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CÓDIGO DE ÉTICA PARA OS ALUNOS-ATORES

Para começar bem qualquer trabalho em grupo é necessário que


se estabeleçam as regras gerais de convivência e de criação
coletiva. Todos já devem ter escutado a frase de Stanislavski
comparando a disciplina teatral à disciplina militar. “O ator como o
soldado deve submeter-se a uma disciplina
férrea”(STANISLAVSKI,1976,P.31). Neste trecho do primeiro
capítulo de A Preparação do Ator , com o titulo de A Primeira
Prova, Rakhmanov , o assistente de direção, repreende o aluno que
havia chegado um pouco atrasado .

“Aqui ficamos nós, sentados, à espera, enervados, irritados “e


parece que estou um pouquinho atrasado”. Nós todos chegamos
aqui cheios de entusiasmo pelo trabalho que nos aguardava e,
agora, graças ao senhor, todo esse ânimo se destruiu. É difícil
despertar a vontade criadora; matá-la é facílimo. Quando interfiro
no meu próprio trabalho, isso é comigo, mas que direito eu tenho
de atrasar o trabalho de uma equipe inteira?
”(STANISLAVSKI,1976,P.31)

Todos podemos até achar que foi um exagero do assistente tratar


com tanta dureza o aluno que chegou atrasado, que este pequeno
lapso de tempo não teria comprometido todo o trabalho. Já escutei
de atores mais velhos dizerem que isto era apenas uma metáfora,
mas são das pequenas atitudes erradas que se geram os grandes
os grandes vícios. Um pequeno desleixo desta natureza vai
envenenar o terreno e fazer brotar outros comportamentos nocivos
a arte do teatro.

Portanto, este primeiro capítulo apresentará um código de ética


dos atores. Ele estabelecerá algumas regras de conduta e alguns
princípios fundamentais para o sucesso de nosso trabalho criativo.
Esta disciplina é a porta de entrada para outros vôos mais ousados
e nós sabemos que não é possível voar com a cara enterrada no
chão como uma avestruz.

Este nosso código de ética se inspira diretamente no Código de


Ética para os trabalhadores de Teatro (FREEMAN, 1945) escrito
pela atriz norte-americana Kathleen Freeman em 1945. Fizemos a
adequação do mesmo ao trabalho com alunos do curso de teatro, e
também para todos os que já trabalham com teatro tanto atores
quanto diretores e técnicos.

CÓDIGO DE ÉTICA DOS ALUNOS -ATORES E TRABALHADORES DE


TEATRO
ARTIGO PRIMEIRO - Chegar 15 minutos antes do horário das aulas
ou das apresentações, para fazer o aquecimento físico pessoal.
Desligar os telefones celulares ao chegar.

ARTIGO SEGUNDO - Durante o trabalho usar de Generosidade


Criativa que consiste de:
- Entrega total ao trabalho,
- Atenção concentrada permanente,
- Silêncio absoluto enquanto os colegas trabalham,
- Permanência na sala enquanto duram os trabalhos,
- Ousadia para experimentar,
- Humildade.

ARTIGO TERCEIRO - Nunca faltar uma aula. E quando houver


apresentações lembrar que o espetáculo não pode esperar.

ARTIGO QUARTO - Sempre dar o melhor de si com entusiasmo e


energia, mesmo que enfrentando condições adversas ou problemas
pessoais.

ARTIGO QUINTO - Renunciar todas as atividades sociais que


interferem com as aulas, ensaios ou apresentações. A atividade
teatral nos horários agendados é prioridade em nossa vida.

ARTIGO SEXTO - Não se ausentar da sala de trabalho sem a


autorização da direção, mesmo que seja para fazer alguma
necessidade fisiológica.

ARTIGO SÉTIMO - Não permitir que os comentários de amigos,


parentes, professores ou críticos alterem qualquer parte do seu
trabalho, sem a autorização da direção; não alterar as falas de sua
personagem, nem a marcação, nem os figurinos, ou qualquer outro
coisa sem a permissão do seu diretor.

ARTIGO OITAVO - Manter a discrição de todas as coisas que


ocorrem na sala de ensaio, evitando conversas sobre o processo
de criação com pessoas de fora dele. Sempre haverá momentos de
debates onde se pode conversar apropriadamente sobre os nossos
processos criativos.

ARTIGO NONO - Valorizar todo o trabalho, fazendo com


brilhantismo e disciplina qualquer papel seja um com muitas falas
ou não, ou o trabalho técnico quando necessário.
ARTIGO DÉCIMO - Não espalhar boatos ou fofocas, nem formar
grupinhos maliciosos para cultivar um ambiente negativo, pois isto
destrói qualquer processo criativo.

