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PERFIL PROFISSIONAL
O ATOR DEVE SE PREPARAR PARA SE TORNAR UM PROFISSIONAL SINTONIZADO
COM SEU TEMPO, TRABALHAR DENTRO DE VALORES ÉTICOS E SER CAPAZ DE:
OS PASSOS
1. OS OSSOS
2. ADJETIVOS
4. OBJETIVO PRINCIPAL
5. OBJETIVO CONTRÁRIO
7. DESCOBERTAS E SENTIMENTOS
9. HUMOR
10. LUGAR
11. SEGREDO
12. SUMÁRIO
SENTIR
A observação.
O se desligar.
Ouvir.
Perceber o momento exato do pulo da realidade daquele momento para outra realidade.
O momento do desprendimento.
Fisiologia
Sociologia
Psicologia
Na primeira questão suas respostas devem ser curtas; nas duas seguintes você deve
expandir e aprofundar sua visão. Nessas duas questões (Sociologia e Psicologia)
você terá oportunidade de dar um sopro de vida ao seu personagem. É importante
saber que nestas questões MAIS é realmente MAIS.
2) ADJETIVOS
Dez adjetivos positivos que melhor descrevem seu personagem. Esses adjetivos
serão boas ancoras para o seu personagem.
3) RELACIONAMENTOS
4) OBJETIVO PRINCIPAL
O que você quer do outro personagem? Responda esta pergunta de maneira simples
e direta (consulte sua lista de verbos de ação). Procure também diferentes maneiras
de identificar seu objetivo principal. Não se contente com a primeira opção que lhe
vier à cabeça. Exemplo: se seu principal objetivo é manipular, outras formas de dizer
isso seria: ameaçar, enredar, adular, repreender, persuadir, instigar, aborrecer,
enganar, intimidar.
Pelo fato de durante toda a cena você estar tentando alcançar seu objetivo principal
é fundamental que você procure várias maneiras de fazê-lo, a maior variedade
possível de formas de conseguir o seu objetivo. Isto nos remete ao que já foi dito
sobre modulação. Você sabe o que quer e se você encontra várias maneiras
diferentes de pedir o que quer (ou exigir o que quer), o público se manterá
interessado. Caso contrário eles vão ficar entediados de ouvir o ator pedir (ou exigir)
a mesma coisa todo o tempo. Faça tudo o que puder para manter seu trabalho
interessante. Busque a maior variedade possível. Procure MODULAR sempre.
5) OBJETIVO CONTRÁRIO
Bem, agora que você já sabe seu objetivo principal, encontre pelo menos um lugar
na cena onde o contrário do que você quer também seja verdadeiro. Procure-o e
exercite-o. Um objetivo contrário deve ser representado tão intensamente quanto o
objetivo principal, apenas que sua representação se dará num curto espaço de
tempo.
6) MOMENTO ANTERIOR
7) DESCOBERTAS E SENTIMENTOS
Toda vez que o outro personagem falar (ou cumprir uma ação descrita no roteiro) é
necessário que você faça uma descoberta sobre o que está acontecendo (e às vezes
você descobrirá mais do que uma coisa). E já que você descobriu, então é
necessário refletir sobre como você se sente sobre o que acabou de descobrir.
Há oito emoções / sentimentos básicos: alegria raiva, tristeza, ciúme, medo, traição,
constrangimento e confusão. Procure certificar-se de que seus sentimentos
(emoções) fazem parte desta relação.
É também possível que você tenha mais do que um sentimento (emoção) sobre o
que acabou de descobrir.
Desde que você saiba quais são seus sentimentos, eles, por outro lado, irão colorir a
forma como você dirá sua próxima fala, MANTENDO SEU OBJETIVO PRINCIPAL
NA MENTE. No cinema, cada fala ou parte dela tem um objetivo separado. Se você
tem três falas num único discurso certifique-se de que tem três objetivos separados
fala por fala.
Use a sua lista de verbos de ação. O que significa isso? Os verbos irão ajudá-lo a
manter-se em ação, permanentemente estimulado, durante os passos de cena.
Procure no dicionário verbos que signifiquem ação visível. Não use verbos como
pensar, refletir, abstrair, lembrar, etc... Use verbos que sugiram ação visível. Os
verbos de ação criarão motivações e estímulos na manutenção de sua crença na
cena.
