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Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina

Coordenadoria dos Juizados Especiais

MANUAL DO JUIZ LEIGO


NO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL

Florianópolis, agosto de 2006


1

Autoria do manual:
Renato Lisboa Altemani, Secretário Jurídico da
Presidência
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Sumário

1. Os juízes leigos no direito positivo brasileiro 3


2. Deveres do juiz leigo 9
3. Atribuições do juiz leigo no Juizado Especial Cível 11
4. Tutelas de urgência e a atuação do juiz leigo 14
5. Sugestão de roteiro para a nomeação e a exoneração de juízes leigos 16
Anexo I – Modelo de formulário de Instrução 17
Anexo II – Modelo de termo de Inscrição 18
Anexo III – Modelo de portaria de designação 19
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1. Os juízes leigos no direito positivo brasileiro

A Lei nº 9.099/95 disciplina, na Justiça comum, o procedimento especial


para pequenas causas. A motivação da norma foi a de reduzir o tempo e o
custo dos processos de pouca complexidade, ante a percepção de que muitas
vezes o processamento de tais demandas oferecia maiores dificuldades que a
resolução da lide.
Essa agilização não é uma proposta ligada meramente à idéia de
eficiência, mas sim ao próprio acesso à Justiça. Como se tornou comum
advertir, uma Justiça onerosa e tardia pouco se diferencia da injustiça.
Assim, desenvolveram-se diversos mecanismos destinados a:
a) facilitar o acesso ao juízo, permitindo o ajuizamento de demandas
diretamente pelas partes, tal qual ocorre nas small claim courts, do
direito americano;
b) prestigiar os princípios da oralidade e da concentração dos atos
processuais, buscando uma resposta rápida às demandas;
c) adotar um modelo participativo de prestação jurisdicional,
aproximando as partes do processo e conferindo maior importância à
conciliação.
Por serem demandas de menor complexidade, considerou-se que a
participação direta do magistrado em todas as fases do processo seria
dispensável. Adotou-se, então, um modelo diferenciado, permitindo-se, por
exemplo, a nomeação de um terceiro para realizar a audiência de conciliação.
A Lei nº 9.099/95 foi além e criou, em seu art. 7º, a figura do “juiz leigo”,
que é designado não apenas para presidir a audiência de conciliação, mas
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para dirigir toda a fase instrutória e, ao final, redigir uma proposta de sentença,
posteriormente submetida à apreciação do magistrado.
A implementação dos mecanismos previstos pela Lei dos Juizados
Especiais ficou a cargo de cada um dos Estados. Em Santa Catarina há
inúmeras varas com competência privativa para apreciar e julgar as causas
previstas na Lei nº 9.099/95, além da aplicação do procedimento em todas as
Comarcas, ainda que de forma cumulada.
Verifica-se ampla utilização de conciliadores, o mesmo não se podendo
dizer do juiz leigo. Os atos instrutórios, assim, permanecem centralizados nos
juízes togados. O resultado, infelizmente, é o de acúmulo de demandas nos
juizados especiais e a morosidade na resolução dos processos.
Não é essa uma característica peculiar do Estado de Santa Catarina,
mas um retrato dos juizados especiais em todo o país.
Nesse sentido, disserta Carreira Alvim:
“Os conciliadores têm sido, de certa forma, prestigiados nos juizados
especiais, mas não na pessoa dos bacharéis, e sim dos estudantes de Direito,
que vêm cumprindo satisfatoriamente a sua função; mormente porque esse
trabalho conta como estágio, indispensável para se tornarem advogados.
“O mesmo não se pode dizer dos juízes leigos, que deveriam ser uma
das vigas mestras dos juizados especiais, nas são na verdade uma abstração,
por não contarem com a simpatia dos juízes togados, que nunca os vêem com
bons olhos (...)” (ALVIM, J. E. Carreira. Juizados especiais cíveis estaduais. 2.
ed. Curitiba: Juruá, 2004. p. 38).
Podem-se apontar várias justificativas para a timidez na utilização dos
juízes leigos no Estado. O só fato de se cuidar de uma proposta inovadora é
motivo para receios, que são potencializados pelo infeliz adjetivo “leigo”,
utilizado pelo texto legal. A idéia de um terceiro, leigo, presidindo a fase
instrutória e, ainda, lavrando sentença, encontra resistência dentre os
magistrados.
Uma outra dificuldade para a atuação de juízes leigos encontra-se na
própria Lei nº 9.099/95, que exige que a sua nomeação recaia sobre
advogados com cinco anos de prática. Essa circunstância impede, por
exemplo, que assessores e funcionários do Poder Judiciário ou do Ministério
Público, ou professores universitários sejam nomeados juízes leigos.
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Além disso, observa-se que, em Santa Catarina, a matéria foi


