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Artigo para Submissão Pela Funarte - Vanderléia Santos PDF
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APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA
RESUMO: Este trabalho vem para o meio acadêmico com o objetivo de provocar
discussões sobre o papel da Arte nas escolas e promover reflexões sobre a integração
das atividades artísticas no currículo escolar enquanto área específica como mecanismo
para promoção de uma aprendizagem significativa, área que por muito tempo vem
sendo trabalhada na sala de aula como mera auxiliadora das demais disciplinas.
1 INTRODUÇÃO
1
Professora na Rede Municipal de Santo Estevão – Ba. Atualmente desenvolvendo atividades no
Departamento de Cultura do mesmo município. Email: vanderllis@yahoo.com.br
propõe que “o fundamental é entender que a arte se constitui de modos específicos da
atividade criativa dos seres humanos”. Depreende-se que a capacidade de criar é
intrínseca ao homem, porém, ao longo da história da educação, esta área do
conhecimento humano não vem sendo reconhecida como tal. Assim, faz-se necessário
que o Ensino de Arte seja discutido dentro das especificidades inerentes à sua área.
Através deste trabalho, que tem como título Ensino de Artes: contribuições para
uma aprendizagem significativa, pretende-se propor uma reflexão sobre a promoção de
uma recíproca integração das atividades artísticas às demais atividades escolares, nas
séries iniciais do ensino fundamental. Ao fazer referência a tal integração, tem-se o
intuito de chamar a atenção para o entendimento de que a Arte não deve auxiliar apenas
as outras áreas curriculares como Língua Portuguesa, Matemática, Geografia, Ciências
ou História, por muito tempo assim entendida e desenvolvida nas escolas, mas como
uma área específica.
Há uma série de aspectos relevantes que nos leva a identificar a Arte na
educação como uma questão a ser mais discutida no meio acadêmico. Duarte Júnior
(1991) classifica a Arte através de três dimensões: a sociocultural, que aponta o
pensamento artístico como causa da preservação da cultura de um determinado grupo
social num determinado tempo; a dimensão currículo-escolar, na qual a arte como área
específica leva o aluno a estabelecer conexões com outras disciplinas do currículo - a
Geografia e a História, por exemplo; e a dimensão psicológica, que observa a educação
em arte como promotora de um pensamento capaz de fazer com que o indivíduo possa
relacionar-se com outros levando em conta uma maior afetividade, além do
desenvolvimento da criatividade.
Durante muitos anos se reproduziu um ensino pautado no modelo de uma
sociedade capitalista, onde o objetivo principal é o consumo em série e o lucro por parte
de um grupo bem reduzido da sociedade, e nesse contexto, a escola serviu de
reprodutora deste sistema, onde a formação do ser só tem ênfase no âmbito profissional,
deixando de lado a formação pessoal, artística e, enquanto cidadão, a sua integridade.
Verifica-se ainda, que temos traços cada vez mais fortes deste ensino, e que este está
gerando certa “crise de identidade cultural2”.
No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional - LDB nº
9.394/96 no Artigo 26, inciso 2º, estabelece a obrigatoriedade do Ensino de Arte na
2
Inexistência de características próprias de um indivíduo em relação a um determinado grupo ao qual este
faz parte.
Educação Básica, que compreende a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o
Ensino Médio, legitimando a Arte enquanto Área Curricular. Os Parâmetros
Curriculares Nacionais – PCN, para as séries iniciais do Ensino Fundamental, volume
06, relativo à área Curricular Arte, apontam a educação em Arte como forma de
propiciar o desenvolvimento do pensamento artístico, além de proporcionar, a muitos
indivíduos, uma relação afetiva com o meio em que vivem. Os PCN também
apresentam a Arte como uma das possibilidades de valorização do ser humano através
de suas diferentes formas de manifestação, porém, percebemos que no contexto atual do
ensino, uma série de elementos compromete o desenvolvimento efetivo do que está
previsto nos textos oficiais.
A Arte é uma das possibilidades que tem o educando de relacionar-se com o
meio social de forma mais prazerosa. Isso já foi constatado por projetos sociais que
visam a integração do indivíduo à sociedade, como os projetos Axé e Ilê-aiê em
Salvador e o Afro-reggae no Rio de Janeiro, dentre outros, que têm conseguido sucesso
inclusive afastando muitas crianças e adolescentes do mundo da criminalidade. Por
outro lado, observa-se que é através das diferentes manifestações artísticas que se pode
valorizar e resgatar elementos da cultura no meio em que o indivíduo está inserido.
