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estrela da manhã
3. O AUTOR.................................................................................................. 12
4. A OBRA..................................................................................................... 14
5. Exercícios............................................................................................ 37
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estrela da manhã
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Estrela da manhã
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Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho
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Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho
3. O AUTOR
Manuel Bandeira
Provinciano que nunca soube
Escolher direito uma gravata;
Pernambucano a quem repugna
A faca do pernambucano;
Poeta ruim que na arte da prosa
Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crônicas
Ficou cronista de província;
Arquiteto falhado, músico
Falhado (engoliu um dia
Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família,
Religião ou filosofia;
Mal tendo a inquietação do espírito
Que vem do sobrenatural,
E em matéria de profissão
Um tísico profissional.
O autoretrato é de 1948. Ele nos apresenta de forma direta alguns dos prin-
cipais traços do autor: ironia desencantada, sentimento de frustração e morbidez
profissional. Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho nasceu no Recife, em
Pernambuco e passou a infância na casa de seu avô Costa Ribeiro, que ficava na
rua da União. As experiências vivenciadas nesse período marcarão para sempre
a sensibilidade do poeta.
Aos dez anos de idade veio com a família para o Rio de Janeiro, onde fez
os estudos secundários, permanecendo até os dezessete anos. Aos dezoito anos
seguiu para São Paulo, com o intuito de cursar Arquitetura na Escola Politécnica
de São Paulo, curso que precisou abandonar ao término do primeiro ano, pois
havia contraído tuberculose.
Naquela época, por volta de 1904, o diagnóstico de tuberculose anunciava
morte próxima.
À procura de um clima adequado ao seu estado de saúde, esteve em vá-
rios lugares, inclusive em um sanatório na Suíça, onde entrou em contato com
o jovem poeta Paul Éluard, que viria a ser um dos principais representantes do
surrealismo francês.
A Primeira Guerra Mundial (1914) obrigou-o a voltar para o Brasil e, entre
1914 e 1922, perdeu toda a família. Sua saúde fez com que, até a maturidade,
tivesse vida cautelosa, concentrando-se na poesia e nos estudos.
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Estrela da manhã
4. A OBRA
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Estrela da manhã
Estrela da manhã
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Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho
Virgem mal-sexuada
Atribuladora dos aflitos
Girafa de duas cabeças
Pecai por todos pecai com todos
Depois comigo
gem da estrela:
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Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho
A estrela e o anjo
Vésper caiu cheia de pudor na minha cama
Vésper em cuja ardência não havia a menor parcela de sensualidade
Enquanto eu gritava o seu nome três vezes
Dois grandes botões de rosa murcharam
E o meu anjo da guarda quedou-se de mãos postas no desejo insatisfeito de Deus
A imagem da estrela aparece agora na variante Vésper, que “caiu cheia de
pudor” na cama do poeta. A queda da estrela permite agora não apenas a con-
templação, mas a realização do desejo tão ardentemente manifestado no primeiro
poema. A imagem da estrela liga-se agora à imagem da flor, a “dois grandes
botões de rosa”. A realização do amor físico, entretanto, desperta a insatisfação
de Deus, já que o desejo de Deus é o de que os homens não cometam pecados.
A realização do desejo do eu lírico provoca a frustração do desejo de Deus:
“E o meu anjo da guarda quedou-se de mãos postas no desejo insatisfeito de
Deus”. Quando a estrela está próxima do desejo do poeta, ela está longe do desejo
de Deus, o que reforça a ideia de sua associação com a frustração.
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Estrela da manhã
Poema do beco
Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?
– O que eu vejo é o beco.
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Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho
Sabemos, por intermédio do autor, que o poema foi elaborado por meio
da colagem de fragmentos de versos e de versos inteiros de autores como Olavo
Bilac, Oscar Wilde, Castro Alves, Shakespeare e Luís Delfino. Os trechos escolhi-
dos eram os mais conhecidos e repetidos pelos leitores medianos da época e, por
isso mesmo, haviam perdido a força poética de origem. Escolhendo justamente
os clichês poéticos da época (as frases feitas) e juntando-lhes o anúncio de um
sabonete barato, Manuel Bandeira revitaliza os antigos versos, insuflando-lhes
vida nova. Resgatados do universo das frases feitas e associados à imagem de
um sabonete, ironicamente os versos ganham nova carga poética, porque surgem
num contexto novo, que lembra as estéticas das vanguardas europeias, como
o cubismo e o surrealismo, que juntavam perspectivas diversas e imagens do
inconsciente, respectivamente, na composição artística.