regulamentada por meio do Ato Regimental nº 27/95 e da Resolução nº 6/95 -
GP, que cuidaram mais de outros aspectos dos juizados especiais. Não existia,
até julho de 2006, disposição específica quanto à designação e à atuação do
juiz leigo.
A ausência de regulamentação, entretanto, não inviabiliza a atuação do
juiz leigo, nos moldes do art. 7º da Lei nº 9.099/95, motivo por que é
conveniente afastarem-se, desde logo, alguns preconceitos.

1) O juiz leigo não é um perfeito estranho e nem um “leigo”


propriamente dito, mas um advogado com mais de cinco anos de prática
forense, que conta com a confiança do Juiz de Direito titular da Vara do
Juizado Especial.

“Juiz leigo” foi a forma pouco elegante que o legislador encontrou para
distingui-lo do juiz togado e do conciliador. Cuida-se, de fato, de profissional
experiente e idôneo, apto a conduzir a instrução e elaborar um projeto de
sentença.
Nesse esteio, disserta Joel Dias Figueira Júnior:
“A interpretação que merece ser dada à malsinada expressão ‘Juiz
leigo’ consiste em considerá-la como indicativa de oposição ao Juiz togado, ou
seja, o advogado com mais de cinco anos de experiência’ (FIGUEIRA JÚNIOR,
Joel Dias. Comentários à lei dos juizados especiais cíveis e criminais. 3. ed.
São Paulo: Saraiva, 2002. p. 185).

2) Não é possível afirmar que haja grande semelhança entre a


figura do juiz leigo com a do árbitro da Lei nº 9.307, de 23 de setembro de
1996.

Na arbitragem, as partes elegem, por convenção, um terceiro que irá


dirimir o conflito, em decisão que não poderá ser reformada pelo Poder
Judiciário (embora possa ser anulada). A situação é inteiramente diversa no
Juizado Especial, pois o juiz leigo submete a decisão à homologação da
sentença ao juiz togado. O magistrado, de fato, recebe a sentença do juiz leigo
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como um projeto de sentença, podendo homologá-la ou reformá-la parcial ou


totalmente. Mantém-se, assim, na pessoa do juiz togado todo o poder de
decisão.
Sobre o tema, colhe-se precedente da Turma de Recursos:
“Juiz leigo, necessariamente advogado com cinco anos de experiência
forense, concilia, dirige a instrução e profere decisão – a qual depende de
ratificação judicial. Decisão proferida por conciliador e só por ele assinada, por
não ter efeito jurisdicional, é uma não-sentença. Ato juridicamente inexistente e
que não admite ratificação ou sanção” (Apelação Cível nº 1780, de Criciúma,
rel. Juiz Hélio do Valle Pereira, j. 23.5.2002).
A “sentença” lavrada pelo juiz leigo, de fato, assemelha-se a um projeto
elaborado por um assessor, o que nada tem de extravagante.
Ressalve-se que o art. 24 da Lei nº 9.099/95 estabelece o direito de as
partes escolherem, dentre os juízes leigos, um árbitro para a causa. Somente
por convenção das partes, portanto, atuará o juiz leigo como árbitro da causa.
Fora dessa hipótese, sua decisão é livremente apreciada pelo Juiz de Direito.

3) O advogado que exerce a função de juiz leigo não é proibido de


advogar, sendo vedado apenas que patrocine causas na vara do juizado
em que atua como juiz leigo.

Nesse sentido é o Enunciado 40 do Encontro Nacional de


Coordenadores dos Juizados Especiais: “O conciliador ou juiz leigo não está
incompatibilizado nem impedido de exercer a advocacia, exceto perante o
próprio Juizado Especial em que atue ou se pertencer aos quadros do Poder
Judiciário”.
No mesmo norte, pronunciou-se o Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil:
“Juiz leigo de Juizado Especial. Função privativa de advogado com mais
de cinco anos de experiência forense. Impedimento. Inteligência do art. 7º,
parágrafo único, da Lei 9.099/95 e do art. 8º do Regulamento Geral EOAB. O
exercício, sem caráter permanente, de funções de juiz leigo em Juizado
Especial, por serem privativas de advogado, não gera a incompatibilidade
prevista no art. 28, IV, do EOAB, mas, apenas, impedimento para exercer a
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advocacia na área daqueles juizados. Conciliador de Juizado Especial. Por não


