Você está na página 1de 21

GRUPO DE ESTUDOS E DIFUSÃO DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO (GEDAC)

MATERIAL DE ESTUDOS PARA O 3º ENCONTRO DO 3º MÓDULO


DATA: 14/09/2013

LEITURA BÁSICA:

Texto 01: “Uma visão analítico comportamental da sexualidade,


transexualidade, homossexualidade e heterossexualidade (TRADUZIDO PARA
FINS ACADÊMICOS)”
MALOTT, Richard W. A Behavior-Analytic View of Sexuality, Transsexuality,
Homosexuality, and Heterosexuality. Behavior and Social Issues, [S.l.], dec. 1996.
ISSN 1064-9506. Disponível em:
<http://journals.uic.edu/ojs/index.php/bsi/article/view/288>.
Behavior and Social Issues, Volume 6, No. 2, Fall 1996

UMA VISÃO ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL DA SEXUALIDADE,


TRANSEXUALIDADE, HOMOSSEXUALIDADE E HETEROSSEXUALIDADE

Richard W Malott
Western Michigan University

Resumo: Este artigo apresenta uma visão analítico-comportamental sugerindo que fatores
biológicos, tanto genéticos quanto de outra origem, tem pouco a ver com nossa preferência pela
estimulação sexual vinda do mesmo gênero ou do gênero oposto. Essa visão enfatiza a importância
da história comportamental e das atuais contingências na compreensão das causas dos valores e
comportamentos de um indivíduo. Essa visão afirma que a genética e outros fatores biológicos são
cruciais na determinação dos processos comportamentais que interagem com nosso histórico
comportamental e as contingências atuais; no entanto, os fatores biológicos tem pouco efeito direto
nas diferenças entre os seres humanos em seus comportamentos e valores. Além disso, essa visão
analítico-comportamental sugere que as formas particulares de comportamento são arbitrárias; seja
qual for o comportamento humano pelo qual estamos interessados, as contingências de reforçamento
e de punição determinam essas formas particulares.

Palavras-chave: análise do comportamento; sexo; transexual; homossexual; heterossexual.

Keller e Schoenfeld (1950, pp. 294-303) talvez tenham sido os primeiros


analistas do comportamento a abordar a questão geral de “como as atividades
sexuais refletem os princípios comportamentais”. O presente artigo continua a
tentativa de responder essa questão. A orientação sexual (papel sexual, estilo de
comportamento e valores sexuais) é uma questão importante por si mesma, mas a
orientação sexual também é importante enquanto um problema modelo e nossa
análise sobre a orientação sexual pode servir como um modelo de análise que talvez
se aplique em muitas outras questões, tais como a natureza dos papéis sexuais de
forma mais abrangente, “inteligência”, “personalidade”, “doenças mentais”, crime e
pobreza. Em outras palavras, uma análise da orientação sexual também nos permite
ilustrar uma visão comportamental de mundo, ainda que sem dúvidas não seja a
única visão comportamental de mundo possível.
Geralmente as pessoas falam sobre ser heterossexual, gay, lésbica,
transexual ou bissexual, mas talvez estejam fazendo uma afirmação um tanto
quanto imprecisa. Ao invés disso, talvez devêssemos analisar os papéis sexuais em
ao menos dois componentes – estilo de comportamento sexual e valores sexuais
(condições reforçadoras e punitivas). Esse artigo analisa esses dois componentes

Tradução exclusiva para fins acadêmicos, evite redistribuição e consulte o original.


separadamente, a fim de abordar o papel do inato e do adquirido na determinação
das diferenças individuais da orientação sexual: (a) papel sexual e estilo
comportamental, e (b) valores sexuais.

O estilo do comportamento sexual é aprendido ou herdado?

Geralmente, na Análise do Comportamento, achamos útil considerar como


arbitrárias as formas particulares de comportamento que produzem uma
consequência comportamental (isto é, as condições reforçadoras ou aversivas),
apesar de que alguns prefiram moderar essa visão (Honig & Staddon, 1977). Em
qualquer evento, analistas do comportamento não têm interesse particular no
comportamento de pressionar alavancas, puxar correntes, empurrar pedais ou bicar
botões-chave, por si só. Em vez disso, analistas do comportamento usam essas
formas comuns de comportamento simplesmente como convenientes e
representativas amostras do comportamento em geral. A visão subjacente a essa
análise é de que a contingência e as consequências do comportamento é que são
inerentemente importantes, não a forma do comportamento. Um dos melhores
exemplos da arbitrariedade do comportamento é o fenômeno do imprinting ou
“estampagem”. No ambiente natural, o pássaro consegue a “estampagem”
reforçadora (uma visão maior, melhor ou mais clara de sua mãe) ao emitir a resposta
de se aproximar de sua mãe. Mas demonstrações laboratoriais mostram que
qualquer resposta emitida servirá, desde que produza uma visão mais próxima do
reforçador estampado. O pássaro irá bicar um botão-chave, desde que essa bicada
proporcione o reforço (uma visão mais próxima). Em um incrível experimento,
usando um aparelho especialmente planejado, um pássaro tinha que se afastar do
reforçador estampado para que pudesse se aproximar dele. (Peterson, 1960). Como
resultado, o pássaro aprendeu a se afastar, ao invés de aprender a resposta mais
natural e mais tipicamente aprendida de andar em direção da mãe.
Talvez os papéis sexuais e os estilos comportamentais sexuais sejam tão
arbitrários quanto o comportamento que produz o reforçador estampado. Em outras
palavras, o papel sexual e o estilo de comportamento sexual que é aprendido é uma
função do reforçamento desses comportamentos. No que diz respeito aos
comportamentos de papel de gênero, Barlow, Reynalds e Agras (1973)

Tradução exclusiva para fins acadêmicos, evite redistribuição e consulte o original.


