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O ATOR

PERFIL PROFISSIONAL
O ATOR DEVE SE PREPARAR PARA SE TORNAR UM PROFISSIONAL SINTONIZADO
COM SEU TEMPO, TRABALHAR DENTRO DE VALORES ÉTICOS E SER CAPAZ DE:

• Executar repertório específico e adequado ao seu nível de profissionalização,


priorizando a prática coletiva;
• Utilizar os elementos e conhecimentos de leitura à primeira vista e improvisação
no momento da realização;
• Aplicar, na atuação, as técnicas de execução e os elementos básicos da postura,
leitura, memória, respiração, consciência corporal, concentração, foco, projeção,
ritmo e espaço;
• Interpretar textos individual e coletivamente no ato da realização;
• Interpretar textos, roteiros nas diferentes linguagens artísticas exigidas pelas
propostas apresentadas ao ator;
• Atuar na prática de conjunto respondendo aos desafios colocados na situação
específica da performance;
• Utilizar os recursos vocais e corporais para o domínio da atuação;
• Identificar e aplicar, articuladamente, os componentes básicos das linguagens
sonoras, cênica e plástica;
• Integrar estudos e pesquisas na elaboração e interpretação artística de idéias e
emoções;
• Reinventar processos, formas, técnicas, materiais e valores estéticos na
concepção, produção e interpretação artística, a partir da visão crítica da
realidade e uma prática investigativa;
• Identificar as características dos diversos gêneros de produção artística;
• Compor personagens;
• Criar interpretações múltiplas a partir da pesquisa de temas e propostas;
• Analisar, aprimorar e pesquisar as técnicas e a expressão vocal e corporal;
• Pesquisar a literatura dramática;
• Adequar a prática dentro do contexto de realização dos veículos;
• Dominar artisticamente o corpo e a gramática dos diferentes gêneros e estilos no
contexto da atuação;
• Criar a partir da obra do autor;
• Captar a intenção estética do autor;
• Articular os elementos da prática coletiva;
• Estabelecer as relações de sonoridade de acordo com a situação prática e com o
espaço;
• Conhecer e manipular os elementos da linguagem dramática: ator/espaço –
platéia/público – luz – som – texto – cenário – figurino – adereços;
• Conhecer os gêneros dramáticos;
• Desenvolver um amplo conhecimento literário, social e político;
• Pesquisar a realidade que pretende retratar e criativamente, mostrar as várias
facetas da vida dramática;
• Estar engajado com as mudanças do seu tempo, atuando no seu contexto sócio-
econômico;
• Conhecer o seu ofício tanto na frente do público, como nos bastidores, estando
capacitado para agir em todos os aspectos de uma produção – Ator Polivalente;
• Ser um ator-criador capacitado a participar ativamente das discussões e
decisões filosóficas, políticas e econômicas de uma produção;
• Ser um profissional que desenvolva o espírito crítico, o bom humor, a imaginação
e a generosidade;
• Atuar na difusão e produção cultural, concebendo seu ofício como parte do
desenvolvimento integral do indivíduo, seja no plano social, cultural, ético ou
estético.
PASSO A PASSO NA CONSTRUÇÃO DA
CENA

OS PASSOS

1. OS OSSOS

2. ADJETIVOS

3. RELACIONAMENTOS: fatos, sentimentos, conflito

4. OBJETIVO PRINCIPAL

5. OBJETIVO CONTRÁRIO

6. MOMENTO ANTERIOR: a) cenário


b) antecipação
c) excitação
d) perigo

7. DESCOBERTAS E SENTIMENTOS

8. OBJETIVOS FALA POR FALA

9. HUMOR

10. LUGAR

11. SEGREDO

12. SUMÁRIO
SENTIR

A observação.

O sentimento total. A flor da pele.

O se desligar.

Passar para outro universo.

Levitar (essa sensação).

Ouvir.

Apurar todos os sentidos sempre (senti-los separados e juntos).

Perceber o momento exato do pulo da realidade daquele momento para outra realidade.

Esse hiato é o que há de mais importante e preciso.

O momento do desprendimento.

A entrega deve ser total e absoluta. Conseguir sentir isso.

O MUNDO NAQUELE MOMENTO É ALI.


1) OS OSSOS

Fisiologia
Sociologia
Psicologia

Na primeira questão suas respostas devem ser curtas; nas duas seguintes você deve
expandir e aprofundar sua visão. Nessas duas questões (Sociologia e Psicologia)
você terá oportunidade de dar um sopro de vida ao seu personagem. É importante
saber que nestas questões MAIS é realmente MAIS.

2) ADJETIVOS

Dez adjetivos positivos que melhor descrevem seu personagem. Esses adjetivos
serão boas ancoras para o seu personagem.

3) RELACIONAMENTOS

• FATOS: Qual o fato principal que o relaciona com o outro personagem em


cena? Ele é seu irmão, pai, inimigo, o que? Nunca esqueça que dois
desconhecidos encontrando-se pela primeira vez é uma das mais poderosas
formas de relacionamentos que duas pessoas podem experimentar.

• SENTIMENTOS: Agora que você conhece a natureza de seu relacionamento


com o outro personagem faça a seguinte pergunta: “Como você se sente a
respeito dele?”. Há seis escolhas possíveis: Eu o amo. Eu o admiro. Eu quero
ajudá-lo. Eu o odeio. Eu tenho ressentimento dele. Eu quero atropelar o seu
caminho (omiti-lo)
Todo e qualquer relacionamento pode ser definido nessas seis hipóteses.
Escolha uma.

• CONFLITO: Já que você agora sabe como se sente a respeito do outro


personagem, escolha um momento na cena onde o oposto deste sentimento
também é verdadeiro. Para este sentimento conflitado use uma das seis
escolhas descritas acima.
Exemplo: se você ama o outro personagem o conflito seria o de que você
também tem alguma mágoa dele, ou você também o odeia, ou você também
quer passá-lo para traz. A modulação é fundamental para o sucesso de toda
cena. Por saber como você se sente a respeito do outro personagem e
reconhecer que tem algum conflito com respeito a seus sentimentos por ele,
você acrescenta modulações, variações, estranhas e surpreendentes
harmonias, evitando assim que a cena se torne previsível.

4) OBJETIVO PRINCIPAL
O que você quer do outro personagem? Responda esta pergunta de maneira simples
e direta (consulte sua lista de verbos de ação). Procure também diferentes maneiras
de identificar seu objetivo principal. Não se contente com a primeira opção que lhe
vier à cabeça. Exemplo: se seu principal objetivo é manipular, outras formas de dizer
isso seria: ameaçar, enredar, adular, repreender, persuadir, instigar, aborrecer,
enganar, intimidar.
Pelo fato de durante toda a cena você estar tentando alcançar seu objetivo principal
é fundamental que você procure várias maneiras de fazê-lo, a maior variedade
possível de formas de conseguir o seu objetivo. Isto nos remete ao que já foi dito
sobre modulação. Você sabe o que quer e se você encontra várias maneiras
diferentes de pedir o que quer (ou exigir o que quer), o público se manterá
interessado. Caso contrário eles vão ficar entediados de ouvir o ator pedir (ou exigir)
a mesma coisa todo o tempo. Faça tudo o que puder para manter seu trabalho
interessante. Busque a maior variedade possível. Procure MODULAR sempre.

