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Molas

(Nível Técnico)

Prof. Luiz Ferraz Netto


leobarretos@uol.com.br

Trata-se de um elemento único ou uma associação de elementos (sistema) capaz de


assumir notáveis deformações elásticas sob a ação de forças ou momentos, e, portanto, em
condições de armazenar uma grande quantidade de energia potencial elástica. Os
elementos característicos das molas são a flecha, a rigidez e a flexibilidade.

Flecha é a deformação sofrida pela mola sob a ação de uma determinada força, medida na
direção da própria força. Tal conceito pode estender-se também a um elemento elástico
sujeito a um binário, neste caso a força é substituída por um momento aplicado e a
deformação retilínea pelo deslocamento angular.

Chamam-se características elásticas de uma mola os gráficos que exibem a variação da


intensidade da força ou do valor do momento de reação em função da excursão
(deformação) retilínea y ou angular . Geralmente as curvas representativas resultantes
são curvas quaisquer, mas existem trechos cujos diagramas mantém-se, com grande
aproximação, retilíneos e para os quais as expressões da força e do momento de reação
em função das respectivas excursões y e  podem ser postas sob a forma F = K.y ou M =
K., onde nos dois casos K é o coeficiente angular dos considerados trechos retilíneos nos
diagramas. O parâmetro K é chamado coeficiente de rigidez ou também simplesmente
rigidez da mola.
De acordo com a natureza e os efeitos dos elementos elásticos componentes dos sistemas
mecânicos, os relativos coeficientes de rigidez podem ser diferenciados em coeficientes de
rigidez axial, flexional, torcional e de deslizamento.
Para um dado sistema elástico simples sujeito a uma determinada carga crescente, que
provoca no sistema deformações elásticas que podem ser acumuladas, por exemplo
simplesmente axiais ou flexionais com característica retilínea, o respectivo coeficiente de
rigidez axial ou flexional do sistema é igual <numericamente> ao valor assumido pela força
elástica de reação imposta pelo sistema (aplicada no mesmo ponto de aplicação da carga),
relativamente a uma excursão retilínea unitária em tal ponto de aplicação.
Para um sistema elástico sujeito a uma torção, o coeficiente de rigidez torcional é medido
pelo valor do momento elástico de reação fornecido pelo sistema quando o próprio é sujeito
a um momento torcional e que provoque uma excursão angular unitária. Estes coeficientes
exprimem-se, portanto, em kgm.m/rad e kgm.m.
Ainda, mesmo que o diagrama característico seja uma linha qualquer, é sempre possível
subdividi-lo em um conveniente número de trechos de trabalho, entre os quais o coeficiente
K possa mostrar-se aproximadamente constante; ou, inversamente, criar um sistema
elástico tendo um parâmetro K variável com uma lei prefixada e com oportuno critério, em
dependência das exigências funcionais às quais deve corresponder o sistema; isto é obtido
combinando-se oportunamente entre si mais elementos elásticos (em série, em paralelo
etc.) para constituir o sistema com as características desejadas.

Flexibilidade da mola é o valor recíproco da rigidez, ou seja: y/F ou


M onde y é a deformação linear e F a intensidade da força que a originou e é
a deformação angular e M o valor do momento que a determinou. A flexibilidade da mola
indica o valor da deformação sob a carga unitária.
Sobre as características da mola influem, além da sua forma e dimensões, as propriedades
elásticas do material do qual é constituída, ou seja, o módulo de elasticidade e as
características de resistência e, em particular as máximas solicitações admissíveis no
campo da elasticidade. Observando as leis de dependência F = K.y e M = K. vê-se
claramente que para se ter uma grande deformação elástica sob uma determinada carga, a
mola deve possuir uma pequena rigidez. As molas de borracha, por exemplo, trabalham
tanto na tração como na compressão porque apresentam pequena rigidez para estas duas
solicitações. Como os elementos capazes das mais elevadas deformações elásticas são
aqueles solicitados à flexão e à torção, as molas usadas nas construções mecânicas, são
geralmente molas de flexão e molas de torção.
Também são interessantes as molas à anéis cujo emprego vai cada vez mais se
estendendo. Nas molas de flexão a solicitação predominante é a de flexão. As molas de
flexão simples ou elementares são lâminas de aço, com seção retangular e eixo retilíneo,
presas por uma extremidade e carregadas pela outra com uma carga P vertical. A sua
seção retangular pode ser:
1) de espessura e largura constantes;
2) de espessura constante e largura variável linearmente;
3) de largura constante e a espessura variável segundo uma equação de segundo grau.
Para estas molas valem as seguintes expressões:

