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QUESTÃO ÚNICA
(50 escores)
MÚLTIPLA ESCOLHA
(03 escores)
ESCOLHA A ÚNICA RESPOSTA CERTA, ASSINALANDO-A COM UM “X” NOS PARÊNTESES À ESQUERDA.
Leia o texto, Perguntas à Língua Portuguesa, de Mia Couto e responda aos itens 01 a 10.
TEXTO I
Venho brincar aqui no Português, a língua. Não aquela que outros embandeiram. Mas a língua
nossa, essa que dá gosto a gente namorar e que nos faz a nós, moçambicanos, ficarmos mais
Moçambique. Que outros pretendam cavalgar o assunto para fins de cadeira e poleiro pouco me
acarreta.
5 A língua que eu quero é essa que perde função e se torna carícia. O que me apronta é o simples
gosto da palavra, o mesmo que a asa sente aquando o voo. Meu desejo é desalisar a linguagem,
colocando nela as quantas dimensões da Vida. E quantas são? Se a Vida tem é idimensões? Assim,
embarco nesse gozo de ver como escrita e o mundo mutuamente se desobedecem. Meu anjo-da-
guarda, felizmente, nunca me guardou.
10 Uns nos acalentam: que nós estamos a sustentar maiores territórios da lusofonia. Nós estamos
simplesmente ocupados a sermos. Outros nos acusam: nós estamos a desgastar a língua. Nos falta
domínio, carecemos de técnica. Ora qual é a nossa elegância? Nenhuma, excepto a de irmos
ajeitando o pé a um novo chão. Ou estaremos convidando o chão ao molde do pé? Questões que
dariam para muita conferência, papelosas comunicações. Mas nós, aqui na mais meridional esquina
15 do Sul, estamos exercendo é a ciência de sobreviver. Nós estamos deitando molho sobre pouca
farinha a ver se o milagre dos pães se repete na periferia do mundo, neste sulbúrbio.
No enquanto, defendemos o direito de não saber, o gosto de saborear ignorâncias. Entretanto,
vamos criando uma língua apta para o futuro, veloz como a palmeira, que dança todas as brisas sem
deslocar seu chão. Língua artesanal, plástica, fugidia a gramáticas.
20 Esta obra de reinvenção não é operação exclusiva dos escritores e linguistas. Recriamos a língua
na medida em que somos capazes de produzir um pensamento novo, um pensamento nosso. O
idioma, afinal, o que é senão o ovo das galinhas de ouro?
Estamos, sim, amando o indomesticável, aderindo ao invisível, procurando os outros tempos
deste tempo. Precisamos, sim, de senso incomum. Pois, das leis da língua, alguém sabe as certezas
25 delas? Ponho as minhas irreticências. Veja-se, num sumário exemplo, perguntas que se podem
colocar à língua:
Se pode dizer de um careca que tenha couro cabeludo?
No caso de alguém dormir com homem de raça branca é então que se aplica a expressão:
passar a noite em branco?
GLOSSÁRIO:
Obs.: Alguns termos empregados no texto dizem respeito à escrita do Português de Portugal.
01. Ganhador do Prêmio Camões da Língua Portuguesa, Mia Couto destaca-se na Literatura luso-africana
pelo estilo singular de escrever, dessa forma, é constantemente comparado a autores brasileiros
como:
02. O estilo singular de Mia Couto é visto de forma divertida e dinâmica, como em “meu desejo é
desalisar a linguagem, colocando nela as quantas dimensões da Vida”. Com base nessa afirmação, o
texto I apresenta características que chama a atenção do leitor, porque faz uso de
( A ) paradoxo.
( B ) hiponímia.
( C ) hiperonímia.
( D ) neologismos.
( E ) paródia.
( A ) I apenas
( B ) II apenas.
( C ) III apenas.
( D ) I e II apenas.
( E ) I, II e III.