se tratar de função privativa de advogado, mas que deve ser cometida,
preferencialmente, a bacharel em direito, implica incompatibilidade e não
apenas impedimento. Revisão da decisão proferida na proposição nº 4062/95.
Recomendação para que a OAB promova gestões junto ao Congresso
Nacional para revogação da privatividade de provimento por advogado da
função de juiz leigo, dando-se nova redação ao art. 7º, com revogação do seu
parágrafo único, da Lei nº 9.099/95. Decisão por maioria”. (Proc. 031/95/OEP,
Rel. Marcos Bernardes de Mello (AL), Ementa 07/99/COP, julgamento:
17.05.99, por maioria, DJ 09.06.99, p. 90, S1)
(Observe-se, na fundamentação do decisório, que também o Conselho
Federal da OAB é contrário à disposição do art. 7º da Lei nº 9.099/95, que
restringe aos advogados com mais de cinco anos de experiência o exercício da
função de juízes togados).

4) A delegação de poderes instrutórios não afasta o magistrado do


conhecimento dos fatos da lide.

Frise-se, novamente, que os Juizados Especiais cuidam de casos de


pouca complexidade, que não exigem tanta meticulosidade no exame de
provas. A instrução do processo, assim, não requer profundo conhecimento
técnico, daí justificar-se a sua delegação ao juiz leigo (lembre-se, advogado
com 5 anos de prática forense).
A mera circunstância de o magistrado sentenciar sem ter, ele próprio,
realizado todos os atos instrutórios, é hoje fato corriqueiro em quase todas as
Comarcas do Estado. O intenso número de demandas aliado à movimentação
dos magistrados durante a carreira (além dos períodos de substituição, nas
férias) faz com que, num mesmo processo, os atos instrutórios sejam
determinados por diversos magistrados. Não é incomum, por exemplo, que os
atos instrutórios sejam determinados por três magistrados e, uma vez
conclusos os autos, seja a sentença lavrada por um quarto Juiz de Direito,
novo titular da Vara.
A circunstância de se delegarem os atos instrutórios, portanto, não
representa uma ruptura radical com o atual modelo de prestação jurisdicional.
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Observe-se, ainda assim, que o magistrado, ao receber do juiz leigo os autos,


com a sentença para homologação, poderá, se julgar conveniente, repetir todos
os atos instrutórios, ou determinar a realização das diligências necessárias (Lei
nº 9.099/95, art. 40).
Isso posto, parece razoável concluir que a figura do juiz leigo é uma
alternativa propícia à eficiência da atuação dos Juizados Especiais, sendo
recomendável a ampliação de sua utilização.
Atualmente, os profissionais que atuam nos juizados, contam com os
seguintes benefícios:
a) contribuem para o bom funcionamento da Justiça, exercendo
função pública relevante;
b) realizando com presteza o serviço, ampliam o seu conhecimento
jurídico e ganham notoriedade;
c) somam pontos para a prova de títulos na seleção de ingresso na
magistratura, conforme o disposto no art. 37, § 1º, VIII, da
Resolução nº 04/06-TJ que dispõe sobre o Regulamento do
Concurso para Ingresso na Carreira da Magistratura do Estado de
Santa Catarina.
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2. Deveres do juiz leigo

O juiz leigo, no desempenho de suas atribuições, deve obedecer ao


mesmo padrão de comportamento que se exige do magistrado, aplicando-se
lhes analogicamente o art. 35 da LOMAN, com as devidas adequações.
A LOMAN, ao impor deveres de conduta aos componentes da
magistratura nacional, criou uma garantia de respeito e bom atendimento aos
jurisdicionados, que não pode ser excetuada por meio da atuação do juiz leigo
ou tampouco do conciliador.
É também uma garantia do jurisdicionado que a causa seja avaliada
por um juiz imparcial, motivo por que tem o juiz leigo o dever de se declarar
suspeito ou impedido, tal qual ocorreria se fosse o magistrado a julgar a causa,
aplicando-se analogicamente os artigos 134 e 135 do Código de Processo
Civil.
Por derradeiro, em atenção ao disposto no art. 28, IV, do Estatuto da
Ordem dos Advogados do Brasil, conforme a interpretação hoje pacificada, é
forçoso que o juiz leigo abstenha-se de advogar perante o mesmo Juizado
Especial em que atua como auxiliar da Justiça.
Assim, são deveres do juiz leigo:
I - tratar com urbanidade as partes, os membros do Ministério Público,
os advogados, as testemunhas, bem como os juízes, os funcionários e os
auxiliares da Justiça;
II - cumprir com independência, serenidade e exatidão, as disposições
legais e os atos de ofício;
III – abster-se de advogar perante o Juizado Especial em que atua
como juiz leigo;
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IV – declarar-se impedido nas hipóteses previstas pelo art. 134 do


