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Robert J. Kohlenberg
Mavis Tsai
A Psicoterapia Analítico
Funcional, uma proposta
teórica e aplicada inserida no
campo da Terapia
Comportamental e Cognitiva,
foi desenvolvida por
Kohlenberg e Tsai ao longo da
década de 1980, e contribuiu
significativamente para se
compreender por quais
mecanismos a relação entre um
terapeuta e seu cliente afeta os
processos de mudança. São
discutidos nesta obra
importantes aspectos
conceituais, acompanhados por
transcrições de interações
terapêuticas e suas respectivas
análises. Terapeutas de
diferentes abordagens,
experientes ou novatos, todos
estão convidados a estabelecer
com os autores uma espécie de
diálogo. Kohlenberg e Tsai nos
oferecem seu sofisticado
raciocínio clínico, baseado em
uma visão científica a respeito
do comportamento humano, o
qual certamente irá atrair a
atenção dos profissionais
brasileiros nas áreas de
Psicologia e Psiquiatria.
Psicoterapia Analítica
Funcional
Criando Relações Terapêuticas
Intensas e Curativas
+
Psicoterapia Analítica
Funcional
Criando Relações Terapêuticas
Intensas e Curativas
Robert J. Kohlenberg
Universidade de Washington
Seattle, Washington
e
i
Mavis Tsai
Psicóloga Clínica
Seattle, Washington
Tradução
Organizadora
Rachel Rodrigues Kerbauy
Traduzido por
Fátima Comte
Mali Delitti
Maria Zilah da Silva Brandão
Priscila R. Oerdyk
Rachel Rodrigues Kerbauy
Regina Christina Wielenska
Roberto A. Banaco
Roosevelt Starling
Reimpressão
Editores Associados
Santo André, 2006
4
Editores Associados
A solicitação de exemplares poderá ser feita à ESETec
(11) 4990 56 83/ 4438 68 66
www.esetec.com.br
eset@uol.com.br
Aos nossos pais
Jack e Bess Kohlenberg
Edwin e Emily Tsai ,
tradução desse livro. Robert Kohlenberg mantém relações de amizade com quase
todos os que contribuíram para esta tradução e guarda lembranças agradáveis
de momentos em que estiveram juntos.
Traduzir um livro de psicoterapia analítica funcional (FAP) é uma tarefa
difícil, devido às sutilezas dos conceitos teóricos e à sensibilidade para temas
culturais que se faz necessária. Os tradutores mantiveram contato conosco e
temos a certeza de que eles fizeram um trabalho muito bom. Nós gostaríamos de
agradecer por seu trabalho, às seguintes pessoas: Irene Forlivesi pelo prefácio,
,
pelo Capítulo 5, Priscila Derdyk pelo Capítulo 6, Maria Ziíah Brandão pelo
Capítulo 7, e Rachel Rodrigues Kerbauy pelo Capítulo 8.
Em especial, desejamos expressar nossa profunda gratidão a Rachel
Rodrigues Kerbauy, por ter iniciado e coordenado este árduo empreendimento, O
trabalho de todos neste livro nos ajuda a alimentar o sonho de que um público cada
vez maior de terapeutas e de clientes pode ser inspirado e enriquecido pela FÂP.
R J. K.
.
M T.
.
*
Prefácio
não é uma coleção de técnicas mesmo tendo a inclusão de várias delas. Mais do
,
que isto, nós descrevemos um referenciai teórico que pretende servir de guia
para a atividade do terapeuta. Embora a teoria da qual fazemos uso seja
particularmente muito adequada para a nossa proposta, nós perdemos a maioria
do nosso público no momento em que mencionamos seu nome. Desta forma, os
próprios alicerces com os quais contamos, podem prejudicar o nosso desejo de
compartilhar a estimulação intelectual e os nossos insights clínicos.
É difícil para os clínicos adotarem novas técnicas que leram em um
livro. Eles não estão particularmente propensos a serem receptivos quando estas
técnicas estão baseadas numa teoria que provoca uma forte reação negativa.
Entretanto, esta teoria é amplamente mal-interpretada e mal-compreendida; como
consequência o primeiro capítulo fornece explicações sobre os principais tópicos
,
ix
x Prefácio
não tenha notado, mas nós omitimos o nome da teoria). No Capítulo 1, nós
também mostramos como o behaviorismo radical conduz o foco da atenção
para a relação terapeuta-cliente.
Pretendia-se que este livro fosse lido mais ou menos na sequência, mas
isto não é obrigatório. Cada capítulo é praticamente independente do outro,
porque muitos dos conceitos menos conhecidos são retomados, mesmo que eles
já tenham sido apresentados num capítulo anterior. Os temas de conteúdo mais
teórico e abstrato estão contidos nos três primeiros capítulos, e nos capítulos
seguintes a ênfase maior é dada à aplicação clínica. Para alguns leitores, iniciar
a leitura por estes capítulos mais clínicos poderia avivar o interesse em examinar
os capítulos teóricos anteriores. Nós esperamos que, ao percorrer os capítulos e
observar novas formas de aplicação dos conceitos, ocorra um efeito cumulativo
e os conceitos se tornem mais compreensíveis.
No segundo capítulo, nós evidenciamos os princípios de como fazer
psicoterapia analítica funcional (FAP). Embora forneçamos cinco princípios,
somente o primeiro é realmente necessário, e esperamos que seja este a ser
"
terapeutas cognitivos.
4
Prefácio xi
Willard Day foi uma grande inspiração. Seu trabalho demonstrou que a
interpretação é uma atividade essencial do behaviorista radical. Seu encanto
pelas novas idéias tornou-se um refugio no qual elas poderiam crescer e prosperar.
Steve Hayes estabeleceu as bases para a aplicação dos princípios
behavioristas radicais na psicoterapia de adultos. Stanley Messer, o primeiro
estudioso com orientação psicodinâmica que levou a sério nosso trabalho, nos
deu um feedback crítico valioso.
que ele não teve a oportunidade de lê-lo e testemunhar mais um dos inúmeros
efeitos que seu trabalho teve sobre as pessoas.
RJ.K
MT .
Sumário
Capítulo 1
Introdução. \
Capítulo 2
Aplicação Clínica da Psicoterapia Analítica Funcional. 19
Capítulo 3
Suplementação: Aumentando a capacidade do terapeuta para
identificar comportamentos clinicamente relevantes . 51
Capítulo 4
O Papel de Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento.... 75
Emoções. 75
Aprendendo os Significados dos Sentimentos. 78
Sentimentos como Causas de Comportamento... 80
Expressando sentimentos . 82
Evitando sentimentos . 84
Grau de contato com variáveis de controle. 85
Lembranças. 89
Implicações Clínicas. 92
Ofereça uma Racional Comportamental para Entrar em Contato com
Sentimentos . 93
Aumente o Controle Privado de Sentimentos. 94
Aumente a Expressão de Sentimentos pelo Terapeuta. 96
Melhore o Contato do Cliente com Variáveis de Controle. 97
1
ComprtamenoMdelaoprContigêcas. 4 5
Capítulo 5
Cognições e Crenças. 107
Capítulo 6
O self . 137
Capítulo 7
Psicoterapia Analítica Funcional : Uma ponte entre a Psicanálise
e a Terapia Comportamental... 187
Capítulo 8
Reflexões sobre ética, supervisão, pesquisa e temas culturais... 209
Referências... 229
índice... 235
}
1
Introdução
Quando penso naqueles pacientes que eu vi experimentarem uma grande mudança, eu sei
que o fogo estava na relação terapêutica.... Havia luta e medo, proximidade, amor e
terror. Havia intimidade e afronta apreensão e vergonha... era uma jornada significativa,
,
mais para o paciente que vinha buscar ajuda mas de fato, para ambos os participantes.
.
Era um processo que percorria todo o desenrolar da terapia e deixava a ambos paciente
,
1981, p. 453-454)
1
2 Prefácio
simplis-ta, que reduz ações significativas somente ao que pode ser observado e
que re-quer consenso público - são representativas dos mal-entendidos que a
maioria dos clínicos mantêm. Essas distorções são devidas, em parte, à natureza
cripto-gráfica das obras de Skinner, o que íhe dificulta ser interpretado
corretamente, e também devido ao fato de que o behaviorismo radical é
frequentemente confun-dido com o behaviorismo metodológico ou convencional,
que é bem mais conhecido. Em contraste com o behaviorismo radical, o
behaviorismo metodo-lógico exige consenso público para as suas observações.
Estudando somente o que pode ser publicamente observado, o behaviorismo
metodológico exclui o estudo direto da consciência, dos sentimentos e dos
pensamentos. Já bem cedo Skinner (1945) diferenciava a sua abordagem do
"
do consenso público. Para ser mais precisa a anedota acima, contada pelos
,
"
nossos colegas, deveria começar assim: Você já ouviu aquela dos dois
behavioristas metodológicos... ?".
Introdução 3
que tenta chegar à raiz das coisas, que não se distrai pelo superficial, vendo
floresta no lugar de árvores. É bom ser radical Qualquer pessoa que pense com
.
fora, são exemplos dos temas que têm sido discutidos pelo behaviorismo radical .
"
atribuir o status de coisa a eventos principalmente porque estamos habituados
"
a falar sobre o mundo como sendo composto de objetos, que sentimos possuir
em uma constância ou estabilidade próprias. Na verdade a meta original da
,
" "
Quando discutimos filosofia com os nossos colegas, talvez possamos concordar prontamente
em que não existe uma única maneira de ver as coisas. Mas quando isso toca as nossas próprias
crenças sobre clientes específicos tendemos a nos apegar com tenacidade às nossas próprias
,
f
.
convencemos a nós mesmos de que. de algum modo. elas nos oferecem um diagrama da
realidade... Porque pensamos que sabemos quando, na verdade simplesmente imaginamos,
,
"
"
sando O comportamento de introduzir uma moeda numa máquina automática
.
de venda de doces é visto como comportamento, e não como um mero sinal que
indica a presença de alguma entidade fora do comportamento em si mesmo, tais
como impulso, desejo expectativa, atitude ou uma desorganização das funções
,
como variáveis de controle quando eles são percebidos como estando, de alguma
forma, relacionados ao comportamento. O comportamento verbal que descreve
uma relação entre um comportamento e variáveis de controle é chamado de
declaração de uma relação funcional e a tentativa sistemática de descrever
relações funcionais é chamada de análise funcional do comportamento,
tem a sua forma eficaz modelada pela ação da comunidade verbal. Desta forma,
quando uma falante diz que ela vê uma imagem dentro da sua mente, o que está
sendo dito precisa ter-lhe sido ensinado na sua infância, por outros que não po-
,
deriam ver dentro da sua mente. Assim para o processo de ensino os professores
,
" "
*
» /
Que fatores estão envolvidos em levar o falante a falar o que ele ou ela
faz? Conhecer de maneira completa o que leva a pessoa a falar alguma coisa é
entender o significado do que foi dito no seu sentido mais profundo (Day 1969).
,
Por exemplo, para entender o que uma pessoa quer dizer quando ela fala que
acabou de ter uma experiência de estar fora do corpo procuraríamos por suas
,
que ela encontrou enquanto crescia e que resultaram nela falar "corpo", "fora
do" acabo de ter e "Eu" (uma descrição de algumas experiências que resultam
,
" "
"
em Eu" está apresentada no Capítulo 6). Tão logo saibamos "de todos estes
fatores, entenderemos profundamente o significado do que ela quis dizer.
A observação direta é altamente valorizada como um método de reunir
dados relevantes. Entretanto é importante notar que o que é observado não
,
necessita ser público. Skinner tem uma posição crítica no que diz respeito à
filosofia da "verdade por consenso" uma perspectiva requentemente adotada
,
f
também ser descritos como pessoas que estão evitando contato com situações
que eliciam emoções e por isso poderiam ter dificuldades em relações íntimas.
8 Capítulo 1
f
que o comportamento é compreendido de maneira não-mentalista e que mesmo o
comportamento verbal mais privado tem as suas origens no ambiente - fornecem a
linguagem e o conceito de natureza humana que pretendem tomar clara a inte-
ração entre o comportamento de um indivíduo e o ambiente natural. Conceitos
behavioristas radicais têm sido usados tanto para explicar uma ampla gama de
práticas terapêuticas, como a psicanálise e a dessensibilização, como também para
explicar experiências humanas como o sentimento, a apreensão, o self e a raiva.
Uma outra aplicação dos conceitos skinncrianos, denominada análise
experimental do comportamento, é uma abordagem mais estreita e que utiliza
analogias com procedimentos de condicionamento operante desenvolvidos em
,
das idéias relevantes para a psicoterapia foram publicadas nos anos 50 (Skinner ,
Reforçamento
.
s
10 Capítulo 1
dado processo e não pode ser identificado independentemente dele. Ainda que
um sorvete possa reforçar o comportamento de uma pessoa, poderá não ter
qualquer efeito sobre o comportamento de uma outra e, portanto, não seria um
reforçador para o comportamento. Além disso, o reforçamento pode atuar sobre
algo que não gostamos. Por exemplo, um dentista que esteja presente no horário
combinado para o nosso atendimento, reforça nosso comportamento de marcar
horários para outros atendimentos, mesmo que o tratamento dentário seja, em si
mesmo, uma experiência desagradável.
Mais ainda: é importante notar que o reforçamento não é um processo
consciente. Muito do nosso comportamento foi modelado por processos de
reforçamento antes mesmo que aprendêssemos a falar. Quando o reforçamento
ocorre, ocorre também uma mudança física no nosso cérebro, da qual não nos
damos conta. Ainda que possamos experimentar uma sensação de prazer ou
uma inclinação para agir desta ou daquela maneira, nós não percebemos o
fortalecimento do nosso comportamento. Por exemplo, se um moço diz "Amo
"
você para a sua namorada e ela sorri calorosamente e diz "Eu também amo
"
você ele poderá sentir uma sensação de prazer em seu corpo e pensar Isto é
"
/
Introdução 1\
"
clínica:Dê o confeito de chocolate imediatamente depois que a criança
"
elogios - poderiam ser arbitrárias. Ele via isso como um sério problema clínico
de vez que, comportamentos reforçados arbitrariamente somente ocorreriam
quando o controlador estivesse presente ou se o cliente estivesse interessado no
tipo específico de recompensa que estivesse sendo oferecida Como exemplo de
.
reforçados e quais os punidos. Ele decide punir o menino por ler uma revista em
quadrinhos ao invés do livro texto. Este professor está mostrando uma das defi-
Introdução 13
ciências do uso de reforçamento arbitrário ou seja, ele está pedindo uma resposta
,
tantos outros. Assim, um dos riscos no uso de reforçamento arbitrário é que ele
pode inadvertidamente interferir com o reforçamento natural e com a aquisição
do comportamento-alvo.
2 .
O comportamento desejado existe no repertório da pessoal O
reforçamento natural inicia com um desempenho já existente no repertório da
pessoa, enquanto o reforçamento arbitrário não leva em conta, no mesmo grau
do reforçamento natural o repertório de comportamentos existente na pessoa.
,
Tal é o caso quando uma mãe critica a primeira tentativa dc sua filha em costurar
uma peça em curva e não leva em conta o seu nível de habilidade em costurar .
A
utilização da crítica como reforçamento arbitrário fez com que essa mãe falhasse
em ver que a sua filha estava se saindo bem para o nível das suas habilidades
atuais em costura. Por contrasteo reforçamento natural consistiria na apreciação,
,
por essa mãe, de uma peça de costura utilizável que a filha conseguiu fazer em
sua primeira tentativa, desconsiderando a sua aparência .
beneficiar a ela, a criança. Na verdade, o abuso sexual pode causar uma ampla
variedade de problemas e especificamente, interfere com o reforçamento natural
,
dela tocar simplesmente pela música criada é natural. De igual maneira multar
,
o seu cliente em alguns centavos por não manter contato visual é arbitrário.
enquanto que é natural deixar que a sua atenção flutue.
Em resumo, o reforçamento natural é diferente do reforçamento arbitrário
por fortalecer uma ampla classe de respostas, por ter em consideração o nível de
habilidade da pessoa, por beneficiar primariamente a pessoa sendo reforçada ao
invés da pessoa que proporciona o reforço e por ser típico e de ocorrência comum
no ambiente natural. Entretanto a maior parte das consequências não se encaixa
,
Quando deixados sós por oito minutos, numa situação de "descanso", os sujeitos
pagos ocuparam menos tempo manipulando o quebra-cabeças do que os sujeitos
sem pagamento. Após uma revisão da literatura sobre este tipo de pesquisa ,
' r'
Observação
não pode ser observado a menos que ele ocorra na presença do terapeuta. Para
atender a este requisito os analistas do comportamento têm (a) tratado clientes
,
que estão com seu movimento restrito, tais como aqueles hospitalizados ou
internados em presídios, ou (b) tratado problemas graves e que se manifestam
com alta requência, como ecolalia em crianças autistas.
f
" "
suas queixas e que realmente fica sem palavras quando está relatando esse
seu problema ao terapeuta. Fundamentada no pré-requisito da observação, uma
abordagem terapêutica analítico-comportamental para um paciente de consultório
16 Capítulo 1
Mas são eles mesmos um problema quando os comportamentos são algo mais
,
inais que não existissem no repertório dos observadores fato que não pode ser
,
f
base nas descrições comportamentais típicas que são formuladas para problemas
aplicados (Hawkins & Dobes 1977). Não obstante, o consenso entre os
,
Preparando a generalização \
18 Capítulo 1
Capítulo 8.
\
Aplicação Clínica da
Psicoterapia Analítica Funcional
Tudo que um terapeuta pode fazer para auxiliar os clientes ocorre durante
a sessão. Para o behaviorista radical, as ações do terapeuta afetam o cliente
através de três funções de estímulo: 1) discriminativa, 2) eliciadora e 3)
,
19
20 Capítulo 2
afirma que agora é apropriado você dizer como se sente. A questão, entretanto,
poderia também ser aversiva para o cliente e, assim, puniria o comportamento
que precedeu a questão do terapeuta; esta é a função reforçadora. A função
eliciadora da pergunta poderia fazer o cliente enrubescer, suar e induzir outros
estados corporais. Os motivos pelos quais o cliente reage destas formas à pergunta
sobre sentimentos encontram-se em sua história de vida.
sob controle de estímulos aversivos. Tal comportamento pode ser ilustrado por
casos clínicos reais como os descritos abaixo:
,
1.
Uma cliente cujo problema é não ter amigos e que afirma "não saber
"
conquistá-los exibe comportamentos como: evitar contato visual, res-
ponder a perguntas falando excessivamente, de um modo impreciso e
tangencial tem uma "crise" atrás da putra e exige ser cuidada, fica
,
Aplicação Clínica da FAP 21
temente queixa-se de que o mundo não se importa com ela e lhe reservou
a pior parte.
2 .
Um homem cujo principal problema é evitar relacionamentos amorosos
sempre decide, antecipadamente sobre o que vai falar na terapia, vigia
,
3 .
Um homem que se descreve como "eremita" diz que gostaria de
construir uma relação de intimidade está há três anos em terapia e
,
4 .
Uma mulher cujo padrão é mergulhar em relacionamentos inatingíveis ,
em que ocorre uma instância real do problema clínico, o CRB1. Por exemplo,
considere um cliente cujo problema é se afastar e vivenciar sentimentos de baixa
"
viveu uma década de indizível terror envolvendo dor ísica e emocional provocada
,
f
por quem supostamente deveria amá-la, o pai. Recordar e reagir emocionalmente
a estes eventos não foi reforçado. Ao invés disso, era funcional esquecer e reagir
de forma não-emocional, e ela evitou estímulos que poderiam evocar sentimentos
indesejáveis. Sua esquiva era pervasiva e associada às experiências precoces
,
fúria não estabelecendo relacionamentos de intimidade. Ela não era aberta não ,
terrivelmente penoso.
2 Aprender
.
a dizer o que deseja (ou seja que suas necessidades são
,
fortemente punida por ter seu próprio desejo. Ela codificou este fato como não
tendo o direito de esperar algo dos outros e aprendeu que "desejar é ruim". Eu a
encorajei a desejar e gradualmente estes CRB2s foram fortalecidos Deste modo,
.
tentei reforçar qualquer pedido que eu pudesse com referência a aspectos como
,
verbais. Além disso foi explicado a Joanne que suas necessidades eram
,
"
considerar má "
sessão naquele momento o que ela aceitou de imediato. Mais tarde Joanne contou-
,
"
a sentir que desejar" é aceitável e que suas necessidades são importantes.
Joanne foi reforçada por antecipar e tornar-se hipervigilante com relação a tal
comportamento da parte de terceiros. Ela contou-me que levou seis meses até
que passasse a confiar que eu viria pontualmente à sessão, conforme combinado
"
com ela. Eu tinha todos esses medos - de que você me julgasse louca ou me
ferisse, de que meus sentimentos lhe assustassem e o fizessem se afastar de
mim. Mais do que me reconfortar, você me fez examinar o que eu estava sentindo
em relação a você. Eu dizia que não o faria e você me respondia que você
"
precisava confiar na sua experiência. Então Joanne tornou-se menos vigilante
na busca de uma ação errática de minha parte, o que, por sua vez, facilitou o
crescimento de nossa relação. Eu também fui capaz de manter minha palavra,
sendo coerente com meus pontos de vista, e não agi de maneira imprevisível.
4 Aceitar o
. amor. Após três anos em terapia comigo (esteve em terapia
por cinco anos, antes de vir me procurar), Joanne descreveu um problema da
vida diária de relacionamento interpessoal. Disse que, bem no fundo, sentia não
saber como amar ou como ser amada. Eu lhe iz mais perguntas, buscando
f
descobrir exatamente o que ela queria dizer, para elaborar o problema em termos
comportamentais. Joanne tinha dificuldade para fazê-lo. Tentando saber se isto
ocorria na sessão, perguntei-lhe se conseguiria aceitar meu amor no momento,
ela disse que não, que sentia-se fechada. Embora fosse um processo privado,
cujas dimensões fossem difíceis de descrever, julguei que um CRB1 estava
ocorrendo naquele momento.
24 Capítulo 2
T; Totalmente fechado?
C: Talvez 5% aberto.
T: Gostaria que você tentasse abrir até 20% e aceitasse meu amor por você.
Este processo foi mantido, e Joanne relatou ser capaz de "abrir seu
"
coração cada vez mais. Eis uma descrição do que ela sentiu durante aquela
"
sessão: Tomei coragem para me abrir e deixar o amor entrar. Foi uma mudança
de foco em meu corpo e mente. Ainda que estivesse consciente do meu medo ,
terror e sofrimento causados pelas experiências com meu pai, enfoquei o que
sentia em relação a você, no presente, em oposição aos meus medos. Deixei que
existissem duas verdades simultâneas: que meu pai abusou de mim e que você ,
era uma pessoa com quem eu podia me sentir segura e amada. Continuei
afirmando para mim mesma que queria abrir espaço para receber o amor. Eu
mantenho a tensão nos meus músculos quando me fecho principalmente no
,
contato com seus sentimentos e sua esquiva foi extinta, suas respostas físicas
,
Por exemplo Esther, uma mulher com cerca de quarenta anos, há quinze anos
,
permanece sem qualquer contato íntimo de natureza sexual. Após seis anos em
FAP com o segundo autor Esther se envolveu com um homem que conheceu na
,
igreja. Seu CRB3 era: "A razão pela qual entrei em um relacionamento íntimo
é porque você esteve ao meu lado. É uma mudança fenomenal. Não fosse você ,
eu não estaria lá. Com você encontrei o primeiro lugar seguro, onde eu tinha
como falar sobre o que sentia, pude descobrir razões pelas quais seria desejável
eu tornar-me sexualizada. Por um certo período de tempo estive mais abertamente
atraída por você e você aceitou meus sentimentos. Aprendi que seria melhor eu
,
sentir-me vazia. E eu pude praticar a ser direta com você. Este tipo de afirmação
pode ajudar a aumentar a probabilidade do cliente transferir seus ganhos na
terapia para a vida diária. Neste caso, o comportamento a ser transferido auxiliou
a aumentar o reforçamento de estar se relacionando intimamente.