Diante disso, o presente trabalho faz uma análise conceitual acerca da temática,
utilizando como referências as ideias de educadores/pesquisadores como Ana Mae
Barbosa, César Coll, Louis Porcher, João Francisco Duarte Júnior, Maria Fusari, Sílvio
Zamboni e outros, além dos Parâmetros Curriculares Nacionais, que serviram de base
teórica para a concepção sobre o tema focalizado, na busca da compreensão do mesmo.
Deste modo percebe-se que a Arte deve ser uma conexão entre as crianças das
séries iniciais do Ensino Fundamental e a aprendizagem tão almejada nos processos
pedagógicos, seja no espaço acadêmico, seja dentro da sala de aula.
Pensar numa educação com Arte3, é antes de tudo, pensar numa educação que dê
ao aluno a chance de poder desenvolver seu potencial de criação, de produção, de
execução de suas atividades. Neste momento, a escola entra como uma espécie de elo
entre o que a sociedade propaga e o desejo do aluno em poder desenvolver atividades
que suas vontades e seus sonhos, representem suas fantasias.
A escola é o espaço das discussões sobre direitos e deveres, e de reflexão da
realidade. É também a dimensão social das manifestações artísticas, que constitui uma
das funções importantes do ensino da Arte, como propagado nos PCN. Ele aprende com
isso, que existem povos, costumes, religiões, modos de produção e criação diferentes
dos dele, elementos que o ajuda a compreender melhor o outro para uma convivência
com as diferenças. Parte daí, uma consciência tanto de preservação dos patrimônios
culturais, ambientais e o respeito pela diversidade.
O século XX foi o período em que as pessoas, destaque para o Brasil, puderam
falar e produzir da forma que realmente achavam interessante, muitos dados puderam
ser trazidos para a área pedagógica, que de posse das análises realizadas, chegasse a
conclusões de que o ensino da Arte é de fundamental importância para o
desenvolvimento da criança. No tocante às áreas que as Artes podem diretamente
influenciar, estão a antropologia, a filosofia, a psicologia, a psicopedagogia e as
tendências modernas de crítica da Arte, partindo de princípios que valorizam o ensino
das artes plásticas, da dança, da música e do teatro, denominado “Movimento da
Educação através da Arte”, fundamentado nas ideias do filósofo inglês Herbert Read,
movimento que teve como manifestação mais conhecida a tendência da “livre
expressão”.
2
Arte aqui escrita com “A” maiúsculo, já que se trata de área curricular.
O século XX foi também o período em que se pôde refletir sobre qual o lugar
das artes na educação. Depois de muita discussão, chega-se a conclusão de que a
educação em arte é importante na formação do indivíduo. Em 1971, a Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional, LDB nº 5.692, que institui o ensino profissionalizante, a
Arte é incluída como Educação Artística no currículo escolar. A Arte neste momento é
vista como uma atividade educativa e não como uma matéria. Mesmo assim, é
percebido um avanço considerável, pois parte de pressupostos inovadores e,
principalmente no que tange à formação do indivíduo, ela ocupa papel importantíssimo.
Contudo, o desenvolvimento efetivo da Educação Artística nas escolas, deixou muito a
desejar, visto que a falta de professores com formação específica em Artes Plásticas,
Educação Musical e Artes Cênicas não era suficiente para atender as necessidades da
época, o que pode ser observado ainda nos nossos dias.
Em 1988, com as discussões sobre a promulgação da Constituição Federal do
Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional, que seria sancionada
apenas em 20 de dezembro de 1996, traria, mais uma vez o ensino de Arte como alvo de
críticas e manifestações. Uma das versões do novo documento legal, apresentava a
proposta da não obrigatoriedade da Arte nos currículos escolares. Com a Lei nº
9.394/96, a Arte passa a ser considerada área obrigatória na Educação Básica4. O Artigo
26, § 2º é claro ao afirmar: “O ensino da arte constituirá componente curricular
obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o
desenvolvimento cultural dos alunos”.
O supracitado artigo da LDB, em vigência desde 1996, torna obrigatório o
ensino da Arte na Educação Básica, contudo a situação, em termos de condições
mínimas para que a legislação seja de fato cumprida, ainda se constitui num grande
obstáculo na maioria das unidades escolares do país.
