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Sabe-se que é um grande desafio pois trata-se e que teria de substituir outra,
que aqui se denomina simplesmente planejamento governamental, na
atualidade visivelmente "contaminada" pelo planejamento corporativo – vir a
ser adotado. Concordo com o autor quando nos diz que deve haver
substituição de modelos de planejamento até porque as mudanças nas
organizações por conta da globalização, a revolução da informática e da
Internet estão acontecendo muito rapidamente e forçando a iniciativa pública a
adotar cada vez mais instrumentos utilizados pela iniciativa privada. O
Planejamento Estratégico é um desses instrumentos e é importante, pois ajuda
a colocar metas e objetivos mais estratégicos coerentes com uma análise
política. Vejamos o caso do nosso país, sendo necessário duplicar o tamanho
de políticas públicas para incorporar mais da metade da população não
atendida. Essa ação já evidencia a importância de uma Gestão Estratégica
Pública.
Com o PEG podemos pelo menos melhorar a cultura organizacional pública
perversa imposta pelo Estado Herdado e quiçá atender às necessidades
sociais presas durante esse tempo. O país tem uma barreira: o fato de que a
correlação de forças políticas, que sanciona uma coercitiva e até concentração
de poder econômico crescente, deixa pouco espaço para que uma ação interna
ao Estado possa alterar essa situação de pobreza em que se encontra a
maioria da população.
Como nos fala OFFE que: "é bem possível que o desnível entre o modo de
operação interno e as exigências funcionais impostas do exterior à
administração do Estado não se deva à estrutura de uma burocracia
retrógrada, e sim à estrutura de um meio sócio-econômico que (...) fixa a
administração estatal em um certo modo de operação... É óbvio que um
desnível desse gênero entre o esquema normativo da administração e as
exigências funcionais externas não poderia ser superado através de uma
reforma administrativa, mas somente através de uma 'reforma" daquelas
estruturas do meio que provocam a contradição entre estrutura administrativa e
capacidade de desempenho (OFFE, 1994, p.219).
Concordo com o autor e entendo que como tem dado certo a experiência do
planejamento estratégico nas empresas privadas, dará certo também nas
públicas colaborando para promover a transição do "Estado Herdado" para o
"Estado Necessário" iniciando por uma reforma geral do Estado, que utilizasse
a capacitação dos gestores públicos para a transformação das relações
Estado-Sociedade, isso tudo aliado a introdução do pensamento estratégico
utilizando-se com coerência os modelos de PES e PEG.
4 CONCLUSÃO
Acredito no que descobri a partir dos estudos iniciados sobre a gestão pública
e pela experiência dos meus 40 anos como cidadão, que só a democracia
unida à eficiência de gestão estratégica levará à transformação do "estado
herdado para o estado necessário, pois sem democracia não há participação e
transparência nas decisões, não há justamente o planejamento participativo, a
avaliação de políticas públicas e a prestação de contas. entendo que alguns
aspectos devem ser considerados para a utilização do Planejamento
Estratégico Governamental: a transição do "Estado Herdado" para o "Estado
Necessário", necessita da qualificação dos servidores, necessita igualmente da
formação de gestores que juntem pelo menos duas habilidades/capacidades
fundamentais: a de dominar os aspectos teóricos e práticos do processo de
elaboração de políticas públicas a ponto de serem capazes de utilizá-lo como
ferramenta da mudança social, econômica e política; e atuar de maneira tão
eficiente no seu dia-a-dia com pensamento estratégico bem direcionado
fazendo com que a estrutura estatal seja cada vez mais eficiente, eficaz e
efetiva com a utilização correta de um planejamento estratégico. Então, faço
parte do time de Dagnino e outros que nos dizem que devemos utilizar uma
orientação, ou seja, uma bússola, um instrumento que nos permita navegar
mesmo quando as condições de visibilidade não nos permitem enxergar o farol.
Daí é importante utilizar a Metodologia de Diagnóstico de Situações (MDS) que
busca viabilizar uma primeira aproximação aos conceitos adotados para o
Planejamento Estratégico Governamental e ao conjunto de procedimentos
necessários para iniciar um processo dessa natureza numa instituição pública,
de governo. Sabe-se que o desafio é grande para os atores centrais do
processo que são os gestores públicos, pois estes terão de seguir por muito
tempo atuando no ambiente governamental interno, isto é, no interior de uma
máquina feita para o Estado Herdado. Sabemos também que a herança que
ganhamos é incompatível com a proposta de mudança que a sociedade
brasileira almeja: sua forma não corresponde ao conteúdo para onde deve
apontar sua ação. A barreira é a forma como se relaciona com a sociedade que
empata que ele formule e implemente políticas públicas com um conteúdo que
contribua para alavancar essa proposta. E também a metodologia que se
processa a ação governamental na sua relação com o Estado existente,
determinado pelos contornos de seu aparelho institucional, é irreconciliável
com as premissas de participação, transparência e efetividade dessa proposta.
Mudar sem mexer é impossível. Reformar o Estado apenas setorialmente e
sem mudar a cultura organizacional herdada, isto é, sem mudar os agentes, ou
melhor, o pensamento dos seus atores principais levará ao fracasso de
qualquer metodologia. Não devemos levar uma estrutura sem mexer no seu
interior. Para isso utilizo as metáforas que são bem aplicadas na pedagogia
freiriana: é como querer colocar um motor de uma Ferrari num fusca, pois o
Estado, sem a implementação de um PEG, ou mesmo sem apoiar-se na
modificação da cultura e adoção do pensamento estratégico dificilmente
entrará no caminho coerente para um Estado Necessário.