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Ficha técnica:

Sabucale
Revista Anual do Museu do Sabugal
Nº 8 – 2016
Preço: 6 Euros (IVA Incluído)
Tiragem: 500 exemplares
Diretor: António dos Santos Robalo
Conselho de Redação: Carla Augusto, Marcos Osório, Jorge Torres
Propriedade e Edição:
Câmara Municipal do Sabugal
Praça da República
6324-007 Sabugal
Redação e administração:
Museu e Auditório Municipal
Largo de S. Tiago
6320-447 Sabugal
www.museusabugal.net
contacto@museusabugal.net
Impressão: Sersilito
Capa: Jorge Torres
ISSN: 1647-1229
Depósito legal: 287843/09
SABUCALE - Revista do Museu do Sabugal, 8 (2016)

ÍNDICE

5 Editorial

7 Dinâmicas de oclusão de estruturas em negativo no sítio de Santa


Bárbara (Aldeia da Ponte, Sabugal) - Estudo de fragmentação cerâmica
Ana Vale

23 Metalurgia Pré e Proto-Histórica nos distritos da Guarda e Castelo


Branco: novos contributos e perspetivas
Pedro Baptista

47 Percurso por alguns elementos patrimoniais da igreja da Misericórdia


do Sabugal
Marcos Osório

75 O Arcediagado do Sabugal
César Cruz

101 Os Condes de Sabugal, ligações familiares e a região de Riba Côa:


Invetariação documental e diplomática na Torre do Tombo (conclusão)
August o M o u t i n h o Bo rg e s

115 Água Radium - Termas: Caria-Beira Baixa


Graça Co r r e i a Ri b e i r o

135 Arquivo Municipal do Sabugal - A exploração de minas no concelho


Sara M a rg a r i d a Vi t ó r i a Pe r e i r a

141 Os lugares e o tempo: registos de mudança na paisagem


do Sabugal
Xavier Ca m e i j o

155 O romanceiro tradicional e a sua presença no concelho do


Sabugal
J orge To r r e s

162 Publicações recebidas por oferta ou permuta com a Sabucale


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Percurso por alguns elementos patrimoniais da


igreja da Misericórdia do Sabugal
M a r c o s O só r i o ( * )

No âmbito da comemoração dos 500 anos da fundação da Misericórdia


do Sabugal, em 2016, tomámos conhecimento da existência de
vários elementos patrimoniais de interesse no interior da igreja
da Misericórdia que eram desconhecidos e nunca tinham sido
anteriormente abordados. Estes vestígios foram registados no decurso
do levantamento do Gabinete de Arqueologia e Museologia, realizado
com a colaboração de Paulo Pernadas, Paulo Andrade e Bruno Santos,
a convite dos representantes da Misericórdia do Sabugal.
O atual edifício cultual recua aos finais do século XII e inícios
do séc. XIII, sendo então dedicado a São Miguel (Castro, 1902: 511),
e apresenta um conjunto de testemunhos datáveis das várias fases
construtivas do imóvel, que documentam a sua evolução histórica e
arquitetónica.
O texto intenta, por conseguinte, fazer um breve percurso
historiográfico por esses achados, em especial por algumas aliciantes
gravuras e inscrições de manifesto interesse arqueológico, discutindo
diversos aspetos decorrentes da sua análise que poderão ser importantes
para a compreensão do processo evolutivo do edifício religioso.
Este conjunto de evidências ancestrais de cronologia medieval e
moderna, sendo algumas de difícil interpretação, merecia uma reflexão
específica, pelo contributo informativo que proporcionam. Esta
síntese histórica justificava-se porque as diversas obras escritas que se
debruçaram sobre o Sabugal, incluindo o meritoso trabalho de Joaquim
Manuel Correia (1946: 101), fizeram abordagens muito sucintas ao
imóvel, referindo apenas um ou outro pormenor arquitetónico e, em
especial, a famosa pedra leonesa da parede norte.
Conforme se observa na planta da igreja que apresentamos
(Fig. 1), os elementos patrimoniais existentes distribuem-se por todo

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o edifício e alguns localizam-se em sítios de difícil deteção, mas que a


partir de agora estarão reconhecíveis para futuros estudos.

Figura 1 - Localização dos elementos patrimoniais na igreja da Misericórdia.

1. Inscrição romana
A descoberta arqueológica mais surpreendente da igreja da Misericórdia
foi uma inscrição de época romana completamente inédita, gravada
num pequeno bloco de granito fino amarelado existente na parede
meridional da capela-mor. Infelizmente, a face epigrafada encontra-se
muito desgastada e danificada pelo reaproveitamento construtivo, não
permitindo retirar grandes ilações sobre a sua morfologia original e o
conteúdo escrito. Dadas as reduzidas dimensões e o formulário do seu
texto, poderá corresponder a uma árula votiva (Fig. 2).

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Pela sua localização a meia altura da parede da capela-mor, que


é um dos setores menos alterados do edifício (Fig. 1), ela terá sido aqui
colocada há muito tempo, provavelmente em época medieval, por isso é
impossível saber hoje de onde proveio.
Não é a primeira inscrição
romana a ser descoberta no Sabugal,
tratando-se já do quinto exemplar.
Conhecia-se um monumento
dedicado à divindade indígena Arentia
Equotullaicensis, embutido no exterior
da fachada da igreja matriz de S. João
(Curado, 1984); recolheu-se outra ara
erguida a Aetius nas obras do edifício
do atual museu (Osório, 2002); e um
altar sem identificação da divindade,
mas com elementos decorativos que
apontam para o culto a Júpiter, foi
descoberto nas obras de um edifício
junto ao castelo (Osório e Neves, Figura 2 - Epígrafe romana na parede da
capela-mor.
2009). Há ainda a estela funerária que
foi levada para Lisboa nos finais do séc. XIX, descoberta algures no Outeiro
da Fonte (Correia, 1946: 89; Vaz, 1979: 23).
Apesar de descontextualizados, estes achados epigráficos não
aparecem no Sabugal por acaso, pois conhecem-se outros vestígios na
povoação que indiciam a existência de um aglomerado populacional
romano de alguma importância (Osório, 2006: 66), embora não tenha
sido possível ainda definir a sua área ocupacional.
Da análise deste singelo achado podemos afirmar que estamos
perante um monumento epigráfico cujo texto resume-se a três linhas,
ordenadas na parte superior da pedra, havendo na base traços que
sugerem a existência de uma fórmula dedicatória. No topo estaria indicado
o teónimo com epíteto que se prolongaria para a linha seguinte. A 3ª
linha identificaria o dedicante, talvez pelo nome de Mancus, sendo um
antropónimo que apenas tinha sido atestado, em toda a Península Ibérica,
aqui próximo na Meimoa (Penamacor) (Albertos Firmat, 1977: 37).
A confirmar-se esta proposta de leitura para a epígrafe, ela
manifesta a notável abundância de inscrições de carácter votivo que
já foram descobertas no Sabugal, o que merece uma explicação para
tantos achados deste cariz, e a divindades distintas, num mesmo local.

2. Siglas de canteiro
Foram identificadas dezassete siglas de canteiro espalhadas pela capela-

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-mor e pela nave da igreja (Fig. 1). Algumas estão no sítio original, mas
a maioria encontra-se deslocada. De um modo geral estão gravadas
com traço fino e são pouco elaboradas (Fig. 3 e 4).

