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TELESCÓPIOS

Roberto Vieira Martins

Observatório Nacional

Agosto de 2023 - novo


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ÌNDICE

1. Introdução 3

2. Esquema de um telescópio 5
2.1. Objetiva e abertura 8
2.2. Plano focal e distância focal 13

3. Imagem de difração 16

4. Turbulência da atmosfera 19

5. Tipos de telescópio 22

6. Acompanhamento 25

7. Limite de observação 26

8. Apontamento 27

9. Telescópios Modernos

Apêndice – Formação de Imagem 31

Exercícios – Telescópio 45
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1. INTRODUÇÃO
O método científico pode ser esquematizado pela realização de três etapas, em relação
aos fenômenos a serem tratados: a observação, a experimentação e a sistematização. No
entanto, a Astronomia possui a peculiaridade de ser uma ciência essencialmente
observacional. Isto se deve ao fato dela tratar de fenômenos que envolvem grandes
magnitudes e que, por isso, em geral não podem ser reproduzidos em laboratório. Então,
a Astronomia utiliza o universo como laboratório, pois nele uma grande variedade de
fenômenos ocorre simultaneamente. Devido ao imenso número de objetos que podem ser
observados, um determinado fenômeno, como por exemplo a formação das estrelas, pode
ser visto simultaneamente em suas várias fases e em condições das mais diversas. Para
isto, basta observamos várias estrelas diferentes. Desta forma, cabe ao astrônomo saber
selecionar bem os objetos a serem observados no estudo de cada fenômeno e utilizar
meios para que possa obter, destas observações, as informações quantitativas necessárias.

A observação em astronomia é feita essencialmente a partir das informações que chegam


a nós através da energia ou, de forma equivalente, dos fótons emitidos pelos astros. Entre
estas informações, pode-se destacar:
- As imagens bidimensionais, que permitem visualizar o fenômeno num determinado
instante. Este tipo de informação é usado pela grande maioria dos campos da
astronomia.
- O fluxo de fótons coletado, que permite determinar a quantidade de energia
produzida, as cores, a variação de atividade e as estruturas de objetos extensos. As
técnicas associadas constituem a Fotometria.
- O espectro dos objetos, que permite determinar a emissão de fótons nos vários
comprimentos de onda, o que está relacionado a composição e a velocidades na
direção de visada. Trata-se da Espectroscopia.
- As posições dos objetos que permitem, entre outras coisas, a sua identificação assim
como estudar os seus movimentos e definir sistemas de referência adequados para o
estudo destes movimentos. O conjunto de técnicas, que lidam com este tipo de
informações, é chamado de Astrometria.

O equipamento essencial para a observação astronômica é o coletor de fótons. Este coletor


de fótons que funciona essencialmente como o olho humano (ver Figura 1) é o telescópio.
Ele coleta os fótons provenientes do objeto celeste observado e os encaminha a um
dispositivo que os seleciona e os dirige ao detector que, por sua vez os transforma em
informações quantitativas para serem tratadas posteriormente.

O encaminhamento é feito por um sistema ótico. As seleções de fótons são feitas por
dispositivos como: os filtros de cor, que selecionam apenas fótons em certas faixas de
comprimentos de onda bem determinados; os espectrógrafos, que decompõem a luz de
acordo com o comprimento de onda; outros, como por exemplo os polarímetros que
selecionam os fótons com uma dada polarização, etc.

Quanto aos detectores, a astronomia ótica moderna tem se concentrado quase que
exclusivamente nos CCDs (charge-coupled device). Eles são matrizes de elementos
fotossensíveis, que gerando cargas livres permitem fazer a contagem do número de fótons
incidentes em cada elemento da matriz, tornando assim possível a transformação das
imagens em matrizes numéricas. Hoje, estas matrizes são, em geral, quadradas ou
retangulares com 1000 a 8000 elementos de lado, sendo cada elemento, um quadrado ou
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retângulo com poucas dezenas de micrômetros de lado (entre 10 e 30). Para se obter áreas
maiores do céu, usa-se cada vez mais, mosaicos constituídos por vários CCDs. Vale ainda
lembrar que, há poucos anos utilizávamos as placas fotográficas. Elas eram placas de
vidro cobertas com emulsão de elementos químicos fotossensíveis. Ainda hoje existem
vários levantamentos do céu feitos com placas fotográficas que foram digitalizadas. Eles
são importantes para que se possa saber sobre certas particularidades do céu no passado,
como por exemplo, a posição de estrelas e objetos móveis.

O conhecimento do telescópio a ser utilizado é a primeira informação necessária para que


o observador possa definir:
- o programa de observação;
- a rotina de observação;
- parte dos parâmetros da redução das observações;
- características dos dados observados.

A seguir é descrito o telescópio e são analisadas as implicações de cada uma de suas


características para a definição de um programa de observação.

As referências básicas para o texto principal foram ‘’Modern Astrometry’’ de J.


Kovalevsky – Springer 1995 (Astronomy and Astrophysics Library), ‘’Astronmy
Methods – A Physical Approach to Astronomical Observations’’ de Hale Bradt –
Cambridge University Press 2004.

(b)
(a)

Figura 1 – Em (a) tem-se o diagrama do olho humano observando um objeto muito


distante na direção do seu eixo ótico. O olho tem, essencialmente, a ótica que é
desempenhada pelo cristalino, que tem a região de utilização definida pela pupila, e o
detector que são as células da retina. As dimensões do olho humano são: diâmetro da
pupila no escuro entre 5 e 7 milímetros, diâmetro do olho entre 23 e 25 mm e dimensão
dos cones da retina entre 0,5 e 4 micrômetros. Em (b) tem-se dois diagramas. O diagrama
(A) repete o (a) mas mostra também como um objeto no infinito, que não está no eixo ótico
do olho, é registrado na retina. Em (B) tem-se um diagrama de uma câmera fotográfica
que é, essencialmente, o mesmo do telescópio.
(http://fisicaevestibular.com.br/novo/optica/)
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2. ESQUEMA DE UM TELESCÓPIO
Um telescópio é essencialmente um coletor de fótons. Trata-se de um instrumento ótico,
cujo funcionamento utiliza os princípios da reflexão da luz e eventualmente da refração.

O esquema básico de um telescópio é dado na Figura 2.1. Nela podemos identificar dois
dos principais componentes de um telescópio: a objetiva e o plano focal.

Como os objetos celestes estão muito distantes, os raios de luz provenientes de uma
estrela chegam à objetiva como um feixe paralelo. A objetiva, através de dispositivos
óticos que podem ser espelhos curvos ou lentes, desvia este feixe de luz paralelo que
incide sobre ela. O plano focal é onde o feixe incidente na objetiva é concentrado. O
objetivo é que os raios paralelos de cada direção, que passem na objetiva, se concentrem
num ponto do plano focal associado a esta direção (ver Figura 1(b)). No plano focal é
colocado o dispositivo que contém o detector.

À objetiva e ao plano focal estão associados dois dos principais parâmetro de um


telescópio. São eles o diâmetro da objetiva D e a distância focal F (distância entre objetiva
e o plano focal).

Figura 2.1 – Esquema geral de um telescópio. As linhas segmentadas


representam a direção dos raios luminosos de uma determinada estrela. Eles
vêm paralelos da estrela, são concentrados pela objetiva, convergindo no
plano focal, onde fica o detector. Assim, toda a luz que chega à objetiva, vinda
de uma dada direção, é dirigida para um único ponto no plano focal.

Cabe observar que existem dois tipos de telescópio, os refratores que têm uma lente na
objetiva que, ao ser atravessada pelos raios de luz, faz com que mudem a direção, e os
refletores que têm a objetiva constituída de um espelho côncavo que reflete os raios de
luz mudando a sua direção. Na realidade os telescópios têm várias lentes e vários
espelhos.
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Deve-se observar que nos telescópios refletores (ver Figura 2.2), isto é, munidos de
espelhos na objetiva, diferentemente do diagrama acima, a luz incidente e o detector
podem se encontrar do mesmo lado da objetiva que, neste caso, tem como elemento mais
importante, este espelho que é chamado de espelho primário do refletor. O plano focal
fica na posição onde os raios de luz paralelos convergem. Portanto, a Figura 2.1 nos dá
apenas um esquema básico, mas bastante útil, do funcionamento de um telescópio.

Os telescópios refletores têm vários elementos na frente do espelho principal, sejam


espelhos chamados secundários, sejam detectores. Além destes elementos obstruírem
parte da luz que chega ao telescópio eles têm que ser sustentados por suportes que por
sua vez também obstruem raios luminosos.

Refletor

Figura 2.2 – Esquemas dos dois tipos de telescópios existentes, o refrator acima e o
refletor abaixo. No caso de refrator a objetiva é definida pela lente e para o refletor pelo
espelho côncavo. O plano focal está no ponto onde os raios convergem antes das
oculares. Os detectores são colocados no plano focal e caso sejam colocados além deste
plano, como o olho humano no caso das figuras, torna-se necessário que seja adicionada
alguma ótica.
Cabe observar que existem várias variantes para o refletor dependendo do caminho feito
pela luz para chegar ao plano focal. Na Figura 2.3 estes vários tipos de telescópios
refratores são mostrados. (Astronomia & Astrofísica K. de Oliveira e M.F. Saraiva, LF
EDITORAL)
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Figura 2.3 – Na figura superior temos 4 tipos de telescópios refletores que tem
suas denominações ligadas a situação do plano focal do espelho côncavo que é
o espelho principal ou primário e que define o diâmetro da objetiva. No
telescópio de foco Primário, o plano focal fica no foco do espelho primário. No
telescópio de foco Newtoniano, um espelho plano, chamado espelho secundário,
desvia a luz captada pelo espelho primário para fora do tubo do telescópio onde
fica o plano focal. No telescópio Cassegrin um espelho convexo faz a luz retornar
na direção de um orifício do espelho primário, atrás do qual fica o plano focal.
No telescópio Coudé existem mais dois espelhos além do principal, sendo um
convexo e outro plano e o foco desta combinação fica externo ao telescópio. Neste
caso outros espelhos podem dirigir o feixe captado pelo espelho primário para
um detector que fica fixo independente do movimento feito pelo telescópio.
Na figura inferior tem-se o foco Nasmyth onde, como no Coudé, há um espelho
convexo e um plano. Ele é usado nos telescópios modernos de montagem
autoazimutal. (Ver Seção 5)
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2.1 OBJETIVA E ABERTURA

A objetiva é composta de um conjunto de espelhos curvos (ou lentes) que refletem (ou
desviam por refração) os raios de luz, dirigindo estes raios para uma região bem
determinada, que é o plano focal. Os telescópios que têm a objetivas constituídas por
espelhos são os refletores, ou mantêm a denominação de telescópios. Os telescópios cujas
objetivas são formadas por lentes são denominados refratores ou lunetas.

A área da objetiva, que recebe a luz, é a área do coletor de luz e é esta área que define a
capacidade do telescópio de coletar fótons. Esta capacidade é o fator essencial para se
determinar a energia luminosa que chega ao detector e, portanto, a sua capacidade de
registrar a informação do astro observado que pode ser obtida. A abertura de um
telescópio é o diâmetro (D) da objetiva. Como elas são, em sua grande maioria circulares,
a relação entre a abertura e a área coletora (A) é dada simplesmente pela área do círculo
que delimita a objetiva, ou seja,

𝜋𝜋 𝐷𝐷2
𝐴𝐴 = (2.1.1)
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No caso dos refletores, a área realmente aproveitada é um pouco menor do que a dada
pelo diâmetro da objetiva, pois existem dispositivos que obstruem parte da luz que chega
à objetiva (ver Figura 2.3). Estes dispositivos são os espelhos secundários. Eles podem
obstruir até, aproximadamente, 10% da área total da objetiva.

Na Tabela 2.1.1, apresentamos uma lista de telescópios e usando a relação (2.1.1),


relacionamos as suas aberturas com a área coletora. Para os refletores, não foi subtraída
a área obstruída.

Tabela 2.1.1 – Lista de alguns telescópios com abertura e área coletora


correspondente. Os telescópios citados existem no Brasil ou estão liga-
dos a projetos nos quais o Brasil tem participação (via LNA).
COLETOR ABERTURA ÁREA
(D) (cm) (A=π.D2/4)(cm2)
Olho* 0,6 0.28
Luneta (OV) 32 804
Luneta (ON) 46 1 662
Telescópio (LNA) 60 2 827
Telescópio (LNA) 160 20 106
Telescópio SOAR 400 125 664
Telescópio GEMINI 800 502 655
*Este é o diâmetro médio da pupila do olho humano, adaptada no escuro.

A abertura é que determina a energia ou, de forma equivalente, o número de fótons


recebidos. Isto, na realidade, não ocorre rigorosamente nem para os refratores, pois a luz
tem de atravessar as lentes que absorvem parte dos fótons, nem para os refletores, onde
existem obstruções devido aos espelhos secundários. No caso dos refratores, acontece
ainda que a absorção dos fótons pelas lentes é tanto maior quanto maior for a abertura
pois, por razões mecânicas, as lentes maiores devem ser mais grossas e, portanto,
absorvem mais luz.
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A luz de uma estrela, que é recebida como um feixe paralelo, é definida pelo fluxo de
radiação Fl que recebemos dela. Portanto trata-se da quantidade de energia por unidade
de área, por unidade de tempo e por unidade de comprimento de onda, recebida. Pode-se
interpretar este fluxo como a quantidade de fótons, de um feixe paralelo, recebida por
unidade de área e por unidade de tempo e por unidade de comprimento de onda. Outra
forma de medir este fluxo é a magnitude m da estrela. Ela é definida, a partir do fluxo,
pela relação

𝑚𝑚 = 𝑚𝑚0 − 2,5 log 𝐹𝐹𝐹𝐹 (2.1.2)

Onde m0 é uma constante de escala da magnitude.