demonstraram que um homem transexual pode aprender a se sentar, andar e falar
da maneira tradicionalmente masculina ao invés da maneira tradicionalmente
feminina que ele havia aprendido anteriormente. Assim como os analistas do
comportamento ensinaram ao rapaz comportamentos tradicionalmente masculinos,
sua mãe o ensinou, em tenra idade, comportamentos tradicionalmente femininos,
ainda que não intencionalmente; nós produzimos o que reforçamos, queiramos ou
não.
Outras observações ainda sugerem o estilo comportamental do papel sexual
como sendo arbitrário, aprendido e dependente das contingências de reforço ou
punição. Muitas pessoas que se consideram gays ou lésbicas se comportam de uma
maneira típica do seu sexo, ao invés de se comportar como o sexo oposto. No
entanto, outras pessoas variam entre um estilo comportamental “feminino” e
“masculino” dependendo das contingências de reforço e punição que estejam
operando no momento. Assim, contrário ao senso comum, pode haver muito pouca
relação entre ser naturalmente do sexo masculino ou feminino que determine nosso
estilo de papel sexual.
No entanto, a maioria de nós consideraria impossível mudar nosso estilo de
“feminino” para “masculino” ou vice-versa. E por causa dessa dificuldade, nós talvez
erroneamente consideremos que nosso estilo é inato. Mas a maioria de nós também
acharia impossível falar espanhol sem soar como um estrangeiro. E ainda, apesar
dessa dificuldade, nós não assumiríamos que nosso sotaque estrangeiro é inato; ao
invés disso, nós só o aprendemos tão bem quando éramos crianças que não
conseguimos nos livrar dele. O mesmo serve para nosso estilo de papel sexual.

O valor do reforçamento ou da punição de diferentes estímulos sexuais


e as fontes destes estímulos são aprendidas ou inatas?

E quanto à direta estimulação física das áreas erógenas? A própria


estimulação física é provavelmente um reforço natural. E quanto à fonte da
estimulação – seja um homem, uma mulher ou um objeto inanimado?
Bem, no escuro, todos os gatos são cinza. Se não sabemos, não tem como
importar. No entanto, quando há luz, quando nós sabemos, isso é crucial. A fonte da
estimulação sexual, seja pela pessoa errada, pela pessoa do sexo errado ou por um

Tradução exclusiva para fins acadêmicos, evite redistribuição e consulte o original.


objeto repulsivo, talvez tenha um componente tão aversivo que isso supere o
componente reforçador da própria estimulação.
E quanto a essa aversão à estimulação sexual associada a determinado
estímulo visual? Certamente essa aversão condicional é aprendida. Considere esse
experimento de pensamento: suponha que todas as vezes que formos sexualmente
estimulados na presença de uma luz vermelha, levemos um choque e suponha que
a estimulação sexual na presença de uma luz verde não é emparelhada com choque
nenhum. Sem dúvidas, o emparelhamento dos estímulos componentes
(estimulação sexual e a luz vermelha) com o estímulo aversivo (o choque) faria com
que essa composição de estímulos se tornasse aversiva.
No entanto, para a maioria de nós, tal aversão condicionada talvez não seja
adquirida através de emparelhamentos diretos desse tipo. Ao invés disso, assim
como muitos de nossos valores, ela é provavelmente adquirida através de um
análogo verbal ao emparelhamento, por exemplo, outras pessoas comentando o
quão inapropriado (imoral, repulsivo) certas fontes de estimulação sexual são.
Embora não haja um experimento exatamente igual ao descrito, há algumas
relevantes pesquisas experimentais. Em um trabalho com um homem transexual,
Barlow et al. (1973) emparelhou choques elétricos com imagens eróticas de
homens. Ao final de 20 sessões, tais imagens evocavam excitação mínima e
perderam muito de seu valor para reforçar o comportamento de imaginar imagens
eróticas de homens.
Em outro relevante experimento, ratos machos foram criados desde o
nascimento sem contato com fêmeas. Esses ratos adquiriram o comportamento de
montar em seus companheiros do sexo masculino porque esse comportamento
produzia estimulação sexual reforçadora. E, quando adultos, eles montavam mais
frequentemente em machos do que em fêmeas. Novamente, esses exemplos não
são para demonstrar que a maioria dos valores sexuais dos humanos resulta de
emparelhamento direto, mas sim para demonstrar que o valor condicionado dos
nossos reforçamentos pode resultar de nossa história de aprendizado ao invés de
nossa herança biológica.
Outros dados entre espécies também sugerem nossa flexibilidade sexual
inata. Os bonobos (chimpanzés pigmeus das florestas equatoriais da África central e
ocidental) são vigorosamente bissexuais. Eles parecem ser nossos parentes mais
próximos no resto da natureza (de Wall, 1995).

Tradução exclusiva para fins acadêmicos, evite redistribuição e consulte o original.


E dados entre culturas sugerem ainda mais nossa flexibilidade sexual inata:

Historicamente, a homossexualidade tem chamado muita atenção e


interesse. Atitudes em relação a tal preferência tem variado em diferentes
épocas e em diferentes grupos culturais e subculturais, que vão desde a
aceitação (como entre os antigos gregos), a moderada tolerância (nos
tempos Romanos), à condenação definitiva. Durante tempos modernos,
atitudes ambivalentes tem prevalecido. De 76 sociedades estudadas pelo
antropólogo americano Clellan Ford e pelo psicobiólogo Frank A. Beach,
dois terços delas consideram atividades homossexuais normais e
socialmente aceitáveis. Em algumas sociedades, como em Arunta (Aranta)
da Austrália Central, homossexualidade é quase universal. Algumas
nações, como Grã-Betanha e Alemanha, legalizaram as uniões
homossexuais consentidas entre adultos. Um terço das sociedades
estudadas por Ford e Beach, incluindo muitos países industrializados, dão
pouca ou nenhuma sanção para a homossexualidade, sua prática
frequentemente podendo levar à prisão a longo prazo. Em muitos países, no
mínimo sua prática pode resultar em perda do emprego, discriminação da
habitação local, ser colocado na “lista negra” do governo e ostracismo social
(Wolberg, 1994).

