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PA R T E I

CUIDADOS DE ENFERMAGEM
A INDIVÍDUOS NA UNIDADE
DE EMERGÊNCIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Ao final desta parte, o leitor deverá ser capaz de:

• Determinar as possibilidades de diagnósticos diante de alguns sinais e sintomas manifes-


tados pelo paciente ou acompanhante e percebidos pelo enfermeiro.
• Identificar os primeiros cuidados de enfermagem adequados a cada situação percebida,
antes de ter a prescrição médica.
• Identificar sinais e sintomas relevantes a serem comunicados prioritariamente, conside-
rando as possibilidades diagnósticas.

N ossa experiência constata que, muitas ve- rão situações em que o paciente estará impos-
zes, em uma unidade de emergência, o profis- sibilitado de dar informações, e os dados serão
sional de enfermagem é o primeiro a ter con- obtidos a partir do relato dos acompanhantes
tato com o paciente, tendo de tomar algumas e da percepção do profissional que recebe o
decisões quanto a intervenções, mesmo antes paciente.
do diagnóstico médico. Assim, esta parte do livro traduz o primei-
Dessa forma, a distribuição dos conteúdos ro encontro entre um profissional de enferma-
nesta parte diferencia-se das demais do livro, gem e o paciente que chega à emergência em
visando respaldar as primeiras ações de en- busca de atendimento.
fermagem ante as manifestações apresentadas Após o diagnóstico médico, o profissional
pelos pacientes no momento de sua chegada de enfermagem encontrará, no decorrer do
ao setor de emergência, evitando causar da- livro, os cuidados indicados conforme a pato-
nos maiores. É importante lembrar que os logia determinada. É, contudo, imprescindí-
pacientes podem relatar e apresentar muitos, vel que esteja, em qualquer momento, respal-
alguns ou apenas poucos dos sinais e sinto- dado pela lei do exercício profissional, bem
mas aqui mencionados, bem como deve-se le- como pelas rotinas e pelos protocolos da ins-
var em consideração que sintomas são subjeti- tituição; além disso, deve estar devidamente
vos e têm a intensidade relatada conforme o preparado para realizar os cuidados de forma
limiar de cada indivíduo. Igualmente, existi- correta e eficiente.
C A P Í T U L O 1

CUIDADOS DE ENFERMAGEM
A INDIVÍDUOS EM SITUAÇÕES
DE EMERGÊNCIAS CLÍNICAS,
CIRÚRGICAS, DE TRAUMA
E PSIQUIÁTRICAS
TERMINOLOGIA ESPECÍFICA
DISTÚRBIOS CARDIOLÓGICOS E VASCULARES
DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS
DISTÚRBIOS RENAIS E URINÁRIOS
DISTÚRBIOS GASTRINTESTINAIS
DISTÚRBIOS ENDÓCRINOS E METABÓLICOS
DISTÚRBIOS NEUROLÓGICOS
INTOXICAÇÕES EXÓGENAS (POR INGESTÃO)
MORDIDAS E PICADAS DE ANIMAIS
REAÇÕES ALÉRGICAS/ANAFILAXIA OU CHOQUE ANAFILÁTICO
RETIRADA DE CORPO ESTRANHO DO ORGANISMO
CHOQUE
PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA (PCR)
SITUAÇÕES DE TRAUMA
TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS

T E R M I N O LO G I A E S P E C Í F I C A

Abstinência: abstenção, voluntária ou não, do consumo abusivo, especialmente de alimen-


tos, drogas, bebidas alcoólicas ou de relações sexuais
Agitação psicomotora: atividade motora exagerada e desordenada associada a excitação
ou confusão mental
AIT: ataque isquêmico transitório
Alucinação: sem estímulo externo, pode ocorrer em qualquer campo sensorial: auditivo,
visual, olfativo, gustativo e tátil; é uma sensação implicitamente vivida pelo indivíduo relati-
va ao ambiente externo ou a algum objeto deste, mas que na realidade gera-se nele próprio


26 ENFERMAGEM: CUIDADOS BÁSICOS AO INDIVÍDUO HOSPITALIZADO


AMBU: bolsa de ventilação manual
Anisocoria: diâmetros pupilares diferentes
Ansiedade: sentimento de apreensão desagradável, vago, acompanhado de sensações físicas
como vazio/frio no estômago ou na espinha, opressão no peito, palpitações, transpiração,
dor de cabeça ou falta de ar, entre várias outras; diferencia-se do medo por não ser possível
identificar uma ameaça
Apneia: ausência de movimentos respiratórios
Assistolia: ausência de contrações cardíacas
AVC/AVE: acidente vascular cerebral ou acidente vascular encefálico
Cardiopatia: doença relacionada ao coração
Delírio: transtorno do estado mental, geralmente de instalação brusca, caracterizado por
desorientação, confusão e distorção da realidade
Delirium tremens: delírio acompanhado por tremores constantes, movimentos desordena-
dos das mãos, insônia, sudorese e outros sintomas físicos; geralmente associado à abstinên-
cia de álcool nos alcoolistas, pode ocorrer também em graves distúrbios cerebrais orgânicos
ou funcionais
Depressão/transtorno depressivo maior: caracteriza-se por continuada alteração no humor
e falta de interesse em atividades prazerosas; o estado depressivo diferencia-se do com-
portamento triste ou melancólico que afeta a maioria das pessoas por se tratar de uma
condição duradoura de origem neurológica acompanhada de vários sintomas específicos
Dispneia: dificuldade respiratória
Eritema: rubor cutâneo que ocorre em placas de tamanho variável
Fotorreagência pupilar: reação das pupilas à luz, ou seja, elas diminuem com o aumento
da luminosidade e aumentam com a diminuição da luminosidade
FR: frequência respiratória
Globo vesical: referente ao aumento da bexiga devido à presença de urina
Hálito cetônico: hálito caracterizado pelo odor de corpos cetônicos (cheiro de acetona)
Hematêmese: vômitos com presença de sangue
Hemicorpo: termo usado para definir a metade esquerda ou direita do corpo
HGT®: HaemoGlucoTest, sigla utilizada para o teste de glicemia periférica
IAM: infarto agudo do miocárdio
Ictus/icto: ataque agudo, como um acidente vascular ou, especificamente, uma crise
epilética, geralmente generalizada

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Isocoria: diâmetro igual de ambas as pupilas
Midríase: aumento do diâmetro pupilar
Miose: diminuição do diâmetro pupilar
Oximetria: método rápido de medida da saturação de oxigênio no sangue, baseado na dife-
rença de absorção da luz vermelha entre a oxi-hemoglobina e a hemoglobina reduzida
Oxímetro: equipamento que utiliza um sistema fotoelétrico para a leitura da oximetria
P: pulso
PA: pressão arterial
Paresia: diminuição de força em um membro ou lado do corpo
Parestesia: sensação de formigamento ou de “agulhas” ou queimação em um membro ou
lado do corpo
PCR: parada cardiorrespiratória
Periorbital: região em torno da órbita ocular
Peritonite: inflamação do peritônio
Plegia: o mesmo que paralisia, ou seja, perda da função de uma parte do corpo
Pós-ictal: termo utilizado, em geral, para definir o paciente em pós-crise convulsiva
Priapismo: ereção peniana persistente, em geral não associada ao desejo sexual, podendo
ser observada em alguns casos de leucemia e em lesões da medula espinal
RCP: ressuscitação cardiopulmonar
Respiração de Kussmaul: movimentos inspiratórios e expiratórios amplos com curtos pe-
ríodos de apneia entre eles
Risco de suicídio: probabilidade de a ideia de suicídio vir a ser concretizada, levando à
morte autoinfligida
Sepse: estado tóxico grave, resultante de uma infecção por microrganismos piogênicos,
com ou sem septicemia
Septicemia: síndrome clínica caracterizada por infecção bacterêmica grave, com pronun-
ciada invasão de microrganismos na corrente sanguínea
SF: solução fisiológica
Sinal de Homans: caracteriza-se por dor na panturrilha quando da dorsiflexão do pé
Suicídio: morte autoinfligida por ato voluntário e intencional
Tax: temperatura axilar


28 ENFERMAGEM: CUIDADOS BÁSICOS AO INDIVÍDUO HOSPITALIZADO


TCE: trauma cranioencefálico
Telangiectasias: dilatação de grupos capilares, formando manchas salientes, de cor verme-
lha escura semelhantes a verrugas, de tamanho que varia entre 1 e 7 mm
Tentativa de suicídio: falha no ato suicida
TRM: trauma raquimedular
VA: via aérea

 DISTÚRBIOS CARDIOLÓGICOS
E VASCULARES
• Que o paciente mencionou dor no peito,
ou colocou a mão no peito e fez fácies de
dor, tendo perdido os sentidos logo depois.
Os distúrbios cardiovasculares são muitos e
podem apresentar diversas manifestações.
Aqui estão citadas apenas as situações que VOCÊ PERCEBE NO PACIENTE
aparecem com mais frequência nas emergên- • Palidez cutânea, sudorese, agitação, fácies
cias. Os diagnósticos diferenciais e definitivos de dor, dispneia ou
são de responsabilidade do médico, assim como • Que este está desacordado, com cianose
as intervenções mais complexas e específicas em extremidades, ou ainda
devem aguardar a prescrição desse profissional. • Apneia e falta de pulso = parada cardior-
respiratória (PCR).

O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA


• Referindo dor, sensação de aperto no pei- POSSÍVEIS DIAGNÓSTICOS MÉDICOS
to, desconforto que se irradia para o bra- • Síndrome coronariana aguda (infarto agu-
ço esquerdo, dor nas costas, dor no estô- do do miocárdio [IAM] ou angina instável).
mago, náuseas, fadiga, podendo incluir di- • Parada cardiorrespiratória, nesse caso, ver
ficuldade respiratória. atendimento em PCR.
• Relatando história de cardiopatia, com ou
sem uso de medicamentos.
CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS
• Atentar o relato do início dos sinais e sinto-
O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA mas.
SEM CONDIÇÕES DE VERBALIZAR E O • Colocar o paciente confortável e em repou-
ACOMPANHANTE REFERE so, mantendo a cabeceira da maca elevada.
• Que o paciente tem história de cardiopatia • Instalar monitor cardíaco, oxímetro ou mo-
e/ou usa medicamentos para o coração. nitor multiparâmetros, logo que possível.
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• Instalar cateter nasal ou máscara de oxi- – valor da frequência


gênio, se permitido pela rotina. – pulso fraco ou fino
• Medir sinais vitais, priorizando PA e P. – pulso arrítmico
• Verificar e comunicar a qualidade do pulso: • Instalar um acesso venoso e manter hepa-
– pulso fraco ou fino rinizado ou instalar uma SF 0,9% até a
– pulso arrítmico prescrição médica, se permitido pela roti-
• Instalar um acesso venoso, mantendo na.
heparinizado ou instalando uma SF 0,9% • Aguardar a avaliação e a prescrição médi-
até a prescrição médica, se permitido pela ca e realizar rigorosamente os procedi-
rotina. mentos prescritos.
• Providenciar material de desfibrilação e
intubação, se for o caso (ver atendimento
PCR). O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA REFERINDO
• Aguardar a avaliação e a prescrição médi- • Dor em um dos membros (em geral, mem-
ca e realizar rigorosamente os procedi- bro inferior), dor na panturrilha quando
mentos prescritos. da dorsiflexão do pé.

