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PMI-2201 MICROSCOPIA ÓPTICA

MICROSCOPIA ÓTICA

1 INTRODUÇÃO

A observação das estruturas encontradas na natureza utilizando microscopia ótica,


como uma extensão natural da observação a olho nu, representou papel importante no
surgimento das ciências da natureza, tanto das ciências biológicas, como a histologia,
anatomia, etc. assim como em mineralogia, petrografia, gênese de rochas, etc. e continua
uma técnica importante hoje em inúmeras áreas da ciência, complementada pelas técnicas de
microscopia eletrônica. A partir de 1863, quando Sorby apresentou à Royal Society suas
observações sobre as estruturas dos aços, a observação dos materiais por microscopia ótica
esteve sempre presente no centro do conjunto das tecnologias e de campos da ciência que
viriam a se aglutinar no que é hoje conhecido como “Ciência e Engenharia dos Materiais” .

2 OS MICROSCÓPIOS ÓPTICOS

O tipo mais simples de microscópio é uma lente de aumento, que permite a observação
de estruturas com diversas vezes de aumento; é muito utilizado para a observação de grãos e
minérios, de superfícies de fratura de metais, de amostras de fibras têxteis, papel e outros
produtos da indústria química e metalúrgica. Os microscópios “compostos” já são
instrumentos mais poderosos, que permitem desde a observação com aumentos de algumas
dezenas de vezes até um máximo de 1500 a 2000 vezes, o limite da observação com luz
visível. O microscópio composto tem basicamente dois conjuntos de lentes, a ocular ( que
fica próximo ao olho do observador, ou do dispositivo fotográfico) e a objetiva ( que fica
perto do objeto a ser examinado). Unindo os dois conjuntos de lente fica um tubo ótico com
“comprimento ótico” padronizado , geralmente com 160 mm. Na prática os microscópios
modernos tem um grande número de outros elementos óticos incorporados ao caminho da
luz dentro do “tubo”, como filtros, analisadores, prismas, espelhos , lentes “Zoom”, etc. A
Figura 1 mostra o esquema de um microscópio moderno, indicando os diversos elementos.
Os primeiros microscópios desenvolvidos para Biologia e Petrografia usavam ( e usam ainda
nestes campos do conhecimento) uma iluminação por luz transmitida. Assim a luz gerada
por uma fonte (lâmpada + espelho parabólico, em geral) é “colimada” por lentes

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condensadoras e passa através de aberturas variáveis, chamadas diafragmas, por filtros e


depois, na microscopia por luz transmitida, atravessa a amostra que nestes casos deve ser
preparada como uma lâmina fina o suficiente e de faces paralelas, para que seja transparente.

Figura 1: Microscópio de Luz transmitida com seus principais elementos indicados

Para a observação de metais, porém , este esquema não foi possível de ser utilizado. Os
elétrons da camada condutora dos metais interagem fortemente com os fótons, tornando
estas amostras pouquíssimo transparentes. Por este motivo foi desenvolvido um tipo de
microscópio em que a iluminação é por meio de luz refletida, seja iluminação oblíqua com
sistemas de iluminação independentes do microscópio ou, nos microscópios mais
sofisticados, através de um sistema de iluminação pelo próprio tubo e objetiva do
microscópio, usando engenhosos sistemas de espelhos, prismas e vidros semi-espelhados
que deixam passar a luz em uma direção e a refletem na outra. A Figura 2 mostra o esquema
de um microscópio de luz refletida.

