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A Teoria Pós Moderna Das Relações Internacionais Uma Discussão PDF
A Teoria Pós Moderna Das Relações Internacionais Uma Discussão PDF
RESUMO:
1. INTRODUÇÃO
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PPGRI/UERJ – danillo.braganca@yahoo.com.br – Mestrando em Relações Internacionais
sustentação, e produziu, durante muito tempo, conclusões parciais sobre o
internacional. É preciso portanto, repensar estas bases, criar novas, admitindo
discursos alternativos em seu interior, e tirando as amarras que limitam a sua evolução
enquanto área de conhecimento.
Para dar início a esta discussão mais específica sobre a forma como o
Positivismo enquanto teoria epistemológica dominante vem sendo aplicada no campo
das Relações Internacionais, é preciso entender um pouco da origem desta forma de
pensamento científico, articulando esta visão dentro de um campo mais prático, da
pesquisa efetiva.
Assim, a partir do avanço das ciências sociais observado nos séculos XVI e
XVII, o método positivista ganha espaço, até porque era eficiente em solucionar certos
problemas da incipiente teoria social, abrindo margem para a cristalização de uma
nova cultura empiricista, com tendência crítica e a criação de verdades absolutas e
incontestáveis, axiomáticas. No caso da área de Relações Internacionais, por conta de
sua origem inegavelmente ligada às ciências sociais e política, este é um ponto crucial
para o surgimento de teorias que tinham como objetivo não entender mais somente a
sociedade em sua condição interna, mas a forma como os Estados se relacionavam
dentro de um sistema mínimo de interação, onde os eventos como a guerra e a paz
eram parte integrante deste sistema, e era imperativo, portanto, entender estas
questões.
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Para ver mais claramente a divisão entre Modernidade e Pós-Modernidade de uma forma
mais cronológica, ver FOUCAULT (1970).
“O „Estado territorial‟, característico do período clássico na
Europa (entre o fim das guerras religiosas e a Segunda Grande
Guerra), é definido antes de tudo pelo comportamento unitário
de uma unidade política, cuja soberania se estende sobre o
território com limites precisos, que podem ser traçados no
mapa. O soberano (...) pode impor sua vontade sobre todo o
território do Estado. Em outras palavras, tem o monopólio da
força militar dentro desse território” (ARON, 1962, p. 383)
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Ver referência bibliográfica: KURKI (2006).
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Ver referência bibliográfica: HUME (2004)
produza esta ocorrência. Quer dizer, para toda causa, existe um efeito, correlato e
inextrincavelmente. Em um exemplo clássico trabalhado nas Relações Internacionais,
pense em bolas de bilhar em uma mesa. Para que a bola A venha a se mover de uma
determinada forma, é preciso que uma bola B venha a agir sobre ela de uma forma
correta sobre ela. Caso isto não ocorra, não há ação possível.
Há, nisso tudo, uma série de consequências para a análise social que devem
ser ressaltadas como parte fundamental do pensamento positivista e da forma como
isto é articulado dentro das teorias modernistas de Relações Internacionais. De forma
geral, HUME () as apresenta como a) as “regularidades”, quer dizer, quando uma ação
é observada, é possível afirmar que regularmente esta ação acontecerá da mesma
forma, com a mesma intensidade, sempre na mesma direção; b) os “padrões
observáveis”, isto é, a partir da leitura destas regularidades, o analista pode determinar
com clareza padrões de comportamento das forças que compõem a análise,
afirmando com ampla certeza como estas forças vão agir e por que motivos; c) as
“regularidades determinísticas”, que é o fato de que a previsibilidade das ações passa
a ser algo de fundamental importância para a compreensão do fenômeno; e por último,
d) as chamadas “moving causes”, quer dizer, as causas moventes, ou como HUME ( )
apresentava, causas eficientes, que demonstram a relação monocausal entre causa e
efeito.
Todos estes fatores descritos acima fazem parte da mesma tradição realista
das Relações Internacionais, que chamamos aqui de teorias modernistas. Este é o
momento do fim da Guerra Fria, que não foi previsto por estas teorias. É o momento
também da chamada “guinada construtivista”, com a publicação de “World of our
making: rules and rule in social theory and International Relations”, de Nicholas Onuf,
mais especificamente, em 1989.