O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA VOCÊ PERCEBE NO PACIENTE


• Referindo dor de cabeça, normalmente • A inflamação local da parede venosa ou
localizada na nuca e que pode variar de dos tecidos ao redor de uma veia, extremi-
intensidade, sensação de vazio na cabeça, dades edemaciadas e pigmentadas, poden-
tonturas, visão borrada ou presença de do haver formação de úlceras de estase
“mosquinhas” ou “pontos pretos” em fren- venosa (Fig. 1.1). Área afetada hiperemia-
te aos olhos. da, edemaciada, quente e hipersensível, ve-
• Apresentando ou referindo episódios de rificando-se o sinal de Homans (dor na
sangramento nasal. panturrilha quando da dorsiflexão do pé).

VOCÊ PERCEBE NO PACIENTE POSSÍVEIS DIAGNÓSTICOS MÉDICOS


• Epistaxe abundante, fácies avermelhadas, • Trombose venosa ou tromboflebite.
ingurgitamento de carótida.

CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS


POSSÍVEL DIAGNÓSTICO MÉDICO • Colocar o paciente em repouso absoluto no
• Hipertensão arterial sistêmica leito, mantendo o membro inferior elevado.
• Evitar manipulação e massagem no local
afetado, pelo risco de desprendimento do
CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS coágulo.
• Manter o paciente sentado ou na maca • Monitorar o edema, a dor e a inflamação,
com a cabeceira elevada. comunicando aumento de qualquer uma
• Medir e comunicar a PA, manter monito- das manifestações.
ração rigorosa. • Verificar sinais vitais e comunicar princi-
• Medir a frequência e verificar a qualidade palmente alterações de movimentos res-
do P, comunicar: piratórios.
30 ENFERMAGEM: CUIDADOS BÁSICOS AO INDIVÍDUO HOSPITALIZADO

• Angústia respiratória, sente-se como se es-


tivesse se afogando nas próprias secreções.
• Dor aguda no peito, relato de doenças vas-
Veias culares, insuficiência cardíaca, estado de
varicosas pós-parto ou pós-operatório recente.
• História de viagem longa, tendo perma-
necido sentado por muito tempo.

Flebite
VOCÊ PERCEBE NO PACIENTE
Trombo Dispneia severa, atitude ortopneica, com

ou sem tosse, acompanhada de tiragens,
batimento de asa de nariz e cianose, ansie-
dade e agitação (Fig. 1.2).
• Dispneia moderada ou severa, cianose,
pele acinzentada, respiração barulhenta,
podendo apresentar catarro espumoso
com secreção sanguinolenta.

Figura 1.1 POSSÍVEIS DIAGNÓSTICOS MÉDICOS


Tromboflebite. • Edema agudo de pulmão (EAP), crise agu-
da de asma, insuficiência respiratória agu-
da por diferentes causas, embolia pulmo-
nar ou derrame pleural.
• Aguardar a avaliação e a prescrição médi-
ca e realizar rigorosamente os procedi-
mentos prescritos. CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS

Atentar e comunicar ao médico caso o

 DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS
paciente ou acompanhante relate
história de insuficiência cardíaca,
Os distúrbios respiratórios que levam os pa- doenças vasculares, estado de
cientes a procurarem os serviços de emergên- pós-parto ou pós-operatório recente,
cia são inúmeros e, em geral, se enquadram história de viagem longa, tendo
em situações que necessitam de intervenções permanecido sentado por muito
rápidas e eficazes, pois a manutenção da fun- tempo.
ção respiratória é prioritária em qualquer si-
tuação de emergência.
• Colocar o paciente sentado e manter al-
guém próximo para auxiliá-lo a permane-
O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA REFERINDO cer na posição, seguro e confortável.
• Dificuldade respiratória, ou apenas apre- • Instalar oxímetro.
senta-se tão agitado e ansioso que não con- • Instalar cateter nasal ou máscara de oxi-
segue se comunicar. gênio, conforme rotina.
SOARES, GERELLI E AMORIM 31
aos movimentos respiratórios (“dor venti-
O2 latório-dependente”).

POSSÍVEL DIAGNÓSTICO MÉDICO


• Pneumonia
Atentar para o caso de o paciente
relatar história de emagrecimento nos
últimos meses, falta de apetite,
sudorese noturna e história de
hemoptise. Nesse caso, manter
cuidados relativos a tuberculose ou
pneumonia associada a baixa
imunidade, como nos casos de
pacientes com AIDS.
Figura 1.2
Atitude ortopneica, paciente com dispneia se-
vera.
CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS
• Colocar o paciente em repouso e em posi-
ção confortável.
• Verificar sinais vitais, priorizando FR, P e PA. • Verificar sinais vitais, priorizando T e FR.
• Instalar um acesso venoso, mantendo • Observar e comunicar o tipo de tosse:
heparinizado até a prescrição médica, con- – seca
forme rotina; nos casos de EAP, as infu- – com expectoração
sões de líquidos devem ter gotejo lento e – persistente
ser rigidamente controladas, sendo, em ge- – intermitente
ral, evitadas. – hemoptise
• Manter o paciente o mais calmo possível, • Medir e anotar oximetria.
agindo de forma firme e segura. • Instalar cateter nasal e oxigênio, se neces-
• Preparar material para nebulização. sário e conforme rotina.
• Aguardar a avaliação e a prescrição médi- • Preparar material para nebulização.
ca e realizar rigorosamente os procedi- • Aguardar a avaliação e a prescrição médica
mentos prescritos. e realizar rigorosamente os procedimentos
prescritos.

O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA REFERINDO Caso o paciente apresente sinais de


• Febre, calafrios, tosse, dor “nos pulmões” tuberculose: manter o uso de
e dificuldade respiratória associada aos precauções universais indicadas para
movimentos inspiratórios. atendimento de qualquer pessoa,
principalmente o uso da máscara,
evitando o contato respiratório com
VOCÊ PERCEBE NO PACIENTE outros pacientes que se encontrem na
• Dispneia, temperatura corporal elevada, sala de emergência.
tosse e fácies de dor associada à tosse e
32 ENFERMAGEM: CUIDADOS BÁSICOS AO INDIVÍDUO HOSPITALIZADO

Segundo Oppermann e Pires (2003), o uso VOCÊ PERCEBE NO PACIENTE


de máscaras cirúrgicas comuns pode ser indi- • Fácies de dor constante e a mão colocada
cado para pacientes bacilíferos fora dos locais sobre a região costovertebral. O paciente
de isolamento, a fim de conter as partículas não permanece por muito tempo na mes-
no momento em que são geradas. Para que ma posição. Às vezes apresenta-se pálido
essa barreira seja eficaz, deve-se observar as ou com uma cor “pardacenta”.
condições da máscara, trocando-a sempre que • Presença de edema periorbital ou em ou-
apresentar sinais de umidade. As máscaras tras regiões, como membros inferiores ou
cirúrgicas comuns não oferecem proteção aos abdome.
profissionais, sendo indicadas as com filtro • Presença de “globo vesical”.
HEPA (high efficiency particulate air), que con-
seguem filtrar até 99,97% das partículas > 0,3
µm de diâmetro em suspensão. Nos casos de distúrbios renais graves,
o paciente pode apresentar sinais de
distúrbios neurológicos, devido à

 DISTÚRBIOS RENAIS
E URINÁRIOS
toxicidade das substâncias que
permanecem na corrente sanguínea
caso os rins deixem de funcionar.
Os distúrbios urinários, em sua maioria, não ne-
cessitam de intervenções de emergência quando
tratados adequadamente. Entretanto, podem POSSÍVEIS DIAGNÓSTICOS MÉDICOS
levar a condições renais graves, sendo o diag- • Infecção do trato urinário (ITU), glome-
nóstico correto e as intervenções eficientes fun- rulonefrite, cálculos renais, insuficiência
damentais para o bom prognóstico da situação. renal aguda ou crônica (Fig. 1.3).
• Retenção urinária por hiperplasia prostá-
tica (mais comum em homens idosos).
O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA REFERINDO
• Urinar várias vezes ao dia, em pouca quan-
tidade, apresentando dor ao urinar com ou CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS
sem presença de filamentos de sangue. • Colocar o paciente em repouso e em posi-
• Dor “nas costas” e/ou “do lado, acima do ção confortável.
quadril” (região costovertebral ou nos • Verificar sinais vitais, priorizando PA e T.
flancos). Dor que não passa com a mudan- • Avaliar e comunicar sinais de edema.
ça de posição. • Aguardar a avaliação e a prescrição médi-
• Diminuição do volume urinário, mal-estar ca e realizar rigorosamente os procedi-
geral, história de “inchaço” ou ganho de mentos prescritos.
peso. Náuseas e/ou vômitos.
• Não conseguir urinar ou urinar pequenos
jatos, não aliviando a sensação de bexiga Para os casos de retenção urinária,
cheia. preparar material para sondagem de
• História de hipertensão não tratada, dia- alívio.
bete, cirrose, cardiopatias. História de in-
fecção na garganta ou na pele causada por
estreptococos.
SOARES, GERELLI E AMORIM 33
Junção pielouretérica • Febre.
(ureteropélvica)
• Alimentação em local não habitual ou in-
gestão de algum alimento não habitual.

VOCÊ PERCEBE NO PACIENTE


• Fácies de dor.
• Turgor da pele diminuído e os “olhos en-
covados”, principalmente em pacientes
Cruzamento
da artéria ilíaca idosos e crianças.
(medioureter)

POSSÍVEIS DIAGNÓSTICOS MÉDICOS


Junção • Disenteria, intoxicação alimentar ou qua-
ureterovesical dro viral.

CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS


Figura 1.3
Locais comuns de obstrução por cálculos re-
• Verificar e comunicar sinais vitais.
nais. • Manter o paciente, principalmente se for
idoso, próximo ao banheiro.
• Acompanhar o paciente ao banheiro ou so-
licitar que o acompanhante não dê a des-

 DISTÚRBIOS
GASTRINTESTINAIS
carga até que você possa avaliar as fezes
(cor, quantidade, cheiro).
• Instalar um acesso venoso e colocar SF
Os distúrbios relacionados ao sistema gastrin- 0,9% até a prescrição médica, se permiti-
testinal são, em sua maioria, passíveis de serem do pela rotina. (Nessas situações, o acesso
tratados de forma ambulatorial, sendo que, em venoso deve ser calibroso, pois provavel-
alguns casos, a população nem mesmo chega mente o paciente irá necessitar de reposi-
a consultar um profissional da saúde. Isso ção de volume.)
ocorre, principalmente, nos casos de diarreias, • Aguardar a avaliação e a prescrição médi-
constipação, vômitos e dores gástricas. Entre- ca e realizar rigorosamente os procedi-
tanto, mesmo situações que inicialmente pare- mentos prescritos.
çam simples podem evoluir para situações de
urgência, dependendo da idade do paciente e
de seu estado clínico geral. O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA REFERINDO
• Vômitos e/ou fezes com sangue, dores no
estômago e mal-estar geral.
O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA REFERINDO • História de gastrite, úlcera gástrica, hepa-
• Cólicas abdominais, acompanhadas de diar- tite ou cirrose.
reia por dois dias, evacuação mais de cinco • Uso constante de medicações com ácido
vezes ao dia, fezes líquidas e malcheirosas. acetilsalicílico (AAS, Aspirina) ou anticoa-
• Alguns episódios de vômitos. gulantes.
34 ENFERMAGEM: CUIDADOS BÁSICOS AO INDIVÍDUO HOSPITALIZADO

VOCÊ PERCEBE NO PACIENTE • Aguardar a avaliação e a prescrição médi-


• Hematêmese e palidez. ca e realizar rigorosamente os procedi-
mentos prescritos.

