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meio ambiente e o
desenvolvimento:
1972–2002
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vinte anos depois. Na África do Sul, o apartheid ain- de uma conferência internacional sobre o meio ambi-
da vigorava e, na Europa, o Muro de Berlim ainda ente tenha sido até mesmo cogitada (pela Suécia, em
estava de pé. 1968) e, mais ainda, que ela efetivamente tenha sido
O mundo do início da década de 1970 era, por- realizada (em Estocolmo, em 1972). E é impressionante
tanto, extremamente polarizado, e de várias maneiras. que tal conferência tenha dado origem ao que posteri-
Com esse pano de fundo, é surpreendente que a idéia ormente ficaria conhecido como o “espírito de com-
promisso de Estocolmo”, em que representantes de
países desenvolvidos e em desenvolvimento busca-
“Uma das nossas principais responsabilidades nesta Conferência é produzir ram maneiras de conciliar os pontos de vista extrema-
uma declaração internacional sobre o meio ambiente humano; um documento
mente divergentes de cada um. A Conferência foi rea-
sem uma obrigação legal, mas – esperamos – com autoridade moral, que
inspire nos homens o desejo de viver em harmonia uns com os outros e com
lizada na Suécia, que havia sofrido sérios danos em
o seu meio ambiente.” — Professor Mostafa K. Tolba, chefe da Delegação do milhares de seus lagos, em conseqüência de chuvas
Egito na Conferência de Estocolmo, diretor- executivo do PNUMA 1975-93 ácidas resultantes da forte poluição atmosférica na
Europa Ocidental.
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• A Conferência expressou o direito das pessoas • 1971: Convenção sobre Zonas Úmidas de Impor-
de viverem “em um ambiente de qualidade que tância Internacional especialmente como Habitat
permita uma vida com dignidade e bem-estar”. A de Aves Aquáticas (Ramsar);
partir de então, várias organizações, incluindo a • 1972: Convenção sobre a Proteção do Patrimônio
Organização da Unidade Africana (OUA) e cerca Mundial Cultural e Natural (Patrimônio Mundial);
de 50 governos ao redor do mundo, adotaram ins- • 1973: Convenção sobre o Comércio Internacional
trumentos ou dispositivos constitucionais reco- das Espécies da Fauna e Flora Selvagens em Peri-
nhecendo o meio ambiente como um direito hu- go de Extinção (CITES); e
mano fundamental (Chenje, Mohamed-Katerere e • 1979: Convenção sobre a Conservação das Espé-
Ncube, 1996). cies Migratórias de Animais Silvestres (CMS).
• Muitas legislações nacionais sobre o meio ambi-
ente seguiram-se a Estocolmo. Entre 1971 e 1975,
31 importantes leis ambientais em âmbito nacio- A Convenção de Ramsar
nal foram aprovadas em países da Organização A Convenção de Ramsar é anterior à Conferência de
para a Cooperação e o Desenvolvimento Econô- Estocolmo, já que foi aberta a assinaturas em 1971. A
mico (OCDE), em comparação com somente 4 no Convenção, que entrou em vigor dois anos após a Con-
período entre 1956 e 1960, 10 de 1960 a 1965 e 18 venção em Estocolmo, contava com 130 partes em de-
entre 1966 e 1970 (Long, 2000). zembro de 2001. Ela foi desenvolvida principalmente a
• O meio ambiente passou a existir ou entrou na
lista de prioridades de várias agendas nacionais e
partir de atividades realizadas por ONGs na década de
1960 preocupadas com a proteção dos pássaros e de
regionais. Por exemplo, antes da Conferência de seu habitat. Embora o foco inicial da Convenção fosse
Estocolmo, havia apenas 10 ministérios do meio a conservação de aves aquáticas e de seus habitats,
ambiente no mundo; em 1982, cerca de 110 países hoje ela trata da qualidade da água, da produção de
possuíam ministérios ou departamentos respon- alimentos, da biodiversidade geral e de todas as zonas
sáveis por essa pasta (Clarke e Timberlake, 1982). úmidas, incluindo zonas costeiras de água salgada.
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As partes são obrigadas a listar ao menos uma Galápagos no início de 2001, colocando várias espéci-
zona úmida de importância, estabelecer reservas na- es e seus habitats em perigo, mostra que os sistemas de
turais, ter bom senso na utilização dessas áreas, in- gestão ambiental talvez nunca cheguem a ser infalíveis.
centivar o aumento de populações de aves aquáticas
em zonas úmidas apropriadas e fornecer informações
sobre a implementação de políticas relacionadas a es- A CITES
sas zonas. Há hoje mais de 1.100 áreas, cobrindo 87,7 Durante a Conferência de Estocolmo, foi relatado que
milhões de hectares, designadas como sítios Ramsar, mais de 150 espécies de aves e animais já haviam sido
melhorando a conservação da fauna silvestre em dife- exterminadas e que cerca de outras mil espécies se
rentes regiões (Ramsar Convention Bureau, 2001). encontravam ameaçadas de extinção (Comissão para
Estudar a Organização da Paz, 1972). Uma Comissão
“Todos os povos têm direito a um meio ambiente geral satisfatório, propício da Organização das Nações Unidas recomendou a
ao seu desenvolvimento.” — Carta Africana dos Direitos Humanos e dos imediata identificação de espécies ameaçadas de
Povos, 27 de junho de 1981 extinção, a conclusão de acordos adequados, a cria-
ção de instituições que cuidassem da conservação da
fauna e da flora silvestres e a regulamentação do co-
A Convenção do Patrimônio Mundial mércio internacional de espécies em perigo de extinção.
A Convenção do Patrimônio Mundial, negociada em A recomendação da Comissão basicamente
1972, é administrada pela Organização das Nações endossava uma resolução, de 1963, de membros da
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura União Internacional para a Conservação da Natureza
(Unesco). A Convenção contava com 161 Partes em (UICN), o que delineou a redação da Convenção CI-
meados de 2001. Desde 1972, quando as Ilhas TES. A Convenção, que foi adotada em 1973 e entrou
Galápagos foram colocadas sob a égide da Unesco em vigor dois anos depois, controla e/ou proíbe o
como uma “universidade natural de espécies únicas”, comércio internacional de espécies ameaçadas de
até dezembro de 2001, um total de 144 sítios em dife- extinção, o que inclui cerca de 5 mil espécies animais e
rentes regiões haviam sido designados sítios de 25 mil espécies de plantas (CITES Secretariat, 2001).
patrimônio natural. Outros 23 sítios foram considera- Controvérsias em relação a espécies de maior desta-
dos como sendo de importância natural e cultural que, como o elefante africano e as baleias, com fre-
(Unesco, 2001). O impacto da Convenção trouxe mai- qüência desviam a atenção do que foi feito em prol de
or consciência sobre a importância desses sítios tan- outras espécies.