Figura 3 - Decalque das siglas de canteiro identificadas no interior da igreja da


Misericórdia.

As marcas de canteiro estão presentes particularmente nos


monumentos militares e religiosos de cronologia medieval e moderna.
Algumas estruturas militares do concelho do Sabugal possuem-nas,
nomeadamente as torres de menagem dos castelos de Vilar Maior
e Sabugal, a torre do facho na muralha de Sortelha, a porta oriental
de Sortelha e a porta ocidental do Sabugal, das quais já se fizeram os
respetivos levantamentos (Robalo, 2003). Outros monumentos de
época moderna exibem-nas em menor quantidade e apenas em pontos
específicos, como é o caso do castelo de Alfaiates (Osório, 2014: 41) e
da barbacã do castelo de Sortelha (Osório, 2012: 107 e 144). Também
o arco mais antigo da ponte sobre o rio Côa do Sabugal, de morfologia
ogival, apresenta diversas siglas de canteiro.
Não é comum nesta região o seu aparecimento em imóveis
religiosos, talvez porque muitos deles têm origem ou reconstrução
tardia. Contudo, mesmo as igrejas mais antigas do nosso concelho,
de arquitetura românica, não mostram siglas deste género. Por isso,
o levantamento destes signos no interior da igreja da Misericórdia
do Sabugal foi uma tarefa aliciante que permitiu estabelecer algumas
conjeturas sobre a evolução cronológica do imóvel.
Nesta região, as siglas são geralmente figuras geométricas
simples, introduzidas nas edificações a partir do séc. XIII (Robalo, 2009:
52), constituindo um importante critério de datação das mesmas. Com
o dealbar do séc. XVI, surgem novos estilos arquitetónicos, associados

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a novas técnicas construtivas, e esta prática reduz-se significativamente


(Sousa, 1925-1926: 49).
Os investigadores são unânimes em considera-las como sinais
que quantificam o trabalho realizado por cada indivíduo ou pela equipa
de canteiros, com vista à sua contagem para a devida remuneração
salarial (Idem: 48), conferindo simultaneamente, com a sua exposição
no centro da face do silhar, um cunho de qualidade à obra dos pedreiros.
O incremento das construções militares durante os reinados de D.
Dinis e D. Fernando (de 1279 a 1383) elevou significativamente a quantidade
de mão-de-obra empregue nos trabalhos de construção, obrigando os
canteiros a organizar-se e a convencionar meios de identificação pessoal do
trabalho realizado (Robalo, 2009: 53). A multiplicidade de sinais repetidos
na mesma edificação permite supor que estes pedreiros especializados
trabalhavam em equipas alargadas, sendo as marcas individualizadas e
talvez específicas de cada corporação de canteiros.

Figura 4 - Fotografia das diferentes siglas observadas na igreja.

Na igreja da Misericórdia foram identificados sete tipos distintos,


pouco repetidos (Fig. 2). O símbolo mais abundante está registado seis
vezes (Fig. 1) e é composto por dois traços perpendiculares, em ângulo
reto, que poderão representar a letra “L” (Fig. 3, n.os 1-6). Esta marca,
além de ser a mais frequente, será a única que ainda se preserva in situ
e que aparece também na capela-mor.
Há uma outra sigla repetida três vezes na parede do lado da Epístola
que se assemelha à letra P, cortada por traço horizontal (Fig. 3, n.os 7-9).
Esta, juntamente com a anterior, é de natureza alfabética e os estudos
gliptográficos associam-nas à inicial do nome dos operários (Sousa, 1925-

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1926: 48; Robalo, 2009: 42-43). Tendo em conta os antropónimos mais


comuns registados na época medieval (Vivas e Oliveira-Leitão, 2009: 99-
102), podemos tentar deduzir os seus nomes a partir das siglas (Osório,
2012: 108). Assim, a marca “L” corresponderia a um pedreiro chamado
Lourenço, Lopo ou Luís, entre outros, e o “P” designaria um individuo de
nome Paio ou Pero. Estas duas letras estão também presentes na porta
ocidental da muralha do Sabugal (Robalo, 2003: 270 e 272).
Identificaram-se três outras marcas em espiral (Fig. 3, n.os 10-12),
de carácter figurativo e de difícil interpretação, muito frequentes em
monumentos medievais, como por exemplo nas fortificações de Castelo
Mendo, Longroiva, Marialva e Pinhel (Robalo, 2003: 113, 175, 189, 240)
e assemelhando-se bastante às que se encontram na porta oriental de
arco gótico da Vila amuralhada de Sortelha (neste caso assentes sobre
barra horizontal ou sobre triângulo: ver Osório, 2012: 107).
Outro símbolo figurativo que lembra vagamente uma chave
surge aqui também repetido duas vezes (Fig. 3, n.os 13-14), sendo igual à
figura identificada na torre do facho de Sortelha, datável provavelmente
da época de D. Dinis, tal como as espirais da porta oriental desta Aldeia
Histórica (Osório, 2012: 107). Na igreja da Misericórdia a espiral e a
chave só aparecem no velho arco lateral (Fig. 5) e reutilizadas na verga
interna da porta principal (Fig. 1).
Existem ainda outras 3 siglas que figuram somente uma vez e
que pela sua singularidade podem ser de um período diferente ou
terem um carácter específico que desconhecemos. Uma delas é a
cruz grega (Fig. 3, nº 15), bastante comum em qualquer monumento
militar e religioso, pela simplicidade e rapidez de execução (embora
possamos hesitar em interpretá-la como marca de canteiro, pelo seu
cunho religioso e apotropaico). Há uma outra de tipo figurativo, bem
elaborada, composta por um quadrado com recorte triangular num dos
lados, podendo representar uma bandeira ou um estandarte (Fig. 3, nº
16), repetindo-se nos castelos de Numão, Pinhel e Trancoso (Robalo,
2003: 212, 236 e 304).
A terceira marca é constituída por dois triângulos justapostos
pelo vértice agudo, formando uma figura geométrica de significado
desconhecido, semelhante a uma clepsidra (ampulheta) (Fig. 3, nº 17),
que pode ter sido utilizada devido à fácil execução. É exemplar raro e
conhecem-se paralelos somente na torre dos Ferreiros da Guarda e no
castelo de Pinhel (Robalo, 2003: 147 e 249-250).
Estas marcas surgem como alternativa às siglas alfabéticas, para
aqueles canteiros que preferiam identificar-se por sinais abstratos ou
simbólicos (Osório, 2012: 108), e cujo significado pode não ser aquele
que hoje lhe atribuímos.

