e fazer outras coisas necessárias à levada, pelo que têm grossos soldos, por
terem oficio de tão grande trabalho e tanto perigo.
Nesta rocha está uma /llrna muito grande, que serve de casa para os levudeil'Os e
para guardar nela munições necessárias de enxadas, alviões, barras, picõcs e marrões
e outras ferramentas; e nela se metem cada ano dez, doze pipas de vinho para os que
trabalham na levada e outras pessoas que a vão ajudar n rcformur, quando qucbrnm
alguns lanços de cales. E é coisa monstruosa a quem vê isto com seus olhos a estran-
ha e aventureira invenção, que se teve para se tirar dali esta água.
Tem o senhor desta levada alvará clc el-rei para que os seus lcvadeiros e homens,
que trabalham nela, possam tomar paru comer cabras e porcos, que hú muitos nuque-
108
Do ARCA DE NOÉ
las serras, ainda que seus não sem por isso serem mas
que os donos dos tais serão pagos do seu, sem crime
Da mesma mais abaixo para o tirou António Correia outra levada para
regar as terras da que estão sobre Câmara de também de muito
custo,
Indo da ribeira dos Acorridos para o Ocidente um esta uma
que chamam Câmara de do mar, que tem uma calheta pequena e uma
onde ou dormem ainda de que tomou nome o
""IJH'"'''' da achar nela ° João
tenho contado, Tem esta
aldeia como duzentos
e outro Duarte e
muitas frutas de toda sorte, e muita
Dois tiros de besta de Câmara de Lobos para o está um
moesteiro da de São de frades em que estão con-
tinuamente ou oito muito abastado de ia a fruta e vinhos.
Acima dele estão os pomares do que têm muita castanha e noz, e de
toda sorte muito e vinhas e c uma que se ama o
de até trinta é de Nossa Senhora do Rosairo.
De Câmara de Lobos para o Ocidente ladeira acima tá uma lombada assim
se chamam as lombas de terra que com a rocha do mar e é a mais
alta toda a terra, chamada e, por outro nome, a Caldeira lima cova,
que tem ali a terra, que é agora dos herdeiros de António homens mui
e que dá muitas e boas canas de E parece que
tomaram o nome os Caldeiras da se o não trouxeram do que nela há
e muito honrada.
De maneira que Câmara de
senhor da levada da ribeira dos
casarias de seus e sua com
para que ouçam missa os que trabalham para que cumpram com o
os e e o mesmo se ha-de entender de todas ou as
mais das fazendas da que estão fora da cidade e ou porque todas
para este efeito.
boas terras de canas e de e mas vinhas poucas, por
ser a terra ainda que ao do mar tem o mesmo Luís de Noronha uma
pomar e vinhas de muito preço, e que dá cada ano
de malvasias, E esta ribeira dos que parece que os há naque-
vlLl"UU", que dá também muitas canas e, em
109
ALBERTO VIEIRA
110
Do À ARCA DE NOÉ
112
Do À ARCA DE Nor:
de duzentos e
com e muitas frutas
noz e de outra sorte, muitas
está que é
São Braz. Tem muitas terras de e
e tl'uta de toda sorte.
que é de trinta que tem
13
ALBERTO VIEIRA
muitas criações e lavoura de pão, e muitas águas. Está esta ü'eguesia, pela terra den-
tro, perto de meia légua na ponta de Tristão, que se chama assim por ele a descobrir
primeiro, onde se partem as capitanias pela banda do Norte, porque por esta parte se
estende mais a capitania de Machico que pela banda do Sul, onde começa na ponta
da Oliveira, pela que ali mandou prantar o capitão João Gonçalves, como tenho dito,
que está ao mar do lugar do Caniço ao Sueste, vindo dela a demarcação pelo meio da
terra, que são grandes serranias do Nascente para o Poente, pela banda do Norte, até
chegar a esta ponta de Tristão, que está ao Noroeste; sendo estas duas pontas, a da
Oliveira, da banda do Sul, e a de Tristão, da parte do Norte, as balisas e extremos da
repartição destas duas capitanias do Funchal e Machico,licando a ilha partida de
Noroeste a Sueste, como estão estas pontas, e, tirando catorze léguas, da banda do
Sul, que é o melhor de toda a ilha, e três da banda do Norte, dajurdição da capitania
do Funchal, todo o mais da ilha fica da jurdição da capitania de Machico,
Desta ponta de Tristão, que está ao Noroeste, da parte do Norte, vim a costa para
o Sul, fàzendo a terra, ou a figura de pirâmide dela, sua basis, ou pé, e assento por
espaço de três léguas, que, segundo alguns, ha dela c desta freguesia da Madalena,
pela banda do Ocidente, até a ponta do Pargo, onele acabei a banda do Sul e acabo
agora a descrição de toda a ilha pela costa dela, com que fica com ti ligura de
pir3mide, que já disse, um lado da qual é da ponta de S. Lourenço, que está ao
Oriente, até à ponta do Pargo, que está ao Ocidente, pela banda do Sul, e o outro laelo
é da mesma ponta de S. Lourenço, do Nascente, até à ponta dc Tristão, que está ao
Ocidente, pela banda do Norte; e a basis é desta ponta de Tristão nté n ponta do Pnrgo,
que outros dizem ser duas léguas, com que fica com figura de pirâmide, mas, por
nesta basis não ir a terra cortando direita, senão com algum rodeio curva c no meio
larga e na ponta aguda, fica toda esta ilha da Madeira parecendo mais I<.llha de plá-
tano que pirâmide. E, ainda que, como pirâmide se acha pintada em algumas cartas
de marear, em outras tem figura de folha de álamo, porque, eOl11o esta úrvore, está
prantada e alevantada no meio das aguas do grande mar Oceano Oeidentu I, em bOI11
clima, e regada com muitas e ü'escas ribeiras e, abundantemente, dó seus frutos mui
perfeitos a seu tempo.
( ... )
Tomando a terra desta ilha pelo meio, da ponta de S. Lourenço, que esta ao
Nascente, à, ponta do Pargo, que jaz ao Ocidente, toda é terra de grundes serranias e
altos montes, alta em tanta maneira, que faz abrigo nos navios, que se ehegum a elu
da banda do Norte, ventando muito do Sul, até dez léguas da terra.
Toda esta ilha é fragosissima e povoada de alto e fresco arvoredo, que, por HeI' tal,
se perdem alguns caminhantes nos caminhos, e aconteceujú alguns, perdidos, neles
morrerem, E não, tão somente, há pelo meio c lombo da terra grnndes c alevalltndns
serranias, mas também gl'Otas e altas funduras, cobcrtas de matos c gros:ws paus c
114
Do À ARCA DE NOÉ
115
ALBERTO VIEIRA
muitas partes desta ilha há muitas nogueiras e castanheiros, que dão muita noz e cas-
tanha, em tanta maneira, que vale o alqueire a três e quatro vinténs e se afirma que
se colhe em toda ela de ambas estas fi:utas de noz e castanha, juntamente cada ano,
passante de cem moios; também dá amêndoas, e de tudo carregam bem as árvores .
. Há nesta ilha da Madeira muito sumagre, que serve para curtir couro, principal-
mente o cordavão, porque o faz muito brando e alvo; este sumagre se pranta em
covas pequenas, como quem pranta rosas e vinha; tem a haste, como feito, e a rama
semelhante ao mesmo feito; dá-se em terras altas e fracas; colhe-se cada ano, cor-
tando-se rente com a terra para não secar a soca dele e poder tornar a arrebentar, por
ser planta que dura muitos anos na terra. É novidade de muito proveito, porque mul-
tiplica tanto, que se enchem os campos dele como enchem as roseiras, e lavra a raiz
por baixo da terra, e o que se dá na ilha é muito fino e, apanhada a rama, que é o dito
sumagre. se deita ao Sol, seca, se mói em engenho de água, assim como se mói o pas-
tel nesta ilha, e se faz cm pó, e, moído, o carregam para diversas partes em sacas e
pipas.
Criam-se também na ilha da Madeira alguns gaviães e açores, que parece que vêm
ali com tormentas de alguma terra perto, que está por descobrir, bilhafres, francelhos,
corujas, e há nela muitas perdizes, pavões, galipavos, galinhas de Guiné, e as outras
domésticas, pombos trocazes, pretos e brancos, patas e adens, pombas bravas e
mansas, muitos melros, canarios, pintassilgos (sic), toutinegras, lavandeiras, tentil-
hões, codornizes, rolas, poupas e coelhos, cagarras, afora gaivotas, estapagados e
outras aves do mar.
( ... )
[Gaspar Frutuoso, Livro segundo das Saudades da Terra, Ponta Delgada, 1979,
pp,45-49, 54-55. 56-58,632-63,99-107, 119-140.]
Eu EIRey faço saber .aos que este Alvará virem, que em Representações da
Camara da ilha do Porto Santo, justificadas por exactas informações do Governador
e Capitão General da ilha da Madeira, João António de Sá Pereira; e qualificadas por
Consulta, que em treze de Julho proximo precedente subio do Conselho da Minha
Real Fazenda, se verificou na Minha Presença que sendo a mesma ilha, e ilheos a ela
adjacentes, administrados por hum Donatario, sem meio para conservar em paz,
justiça e abundancia.
E havendo-se os povos della precipitado na maior ociosidade, e inercia, por falta
de quem nelles fomentasse e progredisse o trabalho, e a industria para se sustentarem,
virem por cOllsequencia de tudo a serem expellidos pelos poderosos, e usurarios;
seguindo-se de tudo o referido precipitar-se a mesma ilha em tal decadencia, e tão
116
Do A ARCA DE NOÉ
Ir
E porque me foi que na mesma ilha do Porto Santo tem a mal
de sorte que todos os sobreditos moradores deli a cuidam em alle-
F,v"vu'v,",mu para do e obviando os que tem causado
estes vadios: Sou servido declarallos por inhabeis para ao de
Procuradores do Conselho e mais e honoríficos
inbabilitando os que não fizerem lavouras para os ditos cargos, c
outros de Fazenda.
II[
outro sim que Governador e General da ilha da
mandando escolher entre os filhos dos referidos que não fizeram
que parecerem mais no numero de seis para o Oficio de
lYapatewo; outros tantos para o de dous para o de para o ele
outros para o de dous para o de os fará entrc-
17
ALBERTO VIEIRA
gar a Mestres dos respectivos Omcios para que os ensinem, remettendo-os, depois
aos parrentes nos mesmos officios á dita ilha para nella exercitarem as suas Artes.
IV
Prohibo que Mercador, Vendilhão, ou outro algum traficante possam fazer penho.
ra em gados vacuns, cavallares ou l11iuelos, e em quaisquer instrumentos de lavouras,
e serventia della por quaesquer dividas de fazendas fiadas ou dinheiros adeantados
em interesse; nem tão pouco nos frutos da mesma lavoura, que necessários forem
para as sementes das Terras e comedorias proporcionados aos que nellas trabalharem.
V
E attendcndo á necessidade de madeiras que ha naqllclla ilha: Sou servido con-
ceder aos moradores dclla o Privilegio de que possam cxtrair da ilha da Madeira
todas as que necessarias lhcs forem para as suas abegllarias, e concertos elas Suas
casas pelos preços ordinarios, estabelecendo-se para elles humajusta tarifa que fique
sempre enalteravel.
VI
Ordeno, que todos os sobreditos Lavradores, sejam obrigados a plantar arvores
nos testaclos das suas Terras jj'onteiras ao Mar, e ribeiros; COI11 tal declaração, que
aquclles, que assim o não houverem executaclo no termo de trez annos, não poderão
gozar dos reH:ridos Privilegios.
VII
E ultimamente hei outro sim por bem ordenar, que o Capitão General da referida
ilha da Madeira mancle logo separar e dividir pelo Corregedor da Comarca, eom
assistencia & Sargento Mór de Infantaria com exercicio de Engenheiro Francisco de
A leneoll1', as Terras, que hão dc pagar quinto, e oitavo, para /icarem sempre con·
hecidas por taes, indo cllc Governador e Capitão General authorizar com a sua pre·
sença 11 execuçi'ío de tudo o rcferido até deixar os moradores na paci lica posse de
todas as sobreditas propriedades, e Privilegios; deixando-os na eerteza de que os
restituirá eontra qualquer violencia, Oll infracção, que contra clles seja intentada por
quaesquer pessoas cle qualquer estado, e condição quc sejam.
E este sc eUl11pril'l1 tão inteiramente como nelle se contém, scm duvida ou embar·
go algum. Pelo que:
Mando ú Meza do Desembargo do Paço; ao Inspector do Meu El'úrio; ao Cardeal
Regedor da Casa da Supplicação; Consclho de Minha Fazenda; Governador e
Capitão General da ilha da Madeira; Ministros, Olliciais dc Justiça e mais pessoas
dclla, a quem o conhecimcnto deste Alvarú pertencer, o cumpram, c guardem c l'hçam
cumprir, e guardar tão inteiramente como nelle se eontém; e não ohstante quacsquer
Regimentos, Leis, Fomes, Ordens, ou cstillos <.:ontrarios, que todas, e todos hci por
derrogados para cste elfeito sómente,licanc!o aliús sempre cm SQU vigor; c valerá
eomo Carta passada pela Chaneelaria, posto quc por ella não ha de p~,ssar, e o seu
effeito haja de durar mais de hum e muitos annos, sem embargo das Ordenações em
contrario; c se registará nos Livros ti que pcrtenQer, mandando-se () original para a
Torrc do Tombo.
11 H
Do ARCA DE NOÉ
TITULO I
DA DAS TERRAS
TITULO VI
PASTORES E EM TEMPO. OUE TRAGAM AGUIL-
I-fADAS
TITULO XIX
DA DAS ARVORES
19
ALBERTO VIEIRA
TITULO XX
DAS PLANTADAS NOS MONTADOS
TITULO XXI
DO MODO DE VEDAREM AS ARÉAS PARA QUE ESTAS NÃO PREJ-
UDIQUEM AS TERRAS CIRCUMVISINHAS
E sendo huma grande parte e a melhor das terras que desde muitos annos até o pre-
sente se coberto d'areias com tão notavel damno que annualmente se experimenta e
vai crescendo, cada mais a sobredita ruina e estrago: todos os lavradores da circun-
ferencia das faldas do areal da terra sejam desde logo, e sem perda de tempo obriga-
dos. para obstar hum mal tão publico e tão notaria plantar em cêrca do monte donde
nascem as dittas arêas, trez, quatro, e mais ordens de espinhe o mais condensado que
se possa, confonne o Inspector julgar bastante para vedarem a ocorrencia mesmas
arêas;
Outro sim, são obrigados a plantar nas ditas faldas outra ordem dos ditos espin-
heiros para que não acabem de sobrecahir as mesmas areias nas terras que lhe con-
frontào, no entanto que todos os Lavradores geralmente em beneficio do publico não
podem cobrir como devem todo o areal de espinheiros;
Todo aquelIe que se eximir de concorrer para o seu proprio beneficio incorrerá na
pena do & 81 do Alvará Régio; como tambem incorrerão nas mesmas penas todos os
Lavradores que geralmente devem plantar os Espinheiros, se se eximirem do que
neste Titulo ordeno;
E aquelle que cOliar aLI arminar qualquer dos dittos Espinheiros ou Pinheiros,
como também sempre-noivas, troviscos, ou outras ervas que nascem nas arêas e
impedem a dar correnteza; se fõr Lavrador não entrará mais em lavoura dalgum
Senhorio. e quando o nào seja, pagará mil reis por cada vez de cadêa, e conforme o
prejuizo que do ditto danno resultar.
E igualmente quero que se entenda a mesma ordem e disposição a respeito de
areal da Praia por ser tambem muita e quasi egual a qualidade de terras que se tem
perdido; tudo debaixo das referidas penas e da eleição que o Inspector fizer do sitio
da parte da Praia, em que se devem fazer as plantações das ditas arvores.
120
Do À ARCA DE NOÉ
TrTULO XXV
DAS PLANTADAS DAS AMOREIRAS E ESPINHEIROS
EM CERCA DAS FAZENDAS
terras de
ao Commandante das
e mais officiais dellas e da
Eduardo de
121
ALBERTO VIEIRA
122
Do A ARCA DE NOÊ
123
ALBERTO VIEIRA
com maior cuidado. São pois as ditas utilidades c de que os //[46] mas lavradores
devem ser informados, as seguintes:
lIas castanheiros produzem frutos que servem para a sustentação dos homens, ou
da forma que vulgarmente se uza das castanhas, ou reduzidas a pão da maneira qque
se pratica a respeito das semilhas.
2 com as castanhas se engordão os porcos, e são estes os que tem a carne mais
saboroza e melhor e da mesma se crião aves de toda a qualidade.
3 os cavallos e os bois, tendo castanhas escuzão a ração de milho e cevada que
ordinariamente se lhes costuma dar.
4 Depois dos contemplados benefícios que rezultão dos frutos destas arvores,
sempre dignas de estimação, seguem-se as conveniências que dellas mesmas proce-
dem. As folhas emquanto verdes, servem de excelJente pasto aos gados de toda a
qualidade, e depois de seccas estl'l\l11ão as terras e estas se fazem todos os anos mais
fecundas: além disto no tempo da primavera e do estio, 1110dificão o calor do sol, e
exaurindo os vapores da terra e do ar, fazem as chuvas mais frequentes; augmentan-
do por esta forma as agoas nas fontes e as orvagem aos gados; concorrem para que
as vinhas c todas as outras plantas que lhes Reão inferiores, não tenhão precizão de
repetidas e continuadas regas.
5 Finalmente as ditas arvores COl1cervão as plantas c as searns, defendendo-as dos
ventos e das tempestades; seguirão as terras empinadas, e com as suas raizes as con-
eervão e sustentão de iUl1na que estas jamais se precipitão e fazem qucbradas, o que
se deve nesta ilha evitar por todas as lut'mas para a concervação do paiz. A estes
benefícios tão importantes ainda acressem os outros que l'ezultão das lenhas para o
uzo diário das cozinhas das estacas para as vinhas, e finalmente das madeiras da con-
strução para as igrejas, para as cazas e quaesquel' outros cdifícios. E para que os
lavradores que cultivão terras alheias se animem com maior facilidade a Jhzerem a
plantação dos ditos castanheiros; serão estes aqui em diante avaluados, c pagos
//[46v] aos mesmos lavradores a razão de cem reis cada hum, sendo bravio; e ele
duzentos reis sendo enxertados.
Pclo contrario; todo aquelle lavrador que tendo terras próprias para tl cultura ele
que se trata; ou sejão do seu particular dominio; ou de senhorios, e não plantar ao
menos cincoenta castanheiros cm cada hum anno, será multado na sobreditta penna
de dois mil reis, com a applicação da já citada ordem do LO I título 6ô, 26.
Em 3 lugar
Nos cítios e lugares em que os ventos não fazem grancle imprcssão, e não furem
muito secos, hé importante que se plantem laranjeiras e limoeiros de toda a quali-
dade; e da mesma forma limeiras e cidreiras. Nesses l11eSI11OS lugares abrigados
importa muito que estas árvores sejão plantadas e dispostas entre arvoredo que con-
cerve a tblha de inverno como o loureiro e vinhatigo: também as canas vieiras são
muito úteis. Forma-se pois hum quadrado com as árvores rústicas, c com as compe-
tentes divizoens ele canas, e pelo meio se plantão e111 boa ordem aqucilas árvores que
por mais delicadas não registem tanto aos ventos, c ii marezia ou salitre levantados
pelos tempos do mar, ate quem recebem muita perda; sendo para advertir que as
árvores de espinho, com especialidade as laranjeiras, produzem a sua nor 110 tempo
do inverno; e por isso não pode esta concerval'se bem não mediando as cnutcllas que
124
Do DE NOÉ
A DE 1815
ella se
125
ALBERTO VIEIRA
goza vão deste dom preciozo com que ella os felicitava, prodigalizando-lhes abun-
dantes, e preciozas colheitas, quer agora reparar os excessos que fez em benefício
delles à custa das lagrimas que tem feito verter aos dezamparados Lavradores, e a
todos em geral, pelas escaças novidades que constantemente tem alcançado em paga
de seus peniveis trabalhos. A memoravel catastrofe de 9 de Outubro de mil oito cen-
tos e tres foi hum infausto presagio de tudo quanto estava para nos acontecer. Foi
então que a Liberal Mão de VA.R. acodio promptamente ás ruinas desta Cidade,
fazendo que dos seus Reaes Cofres sahisse todo aquelle cabedal que fosse precizo
para as reparar; e por outro qualquer motivo, q' VA.R. julgasse acertado exhallrir os
mesmos Reaes Cofres, seria o seu maior prazer socorrer a disgraça, e a mizeria
daquelles Vassallos, que VA.R. visse marcados com o Sêlo da mais cruel infelici-
dade. Desde aquelle terrivel anilo tem sempre corrido assás calamitozo para hum
Povo que a maior parte delle he por extremo pobre, e que só o excessivo trabalho a
que se sujeita, he que o faz ainda poder subsistir em huma Terra onde elle não pode
cultivar se não pequenas porções della, por ser incompativel com a aspereza do local
cultivar grandes terrenos. Cada lavrador apenas pode aqui cultivar 11 'um anno aque-
le espaço de terra, que noutro qualquer lavrador em differente paiz cultivaria em
menos de hu anno; e ainda assim mesmo arrisca demaziadamente a sua vida luctan-
do em huma parte com enormes rochedos, para delles sacar aquella pedra q' em out-
ras partes vai suster as pequenas porções de terra que ainda nelle existem. Desde
aquelle mesmo tempo até o prezente as il1ll11cnsas agoas o tem sempre delapidado,
reduzindo-o a tão exteril situação, que só os braços de homcns costumados a hu
penozo digo a hum tão penozo fabrico tem sido capazes de lhc dar algum remedia.
Por outra parte as i111l110deradas estações, que irrcgulamente tem agitado huma
atmosphera costumada ate então a influir suavemente sobre as ll1clindrozas pro-
duções deste mesmo Paiz, tem tirado ao pobre, e ao rico todas as esperanças ele
poderem viver sem aquellas afl1ições que nascem da indigencia. tolhendo a todos o
meio de poderem reparar com novas plantações o estrago que tcm havido em todas
as vinhas, já occazionado pelas mesmas agoas, e já expessas, e estragadoras nevoas,
e anebatados ventos, que em tempo não esperado sempre tem queimado, e destruido
as suas tenras varas quando todos geralmente se congratulavão de tirar dellas com
abundancia aquelle préciozo vinho que faz a baze fundamental de todo o COl11mercio
desta ilha, e da subsistencia dos seus infelices habitantes. A carestia dos viveres
ocazionada pelas tristes revoluções do Mundo, e muito principalmente pela guerra da
America, tem sido nesta ilha tão excessivas. que muitas pessoas ela ultima classe
perecerao victimas de hum a pura necessidade, e as outras de todas as classes tem
arrostado hum montão de incommodos para se salvarem do naufragio que lhes
preparava tâo hOlToroza tempestade, e ela insaciavel cubiça da corporação do
Commercio desta ilha que a cada passo se está valendo dos meios que lhe orrerece a
falta de generos nacionaes para as immolar a os seus sordidos interesses. As doenças
epidemicas desde que as Tropas Bretanicas dezembarcarão neste terreno tcm mor-
tiferamente graçaelo por toda a ilha acumulando a os seus habitantes malles sobre
malles que talvez se não possão extinguir se não para as gerações futuras. Tudo isto,
e a inda muito mais que deixamos em silencio para não parecer-nos importunos tcm
appresentado aos olhos do Publico hum lastimozo quadro de que VA.R. talvez não
126
Do À ARCA DE NOÉ
Cidade:
cabedal se na sua
huma chamada a Ponte de Páo do
dos Ferreiros no mesmo momento em que as agoas cor-
rerão com mais abundancia: ficou porem hum pouco mas em soffrivel
de se tranzitar por outra Ponte de que nesta mesma Ribeira existe
chamada a Ponte da e devemos atribuir este sucesso a hum indulto da
que não mais hum COl11l11ercio tão he
difficultando-lhe os meios de se conduzir todos os generos, que se
irnnnrt"",.., e, por serem esta e a da Rua dos Ferreiros
mente construídas no meio desta mesma e em pouca distancia da Marinha,
A llltima que he a de Nossa Senhora do por estarem inteiramente
concluídas as suas muralhas não os dois
IJ""~"'''''-'''' Ribeiros de que fizemos centro da
e o outro quaze nos confins della na Nossa
Senhora do Calháo: tanto hum como outro, por falta de muralhas que contivessem
suas ago8s, fizerão O rompeo na Rua da
alem da do Carmo para a inllundou toda e levou
de sí immenso rochedo com que aterrada toda a Rua do Ribeirinho ate ao
Beco da e por mesmo Beco se comonicoll ao do
e por isso apezar de hum cano por onde dezembocarão as agoas
para o calháo neste que he hum consideravel a sete
tendo estas ruínas de desde a referida RlIa da até
para sima de cento e oitenta Esta corrente por meio de huma
Cidade q' em todas as de suas Cazas tem generos de muito por si
mesma suscitar huma idéa do que soffi'erão os seus habitantes. Não foi
a occazionada agoas do pequeno Ribeiro chamado
ainda que a Cidade neste he por extremo por compre-
hendcr só trez ruas, e ordens de cazas, elle as innundou de tal que
arrombando as das e entrando que estavão nada deixou
em bom estado do que ellas continhão. A Rua de Santa que hc lemita-
da a Leste por huma elevada mas pequena Ponte de por onde costumão pas-
sar as agoas deste mesmo estas a dita e ent:an-
mesma rua ficou inundada de tal que tão bem SUblO o
127
ALOERTO VIEIRA
depósito das agoas a mais de cinco pés de altura, fazendo a todos hum prejuizo incal-
culavel, e muito principalmente aos Tendeiros que disgraçadamente perderão todos
os generos, que tinhão nas suas Tendas. Tal foi o rezultado da Alluvião de vinte e seis
de Outubro proximo, relativamente a esta Cidade. Os Lavradores, Senhor, ainda se
lamentão mais da sua sorte do que os próprios Cidadãos: elles virão copiozas, e dis-
conhecidas agoas arrancar-lhes pelas raizes os idozos troncos, e precipitar das altas
montanhas as eximias penedias, que envolvidas com as mesmas agoas arrazavão os
valles, e fazião perder a maior parte da sua cultura: os gados que se acha vão disper-
sos em lugares mais eminentees, forão arrojados debaixo destas ruinas, e apezar da
cautella q' todos tomárão na salvação de suas vidas, ficarão algumas pessoas
perigozamente feridas, alem de dois rapazes que perecerão em hum cazal da
Freguezia do Estreito de Câmara de Lobos, por ser incompativel com a violencia das
quebradas poder-se-Ihes dar o menor socorro. Cada hum destes Lavradores julgan-
do-se absolutamente disgraçado parece querer proferir imprecações contra a sua pro-
pria existencia, e abandonar hum Paiz que tão ingrato se tem mostrado ao industrio-
zo, e penivel meio com que e\les tem procurado beneficia\lo, consagrando-lhe tantas
fadigas, e exgotando com elle os ultimos restos das suas forças. E será possível,
Senhor, que a malIes tão estrodozos que este Povo tem som'ido, se lhe ajunte tantos
impostos, quaes são a Decima Urbana, a Decima Funeraria e Ciza, o Finto, e outro a
mais impostos desta natureza, quando os Augustos Predecessores de VA.R. em ocaz-
iões de menor estrago por calamidades publicas, e circunstancias menos urgentes,
perdorão aquelles mesmos impostos que então havião como se mostra dos
Documentos numero primeiro, e segundo? Ah! que se VA.R. prezenciasse a mizeria
em que todos gemem neste Paiz; se visse o dezamparo em que se acha um Povo, q'
tanto tem concorrido para prosperar as suas Finanças; se V.A.R. tivesse prezente os
clamores do Publico que não cessa de lastimar a sua disgraça; então commovcndo-
se dlle VA.R. pela sua lnacta e Paternal Beneficencia, não só o alliviaria deste peza-
do jugo, mas inda mesmo mandaria repartir avultadas somas dos seus Reaes Cofres
em favor e soccorro de tantos infelices.
