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Funcional

Criando Relações Terapêuticas


Intensas e Curativas

Robert J. Kohlenberg
Mavis Tsai
A Psicoterapia Analítico
Funcional, uma proposta
teórica e aplicada inserida no
campo da Terapia
Comportamental e Cognitiva,
foi desenvolvida por
Kohlenberg e Tsai ao longo da
década de 1980, e contribuiu
significativamente para se
compreender por quais
mecanismos a relação entre um
terapeuta e seu cliente afeta os
processos de mudança. São
discutidos nesta obra

importantes aspectos
conceituais, acompanhados por
transcrições de interações
terapêuticas e suas respectivas
análises. Terapeutas de
diferentes abordagens,
experientes ou novatos, todos
estão convidados a estabelecer
com os autores uma espécie de
diálogo. Kohlenberg e Tsai nos
oferecem seu sofisticado
raciocínio clínico, baseado em
uma visão científica a respeito
do comportamento humano, o
qual certamente irá atrair a
atenção dos profissionais
brasileiros nas áreas de
Psicologia e Psiquiatria.
Psicoterapia Analítica
Funcional
Criando Relações Terapêuticas
Intensas e Curativas

+
Psicoterapia Analítica
Funcional
Criando Relações Terapêuticas
Intensas e Curativas

Robert J. Kohlenberg
Universidade de Washington
Seattle, Washington

e
i

Mavis Tsai
Psicóloga Clínica
Seattle, Washington
Tradução
Organizadora
Rachel Rodrigues Kerbauy

Traduzido por
Fátima Comte
Mali Delitti
Maria Zilah da Silva Brandão
Priscila R. Oerdyk
Rachel Rodrigues Kerbauy
Regina Christina Wielenska
Roberto A. Banaco
Roosevelt Starling
Reimpressão

Editores Associados
Santo André, 2006
4

Kohlenberg. Robert J. (1991)


Psicoterapia Analítica Funcional: Criando Relações Terapêuticas Intensas e
Curativas / Robert J. Kohlenberg e Mavís Tsai.

Inclui referências bibliográficas e índice remissivo


ISBN 85-88303-02-7
Terapia Comportamental. 2 Psicoterapeuta e paciente. I. Tsai. Mavis. II. Título
1 .
.

(DNLM: 1. Comportamento.2.Relaçõesterapeuta-pacierite.3.Terapia psicana-


lítica. 238págs.
WM.460.6 K79f]
RC489.B4KÕ5 2001
616.89,I42-~cc20 91-21357
CIP.

Versão em Língua Portuguesa

Editora: Teresa Cristina Cume Grassi

Revisora: Irene Forlivesi

Título do original (inglês)


Functional Analyíic Psychotherapy
Creating Intense and Curative Therapeutic Relationships

Copyright (vCJ 1991 Plenum Press New York


,

A Division of Plenum Publishing Corporation


233 Spring Street, New York N.Y. 1033
,

Direitos exclusivos para Língua Portuguesa


Copyright @2001 ESETec Editores Associados

Editores Associados
A solicitação de exemplares poderá ser feita à ESETec
(11) 4990 56 83/ 4438 68 66
www.esetec.com.br
eset@uol.com.br
Aos nossos pais
Jack e Bess Kohlenberg
Edwin e Emily Tsai ,

cujo amor constante, apoio e orgulho


foram o sustentáculo de nossas lutas e
Prefácio
Edição de Língua Portuguesa

Nós nos sentimos profundamente honrados pela tenacidade demonstrada por


nossos colegas brasileiros na produção da edição em português do livro Functional
Analytic Psychotherapy (FAP). Por muito tempo o Brasil tem se destacado na
aplicação da análise do comportamento aos problemas clínicos e este livro
,

posiciona a FAP dentro desse género. Nossos colegas brasileiros estão


empenhados em várias pesquisas instigantes e no desenvolvimento da FAP, e
nós temos uma dívida de gratidão para com eles pelo trabalho que tiveram na
,

tradução desse livro. Robert Kohlenberg mantém relações de amizade com quase
todos os que contribuíram para esta tradução e guarda lembranças agradáveis
de momentos em que estiveram juntos.
Traduzir um livro de psicoterapia analítica funcional (FAP) é uma tarefa
difícil, devido às sutilezas dos conceitos teóricos e à sensibilidade para temas
culturais que se faz necessária. Os tradutores mantiveram contato conosco e
temos a certeza de que eles fizeram um trabalho muito bom. Nós gostaríamos de
agradecer por seu trabalho, às seguintes pessoas: Irene Forlivesi pelo prefácio,
,

Roosevelt Starling pelo Capítulo 1, Regina C. Wielenska pelo Capítulo 2, Maly


Delitti pelo Capítulo 3 Roberto Alves Banaco pelo Capítulo 4, Fátima Conte
,
Prefácio

pelo Capítulo 5, Priscila Derdyk pelo Capítulo 6, Maria Ziíah Brandão pelo
Capítulo 7, e Rachel Rodrigues Kerbauy pelo Capítulo 8.
Em especial, desejamos expressar nossa profunda gratidão a Rachel
Rodrigues Kerbauy, por ter iniciado e coordenado este árduo empreendimento, O
trabalho de todos neste livro nos ajuda a alimentar o sonho de que um público cada
vez maior de terapeutas e de clientes pode ser inspirado e enriquecido pela FÂP.

R J. K.
.

M T.
.

*
Prefácio

Este livro nasceu da experiência acumulada ao longo de muitos anos tratando


,

e pensando a respeito de nossos clientes. Nós encaramos este trabalho como


um manual de tratamento que contem orientações para a criação de relações
terapêuticas que sejam profundas intensas, significativas e benéficas. Este livro
,

não é uma coleção de técnicas mesmo tendo a inclusão de várias delas. Mais do
,

que isto, nós descrevemos um referenciai teórico que pretende servir de guia
para a atividade do terapeuta. Embora a teoria da qual fazemos uso seja
particularmente muito adequada para a nossa proposta, nós perdemos a maioria
do nosso público no momento em que mencionamos seu nome. Desta forma, os
próprios alicerces com os quais contamos, podem prejudicar o nosso desejo de
compartilhar a estimulação intelectual e os nossos insights clínicos.
É difícil para os clínicos adotarem novas técnicas que leram em um
livro. Eles não estão particularmente propensos a serem receptivos quando estas
técnicas estão baseadas numa teoria que provoca uma forte reação negativa.
Entretanto, esta teoria é amplamente mal-interpretada e mal-compreendida; como
consequência o primeiro capítulo fornece explicações sobre os principais tópicos
,

do behaviorismo radical abordando alguns desses mal-entendidos (talvez você


,

ix
x Prefácio

não tenha notado, mas nós omitimos o nome da teoria). No Capítulo 1, nós
também mostramos como o behaviorismo radical conduz o foco da atenção
para a relação terapeuta-cliente.
Pretendia-se que este livro fosse lido mais ou menos na sequência, mas
isto não é obrigatório. Cada capítulo é praticamente independente do outro,
porque muitos dos conceitos menos conhecidos são retomados, mesmo que eles
já tenham sido apresentados num capítulo anterior. Os temas de conteúdo mais
teórico e abstrato estão contidos nos três primeiros capítulos, e nos capítulos
seguintes a ênfase maior é dada à aplicação clínica. Para alguns leitores, iniciar
a leitura por estes capítulos mais clínicos poderia avivar o interesse em examinar
os capítulos teóricos anteriores. Nós esperamos que, ao percorrer os capítulos e
observar novas formas de aplicação dos conceitos, ocorra um efeito cumulativo
e os conceitos se tornem mais compreensíveis.
No segundo capítulo, nós evidenciamos os princípios de como fazer
psicoterapia analítica funcional (FAP). Embora forneçamos cinco princípios,
somente o primeiro é realmente necessário, e esperamos que seja este a ser
"

guardado na memória: prestar atenção aos comportamentos clinicamente


"
relevantes ; é nisto que se concentra este livro.

Talvez o terceiro capítulo venha a ser o mais difícil. É a primeira vez


que são apresentados alguns dos conceitos do comportamento verbal. Também
é explicado um sistema que analisa o que o cliente diz. Uma 'saída de emergência'
é oferecida aos leitores que não querem perder tempo no aprendizado do sistema,
ao contrário, querem dirigir-se diretamente para as principais conclusões.
As emoções e o afeto são fundamentais no processo terapêutico. Contudo,
nós seguimos por um caminho ligeiramente diferente daquele da maioria dos
outros sistemas terapêuticos. Concluímos que, por um lado, os sentimentos não
causam os problemas de um cliente nem são os responsáveis pela mudança
terapêutica. Mas, por outro lado, a terapia não funciona se os sentimentos não
ocorrem. Este e outros paradoxos são explicados no Capítulo 4, no qual se
espera que a nossa discussão sobre a expressão dos sentimentos traga uma luz
adicional a este tópico polemico.
Todas as pessoas pensam e têm cognições. Além disso, as cognições
têm um papel primordial na terapia. No Capítulo 5, nós expomos de uma nova
forma a visão do behaviorismo radical sobre estes fenómenos, resultando em
uma abordagem que acreditamos, será útil aos psicoterapeutas, inclusive aos
,

terapeutas cognitivos.
4

Prefácio xi

Neste livro, a aplicação da teoria behaviorista se estendeu para além


dos seus domínios costumeiros. Esta extensão ocorre em seu maior grau no
Capítulo 6, no qual abordam-se os problemas do self, um tópico esporadicamente
discutido nos círculos behavioristas. Nós apresentamos o self como uma
experiência altamente pessoal que se manifesta de diversas maneiras, algumas
mais adaptativas do que outras. Borderline, e transtorno narcisista e de
personalidade múltipla estão incluídos entre as formas mal-adaptativas que
colocamos em discussão. Nós explicamos os problemas do self como sendo o
resultado de várias condições externas que acontecem durante o desenvolvimento,
tanto normal quanto patológico, na infância.
No Capítulo 7, nós desafiamos a afirmação de que a focalização da
FAP na relação terapêutica nada mais é do que a psicanálise com nova leitura.
São examinados os conceitos psicanalíticos de transferência e aliança terapêutica
e o modelo relacional da terapia de relações objetais. Argumenta-se sobre a
questão da FAP ocupar um espaço único entre as terapias psicodinâmicas e
comportamentais atuais.
Dependendo de qual seja o interesse dos leitores, alguns podem considerar
que nós deixamos a melhor parte para o final. Nosso último capítulo se aprofunda
nas precauções éticas, no processo de supervisão, nos problemas inerentes à
metodologia tradicional de pesquisa e suas implicações para a pesquisa da FAP,
e em como os princípios da FAP podem ser ampliados para que consigam
abranger problemas do mundo exterior à terapia.
É necessário fazer uma referência à terminologia comportamental usada
neste livro. A linguagem comportamental pode proporcionar novos insights sobre
os fenómenos clínicos e transmite o que pretendemos dizer a respeito de como a
terapia pode ajudar e do porquê dos problemas dos clientes. Entretanto, esta
terminologia não foi desenvolvida no ambiente psicoterapêutico, sendo, por isso,
pouco eficiente para comunicar os fenómenos que lá ocorrem. Nós procuramos
permanecer entre a linguagem dos behavioristas radicais e aquela usada pela
maioria dos clínicos, Algumas vezes a pendência foi maior para um dos lados,
mas nós tentamos obter o melhor da riqueza que cada uma delas contem.
Este livro surgiu de um capítulo que constou no livro "Psychotherapists
in Clinicai Practice" (1987), editado por Neil Jacobson. Nós somos gratos a
Neil por nos ter encorajado a dar o primeiro passo. No nosso livro, a aplicação
clínica foi facilitada por meio do uso de transcrições de casos e da ênfase dada
ao comportamento verbal do cliente. O capítulo que trata do selfevoluiu de um
artigo escrito originalmente por Robert Kohlenberg e Marsha Linehan.
xu Prefácio

Bob Kohlenberg gostaria de reconhecer a importância que teve sua


filha Barbara na génese deste livro, pois ela foi a responsável pelo 'retorno à
vida
'
de um behaviorista radical extinto. Seu filho Andy contribuiu
significativamente com perspectivas éticas, ao mesmo tempo em que seu filho
Paul o lembrava da importância de se ter uma mente investigativa, bom humor
e compromisso. Seu irmão David esteve sempre presente para escutar, fato
que foi essencial para a elaboração deste livro. Mavis, querida co-autora,
enriqueceu a vida dele com seu amor e intelecto ilimitados, os quais forneceram
a linha-mestra que é o âmago da FAP.
Mavis Tsai reverencia a lembrança de Ned Wagner, seu primeiro
orientador de pós-graduação. Foi de inestimável valor o entusiasmo que ele
demonstrou por suas idéias e textos quando ela era ainda uma "caloura" na pós-
graduação. No curto período de dois anos, Ned infundiu nela um universo de
confiança, curiosidade e compaixão. Seus outros dois orientadores, Stanley Sue
e Shirley Feldman-Summers, também desempenharam papel essencial em seu
desenvolvimento como psicóloga. Também foram mentores Laura Brown, James
Coleman e Ron Smith. Bob, co-autor e seu parceiro na vida, inundou-lhe a vida
com seu profundo amor, mente fértil e presença marcante, dando-lhe razão e
alegria de viver.
Os colegas de clínica Carla Bradshaw, Barbara Johnstone, Karen
Lindner, Vickie Sears, Eilen Sherwood, e Alejandra Suarez leram uma parte ou
todo o manuscrito em suas diferentes etapas de execução e forneceram importante
feedback.

Temos uma dívida especial com Anne Uemura, amiga e companheira


muito próxima, que passou incontáveis horas revisando cada palavra de nosso
manuscrito e nos ofereceu críticas detalhadas e construtivas.

Willard Day foi uma grande inspiração. Seu trabalho demonstrou que a
interpretação é uma atividade essencial do behaviorista radical. Seu encanto
pelas novas idéias tornou-se um refugio no qual elas poderiam crescer e prosperar.
Steve Hayes estabeleceu as bases para a aplicação dos princípios
behavioristas radicais na psicoterapia de adultos. Stanley Messer, o primeiro
estudioso com orientação psicodinâmica que levou a sério nosso trabalho, nos
deu um feedback crítico valioso.

À próxima geração de terapeutas FAP - Michael Addis, James Cordova,


Daria Broberg, Victoria Foilette, Allan Fruzzeli Enrico Ganaulti, Kelly Koerner,
,

Marty Stern Julian Somers, Paula Truax. e Jennifer Waltz - nossos


,
Prefácio xm
' # «

agradecimentos pela generosidade demonstrada enquanto as idéias começavam


a surgir e um sistema estava se desenvolvendo .

Agradecemos aos nossos clientes que dividiram conosco suas mais


profundas dores e alegrias. Cada um de nossos clientes contribuiu para a nossa
perspicácia clínica e modelou quem somos como terapeutas. Para proteger a
individualidade dos clientes que estão descritos nas histórias de casos foram
,

alterados todos os nomes e outras informações que poderiam identificá-los .

O falecimento de B. F. Skinner representa uma grande perda para todos


aqueles que o admiraram. A essência de seu trabalho de uma vida toda consistia
na esperança de que pudéssemos melhorar nossas vidas e o mundo no qual
vivemos. Foi com base neste legado que nós escrevemos este livro e lamentamos
,

que ele não teve a oportunidade de lê-lo e testemunhar mais um dos inúmeros
efeitos que seu trabalho teve sobre as pessoas.

RJ.K

MT .
Sumário

Capítulo 1
Introdução. \

Princípios Filosóficos do Behaviorismo Radical. .. 3


A natureza contextual do conhecimento e da realidade. 3
Uma visão não-mentalista do comportamento; o enfoque nas variáveis
ambientais que controlam o comportamento. 5
O interesse está centrado no comportamento verbal controlado por
eventos diretamente observados. 6

Suportes Teóricos da FAP . 8


Reforçamento... 9
Especificação de comportamento clinicamente relevante. 15
Preparando a generalização. 17

Capítulo 2
Aplicação Clínica da Psicoterapia Analítica Funcional. 19

Problemas do cliente e comportamentos clinicamente relevantes. 19


CRB1: Problemas do cliente que ocorrem na sessão. 20
CRB2: Progressos do cliente que ocorrem na sessão. 21
CRB3: Interpretações do comportamento segundo o cliente. 25
Avaliação inicial . 26
Técnica Terapêutica: As Cinco Regras... 27
Regrai: Prestar atenção aos CRBs . 27
Regra 2 : Evocar CRBs... 30
xvi Sumário

Regra 3: Reforçar CRB2s. 32


Regra 4: Observe os efeitos potencialmente reforçadores do compor-
tamento do terapeuta em relação aos CRBs do cliente. 40
Regra 5: Forneça interpretações de variáveis que afetam o compor-
tamento do cliente. 41

Exemplo de Caso Clínico ... 47

Capítulo 3
Suplementação: Aumentando a capacidade do terapeuta para
identificar comportamentos clinicamente relevantes . 51

Classificação de Comportamento Verbal. 51


O Sistema da FAP de Classificação das Respostas do Cliente. 54
Classificação e Observação de Comportamento Clinicamente Relevante 65
Exemplos de Classificação de Respostas do Cliente. 67
Situações Terapêuticas que Frequentemente Evocam Comportamentos
Clinicamente Relevantes . 69

Capítulo 4
O Papel de Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento.... 75

Emoções. 75
Aprendendo os Significados dos Sentimentos. 78
Sentimentos como Causas de Comportamento... 80
Expressando sentimentos . 82
Evitando sentimentos . 84
Grau de contato com variáveis de controle. 85

Lembranças. 89
Implicações Clínicas. 92
Ofereça uma Racional Comportamental para Entrar em Contato com
Sentimentos . 93
Aumente o Controle Privado de Sentimentos. 94
Aumente a Expressão de Sentimentos pelo Terapeuta. 96
Melhore o Contato do Cliente com Variáveis de Controle. 97

Caso Ilustrativo . 103


Sumário

1
ComprtamenoMdelaoprContigêcas. 4 5
Capítulo 5
Cognições e Crenças. 107

Terapia Cognitiva. 108


Problemas com a terapia cognitiva e o paradigma ABC..
109
Formulação Revisada da Terapia Cognitiva. 111

A Revisão FAP do B-> C. .


114

Tatos e Mandos: Dois Tipos de Comportamento Verbal .

Comportamento Governado Por Regras. 122


Estruturas Cognitivas e Comportamento Modelado por Contingências 125
Implicações Clínicas da Visão da FAP Sobre as Crenças. 126
Focalizando o pensamento aqui e agora . 127
Levando em consideração o papel variável que os pensamentos podem
exercer. 128
Ofereça explicações relevantes sobre os problemas do cliente. 132
Use com cuidado a manipulação cognitiva direta. 133
135
Ilustração de Caso.

Capítulo 6
O self . 137

Definições Comuns do Self.... 138


Uma Formulação Behaviorista do Self. 139
Conceitos Básicos . 141
A emergência do "Eu" como uma pequena unidade imcional. 145
f

Qualidades do "Eu". 153


Desenvolvimento Mal-adaptativo da Experiência do Self. 156
Distúrbios menos graves de Self... 156
Distúrbios graves do self. 162
Implicações Clínicas. 173
Reforçando a fala na ausência de dicas externas específicas. 174
Combinar tarefas terapêuticas com o nível de controle interno no
repertório do cliente....... 176
xviii Sumário

Reforçando tantas declarações "eu X" do cliente quanto possível. 182

Capítulo 7
Psicoterapia Analítica Funcional : Uma ponte entre a Psicanálise
e a Terapia Comportamental... 187

A FAP em Contraste com Enfoques Psicodinâmicos. 188


Transferência. 188
A Aliança Terapêutica. 196
Relações Objetais . 199
FAP em Contraste com Terapias Atuais do Comportamento. 202
FAP: Um Raro Nicho entre a Psicanálise e a Terapia Comportamental. 205

Capítulo 8
Reflexões sobre ética, supervisão, pesquisa e temas culturais... 209

Temas Éticos ... 209


Proceda cuidadosamente . 210
Evite Exploração Sexual. 211
Esteja Alerta para Interromper Tratamentos Ineficientes.. 212
Atente para Valores Opressivos e Preconceituosos. 212
Evite Tirania Emocional. 213

Supervisão da FAP ..... 215


Pesquisa e Avaliação. 217
Falhas dos Modelos Convencionais de Pesquisa. 218
Métodos Alternativos de Coleta de Dados que Influenciam a Prática
Clínica..... 220

Problemas Culturais Decorrentes da Perda de Comunicação . 225


Conclusão . 228

Referências... 229

índice... 235

}
1

Introdução

Quando penso naqueles pacientes que eu vi experimentarem uma grande mudança, eu sei
que o fogo estava na relação terapêutica.... Havia luta e medo, proximidade, amor e
terror. Havia intimidade e afronta apreensão e vergonha... era uma jornada significativa,
,

mais para o paciente que vinha buscar ajuda mas de fato, para ambos os participantes.
.

Era um processo que percorria todo o desenrolar da terapia e deixava a ambos paciente
,

e terapeuta alterados pela experiência... A relação terapêutica está no próprio centro


,

da psicoterapia e é o veículo através do qual a mudança terapêutica acontece (Greben,


.

1981, p. 453-454)

Independente da sua orientação teórica a maioria dos clínicos experientes teve


,

clientes memoráveis, cujas mudanças excederam em muito e de maneira mar- ,

cante, os objetivos formais da terapia. Para estes clientes, a descrição de Greben


parece capturar um aspecto importante do que foi o processo terapêutico, mesmo
que o tratamento tenha sido baseado numa teoria bastante diferente da sua
perspectiva psicodinâmica. Entretanto, o que falta nos escritos de Greben, bem
como na maioria dos sistemas terapêuticos que enfocam a relação entre o
terapeuta e o cliente, é um sistema conceituai coerente, com construtos teóricos
bem definidos que conduzam, passo a passo, à formulação de orientações
precisas para a terapia.
Descreveremos um tratamento que tem um referencial conceituai claro
e preciso e, ainda assim, parece produzir o que Greben descreve. Chamamos
nosso tratamento de psicoterapia analítica funcional (FA.P) e talvez possa
causar uma certa surpresa o fato dele derivar de uma análise funcional
skinneriana do ambiente psicoterapêutico típico. Seus fundamentos estão na
obra de B. F. Skinner (por ex., 1945, 1953, 1957, 1974). Na seção seguinte,
iremos rever os princípios filosóficos mais importantes do behaviorismo radical.

1
2 Prefácio

Muito embora a FAP seja um tipo de terapia comportamental, ela é


bastante diferente das terapias comportamentais tradicionais, tais como o treina-
mento em habilidades sociais, reestruturação cognitiva, dessensibilização e terapia
sexual. Ao contrário daquelas, as técnicas utilizadas pela FAP são concordantes
com as expectativas dos clientes, que buscam uma experiência terapêutica
pro-funda, tocante, intensa. Além disso, ela também se ajusta muito bem a
clientes que não obtiveram uma melhora adequada com as terapias
comportamentais convencionais e àqueles que têm dificuldades em estabelecer
relações de intimidade e/ou têm problemas interpessoais difusos, pervasivos,
tais como os que recebem diagnósticos tipificados pelos do Eixo II do DSM-
III-R (American Psychiatric Association, 1987). Para manejar estes problemas
enraizados a FAP conduz o terapeuta a uma relação genuína, envolvente,
,

sensível e cuidadosa com seu cliente, e, ao mesmo tempo, apropria-se com


vantagens das definições claras, lógicas e precisas do behaviorismo radical.
Infelizmente, o behaviorismo radical tem sido largamente incompreendido
e rejeitado. Quando perguntamos aos nossos colegas o que lhes vinha à mente
frente ao termo behaviorismo radical, suas respostas incluíram: (1) "Eu penso
nas caixas de Skinner. Sinto uma rejeição visceral. Eu acho que ele é simplista
e que nega a realidade de um psiquismo interno, rico e complexo, que interage
com a realidade externa. Para mim, o behaviorismo sempre me pareceu muito
"

arrogante, ao reduzir o incrível mistério de existir, de ser, ao que pode ser


"
observado e (2) "Você já ouviu aquela dos dois behavioristas radicais que fazi-
am amor apaixonadamente? Depois, um perguntou para o outro: Foi bom para
"
você! Como foi para mim? Estas reações - que o behaviorismo radical é
.

simplis-ta, que reduz ações significativas somente ao que pode ser observado e
que re-quer consenso público - são representativas dos mal-entendidos que a
maioria dos clínicos mantêm. Essas distorções são devidas, em parte, à natureza
cripto-gráfica das obras de Skinner, o que íhe dificulta ser interpretado
corretamente, e também devido ao fato de que o behaviorismo radical é
frequentemente confun-dido com o behaviorismo metodológico ou convencional,
que é bem mais conhecido. Em contraste com o behaviorismo radical, o
behaviorismo metodo-lógico exige consenso público para as suas observações.
Estudando somente o que pode ser publicamente observado, o behaviorismo
metodológico exclui o estudo direto da consciência, dos sentimentos e dos
pensamentos. Já bem cedo Skinner (1945) diferenciava a sua abordagem do
"

resto da psicologia, declarando que a sua dor de dentes é simplesmente tão


ísica quanto a minha máquina de escrever" (p. 294) e rejeitava o pré-requisito
f

do consenso público. Para ser mais precisa a anedota acima, contada pelos
,

"
nossos colegas, deveria começar assim: Você já ouviu aquela dos dois
behavioristas metodológicos... ?".
Introdução 3

PRINCÍPIOS FILOSÓFICOS DO BEHAVIORISMO RADICAL

Quando alguém diz "radical", é comum vir à mente a imagem de um


extremista de olhos esbugalhados. O que geralmente não se sabe é que a palavra
radical vem do latim radix significando raiz. "O verdadeiro radical é aquele
,

que tenta chegar à raiz das coisas, que não se distrai pelo superficial, vendo
floresta no lugar de árvores. É bom ser radical Qualquer pessoa que pense com
.

profundidade será um deles" (Peck, 1987, p. 25). Assim é que o behaviorismo


radical é uma teoria rica e profunda que procura chegar às raízes do compor-
,

tamento humano. Lapsos verbais o inconsciente, poesia, espiritualidade e metá-


,

fora, são exemplos dos temas que têm sido discutidos pelo behaviorismo radical .

Sentimentos e outras experiências privadas são também considerados e "a


estimulação originada no corpo desempenha importante papel no comportamento"
(Skirmer, 1974, p. 241). Muito embora seja difícil condensar os vários volumes
da obra de Skinner num breve resumo do behaviorismo radical o texto que se ,

segue é uma tentativa de descrever os seus princípios filosóficos básicos .

A natureza contextual do conhecimento e da realidade

Skinner rejeita a idéia de que conhecendo-se algo sobre uma coisa, a


,

expressão deste nosso conhecimento consista numa declaração sobre o quê


aquele objeto do conhecimento é; a idéia de que esta coisa possa ter de alguma ,

forma, uma identidade permanente como um ente real da natureza. Podemos


,

"
atribuir o status de coisa a eventos principalmente porque estamos habituados
"

a falar sobre o mundo como sendo composto de objetos, que sentimos possuir
em uma constância ou estabilidade próprias. Na verdade a meta original da
,

ciência, qual seja a descoberta de verdades objetivas tem se mostrado cada


,

vez mais inalcançável. No seu núcleo ciência é ou o comportamento dos


,

cientistas, ou os artefatos dessas atividades, e o comportamento científico, por


sua vez, é presumidamente controlado pelo mesmo tipo de variáveis que
governam quaisquer outros aspectos do comportamento humano complexo.
Desta forma, os cientistas são em si mesmos, não mais do que organismos que
,

se comportam e as obser-vações que produzem não podem ser separadas dos


interesses e atividades do observador.

Esta posição antiontológica de Skinner é similar ao ponto de vista


construtivista ou kantiano (Efran Lukens & Lukens, 1988). No século XVIII o
,

filósofo Immanuel Kant um dos pilares da tradição intelectual ocidental, propôs


,
4 Capítulo 1

que o conhecimento é a invenção de um organismo ativo, interagindo com um


ambiente. Em contraste, John Locke, fundador do empirismo britânico, via o
conhecimento como o resultado do mundo externo imprimir uma cópia dele
"
mesmo numa mente inicialmente embranco Decorre daí que Locke considera
"
.

" "

as imagens mentais como sendo basicamente representações ou "descobertas"


de algo fora do organismo, enquanto Kant assevera que as imagens mentais
são inteiramente criações ou invenções" do organismo, originadas como um
"

subproduto do seu percurso através da vida. Os construtivistas reconhecem o


papel ativo que elas desempenham na criação de uma visão do mundo e na
interpretação das suas observações em termos daquela visão.

Traduzindo essas posições em termos de prática clinica, uma empreitada


objetivista, como a psicanálise clássica, é construída em torno da crença de que
a verdade objetiva pode ser descoberta e, quando adequadamente revelada,
conduziria a uma saúde mental melhorada. Por outro lado, a crença construtivista
é que uma boa intervenção gera as suas próprias verdades. Terapeutas objetivistas
querem saber o que realmente aconteceu no passado. Terapeutas construtivistas
"
estão mais interessados na história", como uma chave para a narrativa que
está se desdobrando e que dará aos eventos contemporâneos o seu significado.
Ou seja, a história e o meio ambiente imediato daquele que percebe, influenciam
a percepção da experiência original e da sua recordação. As lembranças reais e
os seus significados podem, assim, manter pouca semelhança com os eventos e
os seus significados no passado. Muito embora uma verdade objetiva sobre o
passado possa ser impossível de ser descoberta, o próprio processo de rememorar
e descobrir significados é considerado como sendo uma intervenção que levará
à melhora do cliente. Por exemplo, se uma cliente relata um sonho sobre incesto
e em seguida põe em dúvida a sua veracidade, a ênfase não estaria em se o
incesto ocorreu ou não, mas sim, preferencialmente, nas verdades inerentes ao
sonho, nas condições que ela experimentou em sua vida que poderiam conduzir
a tal sonho. Assim, se for efetiva em termos de benefício terapêutico ou de
progressos na terapia, a intervenção terapêutica que envolve a recuperação de
memórias do passado gera as suas próprias verdades.
Na tradição construtivista, o behaviorismo radical enfatiza o contexto e
o significado. Tire algo do seu contexto e ele perderá o seu significado. Ponha
este algo em um novo contexto e ele significará outra coisa. Esta é uma das
razões pelas quais Hayes (1987) prefere o termo contextualismo para o
behaviorismo radical. Problemas, mentais ou de qualquer outra natureza, não
existem isoladamente. Eles são imputações de significado que se formam dentro
Introdução 5

. de uma determinada tradição e têm significado somente dentro desta tradição.


Até mesmo experiências que as pessoas consideram puramente físicas são na ,

verdade modeladas pela linguagem e pelas experiências prévias. A dor, por


,

exemplo não é simplesmente o disparo de terminações nervosas; é em parte


,

sensação, em parte ideação temerosa: um revestimento de interpretações


envolvendo sensações (Efran et ai 1988). ,

Mas no mais das vezes e ainda que a posição contextualista


,

(construtivista) possa ser intelectualmente atrativa, é difícil trazer estas idéias


para a nossa prática de vida em geral e é particularmente difícil trazê-las para
as práticas terapêuticas. É dizer que psicoterapeutas (behavioristas radicais
incluídos) podem aceitar o contextualismo em nível intelectual mas não fazem o
mesmo em nível emocional. Como colocado por Furman e Ahola (1988):

Quando discutimos filosofia com os nossos colegas, talvez possamos concordar prontamente
em que não existe uma única maneira de ver as coisas. Mas quando isso toca as nossas próprias
crenças sobre clientes específicos tendemos a nos apegar com tenacidade às nossas próprias
,

verdades. Esquecemo-nos de que idéias são fabricadas pelos observadores e inalmente,

f
.

convencemos a nós mesmos de que. de algum modo. elas nos oferecem um diagrama da
realidade... Porque pensamos que sabemos quando, na verdade simplesmente imaginamos,
,

construímos, pensamos ou acreditamos? (p 30). .

Uma visão não-mentalista do comportamento: o enfoque nas variáveis


ambientais que controlam o comportamento

O behaviorismo radical explica a ação humana em termos de


comportamento ao invés de entidades ou objetos dentro do cérebro. Assim ao ,

"

invés de "memória" e "pensamentor, a análise baseia-se em lembrando" e "pen-


,

"
sando O comportamento de introduzir uma moeda numa máquina automática
.

de venda de doces é visto como comportamento, e não como um mero sinal que
indica a presença de alguma entidade fora do comportamento em si mesmo, tais
como impulso, desejo expectativa, atitude ou uma desorganização das funções
,

egóicas. Uma explicação adequada estaria centrada não em entidades mentais,


mas naquelas variáveis que afetam o comportamento tal como o número de ho-,

ras sem alimentar-se. No mentalismo, processos psicológicos internos, como


"

força de vontade" e "medo do fracasso", adquirem poderes homunculares para


causar a ocorrência de outros eventos esses mais comportamentais. Explicações
,

do comportamento serão incompletas se não envolverem a busca, tão retroatíva


6 Capítulo 1

quanto possível, de antecedentes observáveis do comportamento presentes no


" "
meio-ambiente. Muitas das explicações psicológicas mais difundidas pouco
mais fazem do que especificar algum processo interno como sendo a causa de
um aspecto particular do comportamento. Neste caso, é um questionamento
inteiramente razoável pedirmos explicações sobre o quê faz esse processo interno
agir como ele age.
É importante notar que Skinner faz objeções a coisas que sejam mentais,
não a coisas que sejam privadas. Entretanto, aos eventos privados Skinner não
atribui qualquer outro status distintivo que nã© seja o da sua privacidade. Eles
provêm do mesmo material dos comportamentos públicos e estão sujeitos aos
mesmos estímulos discriminativos e reforçadores que afetam todos os compor-
tamentos. Assim sendo, na visão de Skinner a resposta privada de um cliente
pode ter tanto (ou tão pouco) efeito causal no seu comportamento subsequente
como poderia ter uma resposta pública.
Assim é que, ao procurar explicações para o comportamento, os
behavioristas radicais percebem a si mesmos como estando, essencialmente,
" "

engajados numa busca por variáveis de controle Eventos são considerados


.

como variáveis de controle quando eles são percebidos como estando, de alguma
forma, relacionados ao comportamento. O comportamento verbal que descreve
uma relação entre um comportamento e variáveis de controle é chamado de
declaração de uma relação funcional e a tentativa sistemática de descrever
relações funcionais é chamada de análise funcional do comportamento,

O interesse está centrado no comportamento verbal controlado por eventos


diretamente observados

Todo comportamento verbal, não importa quão privado pareça ser o


seu conteúdo, tem as suas origens no ambiente. Embora os fenómenos
relacionados ao funcionamento verbal humano possam variar do mais intima-
mente pessoal ao mais publicamente social toda linguagem que faça sentido
,

tem a sua forma eficaz modelada pela ação da comunidade verbal. Desta forma,
quando uma falante diz que ela vê uma imagem dentro da sua mente, o que está
sendo dito precisa ter-lhe sido ensinado na sua infância, por outros que não po-
,

deriam ver dentro da sua mente. Assim para o processo de ensino os professores
,
" "

*
» /

precisariam, necessariamente, dispor de eventos diretamente observáveis (ver


Capítulos 4 e 6).
Introdução 7

Que fatores estão envolvidos em levar o falante a falar o que ele ou ela
faz? Conhecer de maneira completa o que leva a pessoa a falar alguma coisa é
entender o significado do que foi dito no seu sentido mais profundo (Day 1969).
,

Por exemplo, para entender o que uma pessoa quer dizer quando ela fala que
acabou de ter uma experiência de estar fora do corpo procuraríamos por suas
,

causas. Primeiramente desejaríamos saber sobre a estimulação que foi experi-


,

mentada no corpo. A seguir gostaríamos de saber porque um estado corporal


,

particular foi experimentado como fora do corpo. Desta forma, procuraríamos


causas ambientais na história passada daquela pessoa incluindo as circunstâncias
4
,

que ela encontrou enquanto crescia e que resultaram nela falar "corpo", "fora
do" acabo de ter e "Eu" (uma descrição de algumas experiências que resultam
,
" "

"
em Eu" está apresentada no Capítulo 6). Tão logo saibamos "de todos estes
fatores, entenderemos profundamente o significado do que ela quis dizer.
A observação direta é altamente valorizada como um método de reunir
dados relevantes. Entretanto é importante notar que o que é observado não
,

necessita ser público. Skinner tem uma posição crítica no que diz respeito à
filosofia da "verdade por consenso" uma perspectiva requentemente adotada
,
f

por behavioristas convencionais os quais sustentam a tese de que o conhecimento


científico necessita ser de natureza essencialmente pública. De fato, na maioria
das vezes é mais fácil considerar a observação como algo privado, porque somente
uma pessoa pode participar de um ato singular de observação. Mas o interesse
não está restrito somente aos eventos que, em princípio, são considerados como
sendo observáveis por uma outra pessoa. Os behavioristas radicais sentem-se
livres para observar ou mesmo responder às suas próprias reações a uma sonata
de Beethoven, assim como eles estão livres para observar a reação de qualquer
outra pessoa (Da}', 1969). Uma vez que a observação do comportamento tenha
ocorrido, os observadores são encorajados a falarem interpretativamente sobre
o que foi observado, reconhecendo que a interpretação particular que for feita
por eles será uma função da sua própria história pessoal. Simplesmente, eles
têm a esperança de que o quê eles vêem, venha a exercer uma crescente influência
no que eles dizem.
A influência ampliada do mundo naquilo que é dito é também entendida
como um contato ampliado com o mundo. O contato é altamente desejável para
o cientista e pode ser visto como o núcleo da ciência. Um contato ampliado é
também desejável para a maioria dos clientes que comparecem à psicoterapia.
Por exemplo clientes que não expressam emoções (ver Capítulo 4), podem
,

também ser descritos como pessoas que estão evitando contato com situações
que eliciam emoções e por isso poderiam ter dificuldades em relações íntimas.
8 Capítulo 1

Os princípios ilosóficos vistos acima - que o conhecimento é contextual,

f
que o comportamento é compreendido de maneira não-mentalista e que mesmo o
comportamento verbal mais privado tem as suas origens no ambiente - fornecem a
linguagem e o conceito de natureza humana que pretendem tomar clara a inte-
ração entre o comportamento de um indivíduo e o ambiente natural. Conceitos
behavioristas radicais têm sido usados tanto para explicar uma ampla gama de
práticas terapêuticas, como a psicanálise e a dessensibilização, como também para
explicar experiências humanas como o sentimento, a apreensão, o self e a raiva.
Uma outra aplicação dos conceitos skinncrianos, denominada análise
experimental do comportamento, é uma abordagem mais estreita e que utiliza
analogias com procedimentos de condicionamento operante desenvolvidos em
,

laboratórios, para solucionar problemas clínicos da vida cotidiana. Usamos o


termo 'analogias, porque existem diferenças significativas entre a aplicação clí-
nica e o trabalho de laboratório (como discutiremos mais tarde) diferenças
,

essas que têm importantes implicações para a psicoterapia. Na seção seguinte ,

estaremos desenvolvendo os nossos argumentos sobre como os fundamentos da


análise experimental do comportamento compõem o suporte teórico da FAP .

SUPORTES TEÓRICOS DA FAP

O interesse da análise experimental do comportamento está centrado no


reforçamento, na especificação dos comportamentos clinicamente relevantes e
na generalização (Reese 1966; Kazdin, 1975; Lutzker & Martin, 1981). Estes
,

procedimentos têm se mostrado extremamente poderosos no tratamento de


pacientes institucionais, estudantes em sala de aula e crianças muito jovens ou
severamente perturbadas populações para as quais o terapeuta pode exercer
,

um grande controle sobre o arranjo ambiental cotidiano Com as exceções de


.

Hayes (1987) e Kohlenberg e Tsai (1987) o behaviorismo radical e a análise


,

experimental do comportamento têm sido negligenciadas como uma fonte de


procedimentos para o tratamento de adultos em consultórios psicológicos. Esta
desatenção ao behaviorismo radical como fonte de idéias para a psicoterapia de
adultos é um tanto misteriosa para nós Conforme já fizemos notar, a teoria é
.

extensiva e engloba muitos dos conceitos relevantes para o psicoterapeuta Além .

disso, esta concepção teórica tem estado disponível já há um bom tempo .


Muitas
Introdução 9

das idéias relevantes para a psicoterapia foram publicadas nos anos 50 (Skinner ,

1953 1957). Há também muitos profissionais, analistas experimentais do


,

comportamento , que estão familiarizados com estes princípios teóricos e que


estão igualmente interessados no trabalho clínico É bem possível que o próprio
.

sucesso da análise experimental do comportamento em ambientes controlados


(por ex., hospitais, escolas) tenha impedido a sua aplicação ao ambiente
psicoterápico, bem menos controlado. O que estamos sugerindo é que os analistas
experimentais do comportamento foram tão bem sucedidos com uma aplicação
limitada da teoria que não examinaram as implicações bem mais extensas do
behaviorismo radical, relevantes para a psicoterapia de adultos.
Um obstáculo adicional às aplicações do behaviorismo radical vem das
dificuldades na transposição dos métodos da análise experimental do
comportamento para a situação psicoterapêutica. Como algumas das restrições
que a situação de tratamento em consultório de pacientes adultos estabelece
para esta transposição, temos: o coníato terapeuta/cliente limitado a uma ou
mais horas de terapia por semana, o fato do terapeuta não ter acesso ao compor-
tamento do cliente fora do atendimento e a falta de controle sobre as contingências
fora da sessão. A FAP tem a sua base na investigação de como o reforçamento ,

a especificação de comportamentos clinicamente relevantes e a generalização


podem ser obtidos dentro das limitações de tuna situação típica de tratamento
cm consultório.

Reforçamento

A modelagem direta e o fortalecimento de repertórios comportamentais


mais adaptativos através do reforçamento são centrais no tratamento analítico-
compoitamental. Usamos o termo reforçamento no seu sentido técnico, genérico,
referindo-se a todas as consequências ou contingências que afètam (aumentam
ou diminuem) a força do comportamento. A definição de reforçamento é fun-
cional, ou seja, algo pode ser definido como um reforçador se, depois da sua
apresentação, há o efeito de aumentar ou diminuir a força do comportamento
que o precedeu.
Para alguns leitores esta definição pode ser insatisfatória, de vez que
ela não identifica reforçadores específicos como sorvete, sexo ou confeitos de
chocolate. O reforçamento não pode ser definido desta forma porque ele é um
processo: um objeto funciona como um reforçador somente no contexto de um

.
s
10 Capítulo 1

dado processo e não pode ser identificado independentemente dele. Ainda que
um sorvete possa reforçar o comportamento de uma pessoa, poderá não ter
qualquer efeito sobre o comportamento de uma outra e, portanto, não seria um
reforçador para o comportamento. Além disso, o reforçamento pode atuar sobre
algo que não gostamos. Por exemplo, um dentista que esteja presente no horário
combinado para o nosso atendimento, reforça nosso comportamento de marcar
horários para outros atendimentos, mesmo que o tratamento dentário seja, em si
mesmo, uma experiência desagradável.
Mais ainda: é importante notar que o reforçamento não é um processo
consciente. Muito do nosso comportamento foi modelado por processos de
reforçamento antes mesmo que aprendêssemos a falar. Quando o reforçamento
ocorre, ocorre também uma mudança física no nosso cérebro, da qual não nos
damos conta. Ainda que possamos experimentar uma sensação de prazer ou
uma inclinação para agir desta ou daquela maneira, nós não percebemos o
fortalecimento do nosso comportamento. Por exemplo, se um moço diz "Amo
"
você para a sua namorada e ela sorri calorosamente e diz "Eu também amo
"
você ele poderá sentir uma sensação de prazer em seu corpo e pensar Isto é
"

maravilhoso! Mas, neste exato momento, o prazer independe do processo de


"

fortalecimento. O pensamento "isto é maravilhoso!" foi o resultado da sensação


de prazer no sentido de que ele estava descrevendo os seus sentimentos para ele
,

mesmo. Seu comportamento foi fortalecido e também ocorreram aqueles senti-


mentos e pensamentos prazeirosos. De maneira alguma a consciência dos pensa-
mentos e sentimentos que acompanharam o processo de reforçamento são neces-
sários para que o comportamento seja fortalecido.
Desde o início dos tempos, somente aquelas criaturas cujo
comportamento fosse fortalecido pelas suas consequências puderam adaptar-se
a um ambiente em constante mudança e assim sobreviverem. Desta forma, o
processo de reforçamento é o resultado da evolução. Conforme discutiremos
mais adiante com maiores detalhes é um processo comportamental básico que
,

conduz à consciência ao pensamento, ao self e à essência da experiência humana.


,

O momento e o/lugar do reforçamento

Uma das características bem conhecidas do reforçamento é que quanto


mais próximo das suas consequências (no tempo e no espaço) um comportamento
estiver , maiores serão os efeitos deste processo. Qualquer um que já tenha

/
Introdução 1\

dispensado pelotas de comida a um rato numa caixa de Skinner pôde observar


,

os efeitos deletérios que o atraso do reforçador pode ter no comportamento do


animal. Todavia , o processo de modelagem é eficaz, se a pressão na barra e a
pelota de comida estiverem bem próximas uma da outra, no tempo. De maneira
semelhante, é fácil para o terapeuta reforçar e assim fortalecer, as habilidades
,

de relaxamento do cliente enquanto elas ocorrem no consultório. Ou seja quando ,

solicitado, o cliente prontamente relaxará no consultório porque o terapeuta


,

está presente e pode reforçar diretamente o comportamento Por outro lado, é


.

amiúde um problema fazer com que os clientes cumpram um programa de


relaxamento em casa, entre os atendimentos pois o terapeuta só pode reforçar o
,

comportamento quando os clientes comparecem à consulta.


Para o paciente de consultório isto implica em que os efeitos do
,

tratamento serão mais significativos se os comportamentos-problema e as


/

melhoras ocorrerem durante a sessão onde estes estarão, no tempo e no espaço,


,

o mais perto possível do reforçamento. Esta é a razão pela qual a FAP é um


tratamento para problemas cotidianos que também ocorrem durante o atendimento,

terapêutico. Exemplos de tais problemas incluem as dificuldades nas relações


de intimidade, incluindo os medos do abandono, da rejeição e de ser "engolido"
na relação; dificuldades na expressão de sentimentos; afetos inapropriados,
hostilidade, hipersensibilidade a críticas ansiedade social e comportamentos
,

obsessivos-compulsivos. As palavras acima não se referem a estados mentais


ou internos. São utilizadas aqui como termos descritivos de uso geral, para dar
ao leitor uma idéia da gama de comportamentos observáveis do cliente que, sob
as condições apropriadas, podem ser evocados e modificados durante a terapia.
Uma outra característica importante da FAP - e que é de certa maneira
problemática - é que melhoras no comportamento do cliente que ocorrem nó
consultório, deveriam ser reforçadas imediatamente. O reforçamento de
comportamentos durante a sessão é problemático porque a própria tentativa de
aplicar o reforçamento de maneira imediata e contingente pode também,
inadvertidamente, torná-lo ineficaz e até mesmo contraproducente.
O problema em aplicar o reforçamento durante o tratamento nasce da
imitação dos métodos da análise experimental do comportamento. Com o
propósito de atingir a meta de reforçar a resposta o mais prontamente possível,
os analistas experimentais do comportamento, quando clinicando, usaram
procedimentos análogos aos usados, em laboratório, em experimentos operantes
com animais. Aqueles clínicos adotaram a regra Dê a pelota de comida
"

imediatamente após a resposta" e fizeram uma transposição literal para a situação


12 Capítulo 1

"
clínica:Dê o confeito de chocolate imediatamente depois que a criança
"

permanecer na cadeira por dois minutos. Entretanto, o propósito dos expe-


.

rimentos de laboratório era o de estudar os parâmetros do reforçamento e não o


de beneficiar o sujeito ou obter uma generalização do comportamento para a
sua vida eotidiana.

Ferster (1967, 1972b,c) discutiu extensamente as implicações clínicas


da utilização do reforçamento arbitrário, tal como o empregado em montagens
de laboratório, contrastando-o com o tipo de reforçamento que ocorre no ambiente
natural. Antecipando os riscos do uso do reforçamento no tratamento de pacientes
de consultório Ferster avisava que muitas das recompensas utilizadas pelos
,

analistas experimentais do comportamento - alimento objetos simbólicos e


,

elogios - poderiam ser arbitrárias. Ele via isso como um sério problema clínico
de vez que, comportamentos reforçados arbitrariamente somente ocorreriam
quando o controlador estivesse presente ou se o cliente estivesse interessado no
tipo específico de recompensa que estivesse sendo oferecida Como exemplo de
.

um reforçamento arbitrário que foi distorcido ele citava o caso de um autista


,

que apresentava mutismo eletivo e, tratado pela análise do comportamento, parava


de falar quando o alimento não estava presente.

Reforçamento Natural versus Arbitrário

Devido às deficiências do reforçamento arbitrário a FAP orienta-se


,

para prover reforçamento natural às melhoras do cliente que ocorrem durante a


sessão. Nossas sugestões sobre como fazer isso se encontram no Capítulo 2 As .

comparações abaixo ajudarão a destacar a diferença entre os dois tipos dc


reforçamento. Reforçadores arbitrários e naturais diferem em quatro dimensões
básicas, como expomos-a seguir:
1. Quão ampla ou estreita é a classe de respostas? O reforçamento
arbitrário especifica um desempenho estreito enquanto o reforçamento natural é
contingente a uma ampla classe de respostas Por exemplo um professor que
.
,

esteja usando reforçamento arbitrário para ensinar um menino disléxico a ler ,

está sujeito a estar sendo limitado e contraproducente em sua prática Como é o


.

caso de qualquer pessoa usando reforçamento arbitrário com propósitos


educacionais este professor precisa decidir quais os comportamentos que serão
,

reforçados e quais os punidos. Ele decide punir o menino por ler uma revista em
quadrinhos ao invés do livro texto. Este professor está mostrando uma das defi-
Introdução 13

ciências do uso de reforçamento arbitrário ou seja, ele está pedindo uma resposta
,

estreita - ler o livro-texto - e perdendo de vista a classe de respostas muito mais


ampla de ler em geral. O reforçamento natural inerente à leitura (tais como os
,

proporcionados pelas informações, pelo divertimento) reforça uma ampla classe


de respostas que inclui ler revistas em quadrinhos, resultados de corridas e
,

tantos outros. Assim, um dos riscos no uso de reforçamento arbitrário é que ele
pode inadvertidamente interferir com o reforçamento natural e com a aquisição
do comportamento-alvo.
2 .
O comportamento desejado existe no repertório da pessoal O
reforçamento natural inicia com um desempenho já existente no repertório da
pessoa, enquanto o reforçamento arbitrário não leva em conta, no mesmo grau
do reforçamento natural o repertório de comportamentos existente na pessoa.
,

Tal é o caso quando uma mãe critica a primeira tentativa dc sua filha em costurar
uma peça em curva e não leva em conta o seu nível de habilidade em costurar .
A
utilização da crítica como reforçamento arbitrário fez com que essa mãe falhasse
em ver que a sua filha estava se saindo bem para o nível das suas habilidades
atuais em costura. Por contrasteo reforçamento natural consistiria na apreciação,
,

por essa mãe, de uma peça de costura utilizável que a filha conseguiu fazer em
sua primeira tentativa, desconsiderando a sua aparência .

3. Quem proporciona o reforçamento é o primeiro beneficiado?


Reforçamento arbitrário produz mudanças de comportamento na pessoa sendo
reforçada que somente beneficiam a pessoa que faz o reforçamento. Nenhum
benefício precisa ser oferecido à pessoa submetida ao reforçamento arbitrário.
Na verdade pessoas são frequentemente prejudicadas pelo reforçamento.
,

arbitrário. Adultos que abusam sexualmente de crianças usam reforçadores


arbitrários (ameaças, elogios, abuso físico) para obter aceitação. Muitas vezes
eles reivindicam benefícios para a criança dizendo que ela quis isso ou "ela
" "

teve experiências de sexualidade e dessa forma foi beneficiada". Este argumento


é idículo; qualquer adulto que usa sexualmente uma criança não o faz para
r

beneficiar a ela, a criança. Na verdade, o abuso sexual pode causar uma ampla
variedade de problemas e especificamente, interfere com o reforçamento natural
,

do comportamento sexual que ocorre em relações íntimas consensuais.


4 Para o comportamento que está sendo apresentado, o reforçador
.

oferecido é típico e comumente presente no ambiente natural? Uma outra


"
maneira de formular esta mesma pergunta c: Para este comportamento em
"

particular, qual seria o reforçamento mais provável no ambiente natural? .

Reforçadores naturais são partes mais estáveis e fixas do ambiente natural do


14 Capítulo 1

que os reforçadores arbitrários. Este aspecto do reforçamento é o mais


facilmente perceptível, de vez que um observador não necessita da história dos
indivíduos envolvidos numa operação de reforçamento para que possa dizer
quão típico é o reforçamento que está sendo utilizado. Por exemplo, a maioria
das pessoas concordaria que dar doces ao seu filho para que ele vista o casaco
é arbitrário, ao passo que lhe chamar a atenção por estar sem casaco é natural.
Pagar à sua ilha para que pratique no piano é arbitrário ao passo que o fato
f

dela tocar simplesmente pela música criada é natural. De igual maneira multar
,

o seu cliente em alguns centavos por não manter contato visual é arbitrário.
enquanto que é natural deixar que a sua atenção flutue.
Em resumo, o reforçamento natural é diferente do reforçamento arbitrário
por fortalecer uma ampla classe de respostas, por ter em consideração o nível de
habilidade da pessoa, por beneficiar primariamente a pessoa sendo reforçada ao
invés da pessoa que proporciona o reforço e por ser típico e de ocorrência comum
no ambiente natural. Entretanto a maior parte das consequências não se encaixa
,

perfeitamente nas categorias associadas tanto ao reforçamento arbitrário quanto


ao natural e provavelmente, apresentam dimensões de ambos os tipos.
,

Embora nenhuma pesquisa tenha comparado diretamente os reforça-


mentos arbitrário e natural dados que fundamentam a nossa posição provieram,
,

paradoxalmente, de pesquisas orientadas cognitivamente e planejadas para


desacreditar a ênfase behaviorista no reforçamento A pesquisa concernia aos
.

efeitos de recompensas externas sobre a motivação intrínseca (estes termos não


são comportamentais mas foram aqueles usados pelos investigadores não-
behavioristas). Por exemplo Deci (1971), num estudo típico deste tipo de
,

pesquisa, pagou a um grupo de sujeitos para encontrarem soluções corretas


para um quebra-cabeças e comparou este grupo a um outro, ao qual foi dado o
mesmo problema porém sem qualquer pagamento pelo encontro da solução.
,

Quando deixados sós por oito minutos, numa situação de "descanso", os sujeitos
pagos ocuparam menos tempo manipulando o quebra-cabeças do que os sujeitos
sem pagamento. Após uma revisão da literatura sobre este tipo de pesquisa ,

Levine e Fasnacht (1974) argumentaram que "recompensas externas" são


arriscadas, por apresentarem pouco poder de permanência (isto é uma resistência
,

reduzida à extinção) e interferem com a generalização solapando assim o


" "

próprio comportamento que elas visavam fortalecer. Operacionalmente,


"

recompensas externas" e "motivação intrínseca" correspondem aos conceitos


de Ferster de reforçamento arbitrário e natural Assim, embora os dados sobre
.

motivação intrínseca tenham tido o intento original de demonstrar deficiências


Introdução 15

na abordagem behaviorista esses dados podem ser vistos, alternativamente,


,

como um exemplo no qual o reforçamento arbitrário mostrou efeitos negativos .

Especificação de comportamento clinicamente relevante

Além do reforçamento a análise do comportamento é caracterizada por


,

sua atenção à especificação dos comportamentos de interesse O termo compor-


.

tamento clinicamente relevante (CRB) inclui tanto os comportamentos-problema


como os comportamentos finais desejados Discutiremos os dois componentes
.

da especificação de comportamentos clinicamente relevantes - a observação e a


definição comportamental - e examinaremos as implicações disso para a condu-
ção de terapias de pacientes em consultórios.
r «

' r'

Observação

A observação é um pré-requisito necessário para a definição compor-


tamental dos CRBs (comportamentos clinicamente relevantes). Os behavioristas
assumem que, se os comportamentos podem ser observados então eles podem
,

ser especificados e contados. Obviamente o comportamento-problema do cliente


,

não pode ser observado a menos que ele ocorra na presença do terapeuta. Para
atender a este requisito os analistas do comportamento têm (a) tratado clientes
,

que estão com seu movimento restrito, tais como aqueles hospitalizados ou
internados em presídios, ou (b) tratado problemas graves e que se manifestam
com alta requência, como ecolalia em crianças autistas.
f

Ainda que seja conveniente usar problemas graves e ambientes restritos


para observar diretamente o comportamento-problema, qualquer problema que
possa ser diretamente observado é adequado para uma análise do comportamento.
O ambiente psicoterapêutico do cliente de consultório atende a este requisito
caso o problema cotidiano do cliente seja de tal natureza que também ocorra
durante o atendimento. Um exemplo significativo, ainda que trivial, é o de alguém
que procura tratamento por ter ficado sem palavras ao relatar ao seu médico
" "

" "

suas queixas e que realmente fica sem palavras quando está relatando esse
seu problema ao terapeuta. Fundamentada no pré-requisito da observação, uma
abordagem terapêutica analítico-comportamental para um paciente de consultório
16 Capítulo 1

enfoca aqueles problemas do mundo externo ao consultório que também ocorrem


durante a sessão.

Definindo comportamentalmente os CRBs

Tradicionalmente, os analistas do comportamento têm formulado


descrições comportamentais de comportamentos-alvo que se refiram exclu-
sivamente a comportamentos observáveis. Este requisito atende ao propósito de
obter-se confiabilidade, medida por consenso entre os observadores Os .

observadores, os quais devem concordar se um problema de comportamento


ocorreu ou não, habitualmente incluem o terapeuta e pelo menos uma outra
pessoa. Entretanto e por conveniência, esta outra pessoa utilizada como obser-
vador costuma ser relativamente inexperiente tal como um estudante de
,

graduação. Observadores inexperientes podem realizar o trabalho quando os


comportamentos de interesse são simples tais como completar um problema de
,

matemática, a ocorrência de um tique facial ou o comportamento de roer unhas .

Mas são eles mesmos um problema quando os comportamentos são algo mais
,

complexos (por ex. ansiedade e discórdia conjugal). Quando os comportamentos-


,

problema são mais complexos, é necessário um treinamento, antes que os


observadores possam fazer o trabalho .
Por outro lado , a quantidade de treina-
mento que pode ser dada é limitada. Assim o uso de observadores relativamente
,

ingénuos tem colocado um limite prático com relação à complexidade dos


comportamentos com os quais os analistas do comportamento têm trabalhado .

Por exemplo estariam excluídos tratamentos que envolvessem comportamentos


,

inais que não existissem no repertório dos observadores fato que não pode ser
,
f

remediado através do treinamento do observador Exemplos de tais compor-


.

tamentos do cliente incluem reações interpessoais mais sutis como as relacionadas


,

às relações de intimidade e à aceitação de riscos interpessoais .

Na prática é quase impossível obter-se a desejada objetividade com


,

base nas descrições comportamentais típicas que são formuladas para problemas
aplicados (Hawkins & Dobes 1977). Não obstante, o consenso entre os
,

observadores é enormemente facilitado se o comportamento que está sendo


observado existe no repertório dos observadores Ainda que certas habilidades
.

(por ex., lances livres no basquete ou o desempenho físico de um ginasta) possam


ser observadas e avaliadas com confiabilidade por alguém que não possui essas
habilidades , geralmente é difícil obter-se confiabilidade na observação de compor-
Introdução 17

tamentos interpessoais complexos que inexistam no repertório do observador .

Consequentemente, é mais fácil para os terapeutas perceberem e descreverem


comportamentos clinicamente relevantes se o comportamento final desejado fizer
parte do seu próprio repertório. Como exemplo, poderia ser difícil para um
terapeuta que não tenha estabelecido relações de intimidade em sua vida ,

discriminar, no cliente, a presença ou a ausência desses comportamentos.


Por estas razões e para os tipos mais sutis de problemas que a psico-
terapia de clientes adultos apresenta a observação direta e a definição comporta-
,

mental do problema e dos comportamentos finais desejados podem ser levadas a


cabo se (a) os comportamentos relacionados ao problema ocorrem durante a
sessão e desta maneira podem ser diretamente observados, e se (b) o terapeuta e
os observadores forem cuidadosamente selecionados de forma que eles mesmos
tenham, em seus repertórios, os comportamentos fmais desejados para o cliente.

Preparando a generalização \

A terapia será ineficaz caso o cliente melhore no ambiente terapêutico


mas esses ganhos não se transfiram para a vida cotidiana. Por isso, a genera-
lização tem sido uma preocupação fundamental para os analistas do compor-
tamento. A melhor maneira para preparar a generalização é conduzir a terapia
no mesmo ambiente no qual o problema ocorre. Historicamente, os analistas do
comportamento têm conseguido este objetivo através do oferecimento de reforça-
mento imediato em instituições, salas de aula, na residência do cliente ou onde
mais seja possível conduzir o tratamento no mesmo ambiente onde o problema
ocorreu.

Como podemos medir ou determinar se dois ambientes são similares?


Uma análise formal procura descrever e comparar os ambientes em termos das
suas características físicas. As limitações deste tipo de análise são encontradas
quando comparamos dois ambientes que são diferentes em alguns aspectos,
mas semelhantes em outros. Por exemplo, se você conduzir um tratamento para
déficits de atenção numa classe de educação especial, os comportamentos adqui-
ridos generalizar-se-iam para uma classe regular ou para o ambiente doméstico?
Para evitar este problema, a comparação pode ter por base uma análise funcional.
Os ambientes são então comparados com base no comportamento que eles evo-
cam, ao invés das suas características físicas. Se eles evocarem o mesmo
comportamento, então são funcionalmente similares.
*

18 Capítulo 1

Embora análises do comportamento não sejam tradicionalmente


conduzidas num ambiente de psicoterapia para adultos elas poderiam ser, se o
,

ambiente terapêutico for funcionalmente similar ao ambiente cotidiano do cliente,


Uma similaridade funcional entre estes dois ambientes estará demonstrada se
comportamentos clinicamente relevantes ocorrerem em ambos os ambientes.
Por exemplo um homem cujo problema apresentado é uma hostilidade que se
,

desenvolve em relações interpessoais próximas demonstrará que o ambiente


,

terapêutico é funcionalmente similar ao seu cotidiano se ele desenvolver uma


hostilidade em relação ao terapeuta na medida em que uma relação mais próxima
venha a se estabelecer entre eles.

Neste capítulo lançamos as bases para a psicoterapia analítica funcional,


,

descrevendo seus pressupostos teóricos e filosóficos Como esquematizado no


.

prefácio, os Capítulos 2 e 3 são dedicados às técnicas de manejo clínico e a


estratégias para ampliar as percepções do terapeuta. A seguir nos Capítulos 4
,

e 5, revemos os conceitos o papel e a importância das recordações, das emoçõgs


,

e da cognição para a mudança do comportamento. No Capítulo 6 formulamos


,

uma teoria comportamental do desenvolvimento da noção do self e discutimos


suas implicações clínicas. No Capítulo 7 comparamos e contrastamos a FAP
,

com a psicanálise e com outras terapias comportamentais e demonstramos que


a FAP aproveita-se dos melhores atributos desses dois enfoques Finalmente,
.

temas éticos e temas culturais de supervisão e de pesquisa são examinados no


,

Capítulo 8.

\
Aplicação Clínica da
Psicoterapia Analítica Funcional

A aplicação clínica da FAP será discutida em termos de certos tipos de


comportamento do cliente e do terapeuta os quais ocorrem ao longo da sessão
,

de terapia. Os comportamentos do cliente são seus problemas progressos e


,

interpretações. Os comportamentos do terapeuta são métodos terapêuticos que ,

incluem evocar notar, reforçar e interpretar o comportamento do cliente.


,

PROBLEMAS DO CLIENTE E COMPORTAMENTOS


CLINICAMENTE RELEVANTES

Tudo que um terapeuta pode fazer para auxiliar os clientes ocorre durante
a sessão. Para o behaviorista radical, as ações do terapeuta afetam o cliente
através de três funções de estímulo: 1) discriminativa, 2) eliciadora e 3)
,

reforçadora. Um estímulo discriminativo refere-se às circunstâncias externas


nas quais certos comportamentos foram reforçados e onde, consequentemente,
tornam-se mais prováveis de ocorrer. A maior parte de nosso comportamento
está sob controle discriminativo e é usualmente conhecido como comportamento
voluntário (comportamento operante). Um comportamento eliciado

19
20 Capítulo 2

(comportamento respondente) é produzido de modo reflexo e é costumeiramente


denominado involuntário. Ajunção reforçadora (discutida no Capítulo 1) refere-
se às consequências que afetam o comportamento. Cada ação do terapeuta possui
um ou mais destes três efeitos. Por exemplo, uma ação do terapeuta poderia ser
"

perguntar ao cliente O que você está sentindo agora?" O efeito discriminativo


" "

afirma que agora é apropriado você dizer como se sente. A questão, entretanto,
poderia também ser aversiva para o cliente e, assim, puniria o comportamento
que precedeu a questão do terapeuta; esta é a função reforçadora. A função
eliciadora da pergunta poderia fazer o cliente enrubescer, suar e induzir outros
estados corporais. Os motivos pelos quais o cliente reage destas formas à pergunta
sobre sentimentos encontram-se em sua história de vida.

Ao assumirmos que (1) o único modo do terapeuta ajudar o cliente é


por meio das funções reforçadoras, discriminativas e eliciadoras das ações do
terapeuta, e que (2) estas funções de estímulo no decorrer da sessão exercerão
seus maiores efeitos sobre o comportamento do cliente que ocorrer na própria
sessão, então a principal característica de um problema que poderia ser alvo da
FAP é que ele ocorra durante a sessão. Além disso os progressos do cliente
,

também deverão ocorrer durante a sessão e serem naturalmente reforçados pelos


reforçadores existentes na sessão. O mais importante é que os reforçadores sejam
as açoes e reaçoes do terapeuta em relação ao cliente.
Três comportamentos do cliente que podem ocorrer durante a sessão
são de particular relevância e são denominados comportamentos clinicamente
relevantes (CRB).

CRB1: Problemas do cliente que ocorrem na sessão

CRB 1 s referem-se aos problemas vigentes do cliente e cuja requência


f

deveria ser eduzida ao longo da terapia. Tipicamente os CRB Is são esquivas


,
r

sob controle de estímulos aversivos. Tal comportamento pode ser ilustrado por
casos clínicos reais como os descritos abaixo:
,

1.
Uma cliente cujo problema é não ter amigos e que afirma "não saber
"
conquistá-los exibe comportamentos como: evitar contato visual, res-
ponder a perguntas falando excessivamente, de um modo impreciso e
tangencial tem uma "crise" atrás da putra e exige ser cuidada, fica
,
Aplicação Clínica da FAP 21

enfurecida se o terapeuta não lhe fornece todas as respostas e frequen-


,

temente queixa-se de que o mundo não se importa com ela e lhe reservou
a pior parte.
2 .
Um homem cujo principal problema é evitar relacionamentos amorosos
sempre decide, antecipadamente sobre o que vai falar na terapia, vigia
,

o relógio para encerrar a sessão pontualmente afirma que só poderá


,

ter sessões quinzenais em função de limitações financeiras (embora


sua renda anual seja superior a trinta mil dólares) e cancela a sessão
,

subsequente àquela em que fez uma importante revelação a respeito


de si mesmo.

3 .
Um homem que se descreve como "eremita" diz que gostaria de
construir uma relação de intimidade está há três anos em terapia e
,

continua periodicamente a brincar com seu terapeuta afirmando que


este só se interessa pelo dinheiro do cliente e secretamente o rejeita .

4 .
Uma mulher cujo padrão é mergulhar em relacionamentos inatingíveis ,

apaixona-se pelo terapeuta.


5 .
Uma mulher, que foi abandonada por pessoas que "se cansam" dela ,

inicia temas novos ao inal da sessão frequentemente ameaça se matar


f

e apareceu bêbada na casa do terapeuta no meio da noite.


" "
6 .
Um homem, com ansiedade para falar congela e não consegue se
,

comunicar com o terapeuta na sessão.

CRB2: Progressos do cliente que ocorrem na sessão

Durante os estágios iniciais do tratamento, estes comportamentos não


são observados ou possuem uma baixa probabilidade de ocorrência nas ocasiões
"

em que ocorre uma instância real do problema clínico, o CRB1. Por exemplo,
considere um cliente cujo problema é se afastar e vivenciar sentimentos de baixa
"

auto-estima quando as pessoas não lhe dão atenção duranté conversas ou


"

outras situações sociais. Este cliente pode demonstrar um padrão similar de


comportamentos de afastamento durante uma consulta na qual o terapeuta não
presta atenção às suas palavras e interrompe seu discurso antes que termine de
,

falar. Prováveis CRB2s para esta situação incluem um repertório de compor-


tamento assertivo que dirigiria o terapeuta de volta para o que o cliente estava
22 -Capítulo 2

dizendo, ou a discriminação do crescente desinteresse do terapeuta pelo que


s

estava sendo dito até o momento em que, de fato, interrompeu o cliente.


O caso abaixo ilustra o desenvolvimento dos CRB2s de uma cliente.
Joanne, uma mulher brilhante e sensível, que buscou terapia em função de uma
ansiedade constante, insónia e recorrentes pesadelos de estupro. Embora ela
suspeitasse ter sido abusada sexualmente pelo pai na infância, ela não guardava,
especificamente, lembranças de tal abuso. Ela melhorou gradualmente no decorrer
dos seis anos de terapia com o segundo autor. Alguns dos CRB2s fortalecidos
em diferentes momentos do tratamento foram:

LRecordar-se e responder com emoção. Durante a infância Joanne ,

viveu uma década de indizível terror envolvendo dor ísica e emocional provocada
,

f
por quem supostamente deveria amá-la, o pai. Recordar e reagir emocionalmente
a estes eventos não foi reforçado. Ao invés disso, era funcional esquecer e reagir
de forma não-emocional, e ela evitou estímulos que poderiam evocar sentimentos
indesejáveis. Sua esquiva era pervasiva e associada às experiências precoces
,

de não ser validada, passou a sentir-se desprovida de um senso de self (ver


Capítulo 6). Joanne evitou reviver sentimentos como dor terror, impotência e
,

fúria não estabelecendo relacionamentos de intimidade. Ela não era aberta não ,

confiava nos outros e não se mostrava vulnerável. Um objetivo terapêutico foi


reduzir a esquiva generalizada e aumentar os CRB2s de lembrar-se e viver a dor
pelo ocorrido. Gradualmente, Joanne foi encorajada a aumentar seu contato
com as recordações vívidas de tortura física e emocional um processo que foi
,

terrivelmente penoso.

2 Aprender
.
a dizer o que deseja (ou seja que suas necessidades são
,

importantes e merecem atenção). Como ocorre com quase todos os sobreviventes


de abuso sexual Joanne foi reforçada por dar ao seu pai o qjie ele desejava, mas
,

fortemente punida por ter seu próprio desejo. Ela codificou este fato como não
tendo o direito de esperar algo dos outros e aprendeu que "desejar é ruim". Eu a
encorajei a desejar e gradualmente estes CRB2s foram fortalecidos Deste modo,
.

tentei reforçar qualquer pedido que eu pudesse com referência a aspectos como
,

os temas a discutira duração e frequência das sessões e reasseguramentos


,

verbais. Além disso foi explicado a Joanne que suas necessidades eram
,

importantes e que se eu ou outra pessoa não as preenchessem ela não deveria se


,
Aplicação Clínica da FAP 23

"
considerar má "

por ter desejos, necessidades. Um incidente importante ocorreu


por volta do quarto mês de terapia, quando me ligou às 23:30 hs., durante um
episódio de flashback. Joanne estava em pânico e gritava. Na medida em que
reconheci seu telefonema como um CRB2 perguntei-lhe se gostaria de ter uma
,

sessão naquele momento o que ela aceitou de imediato. Mais tarde Joanne contou-
,

me ter sido muito difícil aceitar a oferta


embora estivesse apavorada e precisasse,
,

de fato, estar comigo. Quando respondi à sua necessidade o querer foi


" "
,

reforçado. Subsequentemente Joanne aprendeu a me solicitar sessões extras e


,

conversas pelo telefone quando isto fosse necessário e seu comportamento de


,

expressar suas necessidades e desejos se generalizou para outros relacionamentos.

Com o aumento da força destes CRB2s ocorreu mudança correspondente quanto


,

"
a sentir que desejar" é aceitável e que suas necessidades são importantes.

