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Pimenta (Capsicum spp.

)
Apresentação

As pimentas são parte da riqueza cultural brasileira e um valioso patrimônio de nossa


biodiversidade. São cultivadas em todo território nacional, desde o Rio Grande do Sul até
Roraima, em uma imensa variação de tamanhos, cores, sabores e, é claro, picância ou
ardume.

‘Malagueta’, ‘Dedo-de-Moça’, ‘Doce Americana’, ‘Chapéu de Bispo’, ‘Cumari Amarela’,


‘Bode’, ‘De Cheiro’, ‘tabasco’ ‘Murupi’, ‘Biquinho’ são apenas algumas das inúmeras
pimentas cultivadas no Brasil, todas parentes muito próximas dos pimentões. O agronegócio
das pimentas é muito mais relevante do que se imagina, e envolve diferentes segmentos,
desde as pequenas fábricas artesanais caseiras de conservas até a exportação de páprica
por empresas multinacionais que competem no mercado de exportação de especiarias e
temperos. Nos últimos anos, as pimentas têm ganhado um espaço cada vez maior na mídia
por sua versatilidade culinária e industrial e também por suas propriedades medicinais. O
mesmo princípio que causa a ardência das pimentas – a capsaicina – também é usada para
aliviar dores musculares, dores de cabeça e artrite reumatóide, entre outras.

O Sistema de Produção de Pimentas (Capsicum spp.)’ certamente contribuirá para o


desenvolvimento desta cultura no Brasil, e ajudar principalmente aos pequenos produtores
familiares a melhorar sua produtividade.

José Amauri Buso


Chefe Geral da Embrapa Hortaliças

Importância econômica

 Com a chegada dos navegadores portugueses e espanhóis ao continente americano, muitas


espécies de plantas foram descobertas, entre elas as pimentas. As pimentas do gênero
Capsicum já eram utilizadas pelos nativos e mostraram-se mais picantes (pungentes) que a
pimenta-do-reino ou pimenta-negra, do gênero Piper, cuja busca foi, possivelmente, uma
das razões das viagens que culminaram com o descobrimento do Novo Mundo.

Diversos relatos de exploradores do Brasil-colônia demonstram que a pimenta era


amplamente cultivada e representava um item significativo na dieta das populações
indígenas. Ainda hoje, a importância das pimentas continua grande, seja na culinária, nas
crenças, na medicina alopática ou natural e inclusive como arma de defesa. São remédios
para artrites (pomadas a base de capsaicina), dores musculares (emplastro ‘Sabiá’), dor de
dente, má digestão, dor de cabeça e gastrite. A capsaicina, responsável pela pungência das
pimentas, é a única substância que, usada externamente no corpo, gera endorfinas
internamente que promovem uma sensação de bem-estar, acionando o potencial
imunológico.

Os índios Caetés foram os primeiros brasileiros a usar a pimenta como arma, sem imaginar
que séculos depois a oleorresina de pimenta em aerossol ou em espuma, os famosos
‘pepper spray’ e ‘pepper foam’, seriam utilizados pela polícia moderna.

É igualmente substancial a contribuição histórica brasileira na dispersão destas plantas pelo


mundo, eficientemente feita pelos navegadores portugueses e pelos povos que eram
transportados em suas embarcações. As rotas de navegação no período 1492-1600
permitiram que as espécies picantes e doces de pimentas viajassem o mundo. As pimentas
foram então, introduzidas na África, Europa e posteriormente na Ásia.

Cinco séculos depois do descobrimento das Américas, as pimentas passaram a dominar o


comércio das especiarias picantes, sendo de relevância tanto em países de clima tropical
como temperado. Atualmente, a China e a Índia tem mais de 1.000.000 hectares cultivados
com Capsicum, e os tailandeses e os coreanos-do-sul, tidos como os maiores consumidores
de pimenta do mundo, comem de 5 a 8 gramas por pessoa/dia.

O cultivo de pimentas ocorre praticamente em todas as regiões do país e é um dos


melhores exemplos de agricultura familiar e de integração pequeno agricultor-agroindústria.
As pimentas (doces e picantes), além de serem consumidas frescas, podem ser processadas
e utilizadas em diversas linhas de produtos na indústria de alimentos. A área anual cultivada
é de cerca de dois mil ha e os principais estados produtores são Minas Gerais, Goiás, São
Paulo, Ceará e Rio Grande do Sul. A produtividade média depende do tipo de pimenta
cultivada, variando de 10 a 30 t/ha. A crescente demanda do mercado, estimado em 80
milhões de reais ao ano, tem impulsionado o aumento da área cultivada e o
estabelecimento de agroindústrias, tornando o agronegócio de pimentas (doces e picantes)
um dos mais importantes do país. Além do mercado interno, parte da produção brasileira de
pimentas é exportada em diferentes formas, como páprica, pasta, desidratada e conservas
ornamentais.

Botânica
 

As espécies de pimentas do gênero Capsicum pertencem à família Solanaceae, como o


tomate, a batata, a berinjela e o jiló. Dentre as espécies do gênero Capsicum, cinco são
domesticadas e largamente cultivadas e utilizadas pelo homem: Capsicum annuum; C.
bacccatum; C. chinense; C. frutescens e C. pubescens. Destas, apenas C. pubescens não é
cultivada no Brasil. O centro de origem das pimentas do gênero Capsicum é o continente
americano. O centro de diversidade da espécie C. annuum var. annuum, a forma mais
variável e cultivada, inclui o México e América Central; de C. frutescens, inclui as terras
baixas do sudeste brasileiro até a América Central e as Antilhas (Índias Ocidentais), no
Caribe; de C. baccatum var. pendulum, a Bolívia (maior diversidade) e o sudeste brasileiro;
e de C. chinense, a mais brasileira das espécies domesticadas, é a Bacia Amazônia.

A altura e forma de crescimento destas plantas variam de acordo com a espécie e as


condições de cultivo. O sistema radicular é pivotante, com um número elevado de
ramificações laterais, podendo chegar a profundidades de 70-120 cm. As folhas apresentam
tamanho, coloração, formato e pilosidade variáveis. A coloração é tipicamente verde, mas
existem folhas violetas e variegadas; quanto ao formato, pode variar de ovalado, lanceolado
a deltóide. As hastes podem apresentar antocianina ao longo de seu comprimento e/ou nos
nós, bem como presença ou ausência de pêlos. O sistema de ramificação de Capsicum
segue um único modelo de dicotomia e, inicia-se quando a plântula atinge 15 a 20 cm de
altura. Um ramo jovem sempre termina por uma ou várias flores. Quando isso acontece,
dois novos ramos vegetativos (geralmente um mais desenvolvido que o outro) emergem
das axilas das folhas e continuarão crescendo até a formação de novas flores. Esse processo
vegetativo se repete ao longo do período de crescimento, sempre condicionado pela
dominância apical e dependência hormonal.
As flores típicas são hermafroditas, ou seja, a mesma flor produz gametas masculinos e
femininos, possuem cálice com 5 (em alguns casos 6-8) sépalas e a corola com 5 (em
alguns casos 6-8) pétalas. Para a identificação das espécies, os taxonomistas examinam
principalmente as flores. Características morfológicas como o número de flores por nó,
posição da flor e do pedicelo, coloração da corola e da antera, presença ou ausências de
manchas nos lobos das pétalas e margem do cálice, variam de espécie para espécie e, por
meio destas, podemos identificar as principais espécies domesticadas do gênero (Tabela 1).
As espécies do gênero Capsicum são, preferencialmente, autógamas, ou seja, o pólen e o
óvulo que é fecundado pertencem a uma mesma flor, o que facilita a sua reprodução,
embora a polinização cruzada também possa ocorrer entre indivíduos dentro da mesma
espécie e entre espécies do gênero. A polinização cruzada pode variar em taxas de 2 a 90%
e, pode ser facilitada por alterações morfológicas na flor, pela ação de insetos polinizadores,
por práticas de cultivo (local, adensamento ou cultivo misto), entre outros fatores.
Em termos botânicos, o fruto define-se como uma baga, de estrutura oca e forma
lembrando uma cápsula. A grande variabilidade morfológica apresentada pelos frutos são
destacadas pelas múltiplas formas, tamanhos, colorações e pungências. Esta última
característica, exclusiva do gênero Capsicum, é atribuída a um alcalóide denominado
capsaicina, que se acumula na superfície da placenta (tecido localizado na parte interna do
fruto), e é liberada quando o fruto sofre qualquer dano físico e pode ser medida em
Unidades de Calor Scoville (‘Scoville Heat Units-SHU’) por meio de aparelhos específicos. O
valor SHU pode variar de zero (pimentas doces) a 300.000 (pimentas muito picantes). A
coloração dos frutos maduros, geralmente, é vermelha mas pode variar desde o amarelo-
leitoso, amarelo-forte, alaranjado, salmão, vermelho, roxo até preto. O formato varia entre
as espécie e dentro delas, existindo frutos alongados, arredondados, triangulares ou
cônicos, campanulados, quadrados ou retangulares. Por observação de determinadas
características e usos, podemos separar aquilo que chamamos vulgarmente de pimentas e
pimentões. Assim, os pimentões (Capsicum annuum var. annuum) apresentam frutos
grandes e largos (10-21 cm de comprimento x 6-12 cm de largura), formato quadrado a
cônico, paladar não pungente (doce), além de serem habitualmente consumidos na forma
de saladas, cozidos ou recheados. As pimentas apresentam, em sua maioria, frutos
menores que os pimentões, formatos variados e paladar predominantemente pungente. São
utilizadas principalmente como condimento e, em alguns casos, como ornamentais, em
razão da folhagem variegada, do porte anão e dos frutos exibirem diferentes cores no
processo de maturação.
 
 Tabela 1. Características morfológicas para a identificação das espécies domesticadas de
Capsicum.
 
Espécie Características morfológicas
Geralmente apresenta uma flor por nó, raramente mais de uma e
ocasionalmente fasciculadas. Na antese, os pedicelos podem ser
eretos, pendentes ou inclinados. A corola é branca (raramente
C. annuumvioleta), sem manchas na base dos lobos das pétalas. As anteras são
var. annuum geralmente azuladas. Os cálices dos frutos maduros são pouco
dentados e não possuem constrição anelar na junção do pedicelo. Os
frutos são de várias cores e formas, geralmente pendentes,
persistentes, com polpa firme; as sementes são cor de palha.
As flores se apresentam em número de uma a duas. Na antese, os
pedicelos são geralmente eretos. A corola é branca e sempre
apresenta um par de manchas amareladas ou esverdeadas na base
C. baccatum
de cada lobo das pétalas. As anteras são amarelas. Os cálices dos
var.
frutos maduros são evidentemente dentados e não possuem
pendulum
constrição anelar na junção do pedicelo. Os frutos são de várias cores
e formas, geralmente pendentes, persistentes, com polpa firme; as
sementes são cor de palha.
As flores se apresentam em número de duas a cinco por nó
(raramente solitárias). Na antese, os pedicelos são geralmente
inclinados ou pendentes, porém, podem se apresentar eretos. A
corola é branca esverdeada sem manchas (raramente branca ou com
manchas púrpuras) e com lobos planos (que não se dobram). As
C. chinense
anteras são geralmente azuis, roxas ou violetas. Os cálices dos frutos
maduros são pouco dentados e, tipicamente, apresentam uma
constrição anelar na junção com o pedicelo. Os frutos são de várias
cores e formas, geralmente pendentes, persistentes, com polpa
firme; as sementes são cor de palha.
As flores se formam em número de uma a três por nó
(ocasionalmente fasciculadas). Na antese, os pedicelos são
tipicamente eretos. A corola é branca esverdeada, sem manchas e,
geralmente, os lobos dobram-se para trás. As anteras são geralmente
C. frutescens azuis, roxas ou violetas. Os cálices dos frutos maduros são pouco a
não dentados e não apresentam constrição anelar na junção com o
pedicelo. Os frutos geralmente são vermelhos, cônicos, eretos,
parede muito delgada, com polpa mole; as sementes são cor de palha
e mais espessas no hilo.
Clima

A pimenteira é uma planta exigente em calor, sensível a baixas temperaturas e intolerante


a geadas, por isso deve ser cultivada preferencialmente nos meses de alta temperatura,
condição que favorece a germinação, o desenvolvimento e a frutificação, obtendo-se assim,
um produto de alto valor comercial com menor custo de produção.

Para a pimenteira, as temperaturas médias mensais ideais situam-se entre 21oC a 30oC,
sendo a média das mínimas ideal 18oC, e das máximas em torno de 35oC, sendo que
temperaturas acima 35oC prejudicam a formação dos frutos. A germinação é favorecida por
temperaturas do solo entre 25oC e 30oC, sendo 30oC a temperatura em que ocorre o
menor intervalo de dias entre semeio e germinação, e temperaturas do solo iguais ou
inferiores a 10oC inibem a germinação. Para as mudas, o melhor crescimento é alcançado
com temperaturas entre 26oC e 30oC, sendo a temperatura de 27oC considerada como a
ideal para favorecer o desenvolvimento das plantas.

Baixas temperaturas inviabilizam a produção, provocando a queda de flores e frutos, além


de influenciar negativamente a pungência e a coloração dos frutos, provocando redução do
valor comercial, principalmente se o produto for destinado à industrialização. Estes fatos
são facilmente verificados quando se compara plantios sob proteção plástica e em campo
aberto. Além destes efeitos, as baixas temperaturas também podem ocasionar estiolamento
de folhas maduras, murcha de partes jovens e crescimento lento. Não há informações sobre
os efeitos do fotoperiodismo ou da termoperiodicidade em pimenteiras.

Nas diferentes regiões produtoras do Sul e Sudeste do país as temperaturas elevadas


consideradas ideais acontecem na primavera e verão, sendo indicados nos catálogos de
empresas produtoras de sementes os meses de agosto a janeiro para semeadura.
Entretanto, nas regiões serranas e de temperaturas mais amenas, a época mais
conveniente é de setembro a novembro em razão de sua exigência em temperaturas
elevadas.

No Rio Grande do Sul, na região de Pelotas, a semeadura de pimenta 'Dedo-de-Moça' é feita


em agosto e o transplante das mudas realizado em setembro/outubro. No estado de São
Paulo, o semeio ocorre no início da primavera com o transplante das mudas para campo
aberto ou sob coberturas plásticas a partir de 40 a 50 dias após a germinação, podendo
estender-se até meados de janeiro e fevereiro, como ocorre na região oeste, nos municípios
de Jales e Estrela do Oeste. Nestas regiões, com altitudes inferiores a 400 metros e inverno
ameno, o ciclo da cultura estende-se por todo ano, sem restrições de época de plantio. Nas
regiões com temperaturas amenas do estado de Minas Gerais, a semeadura ocorre de
agosto até fevereiro, embora o período mais indicado, em função das temperaturas mais
elevadas, seja de setembro a novembro. Em Paraopeba-MG, o semeio de pimenta
‘Malagueta’ em bandejas de isopor sob cobertura plástica é realizado nos meses de julho a
outubro, com transplante para campo a partir de agosto, podendo estender-se até
dezembro.

Altas cotações para o produto são alcançadas nos meses de inverno quando o Sul e Sudeste
são abastecidos principalmente, pela produção das regiões Nordeste e Centro-Oeste,
originadas dos estados de Bahia e Goiás, respectivamente. Na região Centro-Oeste, não
havendo restrição de temperatura, o cultivo de pimentas, como 'De Cheiro', 'Bode
Vermelha', 'Bode Amarela', 'Cumari do Pará' e '‘Malagueta’', pode ser realizado durante o
ano todo, com irrigação suplementar no período seco. Normalmente, a semeadura é feita
em novembro mas pode estender-se até o final de janeiro. Na região de Catalão, a
semeadura de pimenta do tipo 'Jalapeño' é feita em fevereiro/março com transplante a
campo a partir de abril. Situação similar é observada em plantios de pimenta doce para
páprica na região de Brasilândia de Minas-MG, onde a semeadura direta em campo é feita
de março a abril. Na região Nordeste deve ser evitado o plantio na estação chuvosa por
dificultar o preparo de solo, tratos culturais e o controle fitossanitário. Em solos de boa
drenagem, os plantios na região de Petrolina-PE, podem ser iniciados a partir de janeiro,
embora o período preferencial seja de março em diante.
Cultivo Protegido

A técnica de cultivo protegido é utilizada em locais ou épocas em que as condições


climáticas, principalmente variações das temperaturas noturna e diurna, distribuição e
intensidade das chuvas e ainda direção e velocidade dos ventos, podem interferir no
desenvolvimento das plantas ou na qualidade dos produtos. Nestes casos, o cultivo é feito
em casa-de-vegetação cujo teto, laterais, frente e fundos são de plástico, ou somente o teto
é de filme e as laterais, frente e fundos de tela. A definição das características quanto às
dimensões, tipo de teto, tipo do filme ou tela, direção do eixo longitudinal, é baseada em
dados climáticos do local.

Solos

Os solos utilizados para o cultivo de pimenta devem ser profundos, leves, drenados (com
bom escoamento de água, não sujeitos a encharcamento), preferencialmente férteis, com
pH entre 5,5 a 7,0. Devem ser evitados solos salinos ou com elevada salinidade, uma vez
que as pimentas, assim como pimentão, são moderadamente sensíveis. Altas concentrações
de sais no solo podem ser de origem natural ou resultantes do uso excessivo de
fertilizantes, localização inadequada de fertilizantes ou ainda do uso de água de irrigação
com altas concentrações de sais. A salinidade do solo, medida por meio da condutividade
elétrica produzida por sais solúveis do solo a 25oC, deve estar abaixo de 3,5 cS/m de
condutividade elétrica, pois a partir deste valor a produtividade começa a diminuir.

Do ponto de vista sanitário, recomenda-se que sejam evitadas áreas que tenham sido
cultivadas nos últimos 3-4 anos com outras plantas da família das Solanáceas (como batata,
tomate, berinjela, pimenta, jiló, fumo, Physalis) ou Cucurbitáceas (como abóbora, moranga,
pepino, melão e melancia). Áreas com cultivos anteriores de gramíneas (milho, sorgo,
arroz, trigo, aveia), leguminosas (feijão, soja) ou aliáceas (cebola, alho), são as mais
indicadas.

O preparo consiste de limpeza da área, aração a uma profundidade de 30 cm, seguida de


gradagem de nivelamento. Logo após a primeira gradagem faz-se a calagem de acordo com
a análise de solo. Uma segunda gradagem é feita para incorporar o calcário ao solo e
adequá-lo a sulcagem. O plantio pode ser feito em canteiros, mas o mais comum é o plantio
em sulcos, que devem ter 30 a 40 cm de largura e 20 a 25 cm de profundidade. A distância
entre os sulcos deve ser de 80 cm e devem ter uma declividade de 0,2% a 0,5% para
facilitar o escoamento da água sem causar erosão. Após a incorporação de matéria orgânica
(uma semana antes do plantio) e dos fertilizantes (um dia antes do plantio), o sulco ficará
com a forma de ‘U’.

Em épocas chuvosas, recomenda-se a construção de canteiros com 20-25 cm de altura e


0,8-1,0 m de largura, para facilitar a drenagem e reduzir riscos de contaminação com
murcha-de-fitóftora (Phytophhtora capsici). Se o plantio for feito em uma área pequena, os
canteiros podem ser levantados com o auxílio de uma enxada.

A dose de calcário a ser aplicada, caso seja necessário, pode ser calculada com base na
elevação da saturação de bases de um valor considerado adequado para cada lavoura. Para
o cálculo é necessário que se tenha em mãos os resultados da análise e o valor de
saturação de bases indicado para a espécie vegetal em questão. Adota-se a sequinte
fórmula:

Dose de calcário (t ha-1) = (V2 - V1)T/PRNT

onde onde V2 é a saturação por bases desejada (70% a 80% para a pimenteira), V1 é a
saturação de bases atual do solo [(Ca+2 + Mg+2 + K+) x 100/T], T é a capacidade de
troca de cátions potencial do solo [Ca+2 + Mg+2 + K + (H+Al)], e PRNT = poder relativo
de neutralização total do cálcario a ser aplicado.

 
Adubação
 

A quantidade de adubo a ser aplicada é determinada com base na análise química do solo e
nos boletins-aproximação de cada região. Como na maioria destes boletins não existem
recomendações para a cultura da pimenta, utiliza-se a recomendação feita para o pimentão.