9) HUMOR
É fundamental encontrar o humor em qualquer cena que você faça. Humor não são
piadas. Uma piada é aquilo que faz o público rir; humor é onde o personagem ri
normalmente diante do absurdo da situação em que se vê metido ou do absurdo
vivido pelo outro personagem na cena, ou mesmo do absurdo de si mesmo, de seu
próprio comportamento.
O HUMOR é também usado para quebrar a tensão. Gente verdadeira sempre tenta
manter as tensões sobre controle; apenas maus atores procuram intensificar uma
situação que por si, já é tensa.
HUMOR é também usado para expressar ironia. Procure o que é absurdo numa cena
e sinta-se disposto a rir dele. Ou então use o humor para quebrar a tensão num
momento da cena. Ou use o humor para expressar o senso de ironia ou fina
inteligência de seu personagem. Não se intimide em expressar o senso de humor de
seu personagem numa cena, não tenha medo de rir.
Uma das razões porque admiramos os verdadeiros grandes astros é por reconhecer
neles a habilidade de não deixar seus personagens (e ele mesmo) levarem-se
demasiadamente a sério.
10) LUGAR
11) SEGREDO
O segredo é algo que você sabe, algo que outro personagem não sabe e que você
não revela. Tendo um segredo você se sente mais poderoso, mesmo que você esteja
interpretando um personagem menor. Portanto, escolha um segredo, e você até pode
sair fora do script para conseguir o segredo que procura. Certamente você
conseguirá produzir um grande efeito sobre o outro personagem da cena, mas nunca
o revele.
12) SUMÁRIO
Sintetize a cena em duas ou três frases curtas. Explique o arco da cena. Eu quero
saber o que acontece no início e como as coisas são diferentes no fim da cena. Eu
quero saber se seu personagem sofreu alguma transição ou mudança e se isto
ocorreu, por que ocorreu?
ESCALAÇÃO DO ELENCO
A escalação de uma telenovela é uma decisão que depende de fatores artísticos,
econômicos e mercadológicos. Alguns aspectos são fundamentais para que se tenha um
elenco adequado a essas necessidades.
Variedade
Ainda que pareça simplificação, deve-se trabalhar com os estereótipos. Através deles
vai-se aos arquétipos e até aos mitos. Uma boa escalação deve permitir a identificação
dos personagens apenas pela sua silhueta.
Não há um método que possa ser aplicado genericamente na direção de atores. Tudo
vai depender dos propósitos artísticos de cada diretor. O gênero de espetáculo
determina a forma de atuação que pode ser próxima do realismo, psicológico ou do
expressionismo, ou teatro épico, etc.
Como o ator se aproxima do personagem
1. DA VONTADE (etapa inicial): Quero fazer! O ator toma contato com seu próximo
trabalho, procura familiarizar-se com a obra e desenvolver os pontos que o
aproximam do autor, do tema, de tudo o que possa estimular seu desejo de
realizá-la. Começa o namoro.
5. DA FUSÃO: O ator procura unir até uma completa fusão os dois processos
anteriores, o da vivência e o da encarnação, criando um personagem capaz de
reagir coerentemente em qualquer situação. Tem corpo, tem voz, sentimentos e
emoção.
• FALAR COMO GENTE: Levar o ator a perceber que personagem não tem uma
fala encantadora, musical, formalizada, mas contem todas as impurezas e
arritmias da fala humana.
GORDINHA
Gordinha! Gordinha! Com carne, com curva, com pneuzinho lateral. É uma delícia. Peito,
bunda, coxa, eu gosto de tudo muito. Mulher abundante. Cara, eu não suporto essas
magrelas de academia, sabe assim manequim 38? Cara, você vai abraçar a mulher
parece que ela vai quebrar no meio. Não. Pode rir. Pode rir. Eu to acostumado com esse
tipo de reação. Eu sou fora de moda mesmo. Pra mim, amigo, mulher tem que ser
grande, farta, carnuda... Sabe, você vai segurar ali sem medo. Sabe quando você vai
colocar a perna assim por cima da mulher antes de dormir e sente que não vai ter
nenhum ossinho que vai furar a sua canela. Você pega a mulher, você traz assim ó pra
você, aqui ó, você ta aqui ó, agasalhado na gorda. Hum, delícia! Fala sério. Ainda tem
outra, magrela é muito chata, vai. Magrela é um saco, elas vivem de dieta, não podem
comer isso, não podem comer aquilo, não podem sair com você, porque amanhã tem
aula de spinning, alongamentos, pilates, pilates, pilates, que mané pilates. Pilates pra
mim é o tiozinho que lavou a mão lá na bíblia. Quer saber, eu chamo gordinha pra
balada. Chamo mesmo. Como as magrelas estão com tudo, tão em alta, o quê que
acontece? As gordinhas chovem. E tão aí, livres, leves - nem tão leves - soltas,
entendeu? E tem mais... Elas são desencanadas, bem humoradas, elas comem né,
claro, porque realmente, quem não come aí sim, tem motivo pra não ter nenhum tipo de
bom humor né. Ah, outra coisa que pra mim é muito séria: mau hálito. Fala sério, essas
magrelas, elas ficam tanto tempo sem comer, o estômago delas está ali tanto tempo sem
funcionar, que o quê que acontece? Elas têm um puta mau hálito, pode reparar. Toda
magrela tem algum tipo de balinha de hortelã pra dar uma disfarçadinha. Por isso
rapaziada, é que eu falo, eu sou chegado assumidamente a uma gorducha. Elas são
quentes, elas são sensuais, você pode convidar elas pra um happy hour, pra tomar um
choppinho que elas topam, elas sentam na mesa com você, dividem uma calabresinha,
pedem um pastelzinho de carne, sem culpa. Sem culpa. Gordinha é um sucesso. Ô.
