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Kara no Kyoukai

Um romance do mesmo escritor de Tsukihime.

Capítulo 1
Capítulo 1: Visão Geral
Esse capítulo é uma introdução ao mundo e personagens de Kara no Kyoukai.

Parte 1
Nota1: Essa é a tradução da versão que foi disponibilizada pelo website e é ligeiramente diferente
da versão dos livros.

Nota2: A tradução será apenas dos capítulos online, não existe previsão para a tradução dos livros.

Nota3: A tradução não teve ninguém para reler e corrigir.

Aquile dia eu escolhi pegar a rua principal para ir para casa. Foi um impulso, uma coisa bem rara
para mim.

Quando eu estava andando pelo meio dos prédios que eu vejo todo dia, alguém veio caindo. Um
som estranho que você normalmente não ouve. Era óbvio que aquela pessoa morreu depois de cair
de um daqueles prédios. Uma cor rubra se estende pelo chão. A única coisa que ainda dá para notar
são aqueles cabelos negros, e as finas, brancas, e fracas pernas e braços...E a cara esmagada. A cena
estava cercada pelo antigo versão, e me lembrou de uma flor esmagada entre as páginas de um
livro.

...Provavelmente, porque o corpo que só tinha o pescoço quebrado parecia um lírio quebrado para
mim...

1.Visão geral (Thanatos) – Fujoh Kirie-

/1

Na noite do começo de Agosto, Mikiya veio sem avisar

“Boa noite. Você parece cansado como sempre, Shiki”

O súbito visitante ficou parado na porta e me deu um sorriso sem graça como comprimento.

“Eu preciso te contar, eu acabei de ver um acidente vindo pra cá. Uma garota pulou do topo de um
prédio, é um suicídio. Eu ouvi dizer que tem acontecido bem recentemente mas eu nunca esperava
ver um. Aqui, ponha isso no congelador.”
Ele me joga um saco plástico da loja de conveniência enquanto ele desamarra os sapatos perto da
porta. Dentro tem dois Haagen Dasz de morango. Eu acho que ele quer que eu ponha no congelador
antes que eles derretam.

Enquanto eu estou olhando o resto das coisas dentro do saco, Mikaya havia tirado seus sapatos e já
tinha entrado.

Minha casa é uma sala em um apartamento. Se você atravessar o corredor que não tem nem um
metro, você chega à sala que é meu quarto e a minha sala. Enquanto olhava para Mikiya, que está se
sentindo em casa, eu o sigo.

“Shiki. Você faltou a aula novamente, né? Eu não ligo pras suas notas, mas você não vai conseguir
passar a menos que vá ao número mínimo de aulas. Você se esqueceu da promessa de irmos para a
faculdade juntos?”

“Você tem direitos de ficar me dando sermões? E pra começar, eu não lembro dessa tal promessa, e
você já abandonou a faculdade.”

Eu encaro Mikiya enquanto falo. Ele parece deprimido enquanto tenta buscar palavras.

“...Hmm, se você diz, então não existem direitos para ninguém, mas...”

Tentando parecer educado, Mikiya se senta.

Ele geralmente é mais honesto quando fica na defensiva...é algo que eu me lembrei somente
recentemente.

Mikiya se senta no meio da sala. E eu me sento na cama atrás dele, e deito meu corpo sobre a
mesma. Mikiya ainda tem suas costas viradas para mim. Eu sem pensar, olho para as costas de
Mikiya, que é um tanto pequena para um homem.

Esse homem chamado Kokutoh Mikiya parece ser meu amigo desde o segundo grau.

No mundo cheio de jovens onde muitas coisas ficam famosas de uma hora para outra e depois
desaparecem, Mikiya era uma das raras pessoas que ainda possuía uma imagem de estudante.

Ele não pinta o cabelo ou deixa ele crescer. Ele não se bronzea ou usa qualquer acessório. Ele nem
mesmo tem um celular ou é mulherengo. Ele tem por volta de 170cm. Seu rosto gentil é bem bonito
e seus grandes óculos escuros fazem essa qualidade se ressaltar ainda mais.

Mesmo se vestindo normalmente e não estando mais no colégio, ele é bonito o suficiente para
chamar a atenção das pessoas se ele se vestisse melhor.

“Shiki, você tá ouvindo? Eu vi a sua mãe. Você deveria visitar a casa dos Ryohgi pelo menos uma
vez. Eu ouvi que você nem ao menos os contatou desde que saiu do hospital dois meses atrás.”

“...Eu não me importo. Eu não posso evitar já que eu não entendo direito as coisas. Nós iremos nos
sentir ainda mais distantes mesmo que nós nos vejamos. Eu ainda me sinto estranho falando com
você, então não tem como eu manter uma conversa com aqueles estranhos.”

“As coisas não irão melhorar se você continuar assim, Você vai ficar assim para sempre se você não
abrir o seu coração para eles. Não é certo que uma família viva tão perto e ainda assim nunca se
falarem.”

Eu ignoro essas palavras.

Ele diz “não é certo”, mas o que é exatamente “não é certo”? Não tem nada de ilegal com o que está
acontecendo entre eu e os meus pais. É só que uma criança se acidentou e perdeu todas as
memórias. Já foi provado que somos uma família por lei e pelos papais, então eu presumo que não
tem nada de errado conosco.

...Mikiya sempre se preocupa em como os outros se sentem. No entando eu acho que isso é
desnecessário...

***

Eu conheço Ryohgi Shiki desde o segundo grau.

Nossa escola era bem famosa, que ensinava muitos alunos que tinham vindo de outras boas escolas.

Quando eu fui ver se tinha passado para essa escola ou não, o nome Ryogi Shiki se destacou tanto
que eu não conseguia mais tirá-lo da cabeça e nós acabamos na mesma sala. Desde então, eu me
tornei um dos poucos amigos que Shiki teve.

Nossa escola não tinha uniformes, todos podiam se expressar do jeito que queriam. Mas entre todos,
Shiki era quem mais se destacava.

...Já que Shiki sempre usava um kimono.

Sua forma simples se encaixava nos ombros de Shiki e a sala de aula parecia uma antiga casa só
porque Shiki havia entrado nela. Alguns estudantes eram roqueiros, mas na presença de Shiki,
aquelas roupas tinham menos valor que a primeira edição da revista “STYLE”. Eu acho que isso é o
suficiente para explicar que tipo de pessoa é Shiki.

O rosto de Shiki também é perfeito.

O cabelo bonito como seda, e é cortado despreocupadamente com tesouras e pronto. Mas ele se
torna um cabelo perfeito, grande o bastante para esconder as orelhas de Shiki, e isso combina tanto
com Shiki que muitas pessoas ficam na dúvida sobre qual o sexo de Shiki. Shiki parece tão lindo
quando um homem olha, que eles vêem uma mulher, e quando uma mulher olha, elas vêem um
homem. Shiki parece mais charmoso do que bonito.

Mas do que a aparência de Shiki, o que mais me cativou foram os olhos de Shiki. Eles são cortantes
mas delicados, e vem com sobrancelhas finas. Parecia que Shiki podia ver o que nós não
conseguíamos com aqueles olhos, e isso é tudo o que Shiki representa para mim.

Sim.

Até que Shiki ficou daquele jeito...

***

“Suicídio ao pular de algum lugar. Isso seria considerado acidente, Mikiya?”


Mikiya se recompõe ao ouvir àquela reclamação inútil. E ele começa a pensar seriamente no
assunto.

“Hmmm, eu tenho certeza que é um acidente... mas você está certo. Eu me pergunto o que é. Já que
é um suicídio, a pessoa está morta. Mas desde que esse seja o desejo da pessoa, a culpa é só da
pessoa. Mas já que cair de lugares altos é um acidente.”

“Não é um assassinato ou morte acidental? Isso é ambíguo. Eles deviam escolher um deles para que
não confundam os outros que quiserem se matar.”

Parece que minhas palavras deixaram Mikiya irritado já que ele dá uma pequena olhada para mim.

“Shiki, não é certo falar mal das pessoas mortas.”

Sua voz não é de opressão, mas ele diz em um tom seco. Eu vi essa resposta vindo de longe.

“Kokuto, eu odeio esse seu senso comum.”

Naturalmente, minha resposta fica um pouco dura. Mas parece que ele não se importa nem um
pouco.

“Nossa, faz muito tempo desde que você me chamou assim.”

“Jura?”

Mikiya confirma.

Eu chamo ele de duas maneira: Kokuto e Mikiya. Eu não gostava do jeito que “Kokuto” soava...
mesmo não sabendo direito o porque.

Naquele pequeno silêncio que se formou durante o meu pensamento, Mikiya estalou os dedos como
se lembrasse de algo.

“Oh, eu esqueci de mencionar algo raro, minha irmã Azaka viu.”

Sem entender direito o que ele está falando, eu pondero.

“Aquela coisa. A garota do prédio Fujiyoh, àquela que dizem que está voando por ai. Você disse
que a viu uma vez também.”

Ah, eu me lembro agora.

Certa de três semanas atrás, nos céus acima de um apartamento bem caro no distrito comercial, uma
forma humana podia ser vista. O fato que Azaka viu também deve indicar que realmente existe.