Código de Processo Civil;
V – declarar-se suspeito nas hipóteses previstas pelo art. 135 do
Código de Processo Civil;
VI - não exceder injustificadamente os prazos para sentenciar ou
despachar;
IV - determinar as providências necessárias para que os atos
processuais se realizem nos prazos legais;
V - comparecer pontualmente à hora de iniciar-se o expediente ou a
sessão e não se ausentar injustificadamente antes de seu término;
VI - manter conduta irrepreensível na vida pública e particular.
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3. Atribuições do juiz leigo no Juizado Especial Cível

No Juizado Especial Cível, o juiz leigo dirige a fase instrutória, preside a


audiência de instrução e julgamento e profere a sentença, que se submete a
homologação pelo juiz togado.
Suas atribuições são, portanto, as seguintes:
a) presidir as audiências nos processos que lhe forem remetidos,
buscando sempre a composição amigável do litígio;
b) julgar os pedidos de produção de provas e determinar as diligências
que considerar necessárias;
c) proferir a sentença e submetê-la a homologação.
No rito estabelecido pela Lei nº 9.099/95, os atos processuais, em
atendimento aos princípios da oralidade e da economia processual, são
concentrados numa só audiência, que se destina à tentativa de conciliação, à
eventual escolha de árbitro, à produção de provas e ao julgamento.
É muito comum que a audiência de conciliação seja presidida por
conciliadores, muitas vezes graduandos em Direito. Em tal hipótese, o
conciliador, frustrada a tentativa de acordo, encerrará a audiência de
conciliação e solicitará às partes que aguardem pela chegada do juiz leigo (ou
do juiz togado, conforme o caso), que presidirá a audiência de instrução e
julgamento. É possível, também, falar-se, nesse caso, em suspensão da
audiência (trata-se de questão acadêmica: considera-se que há uma única
audiência com duas etapas, de conciliação e de instrução e julgamento, ou que
há duas audiências em seqüência, sendo a primeira a de conciliação).
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Nada impede, porém, que o juiz leigo atue no processo desde o início,
presidindo a audiência de conciliação.
Também na audiência de instrução deve-se buscar a conciliação das
pretensões conflitantes. O juiz leigo, na qualidade de colaborador da Justiça, é
um pacificador social e, como tal, deve buscar sempre a solução amigável dos
conflitos, medida esta que, além de atender aos princípio da celeridade e da
economia processuais, preserva o relacionamento pessoal entre os litigantes. É
essa a orientação das disposições do artigo 125, IV, do Código de Processo
Civil, e do artigo 21 da Lei nº 9.099/95.
Na condução da audiência de instrução e julgamento, o juiz leigo deve
ouvir as partes e prestar-lhes os esclarecimentos necessários, de maneira
educada, evitando tecnicismo e utilizando-se de linguagem que favoreça a sua
compreensão do objeto da demanda e da eventual proposta de acordo.
Como presidente da audiência, o juiz leigo deve manter a ordem e o
decoro na audiência, determinar que se retirem da sala os que se comportarem
inconvenientemente e, se necessário, requisitar a força policial (CPC, art. 445).
O juiz leigo poderá, igualmente, ordenar a imediata condução coercitiva da
testemunha intimada que não houver comparecido à audiência (art. 34, § 2º, da
Lei nº 9.099/95).
Na audiência de instrução serão produzidas todas as provas. Assim,
serão julgados os pedidos de juntada de documento, oitiva de testemunha e
realização de perícia, devendo o juiz leigo, ao final, ponderar sobre a
necessidade de se determinar, de ofício, alguma diligência complementar.
Observe-se que, em regra, os depoimentos não serão reduzidos a
escrito, devendo o juiz leigo fazer constar na sentença as informações
relevantes colhidas na prova oral. É ideal, nesse caso, que se faça a gravação
em fita magnética, ou por meio digital, da prova oral. Caso não seja possível o
registro, deve o juiz leigo anotar, durante o depoimento, as informações que
considerar relevantes para a fundamentação da sentença.
Concluída a instrução, o juiz leigo poderá imediatamente proferir a
sentença, ou intimar as partes para comparecimento em data próxima, para
que então conheçam o resultado do julgamento (isso ocorrerá se o juiz leigo
precisar de mais tempo para examinar a prova e/ou aprofundar o estudo da
matéria sub judice para, somente então, sentenciar).
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Lavrada a sentença, devem ser os autos entregues ao juiz togado,