Os gráficos da Figura 2.1.1 mostram a relação entre fluxo e magnitude dada pela equação
(2.1.2).

Fluxo x Magnitude log (Fluxo) x Magnitude


6.0 6.0
5.5 5.5
5.0 5.0
4.5 4.5
4.0 4.0
3.5 3.5
3.0 3.0
magnitude

magnitude

2.5 2.5
2.0 2.0
1.5 1.5
1.0 1.0
0.5 0.5
0.0 0.0
-0.5 -0.5
-1.0 -1.0
-1.5 -1.5
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0.01 0.1 1 10
fluxo fluxo

Figura 2.1.1 – Os gráficos relacionam o fluxo e a magnitude de acordo com a


relação (2.1.2). No gráfico da direita temos o mesmo que no da esquerda, mas sendo
o eixo dos fluxos dado em escala logarítmica. Note-se o rápido crescimento da
magnitude com o decréscimo do fluxo. Observe que no gráfico da direita os valores
dos pequenos fluxos podem ser vistos mais claramente. Observe ainda que o valor
do fluxo igual a 1 corresponde a magnitude 1 e o do fluxo igual a 0.01 corresponde
a magnitude 6, sendo portanto 100 vezes menor. Vale ainda acrescentar que os
valores numéricos dos fluxos, definidos em dadas unidades físicas, correspondem
aos valores dos gráficos multiplicados por constantes. Os valores destas constantes
estão ligados a constante m0 de (2.1.2).

Para um telescópio de abertura D, o número de fótons N coletados da luz proveniente de


uma estrela num intervalo de tempo Δt, e encaminhados a um ponto particular do plano
focal, é proporcional ao fluxo Fl multiplicado pela área do coletor A (com A=πD2/4) e
pelo intervalo de tempo de coleta Δt, e portanto N/(Fl D2 Δt)=constante. Temos então,
para um telescópio de abertura D, que

𝑁𝑁
𝐹𝐹𝐹𝐹 = 𝑘𝑘 (2.1.3)
∆𝑡𝑡 𝐷𝐷2

onde k é uma constante de escala que relaciona número de fótons com escala de energia.

Então de (2.1.2) e (2.1.3) tem-se


10

𝑁𝑁
𝑚𝑚 = 𝑚𝑚0 − 2,5 𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙 �𝑘𝑘 � (2.1.4)
𝐷𝐷2 ∆𝑡𝑡
ou

𝑚𝑚 = 𝑚𝑚0 − 2,5 log 𝑘𝑘 − 2,5 log 𝑁𝑁 + 5 log 𝐷𝐷 + 2,5 log ∆𝑡𝑡 (2.1.5)

Consideramos agora duas estrelas de magnitudes m1 e m2 observadas respectivamente por


telescópios de aberturas D1 e D2 por intervalos de tempo Δt1 e Δt2 sendo o número de
fótons coletados num ponto do plano focal por cada um deles dados por N1 e N2. Temos
então que

𝑚𝑚1 − 𝑚𝑚2 = −2,5 log 𝑁𝑁1 + 2,5 log 𝑁𝑁2 + 5 log 𝐷𝐷1 − 5 log 𝐷𝐷2 + 2,5 log ∆𝑡𝑡1 − 2,5 log ∆𝑡𝑡2
(2.1.6)
ou

𝑁𝑁1 𝐷𝐷1 ∆𝑡𝑡1


𝑚𝑚1 − 𝑚𝑚2 = −2,5 log + 5 log + 2,5 log (2.1.7)
𝑁𝑁2 𝐷𝐷2 ∆𝑡𝑡2

A relação (2.1.7) permite comparar as diferentes condições de observação.

Para a mesma magnitude (m1 = m2) e mesmo tempo de exposição (Δt1 = Δt2), o número
de fótons (N1 e N2) recebidos no plano focal por dois telescópios diferentes de abertura
(D1 e D2), é dado por:

𝑁𝑁1 𝐷𝐷1 𝐷𝐷1 2


0 = −2,5 log + 5 log ⟹ 𝑁𝑁1 = 𝑁𝑁2 � � (2.1.8)
𝑁𝑁2 𝐷𝐷2 𝐷𝐷2

Para a mesma magnitude (m1 = m2) e mesma abertura (D1 = D2), o número de fótons
recebidos (N1 e N2) no plano focal para dois diferentes tempos de exposição (Δt1, Δt2) é
dado por

𝑁𝑁1 Δ𝑡𝑡1 Δ𝑡𝑡1


0 = −2,5 log + 2.5 log ⟹ 𝑁𝑁1 = 𝑁𝑁2 (2.1.9)
𝑁𝑁2 Δ𝑡𝑡2 Δ𝑡𝑡2

Assim, como era de se esperar a número de fótons recebidos no plano focal aumenta com
o quadrado do diâmetro e linearmente com o tempo de exposição.

Para duas magnitudes diferentes (m1 e m2) e para receber o mesmo número de fótons
(N1 = N2) no plano focal de dois telescópios, considerando o mesmo tempo de exposição
(Δt1 = Δt2), devemos ter a relação entre as aberturas (D1 e D2) dada por

𝐷𝐷1 𝑚𝑚1 −𝑚𝑚2


𝑚𝑚1 − 𝑚𝑚2 = 5 log ⟹ 𝐷𝐷1 = 𝐷𝐷2 10 5 = 1,58(𝑚𝑚1 −𝑚𝑚2) 𝐷𝐷2 (2.1.10)
𝐷𝐷2

Notamos que um aumento de 10 vezes no diâmetro da objetiva, corresponde ao aumento


de 5 magnitudes para que o detector receba a mesma energia. É claro que, nesta avaliação,
nenhum efeito de absorção pelas partes óticas do telescópio está sendo considerada. Para
termos uma ideia de ordem de grandeza, considere que a olho nu, as estrelas mais fracas
que conseguimos enxergar são, em geral, as de magnitude 6. Como, para o olho humano,
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o diâmetro da pupila, no escuro, é de 0,6 cm, temos, aplicando (2.1.10), que com um
pequeno telescópio de 6 cm de diâmetro conseguimos enxergar estrelas com magnitude
11, e com um de 60 cm, estrelas de magnitude 16. Para observar a olho nu uma estrela de
magnitude 20, deve-se ter uma abertura de 432 cm (=1,614x0,6). Isto mostra que o olho é
um detector astronômico bem limitado (ver Figura 2.1.2), não só pelo fato de não
armazenar nem quantificar as imagens.

Por outro lado, se os dois telescópios de aberturas D1 e D2, em imagens feitas com o
mesmo tempo de exposição Δt, recebem o mesmo número de fótons, isto é, N1=N2, pode-
se concluir de (2.1.10) que para se ganhar uma magnitude, para a mesma quantidade de
energia recebida pelo detector, deve-se ter o diâmetro aumentado de um fator igual a 1,58.
Em outras palavras, mantendo as mesmas condições de detecção (mesmo número de
fótons), se observamos objetos com magnitude m2 = m com o telescópio cuja abertura é
D2, para observar objetos com magnitude m1 = m+1, devemos usar um telescópio de
abertura D1 igual a 1,58 D2.

Uma forma de aumentar o número de fótons coletado é aumentar o tempo de exposição.

Para duas magnitudes diferentes (m1 e m2) e para receber o mesmo número de fótons (N1
= N2) no plano focal de dois telescópios, considerando o mesmo diâmetro (D1 = D2)
devemos ter a relação entre os tempos de exposição (Δt1 e Δt2) dados por

Δ𝑡𝑡1 𝑚𝑚1 −𝑚𝑚2


𝑚𝑚1 − 𝑚𝑚2 = 2.5 log ⟹ Δ𝑡𝑡1 = Δ𝑡𝑡2 10 2.5 = 2,51(𝑚𝑚1 −𝑚𝑚2) Δ𝑡𝑡2 (2.1.11)
Δ𝑡𝑡2

Assim, para se ganhar uma magnitude deve-se multiplicar o tempo de exposição por um
fator igual a 2,51 (≈100,4) e para ganhar 2,5 magnitudes o tempo de exposição deve ser
multiplicado por 10.

Devemos observar que, o tempo de exposição não pode ser aumentado indefinidamente.
No caso dos CCDs, isto ocorre porque os raios cósmicos, que durante o tempo de
exposição atingem o detector em grande quantidade, fazem com que apareçam inúmeros
pixels saturados, sendo este número tanto maior quanto maior o tempo de exposição. O
que ocorre é que, sendo a energia de cada raio cósmico muito grande, apenas um deles é
suficiente para fazer com que o pixel que atinge registre esta grande energia chegando ao
nível de saturação. Este processo faz que uns poucos pixels vizinhos também apresentem
contagens elevadas. Quando o número de raios cósmicos registrados é muito grande, as
informações provenientes dos objetos que estão sendo observados podem ser seriamente
prejudicadas. O número de raios cósmicos, que atinge o detector, depende da altitude.
Para uma altitude de 2300 metros, tem-se aproximadamente uma taxa de 2,2 raios
cósmicos por centímetro quadrado por minuto. Por isso o tempo de exposição máximo
aceitável é da ordem de alguns minutos. Quando desejamos tempos de exposição
superiores, somamos inúmeras exposições mais curtas dos mesmos objetos. Para isso,
eliminamos, em cada imagem, os pixels que estão saturados por raios cósmicos e
somamos então as imagens assim tratadas.
12

Magnitudes limites visíveis a olho nú


em função do diâmetro do coletor
24

22

20 LNA GEMINI
18 SOAR
LNA
ON
16 OV
magnitude

14

12

10

4
1 10 100 1000
diâmetro (cm)

Figura 2.1.2 – Relação entre o diâmetro e magnitudes, visíveis a olho, de acordo com a
fórmula (2.1.10). No gráfico, estão assinalados os pontos correspondentes aos telescópios
listados na Tabela 2.1.1. Observe que a escala do eixo dos diâmetros é logarítmica. O olho
nu corresponde ao ponto (6) da linha, na esquerda do gráfico.
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2.2 PLANO FOCAL E DISTÂNCIA FOCAL

O outro parâmetro essencial de um telescópio é a sua distância focal (F) (ver Figura
2.2.1). Através dela sabemos a posição relativa de dois objetos, observados
simultaneamente, no plano focal.

Como os raios luminosos chegam à objetiva como feixes paralelos, o que observamos da
maioria dos astros são apenas as suas direções, ou seja, a sua posição angular em relação
a um sistema de referência, na esfera celeste. Estas direções são representadas, no plano
focal, por distâncias lineares d, como mostra a Figura 2.2.1.

Figura 2.2.1 – Formação das imagens no plano focal. As linhas segmentadas


paralelas correspondem aos raios provenientes de uma mesma estrela. Estes
raios são desviados pelo sistema ótico da objetiva e concentrados, para cada
estrela, num mesmo ponto do plano focal. Observe que os raios que passam
pelo centro da objetiva não são desviados. Isto acontece porque se o dispositivo
ótico da objetiva é uma lente, particularmente neste ponto, as superfícies
interna e externa são essencialmente paralelas e no caso de espelhos
corresponde a um espelho plano perpendicular ao eixo do telescópio. O ângulo
(α), entre os raios que passam pelo centro da objetiva, é o ângulo que separa
os dois astros considerados no céu. O triângulo formado pelos dois raios
centrais e a sua distância no plano focal, permite calcular a relação entre o
ângulo que separa os astros (α) e sua distância no plano focal (d).

Para obter a relação entre as distâncias angulares e lineares, consideramos dois feixes de
raios paralelos provenientes de dois astros situados em duas direções diferentes que fazem
entre si um ângulo α. Eles são desviados, pelo sistema ótico da objetiva, para duas
posições diferentes do plano focal. Na Figura 2.2.1, podemos verificar, usando
propriedades elementares do triângulo retângulo, que a distância d destes dois astros no
plano focal é dada por

𝑑𝑑 = 𝐹𝐹 tan 𝛼𝛼 ≈ 𝐹𝐹 𝛼𝛼 (2.2.1)
14

A segunda igualdade decorre do fato de que os ângulos são muito pequenos (α < 1o).
Devido a esta aproximação devemos tomar α, nesta segunda igualdade, em radianos. Esta
expressão mostra que a distância focal F é o fator de proporcionalidade que transforma a
diferença de direção entre dois astros em distâncias lineares no plano focal. A unidade de
distância no plano focal é, evidentemente, a mesma da distância focal.

A resolução de um telescópio é dada pela escala de placa (e.p.) que é o ângulo


correspondente a unidade de distância no plano focal. Ela é definida em segundos de arco
por milímetro, e é relacionada ao plano focal pela relação

′′ 1′′ 1′′ 206 265′′


𝑒𝑒. 𝑝𝑝. � �= = = (2.2.2)
𝑚𝑚𝑚𝑚 𝑑𝑑(𝑒𝑒𝑒𝑒 𝑚𝑚𝑚𝑚, 𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐. 𝑎𝑎 1′′) 𝐹𝐹(𝑚𝑚𝑚𝑚) × tan 1′′ 𝐹𝐹(𝑚𝑚𝑚𝑚)

Onde 206 265” é o valor de 1 radiano em segundos de arco (= 1 / tan 1’’).