to para as atuais como para as futuras gerações. No
entanto, o derramamento de petróleo perto das Ilhas
Outras realizações
“As pessoas não se satisfazem mais apenas com declarações. Elas exigem
Em termos de ações tangíveis, a Conferência de Esto-
ações firmes e resultados concretos. Esperam que, ao identificar um
problema, as nações do mundo tenham vitalidade para agir.” — colmo parece ter conseguido muito. Embora muitas
Primeiro-ministro sueco Olof Palme, cujo país sediou a Conferência de das suas 109 recomendações ainda não tenham sido
Estocolmo, 1972 aplicadas, elas servem – hoje em dia tanto quanto an-
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lo sem violar os limites externos dos recursos e do dial. Infelizmente, as imagens fornecidas pelo
meio ambiente do planeta. Landsat nos últimos trinta anos também mostram
• Os seres humanos têm necessidades básicas: ali- que a atitude geral ainda não mudou o suficiente
mentação, abrigo, vestimentas, saúde, educação. (ver fotos da página 7).
Qualquer processo de crescimento que não leve à Em termos de mudanças climáticas, a preo-
sua realização – ou pior, que a impeça – é uma cupação cada vez maior com o aquecimento global
paródia da idéia de desenvolvimento. (em 1896, o cientista sueco Svante Arrhenius ha-
• Precisamos todos redefinir nossos objetivos, ou via alertado o mundo sobre o “efeito estufa”) le-
novas estratégias de desenvolvimento, ou novos vou à realização da primeira Conferência Mundial
modos de vida, incluindo um padrão mais modes- sobre o Clima, em Genebra, em fevereiro de 1979
to de consumo entre os ricos. (Centre for Science and Environment, 1999). Du-
rante a Conferência, chegou-se à conclusão de que
A Declaração de Cocoyoc termina assim: emissões antropogênicas de dióxido de carbono
podem causar efeitos a longo prazo sobre o clima.
“O caminho à frente não se encontra no O Programa Mundial do Clima (WCP) foi estabele-
desespero pelo fim dos tempos nem em um cido no ano seguinte, proporcionando uma estru-
otimismo fácil resultante de sucessivas so- tura para cooperação internacional em pesquisas
luções tecnológicas. Ele se encontra na e a base para a identificação de questões climáti-
avaliação cuidadosa e imparcial dos ‘limi- cas importantes ocorridas nas décadas de 1980 e
tes externos’, na busca conjunta por mei- 1990, como a destruição da camada de ozônio e o
os de alcançar os ‘limites internos’ dos di- aquecimento global.
reitos humanos fundamentais, na constru-
ção de estruturas sociais que expressem
esses direitos e no trabalho paciente de A década de 1980: definindo o
elaborar técnicas e estilos de desenvolvi- desenvolvimento sustentável
mento que aprimorem e preservem o nos-
so patrimônio terrestre.” Os principais eventos políticos da década de 1980 fo-
ram o colapso do Bloco Oriental e o fim de um mundo
Essa visão do caminho a seguir refletiu-se bipolarizado, construído sobre o equilíbrio de pode-
nas novas imagens detalhadas do planeta que sur- res entre o Ocidente, de um lado, e os países comunis-
giram na década de 1970 como resultado do lança- tas e seus respectivos aliados em países em desen-
mento do satélite Landsat em julho de 1972 pelos volvimento, de outro. As mudanças resultantes de
Estados Unidos. Tais imagens foram sem dúvida reformas e da Perestroika no Bloco Soviético segui-
determinantes para a mudança de atitude das pes- ram-se a anos de um crescimento econômico aparen-
soas em relação ao estado do meio ambiente mun- temente forte e enormes investimentos militares.
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Em 1990, ao
menos 900
milhões de
pessoas em áreas
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África, Ásia e
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soas carentes passou a residir em centros urbanos. das adotou a Carta Mundial da Natureza (World
Com o aumento da população urbana, a infra-estrutu- Charter for Nature), chamando a atenção para o valor
ra física das cidades começou a ficar sobrecarregada e intrínseco das espécies e dos ecossistemas (UN, 1982).
sem condições de atender à demanda. Além das novas descobertas, a década de 1980
também presenciou uma série de eventos catastrófi-
Novas questões e novos desastres cos que marcou de forma permanente tanto o meio
Medições relativas ao tamanho do buraco na camada ambiente quanto a compreensão da sua ligação com a
de ozônio realizadas por pesquisadores britânicos e condição humana. Em 1984, um vazamento de gases
publicadas pela primeira vez em 1985 (Farnham, letais da fábrica Union Carbide deixou um saldo de 3
Gardiner e Shanklin, 1985) causaram surpresa tanto mil mortos e 20 mil feridos em Bhopal, na Índia
no mundo científico quanto na esfera política. O rela- (Diamond, 1985). No mesmo ano, mais de um milhão
tório Global 2000 reconheceu pela primeira vez que a de pessoas morreram de fome na Etiópia. Em 1986, o
extinção das espécies ameaçava a biodiversidade como mundo presenciou o seu pior desastre nuclear quan-
componente essencial dos ecossistemas terrestres (US do um reator da usina nuclear de Chernobyl explodiu
Government, 1980). Como a interdependência entre o na Ucrânia, república da União Soviética. O derrama-
meio ambiente e o desenvolvimento se tornava cada mento de 50 milhões de litros de petróleo no Canal
vez mais óbvia, a Assembléia Geral das Nações Uni- Príncipe William, no Alasca, causado pelo petroleiro
Exxon Valdez em março de 1989, mostrou que nenhu-
Carta Mundial da Natureza: princípios gerais ma área, por mais remota e “intacta” que seja, está a
salvo do impacto causado pelas atividades humanas.
A viabilidade genética da Terra não deve ser comprometida; os
níveis populacionais de todas as formas de vida, silvestres e
domesticadas, devem ser ao menos suficientes para a sua
sobrevivência e, com essa finalidade, os habitats necessários devem A Estratégia de Conservação Mundial
ser protegidos. Os eventos mencionados acima confirmaram que as
Todas as áreas do planeta, tanto terrestres quanto marítimas,
questões ambientais são sistêmicas e que lidar com
devem estar sujeitas a esses princípios de conservação; uma elas requer estratégias a longo prazo, ações integra-
proteção especial deve ser dada a áreas singulares, a amostras das e a participação de todos os países e todos os
representativas de todos os diferentes tipos de ecossistema e ao
membros da sociedade. Essa noção se refletiu na Es-
habitat de espécies raras e ameaçadas de extinção.
tratégia de Conservação Mundial (World Conser-
Os ecossistemas e organismos, assim como os recursos terrestres, vation Strategy – WCS), um dos documentos mais
marinhos e atmosféricos usados pelo homem, devem ser importantes que ajudaram a redefinir o ambientalismo
manejados de forma a alcançar e manter uma produtividade
sustentável e em condições favoráveis, desde que não após a Conferência de Estocolmo. Lançada em 1980
comprometam a integridade dos outros ecossistemas ou espécies pela União Internacional para a Conservação da Na-
com os quais coexistem. tureza (UICN), a Estratégia reconhece que a aborda-
A natureza deve ser protegida da degradação causada por guerras e gem de problemas ambientais requer um esforço a lon-
outras atividades hostis. go prazo e a integração entre objetivos ambientais e
Fonte: UN, 1982 relacionados ao desenvolvimento.