DÊ O QUE SE PEDE
(17 escores)
04. O que significa “Língua artesanal, plástica, fugidia a gramática”, (linha 19) de acordo com o contexto
do texto? (05 escores)
Representa a língua como algo dinâmico√, capaz de ser moldada a algo feito com as mãos,
artesanal√maleável como o plástico√e que não obedece à gramática, não está condicionada
a ela.√_É a funcionalidade da língua, rompendo preconceitos linguísticos√._____________
05. Em “Venho aqui brincar no Português, a língua. Não aquela que os outros embandeiram. Mas a língua
nossa, essa que dá gosto a gente namorar e que faz a nós moçambicanos, ficarmos mais
Moçambique” (linha 01). Os vocábulos grifados estão relacionados a quem, respectivamente.
(02 escores)
06. Na passagem “No enquanto, defendemos o direito de não saber, o gosto de saborear ignorâncias”
(linha 17), indique a figura de linguagem presente e explique sua funcionalidade no texto.
(02 escores)
07. No trecho “De irmos ajeitando o pé a um novo chão. Ou estaremos convidando o chão ao molde do
pé?” (linha 04). Conforme o texto I, de que forma pode-se interpretar essa consideração da autora?
(04 escores)
Os termos “pé” e “chão” significam, respectivamente, povo e língua.√ Nesse caso, o povo
pode se adequar à língua,√ ou a língua se adequar ao povo, √ considerando que a língua
pertence a quem fala; dessa forma, molda-se à dinamicidade do processo lingüístico sempre
inacabado, em tranformação constante..√ _______________________________________
08. Em “amando o indomesticável, aderindo ao invisível, procurando os outros tempos deste tempo”
(linha 23), por quem, relacionado ao contexto, o eu lírico sente esse amor? (02 escores)
09. O eu lírico faz uma comparação do seu português com o português da camponesa Zambézia. Há
semelhança entre eles? Justifique sua resposta. (02 escores)
O eu lírico compara o português da camponesa Zambézia dizendo que ela fala português
corta-mato√, ou seja, à sua maneira, vai abrindo caminho no mato, moldando o outro
português ao nosso moçambicano√.____________________________________________
VERDADEIRO OU FALSO
(06 escores)
10. A literatura produzida em Língua Portuguesa nos países da África, conhecida como literatura luso-
africana, busca representar características particulares da vida local de um povo pós-colonial. Com
relação às produções literárias luso-africanas, julgue as afirmativas que seguem.
V F Reflete a tensão entre dois mundos: a sociedade colonial europeia, transposta para a
África junto com os conquistadores, e a sociedade africana, multifacetada, com vários
conflitos internos a serem resolvidos.
V F Para os povos africanos, a tradição das narrativas orais é muito importante. Por meio dos
mitos, das lendas, dos contos, que passam de geração a geração, dessa forma a literatura
luso-africana fica restrita somente à produção feita em prosa.
V F Escrever em português representou, para muitos autores, uma derrota simbólica: tratava
afinal da língua do colonizador.
V F Os textos de muitos autores brasileiros, de Jorge Amado, levaram para o outro lado do
Atlântico a possibilidade de promover, também, na Língua Portuguesa, um processo de
mestiçagem que garantisse a diferenciação, pela estrutura e pelo léxico, entre
colonizadores e colonizados.
V F Mesmo que tantas pessoas desses países sejam analfabetas, não significa que não
produzam cultura. Essas pessoas constroem suas histórias no âmbito da oralidade. Assim,
é natural que a oralidade e a literatura não se aproximem.
MÚLTIPLA ESCOLHA
(02 escores)
ESCOLHA A ÚNICA RESPOSTA CERTA, ASSINALANDO-A COM UM “X” NOS PARÊNTESES À ESQUERDA.
TEXTO II
11. O poema de Carluce Pereira pertence à poesia concreta. Constitui uma característica desse
movimento o(a)
12. Uma característica que NÃO se relaciona didaticamente a um poema concreto é o(a)
(A) uso estético do espaço em branco da página para a disposição das palavras.
(B) valorização dos aspectos sonoros, visuais e semânticos dos vocábulos.
(C) prática de versos redondilhos, em letras maiúsculas.
(D) brevidade no manejo da linguagem.
(E) multiplicidade de interpretações.