Senhor: se VA.R. não quer ver inteiramente perdida, e abandonada hUl1la cultura,
que tanto intreressa os seus Reaes Cofies, e que perdida ella está perdida a ramefi-
cação do Bem Publico, decahido inteiramente hum Commercio, que ainda a muito
custo se conserva, e por consequencia quaze exticntas as Rendas da Admenistração,
e Arrecadação da Real Fazenda deste Estado; se V.A.R. Quer ter toda a gloria de con-
servar huma Colonia, que tem fama em toda a parte do Mundo pela singularidade das
suas produções; se não Quer ver finalmente esta tão importante porção dos seus fieis
Vassalos luctar entre os horrores de uma horroroza fome, pela falta de meios de com-
prar os viveres, sirva-se VA.R. derrogar aquellas Leis que lhe impoem tão pezadas
contribuições, para ao menos nesta parte suavizar tão enormes desgraças, e os
grandes trabalhos que tem em dezentulhar taes rui nas, para reparo das quaes não tem
feito prezentemente o menor dezembolço os abundantes Cofres de V.A.R., pois tendo
disso chamado todas as Ordenanças a este diario trablaho, os mais pobres ajuclão com
seus braços a salvar a Cidade de tão grande perigo, e os outros pagão o donativo de
quinhentos reis todas as vezes que por seu turno são obrigados a esta defeza, digo
obrigados á defeza deIla. Este Povo, Senhor, que a pezar de todos os sacriticios sem-
128
Do À ARCA DE NOÉ
sombra de seu
soladora esperança humildemente hum n1'fwnntn
hando o progresso de sua
devendo
de V.A.R. que os e tanto seculares
como Eccleziasticos todos conferidos a os filhos e não que
nunca a nem tem concorrido para a salvar de suas ruinas. Deos Goarde
a V.A.R. muitos anos. Funchal em Camara seis de Dezembro de mil oitocentos e
Jozé Nabucho Jaze Esmeraldo Antonio Jozê
de Carvalho Pedro Teixeira de Vasconcellos
Francisco Perestrello e Camara "" Antonio João da Silva Costa Francisco Xavier
Amorim == Francisco da He se contém na referida "Pl'Il'p"pnt'Q
que fiz Funchal 5 de Ju1ho de 1816. Bernardino
Joze Pero da
'1"''''''''<4,'''' de que
enche uma levada dois
do por lhes terem a maior
A cios arvoredos é
129
ALBERTO VIEIRA
mente tem havido, têm a sua origem na destruição dos arvoredos e as montanhas que
não há muitos anos vi cobeltas de arvoredos, hoje as vejo reduzidas a um esqueleto.
O Paúl da Serra, único terreno reservado para os prados do público, se acha hoje
sem matas. Tem chegado a tal ponto a negligência das Câmaras que, consentem não
só que se cortem as giestas em t1or, mas até que se lhes larguem fogo. O Paúl é o
receptáculo da maior parte das fontes, e das mais abundantes, bastante motivo para
merecer a atenção das câmaras.
Nos meses de Maio a Julho todos os anos os nevoeiros consomem uma grande
parte das novidades, principalmente as uvas quando estão em t1or, formando um
cordão em torno da ilha e ficando o centro descoberto.
O centro da ilha se acha todo descoberto de arvoredo, com apenas algumas árvores
dispersas, e isto em lugares onde os carvoeiros não têm chegado. Se tivessem posto
em execução as Ordens e Cartas Régias relativas à conservação dos arvoredos, não
teriam a cidade e as vilas sofrido os estragos do memorável aluvião de 1803. A
experiência tem mostrado que a falta de arvoredos pelas margens das ribeiras e
declives dos montes que sobre elas desaguam, é a causa da imensidade de rocha e
terra que com as chuvas vem atulhando as mesmas ribeiras, cujo alveo, hoje está
superior às ruas da cidade. A praia do Funchal, se tem alongado ao mar, desde 1803
até 1817, 150 palmos e em partes 250 e mais, com os entulhos que as ribeiras deposi-
tam.
Em 30 de Outubro de 1815 pelas 5 horas da tarde, houve uma aluvião que levou
quarenta casas e arruinou outras, inundando ruas, e se fosse à noite muita gente mor-
reria afogada. A ribeira de S. Paulo chegou a trazer uma coluna de água e rochedos,
que ocuparam a largura de 60 palmos e 30 de alto. Entre as pedras que ficaram no
leito da ribeira, junto ao mar, havia uma de 20 palmos quadrados, e de 10 palmos
muitas. Esta enchente durou uma hora.
A maior parte dos caminhos são pelos altos dos lombos, atravessando ribeiras e
ribeiros, muito mal delineados, e muitos em roehas precipitadas, outros em salões,
onde as chuvas têm feito escavações de mais de 30 palmos de alto.
( ... )
( ... )
No Inverno com a ribeira cheia ficam sem comunicação com o Porto do Moniz,
por não terem ponte. A serra desta povoação é linda e ainda conserva muito arvore-
do antigo, apesar ela destruição que todos os dias fllzem os habitantes. É nesta serra
onde há muitas e abundantes fontes, que se perdem, podendo ser aproveitadas em
benefício da cultura.
Na origem desta ribeira é onde estão as copiosas fontes do Rabaçal, que igual-
mente se podem aproveitar. Da paróquia do Porto do Moniz ii igreja da Ribeira da
Janela, são três qmutos de légua e gasta-se uma hora.
130
Do À ARCA [)E NOÉ
e vila de Machico
3
ALBERTO VIEIRA
( ... )
A cultura das vinhas na Calheta é toda em precipícios formando sucalcos de pedra
pelas encostas das lombadas e têm muitas partes abandonadas, por que a terra tcm
ido com as cheias para o mar. O alto da serra se acha inculto, com os caminhos pés-
simos e perigosos. Os terrenos dos Prazeres, Maloeira e Raposeira são lindos, com
muito pouco vinho, pois a grande parte da cultura ali é de verduras, legumes e
batatas.
É nestas freguesias que as mulheres trabalham mais que os homens. São elas que
°
levam os gados ao pasto, que conduzem gado à serra, que fazem o corte das lenhas,
e por isso são mais robustas e os homens muito acanhados
( ... )
A freguesia da Ponta do Pargo tem magníficos terrenos incultos pela falta de água
que nem para os moinhos têm e são obrigados a levar o grão a moer ao Porto do
Moniz. Têm planos extensos entre as povoações sem cultura. Abaixo da igreja paro-
quial de S. Pedro há uma grande porção de terra que podiam semear de pinheiros,
para sustentar as terras que continuadamente vão para o mar, pois há partes em que
já não.
( ... )
As Câmaras nesta parte têm sido muito descuidadas e não obrigam a cultivar às
pessoas que o podem tàzer, concedem licenças a troco de 400 reis que esta custa, para
cortarem o arvoredo que quizerem, com a condição a que seja distante da água, e isto
não se observa porque os meirinhos da serra são sempre campónios pobres e depen-
dentes dos cortadores. O mais que sucede é proceder-se à devassa, e nela geralmente
ninguém é compreendido. Assim também fecham os olhos à proibição dos carvoeiros
que continuadamente deitam fogo debandado na sen·a. Isto tem sucedido muitas
vezes e são estes que tem destruído a maior parte dos arvoredos das serras. Fazem o
carvão em covas feitas na terra, e como não há água nos sítios onde o fabricam, com
muita íàcilidade se comunica o fogo pelas raízes das árvores, e com muita dificul-
dade se apaga, por serem enOlmes os rochedos, onde se não podem fazer as alertas.
Tem sucedido arderem lombadas inteiras e chegado o fogo às casas, como sucedeu
no Curral das Freiras no ano 1807, fogo que durou quinze dias. E a não ser os altos
rochedos que dividiam as outras freguesias seria um continuado fogo e sem remédio.
Também tal tem sucedido em consequência das roçadas que fazem na giesta para
queimar e depois semear o trigo.
É uma mania introduzida na ilha, que semeada a giesta e ocupada a terra por 5 ou
6 anos, largando-lhe fogo produz melhor pão.
Em primeiro lugar não posso conceber que se ocupe celta porção de terra 6 anos,
tirando a pouca substancia dela; em segundo lugar largando-lhe fogo e ressecando-a
para semearem, de cuja sementeira apenas recolhem a semente.
Enfraquecem a terra com o fogo e depois a abandonam. Eis aqui de onde proce-
dem as quebradas, porque a ilha é toda cortada de ribeiras e ribeiros, muito próximos
uns dos outros, fonnando altos lombos, e nas encostas deles é onde fazem as roçadas,
que depois despresam tirada a primeira colheita.
132
Do Á ARCA DE NOÉ
1.- A ruína das matas, que nestes últimos tem nossas mon-
he facto notorio. Eu não me demorarei em causas: todos altamente as
""".,., ___ , Forão as indiscretas rotêas de e o incrivel desleixo de não remediar
ao crescente consumo de
As inda que
133
ALBERTO VIEIRA
postadas, nos preparão, não só madeiras de todo porte, mas abrigo, avultadas balisas
e fiel guia ao viandante, quando o graniso e caliginosa neblina lhe escondem todos
os vestigios. Quantos miseraveis terião escapado á morte, se encontrassem semel-
hante auxilio.
6.- As devezas das ribeiras, com suas dependencias, além de bellas arvores frue-
tiferas, vão fornecer, quasi á porta do paisano rustico, os aprestos indispensaveis que
elle hoje procura a grandes distancias, sobre seus hombros, entre precipicios. O
entrelaçamento de tantas raizes, serve igualmente a sustentar terrenos declives, pre-
venindo quebradas, repreza de aguas, horriveis explosões. Por falta deste regimen, os
dispendiosissimos encanamentos das ribeiras, como logo protestou seu habil
Director o Brigadeiro Oudinot, serão por fim malogrados, e até nocivos.
Que poyos ahi se encontrão para viveiros vegetaes de maior economia e desem-
penho!
7.- Tantos arvoredos, tantas tlorestas de toda a parte verdejando, se prestão
amplamente aos adubos d'agricultura. Poderião então arranjar-se, em grande, as
estrumeiras vegetaes, pratica da mais preciosa economia; mesquinha ate agora ou
desusada por falta de materia. A facilidade de ajuntar herva e rama para os gados
domesticos, poupar os braços da vinha, que hoje desatinadamente despimos; huma
das evidentes causas de seu conhecido atrazamento.
8.- Os gados errantes e a mesma caça não lucrão menos: acharão a cada passo
asilo e sustento. Mais os não veremos acoçados do inverno e da fome, descer aos
cazaes, invadir nossas bemfeitorias. Só então será dado dispôr de huma boa legoa
quadrada, em maninhos no termo da cidade; cessando de si mesmo a rapina geral,
que nas presentes apertadas circunstancias he forçoso disfarçar para haver pão e
vivenllos.
9.- O annual reziduo matas accumula as annuaes camadas de terra vegetal, que
se irá progressivamente dilatando. Sem aggregado esponjoso é maiss hum embaraço
á perigosa contlllencia das agllas tluviaes. Terao estas tempo de saturar as terras e
calar por seus intersticios.
Hão de mais abundar as levadas, hão de pullular fontes e regalias ao industrioso
cultivador.
10.- Que direi de nossos gados merinos, já tão felizmcnte naturalisados em
Palheiro de FelTeiro ? De suas lans, tão notaveis nas fabricas de Inglaterra? Quantas
vantagens nos não promette esta abencoada raça oriunda de nossas visinhancas, tão
accomodada á nossa topografia, e graduada variedade de climas! Para largamente a
ffillltiplicannos e com ella os cazaes pela maior parte das serras, só resta converter
mirradas chamecas, em agazalhadas hortas e viçosos prados espontaneos, effeito
necessario do novo systema.
11.- Outro resultado inda mais ponderoso he que em nossa hypothese as
marcesciveis massas vegetaes bastecendo as encostas das ribeiras, picos e lombadas,
até aos altos da ilha, aprezentão mais força aetractiva á humiilade athmospherica ou
a seus elementos. Os pesados nevoeiros occidentaes, que ha treze annos nos
perseguem; ahi batidos, condensados, desfeitos em copiosos orvalhos, tem de perder
sua qualidade corrosiva, antes de darem nas vinhas e pouco a pouco mais leves, vel-
as-hemos ou dissipar-se ou coner á sen"a. Verdade he hoje de triste experiencia; ror-
134
Do ARCA DE NOÉ
seLls
esperançosas mattas.
135
ALBERTO VIEIRA
Cumpre por tanto, em vez de requintar penas na forma costumata, congraçar pre-
liminarmente com os direitos da natureza, nossa ordinaria policia. Tudo está em
soltar-nos da cruel alternativa de ou perecer á mingoa de combustiveis ou invadir os
dominios alheios. Acabem para sempre tão barbaras collisões: he quanto pre-
tendemos e quanto basta.
16.- Hum dos meios efficazes de tal conseguirmos seria vulgarisar o carvão min-
eral desde já, coisa facilima, se o soubermos conservar a baixo preço. Quanto a mim
o grande passo decisivo, seria alivial-o dos 15 por cento que paga de entrada, direito
hoje insignificante ao Erario, que huns annos por outros monta a... Eis o que eu pro-
poria tão sómente por 6 annos. Entretanto ganhão-se milhares de braços: crescem
nossas devezas de ordinario serviço e restaurão-se os arvoredos. O carvão de pedra
vindo-nos a troco de vinho traria mais essa vantagem ao nosso commercio e indus-
tria.
17.- Huma providencia chama outra; diminuida assim a necessidade da lenha, he
indispensavel acudir a tantos infelizes que vivem daquelle tracto. Cumpre dar-lhes
outros meios honestos de subsistencia; estão tambem achados, em se facilitando a
cultura da batata inglesa (sem ilha) inda mal propagada apezar de se dar bem em toda
a ilha, porque nos vem mui barata de tora e não faz grande conta cultivaI-a. He hum
dever de primeira ordem representar quanto merece ser protegido tão importante e
tão desattendido ramo. Ao mesmo tempo que liberalmente se nos franqueasse a
entrada ao carvão, deveria fechar-se de todo ás semilhas. Este alimentos grato aos
ricos e pão quotidiano do pobre, reclama os mesmos auxilias em Portugal, tão sabi-
amente acordados aos cereaes. Os argumentos são obvios e identicos; he escuzado
repeti l-os. Os nossos CaJTetoens passarião de boa vontade a cultura da semilha em tal
caso mui lucrativa. A visinhança das estradas centraes sobre tudo, lhe deve ser inde-
fectivelmente franqueada.
18.- Tenho em fim concluido, e só me resta desejar que não percamos tempo. Se
todavia agrada a presente indicação, he bem desde já principiannos. Reduz-se a
em preza toda a cinco pontos capitaes. 1°. Delinear, fechar, povoar cada anno huma
das áreas designadas, conforme o artigo 3. 2° Reservar para arvores, arbustos e per-
petuo balsume, as encostas das ribeiras e lombadas, nos tennos do art. 4.3. 0 Requerer
se tirem os 15 por cento ao carvão mineral. 4° Fechar o porto a todas as semilhas de
fóra.
Approvado que seja: energica e effectivamente apoiado o nosso projecto, entendo
que deve logo passar e quanto antes, a Camara ou a quem direito fôr, para seu devi-
do cumprimento, dada todos os annos conta ao publico da respectiva despeza e pro-
gressos. Funchal, 22 de abril de 1822. (a.) José Maria da Fonseca, Inspector Geral
d' Agricultura.
136
Do À DE NoÉ
COIUtEIO DA
tum::; se pensa no
convencemos da
esta
mais
arvoredos que
machado e a foice.
que tcem dedicado o seu
excitai os outros, com van-
COI1-
137
ALBERTO VJEIRA
138
Do ARCA DE NOÉ
ISABELLADE
O Sol subia entre nuvens de Ollro que tornavam as ondas num lllal' de
e por todos os cômoros e de uma claridade
ténue e ainda na sombra tomavam a pouco e pouco
cor-de-rosa e branco. Esta gama varia-
139
ALBERTO VIEIRA
140
Do À ARCA DE NoÉ
se não fosse a
adiante desce
mais
de uma viven-
na
no entanto houve intervalo sufi-
de
14l
ALBERTO VIEIRA
roda da habitação, e também para visitar uma quinta vizinha, cujo proprietário con-
seguiu obter água para fins decorativos, fazendo represas da que corre da serra. Aí
colocou uns barquinhos de meia jarda de comprimento, e até me constou que ocupa
um antigo marinheiro na sua conservação. Numa parte da propriedade há uma azen-
ha, e noutra uma cascata pequena; nesta há uns bonecos, com pesos nos pés, que se
mantêm verticais na água, e é engraçado vê-los, uns pretos outros brancos, a subir e
a descer no tanque, debaixo da cascata. Esta quinta foi construída muitos anos antes
daquela a que viemos de visita e por isso as árvores são maiores. A abundância de
água e de sombra torna-a numa deliciosa residência estival. Passámos um dia agrad-
abilíssimo na casa do nosso tão hospitaleiro amigo, e voltámos à noite. bastante sat-
isfeitos com a excursão.
( ... )
Prosseguimos. Os gerânios, mimos, balsaminas e murtas continuavam floridos à
nossa volta. Por fim deixámos essas veredas sombreadas e emergimos numa exten-
são de terra ern1a, com meia dúzia de pinheiros. Parte dela pertence ao meu marido,
mas nada produz, embora outros proprietários tenham vastos pinhais nos terrenos
contíguos.
O caminho degenerava agora num simples trilho através da serra, e nós fomo-lo
galgando até chegar à Encumeada, donde se avista o mar de um lado e outro da Ilha.
Saímos da rede e seguimos a pé ao longo da crista, entre ervas, fetos e urze, admi-
rando a braveza e majestade do panorama. Em volta de nós erguiam-se montes sobre
montes, sem nos tirar no entanto a vista do mar, que era, como disse, dos dois lados.
Para o sul a parte habitada do país terminava no baldio a que viéramos ter, ao passo
que para o norte se descobria o vale da ribeira da Janela, de imensa profundidade,
com as encostas cobertas de árvores que formavam uma contínua massa de fol-
hagem, excepto nos pontos em que afloravam enormes rochas nuas. Na nascente
desta ribeira ficam as tàmosas quedas de água que nós íamos ver. Aqui há cabras
montesas, vacas e cavalos, que vivem em liberdade na serra, longe dos homens, em
lugares que pareciam inatingíveis por qualquer animal desprovido de asas; contudo,
andavam cabriolando ou pastando sossegadamente, como se o terreno fosse per-
feitamente plano. Estes animais são propriedade de diversos donos, de quem osten-
tam a marca; quando é necessário, caçam-nos com cães ou abatem-nos a tiro. Como
não possuímos o dom de nos equilibrarmos no ar, vimo-nos forçados a reocupar as
redes e ir por outros desfiladeiros e sobre o tunel pelo qual deveríamos voltar. Ao
a1cançam1os as proximidades do Paul da Serra, larga extensão de tena ondulada
entre os picos das montanhas, desfrutámos o panorama do vale do Rabaçal e vimos
a grande distância a casa que nos serviria de hotel para repousarmos e almoçarmos.
Começámos a descer para o Rabaçal, numa sucessão de ziguezagues a formar o
que chamam caminho, cortado entre uma floresta de loureiros e murtas e outras espé-
cies sempre verdes, as quais crescem tão unidas que tudo aquilo parece um emaran-
hado de folhas. A descida é o mais assustadora possível: a rocha em que foi talhado
o caminho é tão Íngreme, tanto em cima como em baixo, e esse caminho tão estre-
ito, que ao passar a rede nas muitas voltas se diria que pende sobre o precipício, sem
se ver uma nesga do chão: fica literalmente suspensa no abismo! Surpreende notar
com que domínio e firmeza os homens a conduzem por estas alturas vertiginosas. O
142
Do ARCA DE NOÉ
sus-
"'"u".V"'~
que
e mais de
uma centena de do cimo do rochedo e caindo
sobre o leito ribeira. A rocha é tão alta que, vista de
ta no azul do céu como se fizesse
por um
desse cedeu ao peso ele um rapaz que se aventurou
ele escapou de ser devorado ao resto da c
morreu poucos anos de febre nas lndias Ocidentais. É claro que não
143
ALBERTO VIEIRA
desejei repetir essa perigosa experiência e senti-me satisfeita por ficar seca deste lado
da arcaria; meu marido é que foi por lá com um guarda-chuva, embora não achasse
muito necessário arriscar aquele avanço. Tomámos água dessas fontes que, já se sabe,
era fresquÍssima.
( ... )
Pelos animais que vi na serra, posso dizer alguma coisa sobre a fauna da ilha. De
quadrúpedes, não existem mais nenhuns realmente selvagens além de coelhos e
ratos; tàla-se de gatos bravos, mas suponho que descendem dos domésticos que
foram abandonados no mato. Os cavalos, vacas, ovelhas, cabras e porcos, que andam
por lá livremente, têm todos dono. como já observei. Os cavalos criados na ilha, quer
nas montanhas quer em estrebarias, são na sua maioria pequenos e, em geral, fracos
especímenes, embora alguns sejam bonitos e úteis; não maiores do que os Shetlands,
mas com toda a simetria de um puro-sangue, muito fortes, de pernas rijas, e mansos.
Muitos dos cavalos do Funchal vieram do estrangeiro. Há poucas mulas e burros:
quase sempre insignificantes e utilizados somente para transporte de carga; não exis-
tem mais do que dois ou três exemplares de cada espécie capazes de serem monta-
dos.
As vacas e bois são bonitos, pouco maiores do que os burros, todos da mesma cor,
amarelo claro armivado, variando, mas de leve, no tom. Meigos, inteligentes, quase
todos criados em telheiras e alimentados à mão, e pacíficos como parecem; mas os
que andam à solta pelos montes são bastante ariscas; únicos animais de tiro na ilha,
porque os cavalos se usam para sela, excepto quando algum cavalheiro estouvado -
estrangeiro, em regra decide exibir um cabriolé ou faetonte, na Estrada Nova, ou cá
e lá nas poucas ruas planas, com todos os garotos da cidade a gritarem atrás. Já men-
cionei os trenós do Funchal, e as carroças, ambos puxados por bois ou vacas, que
trazem feiteira das serras. Também puxam o arado, onde o terreno for suficiente-
mente chão para o consentir. Para leite, têm aqui algumas vacas exóticas.
As ovelhas parecem-me pequeníssimas, de cauda comprida e muitas delas mal-
hadas. A lã é grosseira e a carne escura e rija. As que se guardam em barracões apre-
sentam melhor aspecto, sendo às vezes cmzadas com raças estrangeiras. É hábito no
Funchal pôr uma ovelha num estábulo, onde pode engordar com os desperdícios da
comida dos cavalos. São sempre bons amigos e podem ver-se comendo ao mesmo
tempo, um e outro com o focinho na manjedoira, a ovelha de pé nas patas traseiras.
Se a deixarem, seguirá o cavalo para toda a parte. As cabras não são grandes, mas
existem em larga escala; embora o povo prefira o leite de vaca, o daquelas não deixa
de ser bastante utilizado. Os vilões têm o mau sestro de as ordenhar à beira do cam-
inho, onde se embaraçam nas pernas dos cavalos, com risco de serem precipitadas.
A pele de cabra usava-se no tempo do vinho para o transportar até às pipas, fre-
quentemente a algumas milhas de distância, quando a estas não era fácil trazê-las ao
local da vindima. A pele é voltada do avesso, cortam-lhe a cabeça e os pés, e as aber-
turas assim fon11adas ligam-nas com cordel. Ao distender-se, dá a impressão de
estranho animal acéfalo. E que espectáculo singular o de uma fila de homens a descer
pelos montes, com essas peles cheias aos ombros!
Nem todos os cavalos serão capazes de conduzir um borracho, ou pele de cabra.
Não é raro os camponeses venderem aos ignorantes carne de cabra por carneiro,
144
Do ARCA DE NOÉ
145
ALBERTO VIEIRA
algo de sublime, nos relatos da ilha fcitos por londrinos quc não perceberam tratar-
se de um pássaro frequente na Inglaterra.
Como noutra parte qualquer, vimos aqui andorinhas e gaivões, durante o Verão.
As alvéloas, a que chamam cá lavadeiras, são abundantes e de mais de uma espé-
cie. Há duas ou três cspécies de gaivotas. A plumagem é mais escura do que as do
canal da Mancha.
Quanto ás aves domésticas, temos as mesmas que em Inglaterra. Os perus, que
cxistem em profusão, são grandes, e a t'i'eguesia da Cam acha é afamada na sua cri-
ação. No Palheiro do Ferreiro, em tempo do defunto Conde de Carvalhal, enxam-
eavam pavões c pintadas; agora quase não se vêem em parte alguma. As pombas não
são muito abundantes. Escasseiam os gansos, ao contrário dos patos. Existem imen-
sas galinhas, toda 11 gente as tem, o que explica 11 porção de ovos em todas as mesas,
a cada refcição, c de qualqucr mancira por quc possam scr comidos. A casta con'ente
das gal inhas é de pcqueno porte, de cor preta e paladar não muito agradável; porém
as de Xangai estão a substituí-Ias ràpidamente. Uma vez tivemos ao jantar uma gal-
inha assada com sabor tão pronunciado a peixc que a recambiámos logo.