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Luz com incidência


perpendicular à
amostra

Figura 2: Esquema de um microscópio de Luz transmitida. No detalhe à direita vê-se a


prensa usada para alinhar as amostras usando massa plástica

Cada sistema de lentes produz um determinado aumento. As objetivas são descritas


pela sua distância de trabalho f, ou distancia focal, a distância do objeto até a lente
correspondente ao foco e seu aumento é dado pela expressão M = t/f onde t é o comprimento
do tubo ótico e também pela sua abertura numérica NA. A NA é obtida a partir do angulo
2θ, o ângulo máximo em que a luz é coletada pela objetiva quando a distancia até o objeto é
f, através da fórmula NA = n senθ , onde n é o índice de difração do meio, que é 1 para o
caso do ar. Um truque muito utilizado para conseguir trabalhar com grandes aumentos e alta
resolução é colocar entre o objeto e a objetiva um outro meio, em geral um óleo com índice
de refração n maior do que o ar, tipicamente 1,4. A Figura 3 mostra esquematicamente a
relação entre o aumento e a NA de uma lente objetiva.

Limite de resolução é a capacidade da objetiva de separar detalhes individuais que


estão em posições adjacentes no objeto; corresponde à menor distância entre dois detalhes
que pode ser distinguida na imagem ou seja, que pode ser resolvida.

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Figura 3: Esquema das lentes


objetivas

O poder de resolução é a recíproca do limite de resolução e é expresso em número de


linhas resolvidas por milímetro. Pode-se demonstrar usando as leis da ótica que o limite de
resolução

LR = Kλ / 2NA

onde K é uma constante que pode chegar a 1,22 com o uso de um condensador adequado e λ
é o comprimento de onda da luz utilizada para iluminar a amostra. Quando uma lente está
focada em um dado plano do objeto, pontos que estão um pouco acima e um pouco abaixo
deste plano podem ainda ser vistos com um foco aceitável. Profundidade de foco então, é
outro conceito importante, que corresponde à distancia através da qual o plano da imagem
pode ser movido sem que a imagem perca a nitidez. Em outras palavras profundidade de
foco é a diferença entre a máxima e a mínima distância no objeto que podem ser observados
com determinada lente. Campo-de-visão de uma lente é uma outra grandeza importante, que
descreve o tamanho da área que é enxergada pela lente. Nos microscópios modernos as
lentes são projetadas para ter um campo-de-visão compatível com o ângulo de visão máximo
que o olho humano acomoda, que é de cerca de 50º.

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O aumento total do microscópio é obtido multiplicando o aumento da objetiva pelo da


ocular e ainda multiplicando por eventuais aumentos introduzidos por outros sistemas de
lentes introduzidos no tubo, como sistemas Zoom. A maioria dos microscópios tem diversas
lentes objetivas colocadas em um porta-objetivas de tipo revolver, permitindo a troca rápida
do aumento. Do outro lado do tubo a maioria dos microscópios tem um sistema binocular,
com uma ocular para cada olho, ajustavel para as distâncias interpupilares dos observadores,
que costumam variar entre ~50 e ~80 mm para os seres humanos. Para adaptação de
câmaras fotográficas, câmaras digitais CCD ou câmaras de vídeo, alguns microscópios
apresentam um sistema trínocular, com uma terceira ocular vertical ou horizontal.

As amostras ficam montadas sobre uma placa chamada de platina, sobre um porta-
amostra , também chamado de charriot. Geralmente o porta-amostra tem vários sistemas de
cremalheiras (coroa e pinhão) para movimentar a amostra; dois nas direções X e Y e muitas
vezes um outro para rodar a amostra (platina giratória) nos microscópios que utilizam
analisadores de luz polarizada. O conjunto do porta-amostra, platina e parte do sistema de
iluminação nos microscópios de luz transmitida, movimenta-se na direção Z paralela ao tubo
ótico, através de outros dois sistemas de cremalheiras, que correspondem ao foco grosso e ao
foco fino.

A Lupa estereoscópica (Figura 4) é um tipo de microscópio utilizada para a observação


de amostras com grandes relevos, como grãos, partículas ou superfícies de fratura. Como o
nome (estereoscópica) diz, ela é formada por dois sistemas óticos independentes, dois tubos,
objetivas e oculares, o que permite ver imagens tridimensionais de objetos com relevo. As
Lupas estereoscópicas podem ser de luz transmitida ou luz refletida. Em alguns casos elas
permitem que sejam feitas pares de fotografias do mesmo objeto, usando os dois tubos,
obtendo-se um “par estereoscópico” de imagens, que observado com um dispositivo que os
separa permite que cada foto seja vista com um olho formando uma imagem tridimensional
graças ao efeito da paralaxe entre as duas imagens.

