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FRASE Unidade morfológica em que uma idéia musical é longa o suficiente para ‘gerar

contexto’. O ‘contexto’, numa obra tonal ou modal, se caracteriza


horizontalmente – e também verticalmente no caso da polifonia – por uma
determinada progressão de motivos e/ou variações destes, e verticalmente por
uma determinada progressão de acordes. A combinação das dimensões
horizontal e vertical produz no ouvinte um sentido de ‘direção’ que é justamente
o fator gerador de ‘contexto’.

Há casos raros em que a frase se compõe horizontalmente só de um motivo e/ou


verticalmente só de um acorde.

A fronteira entre as frases é em geral (na maior parte do repertório) determinada


pelos seguintes fatores ou combinação entre eles:

1) repouso temporário
2) mudança importante de motivos
3) repetição literal ou variada da unidade morfológica (frase) precedente
4) mudança importante de textura
5) início de progressão harmônica diferente

Obs.: Há obras musicais em que não faz sentido a divisão morfológica em


frases. Isto pode acontecer em obras contínuas em que a forma global não é
hierarquizada o suficiente para que se chegue ao nível de frases. Nesses casos, o
‘contexto’ é a obra inteira ou uma parte longa de uma obra.
MEMBRO-DE-FRASE O membro-de-frase é uma possível subdivisão da frase
que ocorre quando partes da frase formam cada uma
padrões internos e contíguos, distintos ou não – ou seja,
[(padrão x) + (padrão y), etc. = frase]. Esses padrões são
em geral melódicos, mas extensões desse conceito para a
música contemporânea podem ser feitas em que outros
parâmetros que não a melodia determinem algo
equivalente a um membro-de-frase.

Seguem algumas observações:

 O membro-de-frase pode ou não coincidir com


um motivo.
 Há frases que não se dividem em membros, e
são talvez mais numerosas que as que se
dividem.
 Uma vez que o membro-de-frase é uma
subdivisão da frase, não há frases feitas de um
só membro. Se há divisão, a frase deve se dividir
pelo menos em dois membros.
 Os membros-de-frase não precisam ser do
mesmo tamanho.

PONTE Uma ponte é uma curta passagem de ligação entre frases. A ponte, por
definição, não é parte nem da frase que a precede nem da que a sucede.
EXPANSÕES DE FRASE Expansões de frase são recursos utilizados por compositores para
introduzir, ornamentar, alongar, tensionar e/ou confirmar o conteúdo das
frases. Seguem algumas características gerais das expansões:

 As expansões não são frases, ainda que possam incluir cadências.


 As expansões se apresentam como ‘apêndices’ das frases, não
fazendo parte de sua estrutura principal. Esses ‘apêndices’ podem
estar localizados tanto antes como no meio ou após o corpo das
frases.
 Justamente por não fazerem parte do corpo principal das frases, as
expansões não são unidades morfológicas capazes de gerar um
contexto independente. Elas só fazem sentido quando usadas em
subordinação às frases que por elas são expandidas, aumentando a
expressão total dessas frases.
 Devido a seu caráter de ‘apêndice’ das frases, as expansões são
em geral mais curtas que as frases propriamente ditas, mas há
exceções.

Há três tipos básicos de expansões de frase:

1) Introdução à frase
2) Expansão interna
3) Expansão externa
Seguem as definições de cada tipo:

1) A introdução à frase é uma expansão que precede o início da estrutura principal


da frase. A introdução à frase é em geral curta, com pouco ou nenhum material
melódico, podendo incluir somente um acorde ou uma breve sequência de
acordes, ou mesmo uma nota ou notas repetidas em uma das vozes, combinação
de vozes ou todas as vozes.

 Obs.: Uma introdução à frase pode ou não coincidir com uma introdução à
obra musical inteira. Introduções a obras como um todo serão estudadas mais
adiante.
2) A expansão interna é um ‘apêndice’ que ocorre no decorrer da frase – algo como
uma “verruga musical” que suspende temporariamente a estrutura principal da
frase ou alonga-a ao final através de uma cadência deceptiva. Uma maneira de
identificar expansões internas é executar a música sem elas. Se a estrutura
fundamental da frase não for alterada, trata-se de expansão interna. As expansões
internas são com frequência ornamentações do e/ou variações sobre o conteúdo
de frases anteriores, mas há muitas exceções.

Vejamos os tipos mais frequentes de expansões internas:

a. Interpolação: Um trecho, em geral curto, é inserido no decorrer da frase


sem alterar-lhe a estrutura. A interpolação pode consistir
em repetições de motivos ou prolongamentos de notas e/ou
acordes. Terminada a interpolação, retoma-se a estrutura da
frase para continuá-la.
b. Extensão: A extensão é o alongamento da frase através de uma
cadência deceptiva e o acréscimo do que soa como um último
membro-de-frase agregado. Neste caso, para verificar se é ou
não uma expansão interna, substitui-se a cadência deceptiva
por uma cadência perfeita. Se fizer sentido, então a
continuação é uma expansão interna.