O poema seguinte, intitulado O amor, a poesia, as viagens, é um jogo sonoro:
Atirei um céu aberto
Na janela do meu bem:
Caí na Lapa – um deserto...
– Pará, capital Belém!...
casa não existe mais, foi demolida). Passei a residir em Morais e Vale, uma rua em
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Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho
Tragédia brasileira
Misael, funcionário da fazenda, com 63 anos de idade.
Conheceu Maria Elvira na Lapa, – prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma
aliança empenhada e os dentes em petição de miséria
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou
médico, dentista, manicura...Dava tudo quanto ela queria.
Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.
Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez
nada disso: mudou de casa.
Viveram três anos assim.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ra-
mos, Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp,
outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos...
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligên-
cia, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida
de organdi azul.
O poema narra uma história com desfecho trágico, aparentemente comum
na sociedade brasileira , daí o título “Tragédia brasileira”.
Como o texto apresenta uma narração, temos os personagens centrais: Mi-
sael e Maria Elvira. Misael é um funcionário público, com 63 anos de idade, que
se apaixona por uma prostituta. Maria Elvira é a prostituta marcada por doenças
e por uma situação financeira precária: “uma aliança empenhada”.
O espaço é a cidade do Rio de Janeiro, a referência aos bairros típicos
permite a identificação do local. O tempo decorrente da ação é de três anos:
“Viveram três anos assim”.
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Estrela da manhã
O enredo consiste na relação dos amantes: Misael cuida de Maria Elvira;
esta, ao sentir-se melhor, volta a ter outros amantes. A multiplicidade dos amantes
é indicada pela referência aos bairros em que eles residiam. O desfecho trágico
ocorre na Rua da Constituição, onde, “privado de sentidos e de inteligência”,
Misael a matou com seis tiros.
O que confere ao texto uma carga poética é a forma como o autor o trata.
Ao apresentar a narração de um fato ocorrido na cidade do Rio de Janeiro sem
nenhuma dramaticidade e intitulá-la exatamente “Tragédia brasileira”, o autor
cria um aparente paradoxo. Se a história é tão corriqueira, sem ênfase na carga
emotiva, apresentada em linguagem simples, com personagens simplórios, o
que a torna uma tragédia?
Por ser um acontecimento simples, tratado de forma quase banal, o texto
explode em sua significação poética. Na sociedade fluminense, por extensão,
na sociedade brasileira, os crimes passionais têm se tornado banais e cotidia-
nos, vistos como acontecimentos sem importância, dada sua frequência. Ao
transportá-los para um livro de poesia, Manuel Bandeira revitaliza sua signi-
ficação, despertando o leitor para um fato trágico: é a banalização de um crime
como este que o torna ainda mais trágico. A ocorrência de delitos passionais no
cotidiano da sociedade brasileira é uma tragédia que não pode ser ignorada.
Ao reportar-se a ela de forma simples, o autor desperta nossa atenção para o
fato, fazendo-nos ver aquilo que o cotidiano, por força da repetição, acaba por
nos cegar, porque atrás da suposta banalidade está a tragédia. A simplicidade
estilística revela então o impacto da tragédia, porque a linguagem poética
mantém vivo, em sua atemporalidade, um acontecimento que passaria des-
percebido ao olhar cotidiano.
O oitavo poema sugere uma tonalidade erótica.
A filha do rei
Aquela cor de cabelos
que eu vi na filha do rei
– Mas vi tão subitamente –
Será a mesma cor da axila,
Do maravilhoso pente?
Como agora o saberei?
Vi-a tão subitamente!
Ela passou como um raio:
Só vi a cor dos cabelos.
Mas o corpo, a luz do corpo?...
Como seria o seu corpo?...
Jamais o saberei!
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Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho
Cantiga
Nas ondas da praia
Nas ondas do mar
Quero ser feliz
Quero me afogar.
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Estrela da manhã
Marinheiro triste
Marinheiro triste
Que voltas para bordo
Que pensamento são
Esses que te ocupam?