Investigando o caso, apurámos que ela viera de Câmara de Lobos, onde as alimen-
tam com os sobejos da praça. O povo tem um modo singular de impedir que as aves
se extraviem: atam-lhes a perna a um sapato velho, quc elas arrastam atrás de si. Não
é este o único uso que dão aos sapatos velhos, porque com eles também batem nas
crianças. Também vi uma galinha amarrada ti um ferro de engomar e muitas vezes a
um taco metido no chão. Nalguns lugares põem às galinhas lima espécie de calçado,
para evitar que esgaravatem.
De insectos não há muita variedade. Vêem-se borboletas, sem nada de notável;
contudo as traças são mais numerosas, e aparecem semprc que se põe de parte um
vestido de lã, durantc um mês ou dois.
Escaravelhos poucos há, e muito pequenos, no campo; mas infestam as casas os
de uma espécie preta, assim como os que os rapazes designam por Cavalos do Carro
do Diabo, e baratas enormes, de três e quatro polegadas de comprimento. Há também
centopeias, de cerca ele polcgada e meia: fcias, mas inofensivas.
Criam abelhas no campo. As colmeias Ü1Zel1l-nas de um tronco ele árvore escava-
do cm forma cilíndrica, com um bocado de túbUH ao alto. O mel é muito forte e
desagradávcl. São numerosas e incómodas as vcspas. Quanto a formigas, um ver-
dadeiro Ilagelo. Nada lhcs escapa, a não scr rodeando de água. Outra praga consti-
tui-a as moscas; tcmos de ornamentar -ou desligurar - todos os quartos com estranhas
engenhocas dc papel cortado ele vúrios fcitios c pendmado, para as atrair, afastando-
as das pessoas; mas mesmo assim continuam a importunar. Com frequência me inco-
modam passeando sobre as lentes dos óculos, quando estou a cscrever ou a ler. Os
cavalos e bois li cam muitas vezes cobertos cicias e son'cm bastante com o seu ferrão.
Na serra há uma espécie ele mosca pnrecicla com a dos bosques ingleses, a qual pica
os cavalos c qU!lse os enlouquecc.
Os mosquitos são poucos, mas consta-me que estão a tornar-se mais numerosos
no Funchal desde que se cultivam os quintais elas casas. Há muitas aranhas e de
vúrias formas; algumas cnormes c Iindamcnte marcadas. Considera-se venenosa só
certa espécic, mas como isto não estú provado, o povo receia todas elas. Dizem que
146
Do À ARCA DE
a tarantula existe cá e que os vilões afirmam que ela escreve o seu nome na teia!
Talvez o porque nenhum deles sabe ler. Acrescentam ainda que as aranhas
embora o ruído em me pareça dos Também
têm uma crença curiosa acerca de certa que extrair o veneno da mord-
edura de não existem mais do que duas ou três dessas que são
cotadas como tesouros inestimáveis.
Em todos os campos abundam A noite o chilro é lfic:eSSal.lte
e combinado com o coaxar das rãs de música mais barulhento do
leste
tanta
como os verdes amarelos ou
castanhos. O corpo é quase transrlan~nte.
não existiam na
ainda novo, rãs e as
tanto que são aos milhares onde quer que se encontre uma
são muito destroem de
outro lado permanecem inofensivas. O ninho fazem-no entre as dos muros,
mais soalheira as ver ao solou correndo em
quase sempre se lhes descobre fi e os olhos bril-
dos buracos. Variam em de três a seis de CO!1l-
147
ALBERTO VIEIRA
148
Do ARCA DE NOl~
1 pp: 104-1
MANUEL 1913
VANDALISMO
149
ALBERTO V1EIRA
ISO
Do A ARCA DE NOÉ
o que
151
ALBERTO VIEIRA
152
Do DE NOÉ
Por esta fórnna creio que não haverá dificuldade em crear-se em toda a ilha aprox-
imadamente o dobro do que actualmente se esta creando nos cunaes, parecen-
do-me que nunca faltará a carne para o consumo
as para o se achar que ha falta sem
govemo civil e camaras
tral para que reduzido o sobre as
que o Governo altenderá imediatamente de
escassear para o
Parece-me que isto não admittirá """tP'ot",~""
to na lei que fosse votada.
Aos carvoeiros não faltará trabalho para ",,,,11<11"""" UlllllC1UJ.
de arvores de taes como cm;taJ,1hf:írc)s
o cultivo do
das nossas
devendo ainda notar-se que
ou bemfeitorias suas.
Sobre este não ha porque desde o momento em que dos con-
stituídos baixasse tal o trabalho consideravelmente em toda a ilha.
Sr. Redactor:
seu
de vista do seu
peço licenca ao illustre cidadão o sr. dr. Manuel
Governador Civil d'este para
declarar que, tanto eu, como muitissimos ou melhor todos os seus conterrane-
em S. Ex.O de que, não se em do Governo
e bom não só para a arborisacão das nossas serras, mas
ainda para o en!~raUCleClllnem:o da commercio e industría d'este
go.
No momento actual em que todas as forcas da se concentram
para a boa da nossa
e isto em todos os e
vias levarmos ao
afim de que votada uma lei
para á solta e fabricar-se o carvão nas nossas
Serras.
Unir-nos todos!? É sem duvida
Não são iJ"''''''U;' "~taU<'"i;1u. O que
é que a lm,prlemm d'esta terra, assim como, no verã.o os incen-
por meio do destruir o resto das mattas da nossa se
levantou em coro unisono a e para os CUl'lIU'V;:'. comece
153
ALBERTO VIEIRA
desde já uma intensa propaganda a favor da arborisação obrigatoria elas nossas serras.
O que é preciso e indispensavel, é que as camaras municipaes dos concelhos se
reunam, afirn de estudarem qualquer cousa sobre este importante assumpto e dos seus
estudos, fazerem um relataria afim de que seja apresentado ao digno chefe d'este dis-
tricto.
As diversas opiniões das cam aras uma vez no governo civil, e sob a presidencia do
seu illustre e digno chefe, o sr. dr. Manuel Augusto Martins, deverão ser discutidas por
um conselho de homens imparciaes e de reconhecido zelo material a bem da nossa
ilha. Discutido tão importante assumpto, aproveitar-se-Im o que fOr melhor e então se
deverá fazer a representação ao governo central, sendo assignado pelas camaras é ref-
erendada pelo chefe superior do districto, afim d'esta auctoridade a enviar ao seu des-
tino para os devidos efeitos.
Nos numeros 136, 141 e 144 deste periodico, tenho apresentado algumas razões
demonstrando que será uma medida de grande alcance para a agricultura, commercio
e industria d'este archipelago, se for votada a lei a que eu, como todo, ou a maior parte
do povo madeirense, tanto aspiram
Concidadãos: As nossas Serras não são as regiões incultas da nossa provincia de
Moçambique onde se possa crear gado á solta!
As nossas Serras, são proprias para tudo quanto tenho demonstrado nos numeras
d'este periodico a que acima me retiro.
Inergica e patrioticamente unidas as entidades que menciono, não prescindindo do
cidadão regente florestal, e se os guardas campestres cumprirem rigorosamente o seu
dever, não será preciso duas dezenas d'annos para que floresçam as nossas Serras não
só com as actuaes arvores e arbustos que rapidamente cresceriam mas ainda com os
nossos arvoredos.
Haveriamos de presenciar e gosar esse panorama tão lindo para encanto e proveito
de nacionaes e estrangeiros, o qual será o de arvores de toda a qualidade com os seus
luxuriantes ramos com fructos.
A feiteira, a giesta cresceriam e, tudo bem organisado, constituiria um grande aug-
menta de riquesa já em aguas como em tudo quanto tenho mencionado.
Senas, sendo certo que sobre este ponto se tem trilhado uma vida sedenlaria.
Como porém, as cousas recentemente mudaram, eu e muitissimos dos meus con-
terraneos, contamos que o govemo da Republica Portugueza fará repôr as cousas no
seu antigo lagar, para o que as auctoridades constituidas n'este Districto não se des-
cuidarão, se briosa e patrioticamente attender ao que fica exposto e ainda exporei.
Os incendiarias das nossas serras, creio que não serão sómente o pastor e o car-
voeiro.
Terão havido ainda outros dos quaes vou occupar me e, para o poder dizer, citarei
factos a meu vêr inefutaveis.
Toda a gente sabe que ha o estilo em todas ou em quasi todas as freguezias d'esta
ilha, de os proprietarios fazerem queimadas nas Serras ou em montados, e n'estes, a
distancia de poucos kilometros da povoação.
Tal uso é permittido, por isso que, as queimadas são sempre dentro das pro-
priedades de cada individuo, e com o fim manifesto de n'ellas se fazerem sementeiras
de trigo, centeio, cevada e legumes, o que realmente produz em grande abundancia,
154
Do À ARCA DE NOÉ
!55
ALBERTO VIEIRA
ipaes com novas despezas,-e embora sejam ordenados pequenos, os serviços a meu
vêr tambem não serão grandes, por isso que as auctoridades superintendentes e
nomeadamente as do regimen monarchico, ha pouco sepultado, pouco se importavam
com esses trabalhos-devendo ainda notar-se que os guardas mal pagos pouco ou nen-
hum amor teriam pelo cumprimento de suas obrigacões !
Mas na hypothese de serem bem pagos, isto é, o duplo ou o triplo do que actual-
mente ganham das cam aras, não hesito em affínnar que o resultado seria sempre o
mesmo, ou pouca diferença haveria do que presentemente se ve, isto é, as nossas mat-
tas todos os annos a desapparecerem por meio do logo, machado, carvoeiro, etc.
E porque?
Porque desde o momento que haja liberdade de crear-se o gado à solta, fabricar-se
o carvão e fazeremse queimadas, sem responsabilidade, nas serras d'esta ilha,-serão
sempre os guardas campestres impotentes para conter a vontade dos nossos escrupul-
hosos agentes ou proprietarios do que acima menciono. Jà me dirigi as diversas cama-
ras municipaes e ao digno chefe d' este Districto o EX.m cidadão Dr. Manuel Augusto
Martins para que, depois de prévio e prudente estudo representassem ao Govemo da
nossa nascente republica para que seja votado um decreto sobre a importante
arborisação das senas d'esta ilha, sem o qual, em vez do actual número de guardas,
poderá haver o duplo e triplo,-sendo o resultado sempre o mesmo, isto é, a continu-
ação da devastação, de anno para anno das nossas florestas.
E' um facto.
Concidadãos:
Não são só os elementos de que me tenho occupado que devastam as nossas mat-
tas, é tambem o gado que constantemente comem os pequenos arbustos que vem
nascendo e até a altura de 2 metros a roem para se alimentar, por isso que epochas ha
no anno em que as seITas não criam herva para o mesmo se sustentar.
E por esta fonDa, os guardas são impotentes para o desempenho das suas obri-
gaçoes quer o dizer, as arvores pouco ou nada auguentam d'anno para anno,já por este
inconveniente, como por outras razões apresentadas
A minha propaganda sobre a arborisacão obrigratoria das nossas serras, não obe-
dece a encommenda de alguem e muito menos é feita com vistas de qualquer inter-
esse particular, mas tão somente porque, no meu espirita alimento a chamma viva do
amor pela terra que nos foi berço, isto é, o patriotismo.
É fóra de duvida que pouco mais de meiado do seculo XIX até a liquidacão da
monarchia em cinco de outubro ultimo, foram uns tempos d'uma politica rotativa em
que os partidos 1110narchicos se batiam constantemente, protegendo cada um os seus
serventuarios e ainda perseguindo os adversarios politicas.
Ora como a fragilidade da nossa especie, é inseparavel do homem, este fica cego
quando as paixôes politicas partielarias n'elle predominam, de modo que o seu ideal
já não é o engrandecimento da sua Patria ou terra natal, mas sim satisfazer a sua
ambição no mando e mesquinhas vinganças,-embora alguma cousa de util para o bem
geral se presenceie.
Foi justamente o itenerario dos nossos homens publicas.
A minha propaganda sobre este assumpto, começou em 17 de setembro ultimo, isto
e, nos ultimas dias da monarchia, e, com franqueza, eu já teria desistido dos meus
156
Do À ARCA DE NOÉ
Como
tenebrosa eu,,,,,,,,,,,.,
tenho fé que cousa será em
homens investidos da auctoridade da nossa n.'-'f.1uuu",,,.
Concidadãos e meus conten'aneos: Entre os diversos melhoramentos para o
gramdleclm1cnt:o da nossa avultam tres, os quaes são: O
saneamento da nossa estrada em tomo da ilha e enn de n 'ella
passar um vehiculo com ou carga,-e a das nossas
serras: sendo evidente que este melhoramento é o que menos
cofres Publicas e o que indubitavelmente ha de trazer mais
d'esta ilha e ao Estado.
tenho dito. cumpre-me ainda dizer que se o Estado ainda
baldios nas serras (I'esta ilha não que sei é que
tv>lI,nll'",gpQ os possuem achando conveniente que as mesmas os
157
ALBERTO VIEIRA
quaesquer horas vagas, apreciar o tim que tive e tenho em vista, estou certo de que
pugnarão pelo ideal que defendo.
Por minha parte confesso que nada posso, já por int1uencia como por talento,
devendo quem me lêr avaliar unicamente a minha intenção a favor do bem geral d'es-
ta ilha.
Se, com effc~ito, as auctoridades dirigentes do Districto e Concelhos accordarem em
trabalhar para estudarem a fÓlma de ser, pelo Governo da nossa Republica, votado um
Decreto para o fim que tenho demonstrado, tenho como celio que hão de ser
abençoadas não só pelos nossos contemporaneos, mas muito mais pelos da geração
futura.
RESUMINDO
158
Do ARCA DE NOÉ
á
VU'''5'''U'JO> de arvores de ü'ucta ou outras, á
em todas as margens e denornínadamente
nas serras, até 00 metros lineares de das mesmas aguas, se
ahi poucas ou nenhumas existirem.
13° cortar arbustos ou arvore, de que
1J<'JI-"1'-'.'"'''' ou mesmo sem ser, e denominadamente nas serras d'esta
menos um terço das que mas nas terras onde oliver se
necessario for para o da mesma, ir até um
pre as melhores e maiores arvores; e n'este caso. se se reconhecer que o é
espesso, devendo o corte ser alternativamente e n 'um praso nunca inferior a cinco
annos
14° Duas vezes por anno o de cada
visitará minuciosamente as r""n".~h,,,,
do estado em que encontrou as
crescimento e se as faias tem sera enviado um
upJllmldo ao Governo Central.
15. Para o cabal do numero antecedente ( o
da auctoridade administrativa cabos de ou outras pessoas, afim de
infonnar do dono dos
16" As
para outrem.
17° Tal tem10 sera sem
onus para o
18° Deveriam estabelecer-se que apre-
sentarem melhores arvores fhictiferos ou outras, nas suas pn}pl'W(ladleS, nas serras
d 'esta ilha.
19° As multas aos intractores do que for ",,,,''''VI,,,t,,
do deverão ser desde
, ficando esta ao arbitrio do
multas serem para o denunciante e a outra metade para o cofre do ou para
a entidade que o Governo determinar.
200 Deverá o Oorestal ser local e
em folhas soltas e estas distribuidas por todos os chefes de fmnilia do
de que scientes do mesmo, recomendando lhes a auctoridade local
159
ALBERTO VCElRA
( ... )
Ahi por 1420, dividida a ilha pelos sesmeiros, começaram estes a delTUbar o
arvoredo para cultivarem as plantas que tinham levado do continente.
A principio residiam os sesmeiros com suas famílias nas teITas que lhes tinham
sido distribuídas, agricultando-as os colonos livres e depois os escravos negros e
moiros. A fertilidade do terreno e a riqueza das culturas, proporcionaram-lhes uma
vida luxuosa e descuidada na cidade ou nas villas; fazendo-os abandonar as suas ter-
ras, cuja cultura entregaram aos colonos livres, dando-lhes estes metade dos produ c-
tos d' eHas.
No tempo de D. Manuel principiaram a ser Vinculadas as terras, que constituíam
as sesmarias. O empobrecimento dos colonos e dos morgados, fez com que estes,
recorrendo aos negociantes estrangeiros para empréstimos sobre as futuras colheitas,
proporcionassem aos mesmos o fazerem rápidas fortunas.
Havendo na Madeira um denso arvorado que impedia a agricultura, um dos
primeiros trabalhos dos seus habitantes foi naturalmente a derruba: Zargo mandou
lançar fogo ao arvoredo e ao funcho que havia em grande quantidade no sitio onde
depois foi o Funchal, para que desnudado assim o teITeno, o podesse mandar culti-
var. Destruiu este fogo muita madeira, que veio mais tarde a fazer falta para os
engenhos d'assucar. Dizem alguns chronistas, como Manuel Thomaz na Insulana,
que o incêndio durou sete annos, tendo sido attingida toda a ilha; porem outros sus-
tentam, que só o foi a parte Sul d'esta: este incêndio é-nos relatado, primeiro por João
de Barros e depois por Fructuoso, como sendo parcial, o que parece mais verosímil:
o Papa Paulo II no seu breve apostólico de 1459, em que confirma a redizima a João
Gonçalves Zargo, refere-se também á existência do incêndio.
D. Francisco Manuel de Mello foi o primeiro que contestou a existência d'elle,
fazendo notar que se tivesse existido não haveria madeira para sustentar os 150
engenhos d'assucar que havia na ilha, poucos annos depois; e o próprio Frl.lctuoso
diz ser grande o commercio de madeiras e matas as serras d'agua ali existentes.
Tudo isto nos leva a crer que o incêndio se limitou a parte Sul da ilha que foi a
primeira cultivada, e teria provavelmente este o processo porque os cultivadores se
libertaram das florestas virgens, para poderem depois arrotear a ten·a. Durante os sete
primeiros annos depois da descoberta seguiram este processo de arroteamento, e
d'ahi veio provavelmente o dizer Manuel Thomaz que o Incêndio durou sete annas.
Os immediatos trabalhos de lavoura fizeram desapparecer completamente os
vestígios d'este incêndio, que nunca foram encontrados.
O Regimento das Madeiras de 27 d'agosto de 1562, não é como muitos pensam
uma confirmação do incêndio, mas apenas uma lei benéfica para a silvicultura da
ilha, que nada tem com aquelle, segundo parece; pois só alude aos desbastes feitos
nas serras para alimentar os engenhos d'assucar e para outros fins.
A exploração das madeiras foi lima das primeiras industrias madeirenses: ser-
ravam-se as arvores em toros, e estes em taboas e outras pecas que se destinavam á
construcção de casas, lagares, barcos, vasilhas, etc.; exportavam-se também para o
Reino com destino a construcções navaes, para o que eram muito apreciadas; e espe-
160
Do
CAPITULO II
FLORESTAL
transcreverei na em
stal que tem tido a Madeira e a
Da e fastidiosa leitura d'este
,~,.p"r",""~ a
161
ALBERTO VIEIRA
muros que hoje marginam as ribeiras dentro do Funchal. Depois não tomou a cidade
a ser inundada, porque as aguas vão, assim canalisadas, desembocar directamente no
mar; mas as enxurradas continuam a fazer sentir os seus effeitos nos campos, onde, de
vez em quando, ha casaes que desapparecem levados pela tOITente, e quebradas que
desabando sepultam nos seus escombros, tàzendas e gados. Desgraças estas que, além
de outras, bem facilmente se poderiam evitar, se se fizesse a arborisacão das serras; a
qual tão benéfica seria além d'isso para a agricultura, diminuindo os nevoeiros, a que
chamam"barras", e que em certos pontos da ilha são bastante prejudiciaes ás Vinhas,
aos cereaes e aos pomares; augmentando as chuvas e portanto a abundância d'agua
cuja posse tão cubiçada é sempre! Mas nada se fez; e tudo continuou na costumada
inércia, que tanto caracterisa a administração publica na Madeira desde sempre.
Appareceram em 1820 as primeiras determinações municipaes, iniciadas sob o
nome "prevenções" pelo Dr. Corregedor de S. Vicente, que em correição mandou
plantar arvores na serra de S. Jorge cuja arborisação estava muito decadente; recom-
mendando se fizessem as visitas á serra como estava determinado. Em 1822 determi-
nou mais que se não creassem porcos na serra, e fosse a Câmara com as pessoas boas
da teITa demarcar o bardo do Concelho, acima do qual ninguém podia esmoitar nem
cortar arvoredo. Em 1825, afim de se determinarem os telTenos destinados a pasto,
insistiu na demarcação do bardo, determinando que ninguém cortasse arvores ou plan-
tas arbustivas a menos de cento e cincoenta passos das levadas e miradouros, e que
ninguém deitasse fogo na serra sob pena de incorrer nas penas do regimento. Em 1838
uma postura, já impressa, confirmava as detel111inações das anteriores, multando as
pessoas que sendo avisadas para demarcarem o bardo não comparecessem: prohibia
que se utilisassem as arvores que apparecessem na seITa cortadas sem licença da
Câmara; que os cães passassem para além do bardo, excepto os das pessoas com
licença para caçar; que alguém apanhasse piteira para cima d'esta linha antes de IS de
setembro; a destruição do bardo; a creação de porcos na sen'a, podendo a Câmara dis-
por dos que ahi fossem encontrados; a colheita de baga de louro antes do dia 30 de
setembro; e detenninava que fosse marcado todo o gado que estivesse na serra, regi-
stando-se os differentes signaes e sendo a verba proveniente d'estes registos destina-
da ao pagamento dos guardas campestres.
Em 1839 fez-se o Projecto do Regimento de Mattas e Arvoredos da ilha da
Madeira, baseado no Regimento de 1562 e na Carta Regia de 1804; nas suas dis-
posições, prohibe que se faça na seiTa a queima das lenhas para carvão, determinando
que esta se pratique no povoado. Seguem-se-lhe as posturas da Câmara Municipal de
Ponta do Sol de 1839, em que se prohibe o corte das ramas de vinhatico; a de 1840,
multando os que cortassem lenhas verdes da borda do Paul da Sena para baixo; e a da
do Funchal, em que se dá protecção aos arvoredos e prohibe a pastoreação de cabras
e porcos na seITa.
Devem ser d' esta época (1840) as posturas das Câmaras de Machico e Santa Cruz;
que não teem data, mandadas compilar em 1853 pelo Governador Civil do Funchal
João Si1verio de Amorim da Guerra Quaresma; referem-se à construcção do bardo do
Concelho e consideram livres as mattas onde o povo costumava abastecer-se de lenha
e matto, prohibindo o corte das arvores silvestres e arbustos existentes nas cristas dos
montes ou sobranceiras ás estradas; das que estejam a menos de 150 passos de qual-
162
Do ARCA DE NOÉ
de ferramenta para
d'oncle sahiu. N'este mesmo anno,
acerca da existência do na serra e determi-
nava as em que os cercados deviam ser em Câmara de uma
intitulada para os dmnnos nas serras e considerava caca commul11
que se encontrasse solto de 1 de dava as suas HlQII'''I"'I'I''''Q
acerca das a que deviam satisfazer os cercados na serra,
163
ALBERTO VIEIRA
164
Do À ARCA NOÉ
existentes e a
onde confinam com a serra, a fim de
o da
quc dividiu u ilha em dois cantões
e creou um corpo de da Madeira.
Pela dos de de
1913 foi a Madeira
com sede no Funchal e tendo sob todas as mattas existentes no Districlo.
A lei de 23 de de 1 o de concessão de para
U~',"",,'01'" de suíno c considera caça commum todo
encontrado na serra sem
Por Decreto de 28 de maio 1914 foi "",.",,,,,,,,,,
de rural e florestal do arc111flel!lgo modificando o anterior com o
fim de o hannonisar com a nova (Wllr""1~~i~"''' Geral da
165
ALBERTO VIEIRA
CAPITULO JJ[
REVESTIMENTO FLORESTAL
A região montanhosa está comprehendida nas 3." e 4." zonas culturaes; sendo aque-
lla a-que mais nos interessa sob o ponto de vista tlorestal, visto n'ella se encontrarem
as especies indigenas que podem ser exploradas como prodl1ctoras de madeira; assim
como em grande parte as aclimadas, apezar de Richard Lowe as incluir exclusiva-
mente nas 1.0 e 2 O zonas da sua classificação. D'aquellas zonas, apenas uma peque-
na parte esta povoada de especies tlorestaes, predominando o pinheiro bravo.
As essencias indigenas prodl1ctoras de preciosas madeiras: o vinhatico, o til, e
ainda o aderno, o I'olhado, o loureiro e outras, que outr'ora cobriam a ilha quasi por
completo, como relerem os velhos chronistas, e cuja conservação foi cuidadosamente
attelldida por uma extensa legislação que nunca foi devidamente cumprida, estão hoje
reduzidas a proporções minimas. D'ellas existem apenas actualmente alguns
pequenos povoamentos dispersos, dos quaes os mais importantes são os da Serra de
Boa Ventura, da Ponta Delgada, do Alto da Ribeira de S. Vicente, da Serra do Pôrto
do Moniz, da parte norte da Ribeira de Machico, e o existente na margem direita da
Ribeira da .Ianella nas proximidades do caminho do FanaI.
A devastacão a que teem estado ha muitos allllOS expostas as mattas da Madeira tem
reduzido a este c1eploravel estado s soberbas t10restas primitivas. Quem atravessou
alguma vez os pcssimos caminhos do interior da ilha, teve occasião de ver estos de
arvores seculares reduzidas a carvão e outras cortadas para d'ellas se fazerem gros-
seiros utensílios domésticos e madeira, como alguidares, elC. !
(-louve em tempo grande COnsumo d 'estas macieiras, não para obras de marcenaria,
mas lambem em construcções; assim: o til era emprcgado em tabuado. cm caixas para
assucar, soalhos, madres e combustive! para engenhos; do vinhatico faziam-se caixas
para roupa e mais mobilia; () mlerno usava-se no fi:lbrico de pipas para o melaço e para
o vinho; o folhaclo Il1ziam-se armações para casas; do azevinho, cabos para l11achados;
do barbusuno, tallchôes pam <JS latadas; das urzes J'abrienva-se carvão para os ferreiros
e para os LISOS dOlllestieos. Hoje, apezar de quasi nulla a exploracão 'estas essencias,
ainda se Jhzel11 d'e1las algumas obras de marcenaria no Funchal.