5) OBJETIVO CONTRÁRIO

Bem, agora que você já sabe seu objetivo principal, encontre pelo menos um lugar
na cena onde o contrário do que você quer também seja verdadeiro. Procure-o e
exercite-o. Um objetivo contrário deve ser representado tão intensamente quanto o
objetivo principal, apenas que sua representação se dará num curto espaço de
tempo.

• NOTA: Na realidade sempre há várias oportunidades de representar objetivos


contrários na cena, mas certifique-se de que você possa representá-lo pelo
menos por uma vez.

6) MOMENTO ANTERIOR

O momento anterior é a mini-cena que acontece pouco antes da verdadeira cena


começar. Este é outro ponto onde MAIS é MAIS. Quanto mais você souber do que se
passou antes da cena, mais material você terá para trabalhar na cena principal. Toda
cena tem um momento anterior e ele é crucial para o pleno êxito de sua cena.

Há quantos componentes para o momento anterior:

a) CENÁRIO: Não se trata aqui de uma cenografia, mas do histórico da cena.


A mini-cena, o que aconteceu na cena anterior, os antecedentes da cena
que irá ser feita.

b) ANTECIPAÇÃO: Você precisa saber como se sente sobre o que está


preste a ocorrer. Você está nervoso, ansioso ou apreensivo sobre o que
está por acontecer?
c) EXCITAÇÃO: Você está excitado? Você tem grandes expectativas sobre o
que vai ocorrer?
d) PERIGO: Há algum perigo potencial ao seu bem-estar na cena que está
por acontecer?

• NOTA: Sempre haverá um cenário, um histórico; a mini-cena que


aconteceu pouco antes da cena verdadeira. Pode haver
antecipação, assim como pode haver excitação e às vezes até os
dois sentimentos existirem ao mesmo tempo, paralelamente. Mas
não esqueça, sempre haverá perigo, o sentimento de que você
talvez não consiga obter o que quer do outro personagem na cena
a ser feita.

7) DESCOBERTAS E SENTIMENTOS

Toda vez que o outro personagem falar (ou cumprir uma ação descrita no roteiro) é
necessário que você faça uma descoberta sobre o que está acontecendo (e às vezes
você descobrirá mais do que uma coisa). E já que você descobriu, então é
necessário refletir sobre como você se sente sobre o que acabou de descobrir.
Há oito emoções / sentimentos básicos: alegria raiva, tristeza, ciúme, medo, traição,
constrangimento e confusão. Procure certificar-se de que seus sentimentos
(emoções) fazem parte desta relação.

Por favor, use a fórmula:

Eu descubro____________________ e sinto______________________ sobre o que


acabei de descobrir.

É também possível que você tenha mais do que um sentimento (emoção) sobre o
que acabou de descobrir.

8) OBJETIVO FALA POR FALA

Desde que você saiba quais são seus sentimentos, eles, por outro lado, irão colorir a
forma como você dirá sua próxima fala, MANTENDO SEU OBJETIVO PRINCIPAL
NA MENTE. No cinema, cada fala ou parte dela tem um objetivo separado. Se você
tem três falas num único discurso certifique-se de que tem três objetivos separados
fala por fala.
Use a sua lista de verbos de ação. O que significa isso? Os verbos irão ajudá-lo a
manter-se em ação, permanentemente estimulado, durante os passos de cena.
Procure no dicionário verbos que signifiquem ação visível. Não use verbos como
pensar, refletir, abstrair, lembrar, etc... Use verbos que sugiram ação visível. Os
verbos de ação criarão motivações e estímulos na manutenção de sua crença na
cena.

9) HUMOR
É fundamental encontrar o humor em qualquer cena que você faça. Humor não são
piadas. Uma piada é aquilo que faz o público rir; humor é onde o personagem ri
normalmente diante do absurdo da situação em que se vê metido ou do absurdo
vivido pelo outro personagem na cena, ou mesmo do absurdo de si mesmo, de seu
próprio comportamento.
O HUMOR é também usado para quebrar a tensão. Gente verdadeira sempre tenta
manter as tensões sobre controle; apenas maus atores procuram intensificar uma
situação que por si, já é tensa.
HUMOR é também usado para expressar ironia. Procure o que é absurdo numa cena
e sinta-se disposto a rir dele. Ou então use o humor para quebrar a tensão num
momento da cena. Ou use o humor para expressar o senso de ironia ou fina
inteligência de seu personagem. Não se intimide em expressar o senso de humor de
seu personagem numa cena, não tenha medo de rir.
Uma das razões porque admiramos os verdadeiros grandes astros é por reconhecer
neles a habilidade de não deixar seus personagens (e ele mesmo) levarem-se
demasiadamente a sério.

10) LUGAR

Depois de fazer o seu dever de casa no item 7 (descobertas e sentimentos) procure


ver quais sentimentos/ emoções vêm mais forte. Logo que identificar esta emoção;
só então, tente lembrar-se de uma situação real de sua vida em que você viveu uma
emoção semelhante ou igual e transfira sua cena para aquele momento de sua vida.
Isto é algo que os atores fazem por si próprios. O outro ator (ou atores) na cena, e
também o público, é claro, jamais saberão de onde você tirou sua experiência
emocional. Mas, para você, o momento de sua vida real no passado será de grande
valia para estabelecer a emoção que você está tentando criar em sua cena.

11) SEGREDO

O segredo é algo que você sabe, algo que outro personagem não sabe e que você
não revela. Tendo um segredo você se sente mais poderoso, mesmo que você esteja
interpretando um personagem menor. Portanto, escolha um segredo, e você até pode
sair fora do script para conseguir o segredo que procura. Certamente você
conseguirá produzir um grande efeito sobre o outro personagem da cena, mas nunca
o revele.

12) SUMÁRIO

Sintetize a cena em duas ou três frases curtas. Explique o arco da cena. Eu quero
saber o que acontece no início e como as coisas são diferentes no fim da cena. Eu
quero saber se seu personagem sofreu alguma transição ou mudança e se isto
ocorreu, por que ocorreu?
ESCALAÇÃO DO ELENCO
A escalação de uma telenovela é uma decisão que depende de fatores artísticos,
econômicos e mercadológicos. Alguns aspectos são fundamentais para que se tenha um
elenco adequado a essas necessidades.

Conhecimento dos personagens

Em primeiro lugar, conhecimento aprofundado a partir de sucessivas leituras da história


que vai se contar. Inicialmente, leitura afetiva, desenvolvendo sensações, imagens e
sentimentos. Depois, leituras analíticas estabelecendo os traços fundamentais dos
personagens, suas funções dramáticas, critérios qualitativos como aparência física,
componentes psicológicos principais, nível cultural, vida profissional, etc.

Relações entre os personagens

Relações de contraste e contigüidade; verossimilhança dos grupos familiares. Nas


duplas ou triângulos amorosos, procurar o que se costuma chamar de “boa química”.

Variedade

Sendo a novela a reprodução de uma sociedade em seus mais variados aspectos, os


personagens devem ter tipos físicos igualmente variados. Evitar muitos atores com
características semelhantes. É sempre bom perguntar:

- Quem é gordo? E o magro?


- E o baixinho? E o careca?
- E a loira? E a morena?

Ainda que pareça simplificação, deve-se trabalhar com os estereótipos. Através deles
vai-se aos arquétipos e até aos mitos. Uma boa escalação deve permitir a identificação
dos personagens apenas pela sua silhueta.