Kf = P/y para o coeficiente de rigidez;


U = (1/2).Kf.y2 para a energia potencial armazenada,

sendo P a carga vertical aplicada, y a flecha originada.

As molas do segundo e terceiro tipos são molas flexionais de resistência uniforme para as
quais se verifica a condição que, em uma seção genérica a qualquer distância da carga
aplicada P, a solicitação máxima de tensão mantém-se constante. Por outro lado, as molas
do segundo tipo apresentam uma curva elástica de raio e curvatura constantes (arco de
círculo); esta característica é particularmente interessante para a formação de molas
compostas, a serem obtidas por superposição de mais molas simples.
As molas de flexão simples denominadas molas de folha são molas de lâminas apoiadas
nas duas extremidades e carregadas no meio do vão livre por uma carga concentrada. Têm
espessura constante e largura constante ou variável linearmente com um valor máximo em
correspondência à carga de um valor mínimo nas extremidades.
A mola de flexão simples com haste curvilínea é particularmente utilizada nas juntas de
frição onde há necessidade de ter-se molas com flecha elástica relativamente grande, de
acordo com o espaço disponível e as forças atuantes. Podem ser curvadas em arco de
círculo, de largura e espessura constantes, carregadas na extremidade por duas forças
iguais e contrárias com a linha de ação coincidente com a corda do arco; ou também o anel
circular fechado, com lâmina de espessura e largura constantes carregadas por cargas
radiais e concentradas; ou enfim em forma de S (chamado acoplamento a frição Dolmen Le
Blanc, um clássico) a seção retangular constante carregada na extremidade por duas
cargas iguais opostas, tendo ambas a mesma reta de aplicação.

Feixe de molas em lâminas são aqueles geralmente usados nos auto-veículos e no material
móvel ferroviário.
Resultam assim constituídas: consideremos uma mola de lâmina simples de comprimento l
e de largura b nas duas extremidades e B = nb no ponto médio; dividindo-a
longitudinalmente em 2n fitas de largura b/2 e reunindo duas a duas as fitas simétricas em
relação à haste longitudinal. Resultam n molas, chamadas folhas, das quais uma retangular
de comprimento l e n-1 de comprimentos decrescentes em progressão aritmética de l/(n-1),
tendo a extremidade triangular, sobrepondo agora as n molas assim conseguidas (mantidas
juntas por braçadeira central) obtém-se feixe de molas, de comprimento L, largura b e
espessura ns (s espessura da chapa) a qual é, por aproximação, equivalente à mola de
flexão simples de folha. Diz-se folha mestra a maior lâmina retangular, que traz nas
extremidades dois olhais de articulação. Ao centro, o pacote de lâminas é circundado por
uma braçadeira que traz os órgãos de ligação para carga. O feixe de molas tem
características muito semelhantes às do sólido de resistência uniforme; além de realizarem,
em relação aos outros tipos de molas, o máximo auto-amortecimento (leia sobre
"amortecimento" no trabalho seguinte), devido ao atrito notável que se manifesta entre uma
folha e outra quando estas são obrigadas a deslizar uma sobre a outra por causa das
variações de curvatura da mola. Esta última característica é muito importante para
suspensões dos auto-veículos.