Depois de eu ficar dois anos em coma por causa daquele acidente, eu era capaz de ver coisas que
“não eram para estar ali”. Como Touko diria, eu não estou vendo elas mas sim observando-as. Em
outras palavras, eu sou capaz de perceber as coisas em um nível diferente com meus olhos e
cérebro, mas eu não me importo com as explicações.

“A coisa no prédio Fujiyou, eu vi aquilo algumas vezes. Mas faz tempo que eu não vejo mais, então
eu não sei se ainda está por lá.”
“Entendo. Eu vou lá bastante mas nunca vi.”

“Você não pode ver porque está usando óculos.”

“Eu acho que óculos não importam”, pondera Mikiya.

Sua reação é tão pura e aconchegante. Acho que é provavelmente por isso que é difícil para ele ver
esse tipo de coisa.

Mas aquele acidente entediante continua a acontecer com pessoas caindo ou voando. Eu não
entendo a razão por trás disso, então eu faço uma pergunta.

“Mikiya, você sabe porque as pessoas voam?”

Mikiya treme ao ouvir a minha pergunta inesperada e responde em um tom normal.

“Eu não sei porque eles voam ou caem, porque eu nunca fiz isso antes.”

/2

Na noite do fim de Agosto, eu decidi dar uma volta.

O ar está um pouco frio por causa do fim do verão. O último trem já partiu e a cidade está quieta.

É frio, quieto, e velho, igual a uma cidade morta. Até as pessoas parecem com frio e é tão artificial
quanto fotos. Me lembra uma doença incurável.
..doença, adoecer, adoecendo.

Tudo, as casas escuras, o mercadinho acesso...tudo parece que vai desmoronar se eles abaixarem
suas guardas.

No fim, a lua brilha através da noite.

No mundo onde tudo está morto, parece que a lua é a única coisa viva, e machuca meus olhos.

...Por isso que eu digo adoecer.

Quando eu saio de casa, eu ponho a minha jaqueta preta por cima do meu quimono azul claro.

O quimono fica preso dentro da jaqueta e queima meu corpo.

Mas ainda não está quente...não, ao contrário...

Para mim, nunca esteve frio para começar.

***

Mesmo sendo meia-noite, você irá ver algumas pessoas se você der uma volta.

Um homem correndo pela rua com o rosto abaixado.

Um jovem pensativo em frente a máquina de vendas.


Muitas pessoas que se encontram em frente a loja de conveniência.

Eu tentei entender o porque que eles ficam lá, mas eu nunca entendi já que eu só sou um visitante.

Para começo de conversa, não tem nenhum sentido por trás de eu estar caminhando tão tarde.

Eu só estou repetindo o que eu costumava fazer antes.

...Dois anos atrás.

O eu, chamado Ryohgi Shiki, estava prestes a ir para o segundo ano do colegial quando eu me
envolvi em um acidente. Eu fui levado direto para o hospital.

Eu ouvi que meu corpo não sofreu nada, mas o ferimento foi concentrado na minha cabeça.

Desde então, eu estava em coma.

Talvez porque meu corpo estava machucado, o hospital me manteve vivo, e o meu corpo sem
sentido também tentou sobreviver.

E finalmente, cerca de dois meses atrás, Ryohgi Shiki se recuperou.

Eu acho que os médicos estavam chocados como se um corpo voltasse a vida. Entendo, isso mostra
o quanto eles esperavam a minha recuperação.

E eu também, eu estava chocado por outra razão.

Minha memória até o presente momento estava confusa.

Esclarecendo, eu não posso confiar nas memórias que tenho.

Esse é um problema diferente de perda de memória, ou o que as pessoas costumam chamar de


amnésia.

De acordo com Tohko, memória a composta de quatro sistemas que o cérebro opera: Escrever,
salvar, recordar, e reconhecer.
“Escrever” é pegar o que você vê e gravar na sua mente como informação.
“Salvar” é manter aquela informação guardada.
“Recordar” é reviver a informação armazenada. Em outras palavras, lembrar.
“Reconhecer” é confirmar que a informação lembrada é a mesma do evento que aconteceu.

Se alguém não pode fazer um desses processos, eles tem perda de memória. Claro, que dependendo
de qual parte está inoperante, o caso de perda de memória irá variar.

Mas no meu caso, todas essas funções estão funcionando normalmente. Eu não posso dizer que
minhas antigas memórias são minhas, mas a função de “reconhecer” está funcionando normalmente
já que eu posso dizer que a memória que eu tenho é a mesma de já ter experimentado algo antes.

Mas ainda assim, eu não estou confiante sobre o antigo eu. Eu não tinha certeza de que eu era quem
eu sou.

Mesmo que eu me lembre da minha memória como Ryohgi Shiki, eu só reconheço essa memória
como sendo de alguém. Mesmo não existindo dúvidas de que eu sou Ryohgi Shiki.

Os dois anos de vazio reduziram Ryohgi Shiki à nada.

Não de acordo com a sociedade, mas isso fez com que as coisas que estejam dentro de mim se
reduzissem a nada. Minha memória e a personalidade que eu deveria ter...a conexão foi totalmente
destruída.

Com isso em mente, a minha memória se tornou nada a não ser uma imagem.

Mas por causa dessa imagem, eu sou capaz de agir do jeito que eu era. Eu posso me comunicar com
as pessoas que eu conhecia e com meus pais sendo Ryohgi Shiki que eles conheciam. Mas sem ter
nenhum real sentimento.

Para ser honesto, isso me perturbar tanto que eu quase não aguento a dor.

...É apenas cópia.


Eu não estou vivendo.

Assim como um recém-nascido. Eu não sei de nada e nunca experimentei nada. Mas a memória dos
últimos dezoito anos me transformaram em um ser humano completo.

Eu já tenho as emoções que as pessoas experimentam através de eventos na minha memória.


Mas eu nunca os experimentei. Mas mesmo que eu quisesse experimenta-los, eu já sei sobre eles.
Não existe prazer ou sentimento em estar vivo.
...Assim como não ficar surpreso com uma mágica que você já conhece o truque.

E assim, eu continua a agir como eu fazia mas sem me sentir vivo.

A razão é simples.

Se eu continuar assim, eu talvez possa voltar a ser quem eu era.

Se eu continuar a agir assim, eu talvez possa entender a razão pelas quais eu dou essas caminhadas
a noite.

...Ah, já sei.

Então talvez você possa dizer que eu estou apaixonado pelo antigo eu.

/3

Ao olhar pra cima depois de notar que eu andei bastante, eu descubro que eu estou em outro distrito
comercial.

Prédios do mesmo tamanho estão lado-a-lado pela rua de um jeito bem similar.
A superfície dos prédios está coberta por janelas de vidro, e eles estão apenas refletindo o luar
agora.

Na escuridão, um grande espelho é criado pelos prédios que estão refletindo uns aos outros
indescritivelmente.
Hoje é uma noite calma.

Um grupo de prédios na rua principal é como um mundo de sombras que os monstros ficam de
tocaia.

Mais ao fundo, tem uma sombra maior que as ouras. Aquele prédio gigantesco parecia mais uma
torre tentando alcançar a lua.

O nome da torre é Fujiyoh.

Não tem luzes acessas nos apartamentos do prédio chamado Fujiyoh Os moradores estão
provavelmente todos dormindo. Provavelmente porque já são quase duas da manhã.

Nesse momento, uma sombra estranha capta a minha visão.

Eu noto uma silhueta voando e de forma humana . Não é figura de linguagem, mas uma garota
realmente voando.

Não tem vento.

O frio no ar é anormal para o verão.

Eu sinto o osso na minha nuca estalar por causa do frio.

É claro, é só uma ilusão.

“Entendo. Então você está aqui hoje também.”

Eu não gosto, mas eu não posso evitar o que eu vejo.

E do nada, a garota da qual eu estava falando está voando como se ela estivesse deitada na lua.

Parte 2
A imagem de um louva-a-deus.
Voando ocupado.
Uma borboleta veio segui-lo, mas a minha velocidade não diminui.
A borboleta eventualmente não consegue acompanhar e cai como se quisesse sair de cena.
Cai fazendo um arco. Caindo como se fosse fosse uma cobra olhando para um lírio.
A imagem é bem triste.
Mesmo que nós não possamos ir juntos, eu deveria ter ficado junto mais um pouco.
Mas é impossível. Porque eu não tenho meus pés no chão, eu não tenho nem mesmo a liberdade de
me levantar ou parar.

***

Já que eu podia ouvir alguém falar, eu decido me levantar.

...Minhas pálpebras estão bem pesadas. Isso prova que eu ainda preciso de mais duas horas de sono.
Enquanto eu penso que estou forçando ao tentar acordar nesse estado, minha vontade venceu o meu
sono.

...Sério, eu fico surpreso de como eu sou simples.

Eu acho que terminei de escrever os meus planos depois de trabalhar neles a noite inteira, e fui
dormir no aposento da Tohko-san.

Quando eu me levanto do sofá, eu estou realmente no escritório. Na luz de verão, Shiki e Tohko-san
parecem estar falando alguma coisa.

Shiki está debruçando na parede, e Tohko-san está sentada em uma cadeira com as pernas cruzadas.

“Bom dia, Kokutoh”

O olhar de Tohko-san que mais parece uma encarada é norma. ...Notando que ela está sem óculos,
eu acho que ela estava falando com Shiki sobre “aquelas” coisas.