POSSÍVEL DIAGNÓSTICO MÉDICO


• Hemorragia digestiva. O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA REFERINDO
• Cólicas abdominais, principalmente no la-
do direito, que se irradiam para as costas
A hemorragia digestiva pode ser ou o ombro direito.
denominada hemorragia digestiva alta • Vômitos e náuseas após as refeições.
(HDA) ou hemorragia digestiva baixa • Não encontrar posição para permanecer
(HDB), dependendo do local de e sentir dor até quando respira.
sangramento, cabendo ao médico o • Alguns pacientes podem relatar coceira e
diagnóstico diferencial. aparecimento de fezes cinzentas e urina
escura.

CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS


• Colocar o paciente preferencialmente sen- VOCÊ PERCEBE NO PACIENTE
tado; caso precise deitá-lo, manter a cabe- • Desconforto devido à dor.
ça lateralizada, de forma a evitar a aspira- • Icterícia.
ção do vômito.
• Manter junto ao paciente um recipiente
em que possa vomitar. POSSÍVEIS DIAGNÓSTICOS MÉDICOS
• Verificar e comunicar quantidade, cor e • Colecistite aguda, colelitíase aguda, com
odor do vômito. ou sem obstrução de colédoco.
• Sempre que possível, manter algum fami-
liar junto ao paciente, pois as pessoas nes-
sa situação ficam muito ansiosas. CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS
• Manter o paciente em NPO. • Verificar sinais vitais, atentando para a
• Medir e comunicar PA, FC e FR, atentan- possibilidade de elevação da temperatura.
do para sinais de choque hipovolêmico: • Orientar o paciente para que permaneça
– PA estável ou baixando em NPO, caso seja necessário algum pro-
– pulso rápido e fino cedimento cirúrgico de urgência.
– taquipneia • Manter um acesso venoso com SF 0,9%,
• Acompanhar o paciente ao banheiro ou so- se permitido pela rotina.
licitar que o acompanhante não dê a descar- • Aguardar a avaliação e a prescrição médi-
ga até que você possa avaliar as fezes (cor, ca e realizar rigorosamente os procedi-
quantidade, cheiro, enterorragia, melena). mentos prescritos.
• Instalar acesso venoso, colocando SF 0,9%
até a prescrição médica, se permitido pela
rotina. (Nessas situações, o acesso venoso
deve ser calibroso, pois provavelmente o  DISTÚRBIOS ENDÓCRINOS
E METABÓLICOS
paciente irá necessitar de reposição de
volume ou, em alguns casos, de reposição Na maioria das vezes, os distúrbios são trata-
de sangue.) dos em consultas ambulatoriais, não havendo
SOARES, GERELLI E AMORIM 35
necessidade de atendimento de urgência. No • Manter grades laterais na maca.
entanto, algumas patologias que envolvem o • Monitorar débito urinário.
sistema endócrino podem causar descompen- • Observar e comunicar sinais de choque:
sações orgânicas graves, fazendo com que as – taquicardia
pessoas procurem os serviços de emergência. – hipotensão
– dispneia
– pele fria e úmida
O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA REFERINDO • Examinar pele e mucosas em busca de si-
• Dor abdominal severa, mal-estar geral, nais de infecção.
náuseas e vômitos, cefaleia, muita sede e • Aguardar a avaliação e a prescrição médi-
vontade de urinar. Pode ter história conhe- ca e realizar rigorosamente os procedi-
cida ou não de diabete melito. mentos prescritos.

VOCÊ PERCEBE NO PACIENTE O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA REFERINDO


• Agitação, taquipneia, hálito cetônico, apa- • Dor abdominal, que pode ser difusa após
rência de desidratação e/ou emagrecimen- as refeições, náuseas, vômitos, anorexia,
to, com ou sem comprometimento dos ní- mal-estar geral, febre.
veis de consciência ou • Fezes esbranquiçadas, urina escura, ema-
• Quadro grave, com alterações de consciência. grecimento, membros inferiores (MsIs) in-
chados.

POSSÍVEL DIAGNÓSTICO MÉDICO


• Cetoacidose diabética (CAD). VOCÊ PERCEBE NO PACIENTE
• Icterícia, distensão abdominal, edema de
MsIs, hálito hepático, eritema palmar,
CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS telangiectasias (“aranhas vasculares”).
• Coletar e anotar o valor de HGT®, se per-
mitido pela rotina.
• Comunicar qualquer valor de HGT®, ten- POSSÍVEIS DIAGNÓSTICOS MÉDICOS
do em mente que a cetoacidose pode ocor- • Pancreatite, hepatite aguda ou cirrose he-
rer mesmo com níveis normais ou leve- pática.
mente elevados de glicose.
• Instalar oxímetro.
• Instalar cateter de O2, se permitido pela CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS
rotina. • Medir e anotar sinais vitais, inicialmente
• Verificar e anotar sinais vitais, principal- Tax e PA.
mente FR e FC. • Coletar e anotar o valor de HGT®, se per-
• Instalar monitor cardíaco logo que possível. mitido pela rotina.
• Puncionar veia calibrosa, se permitido pela • Posicionar o paciente de forma a diminuir
rotina. a dor abdominal, de preferência em semi-
• Preparar bomba de infusão para adminis- -Fowler em caso de ascite, para facilitar a
tração de insulina endovenosa (EV), se ne- função respiratória.
cessário. • Manter o paciente em repouso.
• Atentar para sensório. • Manter NPO.
36 ENFERMAGEM: CUIDADOS BÁSICOS AO INDIVÍDUO HOSPITALIZADO

• Manter grades laterais elevadas na maca. • Perda das forças dos membros superiores
• Observar e comunicar sinais de choque: e/ou inferiores (em geral, de um lado do
– taquicardia corpo), perda de memória momentânea,
– hipotensão dificuldade para falar, ou
– dispneia • Perda de movimento, diminuição de força
– pele fria e úmida ou formigamento em um membro ou lado
• Utilizar agulhas finas para o caso de ad- do corpo.
ministrar medicação por via parenteral.
• Aguardar a avaliação e a prescrição médi-
ca e realizar rigorosamente os procedi- O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA
mentos prescritos. SEM CONDIÇÕES DE VERBALIZAR
E O ACOMPANHANTE REFERE
• Que o paciente teve perda de sentidos após
Caso um diagnóstico possível seja ter mencionado “dor de cabeça” intensa,
hepatite, lembrar que a doença é apresentado vômitos, ou
infecto-contagiosa, sendo que os • Que o paciente começou a “falar coisas
meios de transmissão serão diferentes desconexas”, apresentando dificuldade de
conforme o tipo da doença. movimentar os lábios e algum dos mem-
bros.
Embora as precauções universais
devam ser usadas em todos os
atendimentos, em caso de suspeitas de VOCÊ PERCEBE QUE O PACIENTE
doenças contagiosas é importante • Não apresenta nenhum déficit aparente ou
reforçar a necessidade do uso de luvas, • Está lúcido, orientado e coerente (LOC),
máscaras e observar a rotina para mas apresenta paresia ou plegia em hemi-
desprezar material e instrumental corpo, queda de comissura labial (Fig. 1.4)
utilizado. ou
• Está confuso, não consegue verbalizar o
que está ocorrendo, parece não compreen-
der as solicitações ou

 DISTÚRBIOS
NEUROLÓGICOS
• Não responde de forma coerente, apresen-
ta dificuldade motora, queda de comissura
labial, agitação psicomotora, ou
Pacientes com suspeita de distúrbios neuroló- • Não tem resposta ao estímulo verbal.
gicos merecem muita atenção por parte da en- • Responde ou não ao estímulo doloroso.
fermagem, pois alguns dos distúrbios relacio- • Apresenta respiração dificultosa.
nados ao sistema nervoso central podem evo- • Apresenta ou não rigidez de nuca.
luir rapidamente para situações muito graves, • Apresenta alteração pupilar: anisocoria,
levando o paciente ao óbito. midríase, miose ou outras (Fig. 1.5).

O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA REFERINDO POSSÍVEIS DIAGNÓSTICOS MÉDICOS


• “Dor de cabeça” súbita que lhe causou • Acidente vascular cerebral/encefálico
náuseas, vômitos e lhe fez perder os senti- (AVC/AVE) isquêmico ou hemorrágico,
dos, ou AIT (ataque isquêmico transitório), ictus/
SOARES, GERELLI E AMORIM 37
icto, rompimento de aneurisma ou tumor
cerebral, meningite.

Não descartar, até que o diagnóstico


médico seja feito ou suposto, a
possibilidade de meningites; portanto,
não esquecer de usar as precauções
universais.

CUIDADOS DE ENFERMAGEM
• Manter o paciente deitado em Fowler.
• Medir, comunicar e anotar todos os sinais
vitais, atentando para a PA.
Figura 1.4 • Medir e anotar HGT®, se fizer parte do
Ptose palpebral (queda da comissura labial). protocolo.
• Manter as grades laterais do leito elevadas.
• Instalar um oxímetro ou monitor multipa-
râmetro, se houver.
• Instalar cateter nasal ou máscara de oxigê-
nio, se necessário e permitido pela rotina.
(a)
• Providenciar contenção mecânica, caso o
paciente esteja confuso e agitado, ou man-
(b) ter familiar junto ao leito para garantir a
segurança e a integridade do paciente.
• Atentar para sensório, comunicando qual-
(c) quer alteração.
• Avaliar e comunicar alteração de pupilas.
– isocória/anisocória
– midríase/miose/fotorreagência
• Colocar o paciente em local tranquilo, mas
no qual possa ser observado em tempo in-
tegral.
• Aguardar a avaliação e a prescrição médi-
ca e realizar rigorosamente os procedi-
mentos prescritos.