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A Estratégia sugeriu que os governos das di- “Esse é o tipo de desenvolvimento que proporciona melhorias reais na
ferentes partes do mundo criassem suas próprias es- qualidade da vida humana e ao mesmo tempo conserva a vitalidade e a
tratégias nacionais de conservação, de acordo com diversidade da terra. O objetivo é um desenvolvimento que seja sustentável.
um dos objetivos da Conferência de Estocolmo, o de Hoje isso pode parecer visionário, mas é um objetivo alcançável. Para um
incorporar o meio ambiente ao planejamento do de- número cada vez maior de pessoas, essa também parece ser a única opção
senvolvimento. Desde 1980, mais de 75 países inicia- sensata.” — Estratégia de Conservação Mundial – IUCN, UNEP e WWF, 1980
ram estratégias multissetoriais nos níveis nacional,
estadual e local (Lopez Ornat, 1996). Essas estratégias (Our Common Future), definiu o desenvolvimento
são destinadas a tratar de problemas ambientais como sustentável como sendo “o desenvolvimento que
a degradação da terra, a conversão e a perda de habitat, atende às necessidades das gerações presentes sem
o desmatamento, a poluição da água e a pobreza. comprometer a capacidade de gerações futuras de
suprir suas próprias necessidades”, tornando-se par-
te do léxico ambiental (CMMAD, 1987).
Comissão Mundial sobre o Meio A Comissão enfatizou problemas ambientais
Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) como o aquecimento global e a destruição da camada
No entanto, passar a mensagem de que o meio am- de ozônio, conceitos novos para a época, e expressou
biente e o desenvolvimento são interdependentes preocupação em relação ao fato da velocidade das mu-
requeria um processo que tivesse autoridade e cre- danças estar excedendo a capacidade das disciplinas
dibilidade em ambos os hemisférios, em governos e científicas e de nossas habilidades atuais de avaliar e
no setor empresarial, em organizações internacio- aconselhar. A Comissão concluiu que os arranjos
nais e na sociedade civil. Em 1983, a Comissão Mun- institucionais e as estruturas de tomada de decisões
dial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento existentes, tanto em âmbito nacional quanto no inter-
(CMMAD), também conhecida como a Comissão nacional, simplesmente não comportavam as deman-
Brundtland, foi criada para realizar audiências ao das do desenvolvimento sustentável (WCED, 1987).
redor do mundo e produzir um relatório formal com
suas conclusões. “A década atual (1980) tem sido marcada por
O relatório foi publicado após três anos de um retrocesso das preocupações sociais. Ci-
audiências com líderes de governo e o público em entistas chamam a nossa atenção em relação
geral no mundo todo sobre questões relacionadas ao a problemas urgentes e complexos que di-
meio ambiente e ao desenvolvimento. Reuniões pú- zem respeito à nossa sobrevivência: o aque-
blicas foram realizadas tanto em regiões desenvolvi- cimento global, ameaças à camada de ozônio
das quanto nas em desenvolvimento, e o processo da Terra, desertos avançando sobre terras
possibilitou que diferentes grupos expressassem seus cultiváveis. preparadas para lidar com eles.
pontos de vista em questões como agricultura, silvi- Respondemos exigindo mais detalhes e pas-
cultura, água, energia, transferência de tecnologias e sando os problemas a instituições mal pre-
desenvolvimento sustentável em geral. O relatório fi- paradas para lidar com eles” (WCED, 1987).
nal da Comissão, intitulado “Nosso Futuro Comum”
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Assim foi semeado um maior envolvimento com cas passaram a ser campos de estudo legítimos e reco-
questões relacionadas ao meio ambiente e ao desen- nhecidos, desenvolvendo suas próprias teorias, mas
volvimento. Como sinal do fortalecimento do setor também provando sua validade em contextos reais.
não-governamental, várias organizações novas foram O meio ambiente e a sustentabilidade ainda não
formadas. Na Europa, partidos verdes ingressaram na figuravam muito nos princípios e especialmente na
arena política, e a associação a organizações ambientais prática de assistência bilateral. Um dos primeiros si-
de base cresceu rapidamente. nais de mudança foi a instituição de um Comitê de
Ajuda ao Desenvolvimento em 1987 pela OCDE, res-
ponsável por estabelecer critérios para a integração
Envolvendo outros atores do meio ambiente e do desenvolvimento em progra-
Seguindo-se aos acidentes industriais da década de mas de assistência ao desenvolvimento.
1980, a pressão sobre grandes empresas aumentou. A conclusão do Protocolo de Montreal em 1987
Em 1984, o PNUMA participou da organização da foi considerada como um modelo promissor de coo-
Conferência Mundial da Indústria sobre a Gestão do peração entre os hemisférios norte e sul, os governos
Meio Ambiente (WICEM), e no mesmo ano o setor e o setor empresarial, no tratamento de questões
químico do Canadá criou o programa Atuação Res- ambientais globais. Lidar com a destruição da camada
ponsável (Responsible Care), uma das primeiras ten- de ozônio, no entanto, mostrou ser menos complica-
tativas de se proporcionar um código de conduta para do do que lidar com outras questões ambientais que
uma gestão ambiental saudável no setor empresarial. se apresentariam na década de 1980, mais especifica-
Ao final da década, o conceito de ecoeficiência esta- mente as mudanças climáticas.
