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ARTFICE1
Resenha do livro: SENNETT, Richard. O artfice. Traduo de Clvis Marques. Rio de Janeiro: Record,
2009. 360p.
* UNIOESTE Universidade Estadual do Oeste do Paran. Centro de Cincias Humanas, Educao,
Letras e Histria. Marechal Cndido Rondon PR Brasil. 85904-000 e-mail: bosi@certto.com.br
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O artfice
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vida. certo que esta unidade entre vida e trabalho experimentada pelos artfices
(fossem mestres, jornaleiros ou aprendizes) estava articulada a muitas contradies
existentes poca nos termos da hierarquia social e das desigualdades econmicas.
preciso levar em conta que o retorno dos romnticos quase sempre ocorreu para
uma estao idealizada.
Sennett (2009, p.299) tem noo dessa condio e parece, sem desejar fazlo, retornar para a mesma estao quando anuncia, j nas pginas finais do livro, o
que considera sua tese mais polmica: a de que praticamente qualquer um pode
tornar-se um bom artfice, o que representa dizer, algum que sabe o que faz, que
est no domnio de si mesmo. Este ponto de chegada permite a Sennett refutar uma
convico de Hannah Arendt (sua professora) extrada da dura experincia vivida no
contexto do projeto Los lamos, que planejou e confeccionou as primeiras bombas
atmicas: as pessoas que fazem coisas geralmente no sabem o que esto fazendo.
Ele tem uma compreenso das razes que levaram Hannah Arendt a pensar assim. As
crticas acerca do Totalitarismo que ela elaborou to bem compunham um ambiente
marcado pelo medo da autodestruio que podia ser quantificado em nmeros to
vastos que a imaginao se perdia. Pelo menos 70 milhes de pessoas morreram em
guerras, campos de concentrao e gulags nos primeiros cinquenta anos do sculo
XX. Para Sennett, (2009, p.12, p.18) a viso de Arendt capturava nesses nmeros
uma combinao de cegueira cientfica e poder burocrtico. Sem o pessimismo
de sua professora, ele aposta que [...] podemos alcanar uma vida material mais
humana, se pelo menos entendermos como so feitas as coisas.
Podemos ir ao encontro da expectativa de Sennett, mas caberia ouvir um
interlocutor que ele silencia em O Artfice. Para Marx, nenhuma unidade de validade
universal entre vida e trabalho pode ser instituda sem a dissoluo da tica que
redimensionou todo trabalho humano e subordinou-o ao lucro e acumulao.
Referncia
MILLS, C.W. A nova classe mdia. 2.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.
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