Terapeutas, por vezes, confundem repertórios de CRB3 com o
comportamento ao qual eles se referem. Uma cliente afirmar que se afasta sempre
que se torna dependente de um relacionamento (CRB3) difere de realmente se
distanciar durante uma sessão porque está se tornando dependente do terapeuta
(CRB1). E lamentável que alguns terapeutas focalizem sua atenção sobre estes
repertórios que descrevem um comportamento problemático e não conseguem
observar a ocorrência dos comportamentos problemáticos (CRB1) ou dos
progressos (CRB2).
26 Capítulo 2
Avaliação inicial
"
você se sente, agora, a seu próprio respeito? "Neste exato momento você está
,
"
se afastando? "O que acabou de acontecer se parece com o que fez você buscar
,
"
atendimento? "A dificuldade que você teve de expressar os seus sentimentos
,
"
agora é a mesma que você tem com sua mãe? "O que você sente agora...é
,
"
Hayes (1982). Neste contexto, as regras da FAP são sugestões para o compor-
tamento do terapeuta, as quais resultam em efeitos reforçadores para o terapeuta.
r
"
E mais uma questão de "experimente você vai gostar do que "é melhor que
, ,
"
você faça assim .
apropriadas do terapeuta.
O problema contraterapêutico gerado pela ausência de consciência é
familiar àqueles que trabalham com crianças com perturbações graves O .
uma delas e substituíram-na por outra de cor adequada O cliente teve um ataque .
de birra. Obviamente os pais não conseguiram perceber que calçar as meias era
um CRB2 ,membro de um repertório cuja ausência, ou baixa probabilidade de
ocorrência estava diretamente relacionada ao problema. Se os pais estivessem
,
29
clínico e solicitasse
, em seu nome, uma nova receita dos tranquilizantes que lhe
foram prescritos e estavam terminando. Acrescentou que tinha muito medo de
fazê-lo. Tive diversas , e fortes, reações negativas encobertas. Primeiro, não
gostei da idéia por geralmente desencorajar a medicação, em benefício dos
métodos comportamentais. Segundo pensei que renovar a receita estava sob
,
responsabilidade de Betty não minha. Terceiro, imaginei que esta seria uma
,
assertivo. Por fim considerei que telefonar para o médico é uma tarefa
,
desagradável, que parecia uma interferência sobre meu horário. Por outro lado ,
por si só, poderia ter contribuído para a melhora, mas, segundo a FAP, seria
menos importante do que a contingência do terapeuta reforçar naturalmente as
reações de melhora apresentadas na sessão.
"
E possível que um terapeuta distante afastado, no estilo tela em branco" fosse
,
a pessoa certa para alguns clientes. Uma dada medida de passividade poderia
oferecer ao cliente a chance de se desenvolver com independência (ver Capítulo
6 sobre o tratamento de problemas que afetam o "eu"). Em termos genéricos ,
de amor. Se você conseguir superar seus bloqueios com uma certa pessoa ,
"
Se maus relacionamentos me bagunçaram então precisarei de bons relacio-
,
namentos que me ajudem a ficar curado E esta foi uma boa relação."
.
Aplicação Clínica da FAP 31
ao de Peck:
í
/
os momentos perdidos , etc. É algo muito mais simples que isso. É o encontro de
trabalho entre duas pessoas trabalho duro e honesto. Poderia afirmar que é uma
,
ambiente ser estruturado para evocar CRBs. Embora não visem tal objetivo,
técnicas específicas usadas por vários psicoterapeutas podem ser efetivas por
evocarem o CRB. Alguns exemplos são: 1) Associação livre, que pode ser vista
como a apresentação de uma tarefa não estruturada que impele à introspecção e
evoca o CRB correspondente (ver Capítulo 6); 2) Hipnose, que pode evocar o
CRB relacionado a renunciar ao controle; 3) Lições de casa: pode evocar CRBs
relacionados a contra-controle ou a obediência excessiva; 4) Exercícios de
imaginação: possibilitam evocar CRBs relacionados a estar sob restrição,
emocionado ou em processo criativo. A reestruturação cognitiva, a técnica das
cadeiras vazias, relatar sonhos e a terapia do grito primai certamente evocam
CRBls apropriados para alguns clientes. O problema com estas técnicas é que
o terapeuta que as utiliza pode estar tão sob controle de alter egos, de nossa
sabedoria interior, do conteúdo inconsciente ou da distorção cognitiva, que o
CRB não é identificado ou é visto como mero subproduto.
32 Capítulo 2
CRB. Além disso, o cliente poderá se tornar incapaz de confiar nas expressões
ou verbalizações afetivas do terapeuta. Tal efeito é desnecessário afirmar,
,
terapêutica é coerente com sua história. Em tal caso duvidar da sinceridade das
,
f
contíguo ao comportamento-alvo é o agente primário de mudança na situação
terapêutica. Por outro lado os behavioristas, cientes da importância do
,
r
arbitrário.
Abordagens Diretas
ser arbitrário. Esta é, provavelmente, a razão pela qual Wachtel (1977) afirmou
que os comportamentais eram extremamente exuberantes no uso de elogios, o
" "
que vulgariza a relação. Tentativas deliberadas de recompensar um cliente
4
"
adulto, guiadas pela regra quando o cliente demonstrar um progresso, faça um
"
gesto positivo ou faça um elogio conduziriam facilmente ao reforçamento
,
2
Compatibilize suas expectativas com os repertórios atuais dos clientes.
.
Frequentemente ela encerrava a terapia de modo abrupto sem aviso prévio nem
,
provocação aparente. Tinha que enfrentar, em sua vida diária, estes mesmos
problemas, o que a levou a passar por inúmeras e breves tentativas prévias de
terapia porque os terapeutas a consideravam insuportável. Após um ano de
,
afirmou estar fazendo isto em função de eu não me importar com ela demeçstrado
,
pela limitação do meu tempo reservado para ela. Embora pudesse ver este
comportamento como a gota d'água que transbordaria o copo o conceito de
,
diretas.
pessoas, Rogers certamente não tentaria fazê-lo. Mas uma análise cuidadosa de
suas reações aos clientes indica que há contingências (Truax, 1966), pois Rogers
reagia diferencialmente a certas classes de comportamento do cliente. Deste
modo, ele produzia um padrão de reforçamento.
Ao nosso ver, a atenção de Rogers provavelmente manifestava-se como
um interesse, preocupação, sofrimento ou envolvimento, que terminavam, natural-
mente, punindo CRB1 s e reforçando CRB2s e CRB3s. Deste modo, sugerimos
que a proposição rogeriana é um método indireto de fortalecer a ocorrência de
contingências naturalmente reforçadoras. Um terapeuta que dá atenção, conforme
a formulação aqui apresentada, é alguém naturalmente reforçador, ou governado
pelo que é melhor para o cliente.
Na medida em que na relação terapêutica há um desequilíbrio de poder,
é especialmente importante obedecer a esta diretriz, Do contrário, os clientes
poderiam ser facilmente abusados e feridos. Clientes que se envolvem sexualmente
36 Capítulo 2
com seus terapeutas são um destes casos. Peck (1978) discutiu muito bem porque
é difícil conceber que um cliente se beneficie do relacionamento sexual com o
terapeuta:
5
Se usar reforçadores atípicos, faça~o somente por tempo limitado,
.
reforçadores naturais assumam o controle. Mas esta atitude requer grande cautela.
Além disso, recomenda-se contar ao cliente porque isto está sendo feito e que ,
que alguns dos usos bem sucedidos de reforçadores atípicos como alimento ou
"
elogios devam-se à forma como eles tornam o comportamento do cliente mais
visível ao terapeuta e ao próprio cliente." Uma vez que tal consciência se
estabelece, reações do terapeuta naturalmente reforçadoras despertariam, no
cliente, repertórios relevantes que acompanham os reforçadores arbitrários.
Vejamos o caso de um cliente que apresentava altas taxas de faltas no trabalho
e na terapia. Obviamente, sem contato é difícil desenvolver a aliança terapêutica.
Surpresas sob a forma de recompensas materiais de baixo valor como material ,
6 .
Evite a punição. Em conformidade com a proposição do behaviorismo
radical , que se opõe ao uso da punição, até agora se enfatizou o reforçamento
Aplicação Clínica da FAP 37
fuga e esquiva. Ferster apontou que a maior parte do controle aversivo que
ocorre entre pessoas é na sua essência, arbitrário. Portanto, faz sentido evitar,
,
em nossos consultórios.
exemplo, uma simples questão feita pelo terapeuta: "Como foram os exercícios
de relaxamento durante a semana?" num contexto no qual o cliente concordara
,
com a tarefa. Para alguns a pergunta seria um estímulo aversivo, que evocaria
,
de modo ambíguo.
Estas reaçÕes (por exemplo fornecendo uma resposta indireta) poderiam
,
"
um repertório significativo do cliente pleno de implicações, relacionado a ser
,
terapia, talvez em toda sessão. O terapeuta pode sempre se interrogar - "O que
"
esta resposta consegue~évitar? E difícil detectar a esquiva porque a situação
aversiva pode ser extremamente idiossincrática dificultando que o terapeuta ,
lição de casa. A não ser que o terapeuta tenha formulado hipóteses a respeito
dos CRB1 s referentes à tarefaa crise seria uma esquiva bem sucedida. O conceito
,
Vou lhe perguntar novamente sobre o relaxamento porque você não respondeu.
Faço isto porque acho que sua ausência de resposta é como quando sua esposa
lhe pergunta sobre seu dia e vocês terminam com sentimentos de irritação. Esta
talvez seja uma oportunidade para fazermos algo a respeito do problema."
Abordagens indiretas
ser arbitrário o terapeuta seguir uma regra sobre o que fazer na hora de reforçar
,
visto que a regra não faz parte do processo quando o reforçamento ocorre no
ambiente natural. Por exemplo um bom pai geralmente age em função do que é
,
benéfico para a criança sem que tenha que seguir uma regra, ou estar consciente
,
a respeito do que fazer. As abordagens indiretas por outro lado, buscam auxiliar
,
descansados ao início de suas sessões. Isto pode ser entendido como uma forma
indireta de tornar mais provável que o terapeuta reforce naturalmente os
progressos do cliente. Ou seja, os cuidados do terapeuta com seu bem estar
físico podem torná-lo mais atento paciente, compreensivo e, portanto,
,
naturalmente reforçador.
l .
Ampliar a percepção do que reforçar. É importante lembrar que as
mudanças podem assumir diferentes formas e ocorrem em ritmos distintos.
Melhorar nossa percepção do que reforçar é o comportamento enunciado pela
t
v
i
gosta do cliente por razões que provavelmente não se modificarão em breve (por
exemplo, o cliente desperta no terapeuta as lembranças de um pai adotivo cruel
ou um cônjuge que fugiu com o/a amante na semana anterior).
são em função de uma história, o que inclui sua experiência clínica e formação
teórica. Entretanto, independente de quem o faça, um motivo é apenas uma
unidade de comportamento verbal, uma sequência de palavras. De todo modo,
cada terapia parece incluir ensinar ao cliente a atribuição de motivos que, aos
olhos do terapeuta, sejam aceitáveis. Especificamente, o terapeuta cognitivista
ensina os clientes a explicarem seus problemas e progressos à luz de suas crenças
ou supostos, enquanto que o terapeuta da FAP espera que os motivos se reportem
à história de reforçamento e variáveis de controle atuais. O cliente da psicanálise,
por outro lado, deve atribuir razões em termos de conflitos infantis e memórias
reprimidas. A disseminação da atribuição causal em psicoterapia é ilustrada
pela descrição que Woolfolk e Messer (1988) fazem da psicanálise: um processo
no qual o cliente relata o que ocorreu e fornece explicações que serão ,
A interpretação "Você está agindo com sua esposa do mesmo modo como o fez
"
com relação à sua mãe pode facilmente ser compreendida como uma prescrição
,
"
ou regra que o cliente entende como Não seja injusto com sua esposa; procure
tratá-la de outro modo já que obviamente, ela não é sua mãe. E se você a tratar
,
fato ter alguma valia, dependerá do quão precisa é sua correspondência com o
ambiente natural. Por exemplo imaginemos duas razões que podem ser dadas
,
por uma menina que pegou um biscoito quando não deveria fazê-lo. Uma razão
"
poderia ser O demónio me obrigou a fazer." Esta razão não corresponde às
condições ambientais que controlaram seu comportamento. Por outro lado ,
afirmar Peguei o biscoito porque não comia nenhum há mais de uma semana."
"
mais requentemente).
f
1979). Uma analogia com a pesquisa animal pode ilustrar esse princípio Ratos .
mesmo número de choques não contingentes foram ministrados mas cada choque
,
foi antecedido por uma luz de aviso Quando lhes era dada a possibilidade de
.
Por exemplo uma cliente aprende durante a FAP que a razão pela qual
,
terapeuta. Disso resulta que a cliente estabelece um melhor contato (ela observa
quão perturbado está o terapeuta) e experiencia a desatenção do terapeuta como
sendo menos aversiva.
Por exemplo, "Quando lhe perguntei como você se sentiu a meu respeito
(o Sd), você me respondeu falando sobre sua experiência na prisão (a R), que é
um tópico no qual você sabe que eu tenho interesse. Eu recompensei sua esquiva
discutindo sobre a prisão e não sobre seus sentimentos a meu respeito (o Sr)."
Em geral, é preferível utilizar a linguagem cotidiana, mas pode-se discutir a
conveniência de ensinar ao cliente a linguagem comportamental. Contudo,
afirmações parciais de relações funcionais são melhores do que omiti-las (por
44 Capítulo 2
"
exemplo, Sempre que lhe pergunto sobre seus sentimentos em relação a mim
[jSf], você muda de assunto [RJ,).
t
T: É tudo verdade, mas você deixou de lado o fato de que nosso relacionamento é
especial e único e que eu realmente me importo com você. (Eu sabia que este é um
estímulo discriminativo [5c/] para o tipo de comportamento de intimidade ausente
em Andi [CRB2] e que evoca a esquiva bem como as dificuldades na manutenção
de relacionamentos de intimidade [CRB1]).
C: Muitas pessoas se importam comigo, mas aquelas características a diferenciam.
(Andi respondeu de uma maneira que me desconsiderou; eu provavelmente estava
Aplicação Clínica da FAP 45
C: Eu sinto que eu não tenho direito de existir. É como se eu não devesse viver,
comigo tudo dá problema. Eu acho que fui covarde como um rato. Quando aprendi
a dirigir eu congelava na minha vez de atravessar um cruzamento. Eu achava que
eu nunca tinha o direito de me meter entre os carros. Isto ainda me é um pouco
traumático, embora eu já tenha melhorado um pouco. De qualquer modo, tudo
isso já me indica que alguma coisa está errada. Mas e agora? [pausa longa] (A
maior parte destas descrições, especialmente a da encruzilhada, poderia indicar
46 Capítulo 2
f
T: ...pessoal?
C: (acenando com a cabeça) Hu-hum. Eu meio que escolho icar na superfície.
f
T: Veio alguma coisa agora na tua cabeça quando eu falei que podia te contar os
meus pensamentos? Alguma idéia despertou na tua mente?
C: Foi uma coisa meio idiota. Eu penso como se fosse um desses pontos meio que
perigosos, sabe como é? Eu simplesmente recuo. Eu acho que não é uma boa idéia.
Quer dizer, às vezes é uma boa idéia, eu acho, mas nem sempre. Talvez algumas
vezes. Acho que eu não quero responder à tua pergunta. (Uma descrição de um Sd
aversivo e um CRB de esquiva da intimidade da confiança, do escutar o desejo
,
dos outros.)
T: Hu-hum. Ok então eu quero te contar os meus pensamentos. Quando você disse
,
que não tinha direito de existir, eu me lembrei do quanto sua mãe icou chateada
f
quando você caiu no riacho porque isto a incomodava. Este foi mais um exemplo
de como ela te ensinou a não ter o direito de existir de causar qualquer transtorno
,
encruzilhada. Você não quer que os outros tenham que esperar Se eles quiserem
.
Aplicação Clínica da FAP 47
seguir, não deveriam ser impedidos de fazê-lo. (Estou fazendo um paralelo entre a
vida diária e a relação cliente-terapeuta apontando a contingência de evitar causar
problemas.)
T: Então este é um tipo de idéia sobre como eu acho que você funciona. E uma outra
,
coisa que eu pensei é o quanto parece que eu sou importante para você você me
,
tem em alta conta. De fato acho você maravilhosa e mesmo quando eu me permito
,
contar isto minhas palavras não parecem ter algum impacto sobre você. Eu acho
,
que você não querer conhecer meus pensamentos tem algo a ver com isto. De
alguma maneira você não entra em contato com isto. É teu jeito de ser. Bom , isto
é o que eu penso. (Deste modo teve início uma ampliação do comportamento
privado e se introduziu na sessão uma situação de vida diária na qual recebe
feedback positivo e o carinho dos outros sem ser muito influenciada por isto. É
também uma tentativa de redefinir o problema em termos comportamentais um ,
não sei como fazer isto. (Seria apropriado fornecer aqui uma interpretação
" "
comportamental de sua experiência de não saber como fazer isto que corresponde
,
f
parceira, sem discutir suas preocupações com ela. Ele se tornava
progressivamente mais deprimido, a-parceira reciprocamente retribuía com
depressão ou raiva e, por im, ocorria o rompimento. No início do tratamento,
f
f
como os anteriores.
raivoso dizendo que os médicos nunca sabiam o que estavam fazendo e que
causavam mais malefícios do que benefícios.
Hipotetizando que os comentários de Gary sobre os médicos foram
estimulados por sua reação a mim, (ver Capítulo 3 Causas Múltiplas), teci a
,
T: Parece que está acontecendo agora - o seu problema, quero dizer. Nossa relação
,
começou de maneira legal muito descontraída e aberta. Você não tinha dificuldade
,
foram se tornando ruins. Você não conseguia expressar em voz alta para Joyce
os seus sentimentos negativos, apesar de termos tentado várias abordagens
terapêuticas. O seu relacionamento terminou. Você foi ficando deprimido e menos
aberto em nossas sessões. Isto foi piorando gradualmente até o ponto atual -
você tem muito pouco a dizer e eu estou achando as sessões frustrantes , porque
eu não sei o que fazer para ajudar.
r
C: O que você quer dizer com agir diferente? Eu não sei como fazer isto.
T: Baseado no seu padrão passado, devem existir sentimentos negativos e/ou hostis
em relação a mim.
C: Tudo o que eu sei é que estou deprimido e quero ajuda porque me sinto mal.
(Esquiva do CRB1.)
T: Você não respondeu à minha pergunta. Eu disse que eu achava que você tinha
50 Capítulo 2
Quando você começou a terapia, eu disse que tentaria lhe ajudar. Agora você me
pede ajuda e eu tento conduzi-lo a um tema que você não acha que esteja relacionado
e tenta mudar de assunto. (Regra 2, apresentando a situação evocadora - estou
novamente tentando ajudar agora, o que já não funcionou anteriormente; levanta-
se a hipótese de que o insucesso de minhas intervenções anteriores em ajudar
evocou em Gary sentimentos negativos e a esquiva subsequente. Aqui são também
demonstradas a Regra 3, bloqueio da esquiva, e a Regra 5, uma interpretação
comportamental.)
C: Eu fiz tudo que você me pediu para fazer e, mesmo assim, Joyce me abandonou.
(CRB2)
relata estar vivendo a mais satisfatória relação íntima que jamais experienciou.
3
Suplementação
Aumentando a capacidade do terapeuta para
identificar comportamentos clinicamente relevantes
estão pagas. Eu não estou certa sobre o que acontece depois disso ,
mas eles têm
sido muito bons.
T: A razão pela qual eu estou abordando esse assunto é que estou tentando descobrir
o que incomoda você no fato de me dever algum dinheiro .
T; Eu sei , mas vamos nos ater ao nosso assunto específico. O que incomodaria você?
C: Eu tenho pensado muito nisso e uma nota de dólar me vem à mente toda vez que
,
" "
ocultos me levou a descobrir que Karen se preocupava com o fato de me
dever dinheiro da mesma maneira que a preocupava dever para qualquer outra
pessoa. Sua preocupação e ansiedade em relação a várias contas não pagas fora
o foco da terapia de reestruturação cognitiva em sessões anteriores e ela se
esquivou de trabalhar mais este assunto, dando a entender que esse já era um
problema superado. Conforme está indicado na transcrição, ainda representava
um problema. Sua falta de consciência e modo indireto de lidar com esse problema
durante a sessão, no entanto, se assemelhavam ao modo inadequado de conduzir
sua vida cotidiana. A identificação deste CRB1 alertou-me para uma abertura
terapêutica. Ali estava uma oportunidade in vivo de bloquear a esquiva de Karen
e encorajar maneiras mais adequadas para o encaminhamento do problema.
Durante os seis meses seguintes, Karen desenvolveu repertórios melhores para
lidar com o problema das contas por meio do aprendizado de como lidar com a
sua dívida comigo. Isto também propiciou o trabalho terapêutico sobre um problema
mais abrangente, relacionado às suas respostas a outras pessoas quando sentia
que estava sendo negativamente avaliada.
Alguns de nossos leitores podem estar se perguntando se a nossa
especulação sobre os significados ocultos se encaixa na esfera do behaviorismo, e
mais ainda, podem desconfiar de sua similaridade com a Psicanálise. Mais tarde,
quando explicarmos nosso sistema de classificação de comportamento verbal,
mostraremos como a teoria behaviorista radical leva a este tipo de atividade
interpretativa. Mas, por enquanto, a inclusão dos significados ocultos na teoria
behaviorista radical será ilustrada pela história do desafio amigável feito ao
behaviorismo por Alfred North Whitehead. Em um jantar com Skinner em 1934,
I
54 Capítulo 3
Whitehead disse a ele, "Vamos ver sua resposta ao meu comportamento, quando,
,
sentado aqui, eu digo nenhum escorpião preto está caindo nessa mesa " Na manhã
i
f
mas raramente lido, é uma rica fonte de conceitos que podem ajudar a detectar
CRBs na situação terapêutica. É um livro de leitura difícil e os conceitos não
são de fácil compreensão. Por havermos usado alguns dos conceitos de Skinner ,
ela pode estar além do interesse de muitos de nossos leitores Então, aqueles que .
terapêutica.
para comigo Estava imaginando se você acha que estamos fazendo progressos
"
suficientes. ; "Estive pensando no que ocorreu durante nossa última sessão.
"
"
enquadram aqui: A ansiedade que estou sentindo agora é parecida com a que
" "
eu sinto conversando com a diretoria. ; "Você me lembra muito meu pai. ;
"
Você é como todos os outros - não se pode confiar em você."; "Esse é o único i
que você sentiu no trabalho? ; Você pode comparar seus sentimentos em relação
"
a mim com outra pessoa muito próxima a você? ; "O jeito que você reagiu
quando eu disse que me importava com você parece com o jeito com que você
diz agir quando outra pessoa mostra afeição por você."
3 .