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Figura 4: Lupas estereoscópicas com iluminação incidente e transmitida

Além das técnicas comuns de iluminação, freqüentemente se usa em microscopia as


propriedades da luz polarizada para obter efeitos especiais e mesmo para identificar fases. A
ondas eletromagnéticas em um feixe de luz convencional vibram em todas as direções;
pode-se tratar este feixe de luz de forma que algumas direções de vibração sejam eliminadas
ou rodadas de tal forma que as vibrações ocorram em um plano só (luz com polarização
plana) ou em duas direções (luz com polarização elíptica). Quando a luz convencional
atravessa um cristal com simetria cúbica ou materiais não cristalinos como o vidro ela
mantém suas propriedades. Mas quando atravessa um cristal anisotrópico (não cúbico) em
uma direção que não seja um eixo ótico deste cristal, são gerados dois feixes de luz, que
caminham por dois caminhos diferentes. Isto é devido ao fenômeno da refração dupla, ou bi-
refringência, conseqüência dos coeficientes de refração destes cristais serem diferentes em
diferentes direções do cristal. Este efeito pode ser utilizado para criar um feixe de luz com
polarização plana, isolando um dos feixes. Antigamente os filtros polarizadores ou polares
eram feitos com um prisma duplo do cristal calcita, que tem a propriedade de ser bi-

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refringente, um arranjo chamado de Nicol em homenagem ao físico italiano que inventou


este polarizador. Hoje em dia são produzidos filtros polarizadores muito mais baratos através
do uso de filmes de polímeros anisotrópicos. Estes filmes são utilizados também em
fotografia, em óculos escuros ou em monitores de computador para filtrar os reflexos e os
feixes secundários de luz.

Em um microscópio polarizador existem pelo menos dois filtros polarizadores, um


(polarizador) no percurso do feixe de luz antes de atingir o objeto e o segundo (analisador)
no tubo entre a objetiva e a ocular. Pelo menos um destes filtros, de preferencia os dois,
podem ser girados de forma controlada; em muitos casos a amostra também pode ser rodada
(platina giratória).

Se olharmos através do microscópio polarizador sem nenhum objeto no porta amostra


e girarmos um dos filtros veremos que a luz é extinta duas vezes em uma volta completa;
isto acontece quando os planos de vibração dos polarizadores estão perpendiculares entre si.

Se observarmos um cristal bi-refringente por microscopia de luz transmitida, com os


polarizadores cruzados e rodarmos o cristal verificaremos que ocorre quatro eventos de
extinção da luz, a 45 º cada uma, correspondentes às posições em que os planos de
polarização do cristal ficam paralelos aos dos filtros polarizadores.

Quando usamos luz branca, com um espectro de freqüências, o cristal bi-refringente


vai aparecer colorido, com as cores variando à medida que o cristal é rodado. Este fenômeno
é devido á interferência entre os dois feixes de luz gerados pela bi-refringencia. Outro
fenômeno interessante é o pleocroismo, onde na observação sem o filtro analisador a cor do
cristal varia continuamente de claro para escuro com a rotação; o caso extremo é o fenômeno
do dicroismo, quando um dos feixes de luz refratados desaparece completamente. A
principal aplicação destes fenômenos é na microscopia de luz transmitida, na caracterização
de lâminas finas de minerais, cerâmicas e mais recentemente de polímeros.

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Figura 5: Micrografia Ótica de


Transmissão com Luz Polarizada de
Si3N4

As Figuras 5 e 6 mostram respectivamente reproduções de e de esferulitos (nódulos


cristalinos ) de polipropileno em filmes finos, em ambos os casos a imagem foi obtida com
os filtros polarizadores cruzados e o contraste é devido à bi-refringencia dos cristais.