E só para ressaltar, ela está vestida normalmente como sempre.

Com seu cabelo curto e mostrando o pescoço, Tohko-san parece uma secretária. Mas já que a sua
encarada é assustadora, eu aposto que ela nunca conseguiria essa posição.

As calças negras e a aparente blusa branca ficam bem nela.

“Desculpa, eu acho que cochilei.”

Eu tento usar uma desculpa.

“Não explique o óbvio, eu posso ver isso.”

Cortando o assunto, ela coloca o cigarro na boca.

“Já que está acordado, vá fazer algo para beber. Deve ser uma boa reabilitação.”

Acho que ela quer dizer recomposição quando diz reabilitação.

Eu não sei porque ela diz isso para mim, mas já que Tohko-san é sempre assim, eu decido não
questiona-lá.

“Você quer alguma coisa Shiki?”

“Eu estou bem. Eu estou indo para cama logo.”

Falando a verdade, parece que Shiki realmente precisa dormir.

Talvez ela tenha dado uma longa caminhada ontem à noite depois que eu sai.

/2

Ao lado do quarto da Tohko-san e do escritório tem um lugar que parece uma cozinha.
Talvez tenha sido um laboratório ou algo assim antes, mas a pia tem três bicas em sequencia. Duas
das quais tem arames de metal enrolado e não podem ser usadas. O por que disso eu não sei. Mas se
você observar, vai parecer um pouco como quando boxeadores querem perder peso. Mas você não
se sente bem já que você começa a se sentir violento.

Bem. Eu ligo a máquina de café para fazer café para nós dois. Eu faço isso tão bem. EU já sou um
mestre em fazer café. Mas eu não estou trabalhando aqui para fazer chá ou café...

Já faz meio ano que eu estou empregado aqui.

Não, a palavra empregado não é correta. Já que esse local não é um local de trabalho em
funcionamento.

Eu venho aqui assim mesmo, provavelmente porque eu me apaixonei pelo trabalho daquela pessoa.

Depois que Shiki parou no tempo com dezessete anos, eu me formei no segundo grau e entrei na
faculdade sem nenhum propósito.

Foi uma promessa que eu fiz com Shiki de entrar naquela faculdade.

Mesmo que Shiki tivesse pouca chance de se recuperar, eu queria manter aquela promessa.

Mas depois disso eu não tinha mais nada. Depois que eu me tornei um universitário, eu apenas
observava os dias.

Enquanto eu estava vivendo sem sentindo, eu fui a uma exibição que eu fui convidado, e acabei
encontrando uma boneca.

Era uma boneca tão delicada, que parecia estar no limite das capacidades humanas. Parecia um
humano congelado, ainda assim expressava que era somente algo com forma humana que nunca iria
se mover.

Mas era tão bonito...

É um humano que irá se mover a qualquer segundo. Mas é uma boneca que não tem nenhuma vida
para começar. Um lugar aonde apenas as coisas com vida podem chegar, e ainda assim um lugar
onde nenhum humano pode alcançar...

Eu me apaixonei por aquela ambivalência.

Provavelmente porque tudo na sua existência era igual à Shiki antigamente.

Era desconhecido de onde a boneca vinha.

O panfleto não mostrava nem mesmo sua existência.

Quando eu desesperadamente procurei pela fonte, eu descobri que havia sido feita por uma
voluntária e a criadora tinha um estranho rumor naquela indústria.

A criadora, de nome Aozaki Tohko, é uma ermitã para simplificar. Eu acho que o seu real trabalho
é de criadora de bonecas, mas parece que ela projeta prédios também.
Ela faz tudo que envolva criar algo, mas ela nunca aceita nenhum pedido. Ela sempre vai para
alguém e mostra o que ela irá criar, e começa a fazer assim que recebe o pagamento adiantado.

Ela deve ser um gênio, ou só uma maluca.

Eu fiquei cada vez mais curioso e eu sabia que não devia, mas eu descobri o endereço dessa maluca
(eu posso confirmar isso agora com confiança!)

Era longe da cidade e era um endereço ambíguo nem no distrito residencial ou no distrito industrial.

Não era nem uma casa.

Era um prédio abandonado.

E não era um prédio abandonado normal. Era realmente abandonado já que sua construção começou
a alguns anos atrás quando a economia era boa e a construção parou na metade quando a economia
ficou ruim. A sua forma de prédio está lá, mas o interior é totalmente inacabado já que as paredes e
o chão estão completamente nus.

Parece que tinham uns seis andares para serem terminados, mas não tem nada depois do quarto
andar. Agora é mais eficiente começar a construção do topo, mas eu acho que ainda estavam usando
os antigos métodos de construção. Já que a construção parou no caminho, o inacabado quinto andar
é como se fosse a cobertura.

Mesmo o prédio estando cercado por um grande muro de concreto, é fácil de entrar. É um milagre
que crianças não tenham feito sua base secreta aqui.

Mas de qualquer forma, eu acho que Aozaki Tohko comprou esse prédio abandonado.

O quarto que parece uma cozinha é no quarto andar. O segundo e terceiro andar é como se fossem o
local de trabalho da Tohko-san, então nós normalmente conversamos no quarto andar.

...Vamos voltar ao tópico.

Depois disso, eu conheci Tohko-san e acabei trabalhando aqui e saindo da faculdade que eu tinha
acabado de entrar.

Incrivelmente, eu sou pago.

Como Tohko-san diz, existem dois tipos de pessoa com um de dois atributos. Aquele que faz e
aquele que busca, o que usa e o que destrói.

Ela me disse honestamente que eu não tinha esperança de ser o que faz, mas ainda assim me
contratou. Ela disse que eu tinha a habilidade de ser o que busca ou algo assim.

“Você é devagar, Kokutoh”

Eu ouço ela do outro aposento.

Eu reparo que então a máquina de café está cheia com o líquido preto.

/3
“Eu acho que com o de ontem são oito. As pessoas devem começar a notar as similaridades agora.”

Depois de tragar seu cigarro, Tohko-san disse isso abruptamente.

Ela deve estar falando dos recentes e repetidos suicídios de garotas colegiais no qual elas pulam do
alto dos prédios.

Eu acho já que não tem mais nada que ela queira falar sobre, já que nesse verão não teve problema
de falta d´água.

“Hã? Não eram seis?”

“Tiveram mais enquanto você estava vagabundando. Começou em Junho, e a média é de três por
mês. Então talvez tenha mais um nos próximos três dias.”

Tohko-san diz algo horrível. Olhando para o calendário, Agosto irá terminar em três dias.
...Daqui a três dias...?

Algo sobre isso capta a minha atenção, mas logo some.

“Mas eu ouvi que todos eles não estão relacionados. As garotas que cometeram suicídios são
supostamente de escolas diferentes sem ligação umas com as outras. Bem, talvez seja a polícia que
esteja escondendo algo.

“Você não confiando nas pessoas? Isso é raro.”

Tohko-san ri.

... Sem seus óculos, ela pode ser infinitamente má.

“Mas nada foi para a televisão. Seis, não, oito pessoas. Se teve isso tudo, pelo menos uma devia ter
deixado um testamento. Mas se a polícia não disse nada, eles estão escondendo algo.”

“Eu estou dizendo que essa é a relação. Ou melhor, a conexão. Das oito, mais da metade são vistas
pulando sozinhas pelas testemunhas, mas eles não conseguem achar nada errado com a vida pessoal
delas. Elas não estavam drogadas ou em alguma religião bizarra. É definitivamente um suicídio
onde elas não se sentiam bem consigo mesmas e se mataram. É provavelmente por isso que os
policiais não estão se interessando.

“Você está dizendo que não havia testamento para começar?”

Depois de eu falar meio sem convicção, Tohko-san confirma com a cabeça mas diz que ela não
pode ter certeza.

Mas como isso é possível?

Tem alguma inconsistência em algum lugar. Eu penso enquanto tomo a xícara de café e provo o
gosto do líquido dentro.

Por quê não haveria testamento? Se não tem testamento, as pessoas geralmente não se matam.

Um testamento é uma ligação com o mundo real. Quando a pessoa não quer morrer e é forçada a
morrer, o testamento é o que eles deixam para trás com a razão da sua morte.

Um suicídio sem testamento...

Se não precisa escrever um testamento significa que elas não tem nada para deixar para esse mundo,
e estou desejando sumir sem deixar rastros. Esse seria o suicídio perfeito. Eu acho que o suicídio
perfeito seria um sem testamento e que nem o corpo fosse encontrado.

Mas cometer suicídio pulando de um prédio não é o suicídio perfeito. Morrer dessa maneira para
chamar a atenção das pessoas parece ser o testamento em si.

Então o quê?

Talvez por outra razão...alguém roubou o testamento? Não, senão não seria suicídio.

Então o quê? Só existe uma resposta lógica que eu posso pensar.

Talvez eles sejam realmente sem querer.

As garotas não tinham intenção de morrer para começar. Então não teria razão para escrever um
testamento. É como se envolver em um acidente inesperado enquanto dá uma volta.

Assim como Shiki disse ontem à noite.

... Mas eu não consigo imaginar uma razão para elas pularem de um prédio quando elas apenas
estão dando uma volta.