Encorajar desejos sugestões e pedidos diretos. Exemplos deste tipo
,
de resposta são: "Por favor, me ajude a superar essa ansiedade."; "Eu preciso
de mais atenção."; "Eu não quero me lembrar de minha infância."; "Você poderia
"
reduzir o valor da sessão? .
fazer tudo conforme o seu desejo." imitar este tipo de comportamento para os
clientes é bem saudável Exemplo: "Eu gostaria que você chegasse no horário." ,
"
e Eu gostaria de conversar sobre seus débitos para comigo" .
4 .
Use as descrições dos eventos da vida cotidiana do cliente como
metáforas para eventos que tenham ocorrido em sessão De acordo com os .
terapeuta pode fazer suposições sobre quais reforçadores ocultos podem estar
*
'
(
Suplementação 57
G tato. Um tato é definido como uma resposta verbal que está sob
l .
/
Capítulo 3
CO
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3)
b
Suplementação 59
"
perguntam, O que é isso?" e você diz ,
"Uma bola vermelha "
, você estaria
"
" "
huh", "certo" ou obrigado
, , ou qualquer outra resposta que indique que você
foi compreendido. Note que a contingência ou reforçador é amplo e geral , ao
passo que o estímulo discriminativo inicial (Sd) é específico.
O tato éassim, produzido pela presença de um estímulo particular (no
,
"
usamos tato" ao invés de "rótulo" para reforçar essa diferença. Do ponto de
vista comportamental, as palavras "bola vermelha" não representam
simbolicamente nem significam o objeto assim como a pressão à barra por
,
ratos não representa ou significa uma luz sinalizadora amarela numa caixa de
Skinner. O problema com uma palavra que "representa" ou "simboliza" um
objeto é que em seguida dever-se-ia explicar qual o significado destes dois termos
para que houvesse a compreensão da resposta verbal. Por outro lado, ao dizermos
" "
que o tato é controlado por um estímulo discriminativo inicial, podemos explicar
um comportamento simplesmente nos referindo ao processo de discriminação
delineado. Este processo abrange o significado comum de "simbólico" ou "quer
dizer" alguma coisa. Isso não significa, no entanto, que nós aceitamos as palavras
de nossos clientes como verdade absoluta. Nossa posição exemplificada no ,
"
2 .
Quando saí daqui semana passada, eu me senti leve. Eu me senti
realmente bem e não sei o porquê."
%
3 "Eu
. até mesmo tinha que marcar a entrevista de modo que não
interferisse com o horário da minha medicação. E isso me fez sentir
estúpida. Eu imaginei o que aconteceria se eles soubessem, se eles
soubessem que eu não poderia estar lá ao meio-dia porque teria que
interromper o encontro para tomar minha pílula."
"
4 .
Se eles descobrissem que estou tomando tranquilizantes, eles não
iriam querer me contratar."
aliás, a resposta mais relevante do ponto de vista clínico (assumindo que todas
estão igualmente relacionadas ao seu atuai problema).
Lembre-se que um tato ocorre simplesmente devido à presença de um
estímulo. Essa característica do tato é particularmente importante para a compreensão
da discussão sobre causas múltiplas e dos assim chamados significados ocultos Nós .
não dizemos que o cliente "usa" o tato para descrever o estímulo assim como não
,
Suplementação 02
v
dizemos que alguém "usa" o andar para se deslocar daqui até lá Evitamos ver o
.
" "
cliente como usuário de uma resposta veibal porque então nos depararíamos com
" "
uma compreensão do que está sendo usado
Esse "o quê" que está sendo usado é
.
poderíamos dizer que a ameaça poderia ser motivada pela atenção que ela recebe
(um mando, como veremos abaixo) ou ela poderia ser controlada por comportamentos
prê-suicidas (um tato) ou uma combinação dos dois. Além disso, o cliente pode ou não
estar ciente dos fatores controladores e/ou motivadores.
"
Eu gostaria de um pouco de água" porque você está com sede" isto seria um ,
Obrigado por compartilhar isso comigo", ou ainda "Eu entendo o que você
"
quer dizer. Sua força também poderia variar de acordo com a necessidade que
você tem de água. Seu mando por água pode ocorrer em quase todas as situações
em que você esteja com sede e haja outra pessoa para escutar.
Do mesmo modo, se um cliente lhe diz "Eu gostaria de uma sessão
isso seria reforçado (e por isso possível de ocorrer novamente)
"
extra essa semana ,
pelo fato de conseguir uma nova sessão (um reforçador específico). O mando
"
respostas que não podem ser classificadas como tato ou mando. Por exemplo,
quando perguntam Como você está?", a resposta "Bem" geralmente é um
"
intraverbal, uma vez que ela realmente nao tem nada a ver com os sentimentos
do falante, sendo simplesmente uma resposta apropriada ao conjunto de palavras
Como está você" (se a resposta "Bem" estiver realmente demonstrando os
"
respostas do cliente a questões como Onde nasceram seus pais?" e "Onde seu
"
parceiro trabalha? são intraverbais.
« .
3. Mandos disfarçados. Você não pode ter certeza se uma resposta dada
é tato otfmando com base apenas em sua forma (ou som). A palavra fogo, por
exemplo, poderia ser um mando para um bombeiro ou um tato enquanto um
incêndio. Visto que a classificação de um comportamento verbal com base em
sua forma ou som é denominada análise formal, o método Skinneriano de
classificação com base em suas causas é denominado Análise Funcional. Usando
a abordagem funcional skinneriana, quanto mais soubermos acerca do contexto
e da história que levam à resposta, mais certeza teremos sobre suas causas e sua
classificação enquanto tato, mando ou intraverbal. Assim, se você vir o incêndio
e o falante apontando para ele, você terá o contexto necessário para classificar
seguramente aquela resposta como um tato.
O exemplo do fogo ilustra bem o fato de que a mesma palavra pode ter
diferentes causas. O significado de uma palavra (ou sentença, gesto, discurso,
etc.) corresponde à sua função, ou seja, um delineamento de suas causas. Quando
dizemos que a "mesma" palavra pode ter "diferentes" significados, "mesma" se
"
nada a ver com nossa .classificação Assim, o cliente pode ou não estar
.
consciente do motivo que o leva à ameaça de suicídio mas isso não impede a ,
nós podemos dizer que esse cliente realmente sente aquilo que diz. A resposta é
representada no quadro 3 e é abreviada como Ma. O reforçador deste mando ,
tatos são os mandos disfarçados (quadro 2). O reforçador que é contingente aos
mandos disfarçados é considerado um reforçador especial, SrE (quadro 9), de
maneira a significar que um reforçador específico apropriado a um mando está
envolvido, e não simplesmente o reforçamento secundário generalizado que é
contingente aos tatos.
Desta forma, é possível termos afirmações formalmente similares e
funcionalmente diferentes (o exemplo do suicídio), assim como formalmente
diferentes e similares funcionalmente (o exemplo do amor e carinho).
Uma circunstância possível seria a de que o cliente tem um histórico de nunca ter ganho qualquer coisa de
terceiros sem que haja pedido direta e forçosamente. Assim, apesar da possível ausência de amor e carinho, o
mando ocorre agora devido à força de mandos em geral.
64 Capítulo 3
"
ao namorado que irá encontrá-lo para jantar às sexo horas A resposta "sexo"
.
"
e de outros adicionais evocando "sexo", apesar de aqueles para sexo
seis
"
f
variável sutil deve ser considerada. Por exemplo se tendo como base a forma,
,
o cliente está falando sobre uma relação de amizade, quais elementos da relação
terapêutica estão presentes também na relação exterior e que podem ser
responsáveis por ele mencionar o assunto neste momento? Se o cliente descreve
seus sentimentos em relação a outra pessoa, pode-se aventar a hipótese de que
há similaridade com o que ele sente por você. Se o cliente descreve um evento
ocorrido na semana, o que poderia haver em comum entre a relação terapêutica
e o fato?
y
"
no aqui e agora A falta dessas observações poderia ser um CRB1 que interfere
"
.
eu pedi para falar sobre seus sentimentos em relação a mim. E assim também
com seu parceiro? ) A resposta da comparação do cliente pode ser um TaSdTVc
"
.
(quadro 8).
2 . TaSdTVc (quadro 8). Esse tipo de resposta se enquadra no aprimo-
ramento de CRB3, a descrição dos clientes sobre seu comportamento e suas
66 Capítulo 3
causas. CRB3 é uma forma especial de tato controlada por estímulos ocorridos
durante a sessão terapêutica. A modelagem de CRB3 começa com o
encorajamento pelo terapeuta, de qualquer tato controlado por estímulos
discriminativos na terapia (TaSdT), e tanto na terapia quanto na vida cotidiana
(TaSdTVc). Uma comparação entre o comportamento nas sessões versus na
vida cotidiana encaixa-se na categoria de CRB3 que pode ajudar a transferir os
ganhos da terapia para a vida cotidiana.
4
3 Respostas
. sutis geralmente constituem CRB1. Primeiramente, elas
mostram uma falta de consciência. Assim, quando uma resposta sutil ocorre,
fornece uma oportunidade terapêutica para aumentar a consciência por meio de
dicas e de reforçamento do CRB3 apropriado. Por exemplo, se um cliente está
sob controle da variável sutil de ser magoado pelo terapeuta e conta a ele sobre
uma experiência dolorosa no dentista, o cliente se beneficia por descrever a
variável sutil e como isso o afeta (CRB3). Ou seja, o terapeuta deve ajudar o
cliente a tomar consciência das variáveis que afetam o seu comportamento (Regra
5). Acreditamos que esse processo comportamental é muito semelhante ao que o
"
Você não está prestando atenção no que eu estou dizendo e isso me irrita
"
profundamente Imediatamente podemos identificar nesta frase um CRB2 e
.
Suplementação 67
deve ser visto como o único método para se reconhecer este CRB. Vamos agora
passar a alguns exemplos de classificação.
São dez para as cinco. É hora de ir. " De acordo com o diagrama
"
1 .
,
"
primeiramente nos perguntamos Isso é um tato óbvio (quadro 1), mando (quadro
3), ou intraverbal (quadro 4)?". Nossa resposta é "tato óbvio" desde que o
relógio seja aparentemente o estímulo controlador subjacente à forma específica
da resposta "dez para as cinco" que por sua vez serve como dica para o im da
,
f
sessão. Prosseguindo no diagrama, nós determinamos a localização do estímulo
discriminativo {Sã). Como o cliente se referiu ao relógio e este está localizado
na sessão terapêutica é um óbvio SdT (quadro 7).
,
"
nos perguntamos Isso é um tato óbvio, mando, ou intraverbal? E um tato (quadro
1), se assumirmos que o próprio fato da esposa se recusar a lavar roupas é a
variável de controle sobre a resposta. A localização deste evento é a vida cotidiana
do cliente {SdVc quadro 6). Ao avaliar as possibilidades de CRB, se o cliente
mostrara-se anteriormente receoso de ser crítico em relação à sua esposa, então
poderíamos ter um CRB2. O próximo passo, de acordo com o diagrama é o de
68 Capítulo 3
fazer uma interpretação sutil de um mando disfarçado (quadro 2). E possível que
" "
o cliente não esteja simplesmente relatando os fatos como está implícito no tato
óbvio, mas, ao contrário (ou em adição), tenha motivos ocultos (isto é, reforçadores
sutis ou especiais - quadro 9). Os possíveis reforçadores especiais são aqueles
"
em que o cliente deseja que o terapeuta diga algo como Que esposa irresponsável
" " "
você tem ; "Aqui está a maneira de fazer sua mulher lavar a roupa ; ou Isso é
"
"
relacionado às motivações ocultas seria querer que os outros o apoiem em seus
"
óbvia dessas preocupações é o valor fixado pelo terapeuta. Por exemplo, o cli-
"
ente poderia querer dizer Reduza o preço." Essa motivação oculta indicaria o
CRB1 de não ser direto ou não estar consciente. Se o cliente evita estabelecer
compromissos em geral então outro CRB1 poderia ser a esquiva em estabele-
,
"
4 .
Ninguém gosta de mim. " Com base em sua forma, a resposta é um
tato óbvio (quadro 1). A localização do Sd de controle parece ser um SdTVc
(quadro 8) pois o "ninguém" pode se referir também ao terapeuta. Se o problema
atual da cliente, em suas próprias palavras é que "ela não é digna de ser amada",
,
interpretação sutil o mando disfarçado (quadro 2) poderia ser Por favor, goste
,
cedo, querer sair mais cedo? ou não sair no horário. Chegar atrasado a um
compromisso pode estar relacionado a problemas atuais tais como a esquiva de
,
de trabalho gerados por não ser pontual. Ter dificuldades para sair ao final da
sessão pode estar relacionado a comportamentos como dependência ou apego
excessivos que tenham causado problemas em outros relacionamentos. Dar
atenção exagerada à pontualidade pode estar relacionado a problemas como
compulsão ou medo extremado de desapontar os outros associado a uma baixa
,
auto-estima.
" "
em completar tarefas e acha que estragou situações onde poderia ter sido bem
sucedido. Chegar tarde ou sair cedo podem ser exemplos de operantes
clinicamente relevantes para o cliente que apresenta problemas de ansiedade.
Em cada caso o comportamento operante observado durante a sessão é avaliado
,
"
não voltará ; "Você está tentando fugir de mim porque eu sou mau ; "Você
' ",
"
estará diferente e não se preocupará mais comigo quando voltar ; "Como pode
"
me abandonar justo agora quando eu preciso tanto de você? ; "Eu não posso
" "
viver sem você ; e Eu não consigo tomar conta de mim mesmo". A maioria
70 Capítulo 3
3 Encerramento.
.
O tipo mais difícil de encerramento é o de um
tratamento incompleto que termina devido a fatores na vida do terapeuta tais
como mudança de emprego, de lugar, ou o fim de um estágio. Isso pode fazer
aflorar os sentimentos descritos no item anterior de um modo ainda mais intenso.
Em encerramentos de consenso, é o momento do terapeuta ficar atento em relação
aos CRBs evocados pelo término. Encerramentos podem trazer preocupações
acerca da independência e da auto-confiança, e tristezas acerca de perdas
anteriores, separações e mortes. E uma chance para o cliente aprender a dizer
adeus de uma maneira adequada, através da expressão da gama de sentimentos
causados pelo im de uma relação especial, mas transitória. O modo como o
f
indicação de como ele reage aos começos ou términos em outras áreas de sua
--1
vida pessoal.
pode representar a forma como ele lida com o dinheiro em geral. O cliente paga
em dia? O cliente gerencia suas contas adequadamente? O assunto do preço
pode ser inserido no tratamento de várias maneiras: (a) Pode levar a
comportamentos de afastamento e término que estão associados a declarações
do tipo "Eu não mereço gastar este dinheiro comigo, outros membros da família
são mais importantes e merecem muito mais do que eu. (b) Pode ser usado para
"
"
evitar sentimentos de intimidade em relação ao terapeuta - Você está sendo
legal comigo porque eu lhe pago e esse é o seu serviço." (c) Pode ser usado para
explorar o comportamento e/ou sentimento evocado por produzir (ou não) uma
certa quantia de dinheiro; sentimentos de sucesso, inferioridade, incompetência,
insegurança, vergonha; competitividade com ou inveja do terapeuta, (d) Ao invés
de expressar diretamente para o terapeuta seus sentimentos negativos em relação
às contas, a esquiva pode envolver o atraso do cliente no pagamento da terapia.
(e) O cliente pode tentar uma redução dos custos da terapia através da menção
do salário que recebe, (f) Se o cliente está em crise inanceira ele pode aceitar a
,
f
ao dar e receber numa relação e a não querer dever nada a ninguém, mesmo a
,
"
5Erros " ou comportamentos não intencionais do terapeuta O ditado
.
.
"
Tudo o que cai na rede da terapia é peixe" se aplica aqui Mesmo o melhor .
terapeuta pode chegar atrasado à sessão passar do horário com o cliente anterior,
,
pensar em outra coisa enquanto o cliente está contando algo importante, esquecer
de fazer uma ligação que havia prometido ao cliente ou agir de qualquer outra
maneira que faça com que o cliente se sinta pouco importante ou incompreendido .
Como o seu cliente reagiria a um terapeuta que não fosse perfeito? Os erros do
terapeuta são ocasiões que podem evocar os seguintes CRBs: esquivar-se de
expressar diretamente a raiva e frustração problemas associados a sentimentos
,
si. E comum essa conversa chegar a um beco sem saída e parar - ambos parecem
não ter nada mais a dizer. Essa situação pode evocar CRBs no cliente além de ,
,
f
, , ,
72 Capítulo 3
"
"
estar fora de controle ou "ser motivo de chacota". Incluem-se nos
comportamentos de esquiva que estão associados à demonstração de afeto: mudar
o assunto; conversas intermináveis e detalhadas sobre tópicos tangenciais; não
falar; focalizar um objeto no escritório; contagem regressiva de 1000 até 1. Em
alguns raros exemplos, o CRB é o uso deliberado que o cliente faz da raiva ou
das lágrimas, para controlar o comportamento dos outros.
estes repertórios comportamentais podem ter sido punidos no passado por meio
de perdas, rejeições ou abandono. Além disso as limitações da relação terapêutica
,
tornar-se critico, sentir raiva, sentir-se entorpecido por dentro e sem sentimento
nenhum, dizer que não precisa mais comparecer às sessões ou fazer comentários
que desmereçam o valor da relação apenas porque esta é uma relação profissional.
Um primeiro passo para resolver este problema está em o cliente aprender a
falar sobre a relação funcionai (CRB3s), como no exemplo "Neste instante eu
estou me sentindo próximo a você, estou querendo ficar com você, mas sei que
isso não é possível. Isso me entristece, então quero afastar você de mim".
acima do peso. Todo terapeuta deveria tentar pensar sobre suas próprias
características e procurar pelos possíveis efeitos evocativos de CRB.
ou raiva no terapeuta podem indicar que as maneiras pelas quais o cliente está
se comportando têm grande probabilidade de fazer emergir esses mesmos
sentimentos em outras pessoas. Por exemplo uma cliente reclama que tem
,
dificuldade em fazer amizades e não entende o porquê. Você nota que facilmente
se entedia com ela e sua atenção se dispersa, porque ela fala monotonamente
sobre trivialidades por um longo período sem se preocupar se você está ou não
,
no aqui e agora e também suas comparações dos eventos na terapia com a vida
,
cotidiana, são descrições que podem ajudar na generalização dos ganhos obtidos
na terapia.
4
O Papel de Emoções e
Lembranças na Mudança do
Comportamento
EMOÇOES
frequentemente tão importante quanto aquilo que elas fazem" (Skinner, 1989,
p 3).
.
75
76 Capítulo 4
Neste capítulo, o termo sentir é usado tanto como verbo quanto como
substantivo. Quando usado como um verbo, sentir é uma atividade, um tipo de
açao sensorial, tal qual ver ou ouvir. Quando sua função é a de substantivo,
*
sentir é usado como sinónimo dos termos emoção e afeto. Da mesma forma que
existem objetos que são vistos, o sentir substantivo é o objeto que é sentido,
" "
como em eu sinto um sentimento Qual é o objeto sentido, entretanto, quando
.
nos sentimos deprimidos? Outros objetos, como uma casquinha de sorvete, podem
ser vistos, sentidos e provados; ou seja, o objeto (a casquinha de sorvete) pode
ser conhecido de várias maneiras. Se não estivermos seguros do que estamos
vendo, podemos prová-lo ou mesmo perguntar a alguém o que ele é. Este não é
o caso quando o objeto é depressão ou ansiedade - nós podemos apenas senti-
las.
I
tanto quanto das glândulas, dutos e sistema vascular. Esses dois sistemas nervosos
são estimulados pelas partes do corpo envolvidas no medo raiva, depressão, ,
terceiro sistema nervoso sensorial está envolvido com o ver ouvir, sentir cheiro, ,
resposta presume que o estado do corpo seja "um produto colateral de causas
"
ambientais (Skinner, 1974, p. 242). Dessa forma, para cada comportamento
há um estado corpóreo correspondente. Quando estamos envolvidos no
comportamento que classificamos como falar por exemplo, o sistema músculo-
,
Nota do tradutor No caso de "feeling" enquanto substantivo a língua portuguesa admite a tradução
.
,
" "
pelos termos sentir e "sentimento", que também serão utilizados dependendo da situação.
,
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento 77
acordo com as palavras que estão sendo ditas. Quando nós dizemos a palavra
" "
alô os vários músculos necessários para esta tarefa estão numa posição
,
que são correlatos àquelas respostas. Para ins ilustrativos, estes estados
f
corpóreos podem incluir mudanças na taxa cardíaca, dilatação da pupila ,
situação na qual um homem foi criticado no emprego. Este homem reagiu com
um padrão de resposta emocional que é chamado de raiva. Este padrão incluiu
as seguintes respostas: (1) comportamentos respondentes - o homem icou
f
vermelho, suas mãos transpiraram, ele parou de digerir seu almoço, seu rosto
assumiu a expressão característica de raiva (enrugou a testa, inflou as narinas ,
destas duas formas diferentes de sentimentos tem a ver com as razões para o seu
afagar o gato e sorrir. Em particular, ele poderia estar consciente de que o
afagar e o sorrir são resultantes de contingências sociais para fazê-lo 1fficar
"
calmo e civilizado Ele não vê os sentimentos associados ao comportamento
.
públicas que estão sob controle é o que o cliente relata ser o sentimento verdadeiro
e as respostas privadas não são observadas (por exemplo, o homem relataria
sentir-se afetuoso em relação ao gato e não perceberia seus sentimentos de raiva).
Neste caso, o cliente é descrito como não estando em contato com seus
sentimentos, e a tarefa do terapeuta é mudar o controle para esses estados
corporais que são mais privados.
o que é uma árvore. Isto precisa ser ensinado por nossos pais. Visto que o objeto
a ser sentido é privado o pai que tentar ensinar uma criança a identificar (tatear)
,
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento 79
sao estados corpóreos privados. Para cumprir este objetivo os pais devem olhar
,
para estímulos públicos, supor o que está ocorrendo dentro da criança com base
nesses estímulos públicos pronunciar seus nomes e reforçar a resposta
,
apropriada. Por exemplo, os pais podem olhar para um estímulo público tal ,
como a hora do dia e o choro da criança e supor que o estímulo privado de fome
,
esteja presente. O pai então encorajará a criança a dizer "bebé fome". Finalmente ,
se os pais forem sensíveis, o estímulo privado de fome poderá ser tateado como
" "
eu estou com fome .
presente e dizer o bebé está feliz está mais próximo do acerto. Conforme esta
criança se desenvolve, o significado da palavra feliz vai depender do quão
frequentemente os estados corpóreos privados de alegria estiverem presentes
"
quando ela for instigada a dizer feliz". Certos momentos nos quais esta criança
"
que alguém perceba e diga, oh, você parece estar doente Em essência, o
"
.
implicação interessante desta visão é que se fosse possível para alguém sentir
,
dependendo das fontes de controle. Assim se a sua fome fosse controlada por
,
outrem controlada por estímulos esternos você descobriria que essas duas
,
estado que acompanha o corpo pode ser sentido Embora tanto o correr quanto
.
correr seja causado pelo sentimento. Ao invés disso nós podemos dizer que,
causal aos sentimentos quando como no caso do correr para alcançar o ônibus,
,
diariamente pode ter esquecido ou nunca ter estado consciente das condições
externas (por exemplo sua melhor amiga que corre também, seu corpo ficando
,
mais irme cumprimentos das outras pessoas dizendo que ela está com melhor
f
aspecto) que a levam à prática de correr todos os dias Sob estas condições, .
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento 81
tendemos a atribuir a causa aos estados corporais colaterais que são sentidos .