3Confiar. Como as reações de seu pai eram erráticas e imprevisíveis


.
,

Joanne foi reforçada por antecipar e tornar-se hipervigilante com relação a tal
comportamento da parte de terceiros. Ela contou-me que levou seis meses até
que passasse a confiar que eu viria pontualmente à sessão, conforme combinado
"
com ela. Eu tinha todos esses medos - de que você me julgasse louca ou me
ferisse, de que meus sentimentos lhe assustassem e o fizessem se afastar de
mim. Mais do que me reconfortar, você me fez examinar o que eu estava sentindo
em relação a você. Eu dizia que não o faria e você me respondia que você
"
precisava confiar na sua experiência. Então Joanne tornou-se menos vigilante
na busca de uma ação errática de minha parte, o que, por sua vez, facilitou o
crescimento de nossa relação. Eu também fui capaz de manter minha palavra,
sendo coerente com meus pontos de vista, e não agi de maneira imprevisível.

4 Aceitar o
. amor. Após três anos em terapia comigo (esteve em terapia
por cinco anos, antes de vir me procurar), Joanne descreveu um problema da
vida diária de relacionamento interpessoal. Disse que, bem no fundo, sentia não
saber como amar ou como ser amada. Eu lhe iz mais perguntas, buscando
f

descobrir exatamente o que ela queria dizer, para elaborar o problema em termos
comportamentais. Joanne tinha dificuldade para fazê-lo. Tentando saber se isto
ocorria na sessão, perguntei-lhe se conseguiria aceitar meu amor no momento,
ela disse que não, que sentia-se fechada. Embora fosse um processo privado,
cujas dimensões fossem difíceis de descrever, julguei que um CRB1 estava
ocorrendo naquele momento.
24 Capítulo 2

T: Como é sentir-se fechada?

C: É como se meu coração estivesse fechado.

T; Totalmente fechado?

C: Talvez 5% aberto.

T: Gostaria que você tentasse abrir até 20% e aceitasse meu amor por você.

C: Está aberto uns 25%.

T: Ótimo! Você conseguiria uns 40%?

Este processo foi mantido, e Joanne relatou ser capaz de "abrir seu
"

coração cada vez mais. Eis uma descrição do que ela sentiu durante aquela
"
sessão: Tomei coragem para me abrir e deixar o amor entrar. Foi uma mudança

de foco em meu corpo e mente. Ainda que estivesse consciente do meu medo ,

terror e sofrimento causados pelas experiências com meu pai, enfoquei o que
sentia em relação a você, no presente, em oposição aos meus medos. Deixei que
existissem duas verdades simultâneas: que meu pai abusou de mim e que você ,

era uma pessoa com quem eu podia me sentir segura e amada. Continuei
afirmando para mim mesma que queria abrir espaço para receber o amor. Eu
mantenho a tensão nos meus músculos quando me fecho principalmente no
,

meu peito, como se o músculo ficasse congelado. Então a sensação física de me


abrir é o relaxamento do músculo, respirar mais profundamente deixar o ar
,

entrar em meu corpo, sentir a respiração. E como a sensação da abertura de


"
uma lente em meu coração.
Não fica claro quais processos comportamentais estão envolvidos na
" "
aceitação do amor mas a descrição que Joanne faz de sua experiência sugere
,

algumas possibilidades. Nossa interpretação é que não ser capaz de aceitar o


amor foi um comportamento específico, principalmente privado o qual a manteve
,

distante e reduziu a aversividade de relacionar-se com o seu pai. Considerando


*

alguns aspectos de sua descrição algumas destas respostas foram provavelmente


,

evocadas pelo abuso sexual. A despeito da aversividade ela permaneceu em


,

contato com seus sentimentos e sua esquiva foi extinta, suas respostas físicas
,

mudaram e surgiu, em paralelo, um sentimento de "aceitação do amor".


,
d e t a lh s p o d e r ã s o b t i d s n o t ó p i c R e g r a 5 .
Aplicação Clínica da FAP 25

Esta sessão foi um importante divisor de águas para Joanne , porque


aprendeu que possuía controle sobre "aceitar ou não, o amor ,
"
.
Isto a auxiliou
no desenvolvimento de relacionamentos amorosos mais íntimos .

CRB3: Interpretações do comportamento segundo o cliente

O CRB3 refere-se à fala dos clientes sobre seu próprio comportamento


"
e o que parece causá-lo o que inclui interpretações" e "dar razões". O melhor
,

CRB3 envolve a observação e interpretação do próprio comportamento e dos


estímulos reforçadores discriminativos e eliciadores associados a ele. Descrever
,

conexões funcionais pode ajudar a obter reforçamento na vida diária Maiores .

Os repertórios de CRB3 também incluem descrições de equivalência


funcional que indica semelhanças entre o que ocorre na sessão e na vida diária ,

Por exemplo Esther, uma mulher com cerca de quarenta anos, há quinze anos
,

permanece sem qualquer contato íntimo de natureza sexual. Após seis anos em
FAP com o segundo autor Esther se envolveu com um homem que conheceu na
,

igreja. Seu CRB3 era: "A razão pela qual entrei em um relacionamento íntimo
é porque você esteve ao meu lado. É uma mudança fenomenal. Não fosse você ,

eu não estaria lá. Com você encontrei o primeiro lugar seguro, onde eu tinha
como falar sobre o que sentia, pude descobrir razões pelas quais seria desejável
eu tornar-me sexualizada. Por um certo período de tempo estive mais abertamente
atraída por você e você aceitou meus sentimentos. Aprendi que seria melhor eu
,

preservar minha totalidade e sentir-me sexual, do que vestir uma armadura e


"

sentir-me vazia. E eu pude praticar a ser direta com você. Este tipo de afirmação
pode ajudar a aumentar a probabilidade do cliente transferir seus ganhos na
terapia para a vida diária. Neste caso, o comportamento a ser transferido auxiliou
a aumentar o reforçamento de estar se relacionando intimamente.
Terapeutas, por vezes, confundem repertórios de CRB3 com o
comportamento ao qual eles se referem. Uma cliente afirmar que se afasta sempre
que se torna dependente de um relacionamento (CRB3) difere de realmente se
distanciar durante uma sessão porque está se tornando dependente do terapeuta
(CRB1). E lamentável que alguns terapeutas focalizem sua atenção sobre estes
repertórios que descrevem um comportamento problemático e não conseguem
observar a ocorrência dos comportamentos problemáticos (CRB1) ou dos
progressos (CRB2).
26 Capítulo 2

Avaliação inicial

De início, os procedimentos de avaliação da FAP não diferem daqueles


rotineiramente usados pelos terapeutas em sua prática clínica. O cliente é
solicitado a relatar seus problemas e outras condições de sua vida. Entrevistas,
auto-relatos, material gravado, questionários e registros são utilizados para definir
o problema, gerar hipóteses sobre variáveis de controle e monitorar o progresso.
Uma vez que o terapeuta já tenha alguma idéia sobre o problema e suas
variáveis de controle, inicia-se a avaliação da eventual ocorrência destes
comportamentos na sessão. O terapeuta hipotetiza se um CRB1 estaria ocorrendo
em um dado momento, ou apresenta uma situação supostamente capaz de evocar
o CRB1. Estes procedimentos, hipotetizar e evocar, serão discutidos mais à
rente.
f

A FAP centraliza sua avaliação em uma questão-chave, que o terapeuta


"

continuamente pergunta ao cliente durante o tratamento: Isto está acontecendo


" "

agora? "isto referindo-se ao CRB1. Algumas variações possíveis: "Como


,

"

você se sente, agora, a seu próprio respeito? "Neste exato momento você está
,

"
se afastando? "O que acabou de acontecer se parece com o que fez você buscar
,

"
atendimento? "A dificuldade que você teve de expressar os seus sentimentos
,

"
agora é a mesma que você tem com sua mãe? "O que você sente agora...é
,

"

semelhante à ansiedade de se expressar verbalmente que te fez buscar terapia?


A FAP não possui procedimentos especiais para avaliar a validade do
auto-relato do cliente em resposta a uma questão de avaliação. Por um lado, a
resposta baseia-se num evento que acabou de ocorrer, talvez dois segundos antes.
Portanto, pode ser menos sujeito às distorções que o tempo e a distância produzem
nos relatos de eventos que ocorreram no passado. Por outro lado, o CRB1
- provavelmente é acompanhado de respostas que interferem na auto-observaçao
-

e também pode sofrer viéses pela exigência implícita na pergunta do terapeuta.


A vantagem de avaliar o comportamento vigente, entretanto, é que o terapeuta
pode observar diretamente o comportamento que o cliente está descrevendo.
Isto permite avaliar a confiabilidade inter-observadores, contar e registrar
respostas e constitui-se numa oportunidade de estimar a correlação entre relatos
verbais e o comportamento ao qual ele se refere.
Aplicação Clínica da FAP 27

TÉCNICA TERAPÊUTICA: AS CINCO REGRAS


s

Dado que a psicoterapia é um processo interacional complexo ,

envolvendo comportamento multideterminado nossas sugestões de técnica


,

psicoterapêutica não pretendem ser completas ou excluir o uso de procedimentos


não descritos aqui. Pelo contrário outros métodos de terapia podem ser
,

complementados ou ampliados para auxiliarem terapeutas a obterem vantagem


de oportunidades que de outro modo poderiam passar despercebidas Por .

exemplo, os métodos da terapia cognitiva poderiam ser usados junto com a


FAP, pois esta oferece recursos terapêuticos para trabalhar com pensamentos
irracionais ou pressupostos erróneos (ver Capítulo 5).
Nossas técnicas são dispostas sob a forma de regras. Ao contrário do
significado ameaçador ou rígido que é associado ao uso comum do termo ,

propomos que as regras sejam compreendidas segundo o conceito skinneriano


de comportamento verbal (Skinner 1957, p. 339), depois elaborado por Zettle e
,

Hayes (1982). Neste contexto, as regras da FAP são sugestões para o compor-
tamento do terapeuta, as quais resultam em efeitos reforçadores para o terapeuta.
r
"

E mais uma questão de "experimente você vai gostar do que "é melhor que
, ,

"
você faça assim .

Além disso as regras não oferecem aos terapeutas a orientação específica


,

para cobrir todo momento ou situação da sessão. Espera-se que os terapeutas


atuem de forma a depender de sua experiência e de outras teorias. No início da
terapia, o tempo é geralmente gasto na coleta da história de vida e de descrições
dos problemas clínicos. Segue-se uma etapa exploratória com o cliente para
investigar como poderia agir para melhorar sua situação. Em qualquer ponto
deste processo, a adoção de regras da FAP poderia mudar o foco do tratamento
para o CRB. O foco pode ser momentâneo ou dominar a cena. Deste modo,
nenhum procedimento é excluído, mas, a qualquer momento, seguir regras da
FAP poderia conduzir à identificação e utilização de uma oportunidade
terapêutica.

Regra 1: Prestar atenção aos CRBs


Esta regra é o coração da FAP. Nossa principal hipótese é que seguir
esta regra melhora o resultado da terapia. Portanto, quão maior for a proficiência
do terapeuta em identificar CRBs, melhores os resultados. Também hipotetiza-
28 Capítulo 2

se que seguir a Regra 1 conduzirá a uma crescente intensidade; ou seja, reações


emocionais mais fortes entre cliente e terapeuta durante a sessão.
Numa sessão de terapia, a consequência primária do comportamento
do cliente é a reação do terapeuta. Caso o terapeuta não proceda a uma observação
clara do comportamento do cliente, suas reações poderão ser inconsistentes ou
antiterapêuticas, o que comprometeria o progresso. Em outras palavras, se o
terapeuta não estiver ciente dos comportamentos clinicamente relevantes do cliente
que ocorrerem durante a sessão, o reforçamento dos progressos no momento de
"
sita ocorrência será algo do tipo pegar ou perder Ainda que estar consciente
"
.

e prestar atenção não garantam que melhoras sejam reforçadas e comportamentos


desfavoráveis sejam extintos ou punidos isto aumenta a probabilidade de reações
,

apropriadas do terapeuta.
O problema contraterapêutico gerado pela ausência de consciência é
familiar àqueles que trabalham com crianças com perturbações graves O .

primeiro autor recorda-se quão doloroso foi ensinar uma criança


institucionalizada a calçar suas próprias meias - ele nunca havia feito isto e até
que ele sistematicamente conseguisse calçá-las foi necessária uma hora de treino
diário, ao longo de várias semanas. Seus pais levaram o garoto para uma visita
à sua casa e observaram-no sair da cama e calçar as meias. Eu mal continha o
júbilo pelo progresso alcançado. Mas assim que ele calçou as meias, seus pais o
advertiram por calçar cada pé de uma cor diferente imediatamente arrancafam,

uma delas e substituíram-na por outra de cor adequada O cliente teve um ataque .

de birra. Obviamente os pais não conseguiram perceber que calçar as meias era
um CRB2 ,membro de um repertório cuja ausência, ou baixa probabilidade de
ocorrência estava diretamente relacionada ao problema. Se os pais estivessem
,

presentes às entediantes semanas de treinamento, sua percepção teria mudado e,


provavelmente, seriam capazes de reforçar naturalmente o comportamento de
calçar as meias. É pena que alguns psicoterapeutas com requência, não estejam
,
f

atentos aos comportamentos clinicamente relevantes que ocorrem na sessão e


tendem a reagir de um modo não-terapêutico como os pais da criança autista.
,

Como se afirmou antes


é mais provável que se reforce apropriadamente
,

o comportamento clinicamente relevante que ocorre na sessão se o terapeuta


observar atentamente o que se passa Vamos examinar o caso de Betty, em
.

tratamento com o primeiro autor com queixa de ansiedade para se expressar


,

verbalmente pânico, falta de assertividade perante figuras de autoridade,


,

especialmente do sexo masculino (por exemplo supervisores e executivos da


,

empresa onde trabalha) .


Durante a sessão , ela me pediu que ligasse para seu
Aplicação Clínica da FAP >

29

clínico e solicitasse
, em seu nome, uma nova receita dos tranquilizantes que lhe
foram prescritos e estavam terminando. Acrescentou que tinha muito medo de
fazê-lo. Tive diversas , e fortes, reações negativas encobertas. Primeiro, não
gostei da idéia por geralmente desencorajar a medicação, em benefício dos
métodos comportamentais. Segundo pensei que renovar a receita estava sob
,

responsabilidade de Betty não minha. Terceiro, imaginei que esta seria uma
,

chance para a cliente praticar interagindo com seu médico, o comportamento


,

assertivo. Por fim considerei que telefonar para o médico é uma tarefa
,

desagradável, que parecia uma interferência sobre meu horário. Por outro lado ,

em função da Regra 1, sabia que o pedido era definitivamente, um CRB2, um


,

comportamento assertivo na sessão dirigido a uma figura masculina de


,

autoridade, o qual, até então estava ausente no repertório de Betty. Estando


,

ciente disso, concordei em ligar para o médico e cumprimentei-a pela expressão


direta ao me fazer seu pedido.
A importância da Regra 1 não pode ser enfatizada em demasia.
Teoricamente, seguir a Regra 1 é tudo o que precisamos para o tratamento ter
sucesso. Ou seja, um terapeuta habilidoso em observar a ocorrência na sessão,
,

de instâncias do comportamento clinicamente relevante tenderá a reagir,


,

naturalmente, no sentido de reforçar, extinguir e punir o comportamento em


questão, propiciando o desenvolvimento de alternativas úteis para a vida diária.
A observação de repertórios como os especificados pela Regra 1 é prática
usual entre terapeutas psicodinâmicos e de ecléticos reconhecidos como bastante
competentes. Isto é esperado porque as ocorrências de CRB que são rotuladas
como transferência servem como estímulos discriminativos importantes na
terapia de orientação psicodinâmica. Além disso, seria esperado dos terapeutas
com vasta experiência, independente de sua orientação teórica, que mostrassem
os tipos de comportamento da Regra 1 em função do fato de que perceber o
CRB (mesmo sob a forma de estar atento a questões transferenciais) facilita o
progresso clínico, o que automaticamente reforça o comportamento do terapeuta
de seguir a Regra 1. Poder-se-ia esperar que este reforçamento acontecesse sem
que o terapeuta estivesse consciente.
Acreditamos que os efeitos da Regra 1 refletem-se nos resultados de um
estudo recente sobre os produtos das interpretações psicanalíticas (Marziali,
1984). Nesta pesquisa, as interpretações feitas pelo terapeuta foram categorizadas
do seguinte modo: 1) Interpretações T: mencionavam o comportamento do cliente
que estava ocorrendo na sessão; 2) Interpretações DL: referiam-se ao
comportamento que ocorria fora da sessão, na vida diária; 3) Interpretações P:
30 Capítulo 2

referentes ao comportamento do cliente que ocorreu em seu passado. A melhora


4

do cliente se correlacionou com o número de interpretações T. Na perspectiva


da FAP, a interpretação T significava que o terapeuta estava observando CRBs
(ou seja, emitindo o mesmo comportamento especificado pela Regra 1). Quanto
mais se prestar atenção no CRB> maior o progresso do cliente. Ao nosso ver, as
melhoras decorreram das contingências fornecidas pelo terapeuta, que tendem a
ocorrer naturalmente, já que ele estava observando o processo. A interpretação,

por si só, poderia ter contribuído para a melhora, mas, segundo a FAP, seria
menos importante do que a contingência do terapeuta reforçar naturalmente as
reações de melhora apresentadas na sessão.

Regra 2 : Evocar CRBs *

Em nossa opinião um relacionamento terapeuta-cliente ideal evoca


,

CRB1 e cria condições para o desenvolvimento do CRB2.0 grau em que isto é


alcançado depende é claro, da natureza dos problemas de vida diária do cliente.
,

"
E possível que um terapeuta distante afastado, no estilo tela em branco" fosse
,

a pessoa certa para alguns clientes. Uma dada medida de passividade poderia
oferecer ao cliente a chance de se desenvolver com independência (ver Capítulo
6 sobre o tratamento de problemas que afetam o "eu"). Em termos genéricos ,

entretanto a maioria dos clientes precisa aprender a desenvolver relações de


,

intimidade o que significa que o relacionamento terapêutico deveria evocar o


,

comportamento do cliente que evita o estabelecimento da intimidade (CRB1).


Se o cliente tiver habilidades de relacionamento adequadas para interagir com
um terapeuta passivo e distante quase nada aprenderia em termos de intimidade.
,

Por outro lado um terapeuta atívo e caloroso poderia evocar os problemas do


,

cliente e abrir espaço para progressos. Um cliente que deseja estabelecer


relacionamentos de proximidade mas que teme o envolvimento, pode claramente
,

se beneficiar com um terapeuta que expresse afetividade.


As descrições que clientes fazem sobre o que desejam em uma relação
terapêutica apontam a importância de um relacionamento capaz de evocar certos
comportamentos. Como certo cliente afirmou "Terapia é construir uma relação
,

de amor. Se você conseguir superar seus bloqueios com uma certa pessoa ,

conseguirá fazê-lo com outras Outro cliente expressou sentimentos similares:


"
.

"
Se maus relacionamentos me bagunçaram então precisarei de bons relacio-
,

namentos que me ajudem a ficar curado E esta foi uma boa relação."
.
Aplicação Clínica da FAP 31

Peck (1978) opinou sobre o que torna a psicoterapia efetiva e bem


sucedida:

É humano envolver-se e lutar .


É desejo do terapeuta servir aos propósitos de
estimular o crescimento do cliente - vontade de sustentar-se pelas própria pernas ,

de envolver-se realmente num nível emocional de relacionamento; lutar de fato, ,

com o paciente e consigo mesmo Em suma, o ingrediente essencial de uma


.

terapia significativa e profunda é o amor (p. 173) .

Greben (1981) que citamos no início do livro, pensou de modo similar


,

ao de Peck:

í
/

Psicoterapia não é um conjunto de regras elaboradas sobre o que alguém não


deve fazer: regras sobre quando ou o que falar sobre como tirar férias, lidar com
,

os momentos perdidos , etc. É algo muito mais simples que isso. É o encontro de
trabalho entre duas pessoas trabalho duro e honesto. Poderia afirmar que é uma
,

jornada de amor. (p.455)

Nossa interpretação sobre os pontos de vista de Peck e Greben é que o


cliente aprende a se envolver num relacionamento real. Um terapeuta que ama e
se envolve plenamente com um cliente cria um ambiente terapêutico que evoca
CRB1 s correspondentes.
Além da postura geral assumida pelo terapeuta há outras formas do
\
,

ambiente ser estruturado para evocar CRBs. Embora não visem tal objetivo,
técnicas específicas usadas por vários psicoterapeutas podem ser efetivas por
evocarem o CRB. Alguns exemplos são: 1) Associação livre, que pode ser vista
como a apresentação de uma tarefa não estruturada que impele à introspecção e
evoca o CRB correspondente (ver Capítulo 6); 2) Hipnose, que pode evocar o
CRB relacionado a renunciar ao controle; 3) Lições de casa: pode evocar CRBs
relacionados a contra-controle ou a obediência excessiva; 4) Exercícios de
imaginação: possibilitam evocar CRBs relacionados a estar sob restrição,
emocionado ou em processo criativo. A reestruturação cognitiva, a técnica das
cadeiras vazias, relatar sonhos e a terapia do grito primai certamente evocam
CRBls apropriados para alguns clientes. O problema com estas técnicas é que
o terapeuta que as utiliza pode estar tão sob controle de alter egos, de nossa
sabedoria interior, do conteúdo inconsciente ou da distorção cognitiva, que o
CRB não é identificado ou é visto como mero subproduto.
32 Capítulo 2

Outras abordagens incluem: 1) pedir que o cônjuge do cliente venha às


sessões, se o repertório relevante, em termos do problema de relacionamento do
cliente, somente emergir em sua presença (aconselhamento de casal); 2) iniciar
a sessão de uma cliente bulímica com a atividade de almoço caso os CRBs só
,

ocorram após as refeições; 3) restringir, por um tempo, os comentários que


indicam que o cliente recebe a aceitação ou aprovação do terapeuta caso o,

CRB se refira às dificuldades de se relacionar com quem não é explícito em


termos de aprovação e aceitação.
O último exemplo levanta um problema que pode ocorrer quando um
terapeuta deliberadamente altera um aspecto de seu comportamento para
aumentar as chances de obter o CRB. O terapeuta pode ir longe demais ao
dispor condições para evocar o CRB e sua credibilidade pode sofrer danos devido
à natureza de tal reforçamento arbitrário. Por exemplo: um terapeuta pode simular
raiva para evocar o CRB num cliente cujas dificuldades são provocadas por
pessoas que se enfurecem. Embora a raiva possa resultar numa interação
terapêutica importante o cliente pode vir a reconhecer que a raiva não era real.
,

Mas sim um comportamento fingido pelo terapeuta em benefício do cliente. No


,

futuro, a expressão de raiva do terapeuta poderia justificadamente, ser


,

interpretada como um estratagema o que impediria, é claro, a evocação do


,

CRB. Além disso, o cliente poderá se tornar incapaz de confiar nas expressões
ou verbalizações afetivas do terapeuta. Tal efeito é desnecessário afirmar,
,

limitaria seriamente o progresso.


A situação descrita acima precisa ser diferenciada de outra na qual o
problema do cliente é a falta de confiança que interfere em relacionamentos im-
portantes. Tal desconfiança não se origina de interações com o terapeuta, como
no exemplo citado mas possui uma longa história e sua ocorrência na relação
,

terapêutica é coerente com sua história. Em tal caso duvidar da sinceridade das
,

reações do terapeuta constitui-se num CRB e deveria ser foco de tratamento .

Seria particularmente lamentável se um terapeuta fortalecesse a falta de confiança


ao conduzir indevidamente uma tentativa de estabelecer condições provocadoras
do CRB. Uma salvaguarda seria o terapeuta explicar ao cliente as razões pelas
quais iria, a partir daquele momento, alterar o seu comportamento.
4

Regra 3: Reforçar CRB2s

E difícil por a Regra 3 em prática Os únicos reforçadores naturais dis-


.

poníveis, na sessão, para o cliente adulto, são as ações e reações interpessoais


Aplicação Clínica da FAP 33

entre cliente e terapeuta. Por um lado o reforçador temporal e isicamente


,

f
contíguo ao comportamento-alvo é o agente primário de mudança na situação
terapêutica. Por outro lado os behavioristas, cientes da importância do
,

reforçamento tendem a utilizar procedimentos arbitrários que comprometem a


,

eficácia da intervenção. Como Ferster (1972a) afirmou os reforçadores naturais


,
"

são, às vezes, intrigantes porque parecem reforçar tanto o comportamento e ,

ainda assim, seus efeitos parecem esvanecer quando se tenta usá-los


deliberadamente." (p. 105).
Há abordagens diretas e indiretas para se prover reforçamento natural .

As abordagens diretas consistem no que um terapeuta pode fazer na hora em


que se requer um reforçador; entretanto, apresentam um maior risco de pro-
duzirem reforçamento arbitrário. As abordagens indiretas propiciam a ocorrência
do reforçamento natural por meio da manipulação de outras variáveis diferentes
,

do que se faz imediatamente após o comportamento com isco menor de parecer


,

r
arbitrário.

Abordagens Diretas

E evidente que o terapeuta que planeja dizer "muito bem" ou demonstra


reações exageradas sempre que o cliente solicita reforçamento corre o isco de
r

ser arbitrário. Esta é, provavelmente, a razão pela qual Wachtel (1977) afirmou
que os comportamentais eram extremamente exuberantes no uso de elogios, o
" "
que vulgariza a relação. Tentativas deliberadas de recompensar um cliente
4

"
adulto, guiadas pela regra quando o cliente demonstrar um progresso, faça um
"
gesto positivo ou faça um elogio conduziriam facilmente ao reforçamento
,

arbitrário. Portanto, como regra geral, é recomendável evitar procedimentos


que especifiquem de antemão a reação do terapeuta, o que parece ocorrer sempre
que tiramos um reforçador da cartola? sem relação alguma com a história
i

específica de relação terapeuta-cliente. Por exemplo, se fossemos imaginar algo,


com função reforçadora, para dizer a um cliente, viriam à nossa mente rases
f

como muito bem ou "que ótimo!". Estas formas específicas de resposta


" "

poderiam facilmente ser arbitrárias porque foram criadas fora do contexto da


relação cliente-terapeuta no qual ocorreria o reforçamento.

Reforce uma classe ampla de respostas nos clientes. Aos clientes é


1 .

mais naturalmente reforçador dispor, em seu repertório, de uma classe ampla de


respostas porque ela tende a ser generalizável para outras situações. Examinemos
34 Capítulo 2

o caso de um homem, obsessivo-compulsivo, que está sendo encorajado pelo


terapeuta a se soltar mais em seus relacionamentos com família e amigos. Ele
gradualmente começa a chegar atrasado às sessões, tenta obter tempo extra ao
final das mesmas e atrasa o pagamento das consultas. Uma reação estrita do
terapeuta seria chamar o cliente às falas, ao passo que reforçaríamos uma classe
de. respostas mais ampla se considerássemos os comportamentos menos
responsáveis do cliente como manifestações de progresso (CRB2).

2
Compatibilize suas expectativas com os repertórios atuais dos clientes.
.

Isto significa estar atento ao nível atual de habilidades do cliente em quaisquer


áreas nas quais o cliente esteja tentando implementar mudanças (por exemplo ,

comunicar-se melhor descrever sentimentos, controlar impulsos) sem estabelecer


,

expectativas excessivamente elevadas. O conceito de modelagem pode auxiliar


na identificação dos repertórios vigentes. Por exemplo o segundo autor atendeu
,

uma cliente chamada Agnes, diagnosticada como borderline segundo o DSM-


,

HI-R que apresentava flutuações de humor, era explosiva e verbalmente abusiva.


,

Frequentemente ela encerrava a terapia de modo abrupto sem aviso prévio nem
,

provocação aparente. Tinha que enfrentar, em sua vida diária, estes mesmos
problemas, o que a levou a passar por inúmeras e breves tentativas prévias de
terapia porque os terapeutas a consideravam insuportável. Após um ano de
,

terapia, no qual demonstrei rara capacidade de paciência e tolerância para com


este comportamento Agnes novamente parou, ameaçou cometer suicídio, e
,

afirmou estar fazendo isto em função de eu não me importar com ela demeçstrado
,

pela limitação do meu tempo reservado para ela. Embora pudesse ver este
comportamento como a gota d'água que transbordaria o copo o conceito de
,

modelagem me auxiliou a discriminar este evento como um CRB2 em potencial,


e que deveria ser reforçado. Agnes estava de fato, pela primeira vez, descrevendo
,

variáveis externas como causa de seus rompantes, antes de sair em disparada


consultório afora. Reforcei sua melhora dizendo-lhe como eu poderia melhor
preencher suas necessidades, e negociei com ela sobre a duração e requência
f

das nossas sessões. Pela modelagem a raiva e o comportamento abusivo de


,

Agnes reduziram-se gradualmente sendo substituídos por pedidos e descrições


,

diretas.

3 Amplifique seus sentimentos para torná-los mais salientes Por vezes


.
.

ajuda adicionar algum comportamento verbal à reação básica frente ao cliente ,

de modo a garantir ou aumentar a eficiência terapêutica. Embora a natureza do


reforçador não se modifique fundamentalmente ao longo do processo , a
Aplicação Clínica da FAP 35

amplificação pode ser importante do ponto de vista terapêutico. Este cuidado se


traduz no terapeuta sendo muito cuidadoso na explicação de suas reações ao
cliente, bem como ao descrever eventos privados ou reações sutis que possam
não ser discriminadas de imediato. A título de ilustração consideremos um
,

cliente que se preocupa com a questão da intimidade e sente falta de amizades.


Ao se comportar na sessão, ele produz no terapeuta reações espontâneas de ,

natureza privada. Estas respostas podem incluir: 1) predisposições para agir de


"
modo íntimo e carinhoso, e 2) respondentes privados que correspondem a sentir-
"

se próximo Como estes comportamentos não são discriminados pelo cliente


.
,

ou possuem pouco valor reforçador o terapeuta poderia descrever alguma reação


,

interna e dizer: "Eu me sinto particularmente próximo de você agora". Sem a


amplificação, tais reações básicas importantes exerceriam pouco ou nenhum
efeito reforçador sobre o comportamento do cliente que as causou.

4. Esteja ciente de que seu relacionamento com o cliente existe para o


beneficio deste. Quaisquer intervenções que estejam em andamento, é importante
que o terapeuta sempre se interrogue sobre o que é melhor para o cliente naquele
momento e a longo prazo. Para ilustrar este princípio, vamos examinar a relação
entre o conceito de reforçamento natural e o tipo de terapia proposto por Carl
Rogers. Embora Rogers estivesse vinculado a uma abordagem muito diferente
da FAP, as características do terapeuta naturalmente reforçador lembram, em
diversos aspectos, a postura cuidadosa e genuína de Rogers. Conhecido por sua
"
oposição ao uso do reforçamento como forma de controle sobre as outras
"

pessoas, Rogers certamente não tentaria fazê-lo. Mas uma análise cuidadosa de
suas reações aos clientes indica que há contingências (Truax, 1966), pois Rogers
reagia diferencialmente a certas classes de comportamento do cliente. Deste
modo, ele produzia um padrão de reforçamento.
Ao nosso ver, a atenção de Rogers provavelmente manifestava-se como
um interesse, preocupação, sofrimento ou envolvimento, que terminavam, natural-
mente, punindo CRB1 s e reforçando CRB2s e CRB3s. Deste modo, sugerimos
que a proposição rogeriana é um método indireto de fortalecer a ocorrência de
contingências naturalmente reforçadoras. Um terapeuta que dá atenção, conforme
a formulação aqui apresentada, é alguém naturalmente reforçador, ou governado
pelo que é melhor para o cliente.
Na medida em que na relação terapêutica há um desequilíbrio de poder,
é especialmente importante obedecer a esta diretriz, Do contrário, os clientes
poderiam ser facilmente abusados e feridos. Clientes que se envolvem sexualmente
36 Capítulo 2

com seus terapeutas são um destes casos. Peck (1978) discutiu muito bem porque
é difícil conceber que um cliente se beneficie do relacionamento sexual com o
terapeuta:

Caso eu tivesse um caso sobre o qual concluísse, após cuidadoso e sistemático


exame, que o crescimento espiritual do meu paciente seria substancialmente
beneficiado pelo nosso relacionamento sexual, eu aceitaria a idéia. No entanto,
em quinze anos de atividade profissional, nunca encontrei um caso assim, e acho
difícil imaginar que isto sequer seja possível. Antes de mais nada, o papel de um
bom terapeuta é ser um bom pai, e pais não se relacionam sexualmente com os
filhos por uma série de razões, todas bastante fortes. A tarefa de um pai é estar a
serviço da criança, e não usá-la para sua satisfação pessoal. Cabe ao terapeuta
servir ao cliente, sem fazer uso dele para preencher suas necessidades. A tarefa
paterna é encorajar a criança em direção à independência, e o terapeuta deve
.
seguir este exemplo. É difícil entender que um terapeuta que se relacione
sexualmente com um cliente não o fizesse por razões pessoais ou que estivesse,
,

por meio de tal atitude, promovendo a independência do cliente, (p. 176)

5
Se usar reforçadores atípicos, faça~o somente por tempo limitado,
.

como forma de transição. Ocasionalmente um terapeuta pode desejar utilizar


,

reforçadores atípicos em uma fase de transição do tratamento até que os ,

reforçadores naturais assumam o controle. Mas esta atitude requer grande cautela.
Além disso, recomenda-se contar ao cliente porque isto está sendo feito e que ,

depois haverá substituição pelo reforçamento natural. Ferster (1972b) afirmou ,

que alguns dos usos bem sucedidos de reforçadores atípicos como alimento ou
"
elogios devam-se à forma como eles tornam o comportamento do cliente mais
visível ao terapeuta e ao próprio cliente." Uma vez que tal consciência se
estabelece, reações do terapeuta naturalmente reforçadoras despertariam, no
cliente, repertórios relevantes que acompanham os reforçadores arbitrários.
Vejamos o caso de um cliente que apresentava altas taxas de faltas no trabalho
e na terapia. Obviamente, sem contato é difícil desenvolver a aliança terapêutica.
Surpresas sob a forma de recompensas materiais de baixo valor como material ,

de papelaria, ou brinquedos podem ser oferecidas como indução da presença


regular às consultas. Na medida em que se desenvolvem novos repertórios que
tornam a terapia em si suficientemente reforçadora estas recompensas podem
,

ser retiradas gradualmente.

6 .
Evite a punição. Em conformidade com a proposição do behaviorismo
radical , que se opõe ao uso da punição, até agora se enfatizou o reforçamento
Aplicação Clínica da FAP 37

positivo. Os estímulos aversivos somente deveriam ser usados quando


procedimentos que envolvam o reforçamento positivo se mostrarem ineficazes.
A oposição ao uso terapêutico de estímulos aversivos baseia-se em seus
problemáticos efeitos colaterais: 1) pode gerar esquiva da terapia, 2) propicia a
agressividade em geral 3) o comportamento produtivo acaba substituído por
,

fuga e esquiva. Ferster apontou que a maior parte do controle aversivo que
ocorre entre pessoas é na sua essência, arbitrário. Portanto, faz sentido evitar,
,

sempre que possível o uso de controle aversivo no tratamento de adultos atendidos


,

em nossos consultórios.

Há casos entretanto, nos quais os CRBls do cliente consistem em


,

comportamento de fuga e esquiva o que impossibilita a oòorrência de CRB2s,


,

ou seja, o desenvolvimento de repertórios mais efetivos Nestas situações, o .

terapeuta pode tentar bloquear a esquiva reapresentando ao cliente o estímulo


discriminativo que originalmente evocou a fuga ou esquiva Consideremos, por .

exemplo, uma simples questão feita pelo terapeuta: "Como foram os exercícios
de relaxamento durante a semana?" num contexto no qual o cliente concordara
,

com a tarefa. Para alguns a pergunta seria um estímulo aversivo, que evocaria
,

fuga ou esquiva do cliente seja mudando o assunto, mentindo ou respondendo


,

de modo ambíguo.
Estas reaçÕes (por exemplo fornecendo uma resposta indireta) poderiam
,

se relacionar com uma série de problemas do cliente em termos de relacionamentos


interpessoais. Se o terapeuta muda de tópico e "parte para outra" haveria ,

reforçamento da esquiva CRB1 sem que se possibilite o desenvolvimento de


,

"
um repertório significativo do cliente pleno de implicações, relacionado a ser
,

direto". Portanto a técnica principal para enfraquecer a esquiva seria introduzir,


,

novamente, o estímulo aversivo, o que, no caso acima equivale a repetir a ,

pergunta sobre o cumprimento dos exercícios de relaxamento.


Nossa impressão é que CRBls de esquiva ocorrem requentemente na
f

terapia, talvez em toda sessão. O terapeuta pode sempre se interrogar - "O que
"
esta resposta consegue~évitar? E difícil detectar a esquiva porque a situação
aversiva pode ser extremamente idiossincrática dificultando que o terapeuta ,

consiga perceber o que ocorre. No exempla anterior, o cliente poderia começar


a sessão já se referindo a uma crise, antes mesmo que o terapeuta lhe pergunte
sobre o relaxamento. A crise pode ou não, ser esquiva do conversar sobre a
,

lição de casa. A não ser que o terapeuta tenha formulado hipóteses a respeito
dos CRB1 s referentes à tarefaa crise seria uma esquiva bem sucedida. O conceito
,

de esquiva, do ponto de vista funcional requentemente tem pouco a ver com o ,


f
38 Capítulo 2

cliente estar consciente do que ocorre e é, basicamente, um comportamento


modelado pelas contingências. Conforme salientou-se antes, o efeito de qualquer
contingência pode ser o fortalecimento ou enfraquecimento de um comportamento,
e não teria a ver com a capacidade do cliente estar ciente da contingência em
vigor (ver capítulo 5 para uma discussão sobre consciência e comportamento
modelado pela contingência).
Não se recomenda bloquear todas as respostas de fuga e esquiva porque
o bloqueio funciona como controle aversivo e isto acarreta todos os efeitos
indesejáveis a ele associados. De modo correspondente, deveria ser aplicado
com moderação no contexto de um ambiente primordialmente baseado em
reforçamento positivo e estar de acordo com o nível atual de tolerância do cliente
aos estímulos aversivos. A tolerância se refere a uma reação diminuíàa e ao
efeito desorganizados da estimulação aversiva. O reforçamento positivo resultante
do novo comportamento que se desenvolve após a aversividade inicial gerada
pelo bloqueio da esquiva, acaba por facilitar o aumento da tolerância. Um
repertório verbal que corresponda às variáveis de controle envolvidas na esquiva
(Regra 5) também pode auxiliar no aumento da tolerância. Um exemplo seria:
"

Vou lhe perguntar novamente sobre o relaxamento porque você não respondeu.
Faço isto porque acho que sua ausência de resposta é como quando sua esposa
lhe pergunta sobre seu dia e vocês terminam com sentimentos de irritação. Esta
talvez seja uma oportunidade para fazermos algo a respeito do problema."

7Seja você mesmo na medida do possível, considerando as restrições


.
,

impostas pelo relacionamento terapêutico. O terapeuta enquanto membro da


,

comunidade verbal, tem acesso a reforçadores naturais contingentes a um


comportamento específico que ocorre na sessão. Para ter acesso a estes
reforçadores naturais, o terapeuta pode observar as reações espontâneas privadas
que ocorrem logo após o comportamento do cliente. Tecnicamente, a reação
privada não éper se reforçadora, mas vem acompanhada por disposições para
agir publicamente de formas que são naturalmente reforçadoras. Outro método
é perguntar a si mesmo "Como a comunidade responderia a este comportamento?"
Nenhuma das alternativas garante que o reforçador obtido seja natural e,
tampouco, terapêutico mas é um ponto de partida. Três fatores deveriam ser
,

levados em conta para determinar se as reações privadas do terapeuta são


provavelmente reforçadoras: 1) o repertório atual do cliente; 2) o que é melhor
para o cliente; 3) o repertório que deverá ser desenvolvido no cliente.
Aplicação Clínica da FAP 39

Abordagens indiretas

Até aqui discutimos abordagens diretas que propiciem o reforçamento


natural do comportamento apresentado pelo cliente na sessão Como se apontou
.

anteriormente há iscos envolvidos no uso da abordagem direta. Ou seja, pode


,
r

ser arbitrário o terapeuta seguir uma regra sobre o que fazer na hora de reforçar
,

visto que a regra não faz parte do processo quando o reforçamento ocorre no
ambiente natural. Por exemplo um bom pai geralmente age em função do que é
,

benéfico para a criança sem que tenha que seguir uma regra, ou estar consciente
,

a respeito do que fazer. As abordagens indiretas por outro lado, buscam auxiliar
,

a manipulação, no ambiente natural de variáveis diferentes daquilo que se faz


,

imediatamente após a detecção do CRB. Por exemplo terapeutas evitam estar


,

famintos ou exaustos durante o trabalho alimentam-se e buscam estar


,

descansados ao início de suas sessões. Isto pode ser entendido como uma forma
indireta de tornar mais provável que o terapeuta reforce naturalmente os
progressos do cliente. Ou seja, os cuidados do terapeuta com seu bem estar
físico podem torná-lo mais atento paciente, compreensivo e, portanto,
,

naturalmente reforçador.
l .
Ampliar a percepção do que reforçar. É importante lembrar que as
mudanças podem assumir diferentes formas e ocorrem em ritmos distintos.
Melhorar nossa percepção do que reforçar é o comportamento enunciado pela
t

Regra 1 e, dentre os métodos indiretos é o mais importante. Há mais chance das


,

reações espontâneas do terapeuta serem naturalmente reforçadoras se o


comportamento do cliente for entendido como um progresso clínico.
2 Avalie o seu impacto. A idéia geral é rever detalhadamente as interações
.

terapêuticas. Registrar as sessões em áudio e vídeo, ou dispor de pessoas


qualificadas para observarem a sessão (como ocorre nas clínicas-escola) poderia
auxiliar o processo. Estt feedback favorece o aperfeiçoamento das reações do
terapeuta (Regra 4).
.

3 Pratique boas açoes, que propiciem benefícios às pessoas em geral.


.

Outra proposta é o terapeuta se engajar em comportamentos cujo único reforçador


disponível (para o comportamento do terapeuta) fosse beneficiar terceiros.
Sugcre-sc, por exemplo, aumentar o número dc boasaçoes cm prol dc estranhos,
engajar-se em trabalho voluntário, auxiliar pessoas economicamente desfavore-
cidas, com fome, entre outras. Faça-o frequentemente; se possível, todo dia.
Espera-se, deste modo, fortalecer repertórios que beneficiem terceiros, o que
40 Capítulo 2

caracteriza um dos aspectos do reforçamento natural. Se o repertório fortalecido


for transferido para a sessão, pode aumentar a disponibilidade do reforçamento
natural, favorecendo a qualidade da terapia.
4 .
Selecione clientes apropriados à FAP. Na medida em que a FAP requer
que o reforçamento natural disponível na situação terapêutica seja relevante aos
comportamentos do cliente relacionados ao problema, a seleção de clientes que
provavelmente; a) tenham problemas que ocorram durante a sessão, e b) sejam
afetados pelas reações do terapeuta, seria uma quarta abordagem que de modo ,

indireto, propicia a ocorrência do reforçamento natural.

Regra 4: Observe os efeitos potencialmente reforçadores do comportamento


do terapeuta em relação aos CRBs do cliente

A Regra 4 deriva-se diretamente de princípios analítico-comportamentais


. i

v
i

que enfatizam a importância dos efeitos das consequências do comportamento


sobre sua futura probabilidade de ocorrência. Embora uma mudança no
comportamento do terapeuta possa ser um subproduto do seguimento dessa
regra, ela, em si especifica somente que o terapeuta observe o relacionamento
,

reforçador durante a sessão e não sugere ao terapeuta que intencionalmente


modifique seu próprio comportamento. Observar a relação reforçadora pode
apresentar efeitos importantes sobre os resultados da terapia. Por exemplo se o ,

terapeuta observar que suas reações parecem punir o comportamento desejável


do cliente mas que ocorrem com baixa frequência isso pode levar a mudanças
,

no comportamento do terapeuta que se tornará positivamente reforçador.


,

Entretanto é também possível que o terapeuta continue a punir o comportamento


,

favorável mesmo após identificar a natureza antiterapêutica da punição. Neste


caso, o desenlace seria uma decisão de encaminhar o cliente a outro terapeuta
ou o próprio terapeuta se submeteria à terapia visando modificar estes
comportamentos específicos.
A observação do terapeuta dos efeitos reforçadores de suas reações
sobre o comportamento do cliente pode favorecer o seguimento da Regra 5 e o
desenvolvimento de comportamentos similares no cliente - CRB3 .
0 modo mais
óbvio pelo qual isto ocorreria seria o terapeuta informar ao cliente sobre a auto-
"
observação: Notei que cada vez que você começou a falar sobre suas crenças
espirituais eu mudei de assunto e você não mais o trouxe à tona .
"
Deste modo,
o terapeuta fornece um modelo ao estabelecer uma relação funcional para o
cliente.
Aplicação Clínica da FAP 41

A Regra 4 pode também levar o terapeuta em busca de maneiras de


fortalecer os efeitos de reações que seriam reforçadoras para o CRB mas que
não são percebidas pelo cliente. Por exemplo imagine um cliente do sexo
,

masculino com dificuldades de expressão de sentimentos em função de uma


história de ter sido idicularizado ou criticado quando o fazia Estes
r .

comportamentos não aumentaram de frequência a despeito do terapeuta ouvir


,

atentamente com expressões faciais de empatia e tecer comentários ditos com


,

voz suave, em cada ocasião na qual o cliente expressou um sentimento. Quando


inquirido a respeito descobriu-se que as reações do terapeuta não eram
,

discernidas pelo cliente porque o ato de expressão dos sentimentos evocava .

emoções tão intensas (respondentes internos colaterais) que a estimulação externa


não era percebida. Após o terapeuta ampliar a reação empática falando com
voz clara e alta, ocorreu um aumento da taxa de comportamentos de expressar
sentimento do cliente.

É recomendável evitar o início do tratamento, se parecer provável que


as contingências naturais não favoreçam a melhora de um cliente específico.
Isto se aplica quando a Regra 4 leva o terapeuta a concluir que a maioria das
reações frente ao cliente serão punitivas e que essas reações negativas não se
"

relacionam com o problema do cliente, tal como As pessoas reagem


"

negativamente frente à minha pessoa O terapeuta pode reconhecer que não


.

gosta do cliente por razões que provavelmente não se modificarão em breve (por
exemplo, o cliente desperta no terapeuta as lembranças de um pai adotivo cruel
ou um cônjuge que fugiu com o/a amante na semana anterior).

Regra 5: Forneça interpretações de variáveis que afetam o comportamento


do cliente

Nossa hipótese é que as interpretações comportamentais especificadas


pela Regra 5 irão auxiliar na produção de regras mais efetivas (Zettle & Hayes,
1982) e aumentar o contato com as variáveis de controle. Esses aspectos são
discutidos com maiores detalhes mais tarde.

Ao se perguntar: "Porque você fez aquilo?", respondemos com um motivo


ou interpretação. Em geral, a razão inclui uma descrição do que fizemos (ou
pensamos, sentimos, ouvimos) e uma afirmação acerca das causas. O que fizemos
e dissemos a respeito depende, é claro, de nossas histórias pessoais. Do mesmo
modo, as observações e interpretações do comportamento feitas pelo terapeuta
42 Capítulo 2

são em função de uma história, o que inclui sua experiência clínica e formação
teórica. Entretanto, independente de quem o faça, um motivo é apenas uma
unidade de comportamento verbal, uma sequência de palavras. De todo modo,
cada terapia parece incluir ensinar ao cliente a atribuição de motivos que, aos
olhos do terapeuta, sejam aceitáveis. Especificamente, o terapeuta cognitivista
ensina os clientes a explicarem seus problemas e progressos à luz de suas crenças
ou supostos, enquanto que o terapeuta da FAP espera que os motivos se reportem
à história de reforçamento e variáveis de controle atuais. O cliente da psicanálise,
por outro lado, deve atribuir razões em termos de conflitos infantis e memórias
reprimidas. A disseminação da atribuição causal em psicoterapia é ilustrada
pela descrição que Woolfolk e Messer (1988) fazem da psicanálise: um processo
no qual o cliente relata o que ocorreu e fornece explicações que serão ,

interpretadas pelo analista, acompanhadas por uma explicação diferente. A


análise está completa quando as razoes tanto do cliente quanto do analista
confluírem para o mesmo ponto.
Enquanto terapeutas, esperamos que as razões que fornecemos aos nossos
clientes os auxiliem em seus problemas da vida diária. Dependendo da razão
fornecida e da história do cliente é possível, entretanto, não surtir efeito algum,
,

ou mesmo se configurar em um obstáculo para o cliente. Ao nosso ver, há dois


,

modos pelos quais a atribuição de motivos pode afetar o cliente.


Primeiro, a razão pode conduzir a uma prescrição instrução ou regra.
,

A interpretação "Você está agindo com sua esposa do mesmo modo como o fez
"
com relação à sua mãe pode facilmente ser compreendida como uma prescrição
,

"

ou regra que o cliente entende como Não seja injusto com sua esposa; procure
tratá-la de outro modo já que obviamente, ela não é sua mãe. E se você a tratar
,

bem seu relacionamento conjugal vai melhorar." Se a regra ou instrução irá de


,

fato ter alguma valia, dependerá do quão precisa é sua correspondência com o
ambiente natural. Por exemplo imaginemos duas razões que podem ser dadas
,

por uma menina que pegou um biscoito quando não deveria fazê-lo. Uma razão
"
poderia ser O demónio me obrigou a fazer." Esta razão não corresponde às
condições ambientais que controlaram seu comportamento. Por outro lado ,

afirmar Peguei o biscoito porque não comia nenhum há mais de uma semana."
"

corresponde aos eventos ambientais e sugere possíveis intervenções que poderiam


influenciar o roubo de biscoitos (por exemplo autorizá-la a comer biscoitos
,

mais requentemente).
f

Em segundo lugar uma razão pode ampliar o contato com as variáveis


,

de controle e aumentar a densidade do reforçamento positivo e negativo (Ferster *


Aplicação Clínica da FAP 43

1979). Uma analogia com a pesquisa animal pode ilustrar esse princípio Ratos .

foram colocados por um certo período de tempo em duas caixas experimentais


diferentes nas quais recebiam choques inescapáveis Em uma das caixas choques
.
,

não contingentes foram ministrados em intervalos aleatórios .


Na outra caixa o ,

mesmo número de choques não contingentes foram ministrados mas cada choque
,

foi antecedido por uma luz de aviso Quando lhes era dada a possibilidade de
.

escolher, os ratos invariavelmente preferiam a condição sinalizada .


O mesmo
dado foi obtido com alimento sinalizado e não sinalizado As escolhas dos ratos
.

indicaram que um sinal auxiliou a melhorar sua experiência Do mesmo modo


.
,

uma interpretação poderia sinalizar eventos para os humanos .

Por exemplo uma cliente aprende durante a FAP que a razão pela qual
,

sente-se, às vezes, rejeitada durante a sessão é função da atenção do terapeuta e


mais, que esta atenção se relaciona com o quão perturbado ou com pressa o
terapeuta pareça estar no início da sessão. Tal interpretação poderia aumentar a
chance da cliente observar o humor do terapeuta no início da sessão e afetar
significativamente a sua experiência rente a um lapso de atenção por parte do
f

terapeuta. Disso resulta que a cliente estabelece um melhor contato (ela observa
quão perturbado está o terapeuta) e experiencia a desatenção do terapeuta como
sendo menos aversiva.

Especiicações de Relações Funcionais


f

O repertório verbal a ser desenvolvido por terapeutas envolve afirmações


que relacionam eventos durante a sessão por meio de símbolos como SdR-> Sr.
Isto representa um comportamento operante no qual 1) o Sd é o estímulo
discriminativo ou a situação antecedente cuja influência sobre a ocorrência de R
varia com a história de reforçamento; 2) o R é a resposta ou comportamento
operante influenciado pelo Sd; e3)Sréo reforçamento ou efeito da resposta no
ambiente.

Por exemplo, "Quando lhe perguntei como você se sentiu a meu respeito
(o Sd), você me respondeu falando sobre sua experiência na prisão (a R), que é
um tópico no qual você sabe que eu tenho interesse. Eu recompensei sua esquiva
discutindo sobre a prisão e não sobre seus sentimentos a meu respeito (o Sr)."
Em geral, é preferível utilizar a linguagem cotidiana, mas pode-se discutir a
conveniência de ensinar ao cliente a linguagem comportamental. Contudo,
afirmações parciais de relações funcionais são melhores do que omiti-las (por
44 Capítulo 2

"
exemplo, Sempre que lhe pergunto sobre seus sentimentos em relação a mim
[jSf], você muda de assunto [RJ,).
t

Os repertórios da Regra 5 que correspondem ao comportamento que


ocorre na sessão são preferidos, se comparados àqueles correspondentes a eventos
que ocorrem em outro lugar. Ainda melhores são os repertórios verbais que
relacionam variáveis de controle que ocorrem fora da sessão àquelas que ocorrem
na sessão, pelo fato de propiciarem a generalização.
No caso a seguir ilustraremos o uso da Regra 5. Andi, uma lésbica
negra, na faixa dos vinte anos, buscou terapia com o segundo autor porque
desejava "modificar padrões antigos que me impedem de aproximar-me das
"

pessoas. De início, ela tinha dificuldade de falar sobre seus sentimentos e de


demonstrar qualquer tipo de afeto na terapia e descrevia ter comportamento
similar em outros locais. Com cerca de seis meses de tratamento, no intervalo
entre uma sessão e outra, Andi espontaneamente começou a me escrever lembretes
com uma expressão mais afetiva. Considerando a escassez de expressão de
Andi nas sessões, fiquei encantada, li e respondi as anotações, as quais
aumentaram em frequência e tamanho. Estava ciente (Regra 1) da possibilidade
de que as anotações fossem um passo na direção certa, em termos do
desenvolvimento dè relações de intimidade (CRB2) e sabia que o conteúdo das
anotações incluía descrições de variáveis de controle (CRB3).
Após um ano de terapia ela escreveu: "Estou apavorada pela dependência
que estou sentindo. Não imagino você fora da minha vida. Uma coisa é tornar-
me dependente da terapia, mas pior é depender de uma pessoa específica, a
terapeuta. E mais, terapeutas existem em todos os lugares, mas não há muitas
terapeutas feministas nascidas no Terceiro Mundo, situadas politicamente à
esquerda do liberalismo, que compreendem a comunidade lésbica e que gostam
da maneira como escrevo."
\

O diálogo abaixo ocorreu na sessão seguinte:


i

T: É tudo verdade, mas você deixou de lado o fato de que nosso relacionamento é
especial e único e que eu realmente me importo com você. (Eu sabia que este é um
estímulo discriminativo [5c/] para o tipo de comportamento de intimidade ausente
em Andi [CRB2] e que evoca a esquiva bem como as dificuldades na manutenção
de relacionamentos de intimidade [CRB1]).
C: Muitas pessoas se importam comigo, mas aquelas características a diferenciam.
(Andi respondeu de uma maneira que me desconsiderou; eu provavelmente estava
Aplicação Clínica da FAP 45

na posição que outras pessoas candidatas ao relacionamento íntimo estiveram ,

quando expressaram se importarem com Andi - um CRB1).


T: Eu me sinto diminuída quando você afirma isso.

Andi estava visivelmente chateada com esta reação. Descrevi então


aspectos importantes da relação funcional "Andi, quando disse que realmente
me importava com você e quis reiterar meus sentimentos, você reagiu de uma
maneira impessoal. Esta reação puniu meu comportamento de lhe contar o quanto
me importo com você e fez com que eu sentisse que meus sentimentos não eram
relevantes. Acho que sei porque você reagiu deste modo você não quer que eu
,

cultive meus cuidados e sentimentos positivos com relação a você."


Andi discorreu sobre este tema e descreveu como, em geral, lhe era
difícil escutar mensagens carinhosas, de elogio ou sintonizadas com seus
sentimentos - um padrão que interfere na aproximação de pessoas.

Ênfase nos processos comportamentais

Como uma estratégia geral, o terapeuta reinterpreta as afirmações do


cliente em termos de relações funcionais, uma história de aprendizagem e
comportamento. Tais interpretações comportamentais enfatizam a história e
reduzem a importância de entidades mentalistas e não-comportamentais. Isto é
importante para o cliente porque dirige sua atenção aos fatores que acabam
gerando as intervenções terapêuticas.
Por exemplo, Angela, em tratamento com o primeiro autor, não confiava
em si mesma, possuía baixa auto-estima, sentia-se insegura nos relacionamentos
e com dificuldade para pedir aos outros o que desejava deles.

C: Eu sinto que eu não tenho direito de existir. É como se eu não devesse viver,
comigo tudo dá problema. Eu acho que fui covarde como um rato. Quando aprendi
a dirigir eu congelava na minha vez de atravessar um cruzamento. Eu achava que
eu nunca tinha o direito de me meter entre os carros. Isto ainda me é um pouco
traumático, embora eu já tenha melhorado um pouco. De qualquer modo, tudo
isso já me indica que alguma coisa está errada. Mas e agora? [pausa longa] (A
maior parte destas descrições, especialmente a da encruzilhada, poderia indicar
46 Capítulo 2

como Angela se sente agora, ao se relacionar comigo. Ver o Capítulo 3 sobre


análise do comportamento verbal do cliente.)
T: Eu não sei. Eu posso te apresentar meus pensamentos ou você poderia escolher um
rumo a seguir. (Estou possibilitando amplificar minhas reações privadas.)
C: Ah! Mas eu não tenho um rumo.

T: Você quer que eu te conte quais são meus pensamentos?


C: Ou você poderia escolher um rumo. (A expressão facial e o tom de voz indicam
que ela não quer saber de meus pensamentos.)
T: É verdade, eu poderia escolher um rumo. Me parece que a idéia de lhe contar
quais são meus pensamentos não lhe atrai. Acho que você não gosta dessa idéia.
Você poderia me falar mais a respeito? (A esquiva de Angela de ouvir meus
pensamentos é um CRB1 porque relaciona-se às dificuldades que possui para manter
relações de proximidade.)
C: Bom , acho que é um tipo de... acho que não... acho que não é meu jeito. Sabe de
uma coisa? Eu acho que eu ico dando voltas ao redor mas meio que não ico...
f

f
T: ...pessoal?
C: (acenando com a cabeça) Hu-hum. Eu meio que escolho icar na superfície.
f

T: Veio alguma coisa agora na tua cabeça quando eu falei que podia te contar os
meus pensamentos? Alguma idéia despertou na tua mente?
C: Foi uma coisa meio idiota. Eu penso como se fosse um desses pontos meio que
perigosos, sabe como é? Eu simplesmente recuo. Eu acho que não é uma boa idéia.
Quer dizer, às vezes é uma boa idéia, eu acho, mas nem sempre. Talvez algumas
vezes. Acho que eu não quero responder à tua pergunta. (Uma descrição de um Sd
aversivo e um CRB de esquiva da intimidade da confiança, do escutar o desejo
,

dos outros.)
T: Hu-hum. Ok então eu quero te contar os meus pensamentos. Quando você disse
,

que não tinha direito de existir, eu me lembrei do quanto sua mãe icou chateada
f

quando você caiu no riacho porque isto a incomodava. Este foi mais um exemplo
de como ela te ensinou a não ter o direito de existir de causar qualquer transtorno
,

a alguém. (Uma interpretação baseada na história de aprendizagem e a definição


de "não ter o direito de existir" em termos de não se engajar em comportamentos
que causassem problemas aos outros.)
T: Nós nos confrontamos aqui quando você não queria de forma alguma que eu icasse
f

em apuros ou que eu saísse do meu rumo para caminhar em direção ao seu ou ,

ainda, que eu de alguma forma, me acomodasse a você. Isto é parecido com a


,

encruzilhada. Você não quer que os outros tenham que esperar Se eles quiserem
.
Aplicação Clínica da FAP 47

seguir, não deveriam ser impedidos de fazê-lo. (Estou fazendo um paralelo entre a
vida diária e a relação cliente-terapeuta apontando a contingência de evitar causar
problemas.)
T: Então este é um tipo de idéia sobre como eu acho que você funciona. E uma outra
,

coisa que eu pensei é o quanto parece que eu sou importante para você você me
,

tem em alta conta. De fato acho você maravilhosa e mesmo quando eu me permito
,

contar isto minhas palavras não parecem ter algum impacto sobre você. Eu acho
,

que você não querer conhecer meus pensamentos tem algo a ver com isto. De
alguma maneira você não entra em contato com isto. É teu jeito de ser. Bom , isto
é o que eu penso. (Deste modo teve início uma ampliação do comportamento
privado e se introduziu na sessão uma situação de vida diária na qual recebe
feedback positivo e o carinho dos outros sem ser muito influenciada por isto. É
também uma tentativa de redefinir o problema em termos comportamentais um ,

comportamento de esquiva difícil de descrever. A interpretação pode ser vista


"
como uma regra encoberta: não faz sentido você reagir frente a mim como o fez
"
em relação à sua mãe ) .

C: Tá bom, considerando que eu deveria acreditar em você e não na minha mãe , eu

não sei como fazer isto. (Seria apropriado fornecer aqui uma interpretação
" "

comportamental de sua experiência de não saber como fazer isto que corresponde
,

à diferença entre comportamento modelado pela contingência e comportamento


governado por regra, tal como é discutido no Capítulo 5. A interpretação enfatizaria
que o problema não é como acreditar em mim mas sim a emissão e o reforçamento
do novo comportamento de ser assertiva e causar algum problema.)

EXEMPLO DE CASO CLINICO

Gary buscou terapia com o primeiro autor devido a uma história de


relacionamentos pessoais que começavam bem mas tornavam-se, algum tempo
depois, superficiais e pouco satisfatórios, terminando em função dos sentimentos
" "
ruins que surgiam. Além disso, ele apresentava, há um longo tempo, uma
depressão que flutuava em função da qualidade dos relacionamentos interpessoais
do momento. Âtualmente ele estava envolvido num relacionamento importante
com uma mulher, o qual parecia seguir o trágico destino dos relacionamentos
anteriores.

Gary parecia afetivo e cativante, não aparentando qualquer dificuldade


para se relacionar comigo nos estágios iniciais da terapia. De início, coletou-se
48 Capítulo 2

a história e o tratamento incluiu intervenções diretivas tais como: terapia racional-


emotiva, ensaio comportamental e terapia conjugal. O contrato inicial de 10
sessões foi ampliado para 20, ao longo de um período de nove meses. Nesta
primeira fase da terapia, as discussões sobre o problema de Gary centravam-se
no comportamento atual ou remotamente distante ocorrido fora da sessão.
Identificou-se que seu problema teve origem nos primórdios da infância. Tais
discussões lhe auxiliaram a alinhavar um repertório verbal razoavelmente
plausível, correspondente à relação entre sua história de vida e as variáveis de
controle atuais que afetavam seu problema clínico.
Deste modo, ao término de 20 sessões, Gary aprendeu que seus
relacionamentos pareciam azedar quando icava chateado ou irritado com sua

f
parceira, sem discutir suas preocupações com ela. Ele se tornava
progressivamente mais deprimido, a-parceira reciprocamente retribuía com
depressão ou raiva e, por im, ocorria o rompimento. No início do tratamento,
f

Gary concordou em expressar seus sentimentos negativos para sua namorada.


Ele concordou porque sentiu que, se não o izesse, incidiria numa falta de abertura,
f

a qual fomentaria sentimentos ruins e uma óbvia deterioração do relacionamento.


Embora Gary estivesse consciente do problema e tivesse se submetido à terapia
cognitiva, ao ensaio comportamental e à terapia de casais, todas com o objetivo
de tentar resolver o problema, mesmo assim ele não conseguiu expressar
adequadamente os sentimentos negativos e o relacionamento chegou ao im tal

f
como os anteriores.

A cada sessão subsequente ao rompimento, Gary parecia mais reticente


e deprimido. Perguntado sobre sua crescente depressão, Gary afirmou que ela
devia-se ao luto pelo relacionamento perdido e sua inadequação pessoal. Eu
também observei que, nas sessões, houve piora na gravidade da depressão e,
por isso, focalizei o tratamento em seu estado depressivo, nos pensamentos
próprios negativos e na desesperança de viver um relacionamento bem sucedido.
Com a aplicação da Regra 1, hipotetizei que os problemas de Gary se
manifestavam na sessão. Ao perguntar ao cliente se estava bravo comigo ou se
havia qualquer sentimento negativo, ele negava e afirmava que seu estado reticente
e a depressão não tinham nada a ver comigo. Embora não estivesse completamente
convencido, abandonei temporariamente o tema da relação terapêutica e me
centrei na terapia comportamental para depressão. Entretanto, o meu desconforto
foi aumentando progressivamente durante as sessões e encontrei dificuldades
para dar seguimento à interação. Da parte de Gary, ele parecia estar se tornando
mais deprimido ainda. Quando sugeri que Gary fosse a um médico para se
Aplicação Clínica da FAP 49

avaliar a possibilidade de medicação anti-depressiva ele explodiu num discurso


,

raivoso dizendo que os médicos nunca sabiam o que estavam fazendo e que
causavam mais malefícios do que benefícios.
Hipotetizando que os comentários de Gary sobre os médicos foram
estimulados por sua reação a mim, (ver Capítulo 3 Causas Múltiplas), teci a
,

seguinte interpretação comportamental (Regra 5):

T: Parece que está acontecendo agora - o seu problema, quero dizer. Nossa relação
,

começou de maneira legal muito descontraída e aberta. Você não tinha dificuldade
,

em me contar sobre seus sentimentos e problemas e eu esperava ansiosamente


por nossas sessões. A forma como nossa terapia começou, se assemelha à forma
como a maioria de seus relacionamentos passados começaram Então, as coisas
.

foram se tornando ruins. Você não conseguia expressar em voz alta para Joyce
os seus sentimentos negativos, apesar de termos tentado várias abordagens
terapêuticas. O seu relacionamento terminou. Você foi ficando deprimido e menos
aberto em nossas sessões. Isto foi piorando gradualmente até o ponto atual -
você tem muito pouco a dizer e eu estou achando as sessões frustrantes , porque
eu não sei o que fazer para ajudar.
r

C: E similar ao que aconteceu no passado e eu ando pensando em terminar. (Urna


evidência adicional de que está acontecendo um CRB1.)
T: Então nosso relacionamento está mesmo destinado ao passo final que parece ter
ocorrido tão requentemente no passado. Ele chega ao fim deixando um sabor
f

amargo. (Para uma comparação entre comportamento intra-sessão e na vida


diária, ver Capítulo 3.)
C: Eu me sinto deprimido e mal com isto tudo. É o que sempre acontece e eu me
frustro porque não sei o que fazer.
T: Ótimo, agora você tem uma chance de modificar o nosso relacionamento e não
se sentir mal ou frustrado. Ou você deixa nosso relacionamento terminar como
os outros e você continua infeliz e deprimido ou você pode agir de outro modo e
talvez sentir-se melhor.

C: O que você quer dizer com agir diferente? Eu não sei como fazer isto.
T: Baseado no seu padrão passado, devem existir sentimentos negativos e/ou hostis
em relação a mim.

C: Tudo o que eu sei é que estou deprimido e quero ajuda porque me sinto mal.
(Esquiva do CRB1.)
T: Você não respondeu à minha pergunta. Eu disse que eu achava que você tinha
50 Capítulo 2

sentimentos negativos ou hostis em relação a mim. (Regra 3, bloqueio da esquiva.)


C: Eu não tenho, vamos falar da minha depressão. (Esquiva do CRB1.)
T: Acho que você está evitando alguma coisa relacionada a mim que lhe incomoda.
I

Quando você começou a terapia, eu disse que tentaria lhe ajudar. Agora você me
pede ajuda e eu tento conduzi-lo a um tema que você não acha que esteja relacionado
e tenta mudar de assunto. (Regra 2, apresentando a situação evocadora - estou
novamente tentando ajudar agora, o que já não funcionou anteriormente; levanta-
se a hipótese de que o insucesso de minhas intervenções anteriores em ajudar
evocou em Gary sentimentos negativos e a esquiva subsequente. Aqui são também
demonstradas a Regra 3, bloqueio da esquiva, e a Regra 5, uma interpretação
comportamental.)
C: Eu fiz tudo que você me pediu para fazer e, mesmo assim, Joyce me abandonou.
(CRB2)

T: Você fez o que pedi, Joyce o abandonou e ...


C: E você não me ajudou como prometera. (CRB2, a priméfrá vez na qual uma queixa
é diretamente expressa a mim.)
T: Eu tentei, mas não deu certo, e você fez tudo o que eu pedi. Eu me sinto mal com
isso e me pergunto o que eu deveria ter feito diferente para que Joyce e você
pudessem permanecer juntos. Acho importante você ter trazido isto à tona, e quero
desta vez ver o que pode ser feito. (A Regra 3 está sendo seguida, ou seja, o
reforçamento natural de uma queixa é levá-la a sério e tentar fazer algo a seu
respeito. Em sessões subsequentes observei em Gary um aumento de expressões
,

de insatisfação com a terapia e comigo, Regra 4.)

O relacionamento terapêutico intensificou-se após este ponto com um


aumento das expressões de reações emocionais entre Gary e eu. Na medida em
que as sessões centraram-se quase que exclusivamente no nosso relacionamento,
Gary revelou mais detalhes sobre seu desapontamento para comigo e falou sobre
\

temas correlatos à questão da confiança. Sentimentos positivos de carinho e


afeto foram também manifestados. Os CRB ls de esquiva anteriores surgiram
em menor requência mas sempre que detectei a incidência de um deles, iz o
,
f

bloqueio e favoreci o desenvolvimento, em Gary, de um novo repertório de


expressão aberta de sentimentos negativos referentes à confiança desapontamento
,

e raiva. Gary tornou-se capaz'de observar o comportamento clinicamente


relevante no momento em que ocorria (CRB3) o que por sua vez produziu um
,

relacionamento terapêutico de maior qualidade. Os repertórios desenvolvidos


na terapia foram prontamente transferidos para o ámbiente externo e Gary ,

relata estar vivendo a mais satisfatória relação íntima que jamais experienciou.
3

Suplementação
Aumentando a capacidade do terapeuta para
identificar comportamentos clinicamente relevantes

A funcionalidade terapêutica nasce da detecção daqueles comportamentos do


cliente que são exemplos de comportamento clinicamente relevante (CRB). Temos
observado que, quanto mais CRBs forem detectados mais profunda, intensa,
,

emocional e fascinante é a terapia. Assim há lugar na FAP para qualquer método


,

ou conceito que possa auxiliar a detecção de CRB especialmente porque as


,

ocorrências destes comportamentos durante as sessões não são, de um modo


geral, facilmente identificadas. Como os CRBs são variáveis fracas no controle
das observações por parte do terapeuta, elas geralmente requerem uma
suplementação (Skinner, 1957) como intuito de aumentar o seu poder de controle.
Nas próximas seções (Classificação de Comportamento Verbal e Situações
Terapêuticas que Evocam CRBs), nosso objetivo é oferecer suplementos para
aumentar a capacidade e competência do terapeuta em observar os CRBs,
também chamados algumas vezes de sensibilidade ou insight.

CLASSIFICAÇÃO DE COMPORTAMENTO VERBAL

Como acontece em todo campo de trabalho humano, um sistema de


classificação ou taxonomia estimula uma observação mais minuciosa. Por exemplo,
uma garotinha que aprende a classificar insetos procurará e observará mais insetos,
51
52 Capítulo 3

e quando os encontrar, certificar-se-á quanto ao número de patas dos mesmos. Da


mesma forma, nós propomos um sistema de classificação que aumente a observação
i

do CRBs. A classificação de comportamentos verbais ajuda a aumentar a


competência do terapeuta na observação de CRB, de duas maneiras. Primeiro, ela
descreve o tipo de afirmações do cliente que levam à detecção do CRB. Depois,
ela se firma na noção de que toda vez que o cliente fizer uma declaração, é possível
que um CRB tenha ocorrido - mesmo que isso não seja facilmente identificável.
O exemplo a seguir demonstra como o uso de nosso sistema de
classificação pode conduzir a uma produtiva intervenção terapêutica. Uma sessão
com Karen, que foi tratada pelo primeiro autor, começou com:

T: Como foi sua semana?


C; A semana passada foi muito ruim,Veu tomei uma multa de $ 108 [suspiro] por
licença vencida.