“Os suicídios pararam no oito. Não vai ter mais nenhum por um tempo.”

Shiki entra na conversa como se para interromper todos os meus pensamentos.

Mesmo que Shiki pareça não ligar para esse assunto.

“Você tem certeza?”

Eu tinha que perguntar.

Shiki confirma enquanto olha para o horizonte.

“Eu fui e dei uma olhada. Eram oito que estavam voando.”

Os traços bem definidos dos lábios deixam sair essas palavras.

“Ah, então tinha isso tudo naquele prédio? Você sabia desde o início quantos eram, Shiki?”

“Sim, eu acabei com elas, mas eu acho que aquelas garotas irão ficar aqui por um tempo. Mesmo
que eu não goste da idéia. ...Ei Tohko. Todas as pessoas terminam daquele jeito quando elas
conseguem voar um pouco?”

“Eu não sei. Eu não posso ter certeza já que todo mundo é diferente, mas no passado, aqueles que
tentaram voar somente com a força humana, nenhum teve sucesso. A palavra voar e cair estão
ligadas. Mas quanto mais você quer voar, mais você esquece disso. E como resultado, você tenta
alcançar os céus mesmo depois de cair. Não cair no chão, mas como se estivesse caindo em direção
ao céu.”

Shiki sorri ao ouvir a resposta de Tohko-san.

Shiki descontente... mas com o que?

“Desculpa, mas eu não estou entendendo a conversa.”

“Hmm? Nós estamos falando do fantasma do prédio Fujiyoh. Apesar de eu não saber ao certo se é
uma imagem ou algo real a menos que eu dê uma olhada. EU estava pensando em ir dar uma olhada
se tivesse tempo, mas se Shiki acabou com ele, não tem como ir ver.”

...Entendo. Como eu suspeitava, estavam falando sobre “aquelas” coisas.

Quando Shiki e Tohko-san sem seus óculos conversam juntos, o assunto geralmente é sobre
ocultismo.

“Você ouviu a história que Shiki viu a garota voando no prédio Fujiyoh, certo? Aquela história tem
mais coisa, parece que tem uma figura de um humano voando ao redor daquelas garotas. Nós
estávamos falando que elas não saem do prédio Fujiyoh, talvez aquele lugar seja como uma teia ou
algo assim.”

Eu estou assustado sobre como essa conversa ficou complicada e esquisita.

Como se Tohko-san notasse a minha confusão, ela resume a coisa toda.

“Em outras palavras, tem um ser humano flutuando no prédio Fujiyoh e em volta dele estão as
garotas que morreram de suicídio. As garotas são provavelmente fantasmas. E é basicamente isso.”

Eu aceno confirmando.

Eu entendo a história mas parece que eu estou escutando ela incessantemente.

Do jeito que Shiki falou, parece que um dos tais fantasmas foi eliminado.

Faz dois meses que eu deixo esses dois se encontrarem. Eu estou começando a ficar de fora quando
o assunto é esse.

Como um ser humano normal diferente desses dois, eu gostaria de ficar longe dessas histórias. Mas
já que eu não quero ser ignorado, eu acho que essa posição neutra de agora é perfeita.

Eu acho que as pessoas chamam isso de há males que vêm para o bem.

Parte 3
/4

“Toda a história parece mais um romance ruim.”


Tohko-san concorda.

Shika fica com mais raiva e me encara.

Eu fiz algo para deixar Shiki com raiva?

“Hã? Mas Shiki viu os fantasmas lá no início de Julho, certo? Então só tinham quatro fantasmas
naquela época?”

Eu digo o óbvio só pra confirmar, mas Shiki diz que não.

“Oito. Existiam oito no começo. Assim como eu te disse, não terá mais nenhum depois dos oito. No
caso deles, a ordem é no sentido oposto.”

“Você está dizendo que viu oito fantasmas desde o início? Como aquela garota que vê o futuro?”

“Nem pensar. Eu sou normal. É só que o ar lá é anormal. Vamos ver...é esquisito como água quente
e água fria uma do lado da outra.”

Tohko-san completa as palavras ambíguas de Shiki.

“Em outras palavras, o tempo lá não está funcionando como devia. Não é que só exista uma
maneira do tempo avançar. O tempo que uma coisa demora para apodrecer é injustamente diferente
para tudo. Então o tempo que um ser humano e a sua memória demoram para sumir é diferente.
Quando alguém morre, a memória daquela pessoa desaparece? Não, certo? Enquanto existirem
observadores (aqueles que lembram), nada desaparece instantaneamente. Eles apenas somem
lentamente.
As memórias das pessoas...não, os arquivos, se o observador fosse o ambiente ao redor daquela
pessoa, pessoas especiais como aquelas garotas irão permanecer e andar pela cidade como uma
ilusão mesmo depois de terem morrido. Isso é parte de um fenômeno chamado fantasmas. Os
únicos que vêem essas ilusões são os que compartilham memórias com esses fantasmas, geralmente
os pais ou amigos. No entanto Shiki é uma exceção.
Existem aqueles tipos de “passagem do tempo de arquivos”, mas no topo daquele prédio, ele é
realmente lento. As memórias das garotas de quando elas eram vivas ainda não caiu em si. Como
resultado, as memórias ainda estão vivas. O que se pode ver lá são as ações e a realidade daquelas
garotas no qual o tempo está passando bem devagar.”

Então, Tohko-san acende outro cigarro.

Então ela está dizendo que quando algo se vai, enquanto eu me lembrar, não quer dizer que a coisa
desapareceu, mas eu lembrando significa que está viva, se está viva, ela pode ser vista?

Isso é igual a alucinação. ...Não, Tohko-san provavelmente usou a palavra “ilusão” já que é para
definir algo que não é real.

“Eu não ligo para todas essas explicações. Não tem perigo nisso. O problema é ela. Eu sei que eu
acabei com ela, mas se tem um corpo primário em algum lugar, nós iremos só repetir o processo
novamente. Eu estou exausto de ser o guarda-costas de Mikiya.”

“Eu me sinto do mesmo jeito. Eu vou cuidar de Fujoh Kirie. Você pode levar o Kokutoh para casa.
Tem mais umas cinco horas até ele ir para o trabalho. Se você quer dormir, você pode usar o local
ali.”
O lugar que Tohko-san aponta é um lugar que não foi limpo por um ano e parecia mais o interior de
um forno.

Lógico, Shiki ignora ela.

“Então, o que foi isso?”

Shiki olha para Tohko-san.

A maga com o cigarro na boca pensa um pouco e anda em direção a janela..

De lá, ela olha para fora.

Não tem luz nesse aposento. Nós só temos a luz que vem de fora, e é difícil dizer se é manhã ou
tarde daqui.

Em contraste, a vista de for a da janela nota-se que é meio-dia. Você poderia quase ver o sol
queimando no topo do céu.

Tohko-san olha para a paisagem de verão por um tempo.

“Antes, você poderia classifica-la como voadora.”

A fumaça que ela exala se mistura com a luz branca do sol.

Eu olho para as costas dela enquanto ela olha para fora... ela é quase uma miragem com todo esse
branco.

“Kokutoh, o que você acha que uma visão de um local alto te lembra?”

A súbita pergunta me traz de volta a realidade.

Eu nunca estive em lugares altos desde que eu fui a Torre de Tóquio quando era criança. E eu não
lembro muito bem daquela época. Eu tentei achar então algum lugar de onde eu morava, mas não
consegui achar.

“Pequeno talvez?”

“Essa é uma péssima lembrança, Kokutoh.”

Uma resposta fria me atinge. Bem, eu estava um pouco em dúvida sobre as minhas lembranças
também. Eu me recomponho e tento pensar em outra coisa.

“Vejamos. Eu não me lembro de muita coisa, mas eu acho que é bonito. Uma vista de um local alto
é impressionante.”

Talvez porque a resposta tenha vinda do coração, Tohko-san concorda com a cabeça.

E ainda olhando lá para for a, Tohko-san continua a falar.

“A vista que você vê é incrível. Até mesmo uma chata fica bonita. Mas esse não é o impulso que
você sente quando olha para o mundo no qual você vive. A vista impressionante apenas lhe dá um
impulso...”

Após dizer a palavra “impulso”, Tohko-san interrompe a sentença.

Impulso não é algo que você sente com seus sentimentos, mas é algo que ataca você de for a.
Mesmo que o que está sendo atacado não queria.

Algo como a violência que ataca sem avisar, é isso que chamamos de impulso.

Então o que é a violência que é trazida por algo que você não nota?