Figura 6: Filme de polietileno cristalino; esferulitos revelados pelos polarizadores cruzados

Na microscopia por luz refletida, a observação de superfícies polidas de metais, ligas e


cerâmicas com estrutura cristalina anisotrópica (não cúbica), utilizando polarizadores
cruzados, produz contraste entre grãos com diferentes orientações no espaço e mostra
claramente maclas, defeitos de empilhamento, bandas de deformação e orientações
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preferenciais (texturas), geralmente impossíveis de serem vistas com iluminação


convencvional. Para isto é necessário obter uma superfície sem riscos, pites de corrosão ou
deformação superficial, o que as vezes exige técnicas especiais de preparação como o
polimento eletrolítico dos metais dúcteis. Metais cúbicos, com estrutura isotrópica, também
podem ser observados com luz polarizada desde que seja possível crescer um filme de óxido
ou precipitados epitaxiais (coerente com o substrato) em sua superfície. A técnica é muito
útil ainda para caracterizar inclusões não metálicas transparentes sob luz convencional;
nestes casos muitas vezes com polarizadores cruzados aparecem cores características, anéis
concêntricos escuros e claros ou “cruzes de malta” que permitem a identificação das fases.

Uma outra técnica importante na microscopia de luz refletida é campo escuro, que
permite através da iluminação oblíqua (obtida colocando um obstáculo no centro do feixe de
luz) obter um contraste brilhante em regiões que apresentam uma pequena inclinação em
relação à superfície, como as “valetas” formadas nos contornos de grão pelo ataque
metalográfico.

Existem ainda técnicas baseadas na interferência da luz entre dois feixes, úteis para a
observação qualitativa ou quantitativa de pequenos relevos na superfície da amostra; as mais
importantes são o contraste de interferência, que usando múltiplos feixes provoca o
aparecimento de franjas de interferência que montam um mapa do relevo da amostra e o
contraste de interferência ou interferência Nomarski, que usa luz polarizada e uma objetiva
especial que tem um prima duplo de quartzo (prisma Wollaston) para produzir contraste de
cor e de luminosidade entre estruturas e também para revelar pequenos relevos, como os
produzidos por deformação plástica na superfície polida dos metais.

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3 MICROSCOPIA QUANTITATIVA

Em todos os ramos das ciências e tecnologias que usam microscopia ótica


desenvolveram-se técnicas para a realização de medidas quantitativas. Estas técnicas
envolvem alguns problemas interessantes de estatística e principalmente alguns raciocínios
de topologia, para obter informações sobre a estrutura no volume do material a partir de
medidas feitas em observação de projeções em lâminas finas ou mais freqüentemente, de
superfícies opacas polidas. Ao conjunto de problemas científicos envolvidos na microscopia
quantitativa chama-se “estereologia”.

Em cada campo do conhecimento desenvolveram-se terminologias específicas; aqui


será utilizada a terminologia adotada por Underwood (4), utilizada em metalografia
quantitativa, normalizada pelas normas ASTM. As medidas básicas que são feitas em
microscopia em geral envolvem a sobreposição sobre a estrutura de um conjunto de pontos,
linhas ou figuras geométricas ou áreas, que são usadas para realizar medidas ou contagens de
aspectos morfológicos. Assim é possível sobrepor um conjunto de pontos que estão ao acaso
em relação à ordem da microestrutura e realizar contagens da fração de pontos que caiu
sobre uma determinada estrutura em relação ao total de pontos ( PP). De forma análoga pode-
se superpor linhas teste de comprimento conhecido sobre a estrutura e medir a fração do
comprimento da linha teste que estão sobre determinada estrutura ( LL ) ou o número de
intersecções da linha teste com alguma estrutura (NL ); pode-se ainda medir a fração de área
de uma dada fase ( AA ) ou o número de partículas ou grãos por unidade de área (PA). A
partir desta medidas são reconstituídas as grandezas por volumétricas, como tamanho médio
de grão, número de partículas ou inclusões por unidade de volume fração volumétrica de
fases, comprimento de defeitos lineares ( discordâncias) por unidade de volume, etc. A
Tabela I ilustra os principais grandezas medidas e/ou calculadas a partir de outras medidas.
Como o assunto é vasto, serão abordados a seguir apenas dois problemas muito comuns em
metalografia, a medida de fração volumétrica e a medida do tamanho de grão. Recomenda-se
a quem quiser se aprofundar o livro “Técnicas de Análise Microestrutural”, de A. F. Padilha
e F. Ambrósio, páginas 113 a 141.