Como exemplo, considere o telescópio de 1.6 metros do Laboratório Nacional de


Astrofísica (LNA), tem-se F = 16 m → d(1”) ≈ 0.08 mm → e.p. ≈ 13”/mm.

Cabe observar que não tem sentido falar em aumento de um telescópio, a não ser quando
se coloca no plano focal uma ocular (na realidade ela é colocada atrás do plano focal). A
ocular funciona como um telescópio ao inverso, ou seja, transforma os feixes de raios
divergentes que estão atrás do plano focal em feixes paralelos. Ao entrarem no olho,
focalizado para o infinito, estes raios de luz voltam a mostrar o ângulo entre dois astros,
mas aumentado pelo conjunto formado pelo telescópio e ocular. Sendo β o ângulo entre
os feixes paralelos de saída da ocular, visto pelo observador, entre dois astros que distam
de um ângulo α, podemos mostrar que (Exercício 4):

𝐹𝐹
𝛽𝛽 = 𝛼𝛼 (2.2.3)
𝑓𝑓

onde F e f são respectivamente as distâncias focais do telescópio e da ocular.

𝐹𝐹
A razão é o aumento do sistema telescópio/ocular. Podemos observar então que, para
𝑓𝑓
um dado telescópio, quanto menor f em relação a F, maior será o aumento.

No entanto, existem limitações para os valores aceitáveis de f. Para o valor mínimo, ela é
ditada pelo poder de resolução do olho humano que é no máximo igual a 1’, pela área da
pupila que é de 6 mm, pela ótica do sistema e pela figura de difração (que será vista mais
𝐹𝐹
adiante). Podemos mostrar que 𝑓𝑓𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚 = 2 onde D é a abertura do telescópio. O valor
𝐷𝐷
máximo de f é ditado por restrições devido a ótica do sistema telescópio e ocular
𝐹𝐹
juntamente com a área da pupila. Temos que 𝑓𝑓𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚 = 6 . Observe que os aumentos
𝐷𝐷
máximo e mínimo dependem somente de D.

Para observações com detectores, não são usadas oculares e portanto, o conceito de
aumento não tem importância. Neste caso interessa a resolução do telescópio e o tamanho
do elemento mínimo do detector (pixel) que soma as informações dos fótons que nele
chegam. Cada pixel constitui-se num elemento independente, com informações da
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imagem. Isto é, dentro de um mesmo pixel não se distinguem informações de pontos


diferentes da imagem. Uma vez que se tem uma matriz com vários pixels, reconstruímos
a imagem do tamanho que for conveniente. No entanto, uma ampliação excessiva fará
com que os pixels apareçam sem adicionar nenhuma nova informação da imagem. Nos
detectores CCD os pixels são, em geral quadrados que variam de 9µm a 30µm. No caso
do olho, o pixel é dado, essencialmente, pelo tamanho da parte receptora das células da
retina que é de menos de 1 micrômetro na sua parte central.

De qualquer forma, o problema de resolução de uma imagem é bastante complexo e


depende de vários fatores, como veremos adiante. Podemos adiantar que alguns destes
fatores são: a figura de difração da objetiva decorrente da natureza ondulatória da luz, as
imperfeições da ótica do telescópio e suas variações com a posição do telescópio e com
o tempo, a turbulência da atmosfera assim como os seus efeitos seletivos.

A região do plano focal, onde a imagem mantém boa qualidade ótica, é o campo do
telescópio. As dimensões do campo são dadas em unidades angulares. Em geral, estes
campos têm menos do que 1o de lado. Esta limitação é dada pela dificuldade de se fazer
uma ótica para a objetiva que tenha as qualidades requeridas pela Astronomia atual em
todo o campo do telescópio. Além disso, os detectores CCDs são pequenos e mesmo,
quando combinados em mosaicos, não atingem grandes dimensões devido ao seu custo,
à problemas técnicos envolvendo o funcionamento simultâneo e coerente de um grande
número de CCDs, ou ainda à qualidade da imagem quando distante do centro do plano
focal.

Colocar o detector no plano focal é essencial para que todos os raios paralelos
provenientes de uma fonte de luz venham a incidir no mesmo ponto do detector, ou seja,
é essencial para que a imagem seja focalizada. Esta operação consiste na focalização do
telescópio. Na prática, a focalização é feita de forma que a imagem de uma estrela seja a
menor possível. Em outras palavras, medimos o tamanho da imagem da estrela para várias
posições consecutivas do detector na direção do eixo do telescópio e escolhemos a menor
imagem. A estrela escolhida deve satisfazer a certos requisitos como não estar saturada
(isto é, a contagem de fótons em qualquer dos pixels não deve ter atingido a contagem
máxima do detector), nem ser muito fraca. A existência de uma menor imagem se deve a
efeitos de difração que são inerentes a todo telescópio (ver próxima seção) e, no caso de
telescópios na superfície da Terra, um fator essencial, é a turbulência local da atmosfera.

Existem outros processos mais precisos de se focalizar um telescópio. No entanto, com


detectores como CCD, o método descrito acima é o mais usado, devido a sua simplicidade
e a rapidez com que se consegue a focalização.

É importante assinalar que as pequenas variações dos elementos do telescópio durante a


noite, devido a variações de temperatura e às flexões que dependem do apontamento do
telescópio, exigem que a focalização seja repetida por várias vezes numa noite de
observação.
16

3. IMAGEM DE DIFRAÇÃO (ver mais detalhes no Apêndice –


Formação de Imagem)

Considerando apenas a ótica geométrica, como na seção anterior, temos que a imagem
formada a partir de um feixe de raios de luz paralelos, deveria ser pontual, e portanto,
ocupar um único pixel do detector. No entanto, a radiação eletromagnética tem
características ondulatórias que fazem com que a luz, que atinge o plano focal proveniente
de um objeto distante, se espalhe.

De fato, sendo a objetiva finita, os raios de luz que atravessam a objetiva interferem entre
eles de forma que esta interferência das ondas luminosas causa efeitos construtivos e
destrutivos. O resultado final é uma figura de interferência. Isto faz com que a imagem
de cada estrela não seja pontual, mas uma imagem de difração da objetiva do telescópio.
O cálculo desta imagem é relativamente simples e pode ser feito usando resultados
básicos de ótica ondulatória. Aqui, apresentaremos apenas o resultado final, sem nos
preocuparmos com o seu cálculo (que é apresentado no Apêndice citado). Este perfil é
mostrado na Figura 3.1.

Figura 3.1 – Perfil da imagem de difração de uma


estrela. O círculo central (disco de Airy), onde está
concentrado aproximadamente 84% da luz, tem o seu
tamanho dependente do comprimento de onda (λ) e do
diâmetro do telescópio (D).
17

Na figura, o pico central contém 83,8% do total da energia e, os tamanhos dos círculos
de difração, em grandezas angulares, dependem do comprimento de onda λ da luz da
estrela e do diâmetro D da objetiva do telescópio. Portanto, mesmo em condições ideais,
como para um telescópio fora da atmosfera, a imagem de uma estrela não é pontual, mas
sim uma figura de difração. O raio do pico central, ou seja as distâncias entre o seu
máximo e os mínimo de cada lado (ver Figura 3.1) é o poder de resolução do telescópio
e é dado, em segundos de arco, pela relação:
𝜆𝜆
𝑎𝑎(′′) = 1,22 × 206265 (3.1)
𝐷𝐷

onde valor 206265 transforma o ângulo, de radianos para segundo de arco, ou seja é dado
pelo número de segundos de arcoque tem num radiano).

Observe que o poder de resolução é tanto melhor quanto menor o seu valor. Ele é,
portanto, melhor para maiores aberturas e menores comprimentos de onda.

Para calcularmos o poder de resolução em unidades de distância, basta tomar o seu valor
em radianos e multiplicar pela distância focal F (ver 2.2.1). Então:

𝐹𝐹
𝑎𝑎(𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑) = 1,22 𝜆𝜆 (3.2)
𝐷𝐷

Para λ= 0,55 µm (5 500 Å), comprimento de onda médio da luz na faixa ótica, tem-se

a(”) = 14/D (D em cm); a(µm) = 0,67 fo

onde fo = F/D é a focal do telescópio. Observe que a nomenclatura usual para focal é, por
exemplo, f/10 onde 10 é o valor da focal do telescópio.

Para λ= 0,55 µm, tem-se então

D = 60 cm → a = 0”,23
Se a focal for (f/10) então a = 6,7 µm.
D = 160 cm → a = 0”,09

Observe que a contribuição da difração, em termos de distância métrica, depende apenas


do comprimento de onda, sendo, portanto, constante para o mesmo λ em telescópios de
mesma focal. E, em termos do tamanho da imagem no plano focal, ela é menor do que o
pixel dos CCDs para uma focal f/10 e comprimento de onda médio da faixa ótica.
Obviamente, se a focal aumenta o tamanho da imagem aumenta e vice-versa.

Por outro lado, em relação à difração, quanto maior a abertura, maior será a capacidade
do telescópio de separar dois objetos próximos, pois suas imagens serão menores. No
entanto, esta capacidade de separação deve ser vista com cautela, pois ela se refere
somente à figura de difração. Portanto, ela não leva em conta o espalhamento dos fótons
pela atmosfera que, apesar de ser um problema independente do telescópio e variável, é
o fator que mais restringe a possibilidade de separar duas imagens próximas, na prática.
18

Sendo a imagem de difração da objetiva, uma imagem real, qualquer objeto existente na
frente da objetiva dá origem a sua imagem de difração também no plano focal. Este é o
caso do espelho secundário, que nos telescópios de maior porte se encontram suspensos
na parte da frente do telescópio (a pupila) e ali mantidos por suportes que o prendem ao
tubo do telescópio (ver Figura 2.3). A figura de difração do espelho secundário não
apresenta problemas. Ela não modifica essencialmente a imagem da objetiva pois é a ela
similar. No entanto os suportes do espelho secundário têm as suas imagens de difração
no plano focal e como, em geral, eles têm forma de cruz, a sua imagem também terá.
Como esta imagem é muito fraca, ela se destaca somente para os objetos brilhantes e é
chamada cruz de difração. Na Figura 3.2 podemos ver uma imagem de uma pequena
região do céu onde aparecem as cruzes de difração para as estrelas mais brilhantes.

Figura 3.2 - Cruzes de difração que aparecem nas estrelas


brilhantes para imagens feitas com um telescópio que tem
um objeto suspenso por suportes na frente da objetiva (no
caso, um chassi onde é colocado o detector).

O fato da cruz de difração ser tão evidente se deve aos mesmos efeitos atmosféricos que
fazem com que a imagem real não seja a de difração, mas o seu espalhamento devido à
turbulência da atmosfera. Este espalhamento será tratado na próxima seção.
19

4. TURBULÊNCIA DA ATMOSFERA
As imagens das estrelas, no caso de observações na superfície da Terra, são muito
diferentes das esperadas pelas previsões das óticas geométrica e ondulatória. Isto é uma
decorrência da existência de uma atmosfera que deve ser atravessada pela luz dos astros
antes desta luz chegar à objetiva do telescópio. O que ocorre essencialmente é que a
atmosfera apresenta variações locais de temperatura, que estão associadas ao seu
movimento (turbulência atmosférica), apresentando assim densidades diferentes e
variáveis. Ao atravessar camadas de ar de diferentes densidades, a luz é refratada de forma
diferente e a direção dos raios varia. Além disso, a direção da superfície entre camadas
de densidades diferentes varia, o que é outro fator importante para o desvio diferenciado
dos raios de luz. Como resultado deste efeito, os fótons provenientes de uma fonte
qualquer são espalhados (veja um diagrama do que se passa na atmosfera na Figura 4.1).

Figura 4.1 – Estrutura da atmosfera e efeitos óticos resultantes no solo. As curvas


concentradas dão uma ideia dos movimentos de convecção locais onde o ar
circula subindo quando se aquece e depois descendo quando esfria.

O efeito da atmosfera dá como resultado, um aumento da imagem que é chamado de


“seeing”, e é usado como um parâmetro quantitativo da qualidade da imagem.

Se a duração da observação é muito maior do que o tempo característico das pequenas


perturbações atmosféricas, isto é, da ordem de uma centena de segundos. O seeing é dado
pela relação:

𝜆𝜆
𝑠𝑠(′′) = 206 265 (4.1)
𝑟𝑟0

Como r0(cm) varia aproximadamente de 15 a 5, durante a noite, para λ = 0,55 µm, então
s varia aproximadamente entre 0”,8 e 2”,2. Mas r0 varia entre 2 e 1, durante o dia, logo s
varia entre 5”,6 e 11”,3.
20

Um seeing menor do que 2” pode ser considerado bom e quando da ordem de 1” ou


menor excelente. Por outro lado, seeings da ordem de 3” ou maiores, são considerados
muito ruins.