va sendo introduzido na indústria como uma forma
de, simultaneamente, reduzir o impacto ambiental e
aumentar a rentabilidade. Embora esses interesses em Painel Intergovernamental de Mudanças
geral não fossem compartilhados por empresas que Climáticas
tinham base em países em desenvolvimento, já se de- Em 1989, o Painel Intergovernamental de Mudanças
batiam as implicações da migração de indústrias para Climáticas (IPCC, em inglês) foi criado com três gru-
“paraísos de poluição” no Hemisfério Sul. pos de trabalho concentrados na avaliação científica
Ficou claro que um número cada vez maior de das mudanças climáticas, nos impactos ambientais e
atores teria de lidar com as dimensões ambientais de socioeconômicos e em estratégias de resposta, ante-
atividades que anteriormente não eram vistas como ten- cipando os vários desafios a serem enfrentados pela
do implicações ambientais, e houve um crescente inte- humanidade no início da última década do milênio. O
resse acadêmico sobre o assunto. O meio ambiente e o IPCC, criado pelo PNUMA e pela Organização
desenvolvimento tornaram-se matérias legítimas de es- Meteorológica Mundial (OMM), ajudou a se chegar a
tudo em disciplinas sociais e naturais já estabelecidas, um consenso sobre a ciência, os impactos sociais e as
e novas disciplinas foram criadas para lidar com ques- melhores respostas ao aquecimento global resultante
tões multidisciplinares. Economia ambiental, engenha- da ação humana. O IPCC contribuiu muito para a com-
ria ambiental e outras matérias anteriormente periféri- preensão pública dos perigos do aquecimento global,
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em especial nos países industrializados. Em vários “Os povos indígenas são a base do que poderia ser chamado de sistema de
países em desenvolvimento, onde os estudos sobre o segurança ambiental. Para muitos de nós, no entanto, os últimos séculos
clima são raros e praticamente não há especialistas no significaram uma grande perda de controle sobre nossas terras e águas.
tema, as mudanças climáticas não são vistas da mesma Ainda somos os primeiros a sentir as mudanças no meio ambiente, mas
forma. Essa situação levou algumas organizações des- agora somos os últimos a ser questionados ou consultados sobre o assunto.”
sas regiões a protestarem contra “uma enorme — Louis Bruyère, presidente do Native Council do Canadá, audição pública
da CMMAD, Ottawa, Canadá, Maio de 1986
disparidade entre a participação dos hemisférios norte
e sul. ... Países do hemisfério sul não possuem progra-
mas nacionais coordenados sobre o clima, contam com iniciativa legal que compreende várias questões marí-
poucos climatologistas, e praticamente não detêm ne- timas, incluindo a proteção ambiental. As suas cláu-
nhum dado para elaborar projeções climáticas a longo sulas ambientais incluem:
prazo” (Centre for Science and Environment, 1999).
• a extensão do direito de soberania sobre recursos
marinhos, como peixes, a uma zona econômica
Acordos ambientais multilaterais exclusiva (ZEE) de 200 milhas náuticas;
Alguns dos Acordos Ambientais Multilaterais (Mul-
tilateral Environmental Agreements – MEAs) mais
• a obrigação de adotar medidas para gerir e con-
servar os recursos naturais;
importantes da década de 1980 são os seguintes: • o dever de cooperar regional e globalmente em
aspectos como a proteção ambiental e pesquisas
• a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito relativas a essa proteção;
do Mar (CNUDM), de 1982; • o dever de reduzir ao mínimo a poluição marinha,
• o Protocolo de Montreal sobre Substâncias que incluindo aquela gerada em terra; e
Destroem a Camada de Ozônio, de 1987
(implementando a Convenção de Viena para a
• restrições a despejo de dejetos no mar por navios.
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Bombeiros tentando
apagar um poço de
petróleo em chamas
no Kuwait em 1991.
pada: cerca de 67 milhões de toneladas de petróleo na Índia (IFRC, 2000). Segundo informações da Federação
foram queimadas, produzindo cerca de 2,1 milhões de Internacional da Cruz Vermelha e Sociedades do Crescen-
toneladas de fuligem e 2 milhões de toneladas de te Vermelho, pesquisa realizada em 1995 em 53 países reve-
dióxido de enxofre (Bennett, 1995). lou uma redução de 15% nas despesas com saúde por
Em outras regiões, embora o progresso tecnológico pessoa, após ajustes econômicos estruturais.
transformasse a sociedade industrializada, poucos países Em 1997, já no final do século XX, cerca de 800
em desenvolvimento estavam se beneficiando com isso. milhões de pessoas (quase 14% da população mundi-
O número de mortes causadas por doenças infecciosas al) não só passavam fome como não sabiam ler ou
(como Aids, malária, doenças respiratórias e diarréia) foi escrever, habilidades essenciais para o desenvolvi-
160 vezes maior do que o número de pessoas mortas em mento sustentável (Unesco, 1997).
conseqüência de desastres naturais em 1999, incluindo Em termos de gestão governamental, os even-
terremotos na Turquia, enchentes na Venezuela e ciclones tos do final da década de 1980 continuavam a influen-
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“A solução não pode implicar a interdição ao desenvolvimento daqueles pareceu à Rio-92 – 176 governos (UN, 1993), mais de
que mais precisam dela; o fato é que tudo o que contribui para o 100 chefes de Estado, contra apenas dois que compa-
subdesenvolvimento e a pobreza é uma violação patente à ecologia.” receram à Conferência de Estocolmo (Haas, Levy e
— Presidente cubano Fidel Castro, Rio-92, 1992 Parson, 1992), cerca de 10 mil delegados, 1.400 organi-
zações não-governamentais (ONGs) e aproximadamen-
ciar o desenvolvimento político em todo o mundo. te 9 mil jornalistas (Demkine, 2000). A Rio-92 ainda é a
Nenhuma região ficou imune: as ditaduras e os regi- maior reunião do gênero já realizada. Antes da Cúpula
mes militares foram derrubados na África e na Améri- propriamente dita, as preparações em âmbito nacio-
ca Latina, e, em alguns países da Europa, governos de nal, sub-regional, regional e global também envolve-
partido único foram relegados à oposição por um elei- ram a participação de centenas de milhares de pesso-
torado ávido por mudanças. As pessoas haviam co- as em todo o mundo, garantindo que suas vozes fos-
meçado a exercer seu direito de eleger seus líderes e sem ouvidas. Organizações regionais e sub-regionais,
exigir prestação de contas. Embora radicais, essas como a Associação das Nações do Sudeste Asiático
mudanças em relação aos regimes governamentais ti- (ASEAN), a Organização da Unidade Africana, a União
veram pouco impacto imediato sobre o meio ambiente Européia e várias outras, desempenharam um papel
na maioria dos países. Nos países da antiga União importante tanto antes quanto durante a Rio-92 e con-
Soviética, no entanto, a recessão econômica ajudou a tinuam a fazê-lo na implementação da Agenda 21, o
diminuir as emissões poluentes e o consumo de ener- plano de ação que resultou da Conferência.
gia. Resta saber se tais efeitos serão permanentes. A Rio-92 produziu ao menos sete grandes
No âmbito institucional, as idéias que tomaram resultados:
forma no final da década de 1980, como a participação
de múltiplos grupos de interesse e uma maior • a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e De-
senvolvimento (contendo 27 princípios);
responsabilização em relação a questões ambientais e
sociais, ganharam maior dimensão com uma série de • a Agenda 21 – um plano de ação para o meio am-
biente e o desenvolvimento no século XXI;
eventos internacionais. O primeiro desses eventos foi
uma conferência ministerial sobre o meio ambiente re- • duas grandes convenções internacionais – a Con-
venção-Quadro das Nações Unidas sobre Mu-
alizada em Bergen, na Noruega, em maio de 1990, onde
tais idéias foram formalmente apoiadas pela primeira dança do Clima (UNFCCC) e a Convenção sobre
vez. Essa conferência foi convocada como uma pre- Diversidade Biológica (CDB);
paração para a Conferência das Nações Unidas para • a Comissão de Desenvolvimento Sustentável
(CDS);
Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), tam-
bém conhecida como Cúpula da Terra, ou Rio-92), re- • um acordo para negociar uma convenção mundial
sobre a desertificação; e
alizada em junho de 1992 no Rio de Janeiro, Brasil.