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3.1 Medidas de fração volumétrica

Para determinar a fração volumétrica ou as proporções em volume entre fases existem


diversas medidas possíveis de serem realizadas em uma secção polida. A Estereologia
mostra que a fração de área entre fases em uma secção polida AA é idêntica à fração em
volume VV, desde que as fases estejam distribuídas ao acaso. Aplicando-se linhas teste ao
acaso sobre a superfície da amostra, a fração do comprimento das linhas teste LL que cai
sobre a fase será igual à AA e a VV. Da mesma forma, se colocarmos pontos ao acaso sobre a
superfície, a fração de pontos que cai sobre a fase PP é igual a AA e VV. Assim, o método
mais empregado para medir fração volumétrica de uma fase é a contagem de pontos. Para
isto se usa um reticulado sobre as micrografias, ou na ocular do microscópio, com um certo
número PT de pontos. Conta-se então o número de pontos que caem sobre uma determinada
fase no plano de polimento. O número de pontos P que caem sobre a fase, dividido pelo
número total de pontos P/PT é a fração de pontos, PP. Este procedimento, repetido para
diferentes campos da amostra até obter uma média e um desvio padrão previamente
definidos por cálculos estatísticos para um dado grau de confiança, permite obter um valor
de PP igual à fração volumétrica VV. A Figura 7 ilustra o procedimento.

3.2 Medidas de Tamanho de Grão

Um contorno de grão é a superfície divisória entre dois cristais adjacentes de


orientações cristalográficas diversas. Os contornos de grãos existentes em materiais
policristalino podem ser revelados por ataque químico, eletro-químico e térmico. Outra
maneira de se visualizar um contorno de grão é atacando-se as superfícies dos grãos da
amostra policristalina. Os contornos de grão aparecerão indiretamente como a junção entre
dois grãos de coloração diferente como esquematizado na figura 8a. Os grãos individuais são
claramente identificáveis pois as superfícies de cada um dos grãos reflete a luz incidente de
maneira diferente, como esquematizado na figura 8.b.

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Figura 8b: Esquema ilustrando os diferentes ângulos


de reflexão da luz incidente, em cada um dos grãos de
Figura 8a: Aço inoxidável
uma amostra policristalina.
austenítico com maclas de
recozimento 100 X.

Vários métodos tem sido utilizados para medir tamanho ou diâmetro de grãos em
amostras policristalinas. Na verdade as formas dos grãos são em geral irregulares, o que faz
com que a definição de diâmetro de grão seja arbitrária e dependente de hipóteses
simplificadoras sobre a geometria dos grãos. Felizmente é possível obter uma medida que
embora não seja exatamente o diâmetro, correlaciona-se muito bem com as propriedades dos
materiais. Este parâmetro, de muito maior generalidade e independente de qualquer hipótese,
é válido para qualquer estrutura granular que preencha o espaço, independentemente da
forma, do tamanho e da posição dos grãos. Este "diâmetro" é o comprimento de interseção
médio L3 obtido de medidas do número de intersecções L2 de uma linha teste de
comprimento conhecido com os contornos de grão, no plano de polimento. Para grande
número de medidas ao acaso a média dos valores da intercecção torna-se o valor real,
tridimensional L3.