Molas de flexão em espiral são formadas por uma fita de material elástico. A seção
retangular constante é posta em espiral plana com uma extremidade fixa e outra presa a um
órgão giratório em torno do próprio eixo. Aplicando-se ao órgão giratório, um momento
torçor, a mola se enrola em volta deste tensionando-se. Este tipo de mola é aplicado nos
equipamentos móveis de quase todos os aparelhos elétricos e mecânicos de medida, para
obter um momento de reação proporcional àquele a ser medido. Nos relógios, onde o uso
destas molas em espiral plana é muito difundido, sendo estas aplicadas em um eixo do
pêndulo (volante), temos aí a necessidade de variar o valor do coeficiente K, com a
finalidade de alcançar um respectivo valor da pulsação do regime oscilatório do pêndulo,
que depende do valor de K e do momento de inércia J do volante em relação ao próprio
eixo de rotação. Em tais condições regula-se por tentativas de valor de K, agindo
simplesmente sobre o comprimento L da fita da espiral: movendo-se um oportuno cursor,
varia-se tal comprimento, e assim modifica-se o valor de K.

Mola de flexão helicoidal é formada por uma barra de seção circular, enrolada numa hélice
cilíndrica, com uma extremidade fixa e outra coligada a um órgão móvel, que gira em torno
do eixo da mola. A mola resulta, portanto, solicitada por um binário contido em um plano
normal ao eixo da própria mola. O ângulo de rotação depende do diâmetro do fio e do seu
comprimento e não do passo ou diâmetro do cilindro, sobre o qual é desenvolvida a hélice.
Outra mola de flexão é a mola em taça, constituída por um conjunto de pares de conchas,
chamada mola Belleville, posta alternadamente com a concavidade em um sentido e no seu
oposto. A carga axial faz achatar as conchas e a flecha total, igual à soma das flechas
singulares, é tanto maior quanto mais elevado é o número de pares de conchas. Este fato
oferece a possibilidade de criar molas com características muito diferentes empregando
números maiores de elementos elásticos.

Molas de torção são aquelas cuja solicitação predominante é a da torção. A mola de torção
mais simples é chamada barra de torção. É constituída por uma barra de seção circular de
eixo retilíneo, presa por uma extremidade e sujeita na extremidade livre a um momento que
age num plano normal ao eixo da barra. Age como mola quando coliga elasticamente dois
órgãos mecânicos que devem submeter-se a afastamentos angulares elásticos relativos. O
coeficiente de rigidez torcional é dado por Kt = Mt/ e representa o momento torçor
necessário para que a seção da extremidade livre da barra gire de um ângulo  = 1 radiano;
este é tanto maior quanto maior é o módulo de elasticidade transversal G do material e do
momento de inércia polar Jp, da barra, e quanto menor é o comprimento l da barra.
Demonstra-se, também, que a energia potencial elástica absorvida pela barra é igual a (1/2)
Kt. .
Uma outra mola de torção é a mola de torção helicoidal, carregada axialmente; de fato, sob
a ação da carga axial a solicitação principal do material é de torção. O fio ou a barrinha de
aço, do qual a mola é constituída pode ser em seção circular, quadrada, retangular; a hélice
de desenvolvimento pode ser com passo constante ou variável. A flecha elástica y e a
energia potencial disponível em correspondência desta flecha, ou seja (1/2).K.y2, são
proporcionais ao número de espirais da mola. A mola helicoidal de compressão não é
vinculada na extremidade, mas simplesmente apoiada sobre uma sede plana.
Mola de torção a hélice cônica é semelhante à precedente, com a única diferença de que o
fio ou barrinha de aço são enrolados segundo uma hélice cônica. A mola de hélice cônica
de seção retangular, chamada mola de bovolo, é largamente aplicada nos pára-choques do
material móvel ferroviário.