• a declaração de Princípios para o Manejo Susten-
tável de Florestas.
A Cúpula da Terra, ou RIO-92
Um número sem precedentes de representantes de Os Princípios do Rio reafirmaram as questões
Estado, da sociedade civil e do setor econômico com- que haviam sido formuladas em Estocolmo, vinte anos
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antes, colocando os seres humanos no centro das “Independente das resoluções que se tomem ou se deixem de tomar em uma
preocupações relacionadas ao desenvolvimento sus- conferência como essa, nenhuma melhoria ambiental genuína e duradoura
tentável, ao declarar que os seres humanos “têm o pode acontecer sem um envolvimento local em escala global.” — Presidente
direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia da Islândia, Vigdís Finnbogadóttir, Rio-92, 1992
com a natureza”.
A Rio-92 proporcionou um fórum para abor- Agenda 21
dar questões relacionadas tanto ao meio ambiente
A Agenda 21 estabelece uma base sólida para a promoção do
quanto ao desenvolvimento e para enfatizar os dife- desenvolvimento em termos de progresso social, econômico e
rentes pontos de vista dos hemisférios norte e sul. ambiental. A Agenda 21 tem quarenta capítulos, e suas recomendações
Após a Conferência, o desenvolvimento sustentá- estão divididas em quatro áreas principais:
vel ganhou vida própria, impondo-se nas delibera- Questões sociais e econômicas como a cooperação internacional
ções de organismos, desde conselhos municipais a para acelerar o desenvolvimento sustentável, combater a pobreza,
mudar os padrões de consumo, as dinâmicas demográficas e a
organizações internacionais. Mais de 150 países cri- sustentabilidade, e proteger e promover a saúde humana.
aram instituições nacionais para desenvolver uma Conservação e manejo dos recursos visando o desenvolvimento,
abordagem integrada ao desenvolvimento sustentá- como a proteção da atmosfera, o combate ao desmatamento, o
combate à desertificação e à seca, a promoção da agricultura
vel – embora em alguns países os conselhos nacio- sustentável e do desenvolvimento rural, a conservação da
nais de desenvolvimento sustentável tivessem uma diversidade biológica, a proteção dos recursos de água doce e dos
natureza mais política do que substancial (Myers e oceanos e o manejo racional de produtos químicos tóxicos e de
resíduos perigosos.
Brown, 1997). Uma grande variedade de setores da Fortalecimento do papel de grandes grupos, incluindo mulheres,
sociedade civil tem hoje envolvimento com a criação crianças e jovens, povos indígenas e suas comunidades, ONGs,
de agendas e estratégias. Mais de 90% deles foram iniciativas de autoridades locais em apoio à Agenda 21, traba-
lhadores e seus sindicatos, comércio e indústria, a comunidade
criados em decorrência da Rio-92, a maioria em paí- científica e tecnológica e agricultores.
ses em desenvolvimento. Meios de implementação do programa, incluindo mecanismos e
A ênfase dada ao desenvolvimento sustentá- recursos financeiros, transferência de tecnologias ambien-
talmente saudáveis, promoção da educação, conscientização pú-
vel também teve um impacto considerável tanto em blica e capacitação, arranjos de instituições internacionais,
instrumentos legais quanto nas instituições respon- mecanismos e instrumentos legais internacionais e informações
sáveis por eles. A CITES, por exemplo, que já se afas- para o processo de tomada de decisões.
tava do enfoque clássico de conservação, direcionou
seu enfoque a uma abordagem que equilibra a conser-
vação e o uso sustentável. A aplicação prática do uso
sustentável na CITES provocou um debate substan- blicação “Cuidando do Planeta Terra: uma estratégia
cial e acalorado durante toda a década. para o futuro da vida” (Caring for the Earth: a Stratey
for Sustainable Living, IUCN, UNEP e WWF, 1991). A
Agenda 21 é hoje um dos instrumentos sem validade
Agenda 21 legal mais importantes e influentes no campo do meio
A Agenda 21 é um plano de ação parcialmente basea- ambiente, servindo como base de referência para o
do em uma série de contribuições especializadas de manejo ambiental na maior parte das regiões do mun-
governos e organismos internacionais, incluindo a pu- do (ver box acima).
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nais. A Convenção estabelece três objetivos princi- julho de 1996 (Centre for Science and Environment,
pais: a conservação da diversidade biológica, o uso 1999). Apesar do sucesso da Convenção, as negocia-
sustentável dos seus componentes e a divisão justa e ções que precederam a sua adoção foram em geral um
eqüitativa dos benefícios provenientes do uso dos tanto quanto amargas (ver box).
recursos genéticos. Várias questões relativas à
biodiversidade são abordadas, como a preservação
de habitats, os direitos de propriedade intelectual, a A Convenção das Nações Unidas de
biossegurança e os direitos dos povos indígenas. Combate à Desertificação
A Convenção é um marco importante no direi- Embora as negociações só tivessem se completado
to internacional, respeitada por sua abordagem em 1994, o processo de elaboração da Convenção
abrangente, com base na noção de ecossistemas para das Nações Unidas de Combate à Desertificação
a proteção da biodiversidade. O Tratado foi ampla e (CCD) teve início na Rio-92. No entanto, sua história
rapidamente aceito – em dezembro de 2001, um total remonta à década de 1970. A Convenção entrou em
de 182 governos já havia ratificado o acordo. Um acor- vigor em 1996 e contava com 177 partes em dezembro
do suplementar à Convenção, o Protocolo de de 2001. A CCD foi descrita como uma “enteada da
Cartagena sobre Biossegurança, foi adotado em ja- Rio-92” (Centre for Science and Environment, 1999),
neiro de 2000 para tratar dos riscos em potencial cau- porque não recebeu a mesma atenção que a UNFCCC
sados pelo comércio transfronteiriço e pela liberação e a CDB. As nações industrializadas se opuseram à
acidental de organismos geneticamente modificados. CCD porque não se dispunham a aceitar nenhuma
A adoção do Protocolo de Biossegurança é um suces- responsabilidade financeira pela interrupção do pro-
so para os países em desenvolvimento que o requisi- cesso de desertificação, que não é visto como um
taram. O Protocolo já havia sido assinado por 103 Par- problema mundial (Centre for Science and
tes e ratificado por 9 em dezembro de 2001. A CDB Environment, 1999). Projeções indicaram que um es-
também influenciou a decretação de uma lei que bus- forço mundial de vinte anos para combater a
ca regulamentar os recursos genéticos nas nações desertificação custaria de US$ 10 bilhões a US$ 22
participantes do Pacto Andino – Bolívia, Colômbia, bilhões por ano, mas os países financiadores contri-
Equador, Peru e Venezuela. A lei entrou em vigor em buíram com uma quantia mísera de US$ 1 bilhão em
1991 para o controle da desertificação no mundo
O papel de países em desenvolvimento (Centre for Science and Environment, 1999).