3) A expansão externa é um apêndice que ocorre depois do final da frase,


servindo-lhe em geral de confirmação, mas mais raramente pode também
tonicizar uma outra tonalidade quando o objetivo do compositor é desfazer
o caráter finalizante da cadência que fechou a frase em vez de confirmá-la.
Num tal caso a distinção entre a expansão externa e uma nova frase é menos
clara. Para tirar a dúvida, execute a expansão em separado. Se não fizer
sentido sozinha é porque é uma expansão externa.

As expansões externas sempre ocorrem após as cadências que fecham as


frases. E vale observar que todas as expansões externas também fecham
com uma cadência. Os tipos mais frequentes de expansões externas são:

a. Prolongamento do acorde final da frase, em geral com alguma


melodia nova ou derivada de material anterior.
b. Confirmação da cadência final da frase através de fórmulas
harmônicas como V-I (i), IV(iv)-V-I (i) ou variantes, e melodia nova
ou derivada de material anterior.
c. Repetição do último membro da frase que recém-termina.
INTERPOLAÇÃO – PROLONGAMENTO
DE ACORDE
PAC

DC PAC
AGRUPAMENTOS DE FRASES

Até aqui vimos que a frase desempenha uma função cognitiva importante na
maior parte do repertório ocidental, pois ela é a menor unidade morfológica capaz de
gerar um contexto musical. Vimos também que a frase pode se subdividir em
membros-de-frase e que a menor unidade morfológica utilizada na maioria do
repertório é o motivo. Mas a hierarquia morfológica não termina na frase. Acima da
frase podem haver agrupamentos de frases, subseções, seções e por fim a obra inteira.
No entanto, assim como nem toda frase se divide em membros, da mesma maneira
nem toda sucessão de frases forma um agrupamento lógico.

Vejamos os principais tipos de agrupamentos de frases encontrados no


repertório tradicional:

1. Grupo de Frases
2. Período

1. Um grupo de frases é uma sucessão de frases semelhantes entre si motívica e


estruturalmente que fecham uma unidade devido a sua semelhança mas que não
produzem um fechamento harmônico – ou seja, o grupo de frases não termina sobre
uma PAC ou IAC.

2. O período é uma sucessão de frases que podem ou não ser semelhantes


motívica e estruturalmente mas que fecham uma unidade através de um fechamento
harmônico – ou seja, o período termina sobre uma PAC ou IAC. Pode haver mais de
uma cadência conclusiva num período. Quando isto ocorre, o período termina sobre a
última PAC ou IAC, que em geral é a mais conclusiva.
Quando não há nem grupo de frases nem período, é porque as frases não
formam agrupamentos lógicos. Numa mesma seção ou subseção de uma obra musical
pode haver trechos que formam agrupamentos de frases ao lado de trechos que não os
formam.

Classificação do período conforme sua estrutura e tipo de movimento


harmônico:

1. O período é chamado de simétrico quando o número de frases antecedentes é


igual ao de frases consequentes; quando o número de frases antecedentes e
consequentes é diferente, o período é assimétrico.

2. Quando um período simétrico apresenta dois antecedentes e dois


consequentes, ou três antecedentes e três consequentes, etc. chama-se um período
duplo ou período triplo, etc.

3. O período pode ser estruturado harmonicamente de quatro maneiras:

a. Movimento harmônico repetido: as frases, ou pelo menos duas delas incluindo a


última, apresentam o mesmo movimento harmônico, que é portanto repetido. A idéia
de período neste caso vem mais da maior força de fechamento melódico da última
frase que do fechamento harmônico propriamente dito.

b. Movimento harmônico completo: o(s) antecedente(s) apresenta(m) cadência(s)


inconclusiva(s) ou que conclui(em) sobre tom secundário, e o consequente final
apresenta cadência conclusiva sobre o tom original.
c. Movimento harmônico interrompido: semelhante ao completo, porém as frases
apresentam exatamente o mesmo movimento harmônico até quase o final, mudando
somente a cadência que fecha as frases. Tipicamente, o antecedente conclui sobre uma
HC e o consequente sobre uma PAC ou IAC.

d. Movimento harmônico progressivo: as frases encaminham um processo de


modulação em que a cadência final do período é uma PAC ou IAC sobre o tom para o
qual se modulou.

Seguem abaixo os exemplos:


Período
duplo
com mov.
harm.
interrompido

Período
simples,
simétrico,
com mov.
harm.
progressivo

Período
simples,
simétrico
com mov.
harm.
completo
SCHUBERT
QUARTETO 13
1º MOV.

Período simples,
Assimétrico,
Com mov. harm.
completo

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