Adoro.
HOMEM / EMPREGO
MALA MARROM
É uma mala mais ou menos deste tamanho, de couro marrom, fivela dourada, com
segredo. Perdi no metrô, ontem à tarde, eu ia para a estação da sé. (P) De couro,
marrom, com fivela dourada, mais ou menos deste tamanho... (P) Não, preta não serve,
a minha é marrom. (P) Sei, todo mundo só perde mala preta. Então eu sou um
fenômeno, porque eu perdi uma marrom. (P) Guarda chuva? Não meu amigo, está um
sol de rachar a calçada, eu não preciso de um guarda chuva e nem estou procurando
um. Olha aí na sua relação, vê se tem uma mala parecida com a minha. (P) Não, preta
não, marrom! (P) Ah, caiu o sistema? E é claro que só pode acessar a relação de
objetos perdidos pelo sistema... E quanto tempo, até essa porcaria de sistema voltar?
(Aponta) Olha lá, voltou! O sistema voltou! Acessa lá, vê se consta a minha mala. (Puto)
Marrom! Marrom, cor de cocô! (P) Ingresso pra que? (P) Santos e Guarani, numerada
coberta? Não, meu querido. Não, meu filho, eu não estou interessado eu só quero a
minha mala marrom pra voltar pra minha casa. (P) Só amanhã, como? (Furioso) Como
terminou o expediente?!
REBELDIA
Pode me mandar embora, mas eu vou continuar dando esse espetáculo sim! Só o que
eu quero é aprender, mas não há nada para aprender na universidade de vocês, nada!
O que é que vocês ensinam lá? Essa vida que está morta, essa vida de esmagar a
natureza, de super-homens neuróticos, é isso? Tudo o que vocês querem lá é aprender
a dominar a vida, enquanto eu só quero que a vida me domine! Enquanto vocês querem
saber de tudo eu só quero ter a humildade de não saber nada! Nada!
Isso não é questão de revolução política não, é revolução de tudo! É outro ser! Você que
pensa que é um revolucionário, mas na verdade essa só é a doce imagem que você faz
de você mesmo, pai! Você é só um funcionário público... Você trabalha pro governo, pro
governo!
Você anda de ônibus 415 com dinheiro trocado só pra não brigar com o cobrador, e de
noite fica aí nessa janela vendo uma senhora de peruca tirar a roupa e ficar nua!
Eu não tenho pra onde ir pai... Pra onde é que eu vou? Mas tudo bem... eu já estou de
saída!
BOLSA MARROM
É uma bolsa mais ou menos deste tamanho, de couro marrom, fivela dourada. Perdi no
metrô, ontem à tarde, eu ia para a estação da Uruguaiana. (P) De couro, marrom, com
fivela dourada, mais ou menos deste tamanho... (P) Não, preta não serve, a minha é
marrom. (P) Sei, todo mundo só perde bolsa preta. Então eu sou um fenômeno, porque
eu perdi uma marrom. (P) Guarda chuva? Não meu amigo, está um sol de rachar a
calçada, eu não preciso de um guarda chuva e nem estou procurando um. Olha aí na
sua relação, vê se tem uma bolsa parecida com a minha. (P) Não, preta não, marrom!
