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Nádia Castro
Frase, período e oração:
gramática tradicional e
abordagem gerativista
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar algumas temáticas introdutórias referentes
à morfossintaxe. Nesse contexto, realiza-se uma análise conjunta dos
aspectos morfológicos e sintáticos da língua portuguesa. Portanto, você
vai conhecer e classificar frase, oração e período; em seguida, reforçar os
seus conhecimentos sobre as diferenças entre a abordagem tradicional
e gerativista da gramática. Para este estudo, serão analisados exemplos
com o objetivo de identificar cada segmento da oração.
Lembre-se de que a linguagem é um sistema composto de signos,
os quais são utilizados para o estabelecimento da comunicação. O seu
aparecimento e o seu desenvolvimento estão diretamente relacionados
com a necessidade que os seres humanos têm de comunicar-se. Dessa
forma, é possível afirmar que a linguagem é fruto de aprendizagem social
e também reflexo da cultura de determinada comunidade. Portanto, o
seu domínio é relevante para a inserção dos indivíduos na sociedade.
Frase
A frase pode ser qualificada como a estrutura mais abrangente. Ela representa
um trecho do enunciado, um fragmento da fala, uma expressão, a divisão
mais elementar do discurso. Pode-se afirmar que a frase é a menor unidade
do discurso com capacidade para transmitir uma mensagem. Mas não é toda
construção frasal que apresenta autossuficiência para a transmissão completa
de uma mensagem (BECHARA, 2010).
Tanto na linguagem oral como na escrita, o significado da construção
frasal pode depender de outros fatores. Por exemplo, algo dito (ou escrito)
anteriormente; ou mesmo por questão de influência do contexto e dos dados
exteriores que ele evidencia. Dessa forma, a frase pode ser composta de
apenas uma palavra:
Socorro!
Que frio!
Frase, período e oração: gramática tradicional e abordagem gerativista 3
Oração
A oração é uma unidade marcada por um verbo. Esta é a primeira informação
que você precisa ter em mente para poder diferenciar e classificar as estru-
turas de forma correta. A oração é uma unidade linguística com objetivo de
expressar um conceito sobre um sujeito. Na maioria das ocorrências, apresenta
um nome (substantivo) a que se refere e com o qual concorda o verbo. Dessa
forma, constitui-se a estrutura binária sujeito + predicado (BECHARA, 2010).
Quando têm sentido completo, as orações (que integram um período) são
denominadas orações independentes. Exemplo:
Cheguei, vi e retornei.
Período
O período é constituído por mais de uma oração. Portanto, é a estrutura sin-
tática formada por uma oração básica acrescida de expansões oracionais. O
período é o enunciado de sentido pleno, constituído por uma ou mais orações.
Ele é marcado por uma pausa bem definida, na fala; e, por ponto (final, de
exclamação, de interrogação, reticências, dois-pontos etc.), na escrita.
O período pode ser simples ou composto. O primeiro tipo é formado de
uma só oração denominada absoluta. Observe o exemplo:
O período composto, por sua vez, é constituído por mais de uma oração.
Veja o exemplo:
Cheguei, vi e retornei.
Frase
Nominal Oracional
Período
Frase oracional
Simples Composta
Abordagem tradicional
Vamos começar com o conceito de gramática tradicional (GT). Você já parou
para pensar no que ele significa? Não pense apenas em um livro grosso e
cheio de regras difíceis de traduzir. Visualize como uma fonte de consulta que
Frase, período e oração: gramática tradicional e abordagem gerativista 7
Para saber mais sobre as seções que compõem a GT, pesquise o sumário de algu-
mas gramáticas para identificar as diferenças e as semelhanças. Alguns autores são
consagrados:
Evanildo Bechara
Domingos Paschoal Cegalla
José Carlos de Azeredo
Madalena Parisi Duarte
Abordagem gerativista
Diferentemente da abordagem tradicional, a gramática gerativa apresenta
um modelo teórico que tem como desafio propor uma série de reflexões as
quais contestam a prescrição, a normatização, a noção de erro e acerto. Para
a escola gerativista, a GT tem deficiências, pois não considera as variações
da língua e não é explícita. Qualquer teoria reivindicada por ela necessita
de uma metalinguagem para que seja possível falar em termos abstratos dos
fenômenos estudados.