Nosso sistema de classificação verbal me levou a considerar que havia


algo na resposta de Karen além do aparente à primeira vista. Baseado no meu
conhecimento de Karen, algumas possibilidades me vieram à mente:
1 . Ao receber a multa, ela foi pega em flagrante; talvez, seja assim
que ela vê a terapia e por conseguinte, reage à mim como se
estivesse com o policial.
2 . Talvez ela esteja preocupada com o custo da terapia e o pagamento
de suas contas.
3 .
Ela está obviamente aborrecida com a multa e talvez seu comentário
"
realmente indicasse por favor, ajude-me a me sentir melhor!
4 .
Ela pode ter mencionado esse problema por não ter feito a tarefa
de casa que eu lhe dei, e o fato de trazer o assunto da multa à tona
pode ser uma maneira de evocar solidariedade ou desviar a atenção
do assunto temido.
5 . Talvez ela tenha visto um policial logo antes da sessão ou notado
que havia uma passagem aérea sobre a mesa da recepcionista ao
passar por lá.
Eu então passei a checar algumas dessas hipóteses, e é assim que ela
reagiu quando eu perguntei sobre a conta:
%

T: E quanto à nossa conta ,


você está preocupada com ela?
C: Não, porque meu seguro tem $100 dedutíveis, que eu já usei em medicamentos.
Isso então cobre o dedutível e eles me asseguraram que as primeiras 10 sessões já
Suplementação 53

estão pagas. Eu não estou certa sobre o que acontece depois disso ,
mas eles têm
sido muito bons.

T: A razão pela qual eu estou abordando esse assunto é que estou tentando descobrir
o que incomoda você no fato de me dever algum dinheiro .

C: Eu não gosto de dever dinheiro a ninguém .

T; Eu sei , mas vamos nos ater ao nosso assunto específico. O que incomodaria você?
C: Eu tenho pensado muito nisso e uma nota de dólar me vem à mente toda vez que
,

eu passo pela porta.

Essa última declaração apoiou a hipótese de que a preocupação de Karen


em relação às contas se manifestou em seus comentários sobre o incidente da
multa. Mais importante entretanto, é que minha hipótese quanto aos significados
,

" "
ocultos me levou a descobrir que Karen se preocupava com o fato de me
dever dinheiro da mesma maneira que a preocupava dever para qualquer outra
pessoa. Sua preocupação e ansiedade em relação a várias contas não pagas fora
o foco da terapia de reestruturação cognitiva em sessões anteriores e ela se
esquivou de trabalhar mais este assunto, dando a entender que esse já era um
problema superado. Conforme está indicado na transcrição, ainda representava
um problema. Sua falta de consciência e modo indireto de lidar com esse problema
durante a sessão, no entanto, se assemelhavam ao modo inadequado de conduzir
sua vida cotidiana. A identificação deste CRB1 alertou-me para uma abertura
terapêutica. Ali estava uma oportunidade in vivo de bloquear a esquiva de Karen
e encorajar maneiras mais adequadas para o encaminhamento do problema.
Durante os seis meses seguintes, Karen desenvolveu repertórios melhores para
lidar com o problema das contas por meio do aprendizado de como lidar com a
sua dívida comigo. Isto também propiciou o trabalho terapêutico sobre um problema
mais abrangente, relacionado às suas respostas a outras pessoas quando sentia
que estava sendo negativamente avaliada.
Alguns de nossos leitores podem estar se perguntando se a nossa
especulação sobre os significados ocultos se encaixa na esfera do behaviorismo, e
mais ainda, podem desconfiar de sua similaridade com a Psicanálise. Mais tarde,
quando explicarmos nosso sistema de classificação de comportamento verbal,
mostraremos como a teoria behaviorista radical leva a este tipo de atividade
interpretativa. Mas, por enquanto, a inclusão dos significados ocultos na teoria
behaviorista radical será ilustrada pela história do desafio amigável feito ao
behaviorismo por Alfred North Whitehead. Em um jantar com Skinner em 1934,
I
54 Capítulo 3

Whitehead disse a ele, "Vamos ver sua resposta ao meu comportamento, quando,
,

sentado aqui, eu digo nenhum escorpião preto está caindo nessa mesa " Na manhã
i

seguinte, Skinner começou a escrever I Comportamento Verbal - um relato


comportamental sobre a linguagem. No epílogo desse livro, que levou 23 anos para
ser concluído, Skinner esquematizou os princípios comportamentais nos quais a
afirmação de Whitehead se basearia. Uma das conclusões foi a de que o significado
do "escorpião preto" de Whitehead era behaviorismo. A interpretação de Skinner
derivou-se da sua teoria contextual do significado, a qual forma o centro da proposta
behaviorista para a linguagem. Uma vez que Skinner, um behaviorista declarado,
usou princípios comportamentais para revelar o significado oculto de uma declaração
feita 23 anos antes, parece correto argumentar que tal esforço pertence à esfera do
behaviorismo. De fato, o terapeuta sc encontra em uma posição mais cómoda que
Skinner para fazer interpretações sobre os relatos do paciente fundamentadas na
teoria comportamental, já que (1) elas podem ser feitas imediatamente após a
ocorrência dos relatos, (2) o terapeuta está em contato mais direto com as
circunstâncias que rodeiam o relato, e (3) o terapeuta continua a interagir com o
cliente, e pode obter informações adicionais que legitimem a sua interpretação.
/

Apesar desta atividade interpretativa se parecer com a atividade


psicanalítica, há profundas diferenças quanto às implicações clínicas e aos
pressupostos básicos. Acima de tudo, o terapeuta comportamental deve se manter
humilde, tendo sempre em mente que suas interpretações são apenas hipóteses.
Além disso, a validade de suas interpretações é difícil de ser avaliada pois as
variáveis de controle não podem ser isoladas em uma situação de laboratório. A
teoria behaviorista sugere que os significados ocultos (na verdade, causas ocultas
e variáveis de controle) estão no ambiente circundante, não são necessariamente
relevantes do ponto de vista clínico, e não são o resultado de alguma coisa
dentro da pessoa que luta para se expressar. Nossa visão dos comportamentos
verbais do cliente sugere que interpretações psicanalíticas são úteis quando
permitem que o analista observe CRBs. Como a FAP é especificamente planejada
para aumentar a observação de CRBs, o desempenho desta tarefa se torna mais
eficiente.

O Sistema da FAP de Classificação das Respostas do Cliente

As respostas ou o comportamento verbal do cliente podem se constituir


em dicas para que o terapeuta utilize o sistema de classificação da FAP de
forma a chegar às possíveis causas deste comportamento enquanto ele está
Suplementação 55

ocorrendo. O sistema de classificação da FAP é baseado em conceitos do


Comportamento Verbal (1957) de Skinner. Um livro requentemente criticado*

f
mas raramente lido, é uma rica fonte de conceitos que podem ajudar a detectar
CRBs na situação terapêutica. É um livro de leitura difícil e os conceitos não
são de fácil compreensão. Por havermos usado alguns dos conceitos de Skinner ,

e apesar de termos feito um esforço para tornar nossa classificação compreensível ,

ela pode estar além do interesse de muitos de nossos leitores Então, aqueles que .

não estão interessados em aprender o sistema de classificação em detalhes nesse


momento, consultem a próxima seção que resume as suas implicações. Em
,

seguida, pule os detalhes de classificação e vá direto à seção Situações


terapêuticas que frequentemente evocam CRB .

Implicações do Sistema de Classiicação de Respostas para a FAP


f

As sugestões dadas abaixo agilizam o desenvolvimento da relação


terapeuta-cliente e dos CRBs assim como fazem deles um objetivo da interação
,

terapêutica.

LEncorajar e reforçar as descrições do cliente que se relacionam a


estímulos presentes no ambiente terapêutico. Aqui inclui-se qualquer comentário
ou descrição sobre o terapeuta, a relação terapêutica sentimentos sobre a terapia
,

(eficiência, preço, qualidades, defeitos, etc.), diálogos anteriores ou outros eventos


ocorridos durante a sessão como se sentem ao vir para as sessões, qualquer
,

sentimento que tenham experimentado durante a sessão, o conforto ou desconforto


da cadeira, da luz, e assim por diante. São exemplos de questões e afirmações
formuladas pelo terapeuta que possibilitam o relato dessas descrições por parte dos
"
clientes: Como se sentiu ao vir para cá hoje?"; "Como se sentiu após nossa última
Como se sente em relação à terapia?"; "O que você acha que eu penso
" "
sessão? ;
de você?"; "Sobre o que está pensando?"; "Estou incomodado com sua hostilidade
"

para comigo Estava imaginando se você acha que estamos fazendo progressos
"
suficientes. ; "Estive pensando no que ocorreu durante nossa última sessão.
"

Encorajar comparações controladas por eventos ocorridos na


2 .

terapia e na vida cotidiana. São exemplos de relatos de clientes que se


*
Mais conhecida foi a revisão de Chomsky (1959), aceita por muitos como a crítica definitiva que desacreditou
o Comportamento Verbal. Grande parte da revisão de Chomsky, entretanto, refere-se ao behaviorismo
metodológico, que Skinner rejeitou veementemente e que portanto não era a abordagem utilizada no
Comportamento Verbal.
56 Capítulo 3

"

enquadram aqui: A ansiedade que estou sentindo agora é parecida com a que
" "
eu sinto conversando com a diretoria. ; "Você me lembra muito meu pai. ;
"

Você é como todos os outros - não se pode confiar em você."; "Esse é o único i

lugar onde me sinto seguro."


Exemplos de questões terapêuticas e interpretações que estimulam esse
tipo de comparações: "O que acaba de ocorrer é o mesmo que acontece quando
"
você vê sua mãe? ; "De que modo o jeito como se sente agora se assemelha ao
" "

que você sentiu no trabalho? ; Você pode comparar seus sentimentos em relação
"
a mim com outra pessoa muito próxima a você? ; "O jeito que você reagiu
quando eu disse que me importava com você parece com o jeito com que você
diz agir quando outra pessoa mostra afeição por você."

3 .
Encorajar desejos sugestões e pedidos diretos. Exemplos deste tipo
,

de resposta são: "Por favor, me ajude a superar essa ansiedade."; "Eu preciso
de mais atenção."; "Eu não quero me lembrar de minha infância."; "Você poderia
"
reduzir o valor da sessão? .

Os terapeutas podem encorajar os pedidos de clientes dizendo: "É


permitido e desejável que você queira e peça o que quer de mim. Eu levarei em
consideração todos os seus comentários mesmo que não seja possível para mim
,

fazer tudo conforme o seu desejo." imitar este tipo de comportamento para os
clientes é bem saudável Exemplo: "Eu gostaria que você chegasse no horário." ,
"
e Eu gostaria de conversar sobre seus débitos para comigo" .

4 .
Use as descrições dos eventos da vida cotidiana do cliente como
metáforas para eventos que tenham ocorrido em sessão De acordo com os .

princípios do Comportamento Verbal, qualquer resposta do cliente pode ser


determinada por múltiplos fatores; ou seja podem haver motivos ocultos
,

(variáveis de controle menos explícitas) que o próprio cliente desconhece.


Sugerimos então que você levante algumas hipóteses sobre quais poderiam ser
esses eventos na sessão e se são clinicamente relevantes
Por exemplo, um cliente
.

relata o quão incompetente seu dentista é O terapeuta pode responder, "Eu me


.

pergunto se você está preocupado com o meu conhecimento acerca do meu


trabalho" ou, no caso de um tratamento recém-iniciado, "Você acha que os
,

psicólogos s bem o que estão fazendo?".


O terapeuta pode também especular se a metáfora é mais que uma mera
descrição de eventos ocorridos na sessão Pode ser um pedido disfarçado e o
.

terapeuta pode fazer suposições sobre quais reforçadores ocultos podem estar
*

'
(
Suplementação 57

envolvidos. Por exemplo, se o cliente descreve o quão insatisfatória foi a semana


e o quão infeliz ele tem estado, isso poderia ser compreendido como um pedido
encoberto com reforçadores ocultos de solidariedade; e para que o terapeuta não
force muito durante a sessão.

Motivos ocultos podem também ser entendidos como apelos diretos .

Por exemplo, o pedido do cliente de terminar a terapia poderia ser reforçado


pela esquiva de um conflito, decorrente de se sentir atraído sexualmente pelo
terapeuta.

Classificando o comportamento verbal

A abordagem de Skinner não se parece com nenhum outro sistema de


classificação linguística porque classifica o que é falado com base nas causas
mais do que em sua forma ou formação fonética. Apesar de haver muitos níveis
de causas*, aquelas às quais nos referimos aqui são simplesmente estímulos
discriminativos que ocorrem antes das respostas e estímulos contingentes que
"
ocorrem logo após. O primeiro grupo tem ênfase na definição do tato" e o
" "
segundo no mando Esses dois termos, tato e mando, exercem o papel central
.

do nosso sistema de classificação e se referem a comportamentos verbais que


diferem um do outro em suas causas.

Uma visão geral do processo de classificação é representada na Figura


1 O processo começa com a classificação da resposta do cliente como tato
.

(quadro 1), um mando (quadro 3), ou um intraverbal (quadro 4). Nós


visualizamos o sistema de classificação apresentado aqui como uma introdução
ao uso dos princípios do comportamento verbal_de Skinner na situação
terapêutica. Para efeitos práticos, limitamos arbitrariamente o número de
conceitos de comportamentos verbais aos três citados acima, porém não
exaurimos as implicações da abordagem. Ainda que uma aplicação mais completa
do comportamento verbal pudesse adicionar muito mais ao processo terapêutico,
sua discussão está além dos objetivos deste livro.

G tato. Um tato é definido como uma resposta verbal que está sob
l .

controle preciso de estímulos discriminativos, e é reforçado por reforçadores


Do ponto de vista behaviorista, há (1) contingências de causas de sobrevivência (causas evolucionárias
*

ou de constituição); (2) contingências de sobrevivência cultural (práticas culturais); e (3) contingências


de reforçamento (Skinner, 1974).
/

/
Capítulo 3

CO
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3)
b
Suplementação 59

secundários generalizados. Por exemplo se lhe mostram uma bola vermelha e


,

"
perguntam, O que é isso?" e você diz ,
"Uma bola vermelha "

, você estaria
"

tateando" pois a forma de sua resposta ("bola vermelha") é controlada pelo


objeto e é reforçada por um reforçador condicionado generalizado como uh- ,
"

" "
huh", "certo" ou obrigado
, , ou qualquer outra resposta que indique que você
foi compreendido. Note que a contingência ou reforçador é amplo e geral , ao
passo que o estímulo discriminativo inicial (Sd) é específico.
O tato éassim, produzido pela presença de um estímulo particular (no
,

caso, uma bola vermelha) e uma audiência (o terapeuta ou um parente) Os .

tatos, neste sentido assemelham-se à noção de rótulos ou nomes. Entretanto,


,

como os termos rótulo ou nome sugerem a idéia de representação simbólica ,

"
usamos tato" ao invés de "rótulo" para reforçar essa diferença. Do ponto de
vista comportamental, as palavras "bola vermelha" não representam
simbolicamente nem significam o objeto assim como a pressão à barra por
,

ratos não representa ou significa uma luz sinalizadora amarela numa caixa de
Skinner. O problema com uma palavra que "representa" ou "simboliza" um
objeto é que em seguida dever-se-ia explicar qual o significado destes dois termos
para que houvesse a compreensão da resposta verbal. Por outro lado, ao dizermos
" "
que o tato é controlado por um estímulo discriminativo inicial, podemos explicar
um comportamento simplesmente nos referindo ao processo de discriminação
delineado. Este processo abrange o significado comum de "simbólico" ou "quer
dizer" alguma coisa. Isso não significa, no entanto, que nós aceitamos as palavras
de nossos clientes como verdade absoluta. Nossa posição exemplificada no ,

caso da multa de $108, nos conduz a uma visão bem divergente.


A localização do estímulo discriminativo (Sã) que controla o tato é
importante na classificação da FAP do comportamento verbal. Do ponto de
vista terapêutico o mundo pode ser dividido em dois tipos de Sds - aquele
,

localizado nas sessões de terapia ou aquele da vida cotidiana do cliente. Os dois


tipos de Sds são mostrados na Figura 1, no quadro 6 (SdVc) para a vida cotidiana,
e no quadro 7 (SdT) para terapia. Uma categoria inal, reservada para os tatos
f

evocados pelos Sds localizados tanto na terapia quanto na vida cotidiana, é


"

mostrada no quadro 8 (SdTVc). Então, se a situação da bola vermelha" ocorreu


durante a sessão terapêutica, o tato "bola vermelha" foi motivado por um SdT
uma vez que a bola vermelha estava localizada na sessão terapêutica.
Uma cliente que descreve uma briga com seu marido está emitindo um
tato sob o controle de um estímulo discriminativo localizado em sua vida cotidiana
(isto é, um SdVc, mostrado no quadro 6). Uma cliente falando sobre uma
60 Capítulo 3
>

discussão com seu terapeuta está sob controle de estímulos localizados no


ambiente terapêutico (ou seja, um StflTlocalizado na quadro 7). A mesma cliente
que diz que sua briga com o marido é semelhante à sua discussão com o terapeuta
está fazendo um tato sob o controle de estímulos localizados na terapia e no
ambiente da vida cotidiana, e é mostrado no quadro 8 (denominado SdTVc).
O foco inicial da FAP está em respostas controladas por estímulos
ocorridos durante a sessão terapêutica. Assim, o terapeuta da FAP (1) fica alerta
e (2) encoraja respostas controladas por SdTe SdTVc. Identificar essas respostas,
aquelas controladas por SdTe SdVc, ajuda claramente na determinação de quais
respostas do cliente são mais importantes. Por exemplo, aponta as respostas
mais importantes entre aquelas emitidas por Andréa, uma cliente cujo problema
era uma infelicidade crónica e fobia social. Aqui estão suas declarações no
início de uma sessão:
"
1 .
Hoje eu perdi a calma, porque fui chamada e me disseram que eu
tinha que estar em Boise semana que vem para uma entrevista de
emprego de secretária. E eu não sei se posso fazer isso, eu não sei se
"
posso conseguir isso. /

"
2 .
Quando saí daqui semana passada, eu me senti leve. Eu me senti
realmente bem e não sei o porquê."
%

3 "Eu
. até mesmo tinha que marcar a entrevista de modo que não
interferisse com o horário da minha medicação. E isso me fez sentir
estúpida. Eu imaginei o que aconteceria se eles soubessem, se eles
soubessem que eu não poderia estar lá ao meio-dia porque teria que
interromper o encontro para tomar minha pílula."
"
4 .
Se eles descobrissem que estou tomando tranquilizantes, eles não
iriam querer me contratar."

Essas respostas seriam classificadas como tatos óbvios mas apenas,

uma, a resposta 2 é controlada por um estímulo dentro da sessão - um SdT. É,


,

aliás, a resposta mais relevante do ponto de vista clínico (assumindo que todas
estão igualmente relacionadas ao seu atuai problema).
Lembre-se que um tato ocorre simplesmente devido à presença de um
estímulo. Essa característica do tato é particularmente importante para a compreensão
da discussão sobre causas múltiplas e dos assim chamados significados ocultos Nós .

não dizemos que o cliente "usa" o tato para descrever o estímulo assim como não
,
Suplementação 02
v

dizemos que alguém "usa" o andar para se deslocar daqui até lá Evitamos ver o
.

" "
cliente como usuário de uma resposta veibal porque então nos depararíamos com
" "
uma compreensão do que está sendo usado
Esse "o quê" que está sendo usado é
.

a resposta verbal e assim retomamos ao problema original o qual tentamos resolver -


compreender a resposta verbal. Por exemplo, digamos que você esteja tentando
entender as causas de uma ameaça de suicídio. Se você disser que o cliente "usa a
"

ameaça , então, temos que compreender as causas do comportamento de "usar",


bem como as palavras empregadas. Por outro lado, através da nossa perspectiva ,

poderíamos dizer que a ameaça poderia ser motivada pela atenção que ela recebe
(um mando, como veremos abaixo) ou ela poderia ser controlada por comportamentos
prê-suicidas (um tato) ou uma combinação dos dois. Além disso, o cliente pode ou não
estar ciente dos fatores controladores e/ou motivadores.

2.0 mando. Mandos são os discursos que fazem parte de demandas ,

comandos, pedidos, e questões. Um mando é um comportamento com. as seguintes


características: (1) ocorre porque é seguido por um reforçador particular (2) ,

sua força varia conforme a privação relevante ou estimulação aversiva, e (3)


aparece sob uma ampla faixa de estímulos discriminativos. Assim, se você disser ,

"
Eu gostaria de um pouco de água" porque você está com sede" isto seria um ,

mando pois haveria aí a ação de um reforçador muito específico - alguém


escutando você e lhe dando água ou mostrando onde conseguí-la. A resposta a
"

Eu gostaria de um pouco de água" não teria a influência de um reforçador


"

secundário generalizado como por exemplo, alguém dizendo Está bem", ou


"

Obrigado por compartilhar isso comigo", ou ainda "Eu entendo o que você
"

quer dizer. Sua força também poderia variar de acordo com a necessidade que
você tem de água. Seu mando por água pode ocorrer em quase todas as situações
em que você esteja com sede e haja outra pessoa para escutar.
Do mesmo modo, se um cliente lhe diz "Eu gostaria de uma sessão
isso seria reforçado (e por isso possível de ocorrer novamente)
"
extra essa semana ,

pelo fato de conseguir uma nova sessão (um reforçador específico). O mando
"

pode indiretamente envolver privação ou estados aversivos como Por favor,


leve-me a passear", ou "Não me abandone", O comportamento do cliente, que
ocorre especificamente porque evoca o cuidado do terapeuta, é um mando.
Como mostra a Figura 1 e já foi dito anteriormente, a primeira
classificação a se fazer é verificar se a resposta do cliente é um tato (quadro IX
um mando (quadro 3) ou um intraverbal (quadro 4). O intraverbal é um compor-
tamento verbal evocado por estímulos verbais e geralmente abrange aquelas
62
4
Capítulo 3

respostas que não podem ser classificadas como tato ou mando. Por exemplo,
quando perguntam Como você está?", a resposta "Bem" geralmente é um
"

intraverbal, uma vez que ela realmente nao tem nada a ver com os sentimentos
do falante, sendo simplesmente uma resposta apropriada ao conjunto de palavras
Como está você" (se a resposta "Bem" estiver realmente demonstrando os
"

sentimentos do falante então teríamos aí um tato, e não um intraverbal). As


"

respostas do cliente a questões como Onde nasceram seus pais?" e "Onde seu
"
parceiro trabalha? são intraverbais.
« .

3. Mandos disfarçados. Você não pode ter certeza se uma resposta dada
é tato otfmando com base apenas em sua forma (ou som). A palavra fogo, por
exemplo, poderia ser um mando para um bombeiro ou um tato enquanto um
incêndio. Visto que a classificação de um comportamento verbal com base em
sua forma ou som é denominada análise formal, o método Skinneriano de
classificação com base em suas causas é denominado Análise Funcional. Usando
a abordagem funcional skinneriana, quanto mais soubermos acerca do contexto
e da história que levam à resposta, mais certeza teremos sobre suas causas e sua
classificação enquanto tato, mando ou intraverbal. Assim, se você vir o incêndio
e o falante apontando para ele, você terá o contexto necessário para classificar
seguramente aquela resposta como um tato.
O exemplo do fogo ilustra bem o fato de que a mesma palavra pode ter
diferentes causas. O significado de uma palavra (ou sentença, gesto, discurso,
etc.) corresponde à sua função, ou seja, um delineamento de suas causas. Quando
dizemos que a "mesma" palavra pode ter "diferentes" significados, "mesma" se
"

refere ao aspecto formal da palavra (seu som e a sua grafia) e diferente" se


refere ao seu aspecto funcional. Consideremos o exemplo de um cliente que diz
%

Eu vou me matar". Se a resposta do cliente tem um histórico de comportamento


"

suicida, como planos de suicídio e alguns sentimentos associados a eles, então a


afirmação é um tato. Se a declaração é primariamente mantida pela preocupação
que evoca em outras pessoas, então temos um mando. Em nosso esquema de
classificação, o primeiro caso está representado como um tato no quadro 1 e o
segundo como um mando disfarçado no quadro 2. E disfarçado porque parece
um tato se nos basearmos em sua forma, mas de fato, é um mando baseando-se
em sua funcionalidade. Os não-behavioristas podem preferir diferenciar esses
dois tipos de discursos suicidas com base nas intenções e propósitos do cliente.
Embora estes termos denotem um significado similar eles podem ser confusos
,

ou ambíguos. Por exemplo, a intenção ou propósito implicam consciência? Se


não implicam, o que significa ter uma intenção inconsciente? Usando nossa
Suplementação 63

teoria de tato versus mando a consciência é um assunto à parte e não tem


,

nada a ver com nossa .classificação Assim, o cliente pode ou não estar
.

consciente do motivo que o leva à ameaça de suicídio mas isso não impede a ,

sua classificação enquanto tato ou mando. Ademais se utilizamos as intenções


,

ou propósitos para explicar a tentativa de suicídio por parte do cliente o próximo ,

passo na terapia seria descobrir a origem dessa intenção ou propósito. Tatos e


mandos, por outro lado já estão definidos em termos de suas origens.
,

O exemplo da ameaça de suicídio mostrou como a mesma expressão


pode ter diferentes significados. De maneira correspondente, diferentes expressões
"
como Por favor, me ame" e "Sou inútil e desprezível" podem ter o mesmo
significado funcional (causas). O pedido explícito por amor pode ser causado
por uma história passada de obtenção de amor e carinho sempre que solicitado
"
e/ou uma atual falta de amor e carinho . Pela consistência de forma e de função ,

nós podemos dizer que esse cliente realmente sente aquilo que diz. A resposta é
representada no quadro 3 e é abreviada como Ma. O reforçador deste mando ,

amor e carinho, recai no sistema de classificação mostrado no quadro 10 e é


representado por SrE. A segunda declaração, sobre ser inútil, poderia também
ser causada pelo desejo de amor e carinho. Assim, é um mando apesar de ,

parecer um tato; ou seja, na experiência de vida do cliente, amor e carinho


ocorriam com maior probabilidade depois de uma auto-depreciação e não após
um pedido direto. Como indicamos anteriormente esses mandos disfarçados de
,

tatos são os mandos disfarçados (quadro 2). O reforçador que é contingente aos
mandos disfarçados é considerado um reforçador especial, SrE (quadro 9), de
maneira a significar que um reforçador específico apropriado a um mando está
envolvido, e não simplesmente o reforçamento secundário generalizado que é
contingente aos tatos.
Desta forma, é possível termos afirmações formalmente similares e
funcionalmente diferentes (o exemplo do suicídio), assim como formalmente
diferentes e similares funcionalmente (o exemplo do amor e carinho).

Causas Múltiplas e Estimulação Suplementar. A maioria dos


4 .

comportamentos verbais tem múltiplas causas. Em adição a um estímulo


controlador inicial, geralmente há estímulos controladores adicionais que também
influenciam as respostas. Isso fica óbvio em lapsos verbais onde a multiplicidade
de causas produz uma distorção das respostas. Um exemplo é a mulher que diz

Uma circunstância possível seria a de que o cliente tem um histórico de nunca ter ganho qualquer coisa de
terceiros sem que haja pedido direta e forçosamente. Assim, apesar da possível ausência de amor e carinho, o
mando ocorre agora devido à força de mandos em geral.
64 Capítulo 3

"

ao namorado que irá encontrá-lo para jantar às sexo horas A resposta "sexo"
.

é resultado da presença simultânea de estímulos primários evocando a resposta


v

"
e de outros adicionais evocando "sexo", apesar de aqueles para sexo
seis
"

serem menos visíveis a um observador externo. A maior parte das causas


múltiplas, entretanto, são menos dramáticas e não produzem uma distorção tão
óbvia nas respostas. Ao contrário, podem evidenciar porque um comentário em
particular está naquele instante sendo feito, ao invés de outros que também
seriam possíveis. Uma cliente que está sendo estimulada também por suas pre-
ocupações sobre os efeitos nocivos da terapia, pode contar as experiências que
teve com um quiropata incompetente na semana anterior. Um outro cliente, com
estimulação adicional por sua raiva pelo terapeuta, pode trazer à tona um inci-
dente em que tenha perdido a compostura com sua parceira. Skinner se refere a
esse processo como seleção de respostas e o propõe como alternativa para 4

justificar porque o cliente "escolheu" aquela expressão em particular dentre


tantas outras disponíveis e possíveis.
tf

Causas múltiplas, mandos disfarçados e reforçadores especiais são


conceitos que explicam o que tradicionalmente costuma chamar-se de significados
ocultos, latentes ou inconscientes. Consequentemente, temos dado uma
explicação comportamental a este tipo de fenómenos, tais como, lapsos de
linguagem e o modo como os clientes conseguem dizer uma coisa querendo
dizer outra. Em geral, os clientes não estão conscientes destas variáveis, mas
sofrem seus efeitos independentemente dessa consciência. Não situamos esses
efeitos em um mecanismo interno como o inconsciente, mas, ao invés, nos
referimos a eles como efeitos de variáveis sutis. Em contraste, as variáveis óbvias
são aquelas que correspondem de fato à forma da resposta. Uma metáfora, da
maneira usada neste livro refere-se a respostas controladas pelas variáveis sutis.
,

Por exemplo, uma-experiência ruim no dentista é a variável óbvia que atua no


cliente quando ele diz ao terapeuta Meu dentista me machucou." Se o cliente
"

está contando ao terapeuta sobre o dentista naquele momento em particular


porque também foi ferido pelo terapeuta, então a variável sutil é a dolorosa
"

experiência com o terapeuta. De acordo com nossa definição, o meu dentista


"
me machucou é uma metáfora pois é uma resposta de causas múltiplas sob
controle parcial de uma variável sutil. O cliente não precisa ter (e provavelmente
não tem) consciência de que a variável sutil teve efeito sobre o que ele disse.
Como mostra a Figura 1, todas as respostas do cliente são primeiramente
classificadas com base nas variáveis óbvias como sendo Tato (quadro 1) um ,

N. do T.: em inglês six-seis e sex-sexo.


,
Suplementação 65

Mando (quadro 3) ou um Intraverbal (quadro 4). Depois naqueles locais ,

indicados pelas lechas escuras (quadros 1 3 e 6) há a sugestão de que a


,

f
variável sutil deve ser considerada. Por exemplo se tendo como base a forma,
,

você classificou a resposta como um tato óbvio (quadro 1) e a localização dos


,

estímulos controladores está na vida cotidiana (quadro 6) então pode-se especular


,

em relação a quais estímulos sutis presentes na sessão (quadro 5) poderiam ter


sido acrescidos aos óbvios para que aquela resposta ocorresse. Por exemplo se ,

o cliente está falando sobre uma relação de amizade, quais elementos da relação
terapêutica estão presentes também na relação exterior e que podem ser
responsáveis por ele mencionar o assunto neste momento? Se o cliente descreve
seus sentimentos em relação a outra pessoa, pode-se aventar a hipótese de que
há similaridade com o que ele sente por você. Se o cliente descreve um evento
ocorrido na semana, o que poderia haver em comum entre a relação terapêutica
e o fato?
y

Usar o sistema de classificação da FAP ajudará a criar hipóteses sobre


as variáveis sutis que podem influenciar os comentários do cliente. Levantada a
hipótese, outras informações podem ser coletadas para ajudar em sua legitimação
ou rejeição.
r

Classificação e Observação de Comportamento Clinicamente Relevante

Aqui estão alguns exemplos de como a classificação pode ajudar a


identificar comportamentos clinicamente relevantes (CRBs) em seus clientes:
Alguns clientes raramente ou nunca observam a si mesmos ou outros
1 .

"
no aqui e agora A falta dessas observações poderia ser um CRB1 que interfere
"
.

em relações mais íntimas. A observação de si mesmo e dos outros no aqui e


agora deriva da classe de respostas do tato controladas por eventos na sessão -
TaSdT (quadro 7). O principal método utilizado na identificação de CRB1 é o
de pedir aos clientes para comparar seus comportamentos durante as sessões e
a sua vida cotidiana (por exemplo, Você desviou o olhar e ficou quieta quando
"

eu pedi para falar sobre seus sentimentos em relação a mim. E assim também
com seu parceiro? ) A resposta da comparação do cliente pode ser um TaSdTVc
"
.

(quadro 8).
2 . TaSdTVc (quadro 8). Esse tipo de resposta se enquadra no aprimo-
ramento de CRB3, a descrição dos clientes sobre seu comportamento e suas
66 Capítulo 3

causas. CRB3 é uma forma especial de tato controlada por estímulos ocorridos
durante a sessão terapêutica. A modelagem de CRB3 começa com o
encorajamento pelo terapeuta, de qualquer tato controlado por estímulos
discriminativos na terapia (TaSdT), e tanto na terapia quanto na vida cotidiana
(TaSdTVc). Uma comparação entre o comportamento nas sessões versus na
vida cotidiana encaixa-se na categoria de CRB3 que pode ajudar a transferir os
ganhos da terapia para a vida cotidiana.
4

3 Respostas
. sutis geralmente constituem CRB1. Primeiramente, elas
mostram uma falta de consciência. Assim, quando uma resposta sutil ocorre,
fornece uma oportunidade terapêutica para aumentar a consciência por meio de
dicas e de reforçamento do CRB3 apropriado. Por exemplo, se um cliente está
sob controle da variável sutil de ser magoado pelo terapeuta e conta a ele sobre
uma experiência dolorosa no dentista, o cliente se beneficia por descrever a
variável sutil e como isso o afeta (CRB3). Ou seja, o terapeuta deve ajudar o
cliente a tomar consciência das variáveis que afetam o seu comportamento (Regra
5). Acreditamos que esse processo comportamental é muito semelhante ao que o
"

psicanalista descreve como tornar consciente o inconsciente". Em segundo lugar,


" "

a razão pela qual muitas variáveis controladoras se escondem e tornam-se


sutis é, principalmente, devido aos efeitos do condicionamento aversivo, indicando
assim um CRB1 de esquiva. Em terceiro lugar, mandos disfarçados são
frequentemente CRB1 s pois são maneiras indiretas de pedir alguma coisa e a
solicitação direta é geralmente mais eficiente.
4Classificar as respostas do cliente leva o terapeuta a um melhor contato
.

com o contexto total do comportamento do cliente. Ao invés de aceitar os


comentários do cliente ao pé da letra, o sistema de classificação pode ajudar o
terapeuta a ver as respostas como resultado de variáveis óbvias e sutis que
refletem a história do cliente bem como os efeitos da relação terapeuta-cliente.
,

Enxergar esse "quadro maior" aumenta a sensibilidade ao CRB e ao papel do


reforçamento nas sessões.
É importante lembrar que a classificação não é o único motivo pelo
qual o CRB deve ser considerado durante a sessão. Todo o comportamento do
cliente deve ser constantemente avaliado quanto às suas possibilidades de CRB.
Uma avaliação de CRB é feita antes mesmo das respostas serem classificadas e
o diagrama montado. Considere, por exemplo, um cliente tímido e temeroso que
nunca se defrontou com uma autoridade e que repentinamente deixa escapar
"

Você não está prestando atenção no que eu estou dizendo e isso me irrita
"
profundamente Imediatamente podemos identificar nesta frase um CRB2 e
.
Suplementação 67

um CRB3 sem nem mesmo usarmos o processo de classificação do


comportamento verbal. O propósito desse processo classificatório é tornar visíveis
mais CRBs do que aqueles que podem ser rapidamente averiguados mas não ,

deve ser visto como o único método para se reconhecer este CRB. Vamos agora
passar a alguns exemplos de classificação.

Exemplos de Classificação de Respostas do Cliente

São dez para as cinco. É hora de ir. " De acordo com o diagrama
"
1 .
,

"
primeiramente nos perguntamos Isso é um tato óbvio (quadro 1), mando (quadro
3), ou intraverbal (quadro 4)?". Nossa resposta é "tato óbvio" desde que o
relógio seja aparentemente o estímulo controlador subjacente à forma específica
da resposta "dez para as cinco" que por sua vez serve como dica para o im da
,

f
sessão. Prosseguindo no diagrama, nós determinamos a localização do estímulo
discriminativo {Sã). Como o cliente se referiu ao relógio e este está localizado
na sessão terapêutica é um óbvio SdT (quadro 7).
,

Agora a avaliação do CRB: se um problema da vida cotidiana do cliente


,

é que ele vive compulsivamente sob controle do relógio e "deve" encerrar a


sessão pontualmente às cinco horas então a resposta é um CRB 1. Entretanto,
,

se o comentário do cliente é uma melhora em relação à sua compulsão típica do ,

tempo, já vista em sessões anteriores (onde simplesmente levantaria e sairia) a ,

resposta é um CRB2. O diagrama também direciona nossa atenção para fatores


sutis; quer dizer, a possibilidade de que a resposta possa ser um mando disfarçado
(quadro 2).
Por exemplo, uma cliente que deseja que você pare de perguntar sobre
seus sentimentos. O reforçamento especial seria, então, a esquiva de discussões
maiores sobre este assunto. Sendo esta uma interpretação sutil, a natureza indireta
da resposta poderia ser um CRB 1.
"
2 Minha esposa se recusa a lavar as roupas. " Novamente, primeiro
.

"
nos perguntamos Isso é um tato óbvio, mando, ou intraverbal? E um tato (quadro
1), se assumirmos que o próprio fato da esposa se recusar a lavar roupas é a
variável de controle sobre a resposta. A localização deste evento é a vida cotidiana
do cliente {SdVc quadro 6). Ao avaliar as possibilidades de CRB, se o cliente
mostrara-se anteriormente receoso de ser crítico em relação à sua esposa, então
poderíamos ter um CRB2. O próximo passo, de acordo com o diagrama é o de
68 Capítulo 3

fazer uma interpretação sutil de um mando disfarçado (quadro 2). E possível que
" "

o cliente não esteja simplesmente relatando os fatos como está implícito no tato
óbvio, mas, ao contrário (ou em adição), tenha motivos ocultos (isto é, reforçadores
sutis ou especiais - quadro 9). Os possíveis reforçadores especiais são aqueles
"
em que o cliente deseja que o terapeuta diga algo como Que esposa irresponsável
" " "
você tem ; "Aqui está a maneira de fazer sua mulher lavar a roupa ; ou Isso é
"

péssimo, num momento em que você já está estressado Um possível CRB1 .

"
relacionado às motivações ocultas seria querer que os outros o apoiem em seus
"

conflitos conjugais e interpessoais, sem que tenha que pedir diretamente.


"

3 Quanto você cobra pelas sessões? " A resposta é um óbvio mando


.

(quadro 3) pois exprime um reforçador específico (quadro 10). O reforçador


óbvio é o terapeuta estabelecer uma taxa. É possível que o mando não sej a o que
aparenta, mas envolva um reforçador especial e sutil SrE (quadro 9). A mais
,

óbvia dessas preocupações é o valor fixado pelo terapeuta. Por exemplo, o cli-
"
ente poderia querer dizer Reduza o preço." Essa motivação oculta indicaria o
CRB1 de não ser direto ou não estar consciente. Se o cliente evita estabelecer
compromissos em geral então outro CRB1 poderia ser a esquiva em estabele-
,

cer o compromisso de iniciar a terapia usando o preço como desculpa.


,

"
4 .
Ninguém gosta de mim. " Com base em sua forma, a resposta é um
tato óbvio (quadro 1). A localização do Sd de controle parece ser um SdTVc
(quadro 8) pois o "ninguém" pode se referir também ao terapeuta. Se o problema
atual da cliente, em suas próprias palavras é que "ela não é digna de ser amada",
,

então a resposta indica que um CRJ31 está ocorrendo. Em termos de uma


"

interpretação sutil o mando disfarçado (quadro 2) poderia ser Por favor, goste
,

de mim" ou "Diga-me que gosta de mim". A qualidade indireta ou inconsciente


do mando disfarçado poderia ser um CRB 1.
5 .
"

Eu sinto náuseas. " É um tato óbvio (quadro 1) porque a resposta


parece ser controlada por um estímulo vindo do estômago. A localização do Sd
de controle deste tato está na sessão terapêutica, um SdT (quadro 7). Em geral,
as declarações de sentimentos são tatos óbvios porque considera-se que sejam
controladas por estímulos anteriores. Pode ser interessante notar que os estímulos
de controle são privados. A resposta indica que um CRB1 está ocorrendo se a ,

náusea é o problema atual ou um CRB2 se o cliente nunca reclama de problemas


,

ísicos. Uma interpretação sutil é que a resposta é um mando disfarçado por


f

empatia ou esquiva de algo que acontecia antes da reclamação ser feita .


Suplementação 69

SITUAÇÕES TERAPÊUTICAS QUE FREQUENTEMENTE


EVOCAM COMPORTAMENTOS CLINICAMENTE
RELEVANTES

Há estímulos, comuns a situações terapêuticas que com frequência


,

ocasionam certo tipo de comportamento do cliente que pode ser clinicamente


relevante. Chamamos a atenção para essas situações com o objetivo de que elas
possam ser observadas quando ocorrerem na sessão.

1. Estrutura do tempo. As sessões de terapia têm hora marcada de


início e fim. O cliente pode chegar atrasado empenhar-se ao máximo para chegar
,
--

cedo, querer sair mais cedo? ou não sair no horário. Chegar atrasado a um
compromisso pode estar relacionado a problemas atuais tais como a esquiva de
,

discussões emocionalmente carregadas o planejamento do tempo, ou problemas


,

de trabalho gerados por não ser pontual. Ter dificuldades para sair ao final da
sessão pode estar relacionado a comportamentos como dependência ou apego
excessivos que tenham causado problemas em outros relacionamentos. Dar
atenção exagerada à pontualidade pode estar relacionado a problemas como
compulsão ou medo extremado de desapontar os outros associado a uma baixa
,

auto-estima.

Chegar atrasado às sessões quando está havendo progresso terapêutico


também pode ser um exemplo do problema para o cliente que tem dificuldade
,

" "
em completar tarefas e acha que estragou situações onde poderia ter sido bem
sucedido. Chegar tarde ou sair cedo podem ser exemplos de operantes
clinicamente relevantes para o cliente que apresenta problemas de ansiedade.
Em cada caso o comportamento operante observado durante a sessão é avaliado
,

à procura de sua possível relevância para os problemas específicos do cliente.

2 Férias do terapeuta. Alguns clientes, especialmente aqueles com


.

histórias de rejeição e abandono, reagem fortemente a interrupções no padrão


de contato com o terapeuta. Para esses clientes, a saída do terapeuta pode eliciar
"
medo intenso, ansiedade raiva e/ou tristeza, junto com pensamentos como Você
,

"
não voltará ; "Você está tentando fugir de mim porque eu sou mau ; "Você
' ",

"
estará diferente e não se preocupará mais comigo quando voltar ; "Como pode
"
me abandonar justo agora quando eu preciso tanto de você? ; "Eu não posso
" "
viver sem você ; e Eu não consigo tomar conta de mim mesmo". A maioria
70 Capítulo 3

dos comportamentos que acompanham este tipo de sentimentos (outros, além


do de falar neles) são CRB1 (ou seja, procurar isolar-se, quebrar coisas,
tentativas de suicídio).

3 Encerramento.
.
O tipo mais difícil de encerramento é o de um
tratamento incompleto que termina devido a fatores na vida do terapeuta tais
como mudança de emprego, de lugar, ou o fim de um estágio. Isso pode fazer
aflorar os sentimentos descritos no item anterior de um modo ainda mais intenso.
Em encerramentos de consenso, é o momento do terapeuta ficar atento em relação
aos CRBs evocados pelo término. Encerramentos podem trazer preocupações
acerca da independência e da auto-confiança, e tristezas acerca de perdas
anteriores, separações e mortes. E uma chance para o cliente aprender a dizer
adeus de uma maneira adequada, através da expressão da gama de sentimentos
causados pelo im de uma relação especial, mas transitória. O modo como o
f

cliente reage ao im do tratamento tem grande probabilidade de também ser uma


f

indicação de como ele reage aos começos ou términos em outras áreas de sua
--1
vida pessoal.

4 Contas. O modo como o cliente lida com o pagamento da terapia


.

pode representar a forma como ele lida com o dinheiro em geral. O cliente paga
em dia? O cliente gerencia suas contas adequadamente? O assunto do preço
pode ser inserido no tratamento de várias maneiras: (a) Pode levar a
comportamentos de afastamento e término que estão associados a declarações
do tipo "Eu não mereço gastar este dinheiro comigo, outros membros da família
são mais importantes e merecem muito mais do que eu. (b) Pode ser usado para
"

"
evitar sentimentos de intimidade em relação ao terapeuta - Você está sendo
legal comigo porque eu lhe pago e esse é o seu serviço." (c) Pode ser usado para
explorar o comportamento e/ou sentimento evocado por produzir (ou não) uma
certa quantia de dinheiro; sentimentos de sucesso, inferioridade, incompetência,
insegurança, vergonha; competitividade com ou inveja do terapeuta, (d) Ao invés
de expressar diretamente para o terapeuta seus sentimentos negativos em relação
às contas, a esquiva pode envolver o atraso do cliente no pagamento da terapia.
(e) O cliente pode tentar uma redução dos custos da terapia através da menção
do salário que recebe, (f) Se o cliente está em crise inanceira ele pode aceitar a
,
f

ideia de dever o pagamento e dessa forma receber um empréstimo do terapeuta?


Nessas ocasiões requentemente podemos observar comportamentos relacionados
f

ao dar e receber numa relação e a não querer dever nada a ninguém, mesmo a
,

ponto de ter prejuízo pessoal.


Suplementação 71

"
5Erros " ou comportamentos não intencionais do terapeuta O ditado
.
.

"

Tudo o que cai na rede da terapia é peixe" se aplica aqui Mesmo o melhor .

terapeuta pode chegar atrasado à sessão passar do horário com o cliente anterior,
,

pensar em outra coisa enquanto o cliente está contando algo importante, esquecer
de fazer uma ligação que havia prometido ao cliente ou agir de qualquer outra
maneira que faça com que o cliente se sinta pouco importante ou incompreendido .

Como o seu cliente reagiria a um terapeuta que não fosse perfeito? Os erros do
terapeuta são ocasiões que podem evocar os seguintes CRBs: esquivar-se de
expressar diretamente a raiva e frustração problemas associados a sentimentos
,

de baixa auto-estima, ou reagir aos erros do terapeuta de forma extremada ,

decorrente de idealizar os outros a tal ponto que umadesilusão se torna inevitável .

Qualquer um desses comportamentos pode interferir no desenvolvimento de


relações estáveis.

6 . Silêncios e lapsos na conversa. A característica mais evidente da


psicoterapia de adultos é que esta consiste em duas pessoas conversando entre
r

si. E comum essa conversa chegar a um beco sem saída e parar - ambos parecem
não ter nada mais a dizer. Essa situação pode evocar CRBs no cliente além de ,

no próprio terapeuta. Um lapso na conversa evoca ansiedade aliada a uma certa


confusão que por sua vez, dificulta ainda mais o reinício da conversa. A
,

ansiedade confusão, e dificuldade em retomar a interaçao são o problema. O


,

CRB2 se constituiria em aprender a tolerar mais os silêncios extinguir a ansiedade


,

e/ou desenvolver um comportamento que facilite a retomada da conversa nas


ocasiões em que ela se interrompe.

Expressão de afeto. Estamos nos referindo à expressão dos sentimentos


7 .

que resultam do contato com estímulos que eliciam os respondentes chamados


emoções e/ou descrições de sentimentos. Nossa visão das emoções é dada no
Capítulo 4, que traz uma explicação mais completa e fornece a racional para
nossos comentários nessa seção. A expressão de afetos tais como tristeza,
necessidade, vulnerabilidade, raiva e carinho, facilita o desenvolvimento e a
manutenção de relações mais próximas. Há, entretanto, muitos fatores que
prejudicam essa expressão. Assim, por exemplo, muitos clientes têm problemas
em chorar na frente dos outros ou em expressar adequadamente sua raiva. Esse
desconforto em mostrar suas emoções mais fortes frequentemente dificulta o
tratamento. Clientes têm afirmado que mostrar sentimentos significaria "tornar-
" " "
se raco "tornar-se inferior ser vulnerável demais não ser capaz de parar
" " "

,
f

, , ,
72 Capítulo 3

"
"
estar fora de controle ou "ser motivo de chacota". Incluem-se nos
comportamentos de esquiva que estão associados à demonstração de afeto: mudar
o assunto; conversas intermináveis e detalhadas sobre tópicos tangenciais; não
falar; focalizar um objeto no escritório; contagem regressiva de 1000 até 1. Em
alguns raros exemplos, o CRB é o uso deliberado que o cliente faz da raiva ou
das lágrimas, para controlar o comportamento dos outros.

8Sentindo-se bem, estando bem. Para alguns clientes, sentir-se bem


.

ou estar bem serve como um estímulo aversivo. Isso motiva um comportamento


de esquiva que aparece na forma de ser e agir de maneira infeliz ou depressiva.
Alguns clientes contam que sentem ansiedade, medo, perda de controle e "uma
"

sensação de estar chegando ao fundo do poço. Sua s histórias revelam


,
experiências nas quais foram punidos de alguma forma por sentirem-se bem, e,
" "

em consequência disso, atribuíram ao estar bem suas propriedades de controle


aversivo. Por exemplo, um pai ciumento e com distúrbios psicológicos que se
afasta, ou, então, pune a criança que é bem sucedida. Estar bem também poderia
f

sinalizar a perda do terapeuta, pois a terapia se encerraria. E desnecessário


dizer que o CRB 1 que consiste de depressão ou de infelicidade como forma de
esquivar-se ao estar bem ou o término do tratamento poderiam comprometer
seriamente o reforçamento positivo a longo prazo para o cliente.
r
k

9 Feedback positivo e demonstrações de afeição por parte do


.

terapeuta. Alguns clientes não reagem bem às expressões positivas vindas do


terapeuta. Eles podem reagir ao feedback positivo como se este fosse um reforçador
arbitrário, um sinal de exigências crescentes, ou uma indicação da retirada de
reforçamentos positivos. Os clientes, desta maneira, podem resistir, se esquivar,
ignorar ou ainda desconsiderar o que o terapeuta lhes tenha dito. Suas respostas
podem também estar acompanhadas de sentimentos de embaraço, inutilidade,
desconforto e de pensamentos como "Agora terei que corresponder a essas suas
"
expectativas ou você irá me desaprovar ; "Você não me conhece realmente, e
"
quando conhecer, irá me deixar ; "Você está me dizendo isto para ser agradável e
"
eu não acredito em você Todas essas respostas podem ser adquiridas em famílias
.

nas quais o feedback positivo tenha sido associado a consequências aversivas.


10. Sentindo-se íntimo ao terapeuta. Quando o terapeuta demonstra
afeto, preocupação e compreensão ou fica ao lado do cliente durante momentos
,

difíceis, o cliente pode sentir-se íntimo do terapeuta. Esses sentimentos


normalmente são acompanhados de um repertório de manter contato que inclue,

passar mais tempo com a pessoa, contato ou proximidade ísica; expressão de


f
Suplementação 73

sentimentos positivos; fazer coisas para ajudar ou proteger a pessoa No entanto


.
,

estes repertórios comportamentais podem ter sido punidos no passado por meio
de perdas, rejeições ou abandono. Além disso as limitações da relação terapêutica
,

(limite de tempo, contato restrito à sessão, etc.) também resultam em punição


" "
para estes repertórios de proximidade .
Qualquer que seja a causa, essa
proximidade é geralmente um Sd aversivo que motiva o cliente a emitir um
comportamento que a remova. Como essa esquiva pode ser difícil de detectar
pois muitos desses comportamentos de proximidade não ocorrem durante a
sessão, o terapeuta guia-se pelos sentimentos colaterais. Quando você se sente
próximo ao cliente, ele se comporta de tal maneira a facilitar essa proximidade,
ou ele emite comportamentos que diminuejn seus sentimentos de proximidade?
Uma variedade de rçspostas de esquiva pode resultar no distanciamento incluindo
,

tornar-se critico, sentir raiva, sentir-se entorpecido por dentro e sem sentimento
nenhum, dizer que não precisa mais comparecer às sessões ou fazer comentários
que desmereçam o valor da relação apenas porque esta é uma relação profissional.
Um primeiro passo para resolver este problema está em o cliente aprender a
falar sobre a relação funcionai (CRB3s), como no exemplo "Neste instante eu
estou me sentindo próximo a você, estou querendo ficar com você, mas sei que
isso não é possível. Isso me entristece, então quero afastar você de mim".

11. Características do .terapeuta. Certas características estáveis do


terapeuta como idade, sexo, raça, peso, atrativos físicos, e tendências de
comportamento para ser falante ou quieto, gentil ou confrontador, expansivo ou
discreto, liberal ou inflexível, podem evocar CRB. Por exemplo, um terapeuta
mais velho pode fazer lembrar do pai; um terapeuta falante ou confrontador
pode evocar falta de assertividade, além de sentimentos de intimidação e
vulnerabilidade; um terapeuta magro pode causar inveja, retraimento e
comentários do tipo Você não é capaz de entender meu problema", a um cliente
"

acima do peso. Todo terapeuta deveria tentar pensar sobre suas próprias
características e procurar pelos possíveis efeitos evocativos de CRB.

12. Eventos incomuns. Algumas vezes o CRB mais importante pode


ocorrer sob condições pouco comuns. Alguns exemplos desses eventos
idiossincráticos podem ser: encontrar o terapeuta com outra pessoa fora do
consultório; a terapeuta engravidar, quebrar uma„perna, ou ter que viajar por
causa de uma emergência na família. Eles podem servir como estímulos aversivos
muito fortes que provocam comportamentos tais como sentimentos intensos de
posse, ivalidade, dependência, desamparo e mortalidade.
r
74 Capítulo 3

13. Sentimentos ou privacidade do terapeuta. As respostas privadas


do terapeuta em relação ao cliente podem ser uma boa fonte de informações
sobre os comportamentos clinicamente relevantes. Sentimentos de tédio irritação
,

ou raiva no terapeuta podem indicar que as maneiras pelas quais o cliente está
se comportando têm grande probabilidade de fazer emergir esses mesmos
sentimentos em outras pessoas. Por exemplo uma cliente reclama que tem
,

dificuldade em fazer amizades e não entende o porquê. Você nota que facilmente
se entedia com ela e sua atenção se dispersa, porque ela fala monotonamente
sobre trivialidades por um longo período sem se preocupar se você está ou não
,

interessado no assunto. Assim uma auto-observação pode auxiliar na


,

discriminação destes comportamentos-problema e também pode ser usada para


detectar as melhoras (CRB2) como por exemplo, f lar de modo mais animado
,

por um período de tempo menor, e formular perguntas.


Em resumo as situações terapêuticas que foram analisadas são
,

representativas das diversas maneiras pelas quais os estímulos associados à


terapia podem evocar CRB no cliente O sistema de classificação do compor-
.

tamento verbal apresentado na primeira parte deste capítulo pode ajudar a


aumentar a consciência do CRB através da focalização da atenção do terapeuta
nas causas sutis das verbalizações do cliente As auto-observaçoes dos clientes
.

no aqui e agora e também suas comparações dos eventos na terapia com a vida
,

cotidiana, são descrições que podem ajudar na generalização dos ganhos obtidos
na terapia.
4

O Papel de Emoções e
Lembranças na Mudança do
Comportamento

Emoções e lembranças sempre ocuparam uma posição central em psicoterapia.


A utilidade delas é atraente , contudo sua definição e mensuração são enganosas.
Os fundamentos behavioristas radicais da psicoterapia analítica funcional (FAP)
trazem uma perspectiva diferente sobre esses tópicos e sobre a sua relevância
na prática clínica.

EMOÇOES

Muitas pessoas erroneamente acusam os behavioristas radicais de


sustentar a teoria de caixa preta da emoção. De acordo com esta visão, emoções
ocorrem dentro da pessoa (caixa preta), e por esta razão estão fora do interesse
do analista do comportamento. Conforme foi mencionado no Capítulo 1, na
realidade são os behavioristas metodológicos que sustentam essa visão. Em
oposição behavioristas radicais pensam que "como as pessoas sentem é
,

frequentemente tão importante quanto aquilo que elas fazem" (Skinner, 1989,
p 3).
.

75
76 Capítulo 4

Neste capítulo, o termo sentir é usado tanto como verbo quanto como
substantivo. Quando usado como um verbo, sentir é uma atividade, um tipo de
açao sensorial, tal qual ver ou ouvir. Quando sua função é a de substantivo,
*

sentir é usado como sinónimo dos termos emoção e afeto. Da mesma forma que
existem objetos que são vistos, o sentir substantivo é o objeto que é sentido,
" "
como em eu sinto um sentimento Qual é o objeto sentido, entretanto, quando
.

nos sentimos deprimidos? Outros objetos, como uma casquinha de sorvete, podem
ser vistos, sentidos e provados; ou seja, o objeto (a casquinha de sorvete) pode
ser conhecido de várias maneiras. Se não estivermos seguros do que estamos
vendo, podemos prová-lo ou mesmo perguntar a alguém o que ele é. Este não é
o caso quando o objeto é depressão ou ansiedade - nós podemos apenas senti-
las.
I

A visão behaviorista afirma que aquilo que sentimos é o nosso corpo.


De nossos três sistemas nervosos sensoriais - exteroceptivo interoceptivo e ,

proprioceptivo - os dois últimos estão envolvidos com processos do sentir. O


sistema nervoso proprioceptivo conduz estimulação dos músculos articulações ,

e tendões, e está envolvido com movimento e postura. O sistema nervoso


interoceptivo conduz estimulação das vísceras tais como a bexiga e o estômago,
,

tanto quanto das glândulas, dutos e sistema vascular. Esses dois sistemas nervosos
são estimulados pelas partes do corpo envolvidas no medo raiva, depressão, ,

ansiedade, alegria e assim por diante. Entretanto, relativamente pouco é


,

conhecido sobre quais órgãos específicos estão envolvidos com os vários


sentimentos que experimentamos. Esta escassez de conhecimento é especialmente
evidente quando comparada ao que sabemos sobre o sistema exteroceptivo. Este 4

terceiro sistema nervoso sensorial está envolvido com o ver ouvir, sentir cheiro, ,

e tatear, e os órgãos sensórios específicos são claramente identificáveis como o


olho, ouvido, nariz e pele.
Até este ponto nós discutimos (1) a atividade de sentir ou perceber a
emoção e (2) o objeto que é sentido - o corpo. A questão que levantamos agora
"
é Como o corpo entra naquele estado particular que é então sentido?" Nossa
,

resposta presume que o estado do corpo seja "um produto colateral de causas
"
ambientais (Skinner, 1974, p. 242). Dessa forma, para cada comportamento
há um estado corpóreo correspondente. Quando estamos envolvidos no
comportamento que classificamos como falar por exemplo, o sistema músculo-
,

esquelético e o sistema nervoso estão em um estado particular que muda de

Nota do tradutor No caso de "feeling" enquanto substantivo a língua portuguesa admite a tradução
.
,

" "
pelos termos sentir e "sentimento", que também serão utilizados dependendo da situação.
,
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento 77

acordo com as palavras que estão sendo ditas. Quando nós dizemos a palavra
" "
alô os vários músculos necessários para esta tarefa estão numa posição
,

particular, que então se modifica conforme continuamos a dizer, "Como vai


"
você? De maneira similar quando estamos comprometidos em comportamentos
,

operantes e respondentes de estarmos emocionados há também estados do corpo


,

que são correlatos àquelas respostas. Para ins ilustrativos, estes estados

f
corpóreos podem incluir mudanças na taxa cardíaca, dilatação da pupila ,

constrição das veias, secreções glandulares e contrações musculares. Na


realidade, o presente estágio do conhecimento impede qualquer medida fisiológica
precisa desses estados. Tudo o que é relevante para nossa discussão é que uma
pessoa sente diferentes estados corpóreos, conhecidos apenas por ela, em
correspondência com emoções diferentes.
Respostas emocionais operantes e respondentes são evocadas por
situações particulares. Por exemplo, Skinner (1953 p. 166) descreveu uma
,

situação na qual um homem foi criticado no emprego. Este homem reagiu com
um padrão de resposta emocional que é chamado de raiva. Este padrão incluiu
as seguintes respostas: (1) comportamentos respondentes - o homem icou

f
vermelho, suas mãos transpiraram, ele parou de digerir seu almoço, seu rosto
assumiu a expressão característica de raiva (enrugou a testa, inflou as narinas ,

crispou os lábios), e (2) comportamentos operantes - falou secamente com seus


colegas de trabalho, bateu uma porta, chutou um gato e assistiu a uma briga de
rua com especial interesse. Havia um estado corpóreo correlato a este padrão de
respostas operantes e respondentes. Se o homem se envolvesse com a atividade
de sentir seu estado corporal, então ele se sentiria com raiva. Entretanto, outras
pessoas que observaram esta pessoa poderiam dizer que ele estava com raiva
mesmo que o homem não tivesse sentido a raiva ele próprio.
Esta descrição das respostas do homem à crítica no emprego, incluindo
seus comportamentos operantes e respondentes, não pretendeu ser uma descrição
concisa e completa da raiva. Ao invés disso, a descrição é apenas as respostas
desse homem nesta oportunidade, que são vistas por ele próprio e pelos outros
como sendo raiva. Em geral, a variedade e as nuanças das emoções sugerem que
tentar classificá-las definitivamente seria quase impossível.
Algumas vezes, os clientes queixar-se-ão que sentem de uma forma,
mas agem de outra. Este comentário parece não fazer sentido de um ponto de
vista comportamental, uma vez que tudo aquilo que pode ser sentido são estados
corporais que são colaterais a ações (respostas). Dessa forma, o cliente tem dois
estados corpóreos que podem ser sentidos, mas diz que somente um deles é um
78 Capítulo 4

sentimento. Uma interpretação comportamental deste comentário é que estados


corporais associados com respondentes são experienciados mais intensamente
que estados corporais associados a operantes. Frequentemente o comportamento
operante afeta o comportamento respondente, mas quando isso não acontece, o
resultado é sentir de uma forma e agir de outra. Por exemplo, suponha que o
homem raivoso do exemplo anterior tenha se comportado de todas as formas
descritas, com exceção de que ele afagou o gato e forçou um sorriso amistoso.
Desta feita, se ele disser que agiu amigavelmente, mas sentiu-se com raiva, o
sentimento ao qual ele se refere seria aquele relativo aos estados corporais
associados à raiva, e não aos estados corpóreos associados ao sorrir e afagar o
gato. Se pudermos assumir que ele realmente sente os colaterais corporais do
afagar e sorrir tanto quanto outras respostas, seria mais correto se ele dissesse,
"
Eu sinto dois sentimentos e eles são diferentes, mas uma das formas que eu
"
sinto (colaterais de sorrir e afagar) não é o meu sentimento verdadeiro A base.

destas duas formas diferentes de sentimentos tem a ver com as razões para o seu
afagar o gato e sorrir. Em particular, ele poderia estar consciente de que o
afagar e o sorrir são resultantes de contingências sociais para fazê-lo 1fficar
"
calmo e civilizado Ele não vê os sentimentos associados ao comportamento
.

causado por tais contingências como relevantes para os seus sentimentos


verdadeiros.

Conforme está esquematizado abaixo, problemas clínicos algumas vezes


envolvem o cenário oposto; quer dizer o sentimento ou a sensação das respostas
,

públicas que estão sob controle é o que o cliente relata ser o sentimento verdadeiro
e as respostas privadas não são observadas (por exemplo, o homem relataria
sentir-se afetuoso em relação ao gato e não perceberia seus sentimentos de raiva).
Neste caso, o cliente é descrito como não estando em contato com seus
sentimentos, e a tarefa do terapeuta é mudar o controle para esses estados
corporais que são mais privados.

Aprendendo os Significados dos Sentimentos

O processo pelo qual aprendemos o que são nossos sentimentos é de


maior relevância para o psicoterapeuta do que a atividade de sentir Nós não
nascemos sabendo o que nossas emoções são assim como não sabemos ao nascer
,

o que é uma árvore. Isto precisa ser ensinado por nossos pais. Visto que o objeto
a ser sentido é privado o pai que tentar ensinar uma criança a identificar (tatear)
,
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento 79

sentimentos está em desvantagem. Ao ensinar uma criança a tatear um objeto


público, como uma árvore, o pai pode apontar para a árvore, pronunciar seu
nome, e reforçar uma resposta parecida tal como "ávole". Depois de muitas
,

experiências como esta, o estímulo público, a árvore controla a resposta "árvore".


,

No caso de um sentimento os estímulos que esperamos que ganhem controle


,

sao estados corpóreos privados. Para cumprir este objetivo os pais devem olhar
,

para estímulos públicos, supor o que está ocorrendo dentro da criança com base
nesses estímulos públicos pronunciar seus nomes e reforçar a resposta
,

apropriada. Por exemplo, os pais podem olhar para um estímulo público tal ,

como a hora do dia e o choro da criança e supor que o estímulo privado de fome
,

esteja presente. O pai então encorajará a criança a dizer "bebé fome". Finalmente ,

se os pais forem sensíveis, o estímulo privado de fome poderá ser tateado como
" "
eu estou com fome .

Tal processo de aprendizagem tem vários resultados. Primeiro o tatear ,

e a discriminação de sentimentos não alcançarão a mesma contabilidade do


tatear objetos públicos, tais como pedras e aviões. Segundo no caso de ,

sentimentos, os estímulos públicos podem inadvertidamente ganhar controle


parcial do tato porque os pais não podem estar sempre corretos a respeito de
qual sentimento privado está presente com base no estímulo público. Por exemplo,
" "
algumas vezes os pais dirão o bebé está feliz com base no seu sorriso, quando
o estímulo privado é somente uma dor de barriga devida a gases. Em outras
ocasiões, seu sorriso é uma indicação precisa de que a alegria privada está
" "

presente e dizer o bebé está feliz está mais próximo do acerto. Conforme esta
criança se desenvolve, o significado da palavra feliz vai depender do quão
frequentemente os estados corpóreos privados de alegria estiverem presentes
"

quando ela for instigada a dizer feliz". Certos momentos nos quais esta criança
"

estiver de fato doente ou com dor em um ambiente aparentemente feliz" (por


exemplo, uma festa de aniversário) interferirão, com seus estados corpóreos
privados ganhando controle sobre o seu tatear preciso de sentimentos, a menos
"

que alguém perceba e diga, oh, você parece estar doente Em essência, o
"
.

significado de felicidade para esta criança é o resultado do treino discriminativo


similar àquele observado em tarefas de formação de conceito. Nessas tarefas,
estímulos complexos são apresentados numa série de tentativas (por exemplo,
grande círculo azul, pequeno círculo azul; grande círculo vermelho, pequeno
círculo azul; um grande triângulo vermelho, pequeno triângulo verde) nas quais
apenas aspectos específicos do estímulo são relevantes ao conceito (por exemplo,
maior que ) Depois de um número suficiente de tentativas, esses aspectos
" "
.

relevantes passam a controlar o conceito.


80 Capítulo 4

Uma vez que os pais usam estímulos públicos para identificar o


sentimento a ser tateado, a criança pode inadvertidamente ficar sob controle
parcial desses mesmos estímulos. Este fenómeno de controle público acidental
sobre um sentimento é comumente reconhecido na literatura de pesquisa sobre o
controle da fome. Estímulos públicos, tais como a hora do dia (hora do almoço)
"
e a atratividade da comida, podem resultar em estou com fome Conforme
"
.

está detalhado no Capítulo 6, não é simplesmente a resposta verbal que é


controlada mas a própria experiência; ou seja, a pessoa realmente sente a fome
como vindo de dentro, mesmo quando a resposta é amplamente controlada pelo
relógio indicando a hora do almoço e muito pouco por um estômago cheio Uma .

implicação interessante desta visão é que se fosse possível para alguém sentir
,

os sentimentos de outro, eles poderiam ser sentidos como similares ou diferentes ,

dependendo das fontes de controle. Assim se a sua fome fosse controlada por
,

estímulos privados gerados no seu estômago e você pudesse sentir a fome de


,

outrem controlada por estímulos esternos você descobriria que essas duas
,

experiências são muito diferentes. Os únicos sentimentos em comum seriam


aqueles associados com disposições para comer e procurar comida .

Dadas as condições sob as quais o tatear sentimentos é adquirido ,

qualquer emoção pode inadvertidamente icar parcialmente sob controle público,


f

resultando numa confusão ou má nomeação da experiência interna real .

Sentimentos como Causas de Comportamento

Uma emoção ou sentimento é um estado do corpo. Para cada resposta


há um estado do corpo que a acompanha. Por exemplo quando se corre, um ,

estado que acompanha o corpo pode ser sentido Embora tanto o correr quanto
.

os sentimentos colaterais estejam presentes nós usualmente não dizemos que o


,

correr seja causado pelo sentimento. Ao invés disso nós podemos dizer que,

estamos correndo para alcançar o ônibus. Ou seja não atribuímos um papel


,

causal aos sentimentos quando como no caso do correr para alcançar o ônibus,
,

pode ser identificada uma clara causa externa.


Há outras ocasiões entretanto, nas quais as causas externas não são
,

identificadas ou claramente conhecidas Por exemplo, uma mulher que corre


.

diariamente pode ter esquecido ou nunca ter estado consciente das condições
externas (por exemplo sua melhor amiga que corre também, seu corpo ficando
,

mais irme cumprimentos das outras pessoas dizendo que ela está com melhor
f

aspecto) que a levam à prática de correr todos os dias Sob estas condições, .
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento 81

tendemos a atribuir a causa aos estados corporais colaterais que são sentidos .

Assim, a praticante da corrida pode dizer que corre porque aprecia fazer isso .

De modo semelhante, uma pessoa que está comendo pode dizer que está fazendo
isto porque está com fome. Isto geralmente significa que os antecedentes de
ambos, tanto dos sentimentos colaterais da fome quanto do comer não são ,

identificados, e é dado um status causal ao sentimento.

Outras situações também conduzem a atribuições caus ais .


dos
sentimentos. Frequentemente, o sentimento pode ser sentido antes que o
comportamento seja emitido. Nós podemos estar com fome sem comer com ,

raiva sem sermos agressivos, e com medo sem fugirmos. Nesses casos tendemos
,

a agir, mas não o fazemos. Já que a ação é ausente ou o sentimento precede a


ação, é tentador atribuir status causal ao sentimento.
O problema em atribuir status causal a estados corpóreos colaterais é
que isto pode desviar a atenção dos fatores que causam tanto o comportamento
(ou a inclinação para agir) quanto o sentimento colateral.
Por exemplo, Jan, uma cliente do segundo autor que teve problemas
diretamente resultantes da busca de seus objetivos, atribuía seu insucesso a uma
"
falha fatal de índole, uma inabilidade de suportar a mim mesma". Deter-se e
tentar mudar esses seus estados internos, que supostamente eram responsáveis
pelo racasso em terminar a graduação e a escola profissional, apenas fez com
f

que Jan se sentisse pior a seu respeito e mais impotente. Eu perguntei o que a
"

manteve durante seis anos em terapia comigo, e ela respondeu, Coisas diferentes
em ocasiões diferentes - meus amigos todos fazendo terapia, hábito, desespero,
esperança, um sentimento de movimento, meu apego a você, ser valorizada por
você Eu sugeri a ela que ninguém poderia realizar tarefas difíceis num vácuo,
"
.

sem suporte externo, e que ela havia tido o meu apoio e o de seus amigos, que a
ajudaram através de tempos difíceis na terapia. Por outro lado, seus pais não a
apoiaram em sua escolha profissional, e ela não icou na escola por tempo
f

suficiente para fazer amigos ou para conseguir muitas experiências


recompensadoras. Por ter focalizado as condições externas que a conduziram a
sucessos e racassos, e por olhar para seus estados internos ou sentimentos
f

como colaterais, Jan ficou mais esperançosa de poder mudar seu comportamento.
Mesmo que sentimentos não causem comportamento, conforme foi indicado
anteriormente, a expressão dos sentimentos tem um papel importante na FAP.
Hayes (1987) baseou um sistema terapêutico em problemas causados
por clientes que vêem seus sentimentos como causas. De acordo com Hayes, a
visão incorreta da natureza causal dos sentimentos conduz os clientes a
82 Capítulo 4

esforçarem-se para eliminar pensamentos e sentimentos, de forma a conseguir


mudar seus comportamentos e ter uma vida melhor. Os esforços dirigidos para
a eliminação de sentimentos, no entanto, são fundamentalmente errados porque
o problema não é o sentimento, mas sim os esforços do cliente para modificar o
sentimento. O sistema terapêutico de Hayes, distanciamento compreensivo, é
uma abordagem inventiva que usa métodos metafóricos e experienciais para
enfraquecer o enfoque ineficaz do cliente para resolver problemas.

Expressando sentimentos

A expressão de sentimentos refere-se a um continuum de comportamento .