Como o efeito do espalhamento da figura de difração é aleatório, a forma final da imagem


é aproximadamente uma gaussiana bidimensional. Na prática, o valor do seeing nesta
curva é dado pela sua largura, no ponto médio da altura máxima. Esta largura é a mesma
para todas as estrelas numa mesma imagem, independente da altura da gaussiana, pois o
efeito local de espalhamento é o mesmo para a pequena região do céu que corresponde a
uma dada imagem. A gaussiana é dada por

(𝑥𝑥 − 𝑥𝑥0 )2 + (𝑦𝑦 − 𝑦𝑦0 )2


𝑧𝑧 = 𝐴𝐴 exp �− � (4.2)
2 𝜎𝜎 2

onde A é a altura da gaussiana, x0 e y0 são as coordenadas do seu centro no plano, e σ2 é


a sua variância. A Figura 4.2 representa uma gaussiana com A =1, (𝑥𝑥 − 𝑥𝑥0 )2 +
(𝑦𝑦 − 𝑦𝑦0 )2 = 𝑥𝑥, 2 𝜎𝜎 2 = 1, ou seja, σ = 0,707.

2
Figura 4.2 – Imagem da gaussiana 𝑦𝑦 = 𝑒𝑒 −𝑥𝑥

Fazendo em (4.2) (𝑥𝑥 − 𝑥𝑥0 )2 + (𝑦𝑦 − 𝑦𝑦0 )2 = ∆𝑟𝑟 2 t em-se

∆𝑟𝑟 2 𝐴𝐴
𝑧𝑧 = 𝐴𝐴 exp �− � ⟹ Δ𝑟𝑟 (𝑧𝑧) = 𝜎𝜎�2 𝑙𝑙𝑙𝑙 (4.3)
2 𝜎𝜎 2 𝑧𝑧

Considerando a imagem como uma gaussiana, o seeing está relacionado ao σ da gaussiana


e é facilmente obtido calculando a largura da gaussiana unidimensional no ponto
correspondente a z = A/2. Seu valor é

seeing = 2,355 σ (4.4)


21

Observe que quando olhamos uma imagem como a da Figura 3.2 as estrelas têm
tamanhos diferentes. Isto ocorre porque o que vemos numa imagem é, para cada estrela,
a área correspondente à intersecção de um plano horizontal com a gaussiana
correspondente à estrela. Assim, como todas as gaussianas têm a mesma variância, as
mais altas apresentam os círculos das intersecções com maior raio do que as mais baixas
como pode ser visto na relação (4.3). Cabe observar ainda que a escolha da altura do plano
paralelo é feita por quem quer visualizar a imagem. A escolha da altura deste plano é o
que chamamos de escolha do contraste. Observe que que se a escolha de contraste for
maior do que a altura A da gaussiana de uma estrela, ela não pode ser vista.

Ligado à qualidade de imagem estão as características do local onde o telescópio está


instalado (qualidade do sítio). Como a turbulência da atmosfera é menor nos locais altos,
principalmente em forma de pico, estes locais são escolhidos para instalação dos grandes
telescópios. Uma série de condições meteorológicas é considerada ainda para a escolha
do local de um observatório. Um fator importante é o regime de circulação de ar nas
proximidades do local onde se encontra o telescópio. Por isso, a escolha do local onde
será instalado um observatório deve levar em conta a topografia local assim como os
regimes de vento na vizinhança do observatório. A procura de um local com condições
meteorológicas adequadas para a instalação de um observatório é chamada escolha de
sítio.

Outro fator importante que influencia o seeing é a turbulência, próxima ao telescópio,


devida a diferença de temperatura entre o solo e o ar, ou ainda, entre ar dentro e fora da
cúpula. Portanto, uma iniciativa importante para minimizar o seeing é a criação de
condições para que as temperaturas interna e externa sejam iguais.

Para melhorar a qualidade de imagem de um telescópio, começamos hoje a usar a ótica


adaptativa. Ela consiste num sistema mecânico que modifica, a forma de um dos espelhos
que refletem a luz que chega ao detector, a cada instante da observação, para compensar
a distorção da frente de onda, feita pela atmosfera. Estes sistemas, no entanto, são ainda
muito caros e encontrados apenas nos grandes telescópios.
22

5. TIPOS DE TELESCÓPIO
Visando uma melhora constante da qualidade de imagem e tirando partido dos avanços
da tecnologia, uma série de tipos de telescópios refletores foram desenvolvidos através
dos tempos. Podemos citar:
- o telescópio de Newton (século 17) que tinha espelho esférico e secundário plano;
- o telescópio de Cassegrain (século 17) que tinha espelho parabólico e o secundário
convergente;
- o telescópio de Cassegrain com modificação de Ritchey-Chrétien (século 20) que
introduziu correções na forma dos espelhos, para remover distorções da imagem;
- o telescópio de Coudé (século 20) que introduziu um foco longo, no qual o detetor
fica fixo e que foi muito útil para a espectroscopia de alta resolução;
- o telescópio de Schmidt que tem uma lente especial além do espelho que permitiu que
se tivesse qualidade de imagem para áreas grandes do céu (vários graus), e que foram
usadas para fazer os antigos levantamentos do céu tendo como detectores placas
fotográficas (Figura 5.2);
- os telescópios de última geração que apresentam, cada vez mais, maiores inovações
sendo difícil classificá-los de uma forma simplificada.

Figura 5.1 – Esquema de um telescópio com focos Primário


e Newtoniano acima, Cassegrain atrás do espelho primário,
e Coudé em baixo a esquerda. Ver também Figura 5.3).

Em alguns telescópios podemos encontrar mais de um tipo de foco, correspondentes a


telescópios diferentes listados acima (Figura 5.1).
23

Uma das inovações, que começa a parecer nos grandes telescópios atuais, é a ótica ativa.
Ela consiste num mecanismo que corrige as deformações, do espelho principal,
resultantes das tensões causadas pelas suas posições que dependem da direção observada.

Nas Figuras 5.1 e 5.2 apresentamos os esquemas de dois tipos de telescópio.

Figura 5.2 – Esquema do telescópio de Schmidt, também chamado


Câmara Schmidt. Foi com um telescópio deste tipo que foi obtida a
imagem da Figura 3.2. No centro tem-se um suporte do detector. Os
dispositivos de sustentação deste suporte é que são responsáveis pela
cruz de difração mostrada anteriormente. À esquerda tem-se uma lente
com formato especial. Ela é responsável pela correção do campo
permitindo boa qualidade de imagem para campos de vários graus
(6ox6o). Observe que os telescópios usuais têm boa qualidade de
imagem apenas para campos pequenos, em geral, bem menores do que
(1ox1o).

Um tipo de telescópio que vem sendo usado, atualmente, para todos os grandes
telescópios modernos, é o telescópio de foco Nasmyth (ver Figura 5.3). Ele tira proveito
da capacidade da computação e eletrônica atuais para fazer o acompanhamento das
estrelas (ver Seção 6) independente da configuração dos eixos que definem os
movimentos do telescópio. Assim, estes telescópios têm uma montagem mecânica bem
mais estável, (a montagem auto-azimutal) e apresentam a vantagem dos detectores
poderem ser colocados em suportes fixos, e bem estáveis, o que permite minimizar as
deformações mecânicas tanto do telescópio quanto dos detectores durante as observações.
Por outro lado, a montagem auto-azimutal apresenta a desvantagem do telescópio não
poder passar de maneira contínua pelo zênite. Quando o objeto observado passa pelo
zênite, este problema é contornado interrompendo a observação enquanto o astro passa
nesta posição e é reiniciada depois da passagem zenital. Esta manobra faz com que algum
tempo de observação seja perdido. Outra desvantagem é que, durante qualquer
observação, o campo gira em torno do seu centro o que obriga que o detector gire para
manter a imagem fixa no plano focal. Uma forma de contornar este problema é colocar
um rotator focal que compense esta rotação. Outra forma é colocar um sistema ótico
(conjunto de espelhos) que compensem esta rotação, evitando a rotação do detector.
24

Na Figura 5.3 são mostrados em (a) e (b) esquemas de telescópios com foco Nasmyth,
onde parecem os atuadores sobre o espelho primário responsáveis por corrigir as suas
deformações e assim manter a sua forma (ótica ativa). Isto permite que os espelhos
primários sejam finos pois não necessitam ter rigidez que, de outra forma, é obtida
tornando o espelho mais espesso e consequentemente mais pesado.

(a) (b)

(c) (d)

Figura 5.3 – Na imagem (a) tem-se o esquema do telescópio Nasmyth mostrando os dois
eixos de rotação usados. Uma rotação é em relação a um eixo horizontal o que permite
a variação da inclinação em relação à vertical (movimento em altura) e a outra a
rotação ocorre em relação à um eixo vertical (movimento em azimute). Compondo estas
duas rotações o telescópio pode se mover para qualquer direção do céu visível. No
esquema da imagem (b) aparecem as plataformas onde estão os focos do telescópio e
onde ficam instalados os instrumentos. Podemos observar que estas plataformas giram
apenas em azimute, ou seja, em torno do eixo vertical. Nas imagens (c) e (d) temos
desenhos tridimensionais do telescópio indicando os locais onde se encontram os
instrumentos de detecção. Observa-se na imagem (a), abaixo do espelho primário, os
atuadores da ótica adaptativa.
25

6. ACOMPANHAMENTO

Como já foi visto, o número de fótons coletados por um telescópio pode crescer com o
aumento do tempo de exposição. Desta forma, para se obter o número de fótons
suficientes para ter a informação desejada de objetos fracos, deve-se aumentar
adequadamente o tempo de exposição. Portanto, para um dado telescópio, o tempo de
exposição é a principal forma de observar objetos fracos.

No entanto, o aumento de tempo de exposição implica na necessidade de várias


implementações no telescópio. Entre elas podemos destacar: o sistema de
acompanhamento, para compensar o movimento diurno; o movimento diferencial, para
acompanhar os movimentos de objetos móveis como planetas, asteroides e cometas; a
guiagem que permite manter a imagem dos objetos sempre na mesma posição do plano
focal uma vez que, devido a defeitos mecânicos do telescópio e a variações de longo
período da atmosfera, estas posições tendem a variar.

A mais importante destas implementações é o uso de montagens especiais. Elas devem


sustentar os telescópios de forma que o movimento diurno (movimento das estrelas no
céu noturno devido a rotação da Terra) possa ser corrigido pela rotação do telescópio em
torno de um único eixo. Este é o caso das montagens equatoriais (ver Figura 5.1).
Atualmente, no entanto, como citado na Seção 5, com a velocidade de processamento dos
computadores, utilizam-se montagens bem simples e mais baratas (montagem alto-
azimutal) e corrige-se o movimento diurno calculando, a cada instante, o movimento a
ser feito pelo telescópio em torno de dois eixos: horizontal e vertical. É interessante
lembrar, como já foi mencionado, que nas montagens alto-azimutais não é possível passar
suavemente pelo zênite.

Como já foi comentado anteriormente, o aumento do tempo de exposição não é ilimitado.


Além dos raios cósmicos, outros fatores limitantes são: a saturação de objetos brilhantes
encobrindo os objetos vizinhos, mais fracos; e o aumento do ruído devido ao brilho do
céu (brilho do fundo de céu) que, por sua vez, pode ser devido à Lua associada a condições
atmosféricas como umidade, poeira em suspensão (névoa seca) e nuvens altas que
espalham a luz.

Associada ainda ao tempo de exposição e considerando o brilho do fundo de céu, temos


a necessidade de que o local de instalação de um observatório esteja longe das regiões
urbanas e iluminadas. Como no caso da luz da Lua, a luz das cidades se difunde devido
às condições atmosféricas, em particular à umidade, e também à poeira em suspensão.
Portanto os observatórios devem estar distantes das cidades e de locais com muita
iluminação. Esta qualidade do sítio do observatório é um dos fatores essenciais e difíceis
de conseguir atualmente.
26

7. LIMITES DE OBSERVAÇÃO
Os astros têm direções aproximadamente fixas na esfera celeste, e portanto não podem
todos ser observados a todo o instante e de qualquer lugar sobre a Terra. Em particular a
latitude do telescópio (φ) determina a faixa de declinação (δ) visível. Para o hemisfério
sul temos -90o < δ < φ - 90o e para o hemisfério norte temos φ - 90o < δ < 90o. Na realidade,
a faixa de declinação, efetivamente possível de se observar, é menor, pois quando o astro
está a uma altura do horizonte menor do que 20°, a absorção da luz pela atmosfera
(extinção), a refração diferencial e a turbulência, tornam as observações de qualidade
dificilmente aceitável.

A extinção atmosférica aparece devido a grande massa de ar que a luz dos astros, a baixas
alturas, tem de atravessar. De fato, tem-se que se:
m0 - magnitude para um astro fora da atmosfera
m - magnitude observada do astro
z - distância zenital do astro no instante da observação
k - constante de extinção (depende da atmosfera no instante da observação, e da cor),

então, mostra-se que

m - m0 = k sec z. (7.1)

Para z= 0o tem-se m - m0 = k e para z= 60o, m - m0 = 2 k.

Logo podemos conseguir um rendimento máximo quando um astro é observado próximo


ao zênite.

A refração diferencial, por sua vez, aparece pelo fato da refração, dos vários
comprimentos de onda, ser diferente, o que faz com que as luzes dos astros pareçam
alongada e decompostas em várias cores. Por sua vez, a diferença da temperatura do solo
e do ar dá origem a turbulências importantes, próximas ao solo.

A data e hora da observação, que está relacionada ao tempo sideral (T.S.) no instante da
observação, determinam a ascensão reta visível: T.S. - 6 horas < α < T.S. + 6 horas. Aqui
vale a mesma observação em relação às baixas alturas dos astros, para os valores
limítrofes desta faixa. Uma faixa mais realista é menor do que T.S.± 4h 40m.