encerrando-se, assim, a atuação do juiz leigo no processo.
A sentença será submetida à apreciação do magistrado, que poderá
homologá-la, reformá-la ou, ainda, determinar a realização das diligências
necessárias.
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5. Tutela de urgência e a atuação do juiz leigo

As decisões interlocutórias que forem além da mera instrução


processual não se inserem dentre as atribuições do juiz leigo. Questões de
maior relevância, como o decreto de prisão ou de afastamento do lar, somente
podem ser decididas pelo Juiz de Direito.
A decretação da prisão, embora não seja resultado esperado nos
processos de competência dos juizados especiais, pode vir a ocorrer. Cumpre
indagar, pois, sobre a possibilidade do decreto prisional assinado pelo juiz
leigo.
A resposta deve ser pela negativa, e não comporta exceção. Isso porque
o juiz leigo não é autoridade competente para ordenar a prisão. Nesse
contexto, sempre que houver pedido de prisão no curso do processo, os autos
devem ser devolvidos ao juiz togado, a quem compete decidir a matéria.
No Direito brasileiro não há prisão decorrente de determinação do juiz
leigo. Observe-se que, no processo penal, mesmo no caso de sentença penal
proferida pelo juiz leigo, a prisão somente será possível após a decisão do juiz
togado que homologar a sentença. Ora, se não pode ordenar a prisão mesmo
após lavrar a sentença penal condenatória, não é permitido ao juiz leigo, por
igual, ordenar a segregação cautelar.
De fato, ao criar a figura do juiz leigo, o escopo da Lei nº 9.099/95 foi o
de descentralizar atos em que considera desnecessária a atuação direta do juiz
togado, permitindo assim a agilização do julgamento de causas simples.
Noutras palavras, o propósito da Lei é de desburocratizar e não de dispersar o
poder decisório, especialmente quando se trata de valores fundamentais, como
o direito à vida ou à liberdade.
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A privação da liberdade, por exemplo, é atividade jurisdicional da mais


alta relevância, de impacto social, podendo causar dano irreversível na vida do
indiciado. O decreto prisional, portanto, está muito além dos poderes que a Lei
atribuiu ao juiz leigo, raciocínio que se aplica tanto à pena privativa de
liberdade quanto à prisão provisória e à prisão civil.
Seguindo-se a essa linha de pensamento, chega-se facilmente à
conclusão de que o juiz leigo temo o poder de determinar o afastamento do
cônjuge da morada do casal. A medida vai muito além de simples ato
instrutório, e tem drástico efeito sobre a vida do casal, especialmente sobre a
do cônjuge cuja saída do lar é ordenada. Assim, quando o art. 69, parágrafo
único, da Lei nº 9.099/95, dispõe que “em caso de violência doméstica, o juiz
poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar”, deve-se
entender que “juiz”, no artigo, é somente o togado.
A prisão e o afastamento da morada do casal são apenas dois exemplos
importantes. São inúmeros os casos em que o processo deve ser devolvido
pelo juiz leigo ao togado para apreciação de medidas de urgências, sendo
provavelmente impossível elaborar uma lista de todas as hipóteses. Na prática,
porém, a questão não deve causar tanta dificuldade: o juiz togado pode
resolver apenas os atos de instrução, ao passo pedidos que envolvam tutela de
urgência devem ser apreciados pelo Juiz de Direito.
Na qualidade de colaborador da Justiça, o dever do juiz leigo é o de
encaminhar o pedido de medida liminar ao juiz togado, autoridade competente
para o seu julgamento. Pode o juiz leigo, porém, elaborar um projeto de
decisão liminar e submetê-lo para a apreciação do magistrado, tal qual ocorre
com a sentença de mérito. Aplicáveis à hipótese os princípios da celeridade
processual e da ausência de nulidade sem prejuízo. O importante, afinal, é que
o poder decisório, no caso de liminares, permaneça com o juiz togado. O corpo
da decisão tanto por ser redigido de punho próprio pelo magistrado como por
um assessor ou por um estagiário. Sendo assim, é razoável concluir que pode
igualmente ser elaborado pelo juiz leigo e submetido a homologação.
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Sugestão de roteiro para a designação e a exoneração de juízes leigos