Tudo isso sugere que nascemos bissexuais ou até mesmo multissexuais (isto
é, suscetíveis ao reforçamento sexual de uma grande variedade de fontes). É
apenas através de nossa história comportamental que nos tornamos mais focados
em nosso comportamento sexual e nas nossas preferências ou aversões em relação
a específicas fontes de estimulação sexual.
Mas é difícil para a maioria das pessoas imaginar que nossos valores são
aprendidos porque eles parecem muito naturais, algo com o que nascemos. Isso é
porque não estamos cientes da sutil, mas sempre presente programação social nos
forçando para os papéis sexuais que adquirimos, assim como não estamos cientes
da programação social que nos força a aprender a falar como estrangeiros. E, dado
que a grande maioria de nós acaba com repertórios e valores heterossexuais, é
difícil pra maioria das pessoas imaginar como uma minoria acaba com repertórios e
valores homossexuais ou com repertórios e valores transexuais, assim como é difícil
imaginar uma minoria pode aprender a falar espanhol sem um sotaque revelador.
Mas poucos argumentariam que essa pessoa bilíngue herdou um espanhol perfeito.
Pela mesma lógica, uma visão de mundo behaviorista iria sugerir que não
deveríamos argumentar que os repertórios e valores sexuais são herdados.
Outra parte do problema é que as pessoas não parecem compreender o
poder da nossa história de aprendizado. Elas pensam que ou nós herdamos nossos
valores sexuais ou nós os escolhemos como escolheríamos qual chapéu usar para ir
ao mercado. Elas não compreendem um conceito que chamo de fatalismo pré-

Tradução exclusiva para fins acadêmicos, evite redistribuição e consulte o original.


escolar – muitos de nossos comportamentos e valores que aprendemos antes de
certas idades (como por exemplo, na pré-escola) interagem com contingências de
reforçamento e de punição de uma forma que se torna quase impossível mudar
quando se torna adulto (como por exemplo o sotaque estrangeiro ou comportamento
autista e estímulos reforçadores e aversivos ao autista, como o contato com os
outros).
Tem havido muitas pesquisas correlacionais pretendendo apontar uma
relação entre herança e estrutura biológica e homossexualidade masculina (Ezzell,
1991; Hamer, Hu, Magnuson, Hu, e Pattatucci, 1993; Hu, Pattatucci, Patterson, Li,
Fulker, Cherny, Kruglyak, & Hamer, 1995). Mas, outros foram incapazes de replicar
alguns destes resultados (Simon, 1996; Watson & Shapiro, 1995). Além disso, é
difícil para tal pesquisa de correlação eliminar a possibilidade de confusão
ambiental.
Por exemplo, Hamer, et al (1993) afirmam ter demonstrado uma aparente
transmissão maternal de orientação sexual masculina baseada numa ligação entre
marcadores do DNA no cromossomo X e a orientação sexual. Mas tal correlação
não parece excluir a possibilidade igualmente implausível de que o que é herdado é
a tendência materna de educar os filhos para serem homossexuais ao invés de que
esses filhos herdem a tendência a se tornar homossexuais.
Há problemas semelhantes com os dados correlacionais que mostram "um
determinado aglomerado de células na frente do hipotálamo foi, em média, menos
da metade tão grande no cérebro dos homens homossexuais quanto nos seus
colegas heterossexuais" (Ezzell, 1991, p. 134). Mesmo se essa correlação fosse
replicável, não está claro se é a estrutura do cérebro que causou a orientação
homossexual (o papel sexual, estilo de comportamento sexual e os valores sexuais)
ou vice-versa. Os geneticistas Billings e Beckwith (1993) fazem um argumento
similar:

Mesmo que se aceitasse que esses estudos indicam uma correlação


biológica com o comportamento humano, isso não significaria que um gene
ou uma diferença cerebral é responsável por esse comportamento. LeVay
[cujos dados sugerem uma correlação] admite que a diferença observada
na estrutura cerebral pode ter se dado devido a atividade homossexual e
não ser a causa dela. Técnicas que visualizam a estrutura cerebral, tais
como as ressonaâncias magnéticas e tomografia por emissões de positrons,
revelam que a experiencia individual, mesmo quando adulto, pode
significamente afetar o desenvolvimento cerebral. As emoções, o estresse,
os numerosos fatores ambientais podem alterar o metabolismo do cérebro e

Tradução exclusiva para fins acadêmicos, evite redistribuição e consulte o original.


presumivelmente suas conexões internas. Estudos da genética
comportamental humana podem beneficiar a soceidade. Mas até que
geneticistas façam mais do que falatório improdutivo quanto aos problemas
em seus estudos e quanto as complexas interações entre genes e
ambiente, a história irá apenas se repetir (p. 62).

A história a qual Billings e Beckwith se referem é descrita um pouco antes em


seu artigo:

Estamos inquietos com o desenfreado entusiasmo com estudos que


relacionam os genes com comportamento humano. Argumentos científicos
de bases biológicas de diferenças entre humanos já foram utilizados com
fins insidiosos; Os argumentos de cientistas alemãs antes da segunda
guerra mundial para justificar a “inferioridade genética” dos judeus é apenas
um exemplo.
Além disso, grande parte das antigas análises cientificas das origens do ser
humano, particularmente usando métodos biológicos, foi desmascarada. No
século XIX, por exemplo, “frenologistas” afirmavam poder prever aspectos
da personalidade de um indivíduo, como sexualidade, inteligência e
tendências criminais meramente examinando a estrutura do crânio. Apesar
de sua popularidade, essa “ciência”, que frequentemente incluía explícitas
implicações racistas, não era baseada em nenhuma evidência confiável.
Mais recentemente, depois de estudos em prisões na década de 1960, os
geneticistas chegaram à conclusão de que homens com um cromossomo Y
extra eram mais propensos a ser criminosos do que outros homens.
Pesquisas de acompanhamento atuais demonstraram que essas
reivindicações são injustificadas.
Mas isso é o passado. É sempre possível que o campo da genética do
comportamento humano supere sua história de mau gosto. Hoje, quando
técnicas sofisticadas podem ser usadas pra analisar o DNA humano, talvez
o interesse renovado em conectar os estudos de biologia e comportamento
traga o desenvolvimento de uma nova era científica. Por outro lado, talvez
não. Um olhar sobre os estudos recentes que buscam uma base genética
para a homossexualidade sugere que muitos dos problemas do passado
recorreram. Podemos estar em uma nova época de frenologia molecular ao
invés de verdadeiro progresso científico e de insights sobre o
comportamento (p. 60).