Aplicar calcário para elevar a saturação de bases a 80% e o teor mínimo de magnésio a 8
mmol/dm3. Em situações onde é muito difícil fazer a análise química do solo, existem
algumas aproximações que auxiliam o produtor quanto às quantidades e tipos de adubos a
serem utilizados. Porém, o produtor terá maiores chances de acerto fazendo a análise
química anual de solo 2-3 meses antes da calagem. A quantidade de fertilizantes indicada
deverá ser distribuída uniformemente no sulco ou no canteiro, revolvendo bem o solo a uma
profundidade de aproximadamente 30 centímetros para que ocorra uma boa incorporação.

Nos latossolos da região do Distrito Federal adota-se a recomendação de adubação de


plantio de P e K apresentada na Tabela 1. A adubação nitrogenada deve ser feita na base de
150 kg/ha de N. A adubação orgânica usada neste tipo de solo deve ser na razão de 30 t/ha
de esterco de curral ou 10 t/ha de esterco de galinha. Além de NPK, fontes de B e Zn
devem ser aplicadas no solo antes do plantio na base de 15-20 kg/ha.

No Estado de São Paulo, recomenda-se a adubação mineral e calagem publicada no Boletim


Técnico 100 do Instituto Agronômico de Campinas. Os fertilizantes devem ser aplicados 10
dias antes do transplante das mudas, no sulco de plantio, em quantidades de acordo com a
análise do solo e as recomendações descritas na Tabela 2. Na adubação orgânica utiliza-se
10 a 20 t/ha de esterco de curral curtido, ou 1/4 dessas quantidades de esterco de galinha
curtido. Acrescentar à adubação de plantio 1 kg/ha de B e de 10 a 30 kg/ha de S.

A EPAMIG, por meio do Boletim Técnico nº 56, recomenda para a cultura da pimenta, doses
de 20 t/ha de esterco de curral ou 5 t/ha de esterco de galinha por metro de sulco. Em
seguida, aplicar também ao longo do sulco o adubo químico (de acordo com a Tabela 3) e
misturar tanto o esterco como o adubo com a terra por meio de duas passadas de
cultivador no fundo do sulco.

Até a fase de florescimento, as adubações de cobertura são feitas com adubo nitrogenado e
durante a frutificação com uma mistura de adubo nitrogenado com potássico, em intervalos
de 30-45 dias. No caso das pimentas, em que a colheita pode prolongar-se por mais de um
ano, as adubações de cobertura devem ser feitas até o final do ciclo com base em
observações no crescimento ou aparecimento de sintomas de deficiências nutricionais.
Normalmente utiliza-se 20-50 kg/ha de N e 20-50 kg/ha de K2O.

Tabela 1. Recomendação de adubação com P2O5 e K2O para a cultura do pimentão


na região do Distrito Federal, baseada na análise química do solo.
Níveis no solo (ppm) Dosagem (kg/ha)
P K P205 K20
0-10 0-50 400-600 150-200
11-30 51-100 200-400 100-150
31-50 101-150 100-200 50-100
+50 +150 50 -
Fonte: Instituto Agronômico de Campinas – IAC (1996). Emater 1987, para o DF Plantio
Embrapa Hortaliças

 
Tabela 2. Recomendação de adubação mineral para a cultura da pimenta no Estado
de São Paulo, baseada na análise química do solo .
P resina , mg/dm3 K+ trocável, mmolc/dm3 Zn, md/dm3
Nitrogênio
0-25 26-60 > 60 0-1,5 1,6-3,0 > 3,0 0,6 > 0,6
N, kg /ha P2O5, kg /ha K2O, kg /ha Zn, kg /ha
40 600 320 160 180 120 60 30
Fonte: Instituto Agronômico de Campinas – IAC (1996). Emater 1987, para o DF Plantio
Embrapa Hortaliças

Tabela 3. Recomendação de adubação mineral para a cultura da pimenta no Estado


de Minas Gerais , baseada na análise química do solo .
Teor no solo de   Dosagem (kg/ha)
P ou K P2O5 K2O N
Baixo 300 240 60
Médio 240 180 60
Alto 180 120 60
Fonte: EMPAMI, Boletim Técnico 56, Viçosa-MG, 1999

Cultivares
 
A maioria das cultivares de pimentas plantadas no Brasil como a '‘Malagueta’' (C.
frutescens), 'Dedo-de-Moça' (C. baccatum), 'Cumari' (C. baccatum var. praetermissum), 'De
Cheiro' e 'Bode' (C. chinense), são consideradas variedades botânicas ou grupos varietais,
com características de frutos bem definidas. Normalmente, o produtor produz sua própria
semente, e as diferenças existentes dentro destes grupos estão relacionadas às diferentes
fontes de sementes utilizadas para o cultivo.

São poucos os programas nacionais de melhoramento de pimentas. Destes destaca-se o


desenvolvimento de cultivares de pimenta doce para processamento industrial, como
páprica doce e pimenta picante dos tipos 'Jalapeño' e 'Cayenne' para molhos líquidos,
coordenado pela Embrapa Hortaliças. Os fatores que provavelmente restringem trabalhos
de melhoramento com pimentas advém da dificuldade de se manusear as pequenas flores
para a execução dos cruzamentos e multiplicação das sementes; a produção escassa de
sementes por frutos, uma vez que estes normalmente são muito pequenos e ainda a
picância extrema dos frutos, dificultando a extração das sementes. Outro fator importante é
a área consideravelmente pequena de produção de pimentas, que implica no desinteresse
das companhias de sementes de produzirem e comercializarem sementes.

Apesar do crescente interesse no cultivo pimentas, este ainda é feito por pequenos
produtores que produzem suas próprias sementes ou compram frutos maduros em
mercados e feiras e deles extraem as sementes que serão utilizadas para plantio.
Normalmente estas sementes são de qualidade variável, apresentam baixa germinação e
podem transmitir doenças, já que são obtidas sem seguir regras básicas para a produção de
sementes. Na maioria das áreas cultivadas com pimentas, as plantas apresentam sintomas
de mancha-bacteriana (Xanthomonas campestris pv. vesicatoria), doença transmitida a
longas distâncias por meio de sementes.

Capsicum annuum é a espécie mais cultivada e inclui as variedades mais comuns deste
gênero como pimentões e pimentas doces para páprica e consumo fresco e pimentas
picantes como 'Jalapeño', 'Cayenne' entre outras, e ainda poucas cultivares ornamentais
(Tabela 1). As pimentas dos tipos 'Jalapeño' e 'Cayenne' podem ser consumidas frescas, ou
na forma de molhos líquidos (frutos maduros e vermelhos), desidratados na forma de flocos
ou pó, ou ainda em conservas (verdes) e escabeches. Estas pimentas são cultivadas
principalmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás.

Os tipos mais comuns e cultivados da espécie C. baccatum no Brasil são as pimentas 'Dedo-
de-Moça', 'Chifre-de-Veado' e 'Cambuci' (também conhecida como 'Chapéu de Frade')
(Tabela 1). Neste grupo de pimentas, a pungência dos frutos é menos intensa; há inclusive
cultivares de pimenta 'Cambuci' que são doces. A pimenta 'Dedo-de-Moça' é cultivada
principalmente nos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. Além de ser consumida
fresca, em molhos e conservas, também é utilizada na fabricação de pimenta 'calabresa'
(desidratada na forma de flocos com a semente). A pimenta 'Cumari' é bem popular na
região Sudeste do Brasil e é encontrada também em estado silvestre, crescendo sob árvores
diversas e em capoeiras. Normalmente as plantas são mantidas por alguns anos e chegam a
formar verdadeiros arbustos. Os frutos desta pimenta são bem pequenos, arredondados ou
ovalados, de coloração vermelha quando maduros.

C. chinense é a mais brasileira das espécies domesticadas e caracteriza-se pelo aroma


acentuado dos seus frutos. Há tipos varietais desta espécie com frutos extremamente
picantes, como a pimenta 'Habanero', muito popular no México. No Brasil, as mais
conhecidas são as pimentas 'De Cheiro', 'Bode', 'Cumari do Pará', 'Murici', 'Murupi', entre
outras. Há também, dentro da espécie, uma expressiva variabilidade de formatos e cores de
frutos. A pimenta 'De Cheiro', que predomina no Norte do país, possui frutos de tom
amarelo-leitoso, amarelo-claro, amarelo-forte, alaranjado, salmão, vermelho e até preto. A
pungência também é variável, são encontrados frutos doces a muito picantes. Na região
Centro-Oeste, é mais comum o cultivo da pimenta 'Bode', que tem frutos arredondados de
cor amarela ou vermelha quando maduros, e da 'Cumari do Pará', que possui frutos
ovalados de coloração amarela quando maduros. Ambas possuem pungência e aroma
característicos que as distinguem das demais. A pimenta 'Murupi', cultivada nos estados do
Amazonas e Pará, possui coloração amarela e o aroma das pimentas 'De Cheiro' e 'Bode'.

A espécie C. frutescens é representada pelo tipo de pimenta mais conhecido e consumido no


Brasil, a pimenta '‘Malagueta’'. Plantada em todo o país, destacam-se os cultivos nos
estados de Minas Gerais, Bahia e Ceará. Também pertence a esta espécie a pimenta
'Tabasco', conhecida mundialmente pelo molho de pimenta que leva seu nome. Estas
pimentas são extremamente picantes, possuem frutos pequenos de formato alongado e de
coloração vermelha quando maduros.

Existem no mercado algumas cultivares de pimenta sendo comercializadas, como


‘Agronômico 11’ (C. annuum), resultado de um programa de melhoramento desenvolvido
pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC) visando resistência a viroses. Esta pimenta
destina-se a consumidores que preferem frutos de pimenta doce no preparo de seus pratos.

Poucas companhias de sementes existentes no Brasil comercializam sementes de pimenta e


aquelas que o fazem restringe-se a alguns tipos específicos, como cultivares de pimenta do
tipo 'Jalapeño' (sementes importadas), 'Cambuci' ou 'Chapéu de Frade', '‘Malagueta’' e
'Dedo-de-Moça' (Tabela 1).

 Tabela 1. Características de cultivares e híbridos de pimenta disponíveis no mercado


brasileiro.

Características de cultivares e híbridos de pimenta


tipo malagueta
cultivares "malagueta" "malagueta" "malagueta" "malagueta" "malagueta"
ciclo(dias) - - - - -
início de
colheita(dias
após 110 - 120 100 - 120 100 - 120 100 110
semeadura)
planta vigorosa vigorosa arbustiva - -
cor do fruto Verde/ Verde/ Verde/ Verde/ Verde/
vermelho vermelho vermelho vermelho vermelho
formato alongado filiforme alongado piramidal alongado
peso medio de 0,6 – 0,8x3- 2-3 cm 0,6-0,7 g/ 0,5-1,0x2-
fruto/tamanho 4cm comprimento 0,5x2,0cm 5cm
(diam x comp. -
outras ardida Picante e Muito picante Muito
caracteristicas produtiva picante picante
empresa de Sakata Horticeres Topseed Isla Feltrin
sementes Garden
tipo dedo-de-moça
cultivares " dedo-de-moça " " dedo-de-moça " " dedo-de-moça "
ciclo(dias) 90 - -
(verão)
início de colheita(dias
após semeadura)
- 100 - 120 110
planta - arbustiva -
cor do fruto Verde/ Verde/ Verde/
vermelho vermelho vermelho
formato cilíndrico cilíndrico
peso medio de 1,2 x 8-10 1 x 13cm
fruto/tamanho (diam cm
x comp. -
outras caracteristicas picante Saborosa picante
E picante
empresa de sementes Isla Topseed Feltrin
Garden
tipo cambuci
cultivares “chapéu-de-bispo " " cambuci " " chapéu-de-bispo "
ciclo(dias) 90 - -
(verão)
início de colheita(dias
após semeadura)
- 110-130 100 - 120
planta - vigorosa arbustiva
cor do fruto Verde Verde Verde
claro claro claro
formato cilíndrico cilíndrico
peso medio de 4-6 x 3-5cm 30 – 40g / 6-
fruto/tamanho (diam 7 x 5-7 cm
x comp. -
outras caracteristicas Sabor bem doce Levemente
adocicado picante
empresa de sementes Isla Sakata Topseed
Garden
tipo Americana
cultivares "agronômico- "híbrido "amarela "híbrido canal" "híbrido
11" dirce R" alongada" lipari"
ciclo(dias) - - 100 - -
início de
colheita(dias
após 110 - 130 110 - 130 - 80-80 -
semeadura)
planta Vigorosa e vigorosa - vigorosa -
produtiva
cor do fruto Verde Verde Verde- Verde-claro/ Verde-escuro/
claro claro/ brilhante vermelho
amarelo
formato alongado alongado comprido cônico alongado
peso medio de 50-60 g/ 110-130 g/ 10-15 cm 110 – 120 g/ 130 g/ 5x
fruto/tamanho 3,5 – 4,5 x 20-22 cm comp 5 – 6 x 25-27 27 cm
(diam x comp. 16-19 cm Comp. cm
outras Resistente a Resistente a Sabor Sabor suave Resistente a
caracteristicas PVY PVY(estirpe adocicado TMV
1-2) e toMV
empresa de Sakata Sakata Isla Petossed/SVS Clause/sakama
sementes
tipo Americana
cultivares "hibrido "híbrido p- "híbrido jully" "híbrido "doce
pinóquio" 240" foulki"  Italiana”
ciclo(dias) - - 85 100 -
início de
colheita(dias
após - - - - 100-110
semeadura)
planta - - Vigorosa e Porte vigorosa
precoce medio
cor do fruto Verde-escuro/ Verde Verde-escuro/ Verde-escuro Verde /
vermelho -limão vermelho brilhante vermelho
formato alongado alongado cônico cônico cônico
peso medio de 130g 120g /5x 180g 180 – 200g 200g / 5x
fruto/tamanho 25cm 18 cm
(diam x comp.
outras Alta Resistente a Resistente a Resistente a Sabor suave
caracteristicas produtividade TMV TMV TMV
empresa de Clause/sakamaClause/sakama Topseed Topseed Topseed
sementes premium premium
tipo jalapeño (picante)
cultivares " jalapeño " " jalapeño M" " firenza "
ciclo(dias) 95 95 -
início de colheita(dias
após semeadura)
- - -
planta vigorosa vigorosa vigorosa
cor do fruto Verde/ Verde/ Verde/
vermelho vermelho vermelho
formato cónico cónico cónico
peso medio de 45g/3,5x 45g/3,5x
fruto/tamanho (diam 9,0cm 9,0cm
x comp. -
outras caracteristicas Resistente a Resistente a Muito picante
TMV TMV e CMV
empresa de sementes Topseed Topseed Rogers/ Agrocinco
Garden Premium
tipo jalapeño (picante)
cultivares "Híbrido “Híbrido " " Hibrido " Hibrido
Jalapeño  Plus" grande    Mitila " tula "
ciclo(dias) Ciclo médio 75-90 70-85 65-70
início de
colheita(dias após
semeadura) - - - -
planta vigorosa vigorosa vigorosa -
cor do fruto Verde/ Verde/ Verde/ Verde/
vermelho vermelho vermelho vermelho
formato cónico cónico cónico cónico
peso medio de 45g/3,5x 3-5 x 9-11 3-4 x 8-9
fruto/tamanho 9,0cm cm cm
(diam x comp. 4 x 11 cm
outras Resistente a Alta Alta Resistente a
caracteristicas TMV e CMV produtividade produtividade PVY e TEV
empresa de Petoseed/SVS Petoseed/SVS Petoseed/SVS Petoseed/SVS
sementes
Outros tipos (picantes)
cultivares "cayenne "malacante" "híbrido "híbrido "amarela
Long slim" Torito 2137" caliente comprida"
2138"
ciclo(dias) - - - - -
início de
colheita(dias
após 110 - 120 100 - 110 - - 110-125
semeadura)
planta arbustiva arbustiva - - Arbustiva e
ereta
cor do fruto Verde/ Verde/ Verde/ Verde/ amarela
vermelho vermelho vermelho vermelho
formato cilíndrico cilíndrico alongado alongado cônico
peso medio de 10g / 1 x13 10g/2 x 10 1,3 – 1,5 x 1,5 x 18
fruto/tamanho cm cm 15-18 cm
(diam x comp. -
outras Frutos para Frutos Frutos para Frutos para sabor
caracteristicas conserva picantes conserva conserva picante
empresa de Topseed Topseed sakama sakama Topseed
sementes garden

Produção de mudas

 
Em bandejas de isopor

A produção de mudas em bandejas deve ser feita em ambiente protegido, como telados. A
técnica mais recomendável para se produzir mudas é de semeio em bandejas de isopor de
128 células, preenchidas com substrato comercial ou preparado na propriedade, colocando
uma semente por célula. Caso haja comprometimento da germinação, o ideal é aumentar o
semeio para três sementes / célula, procedendo-se a um desbaste posteriormente, se
necessário, através do corte com tesoura, rente ao colo das mudas menos vigorosas quando
estas apresentam pelo menos duas folhas definitivas. O arranquio das mudas germinadas
em excesso não é recomendado pelo risco de comprometer o sistema radicular da muda
remanescente na célula .

As bandejas devem ser colocadas em suporte tipo bancada, formada por tela de arame ou
somente por fios de arame a 0,60-0,70 m do solo, a fim de que haja luz na parte inferior da
bandeja . Este cuidado impede o desenvolvimento das raízes por baixo da bandeja, o que
facilita a retirada das mudas por ocasião do transplante , evita injúrias às raízes novas e
não cria condições para infecção das mesmas por fungos e bactérias do solo.

As irrigações (duas vezes por dia , no máximo ) deverão ocorrer nas horas de temperaturas
mais amenas, ou seja, no início da manhã e final da tarde, utilizando-se água fresca e em
quantidade suficiente para que se verifique apenas o início da drenagem (gotejamento) na
parte inferior da bandeja. O cuidado nas irrigações é fundamental para se obter mudas de
boa qualidade. Em caso de necessidade, deve ser feita uma adubação foliar após o
desbaste, pulverizando-se as mudas com uma solução de adubo foliar com uma formulação
de macro + micronutrientes. Deve-se evitar o excesso de nitrogênio para não favorecer a
proliferação de doenças fúngicas nos tecidos foliares.

Em sementeiras

As sementeiras devem ser preparadas com revolvimento da terra, destorroamento e


correção da fertilidade com base na análise química do solo. Os canteiros devem ter de 1,0
a 1,2 m de largura, 0,20 a 0,25 m de altura e comprimento de acordo com a necessidade
de mudas. As sementes devem ser distribuídas uniformemente em sulcos transversais ao
canteiro, distanciados 0,10 m um do outro e com 1,5 a 2,0 cm de abertura e 1,0 a 1,5 cm
de profundidade. Gastam-se de 3 a 5 gramas de sementes por metro quadrado de
sementeira. Após a distribuição, as sementes devem ser cobertas com terra do sulco. A
colocação de uma cobertura com saco de aniagem sobre o canteiro evita que o impacto das
gotas da água de irrigação ou de chuva desenterrem ou afundem as sementes,
prejudicando a germinação ou a emergência. O número de sementes é de
aproximadamente 200 por grama. A área da sementeira deve ser calculada com base na
área que será plantada e no espaçamento a ser utilizado.
Compra de mudas

Atualmente é possível adquirir mudas ou contratar a produção das mesmas com


profissionais que se dedicam a esta atividade. Este sistema é recomendado para cultivo em
áreas maiores e apresenta como principais vantagens a rapidez na obtenção das mudas,
assim como a boa qualidade das mesmas. O produtor pode fornecer ao viveirista suas
próprias sementes ou indicar a cultivar ou variedade e adquirir as sementes no mercado .
 

Plantio
 

O transplante é realizado quando as mudas apresentarem de 4 a 6 folhas definitivas ou


aproximadamente 10cm de altura. No caso de terem sido formadas em sementeiras, as
mudas devem ser retiradas com cuidado, preferencialmente com o torrão para se evitar
danos às raízes. Os espaçamentos dos sulcos de plantio ou canteiros são definidos de
acordo com a cultivar ou tipo de pimenta, região de plantio ou ciclo da cultura ( Tabela 1).
Em regiões de inverno rigoroso, a cultura é eliminada em meados de abril-maio, com
aproximadamente 150 dias de ciclo. O mesmo acontece com as culturas de pimenta
destinadas à industrialização para páprica, quando o campo é eliminado após 2 a 3
colheitas. Em regiões onde o ciclo da cultura pode ser prolongado por até um ano, é
necessário garantir espaço adequado para crescimento vegetativo da pimenteira.

Tabela 1. Informações sobre espaçamentos, época de plantio e ciclo dos principais tipos de
pimentas em diferentes regiões do país .