ARTIGO DÉCIMO PRIMEIRO - Cumprir rigorosamente as tarefas


agendadas para cada ensaio, fazendo as pesquisas solicitadas e
memorizando as cenas do dia de trabalho.

ARTIGO DÉCIMO SEGUNDO - Manter limpa a sala de trabalho.

ARTIGO DÉCIMO TERCEIRO - Não trazer para os ensaios pessoas


estranhas ao grupo.

ARTIGO DÉCIMO QUARTO - Não usar nenhuma droga que altere de


qualquer modo a sua capacidade cerebral, sejam as drogas lícitas
como as bebidas alcoólicas, sejam as drogas ilícitas como a
maconha. Mantenha o corpo e a mente limpa para obter o melhor
de si na arte do teatro.

ARTIGO DÉCIMO QUINTO - Os trabalhadores de teatro, atores,


diretor e técnicos, devem sempre se comportar muito bem em
outros ambientes sociais, pois serão sempre identificados como
“pessoas de teatro”. Para fazer o teatro brilhar trabalhamos tanto
no palco como na vida social comum.

ARTIGO DÉCIMO SEXTO - Cada ator é responsável pelo seu figurino


e adereços e todos são responsáveis pelo equipamento do grupo.
Todos devem “carregar o piano”.

ARTIGO DÉCIMO SÉTIMO - Atores obedecem. Porém, nunca você


deve aceitar um papel, ou uma tarefa dada pelo diretor que viole a
sua integridade física e/ou moral . Tenha sempre noção de seus
limites. Ser ator não é para ser destroçado e sim criar a arte do
teatro. O diretor não pode em hipótese alguma violar a integridade
física e/ou moral dos atores.

ARTIGO DÉCIMO OITAVO - Estudar teatro. Ler tudo o que se refira


ao que está trabalhando.

ARTIGO DÉCIMO NONO - A carreira de um ator ou diretor é


solitária, mesmo trabalhando em equipe ele é totalmente
responsável por si mesmo. Seja muito exigente consigo mesmo.
Você tem que prestar contas a si próprio. Não acuse ninguém
pelas suas falhas.
ARTIGO VIGÉSIMO - Tenha sucesso. Este é o objetivo de quem se
dedica a arte do teatro.

ARTIGO VIGÉSIMO PRIMEIRO- Saiba administrar a fama, mesmo


que seja pequenina, dentro de sua escola, no bairro ou na sua
cidade. Mantenha os pés no chão.

(Este texto é um dos capítulo do livro que escrevi para a disciplina


de Fundamentos da Direção Teatral, que disponibilizarei no formato
de ebook. Se você quiser uma cópia mande-me um comentário
através deste postagem que mandarei o link para você quando
fizer o lançamento. )

Everaldo Vasconcelos
Professor do Departamento de Artes Cênicas da UFPB

A ética no cinema: lista de filmes que


abordam questões éticas e morais
Por Cabine Cultural / 04/04/2015 / Sem comentário
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Laranja Mecânica
O cinema desde a sua origem vem sendo uma boa ferramenta para refletirmos sobre
questões éticas e morais; lista com ótimos filmes
Ética no cinema. Moral no cinema. Certamente você se deparou por muitas vezes com estes
termos, sobretudo em sites de listas de filmes ou sites de filosofia. O fato é que é bastante
compreensível o ser humano se interessar por questões que abordam seus costumes, seus
princípios, suas ações, pois essas questões o definem enquanto homem. Há uma necessidade
natural de sabermos e entendermos as nossas atitudes e mediarmos nossos acordos de
convivência, e o cinema, mais que qualquer outra arte, soube explorar essa temática de
modo intenso.