Portanto a escolha do objeto a ser observado depende da latitude do telescópio e da época


do ano em que será feita a observação.

Outro fator limitante é a faixa de comprimentos de onda que se deseja observar. Temos
que a transparência ideal da atmosfera ocorre entre 3500 Å a 6500 Å. No entanto,
observações podem ser feitas numa faixa muito mais ampla, cobrindo desde o ultravioleta
até o infravermelho, mas com perda considerável de luz na atmosfera. Um limitante
importante para a faixa de cores observada está na característica do detector, ou seja, as
faixas espectrais para as quais ele é mais eficiente.
27

8. APONTAMENTO
Na maioria das vezes é difícil identificar o objeto que desejamos observar. Para identificar
um astro, para uma observação com o telescópio, necessitamos das coordenadas (α,δ) do
objeto que é obtida “calibrando” o telescópio (calagem do telescópio). Isto é feito
apontando-o para a direção de uma estrela conhecida no sistema de referência da data,
que é dada a partir de catálogos.

Outra etapa importante para identificação do astro é a orientação da imagem vista através
do detector e a determinação da escala da imagem. Isto é feito conhecendo as
características do telescópio e do detector.

Para uma identificação precisa do objeto a ser observado usamos a imagem do campo do
objeto. Para isso são utilizadas imagens de “surveys” do céu, como o “Digitized Sky
Survey” (a Figura 3.2 foi extraída destes catálogos) e os catálogos astromérticos como o
Gaia: https://www.cosmos.esa.int/web/gaia/dr3.

A preparação dos campos de identificação é feita no estágio de preparação de missão de


observação. Imagens de regiões definidas do céu podem ser obtidas em:
http://archive.stsci.edu/cgi-bin/dss_form.
Para leitura de imagens no formato fits podemos usar o software público DS9. Maiores
informações em
https://sites.google.com/cfa.harvard.edu/saoimageds9?pli=1&authuser=1.
28

9. TELESCÓPIOS MODERNOS
Vamos dar uma ideia bem geral dos principais telescópios óticos atuais centrando nos
principais projetos em andamento. Maiores detalhes podem ser encontrados nos sites
citados.

Inicialmente vale a pena observar que existem três locais onde se localizam a maioria dos
principais telescópios existentes e onde serão instalados alguns dos maiores telescópios
que estão sendo projetados atualmente: o espaço próximo a Terra, o Deserto de Atacama
no Chile, e a Ilha de Mauna Kea no Hawai..

No espaço próximo a Terra, além de telescópios dedicados a tarefas bem específicas, que
têm uma vida relativamente curta
(https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_space_telescopes), existem dois telescópios de
uso geral. Trata-se do Hubble Space Telescope (HST) e do James Webb Telescope
(JWST).

O Hubble (HST) foi lançado em abril de 1990 numa órbita quase circular a 539 km de
altura da Terra e inclinada de 28,47o. O HST tem sido usado para programas
observacionais da comunidade astronômica internacional que solicitam tempo de
observação. Atualmente está programado para funcionar até junho de 2026. O tempo de
observação é aprovado, pelo mérito por uma comissão internacional e o usuário recebe o
material observado para análise. O HST é um telescópio refletor de montagem Cassegrain
tem uma abertura de 2,4 m com uma área coletora de 4 m2 e uma distância focal de 57,6
m (f/24). Existem vários detetores que podem ser utilizados. Maiores detalhes sobre o
Hubble podem ser encontrados em
https://en.wikipedia.org/wiki/Hubble_Space_Telescope.

O James Webb (JWST) foi lançado em 12/2021 e iniciou se funcionamento em 07/2022.


Ele se situa no ponto de equilíbrio instável L2 do Sistema Sol-Terra. Isto significa que a
posição do JWST está numa linha reta onde estão o Sol, depois a Terra e finalmente o
JWST, este a uma distância de 1,5 milhões de quilômetros da Terra. O JWST é um
telescópio de 6,5 m de diâmetro com uma área coletora de 25,4 m2 e distância focal de
131,4 m (f/20.2). Observa nos comprimentos de onda entre 0.6 e 28.3 μm. Ele foi
projetado para que o telescópio fique protegido dos aquecimentos devidos ao Sol e a Terra
de forma que sua a temperatura fique sempre menor do que 50o K, o que permite que ele
seja muito eficiente nas observações no infravermelho. Maiores detalhes podem ser
encontrados em
https://en.wikipedia.org/wiki/James_Webb_Space_Telescope.

No deserto de Atacama, no Chile e na Ilha de Mauna Kea no Hawaí existem vários


observatórios pertencentes a consórcios de países e universidades. No Atacama temos o
European Southern Observatory
https://en.wikipedia.org/wiki/European_Southern_Observatory. Ainda no Atacama
temos o Las Campanas Observatory
https://en.wikipedia.org/wiki/Las_Campanas_Observatory.
Nestas instituições existe dezenas de telescópios cujas aberturas variam de algumas
dezenas de centímetros a 8 metros. Na Ilha de Mauna Kea, no Hawaí, existem vários
observatórios com grandes telescópios que variam de 3 a 10 metros
https://en.wikipedia.org/wiki/Mauna_Kea_Observatories.
29

Sobre os telescópios futuros existem 3 grandes projetos. Eles são:


- O Giant Magellan Telescope (GMT) que será instalado no Atacama e terá 25,4 m de
abertura e distância Focal de 18.202 m e deve entrar em operação em 2029
https://en.wikipedia.org/wiki/Giant_Magellan_Telescope.
- O Thirty Meter Telescope (TMT) a ser instalado em Mauna Kea e terá 30 m de abertura
e 450 m de distância focal e deve entrar em funcionamento em 2027
https://en.wikipedia.org/wiki/Thirty_Meter_Telescope.
- O Extremely Large Telescope a ser instalado no Atacama e terá 39,3 m de abertura e
743,4 m de distância focal e deve funcionar a partir de 2027
https://en.wikipedia.org/wiki/Extremely_Large_Telescope.

A Figura 10.1 dá uma ideia das aberturas dos maiores telescópios existente e em projeto.
30

Figura 10 - Superfície refletora dos maiores telescópios existentes e em projeto. São


apresentados os nomes dos telescópios o local onde se encontram e a data de início de
funcionamento.
Fonte:https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Comparison_optical_telescope_primary_mirrors.svg
31

Apêndice - Formação de imagem

Referência básica – ‘’Modern Astrometry’’ de J. Kovalevsky – Springer 1995 (Astronomy and Astrophysics
Library). Foram usados também os textos em http://efisica.if.usp.br/otica/universitario/ de Ségio Carlos
Zilio e eventualmente o Capítulo 3 e Apêndice I de ‘’Principles of Optics’’ de M. Born e E. Wolf – Cambridge
Uiversity Press 1999 e o Capítulo 5 de ‘’Astronomy Methods. A Physical Approach to Astronomical
Observations’’ de Hale Bradt, Cambridge University Press 2004.

Neste Apêndice daremos, de forma resumida, algumas ideias gerais sobre a formação da imagem usando
alguns conceitos básicos de ótica.

Existem duas formas complementares de abordar a ótica: a geométrica e a ondulatória. A geométrica


considera a luz como raios constituídos de fótons que se propagam seguindo as leis da refração e da
reflexão. A ondulatória considera a luz como uma onda.

1. Ideias gerais de ótica geométrica

A trajetória do raio de luz segue uma curva Г no espaço. No vácuo o raio de luz segue uma linha reta e
tem velocidade c = 299 729 458 m/s. Em outro meio, a velocidade é v, menor do que c e a razão n =c/v é
o índice de refração do meio. Em geral, define-se o caminho ótico da luz num meio de refração n pelo
produto, em cada ponto de Г, do valor de n neste ponto pelo comprimento percorrido pela luz no mesmo
ponto. Então, o caminho ótico [A, B] entre dois pontos A e B, num meio que tem um índice de refração n
em cada ponto, é dado por

𝐁𝐁
[𝐀𝐀, 𝐁𝐁] = � 𝐧𝐧(𝐬𝐬) 𝐝𝐝𝐝𝐝 (𝟏𝟏)
𝐀𝐀

onde s e comprimento de arco medido ao longo da curva Г e ds é o comprimento infinitesimal. Como


n=c/v, o caminho ótico corresponde ao tempo total necessário para que a luz percorra a curva entre A e
B, multiplicado por c.

O Princípio de Fermat que restringe os caminhos óticos possíveis estabelece que:

A trajetória de um raio de luz é tal que o caminho ótico é mínimo entre todas as trajetórias possíveis.

Deve-se observar que este mínimo deve ser visto no sentido do cálculo das variações, isto é mínimo em
relação a todos os outros caminhos possíveis próximos.

Como consequência do Princípio de Fermat mostra-se-se que:

- Num meio homogêneo a trajetória de um raio de luz é retilínea;


- O raio de luz refletido é simétrico em relação à normal ao espelho;
- A refração entre meios com índices de refração n e n’ satisfazem a relação (Lei de Snell)
n sin i = n’ sin i’ onde i e i’ são respectivamente os ângulos entre os raios incidente e refratado;
- Se o caminho da luz é possível numa direção ele é possível na direção oposta.
32

A partir do Princípio de Fermat e usando as equações de Euler-Lagrange do cálculo variacional pode-se


obter a equação que define o caminho ótico num meio qualquer. De fato, num sistema cartesiano
(x, y, z) tem-se

𝐝𝐝𝐝𝐝 = �𝐝𝐝𝐱𝐱 𝟐𝟐 + 𝐝𝐝𝐲𝐲 𝟐𝟐 + 𝐝𝐝𝐳𝐳 𝟐𝟐 = 𝐝𝐝𝐝𝐝 �𝐱𝐱′𝟐𝟐 + 𝐲𝐲′𝟐𝟐 + 𝐳𝐳′𝟐𝟐 (𝟐𝟐)

onde w é uma variável unidimensional arbitrária que parametriza a curva em x, y e z (em particular pode
ser confundida com uma destas variáveis) e x’, y’ e z’ são as derivadas destas variáveis em relação a w.
Então, de acordo com o Princípio de Fermat, o caminho ótico seguido pelo raio de luz satisfaz a relação

𝐁𝐁 𝐁𝐁
𝛅𝛅[𝐀𝐀, 𝐁𝐁] = 𝛅𝛅 � 𝐧𝐧(𝐱𝐱�𝐰𝐰), 𝐲𝐲(𝐰𝐰), 𝐳𝐳(𝐰𝐰)��𝐱𝐱′𝟐𝟐 + 𝐲𝐲′𝟐𝟐 + 𝐳𝐳′𝟐𝟐 𝐝𝐝𝐝𝐝 = 𝛅𝛅 � 𝐟𝐟(𝐱𝐱, 𝐲𝐲, 𝐳𝐳, 𝐱𝐱 ′ , 𝐲𝐲 ′ , 𝐳𝐳 ′ ) 𝐝𝐝𝐝𝐝 = 𝟎𝟎 (𝟑𝟑)
𝐀𝐀 𝐀𝐀

onde

𝐟𝐟(𝐱𝐱, 𝐲𝐲, 𝐳𝐳, 𝐱𝐱 ′ , 𝐲𝐲 ′ , 𝐳𝐳 ′ ) = 𝐧𝐧(𝐱𝐱�𝐰𝐰), 𝐲𝐲(𝐰𝐰), 𝐳𝐳(𝐰𝐰)��𝐱𝐱 ′ 𝟐𝟐 + 𝐲𝐲 ′ 𝟐𝟐 + 𝐳𝐳 ′ 𝟐𝟐 (𝟒𝟒)

As equações de Euler-Lagrange para uma função f são dadas por

𝐝𝐝 𝛛𝛛𝛛𝛛 𝛛𝛛𝛛𝛛
� �− = 𝟎𝟎
𝐝𝐝𝐝𝐝 𝛛𝛛𝛛𝛛′ 𝛛𝛛𝛛𝛛

𝐝𝐝 𝛛𝛛𝛛𝛛 𝛛𝛛𝛛𝛛
� �− = 𝟎𝟎 (𝟓𝟓)
𝐝𝐝𝐝𝐝 𝛛𝛛𝛛𝛛′ 𝛛𝛛𝛛𝛛

𝐝𝐝 𝛛𝛛𝛛𝛛 𝛛𝛛𝛛𝛛
� �− = 𝟎𝟎
𝐝𝐝𝐝𝐝 𝛛𝛛𝛛𝛛′ 𝛛𝛛𝛛𝛛

Considerando a forma de f dada em (4), tomando u igual a x ou y ou z, e considerando as equações (5),


tem-se que

𝐝𝐝 𝐧𝐧 𝐮𝐮′ 𝛛𝛛𝛛𝛛
� � = �𝐱𝐱′𝟐𝟐 + 𝐲𝐲′𝟐𝟐 + 𝐳𝐳′𝟐𝟐 (𝟔𝟔)
𝐝𝐝𝐝𝐝 �𝐱𝐱′ + 𝐲𝐲′ + 𝐳𝐳′
𝟐𝟐 𝟐𝟐 𝟐𝟐 𝛛𝛛𝛛𝛛

De (2) tem-se

𝐝𝐝𝐝𝐝 𝐝𝐝 𝐝𝐝𝐝𝐝 𝐝𝐝 𝐝𝐝
= �𝐱𝐱′𝟐𝟐 + 𝐲𝐲′𝟐𝟐 + 𝐳𝐳′𝟐𝟐 e = = �𝐱𝐱′𝟐𝟐 + 𝐲𝐲′𝟐𝟐 + 𝐳𝐳′𝟐𝟐 (𝟕𝟕)
𝐝𝐝𝐝𝐝 𝐝𝐝𝐝𝐝 𝐝𝐝𝐝𝐝 𝐝𝐝𝐝𝐝 𝐝𝐝𝐝𝐝

Então, aplicando o operador d/dw de (7) em u e em (6), tem-se

𝐝𝐝 𝐝𝐝𝐝𝐝 𝛛𝛛𝛛𝛛
�𝐧𝐧 � = (𝟖𝟖)
𝐝𝐝𝐝𝐝 𝐝𝐝𝐝𝐝 𝛛𝛛𝛛𝛛

Definindo
33

𝐫𝐫⃗ = 𝐱𝐱 ⃗𝐢𝐢 + 𝐲𝐲 ⃗𝐣𝐣 + 𝐳𝐳 ⃗𝐤𝐤 (9)

Tem-se então a equação do raio de luz dada por

𝐝𝐝 𝐝𝐝𝐫𝐫⃗
�𝐧𝐧 � = �𝛁𝛁⃗𝐧𝐧 (𝟏𝟏𝟏𝟏)
𝐝𝐝𝐝𝐝 𝐝𝐝𝐝𝐝

Pelas definições dadas, tem-se que a trajetória da luz é uma curva, parametrizada por s, que tem cada
ponto definido pelo vetor 𝐫𝐫⃗ e 𝐝𝐝𝐝𝐝 = |𝐝𝐝𝐫𝐫⃗| (ver Figura 1).