Região Tipo Espaçamento Estande Época Ciclo


de da da cultura
Pimenta (m x m) (nº semeadura
plantas /
ha)
dezembro
São Paulo ‘Dedo-de-Moça’ 1,50 x 1,00 6.500 a 12 meses
janeiro
‘De Cheiro' novembro
Goiás e DF 'Bode', 1,20 x 0,80 10.400 a 12 meses
'Cumari do Pará' janeiro
‘‘ novembro
Malagueta 1,50 x 1,00 6.500 a 12 meses
’’ janeiro
fevereiro
Catalão-GO ‘Jalapeño’ 1,00 x 0,33 30.000 a 6 a 7 meses
março
Paraopeba - MG 'Malagueta' 1,00 x 0,80 12.500 dezembro 12 meses
Pelotas - RS ‘Dedo-de-Moça’ 0,80 x 0,50 25.000 agosto 8 meses
Ceará ‘Tabasco’

Tratos culturais

Durante o ciclo da pimenteira devem ser realizadas várias práticas culturais, tais como
irrigação (ver Irrigação), manejo de plantas invasoras (ver Manejo de plantas daninhas), de
insetos pragas (ver Pragas e métodos de controle) e patógenos (ver Doenças e métodos de
controle), adubação de cobertura (ver Adubação), desbrota, tutoramento e ‘mulching’.

As plantas de pimentão são tutoradas tanto no sistema de cultivo protegido como em


campo aberto. As hastes lenhosas da maioria dos tipos de pimenta dispensam tutoramento
e desbrota. Entretanto, caso apareçam brotações na haste principal abaixo da primeira
bifurcação , elas podem ser retiradas. Em locais de ventos fortes, pode ocorrer a
necessidadede se fazer tutoramento da planta (colocando-se uma estacade madeira ou
bambu juntoà planta) ou o plantio de quebra-vento em voltado campo(capim-elefante,
milho, cana-de-açúcar).

Para se evitar o aparecimento de plantas invasoras, a ocorrênciade doenças de solo, manter


a temperaturado solo e reduzir a evaporação da águado solo, pode-se colocar um filme de
plásticode cor negra(‘mulching’) ou dupla-face, ou seja, negro de um lado e branco e outro.
Neste caso, o lado branco deve ficar para cima para refletir a radiação, e assim evitar o
aquecimento do solo. A colocação do filme pode ser feita antes ou após o transplante.

 Irrigação
 

A produção de pimentas em regiões com chuvas regulares e abundantes pode ser


realizada sem o uso da irrigação. Todavia, em regiões com precipitação mal distribuída
ou deficitária, o uso da irrigação é decisivo para a obtenção de altos rendimentos em
cultivos comerciais.

A deficiência de água, especialmente durante os estádios de floração e pegamento de


frutos, reduz a produtividade em decorrência da queda de flores e abortamento de
frutos. Todavia, plantas de pimenta submetidas a deficiência moderada de água no solo
produzem frutos mais pungentes, com maior teor de sólidos solúveis e de matéria seca.
O excesso de água no solo também pode comprometer a produção de pimentas.
Irrigações excessivas, principalmente em solos de drenagem deficitária, prejudica a
aeração do solo e favorece o desenvolvimento de várias doenças de solo, como a
causada por Phytophthora capsici.

A produtividade, a qualidade de frutos e a ocorrência de doenças também podem ser


afetadas pela forma com que a água é aplicada às plantas, ou seja, pelo método de
irrigação utilizado. Assim, o suprimento de água às plantas no momento oportuno e na
quantidade correta, além da forma que a água é aplicada às plantas, é decisivo para o
sucesso da cultura.

Alguns problemas freqüentemente observados, relacionados ao manejo inadequado da


irrigação e à utilização de sistemas de irrigação não apropriados, são: baixa eficiência
no uso de água, de energia e de nutrientes, maior incidência de doenças fúngicas e
bacterianas, baixa produtividade e redução na qualidade de pimentas (pungência,
coloração, etc.)

SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO

Vários são os sistemas que podem ser utilizados para a irrigação da cultura de
pimentas. A escolha deve ter como base a análise de vários fatores, tais como: tipo de
solo, topografia, clima, custo do sistema, uso de mão-de-obra e energia, incidência de
pragas e doenças, rendimento da cultura, quantidade e qualidade de água disponível.

Na Tabela 1 são apresentadas algumas características dos principais sistemas de


irrigação que podem ser utilizados na cultura. No Brasil, a cultura de pimentas é
irrigada principalmente pelos sistemas por aspersão, seguido pelo sistema por sulcos e,
em menor escala, pelo gotejamento.

Dentre os sistemas por aspersão, o convencional semiportátil é o mais utilizado. Para a


produção de pimentas em larga escala, como para páprica, tem sido utilizado o sistema
pivô central. A principal vantagem da aspersão é a possibilidade de ser utilizada nos
mais diversos tipos de solo e topografia e ter menor custo que o gotejamento. Por
outro lado, favorece maior incidência de doenças foliares, principalmente, por remover
agrotóxicos e propiciar condições de alta umidade junto ao dossel das plantas.

Dentre os sistemas superficiais, o por sulcos é o mais indicado, sendo utilizado


principalmente pelos pequenos produtores de pimentas. Apresenta as vantagens de não
molhar a parte aérea das plantas e ter custo inicial inferior aos demais sistemas. Não é
recomendado para solos com alta taxa de infiltração, como os arenosos, terrenos de
topografia declivosa ou ondulada. Outros sistemas superficiais, a exemplo da irrigação
por faixas e inundação, mesmo que temporária, não devem ser utilizados, haja vista
que a cultura não tolera solos com aeração deficiente.

Mais recentemente, alguns produtores de pimenta ‘Malagueta’ no estado do Ceará têm


optado pelo uso do gotejamento. A grande vantagem do sistema consiste na aplicação
da água de forma localizada na zona radicular sem atingir a parte aérea das plantas,
minimizando a ocorrência de doenças. A fertirrigação e a economia no uso de água, em
geral entre 20 e 30%, são outros grandes trunfos do gotejamento frente aos demais
sistemas de irrigação. Fertilizantes, como nitrogênio e potássio, podem ser aplicados de
forma parcelada via irrigação, aumentando a eficiência no uso dos mesmos e a
produtividade. As principais desvantagens são o maior custo do sistema e o risco de
entupimento. O custo está diretamente relacionado ao espaçamento entre linhas de
plantio; assim, o sistema é mais recomendado para as pimentas cultivadas com
espaçamento entre linhas acima de 1,0 m, como a ‘Malagueta’ ou aquelas com alto
retorno econômico. A presença de partículas sólidas e orgânicas, de carbonatos, de
ferro e de bactérias na água e a formação de precipitados insolúveis dentro da
tubulação são as principais causas de entupimento de gotejadores. Este problema pode
ser eficientemente contornado utilizando-se sistemas de filtragens e realizando-se o
tratamento químico da água quando necessário.
Por não molharem a folhagem das plantas, os sistemas por sulcos e gotejamento
podem favorecer, por outro lado, ácaros e insetos, a exemplo de pulgões, os quais são
agentes transmissores de viroses, além de doenças como o oídio. A irrigação por sulcos
pode favorecer ainda a disseminação de fungos e bactérias ao longo dos sulcos por
meio da água de irrigação.

NECESSIDADE DE ÁGUA DA CULTURA

A necessidade total de água da cultura de pimentas é variável, pois além das condições
climáticas, depende grandemente da duração do ciclo de desenvolvimento de cada
cultivar. Em termos gerais, varia de 500 a 800mm, podendo ultrapassar os 1.000mm
para cultivares de ciclo longo. A necessidade diária de água, também chamada de
evapotranspiração da cultura, engloba a quantidade de água transpirada pelas plantas
mais a água evaporada do solo, sendo expressa em mm/dia, varia de 4 a 10mm/dia no
pico de demanda da cultura.

A cultura da pimenta apresenta quatro estádios distintos de desenvolvimento com


relação às necessidades hídricas. A duração de cada estádio depende da cultivar,
condições edafoclimáticas e sistema de cultivo.

Estádio Inicial

O estádio inicial de estabelecimento da cultura, no caso de semeio direto no campo, vai


da semeadura até as plantas atingirem 4 a 6 folhas definitivas. Para o plantio por
mudas, este estádio ocorre 5 a 10 dias após o transplante. A deficiência de água pode
prejudicar a germinação de sementes e o pegamento de mudas, comprometendo o
estande e a produtividade. Irrigações em excesso, tanto neste quanto nos estádios
subseqüentes, favorecem a maior incidência de doenças de solo.

Da semeadura até a emergência de plântulas, as irrigações devem ser leves e


freqüentes procurando manter a umidade da camada superficial do solo (0 a 15cm)
próxima à capacidade de campo. Neste estádio, o turno de rega médio varia de 1 a 4
dias, dependendo do tipo de solo e condições climáticas. Em solos arenosos e sob
condições de alta temperatura e baixa umidade relativa do ar, por exemplo, as
irrigações devem ser diárias. Sob condições climáticas extremas, podem ser
necessários vários parcelamentos diários da irrigação por gotejamento.

No caso de transplante de mudas, o solo deve ser previamente irrigado, realizando uma
segunda irrigação imediatamente a seguir. Daí até o estabelecimento das mudas, as
irrigações devem ser realizadas a cada um a dois dias; em solos arenosos pode ser
necessária mais de uma irrigação por dia.

A primeira irrigação, realizada antes do plantio ou do transplante, deve ser suficiente


para elevar a umidade do solo até a capacidade de campo nos primeiros 30cm do solo.
A lâmina de água a ser aplicada, dependendo do tipo e da umidade inicial do solo, varia
de 15 a 25mm para solos de textura grossa e de 30 a 50mm para os de texturas média
ou fina.

Estádio Vegetativo

Compreende o período entre o estabelecimento inicial das plantas e o florescimento


pleno. Limitações no desenvolvimento vegetativo das plantas, resultantes da ocorrência
de déficit hídricos moderados, têm pequeno efeito na produção desde que o suprimento
de água no estádio reprodutivo (floração e frutificação) seja adequado. Ademais,
deficiência moderada de água favorece maior desenvolvimento em profundidade do
sistema radicular das plantas.
Irrigações excessivas, principalmente por aspersão, tanto neste quanto nos estádios
seguintes, favorecem a maior ocorrência de doenças fúngicas e bacterianas, além de
aumentar a lixiviação de nutrientes, especialmente de nitratos.

Estádio Reprodutivo

Estádio que vai da floração plena até o início da maturação de frutos. É comum, entre
os diferentes tipos de pimentas, a ocorrência de um período onde existem flores,
pimentas verdes e maduras, o que requer a realização de várias colheitas. Neste caso,
o término do estádio reprodutivo deve ser estendido até o início da maturação das
pimentas a serem apanhadas na colheita de maior produção.

O estádio reprodutivo é o mais crítico em relação à deficiência de água, especialmente


durante o florescimento e pegamento de fruto. A deficiência de água favorece a queda
de flores e o abortamento de frutos, além de reduzir o tamanho de fruto e favorecer a
ocorrência de podridão apical. Irrigações excessivas, em solos com drenagem
deficiente, prejudica a aeração do solo e favorece doenças, comprometendo a
produtividade e aspectos qualitativos dos frutos. Irrigações freqüentes por aspersão
devem ser evitadas em condições onde a podridão de frutos e doenças foliares são
problemáticas.

Estádio de Maturação

Período entre o início da maturação de frutos e a última colheita. É o estádio menos


sensível à deficiência de água no solo. Irrigações freqüentes podem prejudicar a
qualidade de frutos e favorecer maior incidência de doenças, principalmente quando
realizada por aspersão.

Melhor qualidade de frutos, como maior pungência em pimentas picantes, maior teor de
sólidos solúveis em pimentas para molho líquido, maior teor de matéria seca e melhor
coloração em pimentas para páprica e maior concentração na maturação, pode ser
obtida submetendo as plantas a níveis moderados de deficiência de água no solo, por
meio da adoção de turnos de rega mais espaçados que no estádio reprodutivo e/ou da
antecipação do final das irrigações.

MANEJO DA ÁGUA DE IRRIGAÇÃO

A reposição da água do solo no momento oportuno e na quantidade adequada envolve


parâmetros relacionados à planta, ao solo e ao clima. Existem vários métodos
disponíveis para o controle da irrigação, que apresentam vantagens e desvantagens.
Métodos que permitem um controle criterioso, como o do balanço hídrico e o da tensão
da água do solo, baseiam-se no conhecimento de propriedades físico-hídricas do solo,
necessidades hídricas específicas da cultura e fatores climáticos associados a
evapotranspiração. Estes métodos requerem equipamentos para o monitoramento da
umidade do solo (tensiômetros, blocos de resistência elétrica, etc.) e/ou equipamentos
para estimativa da evapotranspiração (tanque Classe A, termômetros, higrômetros,
radiômetros etc.), além de pessoal qualificado.

Para a produção de pimentas em grande escala é aconselhável o uso de um método


com melhor precisão que o apresentado anteriormente, como aqueles baseados na
avaliação da umidade do solo e/ou da evapotranspiração da cultura em tempo real.

A precisão do método do turno de rega simplificado pode ser sensivelmente melhorada


calculando-se a evapotranspiração da cultura em tempo real. Assim, o valor de ETc a
ser considerado deve ser igual à média da evapotranspiração ocorrida no período entre
duas irrigações consecutivas. Uma forma simples para o cálculo da evapotranspiração é
o uso do tanque classe A, que pode instalado nas imediações ou dentro da área
cultivada.

O manejo da irrigação pode também ser realizado por sensores que medem a tensão
da água no solo, ou seja, a ‘força’ com que a água é retida pela matriz do solo. Desta
forma, pode-se determinar o momento exato de se irrigar e a quantidade de água a ser
aplicada por irrigação. Para a cultura de pimenta irrigada por aspersão ou sulcos, a
tensão recomendada varia entre 25 e 30 kPa, durante o estádio reprodutivo, entre 50 e
60 kPa durante os estádios vegetativo e de maturação. Para gotejamento, a tensão
recomendada varia de 10 a 15 kPa. O sensor mais utilizado para medição da tensão é o
tensiômetro.

Um sensor de baixo custo e manutenção, recentemente desenvolvido pela Embrapa


Hortaliças, é o ‘Irrigas’. O sensor não fornece leituras de tensão, mas somente indica se
a tensão de água do solo está abaixo ou acima 25 kPa. Assim, pode ser utilizado
durante a estádio reprodutivo da cultura de pimentas sob irrigação por aspersão ou
sulcos. Na versão atualmente disponível, o sensor não é recomendado para
gotejamento.

FERTIRRIGAÇÃO

Fertirrigação é o processo de aplicação de fertilizantes via água de irrigação. É


apropriada para uso em sistemas por aspersão tipo pivô central e, principalmente, por
gotejamento. Pela facilidade de aplicação, os fertilizantes podem ser injetados na
tubulação de forma parcelada para atender às necessidades das plantas. O
parcelamento permite manter o nível de fertilidade no solo próximo ao ideal durante
todo o desenvolvimento da cultura, possibilitando incrementos de produtividade e
minimizando a lixiviação de nutrientes.

Os principais dispositivos de injeção são: tipo venturi, tanque de diferencial de pressão


e bombas injetoras (diafragma e pistão). Todos os dispositivos podem ser utilizados em
sistemas por gotejamento, sendo a bomba de pistão a melhor opção para pivô central.
O venturi é o mais utilizado em sistemas por gotejamento, devido seu baixo custo.

Os nutrientes mais aplicados via fertirrigação são os de maior mobilidade no solo, como
o potássio e nitrogênio. O fósforo e outros nutrientes pouco móveis devem ser
fornecidos, preferencialmente, como adubação básica de plantio.

Para gotejamento sugere-se aplicar de 10% a 20% da recomendação total de


nitrogênio e de potássio em pré-plantio, para se ter uma reserva no solo e favorecer o
desenvolvimento inicial do cultivo. O restante é fornecido via fertirrigação à medida que
as plantas se desenvolvem. A ocorrência de podridão apical e a necessidade de
pulverizações foliares com cálcio podem ser eliminadas aplicando-se parte do cálcio via
fertirrigação durante o florescimento e a frutificação. Para solos arenosos, a
fertirrigação deve ser realizada a cada 1 a 2 dias, enquanto para solos argilosos pode-
se adotar uma freqüência de uma a duas vezes por semana.

Para pivô central, aplicar 1/3 do nitrogênio em pré-plantio e parcelar o restante via
água de irrigação, a partir de 30 dias após o plantio, a cada duas a três semanas até o
início da maturação. O potássio e o cálcio, embora menos utilizados, também podem
ser aplicados via água.

Os principais fertilizantes utilizados via água são: uréia, cloreto de potássio, nitrato de
cálcio, nitrato de potássio, sulfato de amônio, sulfato de potássio e cloreto de cálcio. O
cálcio não deve ser aplicado em água contendo bicarbonato (acima de 400 mg/L) ou
ser injetado simultaneamente com fertilizantes à base de sulfatos ou fosfatos sob o
risco de precipitar e causar entupimento de tubulações e emissores.
 

Tabela 1. Eficiência de irrigação, custo inicial, uso de energia e mão-de-obra para


diferentes sistemas de irrigação.

Mão-de-obra
Eficiência1 Custo Energia2
Sistema (h/ha/
(%) (R$/ha) (kWh/mm/ha)
irrigação )
Sulcos 40 - 70 800 - 1.500 0,3 - 3,0 1,0 - 4,0
1.000 -
Convencional portátil 60 - 75 3,0 - 6,0 1,5 - 3,0
2.000
Convencional semi- 1.500 –
60 - 75 3,0 - 6,0 0,7 – 2,5
portátil 2.500
Convencional 3.000 -
70 - 85 3,0 - 6,0 0,2 - 0,5
permanente 5.000
3.000 -
Autopropelido 60 - 70 6,0 - 9,0 0,5 - 1,0
5.000
3.000 -
Pivô central 75 - 90 2,0 - 6,0 0,1 - 0,7
5.000
3.000 -
Gotejamento 75 - 95 1,0 - 4,0 0,1 - 0,3
5.000
1
Em sistemas mal dimensionados e sem manutenção adequada à eficiência pode ser
ainda mais baixa .

2
Altura de recalque entre 5 e 50 m. Dividir por 3,2 para estimar litros de diesel
/mm/ha.

Fonte: Adaptado de Marouelli e Silva (1998)


 
Plantas daninhas

A interferência das plantas daninhas reduz a produtividade e qualidade dos frutos. Portanto,
é necessário controlar as plantas daninhas, pelo menos durante o período crítico (cerca de
dois terços do ciclo da cultura), ou seja, até que a cultura cubra suficientemente a superfície
do solo, e não sofra mais interferência negativa delas. A necessidade de controle depende
do grau de infestação e agressividade das plantas daninhas.

As plantas daninhas interferem diretamente no desenvolvimento da pimenta, competindo


por água, nutrientes, luz e liberando substâncias aleloquímicas, que afetam a germinação e
o crescimento da pimenteira. O grau de competição que uma planta sofre depende da
cultura (espécie, variedade/cultivar, densidade e espaçamento de plantio) e da população
de plantas daninhas (espécie, densidade, distribuição e duração do período de competição).
Esses fatores podem ser modificados pelas condições edáficas (tipo, textura, fertilidade e
umidade do solo), climáticas e práticas culturais (rotação e consórcio de cultivos).

O espaçamento e a densidade de plantio são fatores importantes no balanço competitivo,


pois influenciam a precocidade e a intensidade do sombreamento promovido pela cultura.
Plantios mais densos dificultam o desenvolvimento das plantas daninhas, as quais têm que
competir mais intensamente com a cultura na utilização dos fatores de produção.

Após o PCI até o final do ciclo (Figura 1, fases G-I), as plantas daninhas não interferem
significativamente na produtividade, mas podem amadurecer e aumentar o banco de
sementes no solo, bem como servir de hospedeiros de insetos-pragas, fitopatógenos e
nematóides, além de dificultar e onerar a colheita. Com a introdução da mosca-branca, que
utiliza as plantas daninhas como hospedeiros, fonte de alimento e reprodução, a incidência
de viroses na cultura tem crescido muito, reforçando a necessidade de adotar programas de
manejo integrado de plantas daninhas.

 ANVISA: Sistema de Informações sobre Agrotóxicos.


<http://www4.anvisa.gov.br/AGROISA/asp/frm_pesquisa_agrotoxico.asp>.