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As pedras sigladas aparecem em várias posições, conforme a


colocação da pedra (como por exemplo as siglas n.º 1 a 6 e as 7 a 9
da Fig. 3), o que prova que elas eram gravadas durante o trabalho de
cantaria e não após a sua edificação (Sousa, 1925-1926: 52).
Apesar destas siglas da igreja de S. Miguel recuarem ao período
medieval, elas podem não ser contemporâneas entre si e haver umas mais
antigas e outras posteriores. Por exemplo, as que se encontram no arco
ogival da parede sul da igreja, típico da arquitetura gótica (Fig. 5), têm
paralelos em Sortelha datáveis do final do séc. XIII, sugerindo a mesma
cronologia para esta estrutura da Misericórdia. O arco definia um vão
com cerca de 3 m de abertura, permitindo aceder a um anexo edificado
a sul da igreja ou dando acesso ao exterior. Não tendo nós informação
mais rigorosa sobre a cronologia de fundação do templo, embora seja
verosímil que ele recue aos finais do séc. XII (Cruz, 2016: 117), este arco
pode ter sido aberto já na transição do séc. XIII para o séc. XIV, tendo
sido empregue nesta empreitada uma equipa específica de canteiros,
assinando o seu trabalho com marcas próprias que não se observam na
restante edificação.
O aparecimento destas
siglas de canteiro no arco
gótico compreende-se pelo
facto de serem estruturas
onde era necessário maior
conhecimento técnico,
requerendo a contratação de
especialistas (Robalo, 2009:
50 e 54). Não é de estranhar
que esta sigla particular,
em forma de chave, surja
também nas Portas d’El Rei
da Guarda (de arco gótico)
(Borges, 2001: 13) e em duas
outras portas da fortificação
de Trancoso (Robalo, 2003:
304). Contudo, não se pode
concluir que ambas obras
tiveram a mesma autoria,
à falta de documentação
histórica que o confirme.
Nenhuma das siglas Figura 5 - Perspetiva do atual arco da parede sul da
da Misericórdia do Sabugal é igreja da Misericórdia e representação esquemática
exclusiva daqui. Analisando das sucessivas fases construtivas.

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os levantamentos conhecidos de outras fortificações da região de Riba


Côa, verificamos que estas marcas se identificam em diversos castelos da
Beira Interior, destacando-se entre eles a Guarda, Pinhel e Trancoso por
apresentarem pelo menos três delas simultaneamente (Robalo, 2003:
147-149, 236-242, 304-308). Esta repetição sistemática das siglas pela
região poderá indicar que eram símbolos comuns a vários pedreiros
ou, pelo contrário, denuncia a mobilidade destes operários pela região.
No caso das siglas alfabéticas, a reiteração de uma determinada marca
pode dever-se apenas ao facto de ser a inicial comum a vários indivíduos
(Sousa, 1925-1926: 53-54), enquanto as siglas figurativas e geométricas
poderiam ser copiadas por pedreiros em diferentes zonas do país ou
então assinalavam a presença de canteiros itinerantes que trabalhavam
numa construção militar até à sua conclusão, altura em que partiam
para outra localidade, o que seria muito interessante de se comprovar.

3. Medidas-padrão
No exterior da parede norte desta Igreja encontra-se uma pedra
classificada, desde 1947, como Imóvel de Interesse Público que
corresponde às medidas-padrão do comércio local na Idade Média,
apresentando à esquerda o sulco reto do côvado (com 66,3 cm),
faltando-lhe no lado oposto fraturado, a medida da vara (com cerca de
110 cm), como é usual (Barroca, 1992).
O elemento arquitetónico já foi referido por vários autores
(Correia, 1946: 10 e 101; Vaz, 1979: 17; Curado, 1997: 113) e recentemente
fez-se o cuidadoso decalque e releitura (Fig. 6) (Osório, 2013: 83).
Para além das medidas-padrão, a pedra possui uma grande cruz
pátea em relevo, em cada extremidade, inserida em moldura circular
com 30 cm de diâmetro (Fig. 11), que já foi erradamente chamada de
«cruz de Malta» (Vaz, 1979: 17), que consagra e legitima a sua veracidade
(Barroca, 1992: 75).
No centro encontra-se uma data em numeração romana, redigida
em caracteres unciais de grande tamanho: «:E:M:/:C:C:/:L:X:X/
XVIII:» (Idem: 75-76; Osório, 2013: 84), que corresponde a 1288 na
“Era de César”, equivalente ao ano de 1250 no nosso calendário (ver
Barroca, 2000: 211). São as únicas medidas-padrão datadas e com
elementos decorativos e epigráficos associados, tratando-se de um
monumento ímpar no nosso país, que recua aos tempos do reinado de
D. Fernando III de Leão e Castela, que aqui instituiu uma feira franca
(Martín Viso, 2008: 109), confirmada mais tarde por D. Dinis (1296),
no dia de S. João.
A pedra ostenta uma segunda inscrição ainda indecifrada, na
pequena cartela retangular que lembra uma coroa, onde poderia figurar

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a chancela régia que homologava oficialmente as


medidas (Osório, 2013: 84).
Estes padrões difundiram-se por todo o
país, ao mesmo tempo que as feiras iam sendo
instituídas durante os sécs. XIII e XIV. Elas
localizar-se-iam geralmente na proximidade do
espaço de atividade comercial, como aferidores
dos padrões vigentes de negócio, especialmente
na transação de tecidos (Barroca, 1992: 54 e 62).
Na sua maioria encontram-se à entrada das Vilas
amuralhadas, como acontece em Sortelha (Osório,
2012: 95). Por isso mesmo, Joaquim Manuel
Correia propôs que a pedra estaria inicialmente na
«Porta do Barroso» (Correia, 1946: 10), o primitivo
acesso oriental à vila amuralhada do Sabugal que
foi reformulado nos inícios do séc. XVI, por D.
Manuel I (Curado, 1988: 6). Assim sendo, a feira
seria realizada fora de muros, na atual praça do
município e largo da Igreja de São João, onde no
séc. XVI se erguia o pelourinho local e no século
passado se fazia o mercado (Osório, 2007: 132).
Coincide que as obras de reformulação
dessa porta do recinto amuralhado, no reinado
de D. Manuel I, poderão ser contemporâneas da
conversão da Igreja de S. Miguel em Misericórdia
e a sua localização na parte inferior da parede Figura 6 - Decalque das
medidas-padrão leone-
sugere uma certa antiguidade dos trabalhos sas do Sabugal
de integração do silhar no edificado religioso.
Contudo, dado que se conhecem alguns exemplares portugueses
expostos à entrada das igrejas, como por exemplo na capela de S. Miguel
em Monsanto (dos finais do séc. XII), não devemos colocar de parte a
sua localização original neste próprio imóvel religioso, podendo ter sido
retirada da antiga frontaria durante a requalificação arquitetónica do
imóvel, no século XVII (como já foi defendido: Curado, 1997: 113), por
terem perdido a sua validade, embora mantendo o respeito pelo seu
significado.

4. Cruzes páteas
Fomos alertados para a existência de quatro cruzes páteas, em alto-relevo,
gravadas em silhares das paredes da capela-mor e da face interna da
fachada (Fig. 1). Estavam delimitadas por circunferências que variavam
entre os 30 e os 36 cm de diâmetro (Fig. 7), sendo idênticas em termos
morfológicos às cruzes das medidas-padrão no exterior da Misericórdia.