nas negociações da CDB Embora a CCD receba um apoio financeiro
Descontente com a versão inicial do CDB em modesto em comparação à UNFCCC e à CDB, a con-
novembro de 1991, o Centro Sul, com sede em venção se distingue por dois motivos:
Genebra, incitou os países em desenvolvimento a
rejeitar essa versão e insistiu que qualquer
negociação sobre a biodiversidade deve ser • Endossa e utiliza uma abordagem “de baixo para
associada a uma negociação sobre biotecnologia e, cima” (bottom-up) em relação à cooperação mun-
de forma mais geral, aos direitos de propriedade dial para o meio ambiente. Pelos termos da CCD,
intelectual. Essa tendência de privatização do
conhecimento e dos recursos genéticos representa
as atividades relacionadas ao controle e à
uma séria ameaça ao desenvolvimento do mitigação da desertificação e de seus efeitos de-
Hemisfério Sul e deve ser combatida. vem estar sintonizadas com as necessidades e a
Durante as negociações, o Sul:
participação de usuários locais das terras e de
organizações não-governamentais.
enfatizou a soberania nacional sobre os • A Convenção possui anexos regionais detalha-
recursos naturais; dos, por vezes mais que o próprio corpo da Con-
pediu que a transferência de tecnologia aos venção. Esses anexos abordam as particularida-
países em desenvolvimento fosse feita de forma
preferencial;
des do problema da desertificação em regiões es-
exerceu pressão para que a CDB tivesse pecíficas como a África, a América Latina e o
supremacia sobre outras instituições, como a Caribe e o Norte do Mediterrâneo (Raustiala, 2001).
Organização Mundial da Propriedade Intelectual
(OMPI) e o Acordo Geral sobre Tarifas e
Comércio (GATT); e O compromisso mais importante e central da
pediu o desenvolvimento de um protocolo sobre CCD é a obrigação de desenvolver “programas de ação
biossegurança.
nacional” em conjunto com grupos de interesse lo-
Fonte: Centre for Science and Environment, 1999 cais. Esses programas delineiam as tarefas que as par-
INTEGRAÇÃO ENTRE O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO: 1972-2002
20
Mandato da Comissão de Desenvolvimento Sustentável ticas econômicas, sociais e ambientais – uma exigên-
cia do desenvolvimento sustentável já expressa pela
A CDS foi instaurada em dezembro de 1992 sob os auspícios do Comissão Brundtland – continua a se colocar como
Conselho Econômico e Social das Nações Unidas. Composta por 53 um desafio para instituições em todos os níveis.
membros eleitos com mandato de três anos, a Comissão se reúne
anualmente durante o período de duas a três semanas. A primeira
reunião realizou-se em junho de 1993. De forma geral, o papel da
Comissão é o de: Rio + 5
examinar o progresso alcançado em âmbito internacional, Cinco anos após a Rio-92, a comunidade internacio-
regional e nacional na implementação de recomendações e nal convocou uma nova cúpula chamada Rio + 5 para
compromissos contidos nos documentos finais da UNCED rever os compromissos empreendidos no Rio de Ja-
Agenda 21, Declaração do Rio Sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento e Declaração de Princípios sobre o Uso das neiro em 1992. Durante o encontro, realizado em Nova
Florestas; York, houve uma preocupação em relação à lenta
elaborar diretrizes e opções para atividades futuras como uma implementação da Agenda 21. A conclusão geral foi a
continuação à UNCED e para alcançar o desenvolvimento
sustentável; e
de que, embora um certo progresso houvesse sido
promover o diálogo e formar parcerias para o desenvolvimento feito em relação ao desenvolvimento sustentável, vá-
sustentável com os governos, a comunidade internacional e os rias das metas da Agenda 21 ainda estão longe de se
principais grupos identificados na Agenda 21 como os atores-
chave fora de administrações centrais que desempenham um
concretizar (UN, 1997).
papel essencial na transição para o desenvolvimento sustentável.
Fonte: UN, 2001
Outras conferências internacionais
importantes
“Aqui nos Estados Unidos, precisamos melhorar. Com 4% da população
mundial, produzimos 20% dos gases de efeito estufa do planeta. Então,
Os princípios do desenvolvimento sustentável foram
precisamos melhorar. E melhoraremos.” — Bill Clinton, presidente dos reafirmados ao longo da década de 1990 em várias
Estados Unidos, Rio + 5, 1997 conferências internacionais, como por exemplo:
“É uma questão muito preocupante para a Índia que, cinco anos após a Rio- • 1993: Conferência Mundial dos Direitos Huma-
92, haja um esforço visível para erodir a estrutura de parceria construída no nos, realizada em Viena;
Rio – mais especificamente o princípio de responsabilidades diferenciadas, • 1994: Conferência Internacional sobre População
embora comuns – com a demonstração de esforços voltados para aplicar e Desenvolvimento, Cairo;
obrigações e responsabilidades iguais a atores desiguais.” — Professor Saifuddin
Soz, ministro indiano do Meio Ambiente e Florestas, Rio + 5, 1997
• 1994: Conferência Mundial sobre o Desenvolvi-
mento Sustentável dos Pequenos Estados Insu-
lares em Desenvolvimento, Bridgetown, Barbados;
tes devem empreender na implementação da CCD. Por • 1995: Cúpula Mundial para o Desenvolvimento
exemplo, as partes devem fazer da prevenção à Social, Copenhague;
desertificação uma prioridade em políticas nacionais e • 1995: Quarta Conferência Mundial sobre a Mu-
devem promover a conscientização sobre esse pro- lher, Beijing;
blema entre seus cidadãos. • 1996: Conferência Mundial das Nações Unidas
sobre os Assentamentos Humanos (HABITAT II),
realizada em Istambul; e
A Comissão de Desenvolvimento
Sustentável (CDS)
• 1996: Cúpula Mundial da Alimentação, Roma.