Observe o exemplo do você (pronome de segunda pessoa do singular).
Este não é reconhecido como forma pronominal pela GT. Mas pense no cê.
Forma reduzida de você e recorrente em regiões do Brasil. Este não aparece
em hipótese alguma como registro pela GT. No entanto, qualquer falante nativo
do português brasileiro é capaz de reconhecer sentenças como:
De acordo com a GT, a primeira sentença estaria errada, uma vez que não
pertence à norma culta. Conforme os gramáticos tradicionais e as normas,
o objeto direto só pode ser realizado por um pronome oblíquo átono. Este
exemplo é o que está presente na segunda frase. Agora, pense: esta construção
frasal faz parte da fala cotidiana dos falantes de língua portuguesa? Alguns
a utilizam, mas podemos afirmar que um número muito maior de falantes
utiliza a primeira construção na língua falada.
Para a gramática gerativa, a competência é fator determinante, ou seja,
o conhecimento que o falante tem e que permite decidir se a sentença é gra-
matical ou não. Quando o falante exercita essa competência para produzir as
sentenças que fala, o resultado é o que chamamos de desempenho. Portanto,
para a teoria gerativa, o necessário é descrever e explicar a competência
linguística dos falantes, explicando, também, os mecanismos gramaticais que
estão subordinados a ela.
Para a abordagem gerativa, as línguas naturais são um dote do ser humano,
e apenas dele. Nenhum outro animal se comunica como os seres humanos.
Portanto, os gerativistas indicam ser plausível supor que a capacidade de falar
uma língua tem conexão direta com o aparato genético da espécie humana e
isso a distingue de todas as outras.
Elaborada por Noam Chomsky no final da década de 1950 e apresentada nos
anos 1980, o primeiro modelo de gramática gerativa aborda os princípios e os
parâmetros. Ou seja, o autor elabora uma reflexão sobre aspectos linguísticos
que abrangem a criatividade do falante, a capacidade que ele tem de emitir e
de compreender as frases, independentemente das estruturas normatizadas
pela gramática tradicional. Dessa forma, os gerativistas percebem o sistema
como finito, mas passível de infinitas frases gramaticais.
10 Frase, período e oração: gramática tradicional e abordagem gerativista
Sujeito explícito:
Sujeito Predicado
Jonas deu um chocolate para a neta.
Sem presença de verbo não temos oração. Logo: nesta oração, temos a
presença do verbo (dar) e o sujeito (Jonas) é o referente da oração. O predicado
é a complementação relacionada a ele (quem? deu um chocolate para a neta:
Jonas). Conhecido o sujeito, ele não precisa ser explícito:
Jesiel dorme.
Chove.
Ana vendeu
um casaco.
uma casa.
vestidos.
Brasília é a capital.
Minha casa é aquela.
Mamãe é jovem.
Nesta frase, mamãe funciona como sujeito que está constituído por um
núcleo substantivo, passível de ser expandido.
Referência
BECHARA, E. Gramática escolar da língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fron-
teira, 2010.
Leituras recomendadas
BECHARA, E. Lições de Português pela análise sintática. 19. ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2014.
BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003.
BRASIL. Presidência da República. Manual de redação da Presidência da República. 2. ed.
Brasília, 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/manual/manual.
htm>. Acesso em: 29 nov. 2018.
CAMARA JR., J. M. Estrutura da língua portuguesa. 34. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
CARONE, F. B. Morfossintaxe. 7. ed. São Paulo: Ática, 1998.
MIOTO, C.; SILVA, M. C. F.; LOPES, R. E. V. Novo manual de sintaxe. 2. ed. Florianópolis:
Insular, 2005.
VOCABULÁRIO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA. Busca no vocabulário. 2009.
Disponível em: <http://www.academia.org.br/nossa-lingua/busca-no-vocabulario>.
Acesso em: 29 nov. 2018.
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