“Aquilo está “longe”. Uma visão grandiosa cria uma clara separação entre você e o mundo. Pessoas
se sentem seguras apenas quando tem algo perto. Mesmo que alguém tenha o mapa mais detalhado
e saiba exatamente onde está, isso é somente informação, certo?
Para nós, o mundo é algo que somente nós podemos sentir. Os limites entre cidades, países, e o
mundo, é somente algo que nosso cérebro reconhece e nós não podemos sentir isso a menos que nós
fossemos àquele lugar. E na verdade, não tem nada de errado com essa maneira de reconhecer.
Mas se a visão é grande demais, a discrepância ocorre. A área de 10m ao seu redor que você pode
sentir e a área de 10km que você está olhando. Ambas são o mundo que você vive, mas você sente a
primeira mais real.
Entende? Já existe uma inconsistência. O correto é você reconhecer o extenso mundo que você vê
como o mundo que você vive doque aquele pequeno espaço ao seu redor. Mas não importa o quanto
você tente, você não consegue sentir que está vivendo nesse mundo enorme.
O motivo, é que você sente real algo que está próximo de você. Por causa do seu conhecimento e da
sua experiência, seus sentimentos começam a brigar e eventualmente, um irá perder e a confusão irá
começar.
... como a cidade é pequena daqui. Eu não posso nem imaginar que a minha casa era ali. O parque
tinha aquela forma? Eu nem sabia que ele estava ali. Essa é como uma cidade que eu não sei nada.
Parece que eu vim de um lugar bem afastado.
... Uma maior perspectiva trás esses tipos de pensamentos. Mesmo que a pessoa ainda esteja
pisando em uma parte da cidade que ela mora...”

Um lugar alto está longe. Essa é a verdade real. Mas Tohko-san está querendo dizer sobre o aspecto
mental.

Dois lugares distantes horizontal e verticalmente. A única diferença entre os dois é que você pode
ou não olhar para baixo.

“Então você quer dizer que não é bom manter a visão de um lugar algo?”

“Se você voltar muito. Nos tempos antigos, o céu era considerado outro mundo. Voar significava ir
para o outro mundo. E você irá ser dragado por outro desejo se você não se proteger com tecnologia
(metal). Assim como parece, você fica maluco.
Bem, se você tiver a proteção certa ao seu ponto de vista, você não será muito afetado. Não será um
problema se você tiver um lugar firma para ficar de pé. Você irá voltar ao normal quando por os pés
no chão.”

... Agora que ela disse, quando eu estava olhando para baixo da cobertura do colégio uma vez, eu
subitamente me perguntei o que aconteceria se eu pulasse.

Claro, era só uma piada.


Eu não tinha nenhuma intenção, mas porque eu tive aquele pensamento mesmo sabendo que iria
levar a morte?

Tohko-san diz que existem diferenças individuais, mas eu acho que é normal as pessoas se
imaginarem caindo de lugares altos.

“Isso significa que a sua mente fica insana só por um instante?”

Tohko-san ri quando eu acabo falando o que estava pensando.

“Todos sonham sobre o taboo, Kokutoh. Humanos tem a grande habilidade de sentir prazer
imaginando coisas que eles não podem fazer. Mas... sim, é quase isso. O importante é que o
pensamento só vem em um lugar específico – naquele lugar específico. Bem, eu acho que é bem
óbvio. Mas no seu caso, eu acho que a sua mente não está insana, mas sim dormente.”

“Tohko, você já falou demais.”

Shiki interrompe como se dissesse que não aguenta mais. Pensando bem, nós talvez tenhamos saído
do tópico principal.

“Não foi demais de maneira alguma. Se você pensar em termos de construção de um tópico, nós só
estamos na segunda parte.”

“Eu só quero ouvir o fim. Eu não quero ouvir vocês falarem.”

“Shiki...”

Ela é má, mas eu acho que também tem razão.

Shiki continua a reclamar, me ignorando.

“E, você disse que tem problemas com visões de locais altos. Então o que é uma vista normal?
Mesmo enquanto falamos, nós temos uma vista mais alta que a do chão.

Em contraste com a atitude de Shiki tentando achar falhas, eu penso que o argumento tem razão.

“Os olhos de uma pessoa certamente estão em um nível mais alto do que o do solo. Então isso
significa que nossa visão de certa forma está observando o mundo.”

Tohko-san concorda com as palavras de Shiki. Eu acho que ela irá dar a sua conclusão agora.

“Mas o chão que você pensa que é plano na verdade é um pouco angulado. Mas mesmo incluindo
isso, você nunca diz que a nossa visão está deixando de observar algo.
A visão não é algo que seus olhos vêem, mas uma imagem que seu cérebro compreende. Nossa
visão é protegida pelo senso comum, para que nós nunca achemos que nossa altura é alta, e é ainda
por cima, considerada normal.
Não a noção de que é alta.
Mas por outro lado, todos estão vivendo com uma visão que está ignorando. Não uma visão física,
mas eu quero dizer a visão mental. Todos são diferentes, mas uma mente mais elevada irá tentar ir
mais alto. Mas ainda assim, nunca irá sair do lugar.
Humanos são feitos para viver em algum lugar, e eles podem apenas sobreviver em um lugar.
Humanos não podem ter as visões dos Deuses.
Quando você cruza uma certa linha, você se torna um monstro. Hypnos (ilusão) se torna Thanatos
(morte verdadeira).”

Enquanto ela própria diz, Tohko-san está ignorando o mundo.

Ela está olhando para seus pés no chão, o que eu pensava ser uma coisa muito importante.
E então, eu lembrei de um sonho que eu estava assistindo.
A borboleta caiu no fim.
Talvez ela pudesse ter voado mais graciosamente se ela não tivesse tentado me seguir.
Sim, se ela planasse um pouco, talvez ela pudesse ter voado mais um pouco.
Mas já que a borboleta sabia sobre voou, ela não aguentava a leveza do seu corpo planador.
For por isso que ela voou, desistindo de planar.
Depois de tanto pensar, eu me pergunto se eu era tão poético.
Tohko-san, perto da janela, joga seu cigarro fora.

“O brilho do prédio Fujiyoh talvez seja o mundo que ela esteja vendo. Eu posso imaginar que a
diferença no ar que Shiki sentiu foi a diferença entre o nosso mundo e o outro mundo. Essa
descontinuidade é algo que somente a mente humana pode notar.

Quando Tohko-san termina a conversa, Shiki parece finalmente relaxar.

Shiki solta um suspiro e olha ao redor.

“Descontinuidade, é? Eu me pergunto qual lado era acolhedor e qual lado era frio para ela.”

Em contraste com sua voz séria, Shiki parece não se importar.

Tohko-san também parece que não se importa.

“É claro, é o oposto do seu.”

Ela finalmente respondeu.

Parte 4
... Eu sinto um arrepio na espinha.

O frio que está me fazendo tremer vem de dentro ou de for a do meu corpo?
Deixando de lado o que não pode ser distinguido, Shiki continua a andar.
Não a sinais de pessoas no prédio Fujiyoh.
São duas da manhã. Só a luz branca ilumina o corredor do apartamento. As paredes cor de creme
estão mais brancas por causa da luz e eu podia ver o fim do corredor. A luz artificial que some com
a escuridão parece tão artificial que é um tanto assustadora.

Passando o cartão de leitura na entrada, eu entro no elevador.

Está vazio. No fundo do elevador tem um espelho, para que as pessoas de dentro possam se ver.
Dentro do espelho tem uma pessoa usando uma jaqueta de couro preta sobre um quimono azul
claro, com olhos cansados. Esses olhos parecem que não se importam com nada.
Shiki olha para a pessoa no espelho, e aperta o botão que diz “C”. Com um pequeno barulho, o
mundo ao redor de Shiki sobe. A caixa operada por eletricidade irá alcançar o último andar em
questão de segundos.

É um lugar fechado por enquanto. Nada que esteja acontecendo do lado de for a agora é problema
de Shiki, e é impossível se importar com o lado de fora. Aquele sentimento escoa na suposta mente
vazia. Essa pequena caixa é o único mundo que eu devo sentir agora.

A porta abre sem nenhum som. O que se encontra do lado de for a é um mundo totalmente
diferente, um mundo de escuridão.

Após sair do lugar que só contém a porta dando para a cobertura, o elevador deixa Shiki e volta para
o primeiro andar. Não tem luzes, e em volta é completamente escuro.

Atravessando a pequena sala, Shiki abre a porta para a cobertura.

... A escuridão completa se torna inexistente.

A visão se enche com a vista da cidade.

A cobertura do prédio Fujiyoh é plana. O chão é feito de concreto, e tem uma cerca que cerca toda a
cobertura. Só tem a caixa d´água acima de onde Shiki estava, e não a mais nada em particular. A
cobertura em sim é bem simples. Mas a vista dela que é de outro mundo.

A vista da cidade a noite desse prédio é pelo menos dez andares maior do que os outros prédios,
parece mais solitário do que bonito. Parece que você está em uma escada alta olhando para o mundo
abaixo de você. A escuridão, olhando para baixo parece um oceano escuro e é certamente bonito.
As luzes aqui e ali parecem mais peixes da profundeza.

Se a minha visão agora é a do mundo, então o mundo agora está dormindo. Provavelmente para
sempre, mas infelizmente isso é temporário. O silêncio aperta meu coração mais do que o frio, e é
bem doloroso...

O frio aqui em cima é maior do que o frio lá debaixo. Se a cidade está no fundo do mar, então o céu
é pura escuridão. Na escuridão, as estrelas brilham como jóias. A lua é um buraco. Parece somente
um grande buraco no pano preto que é chamado de noite. Então aquela coisa realmente não é um
espelho do sol, mas sim a vista do outro lado... Foi isso que eu ouvi na casa dos Ryohgi. De acordo
com eles, a lua é o portal para o outro mundo.

A lua de tempos antigos era carregada de magia, mulheres, e morte. E com a lua o iluminando, uma
forma humana está brilhando...
... Com outro garotas flutuando ao redor.