hoje conta com centenas de membros, dos quais vári- um tanto soturna do final da década de 1990: em ao
os conseguiram alcançar uma economia notável tanto menos um ponto significativo, os pontos de vista e as
para si quanto para o meio ambiente (Rabobank preocupações da maioria carente – apesar de toda a
International, 1998). Em 1996, a Organização Interna- retórica da década – ainda eram deixados de lado nas
cional para Padronização criou um novo padrão vo- discussões mundiais.
luntário para sistemas de manejo ambiental na indús-
tria, a ISO 14.000 (International Organization for
Standardization, 2001). Tratado de Proibição Completa de Testes
Ao final da década, grandes empresas trans- Nucleares (CTBT)
nacionais haviam melhorado muito a sua imagem A adoção, em 1996, do Tratado de Proibição Completa
ambiental; na realidade, o seu desempenho ambiental de Testes Nucleares (CTBT) pela Assembléia Geral
foi em geral melhor do que o de várias empresas de das Nações Unidas em Nova York representou um
pequeno e médio portes (Kuhndt e Van der Lugt, 2000). marco importante em termos de cooperação internaci-
A elaboração de relatórios ambientais por parte de onal com conseqüências para o meio ambiente. O
grandes empresas também se tornou uma iniciativa CTBT, que proíbe todos os testes nucleares em qual-
comum durante a década de 1990, e a iniciativa Global quer meio ambiente, foi aberto para assinaturas em
Reporting Initiative – GRI foi criada para estabelecer Nova York no dia 24 de setembro de 1996, quando foi
uma base comum para os relatórios voluntários sobre assinado por 71 Estados, incluindo as 5 potências
o desempenho ambiental, econômico e social de uma nucleares. Em agosto de 2001, 161 Estados haviam
organização (GRI, 2001). O GRI busca elevar o nível assinado e 79 haviam ratificado o Tratado. Um plano
dos relatórios sobre o desenvolvimento sustentável minucioso de verificação mundial está sendo desen-
realizados por empresas ao mesmo patamar de volvido pela Comissão Preparatória do CTBT para
credibilidade, comparabilidade e consistência dos seus quando o Tratado entrar em vigor, o que deve aconte-
relatórios financeiros. cer oitenta dias depois da sua ratificação pelos 44 Es-
A sociedade civil também teve um envolvi- tados listados em seu Anexo 2, dos quais 31 já o havi-
mento ativo, principalmente em sua tentativa de criar am feito até agosto de 2001 (CTBTO, 2001).
a Carta da Terra, que expressa os “princípios éticos
fundamentais para um modo de vida sustentável”. “Os cinco anos passados desde a Rio-92 deixaram patente que as
Centenas de grupos e milhares de pessoas se envol- transformações na estrutura política e econômica global não foram
acompanhadas pelos progressos necessários na luta contra a pobreza e
veram na criação da Carta; embora a intenção inicial
contra o uso predatório dos recursos naturais.” — Fernando Henrique
fosse a de adotá-la durante a Rio-92, a Carta foi refina- Cardoso, presidente do Brasil, cujo país sediou a Rio-92, Rio + 5, 1997
da em um processo liderado pelo Conselho da Terra e
pela Cruz Verde Internacional. A Carta está disponível
em 18 línguas no site da Internet do Secretariado (Earth
Charter, 2001). 2000 e além: reexaminando a agenda
Contudo, a sociedade civil não se limitou a cam-
panhas como a da Carta da Terra, mas também organi- Apesar de vários contratempos, os últimos trinta anos
zou grandes manifestações em várias partes do mun- forneceram uma base sólida sobre a qual o desenvol-
do, muitas das quais contra a ameaça presumida da vimento sustentável poderá ser implementado nas
globalização. Tais iniciativas são por si só um reflexo próximas décadas. O clima predominante em círculos
do processo de globalização e do atual poder extraor- ambientais é de um otimismo cauteloso em relação ao
dinário da Internet, que passou por um crescimento progresso futuro em geral, embora haja muitos fatores
explosivo. Se em 1993 a World Wide Web (WWW) con- influentes desconhecidos, como as mudanças climá-
tava com apenas 50 páginas, ao final da década elas já ticas, que é o mais importante deles.
haviam se transformado em 50 milhões (UN, 2000),
mudando radicalmente a maneira pela qual várias pes-
soas vivem e trabalham – principalmente nos países A renovação da conscientização e do
ricos e industrializados. Apesar do “custo baixo dos interesse ambiental
elétrons”, ao final da década de 1990, 88% dos usuári- Em 2002, a conscientização e o interesse ambiental
os da Internet viviam em nações industrializadas, que foram estimulados pelas preparações para a Cúpula
conjuntamente representavam apenas 17% da popu- Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável. Uma
lação mundial (UNDP, 1999). Esta foi uma constatação série de outros fatores interessantes também pode ter
INTEGRAÇÃO ENTRE O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO: 1972-2002
22
da lei do planejamento de emergência e do direito a adoção de uma meta explícita de redução das taxas de
infecção por HIV em pessoas entre 15 e 24 anos, em 25% nos
ao conhecimento da comunidade (Emergency países mais afetados antes de 2005 e em 25% no mundo inteiro
Planning and Community Right-to-Know Act – antes de 2010;
EPCRA), de 1986. O propósito dessa lei é o de infor- o estabelecimento de metas preventivas explícitas: até 2005 ao
menos 90% e até 2010 ao menos 95% dos homens e mulheres
mar as comunidades e os cidadãos sobre os peri- jovens devem ter acesso a informações e a serviços de
gos dos produtos químicos em suas regiões. A lei prevenção ao HIV; e
exige que as empresas informem o estado e o go- um pedido a cada país gravemente afetado pela doença para que
estabeleça um plano de ação nacional dentro de um ano a partir
verno local sobre a localização e a quantidade de da Cúpula.
produtos químicos armazenados na região. Por meio
Eliminar as favelas: colocar em prática o plano Cidades sem
da EPCRA, o Congresso americano determinou que Favelas lançado pelo Banco Mundial e pelas Nações Unidas para
um Inventário de Emissões Tóxicas (TRI) se tor- melhorar a vida de 100 milhões de moradores de favelas até 2020.
nasse público. O TRI fornece informações aos ci-
dadãos sobre produtos químicos com potencial de Um futuro sustentável: a Agenda para o Meio Ambiente
risco e os seus usos, para que as comunidades pos-
sam exigir maior responsabilização por parte das em- Pede-se a chefes de Estado ou de Governo que adotem uma nova ética
de conservação e administração, começando pelo seguinte:
presas e para que tomem decisões fundamentadas
Mudanças Climáticas: que adotem e ratifiquem o Protocolo de
sobre como os produtos químicos tóxicos devem
Quioto, para que este possa entrar em vigor até 2002, e que
ser manejados. garantam que suas metas sejam alcançadas, como um passo em
direção à redução das emissões de gases de efeito estufa.