TRABALHANDO COM OS ATORES

Não há um método que possa ser aplicado genericamente na direção de atores. Tudo
vai depender dos propósitos artísticos de cada diretor. O gênero de espetáculo
determina a forma de atuação que pode ser próxima do realismo, psicológico ou do
expressionismo, ou teatro épico, etc.
Como o ator se aproxima do personagem

1. DA VONTADE (etapa inicial): Quero fazer! O ator toma contato com seu próximo
trabalho, procura familiarizar-se com a obra e desenvolver os pontos que o
aproximam do autor, do tema, de tudo o que possa estimular seu desejo de
realizá-la. Começa o namoro.

2. DA INDAGAÇÃO: Por que fazer? O ator busca dentro e fora de si aproximações


do tema com suas experiências pessoais, o que o novo trabalho pode trazer
como novidade e desafio, procura bons motivos que reforcem sua vontade de
querer fazer, etapa de conscientização.

3. DA VIVÊNCIA: O ator começa, de modo invisível, a criar em si a imagem interna


de seu novo personagem. Vai-se acostumando a ver como sua aquela vida de um
outro ser.

4. DA ENCARNAÇÃO: O ator cria visivelmente, ainda para si mesmo, uma


envoltura, uma aparência do personagem.

5. DA FUSÃO: O ator procura unir até uma completa fusão os dois processos
anteriores, o da vivência e o da encarnação, criando um personagem capaz de
reagir coerentemente em qualquer situação. Tem corpo, tem voz, sentimentos e
emoção.

6. DA COMUNICAÇÃO: Da influência sobre os espectadores. O ator procura ser


convincente para que o espectador veja não mais o ator, mas verdadeiramente, o
personagem. Aqui analisa de forma consciente os meios de que dispõe para uma
melhor comunicação. Controle sobre a emoção e a expressão.

“É IMPORTANTE QUE O ATOR REALIZE ESTE PERCURSO SEM QUERER PULAR


ETAPAS; E MAIS IMPORTANTE AINDA QUE O DIRETOR ACOMPANHE DE PERTO
CADA CONSTRUÇÃO DE PERSONAGENS AJUDANDO O ATOR A FICAR MAIS
PERTO DAQUILO QUE ELE DESENHOU DESDE A PRIMEIRA LEITURA DO
ROTEIRO.”
ALGUNS EXERCÍCOS PARA ATORES

• LEITURA TROCA-TROCA: O ator tem a tendência de logo fechar-se na


compreensão de seu personagem, nas suas falas e ações, perdendo de vista a
relação de seu personagem com os demais, sua função dentro da cena e da
obra.

• LEITURA NA TERCEIRA PESSOA: Ainda para evitar uma visão muito


particularizada e comprometida com resultados, deve-se fazer o que chamamos
de leitura admirativa, uma leitura vista de fora do personagem.

• CONQUISTANDO A DINÂMICA: Como o tempo para decorar o texto é escasso –


falo da novela e seus cento e cinqüenta capítulos - o ator passa a usar alguns
artifícios para lembrar o texto ao mesmo tempo em que esta falando.

• CONVENCER ALGUÉM DE ALGUMA COISA: Lembra sempre ao ator que é tão


importante ouvir quanto falar e que as palavras devem chegar ao outro carregada
de intenções e de persuasão.

• A PALAVRA É O TATO DA VISÃO: Vejo o outro e estendo até ele minhas


palavras, tocando-o com elas. As palavras não morrem logo depois de minha
boca, mas chegam ao se destino.

• FALAR COMO GENTE: Levar o ator a perceber que personagem não tem uma
fala encantadora, musical, formalizada, mas contem todas as impurezas e
arritmias da fala humana.

• DO LÓGICO PARA O PSICOLÓGICO: Qualquer texto traz uma pontuação de


ordem lógica.

• DA NECESSIDADE DE ESQUECER O TEXTO: Usar o truque de esquecer o


texto por completo traz mais naturalidade a fala do personagem.

• O DIALOGO É UMA CONSTANTE INTERRUPÇÃO DE DISCURSOS: É normal


que as interrupções se dêem após uma frase completa. Afinal, é um hábito
civilizado deixar o outro falar, ouvir para contra-argumentar. A interrupção dá-se
no fim da frase, mas não no fim do discurso. Se eu não interrompo,
provavelmente meu interlocutor continuará a falar.
MONOLOGOS
CONVERSA COM IRMÃO

E daí? Então o velho está morrendo...


E o que eu tenho a ver com isso?
Você pode ir prestar suas condolências, engolir sapos, se você quiser. Eu não. Eu não
quero nem saber dos filhos da mãe. Eles não são minha família. Não do jeito que eles
me trataram. E você? Não é possível que você não seja nem um pouquinho orgulhoso.
Essas pessoas te ferraram. Porra, eles quase arruinaram nós dois. Que se dane o
velho...
Onde ele estava quando me enjaularam naquela clínica? Ele estava em algum lugar na
Europa, ocupado demais pra vir pra casa, muito entretido em fazer dinheiro o filho da
mãe. E a mamãe? Porra, ela também não deu a mínima. A única preocupação dela era o
que as peruas de botox das amigas dela iam pensar do filho pirado.
Ninguém mexeu uma palha.
A gente nasceu para ser rico e órfão! É isso cara? Ou você não se importa?
Talvez você esteja ficando igual a eles, talvez eles tenham te passado a indiferença
deles. Eu espero que não.
Então ele vai morrer. E daí? ! Eu não sinto nada. Ele pode morrer sem mim. Ele viveu
sem mim e agora ele pode morrer do mesmo jeito. Ele é um pobre. Desculpa. Um rico
filho da puta. Todos eles são.
Pode ir se quiser. Volta pra lá, veste seu melhor terno e dá uma porrada na sua auto-
estima. Eu não.

GORDINHA

Gordinha! Gordinha! Com carne, com curva, com pneuzinho lateral. É uma delícia. Peito,
bunda, coxa, eu gosto de tudo muito. Mulher abundante. Cara, eu não suporto essas
magrelas de academia, sabe assim manequim 38? Cara, você vai abraçar a mulher
parece que ela vai quebrar no meio. Não. Pode rir. Pode rir. Eu to acostumado com esse
tipo de reação. Eu sou fora de moda mesmo. Pra mim, amigo, mulher tem que ser
grande, farta, carnuda... Sabe, você vai segurar ali sem medo. Sabe quando você vai
colocar a perna assim por cima da mulher antes de dormir e sente que não vai ter
nenhum ossinho que vai furar a sua canela. Você pega a mulher, você traz assim ó pra
você, aqui ó, você ta aqui ó, agasalhado na gorda. Hum, delícia! Fala sério. Ainda tem
outra, magrela é muito chata, vai. Magrela é um saco, elas vivem de dieta, não podem
comer isso, não podem comer aquilo, não podem sair com você, porque amanhã tem
aula de spinning, alongamentos, pilates, pilates, pilates, que mané pilates. Pilates pra
mim é o tiozinho que lavou a mão lá na bíblia. Quer saber, eu chamo gordinha pra
balada. Chamo mesmo. Como as magrelas estão com tudo, tão em alta, o quê que
acontece? As gordinhas chovem. E tão aí, livres, leves - nem tão leves - soltas,
entendeu? E tem mais... Elas são desencanadas, bem humoradas, elas comem né,
claro, porque realmente, quem não come aí sim, tem motivo pra não ter nenhum tipo de
bom humor né. Ah, outra coisa que pra mim é muito séria: mau hálito. Fala sério, essas
magrelas, elas ficam tanto tempo sem comer, o estômago delas está ali tanto tempo sem
funcionar, que o quê que acontece? Elas têm um puta mau hálito, pode reparar. Toda
magrela tem algum tipo de balinha de hortelã pra dar uma disfarçadinha. Por isso
rapaziada, é que eu falo, eu sou chegado assumidamente a uma gorducha. Elas são
quentes, elas são sensuais, você pode convidar elas pra um happy hour, pra tomar um
choppinho que elas topam, elas sentam na mesa com você, dividem uma calabresinha,
pedem um pastelzinho de carne, sem culpa. Sem culpa. Gordinha é um sucesso. Ô.
Adoro.