Uma ponta do continuum é referida como comunicação de sentimentos. Esses


são comportamentos operantes verbais cujo propósito é informar a outra pessoa
"
sobre os sentimentos do falante. Eu sinto raiva" e "Eu amo você" são exemplos.
Na outra ponta do continuum estão as demonstrações de sentimentos -
comportamentos respondentes não verbais que são eliciados automaticamente.
Esses respondentes podem incluir o rubor a risada, expressões faciais primitivas,
,

e soluçar de tristeza. Localizados em pontos diferentes nesse continuum estão


as respostas que são parcialmente respondentes mas que foram modeladas
,

também pelas contingências. Exemplos são o choro que tenha sido parcialmente
,

"
modelado pela atenção que recebe o nó na garganta pelo pesar, a exclamação
"

" "
ai que é eliciada por um estímulo doloroso, mas que também mostra os efeitos

das contingências (por ex., tal expressão recebe a forma "ai-yoh" em chinês).
Expressar sentimentos pode ser muito útil em algumas situações ,

particularmente no desenvolvimento e manutenção de relações de intimidade. Já


que ter dificuldades em relacionar-se com intimidade é um problema comumente
apresentado, expressões inadequadas de sentimentos são frequentemente
focalizadas, na FAP. Relações íntimas por definição, envolvem uma sensibilidade
,

aos efeitos do comportamento de uma pessoa sobre outra. Considerando-se o


protótipo, os pais são bastante conscientes dos efeitos reforçadores e punitivos de
seus comportamentos sobre seus ilhos. O comportamento dos pais por sua vez, é
,
f

modelado pela criança. Esse processo ocorre em parte porque os pais são sensíveis
às nuanças das reações da criança Entretanto, não importa o quão sensível o pai ou
.

a mãe seja a intimidade somente poderá ocorrer se a criança expressar sentimentos.


,

Na relação íntima adulta expressar sentimentos tem o mesmo papel.


,

Uma expressão de sentimentos também aumenta a probabilidade de


que as necessidades de uma pessoa sejam atendidas (obtendo reforçamento de
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento 83

outros). As necessidades podem ser satisfeitas porque uma expressão efetiva


de sentimentos pode evocar no ouvinte alguns dos mesmos estados corpóreos
que estão sendo expressos. Esse processo é útil porque os ouvintes podem
então predizer melhor o comportamento do falante perguntando a si próprios
(1) como eles se comportariam se estivessem sentindo o que está sendo expresso,
ou (2) que tipos de comportamentos acompanharam a expressão de tais
sentimentos por essa pessoa no passado. Conhecer bem a outra pessoa por ,

sua vez, envolve ser apto a predizer o que a outra pessoa fará (incluindo predizer
o que poderia ser reforçador para aquela pessoa). Relações íntimas parecem
exigir bastante conhecimento do que esperar da outra pessoa e por conseguinte,
,

exigem expressão emocional.


Dos dois tipos de expressão emocional (comunicar e demonstrar) , as
declarações verbais (comunicações) tais como "Eu estou feliz" e "Eu estou
triste" têm a vantagem de serem facilmente discriminadas. A utilidade dos tatos
simples, entretanto, é limitada porque a variedade e as nuanças de sentimentos
excedem em muito a essas simples descrições concentradas em uma única palavra.
Descrever o estado corpóreo com requência, não é tão efetivo quanto descrever
,
f

analogias, metáforas, ou condições externas que podem produzir aquele


sentimento. Seguem-se exemplos de tais descrições feitas por nossos clientes:
(1) Sentimento de não ser suficientemente adequado - "É como quando você
tenta colocar uma porca num parafuso de aproximadamente o mesmo tamanho ,

mas a rosca não é exatamente a mesma. Eles quase apertam e você fica tentando,
mas eles não se ajustam (2) Medo - "É como se eu estivesse andando numa
"
.

viela escura e ouvisse passos atrás de mim, e eu andasse mais rápido e ouvisse
os passos mais rápidos também (3) Terror - "É como se eu estivesse sozinho
"
.

na casa, e a eletricidade terminasse. Eu posso ouvir um invasor se movendo


pelo piso de baixo, e eu penso que ele está tentando me matar. Eu pego o telefone
"
para pedir socorro e a linha foi cortada .

Por outro lado, há desvantagens no uso da comunicação de sentimentos


como uma forma de expressão emocional. A principal é que o significado do
sentimento pode ser altamente idiossincrático devido à ambiguidade do estímulo
"
controlador. A declaração Eu estou deprimido" de uma pessoa pode ter pouco
em comum com uma declaração idêntica de outra. Uma desvantagem adicional
é que é fácil enganar o outro com o comportamento verbal. Por exemplo, "Eu te
"
amo pode ser dito somente para conseguir uma relação sexual ou para ganhar

presentes caros. Além disso, a sensibilidade do comportamento verbal às


contingências sociais pode facilmente resultar em ser dito o que é socialmente
apropriado ao invés de se dizer aquilo que realmente a pessoa está sentindo.
84 Capítulo 4

A vantagem da demonstração de sentimentos (enquanto oposta à


comunicação de sentimentos) como um método de expressar sentimentos é
que ela (a demonstração) é menos suscetível às contingências e dessa forma é
mais espontânea e menos provável de ser mal-interpretada. Por exemplo,
embora seja possível fingir um choro, é relativamente difícil fazê-lo
convincentemente. De maneira similar, é quase impossível parar um rubor a
despeito das suas consequências negativas [que esta mudança corpórea possa
receber]. Para a maioria das pessoas, a extensão e as nuanças das emoções
expressas são maiores através da sua demonstração do que através de
descrições verbais. Por essas razões, a demonstração de sentimentos é
particularmente útil na FAP como indicativa de contato com variáveis importantes.

Evitando sentimentos

Nós já discutimos uma das causas para as dificuldades do cliente em


expressar sentimentos; ou seja, os clientes podem não saber como se sentem
porque nunca aprenderam a icar sob o controle privado de seus corpos. A
f

expressão diminuída de sentimentos pode também resultar de repreensão em


numerosos contextos. Enquanto crianças, expressões de sentimentos podem ter
sido punidas pelos pais por serem inconvenientes ou perturbarem.
Paradoxalmente, a principal fonte de punição é derivada de um dos usos da
expressão de sentimentos discutidos na seção anterior - expressar sentimentos
permite aos outros nos conhecerem e predizerem nossos comportamentos. Embora
tal conhecimento conduza ao reforçamento positivo numa relação íntima, também
pode conduzir à punição, se o conhecimento for usado contra nós. Talvez esta
seja a razão pela qual a expressão emocional é algumas vezes descrita como
" "
estar vulnerável .

A expressão de sentimentos é frequentemente punida na vida adulta


porque a maior parte das culturas estabelece grandes proibições para a
demonstração de emoção (Nichols & Efran, 1985). A razão para esta punição
"

cultural é que a demonstração significa que a pessoa está fora de serviço" e


não está atendendo à tarefa que lhe foi designada. Isto parece ser verdadeiro
para uma vasta gama de situações. Um gerente de mercearia que responde com
emoção por que uma cliente lhe lembra sua mãe abusiva, sofrerá consequências
"

negativas, assim como um piloto de avião que sucumbe em uma emergência.


"

Está requentemente nos melhores interesses da cultura limitar a expressão de


f
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento 85

afetos. O lado ruim de limitar a expressão dos sentimentos é que isto causa
problemas nas relações, particularmente nas íntimas.
Quando a expressão dos sentimentos é punida, as condições que evocam
respostas emocionais também se tornam aversivas e são evitadas Por exemplo
.
,

se uma criança é punida por sentir-se e agir afetivamente então as situações que
,

evocam afeição podem também se tornar aversivas Sentir afeição (os estados
.

corpóreos associados com afeição) pode também se tornar aversivo devido à


sua associação com punição. É importante notar que sentimentos aversivos não
causam a esquiva de afeição; a punição causou tal esquiva tanto quanto os
sentimentos aversivos. Para superar este problema não se deve enfocar os
,

sentimentos aversivos diretamente porque eles são simplesmente um estado


colateral, mas sim as condições que evocaram os sentimentos aversivos. Deste
modo, a meta seria o indivíduo não mais esquivar-se de condições que evocam
afeto de forma que novas consequências reforçadoras positivas possam ser
experimentadas.
Falando de maneira geral, também é de interesse da pessoa submetida à
punição por expressar sentimentos, limitar tais expressões. O processo
comportamental envolvido na limitação de expressão afetiva é a esquiva simples.
Assim como um rato esquiva de correr numa pista porque isto terminou em
punição e, em seu lugar, corre em outra, as pessoas esquivam-se de prestar
atenção a certos aspectos de uma situação evocativa em favor de prestar atenção
a outros. Tecnicamente, pode-se (1) esquivar às condições que trazem à tona o
estado corpóreo (por exemplo, fazer sexo), ou (2) não esquivar das condições
"

precipitantes, mas esquivar-se de sentir o estado corpóreo (por exemplo, desligar-


"
se durante o sexo). Os problemas dos clientes requentemente são resultado
f

destas esquivas e atenções seletivas. Como resultado, o foco do tratamento clínico


frequentemente recai sobre as experiências e lembranças mais aversivas dos
clientes - justamente aquelas evocadas por situações às quais o cliente se esquiva
de prestar atenção.

Grau de contato com variáveis de controle

A FAP implica em aprendizagem de novos comportamentos. O


comportamento, entretanto, não pode ser separado de seu contexto. Para o
terapeuta que se utiliza da FAP, o mesmo comportamento em dois contextos
diferentes têm significados completamente distintos. Por essa razão, o
86 Capítulo 4

aprendizado de novos comportamentos durante a FAP não será útil a menos


que o contexto da sessão seja relevante para a vida cotidiana do cliente. Por
exemplo, a abordagem do treino de habilidades sociais para assertividade pode
ou não ser eficiente. Quando isto não acontece, provavelmente é porque um
novo comportamento foi aprendido fora do contexto relevante. Ou seja, os,
clientes foram instruídos para agirem assertivamente em um contexto diferente
daquele no qual sua assertividade seria necessária. Seguindo as instruções do
terapeuta para serem assertivos, eles estão, de fato, sendo complacentes. Do
ponto de vista da FAP, esses clientes teriam uma chance melhor de aprenderem
a ser assertivos na vida cotidiana se eles não quisessem fazer o exercício de
asserção e se recusassem a fazê-lo. Assim, é importante ter o contexto da vida
diária operando durante a sessão. A presença do CRB é o melhor indicador do
contexto da vida diária. O CRB, por outro lado, estará presente à medida em
que as variáveis de controle forem acessadas.
O que é entendido por grau ou quantidade de contato não é mais elaborado
do que a relação entre a saliência de um estímulo discriminativo (Sd) numa caixa de
Skinner e o controle exercido por aquele estímulo. Se uma lâmpada de baixa potência
for usada para sinalizar a disponibilidade de comida para a pressão à barra e for
ligada enquanto o rato estiver de costas para ela a luz terá um pequeno ou nenhum
,

efeito sobre o comportamento de pressionar a barra. Outra forma de descrever a


relação fraca entre a luz sinalizadora e a pressão à barra é que o rato está apenas
t

parcialmente, se tanto, em contato com o estímulo. Mais controle sobre o


comportamento pelo Sd pode ser visto durante uma apresentação subsequente da
luz se sua intensidade for aumentada e se o rato estiver orientado em sua direção.
Então, nós diríamos que o rato teve mais contato com as variáveis de controle.
Como uma analogia para a situação terapêutica na qual um cliente
aprende a reagir de uma nova forma digamos que nós quiséssemos mudar o
,

comportamento do rato no exemplo prévio de maneira que ele coce sua cabeça
sempre que a lâmpada acenda, em lugar de pressionar a barra. O procedimento
de retreino deveria envolver o reforçamento do coçar somente quando a lâmpada
estivesse acesa. Desnecessário dizer que seria impossível fazer o coçar ficar sob
controle da luz e eliminar a pressão à barra de uma só vez sem que o rato
estivesse em contato com a luz. Não haveria oportunidades de treino. A situação
é comparável à dificuldade que um cliente teria em aprender um novo
comportamento durante a sessão quando os estímulos de controle relevantes
não estivessem presentes. Por exemplo um cliente cujos comportamentos-
,

problema somente sejam provocados por situações íntimas, terá dificuldade em


Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento 87

aprender novos comportamentos se a situação provocadora de intimidade não


ocorrer durante a sessão.

Entrar em contato com as variáveis de controle pode evocar tanto


comportamentos operantes quanto respondentes Por exemplo, a lâmpada na
.

caixa de Skinner serve concomitantemente como um Sd que controla o pressionar


a barra operante e também como um estímulo condicionado que provavelmente
elicia salivação e outras mudanças autonômicas. Similarmente o cliente que
,

entra em contato com as variáveis de controle pode também apresentar tanto


comportamento operante quanto respondente. Por exemplo a ocorrência de uma
,

interação íntima entre o terapeuta e um cliente com problemas de intimidade


pode produzir dois efeitos simultâneos. Um pode ser a expressão de sentimentos
envolvendo lágrimas e tristeza (respondentes) enquanto o outro pode ser um
,

CRB envolvendo uma tentativa de terminar a terapia (operante).


Dependendo do grau de contato, a luz terá mais ou menos efeitos
discriminativos e eliciadores e em consequência mais ou menos efeitos sobre o
,

comportamento do rato. De modo similar, durante a FAP um cliente pode ter


maior ou menor contato com variáveis de controle. Correspondentemente o ,

cliente apresentará mais ou menos dos operantes ou respondentes associados.


Além de prover novas oportunidades de aprendizagem a limitação da
,

esquiva e o contato crescente com as variáveis de controle têm o efeito de diminuir


a esquiva generalizada e aumentar o contato generalizado com o mundo. É
nossa suposição que a esquiva em uma área da vida tenha mais repercussões
generalizadas, diferentes para cada pessoa. Por exemplo, se alguém evita chorar,
pode também evitar demonstração de afeto em geral, e deve ter dificuldade em
experimentar sentimentos intensos de qualquer tipo, incluindo prazer e alegria.
O caso de Jonathan, um cliente do segundo autor, fornece um exemplo
específico do quanto a esquiva em uma área aparentemente pequena apresenta
ramificações muito maiores. Ele estava vindo à terapia duas vezes por semana por
dois anos e havia feito um imenso progresso-parado de beber, contatado e trabalhado
com a dor de ter crescido numa família disfuncional, aprendido como descrever
seus sentimentos, desenvolvido um sentido mais sólido de si próprio, e estava
começando a desenvolver uma relação íntima na qual havia um grande acordo de
troca mútua. Ele estava indo tão bem que havíamos falado em diminuir a requência
f

de sua terapia, mas uma coisa me intrigava. Quando eu perguntei a ele sobre seus
sentimentos a meu respeito, ele disse que não tinha nenhum. Ele disse que era grato
a mim pela minha ajuda, mas que isto estava restrito a uma relação profissional e
Capítulo 4

não era apropriado que ele tivesse por mim sentimentos iguais aos que ele tinha por
outras pessoas de sua vida. Eu estava aberta para a idéia de que não havia
similaridades funcionais entre nossa relação e suas relações fora da terapia, uma
vez que estas pareciam ter melhorado muito, sem que nós tivéssemos enfocado
muito a nossa relação. Mas eu lhe disse que queria que ele explorasse a possibilidade
de que sua esquiva em ter quaisquer sentimentos a meu respeito pudesse significar
que ele estava evitando outras coisas das quais nós não estávamos conscientes.
Começamos a focalizar muito mais a nossa relação, e Jonathan concordou em
prestar maior atenção a qualquer sentimento que tivesse em relação a mim. Ele
começou relatando ter percebido que despertava com sentimentos calorosos a meu
respeito e imediatamente ele os cortava. Eu bloqueei a esquiva de Jonathan mudando
o foco da terapia para os sentimentos e reações dele que eram dirigidos a mim. Isto
"

o conduziu a ter pensamentos, tais como Eu não mereço ter bons sentimentos, eu
vou querer coisas de você e vou ficar desapontado, nossa relação icará cada vez

f
"
mais fora do controle, eu me sentirei muito vulnerável Nos poucos meses seguintes,
.

eu o encorajei a manter-se atento à nossa relação, às formas pelas quais eu


,

expressava meu cuidado para com ele, e em como ele cortava seus sentimentos a
meu respeito. Ele gradualmente passou a ter sentimentos mais intensos dirigidos a
"
mim, e um dia ele veio e disse, Na noite passada eu senti essa ligação em meu
corpo e me senti muito bem. Eu não sentia isso há muito, muito tempo [começou a
icar choroso] ... desde que eu era garoto... um sentimento de pureza interna,
f

tirando um peso das minhas costas. Eu era realmente um bom garoto [chora] ,

simpático, honesto, precavido... Eu penso que tenho essa coisa geral que há alguns
,

sentimentos que não são legais que eu tenha como sentimentos carinhosos pela
,

minha mãe, sentimentos sexuais pelo meu terapeuta e sentimentos alegres como
,

de um garoto." Jonathan também relatou que tinha problemas em atingir o orgasmo


durante o sexo, e o que ele experimentava quando estava próximo ao orgasmo era
similar à maneira como ele evitava ter sentimentos a meu respeito. Em resumo ,

explorar uma área limitada de esquiva com Jonathan abriu mais esferas de
experiência para ele do que qualquer um de nós poderia ter imaginado.
A visão da FAP das emoções pode ser contrastada com concepções
mentalistas predominantes. Vários sistemas psicoterapêuticos e o publico em geral
vêem as emoções como algo que se pode guardar reprimir e descarregar. Por mais
,

atraentes que pareçam ser essas noções elas nos deixam com questões incómodas
,

tais como onde elas são armazenadas, para onde vão quando são descarregadas, e
,

o que é deixado em seu lugar quando são descarregadas Tratar as emoções como
.

entidades leva-nos a focalizar estes tipos de questões e nos desvia para longe do
seu contexto como parte da experiência e do comportamento de uma pessoa .
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento 89

LEMBRANÇAS

Ciientes têm dois tipos de lembranças de experiências da infância que


são úteis durante a psicoterapia. Um dos tipos ocorre espontaneamente no decorrer
da conversação. Por exemplo, enquanto falava sobre o dinheiro devido ao
terapeuta, uma cliente lembrou-se espontaneamente que sua família foi despejada
de um prédio de apartamentos quando ela era uma criança porque seu pai havia
perdido o dinheiro do aluguel em jogo. O outro tipo de lembrança é diretamente
instigado pelo terapeuta. Por exemplo, uma cliente que tenha uma vaga lembrança
de um evento incestuoso deve ser encorajada a pensar a respeito do evento e
lembrar-se mais sobre o que ocorreu. A visão comportamental desses dois tipos
de lembranças estabelece uma visão um tanto diferente das noções predominantes
sobre lembranças e sobre como são recuperadas. De fato, o behaviorismo radical
" "
não acredita que haja uma coisa tal qual uma memória que seja guardada na
"

mente. Porém, nós acreditamos em lembrança" e que este processo seja


importante na FAP.
Nossa visão é que lembrança é o processo comportamental de ver, ouvir ,

sentir cheiros, tocar, e de sentir o gosto de estímulos que não estejam presentes,
Para explicar esta abordagem particularmente estranha das lembranças, nós
discutiremos apenas o "ver estímulos" que não estejam presentes, visto que
nossos argumentos aplicam-se igualmente aos outros sentidos.
Comecemos com a noção de que ver seja um comportamento. Quando
vemos uma tulipa, há uma atividade privada ocorrendo. Não podemos descrever
a atividade muito bem já que ela é privada e nós não aprendemos como falar
sobre ela. Entretanto, é o comportamento privado associado com a atividade
fisiológica que ocorre quando vemos alguma coisa. Porém, a atividade privada
de ver não é a atividade fisiológica. Talvez uma analogia com o falar ajudará a
esclarecer este ponto. Falar é um comportamento.. Diferente do ver, podemos
descrevê-lo porque ele é público e nós aprendemos como descrever este tipo de
atividade pública. Semelhante ao comportamento de ver, há uma atividade
fisiológica associada ao falar. Oposto ao caso do vex, entretanto, o falar não é
uma atividade isiológica.
f

Falar fornece estímulos discriminativos; ou seja, podemos ouvir as


palavras ditas e descrever movimentos mandibulares, e assim por diante. Ver
também fornece uma complexa gama de estímulos discriminativos. Os estímulos
discriminativos fornecidos pelo ver são o objeto sendo visto. Assim, a experiência
90 Capítulo 4

que temos quando vemos um objeto é o resultado de estímulos discriminativos


gerados pelo comportamento de ver.
Lembrar, o comportamento de ver na ausência de um objeto, pode
ocorrer de duas formas. Primeira, deve haver um ver condicionado de forma
respondente; quer dizer, o cliente vê X porque X foi sendo associado a outros
estímulos no passado. Por exemplo, considere a palavra sete. Para algumas
"
pessoas, pode ter havido um breve vislumbre do numeral 7 em seu olho da
"
mente quando elas viram a palavra impressa. Nós argumentamos que este é

um exemplo do ver condicionado de maneira respondente na ausência do objeto


(o numeral 7) sendo visto. Similarmente, lembrar de um delicioso jantar em um
restaurante pode ser evocado ao passar em frente a este restaurante. No caso
de Nancy (discutido quase ao final deste capítulo), ela espontaneamente
recordou-se de uma experiência de separação na casa de uma tia durante sua
infância, que fôra previamente esquecida, fsto provavelmente foi o resultado
de estar em contato com alguns dos estímulos que foram associados com o
trauma original. Dessa forma, durante a sessão, houve alguns estímulos de
separação (o terapeuta havia anunciado que estaria saindo nas férias) que foram
associados com os estímulos na casa da tia, e o ver condicionado de forma
respondente (lembrar) ocorreu. Esta visão do lembrar é consistente com uma
vasta literatura sobre a aprendizagem dependente do estado. Esta literatura
demonstra que lembrar é facilitado pela ocorrência de estímulos na situação
presente que são similares àqueles presentes quando o evento lembrado ocorreu
*

pela primeira vez (Catania, 1984). Anterior à recordação, o lembrar foi inibido
porque a cliente evitou o contato com os estímulos relevantes que tanto poderiam
ter eliciado o afeto quanto evocado a memória. Deste ponto de vista então, ,

lembranças espontâneas de eventos traumáticos são um efeito automático do


contato e servem como um indicador ou marcador que mostram a presença de
variáveis de controle relevantes. Uma vez que o contato tenha ocorrido,
comportamentos novos e mais adaptativos podem ser aprendidos. Assim, de
acordo com a visão da FAP o problema fundamental produzido pelo trauma
,

passado é que os estímulos presentes que nos lembram do trauma são evitados.
Quando é pedido diretamente a um cliente que se lembre de um evento,
" "
este é um operante ver na ausência do estímulo .
Diferente do ver condicionado
por processo respondente, o qual é eliciado por um estímulo presente que foi
pareado com outros estímulos no passado, o ver operante é afetado por estímulos
discriminativos verbais ou não estados de privação e reforçamento. Ou seja, o
,

ver operante sem a presença de estímulos ocorre devido a reforçamento passado


para tal visualização. De acordo com esta visão, quando se pergunta a alguém
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento 91

como é o seu quarto de dormir a pessoa simplesmente se empenha no mesmo


,

comportamento de ver privado (ou similar) que acontece quando ela está de fato
no quarto. Este ver é parecido com qualquer outro comportamento voluntário e
sua força reflete sua história de reforçamento passado. Da mesma forma que o
ver sem que o estímulo esteja presente é similar ao ver quando o estímulo está
presente, o lembrar-se produzirá funções discriminativas similares.
Assim, se você estiver tentando lembrar-se da localização exata da janela
ou de uma cadeira em seu quarto empenhar-se na visão do quarto pode ajudar
,

a descrever exatamente onde a cadeira está de um modo muito semelhante a


quando se vê, de fato, o recinto. A pessoa faminta que imagina comida, ou a
pessoa sexualmente privada que imagina estímulos sexuais, estão também
empenhadas com o ver operante. Nesses dois exemplos a privação (de comida
,

ou de sexo) aumenta a probabilidade do operante (ver comida ou sexo na ausência


de um estímulo).
Outra implicação do ver operante é que como outros operantes, este
,

não ocorrerá se foi punido ou se não foi reforçado positivamente. Assim, punição
,

pode resultar em esquecimento seletivo e amnésia. Esquecimento seletivo e


amnésia têm um papel principal em transtornos dissociativos tais como, estados
de fuga e transtornos de personalidade múltipla (ver Capítulo 6).
Ao ajudar uma cliente a lembrar-se de modo operante de um evento
incestuoso que ocorreu em seu quarto, ela poderia primeiro ser instada a lembrar-
se dos aspectos ísicos do quarto no qual o evento ocorreu. O lembrar-se da
f

cliente é modelado e reforçado pelo terapeuta. Por exemplo, se lembrar-se do


quarto produzir aversividade em demasia e for evitado, a cliente pode ser instada
a lembrar-se do corredor que levava ao quarto.
Lembrar-se de um trauma antigo pode servir a pelo menos duas funções.
Uma vez que o trauma tenha sido lembrado, o cliente pode, então, formular uma
regra (ver Capítulo 5) que possa ajudar a melhorar o funcionamento da vida
diária atual (Zettle, 1980). Por exemplo, Zettle descreveu uma cliente que não
gostava de sexo com seu marido por causa de um incesto esquecido. Por ter
esquecido o incesto, a cliente havia formulado uma regra improdutiva de que os
problemas sexuais eram devidos à inaptidão de seu marido. A regra era
improdutiva porque direcionava o foco de atenção para os temas errados e
provavelmente conduzia a discussões e frustração. Uma vez que o incesto foi
lembrado, uma regra nova e mais produtiva foi formulada (por ex.: "Eu estou
reagindo negativamente ao meu marido devido a experiências aversivas passadas),
a qual, por sua vez, levou a focalizar temas mais relevantes.
92 Capítulo 4

Uma segunda e mais importante função do lembrar é que ele ajuda a


reduzir a aversividade dos estímulos que são evitados no presente, e assim ajuda
a aumentar o contato com eles e permite a aprendizagem de comportamentos
novos e mais eficazes. Ou seja, quando os eventos traumáticos são lembrados
de maneira operante, a aversividade é reduzida através de extinção. Na sequência, -
os estímulos presentes que até então foram evitados porque eliciavam o ver
respondente, serão agora contatados. Considerando o caso descrito por Zettle, o
lembrar operante do trauma ajuda porque a aversividade é reduzida. Então ,

diminuiria a probabilidade da relação sexual atual ser aversiva e o contato seria


melhorado porque o ver respondente evocado seria menos aversivo. O esperado
seria que isto ajudasse diretamente a melhorar a relação sexual.
De maneira similar, o lembrar operante do trauma passado pode também
aumentar o contato com estímulos durante a sessão, os quais por sua vez resultam
na evocação de CRB. Por exemplo considere um cliente que apresenta problemas
,

relacionados a não acreditar em outras pessoas e por isso evita relações íntimas.
O cliente também evita confiar e formar uma relação próxima com o terapeuta.
Suponha que o cliente, então, lembre de forma operante de um trauma precoce
de abandono e, em consequência disso reduza a aversividade da lembrança.
,

Então os estímulos que evocam confiança e intimidade na relação cliente-terapeuta


,

os quais lembram ao cliente do abandono (um lembrar respondente) teriam também


,

sua aversividade reduzida. Dessa maneira, os CRB2s de confiança e intimidade


se tornam mais prováveis de ocorrer e de ser fortalecidos pelo terapeuta.
Na estrutura da FAP, a esquiva de memórias é problemática pois
interfere com o contato de estímulos importantes na relação cliente-terapeuta.
Assim como o afeto, a lembrança espontânea de eventos traumáticos é um
sinalizador que indica contato com estímulos clinicamente significantes dentro
da relação terapêutica.

IMPLICAÇÕES CLINICAS

As implicações clínicas de nossa conceituação teórica das emoções


conduzem a um conjunto de recomendações: (1) ofereça uma racional
comportamental para a importância da expressão afetiva (2) aumente o controle
,

privado do cliente sobre sentimentos, (3) aumente a expressão afetiva do


terapeuta e (4) melhore o contato do cliente com variáveis de controle. Alguns
,

dos nossos métodos são semelhantes ou idênticos a técnicas de outras terapias;


Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento 93

o encorajamento difundido e a facilitação da expressão afetiva como um enfoque


na terapia fala da utilidade de tal expressão. Embora não necessariamente únicos ,

nossos procedimentos partem de fundamentos teóricos muito diferentes das outras


terapias. Dessa forma, como acontece com várias terapias frequentemente o
,

por que nós fazemos o que fazemos nos distancia de outros sistemas mais do
que aquilo que nós realmente fazemos. Nossas recomendações são discutidas
abaixo.

Ofereça uma Racional Comportamental para Entrar em Contato


com Sentimentos

AFAP difere significativamente de outras visões no fato de que a ênfase


não é na liberação catártica como um fim nela mesma. Nós acreditamos que a
esquiva de sentimentos é obtida por meio de contatos reduzidos com variáveis
de controle para os CRBs, o que por sua vez diminui a oportunidade para a
aquisição de novo comportamento. A explicação que damos ao cliente sobre a
importância de entrar em contato com os sentimentos não envolve apelos tais
como
"
É bom colocar para fora, liberar aqueles sentimentos reprimidos" ou,
Se você segurá-los, eles vão sair de outro jeito." Ao invés disso, é dito ao
"

cliente que a emoção é apenas um produto eventual do lidar com os problemas,


ou do entrar em contato com estímulos importantes. A ausência de emoção,
entretanto, é um problema sério indicando uma esquiva que interfere com a
terapia e também interfere com outras áreas da vida do cliente. Assim, a expressão
emocional é crucial, não porque seja curativa por si mesma, mas porque serve
para mostrar que o cliente está em contato com variáveis de controle importantes,
e que novos comportamentos podem agora ser aprendidos.
Em termos leigos, para um cliente que passou recentemente pelo fim de
um relacionamento, nós podemos dizer algo parecido com, É importante que
"

você se deixe entristecer, porque se você evitar pensar, sentir, falar sobre Jesse,
você acabará evitando muitas coisas, tais como atividades que vocês faziam
juntos ou encontrar novos homens, coisas estas que poderiam aflorar quaisquer
sentimentos sobre ele. Evitando todas essas coisas, não é apenas a iqueza da
r

sua vida que sofrerá interferência, mas você também não terá oportunidade de
imaginar o que aconteceu de errado e de aprender novas formas de lidar com
"

alguém próximo a você quando problemas semelhantes aparecerem .

Idealmente, a resposta do terapeuta a demonstrações de emoção deveria


ser naturalmente reforçadora. É improvável que um terapeuta que tenha
94 Capítulo 4

dificuldade com sua própria expressão afetiva ou com a expressão afetiva de


outros ofereça tal encorajamento, e pode punir o afeto do cliente. Por essa
razão, alguém com este tipo de repertório deficiente será claramente menos
capaz de trabalhar bem com clientes que requeiram contatos gradativamente
maiores com estímulos que evoquem respostas emocionais.

Aumente o Controle Privado de Sentimentos

Frequentemente, acontece a seguinte interação entre terapeuta e cliente:

T: O que você está sentindo neste momento?


*
1

C: [pausa, parece perplexo] Eu não sei.

Nossa interpretação sobre esta observação é baseada nos estímulos (o


ambiente) que são encontrados no consultório psicoterapêutico típico. A situação
é geralmente aprazível - as luzes são relativamente amenas, as janelas deixam
-

entrar pouca luz e a decoração é neutra. Usualmente, cliente e terapeuta estão


sentados e inativos exceto por falarem e se moverem dentro dos limites da
poltrona. As expressões faciais, gestos, e tom de voz do terapeuta são
relativamente controlados. Já que há uma quase completa ausência de estímulos
públicos que possam indicar aos clientes como eles estão se sentindo, eles
precisam contar quase que exclusivamente com estímulos privados. Se a sua
história passada falhou em dar-lhes controle suficiente através de estímulos
privados, então eles serão incapazes de responder à questão do terapeuta. Dessa
forma, o ambiente terapêutico típico é evocativo do CRB de controle público
acidental de emoções. Um objetivo do tratamento para CRB1 associado com
,
controle público acidental pode ser direcionado a fornecer mais controle aos
estímulos privados associados com sentimentos. Para alcançar isto em primeiro
,

lugar o terapeuta deve estar razoavelmente certo de que os estados corpóreos


,

relevantes estejam presentes e em segundo lugar, usar os princípios de treino


,

discriminativo de forma a que os estímulos privados do cliente (estados corpóreos)


ganhem controle sobre a descrição de sentimentos.
Suponha que esse tipo de interação tenha se estabelecido no início de
um processo de terapia e que o problema do cliente era uma inabilidade em
,
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento 95

expressar sentimentos. Além disso que ele tivesse descrito em tom monótono
,

como um colega de trabalho o traiu. Nós o encorajaríamos a reviver a experiência ,

descrevendo detalhes da traição. Nossa esperança é que este recontar dos detalhes
possa evocar os estados corpóreos de raiva. Nós também o observaríamos
cuidadosamente para tentar encontrar qualquer sinal de raiva. Então seria dito a
"
ele Se isto acontecesse para mim, eu estaria com muita raiva e parece que
,

você deve estar experimentando alguma raiva neste momento" Depois de alguns
.

eventos terapêuticos similares nos quais o cliente é incitado especificamente


para tatear a raiva, a especificidade das dicas deve ser gradualmente retirada. O
objetivo é fazer com que os estados corpóreos privados do cliente ganhem controle
sobre seus relatos de raiva.

Do ponto de vista da FAP a potência da intervenção terapêutica é


,

fortalecida se a situação emocionalmente evocativa ocorrer de fato na sessão .

Por exemplo suponha que um cliente implore ao segundo autor para que ligue
,

para o seu chefe com o propósito de ajudá-lo a conseguir um vital aumento de


salário. Eu recuso, e observo que o cliente parece desapontado e magoado. Neste
ponto, eu estou razoavelmente certa de que os estados corpóreos relevantes de
raiva estão presentes. Usando os princípios de treino discriminativo, inicialmente
eu proveria estímulos públicos proeminentes para induzir o cliente aos sentimentos
"
que deveriam ser sentidos. Eu poderia dizer, Você parece magoado e
desapontado, e é o que eu sentiria se eu estivesse no seu lugar". Então, depois de
várias ocasiões nas quais uma variedade de situações de mágoa e desapontamento
tivessem sido processadas, eu gradualmente iria fornecer menos orientação
"

pública. No lugar de declarar sentimentos específicos, eu diria, Esta situação


me lembra de outras que você viveu no passado nas quais você sentiu alguns
"
sentimentos fortes Mais tarde, na terapia, a simples pergunta "Como você se
.

"
sente? seria suficiente. Uma sobreposição existe entre as condições que levam
a uma falha do controle privado dos sentimentos e problemas do self. (Este tema
e o processo terapêutico que conduzem a um crescente controle de estímulos
privados sobre as respostas do cliente serão discutidos no Capítulo 6.)
Dada a preponderância da inabilidade dos clientes para responder ao
terapeuta quando perguntados a respeito de como eles se sentem, o controle
público acidental de emoções pode ser mais comum do que se imagina. Uma
falha na clareza daquilo que alguém está realmente sentindo enquanto adulto,
refíete a inevitabilidade dos problemas que ocorrem quando entidades externas
(por exemplo, um dos pais) tentam dar um significado para uma experiência
interna da criança que eles não podem ver ou conhecer.

/
96 Capítulo 4

Aumente a Expressão de Sentimentos pelo Terapeuta

Com clientes que tenham dificuldade em aceitar o carinho de outros (a


esquiva da expressão de sentimentos de atenção por outros), e que precisem de
ajuda para ter contato com seus sentimentos e expressá-los, especialmente
sentimentos de intimidade, nós encorajamos uma expressão ativa de sentimentos
por parte do terapeuta. Por exemplo, a interação seguinte foi estabelecida entre
o segundo autor e Evelyn, cliente há Quatro anos.

C: [enquanto criança] Eu tinha muita vergonha de ser pobre, de não ter nada. Minha
mãe me humilhava por ser bêbada e por partir toda vez que estava bêbada. N inguém
era saudável o suficiente para ser agradável. Não havia nunca qualquer segurança,
lugares bons. Eu até via você da mesma forma que eu costumava ver as pessoas
que tentavam ser legais. Não é real, eu não estou segura, as pessoas não são capazes
de cuidar das outras. Isto sim é verdade. É perigoso demais confiar. No meu íntimo,
eu sinto que não é seguro.

T: Certamente não foi seguro durante o seu crescimento. Com referência à minha
delicadeza não ser real, na semana passada eu pedi a você que tentasse sentir o
meu carinho e você disse que sentiu angústia.
I

C: Sim, pontadas de angústia, uma invasão nos meus limites. Este é o último soldado
que não se rendeu porque a guerra ainda continua. Como aqueles caras que você
encontra rastejando entre as árvores, ainda armados dez anos depois que a guerra
terminou. Para sobreviver a todos aqueles abusos, este é o último vestígio, a crença
de que o mundo ainda é ruim. Eu não sei como fazer as pessoas me amarem. Este
é o segredo - eu não sei como fazer isto.
i

T: Você pode começar prestando atenção na suavidade da minha voz, nos meus olhos,
no toque das minhas mãos, quando eu falo com você, e a pensar sobre todos os
momentos especiais que nós tivemos trabalhando juntas todos estes anos.

C: 'Minha sensação é que, se você realmente me conhecer, você não vai gostar de
mim.

T: Eu a conheço melhor do que qualquer outra pessoa não é?,

C: É.

T: (Eu me coloquei sentada diretamente em rente a ela e pedi que ela olhasse nos meus
f

olhos enquanto eu falava.) Evelyn, quando eu penso em você tenho sentimentos de


Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento 97

afeição e amor no meu coração. Você é muito especial para mim Você sobreviveu a
.

tantos traumas e você é uma pessoa maravilhosa e talentosa. Eu tenho estima por
,

você e quero o melhor para você. Eu considero um verdadeiro privilégio que você
tenha se mostrado tão vulnerável para mim que você tenha me deixado saber quem
,

você é, e que me tenha sido permitido ver você mudar e florescer neste tempo .

C: [começando a chorar] É difícil pra mim me permitir acreditar em você Como é que
.

.
ninguém disse isso antes para mim?

Dizer a Evelyn o que eu sentia por ela teve pelo menos quatro funções .

A primeira, deu a ela uma oportunidade para aprender através de exemplo,


,

como expressar sentimentos de carinho. Segunda eu bloqueei sua esquiva da


,

minha expressão por intermédio de fazê-la experimentar a aceitação dos


sentimentos de carinho vindos de uma outra pessoa numa relação próxima
(CRB2). Terceira, dar a ela informações sobre os meus sentimentos me torna
mais vulnerável a ela. Isto aumentou sua capacidade para predizer o meu
comportamento e em consequência sentir-se mais segura na relação. Finalmente ,

dizer-lhe os meus sentimentos positivos em relação a ela, ajudariam Evelyn a


desenvolver auto-tatos mais positivos, tais como "Eu sou uma sobrevivente eu ,

"
sou especial, eu sou maravilhosa, eu sou talentosa Estes auto-tatos poderiam
.

ajudar da mesma maneira que a terapia cognitiva faz algumas vezes (ver Capítulo
5 para uma interpretação comportamental deste fenómeno).

Melhore o Contato do Cliente com Variáveis de Controle

Como nós temos reiterado, trazer comportamentos clinicamente


relevantes (CRBs) para a sessão é a maior prioridade para o terapeuta que
esteja exercendo a FAP. Algumas vezes, estes CRBs não ocorrem porque o
cliente não está em contato suficiente com as variáveis de controle. No contexto
de nossa discussão das emoções, consideramos uma variável de controle como
<

sendo qualquer coisa no presente que lembre a alguém eventos emocionalmente


estressantes ou traumas que ocorreram no passado. São inúmeros os exemplos
de variáveis de controle e são, é claro, idiossincráticos para o indivíduo. Eles
podem incluir questões ou declarações feitas pelo terapeuta, a intimidade na
relação terapêutica, uma foto de alguém amado, cenas de um filme ou um livro,
uma canção específica ou o horário do pôr-do-soL
Desnecessário dizer que nós estamos mais interessados em variáveis de
controle que possam ser produzidas na terapia. De fato, todos os exemplos
98 Capítulo 4

anteriores poderiam ter sido incorporados a uma sessão. Em geral, a tarefa do


terapeuta é aumentar o contato do cliente com variáveis de controle e limitar a
sua esquiva de situações, as quais ocorrem durante a sessão e que evocam
afeto. Quando o contato ocorrer, haverá expressão afetiva, a qual, por sus vez,
pode evocar mais comportamentos de esquiva.
Assim, a expressão da emoção por parte de um cliente durante a sessão
serve como um indicador de que o cliente está em contato com as variáveis de
controle que eliciam a emoção. O afeto aponta que está havendo contato da
mesma forma que uma pessoa que chega perto de um forno quente mostra o
contato real com o forno através de (1) gritar de dor, (2) retirar a mão da superfície
quente, e (3) dizendo, Ôrra! Isto está quente!". Todas essas expressões de afeto
"

são evocadas pelo contato com o fogão quente. O estado corpóreo que é sentido
é a experiência associada de dor. Se um cliente não estiver em contato com
variáveis de controle relevantes que eliciariam uma resposta emocional em outros
contextos diferentes, emoções consideradas um marcador e o CRB associado
não ocorrerão.

Note que esta análise de variáveis de controle e formas de contatá-las é


"

uma elaboração da Regra 2 (ver Capítulo 2) - Evocar CRBs". Três


recomendações principais que ajudam o terapeuta a propiciar ao cliente entrar
em contato com variáveis de controle serão agora discutidas: (1) Reapresente o
estímulo aversivo. (2) Enfoque as formas peias quais o cliente está evitando
afeto. (3) Enfoque o afeto do cliente relacionado a similaridades funcionais
entre terapia e vida cotidiana.

Reapresente o estímulo aversivo


i

Observar quando o cliente está tentando evitar afeto e então reapresentar


o estímulo aversivo ou variável de controle relevantes, requentemente bloqueará
f

a esquiva do afeto pelo cliente. Dois estudos de caso ilustram este princípio.
No primeiro caso, o primeiro autor estava conduzindo uma entrevista
inicial com Amy, uma contabilista de 48 anos de idade que sofria de uma
inexplicável dor de cabeça 24 horas por dia. Amy era muito meticulosa com
datas e lugares medicações, história de trabalho, e coisas semelhantes. Ela era
,

incapaz, entretanto de precisar o início de sua dor exceto ao dizer que ela havia
,

começado 8 ou 9 anos atrás e que estava presente desde então. Ela pareceu ficar
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento 99

perturbada quando eu insisti em minhas questões sobre a data do início. Ela


também era hábil em mudar o tópico da conversa e o fez muitas vezes Eu .

avaliei a esquiva como um possível CRB1 e continuei pressionando para o


ccntato com variáveis de controle. Eu lhe pedi que me desse um inventário de
todos os eventos importantes que haviam ocorrido há 8 e depois 9 anos atrás. ,

Eu queria saber, por exemplo, o que ela havia feito no Natal que hóspedes ela ,

teve durante o ano, que médicos ela havia consultado se havia algum problema
,

conjugal, etc. Conforme a entrevista continuou e a esquiva foi sendo bloqueada


repetidas vezes, ela mostrou mais e mais sentimentos. Quando eu perguntei a
ela como se sentia, ela disse que se sentia bem. Eu tomei isto como evidência de
que ela não estava sentindo muito bem seu estado corpóreo. Eu persisti com
minhas perguntas sobre eventos significativos durante aquele período de tempo ,

e finalmente ela falou sobre a morte de sua filha de 14 anos ocorrida 8 anos
atrás. Ela ficou sufocada com lágrimas, e o seu corpo tremia e seus braços se
agitavam com angústia. Eu gentilmente a encorajei a recontar em detalhes as
circunstâncias que envolveram a morte de sua filha. Antes desta catarse ela ,

havia evitado completamente qualquer situação que estivesse ligada à morte de


sua filha. Ela mudou-se para uma nova casa sem nunca voltar para a antiga
vizinhança, evitou quaisquer discussões que pudessem conduzir a assuntos sobre
sua filha, mudou seu escritório, passava as férias fora de Seattle (cidade onde
'

morava), e nunca se lamentava. De várias formas sua vida havia se tornado


extremamente restrita. Eu a encontrei uma semana depois e ela relatou que sua
dor de cabeça havia desaparecido. Minha interpretação da dor de cabeça de
Amy é que ela era causada por um estado corpóreo crónico, ou seja, a dor tinha
uma origem ísica diretamente ligada a um estado corpóreo crónico que era
f

evocado pela aversividade da esquiva ampliada Os eventos da sessão .

preveniram esquivas posteriores e o corpo de Amy voltou a um estado mais


normal; a dor desapareceu.
O segundo caso é o de Roxie, uma cliente do segundo autor. Roxie tinha
uma história de episódios de depressões severas, tentativas de suicídio, e
alucinações. Esses episódios intensos pareciam ser provocados por situações
interpessoais nas quais Roxie era criticada, contrariada ou até mesmo rejeitada.
Ela reagia de forma muito emotiva a tais eventos e arriscava-se em
comportamentos tais como, tentar se apunhalar com uma faca ou ingerir uma
overdose de barbitúricos. Isto era particularmente verdadeiro quando a rejeição
*

Este é um exemplo no qual pode-se dizer que um sentimento causou um sintoma; ou seja, o smtoma
(dor de cabeça) era um estado corpóreo que era o resultado direto de outro estado corpóreo
(evocado pela aversividade que ela estava evitando).
100 Capítulo 4

ocorria em uma relação que evocava apego e dependência. Depois de dois


anos de terapia marcados por várias crises, a relação terapêutica desenvolveu-
se ao ponto de ter se tornado próxima do tipo de relação que poderia evocar
episódios graves se Roxie experimentasse uma rejeição por parte da terapeuta.
Do ponto de vista da FAP, tal ocorrência poderia fornecer uma oportunidade
inestimável para o desenvolvimento de formas mais efetivas de lidar com a
rejeição (CRB2) e aumentaria o auto-entendimento (CRB3).
Apesar de relutante, eu estava antecipando justamente uma oportunidade
destas porque eu estava prestes a dizer a Roxie que a quantidade e o tipo de
chamadas telefónicas que ela me fazia à noite e no final de semana deveriam ser
restringidos. Quando esta limitação foi apresentada a Roxie, ela pouco pareceu
reagir à informação. Ela não chorou nem agiu com raiva, mas somente pareceu
icar menos falante e mudou o assunto. Parecia que havia sido feito pouco contato
f

com a situação presente. Era como se ela não tivesse ouvido ou entendido o que
havia sido dito. Numa tentativa de levar Roxie a entrar em contato com os estímulos
que poderiam evocar a resposta emocional, eu voltei ao assunto de estabelecer as
limitações, pedindo a Roxie que repetisse o que havia entendido sobre a limitação
nas chamadas telefónicas. Conforme Roxie faiava, tornou-se mais agitada.
Enfocando novamente o assunto e com as minhas observações declaradas de sua
esquiv , Roxie começou a sóluçar e rapidamente vocalizou um pensamento suicida.
Nos vários meses seguintes Roxie obteve um entendimento maior das
,

variáveis de controle (CRB3) - um estímulo discriminativo complexo envolvendo


sua ligação a mim, a limitação das chamadas telefónicas, e uma história de
rejeição e abandono. Além disso, no toma-lá-dá-cá da interação, ela aprendeu
uma nova forma de reagir à rejeição. Ao invés de esquivar e ocupar-se com
comportamento suicida, ela aprendeu a discutir sua dependência e medo do
abandono e buscar segurança em mim. Ela foi levada gentilmente a examinar
quais dos seus comportamentos afastavam as outras pessoas, incluindo a mim
mesma. Eu tentei dar a ela segurança sobre meu compromisso com o seu
crescimento e melhora contínuos, tanto em palavras quanto em açoes. Eu também
persisti em colocar limites nas chamadas telefónicas. A lição mais importante
para Jloxie foi que o seu contato com estímulos evocativos na sessão resultou
numa relação mais íntima (mais reforçadora). Assim ela tornou-se capaz de
,

experimentar o meu cuidado (segurança atenção, ajuda na solução de problemas,


,

etc.) ao mesmo tempo em que ela também entrou em contato com os aspectos
emocionais de ter os seus privilégios telefónicos limitados. Embora tenha
demorado vários meses Roxie era repetidamente levada a entrar em contato
,
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento 101

com a limitação das chamadas telefónicas e com as reações emocionais que


eram evocadas. Este provou ser o momento crucial para mudar a maneira como
ela reagia à rejeição e criou as condições para o desenvolvimento de outros
repertórios interpessoais melhorados .

Focalize as formas pelas quais o cliente está evitando afeto

Em adição à reapresentação do estímulo outra forma de aumentar o


,

contato com variáveis de controle ou de bloquear esquiva é pedir para que o


cliente observe atentamente o que ele está fazendo para ignorar o sentir Com a
.

"
pergunta, O que você está fazendo agora para impedir a si mesmo de sentir?" ,

nós encontramos que entre a maioria das formas pelas quais os clientes evitam
afeto incluem-se as seguintes: (1) atividades cognitivas de distração (por exemplo ,

contar para trás de sete em sete a partir de mil enfocar uma imagem em branco,
,

"
repetir para si mesmo Eu não vou chorar"); (2) estreitar o campo visual (por
exemplo, olhando atentamente para alguma coisa do lado de fora da janela ou ,

um pequeno obj eto no consultório corno o botão de cirna da camisa do terapeuta ,

ou uma mancha no teto) e (3) atividades cinestésicas distrativas (tensionando


,

os músculos, permanecendo bem imóvel ou não respirando). A partir do momento


,

em que conhecemos o que eles estão fazendo para esquivar do afeto pedimos a
,

eles para pararem de fazê-lo ou que façam alguma coisa incompatível assim ,

como respirar profundamente e devagar ou olhar nos nossos olhos. Algumas


,

"

vezes, simplesmente perguntar Há alguma coisa que você está evitando pensar
"
ou falar neste momento? trará à vista um tema intenso e o seu afeto associado.

Focalize no afeto do cliente relacionado às similaridades funcionais


entre terapia e vida cotidiana

Uma similaridade funcional entre terapia e o dia-a-dia é qualquer coisa


na situação terapêutica que possa evocar sentimentos ou ações no cliente,
similares aos evocados por uma situação fora da terapia. Para ilustrar, voltaremos
ao caso de Nancy, cujos problemas centravam-se em criar e manter relações
íntimas. Ela havia estado em FAP com o primeiro autor por vários meses e uma ,

relação gradativamente mais próxima foi desenvolvida. Embora tenha ocorrido


progresso, algumas deficiências de repertório ainda se mantinham. Uma delas,
conforme descrita por Nancy, dizia respeito a um medo de que a pessoa de quem
102 Capítulo 4

ela se tornava próxima poderia desaparecer, que nunca voltaria depois de estar
temporariamente separada dela devido a uma viagem ou outra razão qualquer.
Ela sentia que ficaria desolada e não seria capaz de continuar com a sua vida.
Nancy via esses sentimentos como parte da sua relutância passada e presente
em se tornar intimamente envolvida. Este problema também interferia nas relações
conforme elas iam se desenvolvendo, por causarem a ela tanto uma intensa
tristeza quanto a fuga da situação, quando ameaçada por separação. Ela podia
também relacionar seus medos a ter sido deixada por um namorado vários anos
antes.

O julgamento de Nancy sobre como seus medos relacionavam-se a seus


problemas de relacionamento é uma descrição de seu comportamento-problema
e das possíveis variáveis de controle (CRB3). Seu relato, entretanto, não constituía
uma real ocorrência do problema durante a sessão (CRB1). Do ponto de vista
da FAP, as chances de melhora clínica são aumentadas se os medos e CRBs
associados provocados pela intimidade realmente ocorrerem na relação
terapêutica e, em decorrência, fornecerem para o cliente uma oportunidade para
aprender novas formas de responder. Além disso, uma descrição do seu
comportamento-problema e das variáveis de controle, baseadas em um evento
que ocorra durante a sessão, deveria ser mais benéfico do que basear-se apenas
no comportamento do passado do cliente.
As propriedades indicadoras de afeto foram observadas no instante do
choro de Nancy quando eu contei a ela sobre um período de duas semanas de
férias no futuro próximo. Depois de relatar uma tristeza esmagadora, ela então
tentou minimizar o evento mudando de assunto, e com um sorriso falou sobre
,
i _ _

não precisar mais de terapia. Eu estava consciente de que um CRB1


provavelmente estaria ocorrendo. Em consequência disto, depois de algumas
palavras de empatia, eu voltei ao assunto da minha futura viagem. Nancy ficou
de novo chorosa e uma discussão intensa seguiu-se, envolvendo nossos
sentimentos um em relação ao outro, tanto quanto possíveis soluções para o
problema imediato causado pelas férias, tal como ter contato telefônic . Em
adição, uma lembrança de uma experiência traumática infantil de ter sido deixada
na casa de uma tia foi relembrada por Nancy.
Durante a sessão seguinte ao meu retorno, Nancy relatou que ela se
sentiu muito melhor durante a minha ausência do que ela podia ter imaginado.
A interação foi boa durante aquela sessão com ambos nos sentindo próximos
um do outro; isto foi diferente das interaçÕes raivosas e ressentidas que usualmente
%
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento 103

seguiam as reuniões anteriores com pessoas significativas , incluindo a mim


mesmo. Nos meses subsequentes nossas separações tornaram-se menos
,

perturbadoras e, consequentemente, Nancy relatou que era capaz de permanecer


estável e não abandonar a relação ao pensar na separação de uma pessoa com a
qual ela estivesse se envolvendo. Parecia que novos repertórios interpessoais a
respeito de separação dentro de uma relação íntima haviam sido desenvolvidos .

A expressão de Nancy sobre seus sentimentos foi importante em duas


maneiras. Primeira, sua presença foi uma indicação de que a situação terapêutica
era funcionalmente similar às suas situações cotidianas que envolviam intimidade
e separação. Expressões similares de sentimentos e de retraimento da situação
ocorreram quando a ameaça de separação ocorreu tanto na vida diária quanto
na terapia. Um terapeuta que esteja atento para estes tipos de similaridades será
mais capaz de detectar CRBs. Segunda o desaparecimento de afeto junto com
,

a tentativa de mudar o tema foi indicativo de que a cliente estava perdendo


contato com variáveis de controle. Eu interferi trazendo novamente à tona a
separação iminente, o que ajudou a manter contato com as variáveis de controle .

Se o contato é mantido, o CRB pode ocorrer e gerar a oportunidade para a


aprendizagem de repertórios melhorados.

CASO ILUSTRATIVO

Kelly, 24 anos de idade, a mais nova de três irmãos veio à terapia com
,

o primeiro autor apresentando os seguintes problemas: dores de cabeça ,

depressão, relacionamentos caóticos, tornando-se chorosa e com demonstrações


similares de emoção sem qualquer motivo aparente, e sentindo-se desajeitada,
inadequada incompetente, sem valor, e sem importância. Parte de sua história
,

familiar envolveu seu pai abandonando a família quando Kelly tinha 8 anos e,
posteriormente, encontros com ele a cada 5 anos aproximadamente. Ela disse
que não tinha nenhum sentimento e poucas lembranças a respeito de seu pai.
Sua história interpessoal é caracterizada por interações sociais com homens, a
partir da perspectiva de ser superior ou inferior à pessoa com quem ela está
falando. Uma pessoa que seja superior a ela pode aceitá-la ou abandoná-la, tem
pouca consideração por ela, não a respeita e finalmente a abandonará. Ela sente
atração por homens que são superiores a ela mas, ou evita estar envolvida com
eles ou tem uma relação passional mas estressante na qual ela se sente sem
forças para terminar e sabe que será deixada. Durante os primeiros quatro meses
104 Capítulo 4

de FAP, ela esteve distante e mostrou pouco afeto. Quando questionada sobre
"

o que ela achava que eu sentia ou pensava sobre ela, respondeu, Como uma
pessoa que você vê muito mas que você nunca pensa nela até que você a veja...
"
eu não sei como descrever isto, é como se eu existisse sem uma presença .

Seu sentimento de existir sem presença reflete sua história. Ela não teve
nenhum homem importante que tenha se dedicado a ela, ela foi ignorada na
presença deles. É compreensível que por esta razão ela se sinta desprezível e
sem importância na presença do terapeuta. A interação continuou:

T: Bem, como você reage a mim? (Esta é uma questão padrão da FAP que tem por
objetivo trazer os tatos sob o controle dos estímulos inerentes à sessão).

C: Eu tenho este tipo de temor reverente. É muito... você é a autoridade e é ótimo que
você esteja olhando por mim. É. Eu não me permito ser colocada numa posição na
qual eu possa ser machucada. Eu penso que é assim, mas parece muito cliché que
eu não confio em ninguém, mas não é tanto isto quanto alguém olhar para mim
pelo que eu sou. Eu sei que algumas vezes eu realmente não me vejo desta maneira
com outras pessoas, você sabe, mas eu me sinto inferior. (A cliente está descrevendo
nossa relação de uma forma que parece similar a como ela se sente em relação a
outros na sua vida diária. Ela evita envolvimento emocional com homens que são
superiores a ela porque senão ela pode ser magoada. Sua descrição é um CRB3. A
resposta é boa do ponto de vista da FAP porque está principalmente sob controle
de estímulos inerentes à sessão.) 4

T: Agora em nossa relação, como você pode ser magoada por mim?

C: Bem, houve algumas ocasiões em que eu prendi a respiração esperando por você,
e você traz alguma coisa à tona e eu não estou segura para onde isto está se dirigindo.
É como se você fosse dizer "Bem, eu cheguei à conclusão de que eu devo parar de
vê-la, isto não está funcionando
"

. E, é como se eu estivesse esperando ser dispensada


o tempo todo.
(Kelly começou a chorar neste ponto. Falando sobre nossa relação, ela teve
contato com estímulos evocativos associados a ter sido abandonada. Ela está
tateando seus sentimentos que são evocados na sessão. Devido ao seu abandono
"

primitivo, ela evita permanecer nesse tipo de situação no cotidiano. Esta esquiva
contribui para os seus problemas de relacionamento. Seu afeto sugere que a relação
cliente-terapeuta fornece uma oportunidade de superar sua esquiva e seu medo
através do contato repetido com o estímulo evocativo, experimentando um resultado
melhor do que no seu passado e em consequência melhorando suas relações na
,

vida diária.)
(Poucos minutos mais tarde)
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento 105

T: Você estava, por assim dizer chorosa antes, certo?


,

C: Sim. Eu fico desse jeito muitas vezes. Eu fico desconcertada e sufocada .

T: Deve haver alguma coisa que apareceu na nossa conversa originada no que nós
,

estávamos falando e que te atinge. (Eu estava sugerindo que variáveis externas ,

algo na nossa interaçao eram responsáveis por sua resposta emocional.)


,

C: É.
T: E você não sabe o que é?

C: Não, eu não sei.

T: Então, há um tipo de gatilho emocional aqui e você não está certa do que dispara
o gatilho.

C: Quando eu vi meu pai pela primeira vez desde que eu tinha 15 anos, que aconteceu
quando eu estava com 19 ou 20, eu devo ter chorado por dois dias seguidos. Quero
dizer literalmente baldes de choro, eu não conseguia parar de chorar. Eu até ria
durante o choro e eu pensava.... bom, seja o que for. (Esta é uma lembrança que foi
evocada por eventos ocorridos na sessão que também evocaram respostas similares
> -
àquelas da situação lembrada.)

(Mais tarde na mesma sessão)

T: Há um tipo de gatilho emocional aqui que, sem dúvida, foi causado pela sua relação
com seu pai, e que, agora há pouco, surgiu entre nós. Você está convivendo com
uma reação em você que não entende e que não pode antecipar a sua ocorrência.
(Eu estou oferecendo uma interpretação - Regra 5.)

No decorrer dos 2 anos seguintes, CRBs relacionados a seus medos e a


lembranças sobre seu pai continuaram a ocorrer enquanto Kelly formava uma
relação mais próxima comigo. Durante esse tempo, eu expressei abertamente
meus sentimentos (incluindo minha alta estima por ela) e os expressei da mesma
maneira que ela era encorajada a fazer.
Como discutido previamente, a expressão de sentimentos pelo terapeuta
tem vários efeitos positivos. Neste caso, eu me tornei mais previsível para Kelly
e ela sabia melhor o que esperar, um contraste em relação à maior parte de suas
relações anteriores que foram experimentadas como perigosamente imprevisíveis.
Sua capacidade em predizer melhor o meu comportamento, por sua vez, reduziu
%

106 Capítulo 4

sua esquiva e facilitou sua expressão de sentimentos. Da mesma forma, ela


experimentou isto com uma confiança crescente em mim. Além disso, minha
abertura e declarações positivas espontaneamente aumentaram enquanto ela se
tornava mais expressiva emocionalmente, fornecendo assim reforçamento natural
para suas melhoras. Sua expressão emocional aumentada aliada à minha
aceitação dessa expressão encorajou e fortaleceu o self(ver Capítulo 6). Houve
também várias discussões a respeito das características da nossa relação e sobre
cada um de nossos repertórios que a tornavam tão reforçadora (Regra 5, CRB3).
Essas descrições verbais ajudaram Kelly a conhecer especificamente o que esperar
em uma boa relação. A experiência positiva da nossa relação permitiu a ela
procurar por relações positivas similares em.sua vida diária.
Próximo ao final da terapia de Kelly, ela estava relaxada e confiante
durante as sessões. Ela se relacionava comigo como uma igual e não existia
mais aquele temor reverente em relação a mim. Ela valorizava a nossa relação e
via a si própria como sendo importante para mim. Suas relações com homens
também refletiram esta melhora.

%
5

Cognições e Crenças
J

O primeiro autor pediu a Harriet que mudasse o horário regular de sua sessão
terapêutica de segunda-feira às 17hs para terça-feira às 15hs. Embora tenha
,

concordado, Harriet revelou várias semanas mais tarde, que a mudança lhe
,

havia causado uma grande quantidade de problemas. Para acomodar a mudança ,

ela teve que reorganizar seus horários de trabalho e de escola, e seus problemas
.

atuais de ansiedade e depressão aumentaram. Quando questionada do porque


não recusou o pedido ou explicou o quanto a mudança seria difícil Harriet deu
,

"

a seguinte explicação. Embora lhe tenha ocorrido contestar, pensou: Minha


boa .vontade em concordar mostra quanto eu me preocupo com você e, além
disso, eu não queria que você se zangasse comigo. Eu não posso suportar a
ideia de que pessoas com quem eu me importo fiquem zangadas comigo".
Assim como Harriet, os clientes frequentemente descrevem e/ou agem de
forma a sugerir uma relação causal entre seus pensamentos e sentimentos e seus
comportamentos (públicos). A visão do terapeuta sobre a natureza da relação causal
entre os pensamentos (ou cognições) e o comportamento (ou ações e sentimentos)
é importante, porque tal visão afeta o que ele diz e faz no decorrer da terapia. Em
nenhum contexto isso é mais aparente do que nos procedimentos amplamente
usados pela terapia cognitiva. Como muitos terapeutas estão familiarizados com os

è
107
108 Capítulo 5

preceitos da terapia cognitiva, nós a usaremos como base de comparação para


realçar as similaridades e diferenças da Psicoterapia Analítica Funcional (FAP).
De maneira geral, nós acreditamos que a terapia cognitiva seja um tratamento útil
que pode ser melhorado com a adição da teoria e da prática da FAP.

TERAPIA COGNITIVA

Existe uma considerável diversidade dentro do que é compreendido


como teoria e prática da terapia cognitiva, e a forma específica em que se
estabelece a relação pensamento-comportamento depende de cada orientação
em particular e da concepção que cada uma tem sobre pensamentos. Por
exemplo, Albert Ellis (1962,1970), um pioneiro da terapia cognitiva, introduziu a
ideia de que os pensamentos e sentimentos do cliente poderiam ser representados
através da Figura 2a, na qual A representa eventos ambientais externos, B
representa cognição e C é a ação e/ou emoção resultantes. Para Ellis o ,

tratamento clínico então envolveria dar aos clientes a explicação ABC de seus
problemas e direcionar esforços para mudar B, para que B não fosse mais
disfuncional.

Como há problemas com esse paradigma ABC ele foi revisto (Beck, ,

Rush, Shaw & Emery 1979; Guidano & Liotti, 1983; Hollon & Kriss, 1984;
,

Turk e Salovey, 1985). É nossa opinião no entanto, que a reformulação da


,

terapia cognitiva jogou fora o bebé junto com a água da banheira; ou seja ela ,

tem perdido algumas das características clinicamente úteis da formulação ABC


e não tem abordado os problemas adequadamente. Antes de olhar a visão revista
da terapia cognitiva, deixe-nos brevemente examinar alguns dos problemas com
a terapia cognitiva em si e com a formulação ABC.

A - B- C
(a)

A - A - C- B
(c) (d)
Figura 2. Paradigmas que mostram relações entrei (evento antecedente) B (crença ou pensamento), e C
,

(comportamento consequente ou sentimento): (a) o pensamento influencia o comportamento; (b) o pensa-


mento não tem nenhuma influência no comportamento; (c) o pensamento tem influência parcial no compor-
tamento; e (d) o comportamento influencia o pensamento.
Cognições e Crenças 109

Problemas com a terapia cognitiva e o paradigma ABC

Primeiro, o paradigma ABC exclui maneiras alternativas pelas quais as


cognições e os comportamentos poderiam ser relacionados. Por exemplo Russel
,

e Brandsma (1974) sugeriram que os problemas dos clientes poderiam começar


ajustando-se ao modelo do paradigma A-> B-> C. Então após numerosas
,

repetições da sequência ABC durante a sua vida o condicionamento clássico


,

removeria a ocorrência de B. Em outras palavras A se torna um estímulo


,

condicionado de segunda ordem que elicia diretamente C. Outra possibilidade ,

sugerida por Klein (1974), é que o autoconceito negativo de um paciente


deprimido, o seu desamparo e o ato de culpar-se são mais aceitos como um
efeito do que como uma causa da condição. Em outras palavras, o cliente
primeiramente se sente deprimido e então tem as cognições negativas.
A experiência clínica também sugere outros paradigmas alternativos. Quando
"
os clientes fazem comentários tais como Eu aceito racionalmente que eu não
"

preciso ser amado por todos, mas eu ainda me sinto desolado quando sou rejeitado ,

eles relatam a presença de um B que é inconsistente com C. Por outro lado, alguns
clientes alegam que eles não experienciam nenhum B conscientemente que preceda
seus C problemáticos, assim indicando que não há B, ou que B é inconsciente.
Um segundo problema com o paradigma ABC é que seu uso na terapia
pode levar a alguns procedimentos clínicos questionáveis. Por exemplo, se o
terapeuta cognitivo acredita realmente na hipótese ABC, a rejeição do cliente a
tal crença do terapeuta é então desafiada. O desafio toma a forma de
questionamento direto da lógica ou da sinceridade do cliente, ou ainda propõe
que haja cognições inconscientes adicionais a serem descobertas. Os desafios
também podem ser indiretos. Em vez de confrontar a rejeição do cliente ao
modelo ABC na sessão, o terapeuta pode dar a ele uma tarefa de casa adicional
ou testes para verificar suas convicções. A não aceitação de paradigmas
alternativos é encontrada até na terapia cognitiva de Aaron Beck (1976), que
rejeita a teoria contida no modelo ABC. Um exemplo disso é que Beck sugeriu
que clientes que dizem racionalmente
"
que não são pessoas sem valor,
saber "

mas que não aceitam isso num nível emocional, precisariam de mais terapia
cognitiva, pois seus sentimentos disfuncionais só poderiam ocorrer quando eles
não acreditam realmente no pensamento racional (Beck et ai., 1979, p. 302).
" "

A prescrição de "mais terapia cognitiva" é uma maneira indireta de desafiar a


rejeição do cliente ao modelo ABC.
110 Capítulo 5

Dada a complexidade do comportamento humano, a exclusão de outras


explicações concorrentes e não cognitivamente mediadas, como propõe o modelo
ABC, parece não ser razoável.
Do ponto de vista da FAP, um efeito antiterapêutico do modelo ABC
poderia acontecer quando um cliente que não aceita a teoria ABC é desafiado
pelo terapeuta. Se esse cliente estivesse procurando ajuda para se tomar mais
assertivo ou ter mais confiança em suas próprias opiniões, então, contestar a
teoria C do terapeuta poderia ser um comportamento desejável. Como ideal ,

essa melhora em sessão deveria ser reforçada pela aceitação do terapeuta e não
punida com a apresentação de mais desafios.
Um terceiro problema com o paradigma ABC refere-se à evidência usada
para dar sustentação à noção de que sentimentos e ações disfuncionais são
causados por Bs desviantes, irracionais ou patológicos. Um tipo de evidência
que dá suporte a isso é obtida ao comparar-se os pensamentos e atribuições de
" "
clientes com os de sujeitos normais (para uma revisão atualizada, ver Beidei
& Turner, 1986).
Não é surpresa que os clientes tendem a ter mais pensamentos
disfuncionais do que as pessoas "normais". Tal pesquisa é problemática porque
4

só demonstra que as pessoas com problemas clínicos também têm pensamentos


irracionais não demonstrando que os pensamentos verdadeiramente causam os
,

problemas. Tais informações, ao mesmo tempo em que dão suporte ao status


causal das cognições, fortalecem também a noção de que as cognições são
causadas por sentimentos e ações disfuncionais, ou que ambas, as cognições e
as ações/sentimentos, são causadas por uma terceira variável. Algumas
informações indicam até mesmo que pessoas deprimidas podem avaliar a
realidade com mais precisão do que pessoas normais (Krantz 1985). Esses ,

dados são inconsistentes com uma explicação ABC para a depressão na qual o ,

B é definido como uma visão desviante ou distorcida da realidade. Uma revisão


recente da literatura experimental sobre a relação entre estados internos e ações
fundamenta também a noção de que B (o estado interno) e C ( a ação) são
algumas vezes não-congruentes (Quattrone, 1985).
Um quarto problema se deve à relação teoria-prática. Não está claro
como a hipótese cognitiva (teoria) se relaciona a muitos dos procedimentos de
tratamento específico (prática) Por que e como, por exemplo a argumentação
.
,

lógica ou uma evidência mudam uma estrutura cognitiva? Como a teoria cognitiva
dá suporte à defesa de Beck sobre a adequação do uso de uma abordagem
socrática , na qual os clientes têm que descobrir por si mesmos suas suposições
Cognições e Crenças 111

implícitas? Até que ponto esta teoria seria relevante para a instrução direta de
Ellis aos clientes para que adotem novas crenças? Quais são os princípios teóricos
envolvidos em se atribuir a mudanças cognitivas o resultado das experiências
de avaliação de hipóteses que os clientes realizam em sua vida diária? De que
forma o que o cliente diz sobre cognições e suas respectivas relações a sintomas
(metacognição) ajuda a mudar as estruturas? Como é possível ter terapias
cognitivas que não sejam metacognitivas (Hollon & Kriss 1984)? É indiscutível ,

a eficiência da terapia cognitiva. O que é problemático é a adequação da teoria


para avaliar os resultados do tratamento. Como foi dito por Silverman, Silverman,
e Eardley (1984 p. 1112), os efeitos clínicos que ocorrem como resultado da
,

terapia cognitiva estão "esperando pela racional convincente" .

Formulação Revisada da Terapia Cognitiva

Numa tentativa de melhorar o modelo ABC, terapeutas cognitivos se


voltaram para a teoria cognitiva básica e revisaram ou mais precisamente ,

especificaram, o que se entende por B (cognição) e como ele está relacionado a


problemas clínicos. Por exemplo, Hollon e Kriss (1984) delinearam os diferentes
usos do termo cognição e fizeram uma distinção entre produtos cognitivos e
*

estruturas cognitivas (eprocessos cognitivos associados) Produtos cognitivos .

são comportamentos privados, conscientes, diretamente acessíveis, tais como


pensamentos, autodeclarações e pensamentos automáticos. Estruturas cognitivas,
" "

por exemplo os schemas (esquemas), são as entidades organizacionais-


impiícitas que desempenham um papei ativo no processamento de informações.
As estruturas, no entanto, operam num nível inconsciente e como seu conteúdo
não pode ser diretamente conhecido, deve ser inferido dos produtos.
Como apontado por Hollon e Kriss, a distinção é similar à diferença
entre a superfície e as estruturas profundas da linguística. Estruturas superficiais
referem-se ao que é dito (verbalizações abertas) ou pensado (autoverbalizações
encobertas), enquanto que as estruturas profundas se referem ao que se quer
dizer. Na perspectiva de Hollon e Kriss, o fator causal é a estrutura cognitiva,
enquanto o pensar ou os produtos cognitivos (pensamentos irracionais,
autoverbalizações. pensamentos automáticos) constituem sinais ou dicas sobre
"

"

a natureza das estruturas de conhecimento de alguém .