Billings e Beckwith também escreveram, “numa era em que pesquisadores


localizaram os genes para condições tais quais a doença de Huntington, fibrose
cística, distrofia muscular de Duchenne, alguns cientistas acreditam que o “gene
homossexual” logo será encontrado” (p. 60). Esta afirmação parece-me ser um
exemplo da influência negativa do modelo médico ou modelo de doença na análise
do comportamento. Apesar de, em 1973, a Associação Americana de Psiquiatria
finalmente parar oficialmente de classificar a homossexualidade como doença, a
tendência persiste, como Billings e Bechwith sugerem, com os pesquisadores
classificando a homossexualidade como as doenças de Huntington, fibrose cística e
a distrofia muscular de Duchenne. E talvez seja esse modelo médico que façam com

Tradução exclusiva para fins acadêmicos, evite redistribuição e consulte o original.


que os pesquisadores procurem por um “gene homossexual” ao invés de um “gene
heterossexual”. Colocar aspas nas palavras não parece reduzir nossa tendência a
coisificar processos comportamentais.
Talvez uma análise mais molecular da sexualidade humana, em oposição a
uma
análise global restrita da homossexualidade, poderia ilustrar a tolice do modelo
médico tradicional, modelo de doença, o modelo de reificação do comportamento
humano. Por exemplo, poderíamos procurar uma causa genética para as diferenças
individuais na preferência pelo recebimento de estimulação manual, oral, anal ou
genital da genitália de um indivíduo? E poderíamos procurar uma causa genética
para as diferenças individuais na preferência de um parceiro por fazer estimulação
manual, oral, anal ou genital na genitália de um indivíduo? Em outras palavras, a
própria busca de uma base genética/biológica para a homossexualidade parece
baseada na noção errônea de que a homossexualidade é uma coisa e que essa
coisa é uma doença. (Aliás, se tal pesquisa já não parece claramente absurda,
talvez irá se você considerar que essas preferências são muitas vezes estabelecida
antes de qualquer experiência direta com o recebimento ou prestação de tal
estímulo.)
Há um outro problema com a propensão da psicologia a rótulos como autista
e autismo, normal, homossexual e homossexualidade, e heterossexual (apesar de
ouvirmos bem menos a respeito da heterossexualidade). Esse problema adicional é
que a rotulagem desencoraja uma análise molecular de vários componentes do
repertório. Se queremos estudar comportamento infantil, nós talvez devessemos
parar de usar termos como autista e autismo. Ao invés disso, podemos
simplesmente observar as variáveis que controlam vários componentes do repertório
e dos valores da criança (por exemplo, a autoestimulação, a autolesão, os
escândalos, o controle de estímulos, a linguagem e a imitação), como Lovaas e seus
colegas fizeram com tanto sucesso (Lovaas, 1987; McEachin, Smith, & Lovaas,
1993). Da mesma forma, se quisermos estudar o comportamento sexual e os papéis
sexuais, poderíamos parar de usar termos como homossexual, heterossexual e
homossexualidade. Ao invés disso, podemos simplesmente avaliar as variáveis
controlando os vários componentes do comportamento sexual e dos papéis sexuais
(por exemplo, formas de estimulação sexual fornecidas e recebidas, fantasias

Tradução exclusiva para fins acadêmicos, evite redistribuição e consulte o original.


sexuais, formas de andar, falar, trabalhar, se vestir e pensar), como Rekers e
Lovaas (1974) e Barlow e seus colegas (1973) fizeram igualmente com sucesso.
Assim como não devemos nos deixar enganar por uma análise molar
superficial do comportamento, também não devemos nos deixar enganar por uma
análise molar superficial dos estímulos. Por exemplo, LeVay testou a hipótese da
correlação da estrutura cerebral com a “orientação sexual direcionada a mulheres
(homens heterossexuais e mulheres homossexuais)”, por um lado, e com a
“orientação sexual direcionada a homens (homens homossxuais e mulheres
heterossexuais)”, por outro lado (Burr, 1993, p. 55). Mas o que nós queremos dizer
por orientação do estímulo – por homens ou mulheres? Nos referimos a pessoas
com cabelo comprido, barba, brincos, calças, vestidos, peitos largos, peitos
pequenos, maquiagem, vozes graves, vozes agudas? Existe tanta variação dentro
de uma mesma cultura e mais ainda entre culturas e subculturas nos estímulos
visuais e auditivos que constituem homens e mulheres, que esses conceitos visuais
e auditivos parecem claramente conceitos culturalmente programados e aprendidos.
Não estamos falando sobre a resposta de um peixe macho de cortejar um peixe
fêmea que esteja inchada por causa da ovulação (Pelkwijk & Tinbergen’s, 1937,
estudo citado por Hinde, 1966). Além disso, não nos ajuda a compreender a questão
ao simplesmente definir a orientação dos estímulos nos referindo apenas a genitália.
Os comportamentos e valores sexuais frequentemente se tornam bem estabelecidos
bem antes do contato ou do conhecimento rudimentar de como é a genitália do sexo
oposto.
A magnitude da tolice a que os cientistas podem chegar em suas buscas por
causas genéticas de “traços” comportamentais (coisas) é ilustrada pelo psiquiatra
Richard Pillard quando faz referência ao estudo em que “dois gemêos idênticos
foram separados no nascimento, criados em famílias diferentes e reunidos quando
adultos pelos pesquisadores dos estudos com gêmeos de Minnesota. Esses homens
acabaram mostrando semelhanças em praticamente todos os aspectos de suas
vidas. Eles até descobriram uma propensão em comum de usar roupas de couro
durante o sexo e de usar diversos dispositivos para aumentar a estimulação. No
entanto, um era gay e o outro heterossexual” (Bower, 1992). Presumivelmente, a
referência de Pillard aos estudos de Minnesota era para demonstrar que, apesar de
que as variáveis ambientais ocasionalmente possam alterar o “gene homossexual”,

Tradução exclusiva para fins acadêmicos, evite redistribuição e consulte o original.


o “gene do couro” e o “gene dos vibradores elétricos” eram poderosos demais para
serem influenciados pelo ambiente.
Outra pesquisa correlacional sugere uma relação entre comportamento
homossexual em carneiros (e também ratos machos) e uma insensibilidade ao
hormônio Estradiol (Pennisi, 1994). No entanto, para que isso tenha grande
relevância nas preferências sexuais humanas, talvez seja preciso supor que o cheiro
do macho e da fêmea tenha tanta importância no comportamento sexual humano
quanto ele talvez tenha no comportamento sexual de outras espécies, uma
suposição que não estou inclinado a fazer.
Outro problema com essa pesquisa genética é que:

O campo da genética comportamental é repleto de aparentes descobertas


que depois acabam sendo colocadas em questão ou retraídas. Ao longo
dos últimos anos, vários grupos de pesquisadores relataram ter descoberto
genes para diversas doenças mentais – depressão, esquizôfrenia,
alcoolismo – apenas para ver essas evidências evaporarem diante de novas
evidências ou da re-análise dos dados originais. “Não há quase nenhuma
descoberta que seria convincente por si mesma nesse campo”, observa
Elliot Gershon, chefe do departamento de Clínica Neurogenética do Instituto
Nacional de Saúde Mental. “Nós realmente precisamos ver uma replicação
independente” (Pool, 1993, p. 291).

Baron faz um argumento semelhante:

Há lições também de outros estudos - por exemplo, da hipótese de que


outro traço comportamental, a doença maníaco-depressiva, é ligada ao
cromossomo X. A base para esta hipótese foi inicialmente feita por padrões
de segregação consistentes com transmissão ligada ao cromossomo X e
relatos de ligação com a região cromossômica Xq27-28. Em alguns
estudos, o apoio estatístico destes resultados excederam os níveis de
significância relatados por Hamer et al. Além disso, as evidências vindas de
estudos de gêmeos e de adoção na busca de um componente genético da
doença maníaca-depressiva pareceu mais estimulantes do que na busca
por genes da homossexualidade. Infelizmente, a não-replicação pelos
pesquisadores dessas descobertas de ligações de cromossomos, assim
como a extensão e reavaliação dos dados originais, resultou na diminuição
do apoio a essa hipótese. Este resultado ressalta as incertezas encontradas
em estudos de correlações de traços comportamentais complexos.

Baron também faz as seguintes considerações:

A afirmação de que a homossexualidade masculina é ligada ao


cromossomo Xq228 tem animado o debate do inato versus adquirido na
orientação sexual humana. Quando comparada a outros estudos genéticos
e epidemiológicos e a complexidade dos estudos de ligação cromossômica
em geral, somos obrigados a realizar uma análise mais profunda... Estudos
com gêmeos homossexuais são abundantes. Alguns mostram concordância

Tradução exclusiva para fins acadêmicos, evite redistribuição e consulte o original.


semelhante em gêmeos monozigóticos e dizigóticos, enquanto outros
sugerem maior concordância no grupo monozigóticos. A maioria destes
resultados são ininterpretáveis por conta dessas pequenas amostras ou por
questão não resolvidas no que diz respeito a classificação fenotípica, a
seleção dos casos, ao diagnóstico da zigosidade dos gêmeos ou porque
fazem a suposição não testada de que os gêmeos monozigóticos e
dizigóticos tem experiências ambientais semelhantes, de tal forma que
qualquer mudança na concordância entre eles tivesse que ser de origem
genética... O apoio à hipotese genética é ainda mais complicado quando se
leva em conta considerações culturais e evolutivas. Algumas culturas – por
exemplo, os assírios e os greco-romanos – eram muito tolerantes à
homossexualidade. O comportamento era praticado abertamente e era
altamente prevalente. Padrões sexuais são, até certo ponto, um produto das
expectativas da sociedade, mas seria difícil imaginar uma mudança na
prevalência de um traço genético apenas em resposta à mudança de
normas culturais. Além disso, a partir de uma perspectiva evolucionária, a
homossexualidade geneticamente determinada estaria extinta há muito
tempo por causa da redução na reprodução. (1993, p. 337)

Para uma crítica mais detalhada a hipótese de herança de preferências e


papéis sexuais, consulte Byne (1994).
Portanto, é difícil encerrar a questão. Sem dúvidas a busca pela base
biológica das “preferências” sexuais continuará assim como continua para as
“tendências criminais”, “inteligência” e “doenças mentais”. E sem dúvidas os
resultados dessas buscas serão tão ambíguos que as pessoas poderão concluir
aquilo que elas desejarem (isto é, a conclusão que é compatível com suas próprias
histórias comportamentais), assim como elas tem feito em todas as outras áreas
mencionadas. E é igualmente certeiro que esse tipo de investigação continuará a
gerar muita controvérsia.
Uma das razões para o agitamento que o debate entre o inato versus
aprendido gera é de que ele tem implicações políticas. Alguns defensores dos
direitos dos homossexuais acreditam que a sociedade será mais tolerante se os
comportamentos e valores sexuais forem herdados e não “culpa” das pessoas,
enquanto alguns defensores pensam justamente o contrário (Shapiro, 1991; Watson
& Shapiro, 1995). Minha suspeita é que a homofobia é tão arraigada em nossa
cultura que a resolução do debate inato versus adquirido teria pouco impacto na
questão de qualquer maneira.

A homofobia é aprendida ou herdada?

Tradução exclusiva para fins acadêmicos, evite redistribuição e consulte o original.