Alguma mulher
Amante de passagem
Que deixaste longe
Num porto de escala?
Ou tua amargura
Tem outras raízes
Largas fraternais
Mais nobres mais fundas?
Marinheiro triste
De um país distante
Passaste por mim
Tão alheio de tudo
Que nem pressentiste
Marinheiro triste
A onda viril
De fraterno afeto
Em que te envolvi.
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Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho
Marinheiro triste
Vou lúcido e triste.
Amanhã terás
Depois de partires
O vento do largo
O horizonte imenso
O sal do mar alto!
Mas eu,marinheiro?
Trem de ferro
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Agora sim
Café com pão
Agora sim
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Estrela da manhã
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
de cantar!
Oô...
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
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Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho
Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
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Estrela da manhã
que contam casos populares “Quando me prenderam “, cantarolam canções de
amor “Menina bonita / do vestido verde”, falam da saudade da terra natal “vou
mimbora vou mimbora /não gosto daqui /nasci no sertão / sou de Ouricuri” ganha
uma ortografia próxima da oralidade, o que confere ao texto forte impressão de
autenticidade da fala popular.
Na última estrofe, os versos com três sílabas métricas reproduzem nova-
mente a velocidade do trem.
O décimo primeiro poema, Oração a Nossa Senhora da Boa Morte, o décimo
segundo, Momento num café, e o décimo sexto, Jacqueline, abordam explicitamente
o tema da morte. Vejamos um dos mais conhecidos.
O poema contém duas estrofes com versos livres: na primeira, ante a pas-
sagem de um enterro, os homens que estavam num café fizeram uma saudação
ao morto, tirando o chapéu. Entretanto, o gesto maquinal indica que eles não
estavam pensando na morte enquanto saudavam o morto e sim na vida. “Esta-
vam todos voltados para a vida”. Na segunda estrofe, um dos homens do café
descobre o sentido da vida: “Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem
finalidade / que a vida é traição”.
O poeta parece estar de fora da cena (mas também poderia ser um dos
frequentadores do café ou uma das pessoas que acompanhavam o enterro),
observando o comportamento dos homens. Percebe no olhar de um homem a
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Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho
Contrição
O poema possui três estrofes com quatro versos, sendo os três primeiros
versos eneassílabos (nove sílabas métricas) e o último um verso com quatro síla-
bas métricas. O poeta manifesta o desejo de purificar-se, pois se sente sujo: “Sou
a mais baixa das criaturas”. Nada, entretanto, parece livrá-lo da culpa imensa
que o aflige. As lembranças da infância são solicitadas a comparecer e a contar
“a história da vida boa que nunca veio”. Tais lembranças parecem ser o único
conforto que o poeta encontra em meio ao sofrimento e, por isso, deseja levá-las
para a eternidade.
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Estrela da manhã
D. Janaína
D. Janaína
Sereia do mar
D. Janaína
De maiô encarnado
D. Janaína
Vai se banhar.
D. Janaína
Princesa do mar
D. Janaína
Tem muitos amores
É o rei do Congo
É o rei de Aloanda
É o sultão dos matos
É S. Salavá!
Saravá saravá
D. Janaína
Rainha do mar!
D. Janaína
Princesa do mar
Dai-me licença
Pra eu também brincar
No vosso reinado.
de Aloanda / É S. Salavá!”
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Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho
Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O sol tão claro lá fora,
E em minhalma – anoitecendo!
Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Alfonso Reyes partindo,
E tanta gente ficando...
Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
A Itália falando grosso,
A Europa se avacalhando...
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Estrela da manhã
Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O Brasil politicando,
Nossa! A poesia morrendo...
O sol tão claro lá fora,
O sol tão claro, Esmeralda,
E em minhalma – anoitecendo!
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Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho
de pureza da percepção ou das emoções. O que não impede que o balanço, nessa
tarde de domingo festivo, seja melancólico. Uma ironia melancólica, que atenua o
patético, mas também embota a amargura e o sarcasmo.(...)
O vigésimo quinto poema recebe o título de Declaração de amor e é de fato
uma declaração de amor à cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais.
Pálidas crianças
Que me recordais
Minhas esperanças!