Isto já havia ficado claro em uma outra ocasião, mas com WENDT (1992), isto
se cristaliza. O próprio WENDT (1992) em si não progride muito na crítica ao
Realismo, sendo considerado um moderado. Algo mais crítico e radical surge dos
estudos de nomes como John Gerard Ruggie, Robert Cox, o próprio Nicholas Onuf e
Friedrich Kratochwil. É preciso ressaltar, no entanto, que a chamada Teoria Pós-
Moderna das Relações Internacionais é um subgrupo que vai emergir dentro desta
divisão dentro dos construtivistas, ou reflexivistas, como indica KEOHANE (1988).
Desta forma, a crise da Modernidade pode ser encarada então como um longo
processo de crise, com um viés profundamente filosófico, mas que encontra
ressonância em grande parte das ciências humanas e sociais, afetando a forma como
percebem, a partir de suas próprias perspectivas, a realidade que as cercam. Esta
crise também afeta as Relações Internacionais, e promove um debate importante, que
vem ganhando vulto, sobretudo a partir do fim – não-previsto – da Guerra Fria.
Ou seja, visto que não há realidade, já que isto é a construção de uma visão de
mundo que é limitada e não universal, não faz sentido falar em análise da realidade
como uma maneira de compreendê-la como algo fechado e indivisível. Isto fica claro
quando se observam as chamadas categorias objetivas de análise, que para
DERRIDA (1976), não existem de fato, visto que esta realidade, as próprias categorias
e o mundo em si é algo múltiplo.
O Estado não é natural, e também não é natural que seja usado como
categoria de análise sem contestação, como inclusive algo deslocado por completo da
própria realidade histórica que se apresenta hoje. O Estado foi instituído em um
contexto, imposto como construção da natureza, da realidade, mas é preciso entender
que limites devem ser impostos, desta vez pela própria realidade, profundamente
modificada desde que o Estado foi construído como unidade política e os dias de hoje.
Quer dizer, afirmar que o Estado em si hoje comporta a unidade que comportou
no momento de sua fundação, é desconsiderar a multiplicidade de fluxos que se
aproveitam desta auto-imagem que o Estado cria de si mesmo, para existir. Quando
se trata do fluxo de capitais, bens, serviços e pessoas, provavelmente a lógica
territorialista unitária do Estado não prevalece mais, dando espaço a várias novas
configurações, onde ainda precisa se considerar também os atores não-nacionais.
Em WALKER (1990), isto fica ainda mais claro. Diz RESENDE (2010), que “a
separação entre o de “dentro” e o de “fora” – o nacional e o internacional – leva-nos a
pensar que a ética somente pode ocorrer dentro do Estado, enquanto o internacional
seria o lugar da amoralidade, já que é anárquico.” (RESENDE,2010, p. 58). Ou seja, a
separação entre o que está dentro e o que está fora é pejortiva, sendo que o primeiro
é relacionado com a ordem e o segundo com a anarquia, o caos. Dentro desta
configuração, a aceitação de parâmetros éticos aceitos internacionalmente e
respeitados pelos atores é rechaçada, e a lei da força sempre evidencia o
comportamento a seguir.
1.5 - CONCLUSÃO
Dito isto, afirmar portanto que Relações Internacionais é uma área, é em suma,
limitar seu desenvolvimento. Pode-se dizer, melhor inclusive, que Relações
Internacionais é uma área do conhecimento, que desde sua origem, teve a
contribuição da Ciência Política, mas também hoje conta com apoio da Filosofia, da
Economia, do Direito, das Ciências Sociais, Psicologia, Antropologia, e várias outras
fontes de conhecimento que dão à nossa área do conhecimento uma possibilidade
muito maior de evolução.
BOOTH, K.; SMITH, S. (Ed.). International Relations Theory Today. Cambridge: Polity
Press, 1995.
COMTE, Augusto. Discurso sobre o espírito positivo. São Paulo: M. Fontes, 1990.
KURKI, Milja. Causes of a divided discipline rethinking the concept of cause in IR.
Review of International Studies. 2006
RUGGIE, John Gerard.. What makes the world hang together? Neo-utilitarianism and
the social constructivist challenge. International Organization, 52(4): 855-885, 1998.
SARFATLI, Gilberto. Teoria das Relações Internacionais. São Paulo: Saraiva, 2006.
WALKER, R. B. J. After the Globe, Before the World. London: Routledge, 2010.
WALTZ, K. O Homem, o Estado e a Guerra: uma análise teórica. Traduzido por Adail
Ubirajara Sobral. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
WENDT, A. “Anarchy is what States make of it: the social construction of power
politics”. International Organization, v. 46, p. 391-425, 1992.