O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA


SEM CONDIÇÕES DE VERBALIZAR E O
ACOMPANHANTE REFERE
Figura 1.5 • Que o paciente começou a se “debater”,
(a) Anisocoria. (b) Midríase. (c) Miose (pupilas “tremer”, ou mesmo ficou todo “rígido”
menores). ou “amolecido”. Salivou muito e pareceu
38 ENFERMAGEM: CUIDADOS BÁSICOS AO INDIVÍDUO HOSPITALIZADO

ter ficado “roxo”. Urinou-se e/ou evacuou- • Colocar o paciente em local tranquilo, mas
se. Teve um “ataque”. no qual possa ser observado em tempo in-
tegral.
• Manter as grades laterais do leito elevadas.
Embora muitas crises aconteçam na sala • Aguardar a avaliação e a prescrição médi-
de emergência, é mais frequente que os ca e realizar rigorosamente os procedi-
indivíduos cheguem à emergência após mentos prescritos.
crise, trazidos por populares e/ou
policiais que relatam o fato.
MANIFESTAÇÕES CASO O PACIENTE
TENHA UMA CONVULSÃO
VOCÊ PERCEBE QUE O PACIENTE • As convulsões podem apresentar-se de
• Está sonolento, confuso e teve relaxamen- várias formas, entretanto, de modo geral,
to do esfincter. Se acordado, não lembra ocorre a presença de sialorreia, dentes cer-
do ocorrido. rados, mordedura da língua, cianose (no
início da crise), palidez, relaxamento de es-
fincteres, perda de reflexos e de consciên-
POSSÍVEL DIAGNÓSTICO MÉDICO cia, podendo haver apneia.
• Pós-crise convulsiva/pós-ictal.
CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS
CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS (DURANTE A CRISE CONVULSIVA)
(PÓS-CRISE CONVULSIVA)
• Observar se a via aérea encontra-se de- Procurar realizar o atendimento junto
sobstruída. com outros colegas, a fim de obter
• Remover prótese dentária ou outro obje- resultados mais rápidos e eficazes,
to que possa ser considerado de risco para pois enquanto alguém prepara a
obstrução da via aérea, tendo o cuidado medicação, outros profissionais
de jamais colocar os dedos na boca do pa- seguram o paciente para a realização
ciente, pois, em caso de nova crise, ele da punção venosa, tarefa que pode ser
poderá morder, devido ao enrijecimento difícil, dependendo da situação de
do maxilar inferior. agitação em que o paciente se
• Instalar um oxímetro. encontra.
• Instalar cateter nasal ou máscara de oxigê-
nio, se necessário e permitido pela rotina.
• Medir sinais vitais, principalmente Tax. • Manter uma via de acesso venoso, com SF
0,9%, se permitido pela rotina, a fim de
utilizar medicação anticonvulsivante sem-
As convulsões por hipertermia são
pre que for necessário, sem que haja nova
mais comuns na infância, dos 6 meses
punção ou necessidade de puncionar no
aos 6 anos, embora possam ocorrer
momento da crise.
também na idade adulta.
• Manter via aérea desobstruída.
• Procurar manter a cabeça do paciente
• Manter uma via de acesso venoso hepari- lateralizada, sem forçar excessivamente
nizada, ou conforme rotina. nenhuma posição.
SOARES, GERELLI E AMORIM 39

• Instalar um oxímetro. Algumas manifestações podem indicar o


• Instalar cateter nasal ou máscara de oxigê- tipo de intoxicação (ver Tab. 1.1).
nio, se necessário e permitido pela rotina.
• Manter-se junto ao paciente até que a cri-
se cesse. CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS
• Atentar para o tempo de duração da crise. Independentemente do produto de intoxica-
• Aguardar a avaliação e a prescrição médi- ção, os primeiros cuidados de enfermagem se-
ca e realizar rigorosamente os procedi- rão:
mentos prescritos. (Ver cuidados pós-crise/
pós-ictal.) • Verificar os sinais vitais e comunicar as al-
terações.
• Intervir nas complicações imediatas, como

 INTOXICAÇÕES EXÓGENAS
(POR INGESTÃO)
convulsões. (Ver cuidados durante e pós-
crise convulsiva.)
• Manter o paciente com a cabeça laterali-
Infelizmente, é registrado um grande núme- zada caso haja risco de vômitos.
ro de intoxicações exógenas, tanto acidentais • Instalar um oxímetro.
quanto intencionais. Apesar do empenho de • Instalar cateter nasal ou máscara de oxigê-
campanhas alertando sobre os riscos e orien- nio, se Sat ≤ 90%, ou conforme protocolo.
tando quanto aos cuidados, o número de • Instalar monitoração cardíaca logo que
crianças atendidas nas emergências devido à possível.
ingesta de medicamentos ou produtos quími- • Manter-se alerta quanto ao nível de cons-
cos ainda é bastante expressivo. ciência.
Entretanto, se tem percebido também um • Manter as grades laterais do leito elevadas.
aumento das intoxicações exógenas por ten- • Aguardar a avaliação e a prescrição médi-
tativa de suicídio, ou seja, ingesta intencional ca e realizar rigorosamente os procedi-
de grande quantidade de medicamentos ou mentos prescritos.
outras substâncias com intuito de provocar a
própria morte. Nesses casos, além do atendi-
mento aos aspectos físicos, ver a abordagem Alguns procedimentos serão
em transtornos psiquiátricos. realizados após a prescrição médica,
Independentemente dos motivos, a iden- sendo determinados pelo tipo de
tificação do agente ingerido, a quantidade e o substância ingerida, tempo e dose, por
horário do ocorrido são os dados de maior re- exemplo:
levância a serem colhidos com o acompanhan- • indução de vômito (xarope de Ipeca)
te ou com o paciente, quando possível. Entre- • lavagem gástrica
tanto, muitas vezes os indivíduos são trazidos • instalação de via de acesso venoso
aos serviços de emergência por pessoas que para os casos de uso de
os socorreram, mas que não possuem informa- medicamentos antagonistas
ções seguras sobre o que realmente aconteceu, • uso de carvão ativado
dificultando o estabelecimento da terapêutica.
Na falta de informações, a observação de No caso do uso de carvão ativado, a
sinais e sintomas passa a ser fundamental, sen- dose recomendada é de 1 g/kg de peso,
do uma tarefa de toda a equipe de saúde que podendo ser diluída em água ou
prestar atendimento ao paciente.
40 ENFERMAGEM: CUIDADOS BÁSICOS AO INDIVÍDUO HOSPITALIZADO

TABELA 1.1
ALGUMAS MANIFESTAÇÕES PODEM INDICAR O TIPO DE INTOXICAÇÃO

Você percebe no paciente Possíveis diagnósticos médicos

• Vômitos, aumento de saliva, incontinência • Intoxicação por inseticidas


urinária, lacrimejamento, miose e organofosforados, carbamatos, alguns
bradicardia tipos de cogumelos, pilocarpina ou agentes
usados em conflitos, como o gás sarin.

• Fasciculações musculares, paralisia, • Intoxicação por inseticidas


taquicardia e hipertensão organofosforados ou nicotina

• Pele seca, hipertermia, midríase, retenção • Intoxicação por anti-histamínicos,


urinária, alucinações, insuficiência antiespasmódicos, antidepressivos e
respiratória alguns vegetais, como cogumelos e
beladonados

• Taquicardia, taquiarritmia, hipertensão • Intoxicação por anfetaminas, alguns


e convulsões descongestionantes nasais, cafeína,
cocaína e LSD

• Hipoventilação, miose e hipotensão • Intoxicação por codeína e outros opiáceos

• Miose, coma, depressão respiratória e • Intoxicação por fenobarbital


hipotermia

• Hemoptise, hemorragia gastrintestinal, • Intoxicação por raticidas ou ácido


hematúria, dor abdominal e epistaxe acetilsalicílico (AAS) em altas doses

• Vômitos, diarreia, tosse, taquipneia, • Ingestão ou aspiração de derivados de


cianose e taquicardia. Podem ocorrer petróleo como querosene, gasolina ou
vertigens, depressão respiratória, perda fluido de isqueiro
de consciência e convulsões

refrigerantes na proporção de 1:4. A  MORDIDAS E PICADAS


DE ANIMAIS
dose para crianças é 1/2 g/kg de peso.
Em caso de substâncias ácidas ou Os animais podem representar muitos riscos
alcalinas, corrosivos como derivados para os homens. Não só os animais que possuem
do petróleo, a indução ao vômito é veneno, como também os animais domésticos.
contraindicada. Caso seja necessário o As mordidas de cachorros ou de gatos po-
uso de SNG, esta deve ser colocada por dem causar pequenas, médias ou grandes le-
endoscopia. sões, que podem levar a deformações perma-
nentes e até mesmo à morte. A gravidade será
determinada pela extensão e pelo local das le-
sões. Tem-se ainda o risco da transmissão de
SOARES, GERELLI E AMORIM 41
doenças como a raiva (hidrofobia), embora, • Obter acesso venoso calibroso, caso você
felizmente, esta já seja uma doença erradicada perceba que houve volumosa perda san-
na maioria dos estados brasileiros. guínea.
As picadas de animais peçonhentos como • Iniciar a limpeza do local com água e sabão
cobras, aranhas e escorpiões são ainda mais ou solução fisiológica, conforme rotina da
graves, pois podem causar lesões sistêmicas. instituição.
Entretanto, as manifestações sistêmicas po- • Aguardar a avaliação e a prescrição médi-
dem levar algumas horas ou mesmo dias para ca e realizar rigorosamente os procedi-
se estabelecerem, sendo assim, a afirmação do mentos prescritos.
paciente em relação ao acontecido e alguma
manifestação local, como edema ou mesmo Quando as mordidas ocorrerem em locais
algum ponto de aparente inserção de veneno, como tórax, crânio, pescoço e abdome,
podem servir como diagnóstico inicial e como ou nos casos de criança ou idoso, o
determinante para o tratamento. A identifi- paciente pode chegar à instituição em
cação correta do animal também determina situação muito grave. Nesse caso, as
qual o tratamento adequado. condutas deverão ser imediatamente
comandadas pelo médico.

O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA REFERINDO


• Ter sido mordido por um cachorro, gato O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA REFERINDO
ou algum animal doméstico. • Ter sido picado por uma cobra, sem deter-
minar o grupo do animal.
• Pouca ou nenhuma dor local.
VOCÊ PERCEBE NO PACIENTE • Dores musculares em uma ou em várias
• Lesões irregulares com perda de tecido em partes do corpo.
uma extremidade. • Diminuição ou visão dupla.
• Sangramento. • Urina com volume diminuindo
• Ansiedade. • Urina com cor de “coca-cola”.
• Palidez e pele fria.

VOCÊ PERCEBE NO PACIENTE


CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS • Pálpebras superiores caídas ou semicerradas.
• Leve edema e discreto eritema no local da
É importante determinar o tempo picada.
decorrido entre o acidente e a chegada
à instituição para se ter ideia da
possível perda sanguínea. POSSÍVEL DIAGNÓSTICO MÉDICO
• Picada de cobra do grupo crotálico (cas-
cavel) (Fig. 1.6).
• Posicionar o paciente de forma a expor ao
máximo o ferimento.
• Verificar e comunicar PA, P e FR, caso O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA REFERINDO
você acredite que houve volumosa perda • Ter sido picado por uma cobra, sem deter-
sanguínea. minar o grupo do animal.
42 ENFERMAGEM: CUIDADOS BÁSICOS AO INDIVÍDUO HOSPITALIZADO

O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA REFERINDO


• Ter sido picado por uma cobra, sem deter-
minar o grupo do animal.
• Pouca ou nenhuma dor.
• Sensação de adormecimento da região
atingida.
• Saliva grossa, dificuldade de engolir e até
de falar.