Assim, a praticante da corrida pode dizer que corre porque aprecia fazer isso .
De modo semelhante, uma pessoa que está comendo pode dizer que está fazendo
isto porque está com fome. Isto geralmente significa que os antecedentes de
ambos, tanto dos sentimentos colaterais da fome quanto do comer não são ,
raiva sem sermos agressivos, e com medo sem fugirmos. Nesses casos tendemos
,
que Jan se sentisse pior a seu respeito e mais impotente. Eu perguntei o que a
"
manteve durante seis anos em terapia comigo, e ela respondeu, Coisas diferentes
em ocasiões diferentes - meus amigos todos fazendo terapia, hábito, desespero,
esperança, um sentimento de movimento, meu apego a você, ser valorizada por
você Eu sugeri a ela que ninguém poderia realizar tarefas difíceis num vácuo,
"
.
sem suporte externo, e que ela havia tido o meu apoio e o de seus amigos, que a
ajudaram através de tempos difíceis na terapia. Por outro lado, seus pais não a
apoiaram em sua escolha profissional, e ela não icou na escola por tempo
f
como colaterais, Jan ficou mais esperançosa de poder mudar seu comportamento.
Mesmo que sentimentos não causem comportamento, conforme foi indicado
anteriormente, a expressão dos sentimentos tem um papel importante na FAP.
Hayes (1987) baseou um sistema terapêutico em problemas causados
por clientes que vêem seus sentimentos como causas. De acordo com Hayes, a
visão incorreta da natureza causal dos sentimentos conduz os clientes a
82 Capítulo 4
Expressando sentimentos
também pelas contingências. Exemplos são o choro que tenha sido parcialmente
,
"
modelado pela atenção que recebe o nó na garganta pelo pesar, a exclamação
"
" "
ai que é eliciada por um estímulo doloroso, mas que também mostra os efeitos
das contingências (por ex., tal expressão recebe a forma "ai-yoh" em chinês).
Expressar sentimentos pode ser muito útil em algumas situações ,
modelado pela criança. Esse processo ocorre em parte porque os pais são sensíveis
às nuanças das reações da criança Entretanto, não importa o quão sensível o pai ou
.
sua vez, envolve ser apto a predizer o que a outra pessoa fará (incluindo predizer
o que poderia ser reforçador para aquela pessoa). Relações íntimas parecem
exigir bastante conhecimento do que esperar da outra pessoa e por conseguinte,
,
mas a rosca não é exatamente a mesma. Eles quase apertam e você fica tentando,
mas eles não se ajustam (2) Medo - "É como se eu estivesse andando numa
"
.
viela escura e ouvisse passos atrás de mim, e eu andasse mais rápido e ouvisse
os passos mais rápidos também (3) Terror - "É como se eu estivesse sozinho
"
.
Evitando sentimentos
afetos. O lado ruim de limitar a expressão dos sentimentos é que isto causa
problemas nas relações, particularmente nas íntimas.
Quando a expressão dos sentimentos é punida, as condições que evocam
respostas emocionais também se tornam aversivas e são evitadas Por exemplo
.
,
se uma criança é punida por sentir-se e agir afetivamente então as situações que
,
evocam afeição podem também se tornar aversivas Sentir afeição (os estados
.
comportamento do rato no exemplo prévio de maneira que ele coce sua cabeça
sempre que a lâmpada acenda, em lugar de pressionar a barra. O procedimento
de retreino deveria envolver o reforçamento do coçar somente quando a lâmpada
estivesse acesa. Desnecessário dizer que seria impossível fazer o coçar ficar sob
controle da luz e eliminar a pressão à barra de uma só vez sem que o rato
estivesse em contato com a luz. Não haveria oportunidades de treino. A situação
é comparável à dificuldade que um cliente teria em aprender um novo
comportamento durante a sessão quando os estímulos de controle relevantes
não estivessem presentes. Por exemplo um cliente cujos comportamentos-
,
de sua terapia, mas uma coisa me intrigava. Quando eu perguntei a ele sobre seus
sentimentos a meu respeito, ele disse que não tinha nenhum. Ele disse que era grato
a mim pela minha ajuda, mas que isto estava restrito a uma relação profissional e
Capítulo 4
não era apropriado que ele tivesse por mim sentimentos iguais aos que ele tinha por
outras pessoas de sua vida. Eu estava aberta para a idéia de que não havia
similaridades funcionais entre nossa relação e suas relações fora da terapia, uma
vez que estas pareciam ter melhorado muito, sem que nós tivéssemos enfocado
muito a nossa relação. Mas eu lhe disse que queria que ele explorasse a possibilidade
de que sua esquiva em ter quaisquer sentimentos a meu respeito pudesse significar
que ele estava evitando outras coisas das quais nós não estávamos conscientes.
Começamos a focalizar muito mais a nossa relação, e Jonathan concordou em
prestar maior atenção a qualquer sentimento que tivesse em relação a mim. Ele
começou relatando ter percebido que despertava com sentimentos calorosos a meu
respeito e imediatamente ele os cortava. Eu bloqueei a esquiva de Jonathan mudando
o foco da terapia para os sentimentos e reações dele que eram dirigidos a mim. Isto
"
o conduziu a ter pensamentos, tais como Eu não mereço ter bons sentimentos, eu
vou querer coisas de você e vou ficar desapontado, nossa relação icará cada vez
f
"
mais fora do controle, eu me sentirei muito vulnerável Nos poucos meses seguintes,
.
expressava meu cuidado para com ele, e em como ele cortava seus sentimentos a
meu respeito. Ele gradualmente passou a ter sentimentos mais intensos dirigidos a
"
mim, e um dia ele veio e disse, Na noite passada eu senti essa ligação em meu
corpo e me senti muito bem. Eu não sentia isso há muito, muito tempo [começou a
icar choroso] ... desde que eu era garoto... um sentimento de pureza interna,
f
tirando um peso das minhas costas. Eu era realmente um bom garoto [chora] ,
simpático, honesto, precavido... Eu penso que tenho essa coisa geral que há alguns
,
sentimentos que não são legais que eu tenha como sentimentos carinhosos pela
,
minha mãe, sentimentos sexuais pelo meu terapeuta e sentimentos alegres como
,
explorar uma área limitada de esquiva com Jonathan abriu mais esferas de
experiência para ele do que qualquer um de nós poderia ter imaginado.
A visão da FAP das emoções pode ser contrastada com concepções
mentalistas predominantes. Vários sistemas psicoterapêuticos e o publico em geral
vêem as emoções como algo que se pode guardar reprimir e descarregar. Por mais
,
atraentes que pareçam ser essas noções elas nos deixam com questões incómodas
,
tais como onde elas são armazenadas, para onde vão quando são descarregadas, e
,
o que é deixado em seu lugar quando são descarregadas Tratar as emoções como
.
entidades leva-nos a focalizar estes tipos de questões e nos desvia para longe do
seu contexto como parte da experiência e do comportamento de uma pessoa .
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento 89
LEMBRANÇAS
sentir cheiros, tocar, e de sentir o gosto de estímulos que não estejam presentes,
Para explicar esta abordagem particularmente estranha das lembranças, nós
discutiremos apenas o "ver estímulos" que não estejam presentes, visto que
nossos argumentos aplicam-se igualmente aos outros sentidos.
Comecemos com a noção de que ver seja um comportamento. Quando
vemos uma tulipa, há uma atividade privada ocorrendo. Não podemos descrever
a atividade muito bem já que ela é privada e nós não aprendemos como falar
sobre ela. Entretanto, é o comportamento privado associado com a atividade
fisiológica que ocorre quando vemos alguma coisa. Porém, a atividade privada
de ver não é a atividade fisiológica. Talvez uma analogia com o falar ajudará a
esclarecer este ponto. Falar é um comportamento.. Diferente do ver, podemos
descrevê-lo porque ele é público e nós aprendemos como descrever este tipo de
atividade pública. Semelhante ao comportamento de ver, há uma atividade
fisiológica associada ao falar. Oposto ao caso do vex, entretanto, o falar não é
uma atividade isiológica.
f
pela primeira vez (Catania, 1984). Anterior à recordação, o lembrar foi inibido
porque a cliente evitou o contato com os estímulos relevantes que tanto poderiam
ter eliciado o afeto quanto evocado a memória. Deste ponto de vista então, ,
passado é que os estímulos presentes que nos lembram do trauma são evitados.
Quando é pedido diretamente a um cliente que se lembre de um evento,
" "
este é um operante ver na ausência do estímulo .
Diferente do ver condicionado
por processo respondente, o qual é eliciado por um estímulo presente que foi
pareado com outros estímulos no passado, o ver operante é afetado por estímulos
discriminativos verbais ou não estados de privação e reforçamento. Ou seja, o
,
comportamento de ver privado (ou similar) que acontece quando ela está de fato
no quarto. Este ver é parecido com qualquer outro comportamento voluntário e
sua força reflete sua história de reforçamento passado. Da mesma forma que o
ver sem que o estímulo esteja presente é similar ao ver quando o estímulo está
presente, o lembrar-se produzirá funções discriminativas similares.
Assim, se você estiver tentando lembrar-se da localização exata da janela
ou de uma cadeira em seu quarto empenhar-se na visão do quarto pode ajudar
,
não ocorrerá se foi punido ou se não foi reforçado positivamente. Assim, punição
,
relacionados a não acreditar em outras pessoas e por isso evita relações íntimas.
O cliente também evita confiar e formar uma relação próxima com o terapeuta.
Suponha que o cliente, então, lembre de forma operante de um trauma precoce
de abandono e, em consequência disso reduza a aversividade da lembrança.
,
IMPLICAÇÕES CLINICAS
por que nós fazemos o que fazemos nos distancia de outros sistemas mais do
que aquilo que nós realmente fazemos. Nossas recomendações são discutidas
abaixo.
você se deixe entristecer, porque se você evitar pensar, sentir, falar sobre Jesse,
você acabará evitando muitas coisas, tais como atividades que vocês faziam
juntos ou encontrar novos homens, coisas estas que poderiam aflorar quaisquer
sentimentos sobre ele. Evitando todas essas coisas, não é apenas a iqueza da
r
sua vida que sofrerá interferência, mas você também não terá oportunidade de
imaginar o que aconteceu de errado e de aprender novas formas de lidar com
"
expressar sentimentos. Além disso que ele tivesse descrito em tom monótono
,
descrevendo detalhes da traição. Nossa esperança é que este recontar dos detalhes
possa evocar os estados corpóreos de raiva. Nós também o observaríamos
cuidadosamente para tentar encontrar qualquer sinal de raiva. Então seria dito a
"
ele Se isto acontecesse para mim, eu estaria com muita raiva e parece que
,
você deve estar experimentando alguma raiva neste momento" Depois de alguns
.
Por exemplo suponha que um cliente implore ao segundo autor para que ligue
,
"
sente? seria suficiente. Uma sobreposição existe entre as condições que levam
a uma falha do controle privado dos sentimentos e problemas do self. (Este tema
e o processo terapêutico que conduzem a um crescente controle de estímulos
privados sobre as respostas do cliente serão discutidos no Capítulo 6.)
Dada a preponderância da inabilidade dos clientes para responder ao
terapeuta quando perguntados a respeito de como eles se sentem, o controle
público acidental de emoções pode ser mais comum do que se imagina. Uma
falha na clareza daquilo que alguém está realmente sentindo enquanto adulto,
refíete a inevitabilidade dos problemas que ocorrem quando entidades externas
(por exemplo, um dos pais) tentam dar um significado para uma experiência
interna da criança que eles não podem ver ou conhecer.
/
96 Capítulo 4
C: [enquanto criança] Eu tinha muita vergonha de ser pobre, de não ter nada. Minha
mãe me humilhava por ser bêbada e por partir toda vez que estava bêbada. N inguém
era saudável o suficiente para ser agradável. Não havia nunca qualquer segurança,
lugares bons. Eu até via você da mesma forma que eu costumava ver as pessoas
que tentavam ser legais. Não é real, eu não estou segura, as pessoas não são capazes
de cuidar das outras. Isto sim é verdade. É perigoso demais confiar. No meu íntimo,
eu sinto que não é seguro.
T: Certamente não foi seguro durante o seu crescimento. Com referência à minha
delicadeza não ser real, na semana passada eu pedi a você que tentasse sentir o
meu carinho e você disse que sentiu angústia.
I
C: Sim, pontadas de angústia, uma invasão nos meus limites. Este é o último soldado
que não se rendeu porque a guerra ainda continua. Como aqueles caras que você
encontra rastejando entre as árvores, ainda armados dez anos depois que a guerra
terminou. Para sobreviver a todos aqueles abusos, este é o último vestígio, a crença
de que o mundo ainda é ruim. Eu não sei como fazer as pessoas me amarem. Este
é o segredo - eu não sei como fazer isto.
i
T: Você pode começar prestando atenção na suavidade da minha voz, nos meus olhos,
no toque das minhas mãos, quando eu falo com você, e a pensar sobre todos os
momentos especiais que nós tivemos trabalhando juntas todos estes anos.
C: 'Minha sensação é que, se você realmente me conhecer, você não vai gostar de
mim.
C: É.
T: (Eu me coloquei sentada diretamente em rente a ela e pedi que ela olhasse nos meus
f
afeição e amor no meu coração. Você é muito especial para mim Você sobreviveu a
.
tantos traumas e você é uma pessoa maravilhosa e talentosa. Eu tenho estima por
,
você e quero o melhor para você. Eu considero um verdadeiro privilégio que você
tenha se mostrado tão vulnerável para mim que você tenha me deixado saber quem
,
você é, e que me tenha sido permitido ver você mudar e florescer neste tempo .
C: [começando a chorar] É difícil pra mim me permitir acreditar em você Como é que
.
.
ninguém disse isso antes para mim?
Dizer a Evelyn o que eu sentia por ela teve pelo menos quatro funções .
"
sou especial, eu sou maravilhosa, eu sou talentosa Estes auto-tatos poderiam
.
ajudar da mesma maneira que a terapia cognitiva faz algumas vezes (ver Capítulo
5 para uma interpretação comportamental deste fenómeno).
são evocadas pelo contato com o fogão quente. O estado corpóreo que é sentido
é a experiência associada de dor. Se um cliente não estiver em contato com
variáveis de controle relevantes que eliciariam uma resposta emocional em outros
contextos diferentes, emoções consideradas um marcador e o CRB associado
não ocorrerão.
a esquiva do afeto pelo cliente. Dois estudos de caso ilustram este princípio.
No primeiro caso, o primeiro autor estava conduzindo uma entrevista
inicial com Amy, uma contabilista de 48 anos de idade que sofria de uma
inexplicável dor de cabeça 24 horas por dia. Amy era muito meticulosa com
datas e lugares medicações, história de trabalho, e coisas semelhantes. Ela era
,
incapaz, entretanto de precisar o início de sua dor exceto ao dizer que ela havia
,
começado 8 ou 9 anos atrás e que estava presente desde então. Ela pareceu ficar
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento 99
Eu queria saber, por exemplo, o que ela havia feito no Natal que hóspedes ela ,
teve durante o ano, que médicos ela havia consultado se havia algum problema
,
e finalmente ela falou sobre a morte de sua filha de 14 anos ocorrida 8 anos
atrás. Ela ficou sufocada com lágrimas, e o seu corpo tremia e seus braços se
agitavam com angústia. Eu gentilmente a encorajei a recontar em detalhes as
circunstâncias que envolveram a morte de sua filha. Antes desta catarse ela ,
Este é um exemplo no qual pode-se dizer que um sentimento causou um sintoma; ou seja, o smtoma
(dor de cabeça) era um estado corpóreo que era o resultado direto de outro estado corpóreo
(evocado pela aversividade que ela estava evitando).
100 Capítulo 4
com a situação presente. Era como se ela não tivesse ouvido ou entendido o que
havia sido dito. Numa tentativa de levar Roxie a entrar em contato com os estímulos
que poderiam evocar a resposta emocional, eu voltei ao assunto de estabelecer as
limitações, pedindo a Roxie que repetisse o que havia entendido sobre a limitação
nas chamadas telefónicas. Conforme Roxie faiava, tornou-se mais agitada.
Enfocando novamente o assunto e com as minhas observações declaradas de sua
esquiv , Roxie começou a sóluçar e rapidamente vocalizou um pensamento suicida.
Nos vários meses seguintes Roxie obteve um entendimento maior das
,
etc.) ao mesmo tempo em que ela também entrou em contato com os aspectos
emocionais de ter os seus privilégios telefónicos limitados. Embora tenha
demorado vários meses Roxie era repetidamente levada a entrar em contato
,
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento 101
"
pergunta, O que você está fazendo agora para impedir a si mesmo de sentir?" ,
nós encontramos que entre a maioria das formas pelas quais os clientes evitam
afeto incluem-se as seguintes: (1) atividades cognitivas de distração (por exemplo ,
contar para trás de sete em sete a partir de mil enfocar uma imagem em branco,
,
"
repetir para si mesmo Eu não vou chorar"); (2) estreitar o campo visual (por
exemplo, olhando atentamente para alguma coisa do lado de fora da janela ou ,
em que conhecemos o que eles estão fazendo para esquivar do afeto pedimos a
,
eles para pararem de fazê-lo ou que façam alguma coisa incompatível assim ,
"
vezes, simplesmente perguntar Há alguma coisa que você está evitando pensar
"
ou falar neste momento? trará à vista um tema intenso e o seu afeto associado.
ela se tornava próxima poderia desaparecer, que nunca voltaria depois de estar
temporariamente separada dela devido a uma viagem ou outra razão qualquer.
Ela sentia que ficaria desolada e não seria capaz de continuar com a sua vida.
Nancy via esses sentimentos como parte da sua relutância passada e presente
em se tornar intimamente envolvida. Este problema também interferia nas relações
conforme elas iam se desenvolvendo, por causarem a ela tanto uma intensa
tristeza quanto a fuga da situação, quando ameaçada por separação. Ela podia
também relacionar seus medos a ter sido deixada por um namorado vários anos
antes.
CASO ILUSTRATIVO
Kelly, 24 anos de idade, a mais nova de três irmãos veio à terapia com
,
familiar envolveu seu pai abandonando a família quando Kelly tinha 8 anos e,
posteriormente, encontros com ele a cada 5 anos aproximadamente. Ela disse
que não tinha nenhum sentimento e poucas lembranças a respeito de seu pai.
Sua história interpessoal é caracterizada por interações sociais com homens, a
partir da perspectiva de ser superior ou inferior à pessoa com quem ela está
falando. Uma pessoa que seja superior a ela pode aceitá-la ou abandoná-la, tem
pouca consideração por ela, não a respeita e finalmente a abandonará. Ela sente
atração por homens que são superiores a ela mas, ou evita estar envolvida com
eles ou tem uma relação passional mas estressante na qual ela se sente sem
forças para terminar e sabe que será deixada. Durante os primeiros quatro meses
104 Capítulo 4
de FAP, ela esteve distante e mostrou pouco afeto. Quando questionada sobre
"
o que ela achava que eu sentia ou pensava sobre ela, respondeu, Como uma
pessoa que você vê muito mas que você nunca pensa nela até que você a veja...
"
eu não sei como descrever isto, é como se eu existisse sem uma presença .
Seu sentimento de existir sem presença reflete sua história. Ela não teve
nenhum homem importante que tenha se dedicado a ela, ela foi ignorada na
presença deles. É compreensível que por esta razão ela se sinta desprezível e
sem importância na presença do terapeuta. A interação continuou:
T: Bem, como você reage a mim? (Esta é uma questão padrão da FAP que tem por
objetivo trazer os tatos sob o controle dos estímulos inerentes à sessão).
C: Eu tenho este tipo de temor reverente. É muito... você é a autoridade e é ótimo que
você esteja olhando por mim. É. Eu não me permito ser colocada numa posição na
qual eu possa ser machucada. Eu penso que é assim, mas parece muito cliché que
eu não confio em ninguém, mas não é tanto isto quanto alguém olhar para mim
pelo que eu sou. Eu sei que algumas vezes eu realmente não me vejo desta maneira
com outras pessoas, você sabe, mas eu me sinto inferior. (A cliente está descrevendo
nossa relação de uma forma que parece similar a como ela se sente em relação a
outros na sua vida diária. Ela evita envolvimento emocional com homens que são
superiores a ela porque senão ela pode ser magoada. Sua descrição é um CRB3. A
resposta é boa do ponto de vista da FAP porque está principalmente sob controle
de estímulos inerentes à sessão.) 4
T: Agora em nossa relação, como você pode ser magoada por mim?
C: Bem, houve algumas ocasiões em que eu prendi a respiração esperando por você,
e você traz alguma coisa à tona e eu não estou segura para onde isto está se dirigindo.
É como se você fosse dizer "Bem, eu cheguei à conclusão de que eu devo parar de
vê-la, isto não está funcionando
"
primitivo, ela evita permanecer nesse tipo de situação no cotidiano. Esta esquiva
contribui para os seus problemas de relacionamento. Seu afeto sugere que a relação
cliente-terapeuta fornece uma oportunidade de superar sua esquiva e seu medo
através do contato repetido com o estímulo evocativo, experimentando um resultado
melhor do que no seu passado e em consequência melhorando suas relações na
,
vida diária.)
(Poucos minutos mais tarde)
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento 105
T: Deve haver alguma coisa que apareceu na nossa conversa originada no que nós
,
estávamos falando e que te atinge. (Eu estava sugerindo que variáveis externas ,
C: É.
T: E você não sabe o que é?
T: Então, há um tipo de gatilho emocional aqui e você não está certa do que dispara
o gatilho.
C: Quando eu vi meu pai pela primeira vez desde que eu tinha 15 anos, que aconteceu
quando eu estava com 19 ou 20, eu devo ter chorado por dois dias seguidos. Quero
dizer literalmente baldes de choro, eu não conseguia parar de chorar. Eu até ria
durante o choro e eu pensava.... bom, seja o que for. (Esta é uma lembrança que foi
evocada por eventos ocorridos na sessão que também evocaram respostas similares
> -
àquelas da situação lembrada.)
T: Há um tipo de gatilho emocional aqui que, sem dúvida, foi causado pela sua relação
com seu pai, e que, agora há pouco, surgiu entre nós. Você está convivendo com
uma reação em você que não entende e que não pode antecipar a sua ocorrência.
(Eu estou oferecendo uma interpretação - Regra 5.)
106 Capítulo 4
%
5
Cognições e Crenças
J
O primeiro autor pediu a Harriet que mudasse o horário regular de sua sessão
terapêutica de segunda-feira às 17hs para terça-feira às 15hs. Embora tenha
,
concordado, Harriet revelou várias semanas mais tarde, que a mudança lhe
,
ela teve que reorganizar seus horários de trabalho e de escola, e seus problemas
.
"
è
107
108 Capítulo 5
TERAPIA COGNITIVA
tratamento clínico então envolveria dar aos clientes a explicação ABC de seus
problemas e direcionar esforços para mudar B, para que B não fosse mais
disfuncional.
Como há problemas com esse paradigma ABC ele foi revisto (Beck, ,
Rush, Shaw & Emery 1979; Guidano & Liotti, 1983; Hollon & Kriss, 1984;
,
terapia cognitiva jogou fora o bebé junto com a água da banheira; ou seja ela ,
A - B- C
(a)
A - A - C- B
(c) (d)
Figura 2. Paradigmas que mostram relações entrei (evento antecedente) B (crença ou pensamento), e C
,
preciso ser amado por todos, mas eu ainda me sinto desolado quando sou rejeitado ,
eles relatam a presença de um B que é inconsistente com C. Por outro lado, alguns
clientes alegam que eles não experienciam nenhum B conscientemente que preceda
seus C problemáticos, assim indicando que não há B, ou que B é inconsciente.
