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TRIAGEM PSICOLÓGICA

Primeiro encontro terapêutico. É o alicerce das próximas intervenções.

É um ato criativo – pois irá tratar de um assunto que envolve um possível caminhar do cliente
para uma mudança. Trata-se de um momento único, onde sutilmente uma relação começa a
ser moldada e cada palavra, cada gesto e cada olhar devem ser fortemente considerados,
assim como, um grande banco de dados será reunido em uma quantidade limitada de tempo.

Para a maioria das pessoas, é o primeiro contato com os serviços de psicologia.

A primeira entrevista é o alicerce de todas as intervenções posteriores em saúde mental;

Se o paciente não se sentir mobilizado pelo primeiro atendimento, talvez não prossiga na sua
busca por ajuda e, nesse sentido, a triagem promove uma conscientização maior do paciente
bem como da família em relação às suas dificuldades.

Entrevistas de triagem costumam ser mais do que coleta de dados com os quais se organiza
um raciocínio clínico sumário que vai orientar o encaminhamento. As entrevistas tomam a
forma de uma intervenção breve, já que ao dar aos clientes uma oportunidade de se
engajarem em seu próprio atendimento, torna-os responsáveis por seus problemas (Ancona-
Lopez, 1995).

O simples acolhimento já tem significado importante para muitos clientes. Por acolhimento
entende-se uma disposição afetiva do psicólogo, uma atitude de escuta que visa receber,
aceitar, em que a expressão do sofrimento já proporciona alívio ou mesmo certa clareza em
relação à situação vivida, criando condições para modificá-la.

O Plantão em triagem tem por objetivo oferecer oportunidade ao aluno de vivenciar este
processo de recepção e avaliação dos pacientes, delineando os diversos quadros
psicopatológicos, e desenvolvendo o raciocínio clínico.

Em uma quantidade limitada de tempo estabelece-se uma relação que permita reunir as
informações iniciais sobre o paciente e reconhecer os sintomas e queixas que ele traz.

O entrevistador deverá recolher a maior quantidade de informação possível em apenas 50


minutos, reconhecendo sintomas sugestivos de transtornos mentais e desajustamentos nas
queixas trazidas pelo cliente.

FINALIDADE DA TRIAGEM:

Entrevista psicológica para coletar informações sobre o motivo da consulta ou queixa principal.

Delineamento de uma hipótese diagnóstica.

Encaminhamento para serviços psicológicos ou afins, existentes na comunidade.

A TRIAGEM POSSIBILITA:

Oferecer um espaço de acolhimento para a queixa e para o sofrimento psíquico, além de ter
respeito e valorização do que é trazido para a sessão;

Investigar os conflitos e os sintomas;

Encaminhar;
Realizar orientação psicológica, ainda que breve, à pessoa atendida.

ARMADILHAS:

Preocupação excessiva em coletar informações esquecendo-se do acolhimento;

Fuga de assuntos ou exploração de múltiplos assuntos ao mesmo tempo;

Não dar tempo suficiente ao paciente;

Atropelamento de perguntas;

Preocupação excessiva com anotações em detrimento da compreensão e valorização da fala


da pessoa atendida.

Confundir a Triagem com Aconselhamento Psicológico.

PROCEDIMENTOS:

1º) Receber a pessoa que busca o atendimento na recepção e se apresentar. Verificar se ela
está com a documentação solicitada – cópia de RG, CPF, comprovante de endereço. Conduzi-la
à sala de triagem.

2º) Explicar a pessoa atendida que você vai preencher alguns dados e, em instantes, ouvirá sua
queixa. Com os documentos em mãos, preencher os campos respectivos e pegar informações
sobre os dados da identificação do usuário que não estão nos documentos – endereço,
telefone e outros.

3º) Após esse procedimento volta-se para o paciente, perguntando qual o motivo da consulta
(queixa ou necessidade do atendimento psicológico). Procurar olhar o paciente nos olhos,
evitando muitas anotações, apenas aquelas que podem ser esquecidas. Deixar para fazer o
resumo da escuta após a saída do paciente ou ao término do processo.

4º) Coletar informações que possam auxiliar na investigação do motivo e que sirvam de base
para a formulação da hipótese diagnóstica. Procurar conhecer de forma resumida a
problemática trazida e o contexto da pessoa atendida (familiar, social e educacional). O
Genetograma é feito nos casos de atendimento de crianças e adolescentes. No verso da
primeira folha da triagem deve constar o genetograma. Lembrando que são colocadas apenas
3 gerações.

5º) Investigar se a pessoa apresenta alguma enfermidade, se faz uso de alguma medicação.

6º) Verificar as possibilidades de atender o paciente na clínica-escola – se é um caso para


atendimento pelos estagiários, ou se é um caso para encaminhamento. Se o estagiário
identificar que o caso não pode ser atendido na clínica-escola, ele agendará um novo encontro
junto à recepção, onde a supervisora de triagem fará o devido encaminhamento ou, orientará
o estagiário para a realização do mesmo;

7°) Determinadas problemáticas são contra-indicadas para o tratamento oferecido na clínica-


escola. Desse modo, casos como psicose, deficiência mental, dependência química,
transtornos de personalidade e presença de ideação suicida não são indicados para
atendimento no serviço. Contudo, é possível a tomada de decisão no caso-a-caso, tendo cada
supervisor autonomia para aceitar determinado paciente que possa não se encaixar
estritamente nesses critérios, após uma discussão clínica com o serviço de triagem. Por isso
também, o encaminhamento não será feito no mesmo encontro, deixando um tempo para
análise dos casos.