(P) Ah, caiu o sistema? E é claro que só pode acessar a relação de objetos perdidos
pelo sistema... E quanto tempo, até essa porcaria de sistema voltar? (Aponta) Olha lá,
voltou! O sistema voltou! Acessa lá, vê se consta a minha bolsa. (Puto) Marrom! Marrom,
cor de cocô! (P) Ingresso pra que? (P) Jogo de futebol? Olha bem pra mim meu querido
e vê se eu estou interessada em futebol! Eu só quero a minha bolsa marrom pra voltar
pra minha casa. (P) Só amanhã, como? (Furiosa) Como terminou o expediente?!
Zethi, cadê meu óculos? Se ele estava aqui agora, não é possível! Você tá surda, Zethi?
É sim, é surda e folgada, porque quando você veio trabalhar aqui o combinado foi que
você chegasse às oito horas da manhã e saísse às cinco da tarde. Agora você deu pra
chegar aqui às sete e quarenta. Olhe aqui, a próxima vez que você chegar aqui antes
das oito, tu vai ficar plantada lá fora esperando, eu não sou palhaça. E se acabar o
serviço as quatro e quarenta, tu não vai embora não, passa pano no chão, limpeza
nunca é demais. Eu acho engraçado que com o tempo tu é econômica, agora, no
sabonete vai catando tudo que é pedacinho e vai jogando fora. Eu não gosto disso, e me
dá raiva, me dá raiva, porque toda vez que a gente vai procurar alguma coisa aqui
dentro a gente não acha nada e vai te perguntar e você nunca sabe onde botou. A
vontade que dá é de agarrar no teu pescoço e bater com a tua cabeça na parede. Eu
não faço isso porque eu não sou uma pessoa agressiva. Você se lembra daquele
desodorante que há um tempo atrás sumiu aqui dentro? Nívea, é, aquele nívea. Treze
reais na Pacheco. Sem dúvida foi você que roubou. O que me chateia é que eu te trato
bem, eu sempre te tratei bem, não sei por que você faz uma coisa dessas, ta
entendendo? Olha aqui, eu vou te falar uma coisa, se meu óculos não aparecer, eu vou
dar parte sua, hein? O quê? Meus óculos estavam aqui no meu peito o tempo todo e
você não me disse nada? Você está querendo me sacanear? É isso? Zethi senta aqui,
senta aqui, por favor. Você acha correto isso? Você acha correto isso que você fez?
CHUVA
Uma hora atrasado e eu tenho que ficar aqui com cara de coerência. As pessoas tão
passando e tem umas que ficam me olhando... O que essa doida tá fazendo debaixo
desse toró sem guarda-chuva? Que fim de carreira, meu pai! E nem precisava tá
passando por isso, podia tá na minha casa vendo TV, debaixo do meu edredom. Tá,
também não ia ser essa maravilha toda, que a minha TV tá com uma imagem péssima e
meu edredom tá lavando. Vou dar mais dez minutos, se ele não aparecer vou embora e
nunca mais quero ver a cara dele! Já me passou tudo que é coisa pela cabeça, já
inventei trocentas desculpas pro cara: furou o pneu do carro, tá tudo engarrafado por
causa da chuva, o celular tá sem bateria, por isso ele não avisou... Depois eu fui ficando
com mais raiva e pensei que, vai ver foi assalto, ou a mãe teve um ataque, ele foi pro
hospital e no caminho um caminhão pegou o carro bem assim do lado do motorista e ele
tá preso nas ferragens. Os bombeiros não chegam porque tão ocupados com coisa mais
importante. Ok, nada disso resolve meu problema de tá aqui debaixo dessa chuva. O
problema na verdade não é a chuva, sou eu. Quando fico sozinha marco de ver um cara
que eu sei que é um galinha safado, que deve ter marcado comigo e mais umas dez
garotas. Escolheu a que mora mais perto e deve tá dentro do carro indo pro cinema, ver
o filme que eu escolhi! Quer saber? Vou começar a terapia segunda sem falta! Ninguém
agüenta essa carência toda, nem eu!
DALVA
Oi, o meu nome é Dalva. É a primeira vez que eu venho numa terapia de grupo. Não
tenho nada pra falar. Não sei nem porque eu vim aqui, por que eu não tenho nada pra
falar. Quer dizer, eu tenho uma coisa pra falar. Eu vim porque eu to encalhada há pelo
menos uns cinco anos. Eu to en-ca-lha-da a cinco anos. Não, não me olha desse jeito.
Qual é o problema? Eu só tive um namorado na minha vida. Ah, como ele me irritava.
Me irritava, irritava, irritava! Todo dia ele me irritava. Nos finais de semana ele me irritava
mais ainda por que estava de folga e tinha mais tempo pra me irritar. Ele era musico, só
andava de calça de capoeira e de chinelo. Ah, como aquilo me irritava. A gente ia ao
cinema, calça de capoeira e de chinelo, ia jantar, calça de capoeira e chinelo. Uma vez,
num casamento de uma amiga minha ele foi de calça de capoeira e de chinelo e teve a
coragem de jogar um smoking por cima. Eu fiquei com tanto ódio, tão irritada, tão irritada
que resolvi acabar com ele ali mesmo. Depois disso nunca mais fiquei com ninguém. Foi
bom mesmo. Por que um dia eu me olhei no espelho e me achei gata. Soltei meu
cabelo, mas soltei meu cabelo e resolvi me namorar. Comecei marcando um encontro
comigo mesma. Comprei presentes, perfumes. Me amei. Neste dia descobri que eu sou
a melhor transa da minha vida. No dia seguinte eu me liguei. Deixei três recados na
minha secretaria eletrônica, mandei várias sms pra mim mesma, me mandei flores, caixa
de bombom... Não sumi de mim mesma. Alias eu tenho que me ver. E eu vou ficar muito
irritada se eu me deixar esperando.
MULHER TRAIDA
Quer dizer que essa menina ta morando aqui com você. Está à sua disposição 24
horas por dia! Não dá pra entender, sabia? Com toda sinceridade, não dá! O que é que
você pode querer com uma menina dessas? Você tem ela aqui pra quê? Só pra
descarregar o sexo? Pra te fazer comida? (RI) Pra te enxugar as costas? Ou é pra você
fazer seus exercícios de sadismo? Heim? Me conta, eu quero saber... Deve haver algum
motivo pra ela estar aqui! Você bate nela? Tira sangue? Tortura? Tortura física ou
mental? Heim? Me conta! Você já conseguiu provar a ela que ela é burra? Que você é
muito superior? Eu quero saber! Quero saber se você faz com ela tudo o que fazia
comigo. Quero saber se de vez em quando você deixa ela gozar ou se é só você que
goza na cama... Quero saber se ela tem alguma cicatriz sua de lembrança como esta
aqui. (MOSTRA UMA CICATRIZ) Me fala: ela te satisfaz? Como eu? Não, acho que
não... Ela parece um adversário fraco. Não deve estimular muito o seu sadismo... Como
eu... Não deve satisfazer todas as suas taras... Não deve conhecer todos os segredos
do seu corpo... como eu. (SORRI) Você deve sentir falta... Eu sinto falta. Eu admito. Eu
sinto falta das nossas guerrinhas... Dos seus berros, das suas porradas... Você também
deve sentir falta de um adversário à sua altura... De alguém que te enfrente, te esfole,
seja forte! Eu fiz várias tentativas... Não deu certo... Com você também não deu, tenho
certeza. Você vive com essa garota por comodidade, cansaço, medo de ficar sozinho...
Mais cedo ou mais tarde você vai acabar voltando pra mim. Tenho certeza disso. Não há
ninguém entre nós dois. Vem cá, deixa eu cuidar de você... Por que adiar, Meu Deus? A
minha vida ta uma merda, a sua também... Vamos resolver isso de uma vez! Você me
ama. E vai voltar. Tenho certeza disso. O que me arrebenta é esperar... Adiar... Mas tudo
bem... eu espero.
MULHER / EMPREGO
Ela está saindo, ele corre atrás dela, pega-a pelo braço.
ANA – Eu não pedi que você defendesse a minha honra. Nós nos conhecemos ontem,
Joaquim. Você não tem o direito de me tratar assim.
ANA – Você fala como se tivéssemos algum compromisso e nós não temos nada um
com o outro, Joaquim. Não tivemos tempo sequer de ser amigos.
JOAQUIM – (corta) Eu não queria ser teu amigo, Ana! Eu queria namorar contigo! Casar
contigo, ter uma vida com você, Ana.
ANA – Você foi muito imprudente em alimentar ilusões a meu respeito. (Desculpa-se).
Eu não sou mulher pra você, Joaquim. Nunca fui. Eu não sou virgem, já estive com
outros homens. Não por dinheiro, mas por bem-querer,
(Tempo)
JOAQUIM – Pois antes tivesse cobrado por isso. (tempo). Ao menos a sua família não
passava tanta necessidade. Afinal de contas, tem razão quem te chama de mulher
corrida. Porque é isso que você é, Ana: mulher corrida, rodada, barata!
FRANCISCA E MARCELO
Casal à mesa, brinda.
MARCELO – À esta viagem! Que na verdade é o início da grande jornada da nossa vida
a dois.
(Tempo. Sorriem. Bebem)
FRANCISCA – Eu não queria magoar você e nem dizer o que eu não sinto.
MARCELO – Não será necessário. Eu me contento com aquilo que você puder me
oferecer. E são bons sentimentos, eu tenho certeza.
FRANCISCA – Um champagne.
MARCELO – Vem.
MARCELO – Por que é que a nossa vida não pode ser imensamente romântica? Como
essa música.
MARCOS E ISABEL
MARCOS – Não há nenhum engano. Quem marcou este encontro sabia exatamente o
que estava fazendo.
ISABEL – Afinal o que é que ele pretende, nos colocar frente a frente?
MARCOS – Não somos dois títeres. Somos duas pessoas. Cabe a nós decidirmos se
seremos manipulados ou não por aquele homem.
MARCOS – Você está muito bem. Muito bonita. Mais mulher. O casamento está lhe
fazendo bem.
MARCOS – Eu vi. Estive lá na porta, escondido. Não lhe contaram que tentei entrar na
casa e interromper a cerimônia?
MARCOS – O seu irmão disse que eu ia destruir a sua vida e que você estava muito
feliz em se casar com o Fernando. A princípio, não acreditei, mas quando te vi jogar o
buquê e escutei a sua gargalhada, você parecia tão exultante.
ISABEL – (corta) Eu não estava exultante, eu estava conformada que você veio embora
para o Rio de janeiro e me deixou para trás!
ISABEL – De uma folha de papel amassada que eu encontrei no seu quarto. Onde você
dizia que a atitude mais sensata era desistir de mim.
MARCOS – Aquilo era uma página do meu diário, onde eu manifestei uma preocupação
muito natural.
ISABEL – (corta) Você subestimou o amor que eu sentia por você, Marcos. Você disse
que eu não seria capaz de suportar uma vida de privações.
MARCOS – (corta) Se eu acreditasse nisso, eu não teria arrancado aquela folha do meu
diário e jogado fora! Aquilo foi um momento de desabafo, de preocupação, entendeu?
(Tempo) Eu não posso acreditar que tenhamos sido enredados por uma sucessão de
mal entendidos e desencontros. Não posso, Isabel, não posso.
ISABEL – Meu desejo é fugir com você. Mas existe um abismo entre desejo e dever. Eu
me casei na presença de um padre. Eu jurei na presença de Deus que eu seria fiel a
Fernando e eu serei.
MARCOS – Eu nunca procurei você pra que fugisse comigo. Eu a amo muito, para te
desejar uma vida de pária.
ISABEL – E eu sei.
MARCOS – Nunca saberei o que é ter você em meus braços, acordar ao seu lado, ter
um filho seu. Nunca saberemos que poderia
ISABEL – (corta) Saberemos o que sentimos um pelo outro e o que poderia ser
MARCOS – Amigos?
ANA E DAVID
ANA - Oi!
DAVID - Oi! Oi. (surpreso)
DAVID - Estou bem, tudo na mesma. Agora moro no escritório e meu nome é trabalho,
mas fora isso tudo bem. E você? Já imagino, é claro, muito sucesso, prêmios, como
sempre.
ANA - Não, quê é isso. Tudo não passa de besteira. Eu não tinha ideia de como era
besteira, mas realmente vejo que isso não me importa.
(Pausa)
ANA - Bom, na verdade, ontem foi o último dia de filmagem, então... Estou partindo.
Mas... Enfim... Eu trouxe isso de casa pensando em você e queria te entregar.
ANA - Não, prefiro que abra quando chegar em casa. Eu ficaria sem graça.
DAVID - Poxa, Obrigada. Não tenho ideia do que seja, mas mesmo assim te agradeço.
ANA - Na verdade, era da minha casa por isso que... Mas enfim não tive coragem pra te
ligar depois do que fiz. Eu sei que me comportei mal e não foi a primeira vez. E é por
isso que estou aqui. (Pausa) Bom, o fato é que, é que...
DAVID - é que?
Neste momento toca um celular de David que desesperado joga longe pra não
incomodar ou desliga-o.
DAVID - (falando sozinho) Tinha que ser agora, né? (desliga o celular) Desculpe. Você
dizia?
ANA - Bom é que... Eu precisaria ir embora amanhã, mas fiquei pensando se caso eu
ficasse, eu poderia sair com você um pouco, ou quem sabe, muito. Vê se de repente
você volta a gostar de mim.
DAVID - Mas naquele dia no set, aquele ator perguntou de mim e você me desprezou ,
disse que eu era um apenas um fã deslumbrado. Desculpe mas eu ouvi tudo. Sua lapela
estava ligada e eu estava com fone de ouvido.
ANA - Eu falei isso sim. Mas não pode esperar que eu vá contar da minha vida pessoal
pro homem mais fofoqueiro da cidade, não é?
Neste momento toca o interfone da casa, é a pizzaria.
DAVID - (no interfone) Pizzaria? Mas agora? Sim mas porque não atrasou hoje, hein?
Sempre atrasa! Um minuto, já vai.
ANA - Tudo bem. Sempre existe um momento de espera quando o juiz sai para
finalmente dar seu veredito. (risos)
DAVID - Olha Ana, eu sou um cara muito sensível e não estou acostumado a me
apaixonar. Nem a sofrer, tampouco. Seria muito inconveniente de minha parte eu dizer
não a seu pedido? Acho melhor que cada um vá pra seu lado, enfim, vamos deixar as
coisas como estão.
ANA - Tudo bem é claro que você pode dizer não. Claro. Bom, já vou indo então...
DAVID - A questão é que pra mim é muito difícil te ter. O que a gente viveu foi
maravilhoso, sem dúvida. Tirando suas crises de TPM, que, aliás, eram insuportáveis, eu
até me arriscaria a dizer que formamos um casal perfeito. Ou quase perfeito... Mas é
que, do jeito que sou inexperiente quando o assunto é amor, sinto que não conseguiria
suportar mais outra frustração, nem ser novamente colocado como segundo plano na
sua vida, coisa que, naturalmente vai acontecer devido ao seu trabalho. Você é muito
para mim, Ana. Simplesmente todo mundo te conhece, por onde ando vejo fotos de
você, você é assunto em todas as rodas de amigos... Enfim eu me sentiria um nada do
seu lado.
DAVID - Você mora em frente à praia e eu moro na Tijuca. O mundo inteiro sabe quem
você é, minha mãe mal lembra meu nome todo. Você...
ANA - (interrompendo-o) Não precisa dizer mais nada. Sua escolha foi feita. Você está
certo, está certo.
Ana vai saindo... Mas pára como se pedisse uma ultima chance.
ANA - Você sabe que essa coisa de sucesso e de ser uma celebridade não significa
nada, né? Realmente isso não tem nenhuma importância na minha vida. Só quero que
você saiba disso (pausa). E não se esqueça de que eu não passo de uma simples
menina, parada em frente a um menino, pedindo, com toda sinceridade do mundo, o
amor dele de volta.
ANSELMO E GORETE
ANSELMO – Chega aqui, vem cá, vem cá. (mostra pra ela as calcinhas dela
penduradas na torneira do box do banheiro). Olha, aqui tem quatro, tá faltando uma.
GORETE – Na entendi.
ANSELMO – Ué, isso aqui não é uma decoração tipo festa junina para comemorar
nossos cinco anos de noivado?
GORETE – Não acredito, você tá com nojo de pegar nas minhas calcinhas?
ANSELMO – Ô Gorete, eu vou te falar uma coisa, eu sei que você lava essas calcinhas
no banho e eu não acho que sabonete para uso humano seja suficiente pra lavar roupa
suja. Existem produtos específicos pra isso.
GORETE – Ah, não acredito. Olha aqui, Anselmo, você fique sabendo que a mais suja
das minhas calcinhas é mais limpa que a mais limpa das suas cuecas.
GORETE – Cadê?
ANSELMO – Olha aqui, ó! (os dois mostram). Não repito mais que dois dias!
ANSELMO – Ô Gorete, ô Gorete, vem cá. Você tá comendo as minhas cuecas pra saber
se são azedas?
ANSELMO – Não existe, Gorete! Azedo é sabor, não existe cheiro azedo.
GORETE – Ah, não existe, né... Então porque que você não entra lá na casa da sua
mãe e respira bem fundo pra ver se não tem cheiro azedo. Ha Ha Ha.
ANSELMO – Ih, caramba... Puxa... Que chato, molhei suas calcinhas. Choveu, foi sem
querer.
GORETE – Ai, que chato. Não, não tem problema não, Anselmo, porque eu faço isso
aqui ó: eu pego assim, faço um bolinho bem grande e ó (esfrega na cara dele e sai
cantando). Parabéns pra você nesta data querida...
HOMEM 1 E HOMEM 2
HOMEM 1 – Ô rapaz, você tá aí? Cê desculpa a demora. Eu tive que dar a volta e tava
cheio de gente lá atrás, um pessoal concentrado, parecia até centro de macumba. Mas,
fala.
HOMEM 2 – Então, você sabe que eu nunca fui de pensar bobagem, nem de...ah, você
sabe! Mas eu tô com um pobrema grave.
HOMEM 1 – Todos nós temos um, amigo. É pra isso que eu to aqui. Ainda mais pra
gente honesto como você.
HOMEM 2 – Então, eu sempre ouço no bar cê falando que pode ajudar as pessoas. E
dessa vez eu tava precisando de uma forcinha.
HOMEM 1 – Mas, olha. Eu preciso saber se você tá disposto a fazer tudo, tudo, tudo,
tudo, tudo mesmo! Porque depois que eu te contar o serviço, não tem mais volta.
MARIA E TEREZA
MARIA – Perdão?
TEREZA – Quando eu soube que o delegado sabia do que só eu, você e a Fátima
conversamos, já fui logo jogando a culpa em cima de você.
TEREZA – Não. Mas eu vim pedir desculpas Maria. Desculpas por que desconfiei de
você. Eu sei que você é incapaz de dar um golpe desses, de faltar comigo numa coisa
tão importante, somos amigas a muito tempo.
MARIA – Não precisa pedir desculpas. Eu já entendi. Mas Tereza, há uma coisa que eu
preciso falar pra você.
Elas se abraçam
TAMIRES E ALEXIA
Tamires não quer tocar nesse assunto do pai, que é difícil pra ela também.
Alex está decidido a espantar seus fantasmas.
ALEXIA - A gente nunca conversou sobre isso, Tamires. Eu acho que chegou o
momento.
TAMIRES - Pra que falar sobre a morte do Pai, Alex? Todo mundo já se magoou
muito com tudo o que aconteceu. Deixa esse assunto morto e enterrado.
ALEXIA - Não dá. Porque ele tá vivo aqui dentro de mim. Você não percebe que
foi ali, quando eu puxei aquele revólver e apontei pro Caio que tudo começou.
TAMIRES - Começou muito antes, Alex. Começou por causa do seu ciúme da
minha relação com o Caio. A briga, o tiro, a morte foram consequências.
ALEXIA - Eu não tinha ciúmes de você e do Caio, Tamires. Eu só queria que você
não fosse feliz.
TAMIRES - O que? Mas por que, Alex? Por que você não gosta de mim?
ALEXIA - Eu gosto, Tamires. Lógico que sim. Você é minha irmã. Mas é que a
gente nunca conseguiu se entender e a gente foi se afastando um do outro cada
vez mais.
ALEXIA - Também. Você não pode negar que ele fazia diferença entre a gente.
TAMIRES - Que besteira, Alex. O Papai sempre te amou. É que pai sempre tem
uma coisa de proteção com o filho(a) mais novo. Cê não vê o tio Daniel com a
Bia? É igual.
ALEXIA - O que mais me magoava é saber que eu não era nada do que o papai
queria que eu fosse. Mas eu não conseguia, Tamires. Eu me intimidava a cada
passo que eu dava ao lado do pai. O que eu posso fazer se eu não sou a pessoa
que ele gostaria que eu fosse?
ALEXIA - falando assim, parece que você tem raiva do pai. Você, que gostava
tanto dele.
TAMIRES - E gosto. Gosto muito. Mas não dá mais pra gente não encarar a
verdade. Não foi por isso que nós estamos tendo essa conversa. E a verdade é
que o papai não era aquilo que a gente imaginava. Mas isso não diminuiu o amor
que nós sentimos por ele, e nem a falta que ele nos faz.
ALEXIA - Sabe o que é mais engraçado? É que nós nunca choramos a morte do
nosso pai, juntos. Foi naquele momento em que nós nos separamos cada vez
mais. Eu queria tanto que as coisas tivessem sido diferentes.
Tamires sorri, muito emocionada e abre seus braços para receber Alex em um
abraço. E na emoção dos irmãos.
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