VOCÊ PERCEBE NO PACIENTE


Figura 1.6 Fácies miastênicas com ptose palpebral.
Cascavel (grupo crotálico [crotalus]).

(FUNASA, 2001.)

POSSÍVEL DIAGNÓSTICO MÉDICO


• Picada de cobra do grupo elapídico (coral
• Dor local persistente que parece aumentar verdadeira) (Fig. 1.8).
de forma progressiva.

O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA REFERINDO


VOCÊ PERCEBE NO PACIENTE • Ter sido picado por uma cobra, sem deter-
• Edema, hiperemia e cianose no local, po- minar o grupo do animal.
dendo haver bolhas, abscesso ou necrose • Dor local persistente que parece aumen-
de tecidos. tar de forma progressiva.
• Diarreia.

POSSÍVEL DIAGNÓSTICO MÉDICO


• Picada de cobra do grupo botrópico (jara- VOCÊ PERCEBE NO PACIENTE
raca, cruzeira, jararaca pintada) (Fig. 1.7). • Sinais semelhantes aos da picada do grupo
botrópico, como edema, hiperemia e cia-
nose no local, podendo haver bolhas, abs-
cesso ou necrose de tecidos, acrescidos de
bradicardia e hipotensão.

POSSÍVEL DIAGNÓSTICO MÉDICO


• Picada de cobra do grupo laquético (suru-
cucu pico-de-jaca).

CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS


• Deitar a vítima, elevando o membro atin-
Figura 1.7 gido.
Jararaca (grupo botrópico [bothrops]). • Retirar anéis ou pulseiras que possam
(FUNASA, 2001.) garrotear a extremidade, devido ao edema.
SOARES, GERELLI E AMORIM 43
POSSÍVEIS DIAGNÓSTICOS MÉDICOS
• Picada de escorpião ou de aranha “arma-
deira” (Fig. 1.9A).

CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS


• Manter o paciente em repouso.
• Lavar bem o local do ferimento.
• Medir SV, principalmente FR, caso per-
ceba dispneia.
Figura 1.8
Coral verdadeira (grupo elapídico [micrurus]). • Aguardar a avaliação e a prescrição médi-
(FUNASA, 2001.) ca e realizar rigorosamente os procedi-
mentos prescritos.

• Manter o paciente em repouso.


• Lavar bem o local. O PACIENTE CHEGA À
• Medir PA e P, caso o paciente demonstre EMERGÊNCIA REFERINDO
sinais como: • Náuseas e vômitos, coceira generalizada e
– palidez insônia.
– pele fria e sudorética • Ter sido picado há mais de 12 horas por
– diarreia um animal pequeno e escuro.
• Observar e comunicar a cor da urina, caso • Que se encontrava em casa quando picado.
o paciente deseje urinar.
• Preparar o paciente para coleta de exames
como sangue e urina. VOCÊ PERCEBE NO PACIENTE
• Aguardar a avaliação e a prescrição médi- • Edema no local, mancha equimótica com
ca e realizar rigorosamente os procedi- desenho irregular e área isquêmica ao re-
mentos prescritos. dor do ferimento. Pode haver flictenas
(quadro local).

O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA REFERINDO Após algumas horas (mais de 12


• Ter sido picado há mais de 3 horas por um horas), podem aparecer sinais e
animal pequeno e escuro que pode ser pre- sintomas sistêmicos como: febre,
to ou amarronzado. calafrios, mialgias, hematúria e IRA. O
• Dor no local da picada, náuseas e vômitos, paciente pode chegar ao quadro de
diarreia, “dor na boca do estômago” e von- choque, mas raramente a óbito.
tade de urinar.
• Ter estado em local com muita vegetação,
pedras e fendas no solo. POSSÍVEL DIAGNÓSTICO MÉDICO
• Picada da aranha Loxosceles (Fig. 1.9B).
VOCÊ PERCEBE NO PACIENTE
• Sudorese, dispneia, palidez e sialorreia. CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS
• Local do ferimento com um ou mais orifí- • Manter o paciente em repouso.
cios de picada. • Lavar bem o local do ferimento.
44 ENFERMAGEM: CUIDADOS BÁSICOS AO INDIVÍDUO HOSPITALIZADO

a b

Figura 1.9
(a) Aranha armadeira (Phoneutria nigriventer). (b) Aranha marrom (Loxosceles gaucho).
(FUNASA, 2001.)

• Medir e comunicar SV. ro para o tratamento de picada de cobra ou


• Manter cuidados conforme a sintomato- de aranha; e diversas outras substâncias.
logia.
• Aguardar a avaliação e a prescrição médi-
ca e realizar rigorosamente os procedi- O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA REFERINDO
mentos prescritos. • Coceira no corpo, no nariz, mal-estar, dor
de cabeça, dor na barriga, náusea e difi-
culdade para respirar, ou (em caso de cho-

 REAÇÕES ALÉRGICAS/
ANAFILAXIA OU
que anafilático) o paciente chega muito an-
sioso, relatando muita coceira, sensação de
que a garganta está fechando e de que não
CHOQUE ANAFILÁTICO
consegue respirar.
As reações alérgicas são respostas do organis- • História de contato com algum alérgeno,
mo à exposição a um elemento considerado como um alimento (mesmo que já tenha
alérgeno. Acontece uma liberação de hista- comido antes), antibiótico, anti-inflama-
mina e de outras substâncias que pode desen- tório ou outra droga, ferroada de abelha
cadear manifestações leves, moderadas e gra- ou picada de outro inseto.
ves. A anafilaxia, ou choque anafilático, se dá
quando as reações acontecem de forma inten-
sa e dentro de poucos minutos após o contato VOCÊ PERCEBE NO PACIENTE
com o alérgeno. • Vermelhidão distribuída pelo corpo ou lo-
Qualquer substância pode desencadear calizada na face, nos membros ou no tó-
uma reação alérgica, mesmo que não o tenha rax; prurido; edema periorbital, nos lábios
feito no primeiro contato; entretanto, algumas e/ou na língua; dispneia, que pode variar
são mais comumentes conhecidas como alér- de leve a grave, bem como palidez, sudo-
genos, por exemplo, fumaça de cigarro; poeira; rese ou cianose. O paciente pode chegar
conservantes e aditivos de alguns alimentos, em PCR.
bem como os próprios alimentos, como toma-
te e uva; drogas, como penicilina, xilocaína e
contrastes para exames radiológicos; picadas POSSÍVEIS DIAGNÓSTICOS MÉDICOS
de alguns insetos, como abelha, bem como so- • Reação alérgica, choque anafilático.
SOARES, GERELLI E AMORIM 45
CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS
• Colocar o paciente em posição confortá- • Instalar oxímetro e observar movimentos
vel, mantendo a via aérea permeável. respiratórios, caso haja o risco de o objeto
• Instalar e manter o oxímetro e verificar a estar na região próxima à traqueia ou mes-
saturação de oxigênio. mo no brônquio.
• Colocar cateter ou máscara de O2, de acordo • Comunicar qualquer alteração respiratória
com a saturação e a rotina da instituição. ou sangramento no orifício.
• Instalar um acesso venoso e colocar um • Manter o paciente calmo, aguardando a
SF 0,9% até a prescrição médica, se permi- conduta médica.
tido pela rotina.
• Obter os valores de outros sinais, como PA,
FC e FR. O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA REFERINDO
• Aguardar a avaliação e a prescrição médi- • Que pisou, caiu ou que alguém cravou-lhe
ca e realizar rigorosamente os procedi- um objeto perfurante, ou que sofreu qual-
mentos prescritos. quer tipo de acidente causador do ferimento.

Nos casos de PCR, o paciente será


atendido de acordo com as manobras VOCÊ PERCEBE NO PACIENTE
para RCP. • Um corte profundo ou
• Um objeto cravado em uma extremidade
do corpo.
• Sangramento no local.

 RETIRADA DE CORPO
ESTRANHO DO ORGANISMO


Palidez e pele fria.
Ansiedade.

Não raro chegam às emergências pessoas por-


tando objetos estranhos no organismo, sejam CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS
ingeridos, colocados ou cravados no corpo. O
atendimento será determinado pelo local onde
se encontra o objeto, pela extensão da lesão e É importante determinar o tempo
pelo tipo de objeto. O exame radiológico é útil decorrido entre o acidente e a chegada
para localizar um objeto interno, bem como à instituição para se ter ideia da
para determinar possíveis estruturas lesadas. possível perda sanguínea.

Não retirar o objeto cravado (Fig. 1.10).


O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA REFERINDO
• Ter engolido uma moeda, um brinquedo,
prego ou qualquer objeto pequeno ou • Colocar o paciente em posição confortável
• Colocado algum objeto em um orifício do e de forma que o local da lesão fique visível.
corpo, como nariz, ouvido, ânus ou vagi- • Controlar sangramento abundante, utili-
na, sem ter conseguido retirar. zando manguito de compressão no caso de
extremidades.
• Medir e comunicar PA, P e FR, caso você
VOCÊ PERCEBE NO PACIENTE acredite que houve perda sanguínea signi-
• Respiração normal. ficativa.
46 ENFERMAGEM: CUIDADOS BÁSICOS AO INDIVÍDUO HOSPITALIZADO

toxêmico, neurogênico ou cardiogênico. Em al-


gumas bibliografias, podem ser encontrados
outros tipos de classificações.
Na emergência, o tipo de choque mais co-
mum é o hipovolêmico, sendo que os primei-
ros cuidados serão baseados nessa possibili-
dade (ver, no Cap. 1, Choque).