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Porém, estas encontram-se mais desgastadas e menos aperfeiçoadas,


tal como uma outra existente na fachada da igreja matriz de S. João do
Sabugal (Osório, 2015: 30), o que pode denunciar que foram sujeitas a
bastante erosão pela sua primitiva localização no pavimento.
Esta tipologia cruciforme foi adotada
pelos Templários durante os sécs. XII e XIII e,
por conseguinte, elas têm sido sistematicamente
associadas à Ordem de Cavalaria. Contudo, a sua
origem é bastante antiga, recuando pelo menos
à época paleocristã, tendo sofrido vasta difusão
por todo o mundo cristão (Gandra, 2005: 429).
São conhecidas igualmente cruzes páteas Figura 7 - Decalque de uma
gravadas em diversas cabeceiras de sepulturas das cruzes páteas.
medievais recolhidas no Sabugal, oriundas dos
primitivos cemitérios de Stª Madalena e da Sr.ª do Castelo, e expostas
no Museu do Sabugal (Osório, 2008: 149). Estão presentes ainda na
antiga pia batismal da igreja de Santa Maria do Castelo de Vilar Maior
(onde são habitualmente classificadas como cruzes dos Templários:
Dias, 2005: 17). Portanto, trata-se de um motivo muito recorrente em
vários contextos monumentais, sendo de evitar a sua filiação direta a
qualquer ordem religiosa específica.
Neste caso, não é fácil adivinhar a funcionalidade original
destes silhares, dado que não evidenciam quaisquer outras marcas

Figura 8 - Fotografia das cruzes páteas nas paredes.

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SABUCALE - Revista do Museu do Sabugal, 8 (2016)

morfológicas ou
epigráficas associadas,
parecendo tratar-se
de meras gravações
de cariz decorativo ou
simbólico. A mesma
situação foi observada
nas igrejas de S.
Tiago de Belmonte
e de S. Miguel de
Monsanto, onde
pedras semelhantes a
estas foram metidas
na parede exterior,
sem explicação
plausível. Contudo,
há um interessante
paralelo na igreja de S.
Miguel do Castelo, em Figura 9 - Uma perspetiva das tampas de sepultura
Guimarães (até por ser existentes no pavimento da Igreja de S. Miguel de
Guimarães.
do mesmo orago), onde
estes elementos cruciformes aparecem gravados nas lajes tumulares
que revestem o pavimento (Fig. 9), tal como em muitas outras igrejas
com cronologia do século XIII.
É provável que no século XVI, durante a conversão do antigo
templo medieval em igreja da Misericórdia, se tenha dado a substituição
das primitivas tampas tumulares e a sua reutilização nos trabalhos de
reforma arquitetónica do imóvel religioso. A sua colocação nas paredes
mais antigas da capela-mor sugere uma cronologia antiga. Pelo contrário,
a cruz pátea que se encontra na parede interna da fachada principal (Fig.
1) foi aí colocada no decurso de obras realizadas séculos mais tarde.
A utilização como tampa de sepultura é uma explicação possível
da natureza destes elementos decorativos cruciformes e ajuda a
compreender a razão para surgirem posteriormente espalhadas pela
igreja, dado que eram pedras de cantaria de boa qualidade.

5. Fragmento de tampa de sepultura


Na parte detrás do altar-mor da igreja da Misericórdia, à qual se acede
por uma porta lateral (Fig. 1), foi identificada no pavimento uma laje
de granito de 58X61 cm de dimensão, com uma gravura estreita e
retilínea de 39 cm de comprimento e 5,5 cm de espessura, decorada na
extremidade com duas hastes curvas (Fig. 10), que poderá tratar-se da
extremidade vertical de uma cruz trilobada ou da ponta de uma espada.

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À falta de melhores dados que nos permitam atestar a sua


natureza, cremos que a pedra constitui o fragmento de uma laje
sepulcral que revestia o chão da igreja medieval.
As tampas de sepultura da capela de S. Miguel do Castelo de
Guimarães (referidas atrás) apresentam não somente cruzes páteas, mas
também espadas, lanças (relativas a prováveis sepulcros de guerreiros)
e cruzes latinas ocupando toda a superfície da campa (Fig. 9). Portanto, a
pedra deve ser contemporânea das cruzes em relevo que aparecem pela
igreja da Misericórdia, datando provavelmente dos sécs. XIII-XIV. Aliás,
pela foto, verificamos que a possibilidade de este fragmento emparelhar com
alguma das cruzes páteas não é impossível.
No Museu do Sabugal conserva-se uma tampa de sepultura ainda
intacta, descoberta no decurso das obras de construção da barragem do
Sabugal (reutilizada num moinho do rio Côa), que provém de uma das igrejas
da antiga Vila. Apresenta um escudo
tripartido e uma espada (Osório,
2008: 150) e constitui um interessante
paralelo para esta laje sepulcral da
Misericórdia. Desde cedo que as
igrejas receberam enterramentos
no seu interior, prática que somente
no séc. XIX foi desautorizada. Mas,
infelizmente, não temos possibilidade
de saber que gente estaria enterrada
nestes sepulcros, porque só mais tarde
passa a ser comum as tampas terem
epitáfios, mas seriam indivíduos de
algum estatuto social, talvez da classe
do clero ou da nobreza local.
Apesar de a pedra se manter
horizontalmente no solo, está partida
e deslocada, tendo sido retirada do
local original e colocada aqui durante
as inúmeras obras que o imóvel
Figura 10 - Desenho e fotografia do
sofreu. O resto da tampa sepulcral
fragmento da tampa de sepultura
identificada sob o altar-mor da igreja. poderá estar em parte incerta da igreja
ou foi entretanto destruído.

6. Cruzes potentadas da capela-mor


Foram ainda identificadas três cruzes gregas de hastes potentadas,
gravadas na parte central dos silhares das paredes laterais da capela-
-mor, que se distinguem das anteriores por serem mais pequenas

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SABUCALE - Revista do Museu do Sabugal, 8 (2016)

e estarem desenhadas com mais cuidado, a traço fino (Fig. 11). São
bastante semelhantes entre si em termos de dimensão e de formato (Fig.
12), devendo ser contemporâneas, e terão sido marcadas em contexto
de utilização
cultual do espaço,
não se tratando
de reutilizações.
Embora saibamos
que existem
marcas de canteiro
Figura 11 - Dois exemplares cruciformes potentados
de tipologia identificados na capela-mor da igreja.
cruciforme (como
vimos atrás: Fig. 3, nº 15), estas apresentam um cariz um pouco
diferente desses sinais construtivos.
A cruz é o símbolo cristão por excelência. Quando aparece em
contexto arquitetónico medieval e moderno, tem mais do que um
cunho identificativo da crença religiosa, mas detém principalmente
um carácter apotropaico, isto é, uma função protetora dos edifícios,
o que explica a sua abundância (Balesteros e Santos, 2000: 332;
Sánchez, 2008: 10 e 12). Não havendo mais dados que esclareçam a sua
funcionalidade, consideramos que
se tratam de marcações de carácter
ritual, utilizadas eventualmente na
sagração do espaço cultual, como
era costume (RVS, 2008: 336), ou
em última instância assinalando
também sepulcros existentes no
interior da capela-mor, na base da
parede onde estão gravadas.
Este tipo de cruz lembra
vagamente aquelas que figuram em
inúmeras cunhagens numismáticas
portuguesas, ao longo dos séculos,
Figura 12 - Representação gráfica dos três e que foram associadas à Ordem
cruciformes potentados.
de Cristo, o que as enquadraria
no período da fundação da
Misericórdia. Contudo, desconhecemos qualquer ligação da igreja de S.
Miguel a esta ordem religiosa.