 As técnicas de manejo integrado de plantas daninhas são prevenção, erradicação e


controle.

A prevenção consiste em se evitar a introdução e/ou disseminação de sementes ou qualquer


propágulo vegetativo de plantas daninhas em áreas não infestadas (Figura 1, fases C-I). As
medidas de prevenção e controle devem ser eficientes de forma a prevenir o aumento do
banco de sementes ou propágulos vegetativos no solo, evitando que plantas daninhas
cresçam e amadureçam suas sementes em áreas limítrofes, além de hospedarem insetos-
praga e patógenos, são fontes para outras infestações dentro ou fora das áreas cultivadas.
As plantas daninhas podem ser distribuídas pelo vento, água, máquinas e implementos,
matéria orgânica, animais e por meio do plantio de mudas com torrão e lotes de sementes
de hortaliças que contenham misturas de sementes de plantas daninhas.
Fundamentalmente, a introdução e a disseminação das plantas daninhas nas áreas agrícolas
são evitadas quando os mecanismos de disseminação delas são rigorosamente observados.

Erradicação é a eliminação de todas as estruturas de propagação de uma planta daninha de


determinada área. Ela é, normalmente, usada em áreas pequenas e recentemente
infestadas. Inspeções dos campos devem ser realizadas regularmente (Figura 1, fases C-I)
para identificar focos iniciais e adotar medidas de controle dirigido de forma a erradicá-las.
Muitas vezes a remoção mecânica é recomendada para eliminar plantas daninhas tolerantes
ou resistentes a determinados herbicidas. O produtor deve ficar atento ao aparecimento de
espécies novas (como por exemplo: a parasita Cuscuta spp.), devendo eliminá-las antes
que produzam e disseminem suas sementes.

 
Controle é a supressão das plantas daninhas até um limiar de dano econômico, ou seja, até
atingir um nível de controle onde a planta daninha remanescente não interfira
significativamente na produtividade biológica da cultura (Figura 1, fases C-F). Esta é a
prática de manejo mais comumente usada quando a planta daninha já está estabelecida. O
controle e pode ser feito por meio de métodos culturais, mecânicos, químico (manejo direto,
dirigido não seletivo) ou de forma integrada (Figura 1). A eficiência do controle dependerá
do grau de infestação e agressividade das espécies de plantas daninhas, época do controle,
estágio de desenvolvimento das plantas, condições climáticas, tipo de solo, disponibilidade
de herbicidas, de mão-de-obra e de equipamentos e conhecimento da interação entre as
plantas de pimenta e das plantas daninhas.

Preferencialmente, deve-se lançar mão dos métodos culturais e mecânicos, tais como:
rotação de culturas, o uso de espaçamento e densidade adequados, coberturas orgânica
e/ou inorgânicas do solo, solarização, cultivos e capinas.

O controle químico seletivo não é recomendado para a cultura de pimenta, em razão da


falta de registro de herbicidas junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento[1].

O preparo do solo e a irrigação estimulam a germinação e desenvolvimento das plantas


daninhas (Figura 1, fases C-E). Recomenda-se fazer o preparo do solo duas a três semanas
antes do transplantio para permitir a germinação, crescimento e o controle pós-emergente
das plantas daninhas (4 a 6 folhas definitivas) na área, por meio da aplicação de herbicidas
de manejo não seletivos de ação de contato, como diquate e paraquate, ou sistêmica, como
glifosato, realizada antes do transplantio das mudas de pimenta. O preparo do solo deve ser
bem feito, livre de torrões e de resíduos dos restos culturais (Figura 1, fase C) facilitando,
desse modo, o controle das plantas daninhas, proporcionando o estabelecimento e o
crescimento vigoroso das mudas de pimenta.

O cultivo mecânico para controlar as plantas daninhas pode ser usado sozinho ou
juntamente com os herbicidas de manejo e não seletivos. O cultivo é mais eficiente quando
as plantas daninhas estão ainda pequenas, com 4 a 8 folhas definitivas. Nesse estádio as
plantas daninhas podem ser removidas facilmente sem causar dano à cultura (Figura 1,
fases E-F). A eficiência do controle mecânico sobre as plantas daninhas perenes é baixa,
podendo aumentar o problema se os propágulos vegetativos forem removidos para locais
não infestados.

O produtor de pimenta procura, sempre que possível, cultivar áreas sob rotação de culturas,
evitando aquelas previamente utilizadas com solanáceas. A rotação adequada de culturas é
importante para o manejo de plantas daninhas, pois as práticas culturais provocam
mudanças na população de plantas, havendo a cada ano uma nova relação de interferência
entre as diferentes espécies. Numa comunidade mista de plantas existe sempre um balanço
competitivo entre as espécies, predominando as mais agressivas e adaptadas ao sistema de
cultivos sucessivos ou de rotação.

Em virtude de não existir um método de controle que, aplicado isoladamente, proporcione


resultados satisfatórios, capaz de prevenir o crescimento e a reprodução de todas as plantas
daninhas, reduções substanciais nos níveis de infestação só poderão ser alcançadas com a
integração das técnicas de manejo, entre as quais são empregados diferentes métodos de
controle. Portanto, deve ser utilizado o manejo anual planejado, persistente e que
empregue, fundamentalmente, diversas medidas integradas de controle e erradicação
associadas a preventivas (Figura 1). Inclui ações que antecedem as primeiras operações de
preparo do solo (Fase C) a partir do primeiro ciclo cultural (Fases A-I), por meio do
levantamento, identificação e mapeamento das plantas daninhas presentes na gleba (Fase
A), planejamento e escolha das técnicas de manejo possíveis de usar durante os ciclos
culturais (Fase B), preparo do solo (Fase C), do plantio (Fase D), colheita (Fase H), período
pós-cultivo (Fase I) e ações que visem o ciclo cultural subsequente (Fase J).

 
Doenças

Doenças de plantas são anormalidades provocadas geralmente por microrganismos, como


bactérias, fungos, nematóides e vírus, mas podem ainda ser causadas por falta ou excesso
de fatores essenciais para o crescimento das plantas, tais como nutrientes, água e luz.
Neste caso, são também conhecidas como distúrbios fisiológicos.

Várias são as medidas que podem ser adotadas para evitar a ocorrência de doenças em
plantas ou mesmo reduzir seu impacto no produto comercial. A observação harmoniosa de
um conjunto de medidas de controle, também conhecido como controle integrado, tem
como objetivo principal a redução da necessidade do uso de agrotóxicos.

Para que as doenças sejam bem controladas é necessário que a cultura seja bem conduzida,
ou seja, que a planta não esteja sujeita a estresses provocados por fatores diversos, tais
como época de plantio desfavorável, adubação desbalanceada, ferimentos nas plantas,
competição com plantas daninhas e o uso de cultivares não adaptadas ao clima. Dentre
estes fatores, deve ser dada atenção especial ao tipo de solo e modo de irrigação. Plantas
de pimenta são muito sensíveis a solos encharcados e morrem prematuramente por esta
causa. O controle de doenças de plantas é, mais que tudo, ‘medicina preventiva’, ou seja, a
estrita observação de medidas que devem ser adotadas antes mesmo do plantio.

A seguir, são mencionadas algumas medidas para evitar o aparecimento de doenças ou


reduzir seu efeito:

1. Plantar sementes de boa qualidade, adquiridas de firmas idôneas. Em caso de produção


própria, devem ser escolhidas as plantas saudáveis para se retirar sementes. Muitas
doenças das pimentas são transmitidas pela semente;

2. Preferir variedades bem adaptadas ao clima local e à época de plantio, e que tenham
resistência às principais doenças que ocorrem na região. Estas informações podem ser
obtidas em catálogos de empresas de sementes;

3. Escolher para instalação da cultura uma área bem ventilada, que não tenha histórico de
plantio recente com solanáceas (pimentão, tomate, berinjela, jiló), com solo bem drenado,
não sujeita a empoçamento de água;

4. Fazer uma adubação balanceada, baseada em análise do solo. Falta ou excesso de


nutrientes são causas freqüentes de distúrbios fisiológicos graves;

5. Produzir ou adquirir mudas sadias. Infecções precoces, provocadas por semente


contaminada ou substrato infestado, dificultam sobremaneira a manutenção da sanidade
nas plantas adultas. Sementeiras devem ser feitas preferencialmente em telados instalados
em locais separados do campo de cultivo, onde as mudas ficam protegidas de vetores de
viroses;

6. Evitar o excesso de água na irrigação, pois este é o fator que mais afeta o
desenvolvimento de doenças, em especial aquelas associadas ao solo;

7. Usar água de irrigação de boa qualidade, que não tenha sofrido contaminação antes de
chegar à propriedade;

8. Controlar os insetos que são vetores de viroses e que provocam ferimentos nas plantas,
principalmente nos frutos;

9. Evitar ferimentos à planta durante as operações de amarrio, capinas, irrigação ou outros


tratos culturais;
10. Realizar as pulverizações de preferência de forma preventiva, quando as condições
climáticas forem favoráveis a uma determinada doença. Após o seu estabelecimento, a
maioria das doenças não pode mais ser controlada;

11. Evitar ao máximo o trânsito de pessoas e de máquinas que podem levar estruturas de
patógenos de uma área para outra. Em cultivos protegidos, recomenda-se colocar uma
caixa com cal virgem na entrada para desinfestação de calçados;

12. Destruir os restos culturais, que normalmente hospedam populações de patógenos e


insetos. Esta destruição pode ser feita por enterrio profundo ou queima controlada;

13. Realizar rotação de culturas, de preferência com gramíneas, tais como milho, trigo,
arroz, sorgo ou capim. Esta medida é muito importante para o controle de doenças de solo,
mais difíceis de serem controladas;

14. Inspecionar a lavoura com freqüência para identificar possíveis focos de doença, ainda
em seu início.

Principais doenças das pimentas

As pimentas podem ser atacadas por muitas doenças, que assumem diferentes graus de
importância dependendo principalmente da época de plantio. A seguir, são apresentadas as
principais doenças das pimentas que ocorrem no Brasil, enfatizando algumas medidas
específicas de controle.

Doenças causadas por fungos

Tombamento
Murcha-de-fitóftora
Mancha-de-cercóspora
Antracnose
Oídio
Mancha-aveludada

Doenças causadas por bactérias

Murcha-bacteriana
Mancha-bacteriana
Talo-oco

Doenças causadas por vírus

Doença causadas por nematóides

Distúrbios fisiológicos e causados por artrópodes

Podridão-apical
Clorose-internerval
Clorose-das-folhas
Fumagina

Doenças de pós colheita

Doenças causadas por fungos

Tombamento - Pythium spp., Phytophthora spp. e Rhizoctonia solani


É uma doença que afeta plantas jovens e ocorre em sementeiras, em copinhos, em
bandejas ou em mudas recém transplantadas. É provocada por fungos de solo, que podem
também estar presentes na água de irrigação. Com a crescente utilização de bandejas
contendo substratos produzidos comercialmente, este problema tem se tornado cada vez
menor.

Mudas afetadas apresentam escurecimento ou apodrecimento na base do caule, provocando


o tombamento da planta. Sob leve pressão, o topo da planta se desprende sem que a raiz
seja arrancada. A doença evolui normalmente em reboleiras.

Controle

· Não fazer a sementeira em solo anteriormente cultivado com solanáceas;


· Usar substrato comercial e bandejas de isopor novas ou desinfestadas com água sanitária
para a produção de mudas; no caso de se usar saquinhos para produzir as mudas, utilizar
solo esterilizado;
· Irrigar com moderação, pois os fungos envolvidos no tombamento são favorecidos por alta
umidade;
· Produzir as mudas em local ventilado, de preferência em casa de vegetação ou telado. A
bancada deve ser ripada ou telada, para permitir o escorrimento do excesso da água de
irrigação;
· Usar água de boa qualidade para irrigação, que não tenha possibilidade de ter sido
contaminada até chegar à propriedade.

Murcha-de-fitóftora (requeima, podridão-de-fitóftora, pé-preto) - Phytophthora


capsici

É uma das principais doenças das pimentas no Brasil. Provoca maiores perdas no verão,
pois é favorecida por alta temperatura e alta umidade do solo. As plantas afetadas
apresentam murcha repentina observada inicialmente nas horas mais quentes do dia. É
comum aparecerem várias plantas murchas ao mesmo tempo, em fileiras ou em reboleiras.
Poucos dias após o murchamento inicial, a planta morre, ocasião em que pode ser
observado um escurecimento na base do caule. Sob alta umidade do ar, pode ocorrer
também a infecção de partes aéreas da planta, com manchas escuras e amolecidas nas
folhas e no caule.

Controle

· Usar solo ou substrato esterilizado para produzir mudas;


· Evitar plantios em períodos quentes e úmidos do ano;
· Plantar em local bem ventilado;
· Plantar em solos bem drenados, não sujeitos a encharcamento;
· Em época de chuvas, plantar em camalhões, que evitam o acúmulo de água no pé da
planta;
· Fazer um manejo adequado da irrigação, evitando fornecer excesso de água à
planta;· Fazer rotação de culturas, de preferência com gramíneas. As cucurbitáceas
(abóbora, moranga, melancia, melão) devem ser evitadas por serem também atacadas pelo
patógeno.

Mancha-de-cercóspora - Cercospora capsici

É uma doença favorecida por temperatura acima de 25 °C e umidade do ar acima de 90%.


Plantas com estresse nutricional são mais sensíveis à doença. Pode ser transmitida pelas
sementes e pelo vento. Os sintomas ocorrem principalmente nas folhas, na forma de
manchas circulares marrons, com o centro cinza claro, que às vezes pode rasgar ou se
desprender da lesão, dando um aspecto de folha furada. As manchas podem alcançar um
diâmetro superior a um centímetro. As folhas mais velhas podem amarelecer e cair em
função do ataque da doença.

Controle

· Plantar sementes de boa qualidade, adquirida de firma idônea, ou mudas


comprovadamente sadias;
· Evitar o plantio próximo a culturas velhas;
· Pulverizar preventivamente com fungicidas registrados para a cultura;
· Adubar corretamente a plantação, com base em análise de solo;
· Fazer um bom manejo da irrigação, evitando aplicar excesso de água, adotando-se o
sistema de gotejamento;
· Evitar plantios em épocas com alta intensidade de chuva, especialmente quando a
temperatura for alta;
· Eliminar os restos de cultura logo após a última colheita;
· Fazer rotação de culturas por, pelo menos, um ano.

Antracnose (Colletrotrichum spp.)

Sua importância é reconhecida quase que exclusivamente pelas lesões que provoca em
frutos, em campo ou após a colheita. É mais problemática em cultivos de verão, quando
ocorrem temperatura e umidade altas. O patógeno é disseminado por sementes infectadas
e por respingos de água de chuva ou irrigação. A doença se inicia como pequenas áreas
redondas e deprimidas, que crescem rapidamente e podem atingir todo fruto. Sob alta
umidade, o centro das lesões fica recoberto por uma camada cor-de-rosa, formada por
esporos do fungo. Os frutos atacados não caem e as lesões permanecem firmes, a não ser
que haja invasão de organismos secundários que aceleram a sua deterioração.

Controle

· Fazer o plantio menos adensado em época favorável à doença, para permitir melhor
ventilação entre as plantas;
· Fazer um manejo adequado da irrigação, evitando excesso de água. A irrigação por
gotejamento, por não provocar o molhamento da parte aérea, reduz drasticamente a
chance de aparecimento da doença;
· Pulverizar preventivamente a cultura no início de frutificação com fungicidas registrados;
· Destruir os restos culturais imediatamente após a última colheita;
· Fazer rotação de culturas, de preferência com gramíneas.

Oídio - Oidiopsis taurica

Ataca com maior intensidade os cultivos irrigados por gotejamento. Inicialmente, são
observadas manchas cloróticas na superfície superior das folhas. Sob condições favoráveis à
doença, estas manchas tornam-se necróticas ou com muitas pontuações negras, com
formato pouco definido. A superfície inferior da folha fica recoberta com estruturas
esbranquiçadas do fungo, podendo levar a uma clorose geral da folha. Entretanto, pode
ocorrer clorose e necrose sem que se perceba claramente o ‘pó branco’, dificultando o
diagnóstico da doença. Folhas muito atacadas podem cair, e os frutos não são atacados pela
doença.

Controle

· Evitar plantar nas proximidades de plantas velhas de pimentão ou tomate;


· Adubar corretamente as plantas, de acordo com análise do solo;
· Fazer irrigação por aspersão, levando-se em conta que esta técnica pode intensificar o
ataque de outras doenças;
· Pulverizar preventivamente com fungicidas registrados;
· Destruir os restos culturais logo após a última colheita.

Mancha-aveludada - Phaeoramularia sp.

Ocorre esporadicamente em algumas regiões do Brasil. Pode causar algum dano à planta
somente em condição de alta umidade e alta temperatura, principalmente em locais
sombreados. Os sintomas consistem inicialmente de manchas cloróticas arredondadas na
superfície superior da folha. Com o desenvolvimento da doença, na parte inferior da folha
surgem lesões acinzentadas devido à presença de esporos do fungo. As folhas velhas são as
mais atacadas e podem cair sob alta infestação. Os frutos não apresentam sintomas desta
doença.

Controle

· Fazer rotação de culturas, preferencialmente com gramíneas;


· Evitar plantios em áreas pouco ventiladas;
· Não plantar próximo a cultivos velhos de pimentão;
· Adubar a planta com base em análise de solo;
· Manejar a irrigação, evitando-se excesso de água.

Doenças causadas por bactérias

Murcha-bacteriana (murchadeira) - Ralstonia solanacearum

Causa perdas em pimentas somente quando a temperatura e a umidade são muito altas,
situação que é freqüente em regiões Norte e Nordeste do Brasil e ainda em alguns pólos de
produção de terras baixas na Região Sudeste. A bactéria não é transmitida pela semente,
mas pode ser introduzida em um campo através de mudas infectadas, água contaminada e
solo infestado aderido a máquinas agrícolas. Plantas afetadas podem não murchar, e
apresentar apenas uma redução em crescimento. Quando murcham, os sintomas aparecem
inicialmente nas horas mais quentes do dia. As folhas novas murcham primeiro, às vezes de
um só lado da planta. O tecido exposto pelo descascamento da base do caule de planta
murcha fica amarronzado. Na maioria das vezes, a doença só é percebida a partir do início
da frutificação.

Controle

· Escolher a área de plantio, que não deve ter histórico da doença em solanáceas ou em
outras hospedeiras de R. solanacearum;
· Evitar a contaminação do solo através de pessoal e máquinas que transitam por áreas
contaminadas;
· Plantar em solos com boa drenagem, não sujeitos a encharcamento;
· Plantar nas épocas menos quentes do ano;
· Não irrigar em excesso;
· Evitar ferimentos nas raízes e na base da planta;
· Arrancar, colocar em saco de plástico e retirar do campo as plantas com sintomas iniciais
de murcha, espalhando aproximadamente 100 gramas de cal virgem na superfície da cova
vazia;
· Evitar o uso de plástico preto como cobertura do solo durante o verão, porque mantém a
temperatura e a umidade do solo excessivamente elevadas.
Observação: O controle químico não é economicamente viável. As cultivares disponíveis não
apresentam níveis satisfatórios de resistência.

Mancha-bacteriana (pústula-bacteriana) - Xanthomonas campestris pv.


vesicatoria

É comum em locais onde prevalecem altas temperatura e umidade, como no período de


verão. Chuvas de vento seguidas de nebulosidade prolongada favorecem a disseminação, a
penetração e a multiplicação da bactéria, resultando em ataques severos da doença. Os
sintomas mais visíveis aparecem em plantas adultas. As folhas mais velhas são as mais
atacadas e apresentam lesões de formato irregular, de cor verde-escura e com aspecto
encharcado. Sob condições favoráveis à doença, as lesões formam manchas grandes e com
aspecto ‘melado’ nas folhas. As folhas atacadas amarelecem e caem, sendo esta uma das
características mais marcantes da doença. A desfolha provocada pela doença ocorre de
baixo para cima. Nos frutos, a bactéria causa manchas similares a verrugas, inicialmente
esbranquiçadas e depois com os centros escurecidos.

Controle

· Plantar sementes e mudas isentas do patógeno, produzidas por firmas idôneas;


· Evitar plantios em épocas quentes e sujeitas a chuvas freqüentes;
· Não usar sementes provenientes de lavouras em que houve ocorrência da doença;
· Não irrigar em excesso, principalmente por aspersão;
· Pulverizar preventivamente com fungicidas cúpricos, que também têm ação bactericida;
· Destruir os restos culturais logo após a última colheita;
· Fazer rotação de culturas, de preferência com gramíneas.