*
Estruturas e processos não são diferenciados nesse livro porque as distinções entre eles não afetam nossa
análise.
112 Capítulo 5

Por essa razão, Hollon e Kriss sugeriram que qualquer intervenção


clínica que altere os produtos cognitivos são simplesmente tratamentos
sintomáticos. Numa direção similar, Safran, Vallis, Segal, e Shaw (1986)
advertiram que a mudança nos produtos tem resultados clínicos limitados, e que
" "

os esforços deveriam ser direcionados aos processos centrais Da mesma .

forma, Beck (1984) advertiu que uma recaída poderia ser esperada, a menos
que as estruturas cognitivas subjacentes sejam mudadas, e declarou que a noção
de que o fenómeno cognitivo cause depressão é "forçada". Presumivelmente,
os fenómenos cognitivos" cuja causalidade Beck rejeitou são produtos
"

" "

cognitivos, enquanto que as estruturas centrais ou os schemas ainda


continuaram sendo vistos como causais.

Embora no campo teórico a causalidade dos produtos cognitivos tenha


sido substituída pelas estruturas, uma mudança correspondente não ocorreu nos
âmbitos onde a terapia cognitiva é realmente praticada. Os mesmos terapeutas
cognitivos que rejeitaram o papel causal de produtos cognitivos são aqueles que
criam os manuais de tratamento de terapia cognitiva e os exemplos clínicos que
focalizam a mudança dos produtos cognitivos. Por exemplo, Beck, Emery, e
Greenberg (1986) declararam que o terapeuta "deve ser capaz de expressar
claramente que a ansiedade é mantida por uma avaliação errada ou disfuncional
de uma situação" e "dar essa explicação... na primeira sessão e reiterá-la durante
toda a terapia" (p. 168). Guidano e Liotti (1983, p. 138-142) declararam que o
"

primeiro passo importante em terapia ocorre quando os pacientes entendem


"

que seu sofrimento é mediado por suas próprias opiniões .

Se a prática clínica tivesse seguido a mudança ocorrida na teoria


" "

cognitiva, o enfoque óbvio seria na mudança das estruturas subjacentes .


De

um ponto de vista comportamental, o cisma da teoria-prática em terapia cognitiva


faz sentido. Uma vez que o único contato que o terapeuta tem com o cliente é
com o seu (do cliente) comportamento e os produtos cognitivos são definidos
em termos de comportamento, assim a intervenção clínica pode ser especificada
como um processo de mudança de comportamento. Estruturas cognitivas, no
entanto, são definidas como entidades não comportamentais que não podem ser
contatadas pelo terapeuta. Como as intervenções clínicas são sempre limitadas
à esfera comportamental - os pensamentos, sentimentos, verbalizações,
teorizações as associações livres do cliente e assim por diante - é impossível
,

programar tratamentos que focalizem estruturas que não envolvam esses


comportamentos do cliente. Dessa forma, é difícil conceber formas de intervir
nas estruturas que sejam diferentes daquelas usadas para lidar com os produtos.
Cognições e Crenças 113

Por exemplo, Beck et al. (1979) declarou que "as intervenções cognitivas e
comportamentais [utilizadas] para modificar pensamentos são as mesmas
"

empregadas para mudar as suposições ocultas (p. 252). O que diferencia os


procedimentos de tratamento clínico de produtos daqueles que são utilizados
para o tratamento das estruturas, é que este último deve ser primeiramente inferido
(p. ex., o cliente deve abstrair ou deduzir a existência da estrutura). Mas, uma
vez identificada tal estrutura, ela é abordada através dos mesmos métodos
terapêuticos utilizados na modificação dos produtos. Direcionados pela teoria a
mudar uma entidade não comportamental (a estrutura implícita), enquanto se
encontram limitados a trabalhar com o comportamento (produtos) do cliente, os
terapeutas cognitivos ficam numa posição insustentável. Essa dificuldade teórica
em modificar os esquemas e a ligação ténue entre a teoria e a explicação de
como ocorre a mudança, têm sido considerados um dilema por Hollon e Kriss
(1984, p. 46-48). Embora eles e outros psicólogos cognitivos, tais como Guidano
e Liotti (1983), estejam trabalhando para achar maneiras de sair deste dilema, a
questão é se soluções satisfatórias estão sendo ou podem ser desenvolvidas.
Não é surpreendente, portanto, que a real prática básica de terapia pareça, pela
necessidade, ater-se apenas aos produtos.

Governado por regras

Mando

Modelado por
contingências

Tato

Figura 3. Tipos de comportamento verbal que podem ou não influenciar um comportamento subsequente. O
tato a si mesmo e o mando a si mesmo, os quais influenciam o comportamento subsequente, conduzem a um
sub-conjunto de comportamentos governados por regras (área sombreada).
114 Capítulo 5

A REVISÃO FAP DO A-+B-* C

Como alternativa, organizamos uma formulação da relação pensamento/


comportamento que mantenha a utilidade clínica, mas evite os problemas das
hipóteses ABC originais. De acordo com nosso modelo, as cognições podem
representar um papel maior, menor ou insignificante nos problemas dos clientes.
Em decorrência, métodos de terapia cognitiva terão também uma eficácia variável
com clientes diferentes, dependendo do papel que a cognição tenha no problema
clínico. Nossa concepção comportamental da cognição envolve vários tipos
diferentes de comportamento do cliente, incluindo comportamentos modelados
pelas contingências, comportamentos governados por regras, e dois tipos de
"
comportamento verbal, tatos" e "mandos". Como mostrado na Figura 3 eles ,

se sobrepõem em vários níveis. De particular importância nessa análise são os


comportamentos de tato e mando do cliente para si mesmo. Antes de explicar
nosso modelo, iremos retomar os conceitos de tato, mando e comportamento
modelado pelas contingências que foram previamente discutidos no Capítulo 3.

Comportamento Modelado por Contingências

Como mencionado anteriormente, comportamentos modelados por


contingências são aqueles comportamentos que têm sido diretamente fortalecidos
por reforçamento. Muitos comportamentos, no entanto, não foram diretamente
reforçados, mas ocorrem mais em função de estímulos prévios. Por exemplo, as
instruções são estímulos prévios que podem evocar comportamentos complexos
que nunca tenham sido diretamente reforçados. Da mesma forma, um instrutor,
demonstrando o que fazer, pode evocar um comportamento não reforçado
previamente. Nesses casos, as contingências modelaram o comportamento mais
global (p. ex., imitar o instrutor ou seguir instruções), mas ainda não tiveram a
chance de exercer muita influência no comportamento específico que está sendo
imitado ou instruído. Pode-se afirmar assim, que todo comportamento é
,

basicamente modelado por contingências.


Embora uma experiência consciente de prazer possa acompanhar
frequentemente uma contingência que envolve o reforço positivo ela não é uma
,

parte necessária da modelagem e do processo de fortalecimento e não deveria


ser confundida com isso. Quase todo o nosso comportamento (p ex., faiar,
.

andar, correr etc.) ocorre por causa dos efeitos fortalecedores do reforço, e
,
Cognições e Crenças 115

esses comportamentos foram fortalecidos, na maior parte das vezes sem a ,

nossa consciência do processo. Experiências conscientes (a serem discutidas


mais tarde) têm um papel importante mas diferente daquele do comportamento
,

que foi diretamente modelado por contingências. No entanto, o fato de a


experiência consciente ser mais diretamente sentida do que os efeitos
inconscientes do reforçamento pode facilmente levar à falta de atenção sobre
,

estes últimos.

Uma maneira de olhar para o comportamento de Harriet (descrito no ,

exemplo acima) seria a de que seu consentimento foi puramente modelado pelas
contingências e não foi influenciado por seus pensamentos precedentes Desse .

ponto de vista, seu consentimento teria sido modelado diretamente por


experiências com pessoas que mostraram a sua raiva quando ela foi inconveniente.
Essas experiências poderiam ter ocorrido na infância mais tardia e/ou na infância
pré-verbal. Dentre essas experiências, poderiam estar incluídas a punição ao
" "
obter como resposta um não ou outros tipos de recusa não' verbal o reforço
,

ao consentimento, e a falta de aceitação dos outros contingente à expressão de


seus desejos. Isso resultou em algumas respostas (consentimento) terem-se
tornado mais fortes que outras (assertividade). Portanto, vê-se que o
consentimento é resultado direto de contingências e seria esperado que ocorresse
de novo sob as mesmas condições, tais como as que ocorreram na sessão de
terapia. Embora tais contingências possam ter esses efeitos específicos isso ,

não significa que a cliente esteja ciente ou consciente do processo. Desta forma,
é perfeitamente possível que Harriet esteja desatenta ou inconsciente das causas
do seu comportamento. Nos termos do paradigma ABC, o comportamento
modelado por contingências corresponderia a A-> C. O fato de que outras pessoas
responderiam diferentemente ao mesmo A reílete a diferença em suas experiências
passadas quando em situações A.

Tatos e Mandos: Dois Tipos de Comportamento Verbal

A explicação da modelagem por contingências, no entanto, não responde


por B, o pensamento que Harriet descreveu. Para explicar como Harriet veio a
ter seus pensamentos, nós voltamos aos íatos e mandos, dois tipos de
comportamento verbal.
Para revisar, tatos incluem a rotulação e descrição de eventos e objetos.
Exemplos de tato são, "Aquilo é água", "Eu gritei com ele", e "Eu não suporto
isso".
\
116 Capítulo 5

Mandos, por outro lado, incluem comandos, propostas, ameaças e


pedidos. A característica que define um mando é que ele é reforçado por um
"

conjunto reduzido de contingências. Por exemplo, o mando, Eu gostaria de um


"
pouco de água somente será reforçado se resultar no comportamento do ouvinte
de prover água ou algum outro líquido para matar a sede.
De acordo com aposição analítica comportamental, tatos e mandos são
aprendidos da mesma maneira pela qual quaisquer outros comportamentos
também o são. Assim, quando e como nós apresentamos os tatos e os mandos
varia de pessoa para pessoa, dependendo de suas experiências particulares. Para
ter um exemplo de como o tato é adquirido, considere uma criança que aprende
" "
a dizer caminhão ao ver um caminhão passar porque foi desta maneira que o
"

pai ou mãe o descreveu. A criança é reforçada diretamente ( está certo, aquilo


é um caminhão") e indiretamente como quando "caminhão" entra em outros
"
contextos (a criança diz, Eu quero um caminhão" ou "Me dê aquele caminhão"). ,

Da mesma forma que alguém aprende a descrever objetos inanimados ou eventos


"

passados, tais como Choveu terça-feira passada", também aprende a descrever


o comportamento presente e experiências passadas de outras pessoas e de si
mesmo. Um homem que se aproxima da cadeira do dentista e diz "Isso vai doer
,

"
e eu estou com medo está provavelmente fazendo um tato (1) que resulta de
experiências passadas de ser machucado por dentistas (2) de seus sentimentos
,

de medo (ver Capítulo 4 para uma visão comportamental de sentimentos e do


"
que é sentido ), e (3) de uma predição de como ele vai reagir quando estiver na
"

cadeira.

Até esse ponto, o tato e o mando que nós discutimos foram ditos em voz
alta para outra pessoa. Se ditos em voz alta ou a si mesmo não importa. Nós
,

sabemos que tato e mando também ocorrem quando a única pessoa que ouve a
descrição ou o pedido é o falante. Do nosso ponto de vista tato e mando a si
,

mesmo é funcionalmente o mesmo que tato e mando em voz alta quando nenhuma
outra pessoa está presente. Esses dois casos diferem principalmente na intensidade
da resposta. Nós estamos particulannente interessados no tato e mando a si
mesmo, pois isso é também conhecido como pensamento. Assim nossa definição
,

de pensamento é tato e mando a si mesmo.


A questão que iremos abordar agora é porque os pensamentos (e os
similares mandos e tatos em voz alta sem ninguém para ouvir) ocorrem; isto é ,

nós explicamos porque uma pessoa faria um tato ou um mando quando outros
podem ouvir, como em "Isso é terrível", "Eu estou ansioso", "Seja paciente",
Cognições e Crenças 117

" "
Fique de boca fechada" , Saia da cama", e "Faça agora". Não fica tão claro
porque isso seria pensado ou dito em voz alta quando não há ninguém por perto.
Nós estamos particularmente interessados em tato sobre si mesmo e
mando a si mesmo porque eles frequentemente englobam o que se entende por B
na terapia cognitiva. Por exemplo as palavras deve e deveria são vistas como
,

causas de neuroses por terapeutas racionais emotivos e suas intervenções clínicas


,

são direcionadas à eliminação de tais palavras do pensamento do cliente (Ellis ,

1970). Tipicamente essas palavras (deve e deveria) são também encontradas


,

em mandos que se faz a si mesmo tais como "Eu nunca devo cometer erros" e
,

Eu deveria estar feliz". Da mesma maneira "É impossível me amarem seria


" "

visto por terapeutas cognitivos como um pensamento irracional ou uma hipótese


disfuncional que causa os problemas do cliente. O pensamento "É impossível
"
alguém me amar é um tato dirigido a si mesmo. Portanto uma explicação
comportamental de porque tato e mando a si mesmo ocorren) e como eles afetam
os problemas do cliente é importante para nossa compreensão de cognição e
terapia cognitiva.

Tatos e mandos generalizados que não têm influência em comportamentos


subsequentes

Nós acreditamos que o modelo ABC engloba vários tipos de relações B-


C O primeiro caso que vamos considerar é uma falta de relação entre 5eC,
.

que ocorre quando tato e mando a si mesmo são simplesmente decorrentes de


uma generalização de estímulos e não do fato de eles afetarem um comportamento
subsequente. Assim, nós estamos tão acostumados com o tato e mando a outras
pessoas que alguma persistência seria esperada quando estamos sozinhos (p.
" "
ex., uma criança dizendo caminhão em voz alta mesmo quando os pais não
estão por perto). A generalização de reações públicas para a esfera privada é
particularmente esperada quando a sua forma pública é forte. Por exemplo, a
força considerável do mando a outras pessoas é ilustrada por sua frequente
"

generalização a objetos inanimados, tais como ligue!" para um carro parado


ou gritos de aviso sobre uma possível falta a um time de futebol na televisão.
Obviamente, esses mandos e tatos não têm efeitos nos objetos. Outro exemplo
de mando sem uma audiência, que ocorre pela generalização de um
comportamento de grande força, é observado nos índios Kaingang, que gritam
com tempestades e com trovões para fazê-los ir embora (Skinner, 1957). Skinner
118 Capítulo 5

considera esse comportamento semelhante àquele de gritar com homens para


fazê-los ir embora, mantido também por reforçamento acidental decorrente de
as nuvens irem embora.

Deixe-nos retornar ao caso de Harriet e descrever como ela poderia ter


pensamentos (um comportamento) que parecessem estar ligados de forma causal
a outro comportamento subsequente mas que, na realidade, não estão ligados.
Nessa ilustração, nós acreditamos que seu pensamento é um tato para si mesma,
que ocorre devido à generalização, e que o seu consentimento é um
comportamento modelado por contingências. Para que Harriet apresentasse o
tato a si mesma decorrente de generalização, ela deveria ter tido uma história na
qual ela tivesse aprendido a descrever o seu próprio comportamento e suas
"
experiências a outras pessoas, tais como dizer à sua mãe, Quando eu disse
"
não, papai se zangou (um tato). Então, por causa da generalização de estímulos,
ela se engaja em comportamentos similares quando outros não estão por perto
(p. ex., fazer tato de experiências recentes). Nós estamos supondo que o pai não
reforçou Harriet a dizer não a ele e reforçou a sua aceitação aos seus pedidos.
Como essas contingências (reações do pai) foram modelando diretamente seu
padrão de comportamento de consentimento e evocando sentimentos associados,
ela também descrevia para si mesma as contingências (p. ex. "Papai ,

simplesmente me afastou quando pedi sua atenção") e seus próprios


comportamentos operantes e respondentes ("Eu corri para o meu quarto e comecei
"
a chorar ) Assim, ao mesmo tempo em que o consentimento e a falta de
.

assertividade estavam sendo modelados ela também descrevia para si mesma


,

os eventos no momento em que iam acontecendo. Ela pensou e consentiu; o


pensamento e o consentimento eram independentes um do outro. Agora, em
situações parecidas, Harriet vai se engajar de forma semelhante nos dois
comportamentos; isto é ela vai pensar e consentir. Em termos do paradigma
,

ABC, essas ações são representadas pela Figura 2b. Acontece apenas que B
precede C em tempo, mas B não afeta C.
As combinações dos dois comportamentos separados consentimento
,

modelado por contingências e mando ou tato sobre si mesmo induzido por ,

generalizações, oferecem uma noção de como uma pessoa pode ter pensamentos
(comportamento de pensar) e comportamentos (um comportamento subsequente)
que não estão ligados de forma causal, embora possam parecer estar. Se esse conjunto
de circunstâncias na verdade ocorre para alguns clientes seria um erro admitir seus
,

pensamentos como causa, para encaixá-los no paradigma ABC, e (concretizando o


erro) ignorar o papel das contingências na formação do comportamento .

/
Cognições e Crenças 119

Tatos e mandos generalizados que influenciam comportamentos


subsequentes

Até este ponto, olhamos o pensamento como um comportamento que


não entra na corrente causal de eventos que leva a C Agora iremos examinar as
.

circunstâncias nas quais tato e mando a si mesmo podem ter um efeito


considerável no comportamento subsequente Antes disso no entanto, é
.
,

importante esclarecer um problema semântico envolvendo a palavra causa .

Psicólogos cognitivistas e behavioristas radicais querem dizer coisas diferentes


quando se referem a causa. Para o psicólogo cognitivista, o efeito do pensamento
de alguém no seu comportamento representa um tipo de relação causal (seja
parcial, de contribuição, ou outro). O termo causa simplesmente significa que
se considera que os pensamentos trazem uma mudança no comportamento Para .

o behaviorista radical, o termo causa é limitado aos efeitos das contingências .

Os mesmos efeitos que são chamados causais pelos cognitivistas isto é, os ,

efeitos do pensamento sobre o comportamento que se segue são reconhecidos,


,

mas são descritos diferentemente pelos behavioristas radicais.


Por exemplo, Skinner (1957) faiou a respeito de como os eventos
"

privados são "úteis ou "de rápida aquisição" (p. 445) e têm "efeitos práticos"
(p. 440). Em sua discussão sobre a formulação de regras que guiam nosso
próprio comportamento, Skinner (1969) também falou sobre a pessoa que formula
" "
tato para si mesma porque ela mesma poderia, então, reagir mais efetivamente
,

(p. 159). Hayes (1987), ao falar sobre a relação pensamento/comportamento,


referiu-se aos tipos de contingências que levariam à ocorrência de um
"

comportamento e este, consequentemente,


,
iria influenciar" outro
comportamento (p. 331). Sendo assim, parece que ambos, cognitivistas e
behavioristas radicais, observam um fenómeno similar, mas usam termos
diferentes para descrevê-lo. Talvez uma parte do conflito entre as duas posições
seja devida a essa diferença.
O tato sobre si mesmo pode ser útil ao indivíduo quando o ajuda a clariicar
f

ou identificar a situação que poderia, de outra forma, lhe ser confusa. Por exemplo,
o primeiro autor estava vendo uma cliente que repentinamente se tomava hostil
durante as sessões. Várias condições diferentes levavam-na à hostilidade, incluindo
(1) se suas interações com seu marido haviam sido boas naquela semana, e ela
sentia que eu estava muito confrontador e esperando demais dela durante a sessão;
(2) se houvesse tido uma semana ruim com seu marido e achasse que eu estava
muito distante ou não envolvido; e (3) se ela sentisse que eu estava sendo muito
120 Capítulo 5

subserviente. Fazer essas interpretações para a cliente (Regra 5) não era útil
nesse ponto de sua terapia e somente evocaria mais hostilidade. As interpretações
eram úteis, entretanto, quando feitas a mim mesmo. O tato sobre mim mesmo me
ajudou a descobrir um jeito de responder à hostilidade de uma maneira terapêutica.
A maioria das interações humanas são bem complicadas, e o modo como alguém
faz o tato (rotula, categoriza, ou classifica) de uma situação pode ajudar a
determinar uma reação efetiva.
De maneira semelhante;, o mando a si próprio pode aumentar a eficácia
de uma pessoa na realização de uma tarefa que esteja em suas mãos. Um caso
assim é ilustrado nas observações de Skinner sobre uma menina que falava em
"

voz alta para si mesma enquanto praticava piano- Não, espere " "Só um minuto,"
e Isto está certo?" (1957, p. 444). Tais mandos a si mesma podem tê-la ajudado
"

a fortalecer os comportamentos subsequentes de parar e ouvir. Originalmente, a


criança disse esses mandos devido a uma generalização feita a partir da
experiência de ouvi-los de outras pessoas e dizer aos outros as mesmas coisas.
No inal, com a experiência suficiente para tal, as contingências de tocar melhor
f

o piano (p. ex.5 para ins úteis) irão influenciar se a criança continuará ou não a
f

fazer esses mandos a si mesma (seja em voz alta ou em pensamento). Outro


"

comentário ou tato a si mesma feito pela criança foi, Isso está na clave de sol".
Tal descrição poderia tê-la ajudado a reduzir erros da mesma maneira que teria
ajudado se essa declaração fosse feita pela sua professora.
Embora esta seção seja sobre pensamentos que afetam o comportamento
subsequente, Skinner fez observações adicionais da menina que ilustram o caso
anteriormente discutido no qual pensamentos não têm efeito. A garotinha também
disse, "Meu dedo está doendo tanto" e disse ao relógio "Não faça isso, você está
indo muito rápido!". Skinner especulou que essas declarações não tinham efeito
no comportamento subsequente de tocar piano. Assim, enquanto observava a
mesma criança executando a mesma tarefa, Skinner sugeriu que alguns de seus
tatos e mandos a si mesma afetaram seus comportamentos subsequentes, e outros
não. Isso corresponde à visão da FAP dos pensamentos do cliente. Além disso,
o tato sobre si mesmo e o mando a si mesmo, os quais propiciam um
fortalecimento do comportamento, contribuem para manter a generalização, sendo
que também ocorrerão quando não tiverem efeitos no comportamento
subsequente.
O caso no qual o tato a si mesmo e o mando a si mesmo levam ao
desejável fortalecimento do comportamento subsequente pode agora ser aplicado
ao caso de Harriet. Suponha que Harriet tivesse aprendido a descrever certos
Cognições e Crenças 121

pedidos feitos por outras pessoas (não importa o quão inocentes) como uma
prova de seu amor por elas. Ela poderia ter aprendido isso, quando criança, de
sua mãe narcisista que, requentemente precisava de afirmações de amor, e que
,

f
fazia perguntas com segundas intenções. Por exemplo quando sua mãe perguntava,
,

"

Você gostou da torta que fiz para você?" a peigunta tinha pouco a ver com o
,

"
gosto da torta. Ao invés, o que ela realmente queria dizer era, Você me ama e
aprecia o que eu faço? Se não, eu vou ficar deprimida e vou me retrair,"
Por conta da dificuldade de uma criança em diferenciar uma pergunta
" "
real
daquela que tem como propósito servir de teste Harriet poderia ter
,

experienciado punições e recompensas inesperadas. Mais tarde suponha que ,

ela tenha discutido esse problema com amigos ou um terapeuta e tenha tido
consciência ou discernimento das condições que diferenciavam uma simples
"
questão de uma questão de teste". Depois disso quando confrontada com uma
,

questão, Harriet iria revisar privativamente (tato) as condições para decidir


(discriminar) se era ou não um teste. Então, poderia dizer a si mesma: "Esse é
um teste de amor. Se eu agir de uma maneira a rejeitar, ela ficará brava; se eu
"

seguir no mesmo esquema, ela ficará feliz Nos termos do paradigma ABC,
.

essa continuação é representada na Figura 2a.


É claro que essa descrição do pensamento de Harriet corresponde, de
maneira mais próxima, ao paradigma da terapia cognitiva no qual B é um produto
cognitivo, tal qual as experiências de pensamentos ou autodeclarações
conscientes. Este modelo confirma que há pouco ou mesmo nenhum C
condicionado ou modelado independentemente.
Nossa posição, entretanto, é a de que, embora o comportamento de Harriet
tenha sido influenciado por seu pensamento e portanto corresponda ao paradigma
A-> B-> C ela posteriormente experienciaria o sucesso ou o racasso de seu
,
f

processo de decisão. Então seu consentimento passaria a ser influenciado mais


"

pelos efeitos inconscientes resultantes das contingências e menos pelo processo


de decisão" consciente. Esse processo, no qual comportamentos modelados por
contingências e tato e mando a si mesmo se estabelecem inicialmente de forma
independente, passando depois a interagir uns com os outros, representa uma
outra organização possível da relação pensamento/comportamento. Assim, no
devido tempo, uma reação que deveu-se primeiramente ao tato ou ao mando a si
mesmo passa a ser modelada por contingências.
Uma interpretação ligeiramente diferente do pensamento de Harriet é
a de enxergar C como modelado por contingências e, ao mesmo tempo, situar
122 Capítulo 5

um B que também reforça C. Em outras palavras, Harriet poderia ter sido


submetida aos efeitos inconscientes do reforço que tornaram o seu consentimento
mais provável e, ao mesmo tempo, ter se engajado num tato sobre si mesma
consciente, que também fortaleceria o seu consentimento. Nesse caso, o C
seria mais forte do que aquele C que fosse somente modelado por contingências
ou um apenas evocado por B. Esse paradigma é representado na Figura 2c.

discutidas até agora não cobrem todas as possibilidades. E possível existir um caso
como o que está representado na Figura 2d, no qual as reações emocionais e/ou
comportamentos são diretamente evocados e só posteriormente, à moda de James-
Lange, os clientes descobrem o que eles teriam pensado. É também possível para
a ocorrência de um B independente, que se tenha um efeito no comportamento
"
subsequente por causa do efeito da consistência, no qual se aprende que uma
"
pessoa deve praticar o que ela prega ou "não dizer uma coisa e fazer outra". No
caso da consistência, pensamentos influenciam comportamentos subsequentes porque
esses indivíduos foram reforçados por fazer o que disseram que iriam fazer e punidos
quando suas ações não eram consistentes com o seu comportamento verbal.
É também importante mencionar alguns dos problemas especiais gerados
pelo fato que Bs não podem ser observados diretamente e devem ser inferidos ou
baseados em autodescrições. Deste modo, é possível que uma autodescrição de
um B, como a dada por Harriet possa ser uma simples fabricação ou uma fala
,

necessária conforme a convenção social. Mesmo nos casos em que o cliente está
dando sua melhor descrição de B acredita-se que tal introspecção não seja
,

totalmente confiável e esteja sujeita a muitas influências do momento.


Embora uma completa avaliação da relação pensamento/comportamento
incluísse esses além de outros paradigmas e fatores de influência a avaliação
,

pela FAP e algumas de suas principais implicações teóricas são transmitidas


pelos paradigmas delineados acima.

Comportamento Governado Por Regras

Iremos agora discutir a relação entre regras comportamento governado


,

por regras, tato sobre si mesmo e mando a si mesmo. Nós estamos introduzindo
esse tópico porque a literatura sobre regras e comportamento governado por
regras (Skinner, 1969; Zettle & Hayes 1982) é relevante para nosso conceito
,

da relação pensamento/comportamento e esclarece questões futuras .


Cognições e Crenças 123

Quando um tato ou mando especifica uma contingência e o compor-


tamento necessário é considerado como uma regra. Por exemplo, a declaração
,

"

Se você agisse mais amigavelmente teria mais amigos" é um tato que é uma
regra porque é uma descrição que especifica um comportamento (ser amigável)
"

e uma contingência (ter amigos). Você deve fazer suas tarefas de casa ou deixar
"
a terapia é um mando que é uma regra pois é uma ordem especificando um
,

comportamento (fazer a tarefa) e uma contingência (largar a terapia) .


Nesse
contexto, leis, princípios lógicos, manuais de instrução preceitos, máximas, e
,

ameaças são tatos e mandos que são também regras. O exemplo do tato de
Harriet sobre si mesma é uma instância de uma regra porque especifica o
comportamento necessário (consentimento) e as contingências (evitar problemas).
O comportamento que ocorre como um resultado do seguimento da regra é
chamado de comportamento governado por regras. Por exemplo uma mãe dá
,

"

uma regra quando ela faz um tato a seu filho Se você não sair da cama agora,
"

você vai se atrasar para a aula A obediência do filho seria então um


.

comportamento governado por regras. Após uma regra ser apresentada o ,

comportamento governado por regras pode ou não ocorrer. Você também poderia
dizer a si mesmo que tem de terminar o artigo que está escrevendo esta noite ou
se sentirá um inútil. Embora esse mando a si mesmo seja uma regra, ele pode
resultar ou não em um comportamento governado por regras (p. ex., você pode
ou não terminar o artigo).
O comportamento governado por regras nunca ocorreria se o indivíduo
não tivesse sido reforçado pelo comportamento de seguir regras, de maneira
geral. Esse processo de reforçamento ocorre a partir da infância, uma vez que
"

nos são dadas inúmeras regras na forma de Se você fizer (ou não fizer) isso e
isso, então isso e aquilo vão acontecer com você". Obviamente, há muita
variabilidade sobre o quanto uma regra é precisa. Para algumas crianças, os
pais dão regras precisas e quando a criança segue a regra, a consequência
especificada ocorre. Para outras crianças, as regras não são precisas e a criança
aprende a ignorá-las. Por exemplo, estudantes graduados provavelmente têm
histórias prévias de reforçamentos por seguimento de regras, particularmente
aqueles que encontramos em sala de aula. Eles são exemplos evidentes de
pessoas que foram reforçadas por seguir as instruções e ensinamentos dos
professores, O comportamento específico evocado pela regra, entretanto, pode
nunca ter sido reforçado. Assim, um estudante pode fazer um conj unto complexo
de ações tais como planejar, fazer e analisar uma pesquisa de dissertação, que
,

não tenha sido modelado por contingências, mas está sob controle de regras.
124 Capítulo 5

No entanto, as contingências irão prevalecer como acontece com todos os


comportamentos governados pelas regras. Se as contingências de fazer a
dissertação são positivas (tais como, achar resultados interessantes e vantajosos
que se mostrem úteis às pesquisas futuras), o estudante pode se tornar um
profícuo pesquisador. Ao contrário, se as contingências são punitivas (tais como,
obter resultados equivocados, de pouca ajuda e que requeiram uma análise
estatística sem fim), ele pode nunca mais fazer pesquisas após a dissertação.
Semelhante ao discutido para tatos e mandos, as regras são extraídas
de experiências diretas, tanto nossas quanto de outras pessoas, com
contingências de reforçamento ou, ainda, através do estudo dos sistemas que
as organizam. O desenvolvimento do comportamento de obtenção de regras e
do comportamento governado por regras toma grande parte do comportamento
das pessoas porque ele ajuda a encurtar o tedioso processo de modelagem. O
tato sobre si mesma que Harriet desenvolveu é um exemplo.
É difícil dizer se uma pessoa está agindo baseada em regras {A-~$B->C) ou
contingências (A -> Q, apenas olhando para a ação propriamente dita. Por exemplo,
um jogador de pôquer que calcula as chances que tem antes de fazer uma jogada
(A-> B-> C) poderia fazer as mesmas açoes que um jogador que tenha sido
modelado por contingências (A-> C), mas suas variáveis de controle são
fundamentalmente diferentes. Assim, um dos jogadores está pensando sobre o que
fazer antes de efetivamente fazê-lo ,e o outro está provavelmente confiando em
sentimentos e intuição, que é o aspecto experiencial de uma história de reforçamento
prévio. Da mesma forma, a eficácia de qualquer intervenção direcionada à mudança
de um comportamento dependeria de verificar se o comportamento a ser mudado
é do tipo A-> C ou A-> B-> C. Se, por exemplo, você desejasse mudar o
comportamento de um dos jogadores de cartas, aquele que calcula as chances
poderia ser mais influenciado por novos métodos de como calcular chances
aprendidos em uma escola de apostas do que o jogador modelado por contingências.
,

A distinção entre comportamento governado por regras e


comportamento modelado por contingências é usada por Skinner (1974) em
sua recon-ceitualização de muitas polarizações comuns. Algumas dessas são:
deliberação versus impulso idealizado versus natural, intelectual versus
,

emocional lógica versus intuição, consciente versus inconsciente, superficial


,

versus profundo e verdade versus crença. Da mesma forma, a distinção feita


,

por Skinner entre comportamento modelado por contingências e comportamento


governado por regras tem uma semelhança impressionante com a distinção
que a terapia cognitiva faz entre produtos cognitivos e estruturas.
Cognições e Crenças 125

Estruturas Cognitivas e Comportamento Modelado por Contingências

Como pontuado anteriormente, algumas formas de terapia cognitiva


salientam a importância de mudar as estruturas (em oposição aos produtos) ,

mas faltam-lhes bases teóricas para que isso possa ocorrer Uma vez que a.

análise do comportamento é primeiramente uma teoria da mudança de


comportamento, seria útil traduzir a "estrutura cognitiva" para termos
comportamentais com o propósito de delinear os métodos de mudança.
Complementando o que foi dito sobre polarizações na seção anterior ,

há outras semelhanças entre as características do comportamento modelado por


contingências e das estruturas cognitivas descritas. Primeiro os efeitos do ,

reforçamento ocorrem em um nível inconsciente e as estruturas são também


,

inconscientes. Segundo, os efeitos do reforço são funcionalmente definidos (isto


é, comportamentos aparentemente diferentes podem acarretar o mesmo efeito) ,

o que é consistente com o significado profundo atribuído às estruturas cognitivas.


Terceiro, o comportamento reforçado é mudado através da experiência com as
" "
contingências e não por meio de conversas sobre as contingências o que ,

corresponde à presença não essencial da metacognição na mudança das estruturas


cognitivas.
Assim, estamos sugerindo que as estruturas centrais a que se referem os
terapeutas cognitivos sejam os comportamentos modelados por contingências,
o que significaria que os terapeutas cognitivistas deveriam direcionar mais atenção
às contingências quando eles estão tentando mudar as estruturas centrais. Prestar
atenção às contingências é exatamente o que Jacobson (1989) fez quando
descreveu como usou a relação terapeuta/cliente para mudar uma crença
" "
enraizada do cliente sobre sua maldade . De acordo com Jacobson, a estrutura
central foi mudada pelo fato de o cliente ter
"
corrido o risco de se deixar ser
pelo terapeuta e ter sido "compensado" por sua contínua
"
conhecido intimamente
aceitação e consideração positiva.
Uma diferença conceituai entre o comportamento modelado por
contingências e as estruturas cognitivas é que o primeiro é uma entidade compor-
tamental e o último, uma entidade não comportamental. Enxergar as estruturas
como sendo entidades não comportamentais tem o efeito indesejado de distrair a
atenção do processo comportamental. Por exemplo, terapeutas cognitivistas
frequentemente não reconhecem o papel do reforçamento como parte inerente de
seus procedimentos. O efeito causado pela atenção do terapeuta ou as reaçÕes de
126 Capítulo 5

outras pessoas significativas podem ter um impacto importante no que o cliente diz
ou faz. A despeito da orientação teórica, é aceito que o reforço é um fator a ser
relativamente considerado, em algum momento. Apesar disto, os terapeutas
cognitivistas, em suas análises teóricas, parecem ter uma fobia pelo termo
reforçamento. Hollon e Kriss (1984) nem sequer fizeram uma referência casual a
isso. Similarmente, no caso descrito por Jacobson (1989), as operações de
reforçamento foram descritas, mas este termo não foi usado. Mesmo Wessells
(1982), numa elegante defesa da psicologia cognitiva, lamentou que os cognitivistas,
infelizmente, negligenciaram o papel das contingências ao explicar o comportamento.
A negligência ao papel das contingências provavelmente ocorreria em
uma análise do caso de Harriet feita por terapeutas cognitivistas. Partindo da
perspectiva deles o consentimento de Harriet teria ocorrido por causa de suas
,

estruturas cognitivas subjacentes, e as estruturas são vistas como entidades que


têm existência independente do comportamento. Dadas essas afirmações a ,

explicação cognitivista das ações de Harriet e dos métodos necessários à sua


mudança precisaria de algo além de uma simples razão para o comportamento
e para sua mudança. Não é necessário dizer que a explicação da FAP para as
ações de Harriet envolve comportamentos e intervenções clínicas que são descritas
em termos de mudança de comportamento.

IMPLICAÇÕES CLINICAS DA VISÃO DA FAP SOBRE AS


CRENÇAS

Embora concordemos com os terapeutas cognitivistas a respeito da idéia


de que o pensamento possa preceder as ações consideramos a relação
,

pensamento/comportamento sempre como uma relação comportamento/


comportamento. Quando os pensamentos são considerados como comporta-
mentos o terapeuta é conduzido a considerar as várias origens do comportamento
,

de pensar existentes e em particular, a prestar atenção nas contingências de


,

reforçamento atuantes tanto ao seu desenvolvimento quanto à sua modificação.


,

As quatro maiores implicações de se tratar Bs como um comportamento são


discutidas abaixo.

Focalizando o pensamento aqui e agora

O pensamento do cliente estará mais sujeito à mudança terapêutica se


ele acontecer próximo no tempo e no espaço, às contingências e aos estímulos
,

/
Cognições e Crenças 127

de controle relevantes. Assim, sempre que possível nós recomendamos focar


,

o pensamento, a crença, e os outros comportamentos relevantes que ocorram


na sessão. Frequentemente ocorrem oportunidades de modelar £s mais
adaptativos na medida em que os pensamentos disfuncionais do cliente aparecem
na relação cliente/terapeuta. Por exemplo considere que o problema de Harriet
,

seja do tipo A->B->C. Então o consentimento de Harriet ocorre porque ela


,

pensou que isso mostraria o quanto ela se importava, e porque ela pensou que,
fazendo o contrário, evocaria a raiva do terapeuta. Esses são exemplos de Bs
ocorrendo dentro do contexto da relação. Tais pensamentos de Harriet poderiam
ter sido desafiados e reinterpretados de imediato e um novo comportamento
,

poderia ter sido, então, fortalecido.


Em contraste com essa posição, os terapeutas cognitivistas focalizam
comportamentos que ocorrem em algum outro lugar. Quando essa posição é
levada ao extremo o terapeuta cognitivísta pode explicitamente evitar ou
,

descartar oportunidades terapêuticas que surgem da interação cliente/terapeuta,


" "
Por exemplo em uma discussão a respeito dos problemas técnicos de fazer
,

uso da terapia cognitiva para a depressão Beck et al. (1979) levantou o problema
,

de um cliente que lhe disse "Você está mais interessado na pesquisa do que em
,

"
me ajudar Em primeiro lugar, Beck sabiamente assinalou que mesmo que
.

nada seja dito, um cliente que está em um projeto de pesquisa clínica pode
secretamente cultivar tais pensamentos. No entanto, o motivo pelo qual tais
pensamentos ocorrem, de acordo com Beck, é que clientes deprimidos podem
estar distorcendo o que o terapeuta faz. Ele então sugeriu que o terapeuta pergunte
ao cliente se algum desses pensamentos está presente e, então, o acalme. Ainda
de acordo com Beck, se possível, o terapeuta deveria evitar tais problemas, já
desde o início, antecipando sua ocorrência e dando explicações completas ao
cliente.

Uma análise feita pela FAP dessa situação seria diferente. Um cliente
deprimido que não se sente importante para o terapeuta, demonstra que a situação
de terapia poderia estar evocando o problema que ele experiencia em outras
relações de sua vida diária - aquele de não agir como quem pensa que é
importante, pedindo o que quer. Isso não seria visto como um problema técnico
a resolver, mas uma situação que cria uma oportunidade terapêutica importante,
Mais ainda, o terapeuta da FAP não assumiria que o cliente esteja distorcendo,
mas apenas que o terapeuta e o cliente estão contatando aspectos diferentes
da situação vigente. Pode até ser possível que a pesquisa seja mais importante
para o terapeuta, e se assim for, o cliente não estaria distorcendo". A noção de
"
128 Capítulo 5

que o cliente poderia estar cultivando secretamente tais idéias. ao invés de falar
sobre elas com o terapeuta, também sugere a ocorrência do problema clínico
do cliente, isso é, ele pode não estar sendo direto ou assertivo durante a sessão.
Embora a teoria de Beck possa, em geral, levar o terapeuta cognitivista
a negligenciar situações que seriam de interesse para um terapeuta da FAP, ele
reconheceu que certas interaçÕes terapeuta/cliente podem fornecer oportunidades
terapêuticas. Por exemplo, ao discutir formas de fortalecer a colaboração, ele
assinalou que um cliente pode reagir a uma tarefa de casa como se fosse um
teste de autoconceito e que o terapeuta deveria tentar perceber isso (Regra 1) e
usar tal situação como uma oportunidade para corrigir cognições erróneas. Beck,
no entanto, não deu atenção especial ao fato de que o trabalho terapêutico
evidencia o comportamento que está ocorrendo naquele momento. Em vez disso,
ele considerou que os efeitos seriam os mesmos se lidasse com uma cognição
que ocorreu em algum outro lugar. Jacobson (1989), por outro lado, discutiu a
importância de se focalizar no comportamento durante a sessão, enquanto estava
praticando a terapia cognitiva de Beck. Mais ainda, ele sugeriu que esse fator
fosse incorporado nas bases conceituais da terapia cognitiva para depressão.
I
,

Levando em consideração o papel variável que os pensamentos podem


exercer

Além de olhar os pensamentos como comportamentos, acreditamos que


é possível ter 5s que podem ou não desempenhar um papel nos problemas do
cliente. Recordando a nossa discussão prévia examinamos três possibilidades:
,

(1) que o pensamento influencia comportamentos subsequentes; (2) que o


pensamento não influencia comportamentos subsequentes; e (3) que o pensamento
contribui para aumentar a força de um comportamento modelado por contingências
subsequente. Em outras palavras o grau do controle exercido pelo pensamento
,

sobre sintomas clínicos está num continuum. De um lado está o tipo A->B->C
puro, onde o B precedente é um comportamento que corresponde a um produto
cognitivo e tem influência no problema do cliente. O tratamento para esse tipo de
relação aponta para a mudança dos Bs. Os procedimentos salientados na Regra
5 para fazer interpretações são apropriados aqui e incluem as técnicas da terapia
,

cognitiva de apresentação de argumentos lógicos questionamento das evidências


,

e apresentação de instruções para mudança de crenças .

No outro extremo do continuum está o tipo A->Cno qual o sintoma foi


unicamente modelado por contingências Neste caso, o tratamento é direcionado
.
Cognições e Crenças 129

para mudar diretamente os Cs - o foco seria expor o cliente a reforçamentos


positivos na sessão de terapia e no ambiente natural, que poderiam modelar e
sustentar novos Cs. As interpretações dadas aos clientes também
corresponderiam a A -> C. Para ilustrar, eis o caso de Christina que foi criada
,

por uma mãe esquizofrênica paranóica e foi sexualmente abusada pelos padrastos
quando adolescente. Mesmo antes de ter adquirido a linguagem, ela foi
negligenciada, privada, abusada e rejeitada o que continuou por toda a sua
,

infância. Não é de surpreender que ela frequentemente ficasse deprimida e


nervosa.

O relato que se segue é de uma sessão com Christina, depois de ela ter
estado em tratamento com o segundo autor por 6 anos:

C: A vida é um espetáculo de horrores Eu sinto uma sensação tão grande de


.

humilhação. Eu não quero lutar eu só quero descobrir como morrer. E assim que
,

me sinto quando estou deprimida. A única coisa que me daria uma perspectiva
seria ter alguém em minha vida. As coisas não me parecem tão assustadoras quando
isso acontece. (Parece que o cliente está fazendo uma interpretação ABC de "Eu
fico deprimida quando não tenho ninguém em minha vida" e "Neste momento, eu
"
não tenho ninguém, portanto estou deprimida ) .

T: Você parece fechada a mim neste momento, você não está levando em consideração
meu amor e minha preocupação. (Eu respondi assim por pensar que a depressão
fosse um problema ABC, oferecendo a interpretação "Eu estou em sua vida. Tudo
"

que você tem a fazer é aceitar isso e então você não ficará deprimida ) .

C: Seu problema é que você não tem nenhuma empatia. Você nunca ficou deprimida
da maneira como eu estou. Se tivesse ficado, não diria coisas como "esteja aberta
para mim e que seu amor deveria melhorar as coisas. Eu ico sozinha 99% do
"
f

tempo dia após dia, semana após semana, e você espera que eu venha aqui e seja
,

uma pequena flor aberta? (Christina está me deixando saber, de forma clara, que
ela não gostou da interpretação ABC. Isso pode ter sido similar àqueles pedidos
feitos por outras pessoas para que ela sinta e aja de uma forma conveniente para
eles, mas que não é válida para ela. Ver o Capítulo 6 sobre o desenvolvimento do
self.)
Nesse exemplo, fazer qualquer tipo de interpretação que pudesse
parecer um pedido para que sentisse ou agisse de uma dada maneira, fazia
Christina zangar-se e sentir falta de empatia. Eu estava numa situação difícil
As interpre-tações são a primeira maneira usada por um terapeuta para indicar
ao cliente que suas ideias estão sendo levadas a sério. Pensando nisso, eu quis
fazer uma interpretação que fosse consistente com sua experiência; isto é, uma
130 Capítulo 5

formulação A->C,e que, ao mesmo tempo, relacionasse a resposta que Christina


apresentou a mim ao contexto de sua história (Regra 5). Além disso, a
interpretação precisava ser empática - livre de solicitações então eu escrevi
um poema:

Depressão

Devastada e exaurida
pelas atrocidades da vida
afogando em minha vergonha
presa em uma caverna escura e úmida
sem esperança de escapar
uma criança aos gritos dentro de mim
morrendo para ser abraçada
morrendo.

Eu procuro por você


mas você não me escuta

Você e eu estamos separados


por grossas paredes de vidro.
Você me vê mas não pode sentir
o veneno em minha alma.
Você fala comigo sobre maneiras de sair
da minha prisão ,

mas não vê que preciso que você


esteja do meu lado
das grades?

Eu sempre fui sozinha.


Sozinha quando pequenina ,

bombardeada pela
depressão e esquizofrenia de minha mãe.
Sozinha quando criança ,

sem ninguém para segurar minha mão.


Sozinha quando adolescente ,

usada como um objeto sexual


por padrastos e seus amigos.
Usada... e descartada.
Cognições e Crenças 131

Eu tento desesperadamente encher o meu vazio


com pênises anónimos
os quais somente golpeiam meu coração .

Ocasionais vislumbres da luz do sol


através das camadas de merda no meu cérebro
não são suficientes...
Eu não quero viver.

Eu solto minha fúria em você


porque não há mais ninguém.
Mas não há nem você.

Eu enviei o poema com essa nota: "Christina eu não sei como te alcançar
,

quando você está deprimida. Esse poema é uma tentativa de me conectar com
você, de ver o mundo através de seus olhos. Eu te amo querida Tenha força". .

Ela me respondeu dizendo que esta era uma das melhores coisas que alguém já
havia feito por ela.
Durante sua infanda, Christina foi tratada como sendo sem valor; isto
é,ela desenvolveu o comportamento modelado por contingências de cuidar dos
outros, mesmo que isso a prejudicasse (esse comportamento é consistente com a
noção de que ela própria não tinha valor). Ela se sentiu agiu e se descreveu
,

como sendo sem valor. De acordo com o nosso modelo ela desenvolveu o autotato
,

"

Eu não tenho valor" (A ->B - C). Eu aceitei seus pensamentos de não ter valor
como sendo autotatos que decorrem de seu passado e sua experiência de si
mesma. Assim, eu não usei a lógica para convencer Christina de que sua crença
" "

era incorreta e então mudá-la para ver-se como uma pessoa de valor ,

especialmente porque ela já sabia todos os argumentos lógicos. Eu também não


tratei a autocrítica de "sem valor" de Christina como se fosse uma hipótese que
precisava ser testada e rejeitada. Ao invés, eu me concentrei em fortalecer aqueles
" "

repertórios que são característicos de uma pessoa de valor Esse procedimento .

" "

vinculava reagir a ela como sendo uma pessoa de valor por um longo período
de tempo, considerando e reagindo seriamente a todos os seus pensamentos e
idéias, tratando-a com preocupação e respeito, usando o tempo e energia que
"

são devidos a uma pessoa de valor" . O poema foi consistente com essa
abordagem.
É desnecessário dizer que tratar a experiência de depressão e baixa
"
auto-estima de Christina como irracional" teria sido contraterapêutico, dada a
rejeição e o desprezo por seus pensamentos e sentimentos que ficariam implícitos
nesta ação. Assim de um ponto de vista comportamental, a terapia apropriada
,
132 Capítulo 5

para um cliente com este tipo de problema A->C deveria ser mais na linha da
"
experiência emocional corretiva defendida por alguns terapeutas
"

psicodinamicamente orientados.

Ofereça explicações relevantes sobre os problemas do cliente

Nossa análise tem também implicações para as explicações oferecidas


aos clientes sobre seus problemas. Embora seja possível para um cliente com
um problema í C melhorar quando lhe é dada uma interpretação A->B->C,
resultados menos favoráveis também ocorrem. Isso é especialmente verdadeiro
para clientes que tenham crescido em famílias disfuncionais, com adultos
insensíveis a seus sentimentos. Muitos de nossos clientes sofreram abusos
emocionais, que incluem negligência, negação, ou punição pela expressão de
seus sentimentos. Crianças às quais é dito repetidamente, seja direta ou
indiretamente, que "não há motivo para você se sentir ou pensar dessa maneira"
frequentemente crescem com problemas do self (ver Capítulo 6 para elaboração).
Eles não confiam em seus sentimentos e não estão certos de quem são. Tratar
tais clientes com técnicas da terapia cognitiva e dar a eles explicações que contêm
a sugestão implícita de que suas suposições, crenças, ou atitudes são disfuncionais
e/ou irracionais, leva ao risco de reeditar as contingências que estão associadas
com a invalidação ou alienação que eles experienciaram enquanto cresciam.
Adicionalmente, clientes A ->C que são tratados como se seus problemas fossem
A->B->C podem desistir do tratamento no caso de sentirem-se invalidados ou
,

alienados.

Outra possibilidade é que clientes, aos quais é erroneamente dito que


seus problemas são controlados por pensamentos precedentes e não por uma
história de reforçamento, podem gastar muito tempo trabalhando em seus
pensamentos e se excluindo de experienciar o mundo real. Por exemplo, veja o
caso de uma mulher cujos medos de rejeição provêm de experiências pré-verbais
com uma mãe psicótica. Suas reações à rejeição são imediatas e inconscientes.
E mais importante para essa cliente ser exposta a uma variedade de experiências
interpessoais que não sejam seguidas pelas consequências extremas que ela
experienciou com sua mãe do que engajar-se em longas argumentações lógicas
,

sobre desistir da ideia irracional "Eu preciso ser amada por todo mundo o tempo
todo".
Cognições e Crenças 133

Use com cuidado a manipulação cognitiva direta

Nós nos temos concentrado nos problemas que podem ocorrer quando
tratamos um problema A ->C como se fosse um problema A ->B->C Contudo, .

as manipulações cognitivas diretas às vezes usadas por terapeutas cognitivos,


,

podem beneficiar os clientes mesmo se o problema for do tipo A->C. Nós


definimos manipulação cognitiva direta como sendo comportamentos do terapeuta
que envolvem apelar para a razão, argumentos lógicos, ou dizer ao cliente que
uma crença em particular não combina com as observações do terapeuta .

Portanto, a manipulação cognitiva direta é basicamente, dar regras. Quando o


,

cliente responde às regras mudando seus Bs (produtos cognitivos tais como


crenças e pensamentos automáticos) essas mudanças são comportamentos
,

governados por regra. Esse processo pode ser benéfico ao cliente por vários
motivos. Primeiro, parece razoável dizer que as crenças contribuem pelo menos
,

em algum grau, em muitos problemas do cliente, mesmo quando o fator iniciai


é resultado de contingências. Esse paradigma é ilustrado na Figura 2c. Os métodos
de terapia cognitiva direcionados para mudar Bs diretamente seriam então de
grande ajuda, particularmente se o cliente também fosse exposto às contingências
que poderiam levar a um comportamento melhor.
As técnicas de terapia cognitiva para problemas A -»C também poderiam
beneficiar alguns clientes que fossem pensadores lógicos e lineares e que já
interpretam seu problema de acordo com a hipótese ABC (embora seu problema
seja A-> Q. O benefício ocorreria porque tais pessoas aprenderam a ser
" "
consistentes, isto é, elas cresceram em ambientes onde praticar o que se prega
"
era altamente valorizado e dizer uma coisa e fazer outra" não o era. Há alguma
inclinação desse tipo de cliente para agir de acordo com uma "crença" que um
terapeuta fez um cliente adotar diretamente. A força de tais inclinações, no
entanto, é geralmente fraca e depende da proporção de ênfase que foi posta na
consistência pela subcultura do cliente.
Uma outra maneira pela qual a manipulação cognitiva direta pode ajudar
em problemas A ->C dá-se através das contingências e das regras encobertas
que tais procedimentos abrigam. Por exemplo, um efeito não pretendido ao se
convencer racionalmente os clientes a sustentarem uma certa crença, é que tal
procedimento envolve uma solicitação ou descrição do terapeuta nas quais está
implícito que se eles se comportarem de acordo, eles irão melhorar (uma regra).
Se então, os clientes se comportarem da maneira indicada e essa nova maneira
de se comportar for naturalmente reforçada, os clientes melhoram,
4

134 Capítulo 5

Por exemplo, convencer Harriet de que ela pode suportar a raiva poderia
ser visto como uma solicitação encoberta ou uma instrução implícita do terapeuta
para que ela agisse diferentemente. Mudanças no comportamento de Harriet
seriam então o resultado do seguimento de tais instruções ou do comportamento
governado por regras. Melhoras clínicas significativas ocorrerão se o seu novo
comportamento for naturalmente reforçado em sua vida diária. Esse processo
fica mais óbvio quando a terapia cognitiva envolve instruções abertas e explícitas
ao cliente para a mudança do comportamento. Por exemplo, Beck et ai. (1979)
"

encorajou clientes a agirem contra suas suposições porque esta é a maneira


"

mais poderosa de mudá-las (p. 264). Embora Beck tenha preferido ver essa
intervenção como mudança de uma cognição (uma suposição), isso também
pode ser visto como sendo o terapeuta formulando uma regra para o cliente que,
ao segui-ia, realiza uma exposição de seu comportamento às contingências que
podem fortalecer diretamente o seu novo comportamento. Essa ênfase em
construir um novo comportamento é consistente com a FAP.
No entanto, pode ser contraterapêutico quando produtos cognitivos e
um comportamento subsequente mudam porque o cliente está tentando agradar
o terapeuta. O perigo está no fato de que as melhoras não serão mantidas pelos
reforços naturais da vida diária do cliente, e os ganhos obtidos na terapia se
perderão quando a terapia acabar. Esse problema foi discutido no Capítulo 2,
no tópico de reforçamento natural versus reforçamento arbitrário. Uma vez que
as manipulações cognitivas diretas envolvem instruções diretas sobre como pensar
ou se comportar, e tornar explícitas as requisições para as melhoras, é difícil
deixar de agradar o terapeuta. Uma exceção notável é o uso do método socrático
e o teste de hipótese" de Beck et al. (1979), os quais vemos como maneiras
"

engenhosas para reduzir a motivação de agradar o terapeuta e colocar os clientes


em contato com reforçadores naturais.
Embora terapeutas da FAP possam apelar à razão, diferenças teóricas
entre a FAP e as terapias cognitivas levam a comportamentos terapêuticos
diferentes quando tais intervenções não são bem sucedidas. Uma abordagem
que o terapeuta cognitivo poderia tentar seria a de aparecer com argumentos
adicionais sobre a impropriedade dos pensamentos do cliente. Na perspectiva
da FAP, levar Harriet a mudar sua crença, convencendo-a racionalmente (à
"

moda de Albert Elíis) de que "ela pode suportar a raiva não é garantia de um
,

resultado favorável quando ela se encontrar em uma situação futura


verdadeiramente problemática. Não existe garantia porque não há clareza sobre
,

" "

qual foi o comportamento mudado com o convencimento a não ser o de ela ,

dizer "Ok, eu acredito que posso suportar."


Cognições e Crenças 135

Quando o cliente muda sua declaração de uma crença por causa dos
argumentos lógicos do terapeuta o sentido da declaração muda. Antes da
,

intervenção terapêutica a declaração de crença tinha a propriedade de ser uma


,

descrição de experiências passadas ou uma indicação da similaridade de certas


ações. Depois que as crenças do cliente foram mudadas por causa da
argumentação lógica do terapeuta elas não derivam mais de experiências, mas
,

são apenas uma resposta para agradar o terapeuta ou se conformar com as


regras de lógica. Portanto não é surpresa que muitos clientes que tenham sido
" "
convencidos
a mudar suas crenças subsequentemente não mudem seus
,

comportamentos nas situações problemáticas Tais "falhas" são frequentemente


.

acompanhadas por explicações tais como "Eu acredito nisso intelectualmente,


,

mas não aceito num nível emocional". O terapeuta da FAP não ficaria perplexo
com este fato, pois não haveria motivo para esperar nada diferente .

Em contraste, nós aceitaríamos as


"
inconsistências" do cliente e
tentaríamos identificar variáveis que respondem pelos comportamentos tais como ,

de (1) apoiar uma crença X e agir consistentemente com uma crença Y (2) ,

tentar ser consistente em apoiar e agir ou (3) tentar agradar o terapeuta sendo
,

racional.

ILUSTRAÇÃO DE CASO

No caso de Kelly (descrito anteriormente no Capítulo 4) o B parecia


contribuir para o fortalecimento de seu comportamento modelado por
contingências. O seu tratamento e a explicação de seu comportamento eram
baseados nesse modelo. Kelly tinha relações caóticas com homens devido, em
parte, às suas ações erráticas e estava para recriar o mesmo padrão ao terminar
prematuramente a terapia com o primeiro autor. Quando lhe foi perguntado
porque queria parar, Kelly disse que fazia isso porque tinha a sensação de que
eu estava, na verdade, para dizer-lhe que não iria vê-la mais, e ela pensou que
deveria acabar primeiro. Embora isso soe como um problema puramente
A->B C no qual B era sua hipótese sobre minhas intenções, eu assumi que o
,

comportamento modelado por contingências também estava presente porque


Kelly não pôde identificar nada que eu tivesse feito para lhe dar essa impressão.
Esse é o fenómeno que leva os terapeutas psicodinâmicos a dizer que as causas
da esquiva de Kelly eram inconscientes.
A história de abandono de Kelly, começando na infância, e a tentativa
de se esquivar de um possível abandono futuro, retirando-se de relacionamentos
136 Capítulo 5

próximos, também fundamentavam a hipótese da presença do comportamento


modelado por contingências.
Assim, a ocorrência do CRB1 de prematuramente largar a terapia, foi
usada como uma oportunidade in vivo para Kelly checar suas suposições. Eu
assegurei a ela que eu estava compromissado a completar a terapia e não iria
precipitadamente terminá-la. Mais confiante, os medos de Kelly foram
amenizados e ela permaneceu na terapia. Como o seu problema era também
modelado por contingências, a segurança tinha apenas efeitos temporários e
seus medos retornariam. No entanto, algumas vezes ela poderia pensar sobre
minha atitude de renovar sua confiança e, por conseguinte moderar seu,

comportamento de esquiva e as suas reações emocionais.


Ofereci a Kelly uma interpretação baseada nos efeitos combinados de
um B consciente e de um comportamento modelado por contingências
inconsciente. Eu lhe expliquei que ao dizer a si mesma "Ele não me abandonou
ainda, não há evidência de que me abandonará e ele disse que não o faria" ela ,

poderia produzir os mesmos efeitos benéficos de eu dizer a ela a mesma coisa.


No entanto, também assinalei que ela tinha experiências passadas com situações
nas quais ela fora abandonada em condições semelhantes às da terapia e que
essas eram inconscientes e não mediadas por suas declarações. As vezes portanto,
,

ela experienciaria o medo e tentaria me evitar mesmo tentando assegurar-se


,

conscientemente. Ela sentiu que essas interpretações correspondiam a seus


sentimentos. Conforme o relacionamento terapêutico evoluiu as contingências
,

presentes reforçaram os seus comportamentos que eram consistentes com seus


pensamentos de que eu não a abandonaria. Por exemplo, eu era consistente na
manutenção dos compromissos e quando os feriados ou as viagens interrompiam
,

o calendário, eu tentava agendar um horário para repor as sessões. Em


"
consequência o novo e melhorado B (tal como, Não parece que ele vai me
,

"
abandonar ) ajudou a desenvolver um comportamento modelado por
"

contingências de permanecer lá para dar uma chance" e vice-versa.


Em suma nós apresentamos um modelo no qual os pensamentos contribuem
,

inteiramente ou parcialmente ou ainda, não contribuem com os problemas clínicos.


,

Embora esse modelo aceite as técnicas de terapia cognitiva ele enfatiza a importância
,

das contingências para determinar ou alterar os efeitos do pensamento em outros


comportamentos. Assim o uso de apelações para a racionalidade dentro da FAP é
,

apenas uma pequena parte de um conjunto maior de interações terapêuticas que


irão ajudar a desenvolver um novo conjunto de experiências e comportamentos do
cliente e produzir uma mudança favorável nas crenças a eles associadas .
9

O self
\

Sem dúvida, há uma ligação muito próxima na seguinte interação entre Beatrice
,

e sua terapeuta:

Beatrice: É terrivelmente difícil para mim ser eu mesma.


Terapeuta: Se você não é você mesma, quem é você?
Beatrice: Eu sou quem os outros querem que eu seja. Nem eu mesma sei quando
estou sendo eu mesma.

O "self ao qual Beatrice se refere possui alguns atributos confusos.


Primeiro, ela se refere ao self como algo diferente de seu próprio corpo; ou
seja, ela descreve o seu self mudando conforme o desejo dos outros, ao mesmo
tempo em que seu corpo ísico obviamente permanece o mesmo. Seu self
f

portanto, não é físico - não é o seu corpo. Segundo, ela deduz que há uma
experiência interna de seu self controlada por algo que é extemo. E finalmente,
ela constata que esse self que ela experiencia, não é propriamente seu, porque
é controlado por outros. Isso então implica que há ou poderia haver uma
experiência de seu self verdadeiro que seria imutável, e não controlada por
outros.

137
138 Capítulo 6

Ao analisarmos a literatura disponível acerca do self, constatamos uma


abundância deste tipo de paradoxos. Isso levou um autor a nomear seu tratado
"
sobre o self de Há alguém no comando?" (Greenwald, 1982). Neste capítulo,
forneceremos uma concepção behaviorista de self que considera esses
" "

paradoxos e diversos sentidos de se/ftípicos ou normais bem como os seus ,

" "

problemas ou estados patológicos Em seguida, mostraremos como aplicar


.

nosso modelo comportamental ao tratamento.


Começaremos por demonstrar as dimensões do selfquG serão incluídas
neste relato. Nosso modelo irá explicar, a partir de uma abordagem
comportamental, as características essenciais dessas descrições não patológicas,
bem como das patológicas.
s

DEFINIÇÕES COMUNS DO SELF

As quatro descrições de self feitas por não-behavioristas que estão a


seguir representam o senso comum, não patológico do termo:
4

1 Experienciando o self como o "Eu". A maioria de nós tem um


.

"
sentimento do Eu". De acordo com Deikman (1973), esse "Eu" é "uma
4 »

consciência permanente, descaracterizada e imutável alguma coisa central que


,

testemunha todos os eventos externos e internos" (p 325). Deikman ainda


.

define esse self como consciência.


2 O self como deflagrador de ações. Um outro tipo de "Eu" que é
.

sentido é o Eu quero" de "Eu quero um carro novo" ou "Eu nâo levantarei da


"

cadeira enquanto não tiver terminado meu trabalho". Deikman descreve esse
"

Eu" como uma força organizadora que impulsiona o indivíduo a agir.


,

3 O self como fonte de gestos espontâneos. Segundo Winnicott


.

(1965), o self"1real" ou "verdadeiro" é fonte de gestos espontâneos e idéias


personalizadas. Do mesmo modo, Masterson (1985) definiu a criatividade como
"

a expressão mais real do self (p. 17) O falso self, por outro lado, não tem
.

idéias originais mas apenas aquelas originadas do outro.


,

4 .
O self como identidade pessoal. Erikson (1968) descreveu a
identidade pessoal como uma experiência consciente de duas percepções
simultâneas: (a) a igualdade do self - "a percepção da igualdade do self e a
continuidade da existência do ser no tempo e no espaço" e (b) outro ,

reconhecimento de igualdade - "a percepção do fato de que os outros


reconhecem essa igualdade e continuidade" (p 50). .
O self 139

Essas definições representam noções comuns sobre o self tanto na ,

prática clínica quanto na vida cotidiana. Os conceitos utilizados nessa descrição


do self parecem estar além da esfera do behaviorismo e um behaviorista que
,

pretenda explicar esses fenómenos encontrará algumas dificuldades. Por


exemplo, como explicar, em termos behavioristas noções como saber o que
,
"

" " " "

os outros querem ,
não ser eu , ou uma consciência imutável e
descaracterizada"?

A própria noção de "self* enquanto um conceito explicativo é uma antítese


,

da esquiva comportamental de usar entidades internas para explicar o comportamento .

Quando alguém pretende explicar o comportamento do cliente em termos de


"

problemas do // (entendendo-se o selfcomo entidade não comportamental), uma


entidade iccional é construída e erroneamente usada para explicar o comportamento.
f

Por exemplo, alguém poderia dizer que a dependência extrema do cliente pelo
terapeuta é causada por um self inadequado. Isto é o terapeuta pode consertar
,

essa inadequação desenvolvendo um selfmais completo; por esta razão, o cliente


se torna dependente, pois ele(a) experiencia um self mais adequado na presença
do terapeuta. Esse tipo de explicação não serve ao behaviorista, uma vez que "self
"
completo e "self inadequado" são novos, estruturas não comportamentais que
ainda precisam ser descritas. Sem querer se ater a este tipo de explicações
equivocadas, os behavioristas, em geral, têm evitado utilizar este termo e portanto,
não têm se concentrado nos problemas do self ou seu tratamento.
Em tempo, a única exceção foi Skinner, que fez inúmeras análises
teóricas do self( 1953, 1957) e contribuiu com uma base para um trabalho sob
a ótica behaviorista. Nossa intenção é desenvolver as noções postuladas por _

Skinner e explorar suas implicações clínicas. Há pelo menos duas razões pelas
quais um esforço deve ser feito neste sentido. Primeiro, os problemas do cliente
descritos em termos de desordens do selfparecem ser importantes e aparecem
constantemente. Uma indicação disso está na literatura sobre este assunto, dentro
da psicanálise moderna, psicologia do self e relações objetais. Segundo, o
fenómeno do selfparece ser parte da experiência humana e os clientes geralmente
descrevem seus problemas em termos do seu se//

UMA FORMULAÇÃO BEHAVIORISTA BO SELF

Qualquer explicação adequada sobre o self deve levar em conta a


experiência ou senso do self Isto é verdadeiro pois as inúmeras descrições de
140 Capítulo 6

self patológico ou normal envolvem a experiência da pessoa (ou seja,


"
"
experienciando uma continuidade e igualdade do self ou os clientes que não
sabem quem são ) Desta forma, nosso objetivo está em entender e explicar o
"
.

sentido ou experiência de self Apesar de não haver um consenso quanto ao que


constitui uma explicação ou um entendimento de uma experiência, seria vantajoso
entender o que é experienciado, pela identificação dos estímulos que evocam o
sentimento ou sensação e o tipo de experiências passadas que afetam este
processo. Apesar de parecer uma abordagem esotérica quando descrita
formalmente, é um método comumente utilizado nas experiências cotidianas.
Para ilustrar, tentemos imaginar a experiência de alguém sentindo calor.
Poderíamos colocar esta pessoa num quarto com a temperatura controlada, variar
esta temperatura, tomar nota das temperaturas observadas e concluir qual
" "

temperatura é necessária para a pessoa relatar que sente calor Variando-se a


.

umidade, do mesmo modo poderíamos determinar a influência dessa variável na


experiência. Nosso estudo estaria ainda mais completo, entretanto, se pudéssemos
saber algo mais sobre a história prévia desta pessoa com relação ao calor. Se
esta pessoa, por exemplo, cresceu no deserto, um aumento considerável de
temperatura seria necessário para evocar essa sensação de calor, ao contrário
de uma pessoa que tenha nascido e vivido no Alaska. Essa tentativa de explicação
envolve um conhecimento maior acerca dos fatores relacionados a esta
experiência. Mais especificamente, quanto mais soubermos com referência às
variáveis que levam à sensação de calor na pessoa, mais poderemos dizer que
" "
entendemos a sua experiência. Como vocês podem notar, nossa abordagem
ao tentar entender a experiência de uma pessoa reside no fato de entendermos o
relato verbal dessa experiência. Apesar de não serem a mesma coisa, assumimos
aqui que os mesmos fatores que afetam a experiência de alguém também afetam
o relato verbal dessa experiência. Alguns dos leitores podem se opor a esta
equivalência, baseando-se no fato de que sua própria experiência é não-verbal.
Pedimos a estes leitores que reservem seu julgamento final quanto ao assunto
para mais tarde. Uma experiência não-verbal do selfé consistente com a presente
análise comportamental.
Nosso entendimento da experiência do self é paralela ao exemplo do
calor. Assim como explicamos a experiência do calor identificando o estímulo e a
história da resposta "Eu sinto calor" tentaremos explicar a experiência do self
,

descrevendo os estímulos e a história que se relacionam com as palavras que


" "
identificam o self Palavras estas que incluem "Eu" "Mim Querido", "Davie"
, ,

"
ou Dottie" (quando usados para se referir ao seu self) e "Você" (quando utilizado
O self 242

por uma criança pequena para se referir ao seu self). Por propósitos ilustrativos,
entretanto, concentraremos nossa discussão no "Eu" genérico Nossa abordagem
.

"
para o entendimento do Eu" com algumas sutis variações se aplicaria tanto para
,

"
os sinónimos de Eu" quanto a outros termos equivalentes. Assim noss&anáiise
,

do "Eu" pode ser vista como um protótipo para a análise de outras respostas
verbais associadas ao self. Desta maneira o entendimento do Eu" em particular
,
"

parece contemplar uma íarga faixa de experiências do self. A especificação dos


"
estímulos que se referem ao Eu" também ajuda a enxergarmos a natureza do
estímulo que geralmente controla a experiência do self

Conceitos Básicos

Nossa hipótese sobre o self é essencialmente uma hipótese sobre um


comportamento verbal. Especificamente, o entendimento da experiência do self
é a especificação dos estímulos controladores da resposta verbal "Eu" Alguns .

conceitos de comportamento verbal formam o fundamento de nossa abordagem:


controle de estímulos, tato, unidades funcionais e a emergência de pequenas
unidades funcionais. Como já discutimos controle de estímulos e tato faremos
,

aqui apenas um breve resumo.

Controle de Estímulo

Imagine um pombo que é reforçado por bicar uma chave apenas quando
uma luz estiver acesa. No final, seguindo a luz, uma resposta de bicar a chave
aparecerá. Algumas conclusões óbvias que podemos tirar dessa situação são:
1 . A resposta de bicar a chave ocorre quando o Sd (estímulo discriminativo -
luz acesa) está presente.
2 .
Bicar a chave está sob controle do estímulo da luz acesa.

3 . Bicar a chave é uma unidade funcional, definida como o comportamento que


ocorre entre o Sd e o reforçador. (Discutiremos isso em mais detalhes na
seção das unidades funcionais.)
Por ser importante para a compreensão do nosso conceito compor-
tamental do self discutiremos o processo através do qual o acender a luz se
transforma num Sd. No início do experimento, o pombo é exposto a um grupo
142 Capítulo 6

grande de estímulos que consistem no sinal luminoso, movimentos e barulhos


no ambiente, luz da sala, a orientação do próprio pombo em relação à luz, assim
como à riqueza dos estímulos privados ou internos, tais como atividade fisiológica
e a estimulação sinestésica que provém do sinal luminoso. Assim, mesmo que o
experimentador possa sentir que a luz é o estímulo mais óbvio, pode não o ser
necessariamente para o pombo. Entretanto, após repetidas tentativas, a luz se
destaca o suficiente para controlar as reaçoes de bicada na chave, pois é o
elemento do grupo de estímulos que está sempre presente quando os reforçadores
estão em ação.

O Tato

Imagine uma criança do sexo feminino que está aprendendo a falar, e é


" "

reforçada pela alegria de seus pais por dizer maçã sempre que lhe mostram
uma maçã, e não quando lhe mostram uma banana ou laranja. Finalmente, apenas
" " " " " "

o fato de mostrar a maçã a ela pode resultar na reação maçã maçã maã , ,

ou outra aproximação fonética. Algumas conclusões óbvias podem ser tiradas


dessa situação, a saber:
v

1 . A resposta balbuciada "maçã" ocorre quando o Sd (estímulo discriminativo),


uma maçã, está presente.
2 . A resposta "maçã" está sob o controle do estímulo maçã.
3 . A resposta "maçã" é uma unidade funcional.
4 . Não podemos dizer no entanto, que o tato "maçã" corresponde mais à fruta
"

maçã do que, no outro experimento, a bicada" na chave pelo pombo


corresponde ao sinal de luz. Desta maneira, não podemos dizer que a criança
" "

usa a palavra maçã tanto quanto não dizemos que o pombo usa a "bicada
"
na chave .