Ética/Moral
O termo ética deriva do grego ethos (caráter, modo de ser de uma pessoa) e diz respeito à
reflexão sobre os nossos atos morais. A Moral, derivada do latim (mos, mors) é o conjunto
de valores, normas, regras e princípios que norteiam a conduta humana em sociedade. A
Moral é construída por uma sociedade com base nos valores históricos e culturais. Do ponto
de vista da Filosofia, a Ética se dedica a pensar e refletir as ações humanas, bem como seus
fundamentos, ela reflete, portanto, sobre os valores e princípios morais de uma sociedade e
seus grupos.
Filmes
O cinema, desde a sua gênese, trabalha com questões que envolvem termos como ética e
moral. A partir de agora iremos listar alguns dos mais importantes filmes e suas abordagens
sobre o tema.
1 – Laranja Mecânica – Como pensar uma sociedade sem que todos os homens sejam
dotados de liberdade e respondam por seus atos? Uma das obras-primas de Stanley Kubrick
se sustenta em questões como esta. Alex é um jovem rebelde, extremamente violento e
alheio à regras sociais. Porém, depois que ele mata uma senhora, ele vai preso e lá recebe
um tratamento inovador: ele passaria a ser condicionado a não fazer o mal. Sempre que
pensasse em praticar um ato que afronte o status quo, ele sofreria espasmos de dor que o
forçaria a não fazer. Assim, Laranja Mecânica entra para a história do cinema ao trabalhar
uma das questões morais mais importantes: o que é o ser humano sem o livre arbítrio? Se
não podemos escolher como agir, como podemos nos considerar seres livres, na acepção
mais profunda da palavra? Uma ótima ferramenta para se pensar este tema. Temos um texto
mais detalhado sobre o filme, só clicar e se aprofundar no assunto
2 – Crash, no Limite – Crash (de 2004) é um filme visceral, que aborda através de suas
variadas histórias (que se encontram no decorrer do filme) questões éticas ligadas ao
preconceito racial e étnico, adequação a uma sociedade e estereotipação. A história é rica
em mostrar manifestações de falta de moral/ética, ou ao menos de uma chamada ética da
conveniência. Ou seja, se esta ação vai me fazer bem, então ela talvez não seja tão ruim
assim. Na história, o roubo do carro de um casal de brancos passa a envolver a vida de
latinos, negros e orientais em acontecimentos que se sucedem, demonstrando, assim, o
poder que as decisões têm, não só na vida de quem as toma, mas na vida de todas as pessoas
envolvidas.

Crash no Limite
Assim, Crash trabalha com aquela interessante ideia de que nossas ações possuem um poder
muito grande sobre a vida alheia, e não somente sobre a nossa. As ações que praticamos
podem – e devem – ser universalizadas, para assim sabermos se ela é ética (ou moral) ou
não. A questão aqui é a seguinte: você gostaria que ‘fulano’ te tratasse do mesmo jeito que
você está tratando ‘beltrano’? Muito de nossa reflexão sobre o tema recai sobre esta
fundamental pergunta.

3 – Quem somos nós? – Basicamente, essa é a premissa deste belo documentário: uma
discussão sobre quem somos, de onde viemos, para onde vamos, o que há além de nós, no
universo. Uma vasta discussão sobre questões pertinentes ao conhecimento humano, física
quântica e sobre as nossas verdades.
Sabemos que a ética e a moral podem ser vistas dentro de uma perspectiva coletiva (regras
sociais, leis…), e também dentro de uma perspectiva individual (que tipo de princípio me
acompanha nas minhas atitudes). Essa ética mais interna, de buscar entender quem somos,
ou o que nos leva a agir de determinada maneira, é o ponto de partida do documentário, um
dos mais interessantes já produzidos. Um documentário denso, intrigante e que foi tema de
um ótimo texto publicado aqui no site. Só clicar aqui e conhecer mais do documentário e
de sua temática
4 – Ponto de Mutação – Há um diálogo no filme do cineasta Bernt Capra que é de
fundamental importância para discutirmos a ideia de ética: os três personagens estão
discutindo o papel do cientista no mundo e de sua responsabilidade sobre as suas ações e as
suas descobertas. Em jogo naquela conversa, a criação da bomba atômica, produzida pelo
cientista Robert Oppenheimer. Ele, ao ver sua ‘invenção’ ser usada para destruição, se disse
culpado e envergonhado. O presidente americano na época, Henry Truman, retrucou
dizendo: mas fui eu quem mandou jogar as bombas.
Aqui está uma questão moral: se você cria ou constrói algo para o bem, e alguém se apodera
e utiliza para outros fins, temos responsabilidade sobre isso?

O filme possui diálogos soberbos (são 1 hora e 40 minutos de conversas). Interessante e


relevante filosoficamente. Temas como moral, ética e existencialismo são motes deste
filme. Temos também um ótimo texto sobre ele, que ajuda, e muito, a compreender seus
dilemas.
5 – Efeito Borboleta – Agora iremos sair um pouco dos filmes mais densos narrativamente
falando e vamos parar em um suspense mais comercial, estrelado pelo galã Ashton Kutcher.
Ele interpreta Evan, rapaz que cresce carregando alguns traumas a respeito de decisões e
escolhas erradas de seu passado. Porém (sendo bem direto) ele tem a capacidade de voltar
no tempo e mudar as escolhas que fez. O problema é que mudando suas escolhas, ele acaba
mudando o curso do universo.
Efeito Borboleta trabalha, assim, duas questões, uma que já abordamos: suas ações
individuais possuem grande poder sobre a vida alheia. Já dissemos isto e vale bem para a
história. A segunda é muito famosa: se você pudesse voltar no tempo, mudaria algo em sua
vida? Essa é uma pergunta bem filosófica, que mexe com questões morais e éticas, pois
mudando algo em sua vida, você poderia estar contribuindo para destruir ou beneficiar
outra. E seguindo aqui a máxima de Aristóteles na Ética a Nicômaco, e em seu pensamento
moral de forma geral, “somos o resultado de nossas escolhas”, tendo esse princípio
axiológico e de conduta ético-moral presente como fio condutor.
Efeito Borboleta