DÊ O QUE SE PEDE
(05 escores)
13. No texto II, o eu lírico expressa sua inquietude em relação ao mundo. Quais elementos do poema
contribuem para essa (afirmação) na expressão? (05 escores)
MÚLTIPLA ESCOLHA
(02 escores)
ESCOLHA A ÚNICA RESPOSTA CERTA, ASSINALANDO-A COM UM “X” NOS PARÊNTESES À ESQUERDA.
(PUC-PR) Para responder ao item 14, leia o poema de Paulo Leminski. (01 escore)
TEXTO III
I. O poema faz referência à poesia marginal, grupo do qual Leminski fez parte.
II. O humor, uma das marcas da poesia leminskiana, remete o leitor ao fazer poético.
III. É um haicai, nos moldes japoneses.
IV. No poema, Lemisnki faz uma crítica à marginalização do poeta na sociedade.
( A ) I apenas.
( B ) II apenas.
( C ) I e II apenas.
( D ) I, II e II apenas.
( E ) I, II, III e IV.
TEXTO IV
DESENCONTRÁRIOS
DÊ O QUE SE PEDE
(15 escores)
Leia atentamente o poema abaixo, de autoria de Cacaso e responda aos itens 16 ao 18.
TEXTO V
HÁ UMA GOTA DE SANGUE NO CARTÃO-POSTAL
eu sou manhoso eu sou brasileiro
finjo que vou mas não vou minha janela é
a moldura do luar do sertão
a verde mata nos olhos verde de mulata
sou brasileiro e manhoso por isso dentro
da noite e de meu quarto fico cismado na beira de
um rio
na imensa solidão de latidos e araras
lívido
de medo de amor.
SSAA / STE / CMCG 2016
CMCG AE3/2016 – LITERATURA 3º ANO DO ENSINO MÉDIO 1ª CHAMADA 08 Visto:
16. (Unicamp/SP) Este poema de Cacaso (1944-1987) dialoga com várias vozes que falaram e falam
sobre a paisagem e o homem brasileiro. Justifique a referência ao “cartão postal” do título, por meio
de expressões usadas na primeira estrofe. (04 escores)
O cartão-postal usado no título é uma referência a estereótipos do Brasil√, tais como “luar
do sertão”√, a “verde mata”√ e a “mulata”.√_____________________________________
17. (Unicamp-SP) O poema constrói-se sobre uma imagem suposta de brasileiro. Qual é essa imagem?
Justifique com um verso do poema. (02 escores)
O poema é construído a partir da imagem da malandragem√ “finjo que vou, mas não vou√”.
TEXTO VI
Espreitávamos, em vão. Mãos estavam vazias. Mas ele, com frio gesto, arregaçou as mangas e tornou
visíveis duas cicatrizes, sulcando paralelas cada um dos pulsos. Seus dedos haviam pago caro – durante
anos se moveram lentos, em arco de tartaruga.
- Me amarraram nessa árvore. Me prenderam com cordas, deitaram sal nas feridas.
- Quem?
- Esses que vocês querem ajudar agora.
Os argumentos de Sulplício eram por mim conhecidos. Quando chegaram os da Revolução eles
disseram que íamos ficar donos e mandantes. Todos se contemplaram. Minha mãe, muito ele se
contentou. Sulplício, porém, se encheu de medo. Matar o patrão? Mais difícil é matar o escravo que vive
dentro de nós. Agora, nem patrão nem escravo.
- Só mudamos de patrão.
COUTO. M. O último voo do flamingo. São Paulo: Companhia das Letras. 2005. p. 137
19. A que condição a personagem Sulplício submete um possível processo de independência de seu povo?
Explique. (03 escores)
TEXTO VII
TEXTO VIII
20. Relacione os textos VII e VIII, levando em conta suas motivações histórico-sociais. (04 escores)
A poesia das ex-colonias portuguesas, nos tempos das lutas pela libertação e logo após a
conquista da autonomia política, é marcada pela denúncia dos horrores da guerra ”são
mortais quando marcham de botas”; √ pela utopia da construção de nações livres “vamos
libertando em cada palavra percutida”; √pela busca da identidade “hoje nós em
Moçambique”. √ Os dois textos o sujeito lírico esboça visões de si mesmo ante a guerra e de
seu opressor. √_____________________________________________________________
FIM DA PROVA