Um segundo problema com o paradigma ABC é que seu uso na terapia
pode levar a alguns procedimentos clínicos questionáveis. Por exemplo, se o
terapeuta cognitivo acredita realmente na hipótese ABC, a rejeição do cliente a
tal crença do terapeuta é então desafiada. O desafio toma a forma de
questionamento direto da lógica ou da sinceridade do cliente, ou ainda propõe
que haja cognições inconscientes adicionais a serem descobertas. Os desafios
também podem ser indiretos. Em vez de confrontar a rejeição do cliente ao
modelo ABC na sessão, o terapeuta pode dar a ele uma tarefa de casa adicional
ou testes para verificar suas convicções. A não aceitação de paradigmas
alternativos é encontrada até na terapia cognitiva de Aaron Beck (1976), que
rejeita a teoria contida no modelo ABC. Um exemplo disso é que Beck sugeriu
que clientes que dizem racionalmente
"
que não são pessoas sem valor,
saber "
mas que não aceitam isso num nível emocional, precisariam de mais terapia
cognitiva, pois seus sentimentos disfuncionais só poderiam ocorrer quando eles
não acreditam realmente no pensamento racional (Beck et ai., 1979, p. 302).
" "
essa melhora em sessão deveria ser reforçada pela aceitação do terapeuta e não
punida com a apresentação de mais desafios.
Um terceiro problema com o paradigma ABC refere-se à evidência usada
para dar sustentação à noção de que sentimentos e ações disfuncionais são
causados por Bs desviantes, irracionais ou patológicos. Um tipo de evidência
que dá suporte a isso é obtida ao comparar-se os pensamentos e atribuições de
" "
clientes com os de sujeitos normais (para uma revisão atualizada, ver Beidei
& Turner, 1986).
Não é surpresa que os clientes tendem a ter mais pensamentos
disfuncionais do que as pessoas "normais". Tal pesquisa é problemática porque
4
dados são inconsistentes com uma explicação ABC para a depressão na qual o ,
lógica ou uma evidência mudam uma estrutura cognitiva? Como a teoria cognitiva
dá suporte à defesa de Beck sobre a adequação do uso de uma abordagem
socrática , na qual os clientes têm que descobrir por si mesmos suas suposições
Cognições e Crenças 111
implícitas? Até que ponto esta teoria seria relevante para a instrução direta de
Ellis aos clientes para que adotem novas crenças? Quais são os princípios teóricos
envolvidos em se atribuir a mudanças cognitivas o resultado das experiências
de avaliação de hipóteses que os clientes realizam em sua vida diária? De que
forma o que o cliente diz sobre cognições e suas respectivas relações a sintomas
(metacognição) ajuda a mudar as estruturas? Como é possível ter terapias
cognitivas que não sejam metacognitivas (Hollon & Kriss 1984)? É indiscutível ,
"
*
Estruturas e processos não são diferenciados nesse livro porque as distinções entre eles não afetam nossa
análise.
112 Capítulo 5
forma, Beck (1984) advertiu que uma recaída poderia ser esperada, a menos
que as estruturas cognitivas subjacentes sejam mudadas, e declarou que a noção
de que o fenómeno cognitivo cause depressão é "forçada". Presumivelmente,
os fenómenos cognitivos" cuja causalidade Beck rejeitou são produtos
"
" "
Por exemplo, Beck et al. (1979) declarou que "as intervenções cognitivas e
comportamentais [utilizadas] para modificar pensamentos são as mesmas
"
Mando
Modelado por
contingências
Tato
Figura 3. Tipos de comportamento verbal que podem ou não influenciar um comportamento subsequente. O
tato a si mesmo e o mando a si mesmo, os quais influenciam o comportamento subsequente, conduzem a um
sub-conjunto de comportamentos governados por regras (área sombreada).
114 Capítulo 5
andar, correr etc.) ocorre por causa dos efeitos fortalecedores do reforço, e
,
Cognições e Crenças 115
estes últimos.
exemplo acima) seria a de que seu consentimento foi puramente modelado pelas
contingências e não foi influenciado por seus pensamentos precedentes Desse .
não significa que a cliente esteja ciente ou consciente do processo. Desta forma,
é perfeitamente possível que Harriet esteja desatenta ou inconsciente das causas
do seu comportamento. Nos termos do paradigma ABC, o comportamento
modelado por contingências corresponderia a A-> C. O fato de que outras pessoas
responderiam diferentemente ao mesmo A reílete a diferença em suas experiências
passadas quando em situações A.
"
e eu estou com medo está provavelmente fazendo um tato (1) que resulta de
experiências passadas de ser machucado por dentistas (2) de seus sentimentos
,
cadeira.
Até esse ponto, o tato e o mando que nós discutimos foram ditos em voz
alta para outra pessoa. Se ditos em voz alta ou a si mesmo não importa. Nós
,
sabemos que tato e mando também ocorrem quando a única pessoa que ouve a
descrição ou o pedido é o falante. Do nosso ponto de vista tato e mando a si
,
mesmo é funcionalmente o mesmo que tato e mando em voz alta quando nenhuma
outra pessoa está presente. Esses dois casos diferem principalmente na intensidade
da resposta. Nós estamos particulannente interessados no tato e mando a si
mesmo, pois isso é também conhecido como pensamento. Assim nossa definição
,
nós explicamos porque uma pessoa faria um tato ou um mando quando outros
podem ouvir, como em "Isso é terrível", "Eu estou ansioso", "Seja paciente",
Cognições e Crenças 117
" "
Fique de boca fechada" , Saia da cama", e "Faça agora". Não fica tão claro
porque isso seria pensado ou dito em voz alta quando não há ninguém por perto.
Nós estamos particularmente interessados em tato sobre si mesmo e
mando a si mesmo porque eles frequentemente englobam o que se entende por B
na terapia cognitiva. Por exemplo as palavras deve e deveria são vistas como
,
em mandos que se faz a si mesmo tais como "Eu nunca devo cometer erros" e
,
ABC, essas ações são representadas pela Figura 2b. Acontece apenas que B
precede C em tempo, mas B não afeta C.
As combinações dos dois comportamentos separados consentimento
,
generalizações, oferecem uma noção de como uma pessoa pode ter pensamentos
(comportamento de pensar) e comportamentos (um comportamento subsequente)
que não estão ligados de forma causal, embora possam parecer estar. Se esse conjunto
de circunstâncias na verdade ocorre para alguns clientes seria um erro admitir seus
,
/
Cognições e Crenças 119
privados são "úteis ou "de rápida aquisição" (p. 445) e têm "efeitos práticos"
(p. 440). Em sua discussão sobre a formulação de regras que guiam nosso
próprio comportamento, Skinner (1969) também falou sobre a pessoa que formula
" "
tato para si mesma porque ela mesma poderia, então, reagir mais efetivamente
,
ou identificar a situação que poderia, de outra forma, lhe ser confusa. Por exemplo,
o primeiro autor estava vendo uma cliente que repentinamente se tomava hostil
durante as sessões. Várias condições diferentes levavam-na à hostilidade, incluindo
(1) se suas interações com seu marido haviam sido boas naquela semana, e ela
sentia que eu estava muito confrontador e esperando demais dela durante a sessão;
(2) se houvesse tido uma semana ruim com seu marido e achasse que eu estava
muito distante ou não envolvido; e (3) se ela sentisse que eu estava sendo muito
120 Capítulo 5
subserviente. Fazer essas interpretações para a cliente (Regra 5) não era útil
nesse ponto de sua terapia e somente evocaria mais hostilidade. As interpretações
eram úteis, entretanto, quando feitas a mim mesmo. O tato sobre mim mesmo me
ajudou a descobrir um jeito de responder à hostilidade de uma maneira terapêutica.
A maioria das interações humanas são bem complicadas, e o modo como alguém
faz o tato (rotula, categoriza, ou classifica) de uma situação pode ajudar a
determinar uma reação efetiva.
De maneira semelhante;, o mando a si próprio pode aumentar a eficácia
de uma pessoa na realização de uma tarefa que esteja em suas mãos. Um caso
assim é ilustrado nas observações de Skinner sobre uma menina que falava em
"
voz alta para si mesma enquanto praticava piano- Não, espere " "Só um minuto,"
e Isto está certo?" (1957, p. 444). Tais mandos a si mesma podem tê-la ajudado
"
o piano (p. ex.5 para ins úteis) irão influenciar se a criança continuará ou não a
f
comentário ou tato a si mesma feito pela criança foi, Isso está na clave de sol".
Tal descrição poderia tê-la ajudado a reduzir erros da mesma maneira que teria
ajudado se essa declaração fosse feita pela sua professora.
Embora esta seção seja sobre pensamentos que afetam o comportamento
subsequente, Skinner fez observações adicionais da menina que ilustram o caso
anteriormente discutido no qual pensamentos não têm efeito. A garotinha também
disse, "Meu dedo está doendo tanto" e disse ao relógio "Não faça isso, você está
indo muito rápido!". Skinner especulou que essas declarações não tinham efeito
no comportamento subsequente de tocar piano. Assim, enquanto observava a
mesma criança executando a mesma tarefa, Skinner sugeriu que alguns de seus
tatos e mandos a si mesma afetaram seus comportamentos subsequentes, e outros
não. Isso corresponde à visão da FAP dos pensamentos do cliente. Além disso,
o tato sobre si mesmo e o mando a si mesmo, os quais propiciam um
fortalecimento do comportamento, contribuem para manter a generalização, sendo
que também ocorrerão quando não tiverem efeitos no comportamento
subsequente.
O caso no qual o tato a si mesmo e o mando a si mesmo levam ao
desejável fortalecimento do comportamento subsequente pode agora ser aplicado
ao caso de Harriet. Suponha que Harriet tivesse aprendido a descrever certos
Cognições e Crenças 121
pedidos feitos por outras pessoas (não importa o quão inocentes) como uma
prova de seu amor por elas. Ela poderia ter aprendido isso, quando criança, de
sua mãe narcisista que, requentemente precisava de afirmações de amor, e que
,
f
fazia perguntas com segundas intenções. Por exemplo quando sua mãe perguntava,
,
"
Você gostou da torta que fiz para você?" a peigunta tinha pouco a ver com o
,
"
gosto da torta. Ao invés, o que ela realmente queria dizer era, Você me ama e
aprecia o que eu faço? Se não, eu vou ficar deprimida e vou me retrair,"
Por conta da dificuldade de uma criança em diferenciar uma pergunta
" "
real
daquela que tem como propósito servir de teste Harriet poderia ter
,
ela tenha discutido esse problema com amigos ou um terapeuta e tenha tido
consciência ou discernimento das condições que diferenciavam uma simples
"
questão de uma questão de teste". Depois disso quando confrontada com uma
,
seguir no mesmo esquema, ela ficará feliz Nos termos do paradigma ABC,
.
discutidas até agora não cobrem todas as possibilidades. E possível existir um caso
como o que está representado na Figura 2d, no qual as reações emocionais e/ou
comportamentos são diretamente evocados e só posteriormente, à moda de James-
Lange, os clientes descobrem o que eles teriam pensado. É também possível para
a ocorrência de um B independente, que se tenha um efeito no comportamento
"
subsequente por causa do efeito da consistência, no qual se aprende que uma
"
pessoa deve praticar o que ela prega ou "não dizer uma coisa e fazer outra". No
caso da consistência, pensamentos influenciam comportamentos subsequentes porque
esses indivíduos foram reforçados por fazer o que disseram que iriam fazer e punidos
quando suas ações não eram consistentes com o seu comportamento verbal.
É também importante mencionar alguns dos problemas especiais gerados
pelo fato que Bs não podem ser observados diretamente e devem ser inferidos ou
baseados em autodescrições. Deste modo, é possível que uma autodescrição de
um B, como a dada por Harriet possa ser uma simples fabricação ou uma fala
,
necessária conforme a convenção social. Mesmo nos casos em que o cliente está
dando sua melhor descrição de B acredita-se que tal introspecção não seja
,
por regras, tato sobre si mesmo e mando a si mesmo. Nós estamos introduzindo
esse tópico porque a literatura sobre regras e comportamento governado por
regras (Skinner, 1969; Zettle & Hayes 1982) é relevante para nosso conceito
,
"
Se você agisse mais amigavelmente teria mais amigos" é um tato que é uma
regra porque é uma descrição que especifica um comportamento (ser amigável)
"
e uma contingência (ter amigos). Você deve fazer suas tarefas de casa ou deixar
"
a terapia é um mando que é uma regra pois é uma ordem especificando um
,
ameaças são tatos e mandos que são também regras. O exemplo do tato de
Harriet sobre si mesma é uma instância de uma regra porque especifica o
comportamento necessário (consentimento) e as contingências (evitar problemas).
O comportamento que ocorre como um resultado do seguimento da regra é
chamado de comportamento governado por regras. Por exemplo uma mãe dá
,
"
uma regra quando ela faz um tato a seu filho Se você não sair da cama agora,
"
comportamento governado por regras pode ou não ocorrer. Você também poderia
dizer a si mesmo que tem de terminar o artigo que está escrevendo esta noite ou
se sentirá um inútil. Embora esse mando a si mesmo seja uma regra, ele pode
resultar ou não em um comportamento governado por regras (p. ex., você pode
ou não terminar o artigo).
O comportamento governado por regras nunca ocorreria se o indivíduo
não tivesse sido reforçado pelo comportamento de seguir regras, de maneira
geral. Esse processo de reforçamento ocorre a partir da infância, uma vez que
"
nos são dadas inúmeras regras na forma de Se você fizer (ou não fizer) isso e
isso, então isso e aquilo vão acontecer com você". Obviamente, há muita
variabilidade sobre o quanto uma regra é precisa. Para algumas crianças, os
pais dão regras precisas e quando a criança segue a regra, a consequência
especificada ocorre. Para outras crianças, as regras não são precisas e a criança
aprende a ignorá-las. Por exemplo, estudantes graduados provavelmente têm
histórias prévias de reforçamentos por seguimento de regras, particularmente
aqueles que encontramos em sala de aula. Eles são exemplos evidentes de
pessoas que foram reforçadas por seguir as instruções e ensinamentos dos
professores, O comportamento específico evocado pela regra, entretanto, pode
nunca ter sido reforçado. Assim, um estudante pode fazer um conj unto complexo
de ações tais como planejar, fazer e analisar uma pesquisa de dissertação, que
,
não tenha sido modelado por contingências, mas está sob controle de regras.
124 Capítulo 5
mas faltam-lhes bases teóricas para que isso possa ocorrer Uma vez que a.
outras pessoas significativas podem ter um impacto importante no que o cliente diz
ou faz. A despeito da orientação teórica, é aceito que o reforço é um fator a ser
relativamente considerado, em algum momento. Apesar disto, os terapeutas
cognitivistas, em suas análises teóricas, parecem ter uma fobia pelo termo
reforçamento. Hollon e Kriss (1984) nem sequer fizeram uma referência casual a
isso. Similarmente, no caso descrito por Jacobson (1989), as operações de
reforçamento foram descritas, mas este termo não foi usado. Mesmo Wessells
(1982), numa elegante defesa da psicologia cognitiva, lamentou que os cognitivistas,
infelizmente, negligenciaram o papel das contingências ao explicar o comportamento.
A negligência ao papel das contingências provavelmente ocorreria em
uma análise do caso de Harriet feita por terapeutas cognitivistas. Partindo da
perspectiva deles o consentimento de Harriet teria ocorrido por causa de suas
,
/
Cognições e Crenças 127
pensou que isso mostraria o quanto ela se importava, e porque ela pensou que,
fazendo o contrário, evocaria a raiva do terapeuta. Esses são exemplos de Bs
ocorrendo dentro do contexto da relação. Tais pensamentos de Harriet poderiam
ter sido desafiados e reinterpretados de imediato e um novo comportamento
,
uso da terapia cognitiva para a depressão Beck et al. (1979) levantou o problema
,
de um cliente que lhe disse "Você está mais interessado na pesquisa do que em
,
"
me ajudar Em primeiro lugar, Beck sabiamente assinalou que mesmo que
.
nada seja dito, um cliente que está em um projeto de pesquisa clínica pode
secretamente cultivar tais pensamentos. No entanto, o motivo pelo qual tais
pensamentos ocorrem, de acordo com Beck, é que clientes deprimidos podem
estar distorcendo o que o terapeuta faz. Ele então sugeriu que o terapeuta pergunte
ao cliente se algum desses pensamentos está presente e, então, o acalme. Ainda
de acordo com Beck, se possível, o terapeuta deveria evitar tais problemas, já
desde o início, antecipando sua ocorrência e dando explicações completas ao
cliente.
Uma análise feita pela FAP dessa situação seria diferente. Um cliente
deprimido que não se sente importante para o terapeuta, demonstra que a situação
de terapia poderia estar evocando o problema que ele experiencia em outras
relações de sua vida diária - aquele de não agir como quem pensa que é
importante, pedindo o que quer. Isso não seria visto como um problema técnico
a resolver, mas uma situação que cria uma oportunidade terapêutica importante,
Mais ainda, o terapeuta da FAP não assumiria que o cliente esteja distorcendo,
mas apenas que o terapeuta e o cliente estão contatando aspectos diferentes
da situação vigente. Pode até ser possível que a pesquisa seja mais importante
para o terapeuta, e se assim for, o cliente não estaria distorcendo". A noção de
"
128 Capítulo 5
que o cliente poderia estar cultivando secretamente tais idéias. ao invés de falar
sobre elas com o terapeuta, também sugere a ocorrência do problema clínico
do cliente, isso é, ele pode não estar sendo direto ou assertivo durante a sessão.
Embora a teoria de Beck possa, em geral, levar o terapeuta cognitivista
a negligenciar situações que seriam de interesse para um terapeuta da FAP, ele
reconheceu que certas interaçÕes terapeuta/cliente podem fornecer oportunidades
terapêuticas. Por exemplo, ao discutir formas de fortalecer a colaboração, ele
assinalou que um cliente pode reagir a uma tarefa de casa como se fosse um
teste de autoconceito e que o terapeuta deveria tentar perceber isso (Regra 1) e
usar tal situação como uma oportunidade para corrigir cognições erróneas. Beck,
no entanto, não deu atenção especial ao fato de que o trabalho terapêutico
evidencia o comportamento que está ocorrendo naquele momento. Em vez disso,
ele considerou que os efeitos seriam os mesmos se lidasse com uma cognição
que ocorreu em algum outro lugar. Jacobson (1989), por outro lado, discutiu a
importância de se focalizar no comportamento durante a sessão, enquanto estava
praticando a terapia cognitiva de Beck. Mais ainda, ele sugeriu que esse fator
fosse incorporado nas bases conceituais da terapia cognitiva para depressão.
I
,
sobre sintomas clínicos está num continuum. De um lado está o tipo A->B->C
puro, onde o B precedente é um comportamento que corresponde a um produto
cognitivo e tem influência no problema do cliente. O tratamento para esse tipo de
relação aponta para a mudança dos Bs. Os procedimentos salientados na Regra
5 para fazer interpretações são apropriados aqui e incluem as técnicas da terapia
,
por uma mãe esquizofrênica paranóica e foi sexualmente abusada pelos padrastos
quando adolescente. Mesmo antes de ter adquirido a linguagem, ela foi
negligenciada, privada, abusada e rejeitada o que continuou por toda a sua
,
O relato que se segue é de uma sessão com Christina, depois de ela ter
estado em tratamento com o segundo autor por 6 anos:
humilhação. Eu não quero lutar eu só quero descobrir como morrer. E assim que
,
me sinto quando estou deprimida. A única coisa que me daria uma perspectiva
seria ter alguém em minha vida. As coisas não me parecem tão assustadoras quando
isso acontece. (Parece que o cliente está fazendo uma interpretação ABC de "Eu
fico deprimida quando não tenho ninguém em minha vida" e "Neste momento, eu
"
não tenho ninguém, portanto estou deprimida ) .
T: Você parece fechada a mim neste momento, você não está levando em consideração
meu amor e minha preocupação. (Eu respondi assim por pensar que a depressão
fosse um problema ABC, oferecendo a interpretação "Eu estou em sua vida. Tudo
"
que você tem a fazer é aceitar isso e então você não ficará deprimida ) .
C: Seu problema é que você não tem nenhuma empatia. Você nunca ficou deprimida
da maneira como eu estou. Se tivesse ficado, não diria coisas como "esteja aberta
para mim e que seu amor deveria melhorar as coisas. Eu ico sozinha 99% do
"
f
tempo dia após dia, semana após semana, e você espera que eu venha aqui e seja
,
uma pequena flor aberta? (Christina está me deixando saber, de forma clara, que
ela não gostou da interpretação ABC. Isso pode ter sido similar àqueles pedidos
feitos por outras pessoas para que ela sinta e aja de uma forma conveniente para
eles, mas que não é válida para ela. Ver o Capítulo 6 sobre o desenvolvimento do
self.)
Nesse exemplo, fazer qualquer tipo de interpretação que pudesse
parecer um pedido para que sentisse ou agisse de uma dada maneira, fazia
Christina zangar-se e sentir falta de empatia. Eu estava numa situação difícil
As interpre-tações são a primeira maneira usada por um terapeuta para indicar
ao cliente que suas ideias estão sendo levadas a sério. Pensando nisso, eu quis
fazer uma interpretação que fosse consistente com sua experiência; isto é, uma
130 Capítulo 5
Depressão
Devastada e exaurida
pelas atrocidades da vida
afogando em minha vergonha
presa em uma caverna escura e úmida
sem esperança de escapar
uma criança aos gritos dentro de mim
morrendo para ser abraçada
morrendo.
bombardeada pela
depressão e esquizofrenia de minha mãe.
Sozinha quando criança ,
Eu enviei o poema com essa nota: "Christina eu não sei como te alcançar
,
quando você está deprimida. Esse poema é uma tentativa de me conectar com
você, de ver o mundo através de seus olhos. Eu te amo querida Tenha força". .
Ela me respondeu dizendo que esta era uma das melhores coisas que alguém já
havia feito por ela.
Durante sua infanda, Christina foi tratada como sendo sem valor; isto
é,ela desenvolveu o comportamento modelado por contingências de cuidar dos
outros, mesmo que isso a prejudicasse (esse comportamento é consistente com a
noção de que ela própria não tinha valor). Ela se sentiu agiu e se descreveu
,
como sendo sem valor. De acordo com o nosso modelo ela desenvolveu o autotato
,
"
Eu não tenho valor" (A ->B - C). Eu aceitei seus pensamentos de não ter valor
como sendo autotatos que decorrem de seu passado e sua experiência de si
mesma. Assim, eu não usei a lógica para convencer Christina de que sua crença
" "
era incorreta e então mudá-la para ver-se como uma pessoa de valor ,
" "
vinculava reagir a ela como sendo uma pessoa de valor por um longo período
de tempo, considerando e reagindo seriamente a todos os seus pensamentos e
idéias, tratando-a com preocupação e respeito, usando o tempo e energia que
"
são devidos a uma pessoa de valor" . O poema foi consistente com essa
abordagem.
É desnecessário dizer que tratar a experiência de depressão e baixa
"
auto-estima de Christina como irracional" teria sido contraterapêutico, dada a
rejeição e o desprezo por seus pensamentos e sentimentos que ficariam implícitos
nesta ação. Assim de um ponto de vista comportamental, a terapia apropriada
,
132 Capítulo 5
para um cliente com este tipo de problema A->C deveria ser mais na linha da
"
experiência emocional corretiva defendida por alguns terapeutas
"
psicodinamicamente orientados.
alienados.
sobre desistir da ideia irracional "Eu preciso ser amada por todo mundo o tempo
todo".
