OTHERO, Gabriel de Ávila. Sintaxe. In: SCHWINDT, Luiz Carlos (Org.).
Manual de Linguística: fonologia, morfologia e sintaxe. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2014. cap. 3, p. 155-177.
Sintaxe (Resumo)
A sintaxe é o estudo da organização das palavras em unidades maiores
(sintagmas) e a organização dessas unidades em frases. Com os estudos linguísticos, mais precisamente a partir do Estruturalismo, entendemos que uma frase não é um mero aglomerado de palavras soltas, ligadas umas às outras de maneira aleatória. Estudar a organização sintática de uma frase nos permite perceber que a ordem das palavras pode alterar o significado dessa frase, ou seja, a posição ou função sintática de um sintagma na frase pode mudar completamente a interpretação que fazemos dela. As línguas encontraram diferentes maneiras de organizar os agrupamentos sintáticos na frase. Em termos de tipologia sintática, o português é classificado como uma língua do tipo SVO, ou seja, uma língua que organiza suas frases, de maneira geral, com a sequência sujeito – verbo – objeto. O sujeito gramatical confunde-se, muitas vezes, com o “assunto” da mensagem que vamos proferir. Normalmente, é uma informação já compartilhada com nosso interlocutor; então dizemos que o sujeito também desempenha o papel de tópico da mensagem, em termos de organização da estrutura informacional da frase. O sujeito gramatical desempenha a função discursiva de tópico da frase. Os tópicos devem ser constituintes inteiros, não podem ser constituídos por apenas uma parte desses constituintes. O princípio da dependência de estrutura, princípio sintático universal respeitado pela gramática do português brasileiro, garante que as operações sintáticas nas línguas levem em consideração a estrutura dos constituintes da frase. É por isso que, ao topicalizarmos um elemento da frase, esse elemento deve ser de determinado tipo, como um sintagma nominal ou preposicional. Não podemos topicalizar uma palavra ou um amontoado de palavras sem estrutura interna. Percebe-se que é interessante, em termos de organização da estrutura informacional da frase, manter o sujeito na posição inicial. A maioria das línguas tem um ordenamento sintático que mantém verbo e objeto lado a lado. Isso acontece porque o verbo e o objeto formam uma unidade sintática mais íntima do que o sujeito e o verbo ou o sujeito e o objeto. Em relação às estruturas sintáticas, as línguas apresentam diferenças sintáticas apenas superficiais. Quando a estrutura sintática das línguas é analisada de maneira mais aprofundada, percebemos que há muitas semelhanças interessantes. É também importante recuperarmos os conceitos de competência e desempenho. A competência é o conhecimento interiorizado que cada falante tem das regras gramaticais da língua. Por ser interiorizado e intuitivo, é difícil acessarmos esse tipo de conhecimento de maneira explícita. Uma maneira de acessarmos esse conhecimento implícito do falante sobre as regras e princípios da gramática de sua língua é usando testes de julgamento sobre gramaticalidade (formação de frase de acordo com as regras gramaticais da língua) e agramaticalidade (produção impossível na língua, uma sequência que não respeita algum princípio ou regra gramatical universal ou de uma língua em específico) de uma sequência de palavras na língua. Ou seja, sabemos distinguir o que são frases gramaticais e agramaticais na língua graças à nossa competência lingüística. Desempenho é o uso concreto da linguagem em situações comunicativas reais. Quando usamos a língua para nos comunicar, estamos sujeitos a erros de desempenho, devido às diversas pressões das situações comunicativas, como o nervosismo, a incapacidade da memória etc. Quanto às estruturas sintagmáticas, sabemos que as palavras podem apresentar mais de um significado, ou seja, podem ter interpretação semântica ambígua. O tipo de ambiguidade, relacionado às acepções de uma palavra, denomina-se ambiguidade lexical. As frases de uma língua não são um mero aglomerado de palavras. As palavras se organizam em agrupamentos (chamados sintagmas), e esses agrupamentos formam uma frase. Algumas vezes, esses agrupamentos têm algo em comum: eles podem ocupar as mesmas posições sintáticas (sintagma nominal – SN); um constituinte cujo núcleo é um substantivo, isto é, um nome (N), próprio ou comum. Uma árvore sintática (representação arbórea) é uma maneira gráfica de representar as estruturas organizacionais hierárquicas internas de uma frase em suas partes constituintes. Uma representação como essa mostra o agrupamento dos itens lexicais (as palavras) em sintagmas e de sintagmas em sentenças, revelando o caráter hierarquizado dessa organização.