O vinhatico e o til são as especies indigenas verdadeirnente importantes; comquan-
to haja outras pequenas arvores, C0l110 o moeano, o azevinho, etc., que tambem são
empregadas na ll1ercenaria, para li mnnurnetura dos embutidos tão caracteristicos da
industria madeirense.
Das especies aclimadas que se encontram nas 20 e 30 zonas, é o prinheiro bravo
(Pinus pillllster, Sol), a essencia que constitue principalmente os povoamentos que
cobrem a região 11 oresta I da ill1n; havendo ainda a considerar o carvalho (Quercus
Robur, L.), () castanheiro (Castanea sativa, Mil!.), a robinia (Robinia pseuclo-acacia,
L.), as ncncias (Aeaiu Melanoxylon, R. Br., A. retinoides, Schlecht, A lophan'a, MilI,
A. dealbata, Lk.), o cucalypto (EuealypLus globulus, abill) e () pinheiro das Canarias
(Pinus canariensls, Ch. Smith).
O pinheiro, que vive na racha cOI11]1rehenclida entre 550 e I :(JOO l11etros d'altitude,
é cultivado na Macieira da formll seguinte: depois de queimado o ll1atto, semeia-se o
pcnisco e o centeio, lendo H terrn sido ou não cavada anteriormente; no anno seguinte
lC16
Do À ARCA DE
ctm"".,,,,,,,,,.pm os castan-
heiros de muitas sendo para notar que nos ultimas annos teem rebentado as
e troncos considerados sêccos que tinham ficado de
Esta madeira é muito para estacas de "corredores vinha" ali
chamam as etc.; e ainda mais o era antes da
que a teem substituido em
usos.
O frueto d'esta arvore tem umá por isso que constitue o ali-
mento exclusivo dos habitantes de varias do interior da durante
muitos mezes.
por toda a ilha de mistura com as outras pre-
onde tem sotft'jdo nos ultimos annos dev-
Thusen. em obras de marce-
167
ALBERTO VIEIRA
CAPITULO IV
MEDIDAS A ADOPTAR PARA O PROGRESSO FLORESTAL DA ILHA
168
Do ARCA DE NOÉ
a quaesquer outras
mesmo todas as
deva ser conservada com o fim de eví-
ou que sirvam de e a e
nascentes.
Em nr(''''''''",,''_0<> ao arrolamento dos terrenos a que acima me refiro
actualmente da Ameriea
do Norte.
Para effectuar convirá empregarem-se de
as essencias abaixo o Vinhatico e A estas essencias con-
veem os terrenos frescos e humidos dos fundos valles da onde encontram o abri-
go dos ventos dominantes.
169
ALBERTO VIEIRA
manta viva que retenha as aguas das chuvas; construidas sebes vivas e pequenas bar-
ragens para a regularisacão dos cursos d'agua, impedindo-se assim que se fonuem as
enchurradas, cuja acção devastadora se tem feito já bem duramente sentir na Madeira;
restar-nos-ha empregar os meios necessarios para se evitarem os estragos produzidos
nas plantações novas, especialmente pelo gado caprino, promovendo a substituição
d'este pelo vaccum.
Para sustentar este gado é necessario crear pastagens para as quaes são muito con-
venientes as palies altas da ilha, como o extenso planalto do Paul da Serra, locaes emi-
nentemente proprios para esse Fim pela altitude elevada e exposição aos ventos humi-
dos do Oceano.
Como é sabido, pastagem não é como se diz vulgarmente toda a superficie que se
cobre de hervas que o gado approveita; é preciso que este revestimento se conserve
durante todo o anno para que constitua uma pastagem natural. As que seccam de verão
por não terem condições proprias para se manterem n'essa quadra do anno, chamam-
se hervagens; embora o alimento que estas fornecem seja de inferior qualidades teem
elIas impoliancia pelas suas grandes extensões e pOlianto pela grande quantidade de
forragens que produzem.
Toda a região da ilha comprehendida entre as altitudes de 700 a 1.500 metros deve
possuir agua em quantidade sufficiente para permittir a existencia de boas pastagens;
visto que, segundo a opinião do EX.m Sr. engenheiro-silvicultor A. Mendes
d' Almeida, são para isso bastantes pouco mais de 1.000 milli1l1etros no continente de
Portugal, e a Madeira, se é certo estar mais a Sul, tambem ha todas as razões para sup-
pôr que pode contar com 1.200 a 2.000 1l1illi1l1etros de chuva, senão com mais. Pena
é que não haja observatorio meteorologico n'aquella zona para que sobre observações
rigorosas se podessem assentar estas conclusões.
O Planalto do Paul da Serra está em excellentes condições para n'elle se fazerem
explendidas pastagens capazes de sustentar milhares de cabeças de gado; visto que
tem uma superficie de 3.000 a 4.000 hectares, hoje quasi completamente escalvada
onde apenas existem grandes moitas de feiteira aproveitada para fazer camas aos ani-
maes; esta n'uma altitude elevada, com nevoeiros constantes; e é cortada em todas as
direcções por numerosos pequenos cursos d'agua.
A seguir vem o Santo da Serra, o segundo planalto da ilha, onde existem além das
partes que estão cultivadas e arborisadas, extensas planicies nas melhores condições
parauma próspera producção pascigosa. Existem ainda muitos tractos de terreno dis-
persos pelas encostas que poderiam ser vantajosamente aproveitados para a cultura
das plantas forraginosas, expontaneas ou aclimadas. Entre estas ha um grande numero
que tendo muito valor pascigoso como: o Anthoxanthum odoratum, a Festuca ovina,
a Poa pratensis, etc., que crescem em abundancia n'um ou n'outro ponto da ilha.
Pelas excellentes condições climatericas da Madeira torna-se extremamente facil a
propagação e disseminação das especies forraginosas que hoje ali vivem limitada-
mente; desde que a sua cultura seja methodicamente feita e bem dirigida.
Para que se melhorem as pastagens l1aturaes é necessario o estabelecimento do reg-
imen pastoril, pois só o Estado pode, analogamente ao que faz no florestal, levar a
effeito essa grande obra de protecção ás pastagens; pela arborisação cios declives rapi-
dos e do solo que não se presta ao enrelvamento; pelos indispensaveís trabalhos de
170
Do ARCA DE NOÉ
a cultura
cisas tam bem
as mesmas
tivar e a diffundir a de ensaio se con-
transferindo-as successivamente
servirão lambem para a e mel-
que se modificam de para
171
ALBERTO VIEIRA
172
Do À ARCA DE NOÉ
173
ALBERTO VIEIRA
Os extravios tornar-se-ão assim impossíveis. Com o auxílio dos cães dos reban-
hos, os célebres massacres de ovelhas registados até agora e feitos por animais
daquela espécie, deixarão de ser possíveis.
Os locais de apascentamento serão indicados pelos Serviços Florestais.
Só mediante autorização expressa dos proprietários dos terrenos, poderão neles
ser apascentados os rebanhos.
Construir-se-ão os abrigos suficientes para que o gado ovino aí passe o tempo
invernoso. Anexa ao abrigo ficará a habitação do pastor.
Os abrigos situados em terrenos particulares serão propriedade do dono do ter-
reno, que terá faculdade de os alTendar ao sindicato de pastores interessado. Os que
se construirem nos terrenos das Corporações administrativas pertencerão ao Estado.
Quando ao proprietário do terreno fôr impossível construir o abrigo necessário, o
Estado construi-lo-à no telTeno público mais próximo ou no que fôr para esse fim
expropriado.
174
Do À ARCA DE NOÉ
I-ARVOREDOS E PLUVIAIS
A notável feracidade do
essencialmente
humana.
Bastará recordar que cerca de setenta e cinco por cento dos seus habitantes vivem
aos labores incessante cultivo das que é por vezes muito árduo
e de devido ao inverosímil acidentado
dos terrenos, como todos sabem.
Era mhp"l,r\"" das necessidades ocorrentes assim o que
se e merecessem o mais desvelado cuidado todos os cle-
ment08 que contribuíssem para o desenvolvimento dessa 1111,"-"1,'" industria e entre
os se destacavam em imediata das levadas e a
cuidadosa dos densos arvoredos
mas com um certo
"as arvores são as mães das mados "caminhos vizinhais" Oll de
entre os diversos sítios encontram neles elementos de
defezas os leitos e os muros
II-W,IfA FLORESTAL
175
ALBERTO VIEIRA
176
Do A ARCA DE NOÉ
177
ALBERTO VIEIRA
Ao contrario do que sucedeu com outras ilhas e terras descobertas, nunca foram
esta ilha e arquipélago conhecidos por outro nome além daquele que primitivamente
tiveram. E' certo que o Dr. Gaspar Frutuoso afirma a que por ser assim mui fragosa
dizem que seu nome era a devia ser ilha das Pedra", mas desta maneira enfática de
dizer do historiador das ilhas se concluiu que ele não quisera asseverar ter tido esta
ilha aquele nome. E além desta passageira referencia de Frutuoso, que não chega a
ser uma afirmação, não se conhece em quaisquer outros escritos antigos ou moder-
nos aquela denominação para designar a ilha ou arquipélago da Madeira.
O ilustre escritor Pinheiro Chagas, em uma das suas ü'equentes digressões á
"margem da histórias escreveu estas curiosas palavras:
"Era esse nome que mais natl\l'almente lhe ocorreria? Quando o termo madeira
designa especialmente os troncos de arvores já derrubados e preparados para usos
próprios, não era estranho que fosse esse nome que servisse imediatamente a
Gonçalves Zarco para designar a ilha, em vez de ilha do Arvoredo, ilha das Flores,
ilha das Matas'?"
Como acima ficou dito,o testemunho até agora irrecusável cios cronistas, dos doc-
umentos da época e da tradição corroboram plenamente o uso do antigo nome, sem-
pre mantido no decorrer dos séculos e sempre adoptado por todos, embora possa, por
uma caprichosa excepção, ser posto em duvida pela fantasia de um distinto literato
Em corroboração do que fica exposto. não deixam de despertar especial interesse
os depoimentos de alguns navegadores e escritores do século XV, que vamos rapida-
mente citar, embora já o tenhamos feito com maior largueza em outro lugar dos nos-
sos trabalhos de historia madeirense.
O celebre navegador veneziano Luís Cadamosto visitou duas vezes a Madeira por
meados do século XV, sendo a narração das suas viagens impressa no ano de J507,
a qual oferece a notável particularidade de ter sido a obra mais antiga publicada em
língua estrangeira acerca desta ilha dc que ha conhecimento. Diz esse ilustre naveg-
ante que por ocasião da "descoberta não tinha palmo de terra que não fosse cheia de
arvores grandíssimas, sendo necessário aos primeiros que a quiscl'Ul11 habitar por-lhe
fogo, o qual lavrou grande espaço de tempo ... e assim desapareceu em grande parte
o dito bosque ... ".
O conhecido navegador português Diogo Gomes, nas "Relações do
Descobrimento da Guiné e das ilhas cios Açores, Macieira e Cabo Verde", por ele
transmitidas a Martinho da Bohemia e traduzida em língua portuguesa 1'01' Gabriel
Pereira ("Bolet. da Soe. Geogr. de Lisboa" n. 5, ano de 1898) làz idênticas afir-
mações, que aproximadamente se referem ao terceiro quartel do século XV.
Uma informação sobremaneira curiosa é a dt! outro navegador italiano Romeu
Aditti de' Peraso, que deixou na narrativa escrita em 1567 estas palavras: .... a ilha
não é habitada senão à beira-mal', pois que na montanha por causa da espessura das
arvo['t!s que ali ha el11111ui grande abundância e altlssimas de maneira que, dizem, por
causa delas sc anda duas ou três léguas sem jamais ver () sol. "
Os nossos ilustres cronistas Gomes Eanes de Azurura, contemporâneo da
descoberta, na sua obra "Descobrimento e Conquista da Guiné", .João cle BaL'I'OS e
Damião de Gois, pouco posteriores á época desse sucesso, na "As ia" (Decada f) e na
"Crónica cio Príncipe Dom João", ratificam esses depoimentos eom a autoridade dos
ln
Du ARCA DI. NII!'
179
ALBERTO VIEIRA
cas, deixamos uma noticia acerca deste notável acontecimento da primitiva colo-
nização, da qual vamos transcrever alguns trechos, que teem a mais próxima
afinidade com o assunto de que nos vimos ocupando e que importa arquivar nestas
paginas.
. O incêndio das matas no tempo de Zargo, o primeiro donatário do Funchal, é um
acontecimento a que particularmente se referem João de Barros, Frutuoso, António
Cordeiro. Manuel Tomás e outros autores, e que também foi perpetuado pela
tradição. Refere Ferdinand Denis que um antigo viajante francês conheceu um velho
marinheiro a quem uma testemunha ocular contara o incêndio da ilha da Madeira, e
segundo o erudito anotador das Saudades da Terra, no Arquivo da Torre do Tombo,
Livro das Ilhas. folhas 84, está a publica forma de um breve apostólico do Pontífice
Paulo II, com data de 1469, em que manifestamente se alude ao mesmo incêndio.
Gaspar Frutuoso, o historiador das ilhas; dá conta, nos termos seguintes, do incên-
dio no sertão da Madeira: "Daqui acordou o capitam (João Gonçalves Zarco), vendo
que se não podia com o trabalho dos homens desfazer tanto, arvoredo que estava
nesta ilha desde o principio do mundo ou da feitura della, e para o consumir, e se
lavrarem as terras, e aproveitar-se dellas era necessário pôr-lhe o fogo; e como quer
que, com o muito arvoredo e pela muita antiguidade, estava delle derribado pelo
chão, e delle seco em pee, apegou o fogo de maneira neste valle do Funchal, que era
tão bravo que, quando ventava de sobre a terra, não se podia sofrer a chama e quen-
tura delle, e muitas vezes se acolhia a gente aos ilhéus e aos navios até o tempo se
mudar; e, por ser o valle muito espesso assi de muito fLlncho, como de arvoredo,
atiou-se de maneira o fogo, que andou sete annos apegado pelas arvores, e troncos,
e raízes debaixo do chão, que se não podia apagar, e fez grande destruição na madeira
assí no Funchal, como em o mais da ilha ao longo do mar na costa da banda do sul,
onde se determinou roçar e aproveitar."
D. Francisco Manuel de Melo, referindo-se ao incêndio da Madeira, diz na
Epanaphora III o seguinte: "He força que duvide do incêndio que (Barros) afirma
durou sete anos por toda a ilha. Ao que, parece, implicão os bosques, que sempre
nella pennanecerão, dos quaes ha tantos annos, se cortão madeiras, para fabrica de
assucares: de que dizem chegou a haver na lha, cento e cinquenta ingenhos; que mal
poderião continuamente sustentarse, depois de hum incêndio tão universal, & menos
produzirse depois delle: mas fique sempre salvo o credito de tal Autor."
Os argumentos de Melo teem um certo valor para mostrar que o incêndio da
Madeira nem durou sete anos. nem se estendeu a todos os pontos da ilha, havendo
ainda a acrescentar que se ele tivesse sido geral, como pretendem alguns escritores,
não poderia Cadamosto, que também se refere ao sinistro, dizer em 1450 que o nosso
país produzia madeiras muito apreciadas, entre as quais sobressaíam o cedro e o
teixo. E' ainda de advertir que para o fogo durar sete anos consecutivos em matas
constituídas especialmente por essências folhosas, seria preciso que durante esse
longo espaço de tempo não caíssem na ilha nenhuns desses violentos aguaceiros que,
ainda hoje, apesar das chuvas serem muitos menos abundantes do que outrora, inun-
dam os vales do interior e dão origem a torrentes que se despenham em catadupas do
alto das serranias".
Não padece duvida que muitas matas do vale do Funchal e de outros pontos da
180
Do ARCA DE NOÉ
Funchal", o
que sete anos andou vivo no bravio
criado avia tantas centenas de anos."
Diz o Dr. Alvaro de Azevedo que tendo sido a sul da ilha
cisamente a cultivada c habitada do não só
que ahi fossem pouco a pouco rateados os terrenos por meio de incêndio das matas
sistema que ainda por falta de por outras rasões
e por necessidade momento, se emprcga nas sertões
também que a estes se fosse recorrendo nos septe ""'''''>l1''~C
anos, sem que disso poucos se achassem O sul da ilha da
Madeira foi e e é a zona
do fora para que o trabalho do homem ahi da devas-
E limitado o incêndio a uma da ilha somente, os em contrario
a Mel10 mesmo duvida não tanto do quanto de que este fosse
tão universal".
Reduzido o sinistro ás que lhe atribui o Dr. não ha motivo
para que deixemos de aceitá-lo como verdade tanto mais que, como diz o
p",~nt(w ele se acha autenticado clara alusão do Breve que é
foi um erro, não resta mandar aos arvore-
a mas desse erro não resultou felizmente o com-
das matas. como já atrás se viu.
duvidar-se que narrativas da (ii: incêndio
de acentuada que a estranheza e a anormalidade do
e até certo inteiramente se É, indubitável e
constitui uma verdade histórica a existência desse
não deixou de como uma necessi-
dade que as circunstancias ocorrentes aconselhavam. O incêndio aumentou a feraci-
dade do clareiras para o amanho das melhor escolha dos
a dos pequenos a mais esper-
ançosa os trabalhos da que iam ser iniciados.
No decorrer do e todos muitos incêndios tcem ocorrido nas nossas
tão avultados
como o que se deu no mês de
nos fornece uma desenvolvida noticia.
181
ALBERTO V1E1RA
v. EXPLORAÇÃO DE MADEIRAS
Não tendo o célebre e primitivo incêndio revestido a intensidade e atingido a
extensão que alguns escritores lhe pretenceram assinalar, sabe-se que uma parte con-
siderável da ilha ficou ainda coberta com uma densa vegetação florestal. cuja con-
servação se deveria. ter cuidadosamente mantido através do tempo ou cujo imperioso
desbaste se procuraria fazer de modo a evitar a sua grande devastação.
A construção das primeiras habitações e ainda a das mais antigas capelas era feita
com a matéria prima fomecida pelas matas, o que perdurou por largo tempo sendo
também estas que fomeciam o indispensável combustível para os usos domésticos
dos incipientes colonizadores.
Não se fez esperar muito tempo que um largo e pouco criterioso emprego das
madeiras supervenientes desse incêndio se iniciasse activamente e sem demora
tomasse as proporções do mais condenável vandalismo.
Da superabundância das madeiras, da sua quantidade, da sua procura no conti-
nente português e ainda no estrangeiro surgiu a ideia de uma larga exportação e do
seu correlativo tráfego comercial, criando-se desde logo uma importante Fonte de
receita, em um meio tão acanhado, como ainda era então a Madeira.
Uma nova indústria, embora de feição bastante elementar, teve de criar-se: a da
preparação das madeiras para o embarque. Era preciso abater as arvores, selTalas e
apropria-Ias ao fim a que particularmente se destinavam.
Vieram então as chamadas "serras de agua", que se multiplicaram por diversos
pontos da nossa ilha. A paroquia da Serra de Agua e os sítios que ainda hoje conser-
vam esse nome nas freguesias de Machico, Calheta, Santana, Faia], Boaventura,
Seixal e ainda, porventura, em outros lugares, lembram sem esforço esses rudi-
mentares "engenhos" destinados á serração das madeiras pela acção da força
hidráulica e que eram montados nas margens das caudalosas correntes.
E sobremaneira curioso este trecho do doutor Gaspar Frutuoso: " ... havia tanta -
quantidade de madeira, tão formosa e rija, que levavam para muitas partes copia de
tábuas, traves, mastros, que tudo se serrava com engenhos ou serras de agua que
neste tempo ... começara a fazer com ela navios de gávea e castelo de avante, porque
dantes não os havia no reino".
Para este assunto, oferecem particular interesse os seguintes períodos, que tex-
tualmente transcrevemos da 3a edição da Historia de Portugal de Pinheiro Chagas
(11-252):
"Azurara, tratando das vantagens que resultaram dos descobrimentos devidos á
iniciativa do infante D. Henrique menciona "as grandes alturas das casas que se, vão
ao céo e fazem com a madeira daquelas partes. Ao que, o visconde de Santarém
acrescenta esta nota: Esta interessante particularidade indica a madeira transpoliada
a POliugal das ilhas novamente descobertas pelo infante D. Henrique, principalmente
da ilha da Madeira, fora em tanta quantidade, que a sua abundância fizera mudar o
sistema de construção dos prédios urbanos, augmentando os andares, elevando assim
as casas, substituindo-o por esta sorte ao romano e árabe, que até então provavel-
mente se usara".
Várias referências temos encontrado à exportação de madeiras que desta ilha se
182
Do ARCA DE NoÉ
fazia destinadas a
extraída
matéria
de agosto do referido ano: " .. somente
na dita ilha fazer bateis de pescar e de carreto para serventia da dita os
seus donos vender para fora dela sob pena de pagarem cincoenta
dois anos para a
de que nos vimos UvU,J,""'",V,
' .... 0'1-' ...,""""." a este assunto no interessante "Serras de nas
ilhas da Madeira e POlio Santo", da autoria do di~tinto madeirense Dr. Jordão de
e entre elas se cita a carta de 30 de Ju I '''; em que se faz
a Nuno de Sousa de uma "serra de na ribeira de ::.ào Bartolomeu tinha de agua
que delimita as da Calheta e Estreito da Calheta.
da voracidade do a Madeira se repovoou
não levou anos a cobrir-se de uma extensa. e abundante
das madeiras de que se usou e
dos
183
ALBERTO VIEIRA
184
Do DE NOÉ
evitar inteiramente os
resultar do seu fabrico.
O decreto de 23 de Julho 1913. que se ocupa da
estabelece uma valiosa acerca do fabrico do transcr-
ever:
Art 8-A da data da pc"u ll'~"~~"U da o fabrico do
carvão de lenha na ilha Madeira. a não ser dos arvoredos ou
por indivíduos eles devidamente autorizados e dentro das suas "r{Wl1·,p/i
A este tem sido. dada uma latitudinária e à sombra dele não
faltou a
colonizadores não se eon-
os benefícios que a abundância 110-
C01110 excelente
até se
ás leis que esse
O mal continuou e ainda se constróem
pequenas para não existem as conhecidas "Serras de
machado não deixa de trabalhar activamente e com dos
de que nos últimos anos teem CL<J,;" ........ " ,
185
ALI3ERTO VIEIRA
Foi talvez ainda maior a destruição, causada nas nossas reduzidas matas no perío-
do decorrido de 1914 a 1916, especialmente pelos "agentes" de vapores costeiros,
que nos diversos pOlias e destinados a alimentar as caldeiras dessas embarcações,
foram milhares de arvores arrancadas às serras e em que algumas espécies florestais,
já muito raras, desapareceram inteiramente.
De todos os inimigos das florestas madeirenses não é o "negociante de madeiras"
o menos prejudicial ao bem comum, contando muitas vezes com a especial protecção
de qualificadas entidades, que gravitam em torno das estações oficiais.
Um jornal do Funchal, no seu número de IOde Maio de 1945 fornece-nos esta
curiosa informação:
No Montado do Pereiro os guardas florestais teem surpreendido, nestes últimos
tempos, centenas de indivíduos que se embrenham nas nossas serras. a rolar e a
abater tudo quanto se encontra a vegetar, e o descasque de arvores para as oficinas
de curtimentos de peles é o maior negócio a que se podem entregar os ladrões" das
senas, deixando nuas as arvores de renome florestal, só com a mira no interesse".
A opulenta riqueza florestal da Madeira não foi de todo destruída, mas apenas bas-
tante atenuada pelo celebre e primitivo incêndio, sendo principalmente a acção
imprevidente e vandálica dos seus habitantes, que através do tempo a vem reduzido
a bem lamentáveis, e quasi mesquinhas proporções.
Muitas razões persuadem que sem demora se tivessem adoptado medidas repres-
sivas para impedir e castigar os abusos cometidos, mas não se conhecem a natureza
dessas primeiras providencias, a época precisa da sua promulgação e as penalidades
impostas aos delinquentes.
O mais antigo diploma legislativo de que há seguro conhecimento é o alvará régio
de 7 de Maio de l493, que embora se ocupe particularmellte de várias concessões
acerca de fontes e nascentes, encerra estas curiosas palavras referentes ao nosso
assunto, que impOlia transcrever: ... os freixos e cedros, que para nós reservamos a
não lIsarão nem cOliarão ... a não ser para algumas igreja ou casa de câmara ou a quem
dermos ... licença por carta nossa".
E a propósito diremos que ha meio século ou pouco mais existiam ainda em vários
pontos da ilha muitos maciços dos nosso cedro indígena, a tão apreciada e odorífera
madeira bastante empregada na marcenaria madeirense, Não sabemos se hoje, ao
menos como simples e saudosa amostra do passado, se encontram ainda alguns
exemplares em qualquer afastado recanto das matas do interior.
O ilustre comentador das Saudades da Terra faz menção de um antigo diploma,
datado de 14 de Janeiro de 1515 e destinado a proteger as florestas da ilha, declaran-
do que não conseguiu obter copia desse documento. Transcreve, porém, integral-
mente o conhecido "Regimento das Madeiras" de 27 de Agosto de 1562 que informa
achar-se registado a foI. 128-133 do Tomo Segundo do Arquivo da Câmara
Municipal do Funchal. (Vid. Saud, 463-471).
Faz preceder essa transcrição das seguintes palavras: "E diploma importante á his-
186
Do À ARCA DE NOÉ
187
ALBERTO VIEIRA
integralmente transcrever, neste lugar, mas do qual deveria tàzer-se uma publicação
especial, acompanhando cada uma das suas disposições legais dos indispensáveis
comentários acomodados ás circunstancias actuais da vigente legislação florestal.
Os alvarás régios de 28 de Outubro de 1593 e 26 de Janeiro de 1596 ratificam e
em alguns pontos ampliam as disposições contidas nos "Regimentos das Madeiras",
devendo supor-se, com bom fundamento, que a frequente promulgação destas leis
coercitivas seria determinada pelos também frequentes abusos que então se cometi-
am.
No "Índice Geral do Registo da Antiga Provedoria da Real Fazenda (a) encon-
tram-se mencionadas outras detenninações legais referentes a esta matéria, sendo a
mais antiga a de 2 de Janeiro de 1610, que é o alvará régio de Filipe Il, que estab-
elecendo acertadas providencias com o fim de coibir os actos de vandalismo pratica-
dos nos arvoredos e comina penas severa aos transgressores das respectivas leis
vigentes.