Talo-oco (podridão-mole) - Erwinia spp.

Causa prejuízos somente em cultivos conduzidos sob alta temperatura e alta umidade.
Nesta condição, caules e frutos com injúrias mecânicas ou provocadas por insetos,
apodrecem rapidamente. Os pontos da planta mais sensíveis ao ataque inicial da doença
são aqueles onde há um acúmulo de água, como as bifurcações do caule e a região
peduncular dos frutos. O caule afetado escurece e seca devido ao apodrecimento da
medula. Nos frutos, o ataque ocorre principalmente a partir de ferimentos causados por
insetos. Após a colheita, a bactéria pode iniciar o apodrecimento mole em frutos
contaminados externamente por ferimentos resultantes do manuseio inadequado durante a
colheita, transporte e comercialização.

Controle

· Evitar plantio em locais muito úmidos, especialmente durante o verão;


· Evitar o excesso de água na irrigação;
· Evitar ferimentos na planta durante os tratos culturais e nos frutos na colheita, transporte
e comercialização;
· Adubar corretamente a cultura, de acordo com a análise do solo. O excesso de nitrogênio
promove crescimento exagerado da folhagem, formando um ambiente favorável à doença;
· Pulverizar com fungicidas cúpricos, principalmente quando houver ferimentos nas plantas,
como após amarrio, desbrota ou a ocorrência de granizo;
· Controlar insetos que provocam ferimentos nos frutos;
· Após a colheita, manter os frutos secos e em local bem ventilado.

Doenças causadas por vírus


Vários vírus podem atacar os pimentais, como os tospovirus (vírus do vira-cabeça),
transmitidos por algumas espécies de tripes, e os potyvirus (mosaicos), transmitidos por
pulgões. Os sintomas são muito variáveis, dependendo da espécie e da variedade de
pimenta, da espécie do vírus, do grau de virulência da estirpe do vírus, da época em que a
planta foi infectada e das condições ambientais, principalmente da temperatura. A planta
infectada normalmente tem o seu desenvolvimento retardado. As folhas mais novas ficam
pequenas, deformadas e apresentam diferentes tonalidades de verde e amarelo, com
pontuações necróticas, algumas vezes com pequenos anéis concêntricos. Nos frutos,
também ocorrem deformações, mosaico, necrose e anéis, estes normalmente de tamanho
maior que nas folhas. Na maioria das vezes, não é possível diagnosticar as espécies de vírus
envolvidas, através dos sintomas, sendo necessários testes em laboratório

Controle

· As medidas de controle de vírus são preventivas e devem ser seguidas por todos os
produtores de uma região;
· Medidas de higienização têm um efeito considerável na redução da incidência da doença:
eliminar campos abandonados, erradicar plantas com sintomas no plantio quando a
incidência for baixa, manter o campo e arredores livres de plantas daninhas;
· Produzir mudas em local protegido de insetos vetores, afastado dos campos de produção e
pulverizando-as periodicamente para evitar que se infectem precocemente;
· Plantar as mudas no maior estádio de desenvolvimento possível, de modo a retardar as
infecções precoces em campo pelo vetor;
· Pulverizar contra o vetor somente nos primeiros dias após o transplante;
· Plantar cultivares resistentes. Embora na atualidade praticamente não existam cultivares
resistentes disponíveis, deve-se consultar as companhias de semente para novas cultivares
com esta característica.

Doença causadas por nematóides

Nematóide-das-galhas - Meloidogyne incognita

Ocorre com maior intensidade durante o período mais quente do ano. A doença é mais
severa em solos arenosos. Pode se tornar limitante quando se planta pimenta
sucessivamente na mesma área ou quando se faz rotação com outra cultura suscetível,
como feijão de vagem, quiabo e tomate. A doença se manifesta normalmente em
reboleiras. As plantas afetadas apresentam sintomas que sugerem a deficiência de água e
de nutrientes, ou seja, desenvolvimento abaixo do normal, amarelecimento das folhas e
murchamento. Estes sintomas se devem à formação de galhas (engrossamentos) e
apodrecimento das raízes, que perdem a capacidade normal de absorver água e nutrientes
do solo.

Controle

· Evitar os plantios em períodos quentes do ano, principalmente em terrenos sabidamente


infestados;
· Plantar em terreno sem o histórico da doença, ou seja, que não tenha sido plantado
anteriormente com espécies suscetíveis;
· Plantar mudas de boa qualidade, que não estejam infectadas pelo patógeno;
· Fazer rotação de culturas com gramíneas;
· Utilizar matéria orgânica no plantio, que favorece microorganismos antagônicos aos
nematóides.

Distúrbios fisiológicos e causados por artrópodes


Podridão-apical - Deficiência de cálcio

É causada pela deficiência de cálcio durante o desenvolvimento dos frutos. Ocorre em solos
com baixo teor de cálcio ou em condições que dificultam a sua absorção, como irrigação
deficiente e danos às raízes. A lesão inicia-se como uma área encharcada na região apical-
lateral do fruto. À medida que o fruto cresce, a parte afetada vai se tornando amarronzada,
endurecida, ressecada e deprimida, sendo comum o crescimento de fungos secundários na
sua superfície. Frutos com podridão-apical amadurecem precocemente.

Controle

· Fazer adubação balanceada, baseada em análise do solo;


· Manter as plantas bem irrigadas, evitando períodos com falta ou excesso de água.

Clorose-internerval - Deficiência de magnésio

Raramente ocorre em plantios bem conduzidos, quando a adubação é feita baseada em


análise do solo. A calagem feita com calcário dolomítico normalmente evita este distúrbio
porque contém magnésio. Os sintomas são mais visíveis após o início de frutificação, pois o
magnésio é translocado para os frutos em desenvolvimento. As folhas mais velhas são as
mais afetadas. O sintoma típico é a clorose entre as nervuras.

Controle

· Adubar corretamente as plantas, de acordo com análise do solo;


· Controlar a água de irrigação, evitando falta ou excesso;
· Utilizar calcário dolomítico na correção de acidez do solo;
· Pulverizar com sulfato de magnésio na dosagem de 1,5%.

Clorose-das-folhas - Deficiência de nitrogênio

É de rara ocorrência em cultivos bem conduzidos, adubados corretamente. Como no caso do


magnésio, deve-se levar em conta que este distúrbio pode ser devido a problemas
fisiológicos ou patológicos no sistema radicular, que afetam a absorção de nutrientes pela
planta, ou com o esgotamento deste nutriente em plantas com longo ciclo produtivo. Toda a
folhagem fica amarelecida e a planta apresenta um desenvolvimento lento. A não ser por
uma redução de tamanho, não se observam sintomas típicos de deficiência de nitrogênio
nos frutos.

Controle

· Adubar as plantas com base em análise do solo, inclusive em cobertura;


· Adotar medidas que mantenham o sistema radicular sadio;
· Irrigar corretamente as plantas.

Fumagina

Ocorre em conseqüência da infestação de pulgões, moscas brancas ou cochonilhas, que


secretam substância adocicada na superfície de folhas e frutos, onde se desenvolve um
fungo de cor escura. Este fungo não infecta nenhum órgão da planta, mas dá um aspecto
estranho e desagradável e pode afetar a capacidade de fotossíntese. O nome da doença é
devido ao aspecto de fuligem na superfície das folhas, ramos e frutos.
Controle

· Controlar insetos;
· Evitar plantios adensados.

Doenças de pós-colheita

Doenças de pós-colheita em frutos de pimentas são provocadas principalmente pelo fungo


Colletotrichum spp. (antracnose) e pela bactéria Erwinia spp. (podridão-mole) em períodos
de alta umidade e no verão. As duas doenças podem provocar perdas significativas porque
os frutos doentes são descartados durante a comercialização. Os fungos Geotrichum sp. e
Rhizopus sp. Também podem causar podridão nos frutos principalmente após a ocorrência
de ferimentos e danos mecânicos. O pedúnculo dos frutos pode ser atacado por fungos,
como Alternaria alternata, Fusarium spp. e Cladosporium fulvum, e bactérias como Erwinia
spp., comprometendo a qualidade visual dos frutos.

Controle

. Garantir, através de medidas de controle químico e/ou cultural, a sanidade dos frutos no
período que antecede a colheita (caso seja feito o controle químico, o período de carência
dos produtos deve ser rigorosamente observado);
. Colher os frutos quando estes estiverem secos;
. Colher, selecionar e transportar os frutos de maneira que ocorra o mínimo de ferimentos,
que são as principais portas de entrada dos patógenos;
. Usar contentores apropriados para colheita e transporte, fáceis de serem lavados e
desinfestados, e que produzem menos injúrias nos frutos;
. Quando os frutos são lavados, somente deve-se acondicioná-los nas embalagens depois
que eles estiverem completamente secos;
. A água usada para lavar os frutos deve ser isenta de agrotóxicos e de microorganismos;
. Os frutos comercializados em sacos de plástico, bandejas de isopor recobertas por filme
plástico de PVC ou caixas plásticas do tipo ‘PET’, ou outras embalagens fechadas devem ser
mantidos sob refrigeração;
. Frutos comercializados a granel devem ser expostos em ambiente bem ventilado, evitando
bolsões de umidade, onde podem iniciar-se focos de podridões;
. Frutos podres devem ser eliminados para evitar a contaminação de frutos vizinhos.

Pragas

Vários artrópodes estão associados com pimenteiras desde a sementeira até a colheita dos
frutos e a maioria das espécies não causam dano econômico, sendo algumas delas
benéficas, pois tratam-se de predadores e parasitóides de outras espécies de insetos.

As populações de insetos causam danos diretos ou indiretos às plantas quando fatores


climáticos ou condições específicas do agroecossistema favorecem o crescimento destas
populações, e aí sim, elas passam a causar danos econômicos que, para serem evitados,
necessitam do uso de medidas de controle. A forma mais eficiente e econômica de prevenir
os danos causados por insetos e ácaros é através do monitoramento da cultura, de modo
que as populações possam ser detectadas no seu início. Isto pode ser feito através da
determinação direta do número de insetos sobre as plantas ou de seus danos sobre estas,
ou através de outros meios como a utilização de armadilhas adesivas para aprisionamento
de moscas, pulgões e tripes, luz para a captura de mariposas ou água utilizada para coleta
de pulgões. Com estas informações e outras sobre a biologia e ecologia das espécies pode-
se estimar com bom nível de precisão as épocas mais favoráveis para sua ocorrência,
freqüência e densidade populacional, tipo e importância econômica dos danos causados.

Ainda que em nossos sistemas de produção o controle químico, através da aplicação de


inseticidas e acaricidas, seja o método empregado mais freqüentemente, observa-se que na
maioria das vezes esta prática é desnecessária e, portanto antieconômica e danosa ao
homens, animais domésticos e ao meio-ambiente. A obediência às recomendações listadas
a seguir tornariam mais racional e eficiente o controle de pragas na cultura da pimenteira:

1. O controle de insetos e ácaros deve ser feito de maneira integrada, onde práticas como a
destruição de restos culturais, eliminação de plantas hospedeiras silvestres ou voluntárias,
rotação de culturas, utilização de cultivares resistentes, utilização de mudas sadias, além de
mecanismos que assegurem a presença de inimigos naturais nas áreas cultivadas, sejam
combinadas com pulverizações de agrotóxicos seletivos e devidamente registrados para a
cultura;

2. Inseticidas e acaricidas jamais devem ser aplicados preventivamente, mas somente ao se


notar a presença de danos na cultura ou aumento das populações das pragas;

3. Familiaridade com os equipamentos de pulverização, que devem ser de boa qualidade e


sujeitos à manutenção periódica.

Principais insetos e ácaros que causam dano à pimenteira

Os artrópodes associados à cultura da pimenteira podem causar danos indiretos, como os


pulgões e tripes, vetores de viroses, e danos diretos, como besouros, lagartas, minadores
de folhas, percevejos, cochonilhas e ácaros.

. Vetores de viroses
. Pulgões
. Tripes
. Besouros
. Vaquinha
. Burrinho
. Lagartas
. Lagarta Rosca
. Brocas do ponteiro e dos frutos
. Minadores de folhas
. Mosca-do-mediterrâneo
. Ácaros
. Percevejos e cochonilhas

 Vetores de viroses

As principais espécies de vetores de viroses associadas com pimenteira são os pulgões


Myzus persicae e Macrosiphum euphorbiae e os tripes Thrips tabaci e Frankliniella shulzei.
Ainda que os danos diretos causados por estas espécies sejam de pouca importância, os
danos indiretos causados através da inoculação de viroses têm importância econômica. Os
pulgões, principalmente da espécie Myzus persicae, transmitem o vírus do mosaico do
pimentão, enquanto que o vírus do vira-cabeça é transmitido pelas duas espécies de tripes.

Pulgões - Myzus persicae e Macrosiphum euphobiae

O pulgão verde M. persicae apresenta geralmente cor verde-clara quase transparente,


havendo formas roxas ou amareladas. O abdômen e tórax têm aproximadamente a mesma
largura até a base dos cornículos, que são ligeiramente mais largos na sua metade apical,
enquanto a cauda é pequena.
O pulgão M. euphorbiae é o maior dos afídeos que infestam solanáceas. Apresenta cor
verde-escura, embora haja referências a formas rosadas ou amarelas com manchas escuras
no dorso. O corpo é alongado e as pernas e antenas são compridas. Os cornículos são
cilíndricos e de comprimento aproximadamente igual a um terço do tamanho do corpo. A
cauda é de tamanho igual a um terço do comprimento dos cornículos.

Embora M. euphorbiae possa transmitir o vírus do mosaico do pimentão, a espécie M.


persicae é mais importante pelo maior número de plantas hospedeiras, pela grande
capacidade de proliferação e pela disseminação de muitas viroses. As plantas de pimenteira
infectadas pelo vírus do mosaico apresentam redução no crescimento, folhas encrespadas
com acentuado mosaico, depreciação dos frutos e prejuízos na produção. Até 100% das
plantas de uma área podem ser infectadas, se medidas de controle não forem
implementadas previamente.

Controle

· Não se recomenda a utilização de inseticidas para o controle dos vetores do vírus do


mosaico do pimentão, por ser absolutamente ineficiente para prevenir a disseminação da
moléstia, uma vez que os pulgões transmitem o vírus com uma simples picada de prova;
· Preparar as mudas em viveiros protegidos por telas contra pulgões é a melhor garantia de
redução de perdas na produção causadas por viroses.

Tripes - Thrips tabaci, T. palmi e Frankliniella shulzei

Nestas espécies, as formas ápteras têm corpo alongado medindo aproximadamente 1 a 2


mm de comprimento e mostram coloração branco-hialino ou amarelo-claro. Os insetos
podem ser encontrados na face inferior das folhas, brotações, primórdios florais e flores. Os
tripes causam danos diretos às plantas pela sucção da seiva. Estes, porém são infinitamente
menores do que aqueles produzidos indiretamente através da transmissão do vírus de vira-
cabeça do tomateiro. Os tripes adquirem o vírus somente na fase larval, tornando-se capaz
de transmiti-lo pelo resto da sua vida. Os sintomas mais comuns de vira-cabeça na cultura
da pimenteira são: mosaico amarelo, faixa verde nas nervuras, anéis concêntricos,
paralisação do crescimento e deformação dos frutos. As plantas infectadas na sementeira ou
logo após o transplantio têm sua produção totalmente comprometida. Quando a
contaminação ocorre tardiamente, a produção é menos afetada em quantidade e qualidade.

Os insetos, particularmente o T. palmi, causam danos diretos nas plantas, levando a seu
‘enfezamento’ e retardando seu desenvolvimento. As folhas mostram-se ‘lanhadas’,
retorcidas, de tamanho reduzido e, sobretudo, disformes. Os frutos apresentam-se com
manchas de escurecimento, cicatrizes de vários tipos, deformações diversas e redução de
tamanho. As flores sofrem danos diretos que causam abortamento que implica na redução
da produção de frutos por planta sendo associada à presença do tripes com a incidência de
vírus do vira-cabeça.

Controle

· Produzir mudas em viveiros construídos em local afastado dos campos de produção e


protegido por telas que evitem a entrada dos tripes;
· Erradicar plantas hospedeiras nativas, solanáceas silvestres e solanáceas cultivadas
voluntárias;
· Evitar plantios novos em área adjacente a plantios mais antigos;
· Incorporar ou queimar restos culturais;
· Se registrado o produto, recomenda-se o uso de inseticida de solo somente na fase de
sementeira, além de pulverizações periódicas com produtos de ação sistêmica ou de
contato, na sementeira e na fase inicial da cultura;
· Intensificar as pulverizações durante os períodos imediatamente anterior e posterior ao
transplante, quando as plantas são mais susceptíveis ao vírus.
Besouros

Diversos coleópteros danificam a pimenteira, como o burrinho, Epicauta suturalis


(Coleoptera, Meloidae), crisomelídeos conhecidos como ‘vaquinha’ Diabrotica speciosa
(Coleoptera, Chrysomelidae) que são as espécies mais importantes, além de ‘bicudos ou
carunchos’ como Helipodus destructor e Faustinus cubae (Coleoptera, Curculionidae).

Vaquinha - Diabrotica speciosa

Os adultos têm 5-7 mm de comprimento, corpo ovalado e coloração geral verde brilhante,
mostrando três manchas amarelo-alaranjadas em cada élitro. As fêmeas fazem a postura no
solo, próximo ao caule das plantas. As larvas são brancas e possuem no dorso do último
segmento abdominal uma placa quitinosa de cor marrom ou preta. Os danos causados pelas
larvas às raízes de pimenteira são em geral pouco importantes. Os adultos, contudo, podem
produzir injúrias sérias quando se alimentam das folhas, principalmente em plantas nas
sementeiras ou recém-transplantadas para o campo.

Outros crisomelídeos como Systena tenuis, Epitrix parvula, Symbrotica bruchi e Diabrotica
spp. são mencionados na literatura como pragas da pimenteira, principalmente das mudas
recém-transplantadas, de cujas folhas se alimentam. Estes insetos perfuram as folhas
causando atraso no desenvolvimento ou morte das plantas.

Burrinho - Epicauta suturalis

Os adultos são besouros polífagos, negros, revestidos de densa pilosidade cinza na cabeça,
élitros e patas, medindo 8-17 mm de comprimento. As fêmeas ovipositam geralmente no
solo, podendo alcançar 400-500 ovos durante sua existência. Os ovos eclodem após 10
dias, e deles originam-se larvas que são ativas, fortes e predadoras de outros insetos. O
adulto é a única fase desta espécie que é prejudicial às plantas, porque se alimenta das
folhas, ramos tenros e brotações da pimenteira e outras solanáceas.

Controle

· Práticas culturais como rotação de culturas, aração e gradagem do solo, pousio e queima
dos restos culturais reduzem populações de burrinhos e vaquinhas;
· Inseticidas com ação de contato e ingestão são em geral eficientes para controlar estes
insetos.

Lagartas

Vários tipos de larvas de mariposas e borboletas estão associadas a solanáceas em geral,


porém apenas as espécies Neoleucinodes elegantalis (Lepidoptera, Pyraustidae), Tuta
absoluta e Gnorimoschema barsaniella (Lepidoptera, Gelechiidae), Agrotis ipsilon e Prodenia
spp. (Lepidoptera, Noctuidae) causam danos de importância econômica, por serem mais
abundantes e de distribuição generalizada nas culturas. Outras espécies como: Helicoverpa
zea (Lepidoptera, Noctuidae), Manduca sexta (Lepidoptera, Sphingidae) e Mechanitis
lysimnia (Lepidoptera, Danaidae) são de ocorrência ocasional e não merecem medidas de
controle químico especiais.
Lagarta Rosca - Agrotis ipsilon e Prodenia spp.

Estas duas espécies são as mais comuns e os mais importantes tipos de lagartas
denominadas ‘roscas’ que são encontradas nas lavouras. São confundidas erroneamente
com algumas espécies do gênero Spodoptera, que também têm o hábito de se enroscarem
ao serem tocadas. Os adultos da lagarta-rosca são mariposas grandes, de envergadura
aproximada de 50 mm de comprimento e apresentam asas anteriores escuras e posteriores
brancas ou cinzentas. As fêmeas podem fazer postura de até 1000 ovos, que são
depositados em folhas e caules das plantas, isoladamente ou em massas. As lagartas
possuem o hábito de cortar as plantas ao nível do solo durante a noite e, durante o dia, as
lagartas podem ser encontradas a pouca profundidade do solo, bem próximo às plantas
cortadas anteriormente.