Figura 1 – Trajetória
da luz com a represen-
tação das grandezas
definidas no texto.

A vantagem desta equação é que ela é geral e permite calcular os caminhos dos raios de luz para meios
não homogêneos. Ela permite obter facilmente a linearidade dos raios de luz em meios homogêneos. De
fato, para um meio homogêneo, n é constante e a equação (10) toma a forma

𝐝𝐝𝟐𝟐 𝐫𝐫⃗ 𝐝𝐝𝐫𝐫⃗


𝐧𝐧 𝟐𝟐
= 𝟎𝟎 ⇒ = 𝐯𝐯�⃗ ⇒ 𝐫𝐫⃗ = 𝐯𝐯�⃗ 𝐬𝐬 + 𝐫𝐫⃗𝟎𝟎 (𝟏𝟏𝟏𝟏)
𝐝𝐝𝐝𝐝 𝐝𝐝𝐝𝐝

Dado dois pontos A e B no espaço parametrizado pelas coordenadas cartesianas x, y e z, a relação acima
garante que o caminho seguido pela luz é uma reta que passa por estes pontos, ou seja, escolhida uma
parametrização para a curva, que pode ser, por exemplo, um dos parâmetros cartesianos (x, y ou z) define-
34

se 𝐯𝐯�⃗ e 𝐫𝐫⃗𝟎𝟎 constantes e assim a reta definida por 𝐫𝐫⃗. Portanto a luz se propaga em linha reta num meio
homogêneo.

Observe que se a parametrização escolhida é o tempo, o vetor 𝐫𝐫⃗ é a trajetória do raio de luz no tempo, e
o vetor 𝐯𝐯�⃗ é igual a velocidade da luz no meio de índice de refração constante e igual a n = c/v.

Outra forma simples de obter resultados do Princípio de Fermat para casos simples é usar o seu enunciado
diretamente. No caso da linearidade dos raios luminosos basta lembrar que n = c/v, que o índice de
refração é constante num meio homogêneo e que v = ds/dt. Tem-se

𝐁𝐁 𝐭𝐭 𝐁𝐁
[𝐀𝐀, 𝐁𝐁] = � 𝐧𝐧 𝐝𝐝𝐝𝐝 = 𝐜𝐜 � 𝐝𝐝𝐝𝐝 = 𝐜𝐜 (𝐭𝐭 𝐁𝐁 − 𝐭𝐭 𝐀𝐀 ) (𝟏𝟏𝟏𝟏)
𝐀𝐀 𝐭𝐭 𝐀𝐀

Portanto o Princípio de Fermat passa assim a estabelecer que o caminho ótico é aquele que é percorrido
pela luz em tempo mínimo. Como a velocidade da luz é constante no meio considerado, a trajetória que
é percorrida no menor tempo é a retilínea.

Para a reflexão basta lembrar que a menor distância entre A e B, passando pela superfície refletora é a
simétrica em relação a B’ (ver Figura 2).

Figura 2 – Reflexão. Traje-


tória do raio de luz refletido.
A menor distância entre os
pontos A e B, passando pela
superfície plana de reflexão
é a dada pelos dois segmen-
tos da figura. Nela B’ é o
ponto simétrico a B em
relação a superfície. Esta
construção mostra que os
ângulos em relação a normal
à superfície são iguais tanto
para o raio incidente como
para o refletido.

Para a refração considere (ver Figura 3) que o Princípio de Fermat garante que o caminho percorrido pela
luz entre os pontos A e B é o percorrido em menor tempo. Então
35

𝐁𝐁
[𝐀𝐀, 𝐁𝐁] = � 𝐧𝐧 𝐝𝐝𝐝𝐝 = 𝐧𝐧𝟏𝟏 𝐝𝐝𝟏𝟏 + 𝐧𝐧𝟐𝟐 𝐝𝐝𝟐𝟐 (𝟏𝟏𝟏𝟏)
𝐀𝐀

Figura 3 – Refração.
Trajetória do raio refratado.
Os pontos A e B são fixados
e o ponto C deve ser encon-
trado usando o mínimo do
caminho ótico seguindo o
Princípio de Fermat. O eixo x
coincide com o plano onde os
dois meios mudam do índice
de refração n1 para n2.

Então devemos determinar o ponto C sobre a linha y=0 para o qual o raio que vai de A até B satisfaça a
condição: [A, B] é mínimo.

Temos

[𝐀𝐀, 𝐁𝐁] = 𝐧𝐧𝟏𝟏 �(𝐱𝐱 − 𝐱𝐱 𝟏𝟏 )𝟐𝟐 + 𝐲𝐲𝟏𝟏𝟐𝟐 + 𝐧𝐧𝟐𝟐 �(𝐱𝐱𝟐𝟐 − 𝐱𝐱)𝟐𝟐 + 𝐲𝐲𝟐𝟐𝟐𝟐 (𝟏𝟏𝟏𝟏)

Para que [A, B] seja mínimo deve-se ter sua derivada em relação a x igual a zero, ou seja

𝐝𝐝 𝐧𝐧𝟏𝟏 (𝐱𝐱 − 𝐱𝐱 𝟏𝟏 ) 𝐧𝐧𝟐𝟐 (𝐱𝐱𝟐𝟐 − 𝐱𝐱)


[𝐀𝐀, 𝐁𝐁] = − = 𝟎𝟎 (𝟏𝟏𝟏𝟏)
𝐝𝐝𝐝𝐝
�(𝐱𝐱 − 𝐱𝐱 𝟏𝟏 )𝟐𝟐 + 𝐲𝐲𝟏𝟏𝟐𝟐 �(𝐱𝐱𝟐𝟐 − 𝐱𝐱)𝟐𝟐 + 𝐲𝐲𝟐𝟐𝟐𝟐

Então

𝛑𝛑 𝛑𝛑
𝐧𝐧𝟏𝟏 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜 � − 𝐢𝐢𝟏𝟏 � = 𝐧𝐧𝟐𝟐 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜 � − 𝐢𝐢𝟐𝟐 � ⇒ 𝐧𝐧𝟏𝟏 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 𝐢𝐢𝟏𝟏 = 𝐧𝐧𝟐𝟐 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 𝐢𝐢𝟐𝟐 (𝟏𝟏𝟏𝟏)
𝟐𝟐 𝟐𝟐

Cabe observar que a utilização da equação de Euler-Lagrange para a reflexão e a refração apresenta uma
dificuldade particular por causa da descontinuidade das derivadas quando a luz muda de direção.
36

2. Ideias gerais de ótica ondulatória

Considera-se a luz como um conjunto de ondas planas (ou frentes de onda) perpendiculares ao raio de
luz. A amplitude U da onda, no instante t, no ponto x da direção Ox é dada por

𝐱𝐱
𝐔𝐔 = 𝐚𝐚 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜 𝛚𝛚 �𝐭𝐭 − � (𝟏𝟏𝟏𝟏)
𝐯𝐯

onde a é a amplitude média, ω a sua frequência angular e v a sua velocidade. Tem-se que se T é o período
da onda, f sua frequência, λ’ o comprimento de onda para um meio com índice de refração n e λ o
comprimento de onda no vácuo. Então tem-se as relações bem conhecidas

𝟏𝟏 𝟐𝟐𝟐𝟐 𝛌𝛌′ 𝛌𝛌
𝐟𝐟 = , 𝛚𝛚 = = 𝟐𝟐𝟐𝟐𝟐𝟐 , 𝐯𝐯 = , 𝛌𝛌′ = (𝟏𝟏𝟏𝟏)
𝐓𝐓 𝐓𝐓 𝐓𝐓 𝐧𝐧

e portanto

𝟐𝟐 𝛑𝛑 𝐧𝐧 𝐱𝐱
𝐔𝐔 = 𝐚𝐚 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜 �𝛚𝛚 𝐭𝐭 − � = 𝐚𝐚 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜(𝛚𝛚 𝐭𝐭 − 𝛟𝛟) (𝟏𝟏𝟏𝟏)
𝛌𝛌

onde φ é a fase que depende do caminho ótico n x (ver Seção 1 para n igual a constante).

Pode ser conveniente trabalhar com a função complexa definida por

𝐖𝐖 = 𝐔𝐔 + 𝐢𝐢𝐢𝐢 = 𝐚𝐚 [𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜(𝛚𝛚 𝐭𝐭 − 𝛟𝛟) + 𝐢𝐢 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬(𝛚𝛚 𝐭𝐭 − 𝛟𝛟)] (𝟐𝟐𝟐𝟐)

Se a onda é esférica (no nosso caso circular), a amplitude média cai com a distância, ou seja.

𝐚𝐚
𝐔𝐔 = 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜(𝛚𝛚 𝐭𝐭 − 𝛟𝛟) (𝟐𝟐𝟐𝟐)
𝐫𝐫

O que se mede da luz não é a sua amplitude, mas sua intensidade I que é proporcional ao quadrado da
amplitude instantânea.

Calculando a intensidade num período tem-se, para uma onda plana, que

𝟏𝟏 𝐓𝐓 𝟐𝟐 𝟏𝟏 𝐓𝐓 𝐚𝐚𝟐𝟐
𝐈𝐈 ≈ � 𝐔𝐔 𝐝𝐝𝐝𝐝 = � 𝐚𝐚𝟐𝟐 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜 𝟐𝟐 (𝛚𝛚𝛚𝛚 − 𝛟𝛟)𝐝𝐝𝐝𝐝 = (𝟐𝟐𝟐𝟐)
𝐓𝐓 𝟎𝟎 𝐓𝐓 𝟎𝟎 𝟐𝟐

Para a onda esférica tem-se I ≈ a2/2r2. Observe que o símbolo ≈ é usado para indicar proporcionalidade.

A luz obedece ao Princípio da Superposição que estabelece o que ocorre quando as frentes de onda são
superpostas:

Quando várias frentes de onda são superpostas, a amplitude resultante é a soma geométrica das
amplitudes instantâneas individuais de cada componente.
37

Considerando duas ondas de mesma amplitude, mesma frequência e fases diferentes

𝐔𝐔 = 𝐚𝐚 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜(𝛚𝛚 𝐭𝐭 − 𝛟𝛟), 𝐔𝐔 ′ = 𝐚𝐚 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜(𝛚𝛚 𝐭𝐭 − 𝛟𝛟′ ) (𝟐𝟐𝟐𝟐)

tem-se que as duas ondas superpostas dão origem a uma onda cuja amplitude e fase dependem das fases.

𝛟𝛟 − 𝛟𝛟′ 𝛟𝛟 + 𝛟𝛟′
𝐔𝐔 + 𝐔𝐔 ′ = 𝟐𝟐𝟐𝟐 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜 � � 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜 �𝛚𝛚𝛚𝛚 − � (𝟐𝟐𝟐𝟐)
𝟐𝟐 𝟐𝟐

𝛟𝛟−𝛟𝛟′
Esta onda resultante tem como amplitude 𝟐𝟐𝟐𝟐 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜 � �.
𝟐𝟐

Portanto se φ-φ’=π, a amplitude da soma das duas ondas se anula. Por outro lado, se φ-φ’=0, a amplitude
fica multiplicada por 2.

Por outro lado, o Princípio de Huygens estabelece como as frentes de ondas se propagam:

Cada ponto na frente de onda age como uma fonte produzindo ondas secundárias que espalham em
todas as direções. A função envelope, das frentes de onda das ondas secundárias, forma a nova frente
de onda total.

A Figura 4 ilustra este fato.

Figura 4 - (extraída de
http://efisica.if.usp.br/otica/
universitario/). Ilustração do
Princípio de Huygens.
A nova frente de onda é
formada do envelope das
ondas secundárias de cada
ponto da frente de onda.