HOMEM / EMPREGO

Nunca, Cláudia, mas nunca mesmo! Se o processo de seleção daquela empresa


fosse sério, aquela frangota não ia ficar com a minha vaga. Eu estava disputando o
emprego com uma menina de 22 anos, recém-formada e ela levou a vaga! Sem ter
nenhuma experiência! Ou melhor, sem ter experiência na área, né? Porque, pelo visto,
em outras áreas... Ela deve ser uma profissional muito competente! Você sabe bem
como são essas coisas. O gerente que estava fazendo a seleção devia estar menos
interessado em contratar uma mulher experiente do que uma mocinha que ele pudesse
experimentar! Ora, Cláudia, você sabe muito bem que esse tipo de bandalha existe em
qualquer lugar! (MUDA O TOM) Mas também, não é porque a menina é nova que ela
não pode ser competente. Daqui a alguns anos a minha filha vai, se Deus quiser estar
saindo da Universidade e disputando o mercado de trabalho com alguém. É, pensando
bem, eu to com raiva por ter ficado sem o emprego, e descontando na menina que não
tem nada a ver com isso... Mas eu não desisti não, ouviu? Vou continuar procurando e
ainda consigo arrumar uma vaga bem melhor, numa empresa bem mais conceituada e
com um salário bem maior! E de preferência, bem depressa!

MALA MARROM

É uma mala mais ou menos deste tamanho, de couro marrom, fivela dourada, com
segredo. Perdi no metrô, ontem à tarde, eu ia para a estação da sé. (P) De couro,
marrom, com fivela dourada, mais ou menos deste tamanho... (P) Não, preta não serve,
a minha é marrom. (P) Sei, todo mundo só perde mala preta. Então eu sou um
fenômeno, porque eu perdi uma marrom. (P) Guarda chuva? Não meu amigo, está um
sol de rachar a calçada, eu não preciso de um guarda chuva e nem estou procurando
um. Olha aí na sua relação, vê se tem uma mala parecida com a minha. (P) Não, preta
não, marrom! (P) Ah, caiu o sistema? E é claro que só pode acessar a relação de
objetos perdidos pelo sistema... E quanto tempo, até essa porcaria de sistema voltar?
(Aponta) Olha lá, voltou! O sistema voltou! Acessa lá, vê se consta a minha mala. (Puto)
Marrom! Marrom, cor de cocô! (P) Ingresso pra que? (P) Santos e Guarani, numerada
coberta? Não, meu querido. Não, meu filho, eu não estou interessado eu só quero a
minha mala marrom pra voltar pra minha casa. (P) Só amanhã, como? (Furioso) Como
terminou o expediente?!
REBELDIA

Pode me mandar embora, mas eu vou continuar dando esse espetáculo sim! Só o que
eu quero é aprender, mas não há nada para aprender na universidade de vocês, nada!
O que é que vocês ensinam lá? Essa vida que está morta, essa vida de esmagar a
natureza, de super-homens neuróticos, é isso? Tudo o que vocês querem lá é aprender
a dominar a vida, enquanto eu só quero que a vida me domine! Enquanto vocês querem
saber de tudo eu só quero ter a humildade de não saber nada! Nada!
Isso não é questão de revolução política não, é revolução de tudo! É outro ser! Você que
pensa que é um revolucionário, mas na verdade essa só é a doce imagem que você faz
de você mesmo, pai! Você é só um funcionário público... Você trabalha pro governo, pro
governo!
Você anda de ônibus 415 com dinheiro trocado só pra não brigar com o cobrador, e de
noite fica aí nessa janela vendo uma senhora de peruca tirar a roupa e ficar nua!
Eu não tenho pra onde ir pai... Pra onde é que eu vou? Mas tudo bem... eu já estou de
saída!

BOLSA MARROM

É uma bolsa mais ou menos deste tamanho, de couro marrom, fivela dourada. Perdi no
metrô, ontem à tarde, eu ia para a estação da Uruguaiana. (P) De couro, marrom, com
fivela dourada, mais ou menos deste tamanho... (P) Não, preta não serve, a minha é
marrom. (P) Sei, todo mundo só perde bolsa preta. Então eu sou um fenômeno, porque
eu perdi uma marrom. (P) Guarda chuva? Não meu amigo, está um sol de rachar a
calçada, eu não preciso de um guarda chuva e nem estou procurando um. Olha aí na
sua relação, vê se tem uma bolsa parecida com a minha. (P) Não, preta não, marrom!
(P) Ah, caiu o sistema? E é claro que só pode acessar a relação de objetos perdidos
pelo sistema... E quanto tempo, até essa porcaria de sistema voltar? (Aponta) Olha lá,
voltou! O sistema voltou! Acessa lá, vê se consta a minha bolsa. (Puto) Marrom! Marrom,
cor de cocô! (P) Ingresso pra que? (P) Jogo de futebol? Olha bem pra mim meu querido
e vê se eu estou interessada em futebol! Eu só quero a minha bolsa marrom pra voltar
pra minha casa. (P) Só amanhã, como? (Furiosa) Como terminou o expediente?!

CADÊ MEUS ÓCULOS?

Zethi, cadê meu óculos? Se ele estava aqui agora, não é possível! Você tá surda, Zethi?
É sim, é surda e folgada, porque quando você veio trabalhar aqui o combinado foi que
você chegasse às oito horas da manhã e saísse às cinco da tarde. Agora você deu pra
chegar aqui às sete e quarenta. Olhe aqui, a próxima vez que você chegar aqui antes
das oito, tu vai ficar plantada lá fora esperando, eu não sou palhaça. E se acabar o
serviço as quatro e quarenta, tu não vai embora não, passa pano no chão, limpeza
nunca é demais. Eu acho engraçado que com o tempo tu é econômica, agora, no
sabonete vai catando tudo que é pedacinho e vai jogando fora. Eu não gosto disso, e me
dá raiva, me dá raiva, porque toda vez que a gente vai procurar alguma coisa aqui
dentro a gente não acha nada e vai te perguntar e você nunca sabe onde botou. A
vontade que dá é de agarrar no teu pescoço e bater com a tua cabeça na parede. Eu
não faço isso porque eu não sou uma pessoa agressiva. Você se lembra daquele
desodorante que há um tempo atrás sumiu aqui dentro? Nívea, é, aquele nívea. Treze
reais na Pacheco. Sem dúvida foi você que roubou. O que me chateia é que eu te trato
bem, eu sempre te tratei bem, não sei por que você faz uma coisa dessas, ta
entendendo? Olha aqui, eu vou te falar uma coisa, se meu óculos não aparecer, eu vou
dar parte sua, hein? O quê? Meus óculos estavam aqui no meu peito o tempo todo e
você não me disse nada? Você está querendo me sacanear? É isso? Zethi senta aqui,
senta aqui, por favor. Você acha correto isso? Você acha correto isso que você fez?