8º) Explicar como funciona a Clínica-Escola: são estagiários que fazem atendimento com
supervisão, os serviços oferecidos, como funciona um psicodiagnóstico ou uma psicoterapia, a
disponibilidade de horários e freqüências nas sessões por parte do paciente, a disponibilidade
de vagas para o atendimento (espera) e demais esclarecimentos que se fizerem necessários.

9º) Por fim, explicar que a clinica-escola entrará em contato assim que surgir a liberação de
vaga. Anotar o necessário na ficha de triagem durante a entrevista e, nesse momento, pedir ao
paciente para assiná-la bem como o Termo de Consentimento para pesquisa. Despede-se da
pessoa atendida e, se possível, o estagiário deve acompanhá-la até a recepção da clínica.

10°) Após o término da entrevista, procurar a supervisora de triagem e entregar a ficha para a
mesma e, sendo necessário, aproveitar o momento para esclarecimentos sobre a sessão. O
que for tratado na triagem deverá ser relatado apenas para a supervisora, não transmitir o
conteúdo para os colegas. Zelar pelo sigilo sempre. Caso a supervisora não esteja na clínica,
deixar a ficha com o (a) recepcionista, mas sem comentários sobre a triagem.

NORMAS GERAIS:

Utilização do Roteiro de Entrevistas de Triagem, como norteador da entrevista.

No caso de crianças, o primeiro contato deverá ser feito com os pais ou responsável legal,
devendo a criança comparecer na segunda entrevista, que por sua vez, deve ser agendada com
o mesmo estagiário junto à recepção.

Caso seja um adolescente, tanto ele quanto os pais são conduzidos a sala de triagem. O
estagiário preenche os dados do usuário na ficha. Em seguida, explica para os pais e para o
adolescente que o procedimento é escutar primeiramente o adolescente. Após a permissão
dos responsáveis, a triagem é realizada com o adolescente. Segue-se todo o procedimento de
triagem relatado acima. Após o preenchimento da ficha, a escuta do motivo da consulta e
esclarecimento de dúvidas, o estagiário explica ao adolescente que agora será necessário
chamar o responsável. Na presença do adolescente o estagiário explicará sobre o processo a
ser desenvolvido, disponibilidade de horários, responderá as dúvidas dos pais e recolherá a
assinatura do responsável na ficha de triagem e no Termo de Consentimento para pesquisa.
Lembrando que aquilo que for dito pelo adolescente, o estagiário não relata ao responsável,
mas solicita ao mesmo que questione e converse com o próprio adolescente, visto o sigilo do
processo.

Encaminhamento interno para Psicodiagnóstico, Psicoterapia Infantil, Psicoterapia de


Adolescente ou Psicoterapia de Adulto, Psicoterapia de Grupo: especificar a modalidade de
atendimento no local designado na ficha de triagem. (na parte de: Impressão diagnóstica)

Encaminhamento externo: indicar, na folha de triagem, o tipo de instituição ou profissional


para o qual o paciente será encaminhado. (na parte de: Impressão diagnóstica)

Em caso de desistência: evidenciar na ficha triagem a desistência e as observações sobre o(s)


motivo(s).

Entregar a ficha de triagem preenchida bem como o Termo de Consentimento para a


supervisora de triagem e, apenas quando esta não estiver na clínica, o estagiário deverá
entregá-la na secretaria da clínica-escola para arquivamento. O Termo deve estar assinado
pelo próprio paciente, no caso de adultos; pelos pais ou responsáveis legais no caso de
crianças, ou conter a observação “não concordou em assinar”.

Ainda sobre a ficha de triagem não se esquecer de: a) colocar a data da triagem; b) assinar no
local específico para “aluno responsável pela triagem”; c) preencher todos os campos da
ficha. O número do prontuário é colocado na secretaria da clínica.

Falar da entrevista de triagem apenas com a supervisora de triagem, não conversar sobre os
casos atendidos nas triagens com colegas de sala, nem mesmo com o (a) recepcionista da
clínica. Lembrem da conduta ética e o contrato sigiloso com o paciente.

DESAFIO DA TRIAGEM

“Recolher os dados críticos e, ao mesmo tempo, acolher a pessoa atendida, desenvolvendo um


vínculo que sirva de suporte para o engajamento dela na própria triagem psicológica e no
atendimento psicológico para o qual será encaminhada”.

“As primeiras entrevistas são momentos de conhecimento e escolha mútua em que o cliente
se apresenta pelos seus motivos, queixas, questões e história de forma peculiar, e o terapeuta
se mostra pelo seu estilo pessoal, sua indumentária, seu escritório de atendimento e suas
formas de intervir. As primeiras entrevistas são também momentos de acolhimento e
preparação para o vínculo que começa a se fazer. A forma de presença do terapeuta é,
portanto, fundamental para o tipo de relacionamento que vai acontecer”.

(SILVEIRA, 1997, p. 12).

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