O prejuízo causado pela lagarta-rosca tem como conseqüência a redução do número de


plantas, sendo que em alguns casos há exigência de replantio em até 50% da área. O
período em que este inseto torna-se mais prejudicial à pimenteira é logo após o
transplantio, quando as plantas estão em fase de pegamento, o que as tornam mais
sensíveis. No entanto, mesmo com o crescimento das plantas e, conseqüentemente, com o
aumento do diâmetro e da dureza do caule, os danos da lagarta-rosca podem ser
observados, através do corte dos ponteiros, que são tenros e não oferecem resistência às
suas mandíbulas. Por isso, o acompanhamento da cultura é fundamental para se evitar
prejuízos em épocas onde o replantio já não é mais viável.

Controle

· Fazer uma aração profunda três a seis semanas antes do plantio, mantendo neste período
a área livre de ervas daninhas e restos culturais;
· Após o transplante, procurar manter a cultura limpa, evitando-se o uso de cobertura
morta, restos culturais ou restos de capinas na área da cultura, que servem de abrigo para
as lagartas, protegendo-as de eventuais predadores ou outras medidas de controle;
· Fazer as pulverizações com inseticidas ao entardecer, dirigidas à base e na projeção da
copa das plantas.

Brocas do ponteiro e dos frutos da pimenteira - Tuta absoluta e Gnorimoschema


barsaniella.

São insetos de ampla distribuição no Brasil e têm importância econômica em algumas áreas
localizadas, onde foram constatadas perdas de até 66% dos frutos. As mariposas são muito
pequenas, de cor cinza-escura e cabeça marrom-clara, cujo comprimento pode alcançar até
6 mm. A postura é feita no interior dos botões florais ou extremidade das brotações e
ponteiro, isoladamente ou em grupos de dois e três ovos. As larvas alimentam-se do
interior das hastes ou ponteiro, perfurando galerias, e também das flores e frutos, onde se
alimentam das sementes. Há registro de que uma só larva pode danificar vários frutos,
antes de iniciar a fase de pupa no solo. Os orifícios da saída das larvas servem como via de
entrada para moscas diversas, as quais ovipositam no interior dos frutos, e cujas larvas
favorecem o apodrecimento deles. Geralmente os frutos atacados pela praga desprendem-
se das plantas, tão logo é iniciada a maturação e, em certos casos, há formação de uma
camada bastante espessa de frutos caídos sob a copa das plantas. Os frutos danificados que
conseguem manter-se na planta, mesmo maduros, ou aqueles que são colhidos enquanto
colonizados pelas larvas ou moscas, concorrem para a deterioração de partidas inteiras de
frutos colhidos e embalados, causando grandes prejuízos.

Controle

· Destruir os frutos encontrados sob as plantas para se evitar novas infestações;


· A aplicação de inseticidas realizadas ao entardecer proporciona eficiente controle destas
espécies, podendo reduzir os danos em até 80%;
· Não utilizar inseticidas granulados sistêmicos no solo por ocasião do transplante visando o
controle deste inseto (esta prática não apresenta bons resultados).

Minadores de folhas

As espécies Liriomyza huidobrensis, Liriomyza sativae e Liriomyza spp. (Diptera,


Agromyzidae) não são pragas em condições naturais ou onde hortaliças não são
continuamente pulverizadas com pesticidas devido à ação eficiente de diversos parasitas e
predadores. Estas espécies causam danos econômicos quando inseticidas são utilizados
exageradamente, ocasionando assim a eliminação de seus inimigos naturais, as vespinhas e
formigas. Os adultos são moscas muito pequenas e apresentam coloração geral amarelo-
brilhante e parte do tórax de cor preta lustrosa. As fêmeas utilizam o ovipositor para
auxiliar a alimentação e postura. A inserção do ovipositor no limbo foliar inicialmente libera
o exsudato da planta do qual a fêmea se alimenta. Favorece também a postura e a proteção
dos ovos de condições climáticas adversas e de inimigos naturais. Durante seu ciclo de vida
as fêmeas colocam 300-700 ovos, viáveis na sua maioria.

As larvas completam seu ciclo entre 9-12 dias após a postura e, durante este período,
escavam galerias no parênquima foliar, que causam a morte das folhas, reduzindo a
capacidade da planta em proceder à fotossíntese. Larvas no terceiro instar e pupas medem
até 3 mm de comprimento e são de cor amarela.

Controle

· Práticas culturais como o uso de ‘mulching’ e cobertura morta tendem a favorecer a ação
de insetos como formigas, tesourinhas e besouros, que são eficientes predadores de pupas
do minador de folhas;
· Deve-se evitar a aplicação indiscriminada de inseticidas, principalmente aqueles de largo
espectro, pois estes produtos eliminam os inimigos naturais do minador-de-folhas.

Mosca-do-mediterrâneo

A mosca-do-mediterrâneo Ceratitis capitata é praga de diversas fruteiras e em geral está


associada à cultura do pimenta a partir do início da frutificação. Os ovos são colocados
diretamente sobre os frutos e as larvas se alimentam de sementes e da polpa de frutos
verdes e pequenos, até frutos grandes e maduros sendo comum encontrar até 12 larvas por
fruto. A pupação ocorre em geral no solo. Frutos danificados pela mosca-do-mediterrâneo
podem ser aproveitados para produção de páprica, pois não caem das plantas, desde que
não contaminados por bactérias. Perdas atribuídas à associação do inseto com a bactéria
são estimadas entre 12-18%.

Controle

· Usar armadilhas tipo Jackson com isca de feromônio sexual Trimedilure;


· Utilizar isca tóxica com uma mistura de substância atrativa, como proteína hidrolisada 5%
ou melaço 10%, com inseticidas.

Ácaros

Os ácaros geralmente causam prejuízos em duas situações: (1) a combinação de fatores


climáticos como a alta temperatura, baixa umidade e ausência de chuvas favorecem o
crescimento populacional; (2) o desequilíbrio ambiental provocado pelo uso constante de
inseticidas e fungicidas nas lavouras, que favorecem o crescimento populacional da praga.
As espécies economicamente mais importantes são o ácaro rajado Tetranyuchus urticae e
os ácaros vermelhos T. evansi e T. marianae (Acarina, Tetranychidae); o ácaro branco
Polyphagotarsonemus latus (Acarina, Tarsonemidae) e ácaro plano Brevipalpus phoenicis
(Acarina, Tenuipalpidae).

Por serem muito pequenos, difíceis de se ver a olho nu, uma das maneiras de identificar a
espécie é através da descrição da sintomatologia dos danos. O ácaro-rajado apresenta-se
nas cores branca, verde, alaranjada e vermelha, e tem duas manchas pretas em seu dorso.
O ácaro-vermelho possui coloração vermelha muito intensa, que o distingue facilmente dos
outros ácaros. Ambos localizam-se na face inferior das folhas independente da idade destas,
causando danos caracterizados pelos seguintes sintomas: 1) clorose generalizada das
folhas, sendo que as nervuras mantêm-se mais verdes; 2) aparecimento de teia envolvendo
uma ou mais folhas; 3) queda acentuada das folhas e morte das plantas. O ácaro-branco
localiza-se preferencialmente na parte apical das plantas, nos brotos terminais. Seus danos
tornam as folhas endurecidas (‘coriáceas’), com os bordos recurvados ventralmente e de
coloração bronzeada. O ácaro-plano localiza-se nas hastes e folhas mais tenras da planta e
têm coloração amarelada. As plantas podem apresentar aparência bronzeada ou manchas
cloróticas nas folhas.

Controle

. É feito através da aplicação de acaricidas específicos (ácaros vermelho, rajado e branco)


ou enxofre, no caso do ácaro plano.

Percevejos e cochonilhas

Algumas espécies de percevejos como Acroleucus coxalis (Hemiptera Lygaeidae), Phthia


picta e Corecoris fuscus (Hemiptera, Coreidae), Corythaica cyathicollis, C. monacha e C.
passiflora (Hemiptera, Tingidae); e as espécies de cochonilhas Orthezia insignis e O.
praelonga (Homoptera, Coccidae), eventualmente causam danos à pimenteira.

Controle

. As aplicações de inseticidas para o controle de outras pragas de importância mantêm as


populações de percevejos e cochonilhas abaixo do nível de dano econômico.

Colheita

Colheita

Seleção e Classificação

Embalagens para Pimentas in natura

Conservação Pós-Colheita

 Colheita

As pimentas apresentam diferentes pontos de colheita, de acordo com cada tipo, região de
cultivo e época do ano. O ciclo da cultura e o período de colheita são afetados diretamente
pelas condições climáticas e pelos tratos culturais, como adubação, irrigação, incidência de
pragas e doenças, e a adoção de medidas de controle fitossanitário. De uma maneira geral,
as primeiras colheitas são feitas a partir de 90 dias após a semeadura para as pimentas
mais precoces, como a ‘Murupi’, e após 120 dias para as mais tardias. O ponto de colheita
ideal das pimentas é determinado visualmente, quando os frutos atingem o tamanho
máximo de crescimento e o formato típico de cada espécie, com a cor específica demandada
pelo mercado: verde para a pimenta ‘Cambuci’; vermelho para a ‘Malagueta’; amarela ou
vermelha para a pimenta ‘Bode’; verde-claro para a ‘De Cheiro’; amarela para a ‘Cumari do
Pará’; e amarelo-claro para a ‘Murupi’.

As pimentas são mais difíceis de serem colhidas quando comparadas com pimentão devido
ao menor tamanho dos frutos e a arquitetura da planta, principalmente aquelas de menor
porte e com maior número de galhos. Para efetuar a colheita das pimentas com plantas de
porte mais baixo, como a ‘Cumari do Pará’ e ‘Malagueta’, é necessário que os apanhadores
fiquem agachados ou curvados, enquanto para aquelas pimentas com plantas mais altas,
como a ‘Bode’, é possível fazer a colheita em pé, em uma posição mais confortável. A
posição dos frutos das pimentas, seu tamanho e a resistência do pedúnculo também
interferem na velocidade da colheita. As pimentas ‘Bode’ e ‘Dedo-de-Moça’ possuem frutos
maiores e são mais fáceis de apanhar, sendo possível colher até 60kg/dia/operário,
enquanto as pimentas ‘Malagueta’ e ‘Cumari do Pará’ possuem frutos menores, o que reduz
a velocidade da colheita (aproximadamente 10kg/dia/operário).

As pimentas são colhidas manualmente, arrancando-se os frutos das plantas com ou sem os
pedúnculos, dependendo do tipo de pimenta e o uso do produto. Cada colhedor utiliza um
recipiente pequeno, como uma lata, prato ou bolsa para recolher os frutos das plantas. Um
recipiente adequado para a colheita das pimentas pode ser feito a partir de garrafas
plásticas de refrigerante de 2L do tipo ‘PET’, cortando-se o terço superior da garrafa e
colocando-se um cordão em duas extremidades laterais para pendurar no pescoço. Além de
ser um recipiente barato e fácil de ser feito, o operário fica com as duas mãos livres para
executar a colheita, sendo possível segurar os ramos e destacar os frutos sem quebrar a
planta. Depois de cheios, estes recipientes são vertidos em baldes ou latas maiores (5-10L)
ou então em caixas localizadas estrategicamente próximas do local de colheita.

Quando as pimentas são destinadas especificamente para a indústria de conservas e


molhos, podem ser apanhadas sem o pedúnculo diretamente no campo. Para aquelas
pimentas com maior resistência do pedúnculo, como a ‘Bode’ e a ‘Dedo de Moça’, às vezes é
necessária uma operação adicional no galpão de beneficiamento para retirar completamente
o pedúnculo dos frutos destinados para conservas. As pimentas mais picantes (‘ardidas’),
como a ‘Malagueta’, causam irritação e até queimaduras na pele das mãos dos colhedores
devido aos teores mais elevados de capsaicina, o composto químico responsável pela
ardência nas pimentas. Pessoas com pele muito sensível devem utilizar luvas ou outro
material de proteção na colheita, embora causem desconforto pelo suor e dificultem a
operação. Existem indicações de alguns produtos que podem aliviar as queimaduras e
irritação causadas pela capsaicina, como álcool, água sanitária, água ou leite quentes.
Aparentemente, a melhor indicação para reduzir os efeitos negativos das pimentas mais
ardidas ou picantes é usar óleos vegetais (soja, canola, girassol), azeite de oliva, banha,
manteiga ou margarina ou outros produtos a base de gordura, por que a capsaicina é uma
substância lipossolúvel, ou seja, solúvel em óleo e outros tipos de gorduras. Este
tratamento não elimina completamente o desconforto das queimaduras, mas pode reduzir
parcialmente a concentração do composto das mãos. Os colhedores devem sempre se
lembrar de não se coçarem ou tocar partes sensíveis do corpo, como olhos e boca,
enquanto executam a colheita por conta das queimaduras e pela irritação causadas pelas
pimentas, principalmente pela exposição contínua.

O horário ideal para a colheita das pimentas é nas horas menos quentes do dia, no início da
manhã e no final da tarde. Quando não é possível colher tudo nestes dois períodos, deve-se
armazenar os frutos colhidos sempre a sombra, em local arejado e fresco. A exposição
direta ao sol aumenta a respiração e a perda de água, resultando em murcha e deterioração
dos frutos. Deve-se também evitar a colheita de frutos molhados pela chuva ou orvalho
porque tendem a apodrecer mais rapidamente durante o transporte e a comercialização.
Restos de folhas e galhos também devem ser eliminados porque podem tendem a fermentar
rapidamente, principalmente quando molhados ou úmidos, e assim aumentar a temperatura
no interior das embalagens e reduzir a durabilidade pós-colheita dos frutos.

À medida que baldes, caixas e sacos com as pimentas no campo vão ficando cheios, devem
ser transportados até pequenos galpões ou sob a sombra de árvores nas margens da
plantação. Estes galpões podem ser construídos de modo simples, com uma cobertura de
plástico preto recoberto com capim ou folhas de palmeira, servindo para proteger as
pimentas do sol direto e da chuva. Posteriormente, os frutos são acondicionados em sacos
plásticos grandes (30kg) ou caixas plásticas ou de madeira (15kg), ou outro tipo de
embalagem demandado pelo mercado. Para as pimentas destinadas para a indústria de
molhos e conservas, é possível retirar os pedúnculos dos frutos em galpões ao lado da
lavoura e armazenar as pimentas diretamente em recipientes plásticos de 50L (‘bombas’ ou
‘bombonas’) com a calda apropriada, feita a base de vinagre ou outro tipo de álcool e sal.
Este processo reduz problemas de conservação pós-colheita dos frutos de pimenta colhidos
mantidos in natura.

Seleção e Classificação

Ainda não existe nenhuma norma oficial de classificação e padronização para as pimentas
no Brasil. Praticamente todas as operações usuais de beneficiamento são feitas a campo e
executadas simultaneamente pelos colhedores. As pimentas para comercialização in natura
do tipo ‘Dedo-de-Moça’ devem ser colhidas sempre com o pedúnculo porque melhora a
aparência e os frutos tendem a se conservar melhor, o que não se aplica àquelas pimentas
que possuem frutos que se destacam facilmente da planta, como ‘Cumari do Pará’,
‘Malagueta’ e ‘Cumari Vermelha (= ‘Passarinho’). Na medida do possível, o colhedor deve
eliminar os frutos doentes, brocados, murchos, passados, desuniformes e mal-formados e
selecionar na planta somente aqueles bem desenvolvidos e de coloração típica de cada tipo
de pimenta. Para aquelas pimentas com frutos pequenos, deve-se tomar cuidado para não
colher ramos inteiros com as folhas, evitando-se o contato com o solo para não sujar e
contaminar os frutos. Depois de colhidas, pimentas de frutos pequenos, como ‘Cumari’,
‘Bode’ e ‘Malagueta’, devem ser manipuladas com cuidado para evitar danos mecânicos aos
frutos, como cortes, abrasões e outros tipos de ferimentos.

Embalagens para Pimentas in natura

São usadas diferentes embalagens para a comercialização de pimentas no Brasil, de acordo


com o tamanho e tipo de fruto, região e demanda do mercado. Na CEASA de Goiânia-GO,
as pimentas ‘Cumari do Pará’, ‘Malagueta’, ‘Bode Vermelha’, ‘Bode Amarela’ e ‘De Cheiro’
são acondicionadas em sacos plásticos grandes de 30kg. Na CEAGESP em São Paulo-SP, as
pimentas com frutos maiores, como ‘Cambuci’, ‘Dedo-de-Moça’ e pimenta doce do tipo
americana, são comercializadas em caixas plásticas ou de madeira do tipo ‘K’ (12-15kg); as
pimentas com frutos menores, como ‘Malagueta’ e ‘Cumari do Pará’ também são
acondicionadas em caixas de papelão (1-2kg) e sacos plásticos (1, 2, 5 ou 10kg). Em todos
os mercados atacadistas, as pimentas também são comercializadas em quantidades
menores, utilizando-se como unidade copos de vidro ou latas de 250 a 1000ml de
capacidade, de acordo com a demanda do cliente.

No varejo, as pimentas são comercializadas de diferentes formas, sendo a mais comum a


granel, e os consumidores selecionam manualmente a qualidade e a quantidade a ser
comprada. Nas feiras-livres e mercados menores, a medida adotada é um copo de vidro ou
lata (250-300ml), sendo possível mesclar diferentes tipos de pimentas por um mesmo
preço. Em supermercados e sacolões, as pimentas também são comercializadas em sacos
plásticos perfurados de 50g do produto ao preço aproximado de R$ 1,00 (em Brasília,
nov/2003), bandejas de isopor recobertas com filmes de PVC com 50-100g e caixinhas do
tipo PET de 250ml de capacidade. As embalagens com filmes ou sacos plásticos são as
melhores opções de venda porque reduzem a perda de matéria fresca e mantêm a
coloração do pedúnculo e dos frutos por um período de tempo maior, principalmente
quando mantidas sob refrigeração.

Conservação Pós-Colheita
Não existem informações disponíveis sobre a temperatura ideal de armazenamento para
cada um dos tipos de pimenta cultivados no Brasil. As pimentas são frutos tropicais e por
esta razão as temperaturas entre 7oC e 12oC são as mais indicadas para reduzir a
respiração e outros processos fisiológicos. Os maiores problemas das pimentas destinadas
ao consumo in natura são a rápida perda de água dos frutos, que resulta em murchamento,
e a descoloração do pedúnculo, que perde sua coloração verde característica. Estes dois
problemas reduzem o valor de mercado do produto e podem ser motivos de descarte na
comercialização. O armazenamento em temperaturas inferiores a 7oC pode causar injúria
por frio (‘chilling’) nos frutos, formando lesões deprimidas. Para evitar a perda acentuada de
água, é recomendável deixar os frutos com o pedúnculo e associar a refrigeração ao uso de
embalagens plásticas, que mantêm a umidade elevada. No caso de usar embalagens
plásticas (sacos de polietileno, filme de PVC ou caixinha tipo PET) e comercializar as
pimentas em temperatura ambiente (23-26oC), deve-se fazer alguns furos nas embalagens
para evitar a condensação de água no seu interior ou sobre os frutos de pimenta. Nesta
condição pode ocorrer o desenvolvimento de fungos no pedúnculo e na superfície dos frutos
após 2-3 dias, e comprometer a aparência dos frutos.

Os produtos embalados devem ter uma etiqueta ou rótulo identificador com algumas
informações básicas, como tipo de pimenta, data da embalagem e prazo de validade, e
nome e endereço do embalador. O prazo de validade varia de acordo com o tipo de
pimenta, embalagem utilizada e principalmente temperatura, sendo 5 dias para pimenta De
Cheiro e Bode em sacos plásticos perfurados mantidos a 23-25oC e até 10 dias para frutos
embalados em filmes de PVC mantidos a 12-15oC.. Em experimentos conduzidos na
Embrapa Hortaliças, as pimentas ‘Malagueta’, ‘De Cheiro’, ‘Cumari do Pará’, ‘Bode
Vermelha’, ‘Bode Amarela’ e ‘Dedo de Moça’ foram conservadas durante 30 dias a 8oC
acondicionadas em bandejas de isopor envoltas por filme de PVC (>90% UR). Na
Universidade Federal de Viçosa, determinou-se que a pimenta ‘Malagueta’ pode ser mantida
por até 30 dias a 12oC e 90% UR

As pimentas in natura possuem um mercado relativamente pequeno quando comparadas


com outras hortaliças, principalmente porque são usadas como temperos, em pequenas
quantidades. Ao mesmo tempo, a demanda é relativamente constante e o mercado cativo.
Por estas razões, é importante oferecer um produto de alta qualidade ao consumidor, com
frutos de tamanho e coloração padronizados e isento de resíduos de agrotóxicos.