1. O juizado especial deve divulgar e disponibilizar os formulários de


inscrição para aqueles que quiserem atuar como juiz leigo.
2. As inscrições devem ser feitas perante a secretaria do foro, onde o
processo de designação será arquivado.
3. O Juiz de Direito titular da vara competente para julgamento dos feitos
submetidos ao procedimento dos juizados especiais indicará,
preferencialmente dentre os inscritos, aquele que pretende seja designado para
o exercício da função.
4. O advogado indicado deve apresentar a sua inscrição, preenchendo o
formulário e apresentando os documentos necessários
5. Somente serão designados os advogados regularmente inscritos.
6. A designação será feita por portaria do diretor do foro.
7. O juiz leigo será designado para cooperar com os feitos de uma única
vara.
8. Nas comarcas de vara única, bem como naquelas em que o juiz
diretor do foro for competente para julgamento dos feitos do juizado especial, a
designação independe de prévia indicação.
9. A exoneração será, também, feita por portaria do diretor do foro,
mediante requerimento do juiz leigo ou do juiz titular da vara.
10. Para o ato exoneratório, deverá ser entregue certidão, lavrada pelo
escrivão da vara em que cooperava o juiz leigo, de que este não detém autos
em carga ou bens integrantes do patrimônio do Poder Judiciário.
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ANEXO I
MODELO DE FORMULÁRIO DE INSCRIÇÃO PARA JUIZ LEIGO

FORMUÁRIO DE INSCRIÇÃO

Nome:

CPF: RG:
OAB:
Endereço:

Telefone: Tel. celular:


E-mail:
Instituição em que concluiu o curso de graduação em Direito:

Outros cursos concluídos:

Exercício anterior de atividade de auxiliar da Justiça:

Experiência profissional:
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ANEXO II
MODELO DE TERMO DE COMPROMISSO PARA A DESIGNAÇÃO DE JUIZ
LEIGO:

Eu, ____________________, advogado regularmente inscrito


na OAB, e com mais de cinco anos de experiência no exercício da
advocacia, comprometo-me a desempenhar leal e honradamente as
atribuições de juiz leigo, cooperando na ________ Vara da
Comarca de __________.
Comprometo-me ainda, neste ato, a não exercer a advocacia
perante o Juizado Especial da Vara em que passo a atuar como juiz
leigo, a partir da presente data e até a minha exoneração.

_________________________
Assinatura

Local, data
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ANEXO III
MODELO DE PORTARIA DE DESIGNAÇÃO

PORTARIA n.º 22/2006-JE-AHT

O Juiz de Direito dos Juizados Especiais e Diretor do Foro da Comarca de


Anchieta, no uso de suas atribuições, na forma da Lei, e

CONSIDERANDO a otimização e a eficiência necessárias para o célere


processamento dos feitos da Lei n.º 9.099/95, Juizado Cível e Criminal;

CONSIDERANDO a publicação do Provimento n.º 27/98 da Corregedoria


Geral da Justiça, em data de 18/5/98 e;

CONSIDERANDO os termos da Lei n.º 9.099/95, em especial o seu art. 7º;

RESOLVE:

Designar como JUIZ LEIGO (função não gratificada), IRINEU VOIGT JÚNIOR
(brasileiro, casado, filho de Irineu Voigt e de Arlete Batista Voigt, RG n.º 252.594.942 -
SSP/SC, que já foi inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil sob o n.º 9.799, com
habilitação desde 1995 até 2003), para atuar nos procedimentos do Juizado Especial
desta Comarca de Anchieta.
A presente terá vigência a partir de 08/05/2006 inclusive.
Afixe-se no local de costume.
Publique-se. Registre-se. Cumpra-se, encaminhando-se cópia à Corregedoria
Geral da Justiça, para fins do Provimento referido, e à Subseção da OAB local.
Publique-se. Registre-se. Intimem-se.
Anchieta, 18 de maio de 2006

ANDRÉ ALEXANDRE HAPPKE


Juiz de Direito Diretor do Foro

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