Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
com 2011
INTRODUÇÃO
Nos dias atuais é muito comum ouvir-se falar da necessidade de publicidade (ou
transparência) nas atividades da Administração Pública como forma de torná-la mais
responsável, qualquer que seja a dimensão considerada: orçamental, financeira, fiscal ou
patrimonial, entre outras. No entanto, poucas pessoas conhecem suas origens e, mais ainda,
compreendem a profundidade conceituai que envolve esta questão.
Cientes desta demanda popular, políticos pelo mundo afora têm declarado e
enfatizado, publicamente, a importância da dita "transparência" e prometem ampliá-la como
forma de demonstração de lisura governamental, como foi o caso recente da recém
empossada Presidente do Brasil, Dilma Roussef (O Público, 2010).
Em que pese parecer algo novo, a preocupação com a transparência pública, ou seja,
saber "o que" e "como" o governo faz o que tem de fazer, é algo bem antigo. O famoso
Northcote-Trevelyan Report, de 1854, por exemplo, o qual deu contornos legais robustos aos
Serviços Civis Permanentes britânicos, tratou-se, em realidade, de um verdadeiro "tratado" de
transparência pública no que diz respeito à contratação de servidores públicos. Neste sentido,
aquele documento trata desde a natureza dos problemas enfrentados nos serviços públicos à
altura, até as formas de melhor selecionar jovens para atender ao serviço (incluindo exames e
período probatório), passando pela necessidade de um Escritório Central de Examinadores,
pelas diretrizes para transferência de funcionários, e por questões de promoções e aumento
de salários, entre outros (Northcote-Trevelyan Report, 1854).
Posteriormente, até como uma evolução deste contexto, Goodnow, agora no ano de
1900, demonstrava profunda preocupação com as possíveis "relações impróprias" entre o
governo e as corporações. Em suas próprias palavras:
"We have thus on the one hand the government with favors to grant and with
burdens to impose. We have on the other hand the corporations anxious for favors and
desirous to escape burdens." (Goodnow, 1900:252)
"What now can be done to make such relations impossible, or at least less easy of
establishment ?" (idem:253).
E a resposta?
O Orçamento pode ser visto, a um só tempo e sem se incorrer em grandes erros, como
uma peça de planejamento, acompanhamento da execução e controle da atividade estatal. Se,
a este entendimento, acrescentarmos o fato de que os recursos manipulados pelo Estado são
disponibilizados pelos cidadãos, percebe-se, com maior profundidade, a importância da
transparência pública em todos os assuntos relativos ao Orçamento.
Orçamental), prevê, em seu Art. 129, publicidade plena nos assuntos orçamentais
portugueses. Observe-se:
"Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência" (Brasil, Constituição Federal, grifos
deste autor)
Não fosse isto suficiente, anualmente a Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO, a qual
contém, efetivamente, o Orçamento Geral da União para o exercício seguinte, especifica esta
obrigatoriedade. Veja-se o texto da LDO vigente:
Em seguida, o texto da LDO 2011 detalha quais informações deverão, inclusive, ser
disponibilizadas por meio da internet pelos diversos poderes.
Notem-se, nos dois exemplos, que, tendo em vista tais previsões legais, os respectivos
Orçamentos não têm eficácia jurídica sem sua publicação nos canais oficiais, seja no Diário da
República, no caso português, ou no Diário Oficial da União, no caso brasileiro. Trata-se,
também em ambos os casos e com as respectivas idiossincrasias, de uma demanda nacional,
de caráter legal, explícito e irrevogável.
Por outro lado, em alguns contextos, pode ser que a demanda por maiores
informações sobre os comportamentos orçamentais nacionais venha de uma entidade externa
ao país, ou mesmo supranacional. Os países da União Européia, por exemplo, devem obedecer
ao Pacto de Estabilidade e Crescimento - PEC, o qual obriga os Estados-Membros a
respeitarem o princípio do equilíbrio orçamental e que, segundo definido no Tratado de
Maastricht, deve ser inferior a 3% do PIB. No mesmo sentido, define aquele tratado que o nível
de endividamento do país não pode passar 60% do PIB (Comissão Européia, 2003:13). Desta
forma, como se pode perceber, para que tais verificações sejam possíveis, há que se
acrescentar à questão da publicidade/transparência em nível nacional, a necessidade de
transparência em nível supranacional.
Neste mesmo sentido, é fácil intuir que países vinculados a organismos multilaterais
como OCDE e Fundo Monetário Internacional - FMI, entre outros, também deverão, em
alguma medida, estar alinhados com os preceitos de transparência destas entidades.
Até o momento, este ensaio se ateve ao Orçamento público de uma maneira pura e
simples, ou seja, àquele elaborado, executado ou controlado pelo Estado por meio de seus
órgãos. No entanto, como se sabe, nas últimas décadas, até por conta de movimentos de
modernização pública como o New Public Management -NPM, os governos têm tido uma forte
tendência à descentralização estatal.
Neste sentido, muitos dos bens e serviços oferecidos pelo Estado passaram para a
esfera privada, total ou parcialmente, e as parcerias público-privadas (PPP) e as empresas
públicas são uma prova disso. Ocorre que, como bem alerta um relatório da Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Económico - OCDE, em determinados contextos e no que diz
respeito ao Setor Empresarial do Estado - SEE:
Para o caso das PPP, por outro lado, a questão da transparência depende muito de
como as mesmas estão concebidas na legislação nacional. De todo modo, como bem lembra o
mesmo relatório da OCDE, específico para o caso português em 2008:
"No que respeita às PPP, deveria ser incluída na informação sobre a análise de riscos.
Adicionalmente, antes de se tomar a decisão de lançar uma PPP, o "Custo Público
Comparável" deveria ser discutido no Parlamento." (OCDE, 2008:72)
Diante do que foi exposto até aqui, ainda que sucintamente, o fato é que os países e
seus povos estão cada vez mais maduros no que diz respeito à democracia, seus deveres e
direitos. Basta olharmos as recentes revoltas em países como Egito, Líbia e Bahrein, apenas
para citarmos alguns, para notarmos a profundidade deste argumento. Corroborando este
entendimento, informa a OCDE, em seu sítio oficial, que para além das questões de eficiência,
O Gráfico 1, abaixo, ilustra bem este argumento e evidencia que, num período de 10
anos (20002009), a importância que os governos centrais têm dado à questão da transparência
praticamente dobrou, atingindo o incrível patamar de 90%.
Gráfico 1 -Valores freqüentemente declarados como mais importantes no serviço público (2000-2009) -
Fonte: OCDE, 2009.
CONCLUSÃO
Questões que vão desde aspectos morais, legais e até supranacionais, se unem para
compor uma forte demanda para que este princípio seja uma tónica nos governos
democráticos e, ao que parece, sua relevância tem aumentado significativamente nos últimos
10 anos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
WWW.BRASILADMIN.COM