Cognições e Crenças 133
Nós nos temos concentrado nos problemas que podem ocorrer quando
tratamos um problema A ->C como se fosse um problema A ->B->C Contudo, .
governados por regra. Esse processo pode ser benéfico ao cliente por vários
motivos. Primeiro, parece razoável dizer que as crenças contribuem pelo menos
,
134 Capítulo 5
Por exemplo, convencer Harriet de que ela pode suportar a raiva poderia
ser visto como uma solicitação encoberta ou uma instrução implícita do terapeuta
para que ela agisse diferentemente. Mudanças no comportamento de Harriet
seriam então o resultado do seguimento de tais instruções ou do comportamento
governado por regras. Melhoras clínicas significativas ocorrerão se o seu novo
comportamento for naturalmente reforçado em sua vida diária. Esse processo
fica mais óbvio quando a terapia cognitiva envolve instruções abertas e explícitas
ao cliente para a mudança do comportamento. Por exemplo, Beck et ai. (1979)
"
mais poderosa de mudá-las (p. 264). Embora Beck tenha preferido ver essa
intervenção como mudança de uma cognição (uma suposição), isso também
pode ser visto como sendo o terapeuta formulando uma regra para o cliente que,
ao segui-ia, realiza uma exposição de seu comportamento às contingências que
podem fortalecer diretamente o seu novo comportamento. Essa ênfase em
construir um novo comportamento é consistente com a FAP.
No entanto, pode ser contraterapêutico quando produtos cognitivos e
um comportamento subsequente mudam porque o cliente está tentando agradar
o terapeuta. O perigo está no fato de que as melhoras não serão mantidas pelos
reforços naturais da vida diária do cliente, e os ganhos obtidos na terapia se
perderão quando a terapia acabar. Esse problema foi discutido no Capítulo 2,
no tópico de reforçamento natural versus reforçamento arbitrário. Uma vez que
as manipulações cognitivas diretas envolvem instruções diretas sobre como pensar
ou se comportar, e tornar explícitas as requisições para as melhoras, é difícil
deixar de agradar o terapeuta. Uma exceção notável é o uso do método socrático
e o teste de hipótese" de Beck et al. (1979), os quais vemos como maneiras
"
moda de Albert Elíis) de que "ela pode suportar a raiva não é garantia de um
,
" "
Quando o cliente muda sua declaração de uma crença por causa dos
argumentos lógicos do terapeuta o sentido da declaração muda. Antes da
,
mas não aceito num nível emocional". O terapeuta da FAP não ficaria perplexo
com este fato, pois não haveria motivo para esperar nada diferente .
de (1) apoiar uma crença X e agir consistentemente com uma crença Y (2) ,
tentar ser consistente em apoiar e agir ou (3) tentar agradar o terapeuta sendo
,
racional.
ILUSTRAÇÃO DE CASO
"
abandonar ) ajudou a desenvolver um comportamento modelado por
"
Embora esse modelo aceite as técnicas de terapia cognitiva ele enfatiza a importância
,
O self
\
Sem dúvida, há uma ligação muito próxima na seguinte interação entre Beatrice
,
e sua terapeuta:
portanto, não é físico - não é o seu corpo. Segundo, ela deduz que há uma
experiência interna de seu self controlada por algo que é extemo. E finalmente,
ela constata que esse self que ela experiencia, não é propriamente seu, porque
é controlado por outros. Isso então implica que há ou poderia haver uma
experiência de seu self verdadeiro que seria imutável, e não controlada por
outros.
137
138 Capítulo 6
" "
"
sentimento do Eu". De acordo com Deikman (1973), esse "Eu" é "uma
4 »
cadeira enquanto não tiver terminado meu trabalho". Deikman descreve esse
"
a expressão mais real do self (p. 17) O falso self, por outro lado, não tem
.
4 .
O self como identidade pessoal. Erikson (1968) descreveu a
identidade pessoal como uma experiência consciente de duas percepções
simultâneas: (a) a igualdade do self - "a percepção da igualdade do self e a
continuidade da existência do ser no tempo e no espaço" e (b) outro ,
os outros querem ,
não ser eu , ou uma consciência imutável e
descaracterizada"?
Por exemplo, alguém poderia dizer que a dependência extrema do cliente pelo
terapeuta é causada por um self inadequado. Isto é o terapeuta pode consertar
,
Skinner e explorar suas implicações clínicas. Há pelo menos duas razões pelas
quais um esforço deve ser feito neste sentido. Primeiro, os problemas do cliente
descritos em termos de desordens do selfparecem ser importantes e aparecem
constantemente. Uma indicação disso está na literatura sobre este assunto, dentro
da psicanálise moderna, psicologia do self e relações objetais. Segundo, o
fenómeno do selfparece ser parte da experiência humana e os clientes geralmente
descrevem seus problemas em termos do seu se//
"
ou Dottie" (quando usados para se referir ao seu self) e "Você" (quando utilizado
O self 242
por uma criança pequena para se referir ao seu self). Por propósitos ilustrativos,
entretanto, concentraremos nossa discussão no "Eu" genérico Nossa abordagem
.
"
para o entendimento do Eu" com algumas sutis variações se aplicaria tanto para
,
"
os sinónimos de Eu" quanto a outros termos equivalentes. Assim noss&anáiise
,
do "Eu" pode ser vista como um protótipo para a análise de outras respostas
verbais associadas ao self. Desta maneira o entendimento do Eu" em particular
,
"
Conceitos Básicos
Controle de Estímulo
Imagine um pombo que é reforçado por bicar uma chave apenas quando
uma luz estiver acesa. No final, seguindo a luz, uma resposta de bicar a chave
aparecerá. Algumas conclusões óbvias que podemos tirar dessa situação são:
1 . A resposta de bicar a chave ocorre quando o Sd (estímulo discriminativo -
luz acesa) está presente.
2 .
Bicar a chave está sob controle do estímulo da luz acesa.
O Tato
reforçada pela alegria de seus pais por dizer maçã sempre que lhe mostram
uma maçã, e não quando lhe mostram uma banana ou laranja. Finalmente, apenas
" " " " " "
o fato de mostrar a maçã a ela pode resultar na reação maçã maçã maã , ,
usa a palavra maçã tanto quanto não dizemos que o pombo usa a "bicada
"
na chave .
resposta verbal maça pois esta era o estímulo que estava presente toda vez
" "
que dizer maçã foi reforçado. Apesar de parecer óbvio, para que este
condicionamento verbal pudesse acontecer os pais tiveram que ver a maçã (ou
,
seja, saber que ela estava presente). Como reafirmaremos mais tarde, a
v
f
O self 143
"
quando a criança estiver aprendendo o Eu".
Unidades Funcionais
Quando vemos uma bicada, podemos dizer "Aí está". Mas quando se trata de
um comportamento verbal fica menos claro o que pode ser considerado uma
,
unidade ou uma ocorrência única. Mesmo que fiquemos tentados a dizer que a
unidade do comportamento verbal é uma palavra isto pode levar a alguns ,
bom, agora fala bê". Depois deste tipo de dica, quando se pede para a criança
tatear bebé, ela poderá dizer aigo como "Be - Bê", o qual ainda assim evidencia
unidades menores que a composição inteira. Porém, com o tempo, a unidade
"
singular bebé" emergirá. Assim, unidades funcionais podem ser pequenas, como
" "
comportamento verbal seriam frases como Como você está", "Que Deus nos
cachorro-quente e Estados Unidos da América". Unidades ainda
" " " "
ajude , ,
(N.T.: junção de três palavras em inglês que formam um som único = land of Iiberty).
144 Capítulo 6
" "
exemplo anterior, que mostrou como o tato maçã foi adquirido. Naquele
exemplo, a palavra maçã foi aprendida como uma unidade.
" "
maiores. Neste caso, será usada a palavra grande Suponhamos que um pequeno .
, , ,
s
"
seu repertório, mas não o tato grande Seus pais apontam para uma grande
"
.
"
maçã numa caixa de maçãs e dizem Esta é uma maçã grande, diga Ímaçã
grande Depois de algumas vezes e depois que a dica foi gradualmente retirada,
,"
"
" "
com maçã e assim, não é uma combinação de duas unidades, grande e
" "
"
maçã
"
. Depois, os pais falam "caminhão grande". Após inúmeras tentativas
"
com o caminhão grande, a criança tateará caminhãogrande Finalmente, após
"
.
com grandes laranjas, bonecas, lápis e outros objetos, a palavra grande emerge
como uma pequena unidade controlada pelo estímulo do tamanho. Isso acontece
porque grande é o elemento idêntico dentre uma variedade de situações nas
" "
tatear "cachorro grande" mesmo que nunca tenha tido uma experiência prévia
com cachorros grandes.
Diferentemente do processo no qual o "grande" emerge de unidades
'
9
O self 145
" "
poderia tatear grande O mesmo se repete para outros objetos até que seja o
.
Os exemplos citados servem para ilustrar dois métodos pelos quais uma
palavra pode se transformar em uma unidade funcional. Nós simplificamos
propositadamente as experiências de aprendizagem, e as descrevemos de um
modo estereotipado a fim de clarear o papel dos processos fundamentais
envolvidos. Não estamos sugerindo que nossos exemplos sejam uma
" "
Acreditamos que seria mais apropriado chamar este período de "Período das
"
unidades funcionais singulares pois a criança deve aprender unidades que tenham
uma ou mais palavras, mas que ainda continuam sendo unidades funcionais
singulares. A observação da linguagem das crianças durante esse período legitima
essa visão de unidade funcional (Dore, 1985). No início deste período as unidades ,
"
singulares são palavras ou fragmentos de palavras como boneca", "maçã",
" "
maã (para maçã), "vete" (para sorvete), "cae" (para cair). Ao fmal deste
período ou durante o segundo ano, de vida, muitas dessas palavras únicas tomam
"
a forma de frases com duas ou três palavras como mordi você "bebé - mordi
"
i
146 Capítulo 6
Estágio I Estágio II 17
stágio III
Estou aqui i
, 1
Me sinto triste
Me sinto mal Sinto
Me sinto feliz
Ouero sorvete
Ouero suco Ouero EU
Quero mamãe
Veio carro
Veio mamãe Veio
Veio peixe
II 1 t
w m > ... m
Eu X coelho
Eu X giz de cera eu x y
l
Eu X bebé
,
"
eu tenho um coelho , eu quero sorvete , eu quero
eu vejo o carro e "eu vejo mamãe". Tenha em mente que; na verdade,
, " "
suco/ ,
tenho", "eu quero" e "eu vejo" que podem ser então combinadas com alguns
,
objetos. É durante este estágio que a criança pode dizer "eu quero futebol"
mesmo que ela não tenha pronunciado antes esta frase em particular .
Durante o estágio III uma unidade ainda menor e única do "Eu" emerge,
,
"
"
aquisição da experiência do Eu" é semelhante à aquisição da experiência do
futebol, do sorvete, da mamãe, ou do calor. Todos estes são tatos Entretanto .
,
"
essas experiências diferem do Eu,! no fato de estarem sob o controle de estímulos
públicos específicos e podem ser aprendidas separadamente. "Eu", por outro
lado, está sob o controle de um estímulo pessoal complexo e parece ser aprendido
exclusivamente através da aquisição destas unidades maiores.
O real entendimento dessa experiência do self vem da descrição dos
estímulos que controlam as respostas em cada um dos três estágios Quando .
"
essas unidades funcionais se voltam para o Eu", há uma mudança correspondente
nos estímulos controladores e uma ênfase maior nos componentes privados.
precisa ver a maçã, um estímulo público, a fim de ensinar o tato maçã Agora .
atente para o estímulo público que o pai utiliza para ajudar a criança a aprender
" "
" "
unidade. Estamos presenciando os tatos maçã e "eu vejo maçã" como tendo
diferentes significados (isto é, sendo controlados por diferentes estímulos no
" "
adulto falante). O tato maçã é controlado meramente pela presença da maçã.
Em termos cotidianos, diríamos que o tato descreve um estímulo público como
em aquilo é uma maçã O tato "eu vejo uma maçã", entretanto, é controlado
" "
.
por uma atividade do falante - ver. Em termos cotidianos, ele descreve uma
atividade do falante, então iremos nos referir a isto como ver. Em alguns casos,
-
a atividade de ver pode não se relacionar com a presença de um estímulo público,
como quando o falante imagina uma maça (Skinner, 1957).
Reconhecemos que, entre os primeiros professores de crianças, estão incluídas também outras pessoas além
"
dos pais. Porém, para simplificar, usamos o termo pais para nos referirmos a todas as pessoas que participam
da educação das crianças.
»
148 Capítulo 6
pais dão uma dica e encorajam a criança a dizer eu vejo maçã quando é ,
evidente que a criança está vendo a maçã. Os pais, entretanto, não podem observar
\
diretamente a criança f1vendo a maçã" pois isso é pessoal e está disponível somente
f
para a criança. A questão é, qual é o estímulo público que os pais- usam para
indiretamente observar a criança vendo e então, que estímulos realmente estão
controlando a resposta da criança? Novamente, nossa descrição do processo é
propositadamente estereotipada e simplificada para facilitar os processos básicos
de aprendizado envolvidos. Na vida real, os pais ensinam a criança de modo
mais casual e inconsistente, apesar dos processos fundamentais serem os mesmos.
A parte de cima da Figura 5 (a-c) mostra um estímulo público à esquerda
e um estímulo privado à direita, que estão presentes quando o pai incita a criança
"
a dizer eu vejo maçã A perspectiva (como mostra a Figura 5a) é a relação
"
.
estímulo poderia ser a atividade do sistema visual individual associado com ver a
maçã (lado direito da Figura 5c) bem como um componente geral que designamos
,
" "
aqui como ver (Figura 5d). O componente geral de ver é aquele que ocorre
independente do que está sendo visto. Os componentes internos da perspectiva
(lado direito da Figura 5a) também estão presentes. Como não podemos ter acesso
aos estímulos privados podemos apenas tecer a hipótese de que há muitos outros
,
estímulos privados envolvidos de alguma forma com a atividade privada tais como: ,
estão ensinando pela primeira vez à criança o tato "eu vejo maçã" espera-se ,
"
desenvolvimento, o tato eu vejo maçã é aprendido como uma unidade e é
,
"
mostra a Figura 5e. Apesar dos estímulos privados e outros públicos (como a
perspectiva) estarem presentes durante o aprendizado, não aparecem na Figura
5e, pois nao há razão para eles se transformarem em Sds e eles não têm nenhum
efeito. Neste sentido, eles são irrelevantes não perceptíveis e portanto não
,
"
vejo maçã não envolve, como no adulto, a descrição da experiência de ver. Ao
,
" "
contrário, neste estágio, eu vejo maçã provavelmente tem um significado muito
" "
mais próximo do tato simples maçã Apesar dos estímulos privados não terem
.
"
estou com calor e "Eu jogo bola" são exemplos. Nossa discussão se concentra
" "
no eu vejo mas a análise se aplica a outras unidades também.
A menor unidade de "eu vejo", uma vez adquirida, pode agora ser combinada
com quase todos os outros tatos que estão no repertório, e a criança pode criar
" "
orientação pública que os pais usavam para saber se a criança estava vendo
"
poderia ser de algum modo diferente em cada uma das várias situações eu
vejo existentes. Por exemplo, se a criança estivesse olhando para um avião no
"
r \
(a) Perspectiva
V V-
P
*
4
-
3 , m
>;<s 1
3? "
& ><3i m
$%:.
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i
.
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.
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W *
w.>%-A
(c) Objeto
\
(d) Ver
Sd R Sr
Estímulo Resposta Reforçamento
Discriminativo
(e) O Processo tc
Eu vejo maçã
55 6t
Sim, você vê
55
de Tatear
Figura 5. Na parte de cima, os estímulos privados e públicos se apresentara quando a criança aprende a dizer
"
Eu vejo maçã", incluindo (a) a perspectiva da relação espacial entre a criança e objetos externos (b) a orientação ,
como a virada de cabeça e direção dos olhos (c) uma maçã, e (d) a atividade privada de ver. Na parte de baixo,
,
(e) os estímulos discriminativos, aue sureem Dara controlar a resnosta. são as orientações públicas e a maçã.
j
O self 151
t
são os mesmos em todos os "eu vejo X" independente do que "X" venha a ser. ,
" "
acontece nas situações eu vejo mas não nas "eu quero" ou em outras ,
" "
Se "eu vejo" fica sob controle dos estímulos privados como sugerimos, ,
" "
entãora resposta eu vejo maçã teria um significado diferente de "aquilo é uma
"
"
-
maçã é agora uma combinação de duas unidades menores onde "maçã" é um
tato controlado peio estímulo público e "eu vejo" um tato controlado pela ,
" "
atividade ver do falante.
que os pais não vêem dentro da criança e devem se ater aos sinais públicos.
Assim as habilidades de discriminação dos pais e a atenção a esses estímulos
,
"
maiores como eu vejo bola " "
vez: a génese da relação (ou sua falta) entre a experiência interna e ver .
pela estimulação privada de ver é a aceitação dos relatos "eu vejo" da criança
em situações onde gs pais não podem ver os estímulos públicos ou estes são
obscuros (por exemplo, um peixe na água que se esconde após o relato da criança,
" "
ou um coelho escondido nas folhas). Os pais que levam os relatos eu vejo das
crianças à sério, quando não conseguem observar o estímulo controlador,
proporcionam um ambiente normal ou não patológico por meio do qual os
estímulos privados finalmente controlam o comportamento. Uma indicação de
" "
"
vejo caminhão e assim por diante.
,
Eu". Tomamos este termo emprestado de Hayes (1984) que discutiu a noção ,
não se encontra (lá). Na Figura 5a, a criança está representada com o tom
mais escuro, é a figura central e todos os outros objetos (pessoa cachorro, etc)
,
"
quero sorvete e "eu vejo coelho" versus "você vê coelho". Os aspectos públicos
da perspectiva também estão envolvidos quando os pais estão modelando a
respísta eu vejo uma boneca enquanto a criança está visivelmente olhando
" "
para a boneca. Os pais estão orientados para a criança e/ou de alguma maneira
indicando quem deve dizer "eu vejo boneca". Se outra criança também se encontra
no quarto, o pai deve agir de modo que fique claro qual criança deve dizer "eu
"
vejo boneca .
"
ter. Assim a resposta Eu" como unidade está sob o controle de estímulo do
,
lugar (locus).
Qualidades do "Eu"
154 Capítulo 6
"
e morre. Tomando-se que o Eu" é controlado por uma perspectiva que nunca
muda é descrito como atemporal. Essas características se assemelham à definição
,
" "
a atividade ver deve ser atribuída a uma entidade que a origina. A teoria
animística parece permear a cultura e as pessoas aprendem a atribuir quase
todas as ações a uma entidade instigante. O corpo pode ser essa entidade que
" "
pratica o ver mas isso nos remete à questão de quem faz o corpo agir e ao
,
dilema mente-corpo. O "Eu" que foi descrito não é experienciado como o próprio
corpo. Assim, para o animista que existe em todos nós, uma fonte aceitável de
"
ação seria o Eu". De nossa perspectiva, com certeza, isso não faz muito sentido.
Seria o mesmo que dizer "a origem de toda ação é um locus".
A consciência também aparece na definição de self Deikman chegou
mesmo a dizer que o self era a consciência. Traduzindo para termos
comportamentais o que consideramos que Deikman quis dizer a consciência é
,
O self 155
que tem consciência alguém que diz "Eu vejo uma borboleta", em oposição a
"
,
"
,
"
borboleta".
Como pode este tatear levar à experiência descrita por Deikman de que
"
o Eu" é a consciência? Em nossa visão a consciência é uma atividade e não
,
uma coisa. Por outro lado, o Eu" ou mais precisamente os Sds controladores
"
do "Eu", são uma coisa e não um comportamento. Dizer que o selfé consciência
é como dizer que o comportamento é uma coisa ou vice-versa Na nossa =
pensamento ,
DESENVOLVIMENTO MAL-ADAPTATIVO DA
EXPERTÊNCTA DO SELF
um número significativo dessas respostas sob controle publico parcial ou total. Assim,
seu senso de self pode ser consideravelmente afetado pela presença de outras
pessoas e suas opiniões, humores, e desejos. É importante notar que não estamos
nos referindo a pessoas não assertivas ou que sabem o que sentem ou querem, mas
têm dificuldade em expressar isso aos outros Mais apropriadamente, estamos
.
f
"
a emergência do Eu" enquanto unidade funcional ficará afetada. Como
"
f
controle de estímulo do locus onde as atividades de ver querer, sentir, pensar,
,
que ela estiver sendo controlada publicamente. Desta forma, um self inseguro
será sentido porque varia de acordo com quem estiver presente. Na realidade o ,
"
se// controlado publicamente variará mais nas relações mais próximas. Como
descrevemos no controle público sobre "eu X", era uma pessoa muito importante
-
um dos pais - que se tornava um Sd. Na vida adulta, o selfirk variar primeiramente
de acordo com outras pessoas significativas. É por esta razão que relações íntimas
podem ser uma fonte de grandes conflitos. Para o indivíduo com um se instável,
a esquiva à intimidade remove essa fonte de instabilidade. Uma cliente que se
"
sinta bem com ela mesma quando está sozinha, mas lamenta que perde a si
"
mesma sempre que entra em algum relacionamento, está descrevendo esse
fenómeno. Dois subgrupos desse problema, dificuldade em conhecer o que o
outro quer e sente e extrema sensibilidade aos outros, são descritos abaixo.
Dificuldade em conhecer o que os outros querem ou sentem.
1
.
Um pai que ensina condicionalmente seu filho um "Eu X", ou seja, que só deve
emitir o comportamento quando o pai deseja que ele assim o faça, poderia ser
uma descrição comportamental da proposta psicodinâmica de que o
desenvolvimento patológico envolve pais que têm dificuldade em distinguir as
necessidades (reforçadores) da criança de suas próprias. O resultado de tais
experiências poderia ser uma pessoa que tem dificuldade em produzir uma
resposta eu quero X na ausência de estímulos públicos visíveis, tais como, a
" "
"
pessoa que formulasse a questão também indicasse qual deveria ser a resposta".
Neste caso, o problema do self seria experienciado principalmente como "não
saber se o que eu quero é realmente o que eu quero, ou se é apenas o que os
'
158 Capítulo 6
ela instiga sua criança dizendo, nene quer doce Por outro lado, se o bebé .
disser "nene qué doce", e ela estiver de mau humor, dirá "não, nenê não quer
doce agora". E se, além desse algodão-doce, a mãe agir desse mesmo modo
"
com todos os doces prazeres, ou seja, ela (1) induz a criança a dizer eu quero
"
sorvete quando na verdade é ela quem quer o sorvete, e (2) ela pune a resposta
da criança (como por exemplo, "você não quer sorvete, acabou de tomar um"),
" "
então, para esta criança, querer prazer não surgirá sob controle exclusivamente
privado. A extensão do controle privado dependerá de o quão sensível esta mãe
for aos desejos de sua criança.
Na melhor das hipóteses, será estabelecida uma discriminação
condicional na qual a criança vai querer os doces apenas quando dois estímulos
estiverem presentes: (1) o estímulo privado de querer e (2) o estímulo público da
mãe também querer. Quando ambos estiverem ausentes a criança não irá querer ,
doces. Ou pior, seu desejo por doces dependerá apenas dos desejos pessoais de
sua mãe num determinado momento. Quando esta criança se tornar um adulto,
umà manifestação de seu problema de self diminuído poderá ocorrer em um
cenário como este: ele está comendo fora com amigos, o garçom pergunta se eie
vai querer sobremesa. O adulto ficará confuso virará para os amigos e perguntará
,
" "
vocês querem sobremesa? e irá querer somente se os amigos quiserem.