Portanto, considerando o Princípio da Superposição, a frente de onda no instante t dá origem à frente de


onda no instante t+Δt que é o resultado da soma geométrica de todas as ondas secundárias geradas em
38

todos os pontos da frente de onda em t. No caso de ondas planas infinitas ou uma onda esférica, a soma
geométrica dá origem a frente de ondas análogas em t+Δt e em t-Δt. Observe que para que as frentes de
onda sejam análogas, no caso de ondas planas elas têm que ser infinitas.

Se existe algum obstáculo ou uma interrupção da onda plana, uma parte das fontes de ondas secundárias,
correspondentes ao obstáculo, deixam de se somar às outras ondas secundárias de forma que as ondas
secundárias na vizinhança deste obstáculo se somam com fases diferentes. Isto pode ser facilmente
entendido se considerarmos o caso de uma onda plana que encontra um anteparo com duas fendas
próximas e muito pequenas. De acordo com o Princípio de Superposição, a frente de onda depois de
passar pelas fendas, corresponde a soma de duas ondas secundárias pontuais de luz que se propagam em
todas as direções. Portanto, num plano situado depois das fendas, paralelo ao obstáculo, o que se tem é
a soma de duas ondas esféricas de centros diferentes que se somam em cada ponto do plano com fases
diferentes, fases estas que dependem da posição no plano considerado.

As amplitudes resultantes na frente de onda gerada pelos obstáculos dão origem ao fenômeno que
chamamos de difração. Ela consiste num padrão de regiões mais claras e escuras na frente de onda. Este
é o caso de uma frente de onda plana que atravessa a pupila de entrada (ou área da objetiva) de um
telescópio.

Observe que a difração existe essencialmente devido a pupila do telescópio, que não é infinita, obstruir a
luz.

Para entendermos o que acontece com a difração, vamos considerar uma onda plana que chega a uma
pupila perpendicular a ela (Figura 5). Devido ao princípio da superposição, temos que a luz depois da
pupila pode ser vista como a superposição das ondas de luz emitidas por cada ponto da pupila sendo que
cada ponto é uma fonte de luz que emite em todas as direções com o mesmo comprimento de onda da
onda plana que chegou à pupila. Suponha que estamos num plano suficientemente longe da pupila para

Figura 5 – Esquema da formação de imagem depois da passagem de uma onda plana


por uma pupila para duas direções particulares (extraída de ‘’Astronomy Methods. A
Physical Approach to Astronomical Observations’’, Hale Bradt, Cambridge University
Press 2004, pag. 116.
39

que cada onda gerada por cada ponto possa ser vista, essencialmente, como uma onda plana. Então, o
efeito destas ondas, em conjunto, em qualquer direção é dado pela soma de todas estas ondas planas na
direção considerada. Na direção perpendicular a pupila esta soma corresponde a uma onda plana igual a
que chegou à pupila (Figura 5a), e portanto, é uma imagem dela (não estamos considerando efeitos de
bordo que serão muito pequenos para pupilas grandes em relação ao comprimento de onda como é o
nosso caso.) No entanto, para uma direção que não é perpendicular a pupila o resultado é um pouco mais
complicado (Figura 5b). Como será visto a seguir.

A relação (19) fornece a amplitude de uma onda numa direção e a relação (24) a superposição de duas
ondas. Sendo SU a soma das ondas que passam pela pupila, tem-se, considerando (23), que a soma de
todas elas é dada por
𝐱𝐱𝐦𝐦𝐦𝐦𝐦𝐦
𝟐𝟐 𝛑𝛑 𝐱𝐱
𝐒𝐒𝐒𝐒 = 𝐚𝐚 � 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜 �𝛚𝛚 𝐭𝐭 − � 𝐝𝐝𝐝𝐝 (𝟐𝟐𝟐𝟐)
𝐱𝐱𝐦𝐦𝐦𝐦𝐦𝐦 𝛌𝛌

onde ω é a frequência da onda, λ é o comprimento de onda e x é tal que seu valor, em unidades de
comprimento de onda, fornece a fase da onda em unidades de 2π radianos. Para simplificar a notação
estamos supondo que o fenômeno se passa no vácuo, logo n = 1.

Da Figura 5b tem-se que x é dado por

𝐱𝐱 = 𝐲𝐲 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 𝛉𝛉 (𝟐𝟐𝟐𝟐)

onde y é um ponto da pupila e vamos considerar variando entre 0 e d, e θ é o ângulo que a onda plana,
depois da pupila, faz com a normal a ela.

Substituindo (26) em (25) e integrando temos

𝛑𝛑 𝐝𝐝
𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 � 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 𝛉𝛉� 𝛑𝛑 𝐝𝐝
𝐒𝐒𝐒𝐒(𝛉𝛉) = 𝐚𝐚 𝛌𝛌 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜 �𝛚𝛚 𝐭𝐭 − 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 𝛉𝛉� (𝟐𝟐𝟐𝟐)
𝛑𝛑 𝛌𝛌
� �
𝛌𝛌

Observe que para θ = 0, que corresponde a onda plana propagando perpendicularmente à pupila, a
intensidade da onda é dada por a2/2 como pode ser visto em (22). Portanto, para obter este valor deve-
se dividir a expressão (27) por (d sin θ). Assim pode-se escrever SU na forma

𝛑𝛑 𝐝𝐝
𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 � 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 𝛉𝛉� 𝛑𝛑 𝐝𝐝
𝐒𝐒𝐒𝐒 (𝛉𝛉) = 𝐚𝐚′ 𝛌𝛌 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜 �𝛚𝛚 𝐭𝐭 − 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 𝛉𝛉� (𝟐𝟐𝟐𝟐)
𝛑𝛑 𝐝𝐝 𝛌𝛌
� 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 𝛉𝛉�
𝛌𝛌

Então, a intensidade da luz para cada valor de θ é dado por


𝟐𝟐 𝟐𝟐 𝛑𝛑 𝐝𝐝
𝐚𝐚′ 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 � 𝛌𝛌 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 𝛉𝛉�
𝐈𝐈(𝛉𝛉) = 𝟐𝟐
(𝟐𝟐𝟐𝟐)
𝟐𝟐 𝛑𝛑 𝐝𝐝
� 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 𝛉𝛉�
𝛌𝛌
40

Para a’2 = 2, I(θ =0) = 1 e tem-se que I(θ) é dada pela Figura 6

Figura 6 – Representa-
ção de I(θ) em relação a
θ. Na figura está repre-
sentado realmente I(β)
em relação a β já que d e
λ são constantes e a
variação ocorre mais in-
tuitivamente com sin θ.
Observe que os pontos
onde I se anula ocorrem
para os valores de θ onde
sin θ = ±λ/d, ±2 λ/d,
±3 λ/d, ±4 λ/d ....
(Extraída da mesma
fonte da Figura 5).

Observe que se considerarmos, na Figura 6, o ângulo θ no lugar de β, estaremos descrevendo a resposta


do instrumento que capta os fótons que vêm na direção normal a pupila em função do ângulo com esta
direção. Esta distribuição de intensidade é chamada de feixe de antena e corresponde também a emissão
de uma antena que transmite feixes paralelos como as de comunicação. O feixe de antena,
independentemente de ser de recepção ou transmissão está representado na Figura 7. Observe que dois
objetos cuja distância seja menor do que o tamanho do feixe de antena não podem ser distinguidos e este
resultado depende apenas da difração (logo de λ e d) e independe da ótica do telescópio.

Figura 7 – Representação I(θ’) em


coordenadas polares (θ’ na figura cor-
responde a θ no texto) ou seja do feixe
de antena. Extraída de ‘’Astronomy
Methods. A Physical Approach to
Astronomical Observa-tions’’, Hale
Bradt, Cambridge University Press
2004, pag. 113.
41

De forma análoga vamos calcular a intensidade da imagem passando pela pupila circular de um telescópio.
Inicialmente vamos formular o problema para uma abertura plana de forma arbitrária.

Considere a Figura 8 onde:

- Π é o plano da pupila (por onde a luz entra no telescópio;


- C a curva que define a forma da pupila que depois será considerada circular;
- (S) interior não obstruído da pupila;
- O uma origem qualquer em Π, e em O a direção perpendicular a Π é a direção da chegada da onda plana
de luz monocromática;
- Oy direção na qual vamos calcular a distribuição de intensidade após a onda cruzar o plano Π;
- θ ângulo entre Oy e a direção perpendicular ao plano Π;
- Ox direção da projeção de OP em Π;
- P um ponto em Π e no interior de (S);
- ρ, ψ coordenadas polares de P em Π em relação a Ox;
- P’ ponto em Π sobre Ox tal que PP’ perpendicular a Ox, o que implica que o ângulo OxP’P = π/2;
- P’’ ponto no espaço sobre Oy tal que P’’P perpendicular a Oy, o que implica que o ângulo OyP’’P= π/2.

Tem-se então os ângulos POP’ = π -ψ, e P’OP’’ = π/2 – θ, e seja d = P’’O.

Figura 8 – (extraí-
da do livro de J.
Kovalevsky cita-
do anteriormen-
te). Geometria da
passagem de uma
onda plana por
uma obstrução
para cálculo da
difração. Ver de-
talhes no texto.

Pelos princípios da Superposição e de Huygens tem-se que a onda plana que sai de P na direção Oy pode
ser vista como uma onda plana que tem como frente de onda um plano perpendicular a Oy e este plano
contém o triângulo PP’P’’. Esta onda está defasada de O da distância P’’O = d. Então considerando os
triângulos OPP’ e P’OP’’, que não estão no mesmo plano, tem-se

𝝅𝝅
𝐝𝐝 = 𝛒𝛒 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜 (𝛑𝛑 − 𝛙𝛙) 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 � − 𝛉𝛉� = 𝛒𝛒 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜 𝛙𝛙 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 𝛉𝛉 (𝟑𝟑𝟑𝟑)
𝟐𝟐
42

Se λ é o comprimento de onda e k = 2π/λ, temos de (19) que a onda secundária, no vácuo, em P é dada
por

𝟐𝟐 𝛑𝛑 𝐱𝐱
𝐔𝐔 = 𝐚𝐚 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜 �𝛚𝛚 𝐭𝐭 − � = 𝐚𝐚 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜(𝛚𝛚 𝐭𝐭 − 𝐤𝐤 𝛒𝛒 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜 𝛙𝛙 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 𝛉𝛉) (𝟑𝟑𝟑𝟑)
𝛌𝛌

e de (18) tem-se, considerando o meio como o vácuo, n=1 e v=c e ω = 2πc/λ = kc.

Aplicando o princípio de superposição para ondas secundárias em toda a superfície (S), devemos integrar
todas as ondas secundárias geradas numa superfície infinitesimal em torno de P dada por dA = ρ dρ dψ
sobre toda a superfície (S).

Temos então

𝐔𝐔 𝐲𝐲 = 𝐚𝐚 � 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜(𝛚𝛚𝛚𝛚 − 𝐤𝐤𝐤𝐤 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜 𝛙𝛙 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 𝛉𝛉) 𝛒𝛒 𝐝𝐝𝐝𝐝 𝐝𝐝𝐝𝐝 (𝟑𝟑𝟑𝟑)


(𝑺𝑺)

ou na forma complexa

𝐚𝐚 𝐚𝐚
𝐖𝐖𝐲𝐲 = 𝐚𝐚 � 𝐞𝐞𝐞𝐞𝐞𝐞 𝐢𝐢 (𝛚𝛚𝛚𝛚 − 𝐤𝐤𝐤𝐤 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜 𝛙𝛙 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 𝛉𝛉) 𝛒𝛒 𝐝𝐝𝐝𝐝 𝐝𝐝𝐝𝐝 = 𝐚𝐚 𝐞𝐞𝐢𝐢𝐢𝐢𝐢𝐢 � 𝐞𝐞𝐞𝐞𝐞𝐞(−𝐢𝐢 𝐤𝐤𝐤𝐤 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜 𝛙𝛙 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 𝛉𝛉) 𝛒𝛒 𝐝𝐝𝐝𝐝 𝐝𝐝𝐝𝐝
(𝐒𝐒) (𝐒𝐒)
(33)

Agora, para obter uma solução analítica de (32) ou (33) vamos supor o caso mais comum de um telescópio,
ou seja, uma abertura circular de raio R que pode corresponder a objetiva do telescópio ou a um
diafragma, ou seja, sua pupila. Como a fonte é um objeto muito distante como uma estrela, considere a
frente de onda plana e a direção desta onda perpendicular à pupila. Escolhendo o ponto O da Figura 8
como o centro da pupila, tem-se que a relação (32) pode ser escrita na forma

𝐑𝐑 𝟐𝟐𝟐𝟐
𝐔𝐔𝐲𝐲 = 𝐚𝐚 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜 𝛚𝛚𝛚𝛚 � 𝛒𝛒 𝐝𝐝𝛒𝛒 � 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜 (𝐤𝐤 𝛒𝛒 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜 𝛙𝛙 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 𝛉𝛉) 𝐝𝐝𝐝𝐝
𝟎𝟎 𝟎𝟎
𝐑𝐑 𝟐𝟐𝟐𝟐
+ 𝐚𝐚 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 𝛚𝛚𝛚𝛚 � 𝛒𝛒 𝐝𝐝𝐝𝐝 � 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 (𝐤𝐤 𝛒𝛒 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜 𝛙𝛙 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 𝛉𝛉) 𝐝𝐝𝐝𝐝 (𝟑𝟑𝟑𝟑)
𝟎𝟎 𝟎𝟎

Observe que

𝟐𝟐𝟐𝟐 𝟐𝟐𝟐𝟐 𝐳𝐳𝟎𝟎


� 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜 (𝐳𝐳 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜 𝛙𝛙) 𝐝𝐝𝐝𝐝 = 𝟐𝟐𝟐𝟐 𝐉𝐉𝟎𝟎 (𝐳𝐳𝟎𝟎 ), � 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 (𝐳𝐳 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜 𝛙𝛙) 𝐝𝐝𝐝𝐝 = 𝟎𝟎, � 𝐳𝐳 𝐉𝐉𝟎𝟎 (𝐳𝐳)𝐝𝐝𝐝𝐝 = 𝐳𝐳𝟎𝟎 𝐉𝐉𝟏𝟏 (𝐳𝐳𝟎𝟎 )
𝟎𝟎 𝟎𝟎 𝟎𝟎
(35)
onde J0(z) e J1(z) são funções de Bessel de ordem zero e um respectivamente.