Assim como no caso do pombo e o sinal da luz, a fruta maçã controla a


" "

resposta verbal maça pois esta era o estímulo que estava presente toda vez
" "
que dizer maçã foi reforçado. Apesar de parecer óbvio, para que este
condicionamento verbal pudesse acontecer os pais tiveram que ver a maçã (ou
,

seja, saber que ela estava presente). Como reafirmaremos mais tarde, a
v

f
O self 143

importância dos pais saberem que o Sd está presente é um aspecto fundamental


,

"
quando a criança estiver aprendendo o Eu".

Unidades Funcionais

Como já vimos, a bicada na chave pelo pombo é uma unidade funcional. .

Quando vemos uma bicada, podemos dizer "Aí está". Mas quando se trata de
um comportamento verbal fica menos claro o que pode ser considerado uma
,

unidade ou uma ocorrência única. Mesmo que fiquemos tentados a dizer que a
unidade do comportamento verbal é uma palavra isto pode levar a alguns ,

problemas, já que experienciamos nossas verbalizações como sendo, às vezes,


menores e, às vezes, maiores que uma palavra. Um exemplo ocorreu quando o
primeiro autor aprendeu o hino nacional. Eu lembro de ter aprendido uma grande
"
unidade totalmente sem sentido - landaliverty"*. De maneira semelhante o ,

alfabeto é normalmente ensinado em grandes unidades ordenadas. Torna-se difícil


verbalizar as letras na ordem se começarmos por qualquer ponto do alfabeto
que não seja o início. Contrariamente, algumas palavras complexas, como
inConstitucionalissimamente, são realmente uma combinação das unidades
"
menores in", "constitucional", "mente".

A unidade funcional é uma concepção skinneriana de unidade de


comportamento verbal e seu tamanho depende de como foi aprendida e mantida.
Sendo a unidade funcional um comportamento que ocorre entre o Sd e o reforço,
seu tamanho verdadeiro pode variar com a experiência. Por exemplo, uma criança
"
pequena pode primeiramente ser instigada a dizer bebé", como duas unidades
"
menores - os pais dizem be" e esperam a criança repetir "be", e então dizem
"

bom, agora fala bê". Depois deste tipo de dica, quando se pede para a criança
tatear bebé, ela poderá dizer aigo como "Be - Bê", o qual ainda assim evidencia
unidades menores que a composição inteira. Porém, com o tempo, a unidade
"

singular bebé" emergirá. Assim, unidades funcionais podem ser pequenas, como
" "

as palavras ( maçã e "oi") e fonemas (be, e bê). Unidades maiores de


"

comportamento verbal seriam frases como Como você está", "Que Deus nos
cachorro-quente e Estados Unidos da América". Unidades ainda
" " " "

ajude , ,

maiores, como Conselho de Administração e Finanças da Universidade, se ditas


em conjunto, podem incluir o alfabeto.

(N.T.: junção de três palavras em inglês que formam um som único = land of Iiberty).
144 Capítulo 6

A emergência de pequenas unidades funcionais

Para os ohjetivos deste capítulo, estamos particularmente interessados


no
"
Eu" como uma pequena unidade funcional, ou seja. uma palavra individuai
que tenha um significado independente. Iremos contrastar dois modos pelos
quais uma simples palavra pode se transformar numa unidade funcional quando
uma criança está aprendendo a falar. Essa unidade funcional com uma única
palavra pode ser aprendida separadamente ou pode emergir como subproduto
da aquisição de respostas maiores contendo elementos idênticos (Skinner, 1957,
p 120). A aprendizagem separada da palavra enquanto unidade foi ilustrada no
.

" "

exemplo anterior, que mostrou como o tato maçã foi adquirido. Naquele
exemplo, a palavra maçã foi aprendida como uma unidade.
" "

Agora usaremos um exemplo para explicar como uma palavra pode se


transformar numa unidade via emergência proveniente da aquisição de unidades
" "

maiores. Neste caso, será usada a palavra grande Suponhamos que um pequeno .

" " "

garoto tem os tatos maçã caminhão "lápis "laranja e "cachorro" em


" " "

, , ,
s

"
seu repertório, mas não o tato grande Seus pais apontam para uma grande
"
.

"

maçã numa caixa de maçãs e dizem Esta é uma maçã grande, diga Ímaçã
grande Depois de algumas vezes e depois que a dica foi gradualmente retirada,
,"

a criança tateará maçãgrande Note que neste momento, devido às condições


" "
.

"

específicas sob as quais a criança aprendeu, grande não é uma unidade


"

funcional. De fato, "grandemaçã" é uma unidade singular sem qualquer conexão .

" "
com maçã e assim, não é uma combinação de duas unidades, grande e
" "

"
maçã
"
. Depois, os pais falam "caminhão grande". Após inúmeras tentativas
"
com o caminhão grande, a criança tateará caminhãogrande Finalmente, após
"
.

a criança haver experimentado um número suficiente de experiências similares


" "

com grandes laranjas, bonecas, lápis e outros objetos, a palavra grande emerge
como uma pequena unidade controlada pelo estímulo do tamanho. Isso acontece
porque grande é o elemento idêntico dentre uma variedade de situações nas
" "

quais objetos específicos (laranjas, bonecas, lápis) variam e tamanho é o elemento


" "
comum do estímulo. Após a emergência da unidade grande a criança poderá i
,

tatear "cachorro grande" mesmo que nunca tenha tido uma experiência prévia
com cachorros grandes.
Diferentemente do processo no qual o "grande" emerge de unidades
'

maiores, seria possível estabelecer experiências de aprendizagem de modo que


" "
grande fosse aprendido separadamente. Para isso, os pais teriam que apontar
" "
uma grande maçã e dizer grande (ao invés de "grande maçã") e assim a criança

9
O self 145

" "
poderia tatear grande O mesmo se repete para outros objetos até que seja o
.

tamanho das coisas que passe a controlar o tato "grande" .

Os exemplos citados servem para ilustrar dois métodos pelos quais uma
palavra pode se transformar em uma unidade funcional. Nós simplificamos
propositadamente as experiências de aprendizagem, e as descrevemos de um
modo estereotipado a fim de clarear o papel dos processos fundamentais
envolvidos. Não estamos sugerindo que nossos exemplos sejam uma
" "

correspondência direta dos da criança ao aprender "grande" em seu


passos
próprio ambiente natural. Na vida real, dicas, modelos e reforçamento são usados
mais a esmo e inconsistentemente. Assim a palavra ,
" "
grande é adquirida
provavelmente através da combinação de aprendizados separados e da emergência
de grandes unidades e/ou outros processos menos relevantes à nossa discussão
(por exemplo: aprendizagem de significados através de definições).
Ao aprender a falar, a criança simultaneamente adquire unidades
funcionais singulares numa faixa de tamanho que varia de pequeno a grande O .

período de vida compreendido entre os 6 meses e os 2 anos é conhecido como


"
período de uma só palavra para os linguistas e psicólogos do desenvolvimento.
"

Acreditamos que seria mais apropriado chamar este período de "Período das
"
unidades funcionais singulares pois a criança deve aprender unidades que tenham
uma ou mais palavras, mas que ainda continuam sendo unidades funcionais
singulares. A observação da linguagem das crianças durante esse período legitima
essa visão de unidade funcional (Dore, 1985). No início deste período as unidades ,

"
singulares são palavras ou fragmentos de palavras como boneca", "maçã",
" "
maã (para maçã), "vete" (para sorvete), "cae" (para cair). Ao fmal deste
período ou durante o segundo ano, de vida, muitas dessas palavras únicas tomam
"
a forma de frases com duas ou três palavras como mordi você "bebé - mordi
"

" " " " "


-
você mais suco e eu-mais - suco mas permanecem unidades singulares
, , ,

funcionais. Nesta idade, as unidades maiores não se formaram da composição


feita pela criança das unidades pequenas; elas são aprendidas como um todo.

A emergência do "Eu" como uma pequena unidade funcional

Acreditamos que o "Eu"* emerge como uma unidade funcional da


aquisição de unidades maiores enquanto a criança aprende a falar num
*
Nossa análise do termo "Eu", também se aplica a '1meu", "me", "nome próprio", e similares, e assumimos que
estes termos têm uma sobreposição no significado funcional.

i
146 Capítulo 6

desenvolvimento normal e não patológico. Designamos três estágios de desen-


volvimento relevantes para essa aprendizagem e os ilustramos na Figura 4, que
mostra unidades de três tamanhos, cada qual correspondente a um estágio de
desenvo lvimento.

Estágio I Estágio II 17
stágio III

Estou com calor


Estou com fome Estou

Estou aqui i
, 1
Me sinto triste
Me sinto mal Sinto
Me sinto feliz

Ouero sorvete
Ouero suco Ouero EU

Quero mamãe

Veio carro
Veio mamãe Veio
Veio peixe
II 1 t
w m > ... m

Eu X coelho
Eu X giz de cera eu x y
l

Eu X bebé

Figura 4: Os 3 estágios de desenvolvimento do comportamento verbal que resultam na emergência


do "eu" como uma unidade funcional pequena. No estágio I a criança aprende unidades maiores
independentes que são a base para unidades abstraías de tamanho intermediário do estágio II.
Então, o "eu" do estágio III emerge dessas unidades intermediárias do estágio II

Durante o estágio I, a criança aprendevárias unidades maiores como


" " " "
"
eu tenho uma boneca "

,
"
eu tenho um coelho , eu quero sorvete , eu quero
eu vejo o carro e "eu vejo mamãe". Tenha em mente que; na verdade,
, " "

suco/ ,

" " " "


estas rases devem soar como mim vê mamã ou nenê sorvete e que estamos
f

Eu" como uma forma genérica de auto-referência. Essas grandes


"
usando
unidades são aprendidas como um todo (ou seja, são unidades funcionais). Esse
estágio ocorre durante os dois primeiros anos de vida,
O self 147

Durante o estágio II unidades funcionais menores emergem, como "eu


,

tenho", "eu quero" e "eu vejo" que podem ser então combinadas com alguns
,

objetos. É durante este estágio que a criança pode dizer "eu quero futebol"
mesmo que ela não tenha pronunciado antes esta frase em particular .

Durante o estágio III uma unidade ainda menor e única do "Eu" emerge,
,

"

e ao mesmo tempo, a experiência do Eu . A partir de nossa perspectiva a ,

"
aquisição da experiência do Eu" é semelhante à aquisição da experiência do
futebol, do sorvete, da mamãe, ou do calor. Todos estes são tatos Entretanto .
,

"
essas experiências diferem do Eu,! no fato de estarem sob o controle de estímulos
públicos específicos e podem ser aprendidas separadamente. "Eu", por outro
lado, está sob o controle de um estímulo pessoal complexo e parece ser aprendido
exclusivamente através da aquisição destas unidades maiores.
O real entendimento dessa experiência do self vem da descrição dos
estímulos que controlam as respostas em cada um dos três estágios Quando .

"
essas unidades funcionais se voltam para o Eu", há uma mudança correspondente
nos estímulos controladores e uma ênfase maior nos componentes privados.

Estágio I: Aprendendo grandes unidades funcionais

Como em todas as aprendizagens que envolvem discriminação, os pais*


elevem usar estímulos públicos (que estejam disponíveis para os pais) ao ensinar
as crianças a tatear. Apontamos anteriormente para o fato óbvio que um pai
" "

precisa ver a maçã, um estímulo público, a fim de ensinar o tato maçã Agora .

atente para o estímulo público que o pai utiliza para ajudar a criança a aprender
" "

um tato semelhante, embora diferente, eu vejo a maçã como uma grande ,

" "

unidade. Estamos presenciando os tatos maçã e "eu vejo maçã" como tendo
diferentes significados (isto é, sendo controlados por diferentes estímulos no
" "
adulto falante). O tato maçã é controlado meramente pela presença da maçã.
Em termos cotidianos, diríamos que o tato descreve um estímulo público como
em aquilo é uma maçã O tato "eu vejo uma maçã", entretanto, é controlado
" "
.

por uma atividade do falante - ver. Em termos cotidianos, ele descreve uma
atividade do falante, então iremos nos referir a isto como ver. Em alguns casos,
-
a atividade de ver pode não se relacionar com a presença de um estímulo público,
como quando o falante imagina uma maça (Skinner, 1957).
Reconhecemos que, entre os primeiros professores de crianças, estão incluídas também outras pessoas além
"

dos pais. Porém, para simplificar, usamos o termo pais para nos referirmos a todas as pessoas que participam
da educação das crianças.
»
148 Capítulo 6

Agora imagine como os pais ensinam à criança a agir sob o controle da


" "

atividade de ver quando dizem eu vejo maçã . De um modo ou de outro, os


" "

pais dão uma dica e encorajam a criança a dizer eu vejo maçã quando é ,

evidente que a criança está vendo a maçã. Os pais, entretanto, não podem observar
\

diretamente a criança f1vendo a maçã" pois isso é pessoal e está disponível somente
f
para a criança. A questão é, qual é o estímulo público que os pais- usam para
indiretamente observar a criança vendo e então, que estímulos realmente estão
controlando a resposta da criança? Novamente, nossa descrição do processo é
propositadamente estereotipada e simplificada para facilitar os processos básicos
de aprendizado envolvidos. Na vida real, os pais ensinam a criança de modo
mais casual e inconsistente, apesar dos processos fundamentais serem os mesmos.
A parte de cima da Figura 5 (a-c) mostra um estímulo público à esquerda
e um estímulo privado à direita, que estão presentes quando o pai incita a criança
"
a dizer eu vejo maçã A perspectiva (como mostra a Figura 5a) é a relação
"
.

espacial entre a criança e os objetos externos. Apesar de ser um estímulo público


que está presente, ele não interfere neste momento no aprendizado da criança de
" "

eu vejo maça (ele é mostrado pois o discutiremos mais adiante). Os estímulos


públicos mostrados na metade à esquerda das Figuras 5b e 5c são aqueles que
os pais poderiam utilizar potencialmente para saber se a criança está mesmo
" "
vendo a maçã Esses estímulos públicos são a orientação da criança em direção
.

à maçã e a própria maçã. A orientação que os pais observam pode incluir o


virar da cabeça e o olhar ixo e intenso na direção da maçã. Os componentes
f

dessa orientação podem variar sutilmente de tempos em tempos.


Além desses estímulos públicos, uma gama de estímulos privados adicionais,
acessíveis apenas à criança, são representados como os objetos menos destacáveis
mostrados na coluna dos estímulos privados na parte de cima da Figura 5. Um
desses estímulos seria a atividade privada associada com a orientação pública em
direção à maçã (lado direito da Figura 5b). Esse componente privado de orientação
talvez corresponda aos componentes isiológicos do reflexo de orientação. Outro
f

estímulo poderia ser a atividade do sistema visual individual associado com ver a
maçã (lado direito da Figura 5c) bem como um componente geral que designamos
,
" "

aqui como ver (Figura 5d). O componente geral de ver é aquele que ocorre
independente do que está sendo visto. Os componentes internos da perspectiva
(lado direito da Figura 5a) também estão presentes. Como não podemos ter acesso
aos estímulos privados podemos apenas tecer a hipótese de que há muitos outros
,

estímulos privados envolvidos de alguma forma com a atividade privada tais como: ,

a visão , audição, olfato, paladar, autonomia e estímulos cinestésicos.


O self 149

Na situação simplificada que estamos descrevendo na qual os pais ,

estão ensinando pela primeira vez à criança o tato "eu vejo maçã" espera-se ,

que os estímulos públicos essenciais ganhem controle sobre o comportamento


da criança dizer "eu vejo maçã". Esses são os mesmos estímulos que os pais
usam para saber se criança está vendo a maçã Assim, durante esse estágio do .

"
desenvolvimento, o tato eu vejo maçã é aprendido como uma unidade e é
,
"

controlado peia presença da maçã e dos aspectos externos de orientação como ,

mostra a Figura 5e. Apesar dos estímulos privados e outros públicos (como a
perspectiva) estarem presentes durante o aprendizado, não aparecem na Figura
5e, pois nao há razão para eles se transformarem em Sds e eles não têm nenhum
efeito. Neste sentido, eles são irrelevantes não perceptíveis e portanto não
,

experienciados. Neste ponto do desenvolvimento da criança a declaração eu ,


"

"
vejo maçã não envolve, como no adulto, a descrição da experiência de ver. Ao
,

" "
contrário, neste estágio, eu vejo maçã provavelmente tem um significado muito
" "
mais próximo do tato simples maçã Apesar dos estímulos privados não terem
.

um papel neste estágio, são importantes em estágios posteriores.


Durante o estágio I, outras unidades grandes envolvendo "Eu" bem
" "
como eu vejo maçã também são aprendidas. "Eu quero leite de soja" "Eu ,

"
estou com calor e "Eu jogo bola" são exemplos. Nossa discussão se concentra
" "
no eu vejo mas a análise se aplica a outras unidades também.

Estágio II: Aprendendo unidades funcionais menores e o desenvolvimento do


controle por estímulos privados

Depois de aprender um certo número de unidades funcionais grandes


" " " " " "
envolvendo eu vejo como em eu vejo uma cabra
, eu vejo papai e "eu vejo ,

" " "


o cachorro as unidades funcionais menores eu vejo do estágio II emergem.
,

A menor unidade de "eu vejo", uma vez adquirida, pode agora ser combinada
com quase todos os outros tatos que estão no repertório, e a criança pode criar
" "

outras expressões singulares. O eu vejo emerge como uma unidade pois é o


" "

elemento comum em cada uma das variedades de respostas eu vejo X A .

orientação pública que os pais usavam para saber se a criança estava vendo
"

poderia ser de algum modo diferente em cada uma das várias situações eu
vejo existentes. Por exemplo, se a criança estivesse olhando para um avião no
"

céu, a orientação seria diferente da utilizada se a criança estivesse olhando para


o rosto do pai. Apesar da estimulação advinda da orientação variar de acordo
150 Capítulo 6

Estímulo Externo Estímulo Interno

r \
(a) Perspectiva
V V-

P
*
4
-
3 , m
>;<s 1

3? "

(b) Orientação ssv iwXvYi

& ><3i m
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i
.

}y<:>
.

is* \
W *
w.>%-A

(c) Objeto
\

(d) Ver

Sd R Sr
Estímulo Resposta Reforçamento
Discriminativo

(e) O Processo tc

Eu vejo maçã
55 6t
Sim, você vê
55

de Tatear

Figura 5. Na parte de cima, os estímulos privados e públicos se apresentara quando a criança aprende a dizer
"

Eu vejo maçã", incluindo (a) a perspectiva da relação espacial entre a criança e objetos externos (b) a orientação ,

como a virada de cabeça e direção dos olhos (c) uma maçã, e (d) a atividade privada de ver. Na parte de baixo,
,

(e) os estímulos discriminativos, aue sureem Dara controlar a resnosta. são as orientações públicas e a maçã.

j
O self 151
t

com os objetos vistos os estímulos privados associados à atividade "vendo"


,

são os mesmos em todos os "eu vejo X" independente do que "X" venha a ser. ,

A atividade privada de ver é mostrada na Figura 5d Isto sempre e tão somente .

" "
acontece nas situações eu vejo mas não nas "eu quero" ou em outras ,

" "

combinações com eu Portanto parece provável que os estímulos internos


.
,

associados à atividade ver ganhem controle de "eu vejo".


" "

Se "eu vejo" fica sob controle dos estímulos privados como sugerimos, ,
" "
entãora resposta eu vejo maçã teria um significado diferente de "aquilo é uma
"

maçã O segundo seria unicamente uma descrição de um estímulo externo ou


.

em termos mais precisos, um tato controlado pela maçã No entanto eu vejo .


,
"

"
-
maçã é agora uma combinação de duas unidades menores onde "maçã" é um
tato controlado peio estímulo público e "eu vejo" um tato controlado pela ,
" "
atividade ver do falante.

Estamos definindo o ambiente ideal não patológico como aquele que


resulta no controle de " "
eu vejo e outras unidades intermediárias do estágio II
(ou seja, eu quero, eu sinto, eu sou, eu tenho) por estímulos internos. Esse tipo
de ambiente envolveria os pais que dão dicas e reforçam a criança a dizer "eu
"
vejo X toda vez que a criança está de fato vendo o objeto X e não em outras
horas quando a criança está vendo Y. Esse ideal é impossível entretanto, dado ,

que os pais não vêem dentro da criança e devem se ater aos sinais públicos.
Assim as habilidades de discriminação dos pais e a atenção a esses estímulos
,

públicos são fatores importantes na determinação de qual grau do "eu vejo"


será controlado por estímulos privados.
" "
Para ilustrar
vamos assumir que eu vejo emergiu como uma unidade
,

funcional durante o estágio II depois de considerável experiência com unidades


,

"
maiores como eu vejo bola " "

eu vejo gatinho e "eu vejo carro". Neste momento,


,
"

tanto os estímulos públicos quanto os privados estão presentes e podem controlar


" "

a resposta eu vejo Se, então, a criança relata ver um estímulo imaginado,


.

comum na fantasia ou na imaginação infantil, então a criança vê na ausência


dos estímulos públicos com apenas a presença de estímulos privados. Os pais
que apoiam a validade de tais experiências, aceitando a fala da criança seriamente,
estão reforçando o controle por estímulos privados. Como resultado, a criança
irá dizer "eu vejo objeto X" baseada em sua própria atividade "ver", que é
privada. Os pais que idicularizam ou criticam crianças neste aspecto, diminuem
r

o controle pelos estímulos privados e a criança irá dizer mais provavelmente


" "
eu vejo objeto X baseada apenas nas suas reações de orientação externa e
quando X estiver presente tanto para o pai como para a criança.
152 Capítulo 6
>

Tenha em mente que não estamos descrevendo o processo no qual a


criança se torna relutante em relatar sua experiência interna visual por medo
ou embaraço. Esse tipo de supressão pode ocorrer apenas depois do objeto ser
visto. Estamos descrevendo o processo pelo qual o objeto é visto pela primeira
" "

vez: a génese da relação (ou sua falta) entre a experiência interna e ver .

Uma outra importante fonte de reforçamento do controle de "eu vejo"


" "

pela estimulação privada de ver é a aceitação dos relatos "eu vejo" da criança
em situações onde gs pais não podem ver os estímulos públicos ou estes são
obscuros (por exemplo, um peixe na água que se esconde após o relato da criança,
" "

ou um coelho escondido nas folhas). Os pais que levam os relatos eu vejo das
crianças à sério, quando não conseguem observar o estímulo controlador,
proporcionam um ambiente normal ou não patológico por meio do qual os
estímulos privados finalmente controlam o comportamento. Uma indicação de
" "

sucesso no ensino do controle privado de eu vejo poderia ser a habilidade da


,

criança em responder a um pedido para fazer exercícios de imaginação. Outra


aquisição seria a habilidade de fazer relatos sobre os estímulos limiares como os
usados em pesquisas de psicofísica ou nos exames de visão. (Os efeitos de
treinamentos mal sucedidos são discutidos no desenvolvimento patológico.)

Estágio III: O desenvolvimento do "Eu"através de estímulos internos

Após um número considerável de tatos "eu X" terem sido aprendidos, a


"
criança entra no estágio III, e aí uma unidade menor Eu" emerge. "Eu" é um
" "
elemento idêntico em cada uma das situações eu X onde X varia.
Vamos agora falar dos estímulos que controlam o "Eu". No
desenvolvimento normal, "Eu" é um tato sob o controle daqueles estímulos
" "
comuns a cada um dos tatos eu X independente do que venha a ser X (ver,
querer, ter, ser, etc). É o mesmo processo pelo qual eu vejo emerge como uma
" "

" " " " "


unidade sob o controle de estímulo vendo proveniente de eu vejo maçã
,
eu ,

"
vejo caminhão e assim por diante.
,

Usamos o termo perspectiva, mencionado anteriormente em nossa


discussão e mostrado na Figura 5a, para representar o estímulo que controla o
"

Eu". Tomamos este termo emprestado de Hayes (1984) que discutiu a noção ,

de perspectiva na sua análise behaviorista radical sobre a espiritualidade. Como


mostra a Figura 5a a perspectiva tem tanto componentes públicos quanto privados
,

e inclui as características ísicas do local da criança no espaço em relação aos


f
O self 153

outros. É onde a criança se encontra (aqui) em oposição ao local onde a criança


,

não se encontra (lá). Na Figura 5a, a criança está representada com o tom
mais escuro, é a figura central e todos os outros objetos (pessoa cachorro, etc)
,

estão localizados em relação à criança. É o estímulo público da perspectiva que


os pais usam para ensinar à criança o tato você quer sorvete versus "eu
" "

"

quero sorvete e "eu vejo coelho" versus "você vê coelho". Os aspectos públicos
da perspectiva também estão envolvidos quando os pais estão modelando a
respísta eu vejo uma boneca enquanto a criança está visivelmente olhando
" "

para a boneca. Os pais estão orientados para a criança e/ou de alguma maneira
indicando quem deve dizer "eu vejo boneca". Se outra criança também se encontra
no quarto, o pai deve agir de modo que fique claro qual criança deve dizer "eu
"
vejo boneca .

A perspectiva é o estímulo que se mantém constante para todos os "eu


"
quero X e "eu vejo X", etc., uma vez que os Xs e as atividades (querer ver, ,

etc.) variam constantemente. Os aspectos públicos do estímulo podem variar


consideravelmente em cada situação. Algumas vezes, a criança pode estar bem
ao lado do pai, ou, em outras vezes, a 50 metros deste. Dadas essas variações
"
possíveis de lugar aqui versus "lá", pode ser provável que um aspecto privado
"

venha a ganhar controle. Durante um desenvolvimento não patológico , a


perspectiva é a localização física das atividades privadas tais como, ver, querer,
*

"
ter. Assim a resposta Eu" como unidade está sob o controle de estímulo do
,

lugar (locus).

Qualidades do "Eu"

Como modo de mostrar as características do estímulo privado que


"
controla o tato Eu", vamos contrastá-lo com o estímulo público que controla o
tato "borboleta".

Primeiro, a pessoa que experiencia a borboleta (ou seja, que se coloca


sob o controle do estímulo da borboleta) pode descrevê-la em termos físicos.
Por exemplo, a pessoa poderia dizer "parece ter dois centímetros de comprimento,
cor preta e amarela e tem asas Esses atributos são as características do estímulo
"
.

público. A experiência do Eu", entretanto, ultrapassa os termos físicos. A única


"

característica do íocus é a sua relação com onde acontece a atividade privada de


ver. Assim, a pessoa poderia descrever a característica física do Sd que controla
"
Eu" como a falta de características ísicas, tal qual em "Este não é meu corpo".
f
a

154 Capítulo 6

O locus permanece constante mesmo que a pessoa cresça e se torne um adulto,


"

mude de emprego ou perca peso. O estímulo controlador do Eu" e portanto, a


"

experiência do Eu", permanece constante mesmo que as características físicas


pessoais e a localização mudem. Essa característica é semelhante à
"
descaracterização" da descrição do se.yfeita por Deikman.
Segundo, a borboleta tem um lugar específico - ali, por exemplo. O
"
Eu" é descrito como estando dentro, a localização usual do estímulo privado,
"
que se parece com o alguma coisa central de Deikman.
"

Em terceiro lugar, a localização da borboleta pode mudar de lá para cá.


Uma vez que o estímulo controlador do "Eu" está sempre localizado onde está a
"

estimulação privada do querer, ver, sentir e similares, o Eu" é experienciado


como estando sempre no mesmo lugar. A borboleta pode desaparecer, ao passo
que o Eu" não. Além disso, a borboleta muda de tempos em tempos - envelhece
"

"
e morre. Tomando-se que o Eu" é controlado por uma perspectiva que nunca
muda é descrito como atemporal. Essas características se assemelham à definição
,

de Deikman do selfcomo sendo "imutável e atemporal" e às noções de Erikson


de "igualdade do self e "continuidade".
Como dissemos anteriormente, o self como aquele que origina uma ação
também aparece nas descrições de selfde Masterson e Deikman. Nossa explicação
desse aspecto da experiência do self envolve o aprendizado que ocorre após a
"

emergência do Eu" enquanto uma unidade. Esse aspecto da experiência do self


reflete talvez uma moderna manifestação do animismo primitivo. Animismo é
uma teoria das causas do comportamento. Sua proposição básica é que a fonte
de toda ação pode ser atribuída à vontade de um ator. O ammista explica as
ações identificando o ator que assume-se, está presente. Assim, para o animista,
,

" "
a atividade ver deve ser atribuída a uma entidade que a origina. A teoria
animística parece permear a cultura e as pessoas aprendem a atribuir quase
todas as ações a uma entidade instigante. O corpo pode ser essa entidade que
" "
pratica o ver mas isso nos remete à questão de quem faz o corpo agir e ao
,

dilema mente-corpo. O "Eu" que foi descrito não é experienciado como o próprio
corpo. Assim, para o animista que existe em todos nós, uma fonte aceitável de
"

ação seria o Eu". De nossa perspectiva, com certeza, isso não faz muito sentido.
Seria o mesmo que dizer "a origem de toda ação é um locus".
A consciência também aparece na definição de self Deikman chegou
mesmo a dizer que o self era a consciência. Traduzindo para termos
comportamentais o que consideramos que Deikman quis dizer a consciência é
,
O self 155

a observação de nosso próprio comportamento tal qual o podemos descrever .

Isso é também entendido como auto-conhecimento Assim, poderíamos dizer .

que tem consciência alguém que diz "Eu vejo uma borboleta", em oposição a
"

Aquilo é uma borboleta". Outros exemplos são corro e Eu


,
"Eu bebo" "Eu ,
"

,
"

digo", que são tatos do comportamento público de uma pessoa e Eu escuto" ,


"

,
"

Eu quero" e "Eu penso" os quais são tatos de comportamento privado. Um


,

relato comportamental de níveis mais altos de consciência" envolveria a


"

repetição de tatear um tato de um comportamento privado Por exemplo, "Eu .

me vejo olhando uma borboleta" e Eu me vejo vendo a mim olhando uma


"

borboleta".

Como pode este tatear levar à experiência descrita por Deikman de que
"
o Eu" é a consciência? Em nossa visão a consciência é uma atividade e não
,

uma coisa. Por outro lado, o Eu" ou mais precisamente os Sds controladores
"

do "Eu", são uma coisa e não um comportamento. Dizer que o selfé consciência
é como dizer que o comportamento é uma coisa ou vice-versa Na nossa =

experiência diária, no entanto, as coisas são igualadas a comportamentos quando


os dois estão muito associados um ao outro. Desde que o comportamento de ser
consciente (ou seja comportamento de tatear seu próprio comportamento) está
,

muito associado com a unidade funcional Eu" os dois são erroneamente


"

igualados. Woodworth (citado em Catania 1984) discorreu sobre a natureza


,

enganosa de igualar verbos com substantivos:

Ao invés de "memória" deveríamos dizer "lembrando"; ao invés de


"

deveríamos dizer "pensando"... Mas, da mesma forma


"

pensamento ,

que outros ramos aprendidos, a Psicologia está inclinada a transformar


seus verbos em substantivos. Então, o que acontece? Esquecemos que
nossos substantivos são simples substitutos para os verbos, e saímos à
caça de coisas denominadas pelos substantivos; mas essas coisas não
existem. Há apenas as atividades as quais começamos... lembrando, (p.
303)

Em suma, os estímulos particulares que controlam a resposta "Eu" e o


"
sentimento do Eu" depende da experiência de aquisição específica, como
ilustrado em nosso relato de como a unidade de resposta "Eu" emerge. Apesar
do desenvolvimento normal levar a um alto grau de controle da resposta "Eu"
por estímulos privados, propomos que o desenvolvimento mal-adaptativo envolve
"
o oposto - um baixo grau de controle do Eu" por estímulos internos.
156 Capítulo 6

DESENVOLVIMENTO MAL-ADAPTATIVO DA
EXPERTÊNCTA DO SELF

Propomos um continuum de gravidade dos problemas do selfbasG&dâ


"

no grau de controle privado da unidade funcional Eu". Uma ponta desse


continuum representa problemas menos severos do self desenvolvidos a partir
de um controle privado insuficiente sobre um pequeno número de respostas "eu
X
"
. Sendo o "Eu" uma unidade que emerge de um grande número de unidades
" "
eu Xo número comparativamente menor que não é controlado privativamente
,

teria um efeito insignificante na experiência do self; ou seja, o self seria


experienciado como relativamente imutável, localizado centralmente e contínuo.
Quanto maior for a faixa de respostas "eu X" que os pais falham em trazer ao
controle privado, mais problemas a pessoa experienciará com o self. Problemas
graves de self estão na outra ponta deste continuum e correspondem à falta do
" "

controle privado sobre inúmeras unidades eu X .

Os problemas de selfdescritos na literatura psicanalítica serão explorados


dentro do nosso modelo comportamental. Esses problemas de self foram
" "

colocados sob as categorias de menos severo e "severo" para indicar toscamente


suas posições no continuum referente ao grau de controle privado sobre as
" "
respostas eu X Esses problemas, no entanto, não se excluem mutuamente, e
.

pessoas com distúrbios severos do selfpodem experienciar os problemas descritos


sob a categoria menos severo de um modo mais extremado.
" "

Distúrbios menos graves de Self


Pessoas com distúrbios leves a moderados do self têm um número
substancial de respostas eu X evocadas por estímulos privados, mas também têm
" "

um número significativo dessas respostas sob controle publico parcial ou total. Assim,
seu senso de self pode ser consideravelmente afetado pela presença de outras
pessoas e suas opiniões, humores, e desejos. É importante notar que não estamos
nos referindo a pessoas não assertivas ou que sabem o que sentem ou querem, mas
têm dificuldade em expressar isso aos outros Mais apropriadamente, estamos
.

descrevendo uma situação na qual o que a pessoa sente ou deseja em primeiro


lugar está sob o controle dos outros Em cada um desses problemas descritos
.

abaixo, o grau de dificuldade experienciada pelo indivíduo variará de acordo com o


grau de controle privado sobre as respostas "eu X".
O self 157

O Self instável ou inseguro

Se um número insuficiente de "eu X" icar sob o controle privado então ,

f
"
a emergência do Eu" enquanto unidade funcional ficará afetada. Como
"

apontamos, no desenvolvimento normal, o Eu" que está emergindo ica sob o

f
controle de estímulo do locus onde as atividades de ver querer, sentir, pensar,
,

ocorrem. Se essas atividades estiverem parcialmente sob o controle público entãa,

a experiência do self também estará parcialmente sob o controle público .


Uma
vez que os estímulos públicos, tal como o comportamento dos pais podem variar
,
*

com o tempo, a experiência do selfirí variar também de acordo com o grau em


,

que ela estiver sendo controlada publicamente. Desta forma, um self inseguro
será sentido porque varia de acordo com quem estiver presente. Na realidade o ,
"

se// controlado publicamente variará mais nas relações mais próximas. Como
descrevemos no controle público sobre "eu X", era uma pessoa muito importante
-

um dos pais - que se tornava um Sd. Na vida adulta, o selfirk variar primeiramente
de acordo com outras pessoas significativas. É por esta razão que relações íntimas
podem ser uma fonte de grandes conflitos. Para o indivíduo com um se instável,
a esquiva à intimidade remove essa fonte de instabilidade. Uma cliente que se
"
sinta bem com ela mesma quando está sozinha, mas lamenta que perde a si
"
mesma sempre que entra em algum relacionamento, está descrevendo esse
fenómeno. Dois subgrupos desse problema, dificuldade em conhecer o que o
outro quer e sente e extrema sensibilidade aos outros, são descritos abaixo.
Dificuldade em conhecer o que os outros querem ou sentem.
1
.

Um pai que ensina condicionalmente seu filho um "Eu X", ou seja, que só deve
emitir o comportamento quando o pai deseja que ele assim o faça, poderia ser
uma descrição comportamental da proposta psicodinâmica de que o
desenvolvimento patológico envolve pais que têm dificuldade em distinguir as
necessidades (reforçadores) da criança de suas próprias. O resultado de tais
experiências poderia ser uma pessoa que tem dificuldade em produzir uma
resposta eu quero X na ausência de estímulos públicos visíveis, tais como, a
" "

"

pessoa que formulasse a questão também indicasse qual deveria ser a resposta".
Neste caso, o problema do self seria experienciado principalmente como "não
saber se o que eu quero é realmente o que eu quero, ou se é apenas o que os
'

outros esperam que eu deseje ! .

Como um exemplo de como uma pessoa pode punir ou deixar de reforçar


um conjunto de respostas do tipo eu quero suponhamos que uma mãe esteja
" "

com sua criança em um shopping e se depara com uma máquina de doces. A


t

158 Capítulo 6

mãe é quem quer o algodão-doce, mas ao invés de simplesmente comprá-lo,


" "

ela instiga sua criança dizendo, nene quer doce Por outro lado, se o bebé .

disser "nene qué doce", e ela estiver de mau humor, dirá "não, nenê não quer
doce agora". E se, além desse algodão-doce, a mãe agir desse mesmo modo
"
com todos os doces prazeres, ou seja, ela (1) induz a criança a dizer eu quero
"
sorvete quando na verdade é ela quem quer o sorvete, e (2) ela pune a resposta

da criança (como por exemplo, "você não quer sorvete, acabou de tomar um"),
" "
então, para esta criança, querer prazer não surgirá sob controle exclusivamente
privado. A extensão do controle privado dependerá de o quão sensível esta mãe
for aos desejos de sua criança.
Na melhor das hipóteses, será estabelecida uma discriminação
condicional na qual a criança vai querer os doces apenas quando dois estímulos
estiverem presentes: (1) o estímulo privado de querer e (2) o estímulo público da
mãe também querer. Quando ambos estiverem ausentes a criança não irá querer ,

doces. Ou pior, seu desejo por doces dependerá apenas dos desejos pessoais de
sua mãe num determinado momento. Quando esta criança se tornar um adulto,
umà manifestação de seu problema de self diminuído poderá ocorrer em um
cenário como este: ele está comendo fora com amigos, o garçom pergunta se eie
vai querer sobremesa. O adulto ficará confuso virará para os amigos e perguntará
,

" "
vocês querem sobremesa? e irá querer somente se os amigos quiserem.
,

Uma situação mais problemática ocorre quando um espectro maior de


s

" "

respostas eu X não icam sob controle privado adequado. Neste caso os pais ,
f

punem ou não reforçam a faixa de respostas que são normalmente controladas por
"
estímulos acessíveis apenas à criança como "eu quero picles eu tenho dor de
"

barriga", "eu acho que ninguém me ama" meu sonho foi realmente assustadof e
"

" "
eu quero mais Pior, um problema severo do selfse desenvolverá, no qual a criança
.

irá "sentir" ou "desejar" apenas quando os pais ou outros indicarem que ela pode
assim sentir ou desejar e para ela será muito difícil se deparar sozinha com seus
,

próprios desejps e vontades. Ou, em uma hipótese melhor, ocorrerá sob controle
" "
privado, um querei" ou sentir" condicional. Em outras palavras, quando a criança
estiver sozinha, estímulos internos controlarão a resposta, mas quando os pais estiverem
presentes, a criança se esquivará ao máximo da punição e maximizará a recompensa
ficando atenta às reações dos pais para emitir uma resposta aceita por eles Tenha em .

mente que não estamos nos referindo ao fato da criança suprimir um relato verbal de
sentimentos ou necessidades. Ào invés estamos discutindo os antecedentes do
,

desenvolvimento de se tornar consciente de seus sentimentos e desejos (reforçadores)


e como podemos vir a identificá-los e defini-los em primeiro lugar. ,
+

O self 159

Em termos de reforçamento para os vários tipos de comportamento


verbal, tanto o tamanho como a consistência das respostas variará muito mais
no ambiente natural do que nos simples exemplos explicativos que aqui demos .

Em geral, como foi discutido no capítulo sobre emoções , esperamos uma


inconsistência maior e uma confiança indevida em estímulos públicos durante o
desenvolvimento de "eu sinto X", onde X é uma reação emocional, fome, ou
dor, uma vez que essas reações são principalmente privadas e seus aspectos
públicos são sutis. Em outras palavras, mesmo em adultos com pouco ou nenhum
problema de self, seus estados internos podem ser bastante afetados por estímulos
externos (por exemplo, sentir-se feliz em uma festa não sentir fome ou dor de
,

cabeça quando intencionalmente trabalhar além do horário a im de cumprir ,

f
prazos).
" "
Em geral quanto menos respostas
,
eu X a pessoa tiver sobre o controle
privado, maior será a coníusão ou dificuldade que ela terá para responder a
questões que tenham a ver com preferências pessoais, desejos e valores, quando
outra pessoa que estiver presente não for transparente em relação aos seus
"
próprios desejos. Essas questões podem incluir: O que você gosta?", "O que
" "
você quer? ,
"Em que você acredita? e "Quais são seus objetivos?"

2Sensibilidade extrema à opinião dos outros. Sensibilidade extrema


.

às opiniões, crenças, desejos e humores dos outros é outra forma para dizer que
" "
o eu X de uma pessoa que deveria estar sob controle privado, está na verdade
sob controle público. Se o sentido de self de uma pessoa é instável, qualquer
percepção ou crítica pode ser experimentada como devastadora, pois seria
" "

entendido que os eu X criticados são errados e devem ser trocados pelos da


pessoa que criticou. Isso também envolve uma substituição do controle privado
fraco pelo controle de outros. Em alguns casos, a crítica de um dos pais pode ter
significado uma grande mudança em seu humor e, portanto, tornou-se um
estímulo discriminativo para mudanças marcantes no pensar, sentir ou ver
" "
associados com eu X .

A vida é imprevisível, caótica, sujeita aos desejos de outros, sendo, por


tudo isso, aversiva. Um exemplo dessa sensibilidade ocorreu durante uma sessão
de terapia com Irene e o primeiro autor. Eu tentei suavemente discipliná-la,
dizendo de um modo educado e alegre, "Oh, vamos Irene, você pode fazer
"
melhor que isso quando ela estava meio desarticulada em responder as
,

questões. Apesar de não aparentar, Irene me revelou mais tarde ter ficado
arrasada com meu comentário sobre sua pessoa, se retraiu, e queria terminar a
t

160 Capítulo 6

terapia. Se o self de alguém é influenciado principalmente pelo externo, se há


" "
controle sobre o e as respostas "Eu" são controladas publicamente, a
eu X
reação exagerada de Irene faz então sentido.
Uma experiência semelhante ocorreu com o segundo autor e uma cliente
chamada Shelly que estava em terapia há alguns anos. Estávamos num período
sem muito progresso e eu pedi a Shelly para ficar mais ativa na terapia:

T: Gostaria que pensasse nos objetivos da terapia entre agora e a próxima sessão e aí
,

poderemos conversar sobre eles.


4

C: [Parecendo agitada] Não sei o que você quer dizer com isso.
T: Não tenho uma noção muito clara de onde quer chegar, e queria que você tomasse
um papel mais ativo. Algumas vezes sinto que trabalho muito para tirar você de
dentro de si quando você não quer falar.
C: [Lágrimas rolam de seus olhos, levanta da cadeira e tenta sair do consultório] Não
posso aguentar mais isso. Estou fora.
T: Não, Shelly, você não vai a lugar nenhum. Sente-se e vamos conversar sobre isso.
C [Soluçando e tendo dificuldades em falar] Eu não achava que algo estivesse errado. Eu
achei que estivesse melhorando em relação a falar. Não posso fazer o que você quer.
T: Só estou tentando falar sobre formas de fazer a sua terapia melhorar e você age
,

como se eu quisesse te mandar embora.


C: É como eu sinto, e vou deixá-la antes que me deixe.
T: Eu estou muito compromissada com meu trabalho com você, Shelly. Nossa relação
não está de forma alguma em risco. Não é essa a questão. Gostaria de poder pedir
para você falar mais ou ter mais iniciativa sem você ameaçar largar a terapia.

Por Shelly ter um histórico de ser abandonada por pessoas significativas


e sofrer de um self instável, ela reagiu de um modo extremado à minha crítica.
Ela sentiu como se o seu mundo tivesse caído por eu não perceber as coisas da
forma que ela percebia. Devido à minha crítica, Shelly ficou confusa em relação
ao seu eu X e a única opção era adotar a minha concepção. Assim, a terapia
" "

e eu nos tornamos imprevisíveis e ameaçadoras. Em sessões futuras, eu dei-lhe


dicas e a reforcei por ter diferentes percepções de mim sobre quanto ela falava.
Como parte do processo, eu a encorajei a (1) evitar tatear nossas diferenças no
sentido de eu estar certa e ela errada e (2) adotar uma regra de que meu pedido
para fazê-la comportar-se de modo diferente não queria dizer que eu a

1
O self 161

abandonaria se não conseguisse ou não pudesse fazer o que eu pedia (ver o


Capítulo 5 sobre cognição e crenças).
Uma analogia em relação às respostas de Irene e Shelly usando
estímulos públicos mais concretos seria: Pessoa A diz "eu vejo uma manga" e a
"

pessoa B diz Não, seu idiota, aquilo é uma laranja". Se a pessoa A acreditar
em sua própria percepção, tomaria os comentários de B como loucura ou diria
que B é que é idiota. Mas se a pessoa A não confiar em suas próprias percepções
(isto é, se a sua resposta "eu X" não estiver sob sólido cohtrole interno) ela
ficaria zangada e desorientada pois sua percepção de mundo foi julgada como
,

sendo errada.

*
*

Dificuldade em acessar o Verdadeiro Self Espontaneidade e Criatividade


,

Quando o comportamento desenvolver-se sob o controle de estímulos


aversivos, a fonte do controle é experienciada como vindo de fora e a pessoa
não se sente livre (Skinner, 1971). Estímulo aversivo se refere à punição retirada
,

de reforçamento positivo e ameaça de dano e privação. Assim a criança que


,

cresce tentando agradar seus pais pois eles retirarão o amor se ela não o fizer ,

sentir-se-á controlada por outros. Como discutimos anteriormente o uso de


,

estímulo aversivo é quase sempre um exemplo de reforçamento arbitrário e a ,

criança que cresce sob o controle de reforçamento arbitrário irá sentir-se


controlada e manipulada.
Como se diz em nossa cultura, um ato espontâneo é aquele que é
experienciado como despontando de dentro de nós. Por isso, a ausência de atos
espontâneos corresponderia a uma história dominada por controles aversivos.
O "Eu" instável também poderia desempenhar um papel aqui. Assim como é
" "

possível para os querer de "eu quero" serem experimentados como originados


de fora, o mesmo ocorre também com a idéia de "eu tenho uma idéia", ou os
" "

pensamentos de Se esse tipo de controle público estiver presente,


eu penso .

interferirá na experiência de atos espontâneos. Do mesmo modo, a sensibilidade


à crítica que caracteriza o "Eu" instável, poderia limitar a espontaneidade e a
criatividade. Ações espontâneas e criativas são membros de uma larga classe de
respostas que contém peculiaridades, aspectos incomuns, indecêucia,
obscenidade e outras respostas geralmente rejeitadas por outros. Assim, uma
grande sensibilidade às críticas resultaria na raqueza de uma classe inteira de
f

respostas, que incluiria os atos espontâneos e criativos.


162 Capítulo 6

Transtorno de Personalidade Narcisista

De acordo com Kohut (1971, 1977), uma pessoa com transtorno de


personalidade narcisista experiencia as outras pessoas como indiferenciadas do
próprio indivíduo que serve as necessidades do self ou seja, a pessoa narcisista
fantasia um controle sobre outros que é similar ao controle que um adulto exerce
sobre seu próprio corpo. Eles são incapazes de se basear nos próprios recursos
internos e, portanto, criam intensas ligações com os outros.
Há uma equivalência behaviorista de transtorno de personalidade
narcisista que corresponde à descrição de Kohut. Hipotetizamos que os indivíduos
narcisistas crescem em condições típicas para o desenvolvimento de //instáveis
(ou seja, não receberam amor e atenção consistentes às necessidades emocionais,
não foram consistentemente respeitados em suas próprias experiências e pontos
de vista), mas também foram reforçados de maneira limitada ou superficial por
serem charmosos, exigentes, bonitos (geralmente em mulheres) ou poderosos
(especialmente em homens). Uma pessoa com esse histórico (1) não teria o
controle privado sobre o Eu", e assim teria dificuldade em diferenciar os desejos
"

dos outros de seus próprios; (2) apoiar-se-ia indevidamente em reforçadores


externos (por exemplo: admiração, elogios e presentes dados pelos outros) para
ter um senso de self e (3) saberia como controlar e manipular os outros (ou
,

seja através de charme e poder) para tornar as relações mais toleráveis.


,

Miller (1983) propôs uma hipótese interessante sobre as histórias da infância


dos psicoterapeutas. Ela colocou que a sensibilidade às necessidades de outros e o
desejo de ajudar aqueles que estão angustiados, qualidades estas de um bom
psicoterapeuta, são originalmente modeladas e reforçadas por uma mãe narcisista
(os termos modelagem e reforçamento são nossos e não foram usados por Miller).
Obviamente, no caso da criança que cresce e se torna um psicoterapeuta, o grau de
narcisismo é limitado, tanto quanto o é o distúrbio do self.

Distúrbios graves do self


y

Um grande número de respostas "eu X" sob controle público escondem


problemas graves de self. Essa situação é produzida por país que são
inconsistentes em suas próprias reações a estímulos públicos visíveis (por
exemplo: um pai ou mãe esquizoírênicos ouborderline). Com pais tão instáveis,
" "
a resposta eu vejo por exemplo, seria unicamente reforçada quando os seguintes
,
O self 163

Sds estivessem presentes: (1) o estímulo que consiste na orientação pública da


criança a um objeto público; (2) o estímulo da orientação pública dos pais; e (3)
o estímulo dos pais não aparentando estarem preocupados distraídos ou tendo ,

um episódio psicótico. Sob essas condições de aprendizado muito pouco da ,

"
atividade privada de ver controlaria a resposta eu vejo Pelo contrário o ver
"

.
,

da criança seria controlado principalmente pelo humor e orientação pública dos


pais. Sob essas circunstâncias extremas, estando os pais presentes, a criança
veria um peixe apenas se houvesse estímulos públicos bem claros consistindo ,

tanto no peixe quanto na indicação que os pais vêem o peixe.


O "Eu" que emerge sob essas condições é dependente das dicas fornecidas
pelos pais. Como resultado, quando os pais estão presentes, o que é visto, sentido,
desejado, gostado, desgostado e assim por diante, é dependente das dicas dadas
pelo pai ou mãe. Por exemplo, um conjunto de dicas poderia ser o pai aparentar
estar de bom humor, aberto ao mundo estar atento ao que está em redor (os
,

estímulos públicos) e dar indicações de que os desejos da criança serão atendidos.


Então, baseado nas experiências anteriores da criança de "pai de bom humor" ,

" "

um extenso repertório de respostas tais como "estou com fome" e "eu


eu X ,

" "

acabei de ver um pássaro aparecerão e serão reforçadas. O Eu" que emerge


,

nessas condições estará sob controle público; ou seja o sentido ou experiência


,

do "Eu" é dependente de dicas dadas pelos pais. Entretanto quando o pai ou a ,

mãe está com humor diferente desatento, disperso ou mesmo alucinado, um


,

" "

outro repertório eu X é acionado e uma experiência diferente de "Eu",


controlada por estímulos públicos, emerge (p. ex., uma criança que não mostra
necessidades ou sentimentos, ou que é super sensível às necessidades dos pais).
As categorias diagnosticas de personalidade borderline e transtorno de
personalidade múltipla, discutidas abaixo, representam desordens graves do self.

Transtorno de Personalidade Borderline

A declaração "eu me sinto vazio", que é característica de cliente com


diagnóstico de transtorno de personalidade borderline, poderia ser um efeito da
"

relativa ausência de Sds privados que controlam o Eu". Uma vez que querer,
sentir, pensar, etc., quase não estão sob controle privado em casos de patologia
extremados, o locus é primariamente externo e depende do comportamento dos
pais. A localização externa dos estímulos que evocam "Eu" seria experimentada
" "

como despersonalização, e quando esses estímulos externos estivessem ausentes,


a pessoa experimentaria a ausência ou perda do self. Desde que o vazio se/efira
164 Capítulo 6

a alguma coisa que estava contida dentro e agora se foi, a presença e ausência
de estímulos que controlam a experiência do self seria tateado como "vazio".
De acordo com Linehan (1987), um ambiente parental inadequado leva
ao desenvolvimento de uma personalidade borderline. Esses pais, em gerai, (1)
invalidam os relatos que a criança faz das experiências emocionais presentes,
especialmente as negativas (por exemplo, não as ouvem com seriedade,
desconfiam dos relatos, agem como se a criança não sentisse aquilo que reporta);
(2) simplificam demais a facilidade das pessoas de se controlarem
emocionalmente, pensarem e agirem, invalidando assim as experiências da criança
com a dificuldade e a necessidade de ajuda; (3) criticam excessivamente ou
respondem punitivamente quando a criança expressa preferências, valores e
crenças que não reflitam aquelas desejadas pelos pais.
A visão comportamental de Linehan é que invalidação é a falta de
reforçadores positivos aos controles privados de respostas da criança. Segundo
sua descrição (mas com nossas palavras), isso interfere no controle privado de
" " " " " " "

uma larga faixa de respostas eu X como eu quero eu sinto eu preciso


"

, , ,

"
Como já salientado, estas contingências afetam não só a
"
e eu acredito .

experiência do Eu quero", "Eu sinto", "Eu preciso", "Eu acredito", mas também
"

irão afetar a experiência do "Eu" que emerge disso.


y

Para ilustrar este modelo, nos reportaremos a Angela, uma cliente que
descreveu como era fazer compras no supermercado com sua mãe. Ela enfatizou
que na maioria das vezes sua mãe era rude e a rejeitava. Ela se lembra de ficar
sentada no carrinho de compras e sentir-se abandonada e confusa. Em uma das
raras ocasiões em que sua mãe estava gentil e mais acolhedora, entretanto,
perguntou a Angela se ela queria alguma guloseima. Seu sentimento de abandono
4

desapareceu, e ela teve ume repentina consciência das coisas boas que queria e
pediu ansiosamente por uma. Assim, controlada pelos estímulos públicos do
" " "

comportamento de sua mãe, o senso do self, o querer e o "ver" apareceram.


O que observamos no caso de Angela foram os efeitos dos "eu Xs"
controlados publicamente sobre o descontínuo e instável senso de self O caso é
também um exemplo da extrema sensibilidade de Angela aos humores dos outros.
Especificamente uma mudança relativamente pequena no comportamento de
,

sua mãe serviu como estímulo discriminativo para mudanças acentuadas no


" "

pensar, sentir e ver associados ao eu X .

O que é a experiência do "Eu" quando não há alguém significativo


presente? Em ambientes normais, onde o Eu", ao final, aparece sob controle
"
O self 165

"
privado, a experiência do Eu" seria semelhante em todas as situações Em um .

ambiente não-adaptativo, entretanto a ausência dos pais removeria o estímulo


,

"
evocador do Eu", de modo que a pessoa ou perderia a noção de self ou
desenvolveria uma noção de self distinta do self ou dos &selfs* evocados por
outros. A explicação de como esse se/fsolitário" pode se desenvolver está
relacionada ao caso mais geral que abrange o modo como falar consigo mesmo
é reforçado e mantido - um assunto discutido no Capítulo 5 sobre cognição.
,

Baseado nas noções do Capítulo 5 há momentos nos quais fazer certas


,

declarações "eu X" para o self de alguém pode ser válido (reforçador) .
Por
"
exemplo, dizer a si mesmo, eu estou cansado e preciso descansar" pode ser útil
na identificação do momento de descanso. Nesses casos é mais provável que o
,

reforçador seja natural e portanto consistente. O //solitário desenvolvido sob


,

essas condições seria mais consistente e imutável embora pudesse ser menos
,

extenso do que aquele desenvolvido sob uma base mais ampla de "eu X" .

Uma descrição do que pode acontecer com um self ausente quando


solitário, foi dada por Tom, um cliente que geralmente se retrai e se afasta em si
mesmo. Durante esses afastamentos, de acordo com Tom ele pode relaxar e ser
,

ele mesmo. Um dia inteiro pode passar, com pouca consciência do que está
acontecendo ao seu redor. Apesar de parecer que ele tem uma noção pequena do
selfquando sozinho, esse selffoi experimentado como sendo estável não sujeito
,

aos anseios de outros, e portanto, era uma experiência positiva para ele. Em
contraste, ele considerava uma intromissão que atrapalhava este estado quando
tinha que se relacionar com seu terapeuta ou com a sua mulher. Ele lembrou-se
de ter começado a praticar esses afastamentos durante uma infância caótica e
-

continuou a fazê-lo sempre que possível.


A esquiva dessas situações nas quais o "Eu" é controlado externamente
continuaria se, num caso igual ao de Tom, a pessoa somente pudesse icar
f

" "
relaxada quando o "Eu" não está sendo controlado por outra pessoa. Uma
das formas dessa esquiva seria evitar todos os outros e tornar-se um eremita.
Uma forma mais prática seria evitar apenas as relações nas quais os outros
exerçam controle sobre o Eu". De nossa perspectiva, sempre que as reaçÕes
"

dos outros forem importantes fontes de reforçamento, os outros podem controlar


o Eu". Assim, relações íntimas e significativas são evitadas. Como Angela
"

descreveu, ela perdia sua identidade toda vez que ela ou outra pessoa começava
a se importar. Quando isto acontece", ela diz, "é hora de pular fora".
"

De outro lado, muitas pessoas que têm pouco controle privado sobre o
Eu" consideram quase intolerável estar sozinhas. Hipotetizamos que, além das
"
166 Capítulo 6

"
condições de invalidação que interferiram em seu desenvolvimento do Eu" ,

eles também ficaram sujeitos à extrema negligência de não ter as necessidades


básicas atendidas (por exemplo, na fase em que eram crianças muito pequenas,
eles eram deixados com fome. com sede, sujos, com frio e com medo, por longos
períodos). Para essas pessoas, a negligência extrema ocorreu pois seus pais
eram ausentes e/ou desatenciosos. A ausência de self\ por outro lado, também
era evocada por pais ausentes ou desatentos. Sob essas circunstâncias, as
condições que evocavam um selfausente eram assustadoras. Com esse histórico,
eles procurariam por companhias constantes, não apenas para escapar a esse
vazio mas também para evitar o pânico associado às experiências anteriores de
,

negligência.
Não é incomum que indivíduos com pouco ou nenhum senso de self
procurem avidamente tanto a solidão quanto a companhia de outros. Uma cliente
desse tipo, Penny, poderia mergulhar em uma série de encontros casuais para
escapar ao seu vazio interior, mas assim que alguém começasse a se tornar
parte mais significativa em sua vida, ela se sentia zangada e sufocada e afastaria
essa pessoa dela. Esse comportamento fazia sentido já que ela esteve sujeita a
um ambiente insuportável em sua infância, tanto com controles aversivos como
também experiências de abandono e negligência.

Transtorno de Personalidade Múltipla

Transtorno de Personalidade Múltipla (MPD) é o diagnóstico aplicado


ao indivíduo que age como se fosse mais de uma pessoa. Por várias vezes, o
paciente com Transtorno de Personalidade Múltipla pode falar, dramatizar,
lembrar e experienciar o self de formas que normalmente são vistas apenas em
indivíduos diferentes. Nossa opinião acerca da natureza e do tratamento do
Transtorno de Personalidade Múltipla que são apresentados nesta seção, é
majoritariamente baseada no abrangente texto de Putnam (1989).
Apesar de pouca coisa ser conhecida sobre esse complexo e intrigante
transtorno o fator etiológico de trauma na infância é bem aceito. Um estudo,
,

por exemplo, constatou que 97% de todos os pacientes com Transtorno de


Personalidade Múltipla contaram ter tido experiências de traumas graves de
infância (instituto Nacional de Saúde Mental citado em Putnam). Esses traumas
,

incluíam abuso sexual e/ou ísico negligência extrema e testemunho de mortes


f

violentas.
O self 167

O caso clássico de Transtorno de Personalidade Múltipla envolve o


seguinte: durante um abuso grave a criança experimenta deixar a cena ou
,

despersonaliza, algo como uma experiência fora do corpo na qual a criança


percebe seu self flutuando acima de seu corpo ou indo a outro lugar. Mais
tarde , e com frequência, pelo resto de sua vida, os detalhes do abuso são
esquecidos; ou seja, há uma amnésia do abuso. Na literatura disponível sobre
Transtorno de Personalidade Múltipla esse selfque experimenta sair de cena e
,

tem amnésia é conhecido como host. Apesar do host ter se retirado um outro
,

aspecto do self no entanto, está presente e consciente dos detalhes do abuso


enquanto ele está acontecendo. Este aspecto do self é conhecido como alter
(ou alters, já que usualmente existe mais do que um). A consciência de um
alter pelos outros pode existir ou não.
Os repertórios de comportamentos que definem o host e alter(s) têm
muitas características de pessoas distintas. O fato de serem considerados
separados depende da definição de pessoa ou indivíduo. Se essa definição inclui
um único corpo, então, o host e alter não podem ser considerados separados.
Se, no entanto, uma definição comportamental for utilizada, é então possível
considerarmos os múltiplos como pessoas mais ou menos separadas. Uma pessoa
pode ser definida em termos de seu modo característico de agir, incluindo-se aí,
os estilos de falar e de relações interpessoais, assertividade habilidades especiais
,

(exemplo: um impressor, um médico), memórias (lembranças), bem como seus


reforçadores (interesses, valores, preferências, etc). Mais ainda, uma experiência
pessoal individual do self inclui continuidade, uma consciência perdurável, e
um originador de ações. Em outras palavras, uma pessoa experiencia seu self
como o locus onde ver, ouvir e lembrar ocorrem. Esse locus é diferenciado de
pessoa para pessoa. Do ponto de vista comportamental, o host e alters podem
ser, assim, considerados pessoas distintas, na medida que têm características de
comportamento de pessoas distintas. O fato de ser pelo menos possível para um
alter saber das experiências privadas do host, entretanto, é uma característica
comportamental que não é encontrada em pessoas distintas.
A natureza da personalidade individual do host e alter é dramaticamente
ilustrada quando um alter é violento ou persecutório. Putnam relata que muitas
tentativas sérias de suicídio (e presumivelmente alguns suicídios) são resultado
de um comportamento homicida de um alter dirigido ao host e/ou outros alters.
De outro modo, alguns alters possuem somente umas poucas características de
uma outra pessoa, e são conhecidos, na literatura sobre Transtorno de
Personalidade Múltipla como fragmentos de personalidade. Por exemplo, o alter
168 Capitulo 6

pode ser um bebé com um repertório muito limitado. Para os clínicos que não
tiveram experiência direta com o Transtorno de Personalidade Múltipla, talvez
seja difícil aceitar a noção de que um alter (ou seja, uma pessoa cuja
individualidade é definida por seu comportamento) pode ser experienciado por
outros (o terapeuta) como pessoa distinta. Ambos os autores tratam clientes
com Transtorno de Personalidade Múltipla e podem corroborar com os relatos
de outros clínicos de que o host e alters são requentemente experienciados

f
como indivíduos diferentes. É condizente com o ponto de vista comportamental
que, em muitos casos, são pessoas diferentes.
A possibilidade de que o Transtorno de Personalidade Múltipla possa
ser disfarçado deve também ser considerada, e há casos documentados desse
fenómeno. Foi também sugerido que o Transtorno de Personalidade Múltipla é
um transtorno iatrogênico, ou seja, terapeutas que procuram dramas e
características teatrais no Transtorno de Personalidade Múltipla podem
inadvertidamente sugerir e reforçar esse comportamento em seus clientes. Mesmo
que não seja diretamente sugerido ou encorajado, tratar esses alters como pessoas
distintas libera contingências para manter essa separação. Um certo apoio para
o papel das contingências no Transtorno de Personalidade Múltipla foi
demonstrado por Kohlenberg (1973) o qual mostrou que as várias personalidades
,

de um paciente apareciam e desapareciam conforme eram reforçadas para tal.


Apesar de termos que considerar as contingências iatrogênicas e de ingimento
f
,

evidências sugerem que a maioria dos casos de Transtorno de Personalidade


Múltipla não são evocados para o benefício do terapeuta. Em particular, o
diagnóstico do transtorno e a descoberta dos alters frequentemente ocorrem
depois de 5 anos ou mais de terapia. Já que o valor adaptativo do Transtorno de
Personalidade Múltipla está intimamente relacionado ao segredo e à decepção ,

pode ser possível que muitos ou mesmo a maior parte dos casos nunca sejam
diagnosticados.

A Avaliação Comportamental do Transtorno de Personalidade Múltipla.

Exploraremos a aplicabilidade de nossa concepção comportamental do


self aos vários fenómenos de Transtorno de Personalidade Múltipla. Esses
fenómenos incluem os repertórios distintos de comportamento e a experiência
do selfque caracteriza o Transtorno de Personalidade Múltipla Uma avaliação
.

do Transtorno de Personalidade Múltipla deveria mostrar também porque a


O self 169

reação ao estresse ocorre somente na infancia e apontar possíveis diferenças


individuais que expliquem o porquê do transtorno não se desenvolver em todas
as crianças gravemente traumatizadas.
Entendemos que antes do trauma, a criança já havia desenvolvido
,

repertórios de comportamento que a predispunham ao Transtorno de


Personalidade Múltipla. Então no momento do trauma, esses repertórios são
,

acionados e o Transtorno de Personalidade Múltipla se desenvolve.


Primeiro, o self, no momento do trauma não está completamente sob
,

controle privado. De certo modo, a teoria do self apresentada neste capítulo é


uma teoria de como experienciamos nosso self enquanto pessoas individuais ,

antes de tudo. Até o instante em que os estímulos privados controlem o "Eu" ,

algumas características do indivíduo (a personalidade única) não emergem.


Especificamente, a criança tem uma experiência relativamente pequena do self
como (1) contínuo, (2) originador de ações, e (3) uma consciência permanente
que vê tudo. Para que esses estados ocorram, os pais devem reforçar
" "
consistentemente as respostas eu X para que o locus ganhe controle. Antes
desse processo normal se completar, uma grande variedade de experiências do
selfs&o possíveis,
A

Como a criança em desenvolvimento é mais propensa a mudanças na


experimentação do self a norma é o se/fflutuante. Por exemplo, quando abraça
seu pai, a garotinha pode estar quieta, controlada e passiva, mas quando está
com outras crianças, ela se transforma. Ela pode tornar-se agitada, descontrolada
e agressiva. Não só esses repertórios observáveis podem mudar, mas a criança
também poderá experienciar esses selfs como separados (cujo limite será de que
"

a experiência do seu Eu" fique sob o controle público). Acreditamos que essa
" "
atividade de ser outra pessoa é facilitada por essas experiências normais da
infancia de selfs separados.
A atividade de ser outra pessoa é geralmente observada em crianças.
Elas brincam de fingir que são adultas, médicos, bruxas, pais e mães. Elas estão
expostas aos estímulos públicos de ver seus pais em ação, tomarem parte como
leitores numa história, ou vendo personagens de desenhos animados na TV.
Esses personagens são estímulos públicos que modelam o modo como a criança
irá agir, sentir e ver. Com uma pequena deixa e encorajamento, a criança
geralmente adota esses papéis. Em qualquer shopping-center, as crianças podem
ser vistas vestidas com a capa do Batman e pulando de bancos, correndo em
roupas de cowboy, ou fazendo barulhos de aviões. Essa parafernália mostra
170 Capítulo 6

como os pais geralmente induzem e reforçam esta atividade. Apesar dos adultos
também poderem "participar em ser outra pessoa", estamos afirmando aqui
que esta experiência é diferente nas crianças. Como a criança tem um self
mais maleável, a experiência é mais real no sentido de que um conjunto maior
de atividades "eu X" pode também ser afetado. Ou seja, a criança pode
realmente experienciar a sensação e a imagem visual de ser grande, forte e ágil
como o Batman (o cliente com Transtorno de Personalidade Múltipla pode na
verdade ver pessoas diferentes quando se olha no espelho, dependendo do
alter presente). Em contraste, o ator adulto está em maior contato com um
senso estável de self e com experiências visuais que o lembram que é uma
pessoa comum que está representando o papel de alguma outra.
Outras contingências podem ajudar a manter o ser outra pessoa. Um
garoto pode ser encorajado diretamente pelos pais a agir como outra pessoa
"

quando lhe dizem Saia e aja como um homem". Ser outra pessoa também
parece ser reforçado em brincadeiras de crianças como polícia e ladrão. Mas, o
que é relevante a este tópico é que ser outra pessoa também pode ser reforçado,
porque reduz a aversividade da punição. Por exemplo, se uma criança é mandada
a seu quarto, e lá finge ser o Super Homem, isso pode distraí-la da condição
aversiva que a levou a estar no quarto. Tenha em mente que a atividade de ingir

f
"
por uma criança, cujo Eu" continua controlado por estímulos públicos pode ,

transformar a experiência básica do que é visto ou sentido.


A maleabilidade do self que se molda de acordo com as exigências dos
estímulos públicos, é também demonstrada pela suscetibilidade crescente à
sugestão, que é encontrada em crianças. As crianças como um grupo, são muito
,

mais hipnotizáveis que os adultos (Putnam 1989, p. 52). Entendemos a condição


,

de ser hipnotizável como responsividade ao controle público em detrimento


daquilo que é visto e experienciado (ou seja, sugestões hipnóticas em forma de
" " "

você sente seus olhos pesados, muito pesados ,


"
você está ficando com calor ,

"
você vê uma estrela brilhando sobre você e ela está ficando maior e mais
brilhante"). Conforme a criança vai crescendo há uma relativa diminuição do
,

controle pelo estímulo público o self é mais estável, e a possibilidade de ser


,

hipnotizável diminui.
Em termos do papel do trauma quando um evento altamente aversivo
,

ocorre repetidamente a criança é motivada a fugir e esquivar-se. Como fugir


,

ou enfrentar o abusador é perda de tempo outros repertórios de fuga e esquiva


,

podem emergir. Ser outra pessoa pode ser um desses repertórios; ou seja, se a
criança experimenta ser outra pessoa pode ser funcional fazer isto no momento
,
O self 171

do trauma, isso é particularmente verdadeiro se o fato de ser outra pessoa já


tiver sido efetivo para reduzir a aversividade (como no exemplo do garoto
mandado ao quarto como castigo). Além da redução da aversividade através
da distração, o personagem que a criança inge ser poderia ajudá-la a evitar a

f
aversividade, tendo uma consciência limitada (como um bebé) ou aumentando
a tolerância à dor (como Super Homem).
Ser outra pessoa durante o trauma seria particularmente adaptativo se
o host não se lembrasse do que aconteceu (amnésia). Como discutimos no
Capítulo 4, lembrar é um comportamento que é sujeito às suas consequências
como qualquer comportamento operante. Mesmo sem ser outra pessoa eventos
,

traumáticos geralmente não são lembrados. O lembrar é facilitado pelo contato


com o estímulo relacionado ao evento que está sendo lembrado. Não lembrar é
ajudado pela esquiva daquelas situações relembradas. Ser outra pessoa que vê
de modo diferente do que o primeiro self, de fato, transforma os estímulos que
são vistos e assim, evita contato com os estímulos relacionados ao evento que
está sendo relembrado. Isso, por sua vez, facilita a amnésia. Talvez a função
primária de ser outra pessoa durante o trauma é a de facilitar a amnésia nesses
casos.

Tornar-se outra pessoa durante o trauma e depois reverter e não lembrar


,

tem o efeito de isolar o evento traumático. Se a amnésia não acontecesse, então


os efeitos do trauma seriam mais intrusivos na vida cotidiana da criança, sendo
este o caso do transtorno de stress pós-traumático de adultos. Assim, a criança
teria temores e evitaria o abusador e tudo o mais que tivesse alguma ligação
com o trauma. Esse tipo de esquiva não seria adaptativa pois costumeiramente
o abusador é um dos pais ou alguém muito próximo. A criança é então dependente
do abusador e deve viver no ambiente onde o abuso ocorreu. Ao invés, com o
isolamento do trauma, a criança pode até mesmo ser amável e afetuosa com o
abusador na maior parte do tempo e assim receber a atenção necessária à sua
sobrevivência.

Uma vez ocorrido o isolamento do trauma, o desenvolvimento do self é


ragmentado. Em oposição a um crescimento dos controles privados de um único
f

"
Eu", há mais de um "Eu" que pode ser controlado por diferentes estímulos
privados, e pode haver mais de um locus ou perspectiva. Em adição ao locus do
Eu" para o host, pode haver diferentes locus onde a visão do alter ocorra.
"

Essas fontes múltiplas de controle sobre o "Eu" podem vir a influenciar a


experiência da localização do self Essa situação pode contribuir ainda para as
experiências fora-do-corpo contadas por clientes com Transtorno de
172 Capítulo 6

Personalidade Múltipla, as quais geralmente são comparadas a assistir a um


ilme ou olhar seus corpos do alto. Essas experiências separadas do host e alters
f

permitem o desenvolvimento independente de qualquer aspecto dapessoa. Assim,


cada alter pode ter seus próprios desejos, gostos, vocabulário, experiência de
self, experiências visuais, etc. Alguns alters podem ser estáticos em seu
desenvolvimento, devido ao seu contato limitado com o mundo e permanecem
com a mesma idade de quando foram formados pela primeira vez. Outros alters
estão em maior contato com o mundo e transformam-se ou amadurecem com a
experiência.