Parte 5
***

A figura branca no céu noturno é de uma mulher. Ela veste uma roupa branca chique que alguém
pode confundir com um vestido, e tem um longo, cabelo negro que chegam a sua cintura. Seus
braços e pernas são longos, o que fazem essa mulher ainda mais bonita.

Seus pequenos e frios olhos castanhos são lindos. Eu imagino que ela esteja nos seus vinte anos.
Mas eu acho difícil que você possa estimar a idade em um fantasma.

Mas a mulher branca não é abstrata como um fantasma. Ela está realmente ali. Se você quiser
fantasmas, as garotas que estão flutuando ao redor dela são o que procura. As garotas voando
despreocupadamente parecem mais estar nadando do que voando. Até suas silhuetas são abstratas,
já que elas ficam transparentes de tempos em tempos.

O que está acima de Shiki agora é a mulher branca e as garotas flutuando ao redor da mulher como
se estivessem protegendo-na.

A visão é horripilante. Não, é mais como...

“Hmpf, isso é verdadeiramente demoníaco.”

Shiki sorri.

A beleza dessa mulher já não é humana. Seu cabelo negro é especialmente bonito, e cada fio parece
seda. Se o vento fosse forte, a imagem dela com o cabelo ao vento seria uma beleza descomunal.

“Então eu terei que matar você”

Talvez ela tenha ouvido o murmúrio de Shiki, já que a mulher olha para baixo. A mulher está quatro
metros acima da cobertura que já tem mais de quarenta metros. Os olhares da mulher e de Shiki se
encontram.

Não são necessárias palavras, nem uma linguagem para se comunicarem.

Shiki põe a mão dentro da jaqueta e retira uma faca. A arma é mais uma espada do que uma faca,
com uma lâmina de mais ou menos dezoito centímetros.

A mente de Shiki se enche de desejo assassino olhando para cima.

A figura branca se altera. Seu braço flutua e um dedo fino aponta para Shiki. Aquele fino, frágil
braço não faz Shiki se lembrar do branco.

“... Parece um osso, ou um lírio”

Na noite sem vento, a voz ficou no ar por um longo tempo.

***

A vontade posta na ponta do dedo é o desejo de matar.

O dedo branco aponta para Shiki.

A cabeça de Shiki balança. Seu corpo frágil dá um passo para recobrar o equilíbrio. Mas só uma
vez.
“......”

A mulher acima hesita um pouco depois.

A sugestão de que “você pode voar” não está funcionando com aquela pessoa.

O poder dela dá a impressão de que “eles estavam voando”, e é mais uma lavagem cerebral do que
uma sugestão. Não tem como lugar, e como resultado, você acaba tentando voar, ou foge de medo
de tentar voar. Mas Shiki conseguiu ficar de pé sem se abalar.

“......”

A mulher imagina se o contato foi muito fraco, e decide usar sua sugestão novamente.

Mas dessa vez, forte. Não uma impressão fraca como “você pode voar”, mas ela ordena “você tem
que voar”.

Mas diante disso, Shiki treme.

Um em cada perna, um nas costas, e um no ponto do lado esquerdo do peito. O local de corte
chamado morte pode ser visto. Aquele no peito dela seria um bom lugar. Ali seria a morte imediata.
Mesmo que aquela mulher seja só uma imagem, eu poderia matar até Deus se ele estivesse vivo.

Shiki ergue sua faca com uma mão. Ela está segurando a faca para trás, Shiki olha para seu inimigo
no céu.

Então, o impulso ataca Shiki novamente.

... Eu posso voar. Eu posso voar. Eu gostava do céu de antes. Eu estava voando ontem também. Eu
poderia voar mais alto hoje. Livre. Em paz. Rindo. Rápido, eu tenho que ir...

Onde? Para o céu? Livre? ...Isso...

Fuga da realidade. Paixão pelo céu. Reação à gravidade. Não sentir o chão. Voar através do
inconsciente.

Vamos, vamos, vamos, vamos, vamos, vamos... AGORA!

“Você só pode estar brincando.”

Dizendo isso, Shiki ergue sua mão esquerda.

A sugestão não funciona mais. Shiki nem ao menos treme.

“Eu não tenho esse tipo de admiração pelo céu. Eu não me sinto vivo, e por isso eu não sinto a dor
de viver. Para ser sincero, eu não dou a mínima para você.”

... Um murmúrio mais como um cantarolar.

Shiki não sente nenhuma retenção, felicidade ou tristeza da vida.

É por isso que Shiki não fica atraído pela liberação da dor.
“Mas eu não quero que você fique com ele. Eu peguei ele primeiro, então eu estou pegando de
volta.”

A mão esquerda de Shiki agarra o ar e puxa de volta.

Enquanto a mão esquerda é puxada, a mulher e as garotas são puxadas contra Shiki. Como peixes
sendo puxados pela rede.

“......!!”

A expressão da mulher muda. Ela coloca mais força em sua vontade e joga contra Shiki.

Se ela pudesse se comunicar com Shiki, ela teria gritado.

“Caia”

Ignorando a maldição, Shiki responde em um tom assustador.

“Desça.”

A faca atravessa o peito da mulher caindo. Fácil como perfurar uma fruta, e é tão afiado que até o
que foi perfurado fica admirado.

Não tem sangue.

A mulher não conseguia se mover do choque da faca atravessando ela, e treme somente uma vez.

Shiki joga o corpo casualmente, através da cerca na cidade noturna.

O corpo da mulher cai da beirada e não faz nenhum som. O cabelo dela não balança durante a caída,
e desaparece na noite com seu robe branco sendo carregado pelo vento.

Era como uma flor branca afundando no oceano.

E então, Shiki deixa a cobertura.

Acima, as garotas flutuando continuam lá...

/4

Eu acordo tendo uma faca enfiada em meu peito. Era um impacto tremendo. Aquela pessoa tem de
ser muito forte para perfurar o peito de alguém tão facilmente. Mas não era uma força violenta. Não
continha nada desnecessário, e foi entre os ossos e músculos como se não fossem nada. Que senso
de união!

O sentimento de morte que corre pelo meu corpo. O som do meu coração sendo atravessado e
arrancado. Mais do que a dor, o sentimento foi o que me doeu mais. Porque aquele sentimento foi
de medo e prazer incomparáveis com mais nada.

O calafrio correndo pela minha espinha me deixa zonza, e meu corpo está tremendo. Ali existem
desconforto, solidão, e o desejo de viver, e eu chorei sem soltar um som.
Não porque tinha medo ou dor.

Mas porque o sentimento de morte que eu nunca havia sentido estava lá...até para mim, que toda
noite deseja estar viva no dia seguinte.

Eu nunca poderei fugir desse sentimento.

Já que eu me apaixonei por esse sentimento...

***

Eu ouço a porta abrir. O relógio aponta duas e parece que o sol está brilhando através de uma janela
fechada. Ainda não é hora do exame, então um visitante talvez.

Eu tenho meu próprio quarto no hospital e não tem mais ninguém aqui. O que tem aqui é a luz do
sol, cortinas que nunca balançam com o vento, e essa cama.

“Com licença. Você é Fujoh Kirie?”

Parece que o visitante é uma mulher. Me saudando com uma voz rouca, ela chega perto de mim sem
se sentar. Parece que ela está me olhando. Seu olhar é frio.

... Essa pessoa é assustadora. Ela provavelmente me traria destruição.

Mas na verdade eu nunca fui feliz por dentro. Já que faz muitos anos que eu tive uma visita. Eu não
posso mandar ninguém embora, mesmo que a visita seja da morte em pessoa.

“Você é minha inimiga, certo?”

A mulher afirma com a cabeça.

Eu tento me concentrar e de alguma maneira ver a visitante.

... Talvez seja por causa da forte luz do sol, mas eu só consigo ver a sua silhueta. Ela não está
vestindo uma jaqueta, mas a sua roupa impecável faz com que ela pareça uma professora e isso me
relaxa. Mas a sua gravata laranja é bem chamativa junto com sua camisa branca, e eu tenho que
retirar alguns pontos por isso.

“Você conhece aquela pessoa, ou você é aquela pessoa?”

“Não, eu sou uma conhecida dos dois, do que atacou você e do que você atacou. Nós, você incluída,
fizemos contato com as pessoas mais estranhas. Nós somos bem azarados.”

Dizendo isso, a mulher tira algo de seu bolso e depois coloca novamente.

“Eu esqueci que não posso fumar aqui. E pra piorar, parece que seus pulmões são ruins. A fumaça
só iria prejudicar.”

Ela parece arrependida. Eu acho que era um maço de cigarro que ela tinha pego. Mas eu nunca
toquei em um antes, mas eu queria ver essa pessoa fumar. Provavelmente... não, certamente iria
combinar com ela.
“Não são só os pulmões que estão ruins? Então é esse o motivo, existem vários tumores no seu
corpo. Começando com sarcoma, é pior no interior. Parece que esse seu cabelo é a única coisa
normal. Mas é incrível quanta energia você ainda tem. Se fosse uma pessoa norma, ela teria morrido
antes de ficar assim. ...Quantos anos já se passaram, Fujoh Kirie?”

Ela provavelmente está perguntando sobre a minha hospitalização, mas eu não posso responder.

“Eu não sei. Eu parei de contar.”