Comercialização
 

Mercado para pimentas

O mercado para as pimentas é muito segmentado e diverso, devido a grande variedade de


produtos e subprodutos, usos e formas de consumo. Este mercado pode ser dividido em
dois grandes grupos: o consumo in natura, geralmente em pequenas porções, e as formas
processadas, que incluem molhos, conservas, flocos desidratados e pó como ingrediente de
alimentos processados.

O mercado para as pimentas in natura é fortemente influenciado pelos hábitos alimentares


de cada região do Brasil, e são parte importante de vários pratos tradicionais. Os estados da
região Sul são provavelmente os que menos consumem pimentas in natura no País,
havendo uma preferência pelas formas processadas, como molhos, conservas e pimentas
desidratadas. Na região Sudeste consome-se principalmente a pimenta doce do tipo
americana, pimenta ‘Cambuci’, ‘Malagueta’ e ‘Cumari Vermelha’. Na região Nordeste,
predominam as pimentas ‘Malagueta’ e ‘De Cheiro’. Na região Norte, as pimentas mais
apreciadas são a ‘Murupi’, ‘Cumari do Pará’ e a ‘De Cheiro’; na região Centro-Oeste,
tradicionalmente são cultivadas e consumidas as pimentas ‘Bode’, ‘Malagueta’, ‘Cumari do
Pará’, ‘Dedo de Moça’ e mais recentemente a ‘De Cheiro’, anteriormente importada do Pará
e atualmente já cultivada em Goiás.

O mercado para as pimentas nas formas processadas é muito diferente das pimentas
comercializadas in natura pela variedade de produtos e subprodutos que utilizam as
pimentas como matéria-prima. O mercado de pimentas processadas é explorado por
empresas familiares ou de pequeno porte; empresas de porte médio, especializadas ou não
em derivados de Capsicum; e grandes empresas processadoras, geralmente especializadas
em determinados tipos de produtos e que visam mais a exportação. Existe um grande
número de pequenos processadores familiares ou de pequeno porte que fazem conservas de
pimentas em garrafas de vidro com 150ml, praticamente um padrão de mercado, e que
comercializam diretamente para os consumidores em feiras-livres, mercados de beira de
estrada, pequenos estabelecimentos comerciais e eventualmente atacadistas. As empresas
de porte médio, em geral, têm vários tipos de produtos, como conservas, molhos, geléias,
conservas ornamentais, entre outros, que são comercializadas em supermercados,
mercearias especializadas, lojas de conveniência e de produtos importados, ‘delikatessens’ e
até em lojas de decoração. As grandes empresas são especializadas no processamento de
determinados produtos, como páprica e pasta de pimenta. A pimenta para a fabricação de
páprica (pimenta doce vermelha desidratada na forma de pó) é cultivada e processada por
uma grande empresa na região do cerrado mineiro que exporta para a Europa grande parte
de sua produção. O cultivo da pimenta para páprica é feito pela própria empresa e também
por produtores cooperados, sendo que em 2003 foram cultivados 1.600ha na região
noroeste de Minas Gerais com cultivares próprias fornecidas pela empresa. Situação
semelhante ocorre no estado do Ceará, onde uma empresa iniciou o cultivo da pimenta do
tipo ‘Tabasco’, semelhante à ‘Malagueta’, para exportação na forma de pasta. O plantio da
‘Tabasco’ é feito por pequenos produtores em áreas irrigadas, sendo cultivados anualmente
400ha (dados de 2003) com este tipo de pimenta no estado.

O mercado para as pimentas no Brasil sempre foi considerado como secundário em relação
às outras hortaliças, provavelmente devido ao baixo consumo e ao pequeno volume
comercializado. Este cenário está modificando-se rapidamente pela exploração de novos
tipos de pimentas e o desenvolvimento de novos produtos, com grande valor agregado,
como conservas ornamentais, geléias especiais e outras formas processadas. Os
empreendedores rurais e o segmento da agroindústria podem descobrir novas
oportunidades de negócios pela prospecção de mercado e a exploração de ‘nichos’
especializados, aproveitando o bom momento das pimentas na mídia, com uma maior
divulgação de suas propriedades medicinais e desfazendo mitos de que pimenta faz mal à
saúde. O lançamento de novos produtos a base de pimentas deve ser acompanhada de
esclarecimentos aos consumidores, ressaltando-se as características diferenciais em relação
aos produtos tradicionais, tanto para as formas processadas como para novas cultivares e
tipos para consumo fresco. Exemplos de nichos de mercado para consumo in natura:
aumento da oferta e divulgação das qualidades das pimentas do tipo americano, de sabor
mais suave e de melhor digestão; uso de pimentas menos ardidas e mais aromáticas, como
a ‘De Cheiro’ e ‘Biquinho’; cultivo de pimentas com frutos de diversas cores, formas e de
tamanho reduzido para a confecção de conservas ornamentais. Na parte de processamento,
desenvolvimento de molhos com diferentes graus de picância ou ardume (teor de
capsaicina) e com sabores diferenciados, similar ao ‘Tabasco’ importado dos Estados
Unidos; avaliação de novos tipos varietais para uso na indústria de processamento, como
pimentas em flocos desidratados, conservas e geléias, entre outros.

Comercialização

A comercialização das pimentas depende do mercado de destino, que determina sua forma
de apresentação, quantidade e preço. Na forma in natura, as pimentas são comercializadas
como as demais hortaliças, através das centrais de abastecimento (CEASAs), que agrupa e
redistribui o produto para o varejo ou para grandes consumidores, como indústrias e
restaurantes. Outras formas de comercialização incluem a venda para intermediários, que
compram o produto na roça e se responsabilizam pelo transporte e pela venda, e para
distribuidores e empacotadores, que reúnem diferentes tipos de pimentas e as embalam
com marca própria e depois revendem para a rede de varejo. Algumas das maiores redes
de supermercados têm suas próprias centrais de distribuição de produtos hortícolas e
comercializam com suas marcas, e neste caso podem adquirir as pimentas diretamente de
produtores, fornecedores credenciados ou atacadistas.

Na maioria dos mercados atacadistas, as cotações de preços para as pimentas não distingue
os tipos, ou então agrupa em classes genéricas, como ‘pimenta’ ou ‘pimenta vermelha ou
ardida’. A CEASA de Goiânia é a única a discriminar todos os tipos de pimentas e fazer as
cotações separadamente, talvez pela importância deste produto para a região. Neste
mercado, as unidades para a comercialização e cotação média de preço em novembro de
2003 eram as seguintes: pimenta ‘Bode’, R$ 1,00 a lata com 500g; pimenta ‘Cumari’, R$
2,00 a lata com 500g; pimenta ‘Malagueta’, R$ 4,00 a lata com 700g; e a pimenta ‘De
Cheiro’ R$ 3,00/kg. Na CEAGESP, em São Paulo-SP, as cotações de preços são feitas
diariamente para três tipos de pimentas, todas comercializadas em caixas do tipo ‘K’ de
12kg.

Os preços médios em novembro/2003 neste mercado eram os seguintes: ‘Cambuci’ (R$


12,30/cx. ‘K’), pimenta verde americana (R$ 13,10/cx. ‘K’) e pimenta vermelha (R$
29,55/cx. ‘K’). A pimenta vermelha provavelmente refere-se à ‘Dedo-de-Moça’ ou
‘Malagueta’, que também são comercializadas em caixas de papelão (1-5kg) e em bandejas
de isopor de 100g. Na CEASA de Campinas-SP, as cotações de preços são feitas para três
tipos de pimentas (preço médio de novembro/2003): pimenta verde americana, R$ 15,00 a
caixa ‘K’ com 11kg; ‘Dedo-de-Moça’, R$ R$ 40,00 a caixa ‘K’ com 14kg; e a ‘Cambuci’, R$
11,00 a caixa ‘K’ com 10kg. Na CEASA do Rio de Janeiro são cotados diariamente três tipos
de pimenta: ‘Malagueta’, com preços variando de R$ 4,00/kg (maio a julho/2003) a R$
20,00/kg (agosto/2003); os preços da pimenta ‘Dedo-de-Moça’ (neste mercado conhecida
como ‘Caiena’ ou ‘Cayenne’) foram bem estáveis durante o ano, e variaram de R$ 4,00/kg
(junho-julho/2003) a R$ 5,00/kg (janeiro a maio/2003), sem cotações no período de agosto
a novembro; a pimenta ‘De Cheiro’ apresentou menores preços nos meses de junho-
julho/2003 (R$ 5,00/kg) e mais altos em janeiro a maio/2003 (R$ 8,00 a R$ 10,00/kg).

Nas CEASAs de Fortaleza-CE, Porto Alegre-RS, Curitiba-PR e Brasília-DF, os preços são


cotados para o produto ‘pimenta’, sem explicitar o tipo ou variedade. Nestes mercados, os
preços em novembro/2003 variavam de R$ 2,00 a R$ 4,35/kg.

Variação Estacional de Preços

As cotações de preço das pimentas nos mercados atacadistas e varejistas seguem as


mesmas tendências das demais hortaliças. As oscilações de preços dependem da oferta e
procura do produto, principalmente da ocorrência de fatores que afetam a produção, como
oscilações do clima, incidência de pragas e doenças, disponibilidade e custo das sementes,
entre outros. De um modo geral, as pimentas não estão listadas entre os produtos
hortícolas contemplados nos calendários de comercialização, com exceção das CEASA de
Goiânia-GO e Campinas-SP. O período de menor oferta de pimentas e alta de preços no
atacado corresponde aos meses de julho, agosto e setembro em Goiás e aos meses de
fevereiro, maio, julho, setembro, novembro e dezembro na CEASA de Campinas.

De uma maneira geral, com as temperaturas mais baixas nas regiões Sudeste e Centro-
Oeste durante os meses de inverno, existe uma tendência de redução na produção de
pimentas, plantas típicas de clima quente. Em São Paulo, existe uma maior demanda por
pimentas na época de inverno, porque são usadas em sopas, caldos quentes e outros pratos
típicos da estação.

Consumo

 Desidratação

Molhos e conservas

Usos e Modos de Consumo

Os diferentes tipos de pimentas têm várias formas de preparo e modos de consumo, sendo
uma das hortaliças mais versáteis para a indústria de alimentos. As pimentas doces e
picantes podem ser processadas na forma de pó, flocos, picles, escabeches, molhos
líquidos, conservas de frutos inteiros, geléias etc. As pimentas picantes ainda são utilizadas
pela indústria farmacêutica, na composição de pomadas para artrose e artrite, no famoso
emplastro Sabiá, e também pela indústria de cosméticos, na composição de xampus anti-
quedas e anti-caspas. A capsaicina, substância responsável pela pungência dos frutos, pode
ainda ser utilizada como arma na forma de ‘spray’de pimenta.

Os produtos do processamento de pimentas doces e picantes podem ser divididos em três


tipos, de acordo com sua utilização na indústria de alimentos: (1) flavorizantes: frutos
processados ainda verdes ou maduros, que dão apenas sabor e aroma ao alimento, sendo a
coloração uma característica secundária; (2) corantes: sua função principal é dar cor aos
produtos, como a páprica vermelha, que pode ainda ser suave ou picante; (3) pimentas
picantes: usadas para a confecção de molhos em pastas (ou líquidos) ou em conservas,
como os tipos ‘Malagueta’ e ‘Jalapeño’.

Desidratação

A desidratação é um dos métodos mais antigos de processamento de alimentos, e tem


como vantagem a conservação de características organolépticas e dos valores energéticos
dos produtos. Com a crescente preferência por parte dos consumidores por produtos
naturais, os vegetais desidratados (frutos ou hortaliças) têm desempenhado um papel
importante no sentido de satisfazer estas necessidades.

Entre os condimentos, o pimentão ou a pimenta doce maduros tem ganho importância na


indústria de processamento de alimentos devido a presença de um concentrado de
pigmentos naturais na polpa de seus frutos vermelhos e maduros. A coloração vermelha dos
frutos é devida a presença de carotenóides oxigenados (xantofilas), principalmente
capsorubina e capsantina, que correspondem a 65-80% da cor total dos frutos maduros.
Tais pigmentos têm sido largamente utilizados como corantes em diversas linhas de
produtos processados como molhos, sopas em pó de preparo instantâneo, embutidos de
carne, principalmente salsicha e salame, além de corante em ração de aves.

A área cultivada no Brasil com pimenta doce para processamento industrial na forma de pó
(páprica), ainda é muito pequena (cerca de 2.000 ha) e boa parte da produção é exportada.
O mercado externo é extremamente exigente quanto a qualidade do produto. Para atender
esta demanda é essencial a escolha de uma cultivar adequada, com polpa grossa, alto teor
de pigmentos, elevado rendimento industrial e que produza um pó com grande estabilidade.
Quanto ao mercado interno, o consumo de pimentão na forma desidratada basicamente
restringe-se à indústria de alimentos como condimento/tempero em sopas de preparo
instantâneo e em molhos, além da venda a varejo, onde é comercializada em pequenos
frascos como tempero. Grande parte da população brasileira desconhece a existência e a
composição da páprica e sua utilidade na culinária, mas existe um grande potencial para
uma maior popularização deste condimento.

Os frutos de pimentas picantes podem ser desidratados e comercializados inteiros, em


flocos com as sementes (pimenta calabresa) e em pó (páprica picante - condimento). A
pimenta 'calabresa', por exemplo, é um produto do processamento de pimentas do tipo
'Dedo-de-Moça' e 'Chifre-de-Veado', também denominadas de pimentas vermelhas, que
caracterizam-se pela espessura fina da polpa e a presença de um grande número de
sementes. Estas características são importantes porque permitem uma desidratação mais
rápida dos frutos e maior rendimento, respectivamente, interferindo na qualidade do
produto final e custo de produção. O processamento consiste de duas etapas principais: a
moagem e a secagem. Nas pimentas desidratadas, a coloração, a pungência e a ausência
de contaminantes são especificações importantes para a comercialização. Alternativas
simples e econômicas, como o uso de secadores de frutas e hortaliças de pequeno porte
evitarão não só a influência de oscilações climáticas (em secagem feitas ao sol), como
também a contaminação do produto por fatores externos durante a secagem natural.

Molhos e conservas
É crescente também o mercado para molhos de pimentas em conserva ou líquido, tanto
para indústrias de grande porte, quanto para indústrias caseiras. Existe uma grande
diversidade de tipos varietais, alguns com múltiplos usos e outros de uso mais específico.
Frutos de pimenta 'Malagueta', 'De Cheiro', 'Bode Amarela', 'Bode Vermelha', 'Cumari
Vermelha' e 'Cumari do Pará' são usados principalmente em conservas de frutos inteiros. As
pimentas do tipo 'Jalapeño' e 'Cayenne' são utilizadas para fabricação de molhos líquidos
porque têm frutos maiores, com polpas mais espessas e de coloração vermelha. Frutos
verdes de pimenta 'Jalapeño' também são utilizados em conservas e em escabeches
(cortados em pedaços).

As pequenas e médias indústrias processadoras de pimentas são carentes de parâmetros


químicos, físicos e microbiológicos de controle de qualidade. Os principais pontos de
estrangulamento são a falta de qualidade das matérias-primas utilizadas, a ausência no
mercado de equipamentos adequados para a produção em pequena escala, higiene durante
o processamento e a necessidade de adequação dos processos de produção de conservas,
molhos e outros produtos a base de pimenta.

Para o preparo de conservas e de molhos líquidos, é importante utilizar matéria-prima de


ótima qualidade e sem danos e submeter o produto ao processo de pasteurização. As
conservas e os molhos devem ser armazenados ou conservados em vidros esterilizados,
identificados com etiquetas com informações básicas sobre o produto, como marca
comercial, tipo de pimenta, nome e endereço do fabricante, data de fabricação e validade,
entre outros.

 Processamento

Colheita

Seleção e Classificação

Embalagens para Pimentas in natura

Conservação Pós-Colheita

Colheita

As pimentas apresentam diferentes pontos de colheita, de acordo com cada tipo, região de
cultivo e época do ano. O ciclo da cultura e o período de colheita são afetados diretamente
pelas condições climáticas e pelos tratos culturais, como adubação, irrigação, incidência de
pragas e doenças, e a adoção de medidas de controle fitossanitário. De uma maneira geral,
as primeiras colheitas são feitas a partir de 90 dias após a semeadura para as pimentas
mais precoces, como a ‘Murupi’, e após 120 dias para as mais tardias. O ponto de colheita
ideal das pimentas é determinado visualmente, quando os frutos atingem o tamanho
máximo de crescimento e o formato típico de cada espécie, com a cor específica demandada
pelo mercado: verde para a pimenta ‘Cambuci’; vermelho para a ‘Malagueta’; amarela ou
vermelha para a pimenta ‘Bode’; verde-claro para a ‘De Cheiro’; amarela para a ‘Cumari do
Pará’; e amarelo-claro para a ‘Murupi’.

As pimentas são mais difíceis de serem colhidas quando comparadas com pimentão devido
ao menor tamanho dos frutos e a arquitetura da planta, principalmente aquelas de menor
porte e com maior número de galhos. Para efetuar a colheita das pimentas com plantas de
porte mais baixo, como a ‘Cumari do Pará’ e ‘Malagueta’, é necessário que os apanhadores
fiquem agachados ou curvados, enquanto para aquelas pimentas com plantas mais altas,
como a ‘Bode’, é possível fazer a colheita em pé, em uma posição mais confortável. A
posição dos frutos das pimentas, seu tamanho e a resistência do pedúnculo também
interferem na velocidade da colheita. As pimentas ‘Bode’ e ‘Dedo-de-Moça’ possuem frutos
maiores e são mais fáceis de apanhar, sendo possível colher até 60kg/dia/operário,
enquanto as pimentas ‘Malagueta’ e ‘Cumari do Pará’ possuem frutos menores, o que reduz
a velocidade da colheita (aproximadamente 10kg/dia/operário).

As pimentas são colhidas manualmente, arrancando-se os frutos das plantas com ou sem os
pedúnculos, dependendo do tipo de pimenta e o uso do produto. Cada colhedor utiliza um
recipiente pequeno, como uma lata, prato ou bolsa para recolher os frutos das plantas. Um
recipiente adequado para a colheita das pimentas pode ser feito a partir de garrafas
plásticas de refrigerante de 2L do tipo ‘PET’, cortando-se o terço superior da garrafa e
colocando-se um cordão em duas extremidades laterais para pendurar no pescoço. Além de
ser um recipiente barato e fácil de ser feito, o operário fica com as duas mãos livres para
executar a colheita, sendo possível segurar os ramos e destacar os frutos sem quebrar a
planta. Depois de cheios, estes recipientes são vertidos em baldes ou latas maiores (5-10L)
ou então em caixas localizadas estrategicamente próximas do local de colheita.

Quando as pimentas são destinadas especificamente para a indústria de conservas e


molhos, podem ser apanhadas sem o pedúnculo diretamente no campo. Para aquelas
pimentas com maior resistência do pedúnculo, como a ‘Bode’ e a ‘Dedo de Moça’, às vezes é
necessária uma operação adicional no galpão de beneficiamento para retirar completamente
o pedúnculo dos frutos destinados para conservas. As pimentas mais picantes (‘ardidas’),
como a ‘Malagueta’, causam irritação e até queimaduras na pele das mãos dos colhedores
devido aos teores mais elevados de capsaicina, o composto químico responsável pela
ardência nas pimentas. Pessoas com pele muito sensível devem utilizar luvas ou outro
material de proteção na colheita, embora causem desconforto pelo suor e dificultem a
operação. Existem indicações de alguns produtos que podem aliviar as queimaduras e
irritação causadas pela capsaicina, como álcool, água sanitária, água ou leite quentes.
Aparentemente, a melhor indicação para reduzir os efeitos negativos das pimentas mais
ardidas ou picantes é usar óleos vegetais (soja, canola, girassol), azeite de oliva, banha,
manteiga ou margarina ou outros produtos a base de gordura, por que a capsaicina é uma
substância lipossolúvel, ou seja, solúvel em óleo e outros tipos de gorduras. Este
tratamento não elimina completamente o desconforto das queimaduras, mas pode reduzir
parcialmente a concentração do composto das mãos. Os colhedores devem sempre se
lembrar de não se coçarem ou tocar partes sensíveis do corpo, como olhos e boca,
enquanto executam a colheita por conta das queimaduras e pela irritação causadas pelas
pimentas, principalmente pela exposição contínua.