Características do tratamento de Transtorno de Personalidade Múltipla.

O modo como o terapeuta deve se relacionar com os alters é um assunto


importante no tratamento e leva a conflitos de aconselhamento. Por um lado,
Putnam (1989) enfatiza que as personalidades dos alters não são pessoas
separadas e devem sempre ser tratadas como partes de um mesmo indivíduo.
Por outro lado, quando Putnam dá detalhes do tratamento, a verdade parece ser
o oposto. Por exemplo, ao detalhar procedimentos do tratamento, Putnam
encoraja o terapeuta a perguntar aos alters seus nomes, a averiguar como um
controla o outro, a não ter favoritos e a pedir para todos prestarem atenção
quando o terapeuta tem uma importante declaração a fazer.
Existe uma boa justificativa, no entanto, para cada um dos enfoques
contraditórios em relação aos alters. Por um lado, o tratamento objetiva uma
integração ou unificação. Tratar os alters como pessoas separadas mina este
objetivo. Mas, por outro lado, existe uma parte da terapia que necessariamente
envolve acessar os alters secretos, e eles permanecem secretos, a não ser que
"

sejam tratados como pessoas separadas. Sizemore (1989), que é a Eva" do


famoso "As 3 Faces de Evtf \ descreve a importância da aceitação clínica dos
"
alters como reais: Com os clínicos enxergando os alters de pacientes com
Transtorno de Personalidade Múltipla como partes, ragmentos ou ilusões, mas
f

os pacientes enxergando os seus alters como outras pessoas, a comunicação


"
sofre uma quebra (p. 267). Nosso modelo conceituai de comportamento parece
oferecer um caminho a este dilema e ainda aponta algumas direções terapêuticas.
Em termos de comportamento os alters são mais ou menos pessoas
,

separadas. Portanto eles devem ser tratados na terapia de acordo com o tipo de
,

pessoa que são. Um alter que descreve a si mesmo como tendo 6 anos seria
tratado de forma diferente de outro que se diz um adolescente. O objetivo do
O self 173

tratamento é trazer os alters a uma maior conscientizaçao das experiências um


do outro. Geralmente este processo é altamente aversivo e evoca esquiva; ou
seja, contar ao host que ele tem múltiplas personalidades provoca ansiedade ,

porém esta ainda é menor do que contar os detalhes das experiências dos alters.
Assim como na terapia familiar, paciência e precaução devem ser tomadas a ,

fim de fazer os alters revelarem seus pensamentos mais íntimos e discuti-los


com os outros alters. Isso 6 bastante verdadeiro nos Transtornos de Personalidade
Múltipla, pois a razão pela qual os alters surgiram era para esconder algo. No
decorrer da terapia, o terapeuta deve oferecer ajuda ao alter do mesmo modo
que ofereceria a qualquer outro cliente. A atenção ao CRB é sempre importante.
Claro que o maior CRB1 é a falta de consciência e os repertórios distintos que
são característicos do Transtorno de Personalidade Múltipla. Outro CRB1 é
uma raiva voltada ao terapeuta por um alter que também está nervoso com
outros alters e com outras pessoas na vida cotidiana. A medida em que os alters
melhoram e aumentam sua consciência uns dos outros, o terapeuta pode ir
retirando gradualmente seu papel de mediador. Com o tempo, o repertório dos
alters vai se homogeneizando, e o comportamento do cliente se torna mais o de
uma pessoa individual. A terapia é considerada bem sucedida quando esses
clientes têm uma vida cotidiana satisfatória, mesmo que não experienciem um
self único como a maioria das outras pessoas. Sizemore (1989) descreve sua
"

experiencia pos-terapia da seguinte maneira: Mesmo alguns termos como


unificação e integração parecem reforçar uma visão artificial do self. Pois, embora
o paciente integrado com Transtorno de Personalidade Múltipla possa aceitar
esses termos clínicos de uma forma intelectual, este paciente ainda possuirá o
que é melhor descrito como uma convicção inconsciente: Antes eu era muitos.
Agora, sou um. Mas não sou um quebra-cabeças montado" (p. 267). Ou, como
sugeriu Putnam, a experiência pós-terapia de Transtorno de Personalidade
Múltipla pode ser igual àquela de uma sociedade ou uma corporação. Na
conferência internacional anual de Transtorno de Personalidade Múltipla e
transtornos dissociativos, em Chicago, o segundo autor ficou particularmente
comovido com uma terapeuta com Transtorno de Personalidade Múltipla que
falou em um workshop sobre suas experiências de cura. Ela disse que estava
agora integrada, mas todo dia ela meditava e visualizava cada um de seus alters,
dizendo a eles, "Eu nunca esquecerei vocês, e nunca os abandonarei."
174 Capítulo 6

IMPLICAÇÕES CLINICAS

Em termos gerais, clientes com problemas amplos de self iniciam o


tratamento de uma forma cuidadosa, desconfiados, extremamente atentos e
interessados na opinião do terapeuta sobre eles, e não descrevem sentimentos,
crenças, desejos, do que gostam e do que não gostam, de maneira confiante.
Todos esses comportamentos provavelmente são CRB1, e indicam uma falta
de controle privado sobre estímulos internos. Se o tratamento é bem sucedido,
os comportamentos nas sessões se tornam confiantes, e incluem CRB2s de
descrições livres de pensamentos íntimos, sentimentos, desejos, e crenças,
A descrição do comportamento do cliente, que foi exposta no parágrafo
anterior, poderia passar pelo problema geral do cliente e pelo esforço
psicoterapêutico geral. Essa observação combinada com a literatura sobre o
desenvolvimento e tratamento de problemas de self provavelmente reflete a
prevalência de problemas do self Já que uma fonte básica das dificuldades do
cliente é a falta de controle privado, o tratamento feito por um terapeuta que é
" "
acolhedor, responsivo e que encoraje a expressão ou declaração de sentimentos
poderia naturalmente prover as contingências para o fortalecimento do controle
privado. Este ambiente terapêutico genérico é o antídoto para o ambiente familiar
pouco válido que falhou no reforçamento do controle por estímulos privados.
Ainda mais, nosso modelo comportamental leva a algumas sugestões específicas
(discutidas abaixo) que podem alavancar a psicoterapia mais geral.
*

Reforçando a fala na ausência de dicas externas específicas

Em clientes com problemas de self muito de seu comportamento está


sob o forte controle de estímulo de terceiros. Parecem ser vigilantes e estão
focados intensamente no terapeuta observando cada nuança de sua expressão
,

facial e inflexão de voz. Apesar de não ser muito óbvio no início quase tudo o
,

que o cliente fala sobre si mesmo e sobre seus sentimentos e pensamentos pode
estar muito influenciado pelo controle discriminativo do terapeuta. O
procedimento terapêutico que descreveremos almeja a perda desse controle
através do encorajamento e reforçamento da fala na ausência de sugestões
externas específicas. Em outras palavras o tratamento consiste em reforçar os
,

CRB2s de "eu X" controlados internamente os quais também auxiliariam na


,

emergência do controle privado sobre "Eu" ao inal.


,
f
O self 175

Uma maneira de ajudar os clientes a estabelecerem o controle privado é


usar a ferramenta psicanalítica da passividade não estruturar cada momento da
,

sessão com questões. Isso certamente irá aumentar as chances de evocar CRB2
" "
-

reações eu X sob controle privado. Ao menos nos estágios iniciais do


tratamento, esse tipo de estratégia é problemático por dois motivos Primeiro
.
,

ele pode evocar um forte CRB1 de esquiva acompanhado de reações


extremamente emocionais que, em último caso resultariam no abandono do
,

tratamento pelo cliente. Tivemos numerosos clientes reclamando asperamente


sobre falhas em tratamentos anteriores, devido à passividade de seus "ex-
terapeutas".

Segundo, essa tática impede o terapeuta de reforçar um CRB2 caso ,

"

este ocorresse. Por exemplo, o cliente poderia dizer Eu não suporto mais isso".
Esse tipo de declaração é uma resposta "eu X" que deveria ser reforçada pelo
terapeuta ao ouvi-la seriamente enquanto que a manutenção da passividade
,

provavelmente não seria reforçadora. Um terapeuta mais ou menos passivo,


' ,

entretanto, seria justamente o que o médico receitou num estágio mais avançado
,

da terapia quando os clientes já tiverem feito alguns progressos na conquista de


" "

um selfou de um repertório de respostas eu X privativamente controlado. No


outro extremo, um terapeuta altamente ativo que evita evocar a ansiedade dos
clientes, fará com que o cliente sinta-se e comporte-se bem durante a sessão ,

mas impedirá a probabilidade de ocorrência dos CRB2s. Uma terapia ideal


seria aquela altamente estruturada no começo e que gradualmente vai se tornando
desestruturada, conforme o progresso do cliente.
Para ilustrar estes pontos, vamos tomar um cliente de nome Terry como
exemplo. Durante os meses iniciais de terapia com o primeiro autor, Terry se
concentrou principalmente em seu tratamento médico e nos remédios que usava
para controlar seus sintomas psicossomáticos. Quando eu formulava questões
mais gerais sobre humor ou qualquer outro estado emocional, Terry icava ansioso
f

e bloqueado. Primeiramente, eu o ajudava sugerindo uma resposta específica


baseada em estímulos públicos específicos. Por exemplo, quando um novo e
grave sintoma médico apareceu, que era similar a um outro que resultou na
morte de um parente, eu sugeri que Terry estivesse sentindo medo, ou seja, eu
dei um estímulo público dizendo "medo". Isso é muito parecido com o que os
pais fazem quando concedem aos seus filhos tatos para emoções. Numa fase
inicial do tratamento, eu fiz muitas sugestões parecidas de sentimentos
específicos para situações específicas. Gradualmente, nos meses que se
passaram, a especificidade foi sendo reduzida. Melhor do que continuar a dar
t

176 Capítulo 6

um sentimento específico, eu lhe dava uma lista para escolher (por exemplo ,

dor, medo, raiva, desapontamento, irritação ou frustração). Em outras palavras,


eu estava ainda apontando uma resposta baseada em estímulo público, mas a
especificidade do estímulo foi ampliada. Terry estava seguro de que não seria
" "

punido por responder, uma vez que lhe era dada uma resposta aprovada no
"

primeiro caso, e uma lista" de respostas aprovadas no segundo. A idéia central


era a de que a estrutura fosse sendo gradualmente reduzida a fim de permitir
que mais estímulos privados ganhassem o controle.

Combinar tarefas terapêuticas com o nível de controle interno no repertório


do cliente

A fim de variar a quantia de controle público sobre o comportamento


do cliente, usamos uma variante de associação livre como técnica. Assim como
a estratégia geral do terapeuta pode variar de passiva a altamente estruturada a ,

tarefa de associação livre pode ser apresentada com mais ou menos estrutura .

Quando usada na FAP, a primeira intenção da associação livre não é a de descobrir


significados escondidos ou fazer uso do seu conteúdo apesar deste ser algumas
,

vezes relevante. Ao invés disso , é o comportamento da associação livre que


interessa. Na sua forma mais desestruturada as instruções da associação livre
,

"
são: Diga-me tudo o que lhe vem à mente - todos os sentimentos pensamentos
,

e imagens. E importante não censurar nada. Relate tudo o que vier mesmo que
,

pense que é banal, trivial, embaraçante, não importante, etc". Pedimos ao cliente
para que continue isso sem feedback do terapeuta e até podemos pedir para que
faça isso sentado de modo que o terapeuta ique fora de seu campo visual.
,
f

Nossa visão desta tarefa é que ela requer falar com a outra pessoa (o
terapeuta) com um mínimo de sugestões externas provenientes do ouvinte Sob .

essas condições é possível ao cliente dizer "eu sinto X" ou "eu vejo essa imagem"
,

sob condições que favorecem o controle pelos estímulos privados Como podemos
.

ver no próximo caso os clientes com problemas extensivos de selfficam muito


,

ansiosos e não conseguem realizar esta tarefa devido a uma falta de estimulação
,

pública. Eles podem realmente experimentar "uma perda do self' na ausência


de dicas do terapeuta. Um fenómeno parecido ocorre quando o terapeuta
comportamental usa técnicas de relaxamento ou meditação e sente que seu
cliente fica altamente ansioso quando a tarefa é muito desestruturada Então, .

quando usamos a associação livre durante a FAP, são geralmente empregadas


O self 177

variações do formato clássico não-estruturado. Vários tipos de tarefas de


associação livre são usados e envolvem um aumento gradual do grau de controle
privado. As tarefas iniciais são de completar frases e de associar palavras.
Depois, são introduzidas tarefas envolvendo imaginação mental e auto-
observação de respostas privadas.
Uma variação mais estruturada de associação livre é a tarefa do "cinema
"
em sua mente .
Pedimos aos clientes para fecharem os olhos e imaginar que
estão sentados num cinema. Primeiro são instruídos a ver uma tela branca em
suas mentes. Então, quando o filme começa, a primeira cena é estipulada para
ser a do cliente e o terapeuta sentados no consultório naquele exato momento.
Depois, o filme é descrito como voltando para trás, com o cliente andando para
fora do consultório e de volta a seu carro. O filme então começa a correr cada
vez mais rápido, virando um borrão. Pedimos ao cliente para visualizar o borrão
que pára de repente e pedimos a ele para descrever a cena. Seria importante, é
" "

claro, reforçar qualquer resposta eu X pois elas provavelmente estão sob


,

pelo menos um pequeno controle privado. Há uma enorme variedade dessas


tarefas imaginativas, usadas na terapia gestáltica, psicossíntese e hipnoterapia,
que podem ser adaptadas para a FAP.
Outra adaptação da associação livre envolve o uso de um computador e
um processador de textos. Pedimos ao cliente para digitar qualquer coisa que
lhe venha à cabeça sem censurar nada. Uma vantagem neste método é que ele
mesmo dá forma ao processo. Primeiro, é dada a chance ao cliente de apagar ou
arrumar qualquer coisa antes que o terapeuta veja. A fim de reforçar a fala
(digitação) na ausência de estímulos públicos, o terapeuta, sem fazer críticas,
revê o arquivo durante a sessão. Com o tempo, o cliente é encorajado a apagar
o menos possível.
O princípio de combinar tarefas terapêuticas com o nível de controles
internos do cliente será ilustrado com o caso de Fred, um ísico de 34 anos. Ele
f

se sentia esmagado pela ansiedade quando era criticado ou rejeitado, tanto no


nível pessoal como nas relações de trabalho. Quando criticado ou ao temer ser
criticado, ele desaparecia, se isolava e não cumpria com suas responsabilidades.
Obviamente, esse comportamento resultou em problemas no emprego, ainda
que estivesse inconsciente de ter causado algum problema. Além disso, Fred
geralmente era retraído e evitava contato humano. Ele tinha dificuldades em
" "

saber como se sentia; ou seja, faltavam-lhe respostas eu sinto X que estivessem


"

sob controle privado. Fred fora chamado de


"
alexitímico (ou seja, incapaz de
178 Capítulo 6

expressar sentimentos) por um terapeuta anterior. Previsivelmente, Fred


lembrava de seus pais como sendo frios, exigentes, explosivos, desaprovadores
e pouco afetivos.
Em sessão com o primeiro autor, foi dada a Fred uma versão de
associação livre com tempo limitado:
T: O que faremos aqui: eu lhe pedirei para fechar os olhos e então, tudo o que quero é
que me conte que tipo de imagens ou sentimentos ou pensamentos ou memórias lhe
vêm à mente. Se você vê uma imagem manchada, apenas diga "Estou vendo qualquer
,

"
coisa manchada Você me conta rapidamente o que aparece, mesmo que nada
.

venha à sua mente.

(O cliente é induzido a dar respostas "eu X", e lhe é assegurado que qualquer
resposta é válida.)
C: Ok. (Uma longa longa pausa) Terrível (meio rindo).
,

(Fred não faz conforme o solicitado.)


T: O que está havendo?
C: Eu, eu simplesmente não consigo (Uma longa pausa). Quer dizer eu não consigo,,

não consigo me concentrar é realmente embaraçoso, você sabe, eu deveria ser


,

capaz de fazer isso.


*

T: Qual foi a sua experiência ao fechar os olhos o que aconteceu? ,

C: Quero dizer, é como se nada nada, sei lá, entende.... ,

(Ele está descrevendo um evento privado - nada aconteceu.)


T: Um branco total , total?

(Provavelmente esta não era a melhor resposta para reforçar o comportamento


privativamente controlado.)
C: É.

T: -Bem , tudo bem. Quero que me diga o que é nada. Você também disse que era
terrível , então, em algum momento você deve ter se sentido assim também, certo?

(Uma tentativa de remediar a possível punição na resposta anterior por dizer que
4

"
estava tudo bem em reportar uma mente em branco. Também uma dica de Eu me
"
sinto terrível baseada na presença de estímulos públicos - seu comentário
"terrível" .
)
C: É

T: Então , o que faria é dizer algo como Eu não vejo nada" assim está bem, e
"

,
"
Eu me
O self 179

sinto terrível
ou estou me sentindo ruim porque deveria ver alguma coisa." Veja, o
,

que estou pedindo para relatar é tudo o que está acontecendo, imagens ou nenhuma
imagem como se sente e o que diz a si mesmo sobre isso.
,

(Dando dicas de "Eu X".)


C: Eu acho que o que está acontecendo é eu tenho que ser capaz de recuar um pouco,
,

quero dizer, eu até tento e mesmo assim tenho problemas com isso.
(Fred indica o quão difícil é a tarefa. Eu entendi o comentário em relação a recuar
como sendo um tipo de resposta de consciência do self Mas também entendi
.

como um mando disfarçado para que eu recue.)


T: Você está tendo problemas para recuar e me contar sobre isso?
C; Certo. É [pausa], você sabe, ser um observador nessa situação.
T: Então quando seus olhos se fecham é como se você estivesse tendo essa experiência ,

e não pode fugir dela, é isso o que está dizendo? Você não pode se ver tendo essa
experiência?
C: Certo.

T: Ok. Você está disposto a fazer isso? Quer continuar com os olhos fechados por 5
minutos e eu não direi nada a você. O que você vai fazer é experimentar o que está
experienciando e depois tentar me dizer sua experiência. Então, pode icar em
f
silêncio por 5 minutos de modo a se sentir preparado para isso. Talvez 5 minutos
seja muito tempo; diria 2 minutos. Vamos fazer por 2 minutos. Então, quer tentar
dois minutos?

(Reestruturando a tarefa. Uma vantagem de ver a tarefa como instruções para


evocar respostas privativamente controladas é que o terapeuta pode modificar isso
como bem entender, a qualquer momento, a im de auxiliar a atingir o objetivo.)
f

C: Ok. Eu acho [pausa], que parte do problema que tenho, intuitivamente é que não
quero perder o contato com você.
(Esse comentário revela como é importante para Fred ter o feedback de outro, de
modo a realizar a tarefa que supõe-se deveria estar sob controle interno. Note
também que é um CRB3, uma importante e rara descrição das variáveis
controladoras da esquiva e ansiedade em Fred.)
T: Quando você ica fora de contato, então você ica ansioso?
f

C: Sim, acho que ficaria pior. Quanto mais durar isso.


T: Faz sentido. Faz sentido para mim. E para você?

(Faz sentido para mim como um behaviorista radical que tem uma teoria sobre
como pais invalidadores afetam o controle sobre estimulação privada e pública.)
180 Capítulo 6

C Não muito.

(Quase 5 minutos de conversa)


C: O que significa contar a você? Faz sentido para você mas não estou muito certo de
,

que faz sentido para mim.


T: Bem, tem a ver com o fato de que sou uma pessoa significativa para você E acho .

que isso demonstra um medo básico que você tem em relacionamentos com pessoas
significativas para você. Acho que você necessita ver as reações das pessoas pois
se você confiar apenas na sua impressão verá tudo de forma errada e estará em
,

apuros.

(Estou tentando uma interpretação comportamental que descreve os problemáticos


estímulos discriminativos [Sds] incluindo outras pessoas significativas a história
,

de reforçamento envolvendo punição para controles privados e a esquiva de punição


4
,

por estar sob controle público.)


C: É, acho que sim.
T: Eu acho que esse é o jeito de descrever isso em termos que fazem sentido .
Mas
saber disso não acho que irá ajudá-lo acredito que seja inconsciente. Quero dizer,
,

acho que se sente assim e acho que isso reflete sua história.
,

(Aqui estou colocando a interpretação e o "conhecimento" nos seus lugares, como


auxílio no comportamento governado pela regra e reconhecendo a natureza do
problema modelado pelas contingências.)
C: É, eu concordo.
T: Mas eu veria isso como muito importante para você tentar superar esse problema
(a necessidade de estar em contato).
f

C: E. [Pausa] Estou tentando descobrir um jeito de contornar o problema (a necessidade


de estar em contato). Você sabe eu acho que estou mais consciente das barreiras.
,

Estou icando mais e mais consciente disso Eu acho que é uma grande barreira
f

.
,

bem, minha cabeça diz que tenho que refazer o meu caminho em torno disso ou
descobrir uma solução.

(Fred descreve seu aumento de consciência das experiências privadas da barreira.


A barreira dá uma indicação da intensidade do sentimento gerado pela falta de
estímulo público.)
r

T: E, era o que eu estava pensando também .

O Bem , se fizermos isso aos poucos, talvez aumentando o tempo, e depois se eu


explicar o que lembrar e sem editar depois...
,

(Aqui está um CRB2 de sugestão de uma solução para a barreira, ao invés de sua
dissociação.)
O self 181

T: Certo. Podemos tentar uma vez por 15 segundos?


C: Claro.

T: Ok. Comece (Uma pausa de 15 segundos) Fim do tempo.


.

C: [Pensativo] A barreira definitivamente permanece eu acho.


,

T: O que aconteceu quando você estava de olhos fechados?


C: Eu realmente não ive
quero dizer, novamente, esse branco, quero dizer, esse borrão,
t

mas é como se houvesse alguma coisa lá girando humm, talvez meu nível de
,

ansiedade não estava muito alto.


/

(E um relato "eu X", o relato mais elaborado de Fred da experiência imaginária


até aqui.)
(Alguns minutos depois.)
T: Então, esse processo pelo qual passamos nos últimos minutos não foi algo com o
qual você estivesse acostumado. É o seguinte, eu tinha uma expectativa que era
muito alta para você. Você ficou muito ansioso em relação a isso conversamos
,

sobre isso, e chegamos a uma tentativa diferente que se adequasse mais ao seu
nível. E você conseguiu melhorar na tarefa de imaginação. Esse processo não é
nada em comparação com o ocorrido entre você e seu pai. Isso está também
relacionado a alguma coisa que acontece no trabalho. Eles lhe pedem para fazer
algo, e se você não consegue, você simplesmente congela de medo.
(Seguindo a Regra 5, eu fiz uma interpretação baseada em eventos recém ocorridos .
A situação história, comportamento e consequências são dados relacionados com
,

a vida cotidiana.)
C: É verdade. Eu acho que sinto que fiz um pequeno progresso.
T: Certo, eu também acho isso.

Em suma, quatro ajustes tiveram que ser feitos para tarefas de


imaginação ou de associação livre emprestadas de outras terapias. Primeiro,
elas devem ser apresentadas ao cliente como tarefas cujo valor é derivado do
processo (isto é, imaginar e descrever na presença do terapeuta). Idealmente, os
clientes deveriam ser informados, em termos fáceis de entender, de que o
importante na tarefa é que evoquem CRB2s sob controle privado. Segundo, a
tarefa deve ser selecionada ou modificada de modo a variar no grau de controle
privado requerido, para combinar com o nível de repertório do cliente. Por
" "
exemplo, a tarefa do cinema poderia começar com a apresentação de uma tela
sem imagem ou poderia ter um tempo limitado. Terceiro, o cliente deve ser
182 Capítulo 6

" "

reforçado ao fazer declarações eu X


Se necessário, induzir declarações "eu
.

"
X como ilustrado no caso de Fred, também deve ser usado. Quarto, o terapeuta
,

deve ter em mente que outros CRBs, além dos relacionados aos problemas de
self, podem ser evocados, e poderão prover oportunidades terapêuticas. Por
exemplo, no caso de Terry, a tarefa de imaginação não apenas evocou um
CRB relacionado ao self mas também relacionado a problemas que ele tinha
no trabalho, ao enfrentar tarefas muito difíceis.
Reforçando tantas declarações "eu X" do cliente quanto possível

E extremamente importante tratar com respeito todas as idéias intuições,


,

teorias e crenças do cliente que diferem das do terapeuta. Entendemos por respeito
o fortalecimento do comportamento do cliente através da reação do terapeuta ,

mesmo que este indique que pensa diferente. Idealmente a reação do terapeuta
,

deveria ser positivamente reforçadora, mesmo que isso também refletisse uma
opinião divergente da do cliente. Um significado especial é dado às declarações
" "
eu X do cliente que diferem das do terapeuta pois são precisamente esses
,

comportamentos que mais provavelmente estão sob controle privado. A ideia é


" "
reforçar tantos eu X quanto possível.
Como dissemos anteriormente
se o problema de selfdo cliente estiver
,

relacionado com uma falta de controle privado sobre o "eu quero" é vital reforçar,
,

se possível, esse tipo de resposta se ela ocorrer. Uma dica importante para saber
" "
sé o eu quero do cliente está sob controle privado (em oposição ao controle

público, isto é, o controle do terapeuta) é a inclinação do terapeuta em rejeitar o


pedido.
Por exemplo, uma cliente cujo problema de selfera que ela não sabia o
,

que queria e não podia dizer o que queria, pediu ao primeiro autor para tentar
hipnose, a im de que descobrisse o que queria. Minha primeira reação foi negar
f

e dar a ela as razões pelas quais eu não usava hipnose. Usando minha inclinação
de rejeitar seu pedido como uma pista que assinalava a possibilidade de que seu
" "
querer estivesse sob controle privado minha reação seguinte foi reconhecer
,

privativamente que seu pedido era um CRB2. Vendo que isso era algo que ela
realmente desejava eu mudei de opinião e concordei em hipnotizá-ía.
,

Outro exemplo pode ser visto no caso da cliente que perdeu sua
identidade quando teve uma intensa relação com um homem Eia também .

desenvolveu uma intensa relação com o primeiro autor e me contou sobre suas
experiências paranormais Mesmo que eu pessoalmente não acredite nisso
.
,
O self 183

reconheci seu comportamento como CRB2 e prossegui com ela me contando


sobre suas crenças.
Para clientes que não sabem como se sentem pode ser importante, nos
,

estágios iniciais do tratamento, serem ajudados pelo terapeuta a descobrir como


se sentem. Fazendo assim, o terapeuta fornece uma experiência parecida com
a que ocorre no estágio L Reagindo ao estímulo público, quase da mesma maneira
que um pai faz quando ensina à criança tatos de sentimentos, o terapeuta auxilia
na construção de tato de sentimento. As sugestões externas usadas pelo terapeuta
poderiam se referir à aparência física do cliente (ou seja, o cliente pode parecer
tenso, cansado, ansioso ou deprimido). O terapeuta então diz "você parece
"
cansado ou "deprimido" ou seja lá o que for.

Uma outra sugestão externa é a natureza da interação terapêutica que


acaba de ocorrer. Por exemplo, um terapeuta que persiste em perguntar ao cliente
sobre um evento desagradável mesmo que o cliente não queira falar, deve perceber
que o cliente sente-se incomodado, ressentido com sua insistência. O terapeuta
deve então encorajá-lo a dizer "eu sinto X". O perigo em usar este procedimento
é que o terapeuta pode insistir nesta conduta por tempo demais, ou confiar
excessivamente em estímulos públicos, e assim impedir ou interferir no ganho
de controle de estímulos privados. Apesar de nossa discussão se concentrar em
clientes que não sabem como se sentem, procedimentos semelhantes podem ser
usados em estágios mais iniciais da terapia com clientes que não sabem o que
querem, ou em que acreditam ou o que sabem.
Uma conjuntura delicada é exposta quando um cliente, cujo problema
de selfinclui uma escassez de respostas "eu sinto", diz "eu sinto que você não se
importa comigo". Esse comentário do cliente não é incomum e deve ser tratado
como um exemplo de CRB2 (admitindo que não seja um mando disfarçado). E
importante para o terapeuta considerar os comentários com seriedade e não
punir o CRB2 classificando-o como transferência ou fazendo a interpretação de
que a resposta do cliente não está baseada em algo que aconteceu na sessão,
mas sim que veio da infância. Ao contrário, as respostas mais reforçadoras
seriam aquelas que validam o motivo pelo qual o cliente se sente assim. Desta
maneira, é papel do terapeuta rever cuidadosamente os eventos passados na
terapia e olhar internamente para procurar quais eventos poderiam embasar a
observação do cliente.
Por exemplo, o terapeuta pode ter ficado distraído ou preocupado durante
a sessão ou pode também ter-se irritado com o cíicnte. Desnecessário dizer que
184 Capítulo 6

a validação do tato do cliente não retira a importância do terapeuta em enfatizar


seu afeto pelo cliente em geral.
Uma situação ainda mais difícil é encontrada quando o cliente vem
" "
com declarações eu X que são contraprodutivas, calúnias a si mesmo, suicidas
ou homicidas. Nossas sugestões para lidar com esses tipos de declarações são
dirigidas ao cliente com problemas de self que está começando a desenvolver
" "

um controle privado maior sobre declarações e menos voltadas aos


eu X ,

clientes que se engajam cronicamente em comportamentos destrutivos.

1 . Contraprodutivo. Comportamentos de clientes que levam à esquiva


geralmente parecem contraprodutivos para o terapeuta. Por exemplo, o segundo
autor estava supervisionando um caso no qual a cliente disse, com lágrimas em
"
seus olhos, Eu não quero falar sobre a morte de minha mãe. Isso apenas remoe
lembranças e não leva a nada". Respostas apropriadas do terapeuta devem incluir
tanto a ênfase em que ela não precisa falar sobre isso, quanto explorar a situação
"

mais a fundo: (a) Parece que você está prestes a chorar, como se estivesse
realmente ferida por dentro... O que está sentindo?... Está com medo de que se
continuar faiando irá chorar?... Como sua mãe e pai te tratavam quando você
"
era criança e chorava? (b) "O que você quer dizer com 'remoer o passado,?...
O que acontecia antes quando você falava sobre a morte de sua mãe?" (c) "Estou
confuso porque eu realmente quero respeitar seus sentimentos de não querer
falar sobre a morte de sua mãe, mas não quero compactuar com sua esquiva de
sentimentos de dor, porque creio que evitá-los está relacionado com evitar
relacionamentos próximos em geral.... O que acha que a levaria a um maior
crescimento neste momento - forçar você a falar e a sentir os sentimentos sobre
sua mãe ou respeitar seus sentimentos de não querer falar sobre ela, mesmo que
você saiba que é isto que eu quero?... Como podemos satisfazer tanto seu desejo
de não querer falar agora que é importante para o desenvolvimento de seu
,

senso de self, quanto seu desejo de fazer progressos na terapia em geral


descobrindo seus sentimentos?"

2 . Caluniar a si mesmo. "Eu sou uma vagabunda, e uma piranha... eu


me sinto como a escória da humanidade.... tenho medo de me tornar
esquizofrênica pois minha mãe era assim Essas são as declarações feitas em
,
"
.

momentos distintos ao segundo autor por Úrsula uma cliente que eu estava
,

vendo. No início , minha reação era, a cada vez, assegurar a Úrsula que isso
não era verdade , e toda vez ela se zangava pois não se sentia reconhecida por
O self 185

mim. Ela sabia que, apesar de a minha afirmação ser importante, não permitia
que ela descrevesse os sentimentos com os quais estava entrando em contato.
Gradualmente, ela me treinou a combinar minha reafirmação com a
permissão para que ela tivesse a oportunidade de explorar seus sentimentos.
"
Você com certeza não é uma vagabunda, mas conte-me seus sentimentos e
pensamentos sobre ser uma vagabunda, antes que eu te diga por que eu acho
"

que não o é "A pesquisa sobre esquizofrenia indica que se você não a
.

desenvolveu ainda, é praticamente impossível que o fará. Mas deve ser assustador
"

para você ter este medo. Conte-me sobre isso .

3Suicidas ou homicidas. Apesar de fantasias suicidas e homicidas


.

serem aversivas para a maioria dos terapeutas escutarem em detalhes, não é


incomum para clientes com problemas de selfentrarem em contato com esses
sentimentos, pois suas histórias são repletas de necessidades insatisfeitas. É
importante reforçar essas expressões de sentimentos, ajudando o cliente a contar
sua história, até que o terapeuta entenda porque faz sentido para o cliente sentir-
se assim. Além disso, é importante que o terapeuta proíba essas ações prejudiciais,
não apenas dando uma ordem verbalmente, mas ajudando o cliente a separar
sentimentos de ações (ou seja, a conexão entre pensar sobre o suicídio, sentir-se
suicida e possuir comportamento suicida é aquela da relação comportamento-
comportamento, onde um não leva necessariamente ao outro), e explorando a
fundo as consequências de ações suicidas ou homicidas. Se essas declarações
suicidas e homicidas forem na realidade mandos disfarçados como tatos (ou
seja, ameaçar suicídio para obter uma maior atenção por parte do terapeuta),
então o cliente deve ser confrontado e ensinado a pedir diretamente pelo que
quer, sem comportamentos nocivamente ameaçadores.
Em suma, nossa visão dos problemas de self se concentra no
desenvolvimento precoce de comportamentos modelados por contingências. Se
nossas noções forem válidas, então, fazer aflorar mudanças no significado de
comportamentos importantes como Eu te amo", "Eu te odeio", "Eu estou
"

nervoso e "Eu preciso de atenção", parece requerer um ambiente de apren-


"

dizagem no qual eles possam ser evocados. A FAP é uma ferramenta particular-
mente construída para esta tarefa.
Psicoterapia Analítica Funcional
Uma ponte enire a Psicanálise e a Terapia
Comportamental

Nossa interpretação behaviorista radical da psicoterapia nos leva à inesperada


conclusão de que o centro do processo terapêutico é a relação psicoterapêutica .

Dizemos que ela é inesperada porque outras pessoas direcionam o behaviorismo


radical para o campo oposto no qual o terapeuta evita ou diminui o valor de
,

uma relação terapêutica que seja profunda e emocional. Carl Rogers por ,

"
exemplo, comentou: Para mim [o mundo de Skinner] destruirá a pessoa humana
enquanto aquela que conheci...na relação...nos momentos mais profundos da
"
psicoterapia (1961, p. 391).
Mesmo aqueles que aceitam a idéia de que o behaviorismo radical pode
levar a uma ênfase na relação terapêutica afirmam que a Psicoterapia Analítica
Funcional (FAP) pouco adiciona àquilo que já é postulado nos sistemas de terapia
"
existentes, e questionam Então, o que há de especial?". Nós temos duas reações
a essas afirmações. Primeiramente, concordamos com que o foco dado pela
FAP à relação terapêutica está de acordo com as tendências vigentes no campo
da psicoterapia. É particularmente interessante que a FAP e a psicanálise sejam
similares a esse respeito, visto que derivam de bases filosóficas e teóricas bem
diferentes. Pontos em comum entre tratamentos que advêm de origens tão diversas
são intrigantes, pois podem sugerir variáveis universais que são especialmente

187
188 Capítulo 7

importantes na produção de mudança terapêutica. Nossa segunda reacão seria a


de afirmarmos que acreditamos que muitos aspectos da FAP são novos e
diferentes. A visão que a FAP proporciona sobre a relação terapêutica e sobre o
processo de mudança tem implicações no tratamento, que a distingue da
psicanálise e de outros sistemas terapêuticos.
Na discussão que segue, apontaremos similaridades e diferenças entre a
FAP e os enfoques psicodinâmicos. Posteriormente compararemos a FAP com
,

as psicoterapias comportamentais atuais e exploraremos como ela (FAP) fornece


uma ponte única entre sistemas terapêuticos tão divergentes como a psicanálise
e a terapia comportamental.

A FAP EM CONTRASTE COM ENFOQUES


PSICODINÂMICOS

A psicanálise é um sistema em desenvolvimento que apresenta diversas


formas. Suas comparações com a FAP estão limitadas à maneira particular com
a qual caracterizamos a psicanálise. A parte inicial de nossa discussão será
focalizada na visão psicodinâmica mais tradicional sobre transferência e aliança
terapêutica. Nós examinaremos então, como uma forma mais recente de
,

psicanálise - relações objetais - é mais compatível com a FAP, porém ainda


difere dela de forma significativa devido a suas bases psicodinâmicas.
,

Transferência

Para o psicanalista, a transferência 6 um importante componente da


relação cliente-terapeuta. A transferência é relevante para esta discussão porque
se refere ao comportamento do cliente dentro da sessão. O conceito porém,
,
"

tem suscitado preocupações teóricas e técnicas e exigido constantes e repetidos


esclarecimentos (Paolino, 1981, p. 91). Consequentemente, examinaremos
"

apenas alguns de seus significados centrais primeiramente dando suas definições


,

e descrições psicanalíticas e depois, traduzindo as mesmas para a linguagem


,

cotidiana ou para termos behavioristas. Apreciaremos então, como as noções


,

psicanalíticas de transferência podem afetar aquilo que o terapeuta faz durante


as sessões ou seja, olharemos para os aspectos relacionados ao controle por
,
Psicoterapia Analítica Funcional 189

regras. Na sequência perguntaremos como o comportamento do psicanalista


,

favorece a evocação e a detecção de CRBls e o reforçamento de melhoras ou


CRB2s. Desse modo apesar de o psicanalista seguir regras implícitas a uma
,

teoria que não é baseada em conceitos comportamentais nós examinaremos as


,

implicações clínicas dessas regras em termos comportamentais .

Freud descreveu a transferência como sendo uma reação do cliente ao


terapeuta como se ele não fosse ele próprio, mas sim alguém (importante) no
,

passado do cliente. Ele afirmou que essa "relação emocional intensa entre o
[terapeuta] e o cliente", a qual é baseada no passado, surge em toda análise e
"
que, de fato, é impossível uma análise sem transferência" (1925 p. 42).
,

A descrição de Freud sobre transferência se parece com o conceito


comportamental de generalização de estímulo (também conhecido como transfer)
e traz consigo a noção de que o comportamento que ocorre na hora de terapia
está relacionado com a maneira como o cliente age em seus relacionamentos
significativos. Além disso, Freud considerou esses comportamentos que
acontecem dentro de sessão como essenciais ao tratamento e enfatizou a
importância de emoções intensas ocorrerem dentro da sessão. Estas características
poderiam servir como regras (ver Capítulo 5), as quais direcionam o terapeuta
analítico a 1) prestar atenção às reações emocionais do cliente em relação ao
terapeuta que também ocorram em outros relacionamentos importantes; e 2)
encorajar essas reações, já que elas são essenciais. Disto tendem a decorrer
efeitos clínicos positivos, visto que os comportamentos citados nos itens 1) e 2)
são similares àqueles produzidos pelas Regras 1-Prestar atenção aos CRBs- e
2-Evocar CRBs- da FAF .

Antes de olharmos para outros significados e possíveis efeitos clínicos


negativos da transferência, discutiremos o conceito comportamental de
generalização em maiores detalhes. De um ponto de vista comportamental, todos
os nossos comportamentos atuais que são direcionados para uma outra pessoa
(terapeuta ou outros) estão baseados em nossas experiências de aprendizagem
passada, com aquela e/ou com outras pessoas. Consequentemente, antes mesmo
de o terapeuta obter a oportunidade de reforçar uma resposta específica do
cliente, ele já é um estímulo de propriedades evocativas, dependendo de sua
similaridade funcional com as pessoas pertencentes à história de vida do cliente.
Por exemplo, após chegar tarde, pela primeira vez, a um encontro, o
cliente poderia antecipar as reações do terapeuta baseado em experiências
passadas que teve com pessoas similares. Em um experimento que visava ilustrar
190 Capítulo 7

o conceito de similaridade funcional. Diven (1936) utilizou o condicionamento


clássico com sujeitos adultos, emparelhando a palavra barn (celeiro) com um
choque elétrico. Quando mais tarde efetuou o teste para verificar generalização
ou transferência, utilizando-se de palavras que não foram previamente
condicionadas, ele descobriu que os sujeitos tinham respostas galvânicas
" "

condicionadas na pele para a palavra cow (vaca), mas não para a palavra
yarn (fio). Portanto, a transferência ocorreu em uma dimensão funcional
" "

["barns (celeiros) e "cows" (vacas) são encontrados em fazendas] e não em


"

"

uma dimensão física [a similaridade fonética entre barn" (celeiro) e "yarn"


(fio)]. Voltando a nosso cliente: além do que foi mencionado acima, esse cliente
em particular poderá antecipar a reação do terapeuta a atrasos, baseado em
"

experiências de chegar atrasado a médicos (se a dimensão funcional é alguém


que você vai para te ajudar ), ou figuras de autoridade (se a dimensão funcional
"

é "pessoas que estão no comando") ou pais negligentes (se a dimensão funcional


é baseada em "pessoas que não têm tempo suficiente ou têm um envolvimento
limitado"). A generalização também pode ser baseada em uma combinação de
várias dimensões funcionais.
*

Do ponto de vista da FAP, tudo que o cliente faz durante a sessão (diz,
sente, pensa, percebe, etc.) são comportamentos aprendidos que ocorrem devido
a 1) similaridade funcional entre os estímulos presentes durante a sessão e aqueles
*

que estavam presentes na experiência passada de aprendizagem, e 2) experiência


real durante a terapia. Esses conceitos sobre os comportamentos que ocorrem
dentro da sessão podem explicar os mesmos fenómenos que a noção
psicodinâmica de transferência explica. Importantes diferenças conceituais entre
a psicanálise e o behaviorismo apontam, porém, para algumas implicações
clínicas negativas do conceito de transferência.

Definindo comportamento-problema
4

O conceito de transferência está impregnado com uma variedade de


características, além da generalização de respostas a pessoas importantes. Em
uma de suas formas mais restritas, Freud limitou a transferência a aqueles
comportamentos que acontecem dentro da própria sessão e que são derivados de
"

certas experiências infantis" que ocorrem no período edipiano (Langs, 1976).


Por exemplo, a transferência estritamente se referia às clientes do sexo feminino
aue exigiam amor ou amizade de seus analistas do sexo masculino. Essa visão
A W

de transferência resultaria em uma regra que direcionaria o terapeuta a prestar


Psicoterapia Analítica Funcional 191

cuidadosa atenção aos comportamentos do tipo edipiano que ocorrem dentro


,

da própria sessão. Se os problemas diários da vida do cliente forem desta natureza ,

então a sensibilidade do terapeuta em relação a assuntos do tipo edipiano o


levaria à detecção de C R B1 e poderia ter efeitos clínicos positivos Inversamente.
.

efeitos negativos aconteceriam caso os problemas do cliente não fossem do tipo


,

edipiano, e o enfoque do terapeuta em assuntos deste tipo o impedisse de perceber


qualquer outro tipo de CRB.
Alexander e French (1946) definiram mais amplamente a transferência
"
como sendo uma repetição neurótica de... comportamento estereotipado ou

impróprio baseado no passado do paciente", o que é diferenciado de "reações


normais ao terapeuta e à situação terapêutica como realidade" (p 72-73). Essa
.

regra, portanto implica um dever do terapeuta de procurar comportamentos


,

definidos como neuróticos e não como normais. Historicamente definir ,

anormalidade é uma tarefa bastante difícil e complexa. Na verdade interpretar ,

a anormalidade de um comportamento independente de seu contexto, é


,

praticamente impossível. Correspondentemente, os termos neurótico,


estereotipado e impróprio requerem julgamentos arbitrários reconhecidos ou
,

não pelo terapeuta. Por exemplo é óbvio que nem todo comportamento
,

" "

estereotipado pode ser considerado transferência (anormal). O cliente pode


" "

estereotipadamente dizer "oi!" no início de cada sessão e é bastante improvável


,

que o terapeuta julgue isso como transferência. De igual modo, o terapeuta deve
fornecer um contexto a partir do qual poderá julgar a inadequação de um
comportamento. É possível, por exemplo, que um terapeuta tenha valores sexistas
inconscientes que o levem a classificar o desejo de uma paciente do sexo feminino
de se entregar inteiramente à carreira, como um comportamento neurótico ou
impróprio.
Do ponto de vista da FAP, incluir os critérios de anormalidade na
definição de transferência cria efeitos clínicos diversos. Tal definição poderia
servir como regra que leva o terapeuta a perceber os comportamentos
problemáticos que ocorrem dentro da sessão e especificados na definição, e isso
poderia ter efeitos positivos para o cliente, caso os seus problemas diários
estivessem incluídos nesses comportamentos. Porém, no lado negativo, um
comportamento importante que não estivesse incluído nessa definição poderia
passar despercebido.
Mesmo que um CRB seja identificado, um problema ainda mais sério e
preocupante é o do impacto causado por uma regra nos efeitos reforçadores ou
punitivos da resposta do terapeuta ao CRB. Perceba que ajuda ser capaz de
192 Capítulo 7

notar o CRB, porque entende-se que um terapeuta que está consciente do


comportamento problemático de seu cliente, ocorrido dentro da sessão, irá
naturalmente encorajar e reforçar um comportamento melhorado. Às vezes,
entender a resposta do cliente como transferência pode interferir no reforçamento
do comportamento que indica melhora. Por exemplo, se um cliente tem sido
compulsivo em sua vida diária, então o fato de ele veriicar repetidamente o

f
horário de sua consulta pode ser apropriadamente considerado como neurótico,
de acordo com a definição de transferência. Se, ao contrário, o cliente tem sido
historicamente despreocupado a respeito de compromissos e horários, então a
preocupação com o tempo pode ser considerada uma melhora. Nesse último
caso, o terapeuta, que é guiado por uma visão ixa e não-contextuai do que não

f
é saudável, pode oferecer uma interpretação que, sem intenção, acabe punindo o
comportamento que indica melhora. Pelo fato de definições formais de
anormalidade ignorarem o contexto, o terapeuta vê o comportamento como
neurótico, inapropriado, ou estereotipado, e é provável que as suas reações
naturais tenham efeitos punitivos não intencionais.

Real ou não?

Para muitos psicanalistas, a transferência envolve uma distorção da


"
realidade. Freud considerava uma ilusão" a reação do cliente e, assim, ignorava
" "
a personalidade, o comportamento e o papel do terapeuta (Langs 1976, p. ,

27). Uma visão menos extremista foi apresentada por Alexander e French (1946),
que sugeriam que antes da reação do cliente ser classificada como transferência,
"
o analista deveria excluí-la como uma reação normal em relação ao terapeuta
"

e em relação à situação terapêutica enquanto realidade (p. 72-73). Esse


significado de transferência pode servir de regra que direciona analistas a
" "
examinarem seus próprios comportamentos reais e a "real" sequência de
" "
eventos, a fim de determinar se a resposta do cliente é , ou não, normal
De .

fato, essa situação leva o terapeuta a prestar atenção às variáveis presentes à


sessão que podem afetar ou não o comportamento do cliente. Caso o terapeuta
resolvesse compartilhar suas observações com o cliente mesmo isso não sendo
,

parte do processo psicanalítico, tal interação poderia ser benéfica, pois seria
uma descrição de relacionamentos funcionais requerida na Regra 5.
,

Embora a distinção do real versus transferência possa levar terapeutas


a examinarem suas próprias contribuições em relação à resposta do cliente ,

essa visão poderia ter implicações clínicas negativas pois presume uma
,
Psicoterapia Analítica Funcional 193

perspectiva única e estática (do terapeuta) da realidade. A visão da realidade:


"

eu estou certo e você está errado" pode não ser talvez, problemática quando o
,

cliente expressa acusações extremas do tipo "o terapeuta está se encontrando


secretamente com o seu chefe (do paciente) e armando uma conspiração para
"
matá-lo . A realidade "verdadeira", no entanto não está tão clara em comentários
,

"

mais típicos do cliente, tais como: Eu não acho que você realmente se importa
" "
o bastante comigo "Você está cansado de mim ou ainda Terapia custa muito
"

, ,

dinheiro". Filosoficamente, existem motivos para se questionar a noção de uma


única e fixa verdade. É bastante provável que a realidade possa nunca ser
conhecida totalmente (é esta a visão behaviorista radical discutida no primeiro
"

capítulo). Mesmo se houvesse apenas uma única realidade


"
verdadeira , seria
pouco razoável presumir-se que o terapeuta estaria sempre certo. \
Clinicamente, nós nos preocupamos com que um terapeuta que aceita ,

o aspecto distorcido de realidade da transferência esteja menos inclinado a


,

considerar a possibilidade de que a percepção do cliente é válida quando ela for,

diferente de sua própria percepção. Isso, por sua vez, poderia privar o cliente da
oportunidade de aprender como processar e resolver uma situação interpessoal
na qual cada pessoa tem uma visão diferente, porém justificável, do mundo.
Similarmente, um cliente submisso que tenha um inadequado senso de autocrítica
poderia vir a ser punido por ser assertivo quando a sua visão da realidade diferir
da de seu terapeuta. Temos preocupações parecidas quando a validação da
percepção do cliente pode ser essencial para a sua melhora (ver Capítulo 6). Tal
validação necessária pode ser limitada ou dificultada pela noção distorcida da
realidade.

Também nos tornamos apreensivos em relação ao fato de que a noção


distorcida da realidade possa inadvertidamente reforçar uma posição rígida ou
até mesmo autoritária de terapeutas que já tenham propensão a seguir esse
caminho. Junto a essas preocupações, psicanalistas têm expressado outras no
"

sentido de que terapeutas possam utilizar o conceito de transferência do não


real para evitar um envolvimento real com o cliente (Greenson, 1972). A falta
"

de um envolvimento genuíno com o cliente impede tanto a evocação do CRB


quanto a ocorrência de reforçamento natural, o que é essencial para um benefício
terapêutico na FAP.
Psicanalistas também reconhecem os problemas relacionados à suposição
de que a visão dos clientes a respeito da realidade seja uma ilusão. Por exemplo,
recentemente, Gill e Hoffman (1982) propuseram uma visão diferente de
transferência, que vem a ser mais coerente em relação à posição da FAP:
194 Capítulo 7

"Acreditamos que o comportamento verdadeiro do terapeuta afete fortemente a


experiência verdadeira do paciente, inclusive o que é normalmente designado
como os aspectos transferenciais daquela experiência... Discordamos, portanto,
daqueles que enfatizam distorção da realidade como um aspecto distintivo da
transferência" (p. 139). A visão de Hoffman e Gill sobre os efeitos do controle
por regras teria mais probabilidade de produzir, nos analistas, comportamentos
que se assemelham aos da Regra 5 da FAF.

Transferência e comportamento aprendido


Freud (1925) acreditava que a transferência era automática e resultava
de um impulso inerente. Isso ocorria em todos os casos (exceto se o cliente fosse
psicótico) e sem a permissão do terapeuta (p. 42). Essa idéia é lembrada por
Greenacre (1954), que conceituou transferência como um ubíquo "instinto social
"

primitivo (p. 672). Essa teoria da transferência automática dilui a atenção


sobre as ações do terapeuta que produzem e mantêm as reaçoes do cliente. Em
resumo, as funções que o aprendizado, o estímulo atual e o reforço imediato
desempenham em uma situação terapêutica são anuladas. Essa orientação do
não-aprendizado reflete-se em muitas noções psicanalíticas. Tome como exemplo
Langs (1982), que descreveu o efeito da comunicação perturbada do terapeuta
"
como dando aos pacientes uma oportunidade de colocarem suas próprias
"

perturbações no terapeuta e, portanto, encobrirem suas próprias doenças (p.


136). Obviamente, é difícil reconceituar tais noções dentro dos termos do
aprendizado.
Ainda assim, acreditamos que os efeitos de estímulos atuais e do
aprendizado são tão fortes que devem ser acomodados dentro da psicanálise.
Por exemplo Waterhouse e Strupp (1984) viam o terapeuta como um professor
,

que criava, durante o tratamento, condições que trariam mudanças para o cliente.
Stone (1982) escreveu que "as melhores lições... [ocorrem] no relacionamento
terapêutico entre duas pessoas ou seja, no fenómeno de transferência. Pelo fato
,

de a situação terapêutica ser testemunhada pelo terapeuta, a lição que se tira da


sua própria observação terá uma pureza e uma realidade nem sempre presentes
"
em materiais derivados da vida lá fora (p. 271). A posição psicanalítica,
entretanto não articula claramente o que vem a ser o aprendizado, como ele
,

acontece ou qual é o seu grau de importância em relação a outros processos.


,

Na melhor das hipóteses é incerto como e quando o comportamento dentro de


,

uma sessão está sujeito ao aprendizado ou é resultado dele. Na pior das hipóteses,
,

aprendizado é relegado a um papel inferior ou secundário Essa confusão a


.
Psicoterapia Analítica Funcional 195

respeito da função do aprendizado produz conceitos psicanalíticos que envolvem


regras conflitantes.
Considere-se, por exemplo, o comentário de Freud de que "é impossível
destruir alguém que esteja ausente ou apenas pela imagem" (1912 p. 108).,

Provavelmente, o "alguém" a quem Freud se referia era o pai ou a mãe


responsáveis pelo comportamento disfuncional do cliente. O restante de seu
comentário se refere à dificuldade em mudar esse comportamento disfuncional
com a terapia, a não ser que o pai ou a mãe estejam presentes durante a reação
de transferência. Essa noção sugere uma regra que considera positivo o cliente
reagir ao terapeuta da mesma maneira que reagiria em relação ao pai ou à mãe .

Enquanto essa regra encorajar o CRB, ela terá efeitos clínicos positivos. Porém ,

se essa regra não fizer menção aos princípios do aprendizado ela não dá ao
,

terapeuta analítico muita orientação a respeito de como obter reações de


transferência. A suposição da "transferência automática" diz que tudo que o
terapeuta tem a fazer é esperar até que tal comportamento ocorra,
Ainda pior, a falta de princípios de aprendizado cria outros procedimentos
que podem interferir na aquisição de transferência. Um exemplo é o princípio de
"

neutralidade que afirma que o médico não deveria ser transparente em relação
aos seus pacientes mas, como um espelho, deveria refletir apenas o que é mostrado
"
a ele (Freud, 1912, p. 118). Searles (1959) também alertou para as reações
emocionais do terapeuta, descrevendo-as como tentativas por parte do terapeuta
de levar o paciente à loucura. A regra implícita é obvia - ser ponderado, não
reagir emocionalmente, e não se auto-revelar. Do ponto de vista da FAP, se o
comportamento de ser impassível e de não mostrar reações torna o terapeuta
parecido com o pai ou a mãe do cliente, evocando assim o comportamento
problemático deste, então isso pode ser uma boa coisa a se fazer (desde que o
terapeuta não esteja alterando deliberadamente seu comportamento, de tal maneira
que possa trazer à tona os perigos do reforço arbitrário, conforme discutido no
primeiro capítulo). Baseando-se no conceito de generalização, entretanto, é mais
provável que o CRB que envolve confiança, medo, amor, ódio, decepção e outros
sentimentos parecidos, sej a evocado por um terapeuta que reage positivamente
ou negativamente em relação ao cliente e que estej a querendo, ocasionalmente,
reveiar-se. O CRB é, portanto, mais provável de ser evocado por um terapeuta
que apresente uma grande variedade de estímulos interpessoais do tipo que são
passíveis de ocorrer em relações mais íntimas e significativas.
A confusão psicanalítica, no que diz respeito ao papel do aprendizado,
pode também interferir no processo de reforçamento. Por exemplo, consideremos
196 Capítulo 7

o principio dos efeitos da neutralidade nas atividades de reforço do terapeuta.


Uma reação opaca do terapeuta tende a ser desprovida da emoção e
espontaneidade que geralmente servem como reforçadores em relações mais
próximas. Do ponto de vista comportamental, isso poderia ser contraterapêutico,
pois as reações normais do terapeuta são vistas como o agente primário de
mudança. De acordo com a FAP, as reações do terapeuta deveriam ser, ora
amplificadas (como quando o terapeuta tem uma reação positiva ao cliente,
porém muito sutil para ser notada), ora moderadas (pois pode sobrecarregar).
Em resumo, a nossa posição é a de que a transferência é um compor-tamento
operante que ocorre em razão da similaridade entre a atual situação (que inclui o
terapeuta e a relação cliente-terapeuta) e situações passadas que o cliente tenha
vivenciado. Além disso, as reações do terapeuta são contingentes às respostas do
cliente e poderão ter efeitos reforçadores. Finalmente, como um operante, não há
garantias de que o problema ocorrerá durante a sessão. Essa visão de transferência
oferecida pela FAP tem a vantagem de sugerir suas causas, sua relação com os
problemas diários do cliente, e como são afetados pelo processo terapêutico.

A Aliança Terapêutica

Além da transferência , considera-se aliança terapêutica um outro


importante componente da relação cliente-terapeuta. A aliança terapêutica é
importante por ser considerada saudável ou "boa", em contraste com a
transferência que normalmente é considerada neurótica ou "ruim". De uma
maneira não muito precisa, a aliança terapêutica corresponde ao CRB2, enquanto
transferência corresponde ao CRB1. Como é característico de todos os conceitos
psicanalíticos, existem numerosas e conflitantes visões a respeito da aliança
terapêutica. Examinaremos dois temas centrais, apresentaremos uma
interpretação comportamental e então observaremos as implicações clínicas.
A aliança terapêutica era considerada por Freud a força motivadora
"

primária por trás do tratamento. Isso explica os aspectos de colaboração" da


"
relação terapêutica e é indiferenciável da transferência não-sexual e positiva"
(Paolino, 1981, p. 100). Presumimos que os aspectos colaborativos a que se faz
referência envolvem comportamentos do cliente tais como, ir a uma sessão
,

mesmo quando prefere não ir conversar com o terapeuta mesmo quando isso é
,

muito difícil, e seguir as regras do terapeuta mesmo quando são desagradáveis.


Além disso, ao descrever esses comportamentos como não-sexuais eles seriam
,
Psicoterapia Analítica Funcional 197

considerados normais ou saudáveis. Assim , um analista que seguisse essa visão


teria o comportamento governado por regra de examinar cada reação do cliente
a fim de ver se é problemática (transferência) ou colaborativa (aliança) , e de
"

estar procurando sempre por um bom" ou por um "mau" comportamento .

Sucessivamente, isso levaria o analista a reagir naturalmente aos comportamentos


classificados como aliança terapêutica por meio de reforçamento positivo,
,

fortalecendo-os desse modo. Nós vemos isso como um efeito positivo pois o ,

terapeuta está respondendo até certo ponto, de acordo com as maneiras requeridas
,

peias Regras 1 (Prestar atenção aos CRBs) e 3 (Reforçar CRB2), da FAP.


No entanto, efeitos negativos podem ocorrer em razão da natureza não-
contextual da definição de aliança terapêutica. Por exemplo é possível que, diante
,

de algumas circunstâncias, o atraso de um cliente a uma sessão ou sua recusa


,

em fazer associações livres possa ser considerada uma melhora que precisa ser
,

reforçada. Este pode ser o caso de um cliente extremamente passivo ou compulsivo


cuja melhora pode ser punida, se o terapeuta interpretar seu comportamento de
não-obediência como problemático, por não ser aliança terapêutica .

O segundo tema envolvendo aliança terapêutica gira em torno da


habilidade do cliente de envolver-se em auto-observaçao. Por exemplo a visão ,

de Sterba (1934) da aliança terapêutica envolvia uma das duas partes do ego.
Uma parte (defensiva) é governada por forças repressivas e instintivas que
interferem na terapia, enquanto que a outra parte (aliança terapêutica) é realista ,

procura entendimento, mudança e crescimento psíquicos. De igual modo, Paolino


(1981) descreveu uma característica da aliança terapêutica como sendo "um
acordo entre terapeuta e paciente de observarem o funcionamento psíquico do
paciente e o seu comportamento, afim de obter o entendimento dos determinantes
de tal comportamento" (p. 100). Essas noções têm como tema o cliente não
apenas agindo, mas também distanciando-se e observando essas ações. Mais
adiante, uma vez que essas auto-observações acontecem, o cliente é capaz de
descrever o que aconteceu a partir de uma perspectiva histórica. Por exemplo, o
cliente pode ter uma explosão de raiva em relação ao terapeuta pelo fato deste
não ter respondido a uma questão, mas pode também observar e descrever essa
explosão como um ato de irritação baseado no fato de que seu pai nunca respondia
a suas questões por considerá-las tolas.
Essa segunda visão de aliança terapêutica poderia funcionar como regra
que levaria o terapeuta a ser vigilante, a encorajar e a reforçar naturalmente os
comportamentos do cliente de se auto-observar e de descrever as causas do que
foi auto-observado. Tal comportamento poderia ter vários efeitos clínicos
198 Capítulo 7

positivos, como, por exemplo, distanciar-se e observar a si próprio, o que é


parte do CRB3. Conforme descrito no Capítulo 2, os melhores CRB3s envolvem
a observação e a descrição do próprio comportamento. Esse mesmo
comportamento dá início à formação das próprias regras (Capítulo 5) e ao
desenvolvimento do "self, (Capítulo 6). Assim, auto-observação e descrição
contribuem para uma grande melhora em vários aspectos da vida de uma pessoa.
Todavia, é provável o surgimento de efeitos desagradáveis em razão
de não se enxergar auto-observação e autodescrição como comportamentos
aprendidos. Por exemplo, se eles forem vistos como funções do ego, então a
atenção do analista poderá voltar-se para a mobilização dos impulsos psíquicos
envolvidos no fortalecimento das funções do ego, muito mais do que simplesmente
sugerir e reforçar os comportamentos relevantes. Além disso, separar aliança
terapêutica de transferência é incompatível com a noção de que comportamento
é contextual e que aliança e transferência estão no mesmo continuum. Entender
aliança e transferência como duas coisas completamente diferentes interferiria
no processo natural de modelagem. Por exemplo, estes cinco comportamentos
"

estão todos no mesmo continuum: (1) Eu somente reagi irritadamente com


*

você quando disse que te odiava", (2) "Eu tenho sentimentos de ódio por você",
(3) "Eu odeio você", (4) "Grrrrr" (emitir qualquer som de irritação, ódio), e (5)
bater nos móveis do terapeuta. O primeiro, logicamente, seria considerado uma
boa resposta de aliança terapêutica. Uma cliente com um histórico de
comportamento violento, no entanto, pode ter apenas o quinto comportamento
no seu repertório, revelando, desta forma, falta de aliança terapêutica. Partindo
da perspectiva da FAP, neste caso a ocorrência do quarto comportamento poderia
ser encorajada e reforçada como um comportamento melhorado.
Até agora mencionamos dois componentes da teoria psicanalítica:
transferência e aliança terapêutica. Outros aspectos importantes da teoria
psicanalítica tradicional podem ser resumidos brevemente: (1) um modelo de desejo
é enfatizado, onde desejos instintivos e impulsos libidinosos são nossas forças
motivacionais primárias; (2) o id, o ego e o superego são considerados estruturas
primárias da psique humana; (3) o período edipiano é enfatizado; o desenvolvimento
psicológico mais favorável está ligado a ocorrências que acontecem no quinto ou
sexto ano de vida; (4) o pai ocupa um papel central, por criar medo de castração
no menino e sentimento de inveja do pênis na menina e tem poderosa influência
no fato da criança trabalhar com êxito ou não, o período edipiano; e (5) a
,

psicopatologia está relacionada a ixações psicosexuais e à incapacidade de liberar


f

adequadamente tensões libidinosas (Eagle 1984). Ao invés de discutir neste


,
Psicoterapia Analítica Funcional 199

momento como a FAP discorda dessas suposições iremos primeiramente


,

contrastá-las com aquelas da teoria das relações objetais e, então, comparar a


,

terapia das relações objetais com a FAP. Finalmente iremos resumir como a FAP
,

difere de ambas, psicanálise tradicional e teoria de relações objetais .

Relações Objetais

Os teóricos das relações objetais (Kernberg 1976; Klein, 1952; Kohut,


,

1971; Mahler 1952), embora se considerem psicanalistas, propuseram uma revisão


,

dos importantes aspectos da teoria psicanalítica tradicional que estão listados


acima. As maiores diferenças são de que na teoria das relações objetais (1) o
enfoque é dado para um modelo relacional em que as relações humanas são
,

"
consideradas a pedra fundamental ou base da existência; entender como os
"

relacionamentos são intemalizados e como eles se transformam em uma noção


do "self' ajuda a tornar mais claro o que motiva as pessoas e como elas se vêem;
(2) os elementos da psique consistem em estruturas relacionais (plano
representacional no qual estão as internalizações de relacionamentos); (3) o período
pré-edipiano é enfatizado; acontecimentos críticos que modelam a vida das pessoas
acontecem dos 5 aos 6 meses; (4) a interação com a mãe é vista como modelo
para todas as relações subsequentes, pois essa relação inicial ocupa um grande
espaço dos primeiros anos da vida da criança, e também por estar tão relacionada
com gratificação emocional e privação; e (5) a psicopatologia se centraliza em
falhas no desenvolvimento do "self, e em anomalias no processo psicológico de
"

separação; uma vez que o self é construído interpessoalmente, distúrbios mentais


são equivalentes a perturbações nas relações interpessoais (Cashdan, 1988).
A seguir, está a visão da FAP das cinco diferenças entre psicanálise tradicional
e relações objetais: (1) Mudar a ênfase, antes sobre os desejos, para os efeitos do
relacionamento, é mais compatível com a FAP, uma vez que os relacionamentos
podem ser traduzidos mais facilmente em termos de controle de estímulos e
reforçamento. (2) Embora a FAP evite explicações que destaquem entidades não-
comportamentais, o que é característico de todas as formas de psicanálise, a visão
que as relações objetais têm das estruturas como sendo provenientes de experiências
de relacionamento, as tomam mais prontas para serem testadas em termos de fatores
externos do que as estruturas do id, ego e superego. (3) A ênfase dada pelas relações
,

objetais ao desenvolvimento do comportamento pré-verbal poderia ter alguma relação


com antecedentes que são necessários para o desenvolvimento do comportamento
verbal relacionado ao self (discutido no Capítulo 6). Uma análise comportamental
" ,
200 Capítulo 7

" '

mais completa do self


iria então incorporar essas experiências iniciais. No entanto ,
" "
como não há nenhum conceito de estágio crítico na FAP, tanto o ponto de vista
tradicional quanto o das relações objetais são incompatíveis com a FAP nesse aspecto.
(4) Na FAP, não se dá significado especial ao papel do pai ou da mãe, e não se faz
diferenciação entre o papel desempenhado por pais, mães ou babás. O que importa é
a natureza das interações específicas e das contingências.
Entretanto, alguns aspectos da posição das relações objetais a tornam
mais compatível com a FAP. Primeiro, as noções de gratificação e privação
estão mais próximas dos conceitos comportamentais de reforçamento e privação ,

o que facilita sua transposição para eventos comportamentais. Segundo ,

gratificação e privação são noções mais abstraías de motivação do que são a


"
castração e o sentimento de inveja" do pênis, se assemelhando portanto, ao ,

reforçamento (um conceito muito abstrato de motivação). Finalmente embora ,

discordemos da conclusão de que a mãe desempenha sempre o papel mais


importante o argumento de que a criança é modelada por aquela pessoa que
,

mais contingências estabelece é coerente com aposição da FAP. (5) O conceito


das relações objetais sobre separação (visualizando a si próprio ou outra pessoa
como ora totalmente bom, ora totalmente ruim) é apresentado como um processo
e permite uma interpretação mais clara quando envolve processos comportamen-
tais (tais como, ver sob controle discriminativo e lembrar) ao invés de conceitos
como fixações psicosexuais e a descarga de tensões libidinosas O isomorfismo .

entre estados mentais e estados interpessoais também chama a atenção para


as variáveis externas que constituem um relacionamento interpessoal.
Considerando a maior compatibilidade dos conceitos das relações objetais
com a FAP, seria precoce dizer que o processo clínico pode também ser mais
compatível. Conforme esperado a descrição de Cashdan (1988) de terapia de
,

relações objetais carrega uma semelhança impressionante com a FAP:


"

Das várias relações que constroem a vida do paciente considerações ,

importantes deveriam ser feitas ao relacionamento com o paciente Não .

somente isso acontece no fenomenológico "aqui e agora" mas também


contém muitos dos elementos críticos que operam no relacionamento
do paciente com outras pessoas A relação cliente-terapeuta
.
,

consequentemente seria vista como uma expressão in vivo do que é


,

patológico na vida do paciente. Se esse fosse o caso, seria razoável


concluir que a relação cliente-terapeuta contém o maior potencial de
mudança. Ao invés de ser vista como uma maneira de produzir "insight" ,

autoconhecimento , ou outras mudanças "no paciente", a própria relação


cliente-terapeuta bQV£sztrzns$[mDm2mfc>££>â£i82?âMÇ<3 (p. 23). "
Psicoterapia Analítica Funcional 201

Apesar das semelhanças impressionantes aterapia das relações objetais


,

de Cashdan revela algumas divergências marcantes em relação à FAP Por .

exemplo, ela enfatiza o mecanismo psicológico de identificação projetiva do


paciente, um padrão de comportamento interpessoal no qual o paciente manipula
outras pessoas para que se comportem ou respondam dentro de um padrão
limitado. Identificações projetivas distorcem e enfraquecem as relações atuais
do paciente e representam "esforços mal-adaptados para reparar o equilíbrio
entre bondade e maldade do mundo interior" (p 56), que são originárias de
.

relações objetais insatisfatórias históricas por natureza. Assim, o indivíduo


,
"

inconscientemente projeta uma parte do seu próprio eu em outro ser humano ,

objetivando converter uma batalha interna relacionada à maldade e à


inaceitabilidade em uma outra externa" (p 57). De acordo com Cashdan a
.
,

maioria das identificações projetivas incluem dependência (que induz sentimentos


de cuidado nas outras pessoas) poder (que induz sentimentos de fraqueza e
,

incompetência nas outras pessoas) sexualidade (que induz desejo sexual) e


,

ingratidão (auto-sacrifício que induz outras pessoas a serem gratas).


,

É desnecessário dizer que essa profusão de entidades mentais não está


de acordo com o enfoque da FAP. Observando a identificação projetiva de
dependência, teríamos a seguinte visão: (1) Nada é projetado para outra pessoa ,

o cliente está reagindo de maneira dependente porque foi estimulado a fazer isso
no passado, e, provavelmente, quando criança era punido se mostrasse qualquer
,

comportamento independente. (2) Não sucede nenhuma conversão de batalha


interna para externa; a batalha interna é um efeito colateral de respostas tanto
dependentes quanto independentes, que foram punidas em períodos de tempo
diferentes. (3) Ser dependente perdeu muito do seu valor passado de adaptação;
a dependência agora constitui um comportamento de esquiva que impede o cliente
de contatar contingências mais positivas associadas com a construção de novos
comportamentos (por exemplo, ser assertivo, tomar o controle de uma situação ,

ser capaz de dar e receber).


Mais importante ainda, em termos de implicações clínicas, é que
entendemos que designar as identificações projetivas como comportamentos
específicos (por exemplo, dependência, poder, comportamento sexual, ingratidão)
tende a ser problemático. Existe um julgamento a priori que diz que, se um
terapeuta responde ao comportamento do cliente com sentimentos de cuidado,
incompetência desejo sexual ou gratidão, isso é um reflexo da patologia do
,

cliente, sendo, portanto, indesejável. Como afirmamos repetidamente, os


comportamentos não podem ser julgados como problemáticos fora de um
202 Capítulo 7

contexto; isto é, embora certos comportamentos de clientes possam ser


problemáticos (CRB1), também é provável que sejam melhoras (CRB2), quando
considerado o repertório atual do cliente. Por exemplo, se uma cliente evitava
relacionamentos por medo de estar sendo muito dependente, então, o surgimento
de um comportamento de dependência seria realmente um CRB2 e deveria ser
reforçado nos primeiros estágios da terapia. Ou, se a dependência havia sido
considerada como um CRB 1, então, melhoras precisam ser modeladas e refor-
çadas, e não punidas. Uma melhora pode ser o fato de o cliente ligar para o
terapeuta uma ou duas vezes por semana, ao invés de quatro ou cinco, ou diminuir
o tempo de suas ligações telefónicas para menos de dez minutos. Usar a visão
das relações objetais para avaliar o comportamento como patológico pode levar
à punição de comportamentos de dependência, mesmo quando eles são
considerados avanços.
Em resumo, embora alguns aspectos das relações objetais sejam mais
compatíveis com a visão do behaviorismo radical do que é a psicanálise tradicional
,

tanto as relações objetais quanto a visão psicanalítica tradicional compartilham


suposições fundamentais que discordam da FAP. São estas: (1) estruturas mentais
causam comportamentos (adaptativos e não-adapíativos) (2) a base de nossa
,

personalidade é formada através de importantes interações tanto com o pai como


com a mãe, durante períodos críticos de desenvolvimento e (3) comportamentos
,

específicos do cliente (separação identificações projetivas) são considerados


,

patológicos a priori. Em contraste, a FAP (1) prioriza eventos ambientais como


causas definitivas do comportamento (2) afirma que importantes eventos modelam
,

nosso comportamento no decorrer da vida e (3) enfatiza o significado contextual


,

do comportamento - que um mesmo compor-tamento pode ser patológico ou


adaptativo, dependendo do contexto em que ocorre.