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Aquela oferecida desde o ensino pré-escolar até o ensino médio.
apoio às demais disciplinas no processo ensino aprendizagem, mas pouca relevância é
dada às várias modalidades e formas com as quais cada uma dessas manifestações se
apresenta no campo escolar.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais sugerem que o estudo da Área Curricular
Arte se divida em: Música, Artes Visuais, Teatro e Dança. E propõem que as atividades
desenvolvidas possam possibilitar aos alunos, a percepção de que mesmo ao realizarem
uma dramatização ao final de um projeto pedagógico trabalhado num certo período, esta
atividade tem relações com a música, por exemplo, que tem também suas
especificidades, além do que é próprio na prática de dramatizar – os elementos do
teatro.
Vale ressaltar que o documento oficial deixa claro que, devido ao fato de o
professor das séries iniciais não ter uma formação específica na área, não se faz
diferenciação dos conteúdos por ciclo, ou série, cabendo ao professor promover uma
variação nas modalidades artísticas que serão trabalhadas.
Fusari (1992, p. 69) ao tratar sobre a seleção de conteúdos em Arte e,
principalmente da postura do professor, evidencia que “para desenvolver um bom
trabalho de Arte o professor precisa descobrir quais são os interesses, vivências,
linguagens, modos de conhecimento de arte e práticas de vida de seus alunos”. Esses
conhecimentos imprescindíveis para a prática pedagógica, serão a base na construção
dos pilares para uma educação em Arte.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Caracteriza-se pelas ações implícitas no dia-a-dia da escola, nas quais fazem parte os valores, os
costumes, as relações de poder que normalmente passam despercebidas.
Porém a sociedade mudou e junto com ela mudaram os alunos e suas concepções
sobre o ensino. A pedagogia histórico-crítica dos conteúdos aponta para a discussão da
necessidade de o professor estar sempre acompanhando as mudanças pelas quais passa a
sociedade, para que possa intervir nesta através do que é de praxe dele: o ensino. No
entanto, acompanhar as mudanças não é ainda satisfatório, visto que o professor deve
ter metas a serem alcançadas e estas estão ligadas à aprendizagem do aluno. As metas,
segundo a mesma pedagogia, são observadas, de acordo com os Parâmetros
Curriculares Nacionais para todas as áreas curriculares, inclusive Artes: “aprender a
conhecer, a fazer, a ser e a viver com os outros”.
Diante disso, vale sugerir que a partir do exposto, se repense sobre o ensino de
Artes e tudo o que ela pode proporcionar em termos de reparos e perdas na Educação
Nacional, em especial na educação pública.
Para promover a re-significação do Ensino de Arte é necessário antes, promover
mudanças na forma através da qual o currículo é proposto dentro das escolas.Para tanto,
deve-se buscar uma aprendizagem na qual o aluno considere o objeto de estudo como
algo significativo e importante para a sua vida, pautada numa aprendizagem que traga
significados para o mesmo.De modo que o discente possa intervir de forma crítica e
consciente e possa fazer análises do que vê, do que sente, do que lhe é imposto - a
educação tão sonhada pelos docentes. É uma tarefa árdua, repensar o currículo que
atualmente é posto em prática.
Sempre fez parte dos discursos de um sociólogo por natureza chamado Chorão,
vocalista do grupo de rock nacional, Charlie Brown Júnior, o pensamento “pra que
educação, saúde e dinheiro se um povo sem cultura, doente e pobre é mais fácil de ser
manipulado?”.
Por isso é imprescindível aos gestores escolares, professores, e coordenadores,
que são os principais responsáveis por construir ambientes de integração social e
cultural e que têm o poder de promover a formação dos novos músicos, atores, artistas
plásticos e coreógrafos, através do que deve ser de conhecimento de todos estes
profissionais da educação: a participação na construção da proposta pedagógica da sua
escola. Se a Lei determina, cada escola pode fazer suas mudanças, visando a melhoria
do ensino por parte do professor e da aprendizagem por parte do aluno.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Ana Mae. Arte-Educação: conflitos e acertos. São Paulo: Max
Limonade, sd.
BOSI, Alfredo. Reflexões sobre a Arte. 5ª ed. São Paulo: Ática, 1995.
COLL, César [et al.] Desenvolvimento psicológico e educação. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1996.
MARQUES, Isabel A. Ensino de dança hoje: textos e contextos. 2. ed. – São Paulo:
Cortez, 2001.
MELO, Luís Gonzaga de. Antropologia Cultural: iniciação, teoria e temas. Petrópolis
(RJ): Vozes, 1987.