Contabilidade Verde: que considerem a incorporação do sistema
de “contabilidade verde” das Nações Unidas às suas contas
A Cúpula do Milênio nacionais, para que as questões ambientais sejam integradas às
As questões ambientais se sobressaíram durante a políticas econômicas gerais.
Cúpula do Milênio das Nações Unidas, realizada pelo Avaliação de Ecossistemas: que prestem assistência financeira a, e
que se envolvam ativamente na Avaliação de Ecossistemas do
secretário-geral da ONU, Kofi Annan, em Nova York, Milênio, um grande esforço de colaboração internacional para
no ano 2000 (ver box à direita). Mas se o reconheci- mapear a saúde do planeta.
mento sobre a importância das questões relativas ao Rio+10: que preparem as condições para que os líderes
mundiais adotem ações concretas e significativas na conferência
meio ambiente durante a Cúpula foi encorajador, o de avaliação dos dez anos decorridos desde a Rio-92, a Cúpula
relatório de progresso não teve a mesma sorte. O da Terra de 2002.
secretário-geral foi bem franco em seus comentários Fonte: UN, 2000
Imagem de satélite
registra o nível do
mar no Pacífico em
10 de novembro de Progressos científicos
1997. O fenômeno El
Niño caracteriza-se Nos primeiros anos do Terceiro Milênio, os pro-
pelo aumento do
nível do mar (áreas gressos científicos continuam a levantar questões
em vermelho e bran-
co) no lado sul-ame- éticas e ambientais. Uma conquista científica cujo
ricano do Pacífico Sul
e por um nível mais impacto sobre a humanidade e conseqüentemente
baixo (áreas em
azul) do outro lado.
sobre o meio ambiente ainda é desconhecido é o
Fonte:
mapeamento do genoma humano. Os benefícios de
Topex/Poseidon, NASA tal mapeamento incluem o conhecimento das cau-
INTEGRAÇÃO ENTRE O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO: 1972-2002
25
Fonte: Julio
Etchart, Still Pictures
onal na cidade de Praga, em setembro de 2000, e em lidade e à quantidade da água à frente da agenda
outros encontros desde então. ambiental, para que as perspectivas regionais possam
Essas manifestações mostram que cidadãos do ser implementadas de forma bem-sucedida.
mundo inteiro querem ser ouvidos e exigem a imple- Nas últimas décadas, as grandes represas sur-
mentação e o cumprimento de padrões ambientais, de giram como um dos instrumentos mais significativos
comércio e de trabalho aceitáveis em todo o mundo. e visíveis para o manejo dos recursos hídricos. Em
Várias organizações internacionais responsáveis pela novembro de 2000, a Comissão Mundial de Barragens
regulamentação da economia global agora têm de adap- publicou o seu relatório “Barragens e Desenvolvimen-
tar suas políticas de forma a incluir a participação da to: um Novo Modelo para Tomada de Decisões” (Dams
sociedade civil em suas atividades. A ironia da glo- and Development: A New Framework for Decision-
balização e do aumento da conscientização pública é Making), afirmando que nos últimos cinqüenta anos
que o consumo continua a crescer em nações indus- as barragens fragmentaram e transformaram os rios
trializadas e a pobreza continua a piorar em países em do mundo, deslocando entre 40 milhões e 80 milhões
desenvolvimento. de pessoas em diferentes partes do mundo (WCD,
2000). O relatório questiona o valor de várias represas
Água no atendimento das necessidades de água e energia,
A água desempenhará um papel de destaque na agen- em comparação a outras opções. Isso representa uma
da do novo milênio. O Fórum Mundial da Água, reali- mudança significativa de visão em relação ao valor
zado em Haia em março de 2000, levou à adoção de das represas e pode contribuir para que se adote uma
“perspectivas em relação à água” para as diferentes abordagem diferente para a utilização dos recursos
regiões do mundo, ajudando a definir um plano de hídricos no futuro.
ação referente ao uso da água para o século XXI. Cer-
ca de 6 mil pessoas estiveram presentes no fórum glo- Avaliações e um alerta antecipado
bal, mas milhares de outras participaram das prepara- A Avaliação de Ecossistemas do Milênio (Millennium
ções regionais. Espera-se que a participação em mas- Ecosystem Assessment – MA), lançada no Dia Mundi-
sa nesses eventos mantenha questões relativas à qua- al do Meio Ambiente em 2001, examinará os
INTEGRAÇÃO ENTRE O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO: 1972-2002
27
ecossistemas que possibilitam a vida, como as pasta- A Avaliação foi reconhecida por governos
gens, as florestas, os rios e lagos, as terras cultiváveis como um mecanismo para atender às necessidades
e os oceanos. Essa iniciativa, prevista em quatro anos de avaliação de três tratados internacionais sobre o
e envolvendo US$ 21 milhões, contará com a partici- meio ambiente: a Convenção das Nações Unidas
pação de 1.500 dos cientistas de maior destaque no sobre Diversidade Biológica, a Convenção de
mundo (MA, 2001). Ramsar sobre Zonas Úmidas e a Convenção das
“A Avaliação de Ecossistemas do Milênio Nações Unidas de Combate à Desertificação.
mapeará a saúde do nosso planeta e preencherá des-
sa forma importantes lacunas no nosso conhecimen-
to para que possamos preservá-la”, afirmou o secre- Seguindo adiante, progredindo
tário-geral da ONU, Kofi Annan, ao anunciar o estu- Um novo espírito de colaboração e participação é
do. “Todos nós temos de compartilhar os frágeis visível nestes primeiros anos do século XXI, que
ecossistemas e os preciosos recursos da Terra, e cada alguns associam ao “espírito de compromisso de
um de nós tem um papel na sua preservação. Para Estocolmo”. Com a Cúpula Mundial sobre Desen-
que possamos continuar a viver juntos nesse plane- volvimento Sustentável marcada para 2002 em
ta, todos devemos nos responsabilizar por ele.” Joanesburgo, há uma esperança renovada na ado-
O estudo foi lançado para proporcionar aos ção de ações eficazes e significativas pelos maio-
responsáveis pela tomada de decisões um conheci- res responsáveis pela tomada de decisões em âm-
mento científico confiável em relação ao impacto bito global. Os próximos quatro capítulos, ao apre-
das mudanças nos ecossistemas terrestres sobre sentarem avaliações globais e regionais sobre o
os meios de vida humanos e o meio ambiente. Ele meio ambiente, observações sobre mudanças ambi-
fornecerá informações mais detalhadas a governos, entais e vulnerabilidade humana, cenários futuros
ao setor privado e a organizações locais, sobre ini- e implicações a serem consideradas na elaboração
ciativas que podem ser tomadas para recuperar a de políticas, pretendem prestar uma contribuição
produtividade dos ecossistemas do mundo. substancial a esse debate.
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