No citado "Índice" acha-se exarado esta interessante informação: "O Conselho da
Fazenda (do Funchal) não só mand remeter as devassas que se tiraram na força da
Provisão do Senhor Rei Dom João IV de 12 de Janeiro de 1641 para se acautelarem
os inconvenientes resultantes dos cortes das madeiras, mas também determina que se
povoe a serra de arvores, guardando-se o Regulamento e a lei do Senhor Rei Dom
Manuel e executando-se as penas decretadas contra os transgressores e finalmente
que se pergunte nas residências do juiz de Fora e do COlTegedor por este descuido.
Este alvará régio de D. João V visava especialmente a lima mais, rigorosa observân-
cia de muitas determinações legais que tinham decaído em quase inteiro desuso.
Em 1790 exerceu o Dr. António Rodrigues de Oliveira o cargo de corregedor, que
acumulou com o lugar de inspector da agricultura, tendo deixado na secretaria da
Câmara da Calheta umas instruções sobre diversos serviços agrícolas, considerados
de grande proveito e redigida com o mais atinado critério, em que se estabeleceu
algumas regras acerca do repovoamento florestal, merecendo ainda hoje serem lidas
e consultadas.
Entre os relevantes serviços prestaçlos pelo engenheiro Reinaldo Oudinot, ao diri-
gir os trabalhos de reparação dos estragos causados pela grande aluvião de 1803,
importa destacar a redacção de umas Instruções... dirigidas aos proprietários e
agricultores, que aconselham a adopção de importantes medidas referentes á conser-
vação dos arvoredos e que o alvará régio de [J de Maio de 1804 e ainda outros
tornaram obrigatório o seu cumprimento.
No antigo arquivo da Câmara Municipal do Funchal acham-se registados muitos
diplomas dos séculos XVII e XVIII, referentes a este importante assunto, acaute-
lando eficazmente a conservação dos atvoredos, adoptando acertadas providencias
para o seu desenvolvimento e impondo severos castigos aos transgressores. A estas
determinações legais nos homens ainda de referir, quando particularmente nos ocu-
parmos de algumas das medidas de caracter pratico, que então se adoptaram para
esse fim.
Além dos documentos mencionados, é curioso verificar-se que em varias deter-
minações legais, estranhas a esta matéria, se encontram algumas interessantes e
proveitosas referencias aos assuntos florestais.
188
Do À ARCA DE NOÉ
que
deveriam
dos terrenos
á sua
"prh""",,.,,, ao estado e aos
as suas "Posturas" em conformidade
189
ALBERTO VIEIRA
com as disposições do novo decreto; 6. criar uma repartição central com largas
atribuições para a direcção de todos os serviços, como já foi deliberado pela Junta
Geral, na sua sessão de 29 de Setembro de 1930.
X-TERRENOS "BALDIOS"
190
Do ARCA DE NOÉ
e também á permanente
moradia dos cultivadores. Em mais acentuadas se observam
os mesmos fenómenos no conhecido "Paul da Serra", do
de 18 de Setembro de 1811,
o mais
que conhecia
madeirense:
onde a existência das floristas é
e IlCOI1-
necessária debaixo do
Ollde para o terreno, porque os
das interessam á sociedade e não unicamente
de um indivíduo no interesse fi
se ele entende de conveniência
tum.
"A florestal não encontra além disso de nas
191
ALBERTO VIEIRA
mãos dos particulares cuja necessidade imediata de gozo não se concilia de forma
alguma com o tempo que exigem os produtos lenhosos, para adquirirem qualidades
vendáveis.
"Na Madeira é urgente submeter a um regimen especial a zona arborisavel, e a
ideia que apresentamos é tanto mais plausível, quando que, sendo certo ser esta faxa
propriedade de municípios que não tiram dela rendimento algum, ou de particulares
pouco firmes na sua posse, e colocados nas mesmas condições das Camaras, a sua
execução se torna muito mais fácil."
O recente decreto de 27 de Maio de 1946 veio facultar a cessão, mediante certas
clausulas, de telTenos "baldios", em favor de "casais" menos providos de haveres e
também em favor de uma mais útil e apropriada expansão populacional
Cumpre que se mantenha a doutrina exposta nos anteriores capítulos deste estudo
com respeito à conservação, aplicação e propriedade desses terrenos harmonizando-
a com as disposições agora decretadas
A nova lei acerca de Baldios (26-Maio-46) na sua Base XXX estatui o seguinte:
"Nos terrenos baldios, cuja divisão não seja de aconselhar, a Junta de Colonização
interna estabelecerá o regime de logradouro comum, destinando-se à cultma ou apas-
centação de gado no interesse dos moradores mais necessitados"
As duvidas que possam surgir na conciliação dos preceitos estabelecidos na cita-
da lei com as paIticulares necessidades do arquipélago, seriam suficientemente
esclarecidas na promulgação dos indispensáveis decretos a que varias vezes nos
temos referido. Embora se deva dar inteiro cumprimento as leis gerais do país, é no
entretanto sabido que em todos os tempos e para diversas localidades se tem atendi-
do a imperiosas circunstancias de caracter regional, tendo os legisladores olhado com
solicitude para a satisfação dessas impreteríveis necessidades.
As suas condições oro gráficas, a natureza do solo, a sua relativa extensão, a alti-
tude em que se acha situada e as tão apreciadas vantagens que oferece aos povos dos
concelhos da Ponta do Sol, Calheta, Porto do Moniz e S. Vicente exigem uma par-
ticular referencia ao conhecido lugar do "Paul da Serra". embora nos limitemos a
repetir o que está dito em outras publicações e que também já deixamos exposto com
algum desenvolvimento nos trabalhos da nossa autoria Elucidário Madeirense e
Dicionário Corografico do Arquipélago da Madeira.
E a única área de território que na acidentadissima superficie da Madeira pode
merecer o nome de "planalto", apesar do acentuado relevo que apresenta em quase
toda a sua extensão.
Demora a uma altura média de 1500 metros acima do nível do mar e tem aproxi~
madamente seis quilómetros de comprimentos e três na sua maior largura, com-
putando-se a sua supert1cie em cerca de 16 quilómetros quadrados. E' logradouro
comum e muito aproveitado pelos habitantes das freguesias circunvizinhas para a
apanha de lenhas destinadas a combustível e especialmente de ervas e matos, para a
engorda dos gados e como matéria prima para os adubos de curral. Serve de pasta-
192
Do ARCA DE NOE
e 4 da Casa
193
ALBERTO VIEIRA
194
Do ARCA DE 1',101:
Fica situado nas serras da vizinha do ;vfonte e estende a sua vasta área
desde o ribeiro do Pisão até o que é muito abun-
dante em e nele nascem caudais que alimentam as levadas do
Santa Luzia e Hortas. Teem ali sua as conhecidas nascentes dos
Tomos destinadas ao abastecimento da cidade. Era em parte da
Câmara do tendo-se suscitado varias e
entre dos que foram dirimidas em
ais e que terminaram no ano de 193 L ficando na posse das abundantes
aguas dos Tornos. Sobre esta matéria os '"A
do Montado do Barreiro" por Pedro de Gois Pita e da
Montado do Barreiro Câmara do FunchaL:' por Juvenal
realizando
do montado e a sua con-
veniente utilidade Destina-se o
195
ALBERTO VIEIRA
196
Do ARCA DE NOÉ
011 então nos pontos elevados húmidos das encostas meridionais e setentrion-
ais da nossa ilha.
para o revestimento do Porto
lI1"1I,wr'r\,"<l
FLORESTAIS
o direito de em
todos os Cpy·""·',",,, era
exercído por intermédio dos seus rerlre,:;erltal
e outros se encontram referencias nas
ores. Com a dos nos nr·Il1('Il,.n~
e não raro se suscitaram graves conflitos de
entre essas ciosas dos seus c os tradicionais
que se achavam discricionariamente investidos os chefes das
lemos uma prova em mas das mais
, das ainda restam LImas vagas e noticias
Temos a ele que os "Baldios" das Camaras foram uma con-
cessão tácita favorecida circunstancias de v,-"""""u, não existindo um
que a tivesse autorizado. O decrescimento do dos
197
ALBERTO VIEIRA
198
Do AARCA DE NOÉ
199
ALBERTO VIEIRA
200
Do DE NuÉ
do continuou no fervoroso
e novamente se ocupou com o costumado brilho e reconhecida
momentoso assunto. em uma das da assembleia nacional no mês de
ver em breve coroados os seus
XVI- VIVEIROS
Nos ou em
201
ALBERTO V1E1RA
enquanto não se lhes destinasse terreno próprio". No ano de 1823, a dar se credito a
uma informação oficial, distribuiu esse viveiro "para cima de vinte mil arvores" para
diversas pontos da Madeira e Porto Santo, o que julgamos destituído de fundamen-
to, havendo esse campo experimental sido extinto em 1828. Deste "viveiro" se
encontra uma desenvolvida noticia no terceiro volume do Elucidário Madeirense.
Oferece particular interesse ao que fica tratado neste capitulo a informação colhi-
da em um jornal do Funchal e que temos por fidedigna.
Já no capitulo Montado do Barreiro, nos referimos ao importante serviço de rear-
borisação que a Câmara do Funchal está ali realizando mas não queremos deixar de
aludir ao "Viveiro" que a mesma Câmara mantém no sitio dos Saltos freguesia de
Santa Luzia, destinado a fornecer as espécies arbóreas para aquele revestimento flo-
restal. São muitos milhares de plantas e de variadas espécies, cujas sementeiras,
tratamento, conservação e transplantação obedecem ao mais atilado critério.
Tem a mais próxima afinidade com este assunto os textos, que em seguida tran-
screvemos, publicados em o "Eco do Funchal" de 29 ele Novembro ele 1945 e a que
já acima fizemos referencia.
"A distribuição das essências florestais está feita segundo as necessidades emer-
gentes. Há o pinheiro, a criptoméria, o eucalipto. o carvalho para aduela, o azevinho,
a nogueira americana, e o castanheiro, plantados aos milhares em extensas áreas. Há
os tis, os vinhaticos, o pau branco, o barbusano, a faia, o seiceiro, as acácias e estão
a seguir para esses montados, mais de 70.000 plantas de várias espécies, devidamente
acondicionaclas no Viveiro do Reservatório da Câmara, ao caminho dos Saltos, onde
se fazem as sementeiras.
A industria de tanoaria com os massiços de carvalhos que se hão-de formar no
Barreiro e no Pisão, lucrará com essas plantações; a indústria de marcenaria. com as
madeiras de castanho e outras que já começam a faltar e a encarecer o seu valor, terá
garantido o exercício do trabalho; os construtores encontrarão toda a espécie ele
madeira para uso na edificação das habitações, desde o pinho da terra, até às mais
raras madeiras para soalhos, molduras, "parques", e a exportação vai descobrir ness-
es montados matéria prima para a confecção das caixas de embalagens. A indústria
resineira terá nessas florestas urna fonte de produtos exploráveis, e com as cascas de
certas arvores encontraremos solução para as faltas que já se vão notando no aman-
ho elas curtimentas, sem falarmos nas lenhas, cuja deficiência se vai tornanclo um
pesadelo paras as elonas de Casas"
Tem sielo objecto ele estuelo e de discussão a escolha das espécies tlorestais preferi-
da na rearborisação das nossas elevações montanhosas. Escasseiam-nos os conheci-
mentos de caracter técnico para emitir um autorizado parecer acerca desta matéria,
mas as varias leituras que fizemos e as consultas a que procedemos, levam-nos u
aceitar, sem talvez cometer um erro da maior gravidade, a opinião cio abalizado
botânico madeirense Carlos Azevedo de Menezes, expressa em muitos dos seus
escritos e corroborada por alguns distintos engenheiros silvicultores.
202
Do À ARCA DE NOÉ
XVIII-AS PRINCIPAIS
203
ALBERTO VIEIRA
204
Do À ARCA DE NOÉ
Câmara IV!'''''''''',"""
no seu brazão de armas.
Faia-A
do
flores dioicas c ü'utos
vermelhos e l1egros, reunidos em pequenos grupos em
virtude da aderência das flores femininas. A faia boa c os seus caulcs
205
ALBERTO VIEIRA
são utilizados para estacas em muitos pontos da costa norte. A sua casca é taninosa,
a sua madeira é de cor baça, puxando ás vezes a rosado, e os seus frutos, aparente-
mente polispermicos e granulosos, teem sabor agradável quando bem maduros.
Sanguínho-E uma arvore madeirense de quatro a oito metros de altura, perten-
cente á família das "Rhaminaceas", com folhas curvadas ou ovado-oblongas, ser-
radas, providas ordinariamente de 2 a 4 pequenas glândulas ou saliências na parte
inferior da pagina superior. Tem flores pequenas, dum amarelo esverdinhado, dis-
postas em cachos curtos, axilares, e encontra-se na serra do Seixal e entre os
Lamaceiras e o Ribeiro Frio. Produz madeira clara e homogénea, empregada outro-
ra em embutidos, mas hoje desconhecida da grande maioria dos marceneiros, por ser
muito rara.
Seixo-Abundou em outro tempo, mas acha-se hoje quasi extinta esta arvore das
florestas da Madeira, sendo hoje quasi desconhecido. Atinge 2 a 12 metros, sendo de
madeira amarelada e é susceptível de bom polido, com largo uso na marcenaria em
outro tempo".
XIX- PASTAGENS
206
Do À ARCA DE NOÉ
Nela se
a)
centes aos donos desses
c) dos mesmos rf''''i·p._',n~ lm!)eOtnclo que o possa sair
dessas áreas;
os baldios do estado ou das câmaras que forem destinados a
serão também inteiram en-te
sómente ser exercido por meio de
a á caça e á
Reconhece-se que esses embo-ra encerrando
!-,U''''"IJ''"" e satisfazendo as necessidades do momento em que foram
atlng1em inteiramente o fim a necessidade de os modificar
e
actualidade os trechos que tran-
ha poucos mêses em um do Funchal:
que ha lavradores nos campos que de utilizar os
seus telTenos em ZO-l1a8 altas com receio de verem totalmente destruídas as suas cul-
turas.
está ainda para matar!
m0l111cnte o estão sendo desses animais
lrc:qllel11:erriente se haverem dado batidas ao desde
da autoridade administrativa da mesma forma as serras do
enfim todas as serras da Madeira.
com um
foram
matando a tiro o nocivo à ve:get:aç:áo,
de culturas. E esse
207
Al.Ill·Xro VIEIRA
20X
Do ARCA DE NOÉ
1. e 7125 de lã
209
ALBERTO VIErRA
XX-PRADOS FORRAGENS
Têm próxima afinidade com o serviço pecuário das Pastagens, versado no capítu-
lo anterior, as considerações que acerca dos "Prados e Forragens" vamos resumida e
parcialmente extratar dum estudo do ilustre botânico Carlos Azevedo de Menezes.
Embora não Pertilemos a opinião dos que sustentam que a indústria pecuária dos
gados lanígero, caprino e suíno constitui um apreciável elemento de prosperidade na
vida económica da Madeira, não queremos deixar de referir-nos a este assunto, .que
poderão oferecer qualquer interesse ou simples curiosidade a alguns dos raros
leitores destc opúsculo.
Os terrenos ervosos da Madeira entram quasi totalmente na categoria de prados
naturais, existindo apenas alguns de caracter artificial na Quinta cio Palheiro e em
mais duas ou três localidades.
Nos prados naturais, relativamente ao nosso meio, ha a considerar os da região
inferior, média e do interior da ilha. O grande aproveitamento dos terrenos para as
culturas faz com que os prados da zona inferior ocupe somente certas encostas a\can-
210
Do ARCA DE NoÉ
as
aguas de Na e na zona can-
stantemente visitada as ervas conservam-se verdes por mais
até meados ou tlns de o que é de ainda mesmo para os Crl-
adores de ''''"11''',"'''''0 do litoral que lá sobem fi às
211
ALBERTO VIEIRA
Abrimos este ligeiro estudo, mostrando que a Madeira era uma região de natureza
essencialmente florestal, embora o vandalismo dos homens procure desmentir esse
tão acertado juízo, que a história atesta e a cxperiência plenamente confirma.
Queremos terminar, aduzindo alguns elementos de caracter cientifico, que a botâni-
ca oferece, para provar que, além dessa acentuada feição arborescente, guarda tam-
bém todas as condições próprias de 110ra de aspecto universal, com uma rica e larga
representação das mais variadas espécies do reino vegetal, espalhadas por muitas
partes do nosso planeta.
Vamos para isso recorrer aos homens de ciência, que se ocuparam deste assunto e
de modo especial a Richard Lowe, Eduardo Dias Grande e Carlos Azevedo de
Menezes.
212
Do À ARCA DE NOÉ
que nascem
turas, nos
"Nos tenenos das serras. situados acima dos bardos
ou minadas quc ficaram no solo e a 1V""'!;""
senão o único alimento do
XXI-A INDUSTRIA
213
ALBERTO VIEIRA
Aos forasteiros de uma mediana cultura intelectual que nos visitam, fere logo a
sua atenção os belos trechos da antiga e opulenta vegetação t10restal que ainda
restam e de modo particular a variedade e abundância das espécies botânicas, sobre-
tudo dispersas em varias quintas e jardins desta ilha.
Encontram-se em familiar e agradável companhia, respirando o mesmo ar e ilu-
minadas pelo mesmo sol, diz-nos um desses homens de ciência, plantas de quasi
todos os países do mundo, sem serem precisos abrigadouros ou estufas para a grande
maioria delas-circunstancias que dá logo a ideia da excelência do clima e da bondade
do céo, que a cobre e protege. Representa um trecho, reunido da 110ra de latitudes
muito diversas, deparando-se ao lado das espécies arbóreas de porte altivo e
majestoso dos países intertropicais com as plantas humildes e rasteiras das regiões
setentrionais.
Nesta ilha, como nos países montanhosos e em que se observam variadas
condições do clima, são bastante diferentes as zonas de vegetações, que Lowve pro-
fundamente estudou e que em geral teem sido adoptadas por todos. Apesar dessas
características diferenças, mantém o cultivo de outras plantas em zonas, que se dis-
tanciam entre si, pelas desigualdade das altitudes em que se encontram.
"A Flora norestal da Madeira, diz Dias Grande, é muito rica e variada. A situação
privilegiada desta ilha e a conformação das suas montanhas permitem que se encon-
trem aqui todas as Traduções de temperatura, e sem gozar daqueles extremos de calor
e humidade, que produzem as luxuosas ostentações dos trópicos, é todavia rápido o
desenvolvimento da vegetação e grande a diversidade das arvores sempre verdes.
Por vezes mandou o Senhor D. João VI para esta ilha sementes de varias arvores
tanto da Índia como do Brasil. Em 30 de Dezembro de 180 I vieram com grande
recomendação sementes de teca e de diversas plantas. Mais tarde, em 29 de Outubro
de 1800, vieram sementes das plantas da América constantes da seguinte curiosa
relação ... (cerca de duas dezenas de espécies) ... A solicitude com que se repetiam
estas remessas introduzia rapidamente na ilha as riquezas norestais de quasi todos os
pontos do globo, e a ter a sua propagação e cultura merccido mais cuidado, seria ela
hoje (1865) uma das suas mais importantes produções e de muita singularidade o ver
cm tão limitada superf1cie a numerosa colecção de quasi todos os vegetais arbóreos
do globo".
São de um distinto regente 110restal e agrícola estas palavras: "".A primeira
impressão ocorre-nos logo dominadora. A paisagem madeirense traduz-se nas mas-
sas vegetais que serpenteiam nas suas encostas e vales, que emolduram aqueles pon-
tos brancos que são as casitas espalhadas nas t11ldas dos montes. A ilha dos Amores
guarda ainda no seu seio as frondes arbóreas que serviram de ccnário à \lpoteose do
nosso Épico e esse aspecto é sobre todos os outros aquele que no nosso espirito mais
se arreiga, mais vulto adquire e mais domina a nossa sensibilidade."
Em duas dezenas de páginas do "Dicionário Corográfíco do Arquipélago da
Madeira", da nossa autoria, deixamos textualmente transcritas as palavras com que
muitos homens notáveis em vários sectores da actividade humana traduziram as suas
impressões ao deüontar-se com o maravilhoso cenário da nossa paradisíaca pais-
agem e em que de modo especial se referem à rica e variada vegetação Madeirense,
tendo expressões de especial apreço e de enternecida admiração pela diversidade,
214
Do À ARCA DE NOE
e
Madeira" e da pena de Carlos
da Madeira
265 muscincas e 916
"",C"UI<''', fica o grupo ou divisão das
e o das vasculares com 45. No grupo das
que consideramos endémicas e 55 que são comuns ao
Ulí.";;l<t"U da Madeira e a outros de ilhas do o quc a dizer que
641 159 se não encon-
"~" .. ,,,,~~ rep-
entre arvores,
grupos, que são os mais
são 1 da Madeira e
11 da Madeira e Canárias e 9 ou
"',)<-1-,'-', por 22 4 das se não encon-
uma delas no vizinho de
Marrocos"
em
na "Sociedade de
José Mateus
ao
,.",j·", ..,'nhe-Q
dos tendo Sua Ex.a o Ministro da "''''JHUlL por seu ",.. 'pUVHU
florestais
21
ALBERTO VIEIRA
INTRODUCÃO
216
Do ARCA DE 1'\0[,
217
ALBERTO VIEIRA
que um dos mais graves erros que o homem pode cometer é provocar a extinção de
uma qualquer espécie dos seres vivos com que a Natureza o dotou, compreende-se
imediatamente que se tomem todos os cuidados para evitar que isso aconteça com
este raro tipo de vegetação de que a Providência nos fez fiéis depositários. Não
temos, de facto, o direito de deixar desbaratar essa dádiva da Natureza que constitui,
aliás, um dos principais valores e encantos desta Ilha de tão reconhecida e rara
beleza.
Se reflectill1l0S depois sobre as condições topográficas, agrológicas e climáticas
que caracterizam a ilha da Madeira, somos forçosamente levados a concluir que o
revestimento florestal é também sob este aspecto elemento que muito importa con-
siderar.
Com efeito, o extraordinário relevo do terreno, profundamente retalhado por essas
ribeiras colossais, de tão esmagadora imponência, como são principalmente a de
Machico, a do Faial, a de S. Jorge, a do Porco, a de S. Vicente, a do Seixal, a da
Janela, a da Madalena, a da Ponta do Sol, a Ribeira Brava, a dos Socorridos, a de St.a
Luzia e a de João Gomes, logo nos indica a formidável erosão a que está sujeita esta
Ilha. Para fazer-se uma ideia do que é esse fenómeno erosivo basta fixar a atenção no
volume dos materiais catTejados por essas torrentes ou reparar na extensa orla acas-
tanhada que o mar apresenta na sua foz, durante a época das chuvas: que milhares de
toneladas de terras e calhaus não serão assim levados, ano a ano, para o marl ...
É, pois, necessário, para defesa do solo, que se mantenha arborizada a parte
cimeira das serras e que se estabeleçam nos terrenos das encostas susceptíveis de
agricultar-se cuidados especiais contra a erosão, mormente armando o terreno em
sucalcos-"poios" e "mantas", segundo a terminologia madeirense-, constituindo
valas de captação das águas-as célebres levadas com que o vilão põe à prova uma
rara intuição a que a necessidade o obrigou-e estabelecendo sebes vivas ou faixas de
vegetação natural que, orientadas segundo as curvas de nível, se oponham ao arras-
tamento da terra pela água das chuvas.
Do mesmo passo assim se promoverá a conveniente utilização dessas águas que,
uma vez disciplinadas, serão a maior riqueza da terra, o seu próprio sanguel Sem
elas, em muitos casos, o agricultor madeirense ver-se-ia a braços com a miséria e
seria impossível o progresso que nesta ilha se vai acentuando desde que as grandiosas
obras dos Aproveitamentos Hidráulicos começaram a produzir os seus magníficos
efeitos.
Impõe-se por conseguinte não deixar enfraquecer as nascentes de água, essas
fontes de que resultam tantos beneficias, e toda a gente conhece a notável influência
que a arborização exerce nesse sentido: não tanto como elemento de atracção das
chuvas, mas sobretudo como meio de intercepção dos nevoeiros promove a conden-
sação da humanidade atmosférica, ao mesmo tempo que reduz as perdas por evapo-
ração superficial, aumenta o poder de embebição do terreno e regulariza os manan-
ciais de água no subsolo.
Também sob o ponto de vista económico, propriamente dito, a floresta desem-
penha ainda e desempenhará por largos séculos importantíssima função nesta terra
abençoada. Com tão densa população, a maior parte dos seus habitantes vê-se obri-
gada a autênticos prodígios de vontade e sacrifício para conseguir uma pequena
218
Do À ARCA DE NOÉ
vida
suas
que esse mesmo
arvoredo ainda mais virá e suavizar. Ter-se-á assim uma ideia da
que, sob os mais variados assume o revestimento florestal
e melhor se a razão determinante da que o Govemo da
vai estabelecendo e que a deli-
concretizar.
E MELHORAMENTO
DO FLORESTAL DA ILHA DA MADEIRA
Relacionada com a referência atrás feita sobre o interesse científico das >Vi"""'<-"""
florestais da a medida que se é a
Reservas florestais que assegurem a para a dos núcleos mais
deste único da flora lenhosa.
civilizados se preocupam em dia com estabelecer um con-
de Reservas naturais e de Reservas florestais que a sobre-
vivência dos de VCIi!;ClaçalO
Reservas rPI",rPl:pnbt,v"
da Terra.
"UIJ"'JLU'vlv
ç~IJ'<;;\"'U'"
a tomar para cada caso.
em propor a de cinco Reservas florestais:
219
ALBERTO VIEIRA
a primeira nas alturas do Fanai; a segunda abrangendo a área baldia entre o Ribeiro
de João Delgado ou Cova do Charrão e a Ribeira do Inverno, incluindo presumivel-
mente o Montado dos Pessegueiros se o Estado se interessar pela sua aquisição,
como reduto interessantíssimo que é da vegetação autóctone da ilha; a terceira, na
parte cimeira dos baldios do Concelho de São Vicente, desde a Bica da Cana à
Encumeada e Pico do FelTeiro; a quarta, nos baldios do concelho de Machico,
englobando o Lombo Matiinho e o Lombo Comprido, na parte que fica acima da
Levada da Serra do Faial; a quinta, nos baldios do mesmo Concelho, na Serra das
Funduras, incluindo parte do Larano, para reconstituição da sua vegetação primitiva
pois ainda aí se encontram representadas algumas espécies que são já raras.
Outras áreas poderão igualmente vir a ser consideradas para o mesmo efeito, à
medida que vá podendo fazer-se um reconhecimento mais completo de toda a ilha.