O horário ideal para a colheita das pimentas é nas horas menos quentes do dia, no início da
manhã e no final da tarde. Quando não é possível colher tudo nestes dois períodos, deve-se
armazenar os frutos colhidos sempre a sombra, em local arejado e fresco. A exposição
direta ao sol aumenta a respiração e a perda de água, resultando em murcha e deterioração
dos frutos. Deve-se também evitar a colheita de frutos molhados pela chuva ou orvalho
porque tendem a apodrecer mais rapidamente durante o transporte e a comercialização.
Restos de folhas e galhos também devem ser eliminados porque podem tendem a fermentar
rapidamente, principalmente quando molhados ou úmidos, e assim aumentar a temperatura
no interior das embalagens e reduzir a durabilidade pós-colheita dos frutos.

À medida que baldes, caixas e sacos com as pimentas no campo vão ficando cheios, devem
ser transportados até pequenos galpões ou sob a sombra de árvores nas margens da
plantação. Estes galpões podem ser construídos de modo simples, com uma cobertura de
plástico preto recoberto com capim ou folhas de palmeira, servindo para proteger as
pimentas do sol direto e da chuva. Posteriormente, os frutos são acondicionados em sacos
plásticos grandes (30kg) ou caixas plásticas ou de madeira (15kg), ou outro tipo de
embalagem demandado pelo mercado. Para as pimentas destinadas para a indústria de
molhos e conservas, é possível retirar os pedúnculos dos frutos em galpões ao lado da
lavoura e armazenar as pimentas diretamente em recipientes plásticos de 50L (‘bombas’ ou
‘bombonas’) com a calda apropriada, feita a base de vinagre ou outro tipo de álcool e sal.
Este processo reduz problemas de conservação pós-colheita dos frutos de pimenta colhidos
mantidos in natura.
Seleção e Classificação

Ainda não existe nenhuma norma oficial de classificação e padronização para as pimentas
no Brasil. Praticamente todas as operações usuais de beneficiamento são feitas a campo e
executadas simultaneamente pelos colhedores. As pimentas para comercialização in natura
do tipo ‘Dedo-de-Moça’ devem ser colhidas sempre com o pedúnculo porque melhora a
aparência e os frutos tendem a se conservar melhor, o que não se aplica àquelas pimentas
que possuem frutos que se destacam facilmente da planta, como ‘Cumari do Pará’,
‘Malagueta’ e ‘Cumari Vermelha (= ‘Passarinho’). Na medida do possível, o colhedor deve
eliminar os frutos doentes, brocados, murchos, passados, desuniformes e mal-formados e
selecionar na planta somente aqueles bem desenvolvidos e de coloração típica de cada tipo
de pimenta. Para aquelas pimentas com frutos pequenos, deve-se tomar cuidado para não
colher ramos inteiros com as folhas, evitando-se o contato com o solo para não sujar e
contaminar os frutos. Depois de colhidas, pimentas de frutos pequenos, como ‘Cumari’,
‘Bode’ e ‘Malagueta’, devem ser manipuladas com cuidado para evitar danos mecânicos aos
frutos, como cortes, abrasões e outros tipos de ferimentos.

Embalagens para Pimentas in natura

São usadas diferentes embalagens para a comercialização de pimentas no Brasil, de acordo


com o tamanho e tipo de fruto, região e demanda do mercado. Na CEASA de Goiânia-GO,
as pimentas ‘Cumari do Pará’, ‘Malagueta’, ‘Bode Vermelha’, ‘Bode Amarela’ e ‘De Cheiro’
são acondicionadas em sacos plásticos grandes de 30kg. Na CEAGESP em São Paulo-SP, as
pimentas com frutos maiores, como ‘Cambuci’, ‘Dedo-de-Moça’ e pimenta doce do tipo
americana, são comercializadas em caixas plásticas ou de madeira do tipo ‘K’ (12-15kg); as
pimentas com frutos menores, como ‘Malagueta’ e ‘Cumari do Pará’ também são
acondicionadas em caixas de papelão (1-2kg) e sacos plásticos (1, 2, 5 ou 10kg). Em todos
os mercados atacadistas, as pimentas também são comercializadas em quantidades
menores, utilizando-se como unidade copos de vidro ou latas de 250 a 1000ml de
capacidade, de acordo com a demanda do cliente.

No varejo, as pimentas são comercializadas de diferentes formas, sendo a mais comum a


granel, e os consumidores selecionam manualmente a qualidade e a quantidade a ser
comprada. Nas feiras-livres e mercados menores, a medida adotada é um copo de vidro ou
lata (250-300ml), sendo possível mesclar diferentes tipos de pimentas por um mesmo
preço. Em supermercados e sacolões, as pimentas também são comercializadas em sacos
plásticos perfurados de 50g do produto ao preço aproximado de R$ 1,00 (em Brasília,
nov/2003), bandejas de isopor recobertas com filmes de PVC com 50-100g e caixinhas do
tipo PET de 250ml de capacidade. As embalagens com filmes ou sacos plásticos são as
melhores opções de venda porque reduzem a perda de matéria fresca e mantêm a
coloração do pedúnculo e dos frutos por um período de tempo maior, principalmente
quando mantidas sob refrigeração.

Conservação Pós-Colheita

Não existem informações disponíveis sobre a temperatura ideal de armazenamento para


cada um dos tipos de pimenta cultivados no Brasil. As pimentas são frutos tropicais e por
esta razão as temperaturas entre 7oC e 12oC são as mais indicadas para reduzir a
respiração e outros processos fisiológicos. Os maiores problemas das pimentas destinadas
ao consumo in natura são a rápida perda de água dos frutos, que resulta em murchamento,
e a descoloração do pedúnculo, que perde sua coloração verde característica. Estes dois
problemas reduzem o valor de mercado do produto e podem ser motivos de descarte na
comercialização. O armazenamento em temperaturas inferiores a 7oC pode causar injúria
por frio (‘chilling’) nos frutos, formando lesões deprimidas. Para evitar a perda acentuada de
água, é recomendável deixar os frutos com o pedúnculo e associar a refrigeração ao uso de
embalagens plásticas, que mantêm a umidade elevada. No caso de usar embalagens
plásticas (sacos de polietileno, filme de PVC ou caixinha tipo PET) e comercializar as
pimentas em temperatura ambiente (23-26oC), deve-se fazer alguns furos nas embalagens
para evitar a condensação de água no seu interior ou sobre os frutos de pimenta. Nesta
condição pode ocorrer o desenvolvimento de fungos no pedúnculo e na superfície dos frutos
após 2-3 dias, e comprometer a aparência dos frutos.

Os produtos embalados devem ter uma etiqueta ou rótulo identificador com algumas
informações básicas, como tipo de pimenta, data da embalagem e prazo de validade, e
nome e endereço do embalador. O prazo de validade varia de acordo com o tipo de
pimenta, embalagem utilizada e principalmente temperatura, sendo 5 dias para pimenta De
Cheiro e Bode em sacos plásticos perfurados mantidos a 23-25oC e até 10 dias para frutos
embalados em filmes de PVC mantidos a 12-15oC.. Em experimentos conduzidos na
Embrapa Hortaliças, as pimentas ‘Malagueta’, ‘De Cheiro’, ‘Cumari do Pará’, ‘Bode
Vermelha’, ‘Bode Amarela’ e ‘Dedo de Moça’ foram conservadas durante 30 dias a 8oC
acondicionadas em bandejas de isopor envoltas por filme de PVC (>90% UR). Na
Universidade Federal de Viçosa, determinou-se que a pimenta ‘Malagueta’ pode ser mantida
por até 30 dias a 12oC e 90% UR

As pimentas in natura possuem um mercado relativamente pequeno quando comparadas


com outras hortaliças, principalmente porque são usadas como temperos, em pequenas
quantidades. Ao mesmo tempo, a demanda é relativamente constante e o mercado cativo.
Por estas razões, é importante oferecer um produto de alta qualidade ao consumidor, com
frutos de tamanho e coloração padronizados e isento de resíduos de agrotóxicos.

Produção de sementes

A produção de sementes de pimentas pode ser desenvolvida nas mesmas regiões e sob as
mesmas condições de clima e solo recomendadas para a produção de frutos. É desejável,
entretanto, buscar uma época do ano com temperaturas e umidades relativas mais baixas,
para se evitar a elevada ocorrência de pragas e doenças. O clima ameno não prejudica a
produção e contribui para a obtenção de sementes de alta qualidade, com menores riscos
de perda de produção.

As pimentas têm flores perfeitas e reproduzem-se preferencialmente por autofecundação.


Entretanto, a quantidade de polinização cruzada natural pode variar com a cultivar e com
outros fatores ambientais, sendo a presença de insetos polinizadores o mais importante. O
isolamento dos campos de produção de sementes de diferentes cultivares deve respeitar
uma distância mínima de 300m para a classe fiscalizada. Na produção de sementes
híbridas, apesar da polinização artificial ser feita antes da abertura das flores femininas
maduras, recomenda-se manter a separação física de outros genótipos, devido ao risco de
contaminação genética por insetos (microhimenópteros) que perfuram botões florais
fechados em busca de pólen e néctar.

A área destinada à produção de sementes fiscalizadas deve variar de um mínimo de 0,2 a


um máximo de 2 hectares, ser de fácil acesso, bem localizada, plana ou suavemente
inclinada, arejada, de preferência não cultivada recentemente com outras Solanáceas. Deve
apresentar solo leve, profundo, bem drenado, ligeiramente ácido, rico em matéria orgânica
e nutrientes minerais, e estar livre de plantas daninhas, pragas e doenças limitantes para a
cultura de pimenta. O preparo do solo deve ser o mais bem feito possível, iniciando pelo
enterramento profundo dos restos da cultura anterior. O espaçamento entre fileiras pode
ser até 50% maior do que o comumente utilizado na produção de frutos, permitindo maior
facilidade na execução dos tratos culturais, maior espaço para a observação das plantas e
alteração do microclima em favor da cultura.

A semeadura deve ser feita com sementes de boa qualidade genética, física, fisiológica e
fitossanitária. As sementes devem ser semeadas em bandejas de isopor, com substrato
adequado para a produção de mudas. Quando as plântulas apresentarem de 4-6 folhas
verdadeiras podem ser transplantadas para local definitivo. O método de semeadura em
sacos plásticos também tem sido muito utilizado. O tratamento químico é uma prática
indispensável nesse momento, devendo-se utilizar fungicidas à base de iprodione, thiram,
captan, carboxim ou tiabendazol, na dose de 3g de produto comercial por quilo de
sementes. A profundidade da semeadura deve ser no máximo 1cm. São necessárias 100 a
150g de sementes para suprir a necessidade de mudas para um hectare.

Além dos tratos culturais normais, algumas práticas específicas podem ser aplicadas à
produção de sementes, para alcançar melhores resultados. O estaqueamento das plantas
evita o seu tombamento e garante níveis mais elevados de qualidade fitossanitária nas
sementes. A desbrota das primeiras ramas laterais contribui para ventilar o colo das plantas
e permite economizar energia para a formação das sementes. A eliminação de plantas
atípicas da mesma espécie ou de outras espécies silvestres e cultivadas deve ser efetuada
rigorosamente no início da floração e na pré-colheita. Para o controle de viroses, é
indispensável combater os pulgões e outros insetos vetores.

Na produção de sementes híbridas, a flor emasculada (sem as anteras) deve ser protegida
por saquinho de papel encerado ou rolete de papel alumínio, até o momento da polinização.
Esta deve ser efetuada de preferência em dias claros, de pouco vento e sobretudo no final
da manhã, para melhorar a eficiência de fertilização. Os saquinhos de papel devem voltar a
proteger as flores após a polinização.

Para algumas cultivares, a colheita pode ser iniciada aproximadamente aos 60 dias após o
florescimento ou quando mais de 80% dos frutos estiverem mudando de cor. Esta alteração
indica o atingimento do ponto de maturidade fisiológica das sementes, quando são
observados níveis máximos de germinação e vigor e níveis mínimos de deterioração.
Recomenda-se, nessa fase, o repouso dos frutos por três dias, a sombra e a temperatura
ambiente para uniformizar a maturação e facilitar a sua trituração. Sugere-se fazer
primeiramente a extração de sementes dos frutos mais maduros (coloração vermelha) e
posteriormente dos frutos que estão em repouso. Frutos imaturos, de coloração verde,
geralmente produzirão sementes menos vigorosas ou até inférteis. As principais
características a serem selecionadas e mantidas na fase de colheita, visando-se qualidade
total, são o tamanho e o formato característico dos frutos da cultivar, a ausência de defeitos
e a boa condição fitossanitária. A produtividade média é variável, sendo considerada normal
quando alcança 150 a 200kg de sementes por hectare.

A extração das sementes pode ser feita a seco ou por via úmida. O primeiro processo é
conduzido manualmente, sendo mais indicado para obtenção de sementes em pequena
escala. A extração via úmida é feita mecanicamente e requer equipamentos para o
esmagamento dos frutos, sendo mais utilizada em escala comercial.

O processo de secagem exige cuidados especiais. As sementes ainda úmidas devem ser
colocadas para secar a sombra, em ambiente fresco e ventilado, perdendo lentamente a
umidade superficial para o ambiente. A movimentação das sementes é desejável nessa fase
inicial. A temperatura não deve ultrapassar os 30ºC, sob pena de se danificar o sistema de
membranas das células embrionárias. Uma vez eliminada a umidade superficial, as
sementes devem ser transferidas para estufas elétricas reguladas a 38ºC, onde devem
permanecer de 24 a 48 horas até atingirem grau de umidade próximo a 6%.

A análise das sementes deve ser conduzida ‘sobre papel’, de acordo com as Regras para
Análise de Sementes – RAS do Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento -
MAPA. A condição recomendada é a manutenção por 16h a 20ºC e 8h a 30ºC. A primeira
contagem deve ser feita aos seis dias e a contagem final aos 14 dias após a instalação do
teste. Em caso de dormência, as RAS prescrevem umedecer o substrato inicialmente com
uma solução de nitrato de potássio (0,2%), em vez de água, ou fornecer luz por 8 a 16
horas.

A embalagem correta das sementes contribui para a preservação das qualidades originais
do lote, fazendo com que cheguem perfeitas ao destino e apresentem um bom desempenho
fisiológico na nova semeadura. As sementes de pimentas devem ser embaladas com grau
de umidade de 6%, em latas ou sacos de papel aluminizado contendo 100g do produto.
Nessa condição, o seu poder germinativo normalmente fica garantido pelo prazo de três
anos.
O armazenamento deve ser feito de preferência em ambiente frigorificado, com
temperatura próxima a 4ºC, se as sementes estiverem acondicionadas em embalagens
herméticas. Secas e resfriadas, as sementes reduzem o nível interno de atividade
metabólica, consomem menos energia através da respiração e mantém a sua viabilidade
por períodos mais prolongados.

Coeficientes técnicos

 Coeficientes técnicos, custos, rendimentos e rentabilidade

As pimentas do gênero Capsicum destacam-se como importantes produtos do agronegócio


brasileiro. Na pauta do comércio internacional de hortaliças, o volume das exportações
brasileiras atingiu 8.479 toneladas no valor de US$ 17.344 mil em 2004. Em contrapartida,
as importações foram de 641 toneladas no valor de US$ 1.403 mil. Desta forma, as
pimentas Capsicum beneficiaram a balança comercial brasileira com um superávit US$
15.941 mil. Comparando-se com o ano 2000, verifica-se que as exportações aumentaram
em volume (22,1%) e em valor (43,0%).

Em razão da elevada capacidade de geração de emprego e renda, principalmente para os


pequenos produtores, as pimentas Capsicum posicionam-se dentro da agricultura brasileira
como culturas de elevada importância socioeconômica.

Foi levantada a eficiência econômica de diferentes sistemas de produção de pimentas


Capsicum praticados por pequenos produtores de diferentes regiões do País. Foram
considerados os coeficientes técnicos e os custos de produção das pimentas mais
valorizadas pelo agronegócio brasileiro, como ‘Tabasco’, ‘Malagueta’, ‘Dedo-de-Moça’ (ou
‘pimentas vermelhas’, uma denominação regional) e ‘Jalapeño’. As informações foram
coletadas por pesquisadores e extensionistas diretamente nas áreas de produção de
Piracanjuba-GO (‘Malagueta’); Turuçu-RS (‘Dedo-de-Moça’); Ouvidor-GO (‘Jalapeño’); e
Crato-CE (‘Tabasco’). Levando-se em conta as informações sobre os coeficientes técnicos e
custos de produção, utilizou-se o método de orçamentação parcial para realização das
análises econômicas. Este método, comumente utilizado em análises de perfil, fornece os
indicadores econômicos básicos para uma cultura e, em geral, é aplicado em análises
estáticas comparativas de culturas ou ciclos de produção (PERRIN et al., 1985; SCOLARI et
al., 1985; SNODGRASS; WALLACE, 1993; LAIARD; GLAISTER, 1996; EMBRAPA, 2002;
ANDREWS; REGANOLD, 2004).

Os custos de produção de pimenta ‘Tabasco’ e ‘Jalapeño’ foram levantados em 2001. Nestes


sistemas operacionalizados por pequenos produtores, os custos de produção por hectare
são relativamente baixos, quando comparados aos custos de outras hortaliças. No sistema
de produção de pimenta ‘Tabasco’, o item que mais onerou os custos de produção são os
insumos (66,11%), principalmente os adubos químicos (33,4%) e as sementes (20%), que
em geral são importadas. O sistema de produção de pimenta ‘Jalapeño’ também tem os
custos de produção mais onerados pelos insumos (41,2%), apresentando maior peso na
composição dos custos operacionais os adubos químicos (19,3%) seguidos pelas mudas,
que em geral são adquiridas de produtores especializados.

Os sistemas de produção de pimenta ‘Dedo-de-Moça’ e ‘Malagueta’ foram levantados em


2002. Estes sistemas são conduzidos de maneira simples, com baixo nível tecnológico e os
custos variáveis de produção também são baixos, não chegando a R$ 4.000,00. A produção
da pimenta ‘Dedo-de-Moça’ tem os custos de produção mais onerados pela mão-de-obra
(60,8%). Esta pimenta é utilizada desidratada como pimenta seca do tipo “calabresa”. As
pimentas ‘Malagueta’ são muito utilizadas para a confecção de molhos e conservas. Os
pimentais são explorados por um período de dois anos. Tanto no primeiro como segundo
ano são empregadas tecnologias simples, os sistemas são intensivos em mão-de-obra,
sendo este o item que mais onera os custos no segundo ano (53,1%). No primeiro ano, os
insumos são o grupo que mais pesa na composição dos custos no primeiro ano de
exploração (47,2%). As sementes utilizadas na produção de mudas são colhidas nos
pimentais dos próprios produtores.

Os indicadores básicos fornecidos pelas análises econômicas permitem afirmar que todos os
sistemas são eficientes do ponto de vista técnico-econonômico. A rentabilidade das
pimentas em todos os sistemas foram maior do que 1, indicando que cada unidade
monetária (UM) aplicada na cultura retornou ao produtor em valores que variam de 1,72
UM para a pimenta ‘Tabasco’, alcançando até 2,24 UM para a pimenta ‘Malagueta’ no
segundo ano. No caso da ‘Malagueta’ cultivada no segundo ano, esta etapa representa a
exploração final do pimental e o produtor faz aplicações mínimas de insumos, sendo a mão-
de-obra para colheita e acondicionamento o fator mais intensivo. Desta forma, os custos
tornam-se mínimos e facilmente diluídos pela produtividade obtida, o que proporciona
elevada margem de lucro ao (55,3%) ao produtor. Observa-se pelo ponto de equilíbrio da
produção comercial que em todos os sistemas a produtividade apresentou significativa
capacidade de diluir os custos variáveis da produção, portanto os sistemas considerados,
apesar de empregar tecnologias simples, são todos eficientes do ponto de vista técnico-
econômico. Esses sistemas podem se tornar ainda mais lucrativos com a utilização de
materiais genéticos mais potentes associados à inovação da base técnica do produtor.

O cultivo de pimentas Capsicum deve ser recomendado para agricultura familiar como
alternativa de diversificação da produção. A exploração de pimentas Capsicum, além de
representar uma fonte importante de geração de emprego e renda na agricultura, são
produtos que agregam valor na forma processada e detém amplas oportunidades de
mercado, tanto na forma in natura como processada.

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