7. Marcas cruciformes da fachada


No exterior da igreja existem alguns silhares com cruzes gravadas. Três
situam-se de ambos os lados da entrada principal (Fig. 14) e um outro
na esquina sudoeste do anexo 2 da igreja (Fig. 1).

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SABUCALE - Revista do Museu do Sabugal, 8 (2016)

O seu desenho é idêntico aos inúmeros exemplares conhecidos


nos centros históricos das antigas aldeias e vilas da Beira, especialmente
em vãos de casas de pedra, onde aparecem frequentemente isolados ou
aos pares, de cada lado da porta. Poucas vezes se agrupam mais do que
três no mesmo imóvel, podendo nesses casos dever-se à repetição do
gesto de marcação por várias gerações (Osório, 2014b: 164).
Estas cruzes inscritas nas paredes são singelas expressões
religiosas, estando presentes quer em imóveis civis, militares ou
religiosos, quer em qualquer outra construção tradicional como os
palheiros, os moinhos de água ou os rudimentares abrigos de pastor,
afastados dos aglomerados. O Gabinete de Arqueologia e Museologia
do Município do Sabugal tem procedido ao levantamento destas marcas
cruciformes em algumas das povoações do Concelho, contribuindo desta
forma para o inventário deste património religioso (Osório, 2014b).
Estas quatro cruzes têm uma fisionomia bastante característica e
não se ajustam a nenhuma das tipologias presentes no interior da igreja
da Misericórdia. São todas latinas, mas diferem entre si, sendo uma
de base semicircular invertida e aberta (n.º 1), a outra de base circular
atravessada pela haste central (n.º 2), a terceira de base plana e hastes
potentadas (n.º 3) e a última, também de hastes potentadas, assenta
sobre triângulo cortado a meio (n.º 4) (Fig. 13).
Embora não haja, de facto, tipologias de cruzes restritas a
determinadas povoações deste concelho, pois a iconografia repete--se
com regularidade por todos os aglomerados, as de base semicircular
invertida e aberta (Fig. 13, n.º 1) são conhecidas apenas em mais dois
imóveis do arrabalde do Sabugal (Osório, 2014b: 166), e um deles é
precisamente o antigo Hospital da Misericórdia (Cruz, 2016: 111) ou
Albergue de enfermos (Castro, 1902: 132), o que nos leva a considerar
que o autor da gravação desta morfologia cruciforme estaria ligado à
instituição religiosa.
O recente incremento do estudo dos vestígios da presença judaica
em Portugal tem avivado o interesse por estas marcas cruciformes,
sistematicamente associadas aos quarteirões de residência das
comunidades criptojudaicas, considerando que os seus membros,
após a conversão ao cristianismo (nos finais do séc. XV), recorreram a
este sinal exterior para afirmar publicamente a sua mudança de credo
(Afonso, 2008: 19). Era realmente tradição na religião judaica sinalizar
a entrada das residências com a mezuzah – pequeno invólucro que
continha um texto da Torah (Balesteros e Saraiva, 2007: 13), podendo
tal prática ter perdurado, após a conversão, através da cruz, para se
dissimularem entre a comunidade maioritária desses aglomerados
(caso contrário, o efeito pretendido não seria obtido), o que nos leva

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SABUCALE - Revista do Museu do Sabugal, 8 (2016)

hoje a ter naturais dificuldades em destrinçar o que é cristão-velho e o


que é cristão-novo (Osório, 2014b: 163).
A identificação destes quatro exemplares na igreja da
Misericórdia, tipologicamente semelhantes aos restantes cruciformes
associados ao criptojudaísmo, atesta que eles não aparecem apenas
nos quarteirões que são atribuídos às comunidades judaicas, não são
exclusivos dos edifícios habitacionais particulares, e também não
se localizam apenas nos umbrais, mas em diversificados contextos
arquitetónicos (Balesteros e Santos, 2000: 333). São achados como
estes que despertam a atenção para a necessidade de rever a relação
entre as marcas cruciformes e os vestígios judaicos.

Figura 14 - Localização das marcas cruciformes na fachada da igreja.

A esporádica ocorrência de datas associadas a estas marcas


cruciformes permite especular um pouco sobre a cronologia destas
gravações mágico-religiosas. As datações atestadas por exemplo em
Celorico da Beira incidem nos anos 1650 e 1676 (Penisga, 2003: 54),
em Belmonte rondam em torno de 1704 e 1764 (Robalo, 2008: 85-86)
e em Vila do Touro oscilam entre 1736 e 1798 (Osório, 2014b: 160 e
166). Estará este fenómeno maioritariamente cingido aos séculos XVII
e XVIII, sem recuar aos finais da Idade Média, ou será que o costume de
colocar datas junto às cruzes nos lintéis e ombreiras das casas apenas
ocorreu durante esse período?
As quatro cruzes da Misericórdia só terão sido gravadas nestes silhares
por volta dos finais do séc. XVII, após as obras de reforma na fachada (Fig.
14), ou então foram meramente reaproveitadas aqui por essa altura, provindo
do anterior frontispício ou de outro local desconhecido. Não obstante, tudo
indica que estes cruciformes serão os mais tardios deste imóvel.

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SABUCALE - Revista do Museu do Sabugal, 8 (2016)

8. Painel de azulejos
Na parede do fundo da capela-mor da igreja da Misericórdia, por detrás
do altar-mor (onde se encontra também a tampa de sepultura decorada)
(Fig. 1), descobrimos os restos ainda preservados de uma argamassa
fina e esbranquiçada, com o negativo de alinhamentos reticulados que
atestam a primitiva existência de um painel de azulejos (Fig. 15).
A argamassa restringe-se a um troço central da parede, rente ao
chão, em cerca de 2,30 m de comprimento por 0,93 m de altura, mas já com
partes que faltam. O reticulado define aproximadamente 55 quadrados
de 13X13 cm (que costuma ser a dimensão-padrão destes azulejos:
Gomes, 2011: 83), cujas juntas não coincidem entre si, o que nos leva a
supor da existência de uma fiada de rodapé e dois alinhamentos de um
padrão composto por
4 azulejos agrupados
(definindo uma área de
26X26 cm), num total
de oito conjuntos que
formavam esse antigo
revestimento parcial
da parede oriental da
capela-mor.
S a b e - s e
que o azulejo é
Figura 15 - Restos da argamassa do painel de azulejos da
introduzido nas igrejas parede oriental da capela-mor.
sensivelmente a partir
dos séculos XV e XVI, fruto dos contactos com o sul de Espanha
(Gomes, 2011: 21-23; Leal, 2014: 1), onde estas tradições artísticas de
azulejaria vidrada constituíam uma solução ancestral de revestimento
de mesquitas, igrejas e palácios. Essas influências mudéjares chegaram
a Portugal e acabaram por se difundir, pouco a pouco, pelos espaços
cultuais de todo o país.
Na fase inicial, os revestimentos de azulejaria restringiam-se
às bases dos altares e aos rodapés de paredes, dos quais se conhecem
diversos paralelos na diocese da Guarda (Pereira e Roque, 2015: 21-
23). Nesse período destacou-se a famosa escola de Talavera de la Reina
especializada no fabrico de revestimentos de frentes de altar (Gomes,
2011: 92), sendo provavelmente este o caso que agora foi detetado na
Igreja da Misericórdia, dado que a argamassa não se expande para o
resto da parede, denotando até um recorte que define o negativo desse
elemento arquitetónico decorado.
Durante os séculos XVII e XVIII, o azulejo atinge o seu esplendor,
passando a forrar a totalidade das paredes interiores e exteriores de