O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA


• Com história de perda volêmica significa-
tiva por sangramento interno ou externo,
vômitos excessivos, diarreia, desidratação,
Figura 1.10
Objeto encravado no abdome. diabete insípido, queimaduras, ascite, en-
tre outras situações.
• Referindo sede e mal-estar.
• Inconsciente ou tão agitado e confuso que
não pode expressar sintomas.
• Iniciar limpeza do local com água e sabão
ou solução fisiológica, conforme rotina da
instituição. VOCÊ PERCEBE NO PACIENTE
• Aguardar a avaliação e a prescrição médi- • Inquietação, agitação.
ca e realizar rigorosamente os procedi- • Taquipneia.
mentos prescritos. • Palidez cutânea.
• Sudorese.
No caso de objetos cravados em locais • Extremidades cianóticas.
como tórax, crânio, pescoço e abdome,
bem como de ferimento por arma de
fogo, o paciente pode chegar à POSSÍVEL DIAGNÓSTICO MÉDICO
instituição em situação muito grave. • Choque hipovolêmico.
Nesse caso, as condutas deverão ser
imediatamente comandadas pelo
médico (ver situações de trauma). CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS
• Posicionar o paciente em decúbito dorsal
com cabeceira reta ou Trendelemburg.
• Instalar oxigênio, de preferência por más-
 CHOQUE
cara.
• Obter mais de um acesso venoso calibroso
O choque é uma síndrome caracterizada por e instalar solução fisiológica ou outra in-
incapacidade do sistema circulatório em for- fusão, de acordo com o protocolo.
necer oxigênio e nutrientes aos tecidos de for- • Coletar, se for rotina/protocolo, aproxima-
ma a atender suas necessidades metabólicas. damente 10 mL de sangue no momento
Essa incapacidade pode ser causada por dife- da punção para que se possa fazer a tipa-
rentes motivos, caracterizando o tipo de cho- gem sanguínea caso haja necessidade de
que, que pode ser: hipovolêmico, séptico ou transfusão.
SOARES, GERELLI E AMORIM 47

• Medir e comunicar alterações na frequên- cada profissional deve exercer com destreza
cia cardíaca, como: suas competências, conforme ordem do coor-
– taquicardia denador da equipe e protocolo da instituição.
– bradicardia Entretanto, é fundamental que todos saibam
• Monitorar e comunicar alterações respi- detectar uma situação de PCR, a fim de acio-
ratórias, como: nar as equipes imediatamente, pois o atendi-
– taquipneia mento ao paciente em situação de PCR é uma
– dispneia e tiragens emergência, ou seja, não há tempo de espera
• Medir PA e comunicar hipotensão. para que se iniciem manobras de reanimação/
• Observar e comunicar alterações do nível ressuscitação cardiopulmonar (RCP).
de consciência, como: O diagnóstico da situação é confirmado
– agitação por inconsciência, apneia e ausência de pulso
– sonolência (carotídeo ou femoral).
– apatia As causas da PCR podem ser divididas em
– inquietação dois grandes grupos, e algumas condutas irão
– desconforto e mal-estar variar de acordo com a causa. Causas primá-
• Observar e comunicar alterações na per- rias: quando a PCR acontece por um problema
fusão periférica, como: na própria bomba cardíaca, que sofre uma is-
– cianose quemia. Causas secundárias: quando a causa
– palidez cutânea é um problema respiratório ou uma situação
– pele fria externa ao indivíduo.
– sudorese A ausência de circulação sanguínea inter-
• Monitorar a infusão de líquidos. rompe a oxigenação dos tecidos, causando
• Aguardar a avaliação e a prescrição médi- sofrimento celular e levando à morte das cé-
ca e realizar rigorosamente os procedi- lulas após determinado tempo. Os órgãos mais
mentos prescritos. sensíveis à falta de oxigênio são o cérebro e o
coração. Lesão cerebral irreversível ocorre
após 4 a 6 minutos; entretanto, em baixas tem-
Quando a evolução do choque torna-se peraturas, os paciente podem suportar mais
grave, as intervenções terapêuticas tempo sem oxigênio.
podem tornar-se inúteis, ocorrendo a
morte.
O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA
• Inconsciente.

 PARADA
CARDIORRESPIRATÓRIA (PCR)
VOCÊ PERCEBE NO PACIENTE
• Apneia, ausência de pulsos carotídeo e fe-
Lembrando que este livro é voltado ao aten- moral. Pode haver palidez ou cianose e a
dimento hospitalar, Suporte Avançado de Vida, pele pode estar fria.
não será tratado o atendimento de PCR em
situações nas quais o socorrista possa estar so-
zinho. No hospital, o atendimento é realizado POSSÍVEL DIAGNÓSTICO MÉDICO
pela equipe de enfermagem e médica, em que • Parada cardiorrespiratória.
48 ENFERMAGEM: CUIDADOS BÁSICOS AO INDIVÍDUO HOSPITALIZADO

a vida. Muitas lesões, como fraturas ou luxa-


Não devem haver dúvidas quanto ao
ções em extremidades, podem ser desconsi-
diagnóstico de PCR para que a equipe
deradas em um primeiro momento de atendi-
inicie as manobras de RCP.
mento caso o paciente apresente um quadro
clínico que precise ser restabelecido priorita-
riamente, como choque ou PCR. As circuns-
CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS tâncias em que ocorreu o acidente, conhecidas
como cinemática do trauma, e as manifesta-
O profissional de enfermagem deve ter ções apresentadas pelo paciente podem deter-
em mente que, em uma sala de minar maior ou menor gravidade da situação,
emergência, os procedimentos bem como os locais de maior risco para a pre-
serão realizados quase que sença de lesões.
concomitantemente. Todos os
membros da equipe devem ser
treinados de forma a saber exatamente O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA REFERINDO
qual a sua função. • Queda de altura ou durante a prática de
esportes
• Acidente de carro ou moto com baixo im-
Os aparelhos, como desfibriladores e mo- pacto.
nitores; os instrumentais, como aspiradores, • Dor em um ou mais membros.
tubo, AMBU, seringas, gel para pás; os medi- • Impossibilidade de movimentar o membro
camentos, como adrenalina e atropina, entre dolorido.
outros; e os EPIs devem estar em excelentes
condições de uso e em local acessível e conhe-
cido por toda a equipe. VOCÊ PERCEBE NO PACIENTE
Outros cuidados também deverão ser exe- • Edema em um ou mais membros ou arti-
cutados logo que possível, como: culações.
• Um ou mais membros em posição não
• Remover roupas, para que possa ser reali- anatômica.
zado um exame físico total.
• Fixar eletrodos no paciente e ligar o moni-
tor multiparâmetro. POSSÍVEL DIAGNÓSTICO MÉDICO
• Atentar para a frequência cardíaca e o tipo • Fraturas de extremidades.
de onda que aparece no monitor.
• Manter alarmes ligados.
• Manter todos os instrumentos, drogas e Caso a dor em uma articulação seja tão
materiais em local acessível. forte que, mesmo ao toque, o paciente
demonstre muito sofrimento, há a
possibilidade de luxação.

 SITUAÇÕES DE TRAUMA
As situações de trauma poderão variar desde CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS
uma simples fratura até o politraumatismo, ou • Colocar o paciente em posição confortá-
seja, indivíduos com múltiplas lesões traumá- vel, mantendo o membro alinhado ao cor-
ticas ou com lesão grave que ponham em risco po, sem forçar mobilização.
SOARES, GERELLI E AMORIM 49

1a PESSOA


Fazer o diagnóstico da situação = PCR


Início da RCP

Posicionar o paciente em decúbito dorsal em leito reto para iniciar a ressuscitação cardíaca
(as roupas devem ser retiradas, deixando o tórax exposto)


Iniciar procedimentos em ordem de prioridade com base no ABC

A = Vias aéreas (manutenção de VA)


• No paciente politraumatizado ou com suspeita de lesão de coluna, as manobras de manutenção
de VA devem ser acompanhadas pela imobilização da coluna cervical, seguindo estes passos:
– Elevar e tracionar a mandíbula
– Remover prótese dentária ou qualquer objeto que possa estar obstruindo ou vir a obstruir as
vias aéreas
– Aspirar sangue ou secreções da cavidade oral

B = Respiração (confirmar apneia)


• Na emergência, a ventilação pode ser iniciada com AMBU adaptado à máscara facial, com oxigênio
a 100% (em torno de 10 L/min)
• Logo que possível, o paciente deve ser intubado (esse procedimento deve ser realizado pelo
médico)

C = Circulação
• Posicionar pás para desfibrilação. Iniciar a desfibrilação logo que autorizado pelo médico (Fig. 1.11)
®
• Obter um ou mais acessos venosos em veias calibrosas com Abocath n. 14 ou 16. Evitar punção
em extremidades lesadas
• Manter massagem cardíaca (Fig. 1.12)

Pá adesiva Figura 1.11


Bateria Local de colocação das pás
para desfibrilação.

Cabos Desfibrilador

Tela do monitor
(alguns modelos
não têm monitor)

Liga/desliga Análise Choque


50 ENFERMAGEM: CUIDADOS BÁSICOS AO INDIVÍDUO HOSPITALIZADO

Figura 1.12
Localização do ponto de compressão torácica.

• Monitorar o pulso e a temperatura da ex- TRAUMA DE TÓRAX


tremidade afetada, comparando com a Os sinais e sintomas de lesões torácicas são, em
outra. geral, dificuldade respiratória, dor ventilatório-
• Medir e comunicar PA, P e FR. dependente, taquipneia e/ou sinais de choque
• Comunicar sinais de choque hipovolêmico: hipovolêmico, no caso de sangramentos exter-
– taquipneia nos ou internos. Entretanto, a falta de sintomas
– pulso rápido e fino inicial não representa ausência de trauma. Si-
– palidez cutânea tuações como lesão de esôfago, pneumotórax
– sudorese ou lesões de vasos podem apresentar-se assinto-
• Obter um acesso venoso calibroso e insta- máticas nos primeiros momentos após o trauma.
lar solução fisiológica, conforme protoco- Ferimentos penetrantes no tórax, como os
lo. causados por arma de fogo (FAF) ou arma bran-
• Aguardar a avaliação e a prescrição médi- ca (FAB), podem causar pneumotórax aberto.
ca e realizar rigorosamente os procedi- O primeiro tratamento, nesses casos, é
mentos prescritos. direcionado ao fechamento do orifício e forne-
cimento de oxigênio suplementar (ver Fig. 1.13).
Em tais ocasiões, pode ser realizado, como
O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA REFERINDO atendimento básico, um “curativo de três pon-
• Queda de altura, acidente de carro ou tas”, ou seja, uma forma de permitir que o ar
moto, ter estado em local de desabamen- saia do espaço pleural, mas não entre, dimi-
to, ferimento com arma de fogo ou arma nuindo os riscos de pneumotórax hipertensivo.
branca em locais nobres como o tórax, o Curativo de três pontas (Fig. 1.14):
abdome, o crânio ou o pescoço.
• Colocar sobre o orifício um pedaço de co-
bertura oclusiva que pode ser de papel não
POSSÍVEIS DIAGNÓSTICOS MÉDICOS poroso ou plástico
• Politraumatismo, que pode incluir trauma • Fixar com fita adesiva três lados da cobertura
de tórax, de abdome, fratura de quadril/
ossos da pelve, traumatismo cranioence- Dessa forma, o curativo cria um sistema
fálico (TCE), traumatismo raquimedular de válvula, permitindo que o ar saia, mas im-
(TRM), bem como múltiplas fraturas. pedindo que entre.
SOARES, GERELLI E AMORIM 51
Pleura parietal Figura 1.13
FAB no tórax.

Ar no espaço
pleural

Pleura visceral

Pulmão parcialmente colabado

Caso o paciente chegue ao pronto-socorro do mais fácil a correlação entre a dor ou lesão
com um curativo de três pontas, este somente e o órgão possivelmente acometido. Por exem-
será retirado pelo médico, ou na presença e plo, o quadrante superior direito (QSD) con-
por solicitação deste. tém o fígado e a vesícula biliar, o quadrante
superior esquerdo (QSE) contém o baço e o
estômago, nos quadrantes inferiores direito e
TRAUMA DE ABDOME esquerdo (QID e QIE) está localizado basica-
Para fins de avaliação do abdome, a superfí- mente o intestino, embora existam partes des-
cie abdominal é dividida em quatro quadran- te em todos os demais quadrantes. A bexiga
tes, ou seja, são traçadas duas linhas imaginá- localiza-se em uma linha média entre os
rias. Uma vai da ponta do apêndice xifoide quadrantes inferiores.
até a sínfise púbica e a outra, perpendicular, As lesões abdominais podem decorrer de
é traçada na altura da cicatriz umbilical. Cada ferimento penetrante ou trauma fechado. O
quadrante contém órgãos específicos, tornan- rompimento de órgãos ocos (bexiga, estômago,

Figura 1.14
Adesivo Curativo de três pontas.
Adesivo

Abertura

Material plástico (não poroso)


52 ENFERMAGEM: CUIDADOS BÁSICOS AO INDIVÍDUO HOSPITALIZADO

vesícula) causa o extravazamento de seus flui- e compreender a importância de uma avalia-


dos para dentro da cavidade abdominal, po- ção competente.
dendo causar peritonite, levando a sépsis. Já Geralmente, os comas são classificados
os órgãos sólidos ou vasos (baço, fígado, aorta como:
e cava) sangram ao romper-se, podendo levar
o paciente a choque hipovolêmico rapidamente. • Severo, ECG ≤ 8
• Moderado, ECG de 9 a 12
• Leve, ECG ≥ 13
FRATURA DE PELVE
A imobilização e a mobilização adequadas são A aplicabilidade da escala é limitada em
fundamentais para prevenir a principal com- crianças menores de 36 meses. Consequente-
plicação de uma fratura de ossos da pelve: a mente, uma Escala de Coma de Glasgow Pe-
hemorragia e consequentemente o choque. diátrica (Quadro 1.1) foi desenvolvida para
Devido ao espaço existente dentro dessa cavi- avaliar crianças menores.
dade, o sangramento pode acontecer com pou-
cos sinais externos. Um choque não esclareci-
do inicialmente deve remeter à investigação TRAUMA RAQUIMEDULAR (TRM)
de uma fratura de quadril. Diante dessa possi- Uma lesão de coluna vertebral poderá ou não
bilidade, um acesso venoso calibroso, ou, sem- causar lesão de medula espinal. A lesão de
pre que possível, mais de um, passa a ser um medula espinal pode ocorrer por aplicação de
cuidado prioritário. uma força que cause compressão ou em con-
sequência de uma lesão de coluna, quando
fragmentos ósseos interrompem o fluxo san-
TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO guíneo ou causam laceração ou corte no tecido
(TCE) medular (Fig 1.16).
Das vítimas de trauma, as que apresentam le- A movimentação ou imobilização inade-
são encefálica são as que parecem impor quada de uma coluna fraturada ou de um pa-
maior desafio, tanto à equipe médica como à ciente com lesão medular despercebida pode
de enfermagem. Muitas vezes, não há evidên- ter como consequências a tetraplegia e mes-
cia externa de lesão, e o paciente está agitado, mo PCR.
confuso e até mesmo agressivo. A história do Pode-se pensar em lesão medular diante
trauma pode ser fundamental para uma des- de manifestações como dor no pescoço e/ou
confiança inicial de lesão encefálica. nas costas em repouso, com a palpação ou em
A atenção a esses pacientes deve ser global, movimento, deformidade na coluna, defesa ou
pois o nível de consciência é apenas uma das contratura muscular do pescoço ou das costas,
manifestações, sendo que todos os sinais vitais parestesias, paresias, plegias, diminuição da
podem alterar-se rapidamente (ver Fig. 1.15). sensibilidade tátil em membros superiores ou
A avaliação do nível de consciência de um inferiores, priapismo ou sinais de choque neu-
paciente com TCE pode ser feita usando-se a rogênico.
escala de coma de Glasgow. Embora a deter- O choque neurogênico secundário a lesão
minação da pontuação seja atribuição do mé- de medula é resultado de diversos déficits neu-
dico ou do enfermeiro, é importante que toda rológicos causados pela lesão. Ao contrário
a equipe de enfermagem tenha conhecimen- do choque hipovolêmico, o paciente apresen-
to dessa escala a fim de determinar alterações ta vasodilatação, a pele fica quente e seca, a
SOARES, GERELLI E AMORIM 53

QUADRO 1.1
ESCALA DE COMA DE GLASGOW (ECG)

Melhor resposta verbal Abertura dos olhos Melhor resposta motora

1– Nenhuma 1– Nenhuma 1 – Nenhuma


2– Sons incompreensíveis 2– Resposta à dor 2 – Descerebração (extensão
3– Palavras inadequadas 3– Resposta à fala anormal dos membros)
4– Confusa 4– Espontânea 3 – Decorticação (flexão anormal
5– Orientada dos membros superiores)
4 – Retirada
5 – Localiza o estímulo doloroso
6 – Obedece a comandos verbais

Fonte: Escala de Glasgow, 2008.

Hematoma na região temporal


Deslocamento medial dos vasos
cerebrais médios

Fratura de crânio Desvio das


cruzando a artéria estruturas da linha
meníngea média mediana normal

Hérnia
do lobo
Compressão da
temporal sob o
artéria cerebral
tentório do
posterior
cerebelo
Desvio do tronco
encefálico

Compressão das vias


corticospinais e associadas,
resultando em hemiparesia
Hérnia da tonsila do cerebelo
contralateral, hiper-reflexia do
tendão profundo e sinal de
Babinski

Figura 1.15
Hematoma extradural por TCE.
54 ENFERMAGEM: CUIDADOS BÁSICOS AO INDIVÍDUO HOSPITALIZADO

A movimentação do paciente será em “blo-


co”, isto é, será feita com o máximo de profis-
sionais disponíveis, a fim de realizar o procedi-
mento corretamente.
Alguns exemplos de dispositivos usados
para imobilização são (Fig. 1.17):

• Prancha/tábua ou maca rígida com faixas/


tirante ou cintos
• Colar cervical
• Imobilizadores laterais de cabeça
• Kendrick Extrication Device (KED)
Lesão de
medula Em todos esses casos, o paciente deverá
espinal ser tratado como politraumatizado, ou seja,
como um paciente grave, até que se faça o
diagnóstico real. Ele deve, portanto, ser avalia-
do imediatamente pelo médico, cabendo à en-
fermagem monitorar todos os sinais vitais e
informar alterações que possam ocorrer du-
Figura 1.16 rante o atendimento, bem como realizar de
TRM. forma precisa e rápida todos os procedimentos.

CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS


frequência cardíaca é normal ou lenta e a pres-
são arterial é baixa. Até a presença do médico, a equipe de
enfermagem deve avaliar o paciente de
acordo com o ABC (ver PCR/ RCP).
O atendimento pré-hospitalar tem
melhorado bastante nos últimos
tempos e, graças às campanhas na • Obter um acesso venoso calibroso (sem-
mídia, a maioria das pessoas já pre que possível, mais de um) e instalar
reconhece a necessidade de chamar solução fisiológica ou solução de reposi-
socorro profissional e de evitar ção de volume, de acordo com o protoco-
movimentar ou remover vítimas de lo. Obter amostra de sangue para tipagem,
acidentes. conforme protocolo.
• Auxiliar no posicionamento adequado do
paciente.
A chegada dessas vítimas à emergência, • Retirar ou cortar as roupas, se necessário,
quando imobilizadas adequadamente por pro- a fim de não movimentar o paciente.
fissionais, permite uma avaliação mais tranquila • Retirar joias, próteses ou pertences que
e completa, sendo que a remoção dos dispositi- estejam com o paciente, tendo o cuidado
vos de imobilização deve ser feita pelo médico, adequado durante a movimentação de
ou na presença ou por solicitação deste. membros.
SOARES, GERELLI E AMORIM 55

Colar cervical
KED

Cintos
Maca
Figura 1.17 rígida Imobilizadores
laterais de cabeça
Dispositivos de imobilização.

• Instalar os monitores disponíveis, manten- sofrimento psíquico e o bem-estar físico dos


do registro constante sobre os dados obti- pacientes e seus familiares. Para isso, é neces-
dos. sária uma avaliação completa do paciente,
• Realizar outros procedimentos, conforme com perspectiva biopsicossocial e espiritual.
necessidade e de acordo com a prioridade É importante também que se faça um diagnós-
de cada situação. tico diferencial, como em qualquer situação
clínica, que determine se a situação é de emer-
gência, urgência ou eletiva.
Os demais cuidados serão específicos Segundo Spode e Fleck (2001), situações
aos possíveis diagnósticos e à de emergência são aquelas em que os transtor-
apresentação do quadro clínico. nos do pensamento, dos sentimentos ou as
ações do paciente envolvem risco de vida ou
risco social grave. Trata-se de pacientes com
ações violentas contra si e/ou contra outros,

 TRANSTORNOS
PSIQUIÁTRICOS
juízo crítico gravemente comprometido ou em
grave autonegligência. Nesses casos, as inter-
venções devem ser imediatas.
Existem diversos transtornos psiquiátricos, e As urgências implicam riscos menores, mas
estes podem apresentar diversas manifesta- que necessitam de intervenções a curto prazo,
ções. Embora sejam considerados e tratados, como dias ou semanas. Servem como exemplos
em sua maioria, como transtornos crônicos, os pacientes com comportamentos bizarros,
quando em situações agudas, comumente são ansiedade aguda, crise conversiva e outros.
recebidos pelos profissionais de saúde nos ser- Entretanto, as definições de urgência e
viços de emergência. Nesses casos, a meta emergência nem sempre são claras para os pa-
principal dos profissionais deve ser o alívio do cientes e/ou acompanhantes e familiares, fa-
56 ENFERMAGEM: CUIDADOS BÁSICOS AO INDIVÍDUO HOSPITALIZADO

zendo com que pessoas em situações nas quais


ATENÇÃO: Não descartar a
não há risco de vida e sem necessidade de
possibilidade de distúrbios
atendimento rápido, ou seja, situações consi-
neurológicos ou metabólicos até que
deradas eletivas, procurem as emergências.
seja feito o diagnóstico diferencial.
Servem de exemplo as crises de ansiedade leve
e os distúrbios de relacionamento interpes-
soal, entre outros. Nesses casos, os profissio-
nais devem esclarecer, ao paciente e aos acom- CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS
panhantes, a aparente demora no atendimen- Paciente que chega acordado:
to, pois esta pode parecer descaso profissional,
acabando por piorar a ansiedade tanto do pa- • Falar com o paciente de maneira calma e
ciente quanto de seus acompanhantes. firme, perguntando seu nome e o que
aconteceu.
• Colocar o paciente sentado e explicar que
O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA REFERINDO ele está sendo atendido.
• Dor ou aperto no peito, palpitações, for- • Solicitar que o paciente respire de maneira
migamento nas mãos e/ou nas pernas profunda e lenta, explicando a importância
acompanhado de perda de força ou inca- da respiração adequada para diminuir os
pacidade para movimentar-se, dificuldade sintomas de formigamento e tontura.
para respirar e “medo de morrer”. • Medir PA, FR e P; comunicar alterações.
• Avaliar a permanência ou não de acom-
panhantes junto ao paciente. Em alguns
O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA casos, a importância que os acompanhan-
SEM CONDIÇÕES DE VERBALIZAR tes dão aos sintomas pode exacerbá-los.
E O ACOMPANHANTE REFERE • Aguardar conduta médica.
• Que o paciente perdeu os sentidos ou que
caiu e começou a “debater-se”. Paciente que chega aparentemente desa-
cordado:

VOCÊ PERCEBE QUE O PACIENTE • Ouvir com atenção a história contada pe-
• Está ansioso, respira rapidamente, procu- los acompanhantes, certificando-se de que
ra manter os olhos fechados, tem os dedos não haja situações de trauma físico ou de
endurecidos, com as mãos voltadas para intoxicação exógena.
dentro, ou • Falar com o paciente de maneira calma e
• Está aparentemente desacordado, sem firme, perguntando seu nome e o que
palidez e sem sinais de cianose, a pele com aconteceu.
temperatura normal, sem relaxamento de • Solicitar que abra os olhos ou movimente
esfincteres (não está urinado ou evacuado). os membros.
• Apresenta rápidos movimentos palpebrais, • Instalar o oxímetro de pulso, caso o pacien-
“pálpebras trêmulas”. te não responda aos estímulos verbais e/
ou apresente sinais de cianose.
• Investigar permeabilidade de via aérea e
POSSÍVEIS DIAGNÓSTICOS MÉDICOS mantê-la desobstruída, posicionando o pa-
• Transtornos de ansiedade, transtorno de ciente de maneira adequada.
pânico ou crise conversiva. • Comunicar saturação.
SOARES, GERELLI E AMORIM 57

• Colocar cateter e administrar O2 se Sat de consciência, agitação psicomotora, alu-


≤ 90%, ou conforme protocolo da institui- cinações, delírios e convulsões.
ção.
• Investigar plegia e diâmetro pupilar, co-
municar midríase, miose ou anisocoria. POSSÍVEL DIAGNÓSTICO MÉDICO
• Palpar o crânio em busca de alterações (si- • Síndrome de abstinência alcoólica.
nais de fraturas, cortes ou equimoses).
• Medir PA, P e FR; comunicar alterações.
• Elevar a cabeceira se houver PA elevada CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS
ou sinais de TCE (sem história de trauma • Manter o paciente deitado, com a cabe-
compatível com trauma raquimedular ceira elevada, a fim de evitar a aspiração
[TRM]). de vômito.
• Instalar o oxímetro e comunicar a satura-
ção de O2.
O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA REFERINDO • Administrar O2 por óculos, cateter ou más-
• Fazer uso de bebida alcoólica diariamente cara, conforme rotina.
e ter parado de beber por algumas horas • Medir, comunicar e anotar sinais vitais.
ou dias. • Manter acesso venoso com cateter periféri-
• Perda de apetite, náuseas, desconforto ab- co flexível, para não perder o acesso em caso
dominal, diarreia, insônia, pesadelos, difi- de agitação psicomotora ou convulsões.
culdade de concentração e de memória. • Colocar contenções mecânicas (CM) de
proteção em caso de agitação psicomotora.

Devem ser considerados sintomas


precoces ou leves quando tiverem Algumas recomendações em relação à
início em 6 a 48 horas após a CM:
abstinência de álcool. • O paciente sempre deve ser
informado sobre o que está sendo
feito, o motivo e o caráter não
O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA punitivo (mesmo que esteja
SEM CONDIÇÕES DE VERBALIZAR E O psicótico).
ACOMPANHANTE REFERE • O ideal é o envolvimento de cinco
• Que o paciente faz uso de bebida alcoólica pessoas, uma para a cabeça e uma
diariamente e que está “tentando parar de para cada um dos quatro membros.
beber” há algumas horas ou dias. Quem estiver próximo à cabeça
coordena a ação e fala com
o paciente.
VOCÊ PERCEBE QUE O PACIENTE APRESENTA • As faixas de contenção devem ser
• Sinais precoces ou leves de abstinência al- de material resistente.
coólica: taquicardia, hipertensão sistólica, • A posição de decúbito lateral, com
irritabilidade, hostilidade, déficit de con- a cabeça levemente elevada, é a
centração e de memória. mais indicada.
• Sinais severos ou avançados, com início em • O paciente não deve permanecer
48 a 96 horas após a abstinência de álcool: por mais de algumas horas em CM,
tremores, sudorese, taquicardia, alteração
58 ENFERMAGEM: CUIDADOS BÁSICOS AO INDIVÍDUO HOSPITALIZADO

O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA NEGANDO-


devendo ter a posição alterada a
SE A FALAR E O ACOMPANHANTE REFERE
cada 2 horas, bem como ter cada
• Que o paciente pode ter tomado (ou to-
membro contido supervisionado
mou) alguns medicamentos com a ideia de
para se ter certeza de que não haja
matar-se.
garroteamento.
• Que é a primeira vez que o paciente faz
• O paciente deve ser observado,
isso, ou que já o fez outras vezes (Ver con-
tanto em relação à segurança e ao
duta para intoxicações exógenas).
conforto da contenção quanto a
outros parâmetros, como sinais
vitais e nível de consciência. Jamais
VOCÊ PERCEBE QUE O PACIENTE
deve ficar fora do alcance da visão
• Está desacordado.
de alguém da equipe.
• Está acordado, apenas com os olhos fecha-
• A CM pode ser indicada verbalmente
dos, sem palidez, sem sinais de cianose,
no momento da emergência, mas
pele com temperatura normal ao tato.
deve ser prescrita assim que
possível.
POSSÍVEIS DIAGNÓSTICOS MÉDICOS
• Transtornos de ansiedade, crise conversiva,
• Medicar conforme prescrição médica. depressão ou outras patologias psiquiátri-
• Manter atenção constante nos níveis de sa- cas.
turação e frequência respiratória após o
uso de benzodiazepínicos.
• Medir sinais vitais de hora em hora, ou em CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS
menos espaço de tempo caso algum sinal • Atender inicialmente com as condutas in-
esteja alterado. dicadas para intoxicações exógenas.
• Reavaliar a permeabilidade do acesso an-
tes de infundir medicações EV e sempre Caso não se confirme a intoxicação ou não
que houver suspeita de extravazamento haja mais tempo para tratamento clínico,
(edema, hiperemia), principalmente nos como lavado gástrico ou uso de medicações
casos de pacientes agitados ou desacorda- antagonistas:
dos.
• Falar com o paciente de maneira calma e
firme, perguntando seu nome e o que
O PACIENTE CHEGA À EMERGÊNCIA aconteceu.
• Referindo “falta de vontade de viver”, • Colocá-lo em lugar confortável, com cer-
“vontade de acabar com tudo”, diz estar ta privacidade, mas próximo aos profissio-
“cansado da vida”, “que nada mais tem va- nais de saúde.
lor” ou • Explicar que ele está sendo atendido, sem
• Chorando e/ou negando-se a dar informa- pré-julgar sua atitude.
ções, não conversa, não interage com o • Medir sinais vitais e comunicar alterações.
profissional de enfermagem ou com o mé- • Avaliar a permanência ou não de acom-
dico. panhantes junto ao paciente.
SOARES, GERELLI E AMORIM 59

• Atentar para locais altos e com janelas pró- ver agressivo, não houver disponibilidade
ximas e sem proteção. de vigilância constante, ou se o lugar apre-
• Retirar medicações e/ou objetos perfuro- sentar muito risco de fuga ou mesmo de
cortantes, ou objetos que possam provocar suicídio.
sufocamento ou garroteamento que este- • Manter uma pessoa acompanhando o pa-
jam próximos ao paciente. ciente sempre que ele tiver de sair da sala.
• Colocar conteções mecânicas (CM) se o • Aguardar conduta do médico/psiquiatra
paciente não se mostrar colaborativo, esti- ou outro profissional da saúde mental.
60 ENFERMAGEM: CUIDADOS BÁSICOS AO INDIVÍDUO HOSPITALIZADO

QUESTÕES PARA ESTUDO | PARTE I*

1) O senhor Jurandir chega à emergência da instituição hospitalar onde você trabalha, e relata
dor intensa no peito, que se irradia para o braço esquerdo. Apresenta-se sudorético, pálido e
dispneico. O familiar confirma que o paciente colocou um remédio para o coração debaixo da
língua antes de sair de casa, remédio este que usa há aproximadamente um ano, após diagnós-
tico de angina. O que pode estar acontecendo com o paciente? ___________________________
____________________________________________

1.1) Cite as três atitudes que devem ser tomadas diante da situação:____________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

2) Você recebe na sala de emergência um adulto de aproximadamente 40 anos que sofreu um


acidente de trânsito grave, apresentando múltiplos ferimentos com sangramento abundan-
te. O paciente chega trazido por pessoas leigas que passavam pelo local. Você percebe que
ele está em parada cardiorrespiratória. De acordo com o ABC do trauma, qual devem ser
suas duas primeiras atitudes?
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________

3) Coloque V se a afirmação for verdadeira e F se for falsa:


a. ( ) Um paciente com dispneia severa, acompanhada de tiragens, batimento de asa de
nariz e cianose, ansiedade e agitação, deve ser rapidamente deitado em uma maca
para ficar mais calmo e melhorar seu quadro respiratório.
b. ( ) Deitar o paciente e lateralizar sua cabeça é um cuidado importante se ele
apresentar vômitos com sangue.
c. ( ) Obter e manter um acesso venoso durante uma crise convulsiva é um cuidado
importante para que se possa medicar o paciente rapidamente.
d. ( ) Caso um paciente chegue à emergência com algum objeto encravado em uma
parte do corpo, cabe ao profissional de enfermagem retirar o objeto o mais breve
possível para melhorar o sangramento.
e. ( ) Um paciente chega ao hospital com história de picada de cobra em MID. Cabe ao
profissional de enfermagem deitar o paciente e elevar o membro afetado.
f. ( ) Em caso de choque hipovolêmico em paciente politraumatizado, o acesso venoso
deve ser pouco calibroso para evitar mais um trauma.

4) Marque com X a(s) resposta(s) certa(s):

4.1 ) São medidas de emergência corretas para os casos de possível cetoacidose diabética:
a. ( ) Coletar e anotar o valor de HGT®.
b. ( ) Instalar oxímetro.
c. ( ) Verificar e anotar sinais vitais, principalmente FR e FC.
d. ( ) Todas as alternativas anteriores.

* Respostas disponíveis no site da Artmed (www.artmed.com.br). 


SOARES, GERELLI E AMORIM 61


4.2) Você pode pensar em AVC/AVE ou outro distúrbio neurológico caso o paciente apresen-
te os seguintes sinais e sintomas:
a. ( ) Não responde de forma coerente e apresenta dificuldade motora, queda de
comissura labial, agitação psicomotora.
b. ( ) Tem história de ter perdido as forças dos membros superiores e/ou inferio-
res (em geral de um lado do corpo), de perda de memória momentânea e de
dificuldade para falar.
c. ( ) Tem história de perda de movimento em um membro ou lado do corpo.
d. ( ) Apresenta respiração de Kussmaul, hálito cetônico, aparência de
desidratação.

5) Dos pacientes que chegam à emergência com transtornos psiquiátricos, quais situações po-
dem necessitar de contenção mecânica e quais os cuidados em relação a tais situações?

6) Quais os sinais e sintomas que podem indicar que um paciente está em síndrome de absti-
nência alcoólica?

7) Como pode ser feito um curativo de três pontas, no caso de perfurações torácicas, e qual seu
objetivo?

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