Pálidas meninas
Sem amor de mãe,
Pálidas meninas
Uniformizadas,
Quem vos arrancara
Dessas vestes tristes
Onde a caridade
Vos amortalhou!
Pálidas meninas
Sem olhar de pai,
Ai quem vos dissera,
Ai quem vos gritara:
– Anjos, debandai!
Mas ninguém vos diz
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Ao cair da tarde
Vós me recordais
– Ó meninas tristes! –
Minhas esperanças!
Minhas esperanças
– Meninas cansadas,
Pálidas crianças
A quem ninguém diz:
– Anjos, debandai!...
5. Exercícios
Trem de ferro
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
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de cantar!
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Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho
Oô...
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
1.
Sobre o poema mostrado, é correto afirmar:
a) Não apresenta grande preocupação com a sonoridade, pois o objetivo maior
é narrar uma viagem feita de trem.
b) Fere os princípios da estética modernista, apresentando registros da norma
popular, como aparece em “Quando me prendero / no canaviá / cada pé de
cana / era um oficiá”.
c) Valoriza a sonoridade da linguagem poética, associando o som das vogais
e consoantes ao ritmo do trem, e aproxima a norma culta da linguagem da
variante popular, como ocorre em “menina bonita / do vestido verde / me dá
tua boca ; pra matá minha sede”.
d) Não ocorre no poema nenhuma onomatopeia (som imitativo).
e) Não ocorre associação entre o som e o sentido, assim o jogo sonoro não está
associado ao movimento do trem.
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Estrela da manhã
Marinheiro triste
Marinheiro triste
Que voltas para bordo
Que pensamento são
Esses que te ocupam?
Alguma mulher
Amante de passagem
Que deixaste longe
Num porto de escala?
Ou tua amargura
Tem outras raízes
Largas fraternais
Mais nobres mais fundas?
Marinheiro triste
De um país distante
Passaste por mim
Tão alheio de tudo
Que nem pressentiste
Marinheiro triste
A onda viril
De fraterno afeto
Em que te envolvi.
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Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho
também como tu
Marinheiro triste
Vou lúcido e triste.
Amanhã terás
Depois de partires
O vento do largo
O horizonte imenso
O sal do mar alto!
Mas eu,marinheiro?
Estrela da manhã
Eu quero a estrela da manhã
Onde está a estrela da manhã?
Meus amigos meus inimigos
Procurem a estrela da manhã
Virgem mal-sexuada
Atribuladora dos aflitos
Girafa de duas cabeças
Pecai por todos pecai com todos
Depois comigo
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Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho
5.
Nos versos “Virgem mal-sexuada / atribuladora dos aflitos / Girafa de duas ca-
beças / Pecai por todos pecai com todos”, percebe-se o movimento da vanguarda
européia denominado:
a) impressionismo.
b) futurismo.
c) dadaísmo.
d) surrealismo.
e) cubo-futurismo.
Tragédia brasileira
Misael, funcionário da fazenda, com 63 anos de idade.
Conheceu Maria Elvira na Lapa, – prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma
aliança empenhada e os dentes em petição de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado do estácio, pagou
médico, dentista, manicura...Dava tudo quanto ela queria.
Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.
Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez
nada disso: mudou de casa.
Viveram três anos assim.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos,
Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp, outra
vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos...
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligência,
matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de
organdi azul.
6.
No texto, a referência aos bairros da cidade do Rio de Janeiro tem por fina-
lidade:
a) apresentar ao leitor os principais bairros da cidade.
b) indicar a distância entre um bairro e outro.
c) sugerir que Maria Elvira tivera vários amantes.
d) sugerir que Misael morou em todos os bairros mencionados.
e) realçar a violência presente nos bairros mencionados.
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Estrela da manhã
7.
O título do texto justifica-se porque:
a) trata-se de composição para teatro, tragédia, que tem seu desfecho numa rua
da cidade do Rio de Janeiro.
b) trata-se de composição para o teatro, adaptada à realidade brasileira.
c) o texto apresenta, de forma dramática, um acontecimento raro na sociedade
fluminense e brasileira.
d) o desfecho trágico da história dos amantes é comum nas peças teatrais.
e) o poema narra história passional com desfecho trágico, bastante comum na
sociedade brasileira.
8.
Poema do beco
Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?
– O que eu vejo é o beco.
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GABARITO
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