,
" "
respostas eu X não icam sob controle privado adequado. Neste caso os pais ,
f
punem ou não reforçam a faixa de respostas que são normalmente controladas por
"
estímulos acessíveis apenas à criança como "eu quero picles eu tenho dor de
"
barriga", "eu acho que ninguém me ama" meu sonho foi realmente assustadof e
"
" "
eu quero mais Pior, um problema severo do selfse desenvolverá, no qual a criança
.
irá "sentir" ou "desejar" apenas quando os pais ou outros indicarem que ela pode
assim sentir ou desejar e para ela será muito difícil se deparar sozinha com seus
,
próprios desejps e vontades. Ou, em uma hipótese melhor, ocorrerá sob controle
" "
privado, um querei" ou sentir" condicional. Em outras palavras, quando a criança
estiver sozinha, estímulos internos controlarão a resposta, mas quando os pais estiverem
presentes, a criança se esquivará ao máximo da punição e maximizará a recompensa
ficando atenta às reações dos pais para emitir uma resposta aceita por eles Tenha em .
mente que não estamos nos referindo ao fato da criança suprimir um relato verbal de
sentimentos ou necessidades. Ào invés estamos discutindo os antecedentes do
,
O self 159
f
prazos).
" "
Em geral quanto menos respostas
,
eu X a pessoa tiver sobre o controle
privado, maior será a coníusão ou dificuldade que ela terá para responder a
questões que tenham a ver com preferências pessoais, desejos e valores, quando
outra pessoa que estiver presente não for transparente em relação aos seus
"
próprios desejos. Essas questões podem incluir: O que você gosta?", "O que
" "
você quer? ,
"Em que você acredita? e "Quais são seus objetivos?"
às opiniões, crenças, desejos e humores dos outros é outra forma para dizer que
" "
o eu X de uma pessoa que deveria estar sob controle privado, está na verdade
sob controle público. Se o sentido de self de uma pessoa é instável, qualquer
percepção ou crítica pode ser experimentada como devastadora, pois seria
" "
questões. Apesar de não aparentar, Irene me revelou mais tarde ter ficado
arrasada com meu comentário sobre sua pessoa, se retraiu, e queria terminar a
t
160 Capítulo 6
T: Gostaria que pensasse nos objetivos da terapia entre agora e a próxima sessão e aí
,
C: [Parecendo agitada] Não sei o que você quer dizer com isso.
T: Não tenho uma noção muito clara de onde quer chegar, e queria que você tomasse
um papel mais ativo. Algumas vezes sinto que trabalho muito para tirar você de
dentro de si quando você não quer falar.
C: [Lágrimas rolam de seus olhos, levanta da cadeira e tenta sair do consultório] Não
posso aguentar mais isso. Estou fora.
T: Não, Shelly, você não vai a lugar nenhum. Sente-se e vamos conversar sobre isso.
C [Soluçando e tendo dificuldades em falar] Eu não achava que algo estivesse errado. Eu
achei que estivesse melhorando em relação a falar. Não posso fazer o que você quer.
T: Só estou tentando falar sobre formas de fazer a sua terapia melhorar e você age
,
1
O self 161
pessoa B diz Não, seu idiota, aquilo é uma laranja". Se a pessoa A acreditar
em sua própria percepção, tomaria os comentários de B como loucura ou diria
que B é que é idiota. Mas se a pessoa A não confiar em suas próprias percepções
(isto é, se a sua resposta "eu X" não estiver sob sólido cohtrole interno) ela
ficaria zangada e desorientada pois sua percepção de mundo foi julgada como
,
sendo errada.
*
*
cresce tentando agradar seus pais pois eles retirarão o amor se ela não o fizer ,
"
atividade privada de ver controlaria a resposta eu vejo Pelo contrário o ver
"
.
,
" "
" "
" "
relativa ausência de Sds privados que controlam o Eu". Uma vez que querer,
sentir, pensar, etc., quase não estão sob controle privado em casos de patologia
extremados, o locus é primariamente externo e depende do comportamento dos
pais. A localização externa dos estímulos que evocam "Eu" seria experimentada
" "
a alguma coisa que estava contida dentro e agora se foi, a presença e ausência
de estímulos que controlam a experiência do self seria tateado como "vazio".
De acordo com Linehan (1987), um ambiente parental inadequado leva
ao desenvolvimento de uma personalidade borderline. Esses pais, em gerai, (1)
invalidam os relatos que a criança faz das experiências emocionais presentes,
especialmente as negativas (por exemplo, não as ouvem com seriedade,
desconfiam dos relatos, agem como se a criança não sentisse aquilo que reporta);
(2) simplificam demais a facilidade das pessoas de se controlarem
emocionalmente, pensarem e agirem, invalidando assim as experiências da criança
com a dificuldade e a necessidade de ajuda; (3) criticam excessivamente ou
respondem punitivamente quando a criança expressa preferências, valores e
crenças que não reflitam aquelas desejadas pelos pais.
A visão comportamental de Linehan é que invalidação é a falta de
reforçadores positivos aos controles privados de respostas da criança. Segundo
sua descrição (mas com nossas palavras), isso interfere no controle privado de
" " " " " " "
, , ,
"
Como já salientado, estas contingências afetam não só a
"
e eu acredito .
experiência do Eu quero", "Eu sinto", "Eu preciso", "Eu acredito", mas também
"
Para ilustrar este modelo, nos reportaremos a Angela, uma cliente que
descreveu como era fazer compras no supermercado com sua mãe. Ela enfatizou
que na maioria das vezes sua mãe era rude e a rejeitava. Ela se lembra de ficar
sentada no carrinho de compras e sentir-se abandonada e confusa. Em uma das
raras ocasiões em que sua mãe estava gentil e mais acolhedora, entretanto,
perguntou a Angela se ela queria alguma guloseima. Seu sentimento de abandono
4
desapareceu, e ela teve ume repentina consciência das coisas boas que queria e
pediu ansiosamente por uma. Assim, controlada pelos estímulos públicos do
" " "
"
privado, a experiência do Eu" seria semelhante em todas as situações Em um .
"
evocador do Eu", de modo que a pessoa ou perderia a noção de self ou
desenvolveria uma noção de self distinta do self ou dos &selfs* evocados por
outros. A explicação de como esse se/fsolitário" pode se desenvolver está
relacionada ao caso mais geral que abrange o modo como falar consigo mesmo
é reforçado e mantido - um assunto discutido no Capítulo 5 sobre cognição.
,
declarações "eu X" para o self de alguém pode ser válido (reforçador) .
Por
"
exemplo, dizer a si mesmo, eu estou cansado e preciso descansar" pode ser útil
na identificação do momento de descanso. Nesses casos é mais provável que o
,
essas condições seria mais consistente e imutável embora pudesse ser menos
,
extenso do que aquele desenvolvido sob uma base mais ampla de "eu X" .
ele mesmo. Um dia inteiro pode passar, com pouca consciência do que está
acontecendo ao seu redor. Apesar de parecer que ele tem uma noção pequena do
selfquando sozinho, esse selffoi experimentado como sendo estável não sujeito
,
aos anseios de outros, e portanto, era uma experiência positiva para ele. Em
contraste, ele considerava uma intromissão que atrapalhava este estado quando
tinha que se relacionar com seu terapeuta ou com a sua mulher. Ele lembrou-se
de ter começado a praticar esses afastamentos durante uma infância caótica e
-
" "
relaxada quando o "Eu" não está sendo controlado por outra pessoa. Uma
das formas dessa esquiva seria evitar todos os outros e tornar-se um eremita.
Uma forma mais prática seria evitar apenas as relações nas quais os outros
exerçam controle sobre o Eu". De nossa perspectiva, sempre que as reaçÕes
"
descreveu, ela perdia sua identidade toda vez que ela ou outra pessoa começava
a se importar. Quando isto acontece", ela diz, "é hora de pular fora".
"
De outro lado, muitas pessoas que têm pouco controle privado sobre o
Eu" consideram quase intolerável estar sozinhas. Hipotetizamos que, além das
"
166 Capítulo 6
"
condições de invalidação que interferiram em seu desenvolvimento do Eu" ,
negligência.
Não é incomum que indivíduos com pouco ou nenhum senso de self
procurem avidamente tanto a solidão quanto a companhia de outros. Uma cliente
desse tipo, Penny, poderia mergulhar em uma série de encontros casuais para
escapar ao seu vazio interior, mas assim que alguém começasse a se tornar
parte mais significativa em sua vida, ela se sentia zangada e sufocada e afastaria
essa pessoa dela. Esse comportamento fazia sentido já que ela esteve sujeita a
um ambiente insuportável em sua infância, tanto com controles aversivos como
também experiências de abandono e negligência.
violentas.
O self 167
tem amnésia é conhecido como host. Apesar do host ter se retirado um outro
,
pode ser um bebé com um repertório muito limitado. Para os clínicos que não
tiveram experiência direta com o Transtorno de Personalidade Múltipla, talvez
seja difícil aceitar a noção de que um alter (ou seja, uma pessoa cuja
individualidade é definida por seu comportamento) pode ser experienciado por
outros (o terapeuta) como pessoa distinta. Ambos os autores tratam clientes
com Transtorno de Personalidade Múltipla e podem corroborar com os relatos
de outros clínicos de que o host e alters são requentemente experienciados
f
como indivíduos diferentes. É condizente com o ponto de vista comportamental
que, em muitos casos, são pessoas diferentes.
A possibilidade de que o Transtorno de Personalidade Múltipla possa
ser disfarçado deve também ser considerada, e há casos documentados desse
fenómeno. Foi também sugerido que o Transtorno de Personalidade Múltipla é
um transtorno iatrogênico, ou seja, terapeutas que procuram dramas e
características teatrais no Transtorno de Personalidade Múltipla podem
inadvertidamente sugerir e reforçar esse comportamento em seus clientes. Mesmo
que não seja diretamente sugerido ou encorajado, tratar esses alters como pessoas
distintas libera contingências para manter essa separação. Um certo apoio para
o papel das contingências no Transtorno de Personalidade Múltipla foi
demonstrado por Kohlenberg (1973) o qual mostrou que as várias personalidades
,
pode ser possível que muitos ou mesmo a maior parte dos casos nunca sejam
diagnosticados.
a experiência do seu Eu" fique sob o controle público). Acreditamos que essa
" "
atividade de ser outra pessoa é facilitada por essas experiências normais da
infancia de selfs separados.
A atividade de ser outra pessoa é geralmente observada em crianças.
Elas brincam de fingir que são adultas, médicos, bruxas, pais e mães. Elas estão
expostas aos estímulos públicos de ver seus pais em ação, tomarem parte como
leitores numa história, ou vendo personagens de desenhos animados na TV.
Esses personagens são estímulos públicos que modelam o modo como a criança
irá agir, sentir e ver. Com uma pequena deixa e encorajamento, a criança
geralmente adota esses papéis. Em qualquer shopping-center, as crianças podem
ser vistas vestidas com a capa do Batman e pulando de bancos, correndo em
roupas de cowboy, ou fazendo barulhos de aviões. Essa parafernália mostra
170 Capítulo 6
como os pais geralmente induzem e reforçam esta atividade. Apesar dos adultos
também poderem "participar em ser outra pessoa", estamos afirmando aqui
que esta experiência é diferente nas crianças. Como a criança tem um self
mais maleável, a experiência é mais real no sentido de que um conjunto maior
de atividades "eu X" pode também ser afetado. Ou seja, a criança pode
realmente experienciar a sensação e a imagem visual de ser grande, forte e ágil
como o Batman (o cliente com Transtorno de Personalidade Múltipla pode na
verdade ver pessoas diferentes quando se olha no espelho, dependendo do
alter presente). Em contraste, o ator adulto está em maior contato com um
senso estável de self e com experiências visuais que o lembram que é uma
pessoa comum que está representando o papel de alguma outra.
Outras contingências podem ajudar a manter o ser outra pessoa. Um
garoto pode ser encorajado diretamente pelos pais a agir como outra pessoa
"
quando lhe dizem Saia e aja como um homem". Ser outra pessoa também
parece ser reforçado em brincadeiras de crianças como polícia e ladrão. Mas, o
que é relevante a este tópico é que ser outra pessoa também pode ser reforçado,
porque reduz a aversividade da punição. Por exemplo, se uma criança é mandada
a seu quarto, e lá finge ser o Super Homem, isso pode distraí-la da condição
aversiva que a levou a estar no quarto. Tenha em mente que a atividade de ingir
f
"
por uma criança, cujo Eu" continua controlado por estímulos públicos pode ,
"
você vê uma estrela brilhando sobre você e ela está ficando maior e mais
brilhante"). Conforme a criança vai crescendo há uma relativa diminuição do
,
hipnotizável diminui.
Em termos do papel do trauma quando um evento altamente aversivo
,
podem emergir. Ser outra pessoa pode ser um desses repertórios; ou seja, se a
criança experimenta ser outra pessoa pode ser funcional fazer isto no momento
,
O self 171
f
aversividade, tendo uma consciência limitada (como um bebé) ou aumentando
a tolerância à dor (como Super Homem).
Ser outra pessoa durante o trauma seria particularmente adaptativo se
o host não se lembrasse do que aconteceu (amnésia). Como discutimos no
Capítulo 4, lembrar é um comportamento que é sujeito às suas consequências
como qualquer comportamento operante. Mesmo sem ser outra pessoa eventos
,
"
Eu", há mais de um "Eu" que pode ser controlado por diferentes estímulos
privados, e pode haver mais de um locus ou perspectiva. Em adição ao locus do
Eu" para o host, pode haver diferentes locus onde a visão do alter ocorra.
"
separadas. Portanto eles devem ser tratados na terapia de acordo com o tipo de
,
pessoa que são. Um alter que descreve a si mesmo como tendo 6 anos seria
tratado de forma diferente de outro que se diz um adolescente. O objetivo do
O self 173
porém esta ainda é menor do que contar os detalhes das experiências dos alters.
Assim como na terapia familiar, paciência e precaução devem ser tomadas a ,
IMPLICAÇÕES CLINICAS
facial e inflexão de voz. Apesar de não ser muito óbvio no início quase tudo o
,
que o cliente fala sobre si mesmo e sobre seus sentimentos e pensamentos pode
estar muito influenciado pelo controle discriminativo do terapeuta. O
procedimento terapêutico que descreveremos almeja a perda desse controle
através do encorajamento e reforçamento da fala na ausência de sugestões
externas específicas. Em outras palavras o tratamento consiste em reforçar os
,
sessão com questões. Isso certamente irá aumentar as chances de evocar CRB2
" "
-
"
este ocorresse. Por exemplo, o cliente poderia dizer Eu não suporto mais isso".
Esse tipo de declaração é uma resposta "eu X" que deveria ser reforçada pelo
terapeuta ao ouvi-la seriamente enquanto que a manutenção da passividade
,
entretanto, seria justamente o que o médico receitou num estágio mais avançado
,
176 Capítulo 6
um sentimento específico, eu lhe dava uma lista para escolher (por exemplo ,
punido por responder, uma vez que lhe era dada uma resposta aprovada no
"
tarefa de associação livre pode ser apresentada com mais ou menos estrutura .
"
são: Diga-me tudo o que lhe vem à mente - todos os sentimentos pensamentos
,
e imagens. E importante não censurar nada. Relate tudo o que vier mesmo que
,
pense que é banal, trivial, embaraçante, não importante, etc". Pedimos ao cliente
para que continue isso sem feedback do terapeuta e até podemos pedir para que
faça isso sentado de modo que o terapeuta ique fora de seu campo visual.
,
f
Nossa visão desta tarefa é que ela requer falar com a outra pessoa (o
terapeuta) com um mínimo de sugestões externas provenientes do ouvinte Sob .
essas condições é possível ao cliente dizer "eu sinto X" ou "eu vejo essa imagem"
,
sob condições que favorecem o controle pelos estímulos privados Como podemos
.
ansiosos e não conseguem realizar esta tarefa devido a uma falta de estimulação
,
"
coisa manchada Você me conta rapidamente o que aparece, mesmo que nada
.
(O cliente é induzido a dar respostas "eu X", e lhe é assegurado que qualquer
resposta é válida.)
C: Ok. (Uma longa longa pausa) Terrível (meio rindo).
,
T: -Bem , tudo bem. Quero que me diga o que é nada. Você também disse que era
terrível , então, em algum momento você deve ter se sentido assim também, certo?
(Uma tentativa de remediar a possível punição na resposta anterior por dizer que
4
"
estava tudo bem em reportar uma mente em branco. Também uma dica de Eu me
"
sinto terrível baseada na presença de estímulos públicos - seu comentário
"terrível" .
)
C: É
T: Então , o que faria é dizer algo como Eu não vejo nada" assim está bem, e
"
,
"
Eu me
O self 179
sinto terrível
ou estou me sentindo ruim porque deveria ver alguma coisa." Veja, o
,
que estou pedindo para relatar é tudo o que está acontecendo, imagens ou nenhuma
imagem como se sente e o que diz a si mesmo sobre isso.
,
quero dizer, eu até tento e mesmo assim tenho problemas com isso.
(Fred indica o quão difícil é a tarefa. Eu entendi o comentário em relação a recuar
como sendo um tipo de resposta de consciência do self Mas também entendi
.
e não pode fugir dela, é isso o que está dizendo? Você não pode se ver tendo essa
experiência?
C: Certo.
T: Ok. Você está disposto a fazer isso? Quer continuar com os olhos fechados por 5
minutos e eu não direi nada a você. O que você vai fazer é experimentar o que está
experienciando e depois tentar me dizer sua experiência. Então, pode icar em
f
silêncio por 5 minutos de modo a se sentir preparado para isso. Talvez 5 minutos
seja muito tempo; diria 2 minutos. Vamos fazer por 2 minutos. Então, quer tentar
dois minutos?
C: Ok. Eu acho [pausa], que parte do problema que tenho, intuitivamente é que não
quero perder o contato com você.
(Esse comentário revela como é importante para Fred ter o feedback de outro, de
modo a realizar a tarefa que supõe-se deveria estar sob controle interno. Note
também que é um CRB3, uma importante e rara descrição das variáveis
controladoras da esquiva e ansiedade em Fred.)
T: Quando você ica fora de contato, então você ica ansioso?
f
(Faz sentido para mim como um behaviorista radical que tem uma teoria sobre
como pais invalidadores afetam o controle sobre estimulação privada e pública.)
180 Capítulo 6
C Não muito.
que isso demonstra um medo básico que você tem em relacionamentos com pessoas
significativas para você. Acho que você necessita ver as reações das pessoas pois
se você confiar apenas na sua impressão verá tudo de forma errada e estará em
,
apuros.
acho que se sente assim e acho que isso reflete sua história.
,
Estou icando mais e mais consciente disso Eu acho que é uma grande barreira
f
.
,
bem, minha cabeça diz que tenho que refazer o meu caminho em torno disso ou
descobrir uma solução.
(Aqui está um CRB2 de sugestão de uma solução para a barreira, ao invés de sua
dissociação.)
O self 181
mas é como se houvesse alguma coisa lá girando humm, talvez meu nível de
,
sobre isso, e chegamos a uma tentativa diferente que se adequasse mais ao seu
nível. E você conseguiu melhorar na tarefa de imaginação. Esse processo não é
nada em comparação com o ocorrido entre você e seu pai. Isso está também
relacionado a alguma coisa que acontece no trabalho. Eles lhe pedem para fazer
algo, e se você não consegue, você simplesmente congela de medo.
(Seguindo a Regra 5, eu fiz uma interpretação baseada em eventos recém ocorridos .
A situação história, comportamento e consequências são dados relacionados com
,
a vida cotidiana.)
C: É verdade. Eu acho que sinto que fiz um pequeno progresso.
T: Certo, eu também acho isso.
" "
"
X como ilustrado no caso de Fred, também deve ser usado. Quarto, o terapeuta
,
deve ter em mente que outros CRBs, além dos relacionados aos problemas de
self, podem ser evocados, e poderão prover oportunidades terapêuticas. Por
exemplo, no caso de Terry, a tarefa de imaginação não apenas evocou um
CRB relacionado ao self mas também relacionado a problemas que ele tinha
no trabalho, ao enfrentar tarefas muito difíceis.
Reforçando tantas declarações "eu X" do cliente quanto possível
teorias e crenças do cliente que diferem das do terapeuta. Entendemos por respeito
o fortalecimento do comportamento do cliente através da reação do terapeuta ,
mesmo que este indique que pensa diferente. Idealmente a reação do terapeuta
,
deveria ser positivamente reforçadora, mesmo que isso também refletisse uma
opinião divergente da do cliente. Um significado especial é dado às declarações
" "
eu X do cliente que diferem das do terapeuta pois são precisamente esses
,
relacionado com uma falta de controle privado sobre o "eu quero" é vital reforçar,
,
se possível, esse tipo de resposta se ela ocorrer. Uma dica importante para saber
" "
sé o eu quero do cliente está sob controle privado (em oposição ao controle
que queria e não podia dizer o que queria, pediu ao primeiro autor para tentar
hipnose, a im de que descobrisse o que queria. Minha primeira reação foi negar
f
e dar a ela as razões pelas quais eu não usava hipnose. Usando minha inclinação
de rejeitar seu pedido como uma pista que assinalava a possibilidade de que seu
" "
querer estivesse sob controle privado minha reação seguinte foi reconhecer
,
privativamente que seu pedido era um CRB2. Vendo que isso era algo que ela
realmente desejava eu mudei de opinião e concordei em hipnotizá-ía.
,
Outro exemplo pode ser visto no caso da cliente que perdeu sua
identidade quando teve uma intensa relação com um homem Eia também .
desenvolveu uma intensa relação com o primeiro autor e me contou sobre suas
experiências paranormais Mesmo que eu pessoalmente não acredite nisso
.
,
O self 183
mais a fundo: (a) Parece que você está prestes a chorar, como se estivesse
realmente ferida por dentro... O que está sentindo?... Está com medo de que se
continuar faiando irá chorar?... Como sua mãe e pai te tratavam quando você
"
era criança e chorava? (b) "O que você quer dizer com 'remoer o passado,?...
O que acontecia antes quando você falava sobre a morte de sua mãe?" (c) "Estou
confuso porque eu realmente quero respeitar seus sentimentos de não querer
falar sobre a morte de sua mãe, mas não quero compactuar com sua esquiva de
sentimentos de dor, porque creio que evitá-los está relacionado com evitar
relacionamentos próximos em geral.... O que acha que a levaria a um maior
crescimento neste momento - forçar você a falar e a sentir os sentimentos sobre
sua mãe ou respeitar seus sentimentos de não querer falar sobre ela, mesmo que
você saiba que é isto que eu quero?... Como podemos satisfazer tanto seu desejo
de não querer falar agora que é importante para o desenvolvimento de seu
,
momentos distintos ao segundo autor por Úrsula uma cliente que eu estava
,
vendo. No início , minha reação era, a cada vez, assegurar a Úrsula que isso
não era verdade , e toda vez ela se zangava pois não se sentia reconhecida por
O self 185
mim. Ela sabia que, apesar de a minha afirmação ser importante, não permitia
que ela descrevesse os sentimentos com os quais estava entrando em contato.
Gradualmente, ela me treinou a combinar minha reafirmação com a
permissão para que ela tivesse a oportunidade de explorar seus sentimentos.