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SABUCALE - Revista do Museu do Sabugal, 8 (2016)

alguns edifícios cultuais, em diversas cidades portugueses (Pereira e


Roque, 2015: 30), o que não ocorreu neste imóvel.
Na Igreja matriz de Sortelha foram também descobertos dois
pequenos fragmentos polícromos de azulejo hispano-árabe datáveis do
século XVI, expostos hoje no Museu do Sabugal (Osório, 2008: 168), que
confirmam, nesta região, a utilização de azulejaria antiga em contexto cultual.
Não é fácil datar este antigo painel decorativo da igreja da
Misericórdia, mas considerando que a utilização restrita ao revestimento
frontal de altares é datável do final do séc. XVI, é possível que os azulejos
recuem a esse período, pelo seu cariz arcaico e já bastante degradado,
sem nenhum fragmento preservado in situ (Fig. 15).
Sendo assim, esta técnica decorativa de estilo hispano-mourisco
terá sido aqui aplicada após a conversão do templo medieval em
igreja da Misericórdia, sendo mais tarde substituída por um altar-
mor de madeira, sabendo-se que o atual foi concluído em março de
1898 (conforme está registado nas atas da Santa Casa da Misericórdia
do Sabugal). Por essa altura, ou ainda antes, os azulejos terão sido
completamente arrancados e levados para parte incerta, no decurso
de obras ou apenas devido ao seu mau estado de conservação, não
sobrando nenhum exemplar.

9. Inscrição da fachada
No lintel de um vão entaipado na fachada da igreja encontra-se a
inscrição «DPOR LVIS DE SOVZA COVTO A/NO DE 1678», citando
o nome de Luís de Sousa Coutinho (Fig. 16). Na consulta dos registos
genealógicos do Nobiliário de Famílias de Portugal ficamos a saber
que este Luís de Sousa da Fonseca Coutinho de Refoios era filho de
Manuel da Fonseca Coutinho e Maria de Refoios de Sousa, casados em
junho de 1648 e residentes em Castelo Branco (Gaio,1938: 32). Tendo
em conta que este foi o segundo filho do casal, esta inscrição terá sido
gravada quando Luís de Sousa rondaria os 26 ou 27 anos de idade e
ainda não desempenhava as funções de Capitão-Mor e Procurador em
Castelo Branco.
Por esta altura teria já casado no Sabugal com Maria da Fonseca
Mendonça, filha bastarda de Manuel Fonseca Leitão (que a legitimou).
O seu sogro foi durante anos foragido da justiça em Castela, tendo
regressado ao país como clérigo, onde, após o perdão da pena pelo rei D.
João IV, se torna o 2º Administrador do Morgado de Oledo (Idanha-a-
Nova). Acaba os seus dias no Sabugal, onde falece em 1673 (Gaio,1939:
63). Detentor de grande fortuna, esta passou por casamento para
Luís de Sousa Coutinho, que era já por si dotado de inúmeros bens e
propriedades familiares.

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SABUCALE - Revista do Museu do Sabugal, 8 (2016)

Figura 16 - Inscrição do séc. XVII na fachada da Misericórdia.

Esta inscrição de 1678 poderá assinalar um grande volume de obras


de beneficiação da igreja da Misericórdia, com o seu patrocínio, dados
os seus abundantes meios pecuniários. Contudo, não seria improvável
que, com esse estatuto, Luís de Sousa tivesse ascendido ao cargo de
Provedor da Santa Casa da Misericórdia. Sendo assim, as primeiras
letras da epígrafe que foram anteriormente lidas como “Prior” (Correia,
1946: 101; Vaz, 1979: 17; Afonso, 1985: 47), poderão sugerir a categoria
de «P(roved)OR» (dado que o epigrafista não fez a correta abreviação
em «Por», tal como em «Couto»). Por outro lado, tendo nós subido ao
topo da fachada e feito a análise detalhada da epígrafe com recurso a
técnicas de fotogrametria (Fig. 17), constatámos a existência de vestígios
de um til sobre as primeiras letras, que foi ignorado quando pintaram
a inscrição no séc. XIX. Este sinal de abreviatura é importante para a
interpretação do ‘D’ inicial. Primeiramente, julgámos ler «D(edicada)
por», depois surgiu a hipótese «D(o) P(rovedo)OR», mas tendo em
conta o til identificado, avançamos para a conjetura de ali estar expressa
a mensagem «D(espesa) [pelo] P(rovedo)OR», apesar de não ser uma
abreviatura comum nos registos documentais (Nunes, 1981: 42-44).
Deste modo, é provável que não se tenha tratado apenas de um
ato benemérito, deixado em memória epigráfica, mas antes de uma
iniciativa de reforma da Igreja, no decurso do cargo desempenhado,
podendo assinalar a reedificação das paredes por mau estado de
conservação após a Guerra de Restauração, que tinha terminado 10
anos antes. A possibilidade de que o imóvel tenha sido afetado no

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SABUCALE - Revista do Museu do Sabugal, 8 (2016)

Figura 17 - Pormenor fotográfico e fotogramétrico das primeiras letras da inscrição da


fachada da Misericórdia.

decurso desta contenda contra Castela e que a igreja tenha sofrido


melhoramentos com a total reconstrução da parede norte e parte da
fachada carece, no entanto, de confirmação documental, mas seria a
justificação mais razoável para esta epígrafe dedicatória e a explicação
para algumas ambiguidades arquitetónicas observadas no imóvel e
para a reutilização de elementos de maior antiguidade nas paredes.
Pela mesma altura, aproveitando o grande volume de trabalhos a
decorrer, é provável que se tenha provido a igreja de um coro-alto. A sua
incorporação à entrada das igrejas, avançando sobre parte do piso térreo
da nave, verificou-se nas sés portuguesas a partir do século XVI (Gomes,
2002: 3 e 25), difundindo-se no século seguinte para os restantes edifícios
cultuais. Nas igrejas paroquiais, os coros-altos eram geralmente feitos
em madeira, com varandas de balaustradas suportadas por duas colunas
de pedra, que muitas igrejas ainda hoje preservam (como a igreja matriz
do Sabugal). Pelo contrário, na Misericórdia de Sortelha este já foi
retirado, conservando-se apenas a escadaria de acesso (do lado sul) e as
marcas das traves do soalho, tal como na Misericórdia do Sabugal, onde
ainda se mantem o primitivo acesso ao coro pela parede meridional e as
mísulas de suporte do soalho (Fig. 18).
A colocação destes coros-altos à entrada obrigou, na maioria
dos casos, à ampliação do corpo das igrejas, como aconteceu por
exemplo na igreja da Misericórdia de Sortelha que avançou 4 m para
ocidente, segundo os resultados de escavações realizadas em 1999
(Osório, 2012: 118). Na Misericórdia do Sabugal não se observam
testemunhos do avanço ou acrescento de paredes, e tal pode dever-se
ao fato de ter havido uma presumível reconstrução de raiz prevendo
já a incorporação do coro-alto.
A inscrição de 1678 foi gravada no lintel moldurado de um
portal de sacada típico das Misericórdias da Beira Interior que se
costuma designar por Varanda de Pilatos (Queiroz, 2010: 279),