Fazendo em (34)

𝐳𝐳
𝐳𝐳 = 𝐤𝐤 𝛒𝛒 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 𝛉𝛉, 𝐳𝐳𝟎𝟎 = 𝐤𝐤 𝐑𝐑 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 𝛉𝛉, 𝛒𝛒 = (𝟑𝟑𝟑𝟑)
𝐤𝐤 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 𝛉𝛉
43

temos fazendo Uy = U(θ) que

𝐉𝐉𝟏𝟏 (𝐤𝐤 𝐑𝐑 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 𝛉𝛉) 𝐉𝐉𝟏𝟏 (𝐳𝐳𝟎𝟎 )


𝐔𝐔(𝛉𝛉) = 𝟐𝟐𝟐𝟐 𝐑𝐑𝟐𝟐 𝐚𝐚 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜 𝛚𝛚𝛚𝛚 = 𝟐𝟐 𝛑𝛑 𝐑𝐑𝟐𝟐 𝐚𝐚 𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜𝐜 𝛚𝛚𝛚𝛚 (𝟑𝟑𝟑𝟑)
𝐤𝐤 𝐑𝐑 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 𝛉𝛉 𝐳𝐳𝟎𝟎

Para calcular a intensidade, basta lembrar que ela é proporcional à amplitude ao quadrado (ver (22)).

Logo

𝟐𝟐
𝟐𝟐 𝟐𝟐 𝐉𝐉𝟏𝟏 (𝐳𝐳𝟎𝟎 )
𝐈𝐈(𝛉𝛉) ≈ �𝛑𝛑 𝐑𝐑𝟐𝟐 𝐚𝐚� � � (𝟑𝟑𝟑𝟑)
𝐳𝐳𝟎𝟎

Definindo a PSF (point spread function) como a iluminação normalizada pela iluminação para θ = 0, e
considerando que

𝐉𝐉𝟏𝟏 (𝐳𝐳) 𝟏𝟏
𝐥𝐥𝐥𝐥𝐥𝐥 = (𝟑𝟑𝟑𝟑)
𝐳𝐳→𝟎𝟎 𝐳𝐳 𝟐𝟐

Então a PSF da onda plana F(R, θ) será

𝛑𝛑 𝐃𝐃 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 𝛉𝛉 𝟐𝟐
𝟐𝟐 𝐉𝐉𝟏𝟏 (𝐳𝐳𝟎𝟎 ) 𝟐𝟐 𝟐𝟐 𝐉𝐉𝟏𝟏 (𝐤𝐤 𝐑𝐑 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 𝛉𝛉 ) 𝟐𝟐 𝟐𝟐 𝐉𝐉𝟏𝟏 (
𝛌𝛌
)
𝐅𝐅(𝐑𝐑, 𝛉𝛉) = � � =� � =� � (𝟒𝟒𝟒𝟒)
𝐳𝐳𝟎𝟎 𝐤𝐤 𝐑𝐑 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 𝛉𝛉 𝛑𝛑 𝐃𝐃 𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬𝐬 𝛉𝛉
� �
𝛌𝛌

A Figura 9 apresenta este resultado do cálculo de (40). Nela o eixo horizontal corresponde a z0 e a θ em
radianos. O disco central, chamado disco de Airy recebe 83.8% da luz total. Observe que o primeiro disco
tem raio de aproximadamente λ/D, ou seja chamando de θmin o primeiro zero da PSF ou seja
F(R,θmin) = 0, então, para λ << D, temos

𝛌𝛌 𝛌𝛌
𝛉𝛉𝐦𝐦𝐦𝐦𝐦𝐦 = 𝟏𝟏. 𝟐𝟐𝟐𝟐 ≈ (𝟒𝟒𝟒𝟒)
𝐃𝐃 𝐃𝐃

onde θmin é o ângulo (em radianos) do primeiro zero da PSF, λ é o comprimento de onda e D o diâmetro
do telescópio, ambos na mesma dimensão (metro por exemplo). Observe que se duas fontes estão
separadas de um ângulo menor do que o θmin, então elas não poderão ser separadas pelo telescópio
independente de outros fatores. Isto define a resolução de um telescópio. O Huble Space Telescope que
tem abertura de 2.4 m tem a resolução de 0.05’’ para λ = 500 nm.

Os números apresentados significam que existe um limite mínimo do tamanho da imagem que depende
do comprimento de onda e da abertura do telescópio sendo tanto menor o quanto maior for a abertura
e menor o comprimento de onda. No caso de um telescópio na superfície da Terra, o tamanho da imagem
é ditado pelo movimento da atmosfera e supera de muitas vezes o disco de Airy.
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Figura 9 – (extraída do livro de J.


Kovalevsky citado anteriormente).
Distribuição da iluminação relativa
(PSF) na figura de difração de uma
pupila circular de diâmetro D e para
o comprimento de onda λ. O valor
de θ é dado em radianos. Para
expressar o valor θ em segundo
deve-se multiplicar por 206 265.
Observe que para λ=0.55 μm e
D=1.6m, o primeiros zeros de I(z0)
estão em θ=±0”,09. Para D=4m,
eles estão em θ=±0”,035.
45

EXERCÍCIOS – TELESCÓPIO

1 – Na Grécia antiga, o astrônomo Hiparco, ao construir um catálogo de estrelas, bastante completo


para a época, definiu como estrela de magnitude 1, as mais brilhantes que eram vistas no céu, e de
magnitude 6, as menos brilhantes. Por outro lado, no século XIX, mostrou-se que o olho tinha uma
resposta logarítmica ao estímulo luminoso. A partir daí, medindo-se o fluxo da luz de estrelas,
concluiu-se que o fluxo da luz de uma estrela de magnitude 1 era 100 vezes maior que a de uma
estrela de magnitude 6.
Hiparco definiu a escala de magnitude entre 1 e 6 porque usou o sistema sexagesimal (base 60),
criado pelos sumérios, e que fora usado pelos babilônios que tinham uma astronomia bem
desenvolvida.
Observação: Na realidade temos mais de 10 estrelas com magnitude menor do que 1, mesmo
considerando as imprecisões das observações visuais de Hiparco. Considerando que ele não via
todo o céu (vivia em Alexandria que está a +30o de latitude) mais da metade delas eram vistas por
Hiparco. Portanto, para a definição de magnitude 1 Hiparco deve ter descartado a primeira dezena
de estrelas mais brilhantes pelo seu número ser muito restrito e haver uma variação muito grande
de magnitude entre elas (por exemplo, Sirius a estrela mais brilhante tem magnitude -1.5).

1a - Supondo então que a magnitude m de uma estrela é definida por m = m0 + K log Fl, onde Fl
é o fluxo, da estrela, calcule o valor de K.
Sugestão: Basta substituir na fórmula acima os valores 100×Fl para m=1 e Fl para m=6, subtrair
as expressões, e usar propriedades elementares da função logaritmo.

Duas perguntas mais:

1b - Se os valores escolhidos por Hiparco fossem 1 e 5 qual seria o valor de K?

1c – Neste caso, qual seria o valor da magnitude de uma estrela de magnitude 10, na definição
usual, neste novo sistema de magnitudes?

2 – A obstrução central nos telescópios refletores tem a área correspondente a aproximadamente


10% da área total do espelho que constitui a objetiva. Considere o valor de 10% para as questões
a seguir.

2a - Ache a relação entre os diâmetros dos espelhos principais e da obstrução.

2b - Calcule os diâmetros das obstruções dos refletores listados na Tabela 2.1.1.

2c – Sendo Mmax a magnitude limite máxima que se enxerga com um telescópio de abertura D,
sem obstrução central, qual será a magnitude limite mmax que se enxerga se este telescópio tiver
uma obstrução de 10% da área da objetiva?
Observação: Observe que a escala de magnitude é crescente para objetos mais fracos.
46

2d – Dê a sua opinião sobre a importância da obstrução central para a performance de um


telescópio.

2e – Suponha que ao invés da obstrução central o telescópio tivesse uma faixa circular cuja largura
fosse igual ao raio da obstrução central e que esta faixa fosse situada no bordo do espelho. Qual
seria a porcentagem de área perdida?

2f - Qual seria o decréscimo de magnitude neste caso?

3 – 3a - Calcule o valor de 1 radiano em minutos de arco e em segundos de arco.

3b – Calcule a razão entre 1’ em radianos e o valor de sua tangente.

3c - O mesmo para 1”.

Observação e sugestão: Não arredonde a razão para 1. Use o desenvolvimento em série da função
tangente.

4 – Demonstre a relação (2.2.3) para o aumento de um telescópio.


Sugestão: Desenhe um telescópio invertido com o seu plano focal coincidindo com plano focal da
Figura 2.2.1 e com a objetiva à direita do plano focal (veja também figura abaixo). Use o mesmo
raciocínio geométrico usado para achar a relação entre o ângulo observado e a distância no plano
focal (relação (2.2.1)). Lembre-se que os raios que passam pelo centro das objetivas não sofrem
desvio.
Sugestâo e comentário: Use a figura abaixo. Quebre a cabeça com este problema. Se você
conseguir resolvê-lo, você entendeu bem o essencial da seção 2. Terá dado um passo importante
para entender como funciona um telescópio.

5 - A olho nu, em condições favoráveis de observação, somos capazes de ver estrelas com
magnitude menor do que 6. O número de estrelas visíveis, neste caso é 6.000. Com um telescópio
de 6 cm de abertura, ou seja, com diâmetro 10 vezes maior do que a pupila, temos uma área coletora
100 vezes maior e podemos ver aproximadamente 600.000 estrelas. Este cálculo é aproximado
pois supõe que as estrelas estão distribuídas uniformemente no céu.
47

5a – Escreva uma fórmula que forneça aproximadamente o número de estrelas visíveis, a olho nú,
com um telescópio de abertura D.

5b – Usando agora a relação entre abertura e magnitude, ache uma relação entre magnitude e
número de estrelas.

5c – O satélite Hipparcos observou todas as estrelas até magnitude 9 (e algumas mais de magnitude
até 13). Quantas estrelas aproximadamente ele observou? O número que consta no catálogo é
100.000.

5d – O catálogo FK5 (catálogo usado antes do Hipparcos para definir o referencial básico
astrométrico) que tem todas as estrelas até magnitude 5 e algumas mais, tem aproximadamente
3.000 estrelas. O catálogo feito para guiagem do telescópio espacial, o Guide Star Catalogue, tem
da ordem de 500.000.000 de estrelas e sua magnitude limite é da ordem de 20, mas é completo
para estrelas de magnitude aproximadamente 18. A primeira versão do catálogo GAIA tem da
ordem de 1.1x109 estrelas e sua magnitude limite é da ordem de 21. Compare estes números com
os que você obtém com suas fórmulas. Qual seria a razão das diferenças?

6 - Se você observa astros mais fracos, você está podendo observar astros mais distantes. Por outro
lado, a luz tem velocidade finita, portanto a luz que você observa de um astro foi emitida por ele
no passado.

6a – O Sistema Solar tem da ordem de 4,8 bilhões de anos e o universo 13,7 bilhões de anos.
Considere uma estrela que teria magnitude 1 e está a 4 anos luz. Qual seria sua magnitude a uma
distância igual à idade do Sistema Solar? E a uma distância igual à idade do Universo?
Sugestão: Considere que o número de fótons que chega de um astro cai com o quadrado da
distância. Observe que, com isso, você estará desprezando a absorção da luz pela matéria
interestelar.

7 - Num levantamento de uma região do céu foi feito no ESO (European Southern Observatory)
com as seguintes condições observacionais:
- abertura do telescópio: 2,2 m
- tempo de exposição: 35s
- razão sinal/ruído: 65
- largura do filtro: 138 nm (nm = 1x10-9 m)
- condições do céu: muito boas.
Foram observadas em cada imagem CCD todas as estrelas com magnitude 19, ou seja, o
levantamento é completo até magnitude 19 na cor e faixa de comprimento de onda usado.

7a - Supondo as mesmas condições gerais calcule a relação que forneça o tempo de exposição
necessário para um telescópio de abertura D, para ser completo até magnitude m e filtro de largura
Δλ.
48

7b – Faça o cálculo para do tempo necessário de exposição para m=20, Δλ=20 nm, e D=1m, 2m,
3m, 4m, 8m.

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