Estarão também nesse caso parte dos Montados da Junta Geral, designadamente os
do Galhano, Rabaçal e da ilha, mas ai o caso tem menos acuidade pois esses estão de
sua natureza acautelados e será então preferível aguardar a oportunidade de poder-
mos, com a sua submissão ao regime florestal, estudar o plano de trabalhos a que
deverão ficar sujeitos, de acordo com a Junta Geral do Distrito.
Desta forma se constituirá um grupo de Reservas florestais e de Matas submetidas
ao regime florestal que será garantia da conservação de alguns dos principais e mais
representativos núcleos da vegetação lenhosa da ilha da Madeira. .
Mas, se do ponto de vista científico e até turístico ou paisagístico, isto seria já
muito interessante, do ponto de vista de defesa do solo contra a erosão e do melhor
aproveitamento dos recursos hídricos e até do ponto de vista económico, há que ir
muito mais além, defendendo a arborização ainda existente, quer nos terrenos baldios
ou 110S particulares e promovendo a arborização das serras que se encontram desar-
borizadas sempre que isso seja tecnicamente possível e se imponha para bem da grei.
Com esse objectivo, graças à feliz iniciativa de ilustres deputados pela Madeira,
foi publicado o já referido Decreto-Lei n. 38: 178, de 22 de Fevereiro de 1951, que
condiciona e regulamenta o corte das árvores nas propriedades privadas e manda pôr
em execução o Plano complementar para repovoamento florestal dos baldios do
Arquipélago da Madeira, trabalho este da autoria do Engenheiro Silvicultor José
Maria de Carvalho e em que mais tarde interveio também o Engenheiro Silvicultor
José Alves.
Quanto ao povoamento dos baldios, há que proceder primeiramente à respectiva
submissão ao regime florestal e fazer depois os projectos de arborização para serem
submetidos à aprovação do Conselho Técnico Florestal e Aquícola e por 11m à
aprovação em Conselho de Ministros.
Está-se já tratando da submissão ao regime florestal dos baldios de Santa Cruz e
Machico que virão a constituir o Perímetro Florestal do Poiso. Seguir-se-ão a seu
tempo outros baldios igualmente desarborizados e onde se impõe também consti-
tuírem-se arvoredos que defendam o terreno, beneficiem as nascentes e se trans-
formem por fim em utilidade e riqueza.
Não obstante a importância destes objectivos, serão também tomadas em consid-
eração algumas das utilizações que os povos vêm fazendo desses baldios, como seja
a colheita de lenhas secas e varas, a apanha de matos e feiteira e até, embora isso seja
220
Do ARCA DE NOÊ
os baldios de Santa
para conveniente
Do mesmo
modo serão "''',U'''Ud;:', outras servidões dos povos, tais como
lenhas secas, etc,
Esses trabalhos de '''11''-111'''' tendo por base o que se
conhece da aUU}./lld\- as conclusões a que o reconhecimento do terreno
Deste modo há-de haver zonas em
22
ALBERTO VIEIRA
222
Do À ARCA DE NoÊ
11,
e
esclarecimentos
ser meramente
223
ALBERTO VIEIRA
224
Do ARCA NOI~
vem também
desenvolvendo no
do
essa assislên-
que e~pel'l\lnos possa ser
obter a
COMA
li cultura ou a
dos arvoredos que é
do e dos
225
ALBERTO VIEIRA
o fOl!o é a maior calamidade que pode atingir a vegetação: desde as árvores mais
frondos;s até à humilde erva que cresce à sua sombra, desde o humus à fauna micro-
biana que é li vida do solo. tudo se perde ou aniquila na voragem das chamas! E aqui-
lo que a malvadez, a ignorância ou a imprevidência assim fez destruir em poucas
horas. levará depois anos. muitos anos. a refazer-se. Grande calamidade é, de facto,
esta dos incêndios!
No entanto. todos os anos, em dias de lestada sobretudo, irrompem os fogos em
V~lriOS pontos da ilha, destruindo as alterosas labaredas núcleos importantes de veg-
etação.
Quer esses fogos sejam ateados no intuito de preparar novos pastos ou com mira
em colher-se depois as lenhas queimadas, ou ainda para limpeza de terreno ou por
simples descuido, é preciso acabar de vez com eles. Os Serviços Florestais hão-de
naturalmente tomar para isso todas as possíveis providências, principalmente fazen-
do redobrar a vigilância nos períodos e locais de maior perigo, dotando os Postos flo-
restais com rede telefónica privativa para imediato alamle e melhor conjugação de
esforços. promovendo enfim a aplicação de severíssimas penas aos infractores.
Todavia o problema só poderá ter cabal solução quando toda a gente, principal-
mente a que vive nos campos, se dispuser a tomar as indispensáveis precauções para
evitar os incêndios nas serras.
De contrário está-se sempre mais ali menos sujeito a que surja aqui ou além um
fogo e então, com o espantoso acidentado da ilha, por muito que se esforcem os
guardas tlorestais, por mais decidida que seja a colaboração do povo que eles con-
sigam apenar ou a das próprias corporações de bombeiros e militares, é sempre difí-
cil evitar que cheguem a haver avantajados prejuÍzos. Trabalho insano e inglório que
esse é. impõe-se divulgar entre o povo um verdadeiro temor do fogo, elemento
destmidor dos mais terríveis.
A questão do gado posto a pastar livremente nas sen·as é outro problema gravíssi-
mo para a arborização e o principal responsável pelo desnudamento progressivo das
serras da ilha da Madeira.
Felizmente este problema vai a caminho de resolver-se com a retirada do gado
suíno e caprino, conforme disposições tomadas pelos Serviços Florestais de acordo
com todas as entidades oficiais do Distrito, e em cumprimento da Lei da Pastagem,
de 1913.
De facto, se há gado ruim é a cabra: de uma voracidade extraordinária, alcançan-
do os pontos mais inverosímeis das serranias, ela destroça toda e qualquer espécie de
vegetação que encontra; o til ou o pinheiro, a urze ou a uveira, a giesta ou o tojo, a
silva ou a feiteira ... tudo lhe serve! No entanto, extremamente gulosa, tem especial
predilecção pelas folhagens mais tenras e, mal descobre a pequena árvore que vem a
despontar entre as urzes, logo a traça num ápice.
O povo por sua vez completa a acção destruidora da cabra, pela grande quantidade
de sementes que ingere e também pelo que lavra no terreno em procura de raízes,
principalmente a da feiteira.
Não vamos ao ponto de afirmar que uma vez retirado este gado das serras fique
desde logo assegurado por processo natural o seu conveniente revestimento florestal.
Muito haverá ainda a fazer-se para que possa concretizar-se de forma mais conve-
226
Do ARCA DE NOÉ
227
ALBERTO VIEIRA
Deixámos para o tim algumas referências à ilha do Porto Santo, mas isto não sig-
nitica que lhe dediquemos menos interesse. Poder-se-á até dizer que a última será a
primeira, pois é no Porto Santo que os Serviços Florestais vão iniciar os seus trabal-
hos de arborização.
Com efeito. não podendo ficar indiferentes em tàce de tão impressionante
escassez do revestimento do solo e da intensidade dos fenómenos erosivos que se
constatam no Porto Santo. juntámos o nosso grito de alarme ao de tantos outros que
se têm esforçado por minorar esses graves inconvenientes.
E de tàcto, em nenhuma outra parte deste Arquipélago será tão urgentemente
necessária a intervenção dos Serviços Florestais, no sentido de se constituírem
arvoredos que defendam o solo da erosão e venham a melhorar as condições de vida
dos habitantes da ilha.
Disto mesmo logo se apercebeu a Direcção-Geral dos Serviços Florestais e
Aquicolas que mandou executar o projecto de correcção torrencial e de defesa do
solo nas encostas do Pico do Castelo. Este projecto, concluído em Junho de 1953, foi
posteriormente aprovado pelo Conselho Técnico Florestal e Aquícola e depois ainda
em Conselho de Ministros, devendo entrar em execução logo que seja ultimada a
aquisição dos telTenos particulares em que se realizarão os trabalhos.
Outra qualquer solução não se tornava exequível, pois era impraticável levar a um
regime de comparticipação com o Estado os proprietários dessas pequenas parcelas
de terreno, muitos deles ausentes da ilha e com as propriedades entregues nas mãos
de caseiros. Além disso, na maior parte, não dispõem de meios ou não têm interesse
Do À ARCA DE NOÉ
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ALBERTO VIEIRA
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Do À ARCA DE NOE
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ALBERTO VIEIRA
Mas, para que os trabalhos possam prosseguir com o devido incremento e oportu-
nidade, de forma a alcançar-se o ambicionado êxito, torna-sc indispensável, por um
lado, a aprovação do Governo às justificadas providências que lhe vão sendo solici-
tadas e, por outro lado, a continuidade do decidido apoio que nos tem sido dado pelo
Governo do Distrito c demais autoridades locais. Assim como se impõe também, da
parte de todos, a devida compreensão das medidas que se vão tomando para proveito
futuro da população deste Arquipélago.
232
Do EDEN À ARCA DE NOÉ
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Do ÉDEN À ARCA DE NOÉ
INTRODUÇÃO
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ALBERTO VIEIRA
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Do À ARCA DE NOÉ
BIBLIOGRAFIA GERAL
e Textos", in na Jvfadeira,
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ALBERTO VIEIRA
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Do ÉDEN À ARCA DE NOÉ
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ALI3ERTO VIEIRA
240
Do ÉOEN À ARCA DE Noé
SÃO tantas as maravilhas que encerra em si a Made ira que cm verdade quem a vê
acrl!dilará por momentos que os jardi ns de Armida e os Campos Elisios da fábula
de\ criam ser como esta formosa ilha. chamada por excelência a Flor do Oceano.
Julgar-se-ia mesmo que aque las maravilhas não são uma realidade. mas sim um
sonho Oll ficção de poetas!
( ... )
- Do Jardim da Serra seg uimos para diante e fomos admirar o maravilhoso quadro
do Curral das Freiras, na proximidade da propriedade do referido cônsul.
É um síti o tào interessante da ilha que qu ase se mpre é o primeiro que os viajantes
costumam visita r c aonde têm luga r repelidos e agradáveis piqueniques, um dos
recreios mu ito cm voga na Madeira, como quase tudo o que são usos e costumes
ingleses, por ca usa do grande número de pessoas desta nação que frequentam a ilha
e nela residem, principalmente os que procuram remédio contra a tísica naquele belo
c saudável clima.
ào há pena ou pincel que descreva a impressão que o vi ·aJti~;,· nta
quando ao chegar ao cimo dum caminho construido a 800 met ros ~tit~ co
mais ou menos, - se lhe apresenta de repente o vale do C urral das ~esen-
ro lando-se- Ihe aos pés como um quadro fantásti co. CEHA
t~'Ul>O'lo
l t ... "'O l>t _
HII~OCI-' Da ./In ......r<o
24 \
ALBERTO VIEIRA
[Francisco Travassos VaI dez, 4Mca Ocidental, cap. r. (1864 )in Cabral do
Nascimento, Lugares Selectos de Autores Portugueses que Escreveram sobre o
Arquipélago da Madeira, Funchal, 1959, pp 25,28-30]
242
Do DE NOÉ
DA COSTA DE SOUSA
para além
Se
las flores delatassem os
eladas Se se
fizessem 11<";'''''''' das
tristezas humanas !
( ... )
Castilho o
Autores l~n'··1"rm.'>""
CARCIA RAMOS
243
ALBERTO VIEIRA
águas dalguns riachos que correm em plácido curso, está povoada de pequenas casas
a alvejar por entre os claros daquelas abóbadas e arcarias de vegetais" e em uma
clareira, dominando a paisagem variadamente pitoresca, eleva-se a igreja da Senhora
do Monte a mostrar de longe aos navegantes as brancas cúpulas das suas torres,
depois, estendem-se diante do templo, em dilatado horizonte, vales amenos, bosques
frondosos, sen'anias alcantiladas, vários acidentes naturais do terreno, e, como com-
plemento do formosíssimo quadro que naturais e estrangeiros apreciam e contem-
plam, negras rochas de basalto defendendo a ilha das vagas do Atlântico, Espectáculo
sublime!
O Palheiro do Ferreiro, rica quinta no gosto inglês, com bela casa, tanques, lagoa,
montado de veados, e ferregiais, pertence ao Conde de Carvalhal; a Camacha, que é,
como o Monte, um continuado jardim somente interrompido por elegantes casas de·
campo; e Santo António da Serra, com os seus deliciosos pontos de vista e com a sua
lagoa no cimo da montanha, enchendo a cratera dum vulcão extinto, são bonitos
arredores da cidade que os visitantes percorrem com entusiasmo. A quinze quilómet-
ros para o noroeste do Funchal, à frente das duas mais importantes e produtivas
freguesias rurais, Câmara de Lobos e Estreito, fica o Jardim da Serra, círculo quase
completo de montes; arborizados, somente interrompido por uma abertura para o
mar, limitada mas graciosa, onde está fundada, em assento eminente e em meio dos
ondeados terrenos cultivados do vale, a abra para o lado do n011e o famigerado sítio
do Rabaçal, vasto semicírculo de montanhas vestidas de verdura, donde brotam
claras e sussurrantes águas que constituem uma solitária e encantadora cascata, cuja
descrição é superior à energia da palavra e ao vigor do pincel mais hábil. Essas águas,
que iam perder-se no mar ao nOJ1e da serra que do oriente ao ocidente divide toda a
ilha por uma alta encurneada, encanadas e reunidas em uma levada, foram
aproveitadas, fazendo-as atravessar ao sul da mesma serra por meio duma galeria
subterrânea de 430 metros de extensão, a fim de irem levar a fertilidade a longos
tratos de terrenos incultos e improdutivos. Em meio, porém, destes bosques fron-
dosos formados de árvores seculares que encobrem com as suas copas o sol e o hor-
izonte, em meio deste ambiente risonho onde rebentam fontes que serpeiam por entre
pedras e verduras e que nos dão em cada represa um espelho e em cada trago a saúde,
como é consolador ver o trabalho inteligente do homem realizar uma obra que não
só vivifica a agricultura mas que acredita o povo que a empreendeu e não menos o
governo que a custeou ! O espectador fica absorto em meio deste concerto da
natureza e da arte e, ao despedir-se desse quadro magnífico, lança sobre ele um
volver de olhos corno quem lamenta que. seja aquela a vez derradeira duma tão
arrebatadora contemplação!
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Do À ARCA DE NOÉ
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ALBERTO VIEIRA
246
Do À ARCA DE NOl~
( ..
observadas até não escapam à humil-
urge notar-lhe que divisei aspectos de
mIIJU<I,U'-' na minha recente ao Curral Grande ali Curral das Freiras,
encerra no círculo das suas muralhas de gran-
de muitas centenas de metros, um vastíssimo e
de tintas tlmdidas a em culturas variadas e Tal é a Sur-
à monstruosa de rochas bravias a
e colorido somente se
que não sopeamos a fantasia e,
para ali trasladamos
que ali mesmo se congregaram os exércitos de titãs para
antes de acometer o céu,
o Prestava-se a luz li visão exaltada na do ar que acendia
as cOres como cristal das alturus onele me assomei. Tudo ali era
nenhum relevo as úrvores de outra mais
das suas manchas e movimento
tlmclo matizado onde a do iso-
de natureza enclaustrada SOibrepUla a
outra.
C0111
os cortes
cheio de convulsões I.)
dilacerou e desmembrou o dl.)ixando
das que ainda sangram, E nos bocados dI.) que acaso caíram e alas-
traram à meia dúzin de cnsinlms que têm por pano de fundo
a massa espessa Indo de lr{\s, Seis horas: tudo avança e se
verdes de culturas ClIllles de para o norte
cle solenes qlle escondem a terra.
cada vez mais violenta e mais negra, Mete
247
ALBERTO VIEIRA
medo. ~al Se distinguem as florestas nos altos enevoados, e os vales profundos por
onde a agua no Inverno deve cair em torrentes. O navio segue encostado à falésia,
que deste lado da ilha não tem fundo, mostrando-nos a Madeira cortada por um
machado que a abriu de lés a lés, atirando com a outra parte para o fundo do mar. 12
um bronze severo e trágico, que contrasta com a entrada do Funchal e a outra costa
da ilha. Vali olhando para as povoações - Jardim do Mar, Paul do Mar, agarradas às
muralhas, onde só distingo escorrências de zinavre. Só o homem) só o homem é que
se atreve a cultivar socalcos abertos a fogo na perpendicularidade da falésia! (Vamos
tão perto de terra que ouço os galos cantar. Madalena do Mar, esmagada entre dois
morros, que se reflectem em negro no veludo da água, Ponta do Sol e Cabo Girão,
que a noite torna mais espesso e maior... Todo este panorama, na cinza do crepúscu-
lo, recortado em negro num céu cor de chumbo, transformado pelas nuvens que baix-
am ainda mais, e desdobrando-se em sucessivos recOltes sobre a tinta parada das
águas, assume proporções extraordinárias. Já mal distingo a terra até à ponta desme-
dida da Cruz, por trás da qual nos espera o porto de abrigo. A cada momento que
passa, mais alto e mais escuro se me afigura o paredão que nos intercepta o mundo.
Só há uma vaga claridade para o lado do mar; o resto é negrume alcantilado e mon-
struoso colaborando com a espessura da névoa e o indistinto da noite. Uma luzinha
se acende na imensa solidão e na mancha cada vez mais opaca. É o homem, subver-
tido, duas vezes isolado entre a montanha e o mar. É uma alma. E essa pequenina luz
humilde chega a ser para mim extraordinária de grandeza: é uma estrela que me faz
cismar.
14 de Agosto
De manhã acordo em terra. Abro a janela e entra-me pela janela dentro o cheiro a
trufa. Corro tudo no primeiro momento - as vielas animadas, as ruazinhas calçadas
de seixos ensebados, onde deslizam carros de bois sem rodas, pintados de amarelo,
com toldos frescos e cortinas de ramagem apartadas ao meio. Olho para as casas
brancas e amarelas, de beirais caiados de vermelho e gelosias pintadas de verde, que
dão ao Funchal um carácter familiar e íntimo. Tudo me surpreende: o calor, a luz
forte, o jardim com fetos e um grande jacarandá de flores roxas, arbustos penetrados
de satisfação, que na imobilidade e no silêncio vão desfolhando sobre a terra e
deixando um charco rubro em roda. Uma gota de água cai ali para o fundo sobre
outra água imobilizada. O ar é um perfume gordo. Sento-me sob os grandes plátanos
que nos recebem ao desembarcar do porto - mancha impenetrável e deliciosa. Subo:
um largo irregular e depois a igreja, grande cofre de sândalo com doirados e incrus-
tações em madre-pérola. Lá dentro cheira a incenso e a madeira preciosa; cá fora, por
cima dos telhados, descobre-se sempre a carcaça denegrida da serra. Vou ao merca-
do - o mercado atrai-me: pequenino, com duas ou três árvores e uma fonte, todo ele
transborda de fruta como um cesto cheio - cachos de bananas amarelas, alcofas de
vindima a deitar fora, com damascos, figos pretos sumarentos e entreabertos, a des-
tilar sumo. Toda ii thlta aqui é deliciosa e a banana deixa na boca um perfume per-
sistente para o resto da vida. Ao som da fonte de mármore que reluz em fios com uma
Leda no alto agarrada ao seu voluptuoso cisne, isto forma um quadrinho todo em
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Do ARCA DE NOÉ
249
ALBERTO VIEIRA
15 de Agosto
Todas as noites não pude pregar olho. Duas, três horas sem dormir. Na rua passam
guitarras e rodam automóveis com mulheres. A noite é uma volúpia e o ar deste clima
tropical uma carícia logo que desaparece o Sol. De manhã bato para a sena.
O Funchal para o Sul a costa é quase sempre cortada a prumo: Santa Cruz, e lá no
alto o Senhor da Serra; uma fenda enorme por onde entra o mar - Machico, e logo o
Caniçal à beira de água e o relevo caprichoso da Ponta de S. Lourenço. Para lá cio
cabo começa a costa norte, a parte mais selvática, mais verde e talvez a mais bela
desta ilha tão variada e decorativa. Ao fim da tarde os 1110rros formidáveis, vistos de
bordo, sucedem-se num cenário espesso, que se desenrola em manchas escuras, com
um resto de fuligem de sol pegada àquela imensidade, que nessa hora ainda parece
mais vasta. A Madeira é um maciço de serras cortadas a pique na costa oeste, descen-
do até ao mar na costa norte e mais cultivado nos vales e gargantas inundados pelas
águas.
O interior da ilha é montanha em osso com excepção do Paul da Serra. A parte
onde só fazem as culturas ricas, a mais agasalhada e onde não cai neve, a que eles
chamam folheto, é o Sul, que produz a cana no litoral e a vinha nas encostas. No
Curral das Freiras - cordilheira central - curioso vale de erupção, ravina enorme aper-
tada entre vertentes alcanti Iadas, com profundidades que metem medo e que vão até
oitocentos metros, deparam-se povoaçõezinhas perdidas, o Livramento. a Fajã
Escura, o Curral, etc. Este sítio revolvido e dilacerado explica talvez a formação da
ilha, onde se encontram mais vestígios de crateras, com indícios de erupções relati-
250
Do À ARCA DE NOÉ
As Ilhas lO cd.
Efectivamente sem
Não existem habitantes nas nem nem nem arvoredo.
A el2~etiacílo é rara e magra, o solo é quase todo constituído rocha não
se terra arável. E as cabras e os coelhos bravos que lá crescem
lutam com sérios para
Mas para mim as Desertas são um mundo.
Têm uma uma alma e variável tatnh"'m
como as almas humanas.
-Ao as maIs assombrosas '"' YU'""'y,"''''~'
",,.,,,,H,,,t,, os meus olhos admiram os seus
251
ALBERTO VIEIRA
Passam do azul escuro e turvo para o rosado macio da carne, como um barómetro
de cobalto.
Falam de todas as tristezas e de todas as alegrias; são expressivas como gestos de
tribunos, como rostos de actores; são impressionantes como vozes inspiradas de sibi-
las e de iluminados.
C... )
Ah, minhas lindas Desertas, que eu agora mesmo estou vendo, irisadas, poisadas
sobre o mar com a ligeireza de nuvens transparentes e efémeras! Que belas histórias
elas me contam e como povoam a minha solidão! - As vezes, à hora do poente, nos
dias em que o Sol mergulha no mar deixando no horizonte um brasido e o céu em
volta semeado de nuvens resplandecentes, afigura-se-me que a luz ao despedir-se
abraça e beija as Desertas e lhes confia, até à madrugada seguinte, o depósito sagra-
do das cores. - E então, enquanto o horizonte se vai a pouco e pouco apagando e que
as sombras da noite principiam já a surgir do lado do nascente, eu vejo as Desertas
imóveis e concentradas como três relicários. Tornam-se côncavas, translúcidas;
transformam em cristal as suas rochas opacas; irradiam uma claridade sobrenatural
como a taça milagrosa do Santo Oral. Contem no seio, fundidos, os amarelos páli-
dos, opulentos ou alaranjados dos topázios, o vermelho luminoso e rico dos rubis, o
carmesim das granadas, o intenso e divino azul das safiras, o verde das esmeraldas
límpido e profundo. Assemelham-se a três virgens cristãs ajoelhadas defronte do altar
onde tivessem comungado e onde se -conservassem extáticas, transfiguradas pela
intensa ilusão de possuírem em si um Deus de infinita bondade e de suprema beleza.
Mas o poente empalidece a mais e mais; a noite avança lá do nascente ... E nas
Desertas as cores amortecem lânguidas, descoradas, a morrer de saudades. Os rubis
perdem o seu fulgor, as esmeraldas transfonnam-se em opalas, as safiras em turque-
sas, os topázios em ametistas doloridas, magoa.
Depois, na ilhota maior, as rochas altas e agudas desenham recortes vagos de cat-
edrais goticas; e as cores prisioneiras, que momentos antes brilhavam como um
tesouro pagão, cintilam agora amortecidos e misticos vitrais iluminados interior-
mente por círios lacrimosos e lâmpadas de azeite brujuleantes em volta de sacrários.
E eu evoco as lendas cristãs glorificadas na Idade Média, lembro-me dos milagres,
dos mmtírios, dos prodígios; revejo as multidões de Belini em volta de Santa Úrsula,
a Santa Catarina de Luini levada ao Céu pelos - três anjos, o S. Jorge de Carpaccio
combatendo o dragão, todas essas coisas encantadoras e radiosas criadas pela fé e
enobrecidas pela arte.
Os últimos reflexos do Sol vão desaparecer no poente ... Em torno das Desertas, de
toda a orquestração das cores triunfàntes fica apenas o verde puro que não se funde,
que envolve as ilhas moribundas numa auréola suave antes de ser absorvido pela
sombra.
E a noite desce; e a lua surge no seu quarto crescente, como a lâmina duma foice,
polida e fria, mostrando-me as Desertas negras boiando lá ao longe no mar.;.
Então o rumo das minhas ideias muda mais uma vez: penso nas focas de olhos de
veludo que se abrigam nas misteriosas grutas daqueles blocos de basalto, gemendo e
lamentando-se como almas penadas.
As focas ... E aí vai a minha imaginação ...
252
Do ARCA DE NOÉ
É de e eu o Sultão que
escutou as sem fastio e sem cansaço, durante mil e uma
in Cabral do
que Escreveram sobre o
1 pp. 123-
DE JACOME CORREIA
é o formado decom-
constihlem um solo
253
ALBERTO VIEIRA
cos, se attendermos á extracção que tàzem n' elles as culturas continuadas e que não
deixam germens para uma transmutação, como nos bannanaes ou nas florestas que
vão guardando o producto da queda d'esses germens que assim engorduram o terreno
sob a protecção das proprias plantas; nem que tão pouco concorram para a fixação
do ten'ena solto como se dá egualmente com a arborisação que cobre e protege a
terra: excluindo esses elementos naturaes do terreno, só os estrumes ou adubos
organicos, misturados com as regas das aguas das levadas, trazem a fertilidade á agri-
cultura da Madeira.
E não será erro afirmar que os primeiros povoadores que assentaram na vastissi-
ma fajã do Funchal, estudaram n'ella os processos de fertilisar a terra e transformar
a ilha n'um paiz habitavel e prospero ás commodidades da vida civilisada.