FAP EM CONTRASTE COM TERAPIAS ATUAIS DO


COMPORTAMENTO

A FAP difere de outras terapias comportamentais na essência do


significado dado a certos aspectos da relação terapêutica Especificamente, a
.

FAP afirma que o relacionamento terapêutico é um ambiente que pode provocar


e imediatamente dar início a um comportamento clinicamente relevante Esse .

aspecto do relacionamento raramente tem sido mencionado por terapeutas


comportamentais. Algumas exceções notáveis incluem Goldfried e Davison
Psicoterapia Analítica Funcional 203

(1976), que mostraram que o comportamento dentro da sessão poderia.


eventualmente, ser útil no processo de terapia comportamental. Goldfried (1982)
também chamou a atenção para o relacionamento cliente-terapeuta como aspecto
primordial para o entendimento da resistência durante a terapia comportamental.
Essa oportunidade terapêutica, de os problemas do cliente ocorrerem na sessão
terapêutica, foi também reconhecida por Goldfried que entendia a resistência
,
"
como sendo uma benção contraditória pois, ao mesmo tempo em que interfere
no andamento da terapia, também fornece ao terapeuta amostras em primeira
"
mão do problema do cliente (p. 105). Embora esses autores reconhecessem a
ocorrência dos problemas do cliente dentro da sessão e sua respectiva contribuição
potencial para o tratamento, eíes também os entendiam como desempenhando
um papel relativamente menor dentro dos métodos de terapia comportamental .

Assim, essas visões parecem ter tido pouco impacto na área. Ao contrário quando
,

terapeutas comportamentais falam a respeito da relação terapêutica e reconhecem


a sua importância, eles tipicamente se referem a tais fatores como "efeitos não-
" " '
específicos ,
o uso de um
bom relacionamento' como base para se obter
"
cooperação durante o tratamento ou "usar o valor de reforçamento social do
terapeuta para motivar ou manter mudanças na vida diária". Mesmo tendo
considerável importância, essas variáveis não direcionam a atenção para os
comportamentos clinicamente relevantes que ocorrem na sessão terapêutica, como
acontece na FAP.

Essa diferença de enfoque está clara na revisão de Sweet (1984) sobre


assuntos de relacionamento terapêutico apresentados por terapeutas
comportamentais, que incluem fatores como o impacto do relacionamento, tempo
do terapeuta, e reforçamento social. Nenhum dos estudos revisados mencionou
a importância dos comportamentos-problema do cliente que ocorrem durante a
sessão. Algumas vezes esses comportamentos foram ignorados, mesmo tendo
atraído a atenção do terapeuta, como neste caso exemplificado por Sweet: ele
descreveu uma cliente que estava com medo de progredir no tratamento, o que
era manifestado, em parte, por suas reações negativas perante os elogios do
terapeuta (reforçamento social foi o procedimento empregado). O terapeuta usou
"

flooding" para "superar esse impasse". Ao citar esse caso como um exemplo
de como superar uma dificuldade técnica, o "medo do sucesso" dentro do processo
terapêutico, Sweet desconsiderou a importância deste fator como uma ocorrência
de um problema que tinha impacto significativo em outras áreas da vida do
cliente. Além disso, não foram levados em consideração os benefícios potenciais
que a superação da dificuldade técnica poderia ter tido na vida do cliente.
" "
204 Capítulo 7

A FAP se parece com o treinamento de habilidades sociais porque ela


enfatiza os déficits em repertórios interpessoais como a causa dos problemas
do cliente e vê o tratamento como um meio para remediar esses déficits.
Entretanto, as técnicas diferem significativamente, na maneira como os déficits
de habilidade são detectados e no próprio processo de remediação. Na FAP, o
terapeuta é direcionado a observar, durante a sessão, ocorrências reais de
sintomas apresentados, e as variáveis que os controlam. A definição do tipo e
da quantidade da melhora comportamental baseia-se no repertório existente de
" "
cada cliente. Tais comportamentos-alvo podem ser sutis e difíceis de
reconhecer sem essa observação direta. Por exemplo, esta situação aconteceu
com Agnes (a cliente mencionada previamente), cuja melhora consistia em dar
razões para desistir da terapia antes mesmo de tornar este fato uma realidade.
Talvez o mais importante na FAP seja que uma melhora é uma mudança
,

comportamental que ocorre sob condições de estímulos que causam os sintomas.


Na verdade, a equivalência funcional entre a situação terapêutica e o ambiente
natural é uma pré-condição para a FAP. Se a situação terapêutica não evoca os
sintomas, a FAP não pode ser feita. Assim, no sistema da FAP, os sintomas e as
melhoras são definidos funcionalmente.

Diferentemente, o treinamento de habilidades sociais raramente implica


observação direta dos sintomas ou das condições que os causam. Além disso, as
habilidades são adquiridas sob condições obviamente diferentes das que causam
os sintomas. O comportamento adquirido através de treinamento, modelagem,
" "
role-playing e ensaio comportamental, durante a sessão é funcionalmente
,

diferente do comportamento que deve acontecer na vida real, mesmo que eles
possam parecer iguais. Ignorar os aspectos funcionais do comportamento é como
ignorar a diferença entre aprender a pronunciar uma frase em francês sem saber
seu significado, e aprender essa mesma frase conhecendo o idioma. As frases
podem parecer exatamente iguais para o ouvinte, mas elas são funcionalmente
muito diferentes. Pode-se encontrar uma alusão a esse problema em uma revisão
feita por Scott, Himadi e Keane (1983), da literatura que trata da generalização
do treinamento das habilidades sociais. Eles concluíram que a falta de
generalização demonstrável é responsável pela aceitação limitada do treinamento
das habilidades sociais como forma viável de tratamento. Do ponto de vista da
FAP, a falta de similaridade funcional entre o ambiente de treinamento e o natural,
que é típica do treinamento de habilidades sociais, não fornece nenhuma garantia
de que o comportamento treinado será transferido para uma situação real e que
,

são necessárias explicações para dar conta desses casos.


Psicoterapia Analítica Funcional 205

Apesar das diferenças dever-se-ia enfatizar que a FAP complementa


,

e sobrepõe-se a outras terapias comportamentais. Uma vez que a terapia


compor-tamental demonstrou sua eficácia ainda é o tratamento escolhido para
,

intervenção inicial na maioria das situações. Em contraste os dados empíricos


,

que confirmam a eficácia da FAP ainda não foram reunidos. Por essa única
razão, faz sentido tentar a terapia comportamental como primeira intervenção
e só depois complementar com a FAP, conforme for necessário.
A FAP foi desenvolvida dentro do contexto da terapia comportamental .

No início era usada quando esta parecia ser ineficaz. Agora a FAP está sendo
usada em conjunto com a terapia comportamental desde o início e às vezes,
,

torna-se o modo principal de tratamento. A FAP é facilmente integrada à terapia


comportamental porque muitos dos métodos desta última evocam CRBs. Por
"
exemplo, instruções específicas sobre a tarefa de casa" são requentemente

f
fornecidas pelo terapeuta durante a terapia comportamental. Para clientes cujos
problemas envolvem docilidade excessiva, rebeldia, culpa ou ansiedade por não
corresponder às expectativas, essas tarefas naturalmente abrem uma oportunidade
para a FAP.

FAP: UM RARO NICHO ENTRE A PSICANÁLISE E A


TERAPIA COMPORTAMENTAL

Os métodos da FAP se sobrepõem aos métodos das terapias


comportamental e psicanalítica. Para ilustrar essa posição, vamos considerar o
caso de Melissa, 29 anos, que procurou terapia com o segundo autor por
apresentar depressão recorrente e sentir-se arrasada em função de seu pouco
"

valor. O seu dia-a-dia não estava funcionando bem, e a sensação era de estar se

afogando Sem sentir nenhum entusiasmo pela vida, ela confessou ter
"
.

"

considerado a hipótese de suicídio. Ela lutou contra questões do tipo: Eu valho


"

a pena? "Consigo me perdoar? "Vale a pena alguém me amar? Notamos


" "
.
, ,

que ela nunca tinha tido uma relação íntima. Tradicionalmente, os tratamentos
comportamentais evitam esses problemas pouco específicos e os deixam para
terapeutas psicodinamicamente orientados. Todavia nós acreditamos que esse
tipo de problema do cliente pode ser submetido a uma análise comportamental.
Muitos dos repertórios a serem modelados eram aqueles necessários a
relacionamentos íntimos. Além disso, muitos dos CRBls de Melissa seriam
206 Capítulo 7

evocados somente por relacionamentos de longa duração. Devido a isso, o


tratamento também foi longo - eu vi Melissa por um período superior a 5 anos.
A duração do seu tratamento lembra a duração de tratamentos psicanalíticos,
porém foram usados princípios comportamentais.
Em nossa opinião, os resultados foram excelentes. Ao final de 5 anos,
Melissa estava em um relacionamento de compromisso e escreveu a seguinte
descrição da terapia: "O que [a terapeuta] me ajudou a fazer foi dar tempo a
mim mesma para cicatrizar a dor. Ela me ouviu, me confortou, me amou
incondicionalmente. E, como resultado de ter dado tempo a mim mesma e ter
deixado alguém me amar, hoje eu tenho uma vida cheia de amor e esperança,
diferente de qualquer coisa que eu possa ter imaginado antes". Somos a favor
das avaliações rigorosas que são características dos tratamentos comportamentais
e oferecemos a avaliação do resultado acima como um método provisório No .

entanto, a FAP é assim como a psicanálise, um tratamento complexo e de longa


,

duração, que não permite facilmente uma avaliação dos resultados nos moldes
tradicionais.

O meu papel na terapia com Melissa foi ser uma pessoa "real" ,
" "
verdadeira com quem ela poderia relacionar-se e brigar. Ou seja, eu não
,

escondi minhas emoções meus valores e nem minhas opiniões. Por essa razão,
,

evoquei os problemas que ela tinha em formar e manter uma relação íntima .

Entretanto também forneci, na terapia, a oportunidade de fazer um novo


,

comportamento surgir e ser reforçado. Os trechos seguintes são algumas das


interações específicas que refíetem o processo que resultou na melhora de Melissa:

Trecho 1

C: Eu estou sempre nervosa perto de você .


Eu estou contando a você sobre meus
sentimentos minha vida; sinto-me nua. Quando não digo nada, me sinto segura.
,

Quando eu o faço, não sei prever minha reação ou a sua. Eu me preocupo com o
que você irá pensar. (Esse é um CRB2 significativo, uma vez que Melissa raramente
relatava seus sentimentos .
Relatos desta natureza são encorajados pela FAP e pela
psicanálise.)

T: Eu me sinto mais próxima de você quando você me deixa saber quem você é (Eu .

estou ampliando uma resposta específica que é um reforçador natural em potencial.


,

Apesar de ser geralmente visto como contraterapêutico por psicanalistas e não ,

ser normalmente utilizado por terapeutas comportamentais é recomendável fazer


,

uso dele de acordo com as regras da FAP.)


,
Psicoterapia Analítica Funcional 207

C: Eu nunca senti meus sentimentos tão próximos da superfície antes nunca os senti
,

tão intensamente. (A Regra 4 sugere a observação dos efeitos do reforçamento .

Essa resposta parece refletir um resultado imediato dos efeitos reforçadores da


resposta do terapeuta.)
Trecho 2

T: Como será para você não me ver por 4 semanas? (Um enfoque dado ao fato do
terapeuta sair de férias é um procedimento padrão dentro da FAP e da psicanálise .

Embora não seja frequentemente trabalhado por terapeutas do comportamento a ,

FAP oferece uma explicação comportamental para se fazer isso em alguns casos ) .

C: Difícil, pois me sinto muito ligada a você. Esse é o único lugar onde posso falar ,

chorar, fazer o que quiser. O fato de não te ver por um mês é uma chance para eu
tentar me relacionar mais intimamente com as pessoas de quem eu gosto (Isto é.

um CRB2 uma resposta importante tanto para a FAP quanto para a psicanálise.)
,

T; Eu também vou sentir saudades. (É permitido fazer isso na FAP porém não na
,

psicanálise.)

Trecho 3

C: Eu me fechei (intencionalmente) em relação a praticamente todo mundo. Eu estou


caindo e não quero que eles caiam comigo. Eu não quero ser um peso.
T: Você também sente isso a meu respeito? (Terapeutas do comportamento poderiam
ter desafiado a idéia irracional de ser um peso e não teriam perguntado seus
sentimentos a meu respeito. Psicanalistas teriam provavelmente feito o mesmo
que eu. A FAP talvez tivesse feito as duas coisas.)

Trecho 4

T: Você realmente se abriu para mim, para você mesma e para os outros. Você saiu do
período suicida, e está aprendendo mais sobre o que te coloca e te tira destes estados
de espírito, está correndo mais iscos, aprendendo mais sobre o que você quer, sobre
r

o que sente e como conversar a respeito desses sentimentos. Você está mais consciente
sobre sua sexualidade. (Essa é uma interpretação que traz aspectos de interesse tanto
para psicanalistas quanto para terapeutas comportamentais. A comparação entre o
comportamento dela dentro da sessão e o comportamento que ocorre na vida real é
característica da psicanálise. A ênfase dada ao relacionamento funcional entre o seu
comportamento e o seu humor na vida diária é mais característica da terapia
comportamental. A interpretação da FAP contém elementos de ambos.)
208 Capítulo 7

T: O que você está sentindo agora?


C: Nada. [com uma expressão de desdém]
T: Isso soa como um tapa na cara, sabia? (Esse comentário é uma contingência feita
dentro da sessão que bloqueou a sua esquiva. Psicanalistas teriam notado o
comportamento, porém provavelmente não teriam bloqueado a esquiva com uma
observação pessoal.)
C: Porquê?

T: Eu estou te dizendo o que penso, portanto você deve reagir de alguma maneira em
" "
relação a isso mas você simplesmente diz nada e eu não sei o que está
, ,

acontecendo. (Apesar de estar utilizando as regras sugeridas pela psicanálise dentro


da sessão, a interpretação é baseada em princípios comportamentais.)
C: Eu voltarei em alguns minutos, [ela sai e logo retorna] Eu simplesmente me fechei ,

fiquei realmente assustada. O que aconteceu de mais importante na minha vida


este ano foi como eu tenho deixado você entrar nela, eu nunca me senti tão
fortemente amparada por ninguém antes. É assustador te dizer isso. (Note que
isso é um CRB2.)
T: Me sinto mais próxima de você quando você me diz o que te assusta. (Novamente
isso é uma ampliação de uma resposta pessoal que serve como reforçador natural.)

Outros tipos de intervenções feitas por mim incluíram ajudar Melissa


diretamente na sua procura por um emprego analisando criticamente seu
,

currículo, revisando seus formulários de pedidos de emprego e ensinando a ela


,

técnicas de relaxamento para combater a ansiedade em relação à entrevista.


Todas estas atividades são normais para terapeutas comportamentais porém ,

são evitadas por psicanalistas. A FAP fornece uma razão para explicar como e
quando a abordagem da terapia comportamental é apropriada. E também explica
quando a passividade psicanalítica seria mais eficaz.
Em resumo esperamos que a FAP possa mostrar as falhas e ainda incluir
,

os melhores aspectos tanto da terapia comportamental quanto da psicanálise.


Os benefícios e as desvantagens da integração das abordagens comportamental
e psicanalítica foram discutidos por Messer (1983 1986). Para alguns, as
,

desvantagens são os compromissos exigidos para integrar a ênfase na precisão


científica parcimônia, e melhora da terapia comportamental, com a ênfase
,

psicanalítica em explorações em aberto e na compreensão de cognições,


comportamento e afeto. Com o desenvolvimento promissor a FAP parece oferecer
,

um meio de integração que poderia minimizar estes compromissos .


8

Reflexões sobre ética, supervisão ,

pesquisa e temas culturais

Neste último capítulo, discutiremos alguns temas éticos existentes na condução


da psicoterapia analítica funcional (FAP). Descreveremos como os princípios
da FAP podem ser aplicados ao processo de supervisão. Em seguida ,

"

enfocaremos a importante questão: Onde estão os dados", e nossas idéias não


convencionais de como proceder na coleta destes dados. Finalmente, para sermos
realmente diferentes, discutiremos tópicos tais como fastfood, espiritualidade,
e de que forma os princípios que são a base da FAP podem ser ampliados para
abranger problemas enfrentados pela nossa cultura.

TEMAS ÉTICOS

Códigos como Os Princípios Éticos dos Psicólogos (APA, 1981) e


livros como Ética na Psicologia (Keith-Spiegel e Koocher, 1985) oferecem
padrões profissionais que pretendem orientar clínicos em sua conduta ética.
Para aumentar essas orientações (regras), selecionamos um número de temas
1 rv t i * *

para discussões adicionais.

209
210 Capítulo 8

Antes de prosseguir, no entanto, temos algumas palavras a dizer sobre a


ética na perspectiva comportamental, baseadas, em parte, em Zuriff (1987) e
Skinner (1974). Um determinado evento pode ser um reforçador para: 1) o
comportamento do cliente, 2) o comportamento do terapeuta, 3) o bem estar dos
membros do grupo profissional, 4) o bem estar dos membros da sociedade como
um todo, e 5) a sobrevivência da cultura. Os problemas éticos ocorrem quando os
reforçadores a longo prazo são positivos para um ou mais de um desses cinco
grupos, mas não para todos. Posteriormente, em uma seção sobre problemas
culturais, faremos menção ao tema do conflito entre os reforçadores individuais
e a sobrevivência da cultura. Embora não seja discutido aqui, tanto algumas das
orientações éticas da APA quanto Keith-Spiegel e Koocher se referem às
contingências conflitantes para o terapeuta individual e o grupo profissional De
fato, a definição de ética de Keith-Spiegel e Koocher, um conjunto de orientações
" "

para a conduta, essencial para manter a integridade e coesão da profissão


(1985, p. XIÍI), salienta a importância dos reforçadores para o grupo profissional
em geral. Acreditamos, no entanto, que as contingências do terapeuta e do cliente
que conflitam são as fontes mais importantes de problemas éticos. Por
conseguinte, salientamos essas questões nesta seção e em nossas discussões
sobre reforçamento arbitrário no Capítulo 1 e na Regra 3 do Capítulo 3.
Como os clientes frequentemente nos procuram sofrendo e com
,

necessidade de conforto e orientação eles são particularmente sensíveis à


,

influência do terapeuta. Os psicoterapeutas estão na posição de auxiliar a produzir


grandes mudanças nesse período tão vulnerável da vida dos clientes, mas o
contrário a possibilidade de prejudicar, também existe. As questões que
,

levantamos são relevantes para o terapeuta de qualquer orientação teórica ,

mas algumas são particularmente relevantes para a FAP devido à potência de


seus procedimentos. Discutiremos algumas precauções para auxiliar a diminuir
a possibilidade de que a FAP seja usada para maltratar ou explorar clientes.

Proceda cuidadosamente

As variáveis controladoras existentes na sessão terapêutica podem ser


muito poderosas. Os procedimentos da FAP tendem a produzir reações emo-
cionais intensas e efeitos reforçadores que são associados com relacionamento
íntimo. Por causa disto a FAP pode ser muito benéfica para o cliente afetando
,

amplos repertórios. Por exemplo durante a FAP, o cliente pode aprender pela
,

primeira vez a confiar em outro ser humano. No entanto, essas mesmas variáveis
Reflexões 211

controladoras presentes na sessão podem ser extremamente aversivas e produzir


efeitos prejudiciais para o cliente, como intenso afeto negativo e repertórios
associados de fuga e esquiva. Assim o cliente pode abandonar a terapia e tornar-
,

"
se um ermitão porque o baixar a guarda" que acontece quando uma pessoa
confia pode evocar esquiva e fuga acompanhada de dor.
Visto que é comum o CRB1 ser um comportamento controlado
aversivamente, é necessário, requentemente que exista alguma aversividade
f ,

para: 1) evocar o CRB que é requerido para a FAP, e 2) bloquear a esquiva que
se segue. Embora a pouca aversividade atrapalhe o progresso porque a esquiva
do cliente é suficientemente reforçada na sessão muita aversividade pode ser
,

sufocante e imobilizadora. Os clientes cujos comportamentos diante de estímulos


aversivos são geralmente disruptivos, devem ser expostos à FAP com precaução .

Por exemplo considere o cliente que é extremamente sensível a críticas. Neste


,

caso, quando um colega o critica por um pequeno erro ele fica emocionalmente
,

desorganizado e perde vários dias de trabalho. A FAP de início, é utilizada


,

cuidadosamente com esse cliente, pois focalizar comportamentos na sessão pode


parecer uma crítica indireta e provavelmente demasiada, se ocorre no aqui e
agora. Geralmente, é boa política iniciar o tratamento focalizando os problemas
que ocorrem fora da sessão, usando procedimentos de outros sistemas de terapia,
antes de fazer alguma coisa com os CRBs ou seja, antes de focalizar a relação
,

terapeuta-cliente. Esse procedimento a judará a desenvolver a tarefa de orientação


do tratamento, fornecendo a oportunidade de terapeuta e cliente estabelecerem
um método de trabalharjuntos, sem complicações adicionais oriundas de reações
emocionais disruptivas. Proceder cautelosamente significa também que, identificar
como CRB um comportamento na sessão é uma hipótese para ser explorada, e
que a relevância clínica necessita ser demonstrada e não assumida.

Evite Exploração Sexual

Uma vez que focalizar o comportamento que ocorre durante a sessão


intensifica os sentimentos entre cliente e terapeuta, pode acontecer como resultado
uma atração sexual entre os dois indivíduos. Mesmo pensando que discutir esses
sentimentos pode ser uma possibilidade de progresso terapêutico, agir é
contraterapêutico e anti-ético. Uma questão semelhante existe quando o cliente
tem problemas sexuais. Um terapeuta ingénuo ou "interesseiro" pode argumentar
que, de acordo com os princípios da FAP, a melhor intervenção seria envolver-
se sexualmente com o cliente pois os comportamentos clinicamente relevantes
212 Capítulo 8

somente surgiriam no relacionamento sexual. Ao contrário, nessa situação, a


melhor intervenção é a terapia sexual do cliente com uma pessoa significativa.
Como sexo entre cliente e terapeuta parece ser reforçamento arbitrário fornecido
pelo terapeuta, o cliente, mais cedo ou mais tarde, se sentirá explorado e traído.
isto é confirmado pelo número crescente de processos por prática indevida da
profissão, movidos pelos clientes contra seus terapeutas, por ter havido relações
sexuais entre eles.

Esteja Alerta para Interromper Tratamentos Ineficientes

A noção básica da FAP de que os CRBs ocorrem na relação terapeuta-


cliente pode resultar na continuação de tratamentos ineficientes. Por exemplo, o
cliente cujos problemas estão centrados em sua incapacidade para terminar
relacionamentos destrutivos, pode também mostrar comportamento semelhante
durante uma terapia ineficiente. Muitas vezes, o cliente permanece na terapia
quando seria melhor terminar o tratamento ou ser encaminhado para outro
terapeuta. Acrescente-se que o papel do terapeuta como especialista/autoridade
diminui a probabilidade do cliente ter a iniciativa de terminar principalmente
,

quando ele foi advertido contra deixar a terapia prematuramente.

Atente para Valores Opressivos e Preconceituosos


*

Devido aos fundamentos do behaviorismo radical, a FAP não tem nenhum


pressuposto sexista, racista ou discriminatório; especificamente, não há modeio
do que uma pessoa saudável deva ser ou de quais tipos de comportamentos
devam estar em seu repertório. O que é favorecido são os repertórios
positivamente reforçados e são abandonados os controles aversivos. Portanto,
não há base teórica para decidir quais os comportamentos específicos que devem
estar nos repertórios de uma pessoa baseando-se em raça, género, orientação
,

sexual, idade deficiência física, ou pertencer a qualquer outro grupo. A teoria é


,

neutra a respeito dessas questões .

O terapeuta no entanto, como membro de uma cultura que contém formas


,

sutis, e às vezes não tão sutis de preconceitos e discriminações, pode ter valores
,

consistentes com essa cultura Valores se referem aos reforçadores para a pessoa;
.

isto significa que um terapeuta sexista ou racista pode continuar a reforçar os


Reflexões 213

comportamentos do cliente que foram modelados por uma cultura racista ou


sexista. Nós acreditamos que o efeito mais prejudicial da opressão é que o acesso
aos reforçadores é limitado. Por exemplo uma mulher que aprendeu a sempre
,

concordar, devido ao treino machista não terá acesso a reforçadores que


,

requeiram asserti vidade, igualmente um homem que foi punido por demonstrar
,

sentimentos, e assim evita situações evocadoras não terá acesso a reforçadores


,

disponíveis em uma relação íntima que requeira expressão de sentimentos. É


,

desnecessário dizer que o acesso a reforçadores é limitado quando a educação,


,

o emprego e as oportunidades de relacionamento são negados com base na raça ,

género, ou em ser membro de grupos minoritários. Consequentemente, um


terapeuta que reforça baseando-se no sexismo ou racismo estará interferindo
,

em repertórios que podem a longo prazo, aumentar reforçadores positivos,


,

comprometendo dessa forma os objetivos da FAP Esse problema existe pelo


.

fato de que o viés pode ser sutil e não ser observado pelo terapeuta Como .

precaução contra tal viés, é recomendável ter regularmente sessões registradas


em vídeo e observadas por indivíduos sensíveis a essas questões .

Evite Tirania Emocional

Tirania emocional é um termo empregado por Jeffrey Masson (1988) ,

para descrever o abuso de poder pelos terapeutas em detrimento de seus clientes.


De acordo com Masson, abuso é construído dentro da própria psicoterapia porque
o poder entre terapeuta e cliente não é balanceado. O poder do terapeuta estrutura
a sessão terapêutica, quanto tempo ela demora, qual a sua frequência, quais os
comportamentos permitidos ou não durante a sessão, e quanto ela custará. Masson
também duvida do valor da relação terapêutica baseado no acolhimento atenção
,

e preocupação do terapeuta, pois essas qualidades só podem existir entre as


pessoas quando a relação é entre iguais. A psicoterapia é, segundo a conclusão
de Masson (p. 251), "uma profissão que depende, para existir, da miséria das
"

pessoas e é, por sua própria natureza, corrompida e falha.

Os abusos mental, emocional, ísico e sexual cometidos na profissão,


f

os quais foram documentados por Masson, são amedrontadores e graves. Suas


alegações sobre a falha e a corrupção na psicoterapia requerem uma rigorosa
análise por parte dos clínicos. Examinaremos os principais argumentos de sua
crítica, descreveremos a visão da FAP sobre tirania emocional e sugeriremos
maneiras de limitar o abuso de poder na nossa profissão.
Capítulo 8

Primeiramente, é uma auestão de valor social saber se os abusos são


/ X

contrabalanceados pelos bons efeitos da psicoterapia. A resposta para esta


questão será baseada em dados empíricos concernentes ao número e à gravidade
dos maus efeitos em comparação com o número e qualidade dos bons efeitos.
Por um lado parece que o viés de Masson compromete seriamente sua avaliação
da questão empírica. Por exemplo, ele usa relatos de pacientes individuais como
evidência de abuso, enquanto que, ao mesmo tempo, analisa como mito relatos
de clientes individuais que apoiam o valor da terapia ("Eu morreria se ficasse
"
sem sua ajuda [p. 241]).
Em segundo lugar, Masson considera que uma relação "real" só pode
ocorrer quando é igual. Enfatizar realidade parece muito restrito. No mundo
real, relacionamentos reais são iguais em alguns aspectos e desiguais em outros.
Do ponto de vista da FAP, a realidade de uma relação é definida funcionalmente.
Se evoca sentimentos autênticos como raiva amor ou terror, então alguma coisa
,

" "
real aconteceu. Igualdade em todas as suas dimensões não é uma condição
necessária para que alguma coisa real aconteça.
Em terceiro lugar, em termos de equilíbrio do poder nossa visão é de
,

que o desequilíbrio não pode ser considerado bom, mau, ou neutro, sem se
estabelecer o contexto. Se o poder desequilibrador é terapêutico ou não depende
,

da natureza do problema do cliente e da resposta contingente do terapeuta. Se o


problema do cliente é evocado por uma diferença de poder, então a diferença do
poder que ocorre na terapia pode ser uma condição necessária (mas não suficiente)
para o sucesso do tratamento. Considere por exemplo, que o cliente seja incapaz
de afirmar-se e que tenha sido explorado por pessoas que tem poder sobre ele
(como chefes, policiais, editores e professores). Como ele tem sido incapaz de
aprender novas maneiras de se relacionar com as autoridades em ambiente natural ,

a terapia pode prover uma oportunidade ideal de aprendizagem para este cliente ,

porque a diferença do poder é igual ao ambiente natural. No ambiente de


tratamento a assertividade e independência do cliente poderiam ser fortalecidas
,

se o terapeuta fosse reforçado pela melhora. No entanto se o terapeuta falha em


,

fazer isso, e no lugar reforça a ausência de poder do cliente então existe o


,

abuso.

Do ponto de vista da FAP o maior abuso que pode ocorrer na terapia é


,

quando a ação do terapeuta é controlada por outros reforçadores e não pelo


progresso do cliente. Na prática clínica particular, por exemplo, o pagamento
ao terapeuta é contingente a manter o cliente em terapia o que, de outro lado,
,
Reflexões 215

pode ser contraterapêutico. Mais problemáticos ainda do que dinheiro são outros
reforçadores possíveis para o terapeuta como a subserviência do cliente, sua
,

admiração, civilidade paquera, masculinidade, feminilidade e assim por diante.


,

Somente porque esses reforçadores poderiam ser responsáveis peio


comportamento do terapeuta isto não garante que assim aconteça. No entanto o
,

problema é difícil de resolver.


Tendo em vista a possibilidade de abuso parece importante a monitoria
,

do processo terapêutico por colegas e supervisores usando recursos audio-


,

visuais. Obviamente , tal monitoria depende do consentimento do cliente. Além


disto, outras maneiras precisam ser encontradas para garantir a prática
terapêutica: 1) bom treino clínico consciência e sensibilidade; 2) ter o
,

comportamento exigido do cliente no seu próprio repertório; 3) ser uma pessoa


capaz de ser reforçada pela melhora do cliente e não por outros reforçadores
contraterapêuticos. A supervisão da FAP (discutida a seguir) aplica os princípios
da FAP à relação de supervisão e pode auxiliar a garantir a adequação dos
,

terapeutas à FAP.

SUPERVISÃO DA FAP

O supervisor da FAP primeiramente explica didaticamente as regras da


FAP de uma forma semelhante à apresentada neste livro. Em seguida o supervisor
,

auxilia a colocar em prática essas regras, examinando as sessões terapêuticas e


oferecendo interpretações baseadas na FAP sobre a interação terapeuta-cliente.
A observação direta através de um espelho unidirecional, é a melhor forma de
,

um trabalho de supervisão, mas também são utilizados recursos audio-visuais.


A eficácia da supervisão da FAP é incrementada, no entanto, se o CRB relevante
para a interação terapeuta-cliente pode ser trazido para a relação supervisor-
supervisando.
Por exemplo, o segundo autor estava supervisionando um aluno de pós-
graduação, cujo cliente tinha dificuldades em auto-conceito e em expressar
sentimentos, quando esta interação de supervisão aconteceu:

Supervisor: Eu estou contente por trabalhar com você. Eu penso que você é realmente
especial e sinto uma familiaridade e tranquilidade com você que é raro eu sentir
,

com uma pessoa que eu não conheço muito bem.


216 Capítulo 8

Supervisando: Eu estou contente também. Eu saí do nosso último encontro sentindo a


relação calorosa, e decidi que continuaria a sentir isso enquanto pudesse. Eu disse
às minhas amigas que é desta maneira que o curso de pós-graduação deveria ser.
(Alguns meses depois.)
Supervisor: Qual a semelhança e a diferença entre o nosso processo e o seu com o
AVi VV é

Supervisando: Ela e eu somos ambas fechadas, e estamos trabalhando em estar inteiras


na sessão. As diferenças são que o meu relacionamento com ela é mais limitado,
eu tenho certeza por mim, mas eu sinto que é limitado por ela. Eu tenho a tendência
a incorporar a maneira de agir de outras pessoas. Eu quero permanecer eu mesma,
mais constante. Com você, eu tenho sentimentos de intimidade e não sei o que
fazer com isto.

Supervisor: Eu sinto da mesma maneira. Eu não sei se nós temos que fazer alguma
coisa sobre o nosso sentimento de intimidade. Eu tenho uma tendência de me
envolver rapidamente e com intensidade em relacionamentos, oor isso eu eostaria
1 ' ± W

de aguardar e sentir a intimidade entre nós, aproveitá-la, falar sobre ela, e observar
o que acontece.

Essas interações mostram como o relacionamento de supervisão pode


ser um modelo do relacionamento terapeuta-cliente; ou seja, não só a relação
supervisando-cliente é o foco mas existe prioridade também para o
,

relacionamento entre supervisando e supervisor. A natureza educacional da


afiliação traz dimensões adicionais ao relacionamento, e um compartilhar mútuo
pode acontecer entre supervisor e supervisando, que geralmente não seria possível,
ou requerido, com o cliente.
Uma vez que a sessão terapêutica para esse cliente do terapeuta-estudante
geralmente começa com o cliente relatando como se sentiu e o que aconteceu
durante a semana, frequentemente começamos a sessão de supervisão falando
sobre o que sentimos naquele momento e as questões que pensamos e que
debatemos. Portanto não é necessário dizer que os comportamentos clinicamente
,

relevantes do cliente e os princípios da FAP tornam-se os pontos principais da


discussão. As questões típicas do supervisor incluem:
l . Como você está se sentindo com essa sessão de supervisão? Como
você se sente a respeito do feedback que eu dou pra você? O que você
quer a mais de mim? Ou a menos? (Estas questões são comparáveis
às feitas pelo terapeuta ao cliente.)
Reflexões 217

2.Quando o seu cliente fala de coisas que você pensa que são irrelevantes ,

quais tipos de causas múltiplas podem estar operando e que expressam


preocupações do cliente? De que modo você pode utilizar seus
sentimentos de raiva e aborrecimento como estímulos discriminativos
para auxiliá-lo a ser um melhor terapeuta?
3.Quais são seus sentimentos a meu respeito? Quais são seus medos e
expectativas sobre o nosso relacionamento? (Essas são questões que
se comparam às formuladas pelo terapeuta ao cliente.)
4 . Há algumas semelhanças entre os assuntos do seu cliente e os seus?
5 Eu percebi
.
que você não parece diferente quando seu cliente chora O .

que você sente quando ele está chorando? Quais são seus sentimentos
sobre o choro?

ó Eu.
gostaria que você fizesse uma lista sobre o que você sente ser
adequado querer no nosso relacionamento, e o que você considera não
ser adequado querer. (Essa proposta é semelhante àquela que o
supervisando deveria dar ao seu cliente.)
Então, em supervisão, não somente a FAF é ensinada didaticamehte ,

mas principalmente é ensinada experiencialmente. O relacionamento na


supervisão é difícil e desafiador, embora reforçador, para o terapeuta-estudante
que necessita desenvolver habilidades de intimidade, ser aberto, vulnerável,
honesto, consciente e presente. Mesmo supondo que os tópicos podem algumas
vezes se sobrepor ao que é analisado em terapia pessoal, ela difere da supervisão,
pois nesta, o foco é o desenvolvimento das habilidades clínicas do supervisando,
não existindo um foco específico para as questões pessoais do supervisando,
mas principalmente uma exploração de como estas questões pessoais têm impacto
no seu trabalho.

PESQUISA E AVALIAÇÃO

É bem conhecido o comprometimento dos behavioristas com a coleta de


dados. Então, a questão que podemos levantar é, "Há um resultado sistemático
ou processo de coleta de dados no qual a FAP se baseia? Infelizmente, até o
momento, não há este tipo de dado. A FAP, no entanto, se baseia em inúmeros
dados e estudos de laboratório no que se refere a conceitos básicos como
reforçamento, esquiva, controle de estímulo e regras. Porém, nós ampliamos
218 Capítulo 8

estes conceitos para áreas que ultrapassam as condições do laboratório e a


FAP passou a ter a posição de uma hipótese.
Muitas sub-hipóteses específicas, implícitas na FAP, podem ser testadas
empiricamente. Por exemplo, existe a hipótese de que os resultados são melhores
se: 1) a terapia é estruturada para evocar comportamentos clinicamente relevantes
do cliente na sessão; 2) o terapeuta repara no comportamento problema e no
comportamento relacionado ao objetivo de seu cliente, à medida em que ocorrem
durante a sessão; 3) o terapeuta tem em seu repertório o comportamento final
desejado; 4) as reações do terapeuta modelam e reforçam melhora do cliente; e
5) o terapeuta oferece interpretações sobre o comportamento do cliente que
incluem estímulos discriminativos, o comportamento interpretado e o
reforçamento. Essas sub-hipóteses podem ser avaliadas empregando-se
estratégias convencionais de pesquisa, com pelo menos dois grupos de sujeitos
escolhidos ao acaso, um dos quais recebe a FAP enquanto o outro não. As
variações destas estratégias tradicionais de pesquisa podem incluir grupos de
controle adicionais e avaliação e comparação dos grupos, fatores do sujeito e do
terapeuta, e tipos de problemas em tratamento.
No entanto, considero que questões práticas tornam quase impossível o
emprego de uma abordagem de pesquisa convencional. Por exemplo, a FAP é um
tratamento longo, que requer um treinamento intenso dos terapeutas. Assim o tempo
,

e os recursos necessários para esse estudo são imensos. Como a FAP está em
seus estágios iniciais de desenvolvimento o comprometimento de verbas para estes
,

estudos é ainda prematuro e sem justificação. Mesmo que estes obstáculos possam
ser transpostos, ainda há razão para questionar a necessidade deste tipo de estratégia
de pesquisa para os nossos objetivos atuais. Na próxima seção, analisaremos as
,

falhas dos paradigmas de pesquisa convencional e procuraremos sugerir métodos


,

alternativos para a coleta de dados que influenciem a prática clínica.

Falhas dos Modelos Convencionais de Pesquisa

Examinando problemas ligados ao planejamento convencional de pesquisa ,

"
nossa primeira questão é , Qual é o objetivo da pesquisa clínica?" De uma
perspectiva funcional, estamos perguntando, "Quais são as contingências que
mantêm os pesquisadores empregando um método específico de pesquisa?"
Embora as contingências sociais incluam solicitações para publicação , avanço
na carreira, aceitação por outros pesquisadores e agências inanciadoras, a razão
f
Reflexões 2X9

principal pela qual os pesquisadores clínicos fazem pesquisas é para descobrir


e melhorar métodos de tratamento que existem na prática clínica Desta forma
.
,

o clínico atuante é o consumidor da pesquisa clínica. O fato de este utilizar ou


não o produto da pesquisa ica sendo o reforçador final que supostamente mantém

f
as atividades do pesquisador.
O que supõe-se que aconteça e o que realmente acontece não são a mesma
coisa. De acordo com Barlow um pesquisador clínico renomado, a pesquisa
,
"

clínica influencia pouco ou nada a prática clínica (1981 p.147). Isso é verdadeiro
,

mesmo para os terapeutas comportamentais. Como pode isso acontecer? Nos


últimos trinta anos, nossa disciplina tem tido o objetivo de integrar a ciência e a
prática, e milhares de dólares têm sido gastos com estas pesquisas. A raiz do
problema, de acordo com Barlow, está na limitação das estratégias de pesquisas
convencionais empregando pesquisas de comparação entre grupos.
4

As exigências para fazer este tipo de pesquisa frequentemente excluem a


possibilidade do clínico utilizar os resultados obtidos. Por exemplo, as estatísticas
inferenciais, marca da pesquisa convencional, têm sido problemáticas. Para obter
resultados de significância estatística, os pesquisadores têm que manter no mínimo
a variabilidade entre os sujeitos, através da seleção de grupos de sujeitos tão
semelhantes quanto possível. Isto significa que certas categorias de sujeitos são
excluídas, tais como 1) os muito jovens, 2) os muito velhos, 3) os homens (ou as
mulheres), 4) os que estão ingerindo medicação, 5) aqueles que têm dificuldade
em falar o idioma local, 6) os que têm problemas emocionais além daqueles que
estão sendo estudados, ou 7) que tenham problemas de saúde graves.
Além disto, as análises estatísticas inferenciais exigem grande número de
sujeitos. Assim os únicos problemas clínicos que são estudados são aqueles de
,

grande número de pessoas. A pesquisa convencional é facilitada se um problema


objetivo e específico, como agorafobia ou disfunção sexual, é estudado quando
está disponível uma medida confíável do resultado. Frequentemente, os sujeitos
de pesquisa precisam concordar em esperar pelo tratamento, coleta de dados,
entender e assinar uma forma complexa de consentimento informado, ser
atendidos por terapeutas-estudantes, se comprometerem a concluir o tratamento,
lerem o idioma local, não serem suicidas, e assim por diante. Como os clientes
atendidos na prática clínica não são selecionados, raramente eles são os mesmos
da pesquisa convencional.
Consequentemente, os resultados obtidos podem não se aplicar a clientes
de consultório. Na prática clínica, os clientes frequentemente apresentam inúmeras
220 Capítulo 8

queixas vagas e subjetivas. Uma vez que os sujeitos de pesquisa tendem a ter
problemas objetivos e específicos, e as informações sobre os sujeitos individuais
não são disponíveis, o clínico pode não encontrar estudos sobre problemas
encontrados em sua prática. Em uma palavra, as estratégias de pesquisa
convencional produzem informações pouco relevantes para a prática clínica.
Outra crítica referente às estratégias de pesquisa convencional é que
elas não levam a inovações na teoria ou tratamento (Mahrer, 1988). Assim,
uma outra razão pela qual os clínicos não utilizam na prática as descobertas da
pesquisa, é que elas contribuem pouco com novidades. Podemos, no entanto,
dar crédito às metodologias das pesquisas convencionais ao considerar que estão
envolvidas em auto-exame, colocando seus métodos em questão (Barlow, 1981;
Greenberg & Pinsof, 1986; Rice & Greenberg, 1984). Porém, as alternativas
são pouco claras. Na próxima seção, lidaremos com esse problema
funcionalmente, observando o que influencia a prática, fazendo então
generalizações sobre os dados considerados.

Métodos Alternativos de Coleta de Dados que Influenciam a Prática Clínica

Provavelmente a experiência clínica pessoal figura como primeiro item da


lista de todos os terapeutas ao considerarem as influências em seu repertório clínico.
Joseph Matarazzo, um pesquisador clínico proeminente, afirma que "mesmo depois
de quinze anos, pouco da minha pesquisa afeta a minha prática. A ciência psicológica
per se não me orienta em nada. Eu continuo a ler avidamente, mas é de pouca ajuda
prática. Minha experiência clínica é a única coisa que me ajudou na minha
"
prática até hoje (itálico adicionado) (citado em Bergin & Strupp, 1972, p. 340).
Muitos fatores contribuem para a forte influência da experiência pessoal.
O mais importante é que o clínico é exposto a um conjunto de dados brutos, ou
seja, tudo o que foi dito, o tom de voz do cliente, sua expressão facial, postura,
caretas, atividade motora, bem como às condições externas, como tempo, crise
internacional epidemia de gripe e assim por diante. Para serem reais, os dados
,

brutos estão sujeitos a viéses (comportamentos de ver e lembrar) do clínico,


mas nossa impressão é a de que os clínicos lembram uma quantidade
surpreendente de informações detalhadas do período da terapia do cliente. Talvez
esta grande quantidade de informações seja retida porque o envolvimento do
,

clínico no processo é comparável ao lembrar em detalhes dos acontecimentos


existentes no decorrer de nossas vidas.
Reflexões 221

Não importa a quantidade que um clínico vê e lembra pessoalmente, sobre a


,

terapia de um indivíduo ela excede largamente os dados existentes em escalas,


,

avaliações, resultados de testes e descrições fornecidas em relatórios de pesquisas


,

convencionais, mesmo os mais minuciosos. Essas numerosas observações têm


vantagens importantes .

Primeiro
ela sensibiliza o terapeuta para tendências e classificações de
,

grande número de variáveis, as quais em contrapartida facilitam o acesso a


mudanças. Por exemplo a risada autêntica de um cliente durante a sessão de
,

terapia pode ser um indicador de uma mudança significativa observada pelo


terapeuta mesmo pensando-se que a ausência de risada não foi obieto,
,

anteriormente, de sua atenção. De fato no decorrer da terapia, o terapeuta coleta


,

dados de linha de base sobre um grande número de variáveis permitindo detectar


,

mudanças significantes. Essas mudanças seriam perdidas em estudos de pesquisa


convencional, porque os dados são coletados para um número limitado de
variáveis pré-selecionadas.
Segundo, há abundância de informações sobre a história do cliente as*
,

suas interações no cotidiano e outras características que são baseadas na


,

entrevista inicial e na relação terapêutica em curso. À medida que o terapeuta


obtém experiência com mais clientes novos clientes podem ser comparados em
,

profundidade com os anteriores. Além disso, é útil a forma como essas


comparações são feitas, avaliadas e modeladas no decorrer do tempo.
Terceiro, há um grande conjunto de informações a respeito de como
aplicar a própria intervenção uma vez que o terapeuta já fez isso, e a observou
,

em primeira mão. Os efeitos das intervenções são interpretados dentro do contexto


da terapia, incluindo as características do cliente a natureza da relação terapêutica
,

até aquele ponto, a base das classificações e tendências para vários


comportamentos do cliente e a história de intervenções prévias com o cliente.
,

Quarto, são feitas descobertas. Por estar envolvido naquilo que acontece
de momento a momento, no decorrer da terapia, o terapeuta observa os efeitos
de inúmeras intervenções, intencionais ou acidentais, podendo assim fazer
descobertas.

Quinto, ameaças à validade interna são consideradas. Validade interna


se refere à exclusão das hipóteses alternativas de porque uma intervenção
funciona. Por exemplo, se o terapeuta oferece uma interpretação e o cliente
melhora nas semanas seguintes a questão da validade interna trata da
,

possibilidade de que outros fatores sejam responsáveis pela melhora.


222 Capítulo 8

Experimentos, através de grupos de controle, são a maneira mais fácil de excluir


as ameaças à validade interna, mas, como foi discutido anteriormente, falta
relevância a eles (validade externa). Não estamos sugerindo que os terapeutas
digam a si mesmos, "eu agora vou avaliar sistematicamente a validade interna
da minha interpretação, decidindo pela eliminação das hipóteses contrárias".
Mas, dependendo do treino e da base, o terapeuta pode considerar outros fatores
que podem ter produzido o efeito. Esses fatores podem incluir o que está
acontecendo na vida do cliente no momento, (p.ex., o cliente finalmente encontroa
trabalho) e o efeito atrasado de intervenções anteriores. O terapeuta poderá
basear-se na idedignidade da informação disponível e talvez perguntar ao cliente
f

sua opinião de porque ocorreu a mudança. Juntando todas essas informações o ,

terapeuta decide, com vários graus de confiança subjetiva se a interpretação e/


,

ou outros fatores causaram a melhora.

Certamente, o problema do viés pessoal pode influenciar o processo .

Muitos terapeutas levariam esses viéses em consideração. Para o bem ou para o


mal, o terapeuta confia nas suas próprias observações e o problema evidentemente
,

não é a falsificação de dados. Cada terapeuta leva em consideração a ameaça à


validade interna, em um nivel que satisfaz o critério particular de cada um De .

qualquer modo, esse critério pessoal não é nem mais nem menos igoroso quando
r

aplicado para avaliar a apresentação de dados de outros (incluindo os estudos da


pesquisa convencional). Todos esses fatores, acreditamos, contribuem para o
poder da experiência pessoal de influenciar a prática clínica.
A idéia de que a validade interna pode ser avaliada sem fazer um
experimento foi discutida por Kazdin (1981) em um trabalho sobre metodologia
,

do estudo de caso. De acordo com Kazdin o estudo de caso teve um tremendo


,
"

impacto na psicoterapia" (p. 184) Assim, estudos de caso atingiram o objetivo


.

de pesquisa clínica. Entre os casos históricos influentes temos o do pequeno


Hans, Anna O. e pequeno Albert. Baseando-nos no estudo de Kazdin,
,

identificamos uma série de dimensões que caracterizam a influência nos estudos


de casos. Essas dimensões têm muito em comum com as características que
tornam uma experiência pessoal passível de influenciar:
1 .
Ocasiões de diagnóstico. Quanto maior o número de ocasiões de
avaliações, mais fácil se torna construir uma inferência válida (a experiência
pessoal é composta de um gigantesco número destas ocasiões).
2 Projeções passadas e futuras O diagnóstico continuado permite a
.
.

avaliação de tendências e requências básicas as quais por sua vez permitem


,
f
Reflexões 223

projetar o que acontecerá no futuro sem a intervenção. Esta intervenção se


mostra eficaz à medida que o comportamento se desvia das projeções futuras .

Essas projeções futuras também podem ser baseadas em descrições dos


problemas do cliente, sua história e vida diária. Por exemplo, o relatório completo
da história de relacionamento de um cliente que consistentemente detalha
,

características de um transtorno de personalidade grave borderline levaria a


projetar que esses padrões persistirão no futuro. Se esse padrão existente muda
depois da intervenção, aumenta a confiança de que a intervenção foi responsável
pela melhora.
3 0 tamanho e a imediaticidade do efeito. Quanto mais amplo e
.

imediato for o efeito mais fácil atribuir esse efeito a uma intervenção específica.
,

A observação constante a sensibilidade à requência básica e à mudança que


,
f
a experiência pessoal promove conduzirão à detecção de efeitos maiores e
,

imediatos.

4 0 tipo de dado. Quanto mais próximo o dado estiver da observação


.

bruta, mais ele influencia a audiência. Frequentemente tais,descrições são


,

transcritas ou parte do material original é incluído nos estudos de caso. Eles são
próximos dos dados brutos obtidos na experiência pessoal.
5 Descrições do cliente. Além das projeções futuras ressaltadas as
.
,

informações detalhadas sobre o cliente permitem aos clínicos comparar os estudos


de casos dos sujeitos com aqueles dos clientes que eles conhecem. Desta forma,
pode ser avaliada a relevância bem como a credibilidade de um estudo de caso.
6 . Descrição da intervenção e contexto. Os estudos de casos têm mais
influência quando eles incluem descrições do que foi feito, os efeitos das
intervenções anteriores, as condições que levam ao tempo exato da intervenção
e a troca nas interações que a intervenção produziu.
Novidade. Desnecessário dizer que os casos são mais importantes
7 .

quando eles têm algo novo a apresentar.


8 Âvaliação
. das ameaças à validade interna. Essa avaliação pode ser
conseguida de várias maneiras. A reputação do autor pode ser importante. Por
exemplo, se um autor é conhecido pelo seu pensamento crítico, abertura e
consciência sobre viéses de interpretação, e sensibilidade às questões de validade
interna, o caso tem mais influência. Os detalhes do caso, incluindo a atenção
concedida a uma hipótese discordante, são outras maneiras de considerar a
validade interna.
224 Capítulo 8

A observação local intensa proposta por Cronbach (1975) foi sugerida ,

por Barlow (1981) como uma alternativa às estratégias da pesquisa convencional.


Esse método tem pontos em comum com a experiência pessoal e com os estudos
de caso influentes. Sobre a observação local intensa. Cronbach diz:

Um observador que coleta dados em uma situação específica está na


posição de avaliar a prática ou as propostas naquele local, observando
os efeitos no contexto. Na tentativa de descrever e relacionar com o que
aconteceu, ele dará atenção a quaisquer variáveis que foram controladas .

Mas ele dará atenção igual a condições não controladas às características


,

pessoais e aos eventos que ocorreram durante o tratamento e as


mensurações. Na medida em que ele passa de uma situação para outra ,

sua primeira tarefa é descrever e interpretar o efeito novo em cada local ,

talvez levando em consideração fatores únicos daquele local... Conforme


os resultados acumulam, a pessoa que procura o entendimento não
medirá esforços para investigar como os fatores não controláveis
poderiam ter causado as ramificações locais a partir do efeito modal.
Isto é, a generalização ocorre tardiamente e a exceção é considerada
,

com tanta seriedade quanto a regra (p. 124-125) .

Voltando agora para a coleta de dados da FAP o objetivo da pesquisa


,

neste momento seria influenciar a prática clínica Nosso sistema terapêutico


.

precisa ser mais desenvolvido para que orientações adicionais sejam fornecidas
ao terapeuta de modo que ele possa detectar e reforçar adequadamente os CRBs .

Assim, necessitaríamos de dados cujas características competissem com a


experiência pessoal como aqueles encontrados em estudos de casos relevantes
,

e na observação local intensa. Estes dados deveriam conter descrições do que


realmente acontece na interação terapêutica e o maior número possível de
informações contextuais. A apresentação de material transcrito é muito próxima
do dado bruto e dá ao consumidor a sensação do que realmente aconteceu ,

assim como esclarece se as conclusões do pesquisador são razoáveis O emprego .

de recursos audiovisuais durante o tratamento facilita bastante esse processo .

Neste livro, izemos pequenas tentativas nessa direção apresentando o


,
f

material transcrito para ilustrar procedimentos ou fenómenos Uma apresentação


.

completa deveria incluir material transcrito que: 1) fosse uma amostragem de


todo o tratamento avaliando as mudanças no decorrer do tempo; 2) fornecesse
as bases para os resultados da avaliação; 3) se interessasse pela avaliação da
validade interna Atualmente
.
, estão sendo realizados estudos deste tipo.
Reflexões 225

PROBLEMAS CULTURAIS DECORRENTES DA


PERDA DE COMUNICAÇÃO

O tema central da FAP é a importância da comunicação Quanto mais


.

o cliente estiver em contato com os estímulos existentes na relação terapêutica


que envocam CRBs, mais melhoras ele apresentará. Uma falta de comunicação
ocorre devido à esquiva dos aversivos. Assim há um aumento inicial da
,

aversividade quando a comunicação ocorre mas ao longo do tempo, ela é reduzida


,

pelo aumento de reforçamento positivo.


O tema do aumento de comunicação tem ficado limitado à psicoterapia .

Contudo, apsícoterapiaéum traço cultural ocidental disponível principalmente


,

para aqueles que têm a sorte suficiente de não precisar lutar para conseguir
satisfazer necessidades básicas de alimento e abrigo. Quando sentamos em nossos
consultórios fazendo a FAP, parece que simplesmente ajudar pessoas a conduzir
suas vidas de maneira mais feliz e produtiva não é suficiente em um mundo que
deve enfrentar a pobreza, o crime, a fome, o consumo de drogas a poluição, a
,

devastação ambiental, a diminuição da camada de ozônio e a possibilidade de


destruição nuclear. E um tempo no qual ambos, terapeuta e cliente, precisam
dedicar mais esforços para buscar maneiras de lidar com estes problemas
importantes. Talvez, uma psicoterapia com uma visão social possa estender o
tema da comunicação para além das questões interpessoais e focalizar como a
,

esquiva de contingências que estão operando mais profunda e obscuramente na


cultura afeta os problemas sociais.
Num programa de televisão sobre a vida espiritual na índia, o americano
que o narrava estava em uma rua, numa cidade sagrada, no meio de uma multidão
de pessoas que tinham claramente pouca riqueza material. Ele afirmou que os
ocidentais que olhassem para as pessoas dessa cultura as considerariam atrasadas
e anacrónicas. Ele, então, filosofou que talvez fôssemos nós, do Ocidente, os
atrasados, porque perdemos o contato com as coisas mais profundas em nós.
Concordamos que nós, da cultura ocidental, perdemos contato mas não
com o que é mais profundo em nós mesmos. Perdemos contato com aquilo que
está fora de nós. Essa perda de comunicação contribuiu diretamente para os
grandes problemas que foram enumerados acima. Além do mais, nós pensamos
que alguns estilos de vida orientados para aspectos menos materialistas e mais
espirituais podem aumentar a comunicação e talvez, conduzir a algumas soluções
para nossos problemas mundiais.
226 Capítulo 8

Para ilustrar nossos pensamentos sobre estes tópicos, gostaríamos de


examinar o hábito ocidental de comer carne. Mas, antes de fazer isso,
necessitamos salientar que a simples menção deste tópico pode evocar reações
negativas em alguns de nossos leitores. Para algumas pessoas, essa reação
negativa pode resultar em uma inclinação para esquivar ou francamente evitar
nossa discussão. Nossa escolha de comer a carne de animais mortos, como um
tópico de discussão, pode ilustrar experiencialmente para alguns leitores o
conceito de esquiva de comunicação. Salientamos que não estamos defendendo
uma posição a favor ou contra comer carne. Estamos simplesmente discutindo o
tópico para demonstrar como a nossa sociedade ajuda seus cidadãos a evitar a
comunicação de uma maneira que pode resultar em nosso próprio prejuízo.
Quando pedimos um hamburguer, ele é servido em uma caixa de plástico
e nós o pagamos com dinheiro. Ele tem um sabor agradável, e somos reforçados
por comprá-lo e comê-lo. No entanto, nós perdemos o contato com as
contingências mais profundas e secretas. Nossa cultura nos ensinou a evitar o
fato de que o hamburguer provém da carcaça de um animal que um dia viveu. E
compreensível porque isso acontece. A divisão de trabalho é eficiente, prática, e
torna a nossa vida mais agradável. Seria impossível para um homem, por
exemplo, criar os bois que come, construir os walkman Sony que deseja, e
extrair, quando necessário, sua vesícula biliar.
No entanto, se estivéssemos mais em comunicação com todo o processo,
desde o nascimento do animal até a visão das condições horríveis nas quais vive
e morre, talvez não comêssemos carne. Alternativamente, demoraria um tempo
para termos a certeza de que o animal a ser comido teve uma vida livre de
miséria e doença, e foi abatido em condições humanas.
No livro constrangedor, Dietfor a New América, Robbins (1987) explo-
ra os efeitos menos óbvios e mais tardios do alto consumo de carne. Para mencio-
nar alguns o consumo de carne tem sido ligado a problemas circulatórios e
,

cardíacos. Além disso, a quantidade de grãos utilizada para produzir uma refeição
de carne poderia ser usada para servir dez refeições. A energia e a água utilizadas
na produção de carne estão onerando nossos recursos naturais e contribuindo
,

para a poluição. Florestas umidas são cortadas, transformando-se em terra ade-


quada para o gado, com efeitos prejudiciais ao ambiente. Assim, reduzir o consu-
mo de carne melhoraria nossa saúde diminuiria a fome mundial, e melhoraria o
,

ambiente global. Essas contingências mais tardias entretanto, são quase impos-
,

síveis de serem contatadas diretamente e por isso, não têm forte efeito emocional
,

na maioria das pessoas. Todavia esses fatores poderiam ter um papel reforçador
,
Reflexões 227

ampliado se houvesse mais contato com o processo de produção de carne. A


,

experiência direta com a alimentação dos animais poderia por exemplo, dar
,

mais sentido ao argumento referente à quantidade excessiva de grãos utilizados .

O fator importante de nossa ilustração é que a nossa cultura nos isola


do processo de produção de carne e por conseguinte, retira o poder benéfico
,

que estas contingências poderiam ter. Da mesma maneira, nós somos afastados
de outras contingências profundas. Por exemplo nós estamos resguardados
,

dos sem-teto dos famintos, dos idosos em seus asilos, das pessoas morrendo,
,

do tratamento de água potável do corte das árvores para fazer papel, e dos
,

depósitos de lixo e esgoto. Um melhor contato com estes processos embora ,

inicialmente aversivo , poderia também melhorar nossas vidas e trazer benefícios


a longo prazo para o planeta. A única maneira de saber se os benefícios potenciais
valeriam os custos é aumentar de algum modo o contato e descobrir o que
,

acontece.

Algumas características de uma vida não materialista e espiritual


parecem estar relacionadas com a nossa análise. Definiremos superficialmente
este estilo de vida como aquele no qual a riqueza não é acumulada os objetos
,

possuídos são somente de necessidade básica, e o alimento e as roupas


necessárias são feitos na medida do possível, por nós mesmos. Um aspecto
,

importante deste estilo de vida é a utilização mínima do dinheiro. Como Skinner


(1986) descreveu, o dinheiro é uma fonte indireta e maléfica de separar as
pessoas das consequências do que elas fazem. O dinheiro torna-se reforçador
"
somente quando é trocado por bens e serviços, e assim está sempre um passo
distante do tipo de consequências reforçadoras às quais a espécie originalmente
tornou-se suscetível" (p. 569).
Outra característica deste estilo de vida não materialista é a ausência
de artifícios para poupar trabalho. Estes artifícios transformaram a sociedade
ocidental em uma apertadora de teclas. Nós apertamos uma tecla para lavar
nossas roupas, para chamar alguém ao telefone, ou para esquentar uma xícara
de água. Estas teclas nos livram da aversividade provocada pelo trabalho que
estas atividades requerem, mas nos isolam das contingências profundas. Assim,
o estilo de vida não materialista, juntamente com o uso mínimo de dinheiro e de
artifícios para poupar trabalho, certamente ajudariam uma pessoa a ter contato
com a produção de alimento, o processamento do lixo, o consumo de energia, e
assim por diante.
A meditação e a reza são também encontradas nesse estilo de vida.
Embora essas atividades possam ser vistas como um olhar para dentro de nós
228 Capítulo 8
4

mesmos, nós sugerimos que de alguma forma elas podem aumentar o contato
com contingências externas e ocultas. Por exemplo, o ato de meditar é inconsis-
tente com muitas das regras-padrão da sociedade que nos separam das contin-
"

gências ocultas. A meditação é contra tais regras como sempre trabalhe


bastante", "tenha sucesso", "junte bastante dinheiro", e "não perca tempo". Essa
atividade pode ser concebida como a prática da rejeição das regras. As regras
são construídas na sociedade ocidental para permitir aprendizagem através da
experiência dos outros. Nosso sistema educacional é baseado na disseminação
das regras. No entanto, como Skinner salientou, um dos motivos de tanto do nosso
comportamento ser governado por regras, é que muito do que fazemos foi porque
assim nos disseram. Os reforçadores ocultos podem estar menos disponíveis.
Desta forma o meditador quebra o controle das regras que poderiam colocá-lo
,

numa posição de ter contato com outros reforçadores. A meditação também


poderia permitir o destaque dos processos corporais, como digestão e funções
circulatórias e cardíacas, as quais por seu lado colocariam o meditador em melhor
contato com as contingências externas que afetam essas funções.
Nessa discussão breve, destacamos como pode ser benéfico aumentar
o contato com contingências ocultas. É importante notar que o comportamento
de aumentar a comunicação conduz não só a uma maior percepção da dor e
sofrimento do mundo, mas também há um aumento da percepção do que é
seleto e sublime. Nós concordamos com o ponto de vista de Skinner (1986) que
a falta de contato com variáveis controladoras causa "enfado indiferença, ou
,

depressão" (p. 568) nas pessoas de nossa cultura. Não estamos sugerindo de ,

forma alguma, que todos precisam retornar a uma vida simples e espiritual .

Mas, talvez alguma variação em nosso atual estilo de vida que aumentasse a
,

comunicação não somente nos ajudaria a ser melhores psicoterapeutas, mas


,

também poderia enriquecer a nossa vida como um todo e nos conduzir à


exploração de soluções para muitos problemas globais.

CONCLUSÃO

Este livro é a nossa interpretação do processo psicoterapêutico Foi.

baseado no behaviorismo radical e no nosso comportamento que tem sido


modelado por contingências fornecidas pelos nossos clientes Da mesma forma
.

que outras interpretações, seu valor será medido pela sua utilidade. Se este
livro produzir apenas uma intensa e significativa relação terapeuta-cliente que
,

de outra forma não ocorreria então, para nós ele terá sido válido.
,
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Análise funcional, 6 17, 62
,

Assertividade, 22, 28, 86, 115 Comportamento verbal, significado de, 63


Associação livre, 31, 176-182 Confiança, 22-23, 31-32

Avaliação inicial, 26 Contato, 7, 41, 43


e problemas culturais, 225-228
Barlow, D.H., 219, 220, 224 durante a terapia, 85-88

Beck, A.T., 108, 109, 112, 127, 134 Contextualismo, 4

Behaviorismo convencional metodológico, 2 Contingência, ver Reforçamento

Behaviorismo metodológico, 2 Controle de estímulo, 141,


ver também Sd
Behaviorismo radical, 1, 2, 3-8
Beidei, B., 110 CRB1, 18-19
CRB2, 19-22
Bergin, A.S., 220
Brandsma, J.M., 109 CRB3, 23 202
Cronbach, L.J., 224

Cashdan, S., 199, 200-201 Cultura Ocidental, 226

Catania, A.C., 90; 155

235
236 índice

Day, W.F., 7 Greben, S., 1,31


Deci, E.L., 14 Greenacre, P., 194
Deikman, A.J., 138,154, 155 Greenberg, L.S., 220
Divcn, K., 190 Grccnbcrg, R.L., 112
Dobes, R.W,, 16 Greenson, R.R., 193
Dor de cabeça, 98 Greenwald, A.E., 138
Dore, J., 145 Guidano, V.F., 108, 112, 113
DSM-III-R, 2,34
Hawkins, R.P., 16
Eagle, M.N., 198 Hayes, S.C., 4, 8, 27, 41, 81, 123, 152
Eardley, D., 111 Himadi, W., 204
Efran, J.S., 3, 5 Hipnose, 31, 168-169
Eilis, A., 108-117 Hoffman, I.Z,, 193
Emery, C., 108,112 Holíon, S.D., 108, 111, 113, 126
Eriksoti, E., 138
Esquecer, 91 Identidade, ver Self
Estimulação suplementar, 63-64 Inconsciente, 10,114, 125
Estímulo discriminativo (Sd), 19, 43-44, 57- significado, 51-54, 63-64, 65
59
Interpretação, 41-42
Estímulos aversivos, 36-37, 84-85, 98-101 e sentimentos, 93
Ética, 209-215 c relação pcnsamcnto-comportamcnto,
definição comportamental, 209-211 132, 136
Exercícios de imaginação, 31 Intimidade, 11,31,35, 82, 157
Experiência, um relato comportamental da, [ntraverbal, 57-58, 61-62
139-141

Fasnacht, G., 14 Jacobson, N.S., 125, 126, 128


Ferster, C.B., 12, 33, 36, 42
French, T.M., 191, 192 Kazdin, A.E., 8, 222
Freud, S., 189, 194, 195 Keane, X, 204
Função discriminativa, 19-20 Kemberg, O., 199
Função eliciadora, 19-20 Kieth-Spiegel, P., 209, 210
Função reforçadora 19-20 Klein, D.F., 109
Funções de estímulo, 19 Klein, M., 199
Furman, B., 5 Kohlcnbcrg, R.J., 8, 168
Kohut, II., 162, 199
Generalização, 17, 189 Koocher, G.P., 209, 210
Gill, M.M., 193 Krantz, S.E., 110
Golcífried, M.R., 202-203 Kriss, M.R., 108, 111, 113, 126
índice 237

Langs, R., 190, 192 194 , Punição, ver Estímulos aversivos


Lembrança 4, 5, 21-22, 89-92
, Putnam, F.W. 166, 170, 172, 173
,

Levine, F.M. 14 ,

Lições dc casa 31 » Quattronc, G.A., 110


Linehan, M.M. 164 ,

Liotti , C., 108, 112, 113 Racismo, 212


Lukens M.D., 3
, Reese, E.P., 8
Lukens, RJ. 3 , Reforçamento 9-11, 40-41,114
,

Lutzker, J.R., 8 arbitrário e natural 11-15, 32-40 ,

e estruturas cognitivas 125-126 ,

Mahler, M., 199 Regras, 122-124


Mahrer, A.R., 220 exemplos de 181 ,

Mando, 57-59 61, 115-122 , e psicanálise 194 ,

disfarçado, 62-63 Relação funcional 6, 43-45 ,

Martin, J.A., 8 Relação pensamento-comportamento 107-122 ,

Marziali, E.A., 29 Relação terapêutica 30-31, 212-214, 216 ,

Masson, J.M., 213, 214 Repressão ver Lembrança.


,

Masteson, J.F., 138 Respostas sutis 66 ,

Matarazzo, J., 220 Revelar-se a si mesmo, ver Sentimentos ,

Mentalismo 5 ,
Terapeuta
Mcsscr, S.B., 42 208 ,
Rice, L.N., 220
Robbins J., 226
Metáforas, 56, 64 ,

Miller, A. K„ 162 Rogers, C.R. 35, 187


,

Rush, A.( 108

Paolino, T.J. Jr., 188, 196, 197


,
Russell, P.L., 109

Passividade, do terapeuta 31, 174-176 ,

Peck,M.S„3, 31, 36
Safran, J.D., 112
Pensamento, Salovey, P., 108
definição de, 116 Scott, R., 204

Perspectiva, 153 Sd (estímulo discriminativo), 19,42-43, 58-59


Pesquisa, Segal, Z.V., 112
falhas da 217-220 Seleção de respostas, 64
métodos alternativos 218-224 Self,
,

descoberta e, 220, 221 relato dc comportamento dc 140-152


definições de, 138-139
Pinsoff, W.M. 220 ,
observação, 32, 65
Psicanálise, 42, 53, 66
problemas de, 156-172
e FAP, 188-202, 205-208 Sensibilidade, 51
238 índice

Sensibilidade a críticas, 99-100,160-161,162 Transtorno de personalidade Borderline ,163-


166
Sentimentos,

esquiva de 84-85, 93, 101 Transtorno de personalidade múltipla, 166-


173
definição, 75
expressão, 71, 82-83 Transtorno de personalidade narcisista, 162
importância na terapia, 85-88, 94-95 Trauma
aprendendo sobre, 78-80, 169-171 e MPD, 166-173
sua expressão por parte do terapeuta, 34, e lembrança, 91
38, 72, 96, 105-106
Treino de habilidades sociais, 86
o que é sentido, 76
Traax, C.B., 35
Sexismo, 212
Tsai, M., 8
Shaw, B., 108
Turk, D„ 108
Shaw, B.F., 112
Turner, S., 110
Significado do comportamento verbal, 63
Sílverman, J., 111
Unidades funcionais,
Silverman, J.D., 111
tamanho 143-145
Sizemore, C.C., 172, 173 do comportamento verbal, 143-144
Skinner, B.F., 1, 2, 3, 5, 7, 8, 27, 51, 53, 54,
55, 57, 59, 62, 64, 75, 76, 116, 118, 123,
Validação, 221
124, 139, 143, 144, 147, 161, 209, 227,
228 Vallis, T.M., 112

Sr (reforçador), 43-44 Variáveis de controle, 5

Sterba, R.F., 197 Vulnerabilidade, 84

Stone, M.H., 194


Strupp, H., 194, 220 Wachtel, P.L., 33

Supervisão, 215-216 Waterhouse, G., 194

Sweet, A.A., 203 Wessells, M.G., 126


Winnicotí, D.W., 138

Tato, 56-61, 78, 115-122, 142-143 Woolfolk, R.L., 42

Terapia cognitiva, 108 -113


Terapia Comportamental, Zettle, R.D., 27, 41, 91, 123

e FAP, 202-205 Zuriff, G.} 210

Transferência, 30, 189-195


Editores Associados

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Santo André - S.P.
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(11)4438 68 66
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Os terapeutas comportamentais especialmente
,

os orientados pelo behaviorismo radical faziam análise


,

do comportamento aplicada, em situações bem


delimitadas com comportamentos simples, e eram
,

denominados de modificadores de comportamento.


Especialmente em anos mais recentes, pro-
fissionais de vários países além de pesquisas,
,

dedicaram-se à clínica. Faltava descrever esse trabalho


com a Análise do Comportamento como referencial ,

num amplo cenário. Faltava trazer para análise,


variáveis existentes no processo terapêutico.
Kohlenberg e Tsai ousaram escrever um livro ,

descrevendo seu trabalho e propondo uma forma de


fazer terapia comportamental: a FAP. Hoje este livro é
,

um clássico. Encoraja pesquisas e análises feitas por


outros terapeutas comportamentais.

Rachel Rodrigues Kerbauy

ISBN 85-88303-02-7

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