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SABUCALE - Revista do Museu do Sabugal, 8 (2016)

onde era recriada uma das cenas da procissão dos Passos da Via
Sacra, nomeadamente a estação denominada Ecce Homo. O vão foi
aberto na fachada com 175X90 cm de dimensão (Fig. 16), permitindo
que um indivíduo se apresentasse naquele lugar perante o adro e
interagisse cenicamente com o exterior, no decurso de eventos que
decorressem no espaço público (Ibidem). Portanto, estas aberturas
eram rasgadas frequentemente a partir do coro alto da igreja, que
tinha necessariamente de existir para se aceder à varanda (Fig. 18).
Por vezes, existe mesmo uma estação dos passos adossada à
fachada principal, como ocorre na Misericórdia de Alfaiates, onde se
rasgaram não uma, mas duas sacadas na frontaria. Em Sortelha, a
denominação de Varanda de Pilatos foi dada ao varandim da entrada
do castelo medieval, sobranceiro também a uma estação dos Passos
(Osório, 2012: 103 e 173). As estações de Sortelha estão assinaladas
por estruturas arquiteturadas com a data de 1742 (Idem: 172), portanto
muito mais tardias do que as do Sabugal.

10. Aduelas de arco


A parede interna da entrada da igreja apresenta diversos elementos
arquitetónicos reutilizados, oriundos das estruturas previamente
desmontadas no próprio imóvel ou de outras antigas construções
da Vila, dada a dificuldade de obter cantaria disponível durante as
sucessivas reformas do imóvel.
O recurso a elementos arquitetónicos preexistentes era uma
prática recorrente, da qual se conhecem vários exemplos, como na
igreja matriz do Sabugal que incorporou nos arranjos da fachada uma
inscrição romana (Curado, 1984), uma tampa de sepultura com cruz
pátea, uma aduela de arco datada de 1251, e outras pedras vindas de fora
(Osório, 2015: 30); também a Misericórdia de Sortelha apresenta no
novo frontispício inúmeros silhares com marcas de canteiro retirados
da Torre do Facho da muralha da Vila (Osório, 2012: 107 e 118).
Portanto, é natural que se tenham identificado nas paredes
reconstruídas da nave da igreja, diversas pedras com siglas de canteiro
idênticas às da capela-mor e do arco gótico meridional e ainda um silhar
com cruz pátea da fase medieval do imóvel (Fig. 1). Contudo, merece
destaque o conjunto de 23 aduelas de arco molduradas em bocel que
pertenciam a uma estrutura de alguma envergadura, totalmente demolida
e reintegrada na parede interna da fachada, especialmente no patamar
superior do coro-alto (Fig. 18). Esta decoração é frequente na arquitetura
tardo-gótica ou quinhentista, datando possivelmente do século XVI.
A hipótese mais plausível é que estas pedras provêm do primitivo
arco cruzeiro da igreja, desmantelado devido ao seu mau estado de

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SABUCALE - Revista do Museu do Sabugal, 8 (2016)

Figura 18 - Localização das diversas aduelas reutilizadas na parede interna da fachada e das
marcas de canteiro identificadas na verga da porta.

conservação e reutilizado de imediato em obras de melhoria da fachada.


O arco era do mesmo estilo arquitetónico do portal da igreja, ainda
preservado, onde também pontuam as aduelas molduradas em bocel (Fig.
15). Segundo os registos das atas do acervo documental da Irmandade
da Misericórdia, a atual estrutura de volta perfeita que separa a nave da
capela-mor foi erguida em 1891. O arco é mais alto e de maior dimensão,
causando a consequente subida da empena do telhado da igreja.
A abertura do outro arco na parede meridional, com tribuna a
meia-altura, foi concluída poucos anos antes da edificação deste novo arco
cruzeiro, no dia 6 de fevereiro de 1881 (conforme consta das respetivas
atas), tendo nesses trabalhos sido desmontado, sensivelmente a meio,
o velho arco gótico siglado (Fig. 5). As suas sete aduelas desmanteladas
foram igualmente repostas na verga arqueada que cobre internamente
a porta da fachada da igreja, onde se identificam as mesmas marcas de
canteiro: a chave e a espiral (Fig. 18).
Na parede norte encontra-se outro elemento arquitetónico
reaproveitado na construção, isolado e de proveniência desconhecida.
É uma aduela biselada e ornamentada com semiesferas que poderá
ter pertencido a uma porta de estilo românico ou quinhentista,
existente nesta ou em outra igreja (talvez a de Santa Madalena), não
sendo possível estabelecer qualquer conjetura mais rigorosa sobre a
sua primitiva localização (Fig. 19). Não será estranha a sua colocação
nesta parede, àquela altura, devido às obras realizadas em 1678, que

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SABUCALE - Revista do Museu do Sabugal, 8 (2016)

referimos atrás, ou então durante as reformas do séc. XIX, daí a grande


probabilidade de provir da Santa Madalena.

Considerações finais
As reformas construtivas que a igreja sofreu são hoje difíceis de
compreender e datar, pela falta de documentação que registe essa
atividade anterior ao séc. XIX,
sendo por isso fundamental
ter em conta os elementos
patrimoniais como as siglas de
canteiro, as pedras decoradas
ou as datas epigrafadas
associadas à construção.
A passagem dos exércitos
napoleónicos durante as
invasões francesas, no início
Figura 19 - Aduela decorada com semiesferas
do séc. XIX, causou a perda identificada na parede norte.
irreversível da documentação
dos arquivos paroquiais dos séculos anteriores, que permitissem
pesquisar as genealogias (casamentos, batismos, etc…), bem como das
atas da mesa da Santa Casa da Misericórdia onde se pudesse consultar
a lista dos provedores e as respetivas intervenções no imóvel. Assim,
partindo apenas destes achados e da reflexão sobre as diversas obras de
desmonte, entaipamento e reconstrução detetadas no imóvel, julgamos
que é possível estabelecer algumas conjeturas relativas a quatro
momentos cronológicos marcantes na evolução construtiva do templo,
que passaremos a descrever:

1ª Fase – Igreja de São Miguel, dos finais do séc. XII aos


inícios do XVI.
O espaço cultual seria mais pequeno e o piso estaria revestido de
algumas tampas de sepultura com cruzes páteas e outros elementos
iconográficos. A igreja apresentava já nesta altura uma cornija
assente em cachorrada, decorada com motivos geométricos esféricos
e prismáticos. Havia um arco gótico de morfologia ogival na parede do
lado da Epístola, que estava siglado, tal como as paredes da igreja. O
arco daria acesso a um eventual espaço anexo, talvez relacionado com o
arcediagado de Sabugal aqui sediado (Cruz, 2016: 112).
Desta igreja temos um pequeno vislumbre nas duas gravuras
da Vila do Sabugal feitas por Duarte d’Armas, em 1509, patentes no
Arquivo Nacional da Torre do Tombo (Castel-Branco, 1997) e na
Biblioteca Nacional de Madrid. Apesar do carácter esquemático e pouco

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SABUCALE - Revista do Museu do Sabugal, 8 (2016)

Figura 20 - Gravura do arrabalde do Sabugal feita por Duarte d' Armas (1509), assinalando
a igreja de São Miguel (Ms. 159 da Torre do Tombo [B] e Mss/9421 da Biblioteca Nacional
de Espanha [A])

realista destas representações, e sabendo que a cópia de Madrid seria


a versão mais genuína do autor (Fig. 20 B), podemos deduzir que a
igreja já tinha campanário, com duas sineiras de arco pleno e remate
triangular, que a capela-mor era mais baixa do que a nave, que não
tinha janelas, nem qualquer anexo, e que havia uma porta direta para
rua na parede meridional. Seria essa porta assinalada pelo arco gótico
que ainda se preserva desse lado da igreja? Segundo este desenho do
séc. XVI o vão ogival não daria acesso a qualquer espaço contíguo, mas
poderia corresponder a uma das entradas principais no espaço cultual.