A ilha, segundo os chronistas, foi encontrada coberta d'arvoredo, e esse arvoredo,
que no litoral era constituido por arvores de madeiras tenras e improprias para obra,
como as dracenas, foi incendiado. Essas cinzas do bosque queimado, que serviu de
clareira para o levantamenlo das primeiras habitações, foram os primeiros fertil-
isantes de que se serviram os colonos para os primeiros ensaios agricolas que fizer-
am na ilha; e as aguas das ribeiras de Santa Luzia e de João Gomes forneceram os
hydratos e a humidade ao solo secco e areiento.
Ainda em vida de D. João I, isto é, antes de 1431, onze annos apenas apoz a
descoberta, a agua das ribeiras, ás suas nascenças, era de tão reconhecida importan-
cia para a agricultura, que foi pelas auctoridades regulada por diplomas especiaes,
que tiveram por fim exclui l-a da propriedade particular, tornada um bem comIt1UIl1,
utilisavel pela collectividade com tanto mais direito quantos fossem os serviços por
ella prestados á sociedade, submettida a principios juridicos discernidos pela magis-
tratura, em caso de litígio.
( ... )
A Encumeada e a Costa Sul. Nas cercanias da Encumeada a Madeira offerece o
aspecto pouco mais ou menos do estado em que se achava quando os navegadores a
surprehenderam na sua virgindade e no seu isolamento.
Subindo a encosta que vae da Serra d'Agua á Encumeada na estrada da Ribeira
Brava para S. Vicente, desfralda-se aos pés do viajante um d'esses macissos densos
de verdura em que a f10ra é constituída por especies autocthonas, tão antigas como a
descobelia em 1418.
Por entre um tapete verde glauco de folhados, de loureiros, de paus brancos e de
tis, d'urzes arboreas que estendem os seus troncos contorcidos por cima da estrada,
de 7 e 8 metros d'altura, nascem as uveiras, cujos pedunculos e folhas tenras d'ul11
ruivo avinhado coloram a extensa encosta que desce ela serra ao mar, gretada inin-
terruptamente por grotas, desfiladeiros, gargantas, ravinas, lombos, riscando o solo
que, aonde é escalvado 110 corte abrupto d'alguma rocha ou no cabeço de qualquer
monte, mancha de preto elos basaltos ou do vermelho acobreado elo oxido de ferro
elos barros, o panorama triste e solitario d'aquellas regiões situadas a mil metros
el'altituele, batidas pelas nevoas em farrapos que de quando em quando cobrem-nas
por completo, juntando-se em massa conedia, açoitada pelo vento, esbranquiçando o
ambiente frio e cortante.
N'aquella magnificencia de linhas e profusão de contornos em que os caprichos
254
da natureza accentuaram a sua
mais o nada se avista de vida animal ou se de mais
do que a nova estrada para onde vae descer o automóveL e que é das poucas estradas
que na Madeira não são onduladas a calcetadas a seixos c usadas por car-
rinhos e corças a deslisantes para de gente ou de cargas.
Do cortado no terreno para a passagem estrada e que assenta no
cimo entre o dos Ferreiros a leste e Redondo 11 oeste,
avistam-se umas nesgas dos dois mares que banham a ilha a sul e a norte e por entre
as garganta da cavadissima ravina em que a comarca de S. Vicente se apega
vertentes, lá muito fhndo e muito invisível do alto da serra, mesmo na
foz da ribeira que atravessa a viII a, para da ci\"il-
e apenas e mal. no
extremo da fundo da a agua da ribeira de S. Vicente, uma
de
UV'''''Ull,Q. que parece um rochedo e que de tàcto é. no cimo do
foi collocada uma cruz da fé e aberta uma cavidade para o Jado da terra em que foí
armado o altar no do corpo do recinto. fechado por lima
"".'lo,,,,, de caiada em branco. simulando os dois tectos de
255
ALBERTO VIEIRA
dentada que mal cabe n'ella um espaço para concentrar uma povoação, e as aldeias,
com raras excepções, são edificadas ao longo de ruas, e joeiram-se, offerecendo
então essa curiosidade da dissymetria caprichosa que dispoz as conveniências dos
habitantes e dos proprietários da localidade, em collocação desataviada, ao redor de
um cabeço, pelo fundo de um valle, no calço de um comoro, nos degraus d'um d'es-
ses numerosos socalcos que amphitheatram, de vinhedos e pequenas culturas
caseiras, essa monumental escadaria rochosa que é a Madeira do calhau á serra.
( ... )
Duas habitações proprias á muda dos serviços de locomoção - duas bem providas
tabernas com um outro edificio desoccupado que serviu a moinho d'agua - cons-
tituem essa posta da Choupana, dividida pelo caminho do Meio, marginado a
nascente por mattas do Visconde de Cacongo e a poente pela Ravina que no inverno
engrossa com as suas aguas as da Ribeira de João Gomes.
Os retoques do pincel espontaneos da natureza que outr'ora matisaram este local,
foram substitui dos pelas decorações dos artistas da industria: a ravina reveste-se de
densas copas d'acacías floridas, acima das quaes sobem as ti li granas dos ramos de
frondosos carvalhos, que mancham do luzimento doirado das suas folhas, ainda lá
em baixo, o espesso guarnecimento da profunda cova. incensos guarnecem as partes
altas das suas bordas, onde dois chalezinhos de verão se encan'apitam em comoras
sobre o espigão que forma uma das grandes paredes do Curral.
O sitio é isolado mas o solo offerece qualquer coisa de acommodador, de con-
vidativo, sentindo-se a mão da Junta Agricola semeando e dispersando exemplares
escolhidos dos seus jardins experimentaes, que agora mostram ridentes e decorados
os outr'ora ermos e vetustos terrenos, entregues e abandonados ás transmutações da
sua limitada flora.
As mattas extensas e espessas d'eucalyptos e pinheiros do Visconde de Cacongo
marginam a leste a estrada do Meio e a levada da Serra, cujas aguas veem do sopé
do Pico da Sena na vertente norte, passam pelos Lamaceiros, ladeiam a encosta leste
da cordilheira do Santo da Serra e veem a 3 quartos d'altura na aba sul da cordilheira,
atravessando a Cam acha, quasi juntarem-se ás levadas que banham o Funchal.
São 40 killometros de calhas de boa alvenaria, das quaes se retira agua para exten-
sas culturas de trigo, de vinha e de canna d'assLlcar nos terrenos cultivados pela
encosta situados abaixo do aqueducto.
A matta é extensa e percorre-se bem meia hora de caminho sob as sombras do
arvoredo aramatisado a eft1uvios d'eucalypto e de pinho, pisando-se a terra hum ida,
até á encosta do Pico do Infante dominando as ravinas. D'ahi ve-se o Funchal lá
muito no fundo, como anichado n'uma enorme concavidade abobadada, aberta ao
alto, aguardando os seus cimos a archivolta recortada na Serra. A nevoa cobre-o,
pairando por cima, n'uma immobilidade protectora, propria da primavera, tão tenue
e diaphana como gazes tatues dos paramentos festivos proprios da estação; atravez,
a casaria em esmalte destaca-se em massa confusa, como mosaico bysantino, desen-
hando a cidade, e n'esse fundo de abside invertida, guarnecida de verde, uma myste-
riosa estrella ao acaso scintila as reverberaçoes dos raios solares, que incidem sobre
uma claraboia d'edificio ou galeria envidraçada d 'atelier, luminosos como chamas
de magnesio queimando de fogo branco a cidade em todas as direcções.
256
Do AARCA DI: No"
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ALBERTO VIEIRA
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Do ARCA DE NOÉ
Assim.
O carro que casal e Alvaro distanciara-se.
A mata era cada vez mais bela: a cada nova curva, a cada clareira
loureiros horas por outras
de à brisa que passara há mllitos séculos
a 11l,nnl1PIC
aberta de passagem,
de obstáculos para os olhos. O seu deleite era
monstruosas, enfiando serra com serra, montes,
que quererem o céu e ravinas onele
regougavam torrentes, nas noites de
259
ALBERTO VIEIRA
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Do ARCA DE NoÉ
em toda a
fortunas
de Câmara de
nificência e a
E não era das mais belas
superavam ainda toda a
os
tilados
beleza. A
escorregar; outras,
certa, tão constante se mostrava na
do que luzindo ao
261
ALBERTO VIEIRA
[Ferreira de Castro, Eternidade, Lisboa, 1977, 130 edição, pp. 65-66, 147-149,
196-197]
262
Do À ARCA DE NOÉ
. o incêndio ...
e tão infantis como entarameladas são
a mão uma curva e é sem-
esse mesmo aceno lhe servirá para
263
ALBERTO VIEIRA
em árvore que nem gato bravo. Três dias durou: três dias. Eu preparei tudo! preparei
tudo. Eu só ! Havia água, e foi só encher os baldes; I
Um risinho seco, sarcástico, contra o fogo, como a castigar-lhe o ol1mipotencia, e
os mesmos gestos: um erguer do braço, e a mão ossuda, enorme, a esboçar uma curva
leve ...
- O fogo vinha daqui, e eu va de lhe deitar água; vinha dalém, e já eu lá estava de
plantão. Nunca me apanhou de mãos a abanaI: Olhe, meu senhor, que tudo isto eram
chamas à roda, e eu vá de deitar-lhes água para cima. Que eu cá, sou rijo!
A voz tem sempre o mesmo tom plangente. Recordação única, por espectáculo
único, sorri. Bebe para lllolhar os lábios.
-Que eu salvei isto. Eu só ! Ao segundo dia, já dum lado estava tudo apagado, veio
cá cima um cunhado meu para me dizer que a minha irmã morria com chorar. E que-
ria - levar-me de gancho! queria que eu abalasse pela levada fora e abandonasse esta
casal
- E foi'?
- Qual?1 Eu queria lá saber da minha irmã I Quando isto ... quando "a tasca"
ardesse, ficava menos um homem no mundo, foi o que respondi ao meu cunhado. E
cá fiquei I eu sól Eu a brincar com o fogo, e o fogo a ralhar comigo. Mas venci eu I
Que eu cá sou rijo. Eu podia lá abalar I E então isto'? Se cu abalasse, ardia tudo!
Não queriam mais nada, não?
Fito-o. A narração engrandece-o. Ganhou maior estatura; o dever emprestou-lhe
ao rosto um luaceiro de heroicidade. Desaparecem o falar e a timidez dos gestos.
Ante mim, está um Homem, e sem desmerecer daqueles que acreditam haver, para
eles, uma missão na terra, e não vacilam em sacrifícios, antes os procuram, con-
scientes, em proceder por forma diferente das maiorias.
264
Do À ARCA DE NOÉ
265
ALBERTO VIEIRA
266
Do ARCA DE
as casas e as
iluminadas por um sol de outono, que doirava as extensas jJ'0I1""'rL1":>
cana, saudaram-nos por sua.
A do emudecera-nos. De um lado o mar, do outro as serras, e
>II,","""'" a cidade como a adornle-
cida entre os que a
Para que a Madeira nos para que nos apareça formosa como a descreva o
como uma verdadeira flor do Oceano, é necessário sair do
subír as ladeiras que
e então a vista formosíssimos vales que vão desco-
brindo o seio fecundissimo aos nossos olhos maravilhados.
e variedade de \l""~"t"f',,n
o verde doirado da cana entre as diferentes cambiantes da mesma cor de
de todos os climas. A de dos
carvalhos da a
de
267
ALBERTO VIEIRA
268
Do À ARCA DE NOÉ
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ALBERTO VIEIRA
270
Do À ARCA DE NOÉ
[ Fernando da
ELOGIO DA MADEIRA
fi Madeira deslumbrou-me
terceira vez. Na volta dos o deslumbramento intensificou-se, E então,
da vez, a de duas serranas deu-me azo a fartar os olhos da
agem da ilha, A não, Nunca os nunca os fartarei. mais
271
AWERfO VIEIRA
vejo a Madeira, mais desejo sinto de a ver. Na verdade, quem uma vez olhou a ilha
maravilhosa não pode resignar-se a não mais a olhar. Mágico filtro dá ela a beber, por
certo, a quem por ela passa, seja para lá parar, seja para seguir viagem ... Assim comi-
go.
Quando pude ver a ilha da Madeira, para além do Funchal, do Pico dos Barcelos,
do Terreiro da Luta, convenci-me de que ali e também nos Açores estavam as pais-
agens mais belas do mundo português. Pelo menos do mundo português, já vasto,
que eu conhecia. Vista do mar, a ilha esplende e encanta. Ninguém, a não ser que seja
cego, poderá alhear-se à contemplação embevecida. Desde a Ponta de S. Lourenço à
Ponta do Pargo, passando pela Ponta do Garajau, pelo Cabo Girão, por todo esse
admirável recorte da extensa costa meridional, abundam os motivos de beleza. A
beira mar assentam as povoações principais; o Funchal, cuja paisagem só é com-
parável, talvez, à paisagem da Cidade do Cabo; Camara de Lobos, Ribeira Brava,
Ponta do Sol, Calheta, tantas outras.; mais pequenas- mais escondidas nas anfractu-
osidades do litoral, nas enseadas que ornamentam a costa, pontos mais claros entre o
verde escuro das ribas e o azul escuro das águas. Pelas encostas, disseminados como
reses tresmalhadas dum grande rebanho, povoados sem conta mosqueando de gra-
ciosa claridade o sombrio verdor da orografia madeirense, tão acidentada e tão
impressionante.
No hinterland, porém, o termómetro do deslumbramento atinge o supremo grau.
Vá-se para a esquerda, vá-se para a direita, as maravilhas sucedem-se, amontoam-se,
assombrando quem procura, em vão, estabelecer confrontos, medir grandiosidades,
determinar a superioridade desta ou daquela. As estradas que saem do Funchal põem
à prova, aos primeiros quilómetros, a resistencia da sensibilidade cio contemplador.
Ora o mar, ora a serra, ora a riba arroteada, ora a ribeira vulcânica, de expressão dan-
tesca, - de tudo, com profusão, se patenteia aos olhos atónitos de quem vai.
Santa Cruz, Machico, a Camacha, mais junto ao mar; o Santo da Serra, a Portela,
S. Roque do Faial, Santana, mais junto da montanha. Não posso escolher, e não posso
dizer que esta paisagem emociona mais do que aquela, nada me permite proclamar a
soberania deste ou daquele aspecto. Evidentemente, posso sentir certa preferência
por um conjunto ou por um pormenor que se projecta com mais intensidade na tela
ampla das minhas recordações, sempre vivas e sempre saudosas.
Evocarei, por exemplo, com particular emoção, o deslumbramento da visita ao
Santo da Serra, ao belvedere dos Lamaceiros, com a Penha de Águia e o Porto da
Cruz a ilustrarem grande parte do Norte da ilha, a destacarem-se no fundo mm'avil-
hosamente azul cio oceano e da atmosfera. E lembrarei, convencido de que nào
poderei lembrar paisagens mais assombrosas - direi mesmo: mais fonnidaveis - esse
imenso quadro mágico de S. Roque do Faial e de Santana, a povoação mais pitoresca
e a vila mais extraordinária de aspecto que até hoje vi, para evocar, apenas de relance,
parte do Leste e do Norte dessa ilha que perfuma e embeleza o Atlantico e torna mais
suave a rota longínqua da Africa e da América do Sul.
A ilha da Madeira! Sempre que a evoco, é como se Deus fizesse passar ante os
meus olhos um filme maravilhoso que, para o ver bem, preciso de semicerrar as
pálpebras Eis porque não tento, sequer, esboçar uma descrição do que já vi. Eis
porque prefiro evocar, isto é: dar livre curso à emoção constante das recordações.
272
D(J A ARCA DE
TEIXEIRA
273
ALBERTO VIEIRA
reiras em toldo empalidecem, perdendo harmonia neste conjunto quase irreal de ver-
dura fresca, o murmúrio embalador das levadas continue o prodígio de renovação
fazendo crescer, por baixo das folhas inúteis, desenvolvendo-se e trepando, os
arabescos dos feijoeiros, a rama baixinha das batatas doces, a cabeleira curta da relva
para aproveitamento. E dos altos montes e dos vales profundos do interior escorre
sempre. a seiva que é o humor nutritivo deste paraíso, canção maternal a modelar, em
ternura, a beleza e o encanto da "minha" ilha autêntico país de namorados.
-Que maravilha!
O navio cortava então as aguas limpas, por vezes quase acetinadas. A ilha, de todo
esclarecida, mostrava-se já, desde a linha nítida das cumeadas, vigorosamente desen-
hada no céu, até às penumbras dos vales, como uma fotografia ainda húmida, acaba-
da de revelar.
Como se a terra estivesse coberta por um tapete fantástico, ressaltavam cores
duma variedade infinita? abertas para um sol puríssimo que escorria doidamente por
todas as quebradas, com alegria comunicativa.
Dir-se-ia que toda a ilha estava em festa.
Adivinhavam-se flores e as próprias casas muito brancas, com os seus telhados
vermelhos, pareciam pétalas dispersas a esmo sobre o tapete verde.
Não se define bem esta impressão instantânea de alegria que a Madeira nos dá. É
uma alegria, por assim dizer, feita de todas as alegrias: a alegria interior do êxtase e
a alegria movimentada da festa; a alegria do buli cio e certas alegrias que se gozam
em contemplação.
Assim, de longe, não se adivinha nela a terra dos trabalhos e canseiras, onde uma
população excessiva suga o sangue do corpo para colher no solo o pão de cada dia.
Antes parece uma estância prodigiosa de turismo, em que a natureza e o homem, de
mãos dadas, não deixaram lomba de monte ou carreiro de vale sem beleza e sem con-
forto.
Pela encosta, mal esta se liberta dos precipícios altaneiros que se erguem a prumo
sobre o mar, trepam centenas, milhares de casitas alegres, num milagre de povoa-
mento, de luz e de cor.
No alto, em regiões do céu, copas de árvores muito juntas, frisadas, vão descer.
Sente-se cá de longe, da amurada, o prodígio que deve ser esta paisagem vista de
cada curva do terreno, do alto de cada outeiro, do mirante de cada monte.
Depois, em águas mais transparentes, num ponto que todas as casas da ilha pare-
cem demandar, surge o Funchal, doce presépio desta romagem dos Oceanos, uma
grande cidade europeia em ar de jardim, um grande bordado multicor, garrido, movi-
274
Do À ARCA DE NoÉ
mentado e
Tantas vezes tenho 1"«'""""''''-' nestes caminhos e sempre me comovi como na vez
voI. 1, 1941, ln
EDMUNDO TAVARES
E LAPINHAS
e tornam-no numa
ImpOí~m·-se
por toda a Os
pormenores característicos e em uníssono um coro tri-
unfal de de carácter e pv"rpoci'i
De relevo muito de claro-escuro
a ilha da Madeira desdobra-se em infinitos em matizes
efeitos de número ilimitado.
a realidade da cota de nível em que nos
que se vislumbram em que nos causam
mas sim os contrastes que caracterizam
fi rudeza verificada na escala de
entre o cimo das
É o contraste teatral da
c a alvura azulada do mar, a
amarelas dos
e assombram.
para
275
ALBERTO VIEIRA
276
Df) .\ !I\!Jl
de
, uma inestimável A
yerdadeiro retiro de encanto e
um sonho e uma
vista a distância e do mar, quer observada de perto. em pormenor.
aualouer ponto da í1ha. a Madeira aspectos de inex-
se sucedem e numa transmut.1 estonteante e ul1lca.
On)l2'lratla da ilha é tal que. cada ponto domina sempre parte dos ler-
ritórios que lhe ficam mais e é dominado por outros. que por seu turno lhe
ficam mais altos. De vêem-se sempre rochas, socalcos, fazendas.
matas ou casario aconche(!3do ao fundo dos \ales. ou dos ribeiros
como fortalezas prestes a eaírem. outras
outras casas, outros socalcos de outras muralhas, outras matas e
outras terras que lhes ficam em
Descortinam-se extensos panoramas for a em que se olhe.
Observam-se escarpas descamadas de encostas que ficam acima de nós. e que
ameaçam desabar sobre as nossas ou sobre os telhados das casas que habita-
mos. De lado se vê o mar, de se vêem as serras.
cada casa, cada cada telhado. torre. rua, caminho ou
eSU"d.ua, é sempre um miradouro voltado para a terra e para o mar, e sempre um
observatório debrucado sobre os domínios dos vizinhos. sobre os telhados das nutras
sobre outras ruas, outros caminhos e outras estradas.
é na Madeira. um mirante que tudo vê em redor, e que tambem
Cada casa é uma ao mesmo tempo úrada para
os horizontes marítimos e para os horizontes serranos. Cada é uma
da donde se vê a passagem. a ea dos barcos. Cada
"",..,.",,,,,,,. uma colunata que marca como adorno, nas vistas da paisagem. Cada tàzen-
um que nos chama de Cada um
menta os panoramas.
Para lado que se vêem-se sempre casas mais baixas do que o nível
em que nos encontramos. Vêem-se sempre casas mais
inacessíveis. Vêem-se sempre parques a nossos
lá no lá no estradas
montes, telhados sobre telhados, chaminés cr,.""ino"c
casas de prazer, tap1ass:óls
menorizados e _
vertentes matizadas e renques de
tabaibeiras campos de bananeiras e de cana de
e um mar de e um céu
a ilha da Madeira é tambem um dos recantos por-
é maior, e consequentemente um dos pon-
tos em que os terrenos são mais
mercê da .
ca, graças aos recortes bizarros do seu litoral, aos inúmeros e férteis vales. e às
ALBERTO VIEIRA
278
Do A ARCA DE
anicham-se em recôncavos
",,,,1"1'''.11', não sendo visíveis senão de muito perto. Outras
soalheiras das encostas, vendo-se
acterísticas a destacarem-se por entre os de casas e arvoredos.
"111"")o;,1.I1\,'U,II-"" à em vales ou encostas que descem até
recentes, situadas na base de ribas altíssimas.
o homem habita desde a orla extremamente
mais inacessíveis situados nas altas serra-
vista e de parecem
são verdadeiros
279
ALBERTO VIEIRA
J. VIEIRA NATlVIDADE[t954\
Que génese laboriosa, a desta ilha de llorestas e de bruma! Nada que lembre o
mitológico nascimento de Afrodite quando emergiu docemente do seio das águas,
coberta por alvo manto de espuma que lhe oculta a virginal nudez. A Madeira é obra
de ciclopes, do desencadear brutal ele forças enraivecidas e insubmissas, produto de
tremendas convulsões submarinas, do pavoroso conl1ito cio rógo com a água.
Remontam a longínquas idades geológicas as grandes convulsões geocinétieas que
fazem erguer das profundidades abissais uma enorme montanha, sobre cujos planal-
tos uma outra montanha se levantou, erguendo seus altos picos cinco mil metros acima
dos fundos submarinos.
E durante milhares de milénios esta pobre ilha perdida no mar é joguete dessas
forças brutais que a modelam e transformum. A custa de levantamentos e de erupções
vulcânicas cresce e consolida-se o dorso montanhoso: é o primeiro e informe esboço
do corpo da ilha, trabalho gigantesco depois do qual se acalma a fúria criadora. Mas
o fogo não se extinguiu no ventre da montanha e irrompe mais tarde em focos vul-
cânicos periféricos. De novo estremece e se agita a montanha múrtir, novas torrentes
de lava incandescente se despenham no oceano que referve raivoso em eachões, sob
colunas alterosas de vapor, C0l110 se o próprio Vulcano, na sua gigantesca fúria, te111-
pcrnsse o corpo candente da ilha na imensa celha do l11ar.
Misteriosamente findaram um dia, como misteriosamente haviam começado, as
convulsões submarinas e a actividade vulcânica; extingue-se, pouco a pouco, o fogo
interno, e a ilha transforma-se num corpo frio e incrte, enorme e torturado esqueleto
rochoso, manchado de escórias e de cinzas, eontra o qual as ondas raivosamente
embatem.
Triunfara a obra ciclópica do fogo; porém, esse rochedo é um corpo estranho na
imensa supel'ftcie líquida, uma mácula, um estorvo ao livre arlhl' das ondas. E chcgou
então a vez de a água tentar destruir o que o fógo construíra. Desabam com frngor as
falésias corroídas na base pela abrasão; chuvas diluviantls formam torrentes de brutal
violência e, como gigantesca garra, a erosão abre vales c desnladeiros, provoca
temerosos desabamentos, morde, dilacera, mutila a montanha e arrasta vitoriosamente
para o mar os despojos da luta titllnica.
Piedosamente, a vida vegetal surgiu um dia a revestir aquela nudez, a opor uma
barreira viva fi catastrófica destruição. De soréclios vindos de longe brota o líqucn que
fabrica as primeiras partículas de solo vegetal; colaboram com a planta os agentes
meleóricos na decomposição da rocha; trazem as aves e as correntes oceflnieas, C111
p)edosa romagem, as primeiras sementes. Pouco a pouco, um manto ténue de verdu-
ra esconde as chagas da ilha clesnuda. E durante milhões de anos a evolução
280
Dfl :\RI :\.I!
281
ALBERTO VIEIRA
água em torrentes tumultuosas, como que fugida ao contacto grosseiro e agressivo dos
rochedos e ansiosa por regressar ao mar natal.
Rochas e água, o etemo conflito do estático com o dinâmico que tragicamente se
reflecte na orogratia da ilha, A água paciente, ágil, perversa, desgasta e cOlTói o
esqueleto rochoso, hirto, impassível, severo, Como há milhares de séculos atrás, a
água móvel parece empenhada em aniquilar a montanha inerte. É a abrasão a corroer
as falésias e a provocar os grandes desabamentos; é ainda a própria água do mar que,
sob a forma de nuvem, vai condensar-se nas cumeadas das serranias para correr,
depois, tumultuosa e devastadora pelas ribeiras. Na costa nOlie, dir-se-ia que se reno-
vam a nossos olhos todos os atormentados passos da longa história da ilha,
O milagre dos madeirenses foi harmonizar esses elementos hostis, tarefa ciclópica
que data de há quinhentos anos, e que hoje prossegue com a mesma coragem e o
mesmo ardor.
A orografia insular, até na própria vertente sul a mais favorável aos cultivos agrí-
colas, claramente mostra que, depois de destruída a nO!'esta natural, só era possível
conservar ou recuperar o solo pela construção de muros de suporte que prendessem as
terras, e de praticar o regadio dominando a água que corria torrencialmente pelas
ribeiras, ou brotava, inútil, nas cumeadas das serranias. Para tanto, havia que lutar com
a rocha e que vencer as torrentes.