Durante sua campanha presidencial e por um curto período após a sua
eleição, o presidente Bill Clinton foi tão corajoso, ou talvez tão ingênuo, a ponto de
sugerir que os militares devessem tratar as pessoas homossexuais como seres
humanos normais e não como criaturas anormais da noite que devessem ser
penalizadas, humilhadas e constrangedoramente expulsas do serviço militar. Mas o
que me surpreendeu foi a reação forte e negativa por parte dos cidadãos norte-
americanos e seus líderes. Por exemplo, o general Colin Powell quase renunciou em
protesto (Dumas, 1995). Embora ele seja afroamericano, ele não parecia se importar
com o fato de que sua nomeação como presidente do Joint Chiefs of Staff, em 1989,
ocorreu apenas alguns anos depois de meio milhão de negros americanos terem
servido em unidades militares segregadas na II Guerra Mundial (Knight & Carson,
1995); isso perdurou até que a administração presidencial de Harry Truman declarou
que a discriminação e segregação racial estavam banidas do serviço militar. A
homofobia é tão poderosa que o paralelo entre a furiosa resistência militar contra a
integração racial e a furiosa resistência militar contra a integração entre orientações-
sexuais não parece exercer muito controle sobre o comportamento do general
Powell. A homofobia era tão poderosa que líderes militares como Powell e membros
do congresso forçaram Clinton a implantar a fraca e irracional política do “Não
pergunte, não conte” (Dumas, 1995).
(Curiosamente, o argumento de que a homossexualidade e a estimulação
sexual vinda do mesmo sexo destrói a eficácia dos militares ignora uma longa
história cultural da homossexualidade oficialmente sancionada em forças de
combate eficazes. "Soldados gregos foram regularmente acompanhados à batalha
por rapazes que serviram como seus parceiros sexuais e companheiros com quem
dormiam em troca de ensinamentos nas artes marciais. Tebas, uma das primeiras
Cidade-Estado ao norte de Atenas, possuía um batalhão de elite conhecido como o
Bando Sagrado, cuja reputação de coragem invencível repousava sobre a unidade e
a devoção de seus pares masculinos guerreiros" [Harris, 1989, p. 240]. Harris
também cita muitos outros exemplos semelhantes em todo o mundo. Nessas outras
culturas onde a estimulação sexual pelo mesmo sexo era ou é comum dentro ou fora
das forças armadas, a fonte de estimulação tipicamente não era exclusivamente do
mesmo sexo. Em vez disso, era uma questão de conveniência, ou um fase em uma
carreira, ou era simultaneamente acessada com a estimulação do sexo oposto.)

Tradução exclusiva para fins acadêmicos, evite redistribuição e consulte o original.


A princípio, pensei que General Powell e outros líderes políticos homofóbicos
estavam cinicamente participando de um jogo de poder. Ao invés disso, como o
desenvolvimento dos eventos demonstrou, parece que eles eram possessores da
genuína homofobia que permeia a alma de nossa cultural. Por quê?
Muitos dos que se opõe aos cidadãos homossexuais citam a Bíblia Sagrada
(e, é claro, a Bíblia pode ser citada de volta para eles). Mas o que é a Bíblia? Em
grande medida, é um impressionante e ilustrado código do comportamento de
líderes da nossa cultura, passada e presente, considerado o melhor para o bem
estar de nossa sociedade, independente da Bíblia ser a palavra de Deus de milhares
de anos atrás ou a palavra de líderes humanos de milhares de anos atrás.
E por que nossos líderes se preocupariam com o comportamento sexual? Nos
dias bíblicos e até um passado recente, a taxa de mortalidade infantil era alta.
Talvez uma sociedade populosa foi considerado mais o viável, especialmente
quando competiam com outras sociedades guerreiras. Além disso, "ao longo da
história e pré-história, os modos de produção eram mais recompensadores para
aqueles que eram capazes de ter um número elevado de filhos" (Harris, 1989, p.
227). E, mesmo nos tempos modernos, "a sociedade precisa de crianças, mesmo
que adultos sexualmente ativos não precisem" (Harris, 1989, p. 233). Então, talvez
nossos líderes tenham categorizado e ainda categorizem o comportamento sexual
alternativo como tabu ou como imoralidade porque esse comportamento não leva a
reprodução, quer esse comportamento proibido seja:
 Onanismo: (masturbação e coito interrompido, nome vindo de Onã,
filho de Judá [Gênesis 38:9]) (Onanismo, 1994)
 Sodomia: {sexo anal ou copulação com animais – nome vindo de
Sodoma, da fama da história de Sodoma e Gomorra, as duas cidades destruidas
pelo fogo do céu, por causa de sua perversidade carnal não-natural, de acordo com
a Bíblia Sagrada; tão pecaminosa era Sodoma, que enquanto fugia da destruição de
Sodoma, a esposa de Ló desobedeceu a Deus, olhando para trás, e como castigo
foi transformada em uma estátua de sal por causa de seu pecado de voyeurismo}
(Somodia, 1994)
 Homossexualidade: (“Se também um homem se deitar com outro
homem, como se fosse mulher, ambos praticaram uma abominação; eles deverão
ser mortos; o seu sangue cairá sobre eles.” "[Bíblia Hebraica. Levítico 20:13]. Nas
culturas européias, leis religiosas e seculares contra a homossexualidade

Tradução exclusiva para fins acadêmicos, evite redistribuição e consulte o original.


começaram na Idade Média, como proibições contra qualquer tipo de atividade
sexual que não visasse a procriação.) (Homossexualidade, 1994)

Linguagem pesada. Tradicionalmente, os nossos líderes religiosos e


seculares trataram seriamente da prevenção para que rebanho não se afastasse.
Mas note que os nossos líderes não tem muito a dizer sobre o comportamento auto-
prejudicial, que não seja um lembrente ocasional sobre prejudicar "o templo do teu
corpo". Por que não? Por que não há grandes leis religiosas e legais contra arrancar
os próprios olhos ou bater a cabeça no chão até sangrar? Certamente esses atos
são tão prejudiciais para o indivíduo e para a sociedade quanto as variações
sexuais. Imagine uma cultura cheia de pessoas que emitem altas taxas de
comportamento auto-prejudicial. Mas isso força a imaginação. Nossos líderes
religiosos e legais não passam muito tempo abordando a questão da auto-lesão
porque é muito raro, porque apenas algumas pessoas tem o comportamento sob o
controle das contingências de reforçamento associados à auto-lesão. (Além disso, a
maioria das pessoas que se auto-lesionam seriamente não estão sob o controle de
regras religiosas e legais.)
Mas o comportamento de muitas pessoas está sob o controle de
contingências de reforçamento associadas aos reforçadores sexuais não
reprodutivos. Essas contingências simultâneas de fontes alternativas de reforços
sexuais são tão poderosas e tão prontamente disponíveis que elas podem diminuir
seriamente o índice de comportamento sexual reprodutivo e, portanto, a taxa de
procriação. Logo, poderia não ocorrer a quantia suficiente de prociação. Novamente,
isso pode ser a preocupação histórica de nossos líderes. Além disso, Harris (1989)
sugere que:

Em reação à expectativa de fracasso reprodutivo generalizado provocado


pela mudança da economia agrária para a industrial, empregadores de mão
de obra forçaram os legisladores a condenar e punir severamente todas as
formas de sexo não-reprodutivo... Como um exemplo flagrante de sexo não-
reprodutivo, a homossexualidade tornou-se um dos principais alvos das
forças pró-natalista, juntamente com a masturbação, sexo antes do
casamento, contracepção e aborto. (pp. 244-245)

Deve-se constatar, no entanto, que a intensa homofobia da cultura ocidental


raramente se iguala a de outras culturas que se encontram em contigências

Tradução exclusiva para fins acadêmicos, evite redistribuição e consulte o original.


materiais similares, que pareceriam exigir da mesma forma um alta taxa de
procriação:

Há o caso do homem gay moderno, uma forma de homossexualidade


institucionalizada que provavelmente nunca existiu em qualquer lugar
exceto na cultura ocidental recente. O que torna os gays únicos é o fato de
que a maioria da população heterossexual americana condena as
manifestações do comportamento homossexual e até há alguns anos usou
o sistema de justiça criminal para punir alguém considerado culpado de até
mesmo um único encontro homossexual (Harris, 1989, p. 244).

Atitudes em relação à homossexualidade no mundo ocidental foram


determinados em grande parte por códigos morais judaico-cristãos
predominantes, que tratam a homossexualidade como imoral ou
pecaminosa. Mas, como muitos outros pecados, relações homossexuais
eram vistas como expressões da fraqueza inerente a todos os seres
humanos, e não como uma doença mental ou como o comportamento de
um tipo específico de pessoa. Este último ponto de vista, que considerava a
homossexualidade como uma patologia, desenvolvida no final do século 19
(Simon, 1996).

Eis a questão: Se fôssemos biologicamente preparados para achar sexo não


reprodutivo aversivo (incluindo a estimulação sexual vinda do mesmo sexo) em vez
de reforçador, não haveria necessidade de todas essas sanções religiosas e legais.
Mas nós não somos. Em vez disso, parece que estamos biologicamente preparados
para achar qualquer fonte não-abrasiva de estimulação sexual reforçadora. Então,
se o nosso comportamento sexual deve se restringir ao sexo procriativo, é preciso
fazer com que a estimulação sexual de todas as fontes não reprodutivas se torne
algo vergonhoso, sujo, desagradável e não natural, ou seja, transformá-las em
estímulos aversivos condicionados. E isso é feito através de emparelhamento direto
com estímulos aversivos, como a punição física, e mais frequentemente, através de
análogos verbais a tais estímulos, como sanções sociais, religiosas e legais faladas
ou escritas.
Esses relativamente sutis emparelhamentos e analogias são
surpreendentemente efetivos. São tão eficazes que, quando adultos, muitos
parecem acreditar que somos biologicamente programados para achar a
estimulação sexual por alguém do mesmo sexo algo horrivemente aversivo. O
resultado é que essas pessoas não conseguem suportar a ideia de estar no serviço
militar com pessoas que não consideram a estimulação sexual homossexual algo
aversivo.

Tradução exclusiva para fins acadêmicos, evite redistribuição e consulte o original.


Mas as vezes esses emparelhamentos relativamente sutis entre a
estimulação sexual homossexual e estímulos aversivos e seus análogos verbais não
são realizados de maneira eficaz. Ao invés disso, por causa de pequenas diferenças
no histórico de aprendizado, esses emparelhamentos foram sutis demais, então a
estimulação sexual vinda do mesmo sexo ainda continua fortemente reforçadora. E
em alguns casos, a estimulação sexual heterossexual foram emparelhados com
estímulos aversivos, seja diretamente ou através de analogos verbais a esses
emparelhamentos e a estimulação sexual vinda do sexo oposto se torna um
estímulo aversivo condicionado.
Então, do ponto de vista analítico-comportamental presente (não é a única
perspectiva behaviorista possível), herdamos a susceptibilidade para o nosso
comportamento ser reforçado pela estimulação sexual a partir de praticamente
qualquer fonte, incluindo fontes de pessoas do mesmo sexo e do sexo oposto. É
somente através do controle aversivo que essas fontes são restringidas. E as
nossas diferentes histórias comportamentais fazem com que diferentes estimulações
sexuais, vindas de diferentes fontes, se tornem estímulos aversivos condicionados,
alguns de fontes do mesmo sexo, outros de fontes do sexo oposto. E só com intensa
intervenção comportamental, que essas aversões podem ser revertidas, mesmo com
a participação voluntária (Barlow, Reynolds, & Agras, 1973).
Por fim, deixe-me mencionar outra preocupação político-social: a realidade
cultural e material mudou muito desde os tempos bíblicos. Agora temos mais
problemas com a superpopulação do que com a queda na natalidade. No entanto, a
sociedade continua perseguindo cidadãos transexuais, gays e lésbicas (valores
sociais geralmente dolorosamente persistem ao invés de acompanhar a realidade
material). Então quem deve mudar – os cidadãos perseguidos ou a obsoleta
sociedade perseguidora? Algumas pessoas, preocupadas com o desenvolvimento
de uma sociedade mais tolerante, podem argumentar que é melhor lutar ao invés de
mudar, que as pessoas com estilos de vida alternativos não devem ceder à
intolerância. Defendo que devemos fazer o que for possível para ajudar as pessoas
que se encontram com estilos de vida sexuais alternativos (seja ajudá-los a adquirir
estilos de vida sexual tradicionais, como Barlow et al. fizeram, ou ajudá-los a resistir
à opressão da maioria tradicional), mas, ao mesmo tempo, todos os envolvidos
podem trabalhar por uma uma sociedade mais tolerante e compatível com as
realidades materiais e sociais dos séculos XX e XIX.

Tradução exclusiva para fins acadêmicos, evite redistribuição e consulte o original.