2ª Fase – Conversão em Igreja da Misericórdia na primeira


metade do séc. XVI.

A transformação da igreja de S. Miguel em espaço cultual da


Misericórdia terá sido pautada por algumas reformas e melhorias. A
cota de circulação do séc. XIII parece ter descido nesta fase e as tampas
medievais terão consequentemente sido retiradas, tendo algumas sido
recolocadas nas paredes da capela-mor, talvez no decurso da construção
de um novo arco cruzeiro de moldura em bocel.
O altar-mor terá recebido um revestimento em azulejos hispano-
árabes e no ritual de sagração do novo espaço cultual terão sido gravadas
cruzes potentadas em três pontos da capela-mor.
Poderá ter sido adossada uma sacristia do lado da Epístola
(anexo 1), de piso térreo (onde ainda hoje se encontra um lavatório),
que poderia ter uma divisória interna, para alojar também a Casa do
Despacho, tendo consequentemente o arco gótico dessa parede sido

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SABUCALE - Revista do Museu do Sabugal, 8 (2016)

entaipado e substituído por um vão retangular mais pequeno (Fig. 5: 2ª


fase), do qual resta apenas a ombreira esquerda.

3ª Fase – Reedificação e acrescento do coro-alto no séc. XVII.


Em 1678, pelo patrocínio de Luís de Sousa Coutinho, terão sido
concluídos importantes trabalhos de reconstrução das paredes em mau
estado de conservação. No decurso dos remeximentos na fachada da
igreja, as medidas-padrão leonesas podem ter sido transferidas para a
parede norte. Foi feita ainda a incorporação de um coro-alto à entrada e
abriu-se a Varanda de Pilatos, por ocasião da dinamização da Via-Sacra
na Vila. O anexo 2 pode ter sido acrescentado para criar um acesso ao
coro-alto da entrada e, provavelmente, por essa altura a sacristia (anexo
1) ganhou um piso superior (Fig. 1).
Após a conclusão destes trabalhos, o mentor da obra terá deixado
uma memória para a posteridade no lintel da varanda da frontaria.
Por essa altura ou pouco depois, foram gravadas as marcas
cruciformes na fachada e no cunhal da igreja, tal como no Hospital
da Misericórdia, de acordo com a tradição secular de apelo à proteção
divina dos imóveis.

4ª Fase – Reformas na Igreja nos finais do séc. XIX.


Este é o período mais bem documentado da história do imóvel, havendo
referências ao seu estado de degradação e a diversas obras efetuadas
na igreja segundo as atas da Irmandade, especialmente na segunda
metade do século XIX.
As principais reformas verificadas nesses anos foram a construção
da nova sacristia, com acesso direto para a capela-mor (Fig. 1: anexo 3), e o
alargamento do espaço cultual dado que a nave era pequena para albergar
todos os participantes nas festividades da igreja, demolindo-se a parede
mestre setentrional que delimitava a sacristia e abrindo-se o arco maior
que se mantém hoje em utilização. Há registo da arrematação da pedra
dessa parede em 1882 (conforme está registado nas atas desta instituição).
Com a reconstrução do arco de cruzeiro e abertura de um novo
arco na parede meridional (Fig. 5: 4ª fase) deu-se a consequente
subida da empena central da cobertura da igreja. Passou a haver dois
coros, o da entrada que recuava ao séc. XVII e o novo que se situava na
designada Sala do Despacho, a sul. A capela-mor também foi elevada à
mesma cota e abriram-se todas as janelas atualmente existentes.
Mais tarde fizeram-se obras na fachada, abrindo-se um óculo, ao
mesmo tempo que era entaipada a varanda da frontaria (Fig. 16), sendo
a porta convertida, pelo lado de dentro em armário fechado de arrumo

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SABUCALE - Revista do Museu do Sabugal, 8 (2016)

das bandeiras (o anterior armário corresponde hoje à porta aberta na


parede norte). A parede interior da fachada recebeu beneficiação, tendo
sido empregue pedra oriunda do desmonte do primitivo arco cruzeiro
quinhentista e do velho arco gótico a sul, bem como de outras paredes
medievais desfeitas (Fig. 18). Estas últimas ações marcam o momento
de retirada do coro-alto, por perda de utilização ou por degradação com
o tempo e escassez de recursos da irmandade para o compor.

Estes poderão ser os principais momentos históricos do imóvel,


sugeridos pela análise dos achados patrimoniais e das marcas do
passado que aqui analisámos. Apesar disso, temos consciência que
os fatos poderão ter sido outros e que os eventos podem não se ter
desenrolado na sequência e na data que sugerimos. Cabe a outros
estudiosos confirmar ou corrigir estas propostas. Seguramente que
futuras descobertas arqueológicas ou documentais e o incremento
do estudo destes vestígios antigos permitirá, em breve, obter dados
adicionais sobre a história da Igreja da Misericórdia.

Agradecemos a César Cruz os esclarecimentos partilhados e as informações facultadas para


este texto, provenientes das atas da Mesa da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia
do Sabugal; a Fernando Patrício Curado o contributo dado através de bibliografia e
sugestões na leitura da epígrafe da fachada; ao Bruno Santos pelas fotos das Figs. 3, 7, 11
e 15, bem como pela tintagem dos decalques; e a Nelson Fernandes pela transcrição das
nossas gravações-áudio e pela análise dos dados estatísticos sobre as marcas de canteiro
nos castelos da Beira Interior.

Bibliografia:
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na Beira Interior quinhentista. Actas do Fórum Valorização e Promoção
do Património Regional. Vol. 2. Porto, p. 9-33.
AFONSO, Virgílio (1985) – Sabugal. Terra e gentes (apontamentos de História
e paisagem da região). Sabugal: Câmara Municipal.
ALBERTOS FIRMAT, M.ª de Lourdes (1977) - Perduraciones indígenas
en Galicia-romana: los castros, las divinidades y las organizaciones
gentilicias en la epigrafía. In Actas del Coloquio Internacional sobre el
Bimilenário de Lugo. Lugo. p. 17-27.
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(*) Gabinete de Arqueologia e Museologia do Município do Sabugal e Centro de Estudos
de Arqueologia, Artes e Ciências do Património

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