Porque não tem sentido. Porque eu não vou sair daqui enquanto eu não morrer.

A mulher entende e diz “Compreendo.”

Eu não gosto do seu tom, não contém piedade ou repulsa. A única coisa que eu ganho de alguém é
piedade, mas essa pessoa não vai me dar nem isso.

“O lugar que Shiki cortou está bem? Eu ouvi dizer que Shiki cortou perto do coração, perto da
artéria principal... Eu presumo que foi na válvula bicúspide.”

Ela diz uma coisa incrível com uma voz normal. Eu acabo sorrindo da sua esquisitice.

“Que pessoa estranha. Eu não poderia falar com você assim se meu coração tivesse sido arrancado.”

“Claro. Isso foi só uma confirmação.”

Entendi. Ela confirmou com aquela pergunta se eu era a mulher que foi atacada por aquela pessoa
eu não saberia se era Ocidental ou Oriental (essa linha não faz o menor sentido o.o).

“Mas os efeitos virão com o tempo. Os olhos de Shiki são fortes. Mesmo que aquela tenha sido a
sua cópia, a destruição irá lhe alcançar em breve.
Eu queria fazer algumas perguntas antes disso... e é por isso que eu estou aqui.”

Cópia... acho que ela quer dizer a outra eu.

“Eu nunca vi você flutuando. Você pode me dizer o que era aquilo?”

“Eu não sei também. A única vista que eu posso ver é a dessa janela.
Mas talvez isso seja ruim.
Eu tenho olhado o mundo daqui de cima. As árvores mostrando suas cores nas quatro estações,
pessoas vindo para o hospital em turnos.
Eles não podem me ouvir mesmo que eu fale, eu não posso alcança-los não importa o quanto eu
estique minhas mãos. Eu tenho sofrido todo esse tempo nesse quarto. Eu tenho detestado essa vista
por um bom tempo. Não é isso que você chamaria de maldição?”

“Entendo, deve ser o seu sangue Fujoh. Sua linhagem é de uma antiga família pura. Parece que eles
eram especialistas em preces, mas eu vejo que o poder real deles era de amaldiçoar. O nome Fujoh
deve vir da palavra Fujoh (impuro).”

Linhagem.

Minha família. Mas isso terminou a alguns anos. Logo que eu foi hospitalizada, meus pais e meu
irmão morreram em um acidente. Desde então, um amigo de meu pai vem pagando as despesas do
hospital.

“Uma maldição não é algo que você faz inconsciente. O que você desejou?”

... Eu mesma não sei. Ela mesmo não saberia.

“... Alguma vez você já olhou para o lado de fora por muito tempo? Por muitos anos, até você ficar
inconsciente? Eu odiava, detestava, e temia o mundo lá de fora. Eu sempre tinha medo de olhar.
Depois de um tempo, meus olhos ficaram estranhos. Eu estava nos céus acima daquele jardim, e
estava olhando o mundo abaixo. Era um sentimento como se meus olhos estivessem voando
enquanto meu corpo e mente estavam aqui. Mas já que eu não posso sair daqui, tudo o que eu posso
fazer é ver essa área daqui.

“Você deve ter posto a vista ao redor daqui no seu cérebro. Se for este o caso, você deve achar que
pode vê-la de todas as direções. ...Você começou a perder a sua visão naquela época também?”

Eu estou surpresa. Ela sabe que eu estou a beira de perder a minha visão.

Eu confirmo.

“Isso mesmo. O mundo ficou branco e no fim, não tinha mais nada. No começo, eu pensei que tudo
tinha se tornado escuro mas eu estava errada.
Tudo desapareceu, ou pelo menos tudo o que você pode ver.
Mas eu não tinha problemas com isso. Porque meus olhos já estavam voando. Eu só posso ver a
vista ao redor do hospital, mas eu não posso sair mesmo.
Nada mundo, nada...”

Então, eu tusso. Fazia muito tempo que eu não falava tanto, por isso minha garganta está seca.

“Entendo. Então era a sua mente no céu. Mas então... porquê você está viva? Se aquele fantasma no
prédio Fujiyoh era a sua mente, você deveria ter sido morta por Shiki.”

Sim, eu estava me perguntando a mesma coisa.

Aquela pessoa... Eu acho que o nome é Shiki, mas como foi possível me cortar?

Aquele eu flutuante não pode tocar em nada, mas em retorno, eu não posso ser tocada por nada.
Mas aquela pessoa me matou como se eu tivesse um corpo real.

“Me responda. A você no prédio Fujiyoh, era realmente Fujoh Kirie?”

“A eu no prédio Fujiyoh não sou eu. Eu olhando para o céu e eu no céu. Aquela eu desistiu de mim
e foi embora. Eu fui deixada para trás até por mim mesma.”

A mulher soluça. Pela primeira vez, ela mostra suas emoções.

“Não pode ser que sua personalidade tenha se dividido. Alguém que lhe deu o primeiro corpo lhe
entrou um segundo. Entendo, você controlava dois corpos com uma mente. Isso eu nunca tinha
visto.”

Agora que ela diz, talvez tenha sido a caso mesmo.


Eu desisti de mim e estava olhando para o mundo. Mas nenhuma de nós conseguia por os pés no
chão, e acabou flutuando. Já que eu sou rejeitada pelo mundo fora da janela, não tem como eu ir lá
for a não importa o quanto eu deseje.

Então significa que nós estávamos conectadas.

“Isso faz sentido. Mas porque você não estava feliz somente imaginando o mundo exterior? Eu não
consigo pensar numa razão para deixar aquelas garotas caírem.”

Aquelas garotas...? Ah, entendi, aquelas garotas que eu tenho inveja. Elas tiveram azar. Mas eu não
fiz nada, porque as garotas caíram por vontade própria.

“A você no prédio Fujiyoh era mais um desejo. Você usou aquilo, né? Aquelas garotas eram
capazes de voar desde o princípio, certo? Mesmo que fosse só uma imagem na mente delas, ou se
elas realmente podiam voar. Pessoas voando durante o sono não é raro, mas nunca é um problema.
Por quê? Porque elas só fazem isso durante o sono e elas nunca pensam em voar quando estão
acordadas. Já que elas estão inconscientes, elas não tem pensamentos impuros quando estão voando.
Aquelas garotas eram especiais mesmo naquelas circunstâncias. Nós não estamos falando de Peter
Pan, mas é mais fácil de voar quando se é criança. Talvez um ou outro tenha conseguido realmente
flutuar, mas a maioria devia ter flutuado somente durante os sonhos.
Mas você fez elas pensarem nisso. Você deu a impressão de que elas estavam dormindo enquanto
estavam acordadas.
Como resultado, elas descobriram que podiam voar. Sim, elas podem voar... mas só
inconscientemente. Voar só com o poder humano é difícil. Eu mesma não posso voar sem uma
vassoura. A chance de voar em plena consciência é de trinta porcento. As garotas tentaram voar
como de costume, e elas caíram exatamente como deveria acontecer.

Sim, elas estavam voando ao meu redor. Eu pensei que podiam ser meus amigos. Mas tudo o que
elas faziam era flutuar ao meu redor como peixes sem ao menos me notar.

Foi rápido depois que eu descobri que elas estavam inconscientes. Eu apenas pensei que elas iriam
me notar se elas estivessem consistentes. Esse foi o único motivo, então porque...

“Você está com frio? Você está tremendo.”

A voz da mulher é fria como plástico.

Eu me abraço já que os calafrios não vão embora.

“Me deixe perguntar mais uma coisa. Por quê você admirava o céu? Você detestava o mundo
exterior.”

Provavelmente porque...

“Não tem fim no céu. Eu pensava que esse seria um mundo que eu não poderia detestar se eu
pudesse ir aonde quisesse, se eu pudesse voar até onde eu quisesse.”

A voz me pergunta se eu achei esse mundo.

Meus calafrios não param. Eu tremo como se alguém estivesse me sacudindo, e meus olhos estão
ficando quentes.
Eu confirmo.

“... Toda noite, eu temia se iria conseguir acordar no dia seguinte, eu tinha medo se ia vivar até
amanhã. Eu sabia que não teria forças de acordar se eu dormisse.
Os dias com a corda no pescoço só tinham o medo da morte. Mas por causa disso, eu podia me
sentir viva.
Eu podia sentir o cheiro da morte todo dia, mas para continuar viva, somente aquele cheiro me dava
forças.
Já que eu não passo de uma casca descartável, eu posso me sentir viva somente quando estou
enfrentando a morte.”

É isso mesmo. É por isso que eu gosto mais da morte do que da vida.

Voar para qualquer lugar, ir à qualquer lugar que eu queira...

“Você pegou o meu garoto de companhia para a morte?”

“Não. Naquela época, eu não sabia. Eu gostava da vida e queria voar estando viva. Eu teria
conseguido com ele.”

“Você e Shiki são parecidos. Vocês tem um pouco de esperança naquele que vocês escolheram,
Kokutoh. Não é uma coisa ruim de procurar o sentimento de viver em outra pessoa.”

Kokutoh. Entendo, então o tal Shiki veio resgatá-lo.

Eu acho que meu salvador também era minha morte. Mas eu não tenho arrependimento nesse caso.