CHUVA

Uma hora atrasado e eu tenho que ficar aqui com cara de coerência. As pessoas tão
passando e tem umas que ficam me olhando... O que essa doida tá fazendo debaixo
desse toró sem guarda-chuva? Que fim de carreira, meu pai! E nem precisava tá
passando por isso, podia tá na minha casa vendo TV, debaixo do meu edredom. Tá,
também não ia ser essa maravilha toda, que a minha TV tá com uma imagem péssima e
meu edredom tá lavando. Vou dar mais dez minutos, se ele não aparecer vou embora e
nunca mais quero ver a cara dele! Já me passou tudo que é coisa pela cabeça, já
inventei trocentas desculpas pro cara: furou o pneu do carro, tá tudo engarrafado por
causa da chuva, o celular tá sem bateria, por isso ele não avisou... Depois eu fui ficando
com mais raiva e pensei que, vai ver foi assalto, ou a mãe teve um ataque, ele foi pro
hospital e no caminho um caminhão pegou o carro bem assim do lado do motorista e ele
tá preso nas ferragens. Os bombeiros não chegam porque tão ocupados com coisa mais
importante. Ok, nada disso resolve meu problema de tá aqui debaixo dessa chuva. O
problema na verdade não é a chuva, sou eu. Quando fico sozinha marco de ver um cara
que eu sei que é um galinha safado, que deve ter marcado comigo e mais umas dez
garotas. Escolheu a que mora mais perto e deve tá dentro do carro indo pro cinema, ver
o filme que eu escolhi! Quer saber? Vou começar a terapia segunda sem falta! Ninguém
agüenta essa carência toda, nem eu!

DALVA

Oi, o meu nome é Dalva. É a primeira vez que eu venho numa terapia de grupo. Não
tenho nada pra falar. Não sei nem porque eu vim aqui, por que eu não tenho nada pra
falar. Quer dizer, eu tenho uma coisa pra falar. Eu vim porque eu to encalhada há pelo
menos uns cinco anos. Eu to en-ca-lha-da a cinco anos. Não, não me olha desse jeito.
Qual é o problema? Eu só tive um namorado na minha vida. Ah, como ele me irritava.
Me irritava, irritava, irritava! Todo dia ele me irritava. Nos finais de semana ele me irritava
mais ainda por que estava de folga e tinha mais tempo pra me irritar. Ele era musico, só
andava de calça de capoeira e de chinelo. Ah, como aquilo me irritava. A gente ia ao
cinema, calça de capoeira e de chinelo, ia jantar, calça de capoeira e chinelo. Uma vez,
num casamento de uma amiga minha ele foi de calça de capoeira e de chinelo e teve a
coragem de jogar um smoking por cima. Eu fiquei com tanto ódio, tão irritada, tão irritada
que resolvi acabar com ele ali mesmo. Depois disso nunca mais fiquei com ninguém. Foi
bom mesmo. Por que um dia eu me olhei no espelho e me achei gata. Soltei meu
cabelo, mas soltei meu cabelo e resolvi me namorar. Comecei marcando um encontro
comigo mesma. Comprei presentes, perfumes. Me amei. Neste dia descobri que eu sou
a melhor transa da minha vida. No dia seguinte eu me liguei. Deixei três recados na
minha secretaria eletrônica, mandei várias sms pra mim mesma, me mandei flores, caixa
de bombom... Não sumi de mim mesma. Alias eu tenho que me ver. E eu vou ficar muito
irritada se eu me deixar esperando.

MULHER TRAIDA

Quer dizer que essa menina ta morando aqui com você. Está à sua disposição 24
horas por dia! Não dá pra entender, sabia? Com toda sinceridade, não dá! O que é que
você pode querer com uma menina dessas? Você tem ela aqui pra quê? Só pra
descarregar o sexo? Pra te fazer comida? (RI) Pra te enxugar as costas? Ou é pra você
fazer seus exercícios de sadismo? Heim? Me conta, eu quero saber... Deve haver algum
motivo pra ela estar aqui! Você bate nela? Tira sangue? Tortura? Tortura física ou
mental? Heim? Me conta! Você já conseguiu provar a ela que ela é burra? Que você é
muito superior? Eu quero saber! Quero saber se você faz com ela tudo o que fazia
comigo. Quero saber se de vez em quando você deixa ela gozar ou se é só você que
goza na cama... Quero saber se ela tem alguma cicatriz sua de lembrança como esta
aqui. (MOSTRA UMA CICATRIZ) Me fala: ela te satisfaz? Como eu? Não, acho que
não... Ela parece um adversário fraco. Não deve estimular muito o seu sadismo... Como
eu... Não deve satisfazer todas as suas taras... Não deve conhecer todos os segredos
do seu corpo... como eu. (SORRI) Você deve sentir falta... Eu sinto falta. Eu admito. Eu
sinto falta das nossas guerrinhas... Dos seus berros, das suas porradas... Você também
deve sentir falta de um adversário à sua altura... De alguém que te enfrente, te esfole,
seja forte! Eu fiz várias tentativas... Não deu certo... Com você também não deu, tenho
certeza. Você vive com essa garota por comodidade, cansaço, medo de ficar sozinho...
Mais cedo ou mais tarde você vai acabar voltando pra mim. Tenho certeza disso. Não há
ninguém entre nós dois. Vem cá, deixa eu cuidar de você... Por que adiar, Meu Deus? A
minha vida ta uma merda, a sua também... Vamos resolver isso de uma vez! Você me
ama. E vai voltar. Tenho certeza disso. O que me arrebenta é esperar... Adiar... Mas tudo
bem... eu espero.

MULHER / EMPREGO

Nunca, Cláudio, mas nunca mesmo! Se o processo de seleção daquela empresa


fosse sério, aquela frangota não ia ficar com a minha vaga. Eu estava disputando o
emprego com uma menina de 22 anos, recém-formada e ela levou a vaga! Sem ter
nenhuma experiência! Ou melhor, sem ter experiência na área, né? Porque, pelo visto,
em outras áreas... Ela deve ser uma profissional muito competente! Você sabe bem
como são essas coisas. O gerente que estava fazendo a seleção devia estar menos
interessado em contratar uma mulher experiente do que uma mocinha que ele pudesse
experimentar! Ora, Cláudio, você sabe muito bem que esse tipo de bandalha existe em
qualquer lugar! (MUDA O TOM) Mas também, não é porque a menina é nova que ela
não pode ser competente. Daqui a alguns anos a minha filha vai, se Deus quiser, estar
saindo da Universidade e disputando o mercado de trabalho com alguém. É, pensando
bem, eu to com raiva por ter ficado sem o emprego, e descontando na menina que não
tem nada a ver com isso... Mas eu não desisti não, ouviu? Vou continuar procurando e
ainda consigo arrumar uma vaga bem melhor, numa empresa bem mais conceituada e
com um salário bem maior! E de preferência, bem depressa!
POBRE
Eu vim aqui pra falar pra você parar de se meter na minha vida. Como é que você vai
entrando daquela maneira na casa de gente que você nem conhece, aos berros,
acompanhada de um cafajeste? Aliás, não me interessa quem ele é... É pobre! Porque
você sempre se cercou de gente pobre... Por isso eu sei que do seu lado, eu nunca vou
chegar a lugar nenhum. Olha, você estragou tudo. O César é um dos modelos mais
importantes desse país. Ele estava me apresentando a pessoas importantíssimas.
Agora, você tinha que me aparecer na frente dele com a sua figura triste, para estragar a
minha vida. Bastou o César saber que você é a minha mãe pra mudar completamente
de atitude comigo. Olha aqui, um dia eu vou te ajudar. Eu tenho nojo desse mundo que
você sempre quis pra mim, mas quando eu puder vou te ajudar.
Só que agora, se descobrirem que você é minha mãe, vão virar a cara pra mim porque
ninguém suporta pobre. Ai, que droga! Tava indo tudo tão bem até você aparecer. Se
você tem um pingo de decência nessa sua cara, não me procura mais, pelo amor de
Deus! Eu sei que eu vou vencer se não tiver você atrás de mim me atrapalhando. Eu vou
vencer e aí eu venho te ajudar; porque, apesar de você ser pobre, você é minha mãe.
CENAS
JOAQUIM E ANA

Ela está saindo, ele corre atrás dela, pega-a pelo braço.

JOAQUIM – Quando me disseram que você não prestava, eu fui o primeiro a te


defender! Eu pensei que você era uma mulher honesta, mas estava enganado!

ANA – Eu não pedi que você defendesse a minha honra. Nós nos conhecemos ontem,
Joaquim. Você não tem o direito de me tratar assim.

JOAQUIM – Você me conheceu ontem! Mas há muito tempo eu conheço você. Eu


sonho com você, Ana. Eu amo você, Ana. Eu sabia que você era modelo vivo e não me
importava. Afinal de contas, você precisa ganhar a vida. Mas quando eu vi você ontem,
com aquele rapaz. Aí eu descobri com quem é que eu estava lidando.

ANA – Você fala como se tivéssemos algum compromisso e nós não temos nada um
com o outro, Joaquim. Não tivemos tempo sequer de ser amigos.

JOAQUIM – (corta) Eu não queria ser teu amigo, Ana! Eu queria namorar contigo! Casar
contigo, ter uma vida com você, Ana.

ANA – Você foi muito imprudente em alimentar ilusões a meu respeito. (Desculpa-se).
Eu não sou mulher pra você, Joaquim. Nunca fui. Eu não sou virgem, já estive com
outros homens. Não por dinheiro, mas por bem-querer,

(Tempo)

JOAQUIM – Pois antes tivesse cobrado por isso. (tempo). Ao menos a sua família não
passava tanta necessidade. Afinal de contas, tem razão quem te chama de mulher
corrida. Porque é isso que você é, Ana: mulher corrida, rodada, barata!

Sai magoado, deixa-a sozinha.

FRANCISCA E MARCELO
Casal à mesa, brinda.

MARCELO – À esta viagem! Que na verdade é o início da grande jornada da nossa vida
a dois.
(Tempo. Sorriem. Bebem)

FRANCISCA – Eu estou muito contente de estar indo para o Rio de janeiro.


MARCELO – E eu estou muito contente de você ter se casado comigo. Apesar de todos
os contratempos.

FRANCISCA – Eu não queria magoar você e nem dizer o que eu não sinto.

MARCELO – Não será necessário. Eu me contento com aquilo que você puder me
oferecer. E são bons sentimentos, eu tenho certeza.

FRANCISCA – A amizade é um lindo sentimento.

MARCELO – Os melhores casamentos que eu conheço são feitos de amizade, respeito


e carinho.

FRANCISCA – Queria lhe dar mais.

MARCELO – Um dia, quem sabe. Eu nunca abandonaria você.

(Tempo. Ela se levanta. Ele também)

FRANCISCA – Adoro olhar para o céu, procurar estrelas cadentes.

MARCELO – Vai fazer pedidos? Diga o que quer e eu lhe darei.

FRANCISCA – Não se comprometa.

MARCELO – O que tanto você quer? A lua?

FRANCISCA – Um champagne.

(Riem. Tempo. Serve a bebida)

FRANCISCA – Ah! Essa música...

MARCELO – Vem.

(A chama apara dançar)

MARCELO – Por que é que a nossa vida não pode ser imensamente romântica? Como
essa música.

FRANCISCA – Por favor, não diga nada.

MARCELO – Não. Não digo.


(E dançam)

MARCOS E ISABEL

Casal se encontra após separação. Ela chega e não esperava encontrá-lo.


ISABEL – Deve haver algum engano.

MARCOS – Não há nenhum engano. Quem marcou este encontro sabia exatamente o
que estava fazendo.

ISABEL – Afinal o que é que ele pretende, nos colocar frente a frente?

MARCOS – Não somos dois títeres. Somos duas pessoas. Cabe a nós decidirmos se
seremos manipulados ou não por aquele homem.

ISABEL – Isso é tão embaraçoso, Marcos.

MARCOS – Você está muito bem. Muito bonita. Mais mulher. O casamento está lhe
fazendo bem.

ISABEL – Eu estou tentando ser feliz.

MARCOS – Você já estava feliz no dia do seu casamento.

ISABEL – Quem foi que lhe disse isso?

MARCOS – Eu vi. Estive lá na porta, escondido. Não lhe contaram que tentei entrar na
casa e interromper a cerimônia?

ISABEL – E por que não entrou?

MARCOS – O seu irmão disse que eu ia destruir a sua vida e que você estava muito
feliz em se casar com o Fernando. A princípio, não acreditei, mas quando te vi jogar o
buquê e escutei a sua gargalhada, você parecia tão exultante.

ISABEL – (corta) Eu não estava exultante, eu estava conformada que você veio embora
para o Rio de janeiro e me deixou para trás!

MARCOS – Eu fiquei esperando você até o último apito do trem!

ISABEL – Quando eu cheguei na estação, o trem já estava partindo. E o que me restou


foi aquilo que você escreveu.

MARCOS – Do que você está falando?

ISABEL – De uma folha de papel amassada que eu encontrei no seu quarto. Onde você
dizia que a atitude mais sensata era desistir de mim.

MARCOS – Como você pôde se apegar a uma folha de papel amassada?

ISABEL – (corta) Foi o único vestígio que você me deixou, Marcos.

MARCOS – Aquilo era uma página do meu diário, onde eu manifestei uma preocupação
muito natural.
ISABEL – (corta) Você subestimou o amor que eu sentia por você, Marcos. Você disse
que eu não seria capaz de suportar uma vida de privações.

MARCOS – (corta) Se eu acreditasse nisso, eu não teria arrancado aquela folha do meu
diário e jogado fora! Aquilo foi um momento de desabafo, de preocupação, entendeu?
(Tempo) Eu não posso acreditar que tenhamos sido enredados por uma sucessão de
mal entendidos e desencontros. Não posso, Isabel, não posso.

ISABEL – Que ironia, que trapaça do destino.

Ele se aproxima, pega em seu rosto.

MARCOS – E agora Isabel?

ISABEL – Meu desejo é fugir com você. Mas existe um abismo entre desejo e dever. Eu
me casei na presença de um padre. Eu jurei na presença de Deus que eu seria fiel a
Fernando e eu serei.

MARCOS – Eu nunca procurei você pra que fugisse comigo. Eu a amo muito, para te
desejar uma vida de pária.

ISABEL – E eu sei.

MARCOS – Infelizmente é assim que a sociedade trata as mulheres separadas:


ignorando-as, insultando-as.

ISABEL – A alternativa mais digna é sublimar o que sentimos e transformar um grande


amor numa grande amizade.

MARCOS – O que eu sinto por você não é amizade.

ISABEL – Só nós saberemos disso.

MARCOS – Nunca saberei o que é ter você em meus braços, acordar ao seu lado, ter
um filho seu. Nunca saberemos que poderia

ISABEL – (corta) Saberemos o que sentimos um pelo outro e o que poderia ser

MARCOS – Amigos?

ISABEL – Para sempre.

Ele a beija no rosto e sai. Ela sai.

ANA E DAVID

ANA - Oi!
DAVID - Oi! Oi. (surpreso)

ANA - Você sumiu...

DAVID - É, na verdade eu não queria atrapalhar.

ANA - Como você está?

DAVID - Estou bem, tudo na mesma. Agora moro no escritório e meu nome é trabalho,
mas fora isso tudo bem. E você? Já imagino, é claro, muito sucesso, prêmios, como
sempre.

ANA - Não, quê é isso. Tudo não passa de besteira. Eu não tinha ideia de como era
besteira, mas realmente vejo que isso não me importa.

(Pausa)

ANA - Bom, na verdade, ontem foi o último dia de filmagem, então... Estou partindo.
Mas... Enfim... Eu trouxe isso de casa pensando em você e queria te entregar.

DAVID - Ah, obrigado. Não precisava. Posso saber o que é?

ANA - Não, prefiro que abra quando chegar em casa. Eu ficaria sem graça.

DAVID - Poxa, Obrigada. Não tenho ideia do que seja, mas mesmo assim te agradeço.

ANA - Na verdade, era da minha casa por isso que... Mas enfim não tive coragem pra te
ligar depois do que fiz. Eu sei que me comportei mal e não foi a primeira vez. E é por
isso que estou aqui. (Pausa) Bom, o fato é que, é que...

DAVID - é que?

Neste momento toca um celular de David que desesperado joga longe pra não
incomodar ou desliga-o.

DAVID - (falando sozinho) Tinha que ser agora, né? (desliga o celular) Desculpe. Você
dizia?

ANA - Bom é que... Eu precisaria ir embora amanhã, mas fiquei pensando se caso eu
ficasse, eu poderia sair com você um pouco, ou quem sabe, muito. Vê se de repente
você volta a gostar de mim.

DAVID - Mas naquele dia no set, aquele ator perguntou de mim e você me desprezou ,
disse que eu era um apenas um fã deslumbrado. Desculpe mas eu ouvi tudo. Sua lapela
estava ligada e eu estava com fone de ouvido.

ANA - Eu falei isso sim. Mas não pode esperar que eu vá contar da minha vida pessoal
pro homem mais fofoqueiro da cidade, não é?
Neste momento toca o interfone da casa, é a pizzaria.
DAVID - (no interfone) Pizzaria? Mas agora? Sim mas porque não atrasou hoje, hein?
Sempre atrasa! Um minuto, já vai.

DAVID - Desculpe de novo.

ANA - Tudo bem. Sempre existe um momento de espera quando o juiz sai para
finalmente dar seu veredito. (risos)

DAVID - Olha Ana, eu sou um cara muito sensível e não estou acostumado a me
apaixonar. Nem a sofrer, tampouco. Seria muito inconveniente de minha parte eu dizer
não a seu pedido? Acho melhor que cada um vá pra seu lado, enfim, vamos deixar as
coisas como estão.

ANA - Tudo bem é claro que você pode dizer não. Claro. Bom, já vou indo então...

DAVID - A questão é que pra mim é muito difícil te ter. O que a gente viveu foi
maravilhoso, sem dúvida. Tirando suas crises de TPM, que, aliás, eram insuportáveis, eu
até me arriscaria a dizer que formamos um casal perfeito. Ou quase perfeito... Mas é
que, do jeito que sou inexperiente quando o assunto é amor, sinto que não conseguiria
suportar mais outra frustração, nem ser novamente colocado como segundo plano na
sua vida, coisa que, naturalmente vai acontecer devido ao seu trabalho. Você é muito
para mim, Ana. Simplesmente todo mundo te conhece, por onde ando vejo fotos de
você, você é assunto em todas as rodas de amigos... Enfim eu me sentiria um nada do
seu lado.

ANA – Nossa! Isso é realmente um não, né?

DAVID - Você mora em frente à praia e eu moro na Tijuca. O mundo inteiro sabe quem
você é, minha mãe mal lembra meu nome todo. Você...

ANA - (interrompendo-o) Não precisa dizer mais nada. Sua escolha foi feita. Você está
certo, está certo.

Ana vai saindo... Mas pára como se pedisse uma ultima chance.

ANA - Você sabe que essa coisa de sucesso e de ser uma celebridade não significa
nada, né? Realmente isso não tem nenhuma importância na minha vida. Só quero que
você saiba disso (pausa). E não se esqueça de que eu não passo de uma simples
menina, parada em frente a um menino, pedindo, com toda sinceridade do mundo, o
amor dele de volta.

Ela se recompõe e diz boa noite com um beijo na bochecha.

ANSELMO E GORETE

ANSELMO – Gorete! Gorete!


GORETE – Que que é Anselmo?

ANSELMO – Chega aqui, vem cá, vem cá. (mostra pra ela as calcinhas dela
penduradas na torneira do box do banheiro). Olha, aqui tem quatro, tá faltando uma.

GORETE – Na entendi.

ANSELMO – Ué, isso aqui não é uma decoração tipo festa junina para comemorar
nossos cinco anos de noivado?

GORETE – Ah, tão engraçado... (vai saindo)

ANSELMO – Não, peraí, vem cá... Tira essas calcinhas daqui.

GORETE – Não acredito, você tá com nojo de pegar nas minhas calcinhas?

ANSELMO – Ô Gorete, eu vou te falar uma coisa, eu sei que você lava essas calcinhas
no banho e eu não acho que sabonete para uso humano seja suficiente pra lavar roupa
suja. Existem produtos específicos pra isso.

GORETE – Ah, não acredito. Olha aqui, Anselmo, você fique sabendo que a mais suja
das minhas calcinhas é mais limpa que a mais limpa das suas cuecas.

ANSELMO – Minhas cuecas são limpíssimas!

GORETE – Cadê?

ANSELMO – Olha aqui, ó! (os dois mostram). Não repito mais que dois dias!

GORETE – Ah, limpíssimas... Encardidas... Azedas!

ANSELMO – Ô Gorete, ô Gorete, vem cá. Você tá comendo as minhas cuecas pra saber
se são azedas?

GORETE – Cheiro de azedo, ô imbecil!

ANSELMO – Não existe, Gorete! Azedo é sabor, não existe cheiro azedo.

GORETE – Ah, não existe, né... Então porque que você não entra lá na casa da sua
mãe e respira bem fundo pra ver se não tem cheiro azedo. Ha Ha Ha.

Ela sai. Ele pega o chuveirinho e molha as calcinhas dela.

ANSELMO – Ih, caramba... Puxa... Que chato, molhei suas calcinhas. Choveu, foi sem
querer.

GORETE – Ai, que chato. Não, não tem problema não, Anselmo, porque eu faço isso
aqui ó: eu pego assim, faço um bolinho bem grande e ó (esfrega na cara dele e sai
cantando). Parabéns pra você nesta data querida...
HOMEM 1 E HOMEM 2

Homem 1 entra e se dirige ao Homem 2.

HOMEM 1 – Ô rapaz, você tá aí? Cê desculpa a demora. Eu tive que dar a volta e tava
cheio de gente lá atrás, um pessoal concentrado, parecia até centro de macumba. Mas,
fala.

HOMEM 2 – Então, você sabe que eu nunca fui de pensar bobagem, nem de...ah, você
sabe! Mas eu tô com um pobrema grave.

HOMEM 1 – Todos nós temos um, amigo. É pra isso que eu to aqui. Ainda mais pra
gente honesto como você.

HOMEM 2 – Então, eu sempre ouço no bar cê falando que pode ajudar as pessoas. E
dessa vez eu tava precisando de uma forcinha.

HOMEM 1 – Mas, forcinha de quanto?


HOMEM 2 – Então, doutor, eu to precisando montar minha empresa de obra.

HOMEM 1 – Montar uma empresa...hum... e de quanto você vai precisar?


HOMEM 2 – Olha, doutor. Essa é a parte mais difícil. Porque na verdade num é pouco
dinheiro, não. Quero vê minha patroa de madame (sorri).
HOMEM 1 – De madame?...Hum...mas quanto?

HOMEM 2 – Quinze mil reais.


HOMEM 1 – Pow! Quinze mil reais?! Mas isso é muito dinheiro pra montar um negócio!
Com esse dinheiro você com certeza vai resolver todos os problemas de doença da sua
família. Olha, eu tenho um pai doente e sei como é. Fica tranqüilo que vou resolver seus
problemas. Eu só preciso pensar uma coisa aqui. Porque sendo esse valor alto desse
jeito eu não tenho como pegar na empresa. Vou ter que gastar do meu bolso mesmo.
Vamos fazer o seguinte: te ligo mais tarde pra gente resolver logo isso. Mas olha, o que
eu fechar com você eu preciso fazer logo. E na hora te dou o dinheiro. E dependendo do
que for, nem me pagar de volta você vai precisar.

HOMEM 2 – Mas como assim? Num vô precisar pagar de volta?


HOMEM 1 – Há coisas na vida, meu filho que valem mais do que dinheiro. Me liga Às
11h, que marcamos o local pra entrega do dinheiro e o pedido do favor, ok?
HOMEM 2 – Ok. Fechadíssimo, doutor.

HOMEM 1 – Mas, olha. Eu preciso saber se você tá disposto a fazer tudo, tudo, tudo,
tudo, tudo mesmo! Porque depois que eu te contar o serviço, não tem mais volta.

HOMEM 2 – Ô Doutor. Assim o senhor tá me assustando. Já não sei...


HOMEM 1 – Como assim assustando? Você não quer colocar sua mulher de madame,
rapaz? Pô, tem coisa mais linda do que vê mulher da gente com um sorriso enorme no
rosto, agradecendo a gente por tudo o que a gente fez? Então? Vamos fechar? ( oferece
a mão)

HOMEM 2 – Fechado! (aperta a mão)

MARIA E TEREZA

MARIA – Eu estou surpresa, Tereza, por você ter vindo me procurar

TEREZA – Eu vim de pedir perdão Maria.

MARIA – Perdão?

TEREZA – Quando eu soube que o delegado sabia do que só eu, você e a Fátima
conversamos, já fui logo jogando a culpa em cima de você.

MARIA – Foi falta de confiança.

TEREZA – Na hora eu não encontrei explicação para o que aconteceu.

MARIA – E agora, encontrou?

TEREZA – Não. Mas eu vim pedir desculpas Maria. Desculpas por que desconfiei de
você. Eu sei que você é incapaz de dar um golpe desses, de faltar comigo numa coisa
tão importante, somos amigas a muito tempo.

MARIA – Tereza... Que bom que você sabe.

TEREZA – Eu te peço desculpas Maria, mais uma vez.

MARIA – Não precisa pedir desculpas. Eu já entendi. Mas Tereza, há uma coisa que eu
preciso falar pra você.

TEREZA – Diga Maria. O que é?

MARIA – Nunca mais duvide de mim, de minha palavra ou de minha amizade.

Elas se abraçam

TEREZA – Pode deixar Maria, nunca mais mesmo.

TAMIRES E ALEXIA
Tamires não quer tocar nesse assunto do pai, que é difícil pra ela também.
Alex está decidido a espantar seus fantasmas.
ALEXIA - A gente nunca conversou sobre isso, Tamires. Eu acho que chegou o
momento.

TAMIRES - Pra que falar sobre a morte do Pai, Alex? Todo mundo já se magoou
muito com tudo o que aconteceu. Deixa esse assunto morto e enterrado.

ALEXIA - Não dá. Porque ele tá vivo aqui dentro de mim. Você não percebe que
foi ali, quando eu puxei aquele revólver e apontei pro Caio que tudo começou.

TAMIRES - Começou muito antes, Alex. Começou por causa do seu ciúme da
minha relação com o Caio. A briga, o tiro, a morte foram consequências.

ALEXIA - Eu não tinha ciúmes de você e do Caio, Tamires. Eu só queria que você
não fosse feliz.

TAMIRES - O que? Mas por que, Alex? Por que você não gosta de mim?

ALEXIA - Eu gosto, Tamires. Lógico que sim. Você é minha irmã. Mas é que a
gente nunca conseguiu se entender e a gente foi se afastando um do outro cada
vez mais.

TAMIRES - Por causa do Pai?

ALEXIA - Também. Você não pode negar que ele fazia diferença entre a gente.

TAMIRES - Que besteira, Alex. O Papai sempre te amou. É que pai sempre tem
uma coisa de proteção com o filho(a) mais novo. Cê não vê o tio Daniel com a
Bia? É igual.

ALEXIA - O que mais me magoava é saber que eu não era nada do que o papai
queria que eu fosse. Mas eu não conseguia, Tamires. Eu me intimidava a cada
passo que eu dava ao lado do pai. O que eu posso fazer se eu não sou a pessoa
que ele gostaria que eu fosse?

TAMIRES - E ele era, Alex?

A pergunta surpreende Alex.

ALEXIA - Como assim?

TAMIRES - Ele tinha uma amante. Sustentava aquela mulher, enganava a


mamãe. Ele também não era o homem que a gente pensava que ele era.
Ninguém é, Alex. Nós somos o que somos.

ALEXIA - falando assim, parece que você tem raiva do pai. Você, que gostava
tanto dele.
TAMIRES - E gosto. Gosto muito. Mas não dá mais pra gente não encarar a
verdade. Não foi por isso que nós estamos tendo essa conversa. E a verdade é
que o papai não era aquilo que a gente imaginava. Mas isso não diminuiu o amor
que nós sentimos por ele, e nem a falta que ele nos faz.

ALEXIA - Sabe o que é mais engraçado? É que nós nunca choramos a morte do
nosso pai, juntos. Foi naquele momento em que nós nos separamos cada vez
mais. Eu queria tanto que as coisas tivessem sido diferentes.

TAMIRES - Eu também, Alex.

ALEXIA - Você acha que a gente consegue mudar isso?

TAMIRES - O que passou? Não, claro que não.

ALEXIA - Mudar o rumo das nossas vidas?

Tamires sorri, muito emocionada e abre seus braços para receber Alex em um
abraço. E na emoção dos irmãos.
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Palco amordaçado – Yan Michalski – Ed. Perspectiva

Paulo José – Memórias substantivas – Tânia Carvalho - Coleção Aplauso – Ed.


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