Conclusões

Esta visão de mundo analítico-comportamental salienta a importância da


história comportamental e das contingências atuais na compreensão das causas dos
comportamentos e valores individuais. Ela argumenta que, embora a nossa história
genética seja fundamental na determinação dos processos comportamentais que
interagem com a nossa história comportamental e com as contingências atuais, a
história genética tem pouco efeito direto sobre diferenças individuais no
comportamento e valores entre os seres humanos. As variações culturais em tais
comportamentos e valores apoia a importância das causas comportamentais sobre
as causas genéticas. Da mesma forma, a necessidade pelo controle social, jurídico
e religioso é um argumento contra a causas genéticas. Além disso, esta visão
analítico-comportamental de mundo defende a arbitrariedade das formas
particulares dos comportamentos envolvidos e a importância das contingências
envolvidas na determinação de muitas formas de comportamento humano.
Como um exemplo, esta visão analítico-comportamental de mundo sugere
que a nossa herança biológica não tem mais poder sob nossa preferência para as
fontes de nossa estimulação sexual do que tem sob nossa preferência para as
fontes de nossa estimulação auditiva. Não há nenhum gene que determina se nós
preferimos a estimulação sexual vinda do mesmo sexo ou do sexo oposto, assim
como não há nenhum gene que determina se nós preferimos preferimos ouvir heavy
metal, new wave ou polca – bem, talvez haja um gene para a polca.

REFERÊNCIAS

Barlow, D. H., Reynolds, E. H., & Agras, W. S. (1973). Gender identity change in
transsexuals. Archives of General Psychiatry, 28, 569-579.
http://dx.doi.org/10.1001/archpsyc.1973.01750340089014

Baron, M. (1993) Genetic linkage and male homosexual orientation: reasons to


be cautious. (Editorial) British Medical Journal, 307, 337-338.
http://dx.doi.org/10.1136/bmj.307.6900.337

Billings, P., & Beckwith, J. (1993). Born gay? Technology Review, 96, 60-62.

Tradução exclusiva para fins acadêmicos, evite redistribuição e consulte o original.


Bower, B. (1992). Genetic clues to female homosexuality. Science News, 142,
117-140. http://dx.doi.org/10.2307/3976848

Burr, C. (1993). Homosexuality and biology. The Atlantic, 271, 47-60.

Byne, W. (1994). The biological evidence challenged. Scientific American, 270,


50-5. http://dx.doi.org/10.1038/scientificamerican0594-50

de Waal, F. B. M. (1995, March). Bonobo sex and society. Scientific American,


272, 82-88.

Dumas, E. C. (1995). Bill Clinton. In Microsoft encarta 96 encyclopedia [CD-


ROM]. Redmond WA: Microsoft.

Ezzell, C. (1991). Brain feature linked to sexual orientation. Science News,


140,134. http://dx.doi.org/10.2307/3975838

Hamer, D. H., Hu, S., Magnuson, V. A., Hu, N., & Pattatucci, A. M. L. (1993). A
linkage between DNA markers on the X chromosome and male sexual
orientation. Science, 261, 321-7. http://dx.doi.org/10.1126/science.8332896

Harris, M. (1989). Our land. New York: Harper & Row.

Hinde, R. A. (1966). Animal behavior: A synthesis of ethology and comparative


psychology. New York: McGraw-Hill.

Hu, S., Pattatucci, A. M., Patterson, C, Li, L., Fulker, D. W., Cherny, S. S.,
Kruglyak, L., & Hamer, D.H. (1995). Linkage between sexual orientation and
chromosome Xq28 in males but not in females. Nature Genetics, 11, 1061-4036.
http://dx.doi.org/10.1038/ng1195-248

Homosexuality (1994). Microsoft bookshelf '95: Multimedia reference library


[CD-ROM]. Redmond WA: Microsoft.

Honig, W. K., & Staddon, J. E. R. (1977). Introduction. In W. K. Honig and J. E.


R. Staddon (Eds.), Handbook of operant behavior. Englewood Cliffs, NJ:
Prentice-Hall.

Tradução exclusiva para fins acadêmicos, evite redistribuição e consulte o original.


Keller, F. S., & Schoenfeld, W. M. (1950). Principles of psychology. Acton, MA:
Copley Publishing Group.

Knight, F. W., & Carson, C. (1995). Blacks in the Americas. In Microsoft encarta
96 encyclopedia [CD-ROM]. Redmond WA: Microsoft.

Lovaas, O. I. (1987). Behavioral treatment and normal educational and


intellectual functioning in young autistic children. Journal of Consulting and
Clinical Psychology, 55, 3-9. http://dx.doi.org/10.1037/0022-006X.55.1.3

McEachin, J. J., Smith, T. & Lovaas, I. O. (1993). Long-term outcome for


children with autism who received early intensive behavioral treatment.
American Journal of Mental Retardation, 97, 359-372.

Moss, F. A. 1924, Study of animal drives. Journal of Experimental Psychology,


7,165-185. http://dx.doi.org/10.1037/h0070966

Onanism (1994). Microsoft bookshelf '95: Multimedia reference library [CD-


ROM]. Redmond WA: Microsoft.

Pennisi, E. (1994). Gay rams lack hormone sensitivity. Science News, 145, 159.
http://dx.doi.org/10.2307/3978014

Peterson, N. (1960). Control of behavior by presentation of an imprinted


stimulus. Science, 132, 1395-1396.
http://dx.doi.org/10.1126/science.132.3437.1395

Pool, R. (1993). Evidence for homosexuality gene. Science, 261, 291-292.


http://dx.doi.org/10.1126/science.8332894

Rekers, G. A., & Lovaas, O. I. (1974) Behavioral treatment of deviant sex-role


behaviors in a male child. Journal of Applied Behavior Analysis, 7,257-262.
http://dx.doi.org/10.1901/jaba.1974.7-173

Simon, W. (1996) Homosexuality. In Microsoft encarta 96 encyclopedia [CD-


ROM]. Redmond WA: Microsoft.

Tradução exclusiva para fins acadêmicos, evite redistribuição e consulte o original.


Shapiro, J. P. (Dec. 30, 1991). Among twin men. U. S. News & World Report,
111, 32.

Sodomy (1994). Microsoft bookshelf '95: Multimedia reference library [CD-


ROM]. Redmond WA: Microsoft.

Watson, T. & Shapiro, J. P. (1995, November 13) Is there a "gay gene"? U. S.


News & World Report, 119, 93, 94, 96.

Wolberg, L. R. (1994). Homosexuality. In Microsoft encarta 96 encyclopedia


[CD-ROM]. Redmond WA: Microsoft.

Tradução exclusiva para fins acadêmicos, evite redistribuição e consulte o original.

Você também pode gostar