“Aquela pessoa é bem infantil. Ele é sempre tão direto. É por isso que ele poderia voar para
qualquer lugar se ele quisesse.
... Eu queria que ele me levasse.”

Meus olhos estão quentes. Eu não entendo, mas eu provavelmente estou chorando.

Não porque estou triste... Se eu pudesse ir a algum lugar com ele, quanta felicidade isso teria sido.
Porque é algo que não se tornaria verdade, porque é um sonho que não deve se tornar real, é por
isso que é tão bonito e me faz chorar. Esse é o único sonho que eu tive nos últimos anos.

“Mas Kokutoh não tem interesse no céu. Quanto mais você quer o céu, mais longe você fica, hmm?
Que ironia.”

“Você está certa. Eu ouvi que os humanos tem muitas coisas que eles não precisam . Eu era só
capas de flutuar. Eu não podia voar, e tudo que eu conseguia era permanecer flutuando.”

A queimação nos meus olhos sumiram. Provavelmente, isso nunca irá acontecer no futuro.

O que me controla agora é somente esse calafrio dentro de mim.

“Desculpa ser chata. Mas essa é a última pergunta, mas o que você irá fazer agora? Eu posso curar
esse seu machucado que Shiki fez em você.”

Sem responder eu balanço a minha cabeça. Parece que a mulher hesita um pouco.
“Entendo...
Tem duas maneiras de escapar. Escapar sem propósito, e escapar com um propósito. Você chama o
primeiro de flutuar e o último de voar.
Você que tem que decidir qual deles era o seu outro eu. Mas se você um baseada em culpa, isso é
errado. Você não deve escolher o seu caminho baseada nos pecados que carrega, mas você deve
carregar os seus pecados no caminho que escolher.”

Então a mulher se retira. A mulher não me disse seu nome, mas eu sei que não é necessário.

... Ela deveria saber qual seria a minha resposta desde o princípio. Já que eu não posso voar, e tudo
o que eu pude fazer foi flutuar.

Já que eu sou fraca, eu não posso fazer o que ela disse. E por isso que eu não posso superar essa
tentação. O brilho de luz que eu senti quando meu peito foi perfurado. A incrível sensação de morte
e então a batida da vida. Eu sempre pensei que não tinha nada, mas ainda existe essa pequena coisa
dentro de mim.

O que existe é a morte.

O medo que envia um calafrio pela minha espinha. Eu tenho que sentir a maior morte que eu posso
sentir e sentir o prazer da vida. Por tudo na minha que eu ignorei até agora. Mas provavelmente
seria impossível morrer como aquela noite. Eu provavelmente não posso esperar por uma morte
definitiva. Aquela morte me atravessou como um raio, como uma agulha, como uma espada. É por
isso que eu tenho chegar o mais perto disso possível. Eu não tenho nenhuma idéia agora mas ainda
tenho alguns dias para pensar. E eu já me decidi no método. Eu acho que não preciso dizer isso, mas
eu acho que meu fim deve ser morrendo do alto de algum lugar.

Parte 6
/Visão geral

O sol se pôs e nos deixamos o apartamento abandonado de Tohko-san. O apartamento de Shiki é na


mesma área mas o meu está vinte minutos de trem daqui. Shiki deve está realmente sonolenta já que
ela está se arrastando. Mas Shiki fica ao meu lado enquanto caminhamos.

“Você acha suicídio correto, Mikiya?”

Shiki subitamente me pergunta isso. O jeito que ela pergunta é um pouco comovente.

“Hmm, eu não sei. Digamos que eu pegue esse vírus que irá matar todo mundo em Tokyo se eu
ficar vivo. E se nesse caso a minha morte salvasse todo mundo, eu provavelmente me mataria.”

“O que foi isso? Isso é tão improvável que nem serve de base.”
“Me deixa terminar. Mas eu acho que faria isso porque eu sou fraco.
Eu vou me matar porque eu não tenho coragem de continuar vivendo tendo toda Tokyo como
inimiga. É mais fácil, certo? Coragem por um instante e coragem que é para sempre durante a sua
vida. Você sabe qual é mais difícil.
É um argumento extremo, mas eu acho que morrer é fugir, não importa qual a sua determinação por
trás disso. Mas tem horas que a pessoa acuada quer fugir. Eu não posso negar ou refutar, porque eu
sou uma pessoa fraca também.”

Hmm, mas assim parace que eu estou dizendo que está tudo bem alguém fazer isso porque eu faria.
Sacrifício próprio nesse caso é a coisa certa a fazer, e esse ato seria considerado heróico. Mas é
errado. É burrice escolher a morte não importa quão nobre ou certo. Não importa o quanto esteja
errado ou quão baixo seja, nós temos que continuar vivendo para reparar os nossos erros.
Nós temos que viver e aceitar a consequência dos nossos atos. Isso é algo que se precisa de muita
coragem. Eu acho que nunca seria capaz de fazer isso e soa muito presunçoso, então eu prefiro não
dizer.

“... Bem, de qualquer forma... Eu acho que é diferente pra cada pessoa.”

Eu fico sendo bastante vago e Shiki me olha com dúvida.

“Mas você é diferente.”

Shiki diz como se estivesse lendo minha mente. Soa tão frio, mas as palavras eram de ternura de
alguma maneira. Foi um pouco constrangedor, então eu continuei a andar em silêncio. Nós estamos
chegando a rua principal. Sons, luzes fortes, barulho de motores. Ondas de pessoas e milhares de
sons que eles fazem. Só nós passarmos a loja de departamentos, a estação fica logo em frente.

Então, Shiki para.

“Mikiya, você pode dormir no meu apartamento hoje.”

“Hã? Porque, tão subitamente?”

Shiki me puxa dizendo que isso não importa.

Realmente é mais fácil ficar no apartamento de Shiki já que é perto, mas eu não sinto vontade de ir
por ser embaraçante.

“Está tudo bem. Você não tem nada no seu quarto também. Será chato mesmo que eu vá. Ou você
está me dizendo que tem algo para eu fazer lá?”

Eu sei que não tem nada. Eu disse sabendo isso, então não tem nada que Shiki possa dizer em
resposta... ou pelo menos eu penso que sim. Mas Shiki olha para mim como se eu fosse a causa do
problema.

“Morango.”

“Hã?”

“Dois Haagen Dasz de morango. Ainda estão lá desde que você comprou. Cara, você precisa
terminar com eles.”
“... Eu acho que eu comprei aquilo mesmo.”

Sim eu comprei. Foi algo que eu comprei porque estava tão quente enquanto eu caminhava para o
apartamento de Shiki. Mas porque eu comprei aquelas coisas? Já que é quase Setembro...

Bem, eu não ligo para coisas triviais. Eu acho que minha única escolha é obedecer Shiki. Mas a
palavra obedecer é um pouco irritante, então eu decido argumentar um pouco.

Mesmo que seja um desejo do fundo do coração, Shiki nunca ouve meus conselhos.

“Tá certo, eu irei passar a noite. Mas Shiki...”

Eu digo com a maior cara de pau para Shiki, que fica me olhando.

“Você não deveria falar assim. Você é uma garota, sabia.”

Quando eu termino de falar, Shiki vira o rosto nervosa.

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/Visão Geral

Aquele dia, eu escolhi pegar a rua principal para ir para casa. Foi num impulso, algo bem raro para
eu fazer.

Quando eu estava andando entre os prédios que eu vejo todo dia, alguém veio caindo. Um som seco
que você normalmente não ouve. Era óbvio que aquela pessoa havia morrido depois de cair de um
dos prédios. Uma cor rubra se espalha pelo chão. A única coisa que sobrou foi o cabelo escuro, e as
magras, brancas, e frágeis pernas e braços... E o rosto esmagado. A cena estava cercada pelo verão e
me lembrou uma flor que foi esmagada por estar entre livros.

Eu sabia quem era. Hypnos (Sono) voltou depois de se transformar em Thanatos (realidade).
Caminhando ignorando as pessoas que se aglomeram, Azaka me alcança.

“Tohko-san. Aquilo foi um suicídio de alguém se jogando daquele prédio.”

“É, eu acho,” Eu respondo vagamente.

Sinceramente, eu não ligava. Não importa qual o desejo do suicida, um suicida irá ser tratado como
suicida. O seu último desejo pode ser resumido com uma palavra, não voar ou flutuar, mas pela
palavra “cair”. O que existe é apenas mistério, e não tem como você se interessar por isso.

“Eu soube que aconteceu muito isso ano passo, mas está acontecendo agora novamente? Eu não sei
o que essas pessoas pensam. Você sabe, Tohko-san?”

“Sim,” Eu respondo vagamente mais uma vez.

Eu respondo enquanto olho para o céu, como se procurasse uma imagem que não está lá.

“Não tem motivos para suicídio. É só que ela não foi capaz de voar hoje.”
Notas:
Eu queria deixar o texto o mais fiel possível, então uma frase ou outra soou um tanto quanto
estranha. Por favor me desculpem.

Sobre os que estão se perguntando porque eu sempre tratei a Shiki durante a história como sendo
um homem, é por que na versão original eles usam palavras que não dão a entender o sexo dela. E
eu queria manter esse suspense até a parte final aonde o Kokutoh diz que ela é uma garota. E a
partir de agora as falas da Shiki serão devidamente interpretadas no feminino.

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