No filme, cada mudança, mínima que seja, acaba prejudicando pessoas ao seu redor. Ele
brinca de Deus, mas percebe logo o quão pesado é ter que lidar com o sentimento de culpa
por ser um elemento desencadeador de situações destruidoras em vidas alheias.

6 – O Mundo de Sofia – O filme, que é baseado em um dos mais famosos livros sobre a
filosofia, é um prato cheio para se entender questões filosóficas, incluindo aí ótimas
conversas sobre ética e moral. Sofia Amudsen, personagem central do filme, é uma jovem
estudante que vê a sua vida mudar completamente por conta de cartas anônimas com as
mais diversas questões existenciais: quem é você? De onde você vem? Como começou o
mundo? A partir daí, a jovem viaja através da história da filosofia, conhecendo os grandes
filósofos e seus pensamentos.
Neste sentido, conhecemos os conceitos de ética de Aristóteles e de vários outros grandes
filósofos da história ocidental. Um prato cheio para quem gosta do tema.

7 – O Abutre – O filme conta a saga de Lou Bloom (Jake Gyllenhaal). Lou, sem saber
direito o que ser da vida, descobre que o trabalho de cinegrafista especializado em tragédias
(assassinatos, incêndios, acidentes…) é bastante rentável. Assim, passa a ser mais um
desses que vivem em busca de tragédias para documentar e exibir em programas dito
‘jornalísticos’ populares. Aqui no Brasil temos exemplos disso: Balanço Geral, Se Liga
Bocão (Bahia), Brasil Urgente…
Uma das questões que envolvem ética, mais importantes para se discutir na
contemporaneidade, é a chamada ética jornalística. Até onde vai o direito de um repórter
fotografar (ou filmar) as entranhas de um acidentado, ou o rosto deformado de alguém que
recebeu uma facada, ou o corpo já moribundo de um assaltante? E por que este tipo de
conteúdo fascina tanto as pessoas? Se os programas estão no ar, é porque o público
legitima.

Trabalhar a ideia de ética e de moral através deste filme pode ser uma experiência bastante
rica e produtiva. Teremos na discussão elementos filosóficos utilizados em exemplos do
cotidiano. E para enriquecer ainda mais a discussão, temos um texto sobre o filme no site
8 – O Jardineiro Fiel – Já é sabido por todos que uma das indústrias que mais carecem de
um acervo ético é a indústria farmacêutica. Essa indústria, em nome dos lucros e da
ambição, destruiu ao longo das décadas, milhares e milhares de vidas. Animais são os que
mais sofrem, sendo utilizados como cobaias em experimentos para fabricação de
cosméticos ou medicamentos (alguns importantes e outros bastante supérfluos). Porém, o
ser humano também já sofreu (e ainda sofre) bastante com a falta de escrúpulos que muitos
membros dessa indústria possuem.

O Jardineiro Fiel de Fernando Meirelles


O Jardineiro Fiel, filme do cineasta brasileiro Fernando Meirelles, é sobre isso. O que mais
fica evidenciado, nesta obra, é exatamente o seu caráter de denúncia. E não falo aqui,
exclusivamente, da denúncia da péssima condição de vida em algumas partes da África, da
globalização e de todas as suas consequências ou, ainda, da má distribuição da renda
mundial e, sim, da cruel manipulação da indústria farmacêutica: é chocante assistirmos
cenas em que o negligente governo do Quênia permite que sua população pobre, bastante
miserável, seja usada como cobaias para a aplicação dos remédios dessas corporações
farmacêuticas.
Temos um texto sobre o filme, para ajudar um pouco na discussão do tema.
Outros filmes interessantes:
Advogado do Diabo
O Quarto Poder
O Show de Truman – O Show da Vida
Em um Mundo Melhor
O Senhor das Armas
Matrix
- See more at: http://cabinecultural.com/2015/04/04/a-etica-no-cinema-
lista-de-filmes-que-abordam-questoes-eticas-e-
morais/#sthash.SN6GlUt6.dpuf

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