E o homem, o pigmeu, atacou a montanha. Durante séculos não cessou o trabalho
rude da picareta e da alavanca, e à custa de vidas, de suor e de sangue talharam-se na
rocha as gigantescas escadarias, sem que o alcantilado das escarpas, a fundura dos
despenhadeiros ou a vertigem dos abismos detivessem os passos do titã. Monumento
este único no mundo, porque jamais em parte alguma, com tão grande amplitude,
tanto esforço humano foi empregado na conquista da terra.
E o madeirense venceu a água o que era tOlTente perigosa e rebelde, força agressi-
va e destruidora, sujeitou-se à vontade do homem. E a água corre agora docemente
pelas levadas; o estrépito das torrentes transformou-se em brando murmúrio, em terna
melopeia de inofensivo e remansoso regato; e a água impulsiva que desgastava a
rocha e sulcava a ilha de profundos vales fecundou a terra e permitiu o milagre da veg-
etação luxuriante e os prodígios da sua agricultura. Pouco a pouco, aqui e ali, as flo-
res surgiram neste cenário grandioso, timidamente se entreabriram, e por fim triunfal-
mente desabrocharam a coroar, como uma bênção, a obra portentosa dos obscuros
heróis.
( ... )
E o vilão ataca e tritura a rocha para a transformar em solo agrícola; geme sob o
peso de enormes pedras para construir um socalco; marinha pelas falésias para con-
quistar um palmo de terra, mesquinha gleba, pouco maior por vezes do que um ninho
de águias alcandorado no pendor de uma fl'aga, Antes de ser agricuI tor, é cabouqueiro
e arquitecto. Labuta de sol a sol e transforma o seu horto, a sua cOUl'ela, num jardim.
Onde a água corre, o agricultor heróico e operoso faz milagres; a levada empurra-o e
ele empurra a levada. Novos poios se sobrepõem a outros poios, e assim esse trabal-
hador humilde, além de transportar sobre os ombros o peso da sua cruz, constrói nos
degraus da montanha o seu próprio calvário. É a Madeira sobrepovoada que luta.
Este vilão madeirense, de torso hercúleo, máscara rude e austera, personificação da
282
Do À ARCA DE NOÉ
283
ALBERTO VIEIRA
284
Com as rosas da Madeira. bem dar-se o
os momentos mais ditosos da nossa vida ou dolorida~.
maÍs pungentes de tristeza c de saudade. Elas são oriundas de .lj paragC!h e
constituem a mais que vimos. com a maiur
mas. que eu ouso perguntar agora. numa
se não teria sido na ivladeira. nestes
amente anterior a -que Vénus
286
Do ARCA DE NoÉ
das n08-
"
ciosa as nossas belezas
disse nada conhecer de mais belo e
romancista e "o homem mais
de tanto assombro e que Olavo
seus ultimas anos, chamou à Madeira o
toda a ilha era uma no banho luminoso
corria para dar-lhe um distintivo que Roberto e
também transformou a sua lira em doces melodias
que medico do
mais bonita que e
Para para o meu trabalho e para esta ilha de que me
dos Amores", a que se lhe Vénus ama; a terra
precursor que tem cantado e enaltecido as maravilhas da Pérola do
para que não posso tudo que se me vão valer afir-
que não trazem a naftalina dos nem as dos
historiadores.
na cimeira deste livro meu de ser
eu como os latinos:. "Sursum corda !" são cantar-se hosanas à minha ilha da
Madeira!
com um "santo da casa" -o que foi João
serve de 1110te aos que lhe seguem:-... temos que
quere que de vago e das telas de Wateau ... e dá vida e rete-
vo aos relevos da vida.Bulhão que por andou "a aos vinte e aos
sessenta e cinco anos, chama a ilha uma Senhora de ricas roupagens, e acres-
centa: ! País não tem no mundo torrão que the
dê de rosto.
Júlio Diniz esteve o mais surpreen-
dente que a vista formosissimos vales
que vão o seio fecundissimo aos olhos marauilhados. Emudecido com a
que o cercava, a tal que escreveu "Os da Casa
Mourisca".
Aumhomem como D. António da autor da "História do Marechal
Saldanha" e nosso ministro da InstrLlcão-na Madeira tudo faltou de amor e
287
ALBERTO VIEIRA
288
Do À ARCA DE NOÉ
Ao fim de uma
Tudo conservava um ar
a interior do ea movimentada da festa. Também Júlio
o notara: Tudo tem um ar de festa e de
maestro de "Os Cossacos do Don":esta beleza
ilha onde a é
um altar.
acrescentou: A Madeira encantou-
nos, para sempre, para para encanto dos posso dizer-lhe que
nada há melhor no mundo.
Sim! Tudo que se diz deve a uma verdade insofismável. con~
cardar que tanto louvor e tanta mística de encantamento não são mcras formas
meros arroubos de e de estilistas. agora Vieira Natividade: Na
a Natureza abusou em demasia do sublime e o homem excede o
homem. Não há nada que não deslumbrador. O autor de
tantíssimos trabalhos científicos também se enamora da também se extasia por
a de concluir que seria um contra-senso cantar-se o fado na onde
o ambiente só admite hinos triunfais e cânticos heroicos.
Ferreira de Castro-o mais famoso romancista da actualidaele- embren-
ha-se de tal modo na minha onde passou uma que nela coloca toda
do romance "Eternidade" e a ela torna cheia de encantos em. l11Ut1-
velhas
Camilo tem , o entrecho de "O Santo da Montanha"
e no
Arnaldo Gama desenvolve na Madeira "A Caldeira de Pero Botelho".
para ca deixa descendentes. E o
Teófilo
llUtlfl'.HU.lU'''Uv escreve ainda. noutro Julio Diniz, Se os doces afec-
J.<UHUU<, se os carinhos duma esposa, duma mãe ou duma filha sub-
é a terra para tentar a
289
ALBERTO VIEIRA
290
Do À ARCA DE NOÉ
h05.
me de Ser IVICIW'lrt'I1.\'P
MARJALAMAS
291
ALBERTO VIEIRA
Rabaçal, no tempo em que o meio de transporte em tais caminhos era a rede e se tor-
nava inevitável pernoitar num tosco abrigo em plena serrania. Actualmente, esse
primitivo itinerário é seguido apenas pelos camponeses, mas oferece maior interesse
a quem quiser tàzer ideia do que seja um furado" madeirense e, sobretudo, a quem
desejar conhecer todos os caminhos dos homens.
Lombo do Doutor, um pouco acima da Calheta Aqui vivem o Alhinho e a senho-
ra Maria, que me acompanharão no velho percurso, espantados de que optasse por
ele, tal como o conhecem, ermo e fatigante, mesmo para quem lhe está afeito, quan-
to mais para quem vem da cidade.
A habitação deste casal de vilões remediados, já com filhos casados e emigrados
na Venezuela, é das melhores do sítio: dois pisos, paredes caiadas e coberta de telha.
Interiormente, um característico desconforto, apesar do gosto da mulher, generaliza-
do em toda a ilha, em alindar com bordados e rendas o seu bragal, por modestíssimo
que seja. Não se trata duma excepção: para o camponês madeirense a preocupação
absorvente é que o milho não falte e a terra não descanse - tudo o mais será como for.
Os utensílios da lavoura, mais o pote da graxa" (assim chamam, na região, à banha
de porco com que temperam a sopa de verduras e o milho) mais um molho de cebo-
las, o lampião e o moinho caseiro, um banco desmantelado, cestos de feijão, pi lhas
de batata doce e de semilha, ainda muitos outros objectos, variadíssimos - tudo se
amontoa, em desordem, na casa de entrada, atravancando a pequena divisão, térrea e
escura. O reboco e a cal não passaram do lado de fora. A comunicação com o
primeiro andar tàz-se por uma abertura no tecto, até onde se sobe por uma escada
rudimentar, sem corrimão. Lá em cima, no quarto, a cama de ferro tem almofadões
brancos, bordados, e no pequeno lavatório há uma toalha cuidadosamente dobrada -
tudo assim hospitaleiramente preparado em minha honra. Também as janelas osten-
tam o luxo de cortinas de croché. Nas paredes, oleografias baratas, com assuntos reli-
giosos. Sobre a cómoda, um Menino Jesus e uma jarra com flores de papel.
Este é, mais ou menos, o interior típico duma moradia rural considerada média na
escala de categorias que os próprios camponeses estabelecem entre Si.
A família come na cozinha - uma construção à parte, acanhada, escurecida pelo
fumo, mal provida e sem alinho. Mas não foi lá que almoçamos. Para a nossa refeição
a mesa foi posta cá fora, sob a latada: toalha desencardida e manjares que a terra dá.
Como sobremesa saboreei as bêberas fresquinhas e apetitosas, colhidas de manhã
numa figueira da fazenda e servidas em gamelinha airosa. É mais de meio dia. O
tempo entrovisca-se ... Mas isso é corrente e não assusta ninguém. Voltamos costas ao
mar e partimos, finalmente, a caminho do Rabaçal.
A ladeira é íngreme. No alto, a vereda que seguimos deixa de ser caminho entre
pinhais, para flanquear penedias, sobranceiras a abismos, sem guarda nem qualquer
ponto de apoio. Só contamos com o bordão, no caso de vertigem ou de um pé
resvalar. Vou tentando regular o meu passo pelo dos meus companheiros, sem o con-
seguir. Têm eles que moderar o andamento, para que eu não fique, sàzinha, para trás.
O homem tàla ... Discorre sobre o seu viver arrastado, num tom insatisfeito mas
sem lamúria. Pelo contrário, tem na voz e 110 olhar uma expressão de argúcia e uma
vivacidade comunicativa que não condizem com a máscara vincada e o seu todo de
homem idoso e gasto.
292
Do ARCA DE NOÉ
com pena, E a ea
~l"'''I",rlp·''''_IY''~· descubro uma maior nos meus passos, no meu olhar e na minha
atfmç:aC), C01110 se um sopro de vida renovada ateasse a minha chama interior e des-
que, sem eu estavam em ainda intactas, a
E a certeza de que o destino do Homem se
consciência da ll1!;1I1'Ui:llJI;
faz circular mais ardentemente o sangue nas minhas
veias,
VERDE
294
Do À ARCA DE NOÉ
em
directas dos que os encontraram.
confiantes: defendem-se astuciosamente de quem invade os seus
sítios habitados.
O negro da serras vive na solidão das montanhas e faz ninho nos reeôn-
cavos naturais de onde é tão difícil arriscado
Mas desce aos os frios mais Ali o persegue o
porque a sua carne continua a ser tão como outrora ... Não contente
negro da serra, denuncia o
se afastem
e não voltem lá menos.
A brava"Cassim chama o povo ao da rocha vive exclusiva-
mente nos quer do quer do interior. Por toda a ilha há
bravas". que deram nome a numerosos sítios. Por "A'~lUIJ'V os Pombais de Porto
do Moniz.
O bastante raro encontra-se nas mais montanhosas do
mas nidifica nas árvores. O seu voo é sempre alto e tão desconfiado se
mostra que se torna dificílimo
Os têm direito a esta por haverem muito antes dos
senhores da ilha - sem falar agora na chacina que ameaçou exterminar-
em benefício dos Mas tudo isto vem a do bis-
bis que não a saber se devia ou não confiar cm mim ...
O ilhéu que me contesta a minha
nas matas madeirenses. Pelo ele afirma que há muitos e que, se os não
tenho é talvez por me absorver na da
Como é, conhece a os campos e serranias da sua
até aos menos acessíveis recessos. E não se cansa de louvar a variedade e encanto das
aves que este pequeno mundo insular. Não é apenas o bisbis - na realidade
o único ilha que lhe é éo que a conviver sem
reservas com éa com o seu canto vibrante e variado: é o pap-
inha o rouxinol da Madeira - a cantar ao desafio COm outros innãos que lhe respon-
dem de em trinados maviosos que enchem de o alvorecer e
no entardecer todo
de cores é o melro
dia com os seus assobios
onde quer que uma árvore lhe
e continua ainda a cantar por detrás das
maís à duma barraca ou em balcão o
canário madeirense que tem tiuna em terras em
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ALBERTO VIEIRA
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Do À ARCA DE NOÉ
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ALBERTO VIEIRA
Na ausência do homem, o mundo não era mundo. Sem haver quem percepcionasse
esta criação de mar e terra, nem o espaço nem o tempo teriam existência. A vida em
plano inferior, sem atitude pensante, ignorava o mundo. E o vazio, o nada, seria uma
realidade que, afinal, não era. Não a observavam os olhos conscientes. E um mundo
inútil rodava no espaço, no silêncio da noite e do dia, à espera da aparição humana e
ela surge. O mundo começa.
Devia de ser assim. A imagem de tarde de Inverno nos confins da freguesia rev-
elava o cenário fisico do mundo quando principiou a ser E o tempo entra de marcar
no contingente e no perecível o determinismo de tudo que está a ele sujeito.
Mas o homem ergue, irresoluto, a face, em tomo. Devia de ser assim. Lutavam
com ele os elementos. Assombrado, esgazeava os olhos em volta, mas não meditava
porque a natureza era sobranceira à sua pequenez e o deprimia.
Quando começou de pensar no destino da vida, tinham volvido anos sobre anos.
Na riba penugenta de ervinhas maceradas do chicote do vento, amontoavam-se
pedras. E, lá em baixo, ao fundo, o mar rebramia acometendo as rochas. E a urrada
das ondas espedaçando-se era sensação pertinaz dentro do ouvido. O mato de bardo
resguardava as cercas das vinhas, e os tufões, ululantes, vergavam o tapume de urze.
Um cheiro adstringente a maresia penetrava em todo o corpo.
Agora, vindo do largo, da superficie aborregada e movediça das águas, uma corti-
na de névoa desfaz-se em chuva e, outra, compacta sobe a montanha
Nem vivalma Este carreiro que não chegou a ser aberto no alto da riba é Pouco
batido pelo caminhante. Mas conhece-se.
Fica entre a cabelugem da erva amarelida sinuoso, quase sumido, vestígio
remanescente de passadas humanas, que de longe em longe houvessem trilhado a
beiça escalavrada da penedia.
O ambiente esporeia a reflexão. Começou o mundo, que teve um principio ao
haver existência, talo do homem ao estalTecer-se com o espectáculo que deparou, da
montanha e da árvore, da chuva e do vento. Ali o vejo, naquela fazendo la os pés
descalços metidos na terra a enxada a levantar-se e a baixar-se, os regos a encherem-
se de água. Arregaçadas as mangas da.camisa, a chuva a escorrer pelo rosto encor-
reado, tisnado e curtido da intempérie das estações, retrata-se nele o tipo físico da
raça meditelTânea, produto de uma educação de carácter espartano, primitivesca; é
bem o homem que arremete com a natureza, sentindo-lhe o peso, com todo seu
gravame.
Cérebro com a centelha da razão, a ideia fixa do utilitário dorme com ele, mas de
um utilitário avesso a pretensões que não sejam as concernentes ao seu mundo famil-
iar.
Regresso à vida que coça. Deixo-me imergir na simpleza rústica de um tempo que
já foi. O espírito retrocede.
O mundo está ali figurativo, na imagem do homem a cavar a terra absorvido na
esperança da semente que há-de germinar e produzir colheita pingue.
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Do À ARCA DE NoÉ
Sempre teve o homem familiaridade com a árvore. Ser que produz alimento e
sombra; ser utilitário desde que foi simples percepção para defesa da própria vida, o
homem despojou-a dos ramos e esqualiejou o tronco para de ele fabricar tábuas e
com aquelas construir seu tugúrio pobretana. Mas seria em primeiro lugar o interesse
material que acorrentou o homem à árvore possível.. Porém, pode conjecturar-se out-
rossim, que não, se reflectirmos no factor religião. A qual nasceu quando os olhos se
abriram para o exterior. O mistério desvendado do aparente criou o espanto no inex-
plicável que envolvia esse mesmo aparente. e a árvore, na pujança de seu todo, na
fascinação do tronco, ramos, folhas, flores e frutos revelou-se o símbolo da força cri-
adora, o princípio donde provém toda a existência. E o culto da árvore veio, como
todo o conhecimento, de fora para dentro. A árvore é a vida, torna-se a árvore da vida.
Prova da noite dos tempos o culto da árvore sagrada. Já entre os habitantes de
Creta, as jovens e as mulheres idosas ofereciam à divindade flores e frutos. Essa
deusa encontrava-se em santuário campestre; no meio das árvores, adornada de flo-
res na cabeça e segurando flores nas mãos.
Este primitivismo pagão, cingido de mistério, continha sua essência poética.
Projectava o homem nos seres sem vida humana o seu psíquico, a sua vida interior.
e tudo se humanizava. Não existe o ser incomunicável, isolado, mas uma unidade no
contraste das formas e das substâncias.
Das árvores que eram homenageadas, o plátano ocupava uma situação de privilé-
gio. Prestava-se-lhe o tributo correspondente à sua espécie. Depois os J1éis con-
sagravam à deusa Réa. E as plantas jamais deixaram de associar-se às divindades
através do tempo. Isto no politeísmo e no monoteismo. e da arvore excedeu o peca-
do do homem.
O plátano foi uma árvore sagrada. Anda a ela associado o nome de Platão. Foi
quando o filósofo, no regresso da sua jornada à ilha ela Sicí 1ia, comprou uma casa
comjardim nas cercanias de Atenas. A curta distância da residência havia um campo,
que pertencera a Academos, herói da Ática. Ali se organizou um ginásio e se con-
struiu um santuário. O discípulo de Sócrates dava então as suas lições à sombra dos
plátanos que fechavam o recinto.
E esta árvore de tradição religiosa e impregnada da voz do filósofo, que profusa-
mente se esparrama por terras mediterrâneas. E até na ilha, que é nosso habitat, o plá-
tano viceja por toda a parte: na cidade, nas vilas e nas üeguesias.
O dia da árvore comemorou-se neste Dezembro. Não foi embalde que no meu
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Do ARCA DE NoÉ
Setembro de 1970
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ALBERTO VIEIRA
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Do ÉDEN À ARCA DE No!'
POESIA
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Do ÉDEN A ARCA DE NOE
INTRODUÇÃO
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Do ÉDEN À ARCA DE NOE
COLECTÂNEA DE POEMAS
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MANUEL THOMAS
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Este nome darás a huma fennoza Mas porque deIla vejas a exçellençia
Villa, fazendo ally que se edifique Em que com meu tàvor irá cresçando,
Que em gente nobre, rica, & generoza, Mostrarte quero a tua desçenclençia,
Com grandezas farei que multiplique; Que lhe esta mil grandezas prometendo,
De quém a esperança mais ditoza, De outros verás tambem a preminençia
Hé bem que a tuas glorias hoje applique, Que por Feitos a irám ennobresçcndo
Pois hám de dár com Nome de Exçellençia E de todos aquella imJ110rtal gloria
Nome mais alto á tua Descendencia. Que ás Musas pede lama, & doçe hi~toria.
Quando nos Ji'uctos tanto a Terra augmente, De séu trabalho a gloria meresçida
Serám novos lugares conhesçidos Alegra a'o Zargo em ser lhe assi mostrad[j,
Effeitos da riqueza, que em a gente Considerando a pena padesçicla
Altos Templos íàrá, sér erigidos; Sér com tam justo premio bem pagada,
O daquella Ditoza Penitente, Que por Palma da luta conhesçida,
Que deixando de Cl1l'isto os pés, ungidos, E por Louro da guerra atrás passada,
Teve na obra, Singular lustiça Bem hé que goze em séu descobrimento
Despertando de Judas a cobiça Gloria antevista, em Iam feliçe augmento.
(Y)
(Manuel Thomas, lnsulana, Antuérpia, 1(35)
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Do À ARCA DE NOÉ
o Primeiro Homem
Na estátua imóvel vida, Como se o bruto instinto fora aviso,
A vital do soberano alento, Lhe tri butaram discreta.
Ao barro forma humana transferida A cada o nome
Teve o corpo insensível movimento; a brutal propensão nunca indiscreta
o racional, por luz nalma infuída Guiou aos pastos, às nativas fontes,
De quem lhe dera o ser conhecimento, Aos grutas, vales, selvas, montes.
Pois o eterno que ao Mundo Adão, como entendido. de enlevado
Claramente entendeu que o ser lhe dera. Na alta da eterna essência,
Saíu Adão formado sem defeito, Da e no movimento e estado
Da natureza assombro portentoso, Se tranportou, por alta
N as exteriores 1,,"'IV\r(\I'~ De suave Morfeu arrebatado,
Infuso por divina
Se rendeu ao
Gesto severo,
Tanta era fi que
a fereza cios brutos o temia.
Todos foram b\lscá-lo ao Paraíso,
Jardim que céu na terra se
FRANCISCO MANUEL DE
3J I
ALBERTO VIEIRA
Flor do Oceano
(A. Joaquim Pestana)
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Do À ARCA DE NOÉ
FORTUNATO DE OLIVEIRA
Sobranceiro às selvas e
Sobranceiro às cristas
Aos os
vestidas,
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Do À ARCA DE NOÉ
A Francisco Vieira
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ALBERTO VIEIRA
Saltos d'água, caindo em catarata; Aqui suspensa uma árvore nos ares,
Rotos por dcntro agigantados montes; O pico d'uma rocha! - Além um lago,
Sobre os abysmos das caudais de prata Que, súbito, no meio dos pomares,
Os arcos naturaes formando pontes; Se formou por encanto! Ora, no vago,
O sol rompendo a cupula das nuvens, Um casal, transformado numa villa,
E abrindo encantadores horisontes! E uns pinheiros em torres seculares!
Que mystérios, que paz, que liberdade, Ao cHmponez esbelto, alto e robusto-
Nos hortos e vergéis, nas fontes frias Camponês, que 'inda agora, em nossos dias,
Dos umbrosos subúrbios da cidade! Apelidam vi/cio - surge-lhe o busto
Que saudosas e gratas melodias Na eminência daquelas penedias,
Se alternam entre os pássaros das selvas Por entre o raro véu, como se fora
E as torrentes d'aquellas serranias! Inda mais colossal de que um GoHas!
316
Do À ARCA DE NOÉ
ruas pn'",pr!J'"rlo,"
Onde as renques de hortenses m'1111(Wn"",
Resaem em cambiantes <lL'.H"""",
Das tblhas e
Que alta e li"ondifera,
De flores rescendentes e nevadas!
3[
ALBERTO VIEIRA
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Do À ARCA DE NoÉ
Enamorada
cidade de
PIMENTA DE
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ALBERTO VIEIRA
Lenda de um Pinheiro
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Do À ARCA DE NOÉ
o Rouxinol
Não canta, o nosso rouxinol?
De um bando preguntava,
Numa doida que encantava,
Em hora em que dormia há muito o sol.
levanta a voz,
Cantando brando a sua alroz,
O sacrifício belo oferece ao céu.
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ALBERTO VIEIRA
Primavera
Paisagem verdadeira
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Do À ARCA DE NOÉ
ARMANDO SANTOS
FERNANDO DE GOUVEIA
323
ALBERTO VIEIRA
LEANDRO DE SOUSA
* Pérola do Atlântico"
À belissima !lha que melai berço.
FlOD'AGUA
324
Do À ARCA DE NOÉ
em Santana Verão de I
À vossa beira se
musgos e flores: cantar;
Cvelhos loureiros murmuram Candam ensinando às flores
loucas histórias de como deve falar.
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ALBERTO VIEIRA
Minha Terra,
eu não te canto
pelas tuas belezas,
nem pelas tuas flores,
nem por esse verde impossível dos teus montes,
nem pelo canto cristalino das tuas fontes,
nem pelo azul puríssimo do céu e do mar
eu te respeito só.
Venero sim. os meus antepassados
que num sonho de há quinhentos anos,
lograram criar-te sem esforço sobrehumano
e desbravar o mato,
quebrar a pedra,
domar o mar,
os ventos e a adversidade.
Gastar o sangue, os anos e a vontade,
a construir poios,
a aproveitar a terra,
até onde os pisos altaneiros as nuvens apunhalam
e a desafiar as bocarras eiolópicas
e as gargantas da montanha;
dominar a torrente de fI'água em frágua,
para com as suas lágrimas,
o seu suor e essa água,
pudesse existir hoje
este rincão florido,
esta pérola verdadeira,
MADEIRA!
[Luis Marina, Musa lnsular(poeta.l' da Madeira), 1959, p.630]
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Do À ARCA DE NOÉ
MANUEL
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MUSA RÚSTICA
ELOGIO DO EUCALIPTO
Do abençoado Eucalipto
Suas folhas medicinais
Curam as afecções pulmonares
Os estados catarrais Vivenda da Azenha, Caniço, ~
E tanto mal impertinente [Baptista dos Santos, Ml//'I1ní
De que sofre e morre muita gente ... Funchal, 1961,
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Do À ARCA DE NOÉ
Olha
Com mãos fortes desbravaste
em rocha dura
com mãos tartes semeaste silvestre
videiras c bravura.
entre
ribeiras saltitnntes
que bailam daninha
rochedo
imortal agreste
és a Madeira. perto
olha-a
Madeira bem
sonho vê
realidade. a cor
linda
Madeira quc tcm
és
verdade. Bela Pita
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ALBERTO VIEIRA
ILUSTRAÇÕES'
Página.
8: Andrew Picken, 1840, Colecção Museu Frederico de Freitas
9: A. Picken, 1842, Colecção Museu Frederico de Freitas
11: Mrs Benett, 1809, Colecção Museu Frederico de Freitas
23: James Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas
25: L H. Robley, 1845(?), Colecção Museu Frederico de Freitas
37: James Bulwer, 1827 , Colecção Museu Frederico de Freitas
47: Susan V. Harcourt, 1851, Colecção Museu Frederico de Freitas
49: W. S. Pitt Springett, Colecção Museu Frederico de Freitas
55: James Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas
71: W. Combe, 1821, Colecção Museu Frederico de Freitas
73: A. Picken, 1840, Colecção Museu Frederico de Freitas
76: James Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas
75: 4.256b James Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas
80: 4.257b James Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas
81 : W. Combe, 1821, Colecção Museu Frederico de Freitas
83: John Drayron, 1846, Colecção Museu Frederico de Freitas
87: A. Picken, 1840, Colecção Museu Frederico de Freitas
233: V. Tomam, Séc. XIX, Colecção Museu Frederico de Freitas
235: James Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas
239: Susan Vernon Harcourt, 1851, Colecção Museu Frederico de Freitas
241: James Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas
303: Richard Westall, 1812, Colecção Museu Frederico de Freitas
305: James Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas
307: James Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas
I. Para uma informação mais completa veja-se neste volume o capítulo: Aguarelas,
Estampas e Desenhos da Madeira. Sécs. XVIII- XIX. Aproveita-se o ensejo para
agradecer à Dr" Ana Magarida a disponibilidade elesta informação.
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