Mola em anéis é substancialmente solicitada à tração e à compressão. É constituída por um


conjunto de anéis de aço temperado, semi-presos, sobre as superfícies tronco-cônicas e
dispostos alternativamente interna ou externamente. Submetendo a mola a uma carga axial
de compressão, os anéis internos diminuem e os externos aumentam de diâmetro
deformando-se elasticamente. Acontece então um acostamento recíproco dos anéis e a
flecha máxima é atingida quando os seus laterais chegam a se encostar, acumulando a
distância s. Durante a compressão há atrito entre as superfícies de contato cônicas; estas
absorvem parte  do trabalho executado pela carga, enquanto que na fase de distensão,
absorvem parte da energia elástica acumulada. As molas de anéis são muito usadas como
amortecedores ou empurradores.

Muitas vezes os órgãos elásticos simples vêm acoplados entre si, de varias maneiras para
obter sistema com características elásticas mais apropriadas a determinados empregos,
como ilustramos acima. Como exemplo duas molas de torção helicoidais coaxiais ou
dispostas como indicamos a seguir (inserir figura) chamam-se acopladas em paralelo,
suportando conjuntamente a carga P vertical, que admitimos perfeitamente centralizada
sobre o eixo do sistema das duas molas. A disposição na ilustração acima é também em
paralelo, mas neste caso as molas estão sujeitas a tração. No agrupamento dos órgãos
elásticos em paralelo (homogêneas e do mesmo tipo) procura-se naturalmente, salvo casos
especiais, que as solicitações unitárias, às quais serão submetidos os órgãos, sejam do
mesmo valor, de tal modo que o aproveitamento do material é o mesmo para os diversos
órgãos. Mesmo porque os segmentos das molas em paralelo têm flechas idênticas à flecha
y do sistema.
Demonstra-se facilmente que a rigidez K do sistema é igual a soma das rigidez (? plural) K 1
e K2 das duas molas. Geralmente temos para n molas de rigidez K 1, K2, ...Ki,... Kn,
agrupadas em paralelo K = K1 + K2 + ... + Ki + ... + Kn = .Ki. Um caso típico de aplicação
desta última relação com molas que têm a mesma rigidez, para o qual K = nK 1 é o da junta
elástica representada na ilustração acima, apta a transmitir um certo esforço periférico P.

Duas molas resultam, ao invés, acopladas em série, quando são coligadas entre si por uma
extremidade e postas uma em seguida à outra. Neste caso, a carga P à qual é submetido o
sistema, é também a carga aplicada a cada mola, ou seja P = P 1 = P2 enquanto a flecha
resultante y é igual à soma das flechas y1 + y2 devidas a cada mola.
Demonstra-se facilmente também, nesse caso, que a rigidez do sistema K é dada pela
expressão: 1/K = 1/K1 + 1/K2 e generalizando, para n molas em série (indicando com K i o
valor da rigidez de uma mola genérica):

K = 1/[(1/k1)+(1/k2)+...+(1/ki)+...+(1/kn)] = 1/[

Podem-se ter também sistemas elásticos com agrupamentos mistos, isto é, constituídos de
molas em série e em paralelo.

Mola a rigidez variável, ou melhor, com rigidez crescente com a carga, é empregada por
exemplo nos pesados auto veículos. Uma mola de torção helicoidal pode ser feita com
rigidez variável, enrolando-a com passo variável e, tal que sob uma determinada carga, um
número preestabelecido de espirais, vindo ao contato entre si, diminua o comprimento livre
da mola.

Os materiais empregados na construção das molas são os aços a carbono, com teor de
carbono superior a 0,7% e até a 1 ou 1,2%, os aços a manganês, pela sua elevada
resistência à fadiga, os aços a silício, pelos seus elevados limites de elasticidade e de
ruptura, depois da têmpera. Para estes dois últimos aços porém, as maiores propriedades
são atingidas com a presença simultânea do manganês e eventualmente do cromo.

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