"
Você com certeza não é uma vagabunda, mas conte-me seus sentimentos e
pensamentos sobre ser uma vagabunda, antes que eu te diga por que eu acho
"
que não o é "A pesquisa sobre esquizofrenia indica que se você não a
.
desenvolveu ainda, é praticamente impossível que o fará. Mas deve ser assustador
"
dizagem no qual eles possam ser evocados. A FAP é uma ferramenta particular-
mente construída para esta tarefa.
Psicoterapia Analítica Funcional
Uma ponte enire a Psicanálise e a Terapia
Comportamental
uma relação terapêutica que seja profunda e emocional. Carl Rogers por ,
"
exemplo, comentou: Para mim [o mundo de Skinner] destruirá a pessoa humana
enquanto aquela que conheci...na relação...nos momentos mais profundos da
"
psicoterapia (1961, p. 391).
Mesmo aqueles que aceitam a idéia de que o behaviorismo radical pode
levar a uma ênfase na relação terapêutica afirmam que a Psicoterapia Analítica
Funcional (FAP) pouco adiciona àquilo que já é postulado nos sistemas de terapia
"
existentes, e questionam Então, o que há de especial?". Nós temos duas reações
a essas afirmações. Primeiramente, concordamos com que o foco dado pela
FAP à relação terapêutica está de acordo com as tendências vigentes no campo
da psicoterapia. É particularmente interessante que a FAP e a psicanálise sejam
similares a esse respeito, visto que derivam de bases filosóficas e teóricas bem
diferentes. Pontos em comum entre tratamentos que advêm de origens tão diversas
são intrigantes, pois podem sugerir variáveis universais que são especialmente
187
188 Capítulo 7
Transferência
passado do cliente. Ele afirmou que essa "relação emocional intensa entre o
[terapeuta] e o cliente", a qual é baseada no passado, surge em toda análise e
"
que, de fato, é impossível uma análise sem transferência" (1925 p. 42).
,
condicionadas na pele para a palavra cow (vaca), mas não para a palavra
yarn (fio). Portanto, a transferência ocorreu em uma dimensão funcional
" "
"
Do ponto de vista da FAP, tudo que o cliente faz durante a sessão (diz,
sente, pensa, percebe, etc.) são comportamentos aprendidos que ocorrem devido
a 1) similaridade funcional entre os estímulos presentes durante a sessão e aqueles
*
Definindo comportamento-problema
4
não pelo terapeuta. Por exemplo é óbvio que nem todo comportamento
,
" "
que o terapeuta julgue isso como transferência. De igual modo, o terapeuta deve
fornecer um contexto a partir do qual poderá julgar a inadequação de um
comportamento. É possível, por exemplo, que um terapeuta tenha valores sexistas
inconscientes que o levem a classificar o desejo de uma paciente do sexo feminino
de se entregar inteiramente à carreira, como um comportamento neurótico ou
impróprio.
Do ponto de vista da FAP, incluir os critérios de anormalidade na
definição de transferência cria efeitos clínicos diversos. Tal definição poderia
servir como regra que leva o terapeuta a perceber os comportamentos
problemáticos que ocorrem dentro da sessão e especificados na definição, e isso
poderia ter efeitos positivos para o cliente, caso os seus problemas diários
estivessem incluídos nesses comportamentos. Porém, no lado negativo, um
comportamento importante que não estivesse incluído nessa definição poderia
passar despercebido.
Mesmo que um CRB seja identificado, um problema ainda mais sério e
preocupante é o do impacto causado por uma regra nos efeitos reforçadores ou
punitivos da resposta do terapeuta ao CRB. Perceba que ajuda ser capaz de
192 Capítulo 7
f
horário de sua consulta pode ser apropriadamente considerado como neurótico,
de acordo com a definição de transferência. Se, ao contrário, o cliente tem sido
historicamente despreocupado a respeito de compromissos e horários, então a
preocupação com o tempo pode ser considerada uma melhora. Nesse último
caso, o terapeuta, que é guiado por uma visão ixa e não-contextuai do que não
f
é saudável, pode oferecer uma interpretação que, sem intenção, acabe punindo o
comportamento que indica melhora. Pelo fato de definições formais de
anormalidade ignorarem o contexto, o terapeuta vê o comportamento como
neurótico, inapropriado, ou estereotipado, e é provável que as suas reações
naturais tenham efeitos punitivos não intencionais.
Real ou não?
27). Uma visão menos extremista foi apresentada por Alexander e French (1946),
que sugeriam que antes da reação do cliente ser classificada como transferência,
"
o analista deveria excluí-la como uma reação normal em relação ao terapeuta
"
parte do processo psicanalítico, tal interação poderia ser benéfica, pois seria
uma descrição de relacionamentos funcionais requerida na Regra 5.
,
essa visão poderia ter implicações clínicas negativas pois presume uma
,
Psicoterapia Analítica Funcional 193
eu estou certo e você está errado" pode não ser talvez, problemática quando o
,
"
mais típicos do cliente, tais como: Eu não acho que você realmente se importa
" "
o bastante comigo "Você está cansado de mim ou ainda Terapia custa muito
"
, ,
diferente de sua própria percepção. Isso, por sua vez, poderia privar o cliente da
oportunidade de aprender como processar e resolver uma situação interpessoal
na qual cada pessoa tem uma visão diferente, porém justificável, do mundo.
Similarmente, um cliente submisso que tenha um inadequado senso de autocrítica
poderia vir a ser punido por ser assertivo quando a sua visão da realidade diferir
da de seu terapeuta. Temos preocupações parecidas quando a validação da
percepção do cliente pode ser essencial para a sua melhora (ver Capítulo 6). Tal
validação necessária pode ser limitada ou dificultada pela noção distorcida da
realidade.
que criava, durante o tratamento, condições que trariam mudanças para o cliente.
Stone (1982) escreveu que "as melhores lições... [ocorrem] no relacionamento
terapêutico entre duas pessoas ou seja, no fenómeno de transferência. Pelo fato
,
uma sessão está sujeito ao aprendizado ou é resultado dele. Na pior das hipóteses,
,
Enquanto essa regra encorajar o CRB, ela terá efeitos clínicos positivos. Porém ,
se essa regra não fizer menção aos princípios do aprendizado ela não dá ao
,
neutralidade que afirma que o médico não deveria ser transparente em relação
aos seus pacientes mas, como um espelho, deveria refletir apenas o que é mostrado
"
a ele (Freud, 1912, p. 118). Searles (1959) também alertou para as reações
emocionais do terapeuta, descrevendo-as como tentativas por parte do terapeuta
de levar o paciente à loucura. A regra implícita é obvia - ser ponderado, não
reagir emocionalmente, e não se auto-revelar. Do ponto de vista da FAP, se o
comportamento de ser impassível e de não mostrar reações torna o terapeuta
parecido com o pai ou a mãe do cliente, evocando assim o comportamento
problemático deste, então isso pode ser uma boa coisa a se fazer (desde que o
terapeuta não esteja alterando deliberadamente seu comportamento, de tal maneira
que possa trazer à tona os perigos do reforço arbitrário, conforme discutido no
primeiro capítulo). Baseando-se no conceito de generalização, entretanto, é mais
provável que o CRB que envolve confiança, medo, amor, ódio, decepção e outros
sentimentos parecidos, sej a evocado por um terapeuta que reage positivamente
ou negativamente em relação ao cliente e que estej a querendo, ocasionalmente,
reveiar-se. O CRB é, portanto, mais provável de ser evocado por um terapeuta
que apresente uma grande variedade de estímulos interpessoais do tipo que são
passíveis de ocorrer em relações mais íntimas e significativas.
A confusão psicanalítica, no que diz respeito ao papel do aprendizado,
pode também interferir no processo de reforçamento. Por exemplo, consideremos
196 Capítulo 7
A Aliança Terapêutica
mesmo quando prefere não ir conversar com o terapeuta mesmo quando isso é
,
fortalecendo-os desse modo. Nós vemos isso como um efeito positivo pois o ,
terapeuta está respondendo até certo ponto, de acordo com as maneiras requeridas
,
em fazer associações livres possa ser considerada uma melhora que precisa ser
,
de Sterba (1934) da aliança terapêutica envolvia uma das duas partes do ego.
Uma parte (defensiva) é governada por forças repressivas e instintivas que
interferem na terapia, enquanto que a outra parte (aliança terapêutica) é realista ,
você quando disse que te odiava", (2) "Eu tenho sentimentos de ódio por você",
(3) "Eu odeio você", (4) "Grrrrr" (emitir qualquer som de irritação, ódio), e (5)
bater nos móveis do terapeuta. O primeiro, logicamente, seria considerado uma
boa resposta de aliança terapêutica. Uma cliente com um histórico de
comportamento violento, no entanto, pode ter apenas o quinto comportamento
no seu repertório, revelando, desta forma, falta de aliança terapêutica. Partindo
da perspectiva da FAP, neste caso a ocorrência do quarto comportamento poderia
ser encorajada e reforçada como um comportamento melhorado.
Até agora mencionamos dois componentes da teoria psicanalítica:
transferência e aliança terapêutica. Outros aspectos importantes da teoria
psicanalítica tradicional podem ser resumidos brevemente: (1) um modelo de desejo
é enfatizado, onde desejos instintivos e impulsos libidinosos são nossas forças
motivacionais primárias; (2) o id, o ego e o superego são considerados estruturas
primárias da psique humana; (3) o período edipiano é enfatizado; o desenvolvimento
psicológico mais favorável está ligado a ocorrências que acontecem no quinto ou
sexto ano de vida; (4) o pai ocupa um papel central, por criar medo de castração
no menino e sentimento de inveja do pênis na menina e tem poderosa influência
no fato da criança trabalhar com êxito ou não, o período edipiano; e (5) a
,
terapia das relações objetais com a FAP. Finalmente iremos resumir como a FAP
,
Relações Objetais
"
consideradas a pedra fundamental ou base da existência; entender como os
"
" '
o cliente está reagindo de maneira dependente porque foi estimulado a fazer isso
no passado, e, provavelmente, quando criança era punido se mostrasse qualquer
,
Assim, essas visões parecem ter tido pouco impacto na área. Ao contrário quando
,
flooding" para "superar esse impasse". Ao citar esse caso como um exemplo
de como superar uma dificuldade técnica, o "medo do sucesso" dentro do processo
terapêutico, Sweet desconsiderou a importância deste fator como uma ocorrência
de um problema que tinha impacto significativo em outras áreas da vida do
cliente. Além disso, não foram levados em consideração os benefícios potenciais
que a superação da dificuldade técnica poderia ter tido na vida do cliente.
" "
204 Capítulo 7
diferente do comportamento que deve acontecer na vida real, mesmo que eles
possam parecer iguais. Ignorar os aspectos funcionais do comportamento é como
ignorar a diferença entre aprender a pronunciar uma frase em francês sem saber
seu significado, e aprender essa mesma frase conhecendo o idioma. As frases
podem parecer exatamente iguais para o ouvinte, mas elas são funcionalmente
muito diferentes. Pode-se encontrar uma alusão a esse problema em uma revisão
feita por Scott, Himadi e Keane (1983), da literatura que trata da generalização
do treinamento das habilidades sociais. Eles concluíram que a falta de
generalização demonstrável é responsável pela aceitação limitada do treinamento
das habilidades sociais como forma viável de tratamento. Do ponto de vista da
FAP, a falta de similaridade funcional entre o ambiente de treinamento e o natural,
que é típica do treinamento de habilidades sociais, não fornece nenhuma garantia
de que o comportamento treinado será transferido para uma situação real e que
,
que confirmam a eficácia da FAP ainda não foram reunidos. Por essa única
razão, faz sentido tentar a terapia comportamental como primeira intervenção
e só depois complementar com a FAP, conforme for necessário.
A FAP foi desenvolvida dentro do contexto da terapia comportamental .
No início era usada quando esta parecia ser ineficaz. Agora a FAP está sendo
usada em conjunto com a terapia comportamental desde o início e às vezes,
,
f
fornecidas pelo terapeuta durante a terapia comportamental. Para clientes cujos
problemas envolvem docilidade excessiva, rebeldia, culpa ou ansiedade por não
corresponder às expectativas, essas tarefas naturalmente abrem uma oportunidade
para a FAP.
valor. O seu dia-a-dia não estava funcionando bem, e a sensação era de estar se
afogando Sem sentir nenhum entusiasmo pela vida, ela confessou ter
"
.
"
que ela nunca tinha tido uma relação íntima. Tradicionalmente, os tratamentos
comportamentais evitam esses problemas pouco específicos e os deixam para
terapeutas psicodinamicamente orientados. Todavia nós acreditamos que esse
tipo de problema do cliente pode ser submetido a uma análise comportamental.
Muitos dos repertórios a serem modelados eram aqueles necessários a
relacionamentos íntimos. Além disso, muitos dos CRBls de Melissa seriam
206 Capítulo 7
duração, que não permite facilmente uma avaliação dos resultados nos moldes
tradicionais.
O meu papel na terapia com Melissa foi ser uma pessoa "real" ,
" "
verdadeira com quem ela poderia relacionar-se e brigar. Ou seja, eu não
,
escondi minhas emoções meus valores e nem minhas opiniões. Por essa razão,
,
evoquei os problemas que ela tinha em formar e manter uma relação íntima .
Trecho 1
Quando eu o faço, não sei prever minha reação ou a sua. Eu me preocupo com o
que você irá pensar. (Esse é um CRB2 significativo, uma vez que Melissa raramente
relatava seus sentimentos .
Relatos desta natureza são encorajados pela FAP e pela
psicanálise.)
T: Eu me sinto mais próxima de você quando você me deixa saber quem você é (Eu .
C: Eu nunca senti meus sentimentos tão próximos da superfície antes nunca os senti
,
T: Como será para você não me ver por 4 semanas? (Um enfoque dado ao fato do
terapeuta sair de férias é um procedimento padrão dentro da FAP e da psicanálise .
FAP oferece uma explicação comportamental para se fazer isso em alguns casos ) .
C: Difícil, pois me sinto muito ligada a você. Esse é o único lugar onde posso falar ,
chorar, fazer o que quiser. O fato de não te ver por um mês é uma chance para eu
tentar me relacionar mais intimamente com as pessoas de quem eu gosto (Isto é.
um CRB2 uma resposta importante tanto para a FAP quanto para a psicanálise.)
,
T; Eu também vou sentir saudades. (É permitido fazer isso na FAP porém não na
,
psicanálise.)
Trecho 3
Trecho 4
T: Você realmente se abriu para mim, para você mesma e para os outros. Você saiu do
período suicida, e está aprendendo mais sobre o que te coloca e te tira destes estados
de espírito, está correndo mais iscos, aprendendo mais sobre o que você quer, sobre
r
o que sente e como conversar a respeito desses sentimentos. Você está mais consciente
sobre sua sexualidade. (Essa é uma interpretação que traz aspectos de interesse tanto
para psicanalistas quanto para terapeutas comportamentais. A comparação entre o
comportamento dela dentro da sessão e o comportamento que ocorre na vida real é
característica da psicanálise. A ênfase dada ao relacionamento funcional entre o seu
comportamento e o seu humor na vida diária é mais característica da terapia
comportamental. A interpretação da FAP contém elementos de ambos.)
208 Capítulo 7
T: Eu estou te dizendo o que penso, portanto você deve reagir de alguma maneira em
" "
relação a isso mas você simplesmente diz nada e eu não sei o que está
, ,
são evitadas por psicanalistas. A FAP fornece uma razão para explicar como e
quando a abordagem da terapia comportamental é apropriada. E também explica
quando a passividade psicanalítica seria mais eficaz.
Em resumo esperamos que a FAP possa mostrar as falhas e ainda incluir
,
"
TEMAS ÉTICOS
209
210 Capítulo 8
Proceda cuidadosamente
amplos repertórios. Por exemplo durante a FAP, o cliente pode aprender pela
,
primeira vez a confiar em outro ser humano. No entanto, essas mesmas variáveis
Reflexões 211
"
se um ermitão porque o baixar a guarda" que acontece quando uma pessoa
confia pode evocar esquiva e fuga acompanhada de dor.
Visto que é comum o CRB1 ser um comportamento controlado
aversivamente, é necessário, requentemente que exista alguma aversividade
f ,
para: 1) evocar o CRB que é requerido para a FAP, e 2) bloquear a esquiva que
se segue. Embora a pouca aversividade atrapalhe o progresso porque a esquiva
do cliente é suficientemente reforçada na sessão muita aversividade pode ser
,
caso, quando um colega o critica por um pequeno erro ele fica emocionalmente
,
sutis, e às vezes não tão sutis de preconceitos e discriminações, pode ter valores
,
consistentes com essa cultura Valores se referem aos reforçadores para a pessoa;
.
requeiram asserti vidade, igualmente um homem que foi punido por demonstrar
,
fato de que o viés pode ser sutil e não ser observado pelo terapeuta Como .
" "
real aconteceu. Igualdade em todas as suas dimensões não é uma condição
necessária para que alguma coisa real aconteça.
Em terceiro lugar, em termos de equilíbrio do poder nossa visão é de
,
que o desequilíbrio não pode ser considerado bom, mau, ou neutro, sem se
estabelecer o contexto. Se o poder desequilibrador é terapêutico ou não depende
,
a terapia pode prover uma oportunidade ideal de aprendizagem para este cliente ,
abuso.
pode ser contraterapêutico. Mais problemáticos ainda do que dinheiro são outros
reforçadores possíveis para o terapeuta como a subserviência do cliente, sua
,
terapeutas à FAP.
SUPERVISÃO DA FAP
Supervisor: Eu estou contente por trabalhar com você. Eu penso que você é realmente
especial e sinto uma familiaridade e tranquilidade com você que é raro eu sentir
,
Supervisor: Eu sinto da mesma maneira. Eu não sei se nós temos que fazer alguma
coisa sobre o nosso sentimento de intimidade. Eu tenho uma tendência de me
envolver rapidamente e com intensidade em relacionamentos, oor isso eu eostaria
1 ' ± W
de aguardar e sentir a intimidade entre nós, aproveitá-la, falar sobre ela, e observar
o que acontece.
2.Quando o seu cliente fala de coisas que você pensa que são irrelevantes ,
que você sente quando ele está chorando? Quais são seus sentimentos
sobre o choro?
ó Eu.
gostaria que você fizesse uma lista sobre o que você sente ser
adequado querer no nosso relacionamento, e o que você considera não
ser adequado querer. (Essa proposta é semelhante àquela que o
supervisando deveria dar ao seu cliente.)
Então, em supervisão, não somente a FAF é ensinada didaticamehte ,
PESQUISA E AVALIAÇÃO
e os recursos necessários para esse estudo são imensos. Como a FAP está em
seus estágios iniciais de desenvolvimento o comprometimento de verbas para estes
,
estudos é ainda prematuro e sem justificação. Mesmo que estes obstáculos possam
ser transpostos, ainda há razão para questionar a necessidade deste tipo de estratégia
de pesquisa para os nossos objetivos atuais. Na próxima seção, analisaremos as
,
"
nossa primeira questão é , Qual é o objetivo da pesquisa clínica?" De uma
perspectiva funcional, estamos perguntando, "Quais são as contingências que
mantêm os pesquisadores empregando um método específico de pesquisa?"
Embora as contingências sociais incluam solicitações para publicação , avanço
na carreira, aceitação por outros pesquisadores e agências inanciadoras, a razão
f
Reflexões 2X9
f
as atividades do pesquisador.
O que supõe-se que aconteça e o que realmente acontece não são a mesma
coisa. De acordo com Barlow um pesquisador clínico renomado, a pesquisa
,
"
clínica influencia pouco ou nada a prática clínica (1981 p.147). Isso é verdadeiro
,
queixas vagas e subjetivas. Uma vez que os sujeitos de pesquisa tendem a ter
problemas objetivos e específicos, e as informações sobre os sujeitos individuais
não são disponíveis, o clínico pode não encontrar estudos sobre problemas
encontrados em sua prática. Em uma palavra, as estratégias de pesquisa
convencional produzem informações pouco relevantes para a prática clínica.
Outra crítica referente às estratégias de pesquisa convencional é que
elas não levam a inovações na teoria ou tratamento (Mahrer, 1988). Assim,
uma outra razão pela qual os clínicos não utilizam na prática as descobertas da
pesquisa, é que elas contribuem pouco com novidades. Podemos, no entanto,
dar crédito às metodologias das pesquisas convencionais ao considerar que estão
envolvidas em auto-exame, colocando seus métodos em questão (Barlow, 1981;
Greenberg & Pinsof, 1986; Rice & Greenberg, 1984). Porém, as alternativas
são pouco claras. Na próxima seção, lidaremos com esse problema
funcionalmente, observando o que influencia a prática, fazendo então
generalizações sobre os dados considerados.
Primeiro
ela sensibiliza o terapeuta para tendências e classificações de
,
Quarto, são feitas descobertas. Por estar envolvido naquilo que acontece
de momento a momento, no decorrer da terapia, o terapeuta observa os efeitos
de inúmeras intervenções, intencionais ou acidentais, podendo assim fazer
descobertas.
qualquer modo, esse critério pessoal não é nem mais nem menos igoroso quando
r
imediato for o efeito mais fácil atribuir esse efeito a uma intervenção específica.
,
imediatos.
transcritas ou parte do material original é incluído nos estudos de caso. Eles são
próximos dos dados brutos obtidos na experiência pessoal.
5 Descrições do cliente. Além das projeções futuras ressaltadas as
.
,
precisa ser mais desenvolvido para que orientações adicionais sejam fornecidas
ao terapeuta de modo que ele possa detectar e reforçar adequadamente os CRBs .
para aqueles que têm a sorte suficiente de não precisar lutar para conseguir
satisfazer necessidades básicas de alimento e abrigo. Quando sentamos em nossos
consultórios fazendo a FAP, parece que simplesmente ajudar pessoas a conduzir
suas vidas de maneira mais feliz e produtiva não é suficiente em um mundo que
deve enfrentar a pobreza, o crime, a fome, o consumo de drogas a poluição, a
,
cardíacos. Além disso, a quantidade de grãos utilizada para produzir uma refeição
de carne poderia ser usada para servir dez refeições. A energia e a água utilizadas
na produção de carne estão onerando nossos recursos naturais e contribuindo
,
ambiente global. Essas contingências mais tardias entretanto, são quase impos-
,
síveis de serem contatadas diretamente e por isso, não têm forte efeito emocional
,
na maioria das pessoas. Todavia esses fatores poderiam ter um papel reforçador
,
Reflexões 227
experiência direta com a alimentação dos animais poderia por exemplo, dar
,
que estas contingências poderiam ter. Da mesma maneira, nós somos afastados
de outras contingências profundas. Por exemplo nós estamos resguardados
,
dos sem-teto dos famintos, dos idosos em seus asilos, das pessoas morrendo,
,
do tratamento de água potável do corte das árvores para fazer papel, e dos
,
acontece.
mesmos, nós sugerimos que de alguma forma elas podem aumentar o contato
com contingências externas e ocultas. Por exemplo, o ato de meditar é inconsis-
tente com muitas das regras-padrão da sociedade que nos separam das contin-
"
depressão" (p. 568) nas pessoas de nossa cultura. Não estamos sugerindo de ,
forma alguma, que todos precisam retornar a uma vida simples e espiritual .
Mas, talvez alguma variação em nosso atual estilo de vida que aumentasse a
,
CONCLUSÃO
que outras interpretações, seu valor será medido pela sua utilidade. Se este
livro produzir apenas uma intensa e significativa relação terapeuta-cliente que
,
de outra forma não ocorreria então, para nós ele terá sido válido.
,
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Os terapeutas comportamentais especialmente
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ISBN 85-88303-02-7