Para grãos que preenchem o espaço o comprimento de interseção médio é definido


como:

L3 = 1/NL = LT/P*M

onde, LT é igual ao comprimento total de linha teste, M é o aumento, P o número de


interseções de contornos de grão com a linha teste e portanto NL - número de interseções por
comprimento de linha teste, como na Figura 9.
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Figura 7: Contornos de grão e linha teste usada para contar número de intersecções L2

Fisicamente L3 corresponde ao livre caminho médio, ou seja à distância média entre


dois contornos de grão em toda a amostra.

Um outro método de medida popular é tamanho de grão ASTM, N:

N = (log. n/log. 2) + 1,000

onde, n é o número de grãos por polegada quadrada com 100 X de aumento. Normalmente,
para se obter o tamanho de grão ASTM é necessário contar-se um mínimo de 50 grãos em
três áreas diferentes, e este valor deve ser convertido para número de grãos por polegadas
quadrada e para um aumento de 100 X.

Existe uma relação entre N, o tamanho de grão ASTM e o L3, o livre intercepto médio
dado em centimetros:

N = -10,0 – 6,64 log L3

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4 APLICAÇÕES

• Na Caracterização de Matérias Primas Minerais, as principais aplicações da


Microscopia Ótica são:
− Identificação de fases minerais;
− Quantificação de fases minerais;
− Composição de fases minerais;
− Formas de intercrescimento e associações minerais

• Na Caracterização de Materiais de Engenharia, as principais aplicações da


Microscopia Ótica são:
− Controle de qualidade através do controle de parâmetros estruturais
− Medida das quantidades e distribuição de fases em metais e cerâmicas
− Medida dos tamanhos de grão dos materiais policristalinos
− Medida da espessura de camadas depositadas, modificadas ou tratadas
− Identificação de materiais e de seu processo de fabricação
− Caracterização dos reforços e cargas minerais em materiais compósitos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Haines, R. “Optical Microscopy of Materials”, International Textbook Company, Glasgow,


1984. Está disponível na Biblioteca PMT da EPUSP

Bradbury, S. “An Introduction to the Optical Microscope”, Royal Microscopy Society,


microscopy Handbooks 01, Oxford Science Publications1989. Esté disponível na
Biblioteca da Geociências.

Van der Voort, G. “Optical Microscopy”, verbete em “Metals Handbook Vol. 9, (th edition,
American Society for Metals, 1985. Pg 71, disponível na Biblioteca PMT-EPUSP

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Underwood, E.E., “Quantitative Metallography”, verbete em “Metals Handbook Vol. 9, (th


edition, American Society for Metals, 1985. Pg 123, disponível na Biblioteca PMT-
EPUSP

Padilha, A.F. e Ambrósio Filho F., “Técnicas de Caracterização em Ciência dos Materias”,
Editora Hemus , 1986. Disponível na Biblioteca PMT-EPUSP

Colpaert, H. “Metalografia dos Produtos Siderúrgicos Comuns”, Edgard Blucher, São Paulo,
2º ed. 1953. Disponível na Biblioteca PMT-EPUSP

Tschiptschin, A.P., Goldenstein, H., Sinatora, A. “Metalografia dos Aços”. ABM 1987.
Disponível na Biblioteca PMT-EPUSP

EXERCÍCIOS

1. Explique como é possível observar os contornos de grão na secção polida de um metal


100% denso, usando microscopia ótica.

2. Utilizando microscopia ótica somente é possível observar grãos de diâmetro maiores do


que aproximadamente 1µm (10-6 m). Que fenômeno físico é responsável por esta
limitação?

3. Polímeros cristalizados apresentam acentuado dicroismo, ao passo que polímeros


amorfos são isotrópicos. Explique como este fato pode ser usado para observar a
cristalização de polímeros ao microscópio.

4. Que tipo de microscópio ótico você usaria para:

a) caracterizar se o pó recolhido na bateia de um garimpeiro contém ouro

b) observar a superfície de fratura de uma peça quebrada de automóvel

c) Medir o tamanho de grão de uma chapa de aço

d) Medir a fração volumétrica de quartzo